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Metalurgia
Aços avançados de
alta resistência:
microestrutura e
propriedades mecânicas
As chapas feitas com aços avançados de alta resistência são uma das principais
respostas da siderurgia aos desafios impostos por seus clientes em sua busca por
maior competitividade e atendimento às restrições ao consumo de energia e aos
danos ao meio ambiente. O caso da indústria automobilística é emblemático, já
que ela precisa reduzir cada vez mais o peso de seus produtos para minimizar seu
consumo de combustível e diminuir, assim, o custo e a agressão ecológica associados
a seu uso. Chapas mais finas de aço com maior resistência mecânica permitem reduzir
o peso das peças sem a perda de suas características originais. Contudo, há casos
em que um aumento da resistência leva à redução da conformabilidade do material,
o que afeta a liberdade de design. A solução para esse impasse foi a aplicação
de efeitos microestruturais complexos para conciliar, tanto quanto possível, essas
características aparentemente contraditórias. Este trabalho apresenta uma revisão
sobre as microestruturas dos aços e sua relação com as propriedades mecânicas, com
ênfase nos novos aços avançados de alta resistência que vêm sendo desenvolvidos:
bifásicos, TRIP, de fases complexas, martensíticos e parcialmente martensíticos, TWIP
e com tamanho de grão ultra-fino.
A. A. Gorni
A
contínua evolução tecno- baixo cujo desempenho atendes- termomecânicos ou térmicos
lógica dos bens de consu- se aos requisitos mecânicos, específicos.
mo duráveis e a necessidade de químicos e físicos necessários às Po de - s e cit ar aqui alguns
se implantar uma infraestrutura mais variadas aplicações. Os pro- exemplos dessa polivalência.
adequada para atender às neces- dutos planos de aço possuem Chapas grossas destinadas à
sidades vitais da humanidade aplicação praticamente universal, construção civil precisam apre-
impôs o desenvolvimento de graças à capacidade que têm de sentar alta resistência mecânica
materiais de custo relativamente assumir diferentes perfis de pro- para viabilizar a construção de
Antonio Augusto Gorni é analista de processos da
priedades por meio da escolha edificações cada vez maiores.
Companhia Siderúrgica Paulista – Cosipa e editor criteriosa dos elementos de liga Aços para construção naval pre-
técnico da revista Corte e Conformação de Metais
(contato por e-mail: gorni@cosipa.com.br). e da aplicação de tratamentos cisam apresentar fácil soldagem,
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autores afirmam que seu refino Aços microligados pela precipitação interfásica de
melhora a ductilidade (30), fato não partículas extremamente finas du-
confirmado por outros (27). Os estudos sobre os efeitos de rante a transformação da austenita
Infelizmente, a maioria dos me- micro-adições de V, Ti e Nb nas ao longo do resfriamento que é
canismos de endurecimento tende propriedades mecânicas de aços feito após a laminação a quente
a degradar as propriedades mecâ- de baixo carbono começaram no ou o tratamento térmico. Contu-
nicas determinadas sob condições final da década de 1950. Tais efei- do, neste caso há alguma perda
dinâmicas, ou seja, as medidas sob tos revolucionaram a siderurgia, já de tenacidade. No caso de aços
altas velocidades de deformação, que viabilizaram o desenvolvimento laminados a frio, os elementos de
como a tenacidade ou capacidade de tratamentos termomecânicos microliga retardam os processos
que o material tem para resistir que levam à obtenção de aços que de recristalização e crescimento
à nucleação e ao avanço de uma apresentam microestrutura com de grão que ocorrem durante o
trinca – por exemplo, a energia alto grau de refino. Essa intensa recozimento das bobinas laminadas
absorvida durante um ensaio de redução no tamanho de grão a frio (14).
impacto Charpy ou a temperatura permite aumentar, simultanea- O Ti atua principalmente pelo
de transição entre fratura dúctil e mente, a resistência mecânica e a refino do tamanho de grão aus-
frágil. O refino de grão é uma no- tenacidade da chapa, diminuindo tenítico durante o reaquecimento
tável exceção a essa regra, servindo os teores de elementos de liga do da placa antes de sua laminação a
de base para o desenvolvimento aço, especialmente o do C. Isso é quente. Os precipitados desse ele-
de tratamentos termomecânicos particularmente interessante para mento possuem baixa solubilidade,
como a laminação controlada (9). esse tipo de produto, pois melhora particularmente o TiN, que se man-
Pickering deduziu numerosas sobremaneira sua soldabilidade, tém estável mesmo no aço líqüido.
fórmulas para o cálculo das pro- minimizando os custos de fabrica- Já o V possui alta solubilidade na
priedades mecânicas de diversos ção das estruturas. austenita e, por esse motivo, en-
tipos de aço a partir de suas ca- Os elementos de micro-liga durece o material por precipitação
racterísticas microestruturais (30) ; também podem proporcionar interfásica na ferrita, principalmen-
essas equações foram incluídas endurecimento por precipitação, te. Já o Nb atua principalmente por
numa compilação escrita em por- aumentando a resistência mecâni- meio do refino do tamanho de grão
tuguês (17). ca da chapa. Esse efeito é causado austenítico imediatamente antes de
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sua transformação. Esse elemento, refinada, a qual proporciona ao deixa claro que o endurecimento
tanto na forma solubilizada como produto as características tecno- por precipitação é diretamente
na precipitada, possui a capacidade lógicas favoráveis citadas no pará- proporcional à quantidade de
de restringir a recristalização da grafo anterior(14). precipitados e inversamente pro-
austenita entre os passes de lami- A intensidade do endurecimento porcional ao seu diâmetro. Sua apli-
nação abaixo de uma determinada pela precipitação ∆σppt depende cação prática é restrita, já que, nos
temperatura (designada como Tnr, da fração e das características das aços microligados, os precipitados
ou temperatura de não-recristali- partículas precipitadas, tais como que aumentam a dureza somente
zação), que geralmente varia entre resistência mecânica, estrutura, podem ser detectados pela micros-
900°C e 1.000°C. Dessa forma, espaçamento, tamanho, formato copia eletrônica de transmissão,
durante a fase de acabamento da e distribuição. Ela pode ser quan- cuja complexidade dificulta muito
chamada laminação controlada, tificada a partir do modelo de a obtenção das grandes massas
ocorre uma virtual “laminação Ashby-Orowan: de dados necessárias para o ajuste
a frio” da austenita, cujos grãos estatístico das equações experi-
ficam completamente achatados 5,9 ! Xp mentais (30).
Dsppt = ln (4.000 x ) (3)
e encruados imediatamente antes x Os aços microligados também
de sua transformação, proporcio- podem apresentar o endureci-
nando inúmeros pontos propícios onde ∆σppt é o endurecimento por mento por discordâncias ∆σdisc, o
para a nucleação de ferrita durante precipitação, Xp é a fração de pre- qual ocorre se a microestrutura
o resfriamento posterior. Dessa cipitados na microestrutura e x é o desse material apresentar consti-
forma, ela dá origem a uma mi- diâmetro médio do intercepto pla- tuintes formados sob temperaturas
croestrutura ferrítica intensamente nar dos precipitados. Esta fórmula relativamente baixas, como, por
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Fig. 3 – a) Representação esquemática da topologia da microestrutura bifásica (20); b) comparação entre as curvas tensão versus deformação,
determinadas por ensaio de tração, para os aços ao C, microligado e bifásico (11)
exemplo, ferrita acicular ou bainita. mente baixas, formando constituin- do que as ferríticas ou ferrítico-
A ferrita acicular, ao contrário da tes aciculares, como ferrita acicular, perlíticas normalmente presentes
poligonal, contém discordâncias bainita ou mesmo martensita. O nas ligas comuns de baixo C. Essa
em sua estrutura que aumentam volume desses constituintes é sig- abordagem está baseada nas
sua resistência mecânica. O efeito nificativamente maior em relação interações mais complexas que
de endurecimento é diretamente à austenita que lhes deu origem. ocorrem entre vários constituintes
proporcional à raiz quadrada da Isso gera tensões de compressão presentes na microestrutura, os
densidade de discordâncias ρ pre- na matriz de ferrita poligonal já quais, por sua vez, também devem
sente na microestrutura: existente, deformando-a local- apresentar variações significativas
mente e gerando discordâncias – o de dureza entre si. No final da
Dsdisc = kdisc ! r (4) que também exerce efeito endure- década de 1970 surgiu o primeiro
cedor(30). desenvolvimento nesse sentido, o
onde kdisc é uma constante que Por outro lado, a resistência assim chamado aço bifásico (dual
depende do aço em questão. mecânica significativamente maior phase), que, como seu nome dá a
Eventualmente, esse tipo de en- dos aços microligados é conse- entender, apresenta microestrutura
durecimento pode ocorrer na pró- guida, infelizmente, às custas de constituída por uma matriz com 80
pria ferrita poligonal, que original- sua conformabilidade a frio, que é a 85% de ferrita poligonal macia
mente está isenta de discordâncias. significativamente pior em relação somada a 15 a 20% de martensita
Por exemplo, em determinados aos aços comuns ao C. A solução dura (31).
aços, a transformação da auste- deste problema requereu novas Hornbogen definiu a microes-
nita dá origem a grandes frações abordagens metalúrgicas, como trutura bifásica como uma fusão
de ferrita poligonal, formada sob será visto a seguir. das três morfologias básicas das
temperaturas relativamente altas. microestruturas com duas fases:
Contudo, o C rejeitado durante Aços bifásicos duplex, dispersão e em rede. Por
essa transformação se concentra (dual phase) esse motivo, a microestrutura
numa pequena fração de austenita bifásica reúne as características
remanescente, que assim ganha Um dos recursos disponíveis para topológicas peculiares de cada tipo
temperabilidade e se estabiliza, maximizar simultaneamente a de morfologia, conforme mostra a
momentaneamente. Dessa forma, ductilidade e a resistência mecâ- figura 3a. Como ocorre com a mi-
ela só irá se transformar posterior- nica dos aços consiste no uso de croestrutura duplex, na bifásica as
mente, sob temperaturas relativa- microestruturas mais complexas quantidades de grãos por volume
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das duas fases são iguais; logo, as baixa razão elástica, entre 0,5 e limite de escoamento e suprimem
razões entre os volumes dos grãos 0,6; e alongamento total superior a a ocorrência de patamar. Um res-
das duas fases, e entre suas frações 27%. A figura 3b (pág. 34) permite friamento lento após a formação
em volume, devem ser iguais. Da a comparação das curvas típicas, da martensita pode proporcionar
microestrutura em dispersão tem- obtidas em ensaios de tração, a redução da fragilidade da mar-
se que na bifásica a segunda fase para aços ao C, microligados e tensita recém-formada por meio
dura deve ser totalmente isolada bifásicos. Como se pode observar, de efeitos de revenido. Durante a
pela fase-matriz macia, o que ga- o aço bifásico representa um caso deformação plástica, o escoamento
rante a ductilidade e a conforma- intermediário entre os outros dois da matriz ferrítica macia através das
bilidade do material. Finalmente, materiais, apresentando nível de “ilhas” de martensita dura encrua
da mesma forma como ocorre resistência mecânica similar ao do significativamente o material, con-
com a microestrutura em rede, na aço microligado, mas ductilidade tribuindo para aumentar sua resis-
bifásica a segunda fase se localiza mais próxima à do aço ao C(10). tência mecânica. A figura 4 (pág.
exclusivamente nos contornos de Durante a produção dos aços bi- 38) mostra, esquematicamente, o
grão da fase-matriz (20,13). fásicos, tanto na laminação de tiras efeito dos vários parâmetros micro-
A microestrutura bifásica, com a quente quanto no recozimento estruturais sobre as propriedades
seu arranjo particular de ilhas duras contínuo, a matriz ferrítica se forma mecânicas do aço bifásico (25).
