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Metodologia para o dimensionamento de rotores eólicos

Thesis · February 2016


DOI: 10.13140/RG.2.1.4912.1046

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1 author:

Gustavo Monteiro Farias


Instituto Tecnologico de Aeronautica
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE TECNOLOGIA
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

GUSTAVO MONTEIRO FARIAS / 200902140016

METODOLOGIA PARA O DIMENSIONAMENTO DE ROTORES EÓLICOS

BELÉM
2016
GUSTAVO MONTEIRO FARIAS / 200902140016

METODOLOGIA PARA O DIMENSIONAMENTO DE ROTORES EÓLICOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Engenharia
Mecânica do Instituto de Tecnologia da
Universidade Federal do Pará para obtenção
do grau de Engenheiro Mecânico.

Orientador: Prof. Dr. Marcos André Barros


Galhardo

BELÉM
2016
GUSTAVO MONTEIRO FARIAS / 200902140016

METODOLOGIA PARA O DIMENSIONAMENTO DE ROTORES EÓLICOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado para obtenção do grau de
Engenheiro Mecânico pela Universidade
Federal do Pará. Submetido à banca
examinadora constituída por:

_____________________________________
Prof. Dr. Marcos André Barros Galhardo
UFPA – Orientador, Presidente

_____________________________________
Prof. Dr. Jerson Rogério Pinheiro Vaz
UFPA – Coorientador

_____________________________________
Prof. Dr. Marcelo de Oliveira e Silva
UFPA - Membro

_____________________________________
Prof. Dr. João Tavares Pinho
UFPA – Membro

Julgado em _____de_____________de 201_


Conceito:_____________________________
AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente a minha mãe, Adriana Pereira Monteiro, e a meus avós José
Ribamar Monteiro Filho e Solange Pereira Monteiro, por todo apoio e incentivo dado durante
toda a jornada da minha vida.
Ao professor Marcos André Barros Galhardo (orientador), por toda a sua paciência e
contribuição dada a este trabalho.
A todos os amigos do GEDAE (membros e ex-membros) que tiveram alguma
participação no desenvolvimento deste trabalho.
Ao CNPq, CAPES e GEDAE/INCT-EREEA, pelo suporte financeiro.
RESUMO

Este trabalho apresenta uma metodologia para dimensionamento de rotores eólicos de pequeno
porte identificando-se o ponto de operação para uma dada condição de vento. Para subsidiar o
dimensionamento, utiliza-se uma bancada de ensaios de gerador elétrico para obter a curva de
potência mecânica transmitida ao eixo do gerador; em seguida utiliza-se a teoria da quantidade de
movimento do elemento de pá para obtenção da desempenho do rotor eólico, a fim de se calcular
a curva de potência mecânica. O ponto onde a curva de potência mecânica do gerador intercepta a
de potência mecânica do rotor é definido como o ponto de operação da máquina, considerando
ausência de atrito no trem de potência e operação em regime permanente. O processo para
dimensionamento é realizado por meio de uma ferramenta computacional desenvolvida neste
trabalho. Ademais, com o objetivo de comparar o desempenho do rotor dimensionado, um
método convencional para simulação computacional fluidodinâmica (CFD) de uma turbomáquina
no software comercial, ANSYS CFX é utilizado para obtenção do fator de indução axial.

Palavras-chave: Dimensionamento de Rotor Eólico, Simulação Computacional, Teoria da


Quantidade de Movimento do Elemento de Pá.
ABSTRACT

This work presents a methodology to design small scale wind turbine rotor by the
identification of the system operating point for a given wind condition. In order to subsidize
the design, an electric generator test bench is used to obtain the mechanical power curve
imparted to the generator shaft; then employs the blade element momentum theory to get the
wind turbine rotor performance in order to calculate the mechanical power curve. The point
where the generator mechanical power curve intercepts the rotor mechanical power curve is
defined as the machine operating point, taking into account frictionless in the drive train and
under steady-state behaviour. The process to perform the design uses a computational tool
developed in the present work. Furthermore, aiming to compare the performance of the
designed rotor, a conventional method for Computational Fluid Dynamics (CFD) simulation
of a turbomachine through the commercial ANSYS CFX software is used to calculate the
axial induction factor at the rotor plane.

Key-words: Wind Turbine Rotor Design, Computational Simulation, Blade Element


Momentum Theory.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 - Configuração típica de um aerogerador.................................................................. 17


Figura 2.2 - Representação de uma pá com múltiplos perfis..................................................... 18
Figura 2.3 - Representação dos componentes do trem de potência............................................ 19
Figura 2.4 - Períodos de controle de um aerogerador................................................................ 21
Figura 2.5 - Perfil de variação da potência de saída pela velocidade do vento para
aerogerador com controle de passo e por estol........................................................................... 23
Figura 3.1 - Modelo do disco atuador de um aerogerador......................................................... 26
Figura 3.2 - Esforços atuantes no aerofólio................................................................................ 33
Figura 3.3 - Geometria de um perfil de pá para definição de suas variáveis............................. 38
Figura 4.1 - Bancada para ensaio do gerador elétrico................................................................ 49
Figura 4.2 - Inversor e placa NI 6218........................................................................................ 49
Figura 4.3 - Potência elétrica obtida na saída do gerador e na entrada do motor....................... 50
Figura 4.4 - Eficiência do motor................................................................................................ 50
Figura 4.5 - Potência mecânica no eixo de acoplamento do motor com o gerador.................... 51
Figura 4.6 - Eficiência do gerador.............................................................................................. 52
Figura 4.7 - Ponto máximo da relação do coeficiente de sustentação e de arrasto.................... 53
Figura 4.8 - Painel frontal de projeto geométrico do rotor eólico.............................................. 54
Figura 4.9a - Gráfico obtido no software XFLR5...................................................................... 55
Figura 4.9b - Gráfico obtido no software XFLR5...................................................................... 56
Figura 4.10 - Definição da operação do aerogerador projetado (caso 1)................................... 57
Figura 4.11 - Definição da operação do aerogerador (caso 2)................................................... 59
Figura 4.12 - Distribuição da velocidade de vento a 30 m de altura.......................................... 61
Figura 4.13 - Fator de capacidade mensal do aerogerador do caso 1 a 15 m............................. 62
Figura 4.14 - Fator de capacidade mensal do aerogerador do caso 2 a 15 m............................. 62
Figura 4.15 - Diagrama Esquemático de um sistema eólico autônomo..................................... 64
Figura 4.16 - Forma de onda da tensão de saída do gerador trifásico........................................ 65
Figura 4.17 - Geometria das pás do rotor................................................................................... 66
Figura 4.18 - Geometria do rotor eólico..................................................................................... 67
Figura 4.19 - Representação do domínio estacionário e rotativo............................................... 67
Figura 4.20 - Região de elementos prismáticos e refinamento na superfície do rotor............... 68
Figura 4.21 - Refinamento da região de entrada e da esteira do rotor....................................... 68
Figura 4.22 - Má formação dos elementos no bordo de fuga..................................................... 70
Figura 4.23 - Setup da simulação............................................................................................... 71
Figura 4.24 - Plano lateral mostrando a velocidade do vento na direção axial.......................... 72
Figura 4.25 - Disco a montante do rotor.................................................................................... 72
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 - Número de pás sugerido para diferentes ............................................................. 43


Tabela 4.1 - Pontos de operação do aerogerador (caso 1) em regime permanente.................... 58
Tabela 4.2 - Pontos de operação do aerogerador (caso 2) em regime permanente.................... 60
Tabela 4.3 - Estatísticas da malha.............................................................................................. 69
Tabela 4.4 - Qualidade do elemento........................................................................................... 69
Tabela 4.5 - Valores obtidos no ANSYS CFX........................................................................... 73
Tabela 4.6 - Valores obtidos na ferramenta desenvolvida neste trabalho.................................. 73
LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

Velocidade de partida
Velocidade de vento onde a potência é nominal
Velocidade de corte
Área da seção transversal
Empuxo
Velocidade de vento
Massa específica
̇ Vazão mássica
Pressão
Fator de indução axial
Coeficiente de potência
Potência
Velocidade angular do rotor eólico
Velocidade angular transmitida ao escoamento
Fator de indução tangencial
Distância de cada seção da pá até o centro do rotor
Razão entre a velocidade da ponta da pá e a velocidade do vento
Razão local entre a velocidade da pá e a velocidade de vento
Raio do rotor
Torque
Número de Reynolds
Viscosidade cinemática
Viscosidade dinâmica
Comprimento que caracteriza a escala do fluído
Comprimento da corda
Coeficiente de Sustentação
Coeficiente de arrasto
Coeficiente de momento
Força de sustentação
Força de arrasto
Espessura do perfil
Área projetada do perfil
Ângulo de ataque
Número de seções
Ângulo de torção
Ângulo de passo na ponta da pá
Ângulo de passo
Ângulo de velocidade relativa
Força normal ao plano de rotação
Força tangencial
Número de pás
Coeficiente normal ao plano de rotação
Coeficiente tangencial
Solidez
Fator de correção de Prandtl
Coeficiente de empuxo
Eficiência
Razão de transmissão
Coeficiente de Hellman
Altura
Valor de tensão na saída c.c
Queda de tensão no diodo de ponte retificadora
Tensão de pico

Subíndices:

Distante do plano do rotor a montante


Próximo ao plano do rotor a montante
Próximo ao plano do rotor a jusante
Distante do plano do rotor a jusante
Gerador
Rotor
Referência
Média
Iteração
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 13
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 13
1.2 MOTIVAÇÃO...................................................................................................................... 14
1.3 OBJETIVOS......................................................................................................................... 14
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO......................................................................................... 15
2 AEROGERADORES DE EIXO HORIZONTAL.............................................................. 16
2.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 16
2.2 PARTES CONSTITUINTES DE AEROGERADORES DE EIXO HORIZONTAL......... 16
2.2.1 Rotor................................................................................................................................. 17
2.2.2 Trem de potência............................................................................................................. 18
2.2.3 Gerador Elétrico.............................................................................................................. 19
2.2.4 Nacele, sistema de posicionamento ao vento e controles.............................................. 20
2.2.5 Torre e fundação............................................................................................................. 20
2.3 PREVISÃO E CONTROLE DA POTÊNCIA DE SAÍDA.................................................. 21
2.4 MANUTENÇÃO DE AEROGERADORES....................................................................... 23
3 AERODINÂMICA DO ROTOR EÓLICO........................................................................ 25
3.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 25
3.2 TEORIA DO DISCO ATUADOR....................................................................................... 25
3.3 AEROGERADOR DE EIXO HORIZONTAL IDEAL COM ROTAÇÃO NA ESTEIRA 28
3.4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DE PERFIS AERODINÂMICOS................................... 32
3.5 TEORIAS PARA O CALCÚLO DO DESEMPENHO AERODINÂMICO....................... 35
3.5.1 Teoria da quantidade de movimento............................................................................. 36
3.5.2 Teoria do elemento de pá................................................................................................ 36
3.5.3 Teoria da quantidade de movimento do elemento de pá............................................. 39
3.5.3.1 Fator de correção de Prandtl...................................................................................... 40
3.5.3.2 Correção de Glauert para altos valores do fator de indução axial.......................... 41
3.6 METODOLOGIA PARA PROJETO DO ROTOR EÓLICO.............................................. 42
4 SIMULAÇÃO DE AEROGERADOR................................................................................. 48
4.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 48
4.2 BANCADA EXPERIMENTAL PARA ENSAIOS DE GERADORES ELÉTRICOS....... 48
4.3 FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA DIMENSIONAMENTO DE ROTOR
EÓLICO..................................................................................................................................... 52
4.4 DEFINIÇÃO DO PONTO DE OPERAÇÃO DE AEROGERADOR DE
ACOPLAMENTO DIRETO (CASO 1)..................................................................................... 57
4.5 AEROGERADOR COM MULTIPLICADOR DE ROTAÇÃO (CASO 2)........................ 59
4.6 CÁLCULO DO FATOR DE CAPACIDADE..................................................................... 60
4.7 UTILIZAÇÃO DE AEROGERADOR EM UM SISTEMA AUTÔNOMO....................... 64
4.8 VALIDAÇÃO DOS VALORES DE FATOR DE INDUÇÃO AXIAL.............................. 66
4.8.1 Construção da geometria do rotor eólico para simulação........................................... 66
4.8.2 Geração da malha............................................................................................................ 68
4.8.3 Condição de contorno..................................................................................................... 70
4.8.4 Análise dos resultados..................................................................................................... 71
5 CONCLUSÃO....................................................................................................................... 75
5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................................................... 76
REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 77
13

