Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Resumo
As mudanças ocorridas no contexto mais abrangente das sociedades nos últimos tempos têm
se refletido no espaço particular da Escola e professores e alunos vêm sentindo sua
interferência nas relações mais específicas da sala de aula. Diante de tal cenário, soa
confortante e animador a proposta de se adotar as reflexões filosóficas como embasamento da
formação escolar. Para Lipman (1990), a filosofia é uma ciência de investigação, que por
meio do diálogo entre alunos/alunos/professor é possível construir ideias, pensar
independente, trazendo para suas vidas nova percepção de descoberta, de invenção, de
interpretação e de crítica. A sala de aula é ambiente favorável para o desenvolvimento da
filosofia para o bem pensar, onde cada aluno necessita desenvolver o seu ponto de vista, seu
estilo de pensamento, sua perspectiva de vida. Este trabalho descritivo, de caráter qualitativo,
embasado nos moldes de Triviños (1987) e Minayo (2000), tem por objetivo apresentar
algumas aquisições dos alunos que participam do desenvolvimento do projeto de extensão
“Filosofia para crianças dos anos iniciais do ensino fundamental da escola pública estadual:
perspectivas para o pensar reflexivo”, constituído de aulas semanais ministradas por
universitários da Universidade Paulista para duas turmas de alunos do Ciclo I do Ensino
Fundamental, de uma escola pública estadual da cidade de Araraquara-SP. De acordo com as
observações dos universitários, as crianças demonstram satisfação em participar das aulas de
Filosofia. Instigadas a debater, fazem indagações, querem conversar sobre suas curiosidades.
Por meio de questionamentos, as opiniões vão surgindo, fazendo com que as aulas sejam
interessantes. Quando interrogadas a respeito de suas aquisições, em seus registros constam:
1
Graduando em Pedagogia pela UNIP de Araraquara. E-mail: sgeduardorigo@gmail.com.
2
Doutora em Educação Escolar pela UNESP de Araraquara-SP. Professora da rede estadual paulista e da UNIP
de Araraquara-SP. E-mail: soniabelletti@yahoo.com.br.
3
Graduando em Pedagogia pela UNIP de Araraquara. E-mail: guilhermesantosneves@hotmail.com.
4
Graduando em Pedagogia pela UNIP de Araraquara. E-mail: vania_pavao@yahoo.com.br.
5
Graduando em Pedagogia pela UNIP de Araraquara. E-mail: clarissacguedes@gmail.com.br.
ISSN 2176-1396
29205
“aprendi a refletir, a pensar antes de falar, a esperar a vez para falar, a respeitar o outro, a
pensar para responder às perguntas, a resolver problemas, a conversar com educação” (alunos
do 3ºano, 2012).
Introdução
Na vida cotidiana admitimos como certas muitas coisas que, depois de um exame
mais minucioso, nos parecem tão cheias de contradições que só um grande esforço
de pensamento nos permite saber em que realmente acreditar. Na busca da certeza é
natural começar pelas nossas experiências presentes e, num certo sentido, não há
dúvida de que o conhecimento deriva delas. É possível, no entanto, que qualquer
afirmação acerca do que nossas experiências imediatas nos permitem conhecer
esteja errada.
É o que acontece, muitas vezes, quando nos deparamos em uma situação para resolver
um determinado problema, mas não conseguimos chegar à solução dele; isso acontece porque
não refletimos, não pesquisamos mais sobre o assunto, não nos questionamos se o que
29206
estamos fazendo é certo. Neste caso, a Filosofia nos traz grande ajuda para refletir a respeito
da realidade e questionar nossas ações, bem como para respeitar pontos de vistas diferentes. É
o ato consciente e crítico, o “filosofar espontâneo do homem comum” (ARANHA e
MARTINS, 2003, p. 73).
