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PRÁXIS 22 (2013) PP.

81-97

A NOVA EVANGELIZAÇÃO: UM DESAFIO PARA A IGREJA EVANGÉLICA


BRASILEIRA
Antonio Carlos Barro1

RESUMO
O propósito deste artigo é fazer uma reflexão sobre um dos temas mais importantes na
práxis da igreja evangélica brasileira, qual seja a evangelização. Essa análise principia
pela pergunta chave na eclesiologia: qual a razão de ser da igreja? A partir dos
pressupostos que caracterizam a vida da igreja, o autor discute o tema proposto sob a
ótica da “nova evangelização” delineando como o processo evangelizador tomará corpo
nos dias de hoje, tendo em vista que tanto a sociedade quanto a igreja têm passado por
mudanças profundas. Essas mudanças exigem que a velha prática evangelizadora seja
colocada de lado e que novos conceitos evangelísticos sejam apropriados pela igreja se a
mesma quiser ser relevante no mundo pós-moderno.
PALAVRAS-CHAVE
Igreja; Evangelismo; Leigos; Nova Evangelização.

ABSTRACT
The purpose of this article is to reflect upon a theme that is very important in the praxis of
the Brazilian evangelical church, that is: evangelization. This analysis starts with a key
ecclesiological question: what is the reason for the existence of the church? Deriving
from the presupposition that characterize the life of the church, the author discusses the
proposed theme under the view of the “new evangelization” delineating how the
evangelistic process will take shape today, considering that both society and church are
going through profound changes. These changes demands that old evangelistic practices
be put aside and those new concepts are appropriated by the church if it desires to be
relevant in this post-modern world.
KEYWORDS
Church; Evangelism; Lay People; New Evangelization.

1
Professor da Faculdade Teológica Sul Americana. Doutor em Missiologia pelo Fuller Theological
Seminary, Pasadena, CA – USA. Email: acbarro@gmail.com
Introdução
Nas igrejas de tradição protestante tem sido bem escassa a reflexão teológica
sobre o tema da nova evangelização. O termo tem sido mais usado e debatido dentro
dos círculos do catolicismo romano. Ao utilizarmos a terminologia “nova
evangelização”, estamos apontando para a necessidade de mais reflexão sobre o papel
da evangelização na prática das igrejas evangélicas no mundo pós-moderno.
Historicamente os evangélicos são conhecidos pelo ímpeto evangelístico. Em se
tratando de Brasil, a atuação da igreja evangélica, quando aqui inserida nos meados do
século XIX, se deu dentro de um contexto religioso católico; ainda que houvesse
religiões africanas e indígenas, o grande alvo da ação evangelística foi em direção aos
católicos. O anticatolicismo era “uma das grandes características da pregação
missionária protestante no Brasil” (Mendonça; Velasques Filho, 1990, p. 100). Já são
bastante conhecidos os estudos realizados nesse campo2.
No Congresso Mundial de Evangelização, ocorrido na cidade de Berlim no ano
de 1966, o Rev. Benjamin Moraes, representando o Brasil, afirmou que após o Concílio
Vaticano II o relacionamento entre católicos e protestantes havia melhorado. Assim
sendo, asseverou que “essa área do relacionamento é hoje uma grande porta aberta para
evangelismo no Brasil. Desafortunadamente a maioria dos evangélicos não reconhece
essa oportunidade e são cautelosos, até mesmo medrosos dessa amizade com os
católicos” (Moraes, 1967, p. 277). Como podemos perceber, a evangelização tinha
como objetivo converter os católicos ao Cristo, e também ao protestantismo. Caso um
católico se declarasse convertido e relutasse em abandonar a igreja católica para afiliar-
se a uma igreja protestante, a sua conversão era (e ainda é) colocada em dúvidas. O
próprio Moraes,quando descrevendo sobre os obstáculos para o evangelismo no Brasil,
afirmou: “A tradição católica no Brasil é muito forte. Muitas pessoas aceitam o
evangelho intelectualmente, mas falta coragem para deixar a igreja de seus pais”
(Moraes, 1967, p. 278).
O famoso hino The lily of the valley, de Charles W. Fry, que no Brasil recebeu
vários nomes, tais como “O lírio dos vales”, “Jesus, o bom amigo” e “Achei um grande
amigo”, é uma boa ilustração do que se esperava dos católicos. O hino foi muito
cantado no meio do povo evangélico. Na letra, uma estrofe em especial chama a
atenção, pois descreve um dos alvos da igreja evangélica em relação aos católicos, isto
é, o abandono da idolatria:
[Jesus] Levou-me as dores todas| As mágoas lhe entreguei| Nele tenho
firme abrigo em tentação! | Deixei por Ele tudo, os ídolos queimei!|
Ele faz-me puro e santo o coração!
A visão de um cristianismo deturpado no meio católico não se dava apenas no
Brasil, mas por toda a América Latina. Um dos argumentos para o proselitismo era de
que o cristianismo de tradição católico-romana não era suficientemente bíblico (Piedra,
2005, p. 4). Arturo Piedra cita John C. Lowrie, um dos líderes do movimento
missionário norte-americano da Igreja Presbiteriana, que legitimava a vinda das missões
para a América Latina sustentando: “As pessoas dessas regiões não podiam ser
excluídas de uma fé bem mais pura” (Apud. Piedra, 2005, p. 5).

