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DA BALA
A TAURUS,
OS BOLSONAROS
E OS MILITARES
por Thiago Herdy
e Bruno Abbud
EPOCA
DIVINO
MI(NI)STÉRIO
OS MAIAS
O PAI DO PRESIDENTE
MAIS OLAVO
A DERRADEIRA
01.04.19
03/2019
02/2019
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Condição válida para Tiggo 7 T ano e modelo 19/20, valor à vista de R$ 106.990,00 (cores sólidas), taxa 0,85% com entrada mínima de 50% (R$ 53.495,00) e saldo em 24 parcelas mensais de R$ 2.663,65, com simulação de taxa de 0,85% a.m. e 10,69% a.a. Tarifa de Cadastro de R$
financiado com entrada de 50% (R$ 53.495,00) e saldo em 24 parcelas de R$ 2.808,00 taxa de 1,42% a.m. e 18,34% a.a., mais TC/Tarifas de R$ 2.300,00 (Financeira Alfa S/A) no valor total financiado de R$ 120.887,00. 2. Recompra garantida. A D21 Motors garante a recompra do Tiggo
31/03/2019, após 12 meses de aquisição, a contar data da emissão da nota fiscal, admitindo-se a tolerância de 30 dias antes e 30 dias após esse período. Para que o veículo seja elegível a essa campanha, deve seguir as seguintes condições: 1ª- Garantia de fábrica ativa. 2ª- Registro de
com aprovação do veículo sem restrição, a ser realizado por empresa de vistoria indicada pelo concessionário D21 Motors. 4ª- Chave reserva em perfeitas condições de uso, manual do proprietário, certificado de garantia com as revisões realizadas dentro do prazo determinado pela D21
avaliação estará sujeita ao desconto do serviço conforme tabela de preço das revendas D21 Motors. 6ª- Serão aceitos na troca, no valor da promoção, os que estiverem com o seu documento único de transferência – DUT – no nome do comprador do veículo 0km ou em nome de parentes
de transferência – DUT – no nome do comprador do veículo 0km ou em nome de parentes de 1° grau (pais, filhos e cônjuges), desde que comprovado o parentesco por meio de documentação oficial. Consulte a lista de veículos elegíveis para a Campanha Tabela Fipe para o seu veículo
ano sem registro de sinistro, queixa de roubo e furto, e/ou avarias de grande monta. 3ª - Enquadramento do veículo nas condições acima por laudo de vistoria cautelar pericial, com aprovação do veículo sem restrição, em empresa de vistoria indicado pelo concessionário D21 Motors. 4ª
de reparo e troca de peças. Caso haja a necessidade de pequenos reparos como pequenos riscos, amassados, trinca no para-brisa, substituição de pneus etc., a avaliação estará sujeita ao desconto do serviço conforme tabela de preço das revendas D21 Motors. Os carros elegíveis nessa
Motors. As promoções constantes deste anúncio não são cumulativas entre si nem com nenhuma outra promoção que venha a ser veiculada no mesmo período. Garantia de 5 anos. Condições válidas até 31/3/2019 ou enquanto durarem os estoques.
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2.300,00, (incluso na parcela) valor total financiado de R$ 117.422,67 (a prazo 24 meses). Consulte condições para os demais veículos e as versões nas concessionárias D21 Motors. 1.5. Primeira parcela em agosto de 2019: condição válida para veículo valor de R$ 106.990,00 (à vista) ou
7 catálogos C501 e C551 ano e modelo 19/20 vendido exclusivamente por uma revenda D21 Motors, pelo valor correspondente a 90% do valor da Tabela Fipe vigente no momento da recompra. A recompra somente será válida para veículos vendidos entre o período de 01/01/2019 a
revisões realizadas dentro do prazo estipulado pela D21 Motors e com quilometragem limitada a 15.000 km por ano, sem registro de sinistro, queixa de roubo e furto e/ou avarias de grande monta. 3ª- Enquadramento do veículo nas condições acima por laudo de vistoria cautelar pericial,
Motors nos termos do manual do proprietário. 5ª- O veículo deve estar em perfeitas condições de uso, sem a necessidade de reparo e troca de peças. Caso haja a necessidade de pequenos reparos como pequenos riscos, amassados, trinca no para-brisa, substituição de pneus etc., a
de 1º grau (pais, filhos e cônjuges), desde que comprovado o parentesco por meio de documentação oficial. 3. Campanha Tabela Fipe válida para modelos Tiggo 7 ano e modelo 19/20. Serão aceitos na troca no valor da Tabela Fipe os veículos que estiverem com o seu documento único
usado nas Concessionárias D21motors, os quais devem obrigatoriamente também reunir as seguintes condições cumulativas: 1ª - Garantia de fábrica ativa. 2ª - Registro de revisões realizadas dentro do prazo estipulado pela montadora e com quilometragem limitada a 15.000 km por
-Chave reserva em perfeitas condições de uso, manual do proprietário, certificado de garantia com as revisões realizadas dentro do prazo determinado pela montadora nos termos do manual do proprietário. 5ª - O veículo deve estar em perfeitas condições de uso, sem a necessidade
campanha devem ter ar-condicionado, vidros e travas elétricas e direção hidráulica/elétrica. Campanha válida somente na troca dos modelos em estoque da concessionária. Consulte outras versões, outras cores e outros itens nas concessionárias autorizadas da marca Caoa Chery-D21
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dos editores
CANOS FUMEGANTES
U m embate silencioso está sendo travado
dentro do governo Jair Bolsonaro. A regu-
lação do bilionário, violento e homicida merca-
O Brasil concentra 14% dos homicídios de
todo o globo, apesar de sua população equiva-
ler a 3% da mundial. As taxas de homicídio
do das armas divide apoiadores do presidente brasileiras são semelhantes às de Ruanda,
mais pró-armamento da história democrática Congo, República Dominicana e África do
recente. A abertura do mercado para fabrican- Sul. Quase 60 mil brasileiros foram assassina-
tes de armas estrangeiros estimula confrontos dos no ano passado. Os índices variam de esta-
barulhentos de grupos lobistas de um lado e de do a estado, por razões diversas. São Paulo,
outro. Os opositores — parlamentares da ban- com a maior população, tem taxas de homicí-
cada da bala e setores militares de um lado; fa- dio próximas a dez mortes em cada grupo de
miliares do presidente e representantes de em- 100 mil habitantes. É um índice no teto do li-
presas estrangeiras de outro — frequentam o mite admitido pela Organização Mundial da
entorno presidencial. Cada um a seu modo ten- Saúde. O Rio de Janeiro — depois do fracasso
ta atrair Bolsonaro para seu ponto de vista. de experiências de policiamento comunitário
Amante de uma pistola alemã, o presiden- — assiste ao número recorde de mortos em
te repetiu mais de uma vez a eleitores que pre- confronto com a polícia. Algumas capitais no
tendia abrir o mercado para fabricantes de ar- Norte-Nordeste, como Belém, Salvador, For-
mas estrangeiros se instalarem no Brasil, além taleza e São Luís, e as cidades-satélites no en-
de facilitar a importação desse tipo de arma- torno de Brasília têm taxas de homicídio aci-
mento. Prometia quebrar o que chamava de ma de 50 por 100 mil habitantes, mesmo nível
“monopólio” da Taurus, a maior produtora da de alguns dos países mais violentos do mundo,
América Latina de armas e cartuchos. como Jamaica, Venezuela e Honduras.
É difícil achar urgência ou relevância nesse Além da impossibilidade de paz social, a
debate — exceto para aqueles que vão ganhar epidemia de violência tem custos econômicos
muito dinheiro por serviços prestados. Facili- substanciais. Estudos apontam que, em 20
tar a fabricação, produção, importação, com- anos, o Brasil perdeu mão de obra que poderia
pra e venda de armas de fogo não deveria estar produzir riquezas avaliadas em mais de R$
na agenda de um dos países em que mais se 450 bilhões. Com esse dinheiro seria possível
mata e mais se morre à bala em todo o mundo. aumentar em dez vezes o número de famílias
Pesquisas já demonstraram que as armas atendidas por meio de programas assistenciais
usadas nos crimes comuns das grandes ci- — e assim atingir metade dos brasileiros.
dades brasileiras são produtos nacionais Os custos econômicos da criminalidade
que migraram do mercado legal para o ile- cresceram ao dobro da velocidade do PIB na
gal. O percentual de armas contrabandea- última década, com o desperdício de R$ 300
das — de pequeno ou grande porte — é baixo, bilhões por ano. Somando uma coisa com
apesar da grande visibilidade que fuzis automáti- outra, homicídios e criminalidade conso-
cos têm nas mãos de grupos criminosos do Rio mem quase 10% do PIB brasileiro, recurso
de Janeiro, para citar um exemplo. O grosso dos que poderia ser investido em mais serviços
crimes é praticado por revólveres que custam de educação e saúde, para ficar no básico. O
cerca de R$ 4 mil no mercado legal, mas que no ganho econômico da ampliação do mercado
submundo, depois de desviados, furtados ou de armas dificilmente poderá compensar
roubados, são revendidos por meros R$ 500. esses números.
