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A representação dos negros presente 

nas questões do ENEM  


Jordana Peixoto da Costa1
jordanapeixoto@gmail.com
Resumo:
Este ensaio visa apresentar uma análise da representação dos negros na composição das
questões do Exame Nacional de Ensino Médio a partir de sua implementação em 1998,
tendo em vista as reformas do Sistema Didático brasileiro da década de 1990. Sendo o
ENEM , desde 2010, principal meio de acesso ao sistema público de Ensino Superior e ao
programa de financiamento estudantil para as instituições privadas.

Palavras-chave:
Ensino de História, Enem , Cultura de avaliação,Representação. .

Abstract:
This essay aims to present an analysis about the representation of afro-descendants in
elaboration of questions for the National High School Exam (ENEM) since its implementation
in 1998. Taking in consideration the reforms of the Brazilian didactic system of the 90s.
Since 2010, ENEM has been the main way to access both, the public higher education
system and the student financing program for private institutions.

Key words:
History teaching, Enem, Assessment culture, Representation.
_________________________________________________________________________

As redes brilham do ouro que são feitas.


Calpúrnio

Existe uma necessidade premente no Brasil e nas demais sociedades


pós-coloniais de discussão sobre a condição dos negros e povos indígenas. Alguns
campos do conhecimento se ocupam dessas questões e o ensino de História não
pode se furtar dessa reflexão.
Nas últimas décadas, as questões sobre “diferença” vieram à tona nos
estudos culturais e foram abordadas de diferentes maneiras por disciplinas
diversas. (HALL, 2016 p.153 )

A reflexão sobre o ensino de História como disciplina e sua dívida ética para
com os mais de 5 milhões de africanos tornados escravos no maior e mais

1
Mestranda do ProfHistória - UFF, graduada em Licenciatura e Bacharelado em História pela UFF.
Professora da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias.
1
horrendo ato coletivo e contínuo de violência perpetrado sistematicamente em nome
do desenvolvimento do capita, cujo motivo real escamoteado sob a falsa justificativa
da elevação moral dessas populações feitas cativas. Há que se destacar a
necessidade de um compromisso com esses grupos até aqui social e
historicamente marginalizados . Compromisso esse que deve ser abraçado pela
sociedade e pela educação, tendo como propósito oferecer reparação com práticas
efetivas e não apenas simbólicas, quanto discutir abertamente o tema buscando
demonstrar os mecanismos de exclusão naturalizados pelos séculos.
Entre o século XVI e a segunda metade do XIX o Brasil foi efetivamente o
maior destino de pessoas escravizadas das Américas, ultrapassando as Antilhas e
os EUA. Mesmo depois da vigência da lei de 1850 o tráfico não se extingue por
completo havendo registros seguros que ainda duas décadas depois a prática
permanecia em continuidade ilegalmente. Os números exatos dessa migração
compulsória são controversos , o auge da atividade se deu no período entre
1781-1790 com cerca de 612.636 de pessoas demandadas resultante tanto do
desenvolvimento da lavoura de cana no nordeste sobretudo Pernambuco e
atividade aurífera no Sudeste (ALENCASTRO, 2018).
Assumimos aqui uma parcela mínima nesse oceano de informações e
implicações de toda ordem, moral, econômica , social e nesse pequeno recorte
educacional.
Só nos é possível falar da raça (ou do racismo) , numa forma dúbia ,
diria até desadequada . Por ora, bastará dizer que é uma forma de
representação primária. Não sabendo de todo distinguir entre o que está
dentro e o que está fora , os invólucros e conteúdos , ela remete, antes de
mais, para simulacros de superfícies (MBEMBE, 2012 p. 25).

