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Personagens:
1
Porque isso qualquer banqueiro
Poderia me emprestar.
Trago aqui sublime mercadoria
Que acaba com a nostalgia
E faz a boca se arreganhar.
Dando fuga a um sorriso vigoroso
Que o banguela, a bela e o horroroso
Toda gente, sem demora, vai deixar escapar.
Sou um humilde vendedor de história
E pela minha trajetória
Muitos causos vos posso eu contar.
A paga serão seus aplausos ao final
Mas ofendido ficarei se um real
Nesse chapéu alguém vier depositar.
Deposite de cinco reais para cima
E com sua licença deixarei de rima
Por que a história precisa começar.
(música – Vi dois siri jogando bola)
2
Após sugar a ultima gota de água do meu cantil recuperei a orientação da
cabeça e me vi no meio de um acampamento de um desses terríveis
facínoras. Só tive tempo de correr puxando o bode para trás de um
mandacaru. Pra minha salvação, Piaba era um bode de poucas palavras,
gostava mais era de cantar, mas estava muito cansado o coitado do bode.
Dali, de traz do mandacaru, eu e Piaba presenciamos um momento histórico
do lendário bando de Maria Urtigão.
3
(Um bando de cangaceiras descansa no meio da caatinga. Um sacristão atravessa a
cena. Ao sair pelo outro lado a chefe do bando desperta assustada).
MARIA URTIGÃO – Quem taí? Quem taí? (chamando) Cochilo! Ô Cochilo pamonha,
onde ta vancê, praga? Onde eu tavo co’a cabeça pra punhar de
sentinela uma besta chamada Cochilo?
MARIA URTIGÃO – Né mermo, o quê? Por acaso cê ta dizendo que minha irmãzinha é
uma praga, uma besta?
TODAS – Num é!
SORA – Calminha chefe, vai vê que passô ninguém não. Foi só um bicho do mato, um
calango.
MARIA URTIGÃO – Ói aqui, Sora, e vancê tumbêm, Finha, tem dois futum que conheço
bem: um é de calango - por ter comido o bicho a vida inteirinha e o
otro é de homi, apesar de já se fazê muito tempo que num como
ninhum. Mas a inhaca eu alembro bem. E não me chamo Maria
Urtigão se por aqui num passo homi.
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MARIA URTIGÃO – Se assuste não fia. É muito poco um ruído pra assustar a fia de
Maria Urtigão chefe dum bando de cangaceiras da mulesta. E se
alembre fia: fia de cangaceira, é cangaceira tumbém. É o mermo
sangue que escorre na veia.
MARIA URTIGÃO – Cumé que te chamo e tu demora três lua pra me atendê?
MARIA URTIGÃO – Deixa de lado a porquera e me diz: passô alguém por aqui. No
meinho de nosso acampamento?
MARIA URTIGÃO – Cês tratem de tê respeito pela cumadre Dada. Tire os ói gordo de
cima de Curisco. Vamô logo Cochilo, passô alguém por aqui?
TODAS – AAAAAHHH!
COCHILO - Passô?
TODAS – IIIIIIIIIIIIIIII...
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COCHILO - Passô não.
TODAS – AAAAAHHH!
COCHILO - Passô!
MARIA URTIGÃO – Sua fia dum bode moiado diga logo então quem passô por aqui.
MARIA URTIGÃO – Mas que tanto esse desinfeliz passeia por aqui?
COCHILO – Diz ele que leva ungüento pros doente do padre Cicó.
MARIA URTIGÃO – Ah! Deus castiga?!? Por quê? Ele ainda num ta castigando não, é?
Então em sol, em lua sem comer nada alem de mandacaru e
calango, num é castigo? Num é?
TODAS – Num é!
SORA - O chefe, cumé que pode o lendário bando de Maria Urtigão – que é vancê – ta
perecendo de fomi. Um bando que já desafiô e venceu tantos macaco agora
acabá sem tê o que comê?
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FINHA – (respeitosa) Maria perdoe a ousadia de minha fia, mas a cabrita num dexa de tê
razão. (muda o tom) Mas se vancê quisé eu digo que esta pomba lesa num tem
razão arguma e ainda entorto sua coluna pela afronta que fez a chefe.
