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3.1. INTRODUÇÃO
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Dada a índole deste curso, limitar-nos-emos à abordagem macrofísica.
O comportamento dos materiais reais (e, em particular das rochas) é, habitualmente,
muito complexo. Essa complexidade resulta de dois factores intrínsecos: a heterogeneidade e a
anisotropia mecânica das rochas. Além disso, quando pretende relacionar a deformação natural
de uma rocha com o estado de tensão ocasionador, o geólogo não pode esquecer o carácter
progressivo da deformação e a certeza da variação do estado de tensão, no espaço e no tempo.
No caso de uma rocha, mesmo que se admita que tenha sido originalmente homogénea
(distribuição estatisticamente uniforme dos diversos minerais, de pequeno diâmetro granular) e
isotrópica (grãos cristalinos aleatoriamente orientados), com o decorrer da deformação ela
tenderá a adquirir uma anisotropia de “fábrica”, resultante da deformação dos grãos cristalinos e
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da sua reorientação segundo direcções preferenciais, relacionadas com o estado de tensão
actuante. As relações entre o estado de tensão e o estado de deformação são, pois, muito
complexas e variáveis durante a história da deformação da rocha. Por essa razão, para a
Fig. 3.1- a)Trajectórias de tensão (traços perpendiculares a σ1) e b) de deformação (traços paralelos a λ1) , numa
dobra
e no meio circundante, obtidas por simulação em computador (Dieterich, Am.Jour.Sci. , 267(2), 1969)
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Além dos factores intrínsecos referidos, muitos factores ambientais afectam o
comportamento reológico (macrofísico) das rochas. Entre esses factores extrínsecos, têm-se
salientado os seguintes:
i. a temperatura;
ii. a pressão confinante;
iii. a velocidade de deformação;
iv. a presença de água e o ambiente químico em geral.
Aos dois primeiros factores associa-se a noção clássica (a rever criticamente) de nível
estrutural. Segundo essa noção geral, o comportamento reológico das rochas depende da
profundidade a que elas se encontrem. Assim, a partir de profundidades relativamente
moderadas da crusta, as rochas tenderão a fluir e a sofrer intensa deformação permanente,
enquanto que nos níveis superiores da crusta elas dobram e fracturam, ou só fracturam.
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3.2. COMPORTAMENTO REOLÓGICO DAS ROCHAS
A maioria dos dados sobre o comportamento reológico das rochas tem sido obtida
recorrendo a aparelhos em que, além da aplicação de uma compressão ou de uma tracção axial,
o provete de ensaio (tipicamente, uma amostra cilíndrica do material, de comprimento duas a
três vezes maior que o diâmetro da base) é submetido a uma pressão lateral, controlada
externamente, através da injecção de um líquido que preenche a câmara, onde aquele provete
está colocado. O seu ambiente químico e a temperatura ambiente são, portanto, também
controláveis. A fim de evitar a penetração do líquido na amostra, esta é revestida por uma
membrana flexível de cobre ou de borracha. Além disso, é possível estabelecer uma pressão
intersticial, ou seja, uma pressão exercida, no interior da amostra, por um líquido que preencha
os seus poros (v. Fig. 3.2.).
σ1
manómetro
câmara
S3
amostra
σ3
Note-se que, nestes ensaios triaxiais, duas das tensões principais são sempre iguais:
constituem a chamada pressão confinante (S3, tensão imposta externamente; σ3, a tensão a que,
realmente, a amostra fica submetida).
Com estes aparelhos torna-se fácil registar a variação da deformação com a tensão,
tendo-se verificado que as curvas obtidas para as rochas tinham uma forma análoga às
encontradas nos ensaios com metais.
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3.2.1. COMPORTAMENTOS REOLÓGICOS IDEAIS
3.2.1.1. Comportamento elástico
σz
σz
ε
εz εx =εy
0
t0 t1 0 ε
Tempo
a) b)
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Frequentemente, usa-se o recíproco de ν, ou seja, o número de Poisson (m):
εz
m= (3.4)
εx
τ
tg–1 G
γ = tg ψ
γ ψ
Fig. 3.4- Representação da relação τ−γ num sólido hookeano: definição do módulo de rigidez (v. texto)
No Quadro 3.1, indicam-se alguns valores destas constantes, para diversos materiais.
1
Do que ficou dito, depreende-se que G se pode determinar em função de E e de ν: G = Ε / 2 (1+ ν).
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Quadro 3.1- Módulo de Young (E), número de Poisson (m) e rigidez (G) para alguns
materiais
εΕ
εΑ
εΕ
to t1 TEMPO
84
3.2.1.2. Comportamento plástico
σ σ σ
σ0
ε ε ε
a) b) c)
Fig. 3.6.- Representação esquemática de comportamentos plásticos: a) sólido idealmente plástico (rígido, plástico);
b) sólido elástico-plástico; c) sólido elástico-plástico, com enrijecimento de deformação
Essa tensão σ0, a que o material passa a deformar-se continuamente (até que se dê a
rotura) designa-se por ponto ou tensão de cedência. Esta tensão não depende do estado de
tensão hidrostático, mas depende de vários factores ambientais. Nomeadamente, ele baixa
quando a temperatura sobe, ou quando a pressão confinante diminui, ou quando a velocidade
de deformação diminui (Fig. 3.7.)
Um comportamento plástico, em que, atingido o ponto de cedência, a recta σ(ε) tem
um declive nulo, ocorre em rochas a elevada temperatura. A temperaturas moderadas, aquele
sector adquire um declive positivo, ou seja, o prosseguimento da deformação exige um
constante aumento da tensão aplicada: é o fenómeno do enrijecimento da deformação (strain
ou work hardening).
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Observações experimentais indicam que, embora a deformação atingida em regime
plástico possa ser muito elevada, ela ocorre, praticamente, a volume constante.
São substâncias de rigidez nula, ou seja, que não oferecem qualquer resistência às
tensões de corte e, portanto, ao menor estado de tensão deviatórico. Se o estado de tensão for
hidrostático, um líquido não fluirá: apenas será algo comprimido.
Tal como num sólido plástico, um líquido viscoso é capaz de suportar extensa deformação
permanente sem perda de continuidade. Sujeito a um estado de tensão deviatórico, um fluido
fluirá com uma velocidade proporcional à intensidade da tensão de corte.
Em muitos líquidos (v. líquido I, Fig. 3.8), essa relação é linear:
τ = η (3.6)
γ
em que η é uma constante material. Um tal líquido dir-se-á newtoniano (ou linearmente
viscoso).
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A constante η, dada pelo declive da curva tensão de corte - velocidade de deformação
de corte, é o coeficiente de viscosidade linear ou newtoniana (ou, simplesmente, viscosidade).
τ I II
γ
Fig. 3.8- Relação tensão de corte-velocidade de deformação de cisalhamento para um fluido newtoniano (I) e
para um fluido não-newtoniano (II). (Cf. Fig.3.4)
sistema SI. Em geral, num fluido newtoniano, a viscosidade diminui quando a temperatura
aumenta.
Um outro tipo de fluidos é aquele em que a viscosidade varia com a velocidade de
deformação, ou seja, em que não é linear a relação τ ( γ ). Tais líquidos (como II na Fig. 3.9.)
dizem-se não-newtonianos. Repare-se que, do ponto de vista reológico, o conceito de sólido é
diferente do de sólido, na acepção estrutural ou cristalográfica. Um sólido pode ser plástico e
distinguir-se-á de um líquido por apenas fluir quando a tensão ultrapassa um valor crítico.
τ I
II
III
γ
Fig.3.9- Distinção entre diferentes comportamentos reológicos ideais: I, sólido plástico; II, fluido não newtoniano;
III, fluido newtoniano
É de notar a analogia físico-matemática entre a viscosidade (η) e a rigidez (G), definida para os sólidos elásticos.
2
87
3.2.2. COMPORTAMENTO DAS ROCHAS - RESULTADOS EXPERIMENTAIS
Nestes ensaios, ressaltam dois tipos distintos de comportamento das rochas: frágil e
dúctil.
O comportamento frágil ocorre quando o material tem um comportamento elástico até
ao momento em que se dá a rotura. Recorde-se que isso significa que a deformação, no
momento da rotura, é muito pequena e teria sido totalmente recuperada, se a tensão fosse
removida, antes de atingir o ponto de rotura do material. A este tipo de comportamento
correspondem curvas σ−ε como as ilustradas na Fig.3.10 : a relação σ−ε (nas rochas, tal como
nos metais) é linear ou quase linear.
A tensão a que se dá a ruína do material (rotura frágil) designa-se por resistência frágil
desse material. Verifica-se que, em geral, a resistência em tracção uniaxial é ca. de duas vezes
menor que a resistência em compressão uniaxial.
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Fig.3.10- Curvas para um quartzito sob diferentes condições de pressão confinante (σ3) (In J.C. Jaeger &
N.G.W. Cook, 1969)
σο
ο
ε
Fig.3.11- Comportamento elástico-plástico de uma rocha
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O comportamento, frágil ou dúctil, de uma dada rocha depende das condições
ambientais. Assim, consoante essas condições, uma rocha pode comportar-se como um
material frágil, semifrágil (ou semidúctil ou frágil-dúctil), ou dúctil. Como se compreende, é da
máxima importância definir, para cada tipo litológico, as condições em que prevalecem os
diferentes regimes. Em particular, define-se a transição frágil-dúctil, isto é, a passagem de um
comportamento frágil a um comportamento dúctil. Evidentemente, a distinção, em geral, não é
clara.
90
A rotura dá-se por corte e ocorre um deslocamento relativo entre os blocos separados
pela superfície de rotura, mais ou menos plana e bem definida.
No regime frágil, a rotura dá-se segundo uma superfície única e praticamente plana,
que contém a direcção de σ2 e inclina ca. de 30°, relativamente a σ1. Na transição frágil-dúctil,
as superfícies de rotura tendem a ser mais numerosas, desenvolvendo-se em dois conjuntos
simetricamente inclinados relativamente a σ1 e contendo σ2. Com a acentuação do carácter
dúctil, tornam-se ainda mais numerosas, até que definem linhas que sulcam um provete
claramente deformado.
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Fig.3.13- Curvas de tensão-deformação para o mármore de Carrara (segundo T. von Karman)
Valores, junto das curvas, são as pressões confinantes, em MPa
Fig.3.14- Influência da temperatura sobre a fluência de granito e piroxenito (seg. Griggs, Turner and Heard) e sobre a
de
um arenito seco (J. Handin e R.V. Hager, Jr., 1958), para ensaios a pressão confinante constante.
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Uma elevação da temperatura faz baixar o ponto de cedência e a pressão confinante
correspondente à transição frágil-dúctil.
A influência da velocidade de deformação, sobre a generalidade das rochas, está
patente na Fig.3.15.
a. b.
Fig.3.15- a) Curvas tensão-deformação obtidas com mármore de Yule, em tracção. (segundo Heard)
b) Registo e extrapolação dos dados experimentais: as rectas a grosso correspondem ao
ajustamento
dos dados à eq. de Dorn e os seus prolongamentos, a extrapolações para menores velocidades
de
deformação (H.C. Heard & C.B. Raleigh).
ε = A e−H/RT σn
3
Se rochas finamente granulares (digamos, de diâmetro granular da ordem da milésima do milímetro, no caso de
quartzitos) têm um comportamento newtoniano (n=1), na maioria dos casos, as rochas têm um comportamento não-
newtoniano (onde, frequentemente, 1<n<5).
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Tal observação permitiu àqueles autores extrapolar os dados experimentais para as
velocidades de deformação tipicamente geológicas. Concluíram que o mármore de Yule, para
tensões acima do ponto de cedência, fluiria a velocidade constante com uma viscosidade
variável desde 1023 P, a 25°C, até 1016 P, a 500°C.
94
a. b.
Note-se que o comportamento de uma rocha depende muito das suas características
particulares (composição mineralógica, textura e estrutura, estado de pureza ou de alteração).
Habitualmente, uma rocha sedimentar é menos resistente que uma rocha magmática que não
seja finamente granular.
Em termos gerais, poderá esperar-se que nas rochas, deformadas a temperatura e
pressões litostáticas baixas (o que se poderá ler como “rocha nos níveis superiores da crosta”)
e a elevada velocidade de deformação, predominam os mecanismos de deformação
cataclástica, em que os seus grãos são fragmentados. Produtos resultantes típicos são os
cataclasitos (como, por exemplo, brechas de falha e outras brechas tectónicas). A este regime
de deformação correspondem estruturas naturais, como diaclases e falhas.
Pelo contrário, temperaturas e pressões litostáticas elevadas e velocidades de
deformação baixas concorrem para um comportamento dúctil. Operam, então, mecanismos de
deformação intracristalina, termicamente activados (nomeadamente, difusão no estado sólido,
fluxo plástico mediante sistemas de escorregamento ou geminações, subgranulação,
escorregamentos intergranulares, recristalização). Produtos típicos serão os milonitos e
estruturas típicas serão as já referidas zonas de cisalhamento dúcteis. Crê-se que estas
prolongarão, em profundidade, as falhas observadas nos níveis superiores da crosta. A
transição das falhas a essas zonas de cisalhamento far-se-ia, a níveis intermédios, através de
zonas de cisalhamento frágeis-dúcteis.
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QUADRO 2.2- Quadro-resumo ilustrando a gama de comportamentos desde o perfeitamente frágil ao
perfeitamente dúctil, em ensaios de compressão e de tracção (seg. D. Griggs e J. Handin)
F R Á G I L
F R Á G I L - DÚCTIL
D Ú C T I L
96
O efeito mecânico da água traduz-se em dois aspectos (v. Fig. 3.17):
i. Reduz a resistência da rocha (ou seja a sua capacidade de suportar uma tensão
diferencial;
ii. Quando a pressão exercida pela água que preenche os poros de uma rocha
(pressão intersticial) tem um valor próximo do da pressão confinante, a rocha (que, a essa
pressão confinante, se comportaria de forma dúctil, quando seca) passa a comportar-se como
frágil.
Fig. 3.17. Efeito da pressão intersticial sobre o Fig. 3.18.- Transição frágil-dúctil para o calcário de
comportamento mecânico de uma rocha Solnhofen (E. Rutter)
97
Este efeito mecânico tem-se verificado não só em ensaios laboratoriais (como a
Fig.3.17 exemplifica), mas também em trabalhos experimentais que envolvem reacções de
desidratação (Fig.3.19). Tais ensaios traduzirão situações naturais, por exemplo, em certo
ambientes de metamorfismo, demonstrando a importância das alterações químico-
mineralógicas no comportamento reológico das rochas.
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Admite-se que, ao dar-se a rotura frágil de uma rocha, existe uma relação entre as
tensões actuantes no momento da rotura. Essa relação constitui um critério de rotura. A
maioria dos critérios de rotura, que têm sido avançados, são empíricos. Um deles, muito usado
em Mecânica das Rochas por ser adequado à rotura em compressão, é o critério de
Coulomb-Navier. Segundo ele, a rotura dá-se independentemente do valor de σ2, quando
| τ | = Co + µ σ (3.9)
Num diagrama τ−σ, este critério é descrito por duas rectas de declive φ = ± tg−1µ e que
intersectam o eixo das ordenadas em ±Co . Este critério, usado em conjugação com um
diagrama de Mohr, permite prever a eventualidade de rotura e a orientação dos dois possíveis
planos de fractura (Fig. 3.20).
σ1
S S’
τ S
II σ3
Co φ I
θ
2θ
σ3 σ1
σ
-Co
S’
Fig. 3.20- Aplicação do critério de rotura de Coulomb-Navier: o estado de tensão descrito pela circunferência I não dá
lugar a rotura; o descrito pela II, dá lugar a rotura segundo S ou S’, que se intersectam segundo σ2 .
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τ
σ1’ = σ1 – p
S σ3’ = σ3 – p
II
I
Co
0
σ3 ’ σ3 σ1 ’ σ1 σ
Fig. 3.21- Influência mecânica da água (lei das tensões efectivas). Para o estado de tensão efectivo
(representado pelo circunferência II) ocorre rotura, ao contrário do que se previria, se se considerasse o estado
de tensão externamente aplicado (descrito por I).
DEFORMAÇÃO PERMANENTE
T3
To T1 T2 TEMPO
Fig. 3.22- Variação ideal da deformação com o tempo num ensaio de fluência (σ constante). Linhas a fino ilustram o
comportamento do material (recuperação da deformação, total ou parcial), quando se anula a tensão exercida.
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Quando, em To se aplica a tensão, o material sofre, instantaneamente, uma
deformação elástica. Segue-se, depois, um período (entre To e T1) em que a velocidade de
deformação decresce com o tempo: fluência primária ou deformação elástica retardada ou de
fluxo elástico, pois, removida a tensão (tal como em T1) há uma recuperação instantânea,
parcial, da deformação, seguida por uma fase de uma total recuperação, mas desacelerada.
Àquela fase segue-se, entre T1 e T3 , um estádio em que a velocidade da deformação
se mantém constante ( ε ): fluência secundária ou estacionária (steady-state creep); a rocha
deforma-se plasticamente e, se se remover a tensão, começa por recuperar instantaneamente
alguma deformação, depois desaceleradamente mais um pouco, subsistindo, no entanto, uma
deformação permanente.
A partir deT3, ocorre uma aceleração da velocidade de deformação (fluência terciária
ou acelerada), até que, finalmente, se dá a rotura do material.
L Í Q U I D O S S Ó L I D O S
ε N-N ε
N
σ σ
a) b)
Fig. 3.23- Comportamento de: a) um líquido newtoniano (N) e de um líquido complexo (não-newtoniano, N-N) ;
b) sólido complexo com aspectos de comportamento viscoso
101
O estádio de fluência estacionária é tido como o mais importante, na história
deformacional de uma rocha.
Os estudos de microfísica têm proposto vários possíveis mecanismos de fluência dos
materiais cristalinos e seus agregados. A maioria deles prevê uma relação não-linear (power-
law creep ) entre tensão e velocidade de deformação, ou seja, uma relação da forma:
ε = K σn (3.10)
n
Fig.3.24- Representação da relação ε = K σ para vários valores de n.
n=1, fluido newtoniano (ou linear);
n>1, fluido não-linear, que apresenta características de sólido (líquido pseudo-plástico), quando
n≥10.
Linha horizontal, a tracejado: corpo perfeitamente plástico.
102
3.3. MODELOS REOLÓGICOS
O comportamento reológico real das rochas, mesmo o obtido em condições
experimentais controladas, é mais complexo que o de qualquer dos comportamentos atrás
referidos: linearmente elástico (sólido hookeano), rígido-plástico (sólido de St. Venant) e
linearmente viscoso (líquido newtoniano). O seu comportamento, numa aproximação mais
perfeita com a realidade, pode ser idealizado através da combinação daquelas três formas
“puras” de comportamento.
MOLA
σo
ELEMENTO de atrito η
AMORTECEDOR
Fig.3.25- Modelos analógicos dos três tipos básicos de comportamento reológico ideal
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MODELO DE MAXWELL
η E
ε
x x
tg−1 σ/η
σ σ/E
TEMPO
a.
MATERIAL DE BINGHAM
ε
σ < σο
σ/E
η E
σο TEMPO
ε
σ > σο
tg−1 σ/η
σ/E
b. TEMPO
Fig.3.26- Exemplos de diagramas analógicos que descrevem diversos possíveis comportamentos reológicos das
rochas.
a) Comportamento elástico-viscoso (modelo de Maxwell): diagrama analógico, variação da deformação (ε ) com o
tempo, após aplicação de uma tensão constante (σ ) e representação gráfica dessa variação.
b) Plástico geral (material de Bingham) que, aproximadamente, corresponderá ao comportamento de rochas sob
condições de baixo grau de metamorfismo.
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MODELO DE KELVIN-VOIGT
ε
σ/
η E
0
E t1 TEMPO
c.
σ/(E1+ E2)
E1 0
t1
d. TEMPO
MATERIAL DE BURGER
ε
tg−1 σ/η1
(σ/E1)+ (σ/E2)
σ/E1
η2 σ/E1
σ/E2
E1
η1
0
E2 t1 TEMPO
e.
Fig.3.26- (cont.)
c) Comportamento visco-elástico (modelo de Kelvin-Voigt): a curva ε(t) tende assimptoticamente para σ/E, mantendo-
se
constante a tensão exercida (σ ); se em t1, se anular a tensão exercida, a deformação decresce exponencialmente
com o tempo, até à sua anulação (curva a ponteado).
d) Sólido linear padrão (standard linear solid): diagrama analógico e curva ε(t) , para σ constante.
e) Material de Burger (Burger’s body ou M-V body), muito usado em Mecânica das Rochas: a curva a ponteado em ε(t)
descreve o que acontece quando a tensão exercida é anulada em t1 .
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