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O DESMONTE

DO
DISCURSO-IDEOLÓGICO
- revelando o lado perverso das instituições -

Dermeval Corrêa de Andrade

Editora
Instituto Argumentos – Ciência e Cultura
São Paulo – SP - Brasil
- 2014 -
© Dermeval Corrêa de Andrade

Capa:
Cândida Martins Martinez

Direitos Reservados
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Correo electrónico: instituto@i-argumentos.com.br
Web: www.i-argumentos.com.br
O ser humano é inesgotável
em seus conteúdos dogmáticos
expressos nas diferentes ideologias.
A cada avanço, explicitam-se
novos aspectos, o que não é
garantia de vencê-los e certamente
estamos longe de transformá-los.
Antes se imaginava que a
educação e a tecnologia avançadas
seriam um antídoto
insofismável a seus males.
Ledo engano!

Dermeval Corrêa de Andrade


Links

Prólogo
1 - Introdução
2 - Uma viagem crítica à origem da ideologia de duas instituições sociais
mais influentes: Família e Religião
3 - O ser humano e a Ideologia
4 - Esclarecendo o fenômeno das Ideologias
5 - Aparelhos Ideológicos de Estado
6 - Conclusão
7 - Autores consultados
8 - Notas
9 – Sobre o Autor
Prólogo
O lado conservador da humanidade, através dos séculos, recebeu
profundos e irrefutáveis golpes em suas crenças, provindos de novos
conhecimentos científicos.
Nicolau Copérnico (1473 - 1543) - Com sua teoria científica, contrariou
a ideia vigente, em sua época, que colocava a Terra no centro do Universo.
Este científico demonstrou que, na realidade, a Terra gravita em torno do Sol.
A esta descoberta deu o nome de Sistema Solar.
Charles Darwin (1809 - 1882), por sua vez, descobriu a origem de todos
os seres vivos e chocou o mundo, afirmando que o ser humano e os macacos
descendem de um mesmo tronco comum de primatas.
Karl Marx (1818 - 1883) - Formulou o Materialismo Histórico, ciência
que elucida a verdadeira lei da história da humanidade; um fato tão
importante, mas mantido oculto sob o lixo ideológico.
O Dr. Sigmund Freud (1856 - 1939) – Demonstrou que a mente possui
estrutura e funcionamento dinâmico, onde o inconsciente, uma força
poderosa, ganha fundamental importância. Explicitou como, geralmente, esse
lado obscuro da mente influi em nossos comportamentos.
Graças a esses científicos que, com coragem, enfrentaram rejeições de
todo tipo, a humanidade evoluiu. Agora, eles nos inspiram para enfrentarmos
um assunto por demais resistido: a ideologia.
Nosso trabalho científico tem sido o de desvendar como nossa psique é
inundada pelas ideologias, de fora para dentro que, em sequência, compõem
um núcleo ideológico constituindo outra força poderosa que, geralmente,
modifica o rumo de nossas vidas. Este fenômeno, tão corriqueiro e utilizado
pelos que dominam pessoas e nações, passa quase despercebido por todos.
Localizamos quando surgem as ideologias no desenvolvimento da
humanidade e em que idade adentram nas crianças. Hoje em dia, através do
contato humano na família e, principalmente, com o fenômeno tecnológico
da Era Eletrônica. Para demonstrá-lo, fomos às suas raízes, ao seu
nascedouro, com o auxílio da Antropologia, da Filosofia e da Psicologia
Profunda. Com esses conhecimentos, vamos desmontar Discursos-
ideológicos que pretendem passar, totalmente, por "Discursos-verdade"1.
Talvez, essas sejam algumas de nossas melhores contribuições à Psicologia
Social.
1 - Introdução

Enganam-se os que pensam que ideologias pertencem somente às


questões políticas ou econômicas, por exemplo, ideologia capitalista,
ideologia socialista, machista ou mesmo ideologia religiosa. Na realidade, as
ideologias estão por toda parte, onde quer que pulse a vida e a morte. Há
ideologia até nos "inocentes" desenhos animados que seus filhos assistem
alegremente. É fundamental que desconfiem de que possa haver algo muito
grande e perigoso por trás disso tudo.

Se observarem bem, as ideias, em sua maioria, por mais novas que


pareçam ser, sempre podem estar aglutinadas numa estrutura de pensamento
ou outra. Essas estruturas não são tantas como sugerem a multiplicidade de
ideias e pensamentos e podem ser condensadas no que chamamos trilhos
ideológicos, ou seja, em seu âmago, possuem familiaridades entre si ou total
oposição com as outras. Por isso, o mundo é tão diverso; mas não podemos
deixar de adiantar os interesses econômicos que movem todos eles. Alguém
pode dizer que não é verdade, que é a busca ou manutenção do poder que
move essa luta. É bom pensar um pouco mais!!

Mas se o poder, ou como afirmamos, é o controle da estrutura


econômica que manda na maior parte do mundo, por que damos essa ênfase
conjunta à superestrutura ideológica? Ora, é a superestrutura que amacia a
manutenção da dominação e exploração econômica, ou abre portas para
novas investidas, a novos espaços em nações e pessoas a serem exploradas.

Essa excursão no mundo (sociedade) e a incursão (dentro da mente)


ocorrem através do Discurso-ideológico, que sempre quer se passar por
"Discurso-verdade". É por isso que precisam ser desmontados, a fim de que o
leitor conheça sua perversidade; o que não quer dizer que irá enfrentá-la;
afinal, como na lenda do vampiro, uma vez mordidos por ele, muitos
assumem suas características.

O leitor há de se perguntar sobre o quantum de ideologia adentra em sua


psique, a todo momento, quando de sua interação com a sociedade. A
ideologia não só propõe como também exige de cada pessoa um determinado
procedimento ou atitude. Isto pode ser na esfera política, religiosa, da
estética, do consumismo etc., através de suas respectivas instituições.

Todos têm um deliberado ou vários interesses sobre você e, para


conseguir sua cumplicidade, leitor, agem e se utilizam de várias maneiras, das
mais leves até as mais perversas; em todos os casos se utilizam de
sentimentos e ideias, de modo a instalarem-se em seu inconsciente. É assim
que formam na mente o que chamamos de núcleo ideológico; que é uma
parte consciente e outra grande parte inconsciente, a ponto de perguntarmos:
Quanto de inconsciente há na ideologia e quanto de ideologia há no
inconsciente?

Pretendemos desmontar um dos principais instrumentos argumentativos


que as instituições e organizações usam para dominá-lo: o Discurso-
ideológico que é apresentado como "Discurso-verdade", através da mídia ou
repetição verbal de seus seguidores. Mostraremos, detalhadamente, tudo o
que fazem para conquistá-lo, em nome da Religião, Família, partido político,
marca de bens de consumo etc. Adentraremos neste tema, desde as
instituições que buscam poder para dominá-lo, até as grandes Marcas que
procuram escravizá-lo, em nome do bem-estar, da felicidade ou mesmo do
que chamam de simplesmente a sensação de bem-estar.

A sensação de bem-estar tem sido objeto do marketing ostensivo,


principalmente quando o Estado (o Governo) não realiza o que promete e
teima, então, em dizer que você está sendo totalmente atendido. Porém, na
realidade, enquanto cidadão não está! Aí entra o fetiche que lhe
proporcionará o clima de bem-estar, mesmo que você não tenha acesso à
cultura, boa educação, saúde ou perspectiva favorável de futuro. Basta que
você se contente com o consumismo de coisas baratas e alcançáveis, não
incomode as classes dominantes e seja dócil e condescendente com as
injustiças.
Voltando a este livro, para desmontar esses discursos ideológicos, esses
desvios da verdade, adentraremos, inicialmente, na explicação da origem de
duas importantes organizações: a Família e a Religião. Pontuaremos em que
momento da humanidade surgiram os grupos, que organizaram ideias e as
transformaram em ideologias coerentes e com força de persuasão, capazes de
direcionar pessoas para determinados objetivos, no início até realistas.

Depois detalharemos, pela primeira vez na ciência, o momento em que a


criança se torna apta para interiorizar ideologias, antes mesmo de aprender a
mentir. Repetindo, o momento civilizatório da produção das primeiras
ideologias, a idade em que a criança está apta para receber, do mundo
exterior, as ideologias e a ideia da formação do núcleo ideológico são
formulações científicas que elaboramos, nas últimas décadas, no Instituto
Argumentos - Ciência e Cultura.

Caro leitor, não somos contra as instituições, nem às suas finalidades.


Somos sim contra os polos atrasados destas, que merecem ser combatidos,
sistematicamente, principalmente em seus aspectos alienantes e corruptores;
uma vez que provocam a distorção da vida de milhões de seres humanos.
2 - Uma viagem crítica à origem
da ideologia de duas instituições sociais
mais influentes: Família e Religião
"O primeiro humano que xingou
seu inimigo, em vez de
atirar-lhe uma pedra, foi o fundador da
civilização."
Sigmund Freud

Família
A primeira instituição surgida entre os humanos, a família, deve seu
mérito aos que nos antecederam: os primatas. Deixemos claro este primeiro
ponto. Segundo Charles Darwin2, viemos de um ancestral comum, que
propiciou o surgimento de dois ramos distintos: os símios e os humanos.
Estudos recentes (DNA) comprovam quão próximos somos desses parentes.

Os primatas já haviam inaugurado um tipo de grupo familiar e que, até


hoje, pode ser observado. Era composto por membros bem próximos entre si;
provavelmente classificados pelo cheiro (odor particular), que os
diferenciavam dos outros possíveis invasores de território e que poderiam
inclusive ser atacados e até mortos. É o princípio do grupo familiar primitivo,
no qual se observava também a troca afetiva, facilitada pelo contato físico e
visual.

Dos dois grupos que se desprenderam do tronco principal (primata),


provavelmente por uma mutação genética, ocorreu um salto na evolução,
manifestando uma racionalidade (humanos) e o outro (símios) continuou
preso, totalmente, à ordem anterior da natureza. Os humanos iniciaram o que
chamamos civilização3.