2
Ver as seguintes obras: DUNCAN, Reily. História documental do protestantismo no Brasil. São Paulo:
ASTE, 1984; MENDONÇA, Antônio G. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São
Paulo: Paulinas, 1984; LEONARD, Emile G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e
história geral. Rio de Janeiro: JUERP, São Paulo: ASTE, 1981; RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e
cultura brasileira: aspectos culturais da implantação do protestantismo no Brasil. São Paulo: CEP, 1981.
Esse é o conceito de evangelização que ainda prevalece nos dias de hoje. A
igreja evangélica, com raríssimas exceções, continua crescendo muito em decorrência
da migração dos católicos para os arraiais protestantes. Segundo o censo do IBGE de
2010, vê-se que o número de católicos no Brasil caiu para 123,3 milhões (cerca de 65%
da população). É lógico que esse esvaziamento não se dá apenas com a migração para as
igrejas chamadas evangélicas. Há outros fatores; todavia, a troca de denominação é o
item que mais contribui para essa queda do catolicismo no Brasil, pois é exatamente
nesse período do decréscimo católico que mais cresceu a igreja evangélica,
especialmente o pentecostalismo em suas múltiplas variações.
1. A natureza da nova evangelização
Vivemos hoje tempos diferentes daqueles quando os protestantes aportaram na
América Latina. Não se pode mais falar de uma evangelização que não tome em
consideração as mudanças ocorridas na sociedade. Para discorrermos sobre essa nova
evangelização, precisamos fazer uma pergunta básica: qual a razão de ser da igreja?
Entendemos que a comunidade da fé deriva sua força e inspiração da missio Dei.
Percebemos ainda que a igreja tem uma origem divina, conforme as palavras de Jesus
Cristo: “... edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16.18). Isto significa dizer que Cristo assumiu algumas responsabilidades em
relação à igreja. A primeira é a da edificação. O termo traz a ideia de construir uma
casa, erigir uma edificação. Metaforicamente, significa promover o crescimento da
igreja na sabedoria, afeição, graça, virtude e santidade cristã. A segunda é a de proteger
a igreja dos ataques externos, especialmente das forças malignas. Isto significa que as
forças do mal jamais superarão a força (divina) da igreja. No dizer de Cristo, a derrota
da igreja é uma impossibilidade devido ao fato de que ele foi e continua sendo o
construtor do edifício. Se as forças do mal lograrem destruir a igreja, logo o próprio
Cristo seria desacreditado e ridicularizado.
Outro texto que nos ajuda e muito a entender o relacionamento de Cristo com a
igreja vem do Apóstolo Paulo na carta aos Efésios, capítulo cinco. Ali aprendemos que
Cristo é cabeça, salvador e senhor da igreja; que ele a ama profundamente e por ela
sacrificou-se. Essa narrativa de Paulo exemplifica o alto grau de compromisso de Cristo
com o seu povo, colocando-o em elevado patamar. A igreja, portanto, não é uma
organização de valor irrisório.
Aprendemos ainda que a igreja está edificada “sobre o fundamento dos apóstolos
e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o
edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2.20-21). Paulo revela
que a igreja tem uma herança especial. Ela não surgiu de algum evento corriqueiro ou
de um fato ordinário. A igreja tem nas suas bases uma história de lutas e vitórias nas
pessoas dos apóstolos, dos profetas e de todos quantos seguiram nesse caminho. Isso
não deve ser negligenciado e muito menos subestimado pela igreja contemporânea.
Ter uma origem divina e estar sob o controle e orientação de Cristo é muito
importante, mas a igreja não se resume apenas a esse relacionamento vertical. Ela,
enquanto peregrina na terra, tem uma missão a cumprir – a missão do seu senhor e
salvador, ou seja: sua dimensão horizontal. Usarei a ideia de Orlando Costas para
discorrer sobre duas dimensões da missão da igreja, que ele chamou de missão última e
missões penúltimas.
1.1. A missão última
No Antigo Testamento, o profeta Habacuque faz uma profunda revelação da
vontade de Deus: “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como
as águas cobrem o mar” (Hc 2.14). O profeta Isaías muitas vezes menciona a glória do
Senhor em suas profecias. Ele afirma que “a glória do Senhor se revelará; e toda a carne
juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse” (Is 40.5). A glória de Deus é a sua
honra, riqueza, esplendor, dignidade, reputação e reverência. Podemos concluir então o
desejo último de Deus é que as gentes de todas as partes do mundo conheçam quem ele
é e que ele seja glorificado como Deus no meio dos povos. Os autores do Antigo
Testamento tinham a consciência da glória de Deus e que essa glória não estava limitada
ao povo de Israel. Na verdade, Deus incumbiu Israel de revelar essa glória aos povos da
terra.
Glorificar a Deus, portanto, é a missão última do povo de Deus. Assim
entenderam tanto os antigos, como no Catecismo de Fé de Westminster, em sua
primeira pergunta: Qual é o fim principal do homem [mulher]? Resposta: O fim
principal do homem [mulher] é glorificar a Deus (Rm 11.36; 1Co 10.31), e gozá-lo para
sempre (Sl 73.24-26; Jo 17.22,24).