- NOSSO FUTURO É AGORA -
Todos juntos
#PorUmMundo
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O velódromo olímpico vai se transformar em NAVE – uma experiência imersiva e sensorial surpreendente.
Vo c ê v a i m e r g u l h a r n u m m u n d o d e s e n s a ç õ e s a t ra v é s d e 5 m o v i m e n t o s : e q u i l í b r i o , a c e l e ra ç ã o ,
s u s p e n s ã o , reflexão e sincronização. Porque é agora que a gente vive, canta, vibra, conecta, cria, transforma.
Nosso futuro é agora.
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do leitor
escreva para
epoca@edglobo.com.br
ÉPOCA 1081
Cada um interpreta a seu modo ou de morte de uma pessoa que, se viva
acordo com seu interesse. A Igreja Ca- ainda estivesse, nunca teria tido esse
tólica também, carregando na culpa destaque. A vontade de usar mortes
para deixar a pessoa com a sensação de como bandeiras políticas para se
que deve sempre algo. Outros explo- manter no poder ou chegar a ele é
ram aspectos da vida pessoal, como re- deplorável. Se não for canonizada,
lacionamentos com pessoas do mesmo ao menos vão tentar.
sexo ou fora do casamento. Como se Névio Del Giudice, São Paulo, SP
Deus fosse uma senhora provinciana
do interior. Enfim, a pessoa deve, sim, Quem financia essas propagandas e as
ler a Bíblia, ouvir padre, pastor, men- viagens da viúva (Mônica Benício) ao
tor. Mas, antes de seguir à risca, deve exterior? Ela diz ser pobre e viaja mais
orar sozinha, pedir ajuda ao Espírito vezes do que a gente vai à padaria?
Santo e dar sua interpretação. Leila Rodrigues, via Facebook
SOBRE DEUSES E HOMENS Roberto Moreira da Silva,
A história de Pastor Isidório, São Paulo, SP A OPERAÇÃO ABAFA-TOGA
o deputado mais votado da Bahia, Guilherme Amado expõe
que se diz ex-gay ASCENSÃO E QUEDA articulações para abafar a CPI
Pastor Isidório é mais um hipnoti- DE UM GOLPISTA da Lava Toga
zador de massas que indica a pobre- Como a promessa de dinheiro fácil O momento vivido pelo senador Da-
za cultural de um país. Conhecereis e rápido feita pela JJ Invest vid Alcolumbre não é difícil de en-
a verdade e ela vos libertará da ne- engambelou desavisados tender quando se quer consertar o
cessidade de ser submetido a men- É difícil acreditar que ainda se encon- país. Ele está com a faca e o queijo
tes similares. tre gente que invista seu dinheiro nas mãos! Os políticos são eleitos pa-
Márcio dos Santos Barbosa, com uma empresa que oferece retor- ra defender os direitos do povo e do
Rio de Janeiro, RJ no rápido e muito acima do mercado, país, não os próprios interesses. Mas,
mas que não resiste a uma básica che- depois de eleitos, fazem tudo pelo
Incrível a reportagem de Ana Clara cagem, como a feita por um professor próprio bolso. Não me conformo
Costa em torno da figura de Manoel de finanças. Será que nunca ouviram que políticos não se interessem em
Isidório de Santana Junior, que se falar em pirâmide financeira, em que apoiar medidas contra a corrupção e
transformou no Pastor Sargento Isidó- novas vítimas financiam as antigas os crimes. Querem dizimar a popu-
rio, o deputado federal mais votado na até seu desmoronamento? lação por meio dos crimes e tomar o
Bahia nas últimas eleições. A vida pre- Abel Pires Rodrigues, Rio de Janeiro, RJ Brasil por meio da corrupção?
gressa descrita jamais apontaria para Elida Gallo, via Twitter
sua grande realização, no campo COMO LUTO
social, ao criar um centro de VIROU VERBO COMÉRCIO NÃO É IDEOLOGIA
recuperação de viciados — a Fundação A memória de Marielle Monica de Bolle opina que o comércio
Doutor Jesus, com sede e duas filiais em debate em Princeton perdeu para a ideologia após
em Candeias, na Bahia — que abriga Todo mundo tirando uma casquinha encontro entre Bolsonaro e Trump
mais de 1.350 dependentes químicos, e aproveitando politicamente a no- Tendo como base nossas relações co-
dos quais 120 são mulheres. Tomara toriedade que só nestes tempos de merciais, normalmente o que entrega-
que no Congresso, em Brasília, ele não mídias sociais se consegue por qual- mos aos pobres é valorizado. O que para
abandone esse fantástico trabalho. quer coisa que se faça, importante ou nós pode ser muito, para os ricos não é
Dirceu Luiz Natal, Rio de Janeiro, RJ fútil. Nesse caso, infelizmente, foi a nada. Sem fazer defesa de Lula, a compra
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Daniela Pinheiro
DIRETORA DE REDAÇÃO
epocadir@edglobo.com.br
EDITOR-CHEFE Plínio Fraga
EDITORES EXECUTIVOS – INTEGRADA Fernanda Delmas (coordenadora),
de apoio internacional por meio de Alessandro Alvim, André Miranda, Flávia Barbosa, Letícia Sorg e Pedro Dias Leite
EDITORES Ana Clara Costa, Eduardo Salgado, Marcelo Giannini Coppola
empréstimos e favores a outros paí- COLUNISTAS Conrado Hübner Mendes, Guilherme Amado, Helio Gurovitz e Monica de Bolle
ses pode até ter algum, ou muito, fa- COLABORADOR Ariel Palacios
ÉPOCA ON-LINE Gustavo Machado da Costa (editor), Bárbara Libório e Daniel Salgado
vorecimento para ele, mas poderia ESTAGIÁRIOS Matheus Rocha Silva, Rodrigo Castro
cio ampliado na casa dos bilhões. Tu- ASSISTENTE EXECUTIVA Jaqueline Damasceno
Uma base (Alcântara) que só dava pre- MERCADO ANUNCIANTE | SEGMENTOS — MONTADORAS, MOBILIDADE, SERVIÇOS PÚBLICOS E SOCIAIS, GOVERNO SP,
AGRONEGÓCIOS, COMPANHIA AÉREA, INDÚSTRIA | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Renato Augusto Cassis
juízo para manutenção e foi alugada Siniscalco | EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Cristiane Soares Nogueira, Diego Fabiano, João Carlos
Meyer, Priscila Ferreira da Silva | SEGMENTOS — MERCADO FINANCEIRO, SEGUROS,
por milhões de dólares anuais — e EDUCAÇÃO, IMOBILIÁRIO, CONSULTORIAS | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Emiliano Morad Hansenn |
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA José Carlos Brandão, Milton Luiz Abrantes,
Selma Teixeira da Costa | SEGMENTOS — VAREJO, TELECOM, ELETROELETRÔNICOS, TI, TURISMO, ESPORTE,
ainda existe um acordo de troca de LAZER, CULTURA, ENTRETENIMENTO, MÍDIA | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Ciro Horta Hashimoto |
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Christian Lopes Hamburg, Roberto Loz Junior |
tecnologias para que, em um futuro SEGMENTOS — MODA, DECORAÇÃO, SAÚDE, BELEZA, HIGIENE PESSOAL E DOMÉSTICA E TURISMO |
DIRETORA DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Sandra Regina de Melo Pepe |
próximo, o Brasil possa lançar fogue- EXECUTIVAS MULTIPLATAFORMA Eliana Lima Fagundes, Fátima Regina Ottaviani, Caio Caprioli,
Jessica de Carvalho Dias, Lilian Marche Noffs |
tes nacionais — é um péssimo acordo? ESCRITÓRIOS REGIONAIS | GERENTE MULTIPLATAFORMA Larissa Ortiz |
UNIDADES DE NEGÓCIO — RIO DE JANEIRO — EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Daniela Nunes Lopes Chahim |
OPEC ON-LINE Danilo Panzarini, Marcos Roberto da Costa, Samantha Duarte | OPEC OFF-LINE Carlos
Beto Silva, Recife, PE Roberto de Sá, Douglas Costa | EGCN — CONSULTORA DE MARCAS Olivia Cipolla Bolonha |
DESENVOLVIMENTO COMERCIAL E DIGITAL | DIRETOR Tiago Joaquim Afonso |
G.LAB Edward Pimenta | PROJETOS ESPECIAIS/EVENTOS Carlos Raices; ESTRATÉGIA DIGITAL | GERENTE Santiago
Carrilho | DESENVOLVEDORES Fabio Marciano, Fernando Raatz, Marden Pasinato, Raphael Rappoli |
O MBLO NÃO SUPORTA MARIELLE ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL Silvia Balieiro |
AUDIÊNCIA — DIRETOR DE PLANEJAMENTO DE VENDAS Ricardo Tarrazo Perez
Podia ser Marielle ou outro qualquer. Av. Marcos Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700 06543-001 Tamboré, São Paulo, SP
Encarem isso como atentado à democra- O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verificação,
adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa — no 2012, da Editora Globo
ASSINATURAS
ser incluídas na edição da
mesma semana as cartas
que chegarem à Redação até
na pág. 33 da edição 1081. Trata-se de tra- 4003-9393
www.sacglobo.com.br
as 12 horas da quarta-feira.