dispersas numa matriz macia, apre- em primeiro lugar, enriquecendo Nos aços ferríticos com baixo C,
senta uma série de características a austenita remanescente com C de alta estampabilidade, as correla-
mecânicas que lhe asseguram boa e outros elementos de liga. Esta, ções entre propriedades mecânicas
conformabilidade: escoamento por sua vez, ganha temperabilidade e microestrutura são relativamente
contínuo (ou seja, ausência do suficiente para se transformar mais simples, já que esta é caracterizada
patamar de escoamento típico dos tarde em martensita, sob tempera- apenas pelo tamanho e o formato
aços ferrítico-perlíticos, mesmo mi- turas muito mais baixas. Essa trans- de seus grãos, bem como de sua
croligados); limite de escoamento formação atrasada da martensita textura cristalográfica. A situação
(a 0,2% de deformação) entre 300 induz tensões residuais de com- se complica no caso dos aços bifá-
e 380 MPa; alto coeficiente de en- pressão na matriz ferrítica, as quais sicos, já que a caracterização este-
cruamento n, entre 0,2 e 0,3; limite facilitam o processo de escoamento reológica de sua microestrutura é
de resistência entre 620 e 655 MPa; e, dessa forma, reduzem o valor do mais complexa: envolve parâmetros
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!
fb
fases, a razão entre suas durezas, Dsdisc = k (5)
o caminho livre médio da ferrita e db
o grau de contigüidade entre as
duas fases (13). onde k é uma constante empí-
Em primeiro lugar, a relação rica, fβ é a fração de martensita
de Hall-Petch é ligeiramente dife- presente na microestrutura e d β é
rente no caso dos aços bifásicos: seu tamanho de grão. Ou seja, o
o caminho livre médio disponível encruamento de um aço bifásico
para a migração das discordân- é proporcional à raiz quadrada
cias é delimitado pelos contornos da fração de martensita presente
ferrita-martensita, e não mais na microestrutura e inverso ao de
pelos contornos de grão ferríti- seu tamanho de grão. O cálculo
cos (25) . Assim sendo, a equação do limite de resistência dos aços
de Hall-Petch continua válida, bifásicos pode ser feito com pre-
só que o valor do tamanho de cisão levando-se em conta duas
grão d deve ser substituído pela contribuições: a relação de Hall-
distância livre ferrítica média Petch, porém com a distância livre
L ∝∝, o que já foi demonstrado ferrítica média em vez do tamanho
experimentalmente (24, 12) . de grão, e o modelo de Ashby. É in-
O cálculo do limite de resistên- teressante notar que o coeficiente
cia para o caso dos aços bifásicos de encruamento também pode ser
também deve levar em conta o en- calculado por uma equação com
cruamento ou endurecimento que formato semelhante ao usado para
ocorre no material por discordân- o limite de resistência. Por sua vez,
cias ∆σdisc. Foi constatado que esse o alongamento uniforme é direta-
encruamento pode ser expresso mente proporcional ao caminho
pelo modelo de Ashby (2, 24): livre ferrítico médio (24, 11, 12).
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Em meados da década de 1980 a qual proporciona limite de es- à dilatação que ocorre durante a
foi desenvolvida uma variante de coamento entre 450 e 550 MPa, transformação da austenita CFC
aço bifásico na qual a martensita limite de resistência entre 550 e para a ferrita CCC, e foi designado
presente como segunda fase foi 650 MPa, razão elástica menor ou pela sigla TRIP: transformation-
substituída pela bainita. Essa evo- igual a 85% e alongamento total induced-plasticity, ou plasticidade
lução foi motivada pelo fato de que mínimo de 25%. Um exemplo des- induzida por transformação (40).