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A tecnologia de aerogeradores de alta eficiência foi implementada há poucas décadas,


com iniciativa principalmente dos países do Continente Europeu e fortemente impulsionado
pela segunda grande crise do petróleo da década de 70. No início dos anos 90 começaram os
grandes investimentos na produção de tecnologia das chamadas fontes alternativas, com o
objetivo de reduzir a dependência energética dos países europeus com combustíveis fósseis e
ao mesmo tempo contribuir para a redução da emissão de CO2 responsável pelo aquecimento
global.
O Brasil consegue abastecer maior parte da sua matriz elétrica com baixa emissão de
CO2, dada a grande parte da produção de energia elétrica proveniente de hidroelétricas
(ABEEÓLICA, 2015). Porém, com o crescimento da demanda por energia no país é
necessária a busca por alternativas energéticas, pois os grandes potenciais hidroelétricos estão
se tornando cada vez mais escassos.
O setor eólico brasileiro caminha para o crescimento desde 2009, quando uma onda
de investimentos veio alavancando o mercado de produção e instalação de aerogeradores.
Segundo dados de novembro de 2015, o Brasil tem 7,96 GW de sua matriz elétrica
alimentada por energia eólica, o que corresponde a 5,7 % de toda sua matriz elétrica e a
previsão é de que ao final de 2019 o Brasil tenha uma capacidade instalada de 18,13 GW
(ABEEÓLICA, 2015). A maior parte dos investimentos está concentrada na região Nordeste
do país, pois o litoral nordeste brasileiro tem uma condição favorável em relação ao potencial
eólico. A região Amazônica apesar de não apresentar um bom potencial eólico em seu
interior, segundo o mapa eólico brasileiro (CRESESB, 2015), identifica-se no litoral da
região Norte boas condições de aproveitamento da velocidade de vento.
É válido ressaltar que existem muitas regiões no país que vivem sem o suprimento de
energia elétrica por uma rede convencional de distribuição, principalmente na Amazônia.
Muitas dessas pessoas vivem em comunidades isoladas, onde é difícil a chegada da rede de
distribuição de energia elétrica. Muitas apelam pelo uso de combustíveis fósseis que além de
poluir o ambiente é um recurso esgotável, necessita de uma logística para transportar o
combustível e continuamente abastecer o grupo gerador. A utilização de aerogeradores de
pequeno porte vem se tornando uma ótima solução, para localidades com bom potencial
eólico, pois é uma fonte de energia de baixa emissão de CO2 e não depende de uma logística
14

para o seu abastecimento. Porém é necessário atentar às especificações técnicas do


aerogerador pretendido para instalação na localidade, pois o aerogerador deve ser adequado a
condição de vento da região.

1.2 MOTIVAÇÃO

Apesar das projeções de crescimento da capacidade instalada de aerogeradores no


Brasil e no mundo, a demanda energética também está cada vez maior. Logo, os novos
aerogeradores devem operar com mais eficiência, mas para isso é necessário investir em
tecnologias de fabricação destas máquinas.
Métodos para investigar o comportamento dos aerogeradores estão mais presentes
devido à importância de conhecer a estrutura física antes de construí-la, a fim de evitar, por
exemplo, danos que comprometam a total estrutura física da máquina e outros danos
menores, mas que também podem ser o suficiente para a parada total do sistema, em função
de manutenções corretivas.
Os projetistas de rotores eólicos devem estar atentos para qual condição de vento o
aerogerador será exposto, assim como devem conhecer as características de outros
componentes do aerogerador, principalmente o gerador elétrico e a caixa de multiplicação ao
qual será acoplado. Outro fator importante é saber qual a carga que será imposta ao gerador,
pois a carga estabelece a demanda por potência elétrica e isto afeta todo o sistema
eletromecânico do aerogerador. O tamanho do rotor não pode ser superdimensionado, pois
isso elevará os custos do projeto, mas não pode ser muito pequeno, pois o rotor pode não ter
torque suficiente para realizar o movimento de rotação.
Faz-se necessário então, a busca por métodos cada vez mais apurados que possam
prever estes comportamentos dos aerogeradores e que ao mesmo tempo possam diminuir o
custo da implantação de um aerogerador, a fim de melhorar a sua eficiência como um todo.

1.3 OBJETIVOS

Apresentar uma metodologia para dimensionamento de rotores de aerogeradores de


pequeno porte, identificando-se o ponto de operação de um aerogerador quando em regime
permanente para diferentes velocidades de vento a partir da modelagem do acoplamento do
rotor com o gerador sem considerar o atrito no trem de potência da máquina. É também foco
deste trabalho, apresentar a ferramenta computacional desenvolvida para dimensionamento
15

do rotor e a comparação dos valores do fator de indução axial no plano do rotor obtido pela
ferramenta e pela modelagem numérica da turbina com um método convencional para
simulação de uma turbomáquina no software ANSYS CFX.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente trabalho está estruturado em 5 seções iniciado pela seção 1 de introdução.


Na seção 2 são apresentados os principais componentes de um aerogerador de eixo
horizontal, assim como o seu princípio de funcionamento, bem como os principais problemas
que afetam os componentes do aerogerador.
Na seção 3, apresenta-se a teoria clássica da quantidade de movimento e do elemento
de pá, assim como são mostradas algumas etapas de projeto do rotor como a obtenção da
geometria das pás do rotor e o coeficiente de potência.
Na seção 4, apresenta-se uma metodologia para definir o tamanho adequado do rotor
eólico de um aerogerador, com o auxílio dos dados obtidos em ensaios em um gerador
elétrico utilizando uma bancada de testes e também com o auxílio da ferramenta
computacional de dimensionamento do rotor eólico. A partir da modelagem do acoplamento
do rotor com gerador também é definido o ponto de operação da máquina em regime.
Ainda na seção 4, apresenta-se outra metodologia para simulação de uma
turbomáquina utilizando o software ANSYS CFX, porém com esta metodologia só é possível
obter o fator de indução axial, o que serve de comparação com o fator de indução axial obtido
na ferramenta. A metodologia aplicada no ANSYS CFX ainda será aprimorada em trabalhos
futuros.
Por fim, na seção 5 apresentam-se as conclusões do trabalho e sugestões de trabalhos
futuros.
16

2 AEROGERADORES DE EIXO HORIZONTAL

2.1 INTRODUÇÃO

Os aerogeradores, de uma forma geral, são máquinas que convertem a energia do


vento em eletricidade, podendo constituir um sistema conectado à rede elétrica ou um sistema
autônomo. Em termos de capacidade, os aerogeradores podem ser divididos em (PINHO et
al., 2008):
 Pequeno porte: até 100 kW.
 Médio porte: de 100 kW até 1 MW.
 Grande porte: a partir de 1 MW.
O real processo de conversão em energia elétrica para os atuais aerogeradores de eixo
horizontal usa a força aerodinâmica de sustentação para produzir um torque no eixo de
rotação, resultando primeiramente na produção de energia mecânica e posteriormente na sua
transformação em energia elétrica pelo gerador.
As usinas hidrelétricas tem seu próprio reservatório para o armazenamento de água
que é usado para movimentar as turbinas, no caso de aerogeradores o vento não pode ser
armazenado, logo, qualquer sistema que está conectado a um aerogerador deve levar em
conta que só pode produzir energia em resposta a fonte imediatamente disponível e não
transportável (MANWELL et al., 2009). Em um sistema interligado, os aerogeradores servem
para diminuição do carregamento na rede e assim diminuir, por exemplo, o consumo de
combustíveis de sistemas de geração convencionais ou diminuir a quantidade de usinas
termelétricas ou outras formas de produção de energia interligada a rede elétrica. Porém,
tratando-se de sistemas autônomos a energia produzida pode ser armazenada, por exemplo,
em banco de baterias.

2.2 PARTES CONSTITUINTES DE AEROGERADORES DE EIXO HORIZONTAL

Os aerogeradores são máquinas complexas projetadas para trabalhar em diversas


condições ambientais. O projeto de um aerogerador pode integrar diversas áreas da
tecnologia como engenharia aeronáutica, mecânica, hidráulica, elétrica e eletrônica, assim
como a engenharia civil para as fundações. Atualmente, a maioria dos aerogeradores
comercializados são de eixo horizontal.
17

Os principais componentes de um aerogerador são o rotor, o gerador, o sistema de


transmissão, a nacele, os sistemas de controle e a torre. A seguir é discutido cada grupo de
componentes de um aerogerador, conforme ilustra a figura 2.1.

Figura 2.1 - Configuração típica de um aerogerador.

Fonte: Adaptado de Ashley et al. (2007).

2.2.1 Rotor

O rotor consiste no conjunto formado pelo cubo e as pás do aerogerador. As turbinas


mais comumente usadas utilizam rotores upwind (rotor posicionado a frente da Nacele,
considerando como referência a direção do vento que chega sobre o sistema) com três pás,
mas existem também alguns modelos com duas pás do tipo downwind (rotor posicionado
atrás da Nacele, considerando como referência a direção do vento que chega sobre o sistema).
Rotores com duas pás tem uma solidez mais baixa do que o de três pás o que faz com que o
custo de fabricação seja menor do que o de três pás, porém quanto maior o número de pás,
teoricamente sem considerar os efeitos inerciais e de atrito, maior é a eficiência do rotor
(MANWELL et al., 2009).
Pás de aerogeradores são feitas de materiais leves a fim de minimizar os
carregamentos da massa girante, em sua maioria são fabricadas com materiais compósitos,
fibras de vidro ou carbono, plástico reforçado e também madeira (MANWELL et al., 2009).
Aerogeradores frequentemente não apresentam apenas um formato de perfil aerodinâmico ao
18

longo do comprimento das pás (Figura 2.2), porém é comum que os perfis sejam todos da
mesma família, mas a espessura relativa varia (MANWELL et al., 2009). Perfis mais
espessos e próximos a raiz da pá oferecem maior resistência mecânica, porém apresentam
pouca eficiência aerodinâmica, mas com relação ao desempenho global da pá a diminuição
não é significativa (SCHUBEL e CROSSLEY, 2012). Em geral, o formato da pá constitui um
compromisso de resistência mecânica e boas propriedades aerodinâmicas (MANWELL et al.,
2009).
O cubo é o acessório para o encaixe das pás no eixo do rotor, utiliza-se geralmente
ferro fundido nodular em sua confecção. A razão principal para usar ferro fundido é devido
ao formato complexo do cubo, o qual é difícil de produzir de outro modo (DNV/RISØ, 2002).

Figura 2.2 - Representação de uma pá com múltiplos perfis.

Fonte: Adaptado de Manwell et al. (2009).

2.2.2 Trem de potência

O trem de potência consiste das partes girantes do aerogerador após o rotor (Figura
2.3). As partes típicas que incluem no trem de potência são um eixo de baixa rotação
acoplado ao rotor, uma caixa de engrenagens e um eixo de alta velocidade acoplado ao
gerador (MANWELL et al., 2009). Outros componentes do trem de potência incluem
mancais de suporte, acoplamentos, freio, e as partes girantes do gerador. A caixa de
engrenagens tem a função de aumentar a velocidade de rotação no eixo de acionamento do
gerador para um valor adequado. Porém existem geradores, como os de magneto permanente,
que podem operar sem caixa de engrenagens e utilizam acoplamento direto rotor-gerador
(MANWELL et al., 2009).
19

Figura 2.3 - Representação dos componentes do trem de potência.

Fonte: Adaptado de Manwell et al. (2009).

2.2.3 Gerador elétrico

O tipo de gerador elétrico mais comumente usado é o de indução, onde um campo


magnético é induzido entre o rotor e o estator por um movimento relativo, o que gera corrente
nos enrolamentos do rotor. A interação dos campos magnéticos associados ao rotor e ao
estator resulta no torque atuando no rotor. As principais vantagens deste tipo de gerador são:
robustez, baixo preço, e facilidade para conectar a uma rede elétrica. A principal
desvantagem é que o estator é dependente de uma corrente de magnetização, logo a potência
reativa deve ser providenciada pela rede ou por um banco de capacitores (DNV/RISØ, 2002).
Outro tipo de gerador elétrico utilizado em aerogeradores é o gerador síncrono,
geralmente tem-se um rotor bobinado, o qual é excitado com corrente contínua via anéis
deslizantes. O enrolamento do rotor, por onde flui a corrente contínua, gera o campo de
excitação, o qual gira com velocidade síncrona.
A velocidade do gerador síncrono é determinada pela frequência de rotação do campo
e do número de pares de imãs no rotor. O gerador síncrono tem a vantagem de não necessitar
de corrente de magnetização ou reativa, no entanto o custo para sua confecção é maior do que
os geradores de indução (DNV/RISØ, 2002).
20

2.2.4 Nacele, sistema de posicionamento ao vento e controles

A nacele constitui o abrigo dos componentes do aerogerador e sua cobertura protege a


máquina da intempérie, tendo também a função de isolação do ruído das partes em
movimento. Ela também precisa de ventilação para permitir um arrefecimento adequado para
o sistema mecânico, também é importante que o acesso a nacele seja seguro, pois durante
períodos de manutenção poderá haver a remoção de componentes danificados (DNV/RISØ,
2002).
O sistema de orientação ou posicionamento ao vento é necessário para manter o rotor
alinhado com o vento, sendo que o principal componente é um rolamento que conecta a
carcaça do aerogerador a torre. Os aerogeradores de grande porte utilizam sistemas de
posicionamento automático controlado por um sensor de direção de vento, geralmente,
localizado na nacele. Sistemas de orientação livres utilizam lemes para movimentar o rotor, o
que é comum em aerogeradores de pequeno porte (MANWELL et al., 2009).
Os controles servem para maximizar a vida útil dos componentes estruturais do
aerogerador na presença de mudanças da direção do vento, velocidade e turbulência, assim
como definir os ciclos de início e parada do gerador. O sistema de controle geralmente é
constituído de sensores, amplificadores de potência, computadores e microprocessadores
(MANWELL et al., 2009).

2.2.5 Torre e fundação

Os modelos principais de torre atualmente em uso são feitos de tubos de aço, treliças e
concreto, aerogeradores menores normalmente utilizam torres estaiadas, já a maioria dos
aerogeradores de grande porte é feita de tubos de aço em seções de 20 a 30 metros de
comprimento flangeadas em sua extremidade. As torres treliçadas são mais baratas e causam
menos interferências no vento que aciona as pás do rotor comparado com torres de formato
cilíndrico, porém por questões estéticas não são amplamente empregadas. A escolha do tipo
de torre é fortemente influenciada pelas características do local, em aerogeradores de maior
porte a rigidez da torre é um fator relevante em sistemas dinâmicos devido à possibilidade de
ressonância entre o rotor e a torre (DNV/RISØ, 2002).
A escolha do tipo de fundação depende muito da condição do solo no local onde o
aerogerador será instalado. Aerogeradores onshore utilizam fundações de sapatas de concreto
ou estacas, onde sapatas de concreto são utilizadas em solos fortes o suficiente para suportar
21

os carregamentos do aerogerador, enquanto que para solos com baixa resistência são
utilizadas fundações profundas com estacas para absorver melhor os carregamentos.
Aerogeradores offshore utilizam uma estrutura secundária para transferir os carregamentos da
torre pela água até o suporte no solo (DNV/RISØ, 2002).

2.3 PREVISÃO E CONTROLE DA POTÊNCIA DE SAÍDA

A potência de saída de um aerogerador varia com a velocidade do vento e todo


aerogerador tem uma curva de potência característica. Com tal curva é possível prever a
produção de energia elétrica de um aerogerador sem considerar os detalhes técnicos dos seus
diversos componentes, pois a curva de potência fornece a potência elétrica de saída como
uma função da velocidade de vento na altura do cubo (MANWELL et al., 2009). O
desempenho de um dado aerogerador é relacionado a cinco períodos de operação, mostrados
no gráfico da Figura 2.4, de percentual de geração e velocidade de vento (PATEL, 2006).

Figura 2.4 - Períodos de controle de um aerogerador.

Fonte: Adaptado de Patel (2006).


22

O primeiro período de operação ou ponto da curva da figura 2.4 está relacionado à


velocidade de partida ( ) que é a menor velocidade de vento no qual a máquina começa a
produzir energia elétrica.
O segundo período é relacionado à região da curva onde o coeficiente de potência é
constante e onde a velocidade do rotor varia com a velocidade de vento para operar em uma
razão entre a velocidade da ponta da pá e a velocidade do vento constante e correspondente
ao valor máximo do coeficiente de potência.
O terceiro é um período de transição onde a turbina começa a operar em altas
velocidades de vento, logo é definido um limite máximo de velocidade do rotor para operar
na faixa determinada pelo projeto do aerogerador. Em velocidade de rotação constante, o
coeficiente de potência começa a diminuir, logo a potência aumenta a uma taxa menor do que
nas primeiras regiões.
No quarto período, ainda em altas velocidades de vento, é a velocidade do vento em
que o aerogerador atinge a potência nominal ( ), mecanismo de proteção como freios
mecânicos e aerodinâmicos são acionados para evitar a sobrecarga no gerador e de seus
componentes eletrônicos, logo a máquina começa a operar em potência constante controlada.
O quinto período é o ponto da curva onde ocorre a velocidade de corte ( ), que é a
máxima velocidade de vento que a turbina permite produzir energia. Para proteger as pás, o
gerador elétrico e outros componentes do sistema, o rotor deve ser bloqueado por mecanismo
de segurança (PATEL, 2006 e MANWELL et al., 2009).
Para o controle da potência de saída do aerogerador, no caso de velocidades elevadas
de vento existem dois métodos tradicionais: o controle de passo e o controle por estol
(PATEL, 2006).
Com o controle por estol (Figura 2.5), o aerogerador apresenta suas pás fixas no rotor
sem a possibilidade de rotação em torno do seu eixo longitudinal. O controle é feito a partir
da geometria do perfil de pá do rotor que usa o estol aerodinâmico para regular a velocidade
da turbina em altas velocidades de vento. Uma pá de controle por estol apresenta uma ligeira
torção ao longo do eixo longitudinal a fim de que o efeito de estol ocorra gradualmente. A
maioria dos aerogeradores que usam controle por estol é de pequeno porte, pois quanto maior
o tamanho da turbina, mais complexo será o projeto estrutural e dinâmico de todo o
aerogerador (PATEL, 2006 e Danish Wind Industry Association, 2015).
Com o controle de passo (Figura 2.5), um controlador eletrônico verifica a potência de
saída do aerogerador, caso a potência esteja alta, o controlador envia um sinal para o sistema
23

de controle de passo, que aciona um mecanismo elétrico ou hidráulico para girar as pás em
torno do seu eixo longitudinal e assim diminuir a influência do vento sobre as pás. A potência
tende a flutuar acima e abaixo do seu valor médio, devido a inércia do rotor, enquanto o
mecanismo de passo ajusta a pá com a velocidade de vento. O custo adicional de pás com
controle de passo é maior do que por estol, devido ao maior valor das peças móveis que
mantém a robustez do sistema (PATEL, 2006 & Danish Wind Industry Association, 2015).

Figura 2.5 - Perfil de variação da potência de saída pela velocidade do vento para aerogerador
com controle de passo e por estol.

Fonte: Adaptado de Patel (2006).

As curvas de potência para máquinas já projetadas e instaladas normalmente são


obtidas pelo próprio fabricante que realizou testes no protótipo físico e validou os resultados.
É possível também estimar a curva e potência de máquinas através de simulação
computacional, porém é necessário conhecer as características do rotor eólico, do gerador
elétrico, da caixa de engrenagem, da razão de transmissão e da eficiência dos componentes
(MANWELL et al., 2009).

2.4 MANUTENÇÃO DE AEROGERADORES

A maioria dos estudos de falhas em aeogeradores encontrados na literatura é para


grande porte, onde o problema principal está na caixa de engrenagem. Os aerogedores de
velocidade fixa são os que mais têm problemas em caixas de engrenagem segundo o estudo
24

de Tavner et al. (2006). Os danos em dentes de engrenagem e falhas em rolamentos são


defeitos comuns em caixa de engrenagem devido ao alto ou baixo carregamento,
desalinhamento e falta de lubrificação (NIVEDH ASSOCIATE, 2014). O tempo para realizar
a manutenção em um aerogerador de grande porte é maior quando este se localiza no mar,
além da logística e do custo de manutenção ser alto (HAMILTON, 2014).
Para aerogeradores de pequeno porte o maior problema é quando estão localizados em
comunidades isoladas, onde é difícil para uma equipe técnica acompanhar o desempenho da
máquina continuamente. Uma forma de contornar esse problema é realizar um treinamento de
membros da própria comunidade para fazer a manutenção preventiva e corretiva das
máquinas. Um estudo de caso no Peru feito por Leary et al. (2012) mostra duas empresas de
fabricação e manutenção de aerogeradores de pequeno porte, onde uma opta por fazer o
treinamento de membros da comunidade e a outra prefere mandar sua própria equipe técnica
até o local. O resultado foi que a empresa que preferia fazer o treinamento da comunidade
tinha um menor tempo de máquina parada, pois os próprios moradores, que eram treinados,
faziam substituições de peças defeituosas como parafusos, porcas, retificadores, cabos
elétricos e em certos casos poderiam descer o rotor eólico da torre para realizar um reparo.
A maioria dos aerogeradores de pequeno porte são de acionamento direto, velocidade
variável e utilizam geradores de imã permanente. Os aerogeradores de acionamento direto
não tem caixa de engrenagem, porém a maior parte das falhas geralmente ocorre em
componentes elétricos e eletrônicos (TAVNER et al., 2006).
25

3 AERODINÂMICA DO ROTOR EÓLICO

3.1 INTRODUÇÃO

Esta seção introduz conceitos importantes de aerodinâmica e detalha as análises


clássicas aplicadas a aerogeradores de eixo horizontal. Primeiramente aborda-se a teoria do
disco atuador e em seguida os efeitos da rotação de esteira para complementar a teoria da
quantidade de movimento e do elemento de pá. A combinação das duas teorias, chamada em
inglês blade element momentum (BEM) ou teoria da quantidade de movimento do elemento
de pá é usada para descrever a metodologia utilizada para o projeto aerodinâmico e análise do
desempenho do rotor eólico que é o foco principal deste trabalho. Algumas características do
perfil aerodinâmico para aerogeradores também são abordadas, como a distribuição das
forças sobre o perfil e o comportamento aerodinâmico com a variação do ângulo de ataque,
estas informações podem ser utilizadas para fazer a escolha apropriada do perfil
aerodinâmico de acordo com o porte do aerogerador.

3.2 TEORIA DO DISCO ATUADOR

Considerando-se um volume de controle no qual as bordas são representadas por um


tubo onde passa uma corrente de ar entre os pontos 1 e 4 mostrados na Figura 3.1. O rotor é
representado por um disco atuador uniforme o qual cria uma descontinuidade de pressão no
tubo por onde escoa o ar. A montante do disco o tubo tem uma área de seção transversal
menor devido a um aumento de pressão. Porém, conforme o ar escoa por de trás do rotor
existe uma queda descontínua de pressão, onde a área de seção transversal do tubo se torna
cada vez maior. O disco atuador age como um dispositivo de arrasto, desacelerando a
velocidade de vento na entrada até na saída do plano do rotor. A jusante do rotor a
pressão se recupera continuamente conforme se afasta do disco atuador até chegar à pressão
ambiente.
A partir da conservação de quantidade de movimento, e considerando-se o
escoamento unidimensional, incompressível e em regime permanente, tem-se que o empuxo
( ) é igual e oposto à força do vento atuando no aerogerador:

( ) ( ) (3.1)
26

onde é a massa específica do ar, é a área da seção transversal.

Figura 3.1 - Modelo do disco atuador de um aerogerador.

Fonte: Adaptado de Manwell et al. (2009).