Bem, o leitor há de concordar que nossos primos se organizavam numa


sociedade que lhes garantia a sobrevivência, apesar de todos os tipos de
predadores que habitavam a floresta.

Nessa sociedade havia hierarquia, definição de castigos, premiações,


mas nenhum membro adquiriu linguagem mais avançada, nenhum sabia
porque gerava filhos, embora soubessem produzi-los muito bem. Nenhum
sabia que iria morrer, embora se enternecesse, quando faleciam seus
familiares próximos. Aliás, as características solidárias de nossos primos (as
fêmeas símias são as mães mais carinhosas para com seus filhos que se tenha
notícia), incluindo a proteção de seus membros, em muitos casos superiores e
mais avançados que os seres humanos.

Permita-nos uma observação antecipada. Se os humanos avançaram em


tantas capacidades e tecnologias, quando comparados aos símios, ocorreram
também evoluções negativas, como a maldade que parece se desprender do
impulso agressivo, apresentando-se como sadismo, ou seja, um prazer em
causar dor a outrem, atitude que os outros animais não apresentam.

Outros avanços
Bem, vejamos então outros avanços indiscutíveis do ser humano. Na
motricidade ampla, tivemos uma herança preciosa. Modificamos a posição do
corpo, passou a ser ereta (de quatro pontos de apoio, passamos a usar dois, os
pés). Essa nova posição abriu possibilidades enormes para a defesa e para a
visualização de novos e distantes horizontes. Mas, nos faltava algo essencial
na psicomotricidade final e, quando a conquistamos (a utilização precisa do
dedo polegar), avançamos na transformação de objetos: essa foi outra
verdadeira revolução na engenharia corporal.

Embora essas mudanças tenham exigido milhares de séculos de anseios,


erros e acertos, solidificação de experiências úteis à evolução, precisamos
apontar algo que abriu novas possibilidades de sobrevivência: a linguagem.
Já tínhamos evoluído em direção aos cuidados, à compaixão, a um certo
controle do impulso agressivo para vivermos em grupo. Mas, isso não
garantia aos seres humanos a sobrevivência. Sabe-se que os grupos humanos
que não desenvolveram a fala, mesmo de maneira rudimentar, sucumbiram.
Por que?

Ora, a linguagem ampliou de tal forma a comunicação (estamos nos


referindo a uma linguagem equivalente, hoje, a de uma criança de 18 meses).
Foi algo extraordinário! Imaginem o que é a capacidade de dar nomes aos
objetos, de reconhecer e nomear pessoas próximas, de expressar medo ou
ódio, em relação a outras pessoas, animais e situações inesperadas? O
advento da linguagem estabeleceu um novo elemento para fortalecer a união
entre os membros da família, utilizando os mecanismos de introjeção4 e
projeção5 descritos por Sigmund Freud. Este novo salto favoreceu falar mal
dos inimigos e, junto com o sorriso, criar gestos e palavras que
representavam o afeto; todos esses elementos fortaleceram vínculos,
solidariedade e pertinência (sentido de pertencer).

Num dado momento, provavelmente ao redor do fogo, criaram certo


compasso rítmico, acrescentando palmas e sons guturais. Isso também foi
reforçando a identidade do grupo familiar. Criamos a dança, a partir dos
movimentos lúdicos dos primatas.

É importante ressaltar também que o aprimoramento do movimento,


dando-lhe um perfil estético, veio do aprimoramento anterior, com base
performática, encontrada ainda hoje nos símios mais brincalhões. Essa
evolução toda não deixa de ter sua raiz sexual, enquanto forma de agradar e
mostrar-se ao sexo oposto, com fins de acasalamento. A atuação social se
expandiu devido à especialização crescente do lóbulo frontal do cérebro, que
foi se desenvolvendo e incorporando novas habilidades e possibilidades ao
ser humano.

De volta à família
É bom que se diga que a família se desenvolveu graças às funções da
mãe! Era formada pelo casal (fêmea e macho), filhos sobreviventes das
intempéries, doenças e ataques de animais selvagens, acrescida pelos avós, os
filhos das irmãs e os irmãos da mãe, depois os filhos destes6. A rigor todos
eram parentes entre si. Voltamos a dizer, os perigos externos forçavam a
coesão interna do grupo (identidade).

A natureza, através das cavernas, já “havia sugerido” aos seres humanos


a ideia de construção de tetos protetores. Usando restos de árvores e cipós,
abrigos foram sendo arquitetados e materializados, através do trabalho
humano.

A família se formou por razões práticas, de sobrevivência para o


enfrentamento das intempéries. Seus membros se separavam apenas em razão
do ódio ou morte. A ideologia7 se fez necessária para dar coesão ao grupo.
Podemos afirmar que ela nasceu sem a maldade ou manipulação, como se
apresenta, atualmente.

O marco regulador da família não era muito definido, até a necessidade


de dominação de uns seres humanos sobre os outros, externo e intergrupo
(família). Enquanto os grupos eram nômades e colhiam produtos da natureza,
antes de se fixarem em determinadas regiões e do surgimento da habilidade
para o plantio de alimentos, não existia a necessidade de dominação, de
controlar o querer dos outros, embora diferenças fossem impostas pela força
física.
A Religião
Ocorreu um fato importante, como os fenômenos da natureza não eram
compreendidos, foram criados os deuses. Vamos entender melhor este
fenômeno. O poder paterno é diminuído para cedê-lo ao poder divino. Cria-se
o intermediário entre o grupo e o divino, ou seja, a “instituição” religiosa. A
mãe, que desenvolvera o afeto protetor, emprestou seu amor à entidade divina
que passou a amar e proteger a todos. Eis aí a projeção, descrita por Freud,
sublimando, posteriormente, o amor e o ódio.
A ideologia próxima do cotidiano, sem grandes abstrações, se
desprendeu e se organizou na crença onipotente de controlar os fenômenos
naturais (terremotos, furações, enchentes), infantilizando os indivíduos,
diante do poder onipotente. Desta maneira, por necessidade e interesses, o
homem criou deuses que, à sua imagem, vieram substituir o Deus verdadeiro
que, até hoje, é desconhecido.

Naquela época, surgiram outras formas de sobrevivência, além da coleta


de alimentos e caça a esmo de animais selvagens. Formou-se uma nova
organização familiar e atividade produtora de alimentos, alguns homens
passaram a se destacar mais do que outros na liderança do grupo, a produzir
novas ideias e impô-las aos demais em direção ao direito de propriedade.
Mas, antes vamos ver a ideologia religiosa, agregada a esse novo poder.

A Ideologia e a Comunidade
Os homens não poderiam, ad eternum, se impor aos outros pela força
(fator desagregador), principalmente no grupo interno. Necessitava, pois, de
um “cimento” nas ideias e nos costumes, que gerassem obediência. Ainda,
tinham diante de si um problema enorme que era explicar a ação da natureza
sobre si e os seus e, o que era pior, como deveriam dominar os instintos
agressivos que, se persistissem, no agir original, por mais alguns milênios,
poderiam levar a raça humana ao extermínio.

Algumas experiências, como a linguagem falada, o sentimento de


compaixão, o amor materno, tudo levava a um outro patamar humano que iria
receber o respaldo da divindade.

A primeira figura a produzir um protótipo de ideologia foi o pai (chefe


da horda primitiva), para garantir a hegemonia do grupo familiar. O problema
era que, se o líder próximo e pertencente à comunidade fosse por demais
humano, não teria ainda a “competência de autoridade” para assegurar a
obediência dos outros elementos do grupo. Daí a projeção de um pai
poderoso que, vez ou outra, amaldiçoava os humanos com suas intempéries
ou concedia benesses, principalmente no que se referia à produção de
alimentos. Eis aí o surgimento da religião, que o filósofo Louis Althusser
chamaria hoje de Aparelho Ideológico Religioso, concentrando
procedimentos organizados; porém quase nada de conhecimento e muito de
ideologia.

O medo e o amor projetados na natureza, depois nos deuses, provocaram


uma nova dimensão dos sentimentos (medo, coragem, fuga, ódio, amor etc.).
Quem intermediasse esse novo universo certamente manteria o poder e a
comunidade aos seus pés. Embora tivesse um sentido prático, também
deveria apresentar uma maneira de moldar comportamentos pelo medo para
direcionar pessoas e grupos para onde os detentores do poder julgassem
melhor. Numa cultura quase selvagem, isso ainda não se apresentava como
um grande problema. Eis aí uma das formas com a qual se aprimorou o modo
de pensar: a ideologia religiosa, que passou a dominar as famílias e o faz até
nossos dias.

Não é nossa intenção nos deter no desenvolvimento de outros os


aspectos da humanidade e sim retirarmos desses episódios o que nos interessa
para o presente trabalho. Veja, se a linguagem possibilitou a sobrevivência, o
avanço da humanidade, hoje concentra grande parte do arsenal de
comunicação pessoal e global, portanto, a linguagem é veículo-mor de busca
e afastamento da verdade.
3 - O ser humano
e a Ideologia
“Todas as formas de exploração
são iguais, porque
todas são aplicadas ao
mesmo objeto: o ser humano.”
Frantz Fanon

Antes que nos interrompam, sigamos com um argumento difícil de ser


contestado. Fomos procurar, por necessidade comprobatória, na história da
humanidade, em qual momento o ser humano adquiriu a capacidade de
produzir ideologia. É preciso adiantar que a ideologia, quando surgiu,
possivelmente tinha um objetivo bem mais favorável para as pessoas do que
hoje. Ela surgiu também por erro na explicação da Natureza e não por
maldade ou por manipulação, como é exercida hoje em dia.

No livro Educação Social Transformadora8 já havíamos dito que os


Neanderthais, apesar da capacidade extraordinária de produzir alguns objetos
de caça, de emitir sons guturais e viverem em grupos, careciam de um salto
de inteligência, que só viria a ser alcançado pelo Homo sapiens.