Se destacam ais
g a m v a l or Produzem m
Agrae marca
` EMPRESAS COM MAIOR ÍNDICE
DE PROSPERIDADE E ENGAJAMENTO
Transformação na
indústria e na vida
G.Lab conquista engajamento do leitor e contribui
para reposicionar a marca Firjan
18. BANGUE-BANGUE
AS ARMAS NO BRASIL
Lobistas da bala em ação
para conquistar mercado
bilionário
28.
PARA...
22 PERGUNTAS
RENAN CALHEIROS
Ou o governo Bolsonaro
se reinventa ou cai,
diz senador do MDB
40. ASTROLOGIA
POLÍTICA
O CONDESTÁVEL
O assessor do presidente
que é os olhos e ouvidos
de Olavo de Carvalho
no Planalto
FÁBRICA DE ARMAS EM SÃO LEOPOLDO, RIO GRANDE DO SUL
48. CONCORDAMOS
sumário 01.04.19
EM DISCORDAR
DELTAN DALLAGNOL ×
LUCAS FURTADO
Procuradores divergem
sobre fundo proposto
pela turma da Lava Jato
de Curitiba
82. CONRADO
HÜBNER MENDES
Cem dias de fúria
60.
EM BUSCA DO
VIVI PARA CONTAR
ASSASSINO DA MÃE
Um diretor que filma
a própria dor familiar
PERSONAGEM DA SEMANA
por Rodrigo Castro
O PROFESSOR-COME
PERSONAGEM DA SEMANA 15
MENTARISTA ALCKMIN
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EDIÇÃO 2019
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18 BANGUE-BANGUE
O FUTURO
DAS ARMAS
NO BRASIL
BOLSONARO E OS FILHOS
SE BATEM COM OS MILITARES
PELO MERCADO DA BALA
por Thiago Herdy e Bruno Abbud
BANGUE-BANGUE 19
O
deputado federal Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP) nunca
escondeu o que pensa sobre
A família Bolsonaro tem uma longa histó-
ria com armas importadas. A arma rou-
bada de Jair Bolsonaro em 1995, durante um
a Taurus, a maior fábrica de assalto na Zona Norte do Rio de Janeiro, era
armas de fogo da América uma Glock. Atirador desportivo, o filho do
Latina, com sede em São meio do presidente, o vereador Carlos Bol-
Leopoldo, no Rio de Grande do Sul. Dono sonaro, também gosta da marca. Em 15 de
de uma pistola austríaca Glock 19, calibre janeiro, no dia em que o presidente assinou
restrito de 9 milímetros, estilizada em dou- o decreto que afrouxa as regras para a posse
rado e com ferrolho camuflado, Eduardo de armas, as ações da Taurus despencaram.
obteve 5.500 curtidas no Facebook, em agos- Não só por causa da frustração com as alte-
to de 2016, ao postar uma foto ao lado do rações quase insignificantes na legislação,
senador Major Olímpio, então colega de Câ- mas porque, à tarde, o ministro-chefe da
mara, pedindo a abertura de CPI para inves- Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia declarado
tigar defeitos em armas produzidas pela que o governo estudava abrir o mercado pa-
Taurus. Mais tarde, apareceu ao lado de ra armas vindas do exterior. O decreto de
Franco Giaffone, presidente da Glock no Bolsonaro, por sua vez, não satisfez o eleito-
Brasil, em uma feira de armas, elogiando os rado que atira nem diminuiu as burocracias
produtos da marca austríaca. Também gra- para ter uma arma. Aumentou de cinco para
vou um vídeo agressivo contra o “armamen- dez anos o prazo de validade do registro de
to defeituoso” da empresa brasileira. “Reitero armas, zerou o tempo de validade de regis-
meu desejo de abrir o mercado nacional com tros atuais e, se antes era um delegado que O ministro da Casa Civil,
Onyx Lorenzoni (abaixo),
olhos à livre concorrência e melhora do pro- decidia pela efetiva necessidade de se ter um recebeu doações
duto ao consumidor”, escreveu no Facebook. armamento, agora basta viver no Brasil e, da Taurus em campanha
A brasileira Taurus figura entre as maiores portanto, estar sujeito à violência. Mudanças por um lugar na Câmara
dos Deputados, mas tem
fabricantes de armas do mundo. É praticamen- tímidas, avaliou o mercado. O impacto do mantido uma posição
te a única que produz armas para civis e mili- decreto no faturamento da Taurus foi tão aparentemente neutra
tares no país. Em 14 linhas de produção, fabri- forte quanto uma leve brisa. Dois meses de- na disputa sobre
a abertura do mercado
ca cerca de 4 mil armas por dia — 120 mil por pois do primeiro decreto de Bolsonaro, no às armas importadas.
mês, 1,4 milhão por ano, em média. Dessas, mesmo dia em que os oito adolescentes de O deputado federal
88% são exportadas. O restante, aproximada- Suzano foram mortos à bala por assassinos Eduardo Bolsonaro (ao
lado) é um dos maiores
mente 170 mil, é comercializado em território portando uma arma da Taurus, foi a vez de defensores dos
nacional. Com faturamento de quase R$ 1 bi- o senador Flávio Bolsonaro estrear em Bra- armamentos estrangeiros
lhão por ano, a empresa viu suas ações se valo-
rizarem conforme o então candidato Jair Bolso- JORGE WILLIAM/AGÊNCIA O GLOBO
naro, ferrenho defensor do uso de armas de fo-
go, crescia nas pesquisas eleitorais. Logo após a
eleição, houve euforia. O mercado só conseguia
ver o aparente amor da família Bolsonaro pelas
armas, esquecendo-se das críticas de Eduardo.
O valor das ações da Taurus passou de R$ 2 a
R$ 12, impulsionado pela alta do dólar e pela
reestruturação financeira da empresa. Nos últi-
mos tempos, todo esse entusiasmo inicial tem
dado lugar a cenários mais incertos.
O esperado duelo sobre a Taurus entre
duas poderosas facções dentro do governo
está finalmente se materializando. De um la-
do, o presidente e seus filhos, todos favoráveis
à abertura do mercado brasileiro à importação
de armamento estrangeiro. Do outro, os mili-
tares, que consideram o fortalecimento de uma
fabricante de armas e munições nacional uma
vantagem estratégica para o país.
BANGUE-BANGUE 21
REPRODUÇÃO
me revolta. O que pensam do país?” Inimi- nou o governo, dizendo ‘Como vocês vão O lobista Misael
go declarado da Taurus, ele vive às turras fabricar munição em país que mata até ve- de Souza disse ter
tentado montar no Brasil
com Salesio Nuhs, o presidente da empresa reador?”, lembrou Souza. uma fábrica de munições
e o representante da indústria brasileira em suíça, mas acabou
P
foros internacionais. Souza crê que é inútil ara os defensores da Taurus, foi a políti- desistindo, tantas
foram as barreiras
qualquer esforço para dificultar o uso de ar- ca de proteção que permitiu ao país se
mas no Brasil. “Arma é igual mulher: quem tornar um dos maiores fabricantes de ar-
gosta, gosta; quem não gosta, não gosta. É mas leves do mundo. Ocupante de diferen-
como namorar menina bonita: enquanto tes cargos do setor de tecnologia e indús-
não transar, não vai sossegar”, comparou. tria militar, o general Aderico Mattioli dei-
Ele disse ter tentado instalar no Brasil xou clara a posição do Exército em apre-
uma unidade da fábrica de munição esta- sentação feita a colegas, tornada pública
tal suíça Ruag por 14 anos. O plano, disse entre admiradores da corporação: “É um
Souza, previa a produção de 20 milhões papel nosso proteger estas empresas e dar
de munições por ano e um investimento gás a elas, de tal forma que elas possam
inicial de € 15 milhões. Souza descreve co- competir”, disse, em junho do ano passado.
mo “infinitas” as idas e vindas do projeto E continuou: “Dentro do Exército nós im-
no Exército. Cansado, deixou de represen- portamos apenas 2% da munição que con-
tar a firma. Depois do assassinato de Ma- sumimos, 98% da munição que usamos é
rielle Franco, no ano passado, a Ruag de- nacional. Graças a esse mecanismo, hoje
sistiu do projeto. “O PT da Suíça pressio- nós temos potencial de exportação”.