Glorificar a Deus em tudo e em todas as ações fará com que as nossas
motivações estejam focadas em Deus. Glorificar a Deus é a nossa missão última por
outro motivo, isto é, na eternidade ele continuará recebendo honras e glórias, conforme
descrito no livro do Apocalipse. É no desempenho da nossa missão, independente dos
resultados, que Deus é glorificado. Jesus Cristo ensinou: “Nisto é glorificado meu Pai,
que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8). Em outro lugar lemos:
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Notemos que Jesus não
fala dos resultados das boas obras, mas sim de realização das mesmas. No cristianismo
de hoje, tem-se a ideia de que Deus é glorificado quando alguma coisa produziu
resultados positivos. Se der certo, louvado seja Deus; se der errado, choro e lamento.
Esse pragmatismo evangélico é extremamente prejudicial para o entendimento do que
significa glorificar a Deus.
Esse glorificar a Deus se enquadra no primeiro aspecto do que ensinou Jesus
sobre a razão de existir do ser humano: “O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve,
Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de
todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas
forças; este é o primeiro mandamento” (Mc 12.19-30). A teologia de Jesus segue o
primeiro mandamento do decálogo (Ex 20). Podemos então concluir que a razão última
da existência da igreja é glorificar a Deus.
1.2. As missões penúltimas
Enquanto no mundo, a igreja é convocada a participar do projeto redentor de
Deus, a missio Dei. Creio que Deus pode usar outras pessoas e outras organizações para
cumprir a sua justiça entre os povos. Todavia, entendo que essa responsabilidade recai
primeiramente sobre a igreja, o corpo de Cristo.
Em resumo, a igreja tem uma missão de serviço bem explicitada pelo apóstolo
Paulo na carta aos Gálatas: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo
ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos oportunidade,
façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.9-10). Fazer o
bem, ou seja, aquilo que é honrável, bom e belo de se ver, em pelo menos duas direções.
Primeiro, ensina Paulo, aos da família da fé. Creio que Paulo quer nos mostrar aqui que
se a comunidade não se preocupa e nem cuida do seu próprio povo, como cuidará dos
de fora? Portanto, os membros da comunidade devem cuidar uns dos outros. Em
segundo lugar, Paulo diz que o bem deve ser direcionado a todos, ou seja, aos que não
pertencem a comunidade. Esse fazer o bem aos da família da fé e a todos os demais é
enquadrado dentro do segundo aspecto do que ensina Jesus ser a tarefa do ser humano,
ou seja, amar o próximo. O próximo pode estar dentro da comunidade ou fora dela. O
que importa é sermos instrumentos de Deus nesse projeto de resgatar a dignidade do
outro.
É nesse resgate da vida para Deus que a igreja desenvolve a suas missões
penúltimas. Penúltimo aqui não significa de menor importância. A implicação aqui é a
respeito do tempo (kairos) desses ministérios, pois eles são realizados enquanto a igreja
é peregrina nesse mundo. Depois da consumação dos tempos é óbvio que esses tantos
ministérios, como o da evangelização que discutiremos abaixo, não serão mais
necessários. O problema dos fiéis é que não existe esse entendimento na comunidade,
consequentemente, as atividades dos mesmos são para dentro das paredes do templo e
também os recursos são utilizados, em sua grande parte, para o conforto e bem estar dos
membros da comunidade. Pouco sobra para a prática ministerial para com os de fora.
1.3. A arena da missão
O palco da missão é o mundo. Alias foi o próprio Jesus quem nos deixou essa
informação: “O campo é o mundo” (Mt 13.38). É no mundo que o teatro da vida se
desenrola. Cada esfera da sociedade necessita receber o poder do evangelho e ser tocada
com as demandas de Cristo. Quem pode fazer isso? Naturalmente os milhares de
cristãos espalhados pela face da terra.
Concordo inteiramente que:
Não é preciso “tocar a trombeta” ou fazer um teatro todas as vezes que
se realiza um bem, sobretudo, porque é para Deus que se está fazendo.
Por isso, Jesus no mesmo sermão, acerca da oração, afirma que não
devemos agir como os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, que fazem
de suas orações um show particular a fim de serem notados; antes, que
se procure um lugar quieto e secreto a fim de não representar nenhum
papel diante de Deus (Mt 6.5-6). É uma vida de
integridade atuando contra uma religião da hipocrisia (Menezes,
2013).
Realmente tem havido um enorme exagero por parte dos líderes e também dos
membros das comunidades evangélicas a respeito do pouco que tem realizado. Ou seja,
pouca realização e muita propaganda. Todavia, existe o outro lado dessa moeda da
prática do bem, conforme já mencionei anteriormente, quando o próprio Jesus afirma:
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Note que o Pai será
glorificado se essas boas obras forem realizadas. Por isso é importante que essas boas
obras sejam feitas em nome de Deus e para a glória de Deus. Assim sendo, o cristão
caminha nesses dois trilhos: anonimato e publicamente. Como discernir o que deve ficar
escondido e o que deve ser visto? Essa orientação é do Espírito Santo e cada um de nós
deve ouvir o seu conselho.