O Homo sapiens, com sua capacidade de abstração, não só melhorou o


índice de sobrevivência da espécie, diante das intempéries e animais
selvagens, como também propiciou um projetar, um pensar o futuro e isso
dependia também da gestão do poder no próprio grupo e em relação a outros
grupos. Desta maneira, chegou-se a uma formulação de mundo, um pensar o
mundo, uma ideologia; não importando se, naquela época, seu mundo fosse
pequeno. A noção do tamanho da Terra só ocorreu há 285 anos a.C.
A questão que se apresenta agora é: como e quando as ideologias se
inserem na mente de cada pessoa? Para isso, precisamos deixar a
Antropologia e adentrar na Psicologia Científica.

Para obter estas respostas precisamos recorrer primeiro às ciências que


explicam de que maneira, no ser humano, se desenvolve a capacidade para
interagir com o meio social do qual provem as ideologias e a elas é
submetido pela vida afora. Por isso, vamos buscar as teorias de dois
cientistas que, em suas pesquisas, descobriram os enigmas fundamentais da
mente humana: Sigmund Freud e Jean Piaget. O primeiro desvendou a
estrutura e funcionamento da mente e o segundo como se desenvolve o
pensamento, que se assenta na inteligência inata do ser humano. Tendo em
vista a complexidade dessas teorias, vamos adentrar de maneira didática
nessas duas importantes descobertas para, a partir delas, chegarmos à
explicação de como/quando a ideologia começa sua inserção na mente de um
pequeno ser humano, a criança.

Para Sigmund Freud, formulador da teoria da estrutura da mente (que se


divide basicamente em Consciente e Inconsciente) esta é movida pelos
impulsos (sexual e agressivo), que se distribuem nas instâncias: Id
(“reservatório” da energia psíquica e emissor, intermitente, de desejos9), Ego
(instância responsável pela mediação entre os mundos interno e externo, ou
seja, entre o Id e a sociedade) e Superego (este é a representação, na mente
de todo ser humano, das normas e valores das instituições sociais). Toda esta
estrutura se desenvolve em fases: oral, anal e fálica. É um processo
extremamente complexo e dinâmico!

Quanto à teoria de Piaget, esta demonstra como o pensamento evolui


durante a vida, de acordo com o potencial cognitivo de cada pessoa. Também
se apresenta em fases: Sensório-motora (a criança utiliza seu próprio corpo
para interagir com o meio), Simbólica (uma das etapas mais importantes do
desenvolvimento cognitivo, pois é a fase em que a criança começa a dar-se
conta do meio em que vive. Torna-se intensamente curiosa, querendo
explicações dos adultos sobre fatos e atitudes que percebe, inicialmente na
família), Operacional (na qual, já tendo algumas informações, começa agir
de maneira mais consciente) e a Abstrata (apresenta uma estrutura cognitiva
que permite ao indivíduo agir de acordo ou contra as normas e valores
sociais). Vale ressaltar que, para Piaget, a criança não é um recipiente passivo
de eventos ambientais. Ao invés disso, ela busca experiências e usa o meio
ambiente.

É importante levar em consideração que essas teorias foram elaboradas


numa época anterior à impressionante evolução da tecnologia dos dias
atuais. Isto implica em que as fases do desenvolvimento humano continuam
seguindo as mesmas etapas, porém com a quantidade maior de informações,
veiculadas pelos meios de comunicação, algumas crianças que têm acesso a
eles podem apresentar um “adiantamento”, principalmente na fase simbólica;
apresentando já aspectos da fase operacional.

Assim, com a evolução da ciência, partimos da certeza de que todo ser


humano nasce com uma carga genética herdada dos pais. Além disso, ao
nascer já vem dotado de um conjunto de instintos, incluindo o que se refere à
autopreservação (respirar, chorar, mamar e outros recursos fisiológicos). A
excepcional plasticidade (a capacidade para aprender) é uma das mais
importantes características que distingue o cérebro humano de qualquer outro
animal. Nos animais, a maior substância cerebral já está “ocupada” no
nascimento. Os mecanismos instintivos já estão ali (formas de
comportamentos, transmitidos pela espécie). Com o ser humano, uma parte
considerável do cérebro está “limpa”; pronta para receber e reter as lições
ensinadas pela vida e educação. Ainda mais, o processo de formação do
cérebro do animal, virtualmente, termina no nascimento. Mas com o Homo
sapiens depende das condições, nas quais, o desenvolvimento ocorre.

É este o arcabouço primitivo que possibilita ao bebê começar a interagir


com o meio ambiente no qual nasce. Desnecessário dizer o quanto este influi
no seu desenvolvimento, pois a criança é um resultado não só da família, mas
também das condições socioeconômicas; uma vez que a privação ou a
abundância de oportunidades irá influir na formação de sua personalidade e
sua atuação, quando adolescente ou adulto. É hoje, mais do que nunca,
influenciada por ideologias que circulam no mundo todo, o tempo todo,
intermitentemente.

Nos dois primeiros anos de vida de todo ser humano, seu corpo é o
“hardware”, no qual ficam registrados todos os estímulos captados por seus
órgãos dos sentidos. Porém, é apenas entre o período de 18 meses e dois anos
que se inicia o desenvolvimento do pensamento, este, estritamente ligado à
linguagem (na etapa que antecede a esta, a mente da criança funciona
armazenando e utilizando o “arquivo” de imagens dos fatos vivenciados). Em
termos emocionais, a figura mais importante para a criança é a mãe, que se
incumbe de ser o primeiro vínculo afetivo. Esta fase é caracterizada pelo
egocentrismo, ou seja, para a criança só importa o que se refere a ela. Vale a
pena lembrar que, infelizmente, alguns adolescentes e adultos ficam fixados
nesta fase.

No período de dois a cinco anos, em ambas as teorias, começam a ter


importância “os outros” sem, contudo, que ela (a criança) consiga formalizar
conceitos ou julgamentos. Até esta fase, a criança é um ser que observa e
registra fatos, falas e acontecimentos do mundo externo. Ao final deste
período, em termos emocionais, encontra-se em pleno Complexo de Édipo.
Na teoria freudiana, este acontecimento é um fenômeno inconsciente,
relacionado à libido (energia dos instintos). A figura do pai entra como
referência e ocorre no desenvolvimento emocional de todos os seres
humanos; independente de fatores educacionais, étnicos ou culturais. O
Complexo de Édipo desempenha um papel fundamental na estruturação da
personalidade e orientação dos desejos humanos.

Freud aponta um evento crucial no desenvolvimento emocional: o


mecanismo de identificação, processo pelo qual a criança começa a introjetar
comportamentos, atitudes e ideias das pessoas com as quais interage. Este é
um processo diferente do apenas registrar acontecimentos do mundo externo.
Isto é a interiorização. Assim, começa a agir como os adultos, não só no que
estes falam, mas principalmente pelo que fazem. As atuações da criança já
apresentam uma conotação fortemente ideológica. Esta é uma etapa, na qual
entra com maior força de ação o Superego, incorporando as regras do mundo
externo, ou seja, espaço ocupado extensamente pelas instituições sociais
(família, escola, religião, meios de comunicação e outros) e suas ideologias.
É nesta fase que a criança começa a utilizar os preconceitos e discriminações
que observou nas atitudes dos adultos com os quais interage.

O que descobrimos, em nosso trabalho de mais de três décadas (no Setor


Clínico do Instituto Argumentos – Ciência e Cultura), com crianças dessa
idade, é que há um filtro e uma organização do que lhes interessa no mundo,
em razão do seu narcisismo (normal para sua idade). A partir disso, as
crianças não só apreendem o que os pais e outros adultos fazem e dizem,
como também aprende a linguagem não verbal dos adultos e, além disso,
grande parte de seus conteúdos inconscientes. Aí entra a formação do núcleo
ideológico, que se instala na criança, logo cedo.

Então, para justificarmos a origem da aglutinação ideológica na mente


da criança, necessitamos saber se a psique da criança está desenvolvida e em
que ponto ela ocorre. Pelos nossos estudos, lá pelos quatro anos de idade.

Chegamos neste ponto a abordar um aspecto importante apresentado


pela criança, nesta fase da vida: a capacidade para mentir. Recorrer à mentira
exige um desenvolvimento cognitivo avançado. A maioria das crianças
começa a utilizar a mentira para evitar castigos (motivo primordial), mas
também serve para aumentar o poder e a sensação de controle da situação,
pois aprende a enganar até os próprios pais. Em muitos casos, a mentira é um
recurso do Ego para desviar frustrações ou chamar atenção. Não podemos
esquecer que a mentira, nesta idade, não deixa de ser um pensamento mágico.
A razão mais difícil de ser aceita é constatar que as crianças mentem porque
veem os pais e outros adultos mentindo.

É preciso deixar bem claro que, antes de adquirir a capacidade de mentir,


a criança já consegue interiorizar as ideologias, a partir de imagens e atitudes
de pessoas do meio circundante. Para mentir, supõe-se que a criança saiba da
“verdade” e opte em dizer outra coisa que aquilo não é, por medo ou para
levar alguma vantagem. Isso requer uma capacidade mental impressionante e
estruturas já bem desenvolvidas (Piaget).

Esta ação exige certo conhecimento da criança acerca das pessoas e do


meio ambiente. A interpretação estará atrelada ao interesse de ganhos da
criança; terá que ter certo distanciamento entre o desejo e a realidade para
brindar certa conveniência. A outra pessoa terá que, com seu procedimento,
atender algo que a desejante precisa ou julga precisar para dar-lhe um rumo:
portanto, quer condicionar seu comportamento.

Isso tudo já está instalado na mente de uma criança entre os quatro e


cinco anos; com todos seus elementos de registro de memória, interpretação
infantil da realidade circundante e um arsenal incrível de conteúdos
inconscientes e ilusórios. Eis aí o início da ação das ideologias no ser
humano. Depois serão utilizadas para dominá-lo. A ideologia faz do
indivíduo o que a sociedade dominante quer!!!