BANGUE-BANGUE 23
NACHO DOCE/REUTERS
“Acredito que o governo deve mandar para
o Congresso, em breve, um projeto para
aprimorar a legislação sobre armas”, disse.
“Vai ser discutida a importação.”
O ministro Lorenzoni recebeu doações
eleitorais da Taurus que somaram R$ 310
mil em três eleições. Apesar disso, Paiani,
assim como Onyx, tem uma opinião que
parece ser contrária aos interesses da com-
panhia gaúcha. “Seria importante que fa-
bricantes de armas estrangeiras pudessem
atuar no Brasil. Isso incentivaria a compe-
tição saudável e traria tecnologia para que
as nacionais melhorassem a qualidade de
seus produtos”, afirmou.
No mercado financeiro, a impressão é
que Onyx não dispõe de força para aju-
dar uma antiga aliada como a Taurus.
“Onyx tem falado a língua do governo”,
disse o analista financeiro Jason Vieira,
O policial reformado arquitetos, advogados, engenheiros, cada da gestora de investimentos Infinity. “Se
Ronnie Lessa, vizinho da um de nós consegue convencer mais cinco não falar, vai bater cabeça. Se fizer lobby
família Bolsonaro,
importava armas pessoas ao nosso redor. É um pequeno específico em relação ao setor das armas,
ilegalmente: 117 fuzis (à exército”, disse. Em 2 de janeiro, um dia vai ficar claro que fará lobby para o ex-
dir.) foram apreendidos depois de o presidente Bolsonaro tomar financiador dele. Não creio.” Onyx não
na casa de um laranja
posse, Adasz postou uma foto antiga a quis dar entrevista.
Acima, painel com seu lado no Facebook. Um amigo pergun- Enquanto a guerra silenciosa do lobby
imagens de vítimas de tou se tinha boas notícias sobre a flexibi- pró-armas se desenrola em Brasília, as
Suzano. Os assassinos
compraram armas na lização na compra de armas. “Tenho con- mortes por arma de fogo continuam cres-
internet versado quando possível com o doutor cendo no Brasil. A CBC fabrica 254 milhões
Onyx Lorenzoni e um pouco mais com o de munições por ano — e vende 249 mi-
doutor Adão Paiani. As perspectivas são lhões. A maior parte, 85% do total comercia-
muito boas”, respondeu. lizado, é exportada. E 35 milhões são vendi-
Filiado ao DEM do Rio Grande do Sul, das no mercado interno, a maioria para po-
o advogado gaúcho Adão Paiani trabalha liciais e militares. São as mesmas balas que
como assessor jurídico da Câmara dos De- matam brasileiros diariamente.
putados e ocupa o cargo de diretor de coor- A exemplo do massacre em Suzano, par-
denação política da Abate. Ele afirmou te do arsenal da Taurus acaba servindo para
atuar em causas pessoais do ministro-chefe cometer assassinatos e crimes. Das 49.248
da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de quem se armas apreendidas na Região Sudeste do
diz amigo, e do DEM. Segundo Paiani, o país em 2014 — último dado computado
governo federal, para além do decreto lan- em pesquisa do Instituto Sou da Paz —,
çado por Bolsonaro em janeiro, planeja 27.280 foram fabricadas pela Taurus, o que
uma nova investida no campo das armas. corresponde a 55% do total.
22 PERGUNTAS PARA RENAN
FOTO: DANIEL MARENCO/AGÊNCIA O GLOBO
22 PERGUNTAS PARA RENAN 29
10. queria conversar comigo, mas ativamente ele não tratou de eleição.
A ruptura com Temer foi decisiva em sua reeleição
num período de renovação inédita no Senado?
Eu não vinculo essas questões. No processo de impeachment da presidente
Dilma Rousseff, eu estava na presidência do Senado e procurei fazer minha
parte com isenção, conversando com todos. Colaborei com o começo do
governo Michel, sugeri pautas, ajudei a aprová-las. Quando deixei a presi-
dência do Senado, tive mais desenvoltura porque não carregava os mesmos
compromissos. Como não concordava com muitas das propostas, deixei a
liderança do MDB e passei a ocupar um certo papel na oposição.
22 PERGUNTAS PARA RENAN 31
15. grau de exibicionismo dos outros. Ela demonstra ser mais responsável.
Por defender o projeto de abuso
de autoridade, o senhor passou a ser visto
como contrário à Lava Jato.
Eu sempre defendi as investigações e procurei fazer a prova contrá-
ria, que é a mais difícil das provas. Tanto que o Supremo já arquivou
dez investigações e vai arquivar as demais porque eu fui investigado
por “ouvir dizer”, porque alguns delatores que não me conheciam
disseram que interpretavam, que o “mercado falava”. Outros diziam
que, quando conversavam com sicrano, viam ali minha presença in-
trínseca. Não há um fato concreto contra mim. E não haverá. Eles me
viraram de cabeça para baixo durante 15 anos. Não há nas minhas
contas um centavo sequer que não seja de uma fonte declarada. E eu
me submeti a tudo isso. Mas, pela ligeireza da qual sempre fui vítima,
eu não concordo com prejulgamento. Essa questão do Flávio Bolso-
naro, há coisas esquisitas que precisam ser investigadas, claro, mas
não dá para prejulgar, para que, ao discutir o tema, você anuncie, an-
tecipe sentenças. A vida, na democracia, não se faz dessa forma. Por-
que isso facilitaria muito o papel de cada um.
17. cer. Já fui vítima disso. Isso não faz meu perfil.
O senhor é o decano no Senado. Participou desde
o governo Collor muito ativamente de todos
os governos, vendo de perto a ascensão e a queda
de alguns presidentes. À luz dessa experiência,
o senhor vê estabilidade política neste governo?
Todos os presidentes que não deram importância para a relação com o
19. continua diariamente dando tiros no pé. Tem dia que um, dois, até três.
Qual seria esse preço alto?
Governos, quando não caem nas crises, costumam recomeçar. Consi-
dero um preço alto você ter de recomeçar um governo várias vezes em
quatro anos. E acho que estamos próximos da necessidade de começar
Moro é de enorme adesão popular, o outro Maia, então, chamou os principais jor-
não”, disse Cesar, em defesa da atitude do fi- nais do país e anunciou que estava fora da
lho de priorizar o tema econômico. articulação política pela reforma da Previ-
O clima azedou de vez quando o ex-juiz dência. Sem parecer se incomodar, Bolsona-
da Lava Jato enviou mensagens de celular ro elevou o sarrafo da crise com um festival
para o presidente da Câmara reclamando de ironias comparando o presidente da Câ-
de seu projeto ficar em segundo plano. mara a uma namorada querendo terminar
Maia chamou Moro de “funcionário de um relacionamento. “Bolsonaro não é um
Bolsonaro” e falou que ele estava “confun- personagem capaz de segurar a liderança
dindo as bolas”. Chamou ainda a proposta desse processo. Agora, será que ele faz esse
de “copia e cola” do projeto do ministro do raciocínio e dá importância a isso? Foi ao ci-
Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre nema nesta semana com a esposa… No fun-
de Moraes. Dias depois, foi a vez de Moro do, faz isso porque sabe que pode ser aplau-
alfinetá-lo com indiretas: “Talvez alguns dido lá. Ele é um líder sindical dos policiais
entendam que o combate ao crime pode ser e dos militares, e assim continua se compor-
adiado indefinidamente, mas o povo brasi- tando”, analisou Cesar.
leiro não aguenta mais”, ironizou. Em 1992, Cesar Maia
Na semana passada, uma nova fase da
O pai de Rodrigo divide em três os nú- fazia campanha para
prefeito com os filhos
Lava Jato colocou ainda mais lenha na fo- cleos do governo. O econômico, co- Rodrigo e Daniela.
