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Carmópolis
Trata-se de Ação Civil de Improbidade Administrativa ajuizada contra Esmeralda Mara Silva
Cruz e Wilamis Andrade Santos por atos que causaram supostos prejuízo ao erário e
atentaram contra princípios da administração pública, pugnando liminarmente a decretação da
indisponibilidade de bens e valores dos demandados em valor suficiente para cobrir a total
devolução das quantias despendidas com os contratos guerreados nesta demanda, que
somam o valor atualizado de R$1.226.057,58 (um milhão duzentos e vinte e seis mil e
cinquenta e sete reais e cinquenta e oito centavos).
A análise do pedido de liminar foi diferido para após a da manifestação dos requeridos.
Manifestação do réu Wilamis Andrade Santos às páginas 423 e seguintes, seguida de nova
manifestação do Ministério Público (p. 432/435).
Na decisão de páginas 439/ foi concedida a liminar de expedida ordem de bloqueio de imóveis
pelo Cadastro Nacional de Indisponibilidade de Bens – CNIB no valor limite de R$1.226.057,58
(um milhão duzentos e vinte e seis mil e cinquenta e sete reais e cinquenta e oito centavos).
Na contestação de p. 511 e seguintes, o réu Wilamis Andrade Santos aduziu não ser parte
legitimada passiva por não ter praticado ato ímprobo.
A ré Esmeralda Mara Silva Cruz, por seu turno, refere-se à regularidade da contratação de
shows em “Capela” e que a Delegacia de Crimes contra a Ordem Tributária e Administração
Pública – DEOTAP, concluiu inexistir crime na conduta apontada, parecendo referir-se a ação
diversa da presente.
No que pertine ao mérito, afirma que a Resolução 298 do Tribunal de Contas do Estado
regulamenta a prática de contratação de shows artísticos mediante dispensa de licitação.
Também alega que a ré, gestora, não participou dolosamente do ato questionado, inexistindo
prova nesse sentido.
Por fim, salienta que se tratava da hipótese de dispensa de licitação para contratação da
referida banda porquanto ela é consagrada pela opinião pública e o valor daquela estava dentro
do valor de mercado.
Depósito judicial apresentado pelo segundo réu à p. 617 e promovido o desbloqueio de bens
conforme decisão de p. 622 e cumprida conforme averbação à p. 633 e 636.
Ofício da Banda Calcinha Preta à p. 829 onde informa que recebeu a importância de R$ 70 mil
reais como cachê pelo show cuja contratação é questionada na presente ação.
Nova manifestação da ré Esmeralda Mara Cruz à p. 867 e do réu Wilamis Andrade Santos à pp
869/875.
Nos termos do art. 37, XXI, da CF, ressalvados os casos específicos, as obras, serviços,
compras e alienações, serão contratados pela Administração Pública mediante processo de
licitação pública que assegurem a igualdade de condições a todos que concorrerem. Ademais,
não se pode olvidar que os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência são de observância obrigatória quando do exercício na Administração Pública.
Sob o argumento de ser inexigível a licitação para contratação de profissional de setor artístico
quando esse seja consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública, podendo ser
diretamente ou através de empresário exclusivo, a primeira ré, então gestora municipal,
contratou o segundo requerido pelas empresas SELL SERVIÇOS DE LIMPEZA E LOCAÇÃO
LTDA e MEGA EMPREENDIMENTOS PROPAGANDA E EVENTOS LTDA
Com efeito, prevê o art. 25, III da Lei nº 8.666/93, o qual dispõe o seguinte: “Art. 25. É inexigível
a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial: (...) III - para contratação
de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo,
desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.”
O contrato firmado através da gestora pública, primeira ré, e a empresa do segundo réu (p. 68
e seguintes) tem como valor para prestação dos serviços da banda ‘Calcinha Preta’ o valor
global de R$ 70 mil reais. A referida banda, por seu turno, afirmou a este Juízo, em ofício, ter
sido esse o exato valor de seu cachê, nada obstante as alegações da parte ré no sentido de
que o valor global compreendia todas as despesas de transporte de artistas e cenário,
hospedagem e alimentação além da montagem das estruturas necessárias ao show. Assim,
não restou demonstrada a necessidade de contratação mediante intermediário.
Já a outra contratação firmada através da gestora municipal, primeira ré, e a empresa Mega
Empreendimentos Propaganda e Eventos no valor global de R$ 790 mil reais, de igual modo,
traz apenas as Declarações de Exclusividade firmadas pelos empresários das bandas Rojão
Diferente, Capital Inicial, Dupla Cesar Menotti e Fabiano, Sorriso Maroto, Alexandre Pires
(páginas 100 e seguintes), seguida da Justificativa de p. 113 e do parecer jurídico de páginas
120/126.
A nota fiscal de p. 269 demonstra o quanto foi pago à Dupla César Menotti e Fabiano.
