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NELSON WERNECK SODRÉ: O HISTORIADOR ECONÔMICO

ORIGINAL DO BRASIL CEZAR HONORATO


(DEPTº HISTÓRIA/UFF)

Resumo:Comunicação apresentada no seminário “Nelson Werneck Sodré –


Centenário de um pensamento de Brasil” – realizado na FFCH-UFF no ano de 2011,
por iniciativa da Fundação Mauricio Grabois. – retrata a importância de Nelson
Werneck Sodré à construção de uma História Econômica no Brasil. Mostra como este
pensador precisou enfrentar as críticas, tanto da esquerda radical, que o considerava
um moderado, quanto da extrema direita, que o via como um marxista revolucionário.

Palavras-chave: Nelson Werneck Sodré, História Econômica, Marxismo

Fico muito feliz com a lembrança tanto da Fundação Mauricio Grabois quanto da direção do
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da UFF para participar de um evento tendo como
tema o centenário de Nelson Werneck Sodré. A honra do convite é maior, devido ao fato de
que deveria apresentar alguns dos resultados acerca da minha pesquisa sobre da
importância de Sodré para a História Econômica do Brasil e para a História do Pensamento
Econômico Brasileiro.

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Em realidade, a minha pesquisa está Escola de Comando do Estado-Maior do


vinculada a uma demanda da Associação Exército, chefiando o Curso de História
Brasileira de Pesquisadores em História Militar, quanto no Instituto Superior de
Econômica visando à realização de uma Estudos Brasileiros (ISEB) e no qual, era
grande homenagem a Nelson Werneck responsável pelo Departamento de História
Sodré, que acabou ocorrendo no Congresso onde ministrava cursos de Pós-Graduação.
da ABPHE, em setembro passado, no qual Ademais, coordenou uma equipe de jovens
apresentei os meus primeiros resultados. historiadores, a criação a pedido do MEC da
Ao tomar contato com o texto apresentado no História Nova, um material didático que
então evento ao Prof. Ricardo Moreno nos buscava revolucionar a produção e o ensino
corredores do PPGH/UFF, ele me estimulou de História.
a preparar uma nova versão do trabalho,
adaptado ao evento que programava Este ano, comemora-se o centenário de
realizar. É está nova versão que entrego Nelson Werneck Sodré e para nossa alegria
agora para publicação, buscando manter ao e surpresa vemos em todo o país eventos
máximo o tom mais coloquial que marcou a comemorativos que buscam, além de
sua apresentação. reverenciar a sua pessoa, rever a sua
magnífica obra. Mesmo instituições que
Nelson Werneck Sodré talvez tenha sido um pouco reconheciam a contribuição de Nelson
dos pensadores mais influentes na formação Werneck Sodré quando este estava vivo,
dos intelectuais de esquerda brasileiros como o Departamento de História da USP, a
desde os anos 1950. Contudo, também foi Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e
um dos mais criticados e sua obra das mais Geográfico Brasileiro, hoje se curvam ante a
vilipendiados que se tem notícia no Brasil sua obra.
Contemporâneo.
O INTELECTUAL
Criticado pela esquerda mais radical que o
via como um moderado por não abraçar a Militar de carreira, entrou no Colégio Militar
tese da luta armada; pela extrema direita, por (1924) e na Escola Militar de Realengo
ser marxista; pelos acomodados marxistas (1930), em plena ebulição política brasileira
acadêmicos por ser um militante; pelos da Revolução de 1930, sendo influenciado
liberais brasileiros que odeiam as diferenças por um lado, pelo positivismo tenentista do
e divergências, por ser marxista; pelos anti- Exército e por outro, pela “aura” que a figura
militares, por ser militar; pelos economistas de Luiz Carlos Prestes representava para
profissionais, por achá-lo um teórico que alguns dos jovens militares. Ao mesmo
teimava em falar de economia política e não, tempo, começava a sua carreira de jovem
de “economia normal”. E, finalmente, por ser profissional da imprensa (1929 – revista O
ideólogo do PCB e não, um historiador Cruzeiro) e de historiador.
erudito e refinado das academias.
Paralelamente à carreira de instrutor de
São muitas as críticas e muito pouco o que se História Militar da Escola de Comando e
reconhece do grande legado de Nelson Estado-Maior do Exército, participou
Werneck Sodré: um intelectual ativamente da Campanha o Petróleo é Nosso
extremamente erudito, arguto e original que e se aproximara do PCB, donde se
escreveu 56 livros e quase 3 mil artigos transformou em um dos seus mais
publicados no Brasil e no exterior; um militar importantes teóricos, visto, inclusive o seu
brilhante que, apesar de suas idéias e domínio das obras de Marx e de Lênin.
posicionamentos na caserna, atingiu o posto Exatamente por estas razões começou a
de Cel da Artilharia na ativa, e Gal., na sofrer perseguições em sua carreira militar,
reserva; de professor brilhante, tanto da culminando com o seu pedido de reserva em

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Artigo - Filosofia - César Honorato 29

1961, após ter sido preso durante a crise e sua obra no campo da História Econômica.
política da renúncia de Jânio Quadros e a Na segunda, busca avaliar a sua influência
posse de João Goulart. na configuração de um pensamento
econômico brasileiro de esquerda.
Uma outra marca de sua trajetória intelectual
foi a sua atuação no ISEB, Instituto Superior
de Estudos Brasileiros ligado ao Ministério de O HISTORIADOR ECONÔMICO
Educação e Cultur à convite de Guerreiro
Ramos (1955/64), para ministrar cursos de Antes de mais nada, devemos refletir acerca
pós-graduação, sendo o principal o do essência do trabalho do historiador, com
Formação Histórica do Brasil no qual buscou destaque para o historiador econômico,
renovar a produção e o ensino de história. como referência para que possamos
perceber a pertinência, ou não, da
Um dos produtos desses cursos do ISEB foi a classificação de Sodré como um historiador
produção de material didático destinado a econômico, independentemente de ter
professores e alunos do ensino médio, a escrito a maioria de sua obra com títulos que
série História Nova do Brasil, elaborada com nos remetem ao fazer do historiador, ou de se
a colaboração dos estagiários do antodesignar como tal .
Departamento de História do ISEB e da FNFi.
Um outro produto dos cursos, após diversas Primeiramente, um historiador tem que ter
reformulações, foi a publicaçãoem 1962 do um objeto de estudo. Ainda jovem, publicara
livro Formação Histórica do Brasil, que serviu História da Literatura Brasileira, em 1938;
de base para esta nossa comunicação. Panorama do Segundo Império, em 1939; a
segunda edição de História da Literatura
Entre os membros ilustres do ISEB, podemos Brasileira, em 1940; Oeste, em 1941;
citar Miguel Reale e Sérgio Buarque de Orientações do Pensamento Brasileiro, em
Hollanda, Hélio Jaguaribe, Roland Corbisier, 1942; Síntese do Desenvolvimento Literário
Alberto Guerreiro Ramos, Nelson Werneck no Brasil, em 1943; Formação da Sociedade
Sodré, Antonio Cândido, Cândido Mendes, Brasileira, em 1944 e O que se Deve Ler para
Ignácio Rangel e Álvaro Vieira Pinto, Carlos Conhecer o Brasil, em 1945.
Estevam Martins, Celso Furtado, Gilberto
Freyre e Heitor Villa Lobos, Anísio Teixeira, Nas décadas seguintes, continuou
Roberto Campos, Horácio Lafer, Pedro publicando vários livros importantes pela
Calmon, Augusto Frederico Schmidt, Sérgio temática como História do Vice-Reinado do
Milliet, Paulo Duarte, Fernando de Azevedo, Rio da Prata (1945), A Campanha Rio-
San Tiago Dantas, que gerava muitos Grandense (1950, O tratado de Methuen
conflitos internos, embora garantisse a (1957) História Militar do Brasil, além de
pluralidade intelectual do Instituto. muitos outros, com destque para Formação
Histórica do Brasil (1962) seu mais influente
Após o Golpe de 1964, com o ISEB tendo livro entre os historiadores econômicos. Em
sido extinto, ele teve cassado os seus direitos cada um desses títulos podemos perceber a
políticos, seus livros foram censurados e clara delimitação do objeto de pesquisa: os
Sodré sofreu constantes ameaças e IPMs. dilemas do desenvolvimento e da exclusão
Desde então e até a sua morte, Nelson brasileiros ao longo do tempo.
Werneck Sodré dedicou-se integralmente a
pesquisar e escrever livros e artigos.. Uma segunda questão que ronda nos ronda
no nosso metier é a questão das fontes. O
Para efeito deste evento, dividi o artigo em próprio Nelson Werneck Sodré reconhecia a
duas partes fundamentais. A primeira, busca sua pouca intimidade na utilização de fontes
explorar a atuação de Nelson Werneck Sodré manuscritas, particularmente do período