Para um escoamento estacionário, ( ) ( ) ̇ , onde ̇ é a vazão


mássica. Portanto:

̇( ) (3.2)

Como empuxo é positivo, então a velocidade atrás do rotor, , é menor do que a


velocidade de entrada no tubo de corrente, . Considerando-se que não há trabalho de a
e também de a em ambos os lados do rotor da turbina. Assim, a equação de
Bernoulli pode ser usada nos dois volumes de controle em cada lado do disco atuador. Para o
fluxo de corrente de ar a montante do disco:

(3.3)

Para o fluxo de corrente de ar a jusante do disco:

(3.4)
27

Assumindo-se que as pressões e são iguais e as velocidades de vento próximas


ao disco são também iguais ( ). O empuxo também pode ser expresso como a força
resultante entre a entrada e a saída do disco atuador:

( ) (3.5)

Equacionando (3.3), (3.4) e (3.5) tem-se:

(3.6)
( )

Com as equações (3.2) e (3.6) se obtém:

(3.7)

Deste modo, a velocidade do vento no plano dianteiro do rotor é a média entre a


velocidade de vento a montante e a jusante.
O fator de indução axial ( ) é definido como a fração de diminuição da velocidade do
vento entre e , logo:

(3.8)

Equacionando (3.7) e (3.8) obtém-se:

( ) (3.9)

( ) (3.10)

Assim que o fator de indução axial aumentar a partir de zero, a velocidade de vento
atrás do rotor vai diminuir cada vez mais. Se , o vento atrás do rotor terá sua
velocidade reduzida a zero.
Pelas equações (3.6), (3.7), (3.9) e (3.10), o empuxo axial no disco é:
28

(3.11)
[ ( )]

A potência extraída pelo rotor, , é igual ao empuxo vezes a velocidade no disco:

(3.12)
( ) ( )( )

Substituindo e das equações (3.9) e (3.10) obtém-se:

(3.13)
( )

onde, pode também ser considerada como a área do rotor ( ), e a velocidade de vento é
substituída por .
O desempenho de rotores eólicos é geralmente caracterizado por seu coeficiente de
potência, , definido como:

(3.14)
( )

O coeficiente de potência é a razão entre a potência de eixo do rotor e a potência de


vento incidente e corresponde à fração da potência no vento que pode ser extraída pelo rotor.
Nenhum rotor pode extrair mais do que 59,26 % da energia disponível no vento em uma área
correspondente ao seu diâmetro, sendo este valor máximo conhecido como limite de Betz. O
máximo é determinado pela derivada do coeficiente de potência em relação ao fator de
indução axial ( ) e igualando a zero, produzindo .

3.3 AEROGERADOR DE EIXO HORIZONTAL IDEAL COM ROTAÇÃO NA ESTEIRA

Esta análise considera o efeito de rotação na esteira na potência desenvolvida por um


rotor eólico. O rotor eólico durante o giro gera um momento angular em reação ao torque
exercido pela corrente de ar que aciona o rotor, formando-se um escoamento rotacional atrás
29

e girando na direção oposta do rotor. Rotores de torque elevado e baixa rotação


experimentam maiores perdas de energia devido à formação de esteira.
Assumindo-se que velocidade angular transmitida ao escoamento é e a velocidade
angular do rotor eólico é , quando o ar escoa pelo disco atuador a velocidade angular
relativa do ar para a pá aumenta de na entrada para na saída do rotor, enquanto a
componente axial da velocidade permanece constante. A partir da equação de Bernoulli tem-
se:

( ) (3.15)

Então,

(3.16)
( )

O empuxo resultante em um elemento anular ( ) é:

(3.17)
( ) [ ( ) ]

O fator de indução tangencial ( ) é definido como:

(3.18)

Substituindo na equação do empuxo, tem-se:

( ) (3.19)

Seguindo a análise de momento linear mostrada anteriormente, o empuxo em uma


seção transversal anular pode ser também determinado pela seguinte expressão que usa o
fator de indução axial ( ) e :
30

( ) (3.20)

Equacionando as duas expressões do empuxo, tem-se:

( ) (3.21)
( )

Onde a é a razão local entre a velocidade da pá e a velocidade de vento.


A razão entre a velocidade da ponta da pá e a velocidade do vento é:

(3.22)

Assim, a equação da é:

(3.23)

Onde, é uma distância específica entre o raio do cubo e a ponta da pá.


Pode-se derivar uma expressão para o torque no rotor pela aplicação da conservação
da quantidade de movimento, logo, o torque exercido no rotor ( ) deve igualar-se a
quantidade de movimento angular por unidade de tempo. Incrementando um elemento de
área anular, obtém-se:

̇( )( ) ( )( )( ) (3.24)

Como ( )e , esta expressão se reduz a:

(3.25)
( )

A potência gerada em cada elemento, , é dada por:

(3.26)
31

Substituindo nesta expressão e usando a definição da relação de velocidade local,


, apresentada na equação (3.23), a expressão para a potência gerada em cada elemento se
torna:

(3.27)
[ ( ) ]

Pode-se ver que a potência de qualquer elemento anular está em função dos fatores de
indução axial e tangencial e de . Os fatores de indução axial e tangencial determinam a
magnitude e a direção do fluxo de ar no plano do rotor.
A contribuição que é dada ao coeficiente de potência, , de cada elemento anular é
dada por:

(3.28)

Assim,

(3.29)
∫ ( )

A fim de integrar esta expressão, é necessário relacionar as variáveis , e .


Resolvendo a equação (3.21) para expressar em termos de , obtém-se:

(3.30)
√[ ( )]

As condições aerodinâmicas para a máxima produção de potência deve ocorrer


quando o termo ( ) da equação (3.29) estiver no valor mais alto. Substituindo o valor
de da equação (3.30) em ( ), derivando e igualando a zero, pode-se obter:

( )( ) (3.31)
32

Esta equação define o fator de indução axial para uma máxima potência como função
da razão local entre a velocidade da pá e a velocidade de vento ( ). Substituindo na equação
(3.21), a relação ótima entre e se torna:

(3.32)

3.4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DE PERFIS AERODINÂMICOS

Os perfis aerodinâmicos são fundamentais na definição da geometria da pá do


aerogerador. Entre a década de 70 e o início da década de 80, muitos dos perfis
aerodinâmicos utilizados em pás de aerogeradores eram os mesmos aplicados na aviação,
pois apresentavam bom comportamento aerodinâmico como alto coeficiente de sustentação,
baixo coeficiente de momento e baixo coeficiente de arrasto. Porém, cientistas descobriram
que aerogeradores não poderiam ter coeficientes de sustentação tão altos quanto o de
aeronaves, pois em altas velocidades de vento o rotor apresentava rotação muito elevada,
ocasionando em danos estruturais ao gerador elétrico, principalmente em máquinas onde o
controle é por estol (MANWELL et al., 2009).
Para o caso de máquinas por controle de passo rajadas de vento aumentam muito o
coeficiente de sustentação levando a excessivas flutuações de carregamento aerodinâmico e
não dando tempo para que o sistema de controle de passo corrija esse efeito (MANWELL et
al., 2009).
Projetistas de pás de aerogeradores começaram a dar mais atenção na seleção de perfis
aerodinâmicos. Com a utilização de ferramentas computacionais os projetistas começaram a
desenvolver perfis com ângulo de ataque longe da região de estol para minimizar os
carregamentos aerodinâmicos devido a rajadas e altas velocidades de vento (MANWELL et
al., 2009).
Os carregamentos aerodinâmicos são forças que se distribuem pela superfície do perfil
e que são responsáveis pela movimentação das pás de aerogeradores. O escoamento do fluido
gera uma baixa pressão na parte côncava do perfil e alta pressão na parte convexa, o que
caracteriza-se pela força de sustentação e devido aos efeitos viscosos de contato do ar com a
superfície do perfil ocorre uma força resistente ao escoamento, chamada de força de arrasto
33

(Figura 3.2). O ar também causa um momento sobre o perfil em um eixo perpendicular a


seção transversal (MANWELL et al., 2009).

Figura 3.2 - Esforços atuantes no aerofólio.

Fonte: Adaptado de Manwell et al. (2009).

Um dos parâmetros adimensionais importantes para definir o tipo de escoamento é o


número de Reynolds ( ), cuja equação é mostrada a seguir:

(3.33)

onde é a massa específica do fluído, é a viscosidade dinâmica, é a viscosidade


cinemática, é a velocidade do fluído e é o comprimento que caracteriza a escala do
fluído, para o caso de perfis aerodinâmicos este comprimento é a corda ( ). O número de
Reynolds influencia no comportamento do escoamento sobre o perfil. Quando o número de
Reynolds diminui os efeitos viscosos aumentam. Isto aumenta os efeitos da rugosidade da
superfície, afetando a velocidade, o gradiente de pressão, e a sustentação gerada pelo perfil.

Para o projeto do rotor eólico é necessário considerar diversos coeficientes que variam
conforme o número de Reynolds e o ângulo de ataque.

Coeficiente de sustentação ( ):

(3.34)
34

Coeficiente de arrasto ( ):

(3.35)

Coeficiente de momento ( ):

(3.36)

onde é a força de sustentação, é a força de arrasto, é o momento, é o comprimento


da corda, é a espessura do perfil e é a área projetada do perfil ( ).
Para perfis simétricos e baixos valores de ângulos de ataque ( ) o coeficiente de
sustentação pode ser representado pela equação (ABBOTT E VON DOENHOFF, 1959):

(3.37)

Em condições ideais o coeficiente de sustentação para perfis simétricos aumenta


conforme o ângulo de ataque aumenta, até um ponto que o ângulo de ataque alcance 90 graus.
Porém, em condições reais isso ocorre apenas em valores baixos de ângulo de ataque, a partir
de valores altos de ângulo de ataque o coeficiente de sustentação começa a cair devido aos
efeitos viscosos que desaceleram o fluído próximo a superfície do perfil resultando em
descolamento da camada limite.
Perfis simétricos têm coeficiente de sustentação igual a zero quando o ângulo de
ataque também é zero. O coeficiente de arrasto é muito menor do que o de sustentação para
baixos ângulos de ataque, porém, o coeficiente de arrasto aumenta quando o valor do ângulo
de ataque é alto.
O coeficiente de sustentação pode ser maior, utilizando perfis arqueados enquanto que
o coeficiente de arrasto é menor. Ressalta-se que perfis arqueados não apresentam coeficiente
de sustentação igual a zero quando o ângulo de ataque é zero.
O comportamento do perfil aerodinâmico é dividido em três regiões: a região onde o
escoamento permanece colado a superfície do perfil; a região de alta sustentação onde ocorre
35

o estol e o descolamento se desenvolve; e a região de total descolamento do escoamento com


a superfície do perfil.

Regime de operação sem descolamento: Em ângulos de ataque baixos o escoamento


permanece colado a superfície superior do perfil. Neste regime sem descolamento, a
sustentação aumenta com o ângulo de ataque e o arrasto é relativamente baixo.

Regime de desenvolvimento do descolamento: O coeficiente de sustentação chega


ao pico enquanto o perfil estola. O estol ocorre quando o ângulo de ataque excede um certo
valor crítico e a camada limite começa a se separar da superfície do perfil aerodinâmico. Isto
gera uma esteira que reduz a sustentação e aumenta o arrasto. Este efeito é muito utilizado em
aerogeradores de controle passivo, como já citado na seção 2.

Regime completamente separado: Neste regime o perfil apresenta valores de


sustentação e arrasto aproximadamente iguais ao de uma chapa plana em valores de ângulo
de ataque a partir de 45 graus e quando em 90 graus o perfil apresenta zero de sustentação.

Os perfis aerodinâmicos utilizados em aerogeradores de eixos horizontal são


projetados para um baixo ângulo de ataque com um razoável valor de coeficiente de
sustentação e baixo valor de coeficiente de arrasto. A variação de pressão no perfil pode
acelerar ou desacelerar a velocidade de escoamento do fluído, e as turbulências na atmosfera
podem causar mudanças no comportamento do vento mudando o ângulo de ataque e a
distribuição de pressão sobre a superfície da pá.