a microestrutura ferrítica-bainítica se material, obtido por laminação O desenvolvimento bem sucedi-
apresenta menor número de locais a quente, apresenta a seguinte do das chapas de aço bifásico mo-
em que ocorre concentração de composição química: 0,05% C, tivou a busca por outros recursos
tensão e deformação, uma vez 1,60% Mn, 0,49% Si, 0,033% Al microestruturais que promovessem
que é mais uniforme do que a e 0,025% Nb (38, 15). aumento na ductilidade em aços
ferrítica-martensítica. Isso propor- com alta resistência mecânica. No
ciona melhores características de Aços multifásicos final da década de 1980, Matsu-
ductilidade e tenacidade à chapa, mura e outros mostraram, pela
fato de grande importância em Em 1967, Zackay e outros mos- primeira vez, que era possível apli-
aplicações como a fabricação de traram que é possível obter altos car o conceito TRIP para aumentar
rodas automotivas, devido à maior valores de alongamento num aço a ductilidade em chapas de aço de
capacidade de expansão de orifício austenítico se, durante o processo baixo C ao Si e Mn, processadas
desse material. Um aço ferrítico- de deformação sob temperatura por recozimento contínuo, de for-
bainítico ideal para esta aplicação ambiente, ocorrer transformação ma a apresentar até 20% de auste-
deve apresentar microestrutura contínua da austenita para marten- nita retida em sua microestrutura.
ferrítica com 10 a 15% de bainita, sita. Esse fenômeno foi atribuído O principal desafio metalúrgico
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neste caso foi conseguir estabi- de recozimento contínuo (processo tilidade do aço TRIP em relação aos
lizar, sob temperatura ambiente, em que o resfriamento da tira deve microligados e bifásicos (26, 4, 22, 6).
uma quantidade considerável de incluir um tratamento adicional de A deformação provocada pela
austenita, que permitisse elevar superenvelhecimento com esse transformação da austenita retida
significativamente o alongamento mesmo objetivo. em martensita não explica total-
do material. Isso pode ser feito A redução do tamanho de grão mente os altos valores de alonga-
submetendo o material a um ciclo da austenita retida também con- mento uniforme obtidos nos aços
de resfriamento a partir de seu tribui para elevar sua estabilidade, TRIP, os quais oscilam entre 15 e
estado austenítico, que permita a por meio da diminuição da tempe- 30%. Nos aços de baixo C com
permanência, durante um período ratura Ms. Ao final desse processo efeito TRIP essa transformação
significativo de tempo, dentro tem-se uma microestrutura multi- promove deformação por tração de
do campo bainítico do diagrama fásica, geralmente constituída de apenas 2%, devido às frações mui-
TRC, de forma a proporcionar 50 a 60% de ferrita, 25 a 40% de to baixas de austenita retida pre-
suficiente enriquecimento de car- bainita e 5 a 15% de austenita reti- sentes na microestrutura. A maior
bono à austenita remanescente da, que proporciona a esse material contribuição para a ductilidade
e estabilizá-la sob temperatura limites de resistência da ordem de desse material é o maior coeficiente
ambiente. Este material pode ser 600 a 800 MPa. É interessante de encruamento, devido à forma-
produzido diretamente por lami- notar que frações de austenita ção progressiva de martensita dura
nação de tiras a quente (quando retida superiores a 20% degradam ao longo de toda a deformação,
o resfriamento lento da bobina a conformabilidade a frio dos aços conforme mostrado na figura 5b.
