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Abstract
The study of controversial themes approach in textbooks is a trend which is very well
regarded internationally. One of the reasons to study such a theme lies on its potential to
support the socio-political development of the students. The controversial themes approached
in this study involved relevant issues about the science and its interest for society as well as
ethical and moral discussions. The aim of the present article was to see how the approach to
controversial themes shown in Science and Biology school books, can contribute to the
promotion of active citizenship from basic education. It is inferred that the discussion of
controversial themes offers a wide range of possibilities to scientific literacy and the
formation of an active citizenship in schools of basic education.
1. INTRODUÇÃO
Os documentos oficiais brasileiros, como a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes
Curriculares Nacionais, destacam que a formação escolar deve propiciar o desenvolvimento
de capacidades que favoreçam a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e
culturais. Para além da aprendizagem de conteúdos científicos, há uma explícita preocupação
no sentido de que todos os estudantes,
(...) desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para construir
instrumentos de compreensão da realidade e de participação em relações sociais,
políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições estas
fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade
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1
Segundo Reis (2013, p. 01), as questões sociocientíficas e socioambientais controversas consistem em questões
suscitadas por interações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente que dividem a sociedade e
relativamente às quais diferentes grupos de cidadãos apresentam explicações e possíveis soluções que são
incompatíveis, baseadas em crenças, compreensões e valores incompatíveis (Oulton, Dillon & Grace, 2004;
Levinson, 2006). Estas questões não conduzem a conclusões simples e envolvem uma dimensão moral e ética
(Sadler & Zeidler, 2004).
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disso, surgiram lacunas dentro dos conteúdos e conceitos errôneos contribuindo para uma
educação fragmentada. Neste contexto, tornou-se necessário uma maior atuação do Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD) juntamente com o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) tendo como resultado a publicação dos Guias dos Livros Didáticos (GLD) 2 com o
objetivo de auxiliar os professores na escolha dos novos livros, e a retirada de circulação dos
livros não recomendados (BRASIL, 1998). Contudo, ainda hoje, algumas escolas têm em seu
acervo livros desse período (SANDRIN et. al., 2005).
Mesmo que, atualmente, a seleção dos livros didáticos seja mais criteriosa e acompanhada
de uma disponibilidade maior de recursos para uso dos professores, como o Guia do Livro
Didático - PNLD 2012 – 2014, que oferece conteúdos em multimídia para complementar o
conteúdo do livro impresso (BRASIL, 2013), é importante buscar a superação da postura
cientificista de ensino tradicional e descontextualizado (FLECK, 2010). Ou seja, é preciso
desenvolver uma educação que ultrapassa os limites dos métodos tradicionais (conhecimento
científico) e busca a construção do conhecimento pelos próprios alunos (conhecimento
exotérico). Em acordo com Demo (2011), o aluno precisa saber intervir na realidade de modo
alternativo, com base na capacidade questionadora que ele possui, e que nesses casos, pode
ser facilitado com a discussão dos temas controversos presentes nos livros didáticos.
No presente artigo, apresenta-se uma investigação realizada com o objetivo de verificar
como as abordagens de temas controversos apresentadas em livros didáticos de Ciências e de
Biologia, utilizados durante os estágios supervisionados dos licenciandos de um curso de
Ciências Biológicas, podem contribuir para a promoção da cidadania ativa desde a escola
básica.
2. PERCUSO METODOLOGICO
A investigação se caracteriza como qualitativa do tipo análise documental e teve como
amostra os livros didáticos de Ciências e de Biologia utilizados nos últimos cinco anos (2008-
2012) pelos licenciandos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões – URI – campus de Santo Ângelo, ao realizar seus estágios
supervisionados. Foi realizada em duas etapas: uma primeira, para recolha de dados e uma
segunda, de análise de conteúdo buscando verificar o potencial dos temas sugeridos para a
promoção da cidadania ativa.
A primeira foi de recolhimento dos dados, iniciou-se após ter obtido o acesso ao acervo
digital (CD) dos relatórios de estágios dos últimos cinco anos, disponíveis no Laboratório de
2
Os manuais foram desenvolvidos a fim de nortear a escolha dos professores, estes possuem resenhas críticas
das obras que estão disponíveis. A primeira versão destes guias foi lançada em 1998.
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a) A escolha dos livros didáticos deu-se pela consulta nos relatórios de estágios
supervisionados em Ciências (Ensino Fundamental) e em Biologia (Ensino Médio)
realizados pelos acadêmicos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da URI –
campus de Santo Ângelo, nos últimos cinco anos (2008-2012);
b) Nesses relatórios foram identificados os livros didáticos de Ciências e de Biologia que
foram utilizados/referenciados pela escola ou pelo acadêmico durante o estágio;
c) Após a identificação, os livros foram referenciados em duas tabelas, uma para o
Ensino Fundamental e a outra para o Ensino Médio;
d) Posterior à ação ‘c’, foi feita a busca pelos exemplares dos livros no acervo da
biblioteca da universidade, e nas escolas onde foram realizados os estágios
supervisionados.
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Sustentabilidade
História da Relação ser
e temas Problemas Estilo de Ciência e
Terra e Humano e
emergentes na Ambientais Vida Tecnologia
Evolução Meio
ciência
Poluição; Perda
Utilização de
Seleção Impacto das de Consumo de Clonagem;
animais em
natural; barragens;
SUBÁREAS
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que vive. Nessas categorias podem-se fazer reflexões do local (dentro da sua casa) até o
global (de onde vem o que consumimos, por exemplo). Parte-se do pressuposto que as
atitudes ambientais consistem do modo que vemos o mundo (BRASIL. 1997), sendo
necessário que essa visão de mundo seja a mais coerente possível.