Para utilizar ideologia, a criança precisa ter condições de não estar


conscientemente mentindo, nem fantasiando. É preciso de um discernimento
para que possamos afirmar que ela se desviou, através da ideologia, ou seja,
que vários episódios vivenciados até então, adulteraram sua percepção e ela
incorreu num falseamento da realidade, nem por mentira nem por divagação.
É preciso que sua interpretação, por razões que veremos detalhadamente, o
leve ao erro ideológico, mas com a sensação de certeza, porque ela viu a
“prova” várias vezes (alusão) e ela se iludiu (sem saber) pelo que viu (ilusão)
Althusser10. Reafirmamos, a ideologia antecede a mentira, que requer um
desenvolvimento mental mais aprimorado.

Embora o fenômeno ideológico ocorra majoritariamente no inconsciente


e em menor grau no consciente (na razão), não resolve nosso problema dizer
que tudo pode ser explicado pelas leis do inconsciente reprimido ou dinâmico
(Freud) e não são suficientes as formulações filosóficas, apenas racionais.
Porém, convém lembrar que, em sua teoria, Freud destaca o Ideal de Ego:
“Instância da personalidade, resultante da convergência do narcisismo
(idealização do ego) e das identificações com os pais, com os seus substitutos
e com os ideais coletivos”. Enquanto instância diferenciada, o ideal de ego
constitui um modelo a que o indivíduo procura adaptar-se.

Pelo que foi citado até agora, é possível perceber que, diferentemente do
que se diz, a infância não é um paraíso, pois no espaço de quatro anos a
criança passa de um ser totalmente dependente (quando bebê) para alguém
que já se deparou com uma variedade enorme de relacionamentos (humanos e
tecnológicos) e situações; ao mesmo tempo em que seus aspectos emocionais
e cognitivos foram se desenvolvendo, “bombardeados” pelas ideologias das
instituições sociais.

Vamos ativar a memória do leitor sobre o que já foi dito. A produção


social da ideologia e o advento ontogênico da capacidade do ser humano para
instalar as ideologias em seu mundo interior, ocorreram, inicialmente, no
rústico aparelho ideológico familiar, no também rústico aparelho religioso.
Tudo isso interagindo em rústicas mentalidades. Que epopeia, caro leitor!!!

Sem essas e outras revoluções da humanidade, jamais teríamos chegado


aos dias de hoje, em plena Revolução da Tecnologia Eletrônica!
4 – Esclarecendo
o fenômeno
das Ideologias
“O grande poder da
ideologia é distorcer os fatos
incômodos da História.”
Dermeval Corrêa de Andrade

Ideologia, como sabemos, é um assunto indigesto. É como referir-se à


corda na casa de uma família, na qual alguém se enforcou. Como não
pretendemos causar mais sofrimento ao leitor, vamos, pelo menos, tornar o
assunto mais interessante. A ciência não pode amenizar assuntos polêmicos e
sim destrinchá-los, doa a quem doer; porém o escritor deve apresentar o tema
de maneira a seduzir, pelos argumentos bem colocados, apelar para a
inteligência do leitor, num terreno em que a emoção é contraditória. Não
podemos esquecer que o ser humano é, por definição, um ser ideológico. As
ideologias estão presentes em tudo que ele faz, inclusive em seus discursos. É
um modo de ver e interpretar o mundo, por isso, quanto mais soubermos
delas melhor visão do mundo teremos.

O problema do estudo da ideologia é que ela sempre foi abordada


filosoficamente, ou seja, num primeiro piso, o racional (Aristóteles, Destutt
de Tracy, Arthur Schopenhauer, Karl Marx, Friedrich Engels, Antonio
Gramsci e Louis Althusser), sendo que, no segundo piso, ficou como
explicação para outro campo do conhecimento, a Psicanálise de Freud. É
claro que a ideologia, neste caso, teve seu nome trocado para ideias
reprimidas, imaginação, ideal de ego etc. Na verdade, Freud sempre teve
razão quanto a essa explicação psicodinâmica da mente e foi socorrido pelo
filósofo Louis Althusser, que chegou a afirmar que a ideologia é como o
inconsciente: é eterna, ou seja, sempre existiu e continuará existindo!
Ninguém vê ideologia, mas é possível ver as instituições gestoras dela, nas
quais ela se materializa. Ela só é demonstrada à revelia, pois está na sombra
dos discursos, disfarçada ou camuflada pela ilusão ou alusão.

Assim, agora conseguimos localizar, formular e explicar o núcleo


ideológico e como se dá essa interiorização, a partir das influências sócio-
ideológicas na mente das pessoas, ao utilizarmos a Teoria Filosófica
(Althusser), do Pensamento (Piaget) e a Teoria Psicodinâmica (Freud).

O novo aspecto que apresentamos é que detectamos um quantum de


ideologia no inconsciente e um quantum significativo de inconsciente na
ideologia; campo até então pertencente à razão. Coube-nos o trabalho de
localizar e pontuar, em nosso linguajar, o caminho dessa dialética, em termos
da mente e da sociedade; a mente entendida aqui como aparelho psíquico e a
sociedade organizada em um conjunto de instituições, que Althusser
denominou como Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE): conjunto de
instituições que materializam as ideologias. Essas ideologias precisam ter
um fluxo de ir e vir, de retroalimentação, entre o psíquico e a sociedade, em
constante conflito. Aliás, o conflito permeia constantemente a mente e a
sociedade; os desejos, o poder e a vida.

O fluxo contínuo de energia coloca em movimento todo pequeno ser


humano, já no útero materno, seu primeiro e obscuro meio ambiente. Ao
nascer, entra em contato com a luz, seu novo meio ambiente e seus estranhos
habitantes, que poderão recebê-lo de maneira afetuosa ou agressiva,
invadindo seu rústico aparato dos sentidos. O inconsciente humano se
estabelece nesse primeiro momento, a partir da capacidade de memória, de
registro e do aparelho perceptivo da criança. A ideologia não!

Mesmo na criança de 10 ou 12 meses, por sua imaturidade, não se pode


classificar como ideologia seus “erros” perceptivos e avaliações equivocadas
do meio ambiente. A criança já tem seu inconsciente ativado, mas só será
cooptada pelos aparelhos ideológicos, mais à frente. Espero que tenha ficado
clara nossa correção da afirmativa do mestre Althusser.
A seguir, vamos adentrar no campo do discurso, que é o modo principal
(embora não único) de convencimento e de cooptação de inúmeros seres
humanos, que são transformados em quase “zumbis” por uma máquina
infernal que atua sobre a pessoa, desde a infância até sua morte,
acompanhada, no mínimo, pela família (que produziu seu corpo), pela Igreja
(que conduziu sua alma) e pelo aparato jurídico (caso tenha deixado algum
bem material para seus descendentes). A cada momento da vida ou da morte,
um aparato terá função principal na existência do indivíduo, quer ele
queira ou não!

Os discursos
Já nos referimos à importância da linguagem como um recurso para
explicitar ideias. Neste ponto, é necessário abordar os tipos de discursos. O
Discurso-ideológico é proferido como “Discurso-verdade” pelos porta-
vozes da instituição e se multiplica entre os seguidores (como reforço de
ideias e sentimentos) e, pela repetição, busca adentrar na mente dos novos
indivíduos (sujeito receptor). Esse “Discurso-verdade” é repleto de intenções
subliminares. É um discurso que oculta e cega para vincular o indivíduo à
ideia e aos sentimentos cúmplices da instituição.

É claro que os ideólogos profissionais podem ter consciência do


engodo, porém os demais repetidores pensam sempre ouvir e dizer a verdade,
é o mecanismo da fé, ou seja, não requer provas, pode assentar-se na ilusão
ou alusão. A finalidade do Discurso Ideológico é tornar-se “Discurso
Verdade”, na percepção do sujeito-receptor. A “vítima”, para colaborar na
recepção do conteúdo, precisa “necessitar” o que está sendo oferecido, sem
perceber, que foi feita uma troca entre a necessidade real e a possibilidade de
saciação substituta!!

Essa linguagem, ou melhor, essa dupla linguagem sempre estará dizendo


uma coisa e falando outra, criando o fetiche11. É por isso que o “Discurso-
verdade” precisa encantar o sujeito.
Isso se dá pela “glamourização” do benefício a ser disponibilizado e pela
vinculação à Marca que, aliás, sempre dará a impressão que ela será capaz de
satisfazer o cliente, em meio a tantas ofertas no mercado. O leitor pode
perceber que o produto oferecido pode ser uma religião, um serviço, um
refrigerante ou mesmo uma ideia.

Toda instituição tem e procura manter sua Marca (regional ou global) na


mente do “consumidor”, gozando de certa preferência. O poder da Marca é
proporcional ao retorno, ou seja, a disposição do cliente em adquirir seus
produtos. Para isso, busca obter certa preferência. A Marca procura vencer
resistência do sujeito-receptor com o complemento racional argumentativo. É
preciso conquistar mente e corpo, em outras palavras, um refrigerante ou uma
ideologia política. Sempre se espera que o sujeito se coloque em movimento
para adquirir seu conteúdo. A atuação do fator emocional é decisiva; o que
prova o quanto esse particular foge do argumento racional. A Marca carrega
imagens, ideias e estímulos a certos comportamentos.

Em ambos os casos citados anteriormente, a comunicação espera que o


sujeito mude seu comportamento em direção ao novo produto ou mantenha
sua finalidade. Busca coerência no sentir, pensar e agir. Uma pessoa de
esquerda precisa ter ações de esquerda. Se pensar, mas não agir como tal,
perderá sua eficácia. O crente precisa vestir-se com o look de crente e agir
como crente, mesmo que precise alucinar sua fé. Outro problema que a Marca
apresenta é a distância entre o prometido e o alcançado pelo cliente. Cabe
perguntar: como é preenchida esta lacuna? Ora, é preenchida com a ilusão,
geralmente vinculada à ideia de felicidade ou segurança.

Tudo que abordamos, até agora, está contido numa somatória de


estruturas e dinâmicas sociais, que prescrevem ideologias em sua
superestrutura. Por isso, vamos explicitar esses fenômenos.
5 - Aparelhos Ideológicos
de Estado
“Ninguém é mais
escravo do que aquele
que se considera livre,
sem o ser.” Goethe

O leitor não precisa apavorar-se, pois não estamos fazendo propaganda


de nenhum partido comunista e sim utilizando uma preciosidade teórica do
Materialismo Dialético. Por questões didáticas, vamos expor como a
sociedade se estrutura, seu funcionamento e como nela se encaixam os
Aparelhos Ideológicos de Estado.