gueira. Casado com a mãe da mulher de mandado por Guedes; o da justiça, simboli- Uma família enraizada
Maia, o ex-ministro Moreira Franco foi pre- zado por Moro; e o administrativo, com os na política (à dir.).
so preventivamente com o ex-presidente Mi- militares à frente. Mas e os filhos do presi- Abaixo, os ministros
chel Temer, acusado de corrupção. Não de- dente, também não são um polo de poder? Sergio Moro, Onyx
morou muito para Carlos Bolsonaro, o filho- “São o quarto vetor. O vetor dispersivo. Ge- Lorenzoni e Paulo
Guedes se encontram
vereador-tuiteiro do presidente, fazer das suas ram curto-circuito, atrapalham, mas nada com o presidente da
na internet: “Por que o presidente da Câma- grave. Um fala uma besteira, outro fala ou- Câmara, Rodrigo Maia.
ra anda tão nervoso?”, questionou nas redes, tra, o Olavo (de Carvalho), que também é A relação azedou
com menos de três
insinuando que o deputado estaria com re- desse vetor, fala mais uma… Mas não é o meses de governo
ceio de investigações da Polícia Federal. principal”, disse. Ponderei que um filho do e reclamações públicas
presidente, “o Carluxo”, como Cesar o cha- Lava Jato. Não foi por causa de evangélicos
mou, já havia derrubado o ministro Gusta- nem da violência, esquece.”
vo Bebianno após uma desavença nas redes Questiono novamente se não basta resol-
sociais. Fui rebatido com uma pergunta: ver a articulação política para o governo an-
“Será que foi por causa do Carlos? Ou ele dar. E quem recebe críticas, desta vez, é o mi-
foi apenas vocalizador da vontade do pai? nistro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que
Como disse, não vejo organicidade nos fi- trabalhou pela derrota de Maia na eleição pa-
lhos, são pessoas querendo aparecer ape- ra a presidência da Câmara. “Que articulação
nas, não é relevante nada disso. Por que política? O Onyx é apenas um representante
perder tempo com eles?”, esnobou de novo. da Taurus no Congresso que espertamente
tornou-se articulador da proposta de dez me-
rros, no entanto, Cesar já vê vários no go- didas contra a corrupção.” Cesar não se ali-
E verno. Dizer que o golpe militar não foi nha aos alarmistas que afirmam que o gover-
golpe, quando é óbvio que foi, é um deles, no pode não durar: “Mas como é que cairia?
não só do ponto de vista do conceito, como O tempo não resolve isso tão rapidamente. O
para a própria popularidade de Bolsonaro. PT ficou 13 anos no poder. O que pode acon-
“Estudei durante muito tempo a ascensão da tecer é a crise econômica ganhar uma profun-
nova direita. O golpe de 1964 não é um te- didade”, disse. No dia seguinte, a pedido de
ma popular, ele tinha de se distanciar disso. ÉPOCA, Cesar comentou as respostas que o
É um erro e a consequência virá depois”, Congresso deu durante a semana para Bolso-
disse, apesar de Bolsonaro ter ganho a elei- naro. “Os partidos estão desgastados, mas não
ção já defendendo gente do tipo do coronel confunda com o Congresso como instituição.
Brilhante Ustra. “Ele venceu por causa da Ele vai se afirmar sempre.”
G.A.
38
guiamado@edglobo.com.br
GUILHERME AMADO
É JORNALISTA
A JUSTIÇA NO LEITO
Judiciário: juízes teriam de mudar entendimentos e sope- foi rápida na resposta: “Nosso Brasil tem, sim, dinheiro. Tem
sar melhor a situação fiscal do país, priorizando paga- mala de dinheiro da corrupção, e o dinheiro é mal gasto”.
mentos que alcancem mais pessoas.
O documento da AGU seguiu nessa linha e defendeu que
“medicamentos mais caros atendem a um número muito res-
trito de autores (pacientes)”. Um exemplo, apontou o ministé-
A ntes de obterem o valor milionário da União e ater-
rissarem em Miami no começo de fevereiro para o tra-
tamento, Joseli e José, pai do menino, chegaram a atos ex-
rio, seria o Soliris, remédio com preço unitário de R$ 14 mil e tremos para chamar a atenção para o caso de Samuel. José
que, no total, já custou R$ 425 milhões aos cofres públicos. O se acorrentou à entrada do Ministério da Saúde, em Brasí-
medicamento é receitado para uma doença rara e sem cura, a lia, e da Justiça Federal, em São Paulo. Também fez greve de
hemoglobinúria paroxística noturna, que destrói as hemácias. fome. Joseli mandava mensagens a famosos nas redes
Mas são alguns desses casos mais caros, e que o governo sociais, pedindo doações, e publicava posts diários com a
tenta derrotar nos tribunais, que mais têm apelo público e situação do bebê. Teve sucesso com Ivete Sangalo, Carolina
ganham repercussão nacional — como o de Samuel. Dieckmann e Ana Hickmann e conseguiu levantar R$ 800
“O governo prefere enrolar, recorrer. Toda vez que eles mil. Interrompeu a vaquinha no começo do ano, quando
recorriam, eu chorava. Alegavam que era muito dinheiro soube que o governo federal pagaria pelo tratamento.
para uma criança só, mas é um direito que a gente tem. É só Atualmente, a família mora no hospital em Miami. E é de lá
um bebezinho! Ele também tem de ser salvo. Eu me pergun- que, no dia 22 de maio, eles vão ver os 11 ministros do STF
tava: ‘Por que eu sou brasileira?’”, criticou Joseli dos Santos, decidir o futuro de milhares de casos como o de Samuel.
mãe de Samuel. À tese de que falta dinheiro para todos, ela COM EDUARDO BARRETTO
40 ASTROLOGIA POLÍTICA
“ROBESPIRRALHO”
O lavo de Carvalho, ideólogo do governo
Bolsonaro, conquistou alguns milhares
de alunos ao longo de sua trajetória como
campanha de Jair Bolsonaro, e tornou-se ins-
titucional em 2019, ao ser alçado ao posto de
assessor para Assuntos Internacionais da
professor de cursos on-line de filosofia. Mas Presidência da República, cargo ocupado pe-
nenhum se destacou como Filipe Garcia lo diplomata Frederico Arruda na gestão de
Martins Pereira, de 30 anos. Isso se deve a Michel Temer e por Marco Aurélio Garcia
duas caraterísticas peculiares do aluno: a de- nos anos petistas. Hoje, impulsionado pela
voção ao mestre e a defesa aguerrida de suas relação estreita com Eduardo Bolsonaro e
ideias na internet. Somam-se a esses traços a pela proximidade geográfica com o presiden-
pronunciada timidez. Ao vivo, Martins é in- te — o gabinete de Martins está no mesmo
capaz de se meter em investidas frontais con- andar que o de Bolsonaro —, o aluno núme-
tra quem quer que seja, o que o ajuda a nave- ro um de Olavo de Carvalho dita regras, fil-
gar entre os inimigos. Tem olhar baixo e sua tra visitas, aconselha o mandatário — e se
voz é pouco audível. Já no mundo virtual, é indispõe com os militares do Palácio.