Nada obstante a inadequação da redação da Lei de Licitações no artigo 25, III, há que se
destacar qual o sentido da norma que prevê a contratação direta de artistas e quais seus
limites, pois:
“(…) o pressuposto para que o profissional do setor artístico seja contratado, através da
inexigibilidade licitatória, é a inviabilidade de se realizar uma escolha minimamente objetiva do
serviço almejado, bem como o fato de ser pouco provável que um artista, consagrado pela
opinião pública, submeta-se a um certame para sua contratação. Pensando dessa forma,
passaremos a ter uma adequada leitura deste inciso, não restando dúvida de que tal
inviabilidade não deve ser reflexo da espécie de profissional envolvido (artista), mas de uma
impossibilidade de que se possa realizar uma aferição objetiva, para seleção dentro dessa
espécie de contratação, dada a subjetividade natural ao gosto pelas artes. Some-se a isso a
necessidade de consagração pela crítica especializada ou pela opinião pública, e, então,
poderemos ter uma idéia correta acerca da aplicação dessa hipótese de contratação direta
O que não se pode é admitir que sejam feitas contratações de artistas sem consagração
relevante sob o falso pálio de permissão dada pelo inciso III, do caput, do artigo 25, pelo
simples fato de serem profissionais do setor artístico. Com base nesse raciocínio
equivocado, favorecido pela omissão de alguns órgãos de controle, são diariamente
contratados artistas e bandas musicais de todos os tipos e gostos, por valores que variam de
acordo com o interesse do gestor ou de espúrios ‘acordos empresariais’. São comuns as
denúncias de contratações de um mesmo grupo musical, com valores totalmente destoantes,
fato aberrante sobre o qual se omitem algumas autoridades
Quando a contratação, por inexigibilidade, de profissional do setor artístico se der por meio de
intermediário, deve-se exigir a comprovação da existência de contrato de exclusividade entre a
empresa ou o empresário contratado e o artista, ‘não sendo suficiente documento que confere
exclusividade apenas para o dia da apresentação e restrita à localidade do evento’. Segundo o
TCU, na contratação direta de artistas consagrados (…) por meio de intermediários ou
representantes, deve ser apresentada cópia do contrato de exclusividade dos artistas
com o empresário contratado registrado em cartório. Ademais, o Tribunal entende que ‘o
contrato de exclusividade difere da autorização que assegura exclusividade para os dias
Após a instrução, ficou provado que as contratações foram realizadas irregularmente pois os
contratos foram firmados com meros intermediários autorizados pelas empresárias exclusivas
dos artistas e bandas, não se enquadrando, destarte, na hipótese de inexigibilidade
estabelecida no art. 25, III da Lei nº 8.666/93, e que não houve a justificativa do preço exigida
no art. 26, III, da mesma lei.
Assim, não foram preenchidos os requisitos do inciso III do art. 25 da Lei nº 8.666/93 uma vez
que a contratação não foi diretamente com os artistas ou através de empresário exclusivo, mas
sim por meio de pessoa interposta.
Dispensa indevida de licitação é fato configurador de improbidade, ilícito civil tipificado no artigo
10º, VIII, da Lei nº 8.429/92:
Art. 1º - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não,
contra a Administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
Estado, do Distrito Federal, dos Municípios, de Territórios, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio ou erário haja concorrido ou
concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta
lei.(...)
Art. 10º - Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação
ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta
lei, e notadamente:
(...)
(...)
Confrontando as normas legais descritas com os fatos acima comprovados, tem-se como
conclusão inegável que a conduta da ré no exercício do cargo de Prefeita Municipal faz
enquadrá-la como tendo praticado a improbidade administrativa apontada nas citadas normas.
De igual modo, por força dos artigos 1º, parágrafo único, da Lei de Improbidade, e 25, §2º, da
Lei de Licitações, respondem não apenas a gestora municipal, mas também o prestador de
serviços ou fornecedor de forma solidária.
Ademais, não apresentando os réus defesa senão de maneira formal, não se desincumbindo
do ônus da impugnação especificada dos fatos nem atendendo ao ônus de provar os fatos
alegados em sua defesa com documentos que lhes amparasse, faz presumir como verdadeira
a afirmação da inicial.
A inobservância das regras de legalidade e moralidade dos atos por parte do gestor da coisa
pública, independente do valor nominal do patrimônio agredido ou dilapidado, faz gerar prejuízo
incalculável, por criar e reforçar a presunção de que qualquer cidadão poderá, também,
apropriar-se da coisa comum, porque contribuinte e inspirado no modelo apresentado por um
ocupante do cargo executivo mais alto do Município. Por tal motivo desejou o legislador da lei
n.º 8.429/92 alcançar o ato do gestor do bem público, independentemente da existência de
prejuízo causados ao erário, dada a visão moralizadora dessa, como deixou claro no seu artigo
21, I.
Diante de tais fundamentos e das evidências trazidas aos autos pelos documentos acostados,
observada a gradação da ilicitude praticada, ainda a sua repercussão no patrimônio Público
imaterial, haja vista a violação de seus princípios norteadores, para prejuízo moral da
comunidade; observado também, o caráter doutrinador, testemunhal e moralizador que deve
ser alcançado por decisões deste jaez, JULGO PROCEDENTE OS PEDIDOS CONTIDOS NA
AÇÃO e declaro, na forma do pedido, que os réus praticaram os atos de improbidade
administrativa definidos como tal no artigo 10º, VIII, da Lei 8.429/92, e condeno Esmeralda
Mara Silva Cruz e Wilamis Andrade Santos nas sanções previstas no art. 12, II da referida lei
a: 1) RESSARCIREM INTEGRALMENTE O DANO no valor de R$1.226.057,58 (um milhão
duzentos e vinte e seis mil e cinquenta e sete reais e cinquenta e oito centavos),
devidamente atualizado desde seu desembolso até a data do efetivo cumprimento desta
sentença; 2) ter suspensos os seus direitos políticos pelo prazo de 05 (cinco) anos; 3)
perda da função pública que porventura exerçam atualmente; 4) proibição de, por 05 (cinco
) anos, de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por meio de pessoa jurídica da qual sejam
sócios;5) pagamento de multa civil no valor histórico de R$ 70.000,00 (setenta mil reais)a
ser pago por cada um dos réus, atualizado desde a data da propositura da ação até a
prolação desta sentença.
Condeno os réus, ainda, ao pagamento das custas processuais no prazo de 10 (dez) dias. Não
efetuado o pagamento nesse prazo, oficie-se à Procuradoria do Estado para execução.