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colonial. Tal fato fê-lo optar sempre pela Conselho Técnico de Economia e Finanças e
manipulação de fontes impressas, o que não demais fontes de governo, além dos
o impediu de escrever, por exemplo, uma existentes no Arquivo General de la Nación,
obra de referência para a historiografia como da Argentina.
“ O Tratado de Methuen”(1957) no qual
polemiza se assinatura do famoso tratado no Se considerarmos a bibliografia utilizada, de
século XVIII teria retardado – ou mesmo onde o autor extrai muito de suas fontes e
impedido – o desenvovimento industrial conclusões, além dos autores anteriormente
lusitano. citados como Sérgio Buarque de Holans,
Caio Prado Júnior e Celso Furtado, merecem
Como optamos por analisar o Formação destaque trabalhos muito recentes para a
Histórica do Brasil, podemos observar a época e que representaram avanços
pesquisa e a manipulação com maestria das historiográficos, como os de Clovis Moura14,
fontes históricas acessíveis à época, como Carlos Mariátegui15 e João Cruz Costa16.
relato de viajantes, documentos
diplomáticos, documentos militares, dados Contudo, é na parte final do seu livro, que
estatísticos os mais variados, inclusive e incluem os capítulos dedicados à República
principalmente, dados do Ministério da que o autor intitulou de Revolução, que nós
Fazenda e do IBGE, fontes fundamentais podemos observar com mais propriedade o
para o fazer do historiador econômico. trabalho com fontes, uma das marcas
primaciais do trabalho do historiador
Considerando-se o período colonial, o econômico.
Formação Histórica do Brasil tem nas
memórias¹ de Jan Andries Moerbeck², Joan Basicamente todas as fontes de cunho
4 5
Nieuhof³, Fernão Cardim , Antonil , e Antonio econômico disponíveis ao seu tempo Sodré
6
Vieira , as suas principais fontes, o que, utilizou, como podemos perceber nas
ressalvamos eram a normalmente utilizadas inúmeras citações a Relatórios e demais
à época de elaboração do livro. Em outras documentos do Ministério da Fazenda, da
ocasiões, Sodré buscou trabalhos de SUMOC, do BNDE, da Comissão Mista
referência para se estribar na interpretação, Brasil-Estados Unidos, do IBGE, além de
como os de Caio Prado Jr.7, Celso Furtado8, documentos oriundos da CEPAL, da
Roberto Simonsen9 ou Mafalda Zemella10, UNESCO e do Foreing Capital in America
dentre outros, apresentando o que existia de Latina, do escritório central da Organização
mais avançado em termos de pesquisa das Nações Unidas e os do do Departamento
histórico acerca do período. do Comércio dos Estados Unidos.