2. Os desafios da nova evangelização
A igreja caminha em missão nessas duas dimensões: glorificar a Deus e
manifestar Deus através de seus ministérios múltiplos. É na dimensão penúltima que
acontece a obra evangelizadora e tantos outros ministérios, todavia, o foco do nosso
trabalho é a evangelização. Gostaria de enumerar, então, alguns desafios que a nova
evangelização apresenta a igreja evangélica frente a uma sociedade plural, cheia de
demandas e expectativas.
2.1. A nova evangelização tem que incluir as boas obras
Como já mencionei acima, o público alvo da igreja evangélica brasileira quase
sempre foi o membro da igreja católica. Entendiam e entendem os evangélicos que os
católicos não vão para o céu por causa da idolatria aos santos, da veneração a Maria e da
pratica das boas obras como meritórias para a salvação eterna. É fato que o crescimento
da igreja evangélica é dependente em grande escala da evasão dos fiéis católicos de suas
paróquias, como já observamos acima.
Especialmente em relação às boas obras os evangélicos não foram desafiados a
praticá-las por duas razões que se sobressaem em relação às demais: (1) a salvação é
unicamente pela fé em Cristo e, consequentemente, (2) as boas obras não possuem
importância para a salvação. Sempre se ensinou no meio evangélico que as boas obras
não salvam, mas que deveriam ser praticadas porque a pessoa é salva, ou seja, as boas
obras são vistas como mero adorno da fé cristã. Não é de se admirar então que esse
ensino tenha enfraquecido a importância das boas obras.
Devemos lembrar que esse assunto não é novo. Na própria Reforma Protestante
do Século 16 um forte argumento dos reformadores foi justamente que as obras não
possuíam valor salvífico. Os reformadores argumentavam contra a teologia católica,
especialmente a esposada por Tomas de Aquino.
Estão corretos os evangélicos ao não aceitarem as boas obras como fator
preponderante para a salvação eterna. Todavia, no afã de defender a doutrina da
salvação pela fé (sola Fide), os mesmos deixaram a prática das boas obras. Aqui está,
portanto, um dos problemas da nova evangelização. Se a velha evangelização era
basicamente verbal, hoje somente o discurso já não se sustenta. Se no passado
acusavam-se os católicos de serem idólatras, hoje a igreja evangélica também tem
dezenas de ídolos não em formas de imagens, mas no seu imaginário. Se anteriormente
dizia-se que a fé católica era impura, hoje a fé evangélica também está eivada de
crenças e misticismos dos mais exagerados. Ou seja, o argumento de que a igreja
evangélica é melhor do que a igreja católica já não tem mais tanta força para convencer
a migração. Qualquer pessoa mais atenta questionará o evangelizador sobre os
desmandos dos líderes evangélicos, da volúpia pelo poder dentro das denominações e,
principalmente, pela ganância financeira que não encontra limites.
O caminho para a nova evangelização – sem explicitar a quem se dirige o
ouvinte, pois hoje é impossível afirmar com certeza que o evangélico é salvo, e que o
católico não –, é a pratica das boas obras em nome de Deus. Refiro-me aqui às obras
que advêm da fé em Cristo, conforme advogou Martinho Lutero3. Se antes o recipiente
da mensagem ouvia, hoje ele que ver. Quer ver os atos de justiça e de bondade do povo
de Deus. Somente através do serviço ao outro, conforme o modelo deixado por Jesus

3
“Se a justiça consiste na fé, fica claro que somente a fé cumpre todos os mandamentos e torna justas
todas as obras. Pois ninguém é justo a não ser que cumpre todos os mandamentos de Deus. Por outro
lado, as obras não conseguem justificar ninguém perante Deus sem a fé. O santo apóstolo rejeita as obras
e exalta a fé tão aberta e claramente, que se irritaram com suas palavras. Disseram: 'Ora, então não vamos
mais praticar boas obras'. São Paulo condena estes como errados e insensatos (cf. Romanos 6.15)”
(Lutero, 1999 p. 23-24).
Cristo nas Escrituras, é que é que se pode mover o evangelizado a perceber um Deus
que se importa e que verdadeiramente o ama.
A igreja evangélica brasileira precisa urgentemente rever a sua prática, tirar os
pés do templo e andar nas ruas do bairro, da vila e da cidade. O exemplo de ministério
bondoso vem de Jesus, que “percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas
sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e
moléstias entre o povo” (Mt 9.35). O mundo não quer mais ouvir, mas ver Cristo em
nós, a esperança da glória (Cl 1.27).
2.2. A nova evangelização tem que ser realizada pelos leigos4
Os principais atores no desempenho da missão evangelizadora são os chamados
leigos. Ou seja, a imensa maioria de pessoas redimidas por Cristo e que fazem parte do
seu povo na terra. A missão intramuros é importante, pois é nessa dimensão que se
cuida dos que estão sendo incorporados no povo de Deus. Qual a validade de resgatar
pessoas para o reino de Deus se não há quem cuide delas? A igreja é uma comunidade
terapêutica.
Precisamos, todavia, recuperar o significado da missão para o outro que está
alheio ao amor de Deus. Quem vai realizar essa missão? Certamente não são os clérigos,
ou os profissionais que receberam a função de instruir o corpo de Cristo.
