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EDITOR
Leopoldo Heimann
PUBLICAÇÃO
Departamento de Comunicação
Seminário Concórdia
em coordenação com o
Biblioteca
Departamento de Educação Paroquial da
Igreja Evangélica Luterana d o Brasil
Sist. ft?</¿A3 Y
1980 Proc
Oata ü £ OH
ENCOMENDAS
Concórdia S.A.
Av. São Pedro, 639
90.000 Porto Alegre, RS
Hf LÍBER
APRESENTANDO
«»18666032
Leopoldo Heimann
i' '» • • •.—• —. T---5 Secret. Executivo Depto. de Comunicação
Sfisinário Cpncáráiá j ,
BIBLIOTECA \i ^0 "flfc . . coNCORDIA
0
OFERTAS santuário, para que possa habitar no
meio deles.
Como esta edição tem a mordomia — Quem, pois, está disposto, hoje,
cristã da oferta como destaque, jul- a trazer ofertas liberalmente ao Se-
gamos oportuno convidar o leitor a nhor?
refletir sobre o que Deus nos tem a — Ninguém apareça de mãos va-
dizer com as^seguin_te3_pjssaqens es- zias perante o Senhor.
criturísticas; — Na medida de suas posses e
mesmo acima delas, se mostraram
— Ninguém apareça de mãos va-
voluntários; deram-se a si mesmos
zias perante o Senhor.
primeiro ao Senhor.
— Na medida de suas posses e — Porque quem sou eu, e quem é
mesmo acima delas, se mostraram o meu povo para que pudéssemos dar
voluntários; deram-se a si mesmos voluntariamente estas coisas? Porque
primeiro ao Senhor. tudo vem de t i , e das tuas mãos to
damos.
— Aconteceu que no f i m de uns
tempos trouxe Caim do fruto da terra — Bem sei, meu Deus, que tu pro-
uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vas os corações, e que da sinceridade
vez, trouxe das primícias do seu re- te agradas, eu também, na sinceri-
banho e da gordura deste. Agradou-se dade de meu coração dei voluntaria-
o Senhor de Abel e de sua oferta. mente todas estas coisas; acabo de
ver com alegria que o teu povo se
— E celebrarás a festa das sema- acha aqui, te faz ofertas voluntaria-
nas ao Senhor teu Deus, com ofertas mente.
voluntárias da tua mão, segundo o
Senhor teu Deus te houver abençoa- — Agora, pois, suplicai o favor de
do. Deus, que nos conceda a sua graça;
mas, com tais ofertas nas vossas
— Cada um oferecerá na propor- mãos, aceitará ele a vossa pessoa?
ção em que possa dar, segundo a — Eu não tenho prazer em vós, diz
bênção que o Senhor seu Deus lhe o Senhor dos Exércitos, nem aceita-
houver concedido. rei da vossa mão a vossa oferta. Vós
ofereceis o dilacerado, e o coxo e o
— Fala aos filhos de Israel que me enfermo; assim fazeis oferta. Aceita-
tragam oferta; do todo homem cujo ria eu isso da vossa mão?
coração o mover para isso, dele rece- — Roubará o homem a Deus? To-
bereis a minha oferta. E me farão um davia vós me roubais, e dizeis: Em
que te roubamos? Nos dízimos e nas parte, em casa, conforme a sua pros-
ofertas. peridade, e vá juntando, para que se
— Trazei todos os dízimos à ca- não façam coletas quando eu for.
sa do tesouro, para que haja manti- — Cada um contribua segundo t i -
mento em minha casa, e provai-me ver proposto no coração, não com
nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se tristeza ou por necessidade; porque
eu não vos abrir as janelas do céu, e Deus ama a quem dá com alegria.
não derramar sobre vós bênção sem
medida. — Porque, se há boa vontade, será
aceita conforme o que o homem tem,
— Ninguém apareça de mãos va- e não segundo o que ele não t e m .
zias perante o Senhor.
— Também, irmãos, vos fazemos
— Na medida de suas posses e conhecer a graça de Deus, concedida
mesmo acima delas, se mostraram às igrejas da Macedónia; porque no
voluntários; deram-se a si mesmos meio de muita prova de tribulação,
primeiro ao Senhor. manifestaram abundância de alegria,
e a profunda pobreza deles super-
— Assentado diante do gazofilá-
abundou em grande riqueza da sua
cio, observava Jesus como o povo
generosidade. Porque eles, testemu-
lançava ali o dinheiro. Ora, muitos
nho eu, na medida de suas posses e
ricos depositavam grandes quantias.
mesmo acima delas, se mostraram vo-
Vindo, porém, uma viúva pobre depo-
luntários, pedindo-nos, com muitos
sitou duas pequenas moedas corres-
rogos, a graça de participarem da as-
pondentes a um quadrante. E, cha-
sistência aos santos. E não somente
mando os seus discípulos, disse-lhes:
fizeram como nós esperávamos, mas
Em verdade vos digo que esta viúva
deram-se a si mesmos primeiro ao
pobre depositou no gazofilácio mais
Senhor, depois a nós, pela vontade
do que o fizeram todos os ofertantes.
de Deus.
Porque todos eles ofertaram do que
lhes sobrava; ela, porém, da sua po- — Ninguém apareça de mãos va-
breza deu tudo quanto possuía, todo zias perante o Senhor.
o seu sustento.
- — Na medida de suas posses e
— Quanto à coleta para os santos, mesmo acima delas, se mostraram
fazei vós também como ordenei às voluntários; deram-se a si mesmos
igrejas da Galácia. No primeiro dia primeiro ao Senhor.
da semana cada um de vós ponha de L.
1 CO 16.1,2 ENSINA A OFERTA PROPORCIONAL?
Johannes Rottmann
Devemos notar ainda que o texto Mais uma vez devemos constatar
parece indicar que os apóstolos eram que esse relato não descreve um mo-
os distribuidores destas contribuições delo para as contribuições regulares
ocasionalmente recebidas: "deposita- e gerais para a manutenção da igre-
ram aos pés dos apóstolos" (At 4 . 3 5 , ja. Trata-se de fato de uma "coleta
3 7 ; 5 . 2 ) . No entanto este acúmulo especial", para uma necessidade es-
de tarefas na igreja primitiva não du- pecial. O texto do v . 2 9 nos transmite
rou muito tempo. Vendo ser impossí- a história dessa ação social, numa
vel serem ao mesmo tempo pregado- fraseologia que os gramáticos cha-
mam de "desajeitada": "E os discípu- "contrato fraternal" de divisão do tra-
los decidiram então enviar, cada um balho missionário (cf G1 2 . 9 e 1 0 ) .
deles assim como prosperava, auxílio Uma destas recomendações dizia
("eis diakonian") aos irmãos que mo- "que nos lembrássemos dos pobres",
ravam na Judéia" (tradução literal). como Paulo escreve às igrejas da Ga-
Destacamos nesta ação os seguintes lácia, acrescentando "o que também
fatores: Cada um dos discípulos da me esforcei por fazer" (G1 2 . 1 0 ) .
Antioquia participava desta ação
Este "esforço" de recomendar aos
{"hékastos"); a resolução f o i tomada
cristãos de origem pagã que se lem-
numa reunião de todos os discípulos;
brassem dos pobres iniciou na Galá-
dizia a resolução que cada um dos
cia. O apóstolo revisitou esta região
membros contribuísse para essa cole-
pouco depois do "Concílio dos Após-
ta "assim como prosperava ("kathôs
tolos", na sua segunda viagem mis-
enporeito tis"). Evidentemente não foi
sionária (At 1 6 - 1 - 5 ) .
decidido quanto dar, nem uma certa
porcentagem dos bens materiais que Atendendo ao chamado de uma v i -
cada um possuía, mas que cada um são divina, Paulo f o i à Macedónia
contribuísse voluntariamente de acor- (At 16-6-15), onde, segundo uma re-
do com as suas condições na oportu- ferência em 2 Co 8 . 1 s s , também fez
nidade. recomendações a respeito de tais co-
letas.
Este "modelo histórico" certamente
serviu para futuras ações semelhan- Quando, nesta mesma viagem, f i -
nalmente chegou a Corinto, durante
tes.
a sua atividade missionária nesta c i -
dade, certamente "se lembrou" dos
3 . Interpretação de 1 Co 16.1 e irmãos necessitados de Jerusalém,
2 no seu contexto histórico promovendo a coleta (At 1 8 . 1 s s ) .
Escrevendo agora (mais ou menos
a) Fundo histórico
um ano depois de haver saído de Co-
rinto) sua primeira epístola aos cris-
Esta ação social tem sua origem
tãos daquela congregação, responde
alguns anos antes de Paulo escrever
várias perguntas deles. Entre elas de-
esta carta. Faz parte da importantíssi-
ve ter constado uma a respeito da
ma resolução do "Concílio dos Após-
execução da coleta. Nosso texto é o
tolos", que provavelmente se realizou
primeiro conselho do apóstolo a es-
em 49 p . C . Em Atos 1 5 . 1 9 lemos
te respeito.
que foi decidido mandar uma carta
de recomendações aos "que, dentre Se perguntarmos pela razão desta
os gentios, se convertem a Deus". Es- coleta e da sua destinação exata-
sas recomendações abrangiam certos mente para os santos na Judéia, não
aspectos da vida dos cristãos de o r i - podemos oferecer outra resposta se-
gem pagã em sua "koinonia" c o m os não a de que muitos membros des-
irmãos de origem judaica (v. 20 e ta igreja eram pobres. Se assim não
29). Porém além desta carta os a- fosse, o concílio não teria feito esta
póstolos e evangelistas enviados ao recomendação. A causa desta pobre-
mundo pagão, recebiam recomenda- za ainda pode ser a grande carestia
ções verbais que faziam parte do dos anos 4 3 / 4 4 p . C . (cf At 1 1 . 2 7 -
4 pecto desta obra do Senhor: a de-
3 0 ) . Parece, porém, que desde o ini-
cio havia uma generalizada pobreza monstração do amor fraternal, me-
entre estes membros (cf. as ações diante aquela coleta, recomendada há
de caridade referidas no início deste mais ou menos um ano. O apóstolo
trabalho). Além disto a pobreza foi deve ter percebido certas dúvidas en-
uma constante na igreja de Cristo tre os coríntios com respeito à for-
em todos os tempos, de tal maneira ma de realizar esta campanha. Os
que Paulo escreve nesta mesma car- conselhos de nosso texto são a res-
I ta: "não foram chamados muitos sá- posta a estas dúvidas ou perguntas.
bios segundo a carne, nem muitos
"Com respeito à coleta" — É in-
p o d e r o s o s . . . Deus escolheu as coi-
teressante que o apóstolo emprega
sas humildes do mundo, e as des-
aqui u m termo excepcional que, em
prezadas, e aquelas que não são, pa-
todo o Novo Testamento, só apare-
ra reduzir a nada as que s ã o . . . " (1
ce neste texto. É o termo "logia", de
Co 1 . 2 6 - 2 8 ) . Escravos, trabalhado-
"lego": colecionar, reunir algo, ge-
res, pescadores, e t c . formavam a
ralmente usado no sentido de cole-
maioria dos membros da igreja de
cionar palavras para fazerem senti-
então. Hoje não é diferente.
do: ler; aqui o termo é usado no
sentido de colecionar ou juntar d i -
b) O texto nheiro.
23
para esta fase da oferta, em 2 Corln- de uma maneira tal como o manda-
tios, é cultivar a oferta como uma mento, a autoridade pessoal e o a-
graça, isto é, como um d o m de Deus pelo não poderiam nem deveriam fa-
"ao coração do ofertante. Este proces- zê-lo.
so já estava em andamento em Co- Paulo logo junta a este exemplo
rinto por causa do evangelho que o caráter de dois outros homens: T i -
Paulo e Tito haviam pregado ( 8 . 6 ) , to e possivelmente Lucas. Ele afirma
e o seu objetivo era levar este d o m que a maneira de Tito trabalhar pa-
à perfeição. Este é o processo da ra e por eles não é uma demonstra-
alimentação cristã para o qual a rei- ção de esforço por causa de um
teração da obra redentora de Jesus mandamento; é antes uma demons-
Cristo é da maior importância. 2 Co- tração de seu amor por pessoas e o
ríntios 8 emprega este processo. seu zelo pelo seu progresso cristão.
Paulo afirma que ele não está operan- Estes homens tinham a reputação de
do com o método do mandamento serem zelosos pregadores do evan-
( 8 . 8 ) . Seu objetivo é a sinceridade gelho e de lidarem cuidadosamente
do seu amor, o qual está ligado à c o m o dinheiro de outras pessoas.
obra e ao dom de Deus, diz ele; e Eles não eram apenas bons maneja-
o mandamento destruiria esta linha dores de dinheiro; eram um estímu-
de força. Esta linha de força ele ime- lo para ofertar.
diatamente enfatiza: "Pois conheceis a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo, Além disso, a graça de oferta a t i -
que sendo rico se fez pobre por amor va entre os coríntios deveria tornar-
de vós, para que pela sua pobreza se um estímulo para outros; na ver-
vos tornásseis ricos" ( 8 . 9 ) . Esta a- dade, isto já havia acontecido: "o
firmação é bem concisa; sua carga, vosso zelo tem estimulado a muitís-
porém, está no fato que no decorrer simos" ( 9 . 2 ) . Sua realização passa-
de toda a carta Paulo vinha colocan- da já havia feito zelosos a outros
do a obra redentora dft Ja^ns r.nmn n cristãos, e era importante que agora
centro de sua mensagem e o único não falhassem mas continuassem a
poder que ele tinha para produzir e- dar u m , poderoso estímulo no futuro:
Ora, quanto à assistência a favor
~TiTtõs entre eles. (Cf. 1.3-5,18-22;
dos santos, é desnecessário escre-
2.14-17; 3 . 3 - 1 1 ; 4.4-6,14-18; 5.10-
ver-vos; porque bem reconheço a
2 1 ; 6.16-18).
vossa presteza, da qual me glorio
Ao mesmo tempo Paulo entra num junto aos macedônios, dizendo que
processo que no sentido exato é ad- / a Aca ia está preparada desde o
ministração, "supervisão." Isto é, que ano passado; e o vosso zelo tem
o exemplo de um grupo de cristãos I estimulado a muitíssimos. Contu-
pode estimular outro. Paulo apresen- I , do, enviei os irmãos, para que o
ta aos coríntios o exemplo dos m a c e - / nosso louvor a vosso respeito, nes-
dônios ( 8 . 2 - 5 ) . Ele destaca como seu te particular, não se desminta, a
ofertar foi extraordinário, pois ia além f i m de que, como venho dizendo,
do que se poderia esperar. E diz que estivésseis preparados, para que,
seu pedido aos coríntios está ligado caso macedônios vão comigo e vos-
ao zelo dos macedônios; sua energia encontrem desapercebidos, não f i -
e consagração deveria estimulá-los quemos nós envergonhados (para
não dizer, vós) quanto a esta con- IV — Conclusão
fiança. Portanto, julguei convenien-
te recomendar aos irmãos que me Gráficos para sintetizar verdades
precedessem entre vós, e preparas- bíblicas têm a sua utilidade, mas
sem de antemão a vossa dádiva nunca serão perfeitos. Por isso o
já anunciada, para que esteja gráfico seguinte encontrará seus crí-
pronta como expressão de genero- ticos. (Veja gráfico pg. 26)
sidade, e não de avareza. E isto
a f i r m o : Aquele que semeia pouco, A s s i m , o recado bíblico é este: Pa-
pouco também ceifará; e o que ra levar os cristãos a um ofertar
semeia com fartura, com abundân- ^pronto, continuado e sempre crescen-
cia também ceifará. Cada um con- te, o único recurso é a graça de
tribua segundo tiver proposto no Deus em Cristo, anunciada tipológi-
coração, não com tristeza ou por ca e profeticamente no Antigo Tes-
necessidade (obrigação); porque tamento e manifestada plenamente
Deus ama a quem dá com ale- ñojjovoTestamento.
gria. ( 9 . 1 - 7 ) No sermão do primeiro domingo
de Epifanía sobre Romanos 1 2 . 1 - 6 ,
Este impulso para a oferta pronta Lutero afirma:
e continuada certamente poderia de-
generar para uma simples pressão Ein Gesetztreiber dringt mit Dräuen
pessoal. Eis porque Paulo prontamen- und Strafen; ein Gnadenprediger
te retorna ao reforço da fonte espiri- lockt und reizt m i t erzeigter gött-
tual: licher Güte und Barmherzigkeit;
Deus pode fazer-nos abundar em denn er mag keine unwilligen
toda graça, a f i m de que, tendo Werke und unlustigen Dienst, er
sempre, em tudo, ampla suficiên- w i l l fröhliche und lustige Dienste
cia, superabundéis em toda a boa Gottes haben. Wer sich nun nicht
obra, como está escrito: Distribuiu, lässt reizen und locken mit solchen
deu ao pobres, a sua justiça per- süssen lieblichen Worten von
manece para sempre. Ora, aquele Gottes Barmherzigkeit, uns in
que dá semente ao que semeia, e
Christo so überschwänglich ge-
pão para alimento, também supri-
rá e aumentará a vossa sementei- schenkt und gegeben, dass er mit
ra, e multiplicará os frutos da vos- Lust und Liebe auch also thue,
sa justiça; enriquecendo-vos em Gott zu Ehren, seinem Nächsten
tudo para toda a generosidade, a zu gute, der ist nichts und ist alles
qual faz que por nosso intermédio an ihm verloren. (Luthers Sämtli-
sejam tributadas graças a Deus. che Schriften. St. Louis: CPH,
(9.8-11)
1883. V o l . Xl:318)
A
COMO EDUCAR PARA A OFERTA VOLUNTARIA?
Horst Kuchenbecker
Acir Raymann
Marfim C. Warth
pois "nos forma e nos prepara para signam o mesmo ato de Deus, ha-
toda boa obra."- Calvino crê na pos- vendo apenas uma diferença na ma-
sibilidade de uma existência cristã neira de expressar-se. Acha que quan-
em que a lei não se dirige contra e do Deus fala na lei ele simultanea-
não acusa o homem que vive na l e i . 3 mente faz uma promessa, oferecendo
Por isso entende que o uso princi- evangelho. E quando fala no evange-
pal da lei não é o segundo, o uso lho Deus simultaneamente expressa
teológico, como Lutero e Melanch- as exigências da sua vontade, afir-
thon entendem quando afirmam que mando lei." O mais importante é que
"lex semper accusat". Para Calvino
4 Deus fala: isto, segundo Barth, é gra-
o uso principal da lei é o terceiro ça.10
Diz que "a lei nada mais é do
uso, o uso didático. Diz: "O tercei- que a necessária forma do evange-
ro e principal uso, que mais direta- lho, cujo conteúdo é g r a ç a . " Enten-
11
mente diz respeito ao propósito pró- de que "a lei nada mais é do que o
evangelho em forma imperativa," e Se ainda queremos continuar a
que "lei e evangelho requerem o mes- usar o conceito em teologia, ele
mo do homem: submete-te a Deus." deve ser aplicado, como o é na
Em sua maneira de ver, "somente Fórmula de Concórdia, apenas pa-
uma lei nomisticamente mal enten- ra responder a questão da exten-
dida, lei pecaminosamente pervertida são (realm) da validade da lei,
e separada do evangelho, opõe-se ao mas não para indicar uma função
evangelho." Com isso nega uma te-
12
especial da l e i . 14
43
posição seria que a lei justificasse, ser alcançados pela lei revelada nas
o que ela não faz: ela sempre acusa. Sagradas Escrituras. No entanto Deus
Mas, da mesma forma as confissões os atinge através das doutrinas d o
poderiam dizer que a lei sempre in- mundo, também chamadas "ordens".
forma, pois para acusar precisa i n - Através do governo, do casamento,
formar. A pergunta que se impõe é da família, do povo, da honra, da
saber o quanto informa e como in- economia, que surge no mundo co-
forma. mo resultado da lei natural para e-
7. Já na descrição de lei que se vitar o caos, e que são na verdade
acha no artigo V da FC se acentua "ordens" da "mão esquerda" de Deus;
seu caráter epistemológico: "Cremos, Deus governa todos os homens no
ensinamos e confessamos que a lei, seu reino d o m u n d o . O ímpio não
propriamente, é doutrina divina que reconhece o governo de Deus, mas
ensina o que é justo e agradável a o regenerado o aceita e sabe que faz
Deus e reprova tudo o que é pecado parte do tempo da graça de Deus.
e contrário à vontade de D e u s . " O
19
ramente em favor do novo homem Esta lei não é apenas a lei escrita
interior e contra a velha carne ( v v . no coração, como os antinomistas en-
15-25). Isto faz com que, de acordo tendem, mas toda manifestação cla-
com o "espírito" o regenerado esteja ra da vontade de Deus, como o cris-
livre da lei (v. 6) e suas ameaças, tão a reconhece na e através da Sa-
e tenha "prazer na lei de Deus" ( v . grada Escritura. Os confessores es-
22). Mas, de outro lado, o " e u " de crevem: "Pois a lei de Deus lhes foi
Paulo sabe que, por causa da car- inscrita no coração, e ao primeiro ho-
ne, ele não faz o que deveria fazer mem, logo depois de sua criação,
(vv. 19,20) e permanece assim su- também lhe foi dada uma lei de a-
jeito a toda acusação da lei de Deus. cordo com a qual devia proceder." 28
Como o " e u " de Paulo preside tanto Dizem mais adiante que se os cren-
o "espírito" como a "carne", ele se tes e filhos eleitos de Deus fossem
reconhece como "simul iustus et pec- perfeitamente renovados nesta vida
pelo inabitanto Espírito, . . . n ã o ne-
cator". Ele é totalmente, justo d o pon-
cessitariam de lei alguma, e assim
to de vista do evangelho, do perdão
também de nenhum incitador, porém
e do novo homem interior, e ele é
fariam por si mesmos, com inteira es-
totalmente pecador do ponto de vis- pontaneidade, sem qualquer instrução,
ta da lei, do pecado e do velho ho- admoestação, exortação ou impulso
mem. Ele, no entanto, não está in- da lei, o que de forma em que o Sol,
distintamente sob a lei e sob a gra- a Lua e todas as estrelas têm seu cur-
ça, mas está definitivamente "sob a so regular por si mesmos. . .; s i m , da
graça", porque por força do Espírito mesma forma em que os santos an-
de Cristo o pecado não pode reinar jos prestam obediência inteiramente
sobre ele. Na luta da carne contra o voluntária.
espírito, o Espírito de Cristo dá v i -
tórias e, por sua graça, a vitória f i - A descrição é feita para um caso
nal (vv. 2 4 , 2 5 ) . irreal. O cristão não é assim. Mas
mesmo assim não fala da possibili- do com o novo homem.- Mas cons-
dade de uma "onisciência" humana: tantemente o cristão também precisa
o acento não é a ausência de l e i , mas ser analisado do ponto de vista da
a falta de coerção. Isto se nota espe- lei que acusa, pois possui ainda o
cialmente no exemplo dos anjos, que "velho homem" que, "como asno in-
até hoje continuam a receber ordens dómito e recalcitrante", faz com que
da vontade de Deus, mas não execu- o cristão sofra "o ensino, admoesta-
tam as ordens de Deus por coerção. ção, impulso e ameaça da lei." Ne-
cessita mesmo "o cacete dos casti-
14. 0 acento na discussão do ar- gos e pragas", porque no " e u " do
32
Lutero sabe que é difícil aprender mas "cada pastor experiente sabe que
esta lição de transposição do man- surgem casos em que nada mais po-
damento para a " o r d e m " do governo. de decidir senão a lei do amor." 43
Você foi batizado com água em no- me é inscrito no livro da vida. En-
me do Deus triúno. Pai, Filho e Es- quanto alguém permanecer na f é , o
pírito Santo? O que aconteceu com batismo lhe é fonte de diário conso-
você naquele dia, especialmente se lo, lhe é força para uma vida santi-
você foi batizado quando ainda cri- ficada e lhe é profusamente conso-
ancinha? Sua certidão lhe lembra o lador na hora da morte.
acontecimento. Seus padrinhos talvez
lhe possam contar alguns fatos daque- 1 — Batizados na morte,
le dia. Mas o que aconteceu a você
no dia do batismo? Que valor tem A apóstolo Paulo refere-se, com
aquele batismo para sua vida familiar freqüência, ao batsimo. Na carta aos
e profissional? Que valor tem o ba- romanos, capítulo seis, Paulo esta-
tismo nas tentações e nas necessi- belece um paralelo entre o que Deus
dades, no leito da enfermidade e na fez por nós em Cristo e o que ele
hora da morte? Que influência tem ainda faz por nós pelo batismo.
o batismo sobre sua vida na comu-
nidade, sobre seu culto, sua contri- Paulo descreve, c o m muita clare-
buição, seu testemunho? Enfim, qual za, a vida procedente do batismo.
é a vida que brota do batismo? "Ignorais que todos os que fomos ba-
tizados em Cristo Jesus, fomos bati-
Muitos, olhando em seu derredor, zados na sua morte. Fomos, pois, se-
e vendo a multidão de pessoas bati- pultados com ele na morte pelo ba-
zadas que vivem uma vida ímpia, t i s m o ; para que, como Cristo foi res-
concluem que o batismo não tem va- suscitado dentre os mortos pela gló-
lor nenhum. Será? ria do Pai, assim também andemos
nós em novidade de vida."
A Escritura nos diz que o batis-
mo, ordenado por Jesus, nos salva Paulo usa a expressão "morte". O
(1 Pe 3 . 2 1 ) , renova e regenera (Tt que é a morte? A morte entrou no
3 . 5 ) , concede perdão dos pecados mundo pelo pecado. Quando Deus
(At 2 . 3 8 ) . É, portanto, um meio pe- terminou sua criação e olhou, no sex-
lo qual Deus vem e derrama sua gra- to dia, sobre tudo o que tinha feito,
ça nos corações dos homens. U m viu que "tudo era muito bom" (Gn
meio pelo qual o Espírito Santo res- 1 . 3 1 ) . O que encerram as palavras
suscita uma pessoa da morte espi- "muito bom"? 0 homem vivia em
ritual, concedendo-lhe a fé, a nova estreita comunhão com seu Deus, em
vida, sem nenhum merecimento ou perfeito relacionamento com seu pró-
dignidade. Tudo é graça, como o ximo (esposa). Na natureza tudo era
mostra o próprio ato batismal. A paz e harmonia. O homem administra-
criança é levada ao batismo, pois ela va o jardim do Éden com perfeição.
nem pode dispor-se para o batismo, Tinha domínio "sobre os peixes do
o lá recebe, pelo batismo, o perdão mar, sobre as aves dos céus, sobre
dos pecados, a fé é acesa, seu no- os animais domésticos, sobre toda a
terra e sobre todos os répteis que pecado, a morte e Satanás, e triun-
rastejam pela terra" (Gn 1.26). Tudo far pela ressurreição. E Cristo o fez.
era tamanha santidade e perfeição
que hoje nem o podemos imaginar. Quando Cristo, o Filho de Deus,
r
E n t ã o veio o triste dia. A queda se encarnou na virgem Maria, vindo
do homem em pecado. Foi uma ca- ao mundo, os pecados de toda a hu-
tástrofe total. 0 pecado rompeu a manidade foram colocados sobre ele,
comunhão entre o homem e seu Deus. como se fossem dele e ele f o i colo-
O pecado corrompeu o homem total- cado sob a l e i , que condena o peca-
mente, tornando-o escravo de Sata- do. A vida de Cristo f o i uma vida
nás. O pecado desgraçou o relacio- sob o pecado, a saber, nossos peca-
namento do homem c o m seu pró- dos pesavam sobre ele. E a lei de
ximo. Por causa d o pecado dos ho- Deus o moeu até à morte e morte de
mens, a terra foi amaldiçoada. Em cruz. Por sua vida santa, por sua
sua cobiça egoísta, o homem explo- paixão e morte, por sua ressurreição,
ra destrutivamente a natureza. A his- Cristo cumpriu a lei, pagou por nos-
tória mostra que todo o altruísmo sos pecados, venceu nossos inimigos
do homem, sua esperança por dias e conquistou para todos o perdão dos
melhores através da cultura e da tec- pecados. Conquistou para todos a l i -
nologia sofrem contínuas e totais der- bertação do pecado, da morte e d o
rotas. As guerras e a devastação que poder de Satanás. Abriu para todos
o homem espalha são prova disto. O o caminho à comunhão com Deus,
culto que o homem, em seu medo e para voltarem a ser filhos de Deus
pavor, presta a Deus, é inimizade e herdeiros da vida eterna. Tudo is-
contra Deus e abominação ao Senhor so Jesus oferece ao pobre pecador
(Pv 2 1 . 1 7 ) , por mais honroso e sa- em sua palavra e nos sacramentos. O
crificial que seja.^ evangelho é o poder de Deus que
traz esta graça ao coração do peca-
dor arrependido, que concede vida
Paulo resume tudo isso numa só nova, que amarra e enxerta a pessoa
palavra: "estando nós mortos em ao corpo de Cristo ao ponto de ser
nossos delitos e pecados" (Ef 2 . 5 ) . membro d o corpo de Cristo. Com isso
Estar morto em pecado significa es- a pessoa morre com Cristo e ressus-
tar separado de Deus, estar sob o cita com Cristo para novidade de v i -
juízo de Deus, ser escravo de Sata- da. Cristo nos libertou da dívida d o
nás, ser inimigo de Deus, sem força castigo e do domínio do pecado. E
para voltar a Deus. o que crê tem o que as palavras d i -
zem e expressam: vida e eterna sal-
Deus, porém, movