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Mecanismo da paranoia

Até agora tratamos do complexo paterno que domina o caso Schreber e da fantasia ou desejo* central da
doença. Em tudo isso, nada caracteriza apenas o quadro clínico da paranoia, não há nada que não pudéssemos
achar em outros casos de neurose que neles não tenhamos realmente achado. Temos de buscar a
especificidade da paranoia (ou da demência paranoica) em outra coisa, na forma peculiar assumida pelos
sintomas, e nossa expectativa é de que o responsável por ela não serão os complexos, mas o mecanismo da
formação de sintomas ou da repressão. Diríamos que o caráter paranoico está em que, para defender-se de
uma fantasia de desejo homossexual, reage-se precisamente com um delírio persecutório de tal espécie.

A afirmação “Eu amo ele (um homem)” é contrariada pelo a) Delírio de perseguição, pois este proclama: “Eu
não o amo — eu o odeio.” Essa contradição, que no inconsciente65 não poderia ter outra expressão, não pode
tornar-se consciente dessa forma no paranoico. O mecanismo da formação de sintoma da paranoia requer que
a percepção interna, o sentimento, seja substituída por uma percepção externa. Assim, a frase: “Eu o odeio”
se transforma, por projeção, nesta outra: “Ele me odeia (me persegue), o que então justifica que eu o odeie”.
O sentimento inconsciente impulsor aparece como dedução de uma percepção externa: “Eu não o amo — eu
o odeio — porque e l e m e p e r s e g u e.” A observação não deixa dúvida de que o perseguidor não é outro
senão o que foi amado antes. b) Outro elemento a que se recorre para a contradição é a erotomania, que sem
essa concepção permaneceria ininteligível. “Eu não o amo — eu amo a ela.” 54/275 E a mesma compulsão a
projetar imprime esta mudança na frase: “Eu noto que ela me ama”. “Eu não o amo — é a ela que eu amo —
porque e l a m e a m a.” Muitos casos de erotomania podem dar a impressão de serem fixações heterossexuais
exageradas ou distorcidas, sem algum outro fundamento, caso não se preste atenção ao fato de que essas
paixões não têm início com a percepção interna de amar, mas com aquela de ser amado, vinda do exterior.
Nessa forma de paranoia a proposição intermediária, “Eu amo ela”, pode também tornar-se consciente,
porque sua contradição à primeira frase não é frontal, não é tão insuportável como aquela entre amar e odiar.
É sempre possível amar a ela, além de a ele. Desse modo pode acontecer que a frase substituta alcançada por
projeção, “Ela me ama”, dê novamente lugar à proposição em “língua fundamental”, “Eu amo ela”. c) Ainda
um terceiro modo possível de contradição seria o delírio ciumento, de que podemos estudar formas
características no homem e na mulher. α) O delírio de ciúmes do alcoólatra. O papel do álcool nessa afecção é
para nós compreensível em todo aspecto. Sabemos que essa bebida anula inibições e desfaz sublimações. Não
é raro o homem ser impelido para o álcool por uma decepção com a mulher, o que significa, geralmente, que
ele vai para a taberna e para a companhia dos homens, que lhe dão a satisfação emocional que lhe faltou em
casa com a mulher. Se esses homens tornam-se objeto de um mais forte investimento libidinal em seu
inconsciente, ele se defende disso mediante a terceira forma de contradição: “Não sou eu que amo um
homem — ela o ama”, e desconfia da mulher em relação a todos os homens que esteve inclinado a amar. A
distorção através da projeção deixa de ocorrer aqui, pois, com a mudança do sujeito que ama, o processo é
lançado para fora do Eu. Que a mulher ame os homens continua sendo algo da percepção externa; que o
indivíduo não 55/275 ame, mas odeie, que não ame esta, mas aquela pessoa, são fatos da percepção interna.
β) De modo inteiramente análogo produz-se a paranoia ciumenta na mulher. “Não sou eu que amo as
mulheres — ele as ama.” A mulher ciumenta desconfia do marido em relação a todas as mulheres que a ela
mesma agradam, em virtude do seu narcisismo exacerbado, predisponente, e de sua homossexualidade. A
influência da época da vida em que sucedeu a fixação evidencia-se de modo claro na escolha dos objetos
amorosos imputados ao marido; são, com frequência, pessoas velhas, inadequadas para um amor real,
revivescências das babás, criadas, amigas de infância ou irmãs que eram suas concorrentes diretas. Seria de
crer que uma frase composta de três termos, como “Eu o amo”, permitisse somente três espécies de
contradição. O delírio de ciúmes contradiz o sujeito, o delírio de perseguição contradiz o verbo, a erotomania,
o objeto. No entanto, é realmente possível uma quarta espécie de contradição, a rejeição completa de toda a
frase: “Eu não amo absolutamente, não amo ninguém”, e essa frase parece psicologicamente equivalente à
seguinte, já que em algum lugar é preciso pôr sua libido: “Eu amo apenas a mim”. Tal espécie de contradição
nos proporciona o delírio de grandeza, que podemos apreender como uma superestimação sexual do próprio
Eu e, assim, pôr ao lado da conhecida superestimação do objeto amoroso.66 Não é algo sem importância, para
outros aspectos da teoria da paranoia, que se possa constatar um elemento de delírio de grandeza na maioria
das outras formas de doença paranoide. É lícito supormos que o delírio de grandeza é, em todo caso, infantil, e
que na sua evolução posterior é sacrificado à sociedade, assim como nenhuma outra influência o reprime de
maneira tão intensa como uma paixão que se apodera fortemente do indivíduo: 56/275 Pois onde o amor
desperta morre o Eu, o sombrio déspota.67

Na formação de sintomas da paranoia é notável, antes de tudo, a caracter- ística que recebe o nome de
projeção. Uma percepção interna é suprimida* e, em substituição, seu conteúdo vem à consciência, após
sofrer certa deformação, como percepção de fora. Essa deformação consiste, no delírio persecutório, numa
transformação do afeto; o que deveria ser sentido internamente como amor é percebido como ódio vindo do
exterior. Estaríamos inclinados a ver neste singular processo a coisa mais significativa da paranoia e
absolutamente patognomônico no que diz respeito a ela, se não nos lembrássemos, oportunamente, que 1) a
projeção não tem o mesmo papel em todas as formas da paranoia, e que 2) ela não aparece somente na
paranoia, mas também em outras condições da vida psíquica, e inclusive tem uma participação regular em
nossa atitude para com o mundo externo. Quando não procuramos as causas primeiras de certas sensações
em nós mesmos, como fazemos com outras, mas as situamos fora, também este processo normal recebe o
nome de projeção. Assim advertidos de que o entendimento da projeção tem a ver com problemas
psicológicos mais gerais, resolvemos guardar o estudo da projeção — e, com isso, o do mecanismo da
formação paranoica — para outro contexto, e voltamo-nos para a questão de que ideia podemos fazer do
mecanismo da 57/275 repressão na paranoia. Já antecipo, para justificar nossa renúncia momentânea, que o
modo do processo de repressão liga-se mais intimamente à história do desenvolvimento da libido e à
predisposição que ela traz do que o modo da formação de sintoma. Na psicanálise fazemos derivar os
fenômenos patológicos da repressão, de maneira bastante geral. Se examinarmos atentamente o que
chamamos de “repressão”, encontraremos motivo para decompor o processo em três fases, que permitem
uma boa distinção conceitual. 1. A primeira fase consiste na fixação, que precede e é condição para toda
“repressão”. O fato da fixação pode ser enunciado da seguinte forma: um instinto, ou parte de um instinto,
não acompanha o desenvolvimento previsto como normal e, graças a essa inibição no desenvolvimento,
permanece num estágio infantil. A corrente libidinal em questão se comporta, diante das formações psíquicas
posteriores, como se fizesse parte do sistema do inconsciente, como reprimida. Já dissemos que em tais
fixações dos instintos se acha a predisposição para a futura doença, e, podemos acrescentar, sobretudo a
determinação para o desfecho da terceira fase da repressão. 2. A segunda fase da repressão é a repressão
propriamente dita, que até agora focalizamos preferencialmente. Ela vem dos sistemas mais desenvolvidos do
Eu, capazes de consciência, e pode ser descrita, na verdade, como uma “pós-pressão”.* Dá impressão de algo
essencialmente ativo, enquanto a fixação apresenta-se, de fato, como um passivo ficar para trás.