Quando adentramos o período que vai do Além disso, manipulou dados e conclusões
Processo de Independência até a crise do de estudos muito recentes e também que se
Império, as fontes se ampliam: com tornaram referência acadêmicas acerca do
memórias, depoimentos e relatos de viagem, período, como os de Fernando Henrique
como os de Azeredo Coutinho11 , Tollenare12 e Cardoso17, de Otávio Gouvêa de Bulhões18 ou
Charles Reybaud13; e fontes jurídico-políticas mesmo de Caio Prado Jr19.
tais como os álvaras régios e os Autos da
Devassa da Inconfidência Mineira, além da Num pequeno artigo como este, podemos
legislação do Império Brasileiro. avançar no sentido de que Nelson primava
pelo domínio das fontes e do melhor da
Com relação aos dados econômicos, Sodré historiografia de seu tempo, não faltando
compulsou os Relatórios do Ministério da referências a mestres como Bloch20, Henry
Fazenda de 1840 a 1910, as Estatísticas do Pirenne21- referências obrigatórias da Escola
Comércio Marítimo do Brasil, os Boletins do dos Analles- ou Bagu22, etc. Aliás, ressalve-se

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o seu domínio da literatura história domínio raro da obra de Marx,


internacional portuguesa, latinoamericana e particularmente O Capital, fato raro, mesmo
francesa. para os comunistas de seu tempo. As
citações à obra de Marx são inúmeras ao
Mas, além disso o historiador deve ter um longo do livro e é a sua mais importante
quadro teórico através do qual possa referência teórica..
explorar as fontes e dialogar com a
bibliografia acerca do tema. Neste particular, Quando se trata das suas influências no
devemos lembrar a sua total aceitação dos tocante à análise e à interpretação do Brasil,
primados do marxismo como o seu fio- as referências recaem nos livros de Caio
condutor. Prado Júnior, Celso Furtado e Sergio
Buarque de Holanada, cm destaque para os
Mas, cabe a pergunta nos tempos de hoje: a dois primeiros, de onde extrai muitas de suas
qual marxismo estamos nos referindo? fontes e reflexões, buscando reinterpretá-los,
Como nos lembra bem Wilson Barbosa particularmente em se tratando de Furtado, à
partir do marxismo.
Na profunda separação entre o 'marxismo
ocidental', que teve seus centros na Inglaterra e
na Alemanha, e o 'marxismo oriental' que se As preocupações de Sodré em se balizar
desenvolveu a partir da União Soviética e do pelas fontes e por uma literatura atualizada e
pensamento de Lenin, Sodré em 1939-40 de referência no campo da história está
voltou-se para este último23. diretamente vinculada à sua busca no
sentido de explorar as especificidades da
Não nos cabe, no presente momento, formação econômico-social brasileira e não
avançar nas diferenciassões entre o ficar apenas em generalizações acerca de
marxismo ocidental e oriental, contudo, não é modo-de-produção.
demasiado reproduzir parte da reflexão de
Ducatti baseado em. Capitalismo e a
24
revolução burguesa no Brasil . acerca de O Pensamento Econômico Brasileiro
sua preocupação a partir desta perspectiva,
no trato da história brasileira:
Para buscar caracterizar a importância da
Sodré chama a atenção, como outro aspecto
importante: para a impossibilidade de obra de Nelson Werneck Sodré no
transplantação ipsis litteris de um determinado pensamento econômico brasileiro dos anos
modo de produção desenvolvido em uma região 1950/60, buscarei dialogar com magistral
para uma outra, pois, historicamente, as livro de Ricardo Bielchowski, Pensamento
realidades de cada sociedade têm suas 26
peculiaridades, e essas realidades são o Econômico Brasileiro (1930/1964) ,
resultado de como cada sociedade se organiza referência obrigatória quando se trata do
dentro de uma determinada época25. tema.