Lamentavelmente, decorridos alguns séculos da Reforma protestante, ainda não
vencemos a dicotomia clérigo-leigo. Os clérigos se veem como as pessoas mais
importantes da comunidade e, em contrapartida, os leigos se veem como incapazes de
realizar qualquer coisa para Deus. Dois universos que raramente se cruzam e não se
cruzam principalmente porque os clérigos não confiam nos leigos. Está certo Eugene
Peterson ao afirmar que é “uma questão de ego, na realidade. Temos milhares de
eufemismos para o nosso ego – preocupação espiritual, sabedoria teológica, preparo dos
leigos. Todos esses termos podem ser eufemismos para não confiarmos nos leigos”
(Peterson, 2009, p. 288).
Insistir no ministério profissional com o objetivo de transformar a realidade será
perda de tempo e recursos. Os clérigos são importantes no papel a eles confiado, qual
seja, instruir e lançar o povo de Deus ao mundo em missão – a missão centrífuga da
igreja. Os clérigos existem para servir ao povo e não o contrário. Quando percebemos
que a pompa e a circunstância, outrora criticadas no catolicismo romano, fazem parte da
igreja evangélica, sendo inclusive motivo de orgulho, podemos tão somente lamentar. O
papel que o leigo deve desempenhar na nova evangelização é crucial para que a
mensagem do evangelho chegue a lugares mais amplos dentro de nossa sociedade, onde
pastores e líderes não podem chegar e nos quais dificilmente seriam ouvidos.
Henri Nouwen descreve o retrato das pessoas de nossa sociedade tão moderna e
autossuficiente:
Por trás de todas as grandes realizações do nosso tempo, há uma
profunda correnteza de desespero. Enquanto a eficiência e o controle
são as grandes aspirações da nossa sociedade, a solidão, o isolamento,
a carência de amizade e intimidade, os relacionamentos arruinados, o
tédio, a sensação de vazio e depressão e uma profunda sensação de

4
Para um tratamento mais extenso sobre o tema, ver: BARRO, A. C.; MENEZES, Jonathan. O futuro do
leigo na igreja do futuro. In: BARRO, A. C.; KOHL, Manfred. A igreja do futuro. Londrina: Descoberta,
2011, pp. 227-258.
inutilidade enchem os corações de milhões de pessoas neste nosso
mundo norteado pelo sucesso (Nouwen, 2002, p. 20).
Quem ministrará a uma sociedade como essa? Naturalmente que essa missão
está nos ombros dos milhares de homens e mulheres que conhecem o amor Deus e
podem reparti-lo com pessoas do trabalho, colegas do futebol, amigos da escola,
parentes e vizinhos. Para que isso aconteça algumas barreiras precisam ser
ultrapassadas. Duas são primordiais, quais sejam: a resistência dos clérigos em transferir
para os leigos o papel de principais atores na missão de Deus no mundo, e a
vagarosidade dos leigos em compreender que eles são os atores da missão e não meros
coadjuvantes dos clérigos5.
Após anos de doutrinação ou domesticação dos leigos é natural que eles não
tenham a consciência de sua importância na práxis evangélica. Por isso, permanecem na
comunidade de forma inoperante; ou ficam “ocupados”, mas não fazendo nada de
realmente produtivo para o reino de Deus, mas para si mesmos; ou ainda ficam
procurando novas “emoções” na troca por outras comunidades.
É senso comum entre teólogos, especialmente entre missiólogos, que o
testemunho e o ministério da igreja se dão fora dos limites da comunidade local. O
laicato, enfatizamos uma vez mais, precisa entender e internalizar que ele é a igreja de
Deus no mundo. Não existe outra. A igreja institucional e hierárquica nada pode fazer.
Os cristãos necessitam passar por um processo restaurador da fé, receber uma renovação
interior que vem do Espírito Santo e que possa fortalecer a cada um para o cumprimento
da missão. A acomodação dos cristãos e a impotência frente aos desafios da sociedade
são barreiras a serem vencidas.
2.3. A nova evangelização tem que ser dialogal
A velha evangelização era uma apresentação monológica do evangelho. O
evangelizador, possuidor do conhecimento de Deus, comunicava e o recipiente
passivamente ouvia e era muitas vezes obrigado a dizer apenas “sim” ou “não” perante
o oferecimento da mensagem. Era muito comum que, logo após a apresentação do
evangelho, surgisse a pergunta: “Você quer receber a Cristo como o único senhor e
salvador da sua vida?”. Quando havia resistência o evangelizador auxiliava fazendo o
que se chama “a oração do pecador”. Isso consistia na repetição por parte do ouvinte da
oração que era feita para receber Jesus como o salvador da vida. Não havia espaço para
dialogar sobre dúvidas que pudessem surgir.
No mundo de hoje, esse tipo de evangelização está caindo em desuso porque a
grande maioria das pessoas quer dialogar e principalmente fazer muitas perguntas a
respeito de Deus e especialmente da igreja. Se no passado o evangelizador era
despreparado para outras conversas que não fossem aquelas para as quais foi
previamente treinado a ter, o mesmo não pode acontecer hoje. Vimos no retrato da
sociedade pintado por Nouwen que evangelizar hoje é mais complexo do que
simplesmente decorar algumas regras ou estudar um manual de evangelismo e passar
adiante. Evangelizar hoje é significa se engajar num diálogo sério e profundo para que o
outro sinta que não é apenas um alvo a ser alcançado ou um número a ser acrescentado
no rol de membros da igreja.