Tentamos aqui um exercício de análise tendo como foco o Exame Nacional


do Ensino Médio, que em 2018 completa 20 anos de aplicação e perfaz uma rica
fonte de informações sobre a estrutura do sistema didático.Como forma de acessar
a percepção construída pela sociedade no tocante a grupos sensíveis da população
brasileira , como negros e indígenas.
O sistema didático brasileiro desde os primeiros anos da década de 1990
está empenhado em uma reforma que traz a substituição da visão humanista onde
o alunado teria acesso de forma equilibrada aos diferentes campos de

2
conhecimento , Linguagens , Matemática , Ciências exatas e biológicas e Ciências
humanas por uma práxis cujo objetivo é a formação de mão de obra.
Destacando-se ainda que o Exame acaba promovendo um duplo movimento
servindo tanto como parâmetro curricular, quanto divulgador conteúdos que
atendem a demanda do Ministério e, no caso, da Lei 10639/03.
O objetivo do trabalho final será compor um recorte do material disponível e
observar parte dos mecanismos de construção do exame externo mais relevante do
sistema educacional brasileiro, o Enem. Pela escala, sete milhões de pessoas
submetem-se ao instrumento avaliativo, tendo como propósito o acesso às vagas
das universidades públicas bem como aos financiamentos nas instituições privadas.
É importante ressaltar que acesso hoje ao ensino superior passa pelos
critérios balizados pelo exame. Em uma sociedade que prioriza formação de capital
humano em detrimento de formação acadêmica, analisar e criticar o exame em si
denota relevância.
Outras modalidades de exame externo compõem o mesmo sistema sendo
ótimas oportunidades de análise semelhante, SAEB, ENcceja, Prova Brasil ,
Provinha Brasil, Olimpíada de Matemática, ENADE e Enem PPL2.
O ensino das matérias ensinadas simultaneamente no mesmo
estabelecimento constitui em cada época uma rede disciplinar que não deixa
de exercer uma influência mais ou menos forte sobre cada um de seus
constituintes. (Chervel , 1990 . p.45)

Os conteúdos de uma disciplina , no caso a História, dentro no recorte das


Ciências Humanas, refletem uma determinada expectativa da sociedade quanto ao
que deve ser apreendido pelos postulantes. O currículo que compõem o Exame é
documento vivo em constante construção, mas em ato funciona como um cânone3.
O que chamamos de seleção em ato desse cânone está plena de elementos
de ordem política , RUFER, 2010. Os recortes temporais inclusive. Faz sentido
pensar a História da África por critérios eurocêntricos ? De acordo com OLIVA, 2004

2
O Enem PPL, ou para pessoas privadas de liberdade e jovens sob medida socioeducativa que
inclua privação de liberdade, tem como finalidade principal a Avaliação do Desempenho Escolar e
Acadêmico ao fim do Ensino Médio. In ​http://portal.inep.gov.br/web/guest/enem-pll​ Acessado em
15.07.18
3
Cânone aqui deve ser interpretado como uma regra, o clássico gabarito, que o postulante não tem
como confrontar
3
a própria historiografia africana demorou até a década de 1970 para se dar conta
dessa discrepância.
Chamar a população negra de minoria é uma ficção , ainda que a
equiparação completa de direitos civis e políticos esteja longe, somos um país de
negros e pardos4, embora a percepção dessa realidade nem sempre seja admitida.
Quando muito alimentamos o anacrônico mito da democracia racial que tantos
danos já nos causou.
A forma como as populações não-brancas são representadas pelo sistema
didático , que envolve uma rede de materiais diversos como: currículo, livros
didáticos , material de apoio e exames é um ponto sensível.A naturalização da
submissão, da barbárie e a racialização dos conteúdos. A redução do papel dos
negros e indígenas nas Histórias do Brasil precisa ser analisado (COSTA,2012).
Devemos analisar a construção que inunda imaginários com figuras e textos
e que sustentam também a elaboração das questões propostas no Exame. O ENEM
como prova cidadã, segundo documento do INEP produzido no contexto das
mudanças educacionais promovidas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.
(...), o ENEM tem como objetivo avaliar o desempenho individual dos alunos,
ao término da escolaridade básica, com a intenção de aferir o
desenvolvimento das competências e habilidades fundamentais ao exercício
pleno da cidadania. Este exame oferece ao aluno credenciais para o
prosseguimento dos estudos - que já estão sendo reconhecidas por cerca de
uma centena de instituições de ensino superior -, indicações para o
aprimoramento individual e, ainda, referenciais para o ingresso no mercado
de trabalho..​ Relatório de atividades do INEP 1999. pág. 17

A investigação da representação dos negros presentes nas questões do


Enem pode revelar elementos da política educacional e seu aparato executivo e
expor como a Lei 10.639/03 está sendo aplicada pelo próprio Ministério da
Educação.