3.5 TEORIAS PARA O CALCÚLO DO DESEMPENHO AERODINÂMICO

A teoria da quantidade de movimento se refere a uma análise do volume de controle


das forças sobre as pás baseado na conservação da quantidade de movimento linear e angular.
A teoria do elemento de pá refere-se a uma análise das forças na seção da pá em função de
sua geometria, esta teoria pode ser usada para relacionar o formato da pá com a habilidade do
rotor em extrair energia do vento. A união das duas teorias é conhecida em inglês como
Blade Element Momentum (BEM) ou teoria da quantidade de movimento do elemento de pá.
36

3.5.1 Teoria da quantidade de movimento

A presente análise é baseada no volume de controle anular, onde os fatores de indução


axial e tangencial são assumidos como função do raio, .
Aplicando a conservação da quantidade de movimento linear para o volume de
controle de raio e espessura , a equação (3.20) é uma expressão para a contribuição
diferencial do empuxo:

( ) (3.38)

Similarmente, da equação (3.25) de conservação da quantidade de movimento


angular, o torque diferencial ( ) transmitido para as pás é:

( ) (3.39)

Assim, pela teoria da quantidade de movimento obtém-se duas equações que definem
o empuxo e o torque em uma seção anular do rotor em função do fator de indução axial e
tangencial.

3.5.2 Teoria do elemento de pá

As forças nas pás de aerogeradores podem ser expressas em função dos coeficientes
de sustentação e arrasto e do ângulo de ataque. Para esta análise a pá é dividida em seções
(ou elementos). As seguintes considerações podem ser feitas:

 Não existe interação aerodinâmica entre elementos (logo, não há escoamento


radial).
 As forças nas pás são determinadas somente pelas características de
sustentação e arrasto do formato do aerofólio das pás.

A velocidade relativa de vento é a soma do vetor velocidade de vento sobre o rotor,


( ), com a velocidade de vento devido a rotação da pá, ( ). Este componente
37

rotacional é a soma do vetor velocidade da seção da pá, , e a velocidade angular induzida


nas pás da conservação da quantidade de movimento angular, , ou:

( ) ( ) (3.40)

Pela figura 3.3 diz-se que: a seção do ângulo de passo é , o qual é o ângulo entre a
linha da corda e o plano de rotação; o ângulo de passo na ponta é ; o ângulo de torsão é
; o ângulo de ataque é o ângulo entre a linha de corda e a velocidade relativa do vento; o
ângulo da velocidade relativa é ; o incremento da força de sustentação é ; o incremento
da força de arrasto é ; o incremento de força normal ao plano de rotação é ; o
incremento de força tangencial a área circular varrida pelo rotor é ; a velocidade relativa
do vento é .
As seguintes relações podem ser determinadas pela análise da figura 3.3:

(3.41)

(3.42)

( ) (3.43)
( ) ( )

( ) (3.44)

( ) (3.45)

(3.46)

(3.47)

(3.48)
38

(3.49)

Figura 3.3 - Geometria de um perfil de pá para definição de suas variáveis.

Fonte: Adaptado de Manwell et al. (2009).

Se o rotor tem um numero de pás ( ), a força total normal na seção devido ao empuxo
em uma distância ( ) do centro é:

(3.50)
( )

O torque diferencial devido a força tangencial operando a uma distância ( ) do centro


depende também do número de pás do aerogerador:

(3.51)

então,

(3.52)
( )
39

Nota-se que o efeito de arrasto diminui o torque e a potência, mas aumenta a carga de
empuxo.
Logo da teoria do elemento de pá pôde-se obter duas equações que definem a força
normal (empuxo) e a força tangencial (torque) na seção anular do rotor como função dos
ângulos de escoamento nas pás e as características do aerofólio. Estas equações são usadas a
seguir com suposições adicionais, para determinar o desempenho do rotor para qualquer
formato de pá.

3.5.3 Teoria da quantidade de movimento do elemento de pá

Para a simplificação das equações do torque e do empuxo, assume-se que:

(3.53)

(3.54)

Através das relações da figura 3.3 obtém-se:

( ) (3.55)

( ) ( ) (3.56)

Rearranjando as equações do empuxo e do torque e inserindo as equações (3.20) e


(3.25), respectivamente, obtém-se as equações para os fatores de indução axial e tangencial.

(3.57)

(3.58)
40

Onde a solidez ( ) é definida como a relação entre a área total do rotor e a área
varrida pelas pás . Os valores de solidez e de corda estão em função de , pois variam
localmente.

( ) (3.59)
( )

3.5.3.1 Fator de correção de Prandtl

Por causa da pressão no lado de sucção da pá ser menor do que o lado pressurizado, o
ar tende a escoar sobre a ponta da menor para a maior superfície, reduzindo a sustentação e
consequentemente a produção de energia próximo a ponta. Este efeito é na maioria das vezes
notado em algumas pás de grandes comprimentos empregados em aerogeradores de grande
porte.
Diversos métodos foram sugeridos para incluir o efeito da perda na ponta, sendo o
método mais utilizado o desenvolvido por Prandtl (DE VRIES, 1979). De acordo com este
método, um fator de correção ( ) deve ser introduzido nas equações já apresentadas. Este
fator está em função do número de pás, do ângulo de velocidade relativa e a posição ao longo
do eixo longitudinal da pá.

( )[ ( )] (3.60)
( ) { [ ( )]}
( )

Este fator de correção caracteriza a redução das forças de torque e empuxo no raio ( ).
Da teoria da quantidade de movimento se obtém as equações:

( ) (3.61)

( ) (3.62)

Logo, obtém-se também os fatores de indução axial e tangencial:


41

(3.63)

(3.64)

3.5.3.2 Correção de Glauert para altos valores do fator de indução axial

Através do coeficiente de empuxo ( ) para valores de fator de indução axial acima


de 0,4, utilizam-se as seguintes equações (HANSEN, 2000):

(3.65)
( )
{
[ ( ) ]

ou

( ) (3.66)
{
[ ( ) ]

O valor de é aproximadamente 0,2 (SPERA, 2009). Para um volume de controle


anular o coeficiente de empuxo ( ) por definição é:

(3.67)

Se a equação (3.55) for utilizada para calcular então:

( ) (3.68)

Igualando a equação (3.66) com a equação (3.68), obtém-se uma expressão empírica
utilizando o fator de indução axial:
42

Se

( ) (3.69)
( )

Arrumando a equação (3.69) em função de :

(3.70)

Para :

( ) (3.71)
[ ( ) ]

Em função de , tem-se:

(3.72)
[ ( ) √( ( ) ) ( )]

onde,

(3.73)

3.6 METODOLOGIA PARA PROJETO DO ROTOR EÓLICO

As análises anteriores podem ser usadas para realizar o projeto aerodinâmico do rotor.
Primeiramente é necessário selecionar alguns parâmetros do rotor e escolher o perfil ou perfis
aerodinâmicos ao longo do comprimento da pá. Para se ter um formato de pá ótimo é preciso
considerar os efeitos de rotação de esteira. O formato e o desempenho final da pá são
determinados iterativamente considerando arrasto e perdas na ponta. Os passos para a
43

determinação da geometria das pás de um rotor eólico são apresentados a seguir, assim como
a forma de obtenção do coeficiente de potência:

1º passo: Deve-se decidir qual a potência elétrica ( ) é necessária em uma


velocidade de vento particular ( ). Incluindo o efeito de um provável e eficiências ( ) que
representam outros componentes como caixa de engrenagem, gerador, mancais,
acoplamentos, entre outros. O raio ( ) do rotor pode ser estimado da equação:

(3.74)
( )

2º passo: De acordo com o tipo de aplicação, escolhe-se a razão entre a velocidade da


ponta da pá e a velocidade do vento ( ). Para aplicações de aerogeradores de eixo horizontal
geralmente usa-se . Quanto mais alto for a velocidade do aerogerador menos
material se utiliza nas pás e menor será a caixa de engrenagem, porém necessita de aerofólios
mais sofisticados.

3º passo: Escolher o número de pás ( ) pela tabela 1. Nota: se um número menor que
3 pás for selecionado, existe alguns problemas dinâmicos e estruturais que devem ser
considerados no projeto do cubo.

Tabela 3.1 - Número de pás sugerido para diferentes .


Número de pás ( )
1 8-24
2 6-12
3 3-6
4 3-4
>4 1-3
Fonte: Adaptado de Manwell et al. (2009).

4º passo: Selecionar um aerofólio (perfil). Se , chapas curvadas podem ser


usadas. Se , um formato mais aerodinâmico deve ser usado.
44

5º passo: Obter e examinar as curvas empíricas para as propriedades aerodinâmicas do


aerofólio em cada seção (o tipo de aerofólio pode variar da raiz até a ponta da pá). Escolher
as condições aerodinâmicas de projeto para, , e .
O número de Reynolds define as curvas para obtenção das condições aerodinâmicas
de projeto, baixos valores de número de Reynolds são indicados para aerogeradores de
pequeno porte e quanto maior for o número de Reynolds maior deve ser o porte do
aerogerador. Na literatura existem diferentes perfis aerodinâmicos para aerogeradores que se
adaptam melhor a baixos valores de número de Reynolds, assim como para maiores (SELIG
e BRYAN, 2004).

6º passo: Dividir a pá em elementos e estimar o seu formato.

( ) (3.75)

Das equações (3.21) e (3.32) tem-se uma relação entre e :

( ) (3.76)

( ) ( ) (3.77)

Derivando ( ):

( ) (3.78)

O cálculo do fator de indução axial, pode ser obtido utilizando o método de Newton-
Raphson:

( ) (3.79)
( )

Após um determinado critério de convergência, se obtém o valor do fator de indução


axial assim como os valores do fator de indução tangencial e do pela equação (3.32) e o
ângulo de velocidade relativa do vento pela equação:
45

(3.80)
( )

A equação da corda é obtido combinando as equações (3.57) e (3.59):

(3.81)
( )

7º passo: A análise de desempenho do rotor eólico é feita a partir de um método


iterativo onde é necessário estimar os valores iniciais dos fatores de indução axial e
tangencial a partir dos valores de projeto do rotor eólico. Uma primeira abordagem simples é
calculando o ângulo da velocidade relativa a partir da razão local entre a velocidade da pá e a
velocidade de vento.

(3.82)
( )

Em seguida, utiliza-se o fator de correção de Prandtl:

( )[ ( )] (3.83)
( ) { [ ( )]}
( )

O valor inicial do fator de indução axial é calculado utilizando os parâmetros do perfil


aerodinâmico, da pá e do valor aproximado do ângulo de velocidade relativa.

(3.84)
( )

A equação (3.32) é utilizada para obter o valor inicial do fator de indução tangencial
( ).
46

(3.85)

Inicia-se um método iterativo aplicando novamente as equações do ângulo de


velocidade relativa para os valores iniciais dos fatores de indução e do fator de correção de
Prandtl:

( ) (3.86)
( ) ( )
( ) ( )

( )[ ( )] (3.87)
( ) { [ ( )]}
( )

Determina-se, então o e dos dados de arrasto e sustentação do perfil


aerodinâmico devido a variação do ângulo de ataque ( ). Em caso de variação da
velocidade de vento, os dados de arrasto e sustentação serão diferentes, pois o número de
Reynolds varia para cada comprimento de corda pela equação (3.33).

(3.88)

Finalmente, aplica-se um condicional para a correção de Glauert de altos valores de


fator de indução:

Se
(3.89)
( )

Senão:

(3.90)
[ ( ) √( ( ) ) ( )]

onde,
47

(3.91)

8º passo: Se os novos valores dos fatores de indução não estiverem dentro de certa
tolerância, retorna-se a equação (3.85). Após o critério de convergência calcula-se o
coeficiente de potência pela equação (3.29):

(3.92)
∫ ( )

Quando a pá for projetada para uma operação ótima em um específico , o


desempenho do rotor sobre todos os esperados deve ser determinado. Para cada , as
condições aerodinâmicas em cada seção da pá precisam ser determinadas. A partir disso, o
desempenho total do rotor pode ser determinado. Os resultados são frequentemente
apresentados como um gráfico do coeficiente de potência pelo , chamado curva .
48

4 SIMULAÇÃO DE AEROGERADOR

4.1 INTRODUÇÃO

Nesta seção são apresentadas as etapas para dimensionamento das pás de um rotor
eólico acoplado a um gerador elétrico predeterminado, para isso, inicialmente descreve-se a
etapa de realização de ensaio do gerador elétrico para obtenção das curvas de potência
mecânica e da eficiência do gerador. Em seguida, apresenta-se a ferramenta computacional
desenvolvida em LabView para realizar o projeto do rotor eólico. Como exemplo de
dimensionamento, adotam-se duas configurações de aerogeradores, onde determina-se o
ponto de operação de um aerogerador com acoplamento direto, assim como um aerogerador
com caixa de multiplicação. Por fim, a fim de realizar-se a validação do fator de indução
axial obtido, compara-se a metodologia numérica da teoria BEM com o software Ansys CFX.