Um aspecto muito importante no evangelismo dialógico é a habilidade de ouvir
atentamente o outro. Não existe, a priori, a supremacia de pensamento sobre o
5
Como reitera Peterson: “Os leigos deviam se comprometer fazer o ministério efetivo da igreja, e o
pastor deveria se comprometer com a direção espiritual dos leigos” (Peterson, 2009, p. 288).
interlocutor, portanto, não se pode dominar a conversa como se o outro não tivesse nada
a contribuir. Também não se deve fechar os ouvidos para os anseios e questionamentos
que são feitos. Muitas vezes no evangelismo tradicional o outro é ouvido apenas com o
propósito de ser rebatido ou refutado quanto aos questionamentos, não se preocupando
com a legitimidade dos mesmos.
A igreja evangélica tem receio de praticar o evangelismo dialógico, pois pensa
que isso equivale a abrir mão do conteúdo do evangelho. Diálogo não significa abrir
mão dos pressupostos da fé cristã, dos valores e princípios do evangelho. Aceitar que
qualquer caminho tomado conduzirá eventualmente à salvação eterna joga por terra e
anula totalmente a cruz de Cristo.
Devemos ter um compromisso, sem reservas, com o conteúdo do evangelho
conforme revelado por Jesus Cristo e pelo Apóstolo Paulo. A relativização do
evangelho já ganhou muito terreno no seio da igreja, principalmente entre teólogos
evangélicos com inclinações ao diálogo inter-religioso. No afã de tornar-se moderno e
ajustar-se ao conceito do politicamente correto, o conteúdo do evangelho já não é
exposto com tanta ousadia e a certeza de ser o Cristo o único mediador entre Deus e a
humanidade vem perdendo força.
Miroslav Volf, nesse sentido, faz um importante resumo de como as várias
correntes teológicas tentam acomodar o evangelho em relação à cultura de acordo com
os ditames da época. Podem-se resumir essas correntes em duas tendências principais:
ou o evangelho tem algo a dizer por não ser parte da cultura; ou a cultura envolve o
evangelho tornando o mesmo irrelevante por ser exatamente igual à cultura. Para Volf, a
chave está em o evangelho ser diferente. Diz ele: “Se você tem a diferença, você tem o
evangelho. Se você não tem, você terá então simplesmente a velha cultura ou o reino
universal de Deus, mas você não terá o evangelho. O evangelho sempre será sobre a
diferença; afinal, ele significa as boas novas – alguma coisa boa, alguma coisa nova, e,
portanto, diferente!” (Volf, 2011, p. 95 – Tradução minha).
Essa declaração de Volf adquire importância porque vivemos exatamente numa
época de grande pressão sobre a igreja e sua mensagem salvadora. É na pluralidade das
religiões e no diálogo inter-religioso que se questiona o conteúdo do evangelho como
único. A tendência por parte das teologias modernas é descaracterizar a unicidade da
salvação. O movimento hoje é em direção a um mundo harmonioso onde cada pessoa
busca sua maneira de ser feliz. Em um artigo com sugestivo título, Claudio de Oliveira
Ribeiro deixa bem claro essa tendência ao defender:
Não basta meramente condenar as formas fundamentalistas, pois elas
possuem raízes mais vigorosas e na maioria das vezes com significado
social profundo. No caso de movimentos fundamentalistas
contemporâneos no islã, por exemplo, muitos têm sido vistos como
reação defensiva aos impactos da cultura ocidental, percebida como
destruidora de valores sociais e religiosos. Algo similar pode se dizer
sobre o conversionismo exacerbado de grupos cristãos, que gera uma
identidade rígida, mas forma um sentimento de pertença em um
mundo de despersonificação e anomia. Talvez, uma comunicação
mais dialógica entre as religiões pudesse contribuir para que todas
identificassem as próprias limitações e se voltassem, assim, para a
promoção dos valores humanos e para o bem-estar de todos (Ribeiro,
2012, p. 102).
Retornamos assim ao velho humanismo como sendo o alvo último da existência
humana. No Brasil temos até mesmo um ditado popular que poderia ser aplicado aqui:
“Cada um para si e deus para todos”. Deus com inicial minúscula ou ainda substituir
“Deus” por “ser celestial”, entidade divina ou algo similar. A outra conclusão é também
interessante. Qualquer um que enfatizar o papel de Cristo como o único mediador entre
Deus e a humanidade será imediatamente classificado como fundamentalista.