Exatamente por isso, Sodré tenha, por um Ao longo do capítulo 6 – O Pensamento


lado, ousado – e muito criticado - em algumas Socialista – Bielchowski busca caracterizar a
proposições como a da questão da classe importância do pensamento de esquerda –
média no Brasil do 2º Reinado, ou mesmo do para ele, socialista – onde inclui com
feudalismo no campo brasileiro. Por outro destaque Nelson Werneck Sodré, na qual
lado, tal influência marca a sua preocupação explicita algumas questões. A primeira,
com a questão agrária e do imperialismo ao distingue os socialistas dos
longo de vários de seus trabalhos. desenvolvimentistas nacionalistas:

Para além da influência das obras de Lenine, (...) Na análise da economia brasileira, os
ao longo da Formação Histórica do Brasil, um socialistas distinguiam-se, porém, dos
nacionalistas pelo fato de que toda sua reflexão

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se fazia a partir da perspectiva perspectiva Que o autor se insira numa perspectiva


revolucionária discutida e definida pelo Partido antimarxista, negando toda a obra
Comunista Basileira27.
econômica de Marx e dos marxistas, é uma
Ora, a utilização do critério de derivar toda opção. Contudo, afirmar a não preocupação
uma corrente de pensamento importante e acadêmica dos socialistas ou a falta de
vigoroso do posicionamento político do PCB qualquer análise econômica, é um exagero
é desconhecer a história do PCB – inclusive que merece reparos.
por que Sodré, Caio Prado Jr, e outros, foram
formuladores das próprias teses do partido – Não se trata de aqui defendermos algumas
e desqualificar a produção intelectual desta das questões apontadas por Sodré, pois que
corrente. não nos alinhamos cegamente com suas
premissas teóricas, e independentemente
Mais grave, tal perspectiva faz com que o disso, a sua análise, como aliás de que
autor defina como caminho metodológico qualquer historiador, também é datada
para a análise do pensamento socialista historicamente. Mas, de evitar a propagação
devendo partir da evolução do PCB no de equívocos e juízos de valor que empanam
período28. Desta premissa, deriva que a sua importância na construção de uma
história econômica no Brasil
(...) A rigor, é difícil, no caso dos socialistas, falar
de teoria econômica subjacente às análises. Ao longo do capítulo Revolução do seu
Recusavam o uso da teoria econômica corrente Formação Histórica do Brasil, Sodré utiliza
para a interpretação da realidade brasileira de vários dados econômicos oficiais, inclusive o
uma forma mais radical que os estruturalistas29.
da balança comercial e a de pagamentos
A passagem em destaque fala por si! para apontar a deterioração das trocas
externas, tendo como base 1954/58 onde o
Ainda seguindo os passos do autor, o período Brasil teria perdido algo em torno de 600
entre 1945 e 1964 foi marcado por duas bilhões de cruzeiros, o que contradiz o
questões fundamentais. A primeira, a do analista no que tange à falta de uma
31
imperialismo e do capital estrangeiro. A perspeciva acadêmica .
segunda, a questão agrária.
Por exemplo, ao discutir a tese acerca da
Observemos o posicionamento de capacidade do capital estrangeiro em
Bielchovski acerca dos socialistas no que “alavancar” ou não o desenvolvimento
tange à questão do imperislismo, do capital brasileiro, utiliza dados do Ministério da
estrangeiro e da aliança com a burguesia Fazenda mostrando que o envio de capitais
nacional ao exterior visando remunerar os
investimentos estrangeiros feitos no Brasil
(...) De modo geral, até mesmos temas devido a portaria 113 da SUMOC, nem de
econômicos básicos, como balanço de longe foram compensados por novos
pagamentos e inflação, foram tratados como investimentos industriais ou mesmo, pelo
meras questões subordinadas à problemática 32
nacionalista e 'antiimperialista'. (...) A discussão aumento da renda interna .
econômica dos socialistas sobro o imperialismo
e questões 'subordinadas' processava-se sem O mesmo, poderíamos afirmar acerca de sua
maiores preocupações acadêmicas. Não se preocupação em analisar o processo
fazia, por certo, a partir de qualquer marco de
análise econômica. E nem poderia, em verdade,
inflacionário pelo qual passava o país
ser desta maneira, já que são escassas as naquele momento. Sodré o déficit
incursões de análise marxista na área de orçamentário, os subsídios agrícolas, a
relações econômicas internacionais e, mais deteriorização dos termos de troca, a
ainda, na problemática das economias depreciação cambial do cruzeiro, seriam as
subdesenvolvidas30.
razões da inflação pela qual o país passava33.