4.2 BANCADA EXPERIMENTAL PARA ENSAIOS DE GERADORES ELÉTRICOS

Fez-se o ensaio em uma bancada de um gerador elétrico de imã permanente e fluxo


axial com a finalidade de obter a curva de eficiência do gerador e a potência mecânica de
eixo no acoplamento motor-gerador, as quais são utilizadas posteriormente para o
dimensionamento do rotor eólico.
A bancada utilizada é descrita no trabalho de AZEVEDO (2012). No ensaio de
interesse utilizou-se um motor WEG trifásico de 2 CV acoplado ao gerador elétrico de imãs
permanentes, uma carga trifásica de potência nominal 20 kW em 220 Vrms entre fases com
uma resistência de 7,26 Ohms por fase conectada aos terminais do gerador e um tacômetro
para verificar a rotação. A figura 4.1 mostra a bancada com o motor e o gerador elétrico
acoplado.
O motor elétrico é acionado por meio de um inversor de frequência e a definição da
rotação do motor é realizada pelo usuário por meio de uma ferramenta computacional,
conforme descrito no trabalho de AZEVEDO (2012), onde faz-se o uso de um protocolo de
comunicação (protocolo WEG) para parametrização do inversor. Na bancada de ensaios,
utiliza-se uma placa de aquisição de dados da National Instruments USB modelo NI 6218
responsável pela amostragem dos parâmetros de tensão, corrente e rotação do gerador elétrico
em ensaio.
49

A figura 4.2 mostra a placa de aquisição de dados e o inversor empregados na


bancada.
Figura 4.1 - Bancada para ensaio do gerador elétrico.

Fonte: Autoria própria.

Figura 4.2 - Inversor e placa NI 6218.

Fonte: Autoria própria.

O primeiro passo do ensaio consiste na medição da potência ativa nos terminais do


gerador e na entrada do motor para uma faixa de rotação (Figura 4.3). A medição da potência
elétrica foi realizada por meio de um analisador de qualidade de energia trifásico.
50

Após a obtenção da curva de potência elétrica entregue ao motor e utilizando-se a


curva de eficiência do motor fornecida pelo fabricante (WEG, 2015) ilustrada na Figura 4.4,
calcula-se a potência mecânica no eixo de acoplamento do motor com o gerador (Figura 4.5).
Figura 4.3 - Potência elétrica obtida na saída do gerador e na entrada do motor.

Fonte: Autoria própria.

Figura 4.4 - Eficiência do motor.

Fonte: WEG (2015).


51

Como o acoplamento é direto do motor com o gerador, assume-se que a potência


mecânica no eixo do motor é a mesma no eixo do gerador, logo, para calcular o torque no
eixo do gerador se utiliza os valores obtidos de potência mecânica com a equação (4.1):

Figura 4.5 - Potência mecânica no eixo de acoplamento do motor com o gerador.

Fonte: Autoria própria.

(4.1)

Onde é a rotação medida no eixo do gerador e é o torque estimado no eixo do gerador.


Para obter a eficiência do gerador elétrico utiliza-se a equação (4.2):

(4.2)

A figura 4.6 mostra o gráfico de eficiência do gerador pela potência elétrica medida
nos terminais do gerador. Com a curva de eficiência do gerador é possível realizar novos
ensaios com cargas diferentes sem precisar medir novamente a potência de entrada do motor
para obter a potência mecânica em seu eixo, que é necessária para o dimensionamento de
52

todas as partes mecânicas girantes do aerogerador como o rotor eólico e a caixa de


engrenagem.

Figura 4.6 - Eficiência do gerador

Fonte: Autoria própria.

4.3 FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA DIMENSIONAMENTO DE ROTOR


EÓLICO

A ferramenta computacional desenvolvida neste trabalho é a primeira fase para definir


a geometria do rotor eólico antes do acoplamento com o gerador elétrico. A finalidade desta
ferramenta é poder gerar diversas geometrias para o rotor eólico, assim como calcular o seu
desempenho e poder verificar posteriormente qual configuração melhor se adequa ao
acoplamento com o gerador elétrico. Caso a primeira configuração não atenda a determinados
requisitos (custo, coeficiente de potência, fator de capacidade, entre outros) é necessário
reconfigurar os parâmetros do rotor por meio da ferramenta e testar novamente no
acoplamento com o gerador elétrico.
A ferramenta computacional foi desenvolvida no ambiente do software LabVIEW,
produzindo-se uma interface gráfica para o projeto do rotor, onde é necessário primeiramente
escolher no painel frontal da ferramenta computacional os parâmetros do perfil aerodinâmico,
53

o diâmetro do rotor e do cubo, o número de pás, o número de divisões da pá e a razão entre a


velocidade da ponta da pá e a velocidade de vento de projeto (em inglês: Tip-Speed Ratio).
Para o processo de escolha do perfil aerodinâmico, utilizou-se o programa XFLR5
para gerar as curvas do coeficiente de sustentação e arrasto para uma faixa de ângulo de
ataque. O ponto em que a relação do coeficiente de sustentação e arrasto é máximo para um
determinado ângulo de ataque é definido como valor ótimo, logo, esses valores são
escolhidos para serem parâmetros no projeto do rotor. A figura 4.7 mostra a curva para o
perfil NREL S834 com número de Reynolds de 100.000 obtido no XFLR5, é observado que
o XFLR5 não converge bem para valores baixos de ângulo de ataque, isto é um problema de
convergência causado pelo método dos painéis empregado no XFLR5 para calcular os
valores de coeficiente de sustentação e arrasto, este método não é discutido neste trabalho.
Ainda pela figura 4.7, a ferramenta computacional pode encontrar o ponto onde a relação
entre o coeficiente de sustentação e de arrasto é máxima.

Figura 4.7 - Ponto máximo da relação do coeficiente de sustentação e de arrasto.

Fonte: Autoria própria.

Quando os parâmetros de projeto forem selecionados, executa-se a ferramenta para


obter os valores do comprimento de corda e do ângulo de construção, essas variáveis são
calculadas a partir dos valores ótimos dos fatores de indução locais gerados pela ferramenta.
Outra variável importante que também pode ser obtida com a ferramenta é o número
de Reynolds local para uma condição definida de velocidade de vento, que servirá para obter
as curvas do coeficiente de sustentação e do coeficiente de arrasto para uma determinada
54

faixa de ângulo de ataque, os quais servirão também posteriormente para o cálculo do


desempenho do rotor eólico. Para o cálculo do número de Reynolds local também é
necessário o comprimento da corda para um número definido de seções da pá a uma distância
longitudinal, e também a viscosidade cinemática e a massa específica do ar para uma dada
temperatura.
O painel frontal (Figura 4.8) da ferramenta apresenta uma interface onde é possível
escolher os parâmetros de projeto, assim como verificar os resultados após a execução da
ferramenta. Uma prévia da geometria da pá que será utilizada no rotor eólico é mostrada em
3D para se ter uma noção imediata de como seria a pá projetada.
Figura 4.8 - Painel frontal de projeto geométrico do rotor eólico.

Fonte: Autoria própria.

O número de Reynolds local calculado para uma dada condição de vento, é enviado
para uma tabela no software XFLR5, onde são calculadas as curvas do coeficiente de
sustentação e de arrasto para uma faixa de ângulo de ataque. As figuras 4.9(a) e 4.9(b)
mostram a interface do XFLR5 assim como os gráficos para cada número de Reynolds em
relação aos coeficientes de sustentação, arrasto e ângulo de ataque. Esses valores de número
55

de Reynolds geram diversas tabelas com os valores das curvas de coeficiente de sustentação e
de arrastos pelo ângulo de ataque. Essas tabelas são utilizadas na ferramenta desenvolvida em
LabVIEW que faz a interpolação dos valores do coeficiente de sustentação e de arrasto para
um determinado ângulo de ataque.
A interpolação é acionada quando o método iterativo para calcular o coeficiente de
potência é executado, sendo este descrito na subseção 3.6 da seção 3 e a sua programação foi
implementada na ferramenta desenvolvida em LabVIEW.
O desempenho do rotor eólico é calculado para várias condições de velocidade de
vento, como cada velocidade de vento fornece um número de Reynolds diferente para cada
seção da pá em seu eixo longitudinal, o programa deve ser executado várias vezes para cada
velocidade de vento, onde um único valor de coeficiente de potência é obtido em cada
execução variando a velocidade angular do rotor para uma mesma velocidade de vento.

Figura 4.9 - Gráficos obtidos no software XFLR5.


(a)
56

(b)

Fonte: Autoria própria.

Os valores obtidos do coeficiente de potência são posteriormente utilizados para


calcular a potência mecânica para uma determinada velocidade de vento, massa específica do
ar e área varrida pelo rotor. No método iterativo do cálculo do coeficiente de potência é
possível obter vários valores de potência mecânica variando a rotação ou o parâmetro tip
speed ratio para uma velocidade de vento fixa. A equação (4.4) mostra a equação da potência
mecânica no eixo do rotor.

(4.4)

A equação (4.5) relaciona a potência mecânica no eixo do rotor com o gerador


considerando ausência de atrito no trem de potência em regime permanente. Esta equação é
importante para encontrar o ponto de operação do aerogerador ou seja, o ponto em que o
acoplamento do rotor com o gerador fornece a potência mecânica real da máquina em regime
permanente, sem considerar as perdas no acoplamento por desalinhamento, vibração e
deslizamento.

(4.5)
57

Logo,

(4.6)

onde e é o torque do gerador. A razão de transmissão entre o eixo do rotor e o


eixo do gerador é , a rotação do gerador é e a rotação do rotor é .

4.4 DEFINIÇÃO DO PONTO DE OPERAÇÃO DE AEROGERADOR DE


ACOPLAMENTO DIRETO (CASO 1)

A figura 4.10 mostra o caso de um aerogerador com o rotor dimensionado pela


ferramenta computacional, possuindo três pás, 1,6 metros de diâmetro de rotor, 0,25 metros
de diâmetro de cubo, o perfil aerodinâmico utilizado é o NREL S384 com um número de
Reynolds de 100.000 e tip speed ratio de 4. Assume-se o acoplamento direto rotor-gerador e
na figura 4.10 os dados da potência mecânica obtidos na bancada e o cálculo do coeficiente
de potência obtidos via ferramenta computacional são superpostos para várias condições de
velocidade de vento.

Figura 4.10 - Definição da operação do aerogerador projetado (caso 1).

Fonte: Autoria própria.


58

O ponto em que o aerogerador irá operar em regime permanente é a interseção das


curvas, onde cada uma (potência mecânica do rotor versus rotação) representa uma
velocidade de vento diferente. Para converter a potência mecânica em potência elétrica do
gerador basta multiplicar pela eficiência do gerador conforme a curva da figura 4.6 ou
diretamente do gráfico da figura 4.3 para potência elétrica do gerador a partir dos valores de
cada rotação. A tabela 4.1 mostra os valores nos pontos operação do aerogerador quando ele
entra em regime permanente.
É perceptível que o rotor do aerogerador tem uma rotação muito alta mesmo em
baixas velocidades de vento. Como o acoplamento é direto, o rotor está girando na mesma
velocidade do eixo do gerador, a alta rotação pode ser prejudicial para a vida útil das pás por
aumentar os esforços mecânicos na raiz da pá e também do gerador elétrico devido ao
excessivo aquecimento dos enrolamentos que foi observado durante os testes em bancada do
gerador elétrico quando o mesmo opera a uma potência elétrica próximo da máxima de 500
W. A alta rotação também pode causar vibração, desalinhamento de eixo e excentricidades no
entreferro.

Tabela 4.1 - Pontos de operação do aerogerador (caso 1) em regime permanente.