O Materialismo Histórico, ou Ciência da História, concebe a estrutura


da sociedade formada por instâncias articuladas por uma determinante
específica: A base Econômica (infraestrutura, segundo Karl Marx), que conta
com a unidade das forças produtivas e das relações de produção, mais a
superestrutura, que comporta em si dois níveis, ou seja, a Ideologia (moral,
jurídica, familiar, religiosa, meios de comunicação etc.) e o Jurídico-Político
(Direito e Estado). Consideramos essas separações com objetivos puramente
pedagógicos, pois, na prática, as instâncias se interpenetram, influenciando-
se, dinamicamente, sendo que a base Econômica é a determinante.

A base econômica
Marx e Engels utilizaram-se da metáfora do edifício para demonstrar
como a estrutura econômica é a base do todo social. Ela é seu alicerce. Para
que o leitor não tenha uma ideia errônea sobre a metáfora, é preciso dizer
que, mesmo sendo a estrutura econômica determinante, há uma constante
interinfluência, ou seja, certa unidade de colaboração mútua entre as diversas
instâncias. É importante também, a lição deixada por Marx: “Qualquer estudo
da sociedade que considere apenas o que os homens dizem, pensam ou
imaginam, tende a cair no fracasso idealista.”

Não se deve estranhar o uso de denominações extensas, como Aparelhos


Ideológicos de Estado, pois são terminologias utilizadas na formulação de
teorias que usam, constantemente, palavras compostas ou neologismos. Os
Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE)12 nada mais são do que instituições
ou organizações que produzem ideias, ideologias e determinam
procedimentos. São espaços de determinadas práticas, que se materializam
dentro de suas áreas de influência. Posteriormente, são distribuídas com o
objetivo de adentrarem na mente do maior número de pessoas de seu
interesse. Hoje em dia, utilizam-se, de maneira majoritária, da TV e Internet,
como veículos e, assim, suas ideologias são alçadas a voos mais amplos,
“lapidadas” pelo marketing ostensivo, propaganda e publicidade.

A partir da distinção entre a função organizadora do aparelho de Estado


e sua função de dominação política, que pode chegar até à utilização das
forças armadas, precisamos aprofundar nossa compreensão sobre uma série
de realidades, situadas ao lado do aparelho de Estado, que não pode ser
confundida com seu caráter repressivo (forma física). Estamos nos referindo
ao que Louis Althusser cunhou de Aparelhos Ideológicos de Estado.

Os Aparelhos Ideológicos de Estado designam realidades que se


apresentam na forma de instituições distintas e especializadas. Dominam uma
regionalidade física para o exercício do poder institucional-organizativo-
arrecadativo e outra regionalidade bem mais ampla e poderosa que é
invisível, dentro da mente das pessoas. Segundo os ensinamentos do
Materialismo Histórico, em última instância, o que lhes dá sustentação é o
capital, o dinheiro, geralmente oriundo de serviços executados dentro da sua
base econômica.
Num primeiro momento, parecia tudo resolvido sobre a ideologia, visto
pelo ângulo da Filosofia, porém ninguém respondeu quando o sujeito (a
criança) absorve, em sua mente, algo que se desprende de um pensamento
corriqueiro para um pensamento que podemos afirmar tratar-se de um desvio,
uma adulteração, um desplugar da percepção real; e ainda, não estamos nos
referindo a um erro de ângulo de percepção e concomitante nomeação, que
poderíamos chamar simplesmente de equívoco. O desvio com motivação
ideológica se dará gradativamente nos diferentes AIE, em razão de uma
interpretação imaginária sobre a realidade, que o sujeito julga verdadeiro
pela repetição da cena observada, várias vezes, confirmada por alguém
familiar. Somente assim se unirão os seguintes requisitos:

a) A percepção da criança do acontecimento ou cena (história);


b) A autoexplicação (interna) com ausência de elementos (informações)
necessários para uma correta avaliação do percebido;
c) A confirmação dos adultos, por seus atos;
d) A confirmação dos adultos pelo “Discurso-verdade” (verdadeiro para
quem está proferindo o discurso);
e) A validação do “Discurso-verdade” por outros AIE (materialização-
verbalização do discurso-coerente).

Segundo Althusser e concordamos com ele, a ideologia se materializa


nos AIE. É só percorrermos os diferentes AIE que podemos detectar a
materialização de sua ideologia específica e prioritária. Isso quer dizer que a
produção de outras ideologias se entrelaça com a principal, secundariamente.
É claro que para que isso aconteça, basta que o indivíduo percorra as
diferentes instituições. Outro aspecto é que, a partir de certa idade do ser
humano, todos os AIE estarão introjetados, ou seja, incrustados em sua
mente, formando o núcleo ideológico.

Estamos nos referindo à ideologia como sendo toda ação ou pensamento


que vise influir sobre outrem, direcionando-o para seus interesses específicos.
Ampliando nossa definição anterior, que só contemplava a ideologia já dentro
do aparelho psíquico de cada ser humano, afirmamos que a ideologia é um
desvio interpretativo da realidade. No entanto, as instituições ou organizações
prescrevem uma imagem ideal de si, ou seja, um “Discurso-verdade” que
sabemos, quando muito, parcialmente verdadeiro; dirigido ao ser humano, em
qualquer sociedade.

Vamos melhorar essas explicações, destacando alguns Aparelhos


Ideológicos de Estado e suas atuações:

Aparato Familiar: Já vimos no capítulo 1 a origem da família, a mais antiga


instituição e que se estende por todo planeta. Com o passar dos séculos, foi se
desenvolvendo, no início era um grande grupo de pessoas que habitavam um
determinado espaço. Podemos afirmar que qualquer que seja sua estrutura e
dinâmica de relacionamentos, a família continua sendo o núcleo básico da
sociedade; na medida em que reproduz biologicamente a espécie humana.
Tem como função satisfazer as necessidades essenciais de todo ser humano
(habitação, alimentação, proteção, afeto e segurança). A família é uma
instituição universal, que apresenta diferentes características, de acordo com
a sociedade em que se desenvolve. Apesar de parecer ter certo grau de
liberdade para criar seus membros, na realidade, não escapa das influências
de outras instituições sociais, que servem para reproduzir e perpetuar a
ideologia da classe dominante. Um aspecto importante que ocorreu com a
família foi a Revolução Industrial, pois de uma economia doméstica, voltada
para a sobrevivência, passou a fornecer mão-de-obra (crianças, adolescentes e
adultos) para o desenvolvimento de uma nova ordem econômica: o
Capitalismo. Atualmente, na maioria dos países, encontra-se dividida entre
ricos (minoria, 5%) e pobres (mais de 50% da população). Todas cuidam da
criança, dos jovens, da aplicação da ética religiosa, do exemplo etc. Dizem
seus ideólogos que é o melhor lugar do mundo, só que, encontramos aí o lado
obscuro deste aparelho ideológico: abandono, pedofilia13, preconceitos,
discriminações etc. Além disso, reproduz, com tremenda eficiência, um dos
fenômenos mais arcaico da civilização: o machismo, por se utilizar da
desculpa do trabalho bruto exercido pelos homens, iniciado nos primórdios
da humanidade, que tornaram as mulheres dependentes do sustento
alimentar14. Assim, criou-se a ideia de que os homens deveriam mandar nas
mulheres; fato que começou a ser aplicado nas frágeis mulheres, desde o
início da civilização, até as donas de casa de hoje. As revoluções sociais
libertaram apenas a minoria das mulheres. Este aparato foi dominado,
recentemente, pelos interesses de mercado e do aparato da comunicação.

Acompanhemos um exemplo: uma criança de quatro anos é acordada de


manhã pela mãe, que lhe dá café e providencia seus apetrechos escolares, que
ela costuma levar consigo para a escola. Antes de sair, a criança começa a
tossir e mostra-se febril. A mãe então muda seu roteiro e a leva primeiro para
o posto de saúde, a fim de consultar um pediatra. Duas horas depois, a
criança, medicada e bem melhor, é levada para a escola. Sua mãe, em
seguida, pega o ônibus e vai, rapidamente, em direção à empresa na qual
trabalha.

Voltemos a Althusser. Para ele, embora a mãe da criança tenha saído


pela manhã de casa (AIE familiar-privado), percorreu o posto de AIE saúde
(público), depois adentrou na escola AIE escolar (público) e finalmente
chegou à empresa onde trabalha (para Althusser, um AIE). Por que isso? Ora
porque todos e outros, que ainda não citados, privado ou público, atendem
aos interesses de Estado. Todos são atrelados à ideologia da classe
dominante, de um modo de pensar o mundo.

Se a ideologia se materializa nos AIE, através da repetição e coerência,


precisando ser vista através dos atos, ela necessita de um elemento, de um
aliado para pousar, inicialmente, na mente da criança: do sentimento
confiável. Aí se explica porque a mãe e o pai são elementos hospedeiros
preferenciais de ideologias e, em muitas vezes, põem a perder seus filhos,
dentro de uma malha arcaica de comportamentos; depois avós, tios e outros
também. Poucos se salvam da ideologia dominante. Explica-se assim porque
o AIE familiar é um dos mais necessários e, ao mesmo tempo, mais
conservadores da humanidade. Outro problema é que levamos seu modus
operandi pela vida afora.

Aparato Religioso: (o sistema das diferentes religiões): Já demos uma


pequena mostra da origem da religião, ou seja, a religião surgiu para explicar
os fenômenos da natureza, incompreensíveis para os primeiros seres
humanos, que criaram os deuses. A religião foi se transformando, embasada
em mitos e rituais, encontrados até hoje. Com o caminhar da humanidade,
novos espaços geográficos foram sendo ocupados e os diferentes grupos,
assim formados, foram criando diferentes religiões, sem que perdessem os
objetivos iniciais. Na Idade Média, dominava a arquitetura, as artes e a
educação conservadora, dirigidas à classe dominante.

