Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
EM RODOVIAS
RESUMO
O fluxo de tráfego em uma rodovia, embora oscile em torno de um valor médio, varia ao longo do tempo em
função de diferentes fatores, tais como períodos de férias ou feriados e escoamento de safras, dentre outros. A
distribuição dos fluxos horários de tráfego ao longo de um ano geralmente forma padrões que tendem a se repetir
de maneira aproximada em locais com características semelhantes. Esses padrões são usados em uma variedade
de estudos de transportes, incluindo análises de viabilidade de projetos e avaliações de capacidade e nível de
serviço. No segundo caso, é habitual que o dimensionamento rodoviário tome como Volume Horário de Projeto
(VHP) o fluxo observado na enésima hora mais carregada de um ano, admitindo que nessas n horas, a qualidade
do serviço seja pior do que o limite estabelecido. Entretanto, a determinação de n varia de acordo com a
normatização de cada órgão gestor e ainda consiste em objeto de discussão. Nesse sentido, o Highway Capacity
Manual – HCM recomenda a calibração local desse parâmetro, através da análise dos padrões de distribuição das
horas mais carregadas no período de um ano. Assim, este trabalho objetiva produzir modelos de distribuição de
volumes horários de tráfego para rodovias com diferentes características. Para tanto, foram usadas séries
históricas de volumes horários para o período de um ou mais anos completos. Ao todo foram 55 postos,
distribuídos em rodovias de São Paulo e Paraná. Em seguida, são feitas duas aplicações do modelo proposto: (1)
calibração do modelo de distribuição de volumes horários usado pelo software Highway Development and
Management – HDM-4 para estudos de viabilidade de projetos em rodovias; e (2) discussão dos critérios
considerados para a definição do VHP usado em estudos de capacidade, sendo confrontadas as recomendações
propostas com a prática atual no país.
1. INTRODUÇÃO
O fluxo de tráfego em uma rodovia, embora oscile em torno de um valor médio, varia ao
longo do tempo em função de diferentes fatores, tais como períodos de férias ou feriados e
escoamento de safras, dentre outros. A distribuição dos fluxos horários de tráfego ao longo de
um ano geralmente forma padrões que tendem a se repetir de maneira aproximada em locais
com características semelhantes. Esses padrões são usados em uma variedade de estudos de
transportes.
Nos dois casos, tem-se que o conhecimento da distribuição dos volumes de tráfego e a
determinação da hora de projeto influencia diretamente na definição do volume de
investimento a ser realizado em uma rodovia. Assim, o estudo desses parâmetros a partir de
dados coletados nas rodovias brasileiras pode produzir modelos mais adequados para estudos
de viabilidade e de avaliação da capacidade e nível de serviço no país. Com isso, promove-se
também a execução de projetos eficientes, ou seja, capazes de promover níveis de serviço
adequados ao usuário sem a necessidade de dispêndios excessivos de recursos.
Figura 1: Volume das horas mais carregadas do ano ordenadas de forma decrescente
Dessa forma, é habitual que o dimensionamento rodoviário tome como Volume Horário de
Projeto (VHP) o maior fluxo de tráfego horário regularmente observado em um ano de
operação, admitindo que as n horas mais carregadas do ano refletem situações excepcionais,
nas quais se tolera que a qualidade do serviço seja pior do que o padrão estabelecido.
Entretanto, a determinação do valor de n varia de acordo com a legislação normativa de cada
região e ainda é objeto de discussões entre os especialistas no assunto.
No Brasil, o Manual de Estudos de Tráfego do DNIT (2006) defende que a curva sofre uma
mudança rápida de declividade por volta da 30ª hora, sendo indicado que o volume da mesma
possa ser escolhido como VHP. Entretanto, destaca-se que, no Brasil, tem-se sido mais
tolerante na escolha do VHP, sendo adotado como referência o volume da 50ª hora em locais
em que se dispõe de contagens mecanizadas permanentes.
A escolha da hora de projeto no Brasil impacta sobremaneira nos contratos de concessão nos
quais há a obrigatoriedade do atendimento a padrões de qualidade de operação conforme
definidos pelo HCM (Andrade et al., 2011). Comparando os contratos de concessão de
rodovias brasileiras sob jurisdição federal ou estadual, existem particularidades quanto aos
limites adotados para o padrão de qualidade do serviço a ser prestado. Para as rodovias
federais concedidas, a Agência Nacional de Transporte Terrestre – ANTT (2008, 2010)
estipula como padrão a 50ª hora mais carregada do ano, com exceção do trecho entre São
Paulo e Rio de Janeiro da BR-116 (Rodovia Presidente Dutra), considerado um dos principais
corredores rodoviários do país, no qual o padrão adotado é a 30ª hora. Vale notar ainda que os
contratos firmados na década de 1990, durante a 1ª etapa do Programa de Concessões de
Rodovias Federais – PCRF, estabelecem que as rodovias, em todo o seu percurso, devem
operar na hora de pico de tráfego, na pior das hipóteses, no nível de serviço adequado (DNER,
1995), sem no entanto definir a hora correspondente ao pico operacional.