Velocidade Potência Rotação Coeficiente de Tip-Speed Ratio
de vento elétrica rotor- Potência (TSR)
(W) gerador
(rpm)
6 m/s 57,66 295,23 0,326 4,12
7 m/s 94,97 383,19 0,318 4,59
8 m/s 135,13 462,00 0,298 4,84
9 m/s 194,76 561,27 0,302 5,22
10 m/s 242,94 631,34 0,276 5,29
11 m/s 301,37 707,96 0,259 5,39
12 m/s 384,16 805,19 0,256 5,62
13 m/s 446,20 871,51 0,236 5,62
Fonte: Autoria própria.

Uma solução seria utilizar uma carga com resistência mais baixa, o que demandaria
mais corrente do gerador e consequentemente mais torque para o sistema, o que diminuiria a
rotação do rotor. A resistência utilizada nos ensaios do gerador foi de 7,26 Ω, porém não foi
possível realizar ensaios com uma resistência menor. É preciso ressaltar que quando o torque
aumentar será preciso um rotor maior para que o aerogerador consiga operar em velocidades
mais baixas de vento.
59

Outra solução no caso de se manter a carga seria trocar o gerador elétrico para um
com mais polos, o que também aumentaria o torque e diminuiria a rotação, porém também
haverá a necessidade de aumentar o diâmetro do rotor. O diâmetro do rotor ideal para uma
nova carga ou gerador elétrico só pode ser definido se novos testes forem realizados na
bancada experimental de ensaios de geradores elétricos.

4.5 AEROGERADOR COM MULTIPLICADOR DE ROTAÇÃO (CASO 2)

Outro aerogerador foi projetado apresentando uma razão de transmissão de 2, o rotor


do aerogerador possui 3 pás, 2,4 m de diâmetro de rotor e 0,25 metros de diâmetro de cubo, o
perfil aerodinâmico utilizado é o NACA 64(4)-421 com um número de Reynolds de 500.000
e tip speed ratio de 4. A figura 4.11 mostra curvas para definir o ponto de operação do
aerogerador utilizando o mesmo gerador elétrico do caso anterior.

Figura 4.11 - Definição da operação do aerogerador (caso 2).

Fonte: Autoria própria.

A curva de potência mecânica do rotor para a velocidade de vento de 6 m/s não


intercepta a curva de potência mecânica do gerador, logo subentende-se que o aerogerador
não consegue partir com esta velocidade de vento. Uma forma de fazer com que o
60

aerogerador parta com uma velocidade menor de vento é aumentando o diâmetro do rotor,
porém foi observado utilizando a metodologia apresentada neste trabalho que para rotores
maiores, ou seja, aumentando somente o diâmetro do rotor e mantendo os outros parâmetros
de projeto, isto resultaria também em uma diminuição no coeficiente de potência de operação
da máquina, uma vez que os parâmetros de projeto do rotor não foram otimizados. A tabela
4.2 mostra os valores em regime do aerogerador do caso 2.

Tabela 4.2 - Pontos de operação do aerogerador (caso 2) em regime permanente.


Potência Rotação (rpm)
Velocidade Coeficiente de Tip-Speed Ratio
elétrica
de vento Rotor Gerador Potência (TSR)
(W)
7 m/s 113,30 210,36 420,73 0,167 3,78
8 m/s 164,41 256,42 512,84 0,161 4,03
9 m/s 222,37 301,16 602,31 0,154 4,20
10 m/s 292,06 348,14 696,27 0,148 4,37
11 m/s 374,82 397,38 794,77 0,144 4,54
12 m/s 482,16 453,96 907,92 0,144 4,75
Fonte: Autoria própria.

Acima de uma velocidade de vento de 12 m/s o eixo do gerador alcançaria uma


rotação muito alta o que poderia comprometer a vida útil do gerador elétrico da mesma forma
explicada no caso 1. Porém, para uma mesma velocidade de vento observa-se que o rotor do
aerogerador do caso 2 gira mais lento que o do aerogerador do caso 1, devido ao torque no
sistema ser elevado pelo multiplicador de rotação e também pelo rotor ser ligeiramente maior.
A respeito do baixo valor do coeficiente de potência do aerogerador do caso 2, o
aerogerador projetado no caso 1 apresenta um perfil aerodinâmico com uma configuração
mais apropriada utilizando um baixo número de Reynolds para a obtenção do coeficiente de
sustentação e arrasto no projeto da pá e por ser recomendado em rotores de 1 a 3 metros de
diâmetro, conforme SELIG (2004), por isso os valores do coeficiente de potência são
maiores. A configuração do perfil aerodinâmico utilizado no caso 1 para o caso 2 faria com
que o rotor girasse mais rápido para uma menor velocidade de vento.

4.6 CÁLCULO DO FATOR DE CAPACIDADE

Neste tópico apresenta-se o fator de capacidade dos dois aerogeradores projetados


anteriormente, considerando a instalação dos mesmos a 15 m de altura e operando no
61

município de Salinópolis, estado do Pará. O fator de capacidade é calculado baseado em


medições de velocidade média do vento, obtidas por uma torre anemométrica nos anos de
1998 e 1999 (FRADE, 2000) instalada em Salinópolis, onde a localização do anemômetro na
torre estava a 30 m de altura em relação ao solo.
A figura 4.12 apresenta a distribuição da velocidade de vento no período de medições.
Fez-se uma extrapolação dos dados de medição de velocidade de vento utilizando a
equação (4.5) (PINHO et al., 2008):

(4.5)
( ) ( )

onde é a velocidade de vento de referência, é a altura de referência, é o coeficiente de


Hellman, é a velocidade de vento desejada e é a altura desejada.
A altura desejada para o cálculo do fator de capacidade é de 15 metros, o coeficiente
de Hellman utilizado é de 0,13 considerando o terreno descampado (ROHATGI e NELSON,
1994).
Figura 4.12 - Distribuição da velocidade de vento a 30 m de altura.

Fonte: Autoria própria.

As velocidades de vento tendem a ser menores conforme a altura diminui, isso ocorre
devido à influência da rugosidade do solo sobre o escoamento, assim o fator de capacidade
foi obtido para velocidades de vento a uma altura de 15 m, sendo dado pela razão da energia
elétrica produzida pelo aerogerador modelado e a energia produzida caso o aerogerador
62

operasse sempre na potência nominal (500 W) durante o período considerando a altura de


instalação de 15 m.
Para verificar a potência elétrica ativa produzida pelo aerogerador para uma
determinada velocidade de vento, obteve-se uma função da potência elétrica ativa ( )
em relação à velocidade média de vento ( ) por meio de regressão polinomial e com base
nos pontos apresentados na tabela 4.1. Considerando o aerogerador do caso 1, a equação (4.6)
apresenta a função obtida e válida somente para velocidades de vento entre 6 e 13 m/s:

( ) (4.6)

Para o aerogerador do caso 2, a equação (4.7) obtida é válida para velocidades de


vento entre 7 e 12 m/s da tabela 4.2:

( ) (4.7)

As figuras 4.13 e 4.14 mostram o fator de capacidade mensal dos aerogeradores para
os casos 1 e 2, respectivamente, operando nas condições de vento citadas anteriormente.

Figura 4.13 - Fator de capacidade mensal do aerogerador do caso 1 a 15 m.

Fonte: Autoria própria.

Figura 4.14 - Fator de capacidade mensal do aerogerador do caso 2 a 15 m.


63

Fonte: Autoria própria.

Apesar do aerogerador do caso 2 ter um coeficiente de potência menor que do caso 1,


além de precisar partir a uma velocidade de vento maior, observa-se um fator de capacidade
ligeiramente maior do que o do caso 1. O fator de capacidade anual calculado para o caso 1 é
7,74 % e para o caso 2 é de 9,51 %. O fator de capacidade foi muito baixo para os dois casos,
pois em velocidades abaixo de 6 m/s os aerogeradores modelados neste trabalho não são
projetados para operar nessa faixa e vale ressaltar que a ocorrência acumulada de vento
abaixo de 6 m/s nas medições a 30 m representa aproximadamente 62 %.
Existem aerogeradores de pequeno porte que têm velocidade de partida baixa, como
no caso do Notus112/138 da fabricante Enersud, que parte com velocidade de vento de 2,2
m/s e do Bergey XL.1 de velocidade de partida de 2,5 m/s. O fator de capacidade anual do
Bergey XL.1, para as condições de velocidade de vento e altura de 15 m consideradas no
município de Salinópolis é de 11,96 %. Caso o aerogerador Bergey opere entre a faixa de 6 e
13 m/s, mesma faixa de operação de vento e altura também de 15 m dos aerogeradores do
caso 1 e 2, o seu fator de capacidade cai para 9,1 % pois a faixa de velocidade de vento é
menor.
Uma solução para diminuir a velocidade de partida e aumentar o fator capacidade,
observada através da utilização da metodologia apresentada neste trabalho é aumentar o
diâmetro do rotor, pois isso elevaria o torque, proporcionando que o aerogerador comece a
girar a velocidades de vento menores. Existem também outras soluções para diminuir a
velocidade de partida e aumentar o fator de capacidade, como utilizar perfis mais eficientes
aerodinamicamente para obter um maior coeficiente de potência, dimensionar uma caixa de
64

multiplicação ou utilizar um difusor. Para saber o valor exato da velocidade de partida do


aerogerador é necessário fazer um estudo considerando as propriedades inerciais do rotor e o
atrito de todas as partes girantes.

4.7 UTILIZAÇÃO DE AEROGERADOR EM UM SISTEMA AUTÔNOMO

Outras perdas com relação ao sistema elétrico e eletrônico devem ser levadas em
conta quando o aerogerador é utilizado em aplicações em sistemas conectados à rede elétrica
ou em sistemas autônomos, pois existe um conjunto de equipamentos eletrônicos que fazem o
condicionamento da potência elétrica de saída do gerador elétrico.
Neste trabalho considera-se que o aerogerador projetado seja utilizado em um sistema
autônomo. Os principais equipamentos eletrônicos geralmente empregados para o
condicionamento da potência elétrica em um sistema eólico autônomo para produção de
energia elétrica são mostrados no diagrama esquemático da Figura 4.15.

Figura 4.15 - Diagrama Esquemático de um sistema eólico autônomo.

Fonte: Autoria própria.

O retificador é responsável pela conversão da tensão c.a. na saída do gerador elétrico


para tensão c.c.. O controlador é responsável por manter uma tensão adequada ao sistema de
armazenamento (banco de baterias), assim como o gerenciamento do fluxo de carga e
descarga do banco de baterias, com o objetivo de aumentar a vida útil do banco. O inversor
faz a conversão da tensão c.c. para tensão c.a., que é utilizada pela maioria dos equipamentos
elétricos ou eletrônicos disponíveis no mercado. Existem também inversores que agregam a
65

função de controlador de carga, fazendo o controle do fluxo de carga e descarga do banco de


baterias, logo estes são ligados diretamente no banco.
A figura 4.16 apresenta a forma de onda de tensão obtida na saída do gerador elétrico
trifásico ensaiado neste trabalho, na condição de rotação de 267 rpm, onde neste caso o
mesmo deve ser conectado a um retificador para o carregamento de um banco de baterias.
O valor da tensão c.c. de saída do retificador sem filtro capacitivo é
aproximadamente:

√ (4.8)

Empregando-se um filtro capacitivo, o valor da tensão c.c. de saída é


aproximadamente:

√ (4.9)

onde VD é a queda de tensão no diodo da ponte retificadora.


Figura 4.16 - Forma de onda da tensão de saída do gerador trifásico.

Fonte: Autoria própria.

Logo, para que Vo seja igual a 27,6 V (tensão para carregamento do banco de baterias)
e considerando VD igual a 0,7 V (diodo de silício), tem-se que Vpico (tensão fase-terra) do
gerador é de 16,77 V ou 29 V (entre fases).
66

Para os aerogeradores do caso 1 e 2 carregarem duas baterias em série, de 12 V cada,


a rotação necessária no eixo do gerador terá que estar acima de 267 rpm, objetivando-se uma
tensão c.c. na saída do retificador regulada em torno de 27,6 V Assim, como a tensão c.a. do
gerador aumenta com a rotação, deve-se utilizar um retificador trifásico controlado para que o
valor da tensão de saída se mantenha constante para rotações acima de 267 rpm.