conhecido por ser um dos principais arregi- A excessiva proatividade do assessor ao
mentadores de tropas olavistas (e hoje bolso- ciceronear o presidente e sua relação íntima
naristas) nas redes sociais. Sua atuação com Olavo de Carvalho num momento em
política migrou da esfera virtual para a real a que o ideólogo dispara ataques diários contra
partir de 2018, quando passou a integrar a os militares tornaram a situação de Martins
ASTROLOGIA POLÍTICA 41
REPRODUÇÃO
delicada no Palácio do Planalto. Em uma tiu de levar a cabo a empreitada depois que o Em apenas dois anos,
ocasião, ele chegou a levar um pito em deci- chanceler Ernesto Araújo e Eduardo Bolso- Filipe Martins (de paletó
na foto) deixou a vida de
béis elevados do vice-presidente, o general naro colocaram panos quentes. funcionário de baixo
Hamilton Mourão, depois de publicar tuítes Ainda que, ecoando Olavo, Martins tenha escalão da Justiça
insinuando críticas à ala militar. “Raríssimos sido ávido defensor da aliança militar em tor- Eleitoral para se
transformar em um dos
conservadores resistem à tentação de, mais no de Bolsonaro, Mourão já era, à época, alvo principais assessores do
cedo ou mais tarde, tentar mostrar à esquer- de críticas. Quando o então candidato a vice presidente da República
da que não são tão conservadores assim”, es- criou polêmica ao dizer, em palestra, que a
creveu Martins, replicando Olavo de Carva- “indolência” do brasileiro era herança indíge-
lho. Em outra postagem, ironizou a ideia de na e a “malandragem” herança africana, Mar-
que militares estariam tutelando a política tins foi ao Twitter criticá-lo — mas não pelo
externa, afirmando se tratar de “wishful conteúdo, e sim pela “ingenuidade” do general
thinking ou desonestidade”. Ao ser enqua- em dizer tais coisas publicamente diante da
drado por Mourão, Martins baixou a cabeça postura “maliciosa” da imprensa. “Não espero
e negou qualquer tipo de má intenção. Em ingenuidade de um general. A mídia é inimiga
outra ocasião, o general Augusto Heleno, e, se ele não sabe disso, é melhor ir para o clu-
chefe do Gabinete de Segurança Institucional be militar fazer churrasco”, escreveu, em agos-
(GSI), chegou a ordenar que se redigisse a to de 2018. No mesmo dia, arrematou: “O que
carta de exoneração de Martins — mas desis- ele disse é tão burro quanto o que ele diz
42 ASTROLOGIA POLÍTICA
quando afirma que não há mais esquerda e Antes de ingressar no Itamaraty, o genro
direita. Não vejo preconceito, mas acho que de Olavo teve uma breve passagem pelo
ele pode guardar esses clichês para ele e tratar jornalismo como repórter da Folha de
a mídia como o que ela é: uma inimiga”. S.Paulo, onde fez um curso de trainee. Car-
Na caserna, há o sentimento de que Mar- rières é visto por colegas do Itamaraty co-
tins estaria trabalhando para criar divergên- mo técnico e competente, com visões sobre
cias entre militares e o presidente — em al- a diplomacia que, até então, divergiam da-
guns casos, transmitindo informações confi- quelas pregadas por Olavo de Carvalho e
denciais do Palácio para Olavo de Carvalho. replicadas pelo chanceler — em especial a
Ao assumir o cargo de assessor, Filipe Mar- posição do governo sobre a atuação diplo-
tins contratou como adjunto um dos genros mática do Brasil na Venezuela.
de Olavo, Henri Carrières, de 40 anos, casado Conflitos à parte, a ascensão de Martins é
com Maria Inês de Carvalho, com quem tem inaudita. Dois anos bastaram para que dei-
quatro filhos. Carrières é diplomata de car- xasse um posto de baixo escalão do Tribunal
reira e trabalhou no Palácio do Planalto du- Superior Eleitoral (TSE) e passasse a conse-
rante o governo de Michel Temer, assesso- lheiro presidencial, com direito a dividir a
rando Frederico Arruda. Antes, teve postos mesa com Jair Bolsonaro em jantares com
na Índia e no Reino Unido. Lotado na Casa chefes de Estado, deferência com a qual o
Civil por Eliseu Padilha, o diplomata foi exo- chanceler Ernesto Araújo nem sempre é
nerado em 3 de janeiro de 2019 pelo ministro agraciado. O deserto de formuladores de po-
Onyx Lorenzoni na “limpa” promovida para lítica externa no entourage do presidente Jair
tirar “petistas” da pasta. No dia 11 do março, Bolsonaro posiciona Martins na mesma raia
foi reempossado por Martins. que Marco Aurélio Garcia, o articulador do
REPRODUÇÕES
arranjo petista na América Latina que acabou go em sua primeira sessão, o deputado apro-
favorecendo a ascensão de outros políticos de vou a toque de caixa sete requerimentos de au-
esquerda em países vizinhos. Levou a assina- toria própria — atitude que os demais mem-
tura de Martins o discurso de convencimento bros do grupo classificaram como autoritária.
para que Bolsonaro escalasse Ernesto Araújo
como chanceler. Coube também a ele fazer a atural de Sorocaba, mas criado em Voto-
interlocução para que o presidente acatasse a N rantim, no interior de São Paulo, Mar-
sugestão de Olavo de nomear como ministro tins se interessou pelos escritos de Olavo de
da Educação o colombiano Ricardo Vélez Carvalho recém-saído da adolescência.
Rodríguez. Foi ainda Martins o idealizador Aliou os cursos de filosofia à graduação em
do primeiro contato do clã Bolsonaro com relações internacionais na Universidade de
Steve Bannon para que o ex-estrategista de Brasília (UnB) e chegou a trabalhar no de-
Donald Trump recebesse Eduardo em Nova partamento econômico da embaixada dos
York, em agosto do ano passado. Para conse- Estados Unidos em Brasília, além de dar
guir a façanha, chegou a procurar a filha de cursos preparatórios para concursos públi-
Bannon e pedir que ela fizesse a ponte. cos. No tempo livre, atuava como porta-voz
Ao incutir na cabeça de Eduardo chavões do discurso de Olavo de Carvalho nas redes
olavistas, como o envio de tropas à Venezuela sociais e em blogs de viés radical, como o
e a mudança do eixo multilateral de política Senso Incomum, que prega a queima de li-
externa para um eixo bilateral, beneficiando os vros de Paulo Freire, e o Terça Livre, que di-
Estados Unidos, Martins acabou inflando o fundiu recentemente informações falsas so-
ego do novo amigo a ponto de o filho do pre- bre Constança Rezende, jornalista de O Es-
sidente, um ex-escrivão da Polícia Federal que tado de S. Paulo. Martins também dedicava
sempre se limitou a defender pautas da corpo- tempo a escrever críticas sobre jornalistas e
ração, enxergar em si as características de um a imprensa no site Mídia sem Máscara, fun-
formulador de políticas da área. É obra de dado por Olavo de Carvalho e que, em al-
Martins o fato de Eduardo ter requerido a pre- gumas ocasiões, praticava ataques à reputa-
sidência da Comissão de Relações Exteriores ção de profissionais que escrevessem textos
(CRE) da Câmara dos Deputados, na qual, lo- críticos às ideias do professor.
44 ASTROLOGIA POLÍTICA
REPRODUÇÃO
Twitter pedir ajuda. “Há uma flagrante ten-
tativa de isolar a ala antiestablishment do
governo Bolsonaro, lançando sobre ela
uma série de adjetivações maliciosas e de
acusações infundadas que não cumprem
outra função senão a de torná-la tóxica e
malvista pelas outras alas que compõem o
governo”, escreveu. A criminalização da
política e do conceito de coalizão pluripar-
tidária fundada na repartição de poder são
algumas das premissas do grupo de Mar-
tins — e de Olavo de Carvalho. Por isso,
defendem que Jair Bolsonaro não condicio-
ne o apoio à reforma à saciação de interes-
ses de aliados. Dito isso, Martins convocou
a militância para que fizesse pressão popu-
lar em parlamentares em favor da reforma
— uma versão atualizada da guerrilha vir-
tual petista na era Lula. “A única forma de
ativar a lógica da sobrevivência política é
por meio da pressão popular, por meio da
mesma força que converteu a campanha
eleitoral do presidente Bolsonaro em um
movimento cívico e tornou possível sua vi-
tória. É necessário, em suma, mostrar que
o povo manda no país”, escreveu.
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Por que criar uma fundação privada para gerir recursos que
poderiam ser redirecionados a fundos já existentes, como o
Fundo de Defesa de Direitos Difusos, vinculado ao Ministério
da Justiça, ou a entidades da sociedade civil já existentes?
PILAR OLIVARES/REUTERS
O MPF afirma
que o dinheiro
da multa aplicada
à Petrobras nos
Estados Unidos
não virá para
o Brasil caso
o acordo com
a empresa seja
anulado
CONCORDAMOS EM DISCORDAR 51
Em sua opinião, como deve ser a escolha das pessoas que vão
gerir a fundação?
DD Essa questão restou prejudicada diante da suspensão dos proce-
dimentos para a constituição da fundação e, posteriormente, da de-
cisão do STF.
LF O que todos queremos é que seja alguém competente e técnico.
Mas o problema não está na escolha das entidades, está no fato de a
criação de uma fundação não ser atribuição do MPF. Essa compe-
tência só existiria se estivesse autorizada pela Constituição.
VENES CAITANO
O DEDO
DO PASTOR
MINISTÉRIOS DIVINOS 55
N
REPRODUÇÃO
a manhã da última terça-feira, em sua
igreja em São José dos Campos, Paes
conversou por duas horas com ÉPOCA. Ca-
rismático, vestia uma camiseta com os dize-
res “Let LOVE be your highest goal” (algo
como “Deixe o AMOR ser seu maior objeti-
vo”). Primeiro, negou a investida para
influenciar o governo de Jair Bolsonaro, ao
se definir como um pastor “de posições fir-
mes, com gosto pela liderança, cidadania e
política, mas sem politicagem”. Pouco de-
pois, exposto aos fatos, contemporizou.