MARIA URTIGÃO – Castiga não, Finha. Sora tem razão. Mas o que num sabe é que há
algum tempo atrás, este sertão tava infestiado de bando. Era
cangaceiro pra tudo que era lado. Tinha uns ói de cobra no mei, mas
a grande maioria era de gente brava que lutava contra o poder
desses coroné que ecravizava o povo fingindo que dava liberdade.
Até que um dia o governo de Getúlio mandou as coluna avançá. O
espaço foi ficando pequeno, o povo do cangaço acuado. A volante
chegando. Eles vieram disimando, disimando e hoje estamos aqui
entocados na caatinga sem tê nem o que comê... restaram pocos
como nós.
ZITA – Num fala assim que eles tão por toda parte embreados nessa caatinga. Se eles
ouvem, ai meu Deus.
MARIA URTIGÃO – Caatinga é terrero de cangaceiro. Deixa eles ouvi. Arranco cá umas
orelha pra minha coleção...
7
FINHA – É! Assim é bom também.
MARIA URTIGÃO – Sora ta certa, vamos atrás da comida. Vamô deixá de espreitar e
invadir o povoado agora.
Todas reagem ao seu modo, mas o tom que prevalece é o de euforia. Em meio a
balburdia o grito de Linda silencia a todas.
MARIA URTIGÃO – Pois então vamô sangrá a vaca da mulé do Setembrino Barbosa...
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ZITA – Que o quê? É lerdeza, mas num é vaca da mulé do coroné não. Lerdeza é vaca da
mulé do dotor médico Crisóstomo.
ZITA – Vô não. O médico é protegido do coroné e o coroné tem conluio co’s macaco.
COCHILO – Sem medo, Zita. A vaca num é do coroné nem do dotor. A vaca é da mulé do
dono da venda, o Vicente Tomás.
ZITA – Esse então é bicho que não se confia. Vende arma e munição pra nós, pros
macaco e pros jagunço do coroné. Num se sabe de que lado ele ta. Ah! Vô não.
SORA – Mainha é que ta certa, a vaca é da mulé do coroné. Oi como ela é rabuda.
LINDA URTIGUINHA – Essa vaca me parece ser é da mulé do prefeito. Ói o tamanho das
teta dela. Quem gosta de teta grande é o seu prefeito.
MARIA URTIGÃO – Isso é jeito de falar, Lindinha? E cume que ce sabe das preferênça
do véi Euclides?
MUNDICA – Não chefe. Eu achei assim por mor do jeito que o prefeito oio pra... (sinal
com as mão das tetas grandes de Urtigão) vancê no dia da invasão das terra
do Guilhermino. Eu só pensei alto: Do jeito que o véi oia pra chefe só pode
gostar de teta grande. Daí Lindinha ouviu.
MARIA URTIGÃO – Né nada disso. Qualquer político não pode ver uma teta que já qué
se apossá. Pois ta certo. Num interessa de quem é a teta... quer
dizer: a vaca lerdeza. O que interessa é que o lendário bando de
Maria Urtigão vai sangrá o animar. Simbora.
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ZITA – Vó não.
TODAS – Num é!
FINHA – Rosa tá cum a razão, chefe: se a vaca for da mulé do coroné ele manda os
jagunço vir atrás de nós, se for da mulé do médico ele num da mais remédio pra
nós, se for do dono da venda ele num traz mais munição pra nós em troca de
xamego. (t) E num sei o que é pior: ficar sem a munição ou sem o xamego. E se
a vaca for da mulé do prefeito é uma vaca oficiar. Será um crime político, isso dá
certo não. Vai ficá ruim pra nós.
COCHILO – É milhó dexá a vaca na sombra. Calango num é tão ruim. “Cruzim credo”!
Isso dá certo não.
MARIA URTIGÃO – Seja lá de quem for essa vaca vai pro brejo.
ZITA - Vô não.
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SORA – Pra mim é da mulé do coroné.
Todas se agitam cada uma corre prum lado pega nas bolsas batom, espelho, escova de
cabelo, perfume e etc.