Partimos do princípio o Exame funciona , ainda que informalmente, como


forte indutor de currículo nacional , principalmente para o Ensino Médio. Os

4
Segundo dados do IBGE no censo nacional de 2010
​Brancos​ (47.51%)
Pardos​ (43.42%)
Pretos​ (7.52%)
Amarelos​ (1.1%)
Indígenas​ (0.42%)

4
conteúdos abordados no colégios e expostos em livros e apostilas de preparação
para o exame estão fortemente ancorados no documento Matrizes de referência5
cunhado ainda em 1998. Do qual destacamos aqui um fragmento:

● Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade o Cultura Material


e imaterial; . Conflitos entre europeus e indígenas na América
colonial.
● A escravidão e formas de resistência indígena e africana na
América.
● História cultural dos povos africanos.
● A luta dos negros no Brasil e o negro na formação da sociedade
brasileira.
● História dos povos indígenas e a formação sócio-cultural brasileira

É provável que silêncios historiográficos guardem tantas informações quanto


caudalosos debates e que o esquecimento de agentes e eventos históricos e
revelem orientações políticas.
Recorrendo a ALMEIDA e SÁNCHEZ , 2017, que apontam uma série de
dificuldades na implementação da Lei 10639/03. Cada profissional da educação
pode dar testemunho das dificuldades cotidianas de se incorporar novos conteúdos
como nas etapas de planejamento e execução dos planos de aula. A pouca base de
material de apoio além dos próprios livros didáticos. No caso da nova abordagem da
História contida na Lei 10639/03 trouxe inquietação quanto à adequação entre
tempo e mais conteúdos.
Quando a escola recusa modernizar conteúdos , não é por incapacidade ou
inércia , mas sim porque novos conteúdos não ajudam a sua função principal de
formação das almas (​ CHERVEL,1990).

Professores podem questionar a relevância dos novos temas sabendo que


seria necessário cortar elementos tradicionais e na maioria das vezes assuntos da
História do Ocidente . Outro entrave estava na pobreza de fontes e práticas nos idos
de 2003 para implementar essa novidade em sala (OLIVA,2004).
O olhar ou desinteresse dos alunos nos cobra uma postura ativa na
construção e execução de currículos como documentos vivos em constante
processo de ajuste e avaliação. O desafio é assumir o papel de intelectual da
educação na escala da sua própria sala de aula. O Exame com seu extenso
programa gera grande ansiedade no ambiente escolar sobretudo no Ensino Médio

5
​http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2012/matriz_referencia_enem.pdf
Acessado em 19.07.18
5
engessando e apressando o processo criativo do professor , provocando uma
verdadeira corrida contra o tempo. Agregar mais temas a esse contexto onde se
dispõe de duas aulas por semana de História do Brasil e Américas e duas para
História chamada geral sem uma reflexão acabou relegando a Lei 10639/03 ao
corrido mês de Novembro quando de acordo com o calendário oficial se celebra no
dia 20 o Dia da consciência negra.
Após a virada de 2009, com a adesão das universidades federais ao REUNI6,
cuja contrapartida era assimilar o Exame reformulado no número total de questões
e também na metodologia de sua aplicação teve sua importância amplificada.
O Enem se institui como principal instrumento de acesso às universidades
públicas passou a ser comum que sistemas de ensino da rede particular
produzissem apostilas avulsas com conteúdo de História da África e algo mais vago
como a contribuição dos indígenas para a cultura brasileira como forma de remediar
a lacuna do material didático.
Vale observar a forma como esses grupos são representados pelo aparato da
educação brasileira formal , livros didáticos , políticas públicas, exames externos no
caso aqui analisado Enem.
Alguns questionamentos dão o tom inicial da pesquisa a ser desenvolvida.