garante o enriquecimento de C da TRIP. A figura 5a (pág. 42) mostra As discordâncias criadas pela trans-
austenita remanescente) ou a partir a maior resistência mecânica e duc- formação martensítica na ferrita
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Fig. 5 – Comparação entre: a) curvas tensão versus deformação e b) coeficientes diferenciais de encruamento n determinados por ensaios de tração
de aços ARBL, bifásico e TRIP com níveis similares de limite de escoamento (4)
também possuem papel importan- como é o caso dos aços TRIP, pare- Os aços de fase complexa (Com-
te na definição da ductilidade dos ce ser uma contradição. Isso pode plex Phase, CP), surgidos na segun-
aços TRIP, pois também contribuem ser explicado pelo pequeno tama- da metade da década de 1990,
para o encruamento. nho de grão da austenita retida, o representam uma transição entre
Se, por acaso, a transformação qual torna difícil a transferência de os aços TRIP e os materiais com
ocorrer inteiramente logo no início carga desde a matriz da microes- ultra-alta resistência mecânica. A
da deformação a frio, o material trutura multifásica até a martensita exemplo dos aços TRIP, sua micro-
não apresentará alta ductilidade. frágil que se forma durante a de- estrutura é multifásica, mas não se
É necessário que a austenita se formação a frio. Portanto, o refino observa a presença de austenita
mantenha estável até serem atin- da microestrutura dos aços TRIP é retida, o que leva a maiores valores
gidos altos graus de deformação duplamente importante, garantin- de resistência mecânica com menor
a frio, já que essa fase retarda o do simultaneamente a estabilidade ductilidade. Esta fase é substituída
processo de estricção que ocorre da austenita retida e a imunidade por outras mais duras, o que permi-
sob solicitações de tração por à fragilidade que poderia ser indu- te que esse tipo de chapa consiga
meio de sua transformação em zida pela presença de martensita limites de resistência da ordem
martensita nos pontos do mate- não-revenida (3, 22, 7). de 800 a 1.000 MPa em razão da
rial onde ocorrem concentrações O desenvolvimento de corre- presença de 80 a 90% de bainita, 5
de tensão. Ou seja, é importante lações entre as propriedades me- a 10% de ferrita e 5 a 10% de mar-
retardar a transformação da aus- cânicas e microestrutura nos aços tensita. Dessa forma, os aços de
tenita retida até os estágios finais TRIP é uma tarefa complicada, já fase complexa são particularmente
da deformação, quando ocorre que este tipo de material apresenta adequados para a manufatura dos
acúmulo significativo de danos alterações dinâmicas em seus pa- componentes necessários para
no aço. É justamente nesse ponto râmetros microestruturais durante garantir a segurança dos ocupantes
que o benéfico efeito TRIP pode a conformação a frio – ou seja, a de modernos veículos automotivos
ser maximizado. Por esse motivo, transformação da austenita retida em caso de acidentes, como barras
a adição de Si e o enriquecimento em martensita, que é função de anti-colisão em portas, pára-cho-
adequado de C da austenita re- sua estabilidade. A complexidade ques e a chamada “coluna B”.
tida são vitais para assegurar um das interações microestruturais e a Neste caso, a composição química
nível adequado de estabilidade na curta existência comercial dos aços e o processamento do material são
austenita retida e garantir a alta TRIP impediram, até o momento, concebidos de forma a reduzir a es-
ductilidade desse material. o desenvolvimento de correlações tabilidade da austenita, formando
A presença de martensita de alto quantitativas consagradas entre constituintes duros para que seja
C não-revenida (e, portanto, frágil) propriedades mecânicas e micro- atingida a resistência mecânica
num material com alta ductilidade, estruturas (5, 6). necessária (18).
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Tab. 2 – Comparação entre as propriedades de bobinas a quente para aplicação em
longarinas automotivas feitas com o novo aço Super HSLA (com grão ultra-fino) e com
aço convencional (32)
LE LR RE AT l LF
Grau Tipo de aço
(MPa) (MPa) (%) (%) (MPa)
aços com grão ultra-fino foi muito
Super HSLA 480 600 0,80 31 120 280
alta, quase igual a 1,0, enquanto 590 MPa
Convencional 510 600 0,85 27 60 250
os aços convencionais apresentam Super HSLA 690 790 0,87 22 80 370
valores da ordem de 0,7. No caso 780 MPa
Convencional 710 790 0,90 20 40 310
específico da figura 8, a razão de
escoamento elevou-se de 0,69 para total, enquanto a segunda requer níveis de alongamento total e
0,90 com a redução do tamanho alta capacidade de expansão de razão de expansão de orifício são
de grão de 6,8 µm para 1,3 µm. orifício (hole expansion). É difícil superiores aos do material con-
Infelizmente, também foi compro- melhorar simultaneamente esses vencional, especialmente no caso
vada a perda de ductilidade que dois quesitos de conformabilidade. deste último parâmetro. A resis-
já era prevista para esse tipo de Sabe-se que o refino do tamanho tência à flexão por fadiga também
material com microestrutura refi- de grão melhora as características foi maior no caso do material com
nada, conforme também mostra da expansão de orifício, o que mo- grão ultra-fino; essa característica
a figura 8: a redução no tamanho tiva o uso de microestruturas com é particularmente interessante no
de grão de 6,8 µm para 1,3 µm grãos ultra-finos nas chapas para caso das longarinas automotivas,
diminuiu o alongamento total de longarinas automotivas – as quais, que são intensamente flexionadas
30% para menos de 20%. E, o que por sua vez, degradam os valores durante sua vida útil (32).