Porém, a partir do século XVIII, a religião começou a ser confrontada


pelo Racionalismo, que passou a dar prioridade à razão. Tempos depois, Karl
Marx afirmava que “A religião é o suspiro da criatura oprimida. É o ópio do
povo”. Atualmente, apesar do desenvolvimento das ciências, a religião
continua tendo grande influência sobre muitos seres humanos, é um
referencial de moralidade.

Todos são irmãos e juntos buscam o Céu. O amor é preponderante,


assim como a censura de comportamentos inadequados. É uma máquina que
conforta as pessoas nos momentos mais difíceis (doença, morte, etc.). O lado
obscuro: onipotência, atuação política que, por não aceitação de outras
religiões, acabam provocando até genocídios em massa. Quanto mais difícil
for a realidade na Terra, mais procuradas serão as benesses dos Céus. Na
Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso15. Grande parte
da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros. A
educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam e tinham
acesso aos livros. Porém, o mercado da fé nunca esteve tão aquecido quanto
em nossos dias. Há uma verdadeira máquina discriminatória de vidas para,
em nome de suas entidades supremas, privilegiarem alguns, após a morte. É o
terreno mais fértil e fácil para o exercício da ideologia.

Mais ainda, geralmente, o aparato religioso, desde os tempos longínquos,


tem se oposto aos avanços científicos e seus descobridores. Vejamos alguns
exemplos dentro da história da humanidade: Galileu Galilei, Charles Darwin,
Karl Marx, Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche etc. Outra sombra
intransponível é o posicionamento contra a homossexualidade, contra o uso
de preservativos etc. Isso sem falarmos o quanto discriminam as mulheres e
os negros, impondo-lhes posição subalterna dentro do próprio aparelho
religioso.

Continuemos com outros importantes Aparelhos Ideológicos de Estado.


Aparato Escolar: (o sistema das diferentes escolas públicas e privadas). A
escola surgiu como consequência da necessidade de alfabetização. As
primeiras datam de 2.000 a.C. Antes dela, a cultura era oral e a aprendizagem
fruto das experiências da vida cotidiana. Tomou grande impulso na Grécia,
com o surgimento das cidades (polis), do Estado, da institucionalização
administrativa da justiça, do comércio e da escola, ou seja, a educação foi
colocada fora da influência familiar.

Não muito diferente de hoje, esta instituição era dirigida aos homens
(cidadãos) da classe dominante. A escola institucionalizada de hoje é uma
criação burguesa do século XVI. Nos dias atuais, na maioria dos países, no
topo, forma futuros médicos, engenheiros, administradores etc., ou seja,
ensino de alto nível. Na base, forma o cidadão comum. É de qualidade
duvidosa, sem empatia, sem cultura. Lado obscuro: no “Discurso-verdade”,
está sempre fazendo o melhor para todos e ninguém admite o apartheid
dentro deste aparato. É o que se verifica, em pleno século XXI, na maioria
dos países. Este aparato foi dominado e desviado para interesses de mercado.
Assim, como o aparato familiar, perdeu força e influência na sociedade.

Aparato de Saúde: Podemos imaginar como a saúde, nos primórdios da


humanidade, era uma benção dos deuses e a doença um castigo impingido ao
ser humano, por algo considerado mal que poderia ter feito. Porém, já em
1.500 a.C. começou-se a pensar melhor na relação saúde/doença. Foi somente
o grego Hipócrates que passou a relacionar a saúde com o meio ambiente
para compreender as doenças. As primeiras atitudes que se referiam à
higienização, tiveram início no Império Romano. Nesta época, os médicos
começaram a relacionar a doença também como resultado do tipo de trabalho.
Em 1797, surgiu às vésperas da Revolução Francesa, a “Assistência Pública”,
relacionada à saúde dos trabalhadores; reafirmando assim a relação entre
trabalho e doença, fazendo uma análise clara entre estrutura social e doença
da população.

Foi somente no período pós-guerras, com a Declaração Universal dos


Direitos Humanos (1948), mais especificamente com a Organização Mundial
de Saúde, que a saúde passou a ser um dever do Estado. Somamos a esse
processo as grandes descobertas científicas, que propiciaram um avanço
importante na medicina. Atualmente, o aparato de saúde anuncia saúde de
qualidade para todos, alta tecnologia, clientes bem cuidados, saudáveis. O
lado obscuro: O que vemos na realidade é que a saúde é um privilégio de
pequenos segmentos sociais. No Brasil, saúde de qualidade, acesso à alta
tecnologia não são oferecidas às bases, aos clientes, ou melhor, pacientes
maltratados; além da falta de tecnologia, há a falta de remédios e médicos.
Mas, observem o “Discurso-verdade” do ministro da saúde e do secretário
municipal da saúde. O mundo da saúde que eles chefiam é outro, totalmente
diferente do que você conhece. Nenhuma autoridade admite a incompetência
deste setor.

Aparato Político: (o sistema político, os diferentes partidos). O termo


política tem sua origem da palavra grega “polis”, que se referia à comunidade
organizada, autossuficiente e autárquica; como era usada naquela época. Hoje
é conhecida como Estado, em muitos dicionários é definida como “a arte de
governar o Estado”. Este aparato se parece com os outros porque tem o
“Discurso-verdade” escrito. É quase “perfeito”. Promete mudar a sociedade,
até tornar todos os cidadãos plenos. Promete justiça a todos. O lado obscuro:
seu significado, atualmente, se configura como “a luta pelo poder”, ou
“forma de obter o poder”. Quando chegam ao poder executivo, muitos
políticos ficam muito aquém das promessas. O exercício do poder, usando
todos os meios, vai tornando as diferenças em meras palavras. Ninguém
confessa que quer apenas o poder. Quando os políticos chegam a ele, dizem
que os novos tempos não permitem cumprir o que prometeram e, ademais, a
posição não os deixa cumprir as metas prometidas. Dizem que são
necessários “dez” mandatos para cumpri-las.

Nos últimos anos, os diferentes governos, independentemente se de


direita ou esquerda, avançam no dinheiro da população, através de pesados
impostos; ao passo que os serviços oferecidos são de péssima qualidade. Nas
Américas, por exemplo, tornaram-se diretamente associados à venda de bens
duráveis como maior fonte de arrecadação. Quanto mais o mercado vender,
mais os governos faturam e pouco empregam na infraestrutura.

O mentir torna-se tão natural que os leva à arte do mentir com arte
(marketing); usando novos apetrechos tecnológicos. O discurso falso e
omitido é o da falsidade ideológica, do enganar o eleitor e acabam sugando a
nação com as benesses que vão garantindo para si. É um dos aparelhos que se
utilizam da propaganda e da corrupção, quase sem limites. No dizer do
escritor português José Saramago: “A política é a arte de dizer mentiras.”

O sistema político-partidário está falido, porque mudou seu objetivo de


servir à população, para servir a ele mesmo, depois de servirem aos
financiadores de suas campanhas (bancos, empreiteiras, crime organizado
etc.). No Brasil, estamos atravessando um momento difícil, enquanto minoria
intelectual e crítica. Pretendíamos, no Brasil, uma democracia popular e
caímos numa democracia populesca, na qual aparece o pior, ao invés do
melhor da população e seus representantes.

Aparato de Informação: (a imprensa, o rádio, o cinema, a televisão,


Internet, etc.). A história da humanidade pode ser explicada através das
modificações ocorridas na comunicação humana: a era dos signos, da fala, da
escrita, da imprensa e, finalmente, dos meios de comunicação de massas, cujo
início se deu nas primeiras décadas do século XIX: o rádio e a televisão; até
chegarmos à era dos computadores e da Internet. Com a globalização, este
aparato passou a ocupar grande interesse, pois apresenta a possibilidade de o
ser humano estar, permanentemente, em contato com acontecimentos
mundiais. Contudo, para explicar esta instância vamos precisar de um espaço
maior, devido à sua grande influência nos dias atuais. Antes de
aprofundarmos a análise deste aparelho ideológico, convém esclarecer outros
aspectos.

Os Aparelhos Ideológicos de Estado não se confundem com o Aparelho


de Estado (repressivo: exército, polícia), consistindo nos seguintes pontos
essa diferença, segundo Louis Althusser:

· Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto que existe


uma pluralidade de Aparelhos Ideológicos de Estado;

· Enquanto que o Aparelho (repressivo) de Estado pertence inteiramente


ao domínio público, a maior parte dos Aparelhos Ideológicos de Estado
se remete ao domínio privado;

· O Aparelho Repressivo de Estado funciona predominantemente através


da força e secundariamente através da ideologia, enquanto que os
Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam predominantemente através
da ideologia e secundariamente através da força da lei, seja ela atenuada,
dissimulada ou simbólica;

· Os Aparelhos Ideológicos de Estado moldam, por métodos próprios de


sanções, exclusões e seleções, não apenas seus funcionários, como
também as suas “ovelhas”;

· Todos são atrelados à ideologia da classe dominante.

Saber ler e ensinar a ler o que esconde o discurso ideológico de inúmeras


instituições e grandes marcas globais é uma prestação de serviço à
cidadania plena de milhões e milhões de seres humanos, que são habilmente
ludibriados por verdadeiras máquinas insaciáveis; que disputam espaços em
sua mente e depois instalam seus produtos ou serviços nos corpos dos
escolhidos, no qual tudo se realiza no consumo ou consumismo.

Bem então retomemos a questão da utilidade. Todas as instituições


apresentam produtos úteis. Mas então, por que há tanta insatisfação com elas
(desde que sejam verificáveis seus decantados benefícios)? Por que o público
desconfia de certos médicos, de certos religiosos, de certos jornalistas, de
certos juízes, de certos presidentes da república, deputados etc.?

É porque o Discurso-ideológico, encoberto, transparece ou transpira o


que ocorre na instituição e que é negado. É o não dito. O não admitido. Não
admitido porque geralmente dito pelas vítimas das instituições que gritam das
sombras.