“Como pastor, não indiquei ninguém para o
MEC. Eu só abençoei uma ovelha, assim co-
mo faço com funcionários da Embraer que
vão para o exterior”, disse. “Para manter o
ministro que está caindo, devem ter pensa-
do: vamos chamar a Iolene, que é evangéli-
ca. Mas não combinaram com os russos.”
Paes confirmou a menção ao nome de Cor-
reia. Disse que foi provocado a falar, mas São José dos Campos, que liga os bairros da
reforçou a afinidade que existe entre os cidade de 715 mil habitantes, permeada por
dois. “Ele é um cristão na acepção da pala- fábricas, como a Embraer, centros de exce-
vra. Calmo, tranquilo, ético... Se você me lência, como o Centro Técnico Espacial, o
perguntar hoje: ‘Pastor Carlito, quem o se- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o
nhor acha que deve ser o ministro da Edu- próprio ITA, e shoppings. O complexo do
cação?’. Correia. Se ele foi reitor da institui- pastor, distribuído em 200 mil metros qua-
ção mais renomada (o ITA), com o vestibu- drados, reúne até 5 mil pessoas por culto,
lar mais difícil... Por que não?” conta com duas creches — uma para bebês e
Aos 48 anos, Carlito Paes tem cabelos gri- outra para 300 crianças maiores — e até um
salhos e um sorriso sempre presente no ros- trenzinho para levar fiéis de seus carros ao
to. Usa óculos de aro grosso, que lhe confe- templo, como em um parque de diversões.
rem certa credibilidade. Sua fala tranquila, Paralelo ao culto principal, nas manhãs de
algo distante dos berros dos pastores old domingo, um culto em inglês atrai enge-
school, lembra mais os gurus de autoajuda. nheiros e expatriados de São José dos Cam-
Aí está o diferencial de sua igreja. Com um pos e região, cidade com diversas multinaci-
discurso pop, Paes diz aos fiéis que o seguem onais. Com 170 ministérios, a igreja tem
coisas como “A Páscoa é a Copa do Mundo grupos para tudo, de “unha encravada a em-
do cristianismo” e “Passados 2 mil anos, a presários, passando por um ministério mui-
igreja está cheia. Você sabe o nome de algu- to importante, o que trata dos alcoólatras,
ma empresa de 2 mil anos? Não”. uma espécie de AA, só que com Deus”, afir-
Sua principal igreja — um prédio espe- mou a aposentada carioca Lúcia Helena Al-
lhado no alto de uma colina — fica na Ro- buquerque. Seu filho, Guga, e a nora, Rena-
dovia Presidente Dutra, a grande avenida de ta, são fiéis da igreja há 40 anos.
MINISTÉRIOS DIVINOS 57
A
REPRODUÇÃO
o transformar sua Primeira Igreja Batis-
ta em Igreja da Cidade, ligada à rede
Inspire, Paes rompeu com uma tradição ba-
tista. Começou a criar “filiais” em várias ci-
dades da região e em São Paulo. A rede Ins-
pire conta com 500 unidades agregadas pelo
mundo. Embora muitos seguidores de Paes
continuem a seguir firmes suas palavras e
seus ensinamentos, alguns criticam sua for-
ma pragmática e mercantilista de levar a
igreja. Em entrevista a uma TV local para
comemorar a construção da nova sede —
em local onde antes ocorriam os mais tra-
dicionais rodeios da cidade e vizinho de
um conhecido motel —, ele disse, orgulho-
so: “Nossa igreja cresce 20% ao ano, que é
um crescimento bem acima da população e
do número de evangélicos”.
Paes apresentou os dados de sua igreja
como se fosse uma empresa, em gráficos de
PowerPoint. Disse, com orgulho, que, quan-
do entrou na Primeira Igreja Batista, em
1997, ela tinha 620 fiéis. Em 2012, eram
7.325, e, depois de sua estratégia de inova-
ção, com o novo nome da congregação, ter-
minou 2018 com 18.697 seguidores. Ele disse
que obteve todo esse crescimento na igreja
porque sempre conseguiu vender um sonho
— negando as acusações de que recebeu di-
nheiro de um mentor americano, Rick Warren,
À esquerda, o pastor Depois de Paes, a principal pastora é sua como doação ou empréstimo. O pastor con-
Carlito Paes (à dir. e ao mulher, Leila Paes. Com formação em psi- tou que, em valores sem correção, investiu
fundo na foto), ao lado
do ministro Ricardo Vélez cologia, ela reveza a condução dos cultos de R$ 30 milhões no campus de sua igreja des-
Rodríguez (na frente de domingo com o marido. Os dois só chegam de 2004 e que obter o dinheiro das doações
Paes), ora com o pastor ao palco depois de 30 minutos de apresen- muitas vezes “parecia um milagre”.
Luis Roberto Silvado (de
gravata vermelha) e o tação da banda da igreja — com seis músi- Adorado por parte da cidade, o pastor
presidente da Capes, cos e cinco cantores, show de luzes e equi- enumerou realizações, inclusive obras
Anderson Correia (à esq.) pamentos de som de primeira linha —, e do sociais para viciados em um bairro carente e
pedido do dízimo, que pode ser pago com com prostitutas. Liderou o movimento para
Acima, Paes durante cartão de débito e crédito, em maquininhas impedir o fechamento de um hospital para
encontro com o distribuídas no meio do culto por voluntá- tratamento de câncer infantil na cidade.
presidente Jair Bolsonaro,
no início de sua ascensão rios. Quando ÉPOCA esteve no culto, no Com um profundo conhecimento teológico,
entre os evangélicos começo de março, Leila não usou a Bíblia: Paes, que adora história, explicou a grande
lia sua palestra em folhas de papel ou dire- expansão de sua igreja em preceitos bíblicos,
tamente em seu iPhone. Vestindo bata ne- afirmando que ela é abrangente e democrá-
gra, legging, sapatilha escura e óculos de ar- tica, acabando com o estigma de que os
mação cor de vinho, ela não tratava apenas evangélicos eram todos “feios, pobres e
de temas religiosos. Dava conselhos às fa- analfabetos”. Paes disse considerar a homos-
mílias. “Mulher é tudo igual, quando o ma- sexualidade um pecado, mas não um crime.
rido briga a gente faz bico, não faz o almo- “Não perguntamos se a pessoa é homosse-
ço, não faz o doce preferido dele”, disse. xual, da mesma forma que não perguntamos
“Temos de melhorar o clima, quando isso se alguém roubou”, disse ele, ao pedir que a
acontecer, temos de dar o primeiro passo. reportagem não se limitasse a esse tema.
Aí, sim, fazer o doce preferido.” “Nunca fui um pastor polêmico.”
EDILSON DANTAS/AGÊNCIA O GLOBO
Em troca, as outras igrejas pagam mensalida- Saúde (R$ 499 bilhões e R$ 129 bilhões, respec-
des que podem chegar a R$ 450 por mês, tivamente), e uma ampla capilaridade nas redes
mas as congregações com poucos membros de ensino e nas famílias brasileiras. Sempre foi
nada pagam. Paes tem uma nova empreitada um dos ministérios mais cobiçados pela banca-
que envolve o MEC. Disse estar esperando o da evangélica. Parlamentares da frente deixam
ministério autorizar sua Faculdade da Cida- clara a frustração de não ter emplacado o mi-
de, que, segundo ele, vai se especializar em nistro, tampouco conseguido cargos na pasta.
cursos que estão sendo renegados, como his- Desde o começo do governo, o MEC vem sen-
tória, pedagogia e administração. Autor de do disputado por pelo menos cinco alas bem
24 livros, ele contou que foi convidado para definidas. Há os militares, vindos do ITA; os
entrar na Academia Evangélica de Letras do professores oriundos do Centro Paula Souza,
Brasil, sediada no centro do Rio. autarquia paulista que cuida das escolas técni-
Ainda pouco conhecido fora do meio re- cas; os ex-alunos do ministro, que ocupam três
ligioso, Paes é um pastor em ascendência. das seis secretarias do MEC; os discípulos do
Desde que se aproximou de Josué Valandro ideólogo Olavo de Carvalho, o guru do clã bol-
Jr. — o pastor da Igreja Batista Atitude, fre- sonaro, notável pelo linguajar chulo e pelas
quentada pela primeira-dama Michelle Bol- ideias descabidas; e, por fim, os evangélicos.
sonaro — tem tentado se posicionar no jogo A briga interna por poder desgastou o
do Planalto. No dia 12 de dezembro, foi a ministro e expôs um flanco para investidas
Brasília para um encontro de líderes religio- de aventureiros como Paes. Mas eles não es-
sos. Posicionou-se diante do já eleito Jair tão sós. Com Vélez enfraquecido, também o
Bolsonaro para lhe proferir uma bênção. governo viu uma oportunidade para barga-
Com uma das mãos para o alto e a outra no nhar os cargos disponíveis no MEC em tro-
microfone, orou pelo político, que acompa- ca de apoio no Congresso à reforma da Pre-
nhou tudo de cabeça baixa. Postou a foto vidência. O ministro Lorenzoni tem repeti-
com o presidente nas redes sociais. Paes diz do que os postos acalmariam os ânimos e
que não é próximo de Bolsonaro e nunca abririam caminho entre parlamentares.