MARIA URTIGÃO – Suas desmioladas vances tão querendo morrê? É pra pegá as arma
e se atocaiá bando. Vances são cangaceiras ou são atriz, modelo e
manequim?
Todas fazem poses, caras e bocas sensuais satirizando as modelos da TV. Depois voltam
a real.
LINDA URTIGUINHA – (olhando a vaca) Oia a teta gente maió que a da mamãe.
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MUSTAFÁ – Que medo. E se aqui na caatinga tiver escondido um bando sanguinário de
cangaceiros? Só de pensar me desarranja as tripas. Preciso aliviar o ventre
ligeiro.
MARIA URTIGÃO – Pode parar que as terras do meu acampamento num precisam de
adubo, não. E se deixar escapolir um pedacinho que seja faço você
engolir, miserável.
ZITA – Deixa o omi se aliviá, chefe, que é pra carne num fica amargosa.
MARIA URTIGÃO – Ía não, mas essa tua conversa ta até me abrindo o apetite.
SORA – Se a chefe quiser eu levo o moço pra se aliviá atrás duma moita.
FINHA – Num sei a quem essa menina puxô. Quem ta querendo se alivia é tu quenga.
Dexa que eu levo o moço.
MUNDICA – Chefe, qué que eu faça o peste punha tudo de volta pra dentro?
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MARIA URTIGÃO – Sei quem vancê é, omi. O que deu nessa sua cabeça de titica pra
passar aqui no meu território? Ta querendo me desafiá peste?
MUSTAFÁ – Não. De jeito algum. Mustafá também sabe quem é a senhora. A sua fama e
do seu temido bando já chegou a capital. Este é o caminho mais rápido para
o povoado. Tenho pressa, pois estou levando uma encomenda para uma
festa de casamento.
MARIA URTIGÃO – E que encomenda é essa? Se é o bolo vamo, começar a refeição hoji
pela sobremesa.
MUSTAFÁ – Não. Por favor? Mustafá precisa desse dinheirinho. A noiva precisa do
vestido.
MARIA URTIGÃO – Então vamos dividir: ela fica com o noivo e minha “fia” fica com o
vestido.
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LINDA URTIGUINHA – Mainha, não dá pra trocar?
MARIA URTIGÃO – Não! Não dá. To mimando muito essa cabrita. Agora já falta menos.
falta só o homi. (Linda de olho no Mustafá) E tira o sói desse aí. Num
quero genro cagão. Quero neto com a pexera nos dente.
MUSTAFÁ – Mustafá não serve. Mustafá é muito medroso, covarde, um bosta n’água.
SORA – Pra mim ta bom esse aí, titia. Mamãe nem se importa.
FINHA – Pra mim ta bom assim, mas se num tive bom pra chefe, eu arrebento essa
desmiolada.
MUSTAFÁ – Defunto?
MARIA URTIGÃO – A não se que vancê ajude a gente a invadi essa festa de casamento.
ZITA – Ah! num vô. Hoje a festa dela, amanhã nosso enterro.
COCHILO – O coroné tem uns amigo importante. Os macaco vão ta tudo de vigia.
“Credem cruze”! Da certo não.
MARIA URTIGÃO – Cochilo ta certa. Melhô morre de fome que pelas mão dos macaco.
Vamos voltar pra lerdeza.
FINHA – Mas, assim dá no mermo. Pros coroné, vaca, muié, fia, é tudo igual. Vai vê que
ele da até mais valô a vaca.
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ZITA – Mas, lerdeza não é a vaca da mulé do coroné.
MUSTAFÁ – Não chame senhora Cândida de vaca. Senhora Cândida é uma flor.
TODAS – Huuuuuummmmmm!
MARIA URTIGÃO – Mas que sem-vergonhice. Bem feito pro veio Setembrino. Agora ta
provado; lerdeza pode num se a vaca da mulé do coroné, mas a
mulé do coroné tumbém é uma vaca.
FINHA – Chefe, já que esse cabra é tão desavergonhado que bulina a mulé do coroné,
deixa ele buliná nós?
MUSTAFÁ – Mas...
SORA – Só um cadinho?
LINDA URTIGUINHA – Eu primeiro que tenho que sê inaugurada. Ele tem que ta forte.