é pior, boa parte da plasticidade de alongamento total. Portanto, a
– ou mesmo toda ela – que se ob- conciliação desses dois requisitos Conclusões
servou para este tipo de material de conformabilidade requer uma
ocorreu ao longo de seu patamar microestrutura que apresente É gratificante observar que con-
de escoamento, ou seja, sob ação tamanho de grão ultra-fino, mas ceitos metalúrgicos fundamentais,
das bandas de Lüders. Isso significa que inclua outras características alguns deles propostos há várias
que a deformação do material se microestruturais que anulem seu décadas, vêm sendo progressi-
dá de forma muito heterogênea, efeito deletério sobre o alonga- vamente aplicados para tornar
prejudicando gravemente sua mento total. as chapas de aço cada vez mais
conformabilidade a frio. Portanto, Este novo produto da JFE, fabri- competitivas frente aos materiais
é necessário recorrer à engenharia cado em duas classes de resistência alternativos que estão surgindo.
microestrutural para aproveitar o mecânica (limite de resistência de O desenvolvimento de novos tipos
efeito endurecedor e tenacificante 590 MPa ou 780 MPa), recebeu o de aços planos com resistência
do refino de grão sem, contudo, nome de Super HSLA. Seu tamanho mecânica cada vez maior, mas
perder a conformabilidade do ma- de grão é de, aproximadamente, simultaneamente garantindo níveis
terial. Isso pode ser conseguido, 2 µm, bem menor do que os 6 a satisfatórios de ductilidade e tena-
por exemplo, pela introdução de 7 µm conseguidos na versão con- cidade, está permitindo à indústria
fase martensítica ou dispersões de vencional. Análises de difração de automobilística reduzir o peso de
precipitados na microestrutura com elétrons retro-espalhados (EBSD) seus produtos sem sacrifício de
grãos ultra-finos (21, 35, 35, 16). demonstraram que os contornos desempenho nem de sua liberda-
Um exemplo desta abordagem entre os grãos ultra-finos apre- de de design. Essa evolução, que
foi relatado pela empresa JFE Steel sentavam diferença de orientação já ocorre há décadas, não mostra
(antiga Kawasaki Steel), que desen- superior a 15°, confirmando que sinais de término, já que o esforço
volveu bobinas laminadas a quente os mesmos foram formados por tecnológico para a viabilização
destinadas à fabricação de longari- recristalização plena. De acordo industrial e comercial de novos
nas automotivas usando o conceito com os resultados obtidos neste conceitos metalúrgicos continua a
de grão ultra-fino. Esta aplicação desenvolvimento, mostrados na pleno vapor. As indústrias e insti-
requer a conformação de flanges tabela 2, o novo aço apresentou tuições de pesquisa que pretendam
por dobramento e a execução de limite de escoamento ligeiramente ter papel de destaque nesses de-
orifícios por puncionamento. A menor em relação ao material senvolvimentos precisam aprimorar
primeira operação requer chapas tradicional, o que contribuiu para seus recursos de simulação de
com alto índice de alongamento reduzir sua razão elástica. Seus processos, ensaios de caracteriza-
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ção e simulação matemática para 6) Bleck, W.; Papaefthymiou, S.; Frehn, A. Laminado a Quente. In: 1º Seminário
Microstructure and Tensile Properties sobre Chapas Metálicas para a Indústria
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