Tanto para essa categoria, como para a anterior, é importante que se busque o diálogo
entre as ciências e, no contexto escolar, entre as diversas disciplinas. Tal diálogo têm
resultados na concepção menos fragmentada dos cidadãos/estudantes a respeito do mundo.
Isso se torna fundamental, pois em tempos de transição pragmática, e que as verdades
absolutas (tanto no campo da ciência como no social) tem sido questionadas; a concepção
coerente sobre essa realidade desponta como um saber promovedor de conhecimentos e
práticas capazes de mudar a realidade (RODRIGUES, 2014).
Considerando essa realidade, que as verdades absolutas são questionadas, volta-se a
afirmação já suscitada por Fleck (2010) e, novamente, salientada por Morris (2014) de que a
classe dominante (detentora do conhecimento) tem criado barreiras para as classes menos
informadas. Essas barreiras estão em vários contextos, social, cultural, político, ético e muito
influenciado pela mídia.
Nesse sentido, é fundamental dentro do ambiente escolar preparar/desenvolver as
capacidades críticas dos alunos para esta realidade. O desenvolvimento dessas capacidades é
forte aliado na progressão das potencialidades politizadoras dos alunos, para tanto é
necessário que se ultrapasse as barreiras impostas pelo atual desenho social, que podem ser
facilitadas quando discutidas criticamente.
Em 2011, Demo, já ponderava sobre uma educação que apenas instruía e treinava os
alunos, salientado que a escola ou aula que apenas repassa conhecimento, que somente se
define como socializadora do conhecimento, na prática, atrapalha o aluno, porque o deixa
como objeto de ensino e instrução.
Considerando os problemas suscitados pelos autores Fleck (2010); Demo (2011);
Guerreiro (2012); Faria et al, (2014) Morris (2014); Rodrigues, (2014), o desenvolvimento
das questões controversas nos livros didáticos, que são, no Brasil, de uso da grande maioria
dos estudantes, torna-se um grande aliado para a emancipação política e social dos estudantes.
Afirma-se isso, pois existe a constatação de que a maioria dos professores orienta-se pelo
conteúdo apresentado nos livros didáticos ao organizar suas aulas.
A quarta categoria de temas controversos presentes nos livros didáticos analisados
relaciona-se a “Ciência e Tecnologia”. Para Hodson (1998), o desenvolvimento da
alfabetização científica envolve três dimensões: (i) aprender Ciência (aquisição e
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao propor a abordagem de temas controversos em ambiente escolar, Reis (2013) salienta
que estas questões não conduzem a simples conclusões e que envolvem questões morais e
éticas. Reafirmando esse ponto (moral e ético) outros autores como Galvão e Reis (2008);
Hilário (2009); Silva e Krasilchik (2013) corroboram a afirmação de Reis. Essa, muito
provavelmente, é a maior dificuldade encontrada pelos professores na condução de discussões
desse nível. Na maioria das vezes, os professores se omitem em abordá-las, não porque não as
considerem importantes, mas porque não se sentem capacitados para tal empreendimento
educativo. Isso, segundo Levinson (2001), se deve devido à complexidade das questões e, em
vista disso, estimula a aproximação dos professores de Ciências com os das humanidades,
mais acostumados a debates dessa natureza.
Para Reis (2006), o conhecimento e o estudo dos múltiplos fatores que contribuem para
que os professores não realizem a abordagem de questões sociocientíficas controversas e
passem à ação sociopolítica em aulas são essenciais para que os processos de intervenção,
com a intenção de apoiar os professores, sejam bem sucedidos.
A colaboração entre as diferentes áreas do conhecimento poderá contribuir para a
alfabetização científica cidadã se levar em conta que:
Uma educação tecnocientífica que permita aos indivíduos conhecer os processos e lidar
com os artefatos do mundo que os rodeia não formará realmente cidadãos capazes de
participar democraticamente se não integrar, além dos conhecimentos para analisar a
realidade e as habilidades para nela agir, estratégias para o desenvolvimento de
habilidades e atitudes participativas e abertas ao diálogo, à negociação e à tomada de
decisões em relação aos problemas associados ao desenvolvimento científico e
tecnológico (MARTÍN; OSÓRIO, 2003, p. 175).
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5. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. A abordagem de Temas Controversos na Educação Científica: importância
atribuída pelos professores do 2º e 3º ciclos e Secundário. In: Atas do XIV Encontro
Nacional de Educação em Ciências. Braga (Portugal), 2011.
FARIA, C.; FREIRE, S.; GALVÃO, C.; REIS, P.; FIGUEREDO, O. “Como Trabalham os
Cientistas?” Potencialidades de uma Atividade de Escrita para a Discussão Acerca da
Natureza da Ciência nas Aulas de Ciências. Revista Ciência e Educação. Bauru, v. 20, n. 1,
2014.
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HODSON, D. Seeking directions for change: The personalisation and politicisation of science
education. Curriculum Studies, v. 2, n. 2, p. 71-98, 1994.
__________. Time for action: science education for an alternative future. International
Journal of Science Education, 25 (6), 645-670, 2003.
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