COCHILO – Pelo menos alguma coisa vancê já deu hoji. Eu primeiro que tenho que voltar
pra tocaia.
TODAS – A chefe!
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MARIA URTIGÃO – Primeiro um banho nesse cagão. (elas concordam e se agitam)
Quiétas! Um cheiro...
Todas comemoram.
MARIA URTIGÃO – (ameaçando com a peixeira) Amarra o fedorento. Acho que vancê
tava cum mais medo do banho que das minhas menina.
Vem vindo despreocupado o sacristão. Quando ele chega no meio da cena vê o caixeiro
amarrado e amordaçado.
SACRISTÃO – Jesus. Quem te prendeu aí, homi de Deus? Mas é seu Mustafá. Espera
que vou desamarrá o sinhô. (se aproxima) Misericórdia! Que carniça mais
fedida é essa? (tira a mordaça)
SACRISTÃO – Mas cum esse futum, com certeza o seu Mustafá afugentô elas. (entra o
bando sem que o sacristão perceba) Mas cume que um homi desse se
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deixo amarrá por um bando de mulé morta de fome. Umas lezera. Se
fosse cumigo, homi...
MARIA URTIGÃO – Mostra aqui pras morta de fome o que cê faria se fosse cum tu.
Pegaaaaa!
SORA - E eu só um cadinho.
MARIA URTIGÃO - Mas é vancê, cabra? O que tanto tu se embréia na caatinga? Num
sabe que nosso bando está a perigo... ou melhor: é perigoso.
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MARIA URTIGÃO – Vancê sabia que atrapaiô o meu sono hoji? Que acordei assombrosa
por tua causa? Que num gosto de futum de homi no meu
acampamento? Que eu capo homi e faço ingoli as própria bola?
COCHILO – Se eu mermo joguei água pra desatracá vancê e o falecido Dundun, Solange
Cadinho. “Cruzim credo”!
MARIA URTIGÃO – Por isso sangrei o desinfeliz. Que Deus o tenha. Mas, voltando ao
Sacristão: Num vô considerá as ofensa que tu tava fazendo aí com o
cagão por que eu sei que vancê tumbém é um bundão igaulzinho ao
outro.
MARIA URTIGÃO – Vancê num vai a lugar ninhum. As minina iam da um banho nesse
desinfeliz pra adispois xamegá um poquinho cum ele. Mas num sei
se só um banho ia resolvê o problema. Se perderia muito tempo cum
o traste e se gastaria muita água, que é coisa rara cá na caatinga..
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FINHA – Mas nóis num precisa mais dele. Agora temo o sacristão.
Já tomei a decisão.
LINDA URTIGUINHA – Mainha vai dá os dois pra mim, já que nunca tive ninhum.
SORA – Dê unzinho pra mim tumbém, titia. Nem precisa se intero, só uma partezinha ta
bom.
MARIA URTIGÃO – Solte o catinguento que num to agüentando mais este fedô.
MARIA URTIGÃO – Mas, escuta aqui o seu bosta; vancê vai trazê uns fardo da tal festa
pra nóis. Se num fizê o que eu digo, quando te encontrá de novo, e
vou encontrá, eu arranco tuas bolas cum os dentes da Mundica, que
num vô botá os dentinhos que me restam nesta porquise que é tu.
Agora somi daqui, somi.
MUSTAFÁ – (com as pernas abertas) Bem que eu queria, dona Maria, Mas não consigo ir
mais rápido.
ZITA – E o que vamo fazê cum o sacristão, chefe? Um assado, um cozido ou vamo cume
ele cru.
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FINHA – Podemo fazê é uma saliência das boas cum ele.
Todas comemoram.
MARIA URTIGÃO – Bando, temo que agi cum a cabeça. Vamo matá uma fome de cada
vez. Primeiro a do bucho...
MARIA URTIGÃO – Sacristão, eu deixo cê ir, mas vancê vai tê que ajudá a sangrá a vaca
do coroné.
ZITA – Ai meu Deus, de novo essa história. Num é do coroné. È do médico dotor.
MARIA URTIGÃO – Se quer cumê alguma carne primero vai tê que ajudá sangrá a vaca.