● Na redação das questões observamos um reforço de


estereótipos de negritude ou a desconstrução dos mesmos?
● Qual a tônica das imagens usadas nas questões?
● Quais assuntos e períodos são valorizados no exame?
● O exame como um todo reforça construções de identidades de
forma não tutelada?

O conceito de representação trabalhado por HALL,2016 indica um caminho


teórico inicial para seguir nessa análise. O autor busca respostas sobre os
mecanismos que sustentam a representações da diferença através da cultura
popular norte-americana discutindo mecanismos de estereotipagem se valendo de
textos e principalmente imagens veiculadas pela mídia ao longo de cerca de cem
anos , entre o final do XIX e final do XX.

6
​http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6096.htm​ Acessado em 16.07.18
6
Muito já se falou das aproximações e singularidades entre as duas maiores
sociedades pós-escravistas , Brasil e EUA, cito o escritor austríaco Stefan Zweig
que visitou ambos os países antes da Segunda Guerra. “...é comovente ver as
crianças de todos os matizes da epiderme humana - chocolate, leite e café -
voltando da escola abraçadas”. Na mesma obra denuncia as práticas
segregacionistas no Sul dos EUA no caso em relação a população afrodescendente
e no seu país natal, contra a população judaica, da qual fazia parte.
As políticas de segregação tornaram o preconceito uma chaga aberta na
sociedade norte-americana enquanto a aparente harmonia das cores percebida por
Zweig escamoteia um cotidiano de desigualdade e violência.
No jogo entre representações e percepções os estereótipos se fixam como
padrões que regem as sociedades pós-coloniais. Na sociedade brasileira o caso dos
grupos abordados estão em situação diversa entre si. Enquanto os negros e pardos
perfazerem a maioria da população nas cidades e no campo7 , povos indígenas
estão em clara ascensão demográfica, mas não ultrapassam 1% da população
geral. Segundo dados do IBGE8 , está mais vinculada ao espaço rural e prevalente
na região Norte..
O conceito de diferença é tratado por HALL como ambivalente podendo ser
interpretado de forma positiva ou negativa de acordo com o contexto ou interesses
de quem aplica o filtro segundo a situação ou objeto.
Assim , qual é o diferencial de um estereótipo? Estes se apossam
das poucas características “simples”, vívidas, memoráveis , facilmente
compreendidas e amplamente reconhecidas” sobre uma pessoa ; tudo sobre
ela é reduzida a esses traços que são depois , exagerados e simplificados
(HALL,2016 p.191).

Segundo os estereótipos, os negros podem ser resistentes e trabalhadores


ou indolentes. Os povos indígenas podem ser selvagens ou preservacionistas. O
conceito de racialização usado pelo autor fornece bom ferramental para encarar a
questão.

7
​https://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/populacao-escrava-no-brasil.html
Acessado em 15.07.18

8
​https://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/evolucao-da-populacao-cor.html
Acessado em 15.07.18

7
O processo de racialização partindo de um primeiro movimento, identifica o
outro, no caso os negros , como pertencente ao estado de natureza e colocar os
brancos como portadores da cultura e civilização. O segundo movimento está na
redução dos diversos grupos étnicos e culturais a uma denominação simplista e
genérica de africano ou índio, no singular mesmo. O que mais uma vez nega a
realidade concreta (BESSA, 2009)
Por fim, justifica a dominação indicando ganhos morais sobre os grupos
subjugados. Os grupos que passam pela estereotipização são reduzidos a poucos
atributos tomados como naturais e autoevidentes.
Como resultado desse processo nefasto uma parcela da população a qual a
individualidade é negada. Assim, práticas violentas e de extermínio agem sem culpa
ou punição.