Assim, este trabalho descritivo, de caráter qualitativo, embasado nos moldes de
Triviños (1987) e Minayo (2000), tem por objetivo apresentar algumas aquisições dos alunos
que participam do desenvolvimento do projeto de extensão “Filosofia para crianças dos anos
iniciais do ensino fundamental da escola pública estadual: perspectivas para o pensar
reflexivo”, constituído de aulas semanais ministradas por universitários da Universidade
Paulista para duas turmas de alunos do Ciclo I do Ensino Fundamental, de uma escola pública
estadual da cidade de Araraquara-SP.
Apesar dos obstáculos os mais diversos, a Filosofia pode ser uma opção para as
crianças no ambiente escolar e, se bem aplicada, torna-se um instrumento motivador à
vivência infantil, desde a mais tenra idade. Ela atrai a atenção e participação para temas
significativos da vida, oferecendo habilidades de raciocínio, dentro do espírito aberto e
crítico.
Para Lipman (1990), a filosofia é uma ciência de investigação, que por meio do
diálogo entre alunos/alunos/professor é possível construir ideias, pensar independente,
trazendo para suas vidas nova percepção de descoberta, de invenção, de interpretação e de
crítica.
Segundo o autor: “A filosofia oferece às crianças a oportunidade de discutir conceitos,
tais como o de verdade, que existem em outras disciplinas, mas que não são abertamente
examinados por nenhuma delas.” (LIPMAN, 1990, p.13). Portanto, a ideia de unir Educação
e Filosofia para a aprendizagem escolar, voltadas para o desenvolvimento de valores e da
ética, traz interessantes resultados para o exercício da cidadania.
E, para que a preparação do jovem cidadão se concretize é necessária a presença de
um professor comprometido com a investigação, um professor que o incentive a pensar por si
só, um professor que o ajude a descobrir sua filosofia de vida, sem, contudo, esquecer-se que
suas atitudes têm grande valor para o aluno.
29207
Decorrente do projeto de Iniciação Científica realizado por uma universitária nos anos
2009/2010, primeiro fase de sua execução, o projeto de extensão “Filosofia para crianças dos
anos iniciais do Ensino Fundamental da escola pública estadual: perspectivas para o pensar
reflexivo” vem sendo desenvolvido por universitários da Universidade Paulista, sob
orientação da professora responsável, em parceria com a EE “Deputado Leonardo Barbieri”,
localizada na cidade de Araraquara-SP.
Em sua segunda fase, constou de aulas semanais para estudos de questões filosóficas
com duas turmas de alunos, introduzidas em 2010, quando iniciavam o Ciclo I do Ensino
Fundamental e se estendeu até 2014, ao terminarem o quinto e último ano deste ciclo.
29208
conversar sobre suas curiosidades. Por meio de questionamentos, as opiniões vão surgindo,
fazendo com que as aulas sejam interessantes.
Dentre o universo de temas desenvolvidos no decorrer dos cinco anos de encontros
reflexivos sobre os contextos cotidianos, as discussões abordaram questionamentos filosóficos
de interesse das crianças, tais como, medos reais e imagináveis, palavras e pensamentos,
emoções, inteligência emocional, adolescência e autoestima, ética e justiça, dentre outros.
chupeta e comida na boca, trocar a fralda, não ficar sozinho, banho, proteção,
carinho, amor.
cuidado para não cometer erros, ajuda quando preciso, conversa, apoio.
No segundo tópico, na análise das “coisas que faço com facilidade, com dificuldade e
as que não consigo fazer”, ao olhar para si mesmos e se autoavaliar, os mesmos alunos
disseram
a) fazer com facilidade:
arrumar a casa, andar de bicicleta, jogar bola, cantar, pentear o cabelo da boneca.
cuidar do irmão, lavar roupa, arrumar o quarto, mexer em coisa pesada, estudar,
matemática, sair sozinho.
lavar o banheiro, fazer café, dar banho no cachorro, fazer comida, passar a roupa
com o ferro quente.
aprender com a mãe, pedir ajuda, treinar, ajudar para aprender, ter força, estudar, ler
e escrever para aprender.