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Com relação ao segundo aspecto, a questão intelectual de Sodré. Na segunda, o nosso


agrária, Bielchovski apenas reconhece em olhar foi em direção ao trabalho do
Caio Prado Júnior méritos ao identificá-lo historiador econômico, a construção do
como o “mais respeitado intelectual do objeto de pesquisa, as principais fontes
PCB34” e não foi avante a problematização utilizadas, o quadro teórico, etc que o
acerca do carater feudal da propriedade rural caracterizam, e, conjunto com Caio Prado
brasileira, tese importante no pensamento de Júnior os formadores de uma historiografia
Sodré e que, até hoje, embora revista pela econômica marxista no Brasil.
historiografia pertinente, ainda gera
questões: Finalmente, buscamos explorar como a sua
obra e a dos demais marxistas brasileiros
Por não ser possível “carregar” por completo o ainda são classificadas na História do
termo feudal para a realidade histórica brasileira, Pensamento Econômico Brasileiro como
consideramos que Sodré tenha lançado, para
sintetizar o caráter estagnante do latifúndio pouco importantes ou de “reprodução de
brasileiro, o termo feudal como uma metáfora, manuais comunistas”. Não! Em realidade, a
para o campo político, como expressão figurada, obra de Sodré foi fundamental na formação
uma vez que esta nunca pode constituir uma de uma grande quantidade de intelectuais de
conclusão adequada de uma argumentação,
embora possa ser efetivamente uma etapa
esquerda no país, inclusive, no campo da
vitalmente importante em direção àquela economia.
conclusão35.
A originalidade de suas proposições tendo
Ao final do capítulo de acerca da importância como referência o marxismo, a seriedade de
dos socialistas no pensamento econômico seus estudos e a sua erudição o colocam
brasileiro, Bielchovski chega a ser numa posição ímpar no que tange às
contraditório ao afirmar: formulações de um pensamento econômico
brasileiro. Razão pela qual, deve-se
Como observação final, é necessário chamar a aproveitar a efeméride de seu centenário,
atenção para o fato de que, não obstante a não para solenidades banais de bajulação
relativa fraqueza analítica do pensamento
econômico expresso pelos socialistas, sua
simbólica de alguém que não está entre nós.
crescente presença no debate dos anos 50 e Não! Deve servir para que retomemos as
início dos 60 teve méritos intelectuais suas reflexões e busquemos utilizá-las para
indiscutíveis. Como corrente de pensamento, pensar o Brasil que queremos construir
eles foram, possivelmente, os principais
responsáveis pela introdução, no debate
econômico da perspectiva das relações de
produção. Tiveram também uma grande Notas
responsabilidade na introdução e preservação
de uma perspectiva histórica de longo prazo no Todas as referências bibliográficas contidas em SODRÉ,
debate econômico e social brasileiro36. Nelson Werneck - Formação História do Brasil. SP,
Brasiliense, 1968, 5ª edição, foram reproduzidas a seguir de
acordo com o que se apresenta no livro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
2
MOERBECK, Jan Andries – Motivos por que a Companhia
Ao longo deste pequeno texto buscamos das Índias Ocidentais deve tentar tirar ao Rei de Espanha a
Terra d Brasil. Rio, 1942
apontar alguns aspectos pouco explorados
acerca da importância intelectual de Nelson 3
NIEUHOF, Joan – Memorável Viagem Marrítima e Terrestre
Werneck Sodré no pensamento de esquerda ao Brasil. SP, 1942
no Brasil e a sua contribuição na constituição 4
CARDIM, Fernão – Tratados da Terra e Gente do Brasil. SP,
entre nós, de uma história econômica. 1939, 9ª edição
5
ANTONIL – Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e
Portanto, dividimos a nossa apresentação Minas. S(, 1923
em três partes. Na primeira, buscamos 6
VIEIRA, Antonio – Cartas. Lisboa, 1735
brevemente, caracterizar a formação