Últimas considerações
Ao longo das edições do Exame a percepção dos negros na história está
ligada ao tema da escravização e no máximo como coadjuvantes do processo de
Abolição. Apenas em duas questões a temática História da África surge
desvinculada das práticas de dominação colonial.
Em poucos momentos os negros são apresentados como agentes na História
do Brasil , as questões que tratam de revoltas de escravos , sempre como escravos,
ou quilombos a ação da comunidade é fruto de uma reação ao tratamento recebido
dos senhores e não fruto de um movimento organizado com propósito e projeto de
futuro . Mais uma vez observamos a naturalização e racialização associados ao
movimento de resistência.
O processo de Abolição é tema sempre lembrado e está proposto desde a
primeira edição do Exame de forma curiosamente semelhante tendo como base
textos de um mesmo autor cuja produção está tradicionalmente associada ao
processo, Joaquim Nabuco.
Trazer personalidades que contribuíram nominalmente para a construção da
cultura afro-brasileira como exposto na obra de ABREU, 2017 não está em pauta
nas questões. De forma bastante geral os negros são representados ao longo do
Exame de forma a reforçar estereótipos de dominação.

8
Analisando a tabela podemos concluir que o INEP não segue um padrão
mínimo de questões que abordem o tema Cultura e história Afrobrasileira. Alguns
anos essa temática é esquecida e em outros bastante valorizada. A temática
Culturas Indígenas segue a mesma linha, embora não esteja listada nesta tabela fez
parte do levantamento inicial para o trabalho aqui apresentado.
O processo de Abolição é o assunto específico mais recorrente, contando
com seis menções ao longo dos anos. Interessante notar que existe uma grande
similaridade na forma como o assunto é abordado. Em nenhuma delas é lançado luz
sobre a ação ativa da comunidade negra no Brasil para implementar o processo de
libertação. A abordagem é tradicional no sentido de concessão da liberdade e por
vezes assume um tom moralizante como se a Abolição fosse o ponto culminante de
uma tomada de consciência da sociedade brasileira que para alcançar patamares
mais elevados de desenvolvimento econômico e social percebeu o erro e o reparou.
O período do cativeiro é o mais contemplado como tema das questões do
Exame, rivalizando em número , dezessete , com outros assuntos como Ditadura
Civil-Militar , Fascismos , Primeira e Segunda Guerra e Imperialismo. Elemento que
corrobora para estreita associação entre negritude , submissão e escravidão, como
observada em todo sistema didático brasileiro.
O Exame compartilha claramente da noção de que existe uma História que se
desenvolve no continente pela intervenção externa de europeus e seus interesses
políticos e econômicos. Não estamos aqui negando o impacto de séculos de
dominação construída por intermédio de práticas violentas mas a aceitação de que
esse elemento encerra as perspectivas da História do continente. Tal postura está
na curiosa desconexão entre as caracterizações da civilização egípcia, tão
incensada pelos ocidentais como exemplo de grandeza, sofisticação técnica e
estética, e o continente em si. Observamos em pelo menos duas questões do
Exame esse tipo de interpretação.
A iconografia selecionada na composição das questões do Exame segue a
mesma tônica da encontrada nos livros didáticos . Reforçando a representação dos
negros como pessoas subjugadas e submissas . Fora isso, como é padrão do
Exame, seguido inclusive em outros campos do conhecimento notamos o uso de
mapas e dados estatísticos para interpretação do postulante.