4.8 VALIDAÇÃO DOS VALORES DE FATOR DE INDUÇÃO AXIAL

Apresenta-se uma metodologia adotada para obtenção do fator de indução axial de


uma turbina eólica no software ANSYS CFX, conforme descrita no trabalho de MENDES
(2015). O fator de indução axial contém as informações do escoamento do fluído sobre o
rotor na direção axial conforme explicado na seção 3. O rotor utilizado para estudo é o do
aerogerador do caso 1, onde calcularam-se os valores do fator de indução axial global
próximo ao ponto de operação para diferentes velocidades de vento. Devido ao tempo de
processamento da simulação e da análise dos resultados para o aerogerador do caso 2,
pretende-se apresentar o estudo em um trabalho posterior.

4.8.1 Construção da geometria do rotor eólico para simulação

A ferramenta computacional desenvolvida para o dimensionamento do rotor eólico


contém as informações necessárias para gerar a geometria das pás do rotor. Utilizou-se o
software SolidWorks para o desenho tridimensional das pás e do rotor eólico, considerando o
rotor do aerogerador do caso 1 (Figuras 4.17 e 4.18).

Figura 4.17 - Geometria das pás do rotor.

Fonte: Autoria própria.


67

Figura 4.18 - Geometria do rotor eólico.

Fonte: Autoria própria.

A geometria do rotor em SolidWorks é exportada para o software ANSYS. A


geometria em ANSYS é dividida em dois domínios, um domínio estacionário representando a
região de início e fim do escoamento e um domínio rotativo, que representa o rotor eólico. O
domínio estacionário tem um formato de um prisma retangular de dimensões 4Dx4D e
espessura de 10D, onde D é o diâmetro do rotor. O domínio rotativo tem um formato
cilíndrico de 1,4D de diâmetro e 0,5D de espessura (Figura 4.19). A localização da turbina
está a 2D do início do domínio estacionário e centralizado (Figura 4.19).

Figura 4.19 - Representação do domínio estacionário e rotativo.

Fonte: Autoria própria.


68

4.8.2 Geração da malha

Para se ter uma boa condição de malha, foi utilizado o comando inflation que adiciona
elementos prismáticos próximo a superfície do rotor para identificar melhor os efeitos de
viscosidade na região de camada limite, assim como fez-se um refinamento da malha na
superfície do rotor gerando elementos menores (Figura 4.20). Para mostrar o comportamento
da região de esteira e da velocidade de vento a montante próxima do rotor fez-se um
refinamento utilizando o comando Body sizing (Figura 4.21).

Figura 4.20 - Região de elementos prismáticos e refinamento na superfície do rotor.

Fonte: Autoria própria.

Figura 4.21 - Refinamento da região de entrada e da esteira do rotor.

Fonte: Autoria própria.


69

Uma malha foi gerada na fase de pré-processamento onde os valores estatísticos são
mostrados na tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Estatísticas da malha.


Estatísticas
Nós 3.258.559
Elementos 16.700.954
Fonte: Autoria própria

Existem diversos métodos que podem monitorar a qualidade do elemento, o escolhido


neste trabalho é o skewness (ou assimetria) que mede a torção dos elementos da malha,
quanto mais disforme for o elemento pior será a qualidade da malha. A tabela 4.4 mostra
como avaliar a qualidade do elemento.

Tabela 4.4 - Qualidade do elemento.


Skewness Qualidade do elemento
1 Degenerado
0,9 –< 1 Ruim
0,75 – 0,9 Pobre
0,5 – 0,75 Razoável
0,25 – 0,5 Bom
> 0 – 0,25 Excelente
0 Equilátero
Fonte: adaptado de Ansys meshing user’s guide (2015).

Apesar do refinamento da malha, não foi possível evitar a má formação de elementos


prismáticos no bordo de fuga das pás (Figura 4.22), onde cerca de 1.596 elementos
apresentaram um skewness superior a 0,97 isto ocorre devido ao encontro dos elementos
prismáticos da região superior e inferior da pá que gera uma região de esmagamento dos
elementos e consequentemente a formação de elementos disformes. Apesar dos problemas
com a malha é possível executar a simulação, no entanto, é válido realizar um estudo de
convergência de malha para diminuir o número de elementos defeituosos.
70

O estudo de convergência de malha é realizar diversas simulações com diferentes


malhas e no pós-processamento verificar qual a que mais se aproxima do resultado esperado.
Devido ao tempo e à complexidade da realização deste trabalho não foi possível realizar um
estudo de convergência de malha, porém pretende-se realizá-la em um trabalho posterior.

Figura 4.22 - Má formação dos elementos no bordo de fuga.

Fonte: Autoria própria.

4.8.3 Condição de contorno

As velocidades de vento atribuídas na entrada (inlet) do domínio estacionário foram


de 6, 7 e 8 m/s e na saída (outlet) a pressão é igual a zero devido ao diferencial de pressão
entre a entrada e a saída. A malha definida na seção anterior foi utilizada em todos os casos,
assim como a temperatura do ar a 25 °C e uma condição de deslizamento livre (free slip wall)
atribuída nas paredes do domínio estático. Para o domínio rotativo as rotações atribuídas ao
rotor foram de 300,8, 384,36 e 458,37 rpm, para as respectivas velocidades de vento
mencionadas, as quais são próximas dos pontos de operação definidos na subseção 4.4 e uma
condição de não deslizamento (no slip wall) foi também atribuída na superfície do rotor
(figura 4.23).
71

Figura 4.23 - Setup da simulação.

Fonte: Autoria própria.

4.8.4 Análise dos resultados

Na fase de pós-processamento considerando a condição para a velocidade de vento


não perturbado, é possível observar a partir de um plano perpendicular a área frontal do rotor,
que a velocidade de vento axial diminui conforme se aproxima do rotor e é praticamente nula
atrás do cubo, como representado na figura 4.24 para condição de vento não perturbado de 6
m/s.
Para verificar a velocidade axial na superfície dianteira do rotor foi inserido um disco
com o mesmo diâmetro do rotor que mede a velocidade do vento na região (Figura 4.25). O
disco está a uma distância de 4 cm do plano do rotor, onde foi encontrada a menor média de
velocidade de vento axial utilizando o mesh calculator do próprio ANSYS CFX, para as
condições de vento não perturbada a 6, 7 e 8 m/s.
72

Figura 4.24 - Plano lateral mostrando a velocidade do vento na direção axial.

Fonte: Autoria própria.

Figura 4.25 - Disco a montante do rotor.

Fonte: Autoria própria.

A tabela 4.5 mostra as médias de velocidade no plano dianteiro do aerogerador do


caso 1, assim como o fator de indução axial global.
73

Tabela 4.5 - Valores obtidos no ANSYS CFX.


Velocidade de vento não Velocidade de vento próxima ao Fator de indução
perturbada (m/s) plano dianteiro (m/s) axial global
6 4,79 0,202
7 5,56 0,206
8 6,34 0,207
Fonte: Autoria própria.

A fim de comparar os valores obtidos com a tabela 4.5, a tabela 4.6 mostra os valores
obtidos com a ferramenta computacional utilizando a teoria BEM.

Tabela 4.6 - Valores obtidos na ferramenta desenvolvida neste trabalho.


Velocidade de vento não Velocidade de vento no plano do Fator de indução
perturbada (m/s) rotor (m/s) axial global
6 4,34 0,277
7 5,06 0,277
8 5,81 0,274
Fonte: Autoria própria.

Analisando a diferença entre os valores do CFX com o BEM utilizado na ferramenta é


preciso considerar que a ferramenta computacional não convergia algumas variáveis locais
quando o valor do tip-speed ratio estava a cima de 4 o que pode fazer com que variáveis
como o fator de indução axial e o coeficiente de potência não estejam coerentes. Porém, a
ferramenta computacional é mais completa para o propósito de dimensionamento da
geometria do rotor eólico, pois é possível obter o fator de indução tangencial necessário para
calcular o coeficiente de potência global, além do tempo de execução ser bem menor.
No caso do CFX, a questão da geração de malha onde elementos com má formação
foram encontrados no bordo de fuga das pás do rotor pode ter influenciado nos resultados.
Outro problema é que nesta metodologia não é possível calcular o fator de indução
tangencial, necessário para o cálculo do coeficiente de potência global. Para melhorar esta
metodologia é necessário fazer um estudo de convergência de malha e encontrar uma maneira
de obter o fator de indução tangencial.
74

Outra forma para poder validar os valores de fator de indução axial e tangencial seria
fazer os testes do rotor projetado do caso 1 em um túnel de vento.
A metodologia de dimensionamento do rotor eólico utilizando a ferramenta
computacional desenvolvida neste trabalho fornece resultados mais completos e em menor
tempo de execução. Contudo, pretende-se aprimorar em trabalhos futuros a outra
metodologia aplicada no ANSYS CFX, a fim de obter o fator de indução tangencial e
possivelmente realizar uma análise fluid-structure interaction (FSI) ou em português,
interação fluído estrutura, onde é possível verificar os efeitos aeroelásticos sobre a pá.
75

5 CONCLUSÃO

No presente trabalho desenvolveu-se uma metodologia para dimensionamento de


rotores eólicos a partir de uma ferramenta computacional com interface gráfica e
programação desenvolvida em LabVIEW. O dimensionamento é auxiliado por meio da
obtenção de dados de potência mecânica de um gerador elétrico ensaiado em bancada, a fim
de definir o ponto de operação de aerogeradores em condições de vento variáveis. Para isso,
apresentou-se como exemplo 2 casos para análise: o caso 1 com um aerogerador de
acoplamento direto e o caso 2, com um aerogerador utilizando caixa de multiplicação.
O aerogerador do caso 1 apresentou bom desempenho aerodinâmico, pois o perfil
aerodinâmico utilizado (NREL S834) é adequado para rotores pequenos, enquanto que o
aeogerador do caso 2 não obteve o mesmo desempenho com o perfil NACA 64(4)-421,
porém é possível observar que apesar do caso 2 não ter um bom coeficiente de potência, a
potência elétrica atingida é maior para condições de vento acima de 7 m/s, pois o caso 2 tem
um rotor maior que aumenta o torque, além de apresentar uma caixa de multiplicação de 1:2
que aumenta a rotação no eixo do gerador.
O fato do aerogerador do caso 1 poder operar em velocidades de vento em torno de 6
m/s não é o suficiente para ter um fator de capacidade maior que o aerogerador do caso 2,
simulando-se a implantação dos mesmos no município de Salinópolis, estado do Pará, onde o
aerogerador do caso 1 apresentou um fator de capacidade de 7,74 % e de 9,51 % para o caso
2. Estimou-se também a tensão de saída e rotação do gerador para a aplicação dos
aerogeradores dos dois casos supracitados em um sistema autônomo de produção de energia
elétrica com armazenamento em banco de baterias, onde ambos os aerogeradores conseguem
alimentar duas baterias estacionárias em paralelo com uma rotação mínima de 267 rpm no
eixo do gerador.
A metodologia para comparar o fator de indução axial fornecido pela ferramenta
computacional com a obtida na simulação do rotor eólico do caso 1, obteve valores um pouco
diferentes de fator de indução axial, mas deve ser levado em conta que a ferramenta
computacional pode não ter convergido para um valor satisfatório, mas a geometria do cubo,
das pás e as imperfeições na malha obtida do software ANSYS CFX podem também ter
interferido no resultado.
76

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

É importante ressaltar que a metodologia aplicada no software ANSYS poderá ser


aprimorada em trabalhos futuros para obtenção do fator de indução tangencial, bem como a
análise da interação do fluido com a estrutura e verificação dos efeitos aeroelásticos.
Outra sugestão para trabalho futuro é tornar a bancada de teste de geradores elétricos
mais robusta, para que se possa fazer testes com geradores elétricos de diferentes tamanhos e
que seja possível fazer o ajuste da resistência da carga de maneira eletrônica, pois a
resistência controla a quantidade de corrente que sai do gerador e consequente o torque
eletromagnético, logo é um fator que influencia no dimensionamento e também na análise
dinâmica do rotor eólico. No presente trabalho fez-se o ensaio com uma resistência ou carga
fixa.
A ferramenta computacional desenvolvida permite fazer ensaios com diversos tipos
de rotor, almejando-se em trabalhos futuros o dimensionamento de rotores eólicos com
multiperfis aerodinâmicos, a fim de melhorar o desempenho do rotor e fazer um estudo da
influência da deformação das pás com os principais materiais utilizados em sua confecção.
77

REFERÊNCIAS

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