O leitor sabe que toda instituição tem e procura manter sua imagem
positiva (regional ou global) na mente do sujeito-receptor, gozando de certa
preferência. O poder dessa imagem é proporcional ao retorno, ou seja, a
disposição do cliente em adquirir seus “produtos”. Sempre se espera que o
sujeito se coloque em movimento para adquirir seu “conteúdo”. Isto é válido
mesmo para organizações com baixa qualidade de serviços, como por
exemplo: saúde pública e setor escolar. O último recurso utilizado pelas
máquinas ideológicas é a ampliação da sensação de bem-estar, produzido
por suas atividades quase inócuas.

Os meios de comunicação
Como adiantamos, daremos ênfase a este AIE, por sua enorme influência
nos dias atuais.

Globalização, revolução tecnológica eletrônica e Internet, eis aí um


cenário novo e especial, que mudou a face do planeta. Do ponto de vista
humanístico, é preciso perguntar como as pessoas se ajustaram às mudanças
ou como foram atropeladas por um processo inexorável?

O aparato ideológico da informação é um dos mais úteis e, ao mesmo


tempo, um dos maiores manipuladores da civilização. Aliás, é característica
dos AIE, vide o religioso, o familiar e o jurídico-político. Expliquemos
melhor.

O aparato de comunicação é a somatória de todos os veículos de


comunicação: jornais16, rádio, TV, cinema e Internet que veiculam notícias e
informações das mais variadas. A rigor são instituições públicas
(concessões), pois são voltadas para informar ou entreter o maior número
possível de pessoas. Uma de suas funções é recolher os fatos ou
acontecimentos e transmiti-los como notícia; outra é veicular conteúdos
produzidos em agregado a seu campo, dando sua versão.

Com eles, a ideologia dominante proporciona uma avaliação rápida e


quase igual, ao mesmo tempo, para milhões de pessoas, que atuam com os
mesmos conceitos de certo/errado. Dificilmente poderiam aprofundar o que
seria justo ou injusto. Neste ponto esbarramos com as limitações das
informações padronizadas, que chegam a milhões de pessoas e com o
desinteresse destas pela verdade. Qualquer “explicação” ou “resposta” serve!
A TV usa as notícias veiculadas pelos jornais - fornecidas pelas grandes
agências internacionais - e tornam mais superficial ainda o que filtraram dos
jornais, assim sucessivamente.

A propaganda ou publicidade é o que mais se encaixa neste particular,


característico de um sistema capitalista: vende tudo, o tempo todo. As drogas
legais (remédios, cigarros, bebidas) indevidamente utilizadas, visam os lucros
exagerados, tornam-se vizinhas íntimas das ilegais.

Os conteúdos e formatos são produzidos pelas agências e depois


colocados na “corrente sanguínea” do meio de comunicação escolhido
(jornal, rádio, TV ou Internet). É o ponto de vista do produtor-vendedor sobre
seu próprio produto, querendo convencer o comprador. A maioria dos
espaços e dos programas são veículos agressivos da ânsia de vender; é um
processo intermitente, não há descanso. São enaltecidos os pontos fortes dos
produtos e encobertos seus efeitos colaterais e limitações. A promessa sempre
é maior do que os benefícios recebidos pelo cliente. Convencionou-se “tapar
os olhos” ao que é acobertado e, assim, este tipo de comunicação invade os
lares a toda hora e, atualmente, até os espaços públicos (consultórios,
restaurantes etc.).

Quanto às marcas globais, podemos usar como exemplos: fast-food,


refrigerantes, etc. Como nada tem a dizer, em termos de qualidade, falam do
sabor, sensação de bem-estar etc. Através de produtos pueris, suas
organizações constroem marcas valiosas, que valem bilhões de dólares.

Segundo o economista francês Thomas Piketty17, o capital caminha


sempre em sentido da exclusão e do aprofundamento de desigualdade. Este
autor afirma que o Estado deveria intervir contra essa tendência, através do
redimensionamento de impostos e mudança de prioridades públicas. É claro
que ele está certo na primeira premissa, pois o capital, principalmente com a
globalização, amplia a vantagem dos muitos ricos sobre os demais cidadãos.
Porém, na verdade, são criminosos que mantém, imersos na pobreza, dois
bilhões de seres humanos, pelo mundo afora. O remédio receitado é
equivocado, porque o Estado corrupto alinha-se a favor das elites,
apresentando certa “discordância” apenas na época das eleições.

É importante destacar que este aparelho para conquistar o sujeito-


receptor, costumeiramente critica a baixa qualidade dos sistemas públicos de
educação, saúde e segurança. Por outro lado, se alia ao mercado, francamente
ao lado das Marcas (patrocinadores que lhes garante ganhos extraordinários).
Não criticam as atividades perversas de seus patrocinadores, ex: bancos,
bebidas, etc. Quando muito, fazem leves observações, diante das reclamações
dos clientes.

Orientados por campanhas de marketing, apresentam os produtos pelo


melhor ângulo, escondendo seus efeitos colaterais18. O produto não é
apresentado diretamente. Ele precisa ser associado a algo mais agradável e
sugestivo para adentrar em sua casa (ou mente), sem agredir ninguém. A
associação com música ou imagens também agradáveis, que agregam a
sensação de bem-estar, de status e, principalmente, de vantagem competitiva,
é indispensável. O que o cliente não percebe é que ele está sendo abordado
em seu lado infantil, em seus traços infantis; mesmo que se trate de venda de
apartamentos ou carros. O apelo ao lado adulto e cognitivo tem pouca força
de persuasão. Exceto no jornal impresso, a publicidade joga com o
movimento e a estética, depois com as promessas de que tornarão o
comprador mais feliz, sempre contarão uma história boa para iludir o
consumidor.

Ao “glamourizar” um novo modo insano de relacionamento, entre o


humano e a Natureza, favorecendo estilos de vida que, ampliados, tem
colocado o planeta em risco (consumismo), o marketing, em sendo
considerado um poderoso aliciador dos mercados, pode enquadrar-se na
máxima: Ao “pensar” fazer o bem, está, no fundo, contribuindo com o mal.
Aliás, não são nada inocentes mesmo!!! Há poucos anos, vieram à tona
corporações que ajudaram o 3º Reich nazista: IBM, GM, Coca Cola, Nestlé,
Warner Brothers, Bayer, Ford, Siemens e Hugo Boss. Muitos pagaram
indenizações aos familiares de funcionários mortos e, até hoje, ao fundo das
Nações Unidas às vítimas do trabalho escravo. Todas elas, até hoje,
fomentam a ideologia do lucro voraz19.
Outro lado da comunicação é a veiculação de notícias. Quer algo mais
necessário do que receber notícias de seu bairro, cidade, país ou mundo? É
um serviço inestimável, mas tem seu preço. As grandes instituições pagam
seus repórteres e jornalistas para irem atrás da notícia, ou melhor, dos
acontecimentos e enviá-los a seus superiores que, depois que as transformam
em produto de consumo, de acordo com a ideologia dominante.

Assim, o público passa a consumir notícias, visões de mundo, sob o


ponto de vista das organizações que tem poder. Elaborar e distribuir notícias
político-econômicas tornou-se um negócio poderoso que, segundo
especialistas, é mais eficiente na dominação do que manter exército de
ocupação, em outros países dominados.

Mas, como um aparato de comunicação, que fora inicialmente tão frágil,


agora se apodera de decisões tão importantes da civilização? Como ninguém
terá vida satisfatória sem médico, sem professor, sem mãe, sem orientadores
religiosos... Muito menos sem as notícias locais ou internacionais. Sem elas,
o cidadão não saberá o que está ocorrendo nem do outro lado de sua rua.
Informar, noticiar é poder. Quem recolhe as notícias, os fatos e os distribui
agrega força econômica e ideológica. Por isso, o grande problema do
aparelho da informação é a credibilidade. Como passar uma visão parcial e
interesseira do mundo, mas dando a sensação de equidistância e correção
ética?

Ora, o terreno da Mídia é um campo de fácil exercício das ideologias, no


qual não se busca a verdade atrás dos fatos; interessa mais a aparência do que
a essência perturbadora dos mesmos. Fora o campo religioso, por lidar com
palavras e imagens, a Mídia é o aparato com mais facilidade para manobrar a
ilusão e a alusão.

Assim, ao incorporar-se na globalização, se tornou um aparato de


tamanha importância com sua veiculação das ideologias, que está levando
vantagem sobre o poder de outras instituições, como a escola e a família. Aí
reside a competência que somente os que tem poder, o exercem e dominam.
Trata-se da montagem e divulgação de seu “Discurso-verdade”, formando e
convencendo, continuamente, novos adeptos. O “Discurso-verdade” refere-
se, em princípio, aos benefícios primários que fazem sua instituição
necessária, porém de olho em suas conveniências, visando ampliá-las. Tudo
deve ser feito no sentido de que sua fidelidade à causa ou à Marca seja
considerada soma de pontos-benefício. Todos metidos na “coisa” têm que
ganhar, de alguma forma, algo valorizado. É claro que as cúpulas terão que
lucrar bem mais. O modus operandi é conhecido: agrega outros valores,
benefícios ou sensações ao seu produto e “esquece” ou “esconde” seus efeitos
duvidosos, ou mesmo colaterais.
6 - Conclusão

Ao chegarmos à última etapa deste livro, espero que o leitor tenha


compreendido o que é ideologia. Uma vez que existem várias, veja como elas
atuam sobre todos nós, em que idade elas entram em nossa mente, com qual
finalidade e através de que.

Para isso fomos à origem de duas instituições fundamentais (Família e


Religião), mostrando quando e como surgiram, enquanto instituições, como
procedem e como fazem a cimentação das ideias e distorção dos conflitos.
Mostramos, também, como as instituições mantém iguais procedimentos
ideológicos, apesar de atividades tão diferentes: podendo ser na Escola, na
Saúde, na Mídia e outras. Estão sempre buscando convencê-lo da honestidade
de seus princípios e procedimentos para cooptá-lo para seus quadros como
militante ou cliente.