No terceiro e último tópico, referente a observar sua relação com a família e a buscar e
ter aprovação e anuência dos pais para fazer determinadas coisas, os alunos afirmaram que
suas mães apontam como
a) “coisas que não posso mais fazer porque já sou grande”:
ir no colo, dormir no berço, fazer xixi na cama, chupar chupeta, tomar mamadeira.
sair sozinha, dormir na casa da amiga, beber cerveja, ir na balada, sair à noite,
namorar, fazer sexo, trabalhar.
Crianças filosoficamente inteligentes são as que fazem boas perguntas sobre o que
antes se acreditava inquestionável. Boas perguntas exigem que se pense de novo, e que se
pense melhor sobre o que já havia sido pensado. Uma das melhores definições do filosofar é
justamente esta: “filosofar é a atividade de repensar o já pensado, para pensar o ainda não
pensado. Isso só é possível quando não se tem medo de fazer as perguntas que a situação
permite, explorando novos modos de ver e pensar” (CUNHA, 2008, p.60).
E tornando a escola um ambiente cooperativo e comunitário, as crianças poderão
alcançar todas as habilidades de autocrítica e de autocorreção, habilidades estas necessárias
para assumir suas responsabilidades.
Segundo dados preliminares, coletados na fase II desta pesquisa, que se estenderá até o
final deste ano de 2015, percebe-se compreensão progressiva dos alunos em relação a si
mesmos e às atitudes desejadas e necessárias para a participação ativa da comunidade de
investigação, à medida que passam a respeitar regras essenciais para ocorrência do diálogo
investigativo. Eles mostram-se mais amadurecidos, com maior capacidade de refletir
criticamente sobre situações ocorridas, opinando de forma mais autônoma e livre.
Vale salientar que quando interrogados a respeito de suas aquisições no decorrer das
aulas de Filosofia, em seus registros constam: “aprendi a refletir, a pensar antes de falar, a
esperar a vez para falar, a respeitar o outro, a pensar para responder às perguntas, a
resolver problemas, a conversar com educação” (aluno do 3ºano, 2012).
Considerações
Por meio dos resultados parciais desta pesquisa, pode-se considerar que o exercício do
filosofar propicia às crianças educação mais reflexiva e dialógica, preparando-as para a
formação pessoal e profissional completa. Graças ao esforço, preocupação, incentivo, afeto e
29212
apoio oferecidos, elas se mostram capazes de testar seus pensamentos e refletir sobre a
postura de como praticar a cidadania. Aprendendo atitudes e valores éticos, demonstram
perceber suas aprendizagens e seu comportamento, que tem se mostrado mais maduro,
emancipado e consciente.
À medida que participam dessas aulas respeitando todas as regras, amadurecem e
crescem a cada dia, hábeis e competentes para refletir criticamente sobre situações ocorridas
no cotidiano e no mundo, opinando por conta própria a partir dos seus pensamentos e sua
organização necessária.
Portanto, perceber a necessidade da disciplina de Filosofia no currículo escolar o
quanto antes é dar importância à ensinagem de qualidade para uma educação completa do
indivíduo, desde sua individualidade até mesmo sua condição de cidadão. Essa ação crítica
nas escolas e instituições educacionais é somente o começo. A apropriação da Filosofia, a
utilização desse método e outros relevantes e a utilização do Programa de Filosofia para
Crianças é um eficiente processo de humanização cidadã que leva às crianças a usufruírem de
educação mais crítica, ou seja, educação para o pensar.
REFERÊNCIAS
CUNHA, J. A. (org). Filosofia para Criança: orientação pedagógica para educação infantil e
ensino fundamental. Campinas: Alínea, 2008.
LIPMAN, M. A filosofia na sala de aula. Tradução Ana L. F. Falcone. São Paulo: Nova
Alexandria, 1994.