Experimentam repressão os derivados psíquicos dos instintos que primariamente ficaram para trás, quando o
seu fortalecimento acarreta o conflito entre eles e o Eu (ou os instintos sintonizados com o Eu), ou as
tendências psíquicas contra as quais se ergue, por outros motivos, uma forte aversão. Mas essa aversão não
teria por consequência a repressão, caso não se produzisse um nexo entre as tendências desagradáveis a
serem reprimidas e aquelas já reprimidas. Os dois casos que aqui separamos podem, na realidade, ser menos
claramente diferenciados, e 58/275 distinguir-se apenas por uma contribuição maior ou menor dos instintos
primariamente reprimidos. 3. A terceira fase, a mais importante no que toca os fenômenos patológicos, é a do
fracasso da repressão, a da irrupção, do retorno do reprimido. Essa irrupção ocorre a partir do ponto de
fixação e consiste numa regressão do desenvolvimento da libido até esse ponto. Já mencionamos a
multiplicidade de fixações; são tantas quanto os estágios no desenvolvimento da libido. Devemos estar
preparados para semelhante multiplicidade dos mecanismos da repressão propriamente dita e daqueles da
irrupção (ou da formação de sintomas), e já agora talvez possamos conjecturar que não será possível ligar
todas essas multiplicidades apenas ao desenvolvimento da libido. É fácil perceber que com essa discussão
tangenciamos o problema da escolha da neurose, que, porém, não pode ser atacado sem trabalhos
preliminares de outra espécie. Lembremo-nos que já abordamos a fixação, deixando para depois a formação
de sintomas, e limitemo-nos a averiguar se a análise do caso Schreber fornece alguma indicação quanto ao
mecanismo de repressão (propriamente dita) vigente na paranoia. No auge da doença formou-se em Schreber,
sob influência de visões “em parte de natureza terrificante, e em parte de uma grandiosidade indescritível” (p.
73), a convicção de que haveria uma grande catástrofe, um fim de mundo. Vozes lhe diziam que estava
perdida a obra de um passado de 14 mil anos (p. 71), que a Terra duraria apenas mais 212 anos; e na última
parte de sua estadia na clínica de Flechsig ele achava que esse período já havia terminado. Ele próprio era “o
único ser humano verdadeiro que ainda restava”, e as poucas figuras humanas que ele ainda via, o médico, os
enfermeiros e pacientes, afirmava serem “homens feitos às pressas, produzidos por milagre”. De vez em
quando a corrente oposta abria caminho; foi-lhe mostrada uma folha de jornal com a notícia de sua própria
morte (p. 81), ele mesmo existira numa 59/275 forma inferior, e nela expirara suavemente (p. 73). Mas a
configuração de delírio que mantinha o Eu e sacrificava o mundo revelou-se de longe a mais forte. Sobre as
causas dessa catástrofe ele imaginou coisas diversas; ora pensava numa glaciação devida a um retraimento do
Sol, ora numa destruição por terremotos, em que, como “vidente”, ele tinha um papel fundamental,
semelhante ao que um outro vidente teria tido no terremoto de Lisboa, em 1755 (p. 91). Ou então Flechsig era
o culpado, tendo espalhado medo e horror entre os homens com suas artes mágicas, tendo destruído as bases
da religião e causado a disseminação de um nervosismo e uma imoralidade gerais, em consequência da qual
pestes devastadoras se abateram sobre os homens (p. 91). De todo modo, o fim do mundo era consequência
do conflito que irrompera entre ele e Flechsig, ou, segundo a etiologia adotada na segunda fase do delírio, da
ligação indissolúvel que se formara entre ele e Deus, ou seja, o resultado necessário de sua doença. Anos
depois, quando o dr. Schreber voltou à sociedade e não pôde descobrir, nos livros, partituras musicais e outros
objetos que lhe retornavam às mãos, nada compatível com a hipótese de um grande abismo temporal na
história da humanidade, admitiu que sua concepção não mais se sustentava: “[…] não posso deixar de
reconhecer que do ponto de vista externo tudo permaneceu como antes. Mais adiante se discutirá se no
entanto não se verificou uma profunda modificação interna” (p. 85). Ele não podia duvidar que o mundo
acabara durante a sua doença, e o que via então já não era o mesmo mundo!

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