No âmbito estadual, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado de São
Paulo – ARTESP, estipula a necessidade de intervenções para ampliação da capacidade viária
quando o padrão estabelecido for superado em 50 horas/ano (ARTESP, 2004). Já os contratos
do Programa de Concessão de Rodovias no Estado do Paraná, firmados com o DER-PR,
(1997), determinam que o limite padrão a ser considerado atenda à 200ª hora mais carregada
do ano.
Nota-se que não há, no Brasil, um critério único entre as agências reguladoras no que tange à
determinação de uma hora específica para o dimensionamento de rodovias do país, sendo o
mesmo resultado da política pública local. Consequentemente, diferentes padrões são
estabelecidos, o que se reflete em diferentes níveis de qualidade do serviço ou de dispêndio de
recursos, mesmo para rodovias com características de demanda ou relevância similares.
De fato, a identificação exata do ponto de inflexão da distribuição dos volumes horários pode
não ser uma tarefa fácil (Crabtree e Deacon, 1982). Este é normalmente evidente em rodovias
com baixo volume de tráfego, porém desaparece à medida que os fluxos aumentam, tendendo
a se deslocar para um ponto que abrange um maior intervalo de horas (Werner e Willis, 1979
Apud Gomes, 2004).
2.2. Fator K
Em estudos de tráfego rodoviário, um parâmetro normalmente usado é o Volume Médio
Diário Anual (VMDA), que consiste na média aritmética, ao longo do ano, do volume médio
de veículos que passa em certo trecho homogêneo de rodovia dentro do um intervalo de um
dia. O VDMA consiste em um parâmetro chave para se estimar a necessidade da construção de
novas vias ou melhorias das existentes, estimar benefícios esperados a partir de uma obra
viária, determinar prioridades de investimentos, calcular índices de acidentes ou prever a
receita em postos de pedágio (DNIT, 2006).
A Figura 2 ilustra o ordenamento decrescente dos volumes das 250 horas mais carregadas de
um ano qualquer para um posto em uma rodovia rural. A relação da 30ª, 50ª e 200ª horas mais
carregadas com o VDMA é expressa pelo fator Kn , como destacado na figura.
25,0%
20,0%
15,0%
K30 = 10,3%
Fator K
K50 = 9,7%
5,0%
0,0%
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Ranking de volumes horários
Figura 2: Relação dos volumes das horas mais carregados do ano com o VMDA
Segundo o HCM (TRB, 2010), o fator K varia segundo tipo de rodovia, seguindo as premissas
gerais:
Frequentemente, para a realização de projetos rodoviários, não se tem uma série histórica de
volumes horários de referência. Nesses casos, o HCM recomenda valores entre 9,1% e 10%,
em função tipo de região no qual a rodovia se insere. Para o Brasil, o principal valor default
disponível é o fornecido pelo DNIT (2006), que recomenda a adoção do fator K igual a 8,5%
do VDMA.
Dada a falta de diretrizes para o caso brasileiro, torna-se interessante a análise de uma base
dados composta por séries históricas de tráfego registradas em rodovias com diferentes
características, o que permitiria estabelecer valores representativos do fator K para o Brasil,
além de possibilitar uma comparação entre a realidade atual dessas rodovias e os parâmetros
adotados pelas normas e recomendações vigentes.
2.3. O modelo do HDM-4
Neste item, é discutido o uso de modelos de distribuição horária de volumes de tráfego pelo
modelo Highway Development and Management, como parte de avalições de estratégias,
programas e projetos de investimentos em rodovias.
Dessa forma, o modelo do HDM-4 divide o ano em intervalos discretos de fluxos horários
aproximadamente constantes, que são considerados separadamente, sendo os resultados para
cada período agrupados posteriormente, de forma a obter resultados para o ano completo
(Odoki e Kerali, 2006). Os parâmetros considerados pelo modelo são:
n
∑ HRYRp = 8760 , e (2)
p =1
n HV p × HRYR p
∑ = 1 ± 0,05 . (3)
p =1 365
Como o HCM (TRB, 2010), o HDM-4 ressalta que diferentes padrões de curvas de
distribuição de fluxos horários são verificados em função do tipo de rodovia, sendo sugerida a
divisão entre rodovias rurais (inter-urban), urbanas (commuter) e sazonais (seasonal), sendo
que essa última abarca tanto rodovias turísticas quanto aquelas com escoamento intenso de
safras ou outros produtos de natureza sazonal. A Figura 3 mostra o modelo default sugerido
pelo HDM-4.
20,0%
16,0%
Urbano Sazonal Rural
12,0%
8,0%
Fator K
4,0%
0,0%
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
Em seguida, para todas as estações de dados, os fluxos foram classificados por hora, a partir
do maior valor para o menor, sendo expressa em termos de percentuais VDMA (fator K).
Por fim, os dados foram segregados em dois conjuntos dados, em função da jurisdição:
1. Postos localizados no estado de São Paulo – 32 postos; e
2. Postos localizados no estado do Paraná – 23 postos;
No caso do Paraná, não havia postos em áreas urbanas, de modo que foi possível criar séries
para rodovias rurais (12 postos) e sazonais (11 postos).