Buscamos demonstrar como as instituições manipulam e como são


manipuladas por outras instituições, entre si, porém todas olhando sempre na
mesma direção: ganhar mais e dar menos, com aparência contrária; para
quem se esqueceu, é a gênese da acumulação capitalista, na qual o trabalho
sempre perde seu valor, embora seja a verdadeira força transformadora.

Mas não concluí ainda algo fundamental: neste empenho, descobrimos


como o ser humano é governado, além do Inconsciente, por outra realidade
abstrata. A primeira o Dr. Sigmund Freud já havia exposto, ou seja, que
somos governados muito mais pelos instintos (inconsciente) do que as
pessoas imaginam. Na segunda, demonstramos como os desejos, quando
atendidos, em grande parte, se materializam no que as ideologias prescrevem
e no que a Economia permite. No mais, tudo é sublimado. Nesse momento,
entram os fetiches, substitutos apresentados às possibilidades consumistas da
globalização. O ser humano tornou-se uma “antena parabólica” de ideologias.
Assim, como o sangue corre em nossas veias sem percebermos, como os
impulsos pulsam em nossa mente, querendo satisfação dos desejos, de forma
intermitente; da mesma maneira, interiorizamos tantas ideologias, desde a
infância, que pouco temos percepção delas e que elas respondem onde,
quando e como nossos desejos terão satisfação ou não e de que formas serão
sublimados. Este fenômeno se fortalece graças à invisibilidade da ideologia.
Isto deixa claro que o livre-arbítrio20 é mais uma ilusão do que uma
realidade.

Sabemos que, apesar de tudo que foi demonstrado nesta obra, muitas
pessoas parecem ter dúvidas se a alienação não seria mais benéfica ao seu
equilíbrio psíquico do que o senso crítico. Porém, convém perguntarmos até
que ponto a alienação pode preservar a pessoa do sofrimento? Como, o fato
de não ter consciência do que ocorre nas profundezas dos âmbitos
psicológico e social, reduzindo tudo a uma opinião simples sobre qualquer
fato, pode causar a sensação de bem-estar? Qual a “mágica” que faz com que
milhares de pessoas acompanhem, diariamente, novelas, dependam de
amparo religioso, sigam o pensamento dominante, acreditem, piamente, nos
meios de comunicação?

É claro que essa postura alienada é mais cômoda. Na verdade, para


assumir opiniões críticas, baseadas no conhecimento, é necessário ser forte
para aguentar a pressão da opinião comum, do senso comum. Outro fator a
ser considerado é que o movimento em busca da ciência causa forte aversão,
porque é mais incômodo, dá mais trabalho do que a inércia, a passividade do
sujeito sentado no sofá, sem atividade construtiva social ou cultural.

Caros leitores, agradecemos sua companhia até aqui. A partir desses


esclarecimentos, compreensível será o estremecimento de muitas crenças que,
talvez, criem um fosso ainda maior entre o que você, leitor, acredita e o que
nós acabamos de demonstrar. Porém, ninguém poderá duvidar de nossa
honestidade intelectual, diante da análise das produções tão significativas da
humanidade, voltadas para o Bem, porém procurando esconder suas práticas
perversas. A Ciência é o instrumento mais indicado para estreitar a distância
entre a ideologia e a verdade, ou seja, a Ciência tem que derrubar os muros
sombrios da alienação. O ser humano é movido por forças instintivas e
direcionado por forças ideológicas. Nesse embate, somente a consciência e o
conhecimento podem iluminar os pontos obscuros da psique e da sociedade.

Quanto aos “Discursos-verdade” tendo maior, ou menor densidade


ideológica em seu conteúdo e forma, caberá a você, leitor, esforçar-se (ou
não) para não se deixar enganar.
7 - Autores Consultados

Antonio GRAMSCI
Charles DARWIN
Edwin BLACK
Frantz FANON
Jean PIAGET
Johann Wolfgang GOETHE
Karl MARX
Louis ALTHUSSER
Nelson MANDELA
Sigmund FREUD
Thomas PIKETTI
8 - NOTAS
1) A palavra composta "Discurso-verdade" aparecerá, neste livro, entre aspas por não ser totalmente
verdadeiro.
2) A Origem das Espécies – Esboço de 1842 – Legatoria Del Sud, Ariccia (Roma).

3) N.E. - O autor entende que o termo civilização cabe aos humanos. A “sociedade” continua se
referindo aos símios, às abelhas, formigas etc., na qual se organizam pela simples sobrevivência. Nesse
caso não se pode falar em produção de uma cultura rudimentar, pois lhes falta o diferencial da
consciência, da interferência intencional da Causa e Efeito, que só os humanos possuem.
4) Introjeção: mecanismo inconsciente que permite ao ser humano colocar, para dentro de sua psique,
sentimentos e qualidades de outras pessoas, através do conceito de Bem ou Mal.
5) Projeção: mecanismo inconsciente que permite ao ser humano lançar, em direção ao exterior de si,
sentimentos hostis ou amorosos, atribuindo-os aos outros.
6) Quando estivemos em Bafatá (Guiné-Bissau–África Ocidental) entramos em contato com uma
família que apresentava esta característica. Viviam sob o mesmo teto mais de 20 pessoas, de várias
idades. Para essas pessoas, é como se o tempo não tivesse passado. Comiam, principalmente, raízes e
mantinham animais de pequeno e médio porte (cabras), que lhes forneciam o leite e a carne, tão
fundamental para o regime alimentar.
7) É o modo como a pessoa ou grupos humanos veem e sentem o mundo, fortemente influenciados
pelas relações de produção nos sistemas sociais. Os sentimentos são sempre conscientes, ou seja, as
pessoas sabem o que sentem. Elas não compreendem o que está por trás deles.
8) N.E. - Livro do mesmo autor.

9) Quanto a este aspecto, Freud afirma que, desde o início da vida, o ser humano é movido,
principalmente, pelo Princípio do Prazer, ou seja, a busca imediata da satisfação de um desejo. A este
princípio se contrapõe, posteriormente, o Princípio da Realidade, que exige o desenvolvimento de
funções conscientes, atenção, memória, capacidade para transformar o desejo apropriado à realidade.
Vale a pena lembrar que, mesmo após o surgimento do Princípio da Realidade, o Princípio do Prazer se
mantém pela vida afora.
10) Louis Althusser “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado”

11) Fetiche: um objeto material ou abstrato ao qual se atribuem poderes mágicos ou sobrenaturais,
positivos ou negativos.
12) Devemos a Louis Althusser grande parte desta abordagem inicial. Remetemos o leitor à obra deste
filósofo “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado”.
13) "Nossas crianças são nosso maior tesouro. Elas são nosso futuro. Aqueles que abusam delas rasgam
o tecido da sociedade." Nelson Mandela
14) Não podemos esquecer que os homens se tornaram fisicamente fortes, porque, diferentemente dos
outros animais, não precisavam do cio das fêmeas para a relação sexual e, consequentemente, é fácil
deduzir que as mulheres tinham uma gravidez atrás de outra e, portanto, não tinham condições físicas
para a caça, como os machos.
15) A Santa Inquisição foi um período iniciado no começo do séc. XII. Com expansão do poder do
cristianismo, a Igreja Católica liderou uma cruzada contra quem se opunha aos seus dogmas. Massacres
aconteceram. O Papa Inocêncio IV publicou um documento intitulado Ad Exstirpanda - ele dava uma
chance aos hereges: assumir o erro através de tortura.
16) Na minha opinião, na frase de Antonio Gramsci: “Os jornais são aparelhos ideológicos, cuja função
é transformar uma verdade de classe num censo comum, assimilado pelas demais classes como verdade
coletiva – isto é, exerce o papel cultural de propagador de ideologias. Ela embute uma ética, mas
também a ética não é inocente: ela é uma ética de classe”, ele, certamente, incluiria, hoje em dia, toda a
mídia.
17) “O capital no século XXI” – Financial Times – 2014

18) Afirmei em outra ocasião, que o marketing (em seu lado perverso) é o novo Mefistófeles
(“Querendo fazer o mal, acabo sempre fazendo o bem.” – Dr. Fausto – Goethe). No clássico de Goethe,
o demônio precisava ser chamado para exercer sua arte. No caso, do marketing, ele se apodera do
“pecador” sem permissão.
19) Para saber mais: “Nazi Nexus”, de Edwin Black, Net Work, 2009.

20) Livre-arbítrio: expressão utilizada tanto pela religião quanto pela filosofia, para significar a livre
vontade de escolha, de decisões livres.
9 - Sobre o autor
O Prof. Dermeval Corrêa de Andrade é um dos poucos profissionais que desenvolveu sua
carreira em duas direções, aparentemente díspares, mas que, na realidade, estão interligadas. Dedicou-
se, por muitos anos, à Psicologia Clínica, com experiências nas áreas de Psiquiatria e Neurologia,
consolidando, em seguida, na Psicoterapia de crianças e adultos. Hoje é um dos psicoterapeutas mais
importantes do País.
Além de escrever vários livros, dedicou-se à formulação da Psicologia da Ideologia e da
Educação Social transformadora. Fez pós-graduação no Instituto de Relações Latino-americanas
(IRLA-PUC/SP), onde conviveu com várias personalidades da América Latina, quando ampliou seu
interesse por este continente e, posteriormente, pela história e cultura de África.
Assim, com os conhecimentos sobre Psicologia, Antropologia, História etc. chegou às
profundezas das instituições sociais, descobrindo as mazelas de suas entranhas. Tem ido a vários países
como Consultor de Estratégicas Humanitárias, conferencista e também aprofundando seus estudos
culturais. Atuou, por vários anos, na Anistia Internacional.
Seu perfil é resultado não só de sua produção teórica, mas principalmente de suas ações concretas
no difícil cenário da realidade mundial atual.

Livros do mesmo autor

● Terapeutas e Pacientes no Capitalismo-Dependente


● A Psicologia de Libertação – além de um sonho
● Zumbi: Quando os escravos se revoltam
● A Psicologia da Ideologia – o desvendar das aparências
● Freud: o último outono
● Educação Social Transformadora

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