PROGRAMA DE
GESTÃO NO AGRONEGÓCIO
PREPARE-SE PARA O FUTURO DO AGRO
EM BUSCA
DO ASSASSINO
DA MÃE
VIVI PARA CONTAR 61
Em Elegia de um crime,
o cineasta reconstitui a lembrança
de Isabel Burlan da Silva, vítima
de feminicídio em 2011
por Cristiano Burlan
em depoimento a Matheus Pichonelli
hgurovitz@edglobo.com.br
@gurovitz
TÁ RUSSO
PRO MADURO
CARLOS JASSO/AGÊNCIA O GLOBO
um Antonov An-124 e um avião de passagei- “Acirra os ânimos dos Estados Unidos, mas
ros Ilyushin Il-62, que pousaram em Maique- também envia mensagens para terceiros paí-
tía, de acordo com analistas locais, estavam ses que poderiam se atrever a adotar qualquer
numa operação sob as ordens do chefe do atitude mais drástica em relação a Maduro.”
Comando Principal das Forças Terrestres da Comandantes militares colombianos asse-
Rússia, Vasily Tonkoshkurov. guram que o contingente russo substitui ou re-
A chegada dos aviões ocorreu poucas ho- força o grupo de seguranças, que muitos quali-
ras depois de Maduro dizer que havia preci- ficam como mercenários, contratado pelo
sado reforçar sua segurança porque existia Kremlin e enviado em 25 de janeiro por Mos-
um plano, liderado por Juan Guaidó, presiden- cou para auxiliar na defesa do líder chavista
te da Assembleia Nacional, para matá-lo. contra uma possível traição por parte dos
Entre diplomatas, militares e especialistas guarda-costas venezuelanos. Relatos de inteli-
aumenta a preocupação com a possibilidade gência de países da região chegaram a suspeitar
de uma rápida escalada do conflito e da troca que o pouso do avião russo em janeiro objeti-
de provocações entre Moscou e Washington. vava levar Maduro para um exílio seguro.
“É mais um ingrediente que se soma aos mui- A recomendação para que a segurança pre-
tos elementos reais e imaginários que cercam sidencial, principalmente no Palácio de Mira-
a profunda crise da Venezuela”, explicou Or- flores — a sede do governo —, seja integrada
lando Gamboa, analista e editor do jornal La por não venezuelanos partiu do G2, o servi-
Opinión, de Cúcuta — área mais movimenta- ço secreto cubano que há anos atua na Ve-
da da fronteira da Colômbia com a Venezue- nezuela, sobretudo nas questões de contraes-
la, fechada desde 23 de fevereiro, quando Ma- pionagem, hierarquia e lealdade militar. Cuba e
duro impediu que um comboio de ajuda hu- Rússia trabalham, segundo esses relatos, em
manitária entrasse em território venezuelano. coordenação pela segurança de Maduro.
MAXIM SHEMETOV/REUTERS
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72 BIBLIOTECA NÃO ESSENCIAL
A leitura do ocultista
francês René Guénon
(1886-1951), criador
da escola “perenialista”,
transformou o
pensamento de Olavo
de Carvalho no final
dos anos 70
ROGER-VIOLLET/AFP
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chubner@edglobo.com.br
FeraoiBolsonaro
uma lua de fel. Os 100 primeiros dias do governo
confirmaram ao país que a “nova política”
mesmo tudo o que prometia: um emplastro destrutivo
Ministério do Meio Ambiente, órgãos ambientais foram
proibidos de falar com a imprensa enquanto o desmata-
mento explode em relação ao mesmo período de 2018 (pa-
que despreza a política, a gestão pública e a diplomacia. A ra piorar, a liberação recorde de novos venenos pelo Mi-
culpa não foi da imprensa, do Congresso, da “velha políti- nistério da Agricultura afeta a própria agricultura no lon-
ca”, da torcida, do pensamento negativo ou do PT acima go prazo). O Ministério da Mulher, da Família e dos Direi-
de tudo, do petista acima de todos. O prejuízo desse infan- to Humanos começou pela retirada de LGBTs dos grupos
tilismo ainda não é calculável. O mercado confiou em de atenção da pasta, num dos países que mais violenta ho-
analistas de conjuntura que cometeram o pecado capital mossexuais no mundo. Também faz vista grossa a invasões
de confundir desejo com fato. Aplicou muito dinheiro de terras indígenas que se alastram pelo país. A cereja do
nesse desejo, entoou o canto da arquibancada e mandou bolo é o doping acadêmico desses três ministros campeões
os céticos se calarem. Daí persistir em estado de negação em honestidade: Rodríguez maquiou seu currículo Lattes,
por ter subestimado a vocação de Jair e superestimado a Salles disse ser mestre em Yale sem nunca ter pisado em
clarividência de Paulo Guedes. sala de aula daquela universidade e Alves contou que seu
Foi um festival pornográfico. Não me refiro à ducha ala- mestrado em Direito da Família foi bíblico.
ranjada nem à imaginação de Damares. Nem às conexões Nas relações externas, a cruzada ideológica contra o glo-
milicianas, nem à funcionária-fantasma, nem ao patrimonia- balismo já trouxe prejuízo no comércio com árabes e chine-
lismo filhocrático, nem aos vídeos que culpam o Bolsa Fa- ses. As visitas internacionais não geraram, por assim dizer,
mília pelo mau desempenho escolar de crianças pobres, ou grande impressão: em Davos, a fala envergonhada do presi-
que recomendam rasgar cadernetas de saúde que orientam dente durou a eternidade de 6 minutos, depois, restou se au-
adolescentes a prevenir doenças, ou que permitem ao gene- sentar da coletiva de imprensa; nos Estados Unidos, a vassala-
ral lembrar o capitão que não há síndrome de “Drown”. Por gem a Trump surpreendeu até mesmo a Fox News; em Santia-
trás da pornografia, há corrosão institucional. go, o elogio a Pinochet conseguiu ofender até a direita chilena.
Foi uma peça dividida em dois atos. No primeiro mês, Para não falar no tensionamento na fronteira da Venezuela.
com as instituições de férias (o Judiciário, o Legislativo, as Não é surpresa que o índice de popularidade tenha
universidades, a Lava Jato, o pré-Carnaval), o governo lançou atingido o nível mais baixo de um presidente em início de
alguns balões de ensaio. Com pouca gente para atrapalhar, governo desde Collor. Filhos derrubam ministros (como
exceto a imprensa, sempre ela, o mês de janeiro permitiu ex- Bebianno, vítima de Carlos), substituem ministros (como
perimentos autocráticos preliminares: restringiu transparên- Ernesto Araújo, escanteado por Eduardo), intoxicam a ar-
cia e ampliou sigilo de documento público, criou sistema de ticulação política e o filho vereador despacha para o pai
monitoramento da sociedade civil e continuou a atiçar a mili- quando este se ausenta. Ainda surpreende que tenham de-
tância para o serviço sujo nas ruas, no campo e nas redes. cidido se indispor com ninguém menos que o presidente
da Câmara. Rodrigo Maia sugere que Jair saia do Twitter e
Sem ódio no estômago, a marcha governe. Explica que governar significa negociar e buscar
bolsonarista morre de inanição. voto. Nem Cunha falou assim com Dilma.
Com a ala militar hesitante, Moro encolhido e Guedes
Daí em diante, veio a realidade institucional e o cotidiano traído pelo boicote da dinastia bolsonara a sua reforma de
administrativo. Primeiro, na cozinha da política pública. estimação, quem sapateou nestes 100 dias foi mesmo a ala
Conflagrado em conflitos internos gestados na Virgínia e pré-moderna do governo. Segundo sua teoria da revolução,
entretido com sua ordem a escolas para filmar crianças precisam do “povo” nas ruas para levar abaixo as instituições.
cantando o hino e o slogan do governo, o MEC se esqueceu Feita terra arrasada, governariam. Não desconfiam de que
da tarefa mundana de aquisição de livros didáticos. No eles podem morrer no processo. A democracia vai antes.
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