O caráter do evangelismo dialógico é em verdade altamente respeitoso. O outro
tem o direito de continuar crendo na sua própria maneira de se salvar ou de não crer em
nada do que diz respeito à pós-morte. Podemos não concordar, mas temos que aceitar e
conviver pacificamente com todas as pessoas tenham elas credos religiosos ou não. Na
evangelização dialogal o evangelizador também é evangelizado. As proposições que
ele/ela faz ao outro retornam à mente com um grande e retumbante eco: “As perguntas,
as inquirições que estou fazendo como sendo verdades para o outro, são verdades para
mim?” E ainda mais: “Isso que eu indico como sendo a verdadeira vida para o outro, é
realidade no meu caminhar?”. Nesse sentido, não evangelizamos apenas o mundo, mas
também a igreja. Deixamos a superioridade de lado e nos tornamos discípulos no
caminho de Emaús, pedindo ao Cristo a sua presença abençoadora: “Fique conosco,
pois a noite já vem; o dia já está quase findando” (Lc 24.29).
2.4. A nova evangelização tem que ser integral ou holística
A igreja, nessa altura de sua caminhada, necessitaria estar ciente de sua missão.
Os textos bíblicos e as reflexões teológicas sobre o tema já deveriam ter encontrado
espaço na práxis dos cristãos protestantes. Lamentavelmente não é isso que se vê.6 A
igreja continua isolada no seu próprio mundo, realizando cultos alienantes e, mais
trágico ainda, roubando dos cristãos o seu grande privilegio que é transformar a
sociedade com o amor de Deus, os princípios e valores do evangelho de Cristo, debaixo
da sábia orientação do Espírito Santo.
O Pacto de Lausanne chama a atenção para esse aspecto: “Na missão de serviço
sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a
igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo” (Pacto de Lausanne, Art. 6).
Para que a igreja leve o evangelho integral ao mundo é mais do que óbvio que ela
precisa estar no mundo. Jacques Ellul começa seu livro The presence of the Kingdom
afirmando exatamente isso: “A Bíblia nos diz que o cristão está no mundo, e no mundo
ele precisa permanecer. O cristão não foi criado a fim de separar-se do, ou viver
reticente do mundo” (Ellul, 1967, p. 7).
Ainda que o Pacto de Lausanne não tenha tido a ousadia de declarar que a
evangelização e o serviço que a igreja presta ao mundo tem a mesma importância no
reino de Deus, não se pode negar que foi a partir do mesmo que a igreja evangélica
despertou para o lado social do evangelho. Esse lado social era uma das bandeiras da
teologia liberal, mas que encontrava resistências nos setores mais conservadores da
igreja.
Temos outra declaração do Pacto que chama a atenção: “... na ânsia de conseguir
resultados para o evangelho, temos comprometido a nossa mensagem, temos
manipulado os nossos ouvintes com técnicas de pressão, e temos estado excessivamente
preocupados com as estatísticas, e até mesmo as utilizando de forma desonesta. Tudo
isto é mundano. A igreja deve estar no mundo; o mundo não deve estar na igreja” (Pacto

6
Para aprofundamento na discussão sobre a falta da missão integral na vida da igreja, sugiro a leitura do
ensaio “A missão integral, expectativa e frustração”, de Ricardo Gondim, em: GONDIM, Ricardo.
Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 61-104.
de Lausanne, Art. 12). Esse é o resultado da falta da missão integral como elemento
norteador da evangelização. A igreja perde o seu referencial e também sua identidade a
ponto de cometer deslizes para alcançar seu crescimento numérico.
Creio que não podemos mais nos contentar com uma obsoleta forma de
evangelização, que pressupõe apenas o interesse pela alma da pessoa. Essa
evangelização é meramente um rodízio de batizados. Um ano em uma igreja, outro
período em outra. Falta respeito para com os valores do reino de Deus quando fazemos
do proselitismo uma arma para encher os templos.
O Congresso Brasileiro de Evangelização (CBE I), realizado em Belo Horizonte
em 1983, tinha como um dos objetivos reavaliar a prática de evangelização
“perguntando por sua fidelidade à Palavra de Deus e sua eficácia metodológica,
buscando superar nossas limitações e propondo novos modelos de evangelização”
(Steuernagel, 1985, p. 13). Não creio que esse ideal se concretizou na prática. A luta
continua e a obstinação da liderança evangélica um dia será vencida e o ideal de Cristo e
seu reino triunfarão.
Os postulados da missão integral ainda permanecem como um grande desafio
para quase a totalidade das igrejas evangélicas. Grande parte dos pastores e líderes é
formada em seminários teológicos onde o tema não está incluído na grade curricular. Se
essa liderança não fizer um curso extra ou participar de alguma conferência sobre o
tema, certamente que as pessoas debaixo de sua liderança não entenderão o que
significa missão integral. Nesse sentido, a Faculdade Teológica Sul Americana, em
Londrina, procura desenvolver a sua educação teológica. A missão integral é o guarda-
chuva que abriga todas as matérias a serem ensinadas. A pergunta feita a/por cada
professor é: “Como a minha disciplina contribui para o avanço da missão integral?”.7
O alvo da nova evangelização não se resume, dessa maneira, tão somente ao
indivíduo e suas necessidades particulares e existenciais, mas, principalmente, na
transformação da sociedade. São nos relacionamentos do dia a dia que os sinais da
conversão se tornam concretos.
Considerações finais
Sentindo-se acuada e não sabendo dialogar com essa nova sociedade, a igreja
retrai-se ainda mais para dentro de seus portões e abandona sua missão transformadora
por sentir-se inadequada frente à sociedade. Para que a igreja pratique a nova
evangelização com os postulados acima defendidos, creio serem necessários alguns
ajustes.