9
O levantamento dos conteúdos e quantidade das questões por assunto
abordado em cada ano estão apresentados na tabela (Anexo 1)
Analisando a tabela ( Anexo 1) podemos concluir que o INEP não segue um
padrão mínimo de questões que abordem o tema Cultura e história Afrobrasileira.
Alguns anos essa temática é esquecida e em outros bastante valorizada. A temática
Culturas Indígenas segue a mesma linha, embora não esteja listada nesta tabela fez
parte do levantamento inicial para o trabalho aqui apresentado.
Da forma como as questões em si são selecionadas pelo INEP para compor
o Exame não é divulgada, sabe-se que existe um banco de dados com todos os
assuntos possíveis de serem abordados nos dois dias de aplicação e que são
classificados entre fáceis , médias , difíceis e muito difíceis. Existindo uma
distribuição das questões por padrão de dificuldade o que não garante que se
alcancem objetivos declarados como o Exame como prova cidadã, dificultando a
uma postura reflexiva quanto aos problemas sociais do país.
O Exame apresenta discussões interessantes quanto a formação cultural do
país , mas o faz de forma pouco consistente alternando visões que trazem temas
de vanguarda , que refletem uma demanda da sociedade e dos movimentos negros
no Brasil com outras ancoradas em interpretações eurocêntricas do processo
histórico criticada pelos próprios documentos do Ministério as chamadas Matrizes
de referência.
Essa postura do INEP dificulta a preparação dos postulantes que precisam
estar a par de uma extensa gama de conteúdos que podem ser abordados de
formas completamente distintas.
O Exame contribui de forma parcial para composição de uma identidade
negra não tutelada. Embora traga a temática exigida pela Lei 10639/03 não o faz de
forma sistemática e por vezes reproduz em suas questões abordagens tradicionais
que não valorizam a luta da população negra brasileira por igualdade social,
liberdade plena e repúdio a violência em todas as suas formas .

10
ANEXO 1

Ano Assunto Número da questão Quantidade


de questões

1998 Relações entre Abolição, 58 01


negritude e cidadania

1999 _____________ ______________ 00

2000 Texto em questão de 57 02


língua portuguesa sobre
o papel do negro na
sociedade
contemporânea

2001 ________________ ___________________ 00

2002 Comparação entre a 37


formação das fronteiras
na América e África

2003 ____________________ __________________ ____

2004 Imagem de Portinari 23


evocando a idealização
da identidade nacional

Movimento hip-hop e 24
negritude
contemporânea

11
Construção do dia da 54
consciência negra

2005 Fronteiras d’África em 5 01


contraposição das etnias
africanas

2006 ____________________ __________________ _________

2007 Identidades negras no 16 02


Brasil

Processo de Abolição 18

2008 Processo de Abolição 39 02

Desconexão entre Egito 41


e Continente africano

2009 Desconexão entre Egito 46 01


e Continente africano

2010 1a Construção da 23 01
aplicação identidade negra

2010 2a Atividade comercial dos 19 04


aplicação negros de ganho

Relação entre sambas 21


enredo e Abolição

Situação dos libertos no 23


século XIX

Desenvolvimento da 31
Revolta da chibata

12
2011 Oposição na sociedade 29 02
entre libertos e
escravizados

Questão que aborda a 32


própria lei 10639

2012 Encontro cultural entre 5 02


africanos e americanos

Consequências do 20
processo de
descolonização do
Continente africano

2013 O estereótipo da pessoa 18 02


negra na produção
cinematográfica

O processo de Abolição 44
pelo texto de Joaquim
Nabuco

2014 Atuação da Frente 21 02


Negra Brasileira

Práticas imperialistas no 23
Continente africano

2015 Uso de um poema do 21 03


autor angolano
Agostinho Neto

13
Relação entre 10
movimento bandeirante ,
destruição do quilombo
dos Palmares e
extermínio de
populações indígenas

Processo de Abolição 23

2016 Vida cotidiana na África 8 01


Ocidental

2017 Desenvolvimento 46 03
econômico e político do
Reino do Mali

Exposição da condição 51
de escravização a partir
de foto. (questão do
casal descalço)

Memórias de uma 76
pessoa reduzida
escravidão (Referência
ao filme 12 anos de
escravidão)

14
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1870-1930. Campinas : Editora Unicamp, 2017.
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versão, preparada em 2009, com algumas mudanças e acréscimos, é o resultado
das oficinas realizadas com professores da rede pública de ensino para a
implementação da Lei 11.645 de março de 2008, uma delas em Japeri, em parceria
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16

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