FINHA – Ói! Mas eu jurava que a vaca era da mulé do Setembrino. Mas se num é, assim
tumbém ta bom.
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COCHILO – É do Vicente Tomás.
MUNDICA – Viu Lindinha. Nóis é que tava certo. A vaca é da mulé do prefeito.
LINDA URTIGUINHA – Logo vi. (para o sacristão) Óia lá o tamanho das teta.
MARIA URTIGÃO – Num me interressa de quem é essa vaca. Agora sismei e vo sangrá a
bicha de qualquer jeito. E vancê, sacristão, vai me ajudá.
MARIA URTIGÃO – Vai fazê; se não te dou pras meninas. (todas olham devoradoras pra
ele)
SACRISTÃO – Não!
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ZITA – Do Dono da venda...
FINHA – Do coroné?
SACRISTÃO – Do padre.
TODAS – Do padre?
SACRISTÃO – Do padre.
MUNDICA – Quiéta!
ZITA – Deixa ela ir. Se ela é mulé do padre é igual ao dono da venda: ora tem parte com
Deus, ora com o rabudo.
FINHA – Sora, fia, respeite sua mãe. Do padre não. Vancê minha fia é igual essa
desinfeliz (espectadora), um cadinho de um, um cadinho de outro. Mas do padre
nem um cadinho.
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SACRISTÃO – Jesus, Maria, José.
MARIA URTIGÃO – Também num vamos bota toda culpa no padre, né? É pecado.
FINHA – Vai vê que por causa dela que este lugar é essa miséria.
COCHILO – “Credem cruze”. Para! A mulé do padre num é ela não. A mulé do padre so
eu. Lerdeza é minha.
MARIA URTIGÃO – Que traição, Cochicho. Minha própria irmã. E vancê sacristão,
acoitando.
COCHILO – Chefe foi naquele dia em que eu fiquei escondida na igreja fugida dos
jagunços do coroné. O padre me deu cobertura e eu também dei...
cobertura, pra ele. Daí então pra eu num contá pra ninguém ele me deu
lerdeza...
SACRISTÃO - Que era da mulé do coroné, que pra pagá uns corte de fazenda deu pra
mulé do dono da venda, que pra paga umas consulta deu pra mulé do
dotor médico, que oferto pro padre...
SACRISTÃO – Pro padre guardar um segredo de confissão. Acho que ela meteu a galha
no dotor.
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MARIA URTIGÃO – E como vancê sabe de tudo isso?
MUNDICA – E comé?
SACRISTÃO – Quando o padre entra na pinga braba não tem segredo de confissão que
ele não conte.
COCHILO – Por favor, minha irmã. Eu nunca ganhei nada de homi ninhum. Não mate
minha vaquinha.
COCHILO – Não é?! (em êxtase) “Credem cruze”! Humhumhum. Hahaha. Aiaiaiai.
ZITA – Mas agora eu quero sangrá. Já que a vaca num é do coroné, vamo sangrá ela.
MARIA URTIGÃO – Cambada, chama na zabumba que hoje nós vamo te um banquete.
Carne vermelha bem passada do Sacristão.
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MARIA URTIGÃO – E vamo se comporta que hoje nós temo visita pro jantá. (a
espectadora)
FINHA – Chefe será que a gente antes num pode se diverti um pouquinho cum ele?
MARIA URTIGÃO – Mas é claro. Vamos fazê uma festa. Mas como manda a intiqueta, a
primera a se servi é a visita.
TODAS – Depois eu - e eu - eu que sou virgem – deixa um cadinho pra mim – a segunda
é a chefe.
MARIA URTIGÃO – Minha gente larga o peste do sacristão e simbora sangrá o bode.
SACRISTÃO – Ai meu Deus, obrigado. Obrigado, meu Deus. (para a espectadora que
está em cena) Foge dona, foge. Aproveita e foge dona. Vai.
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SACRISTÃO – O bode era seu? Muito obrigado. Muito obrigado. Não sei como poderei
pagar o senhor, obrigado. (sai correndo)
(música – a praça vira um baile. Atores retiram das malas do caxeiro adereços para
ornamentar o público tirando a todos pra dançar.)
FIM.
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