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Artigo - Filosofia - César Honorato 34

7 21
PRADO JUNIOR, Caio – História Econômica do Brasil. SP, PIRENNE – Historia Econômica y Social de La Edad Media .
1945 Mexico, 1947, 4ª edição
8 22
FURTADO, Celso – Formação Econômica do Brasil. RJ, 1959 BAGU, Sergio – Economia de La Sociedad Colonial: Ensayo
de Historia Comparada de America Latina. Buenos Aires, 1949
9
SIMONSEN – Roberto – História Econômica do Brasil. SP,
23
1937 BARBOSA, Wilson do Nascimento – Nelson Werneck Sodré
e o “Marxismo Ocidental” in Revista de História nº 141, SP,
10
ZEMELLA, Mafalda – O Abastecimento da Capitania das FFLCH/USP, 1999 p. 170
Minas Gerais no Século XVIII. SP, 1951
24
SODRÉ, Nélson Werneck. Capitalismo e a revolução
11
COUTINHO, Azeredo – Memória sobre o Preço do Assúcar. burguesa no Brasil. Belo Horizonte: Oficina deLivros, 1990
Lisboa, 1791 e o Ensaio Econômico sobre o Comércio de
25
Portugal e suas Colônias – Lisboa, 1816 DUCATTI, Ivan – Nelson Werneck Sodré Historiador in
Revista de História e Estudos Culturais. SP, Revista Fênix,
12
TOLENARE, L. F. – Notas Dominicais. Recife, 1906 volume 4, ano IV nº1, jan/fev/mar/2007.
26
13
REYBAUD, Charles – Le Brésil. Paris, 1856 BIELCHOWSKI, Ricardo – Pensamento Econômico
Brasileiro, 1930-1964. RJ, Contraponto, 4ª edição, 2000.
14
MOURA, Clóvis – Rebeliões da Senzala,. SP, 1959 27
Idem, ibidem. P. 182
15
MARIÁTEGUI, Carlos – Siete Ensayos de Interpretación de 28
la Realidad Peruana. Santiago do Chile, 1955 Idem, ibidem p. 182
29
16
CRUZ COSTA, João – Contribuição à História das Idéias no Idem, ibidem, p.182
Brasil. RJ, 1956 30
Idem, ibidem. P.189 e 190
17
CARDOSO, Fernando Henrique – Condições Sociais da 31
Industrialização de São Paulo in Revista Brasiliense nº28, SP, SODRÉ, op. cit. P. 382 e seguintes
março/abril de 1960 32
Idem, ibidem
18
BULHÕES, Otavio Gouvêa – A Estrutura Econômica do 33
Brasil en Carta Mensal nº66, RJ, setembro de 1960 Idem, ibidem p. 366 e seguintes
19 34
PRADO JUNIOR, Caio – Contribuições para a Análise da BIELCHOVSKI, op. cit. P. 203
Questão Agrária no Brasil in Revista Brasiliense nº28, SP,
35
março/abril 1960 DUCATTI, op. cit p. 3
20 36
BLOCH, Marc - La Societé Feodal. Paris, 1940 Bielchovski, op. cit. P. 207

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