Em primeiro lugar, deve-se ter um compromisso de substituir a evangelização
proselitista que ocupa lugar central na prática de quase todas as denominações
evangélicas. No passado, esse proselitismo se dava em relação aos católicos romanos,
que, por sua vez, não eram considerados como salvos por Jesus Cristo. Hoje, esse
proselitismo é inclusivo, direcionado a todas as denominações. O incentivo para se
trocar de comunidade é intenso e incessante. Voltamos ao tempo em que “fora da igreja

7
Creio não ser necessário, dado ao limite de espaço, elaborar mais sobre esse tema. Há muitos autores
para ser lidos, tais como C. René Padilla, Orlando E. Costas, Samuel Escobar, Caio Fábio, Robinson
Cavalcanti, Júlio Zabatiero, dentro tantos outros. Podem-se ver ainda os documentos dos CLADE (até a
quarta edição) em: LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e
evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa, MG: Ultimato, 2002. Para uma boa introdução
ao assunto da missão integral, ver: CARRIKER, Timóteo. Missão integral: uma teologia bíblica. São
Paulo: Editora Sepal, 1992.
não há salvação”. Fora da denominação do evangelizador não existe a menor
possibilidade de salvação! Daí a insistência para mudar de comunidade.
Historicamente, podemos afirmar que a evangelização proselitista não resultou
ou não produziu mudanças significativas no seio da sociedade. A simples mudança de
uma denominação para outra não tornou o novo “crente” em um cristão consciente de
sua identidade e papel na missio Dei. A pessoa mudou de endereço eclesiástico, mas
continuou com a mesma apatia em relação a participar da missão de Deus no mundo.
Qualquer estatística brasileira demonstrará que a sociedade piora a despeito do
crescimento das igrejas evangélicas. Portanto, se no passado culpava-se a igreja romana
como sendo responsável pelas mazelas brasileiras, hoje essa acusação não faz mais
sentido. O católico apenas se tornou protestante, mas continua igualmente ignorante de
seu papel de sal da terra e luz do mundo.
Em segundo lugar, como consequência do que foi anteriormente afirmado, a
nova evangelização deve passar pela superação de duas tradições que se encastelaram
na história da igreja protestante, quais sejam: eclesiocentrismo e denominacionalismo.
A igreja centralizada em si própria é uma aberração bíblica e teológica. Ela mesma não
pode ser o alvo último de sua razão de ser, de sua missão. Nesse sentido, parece que a
igreja se assemelha ao profeta Elias quando se volta para Deus e diz: “e só eu fiquei”
(1Rs 19.10). A síndrome de Elias faz com que a comunidade e seus membros,
influenciados pela liderança, pensem ser os únicos salvos na terra e que todos os demais
membros de qualquer outra igreja estão perdidos e por isso necessitam de conversão –
por “conversão”, aqui, entenda-se “mudança de comunidade”.
A veneração denominacional é consequência do eclesiocentrismo. As igrejas
locais vivem não somente para si mesmas, mas também para fazer crescer a sua
denominação. Esse ideal não é necessariamente um problema, mas se torna um
problema quando passa a ser o alvo último da igreja. A denominação precisa ser
desenvolvida, mantida e protegida dos ataques dos inimigos – nesse caso, as outras
denominações e o próprio mundo com seus encantos. Apela-se então para a história da
igreja, seus feitos e seus heróis. Celebra-se muito o passado.
A tragédia dessas duas tradições é que elas roubam da igreja exatamente a sua
missão hoje. O potencial transformador, a energia e os recursos viram pó e se perdem
dentro das paredes do templo. O fiel é ativamente feliz, quando imerso nos diversos
programas e atividades locais, e extremamente ineficiente, quando inserido no mundo
onde as trevas fazem a festa.
Finalmente, mas não esgotando o tema, a evangelização não deve ser baseada
em eventos intramuros onde foco da mensagem é apenas (e novamente) o individuo e o
objetivo é a mudança de domicilio eclesiástico. Esse tipo de evangelização não possui
conteúdos suficientes para que a pessoa possa fazer uma decisão consciente. O resultado
da mesma é a produção em larga escala de pessoas que frequentam uma igreja, mas que
não entendem os pressupostos da fé cristã e muito menos o papel a ser desenvolvido na
missio Dei. A nova evangelização é uma imersão na vida do outro em sua totalidade.
Jesus mesmo estabeleceu exemplos desse tipo de evangelismo nos seus profundos
diálogos com Nicodemos, com a mulher samaritana, com o jovem rico, Zaqueu e tantos
outros. Ele não tinha medo, não criava barreiras ou mesmo demonstrava intolerância
para com seus interlocutores. Para ele, o passado do outro não interessava tanto quanto
sua perspectiva futura no reino do Pai Celestial.
É nesse mesmo caminho que devemos seguir, pois somos amigos de Jesus e,
como tais, fazemos o que ele fez e o que ele ordena (Jo 15.14).
Referências bibliográficas
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BARRO, A. C.; KOHL, Manfred. A igreja do futuro. Londrina: Descoberta, 2011, pp.
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1992.
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