Tendo em vista as relações mostradas nas Equações (2) e (3), foi montado um procedimento
de calibração, usando-se um algoritmo de otimização não linear (GRG – Generalized Reduced
Gradient), de forma a determinar os melhores valores para os parâmetros do modelo utilizado
por HDM-4.
Os resultados para rodovias paulistas são mostrados nas Figuras 4 a 6, que também exibem o
padrão de fluxo de tráfego obtidos conforme explicado no item anterior e os defaults
sugeridos pelo HDM-4. Para as três classes, nove períodos de volumes de tráfego foram
definidos. Em todos os casos, os padrões sugeridos pelo HDM-4 produzem estimativas
razoáveis dos volumes de tráfego horários. No entanto, espera-se que o modelo calibrado
possa representar mais adequadamente os padrões de tráfego para a região estudada ou para
rodovias com condições semelhantes, na ausência de dados locais.
25,0%
Distribuição de
volumes horários
20,0%
Default do HDM-4
15,0% Modelo calibrado
Fator K
10,0%
5,0%
0,0%
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
Ranking de volumes horários
Figura 4: Rodovias rurais do estado de São Paulo
25,0%
Distribuição de
20,0%
volumes horários
Default do HDM-4
15,0% Modelo calibrado
10,0%
Fator K
5,0%
0,0%
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
10,0%
Fator K
5,0%
0,0%
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
Ranking de volumes horários
Figura 6: Rodovias sazonais do estado de São Paulo
25,0%
Distribuição de
20,0%
volumes horários
Default do HDM-4
15,0% Modelo calibrado
10,0%
Fator K
5,0%
0,0%
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
10,0%
Fator K
5,0%
0,0%
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
Ranking de volumes horários
Figura 8: Rodovias sazonais do estado do Paraná
Tabela 1: Valores dos parâmetros usados pelo HDM-4, por conjunto de dados e tipo de rodovia
5.2. Discussão
Como exposto no item 2.1, o HCM recomenda que a hora de análise esteja localizada logo no
princípio da parte plana da curva, ou seja, imediatamente após o “joelho” da mesma. Embora
não seja trivial apontar precisamente a hora correspondente ao “joelho”, é possível verificar
que esse ponto pode variar significativamente em função do tipo de rodovia. A Figura 9
mostra uma comparação entre as curvas de distribuição de volumes horários das três séries
obtidas para rodovias paulistas. A partir de uma análise visual dos padrões formados, são
feitas as considerações a seguir.
Para a rodovias rurais, o ponto de inflexão parece se situar entre a 50ª hora e a 100ª, como
preconizada pela ARTESP no estado de São Paulo. Nas rodovias de uso sazonal, no entanto,
observam-se volumes atípicos por um maior número de horas, sendo que valores mais
estáveis de fluxos são verificados apenas após a 200ª hora. No caso de rodovias em área
urbana, o próprio conceito da determinação da hora análise sobre uma série anual de tráfego
pode ser questionada, visto que os volumes de pico variam pouco ao longo do ano. Dessa
forma, volumes de projeto podem ser coletados de forma simplificada por meio de pesquisas
de tráfego na hora de pico de dias úteis.
25,0%
20,0%
Rural
Urbano
Sazonal
15,0%
Fator K
10,0%
5,0%
0,0%
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100
Ranking de volumes horários
Figura 9: Comparação entre a forma das curvas – Rodovias paulistas
Por fim, como uma análise marginal, é interessante comparar a diferença percentual entre a
quantidade de horas descartadas conforme a hora de análise selecionada (30ª, 50ª, e 200ª).
Considerando as 8.760 horas contidas em um ano completo, ao realizar um dimensionamento
utilizando como limite a 30ª hora, uma rodovia estará operando com folga de capacidade
durante 99,7% das horas do ano. Já ao se empregar a análise pela 50ª hora, a rodovia
encontra-se coberta durante 99,4% das horas do ano. E, por fim, ao se usar a 200ª hora, este
número decresce para 97,7%.
Portanto, o tempo total em que o sistema opera com restrição de capacidade varia de 1,25 dias
(no caso da 30ª hora) até 8,33 dias (para a 200ª hora) dependendo do parâmetro adotado. Essa
constatação se torna interessante ao compará-la com a quantidade de feriados (notórios
ascensores do fluxo de veículos) existentes no ano como carnaval, semana santa, natal,
réveillon, entre outros.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo visou obter e analisar, a partir de uma base dados de tráfego recente, modelos de
distribuição de volumes horários de tráfego para rodovias brasileiras. Para tanto, foi montado
um banco de dados composto por séries anuais de tráfego de 55 postos no estado de São Paulo
e Paraná.
Em seguida, o banco de dados foi usado para a calibração dos modelos de distribuição de
volumes de tráfego horários do Highway Development and Management (HDM-4). Nesta
etapa do estudo, três conclusões foram alcançadas:
Por fim, foram calculados os valores para o fator K para as três classes de rodovias
consideradas, por conjunto de dados. Os valores obtidos podem ser usados, na ausência de
séries anuais de tráfego de referência, para a realização de estudos de planejamento,
dimensionamento e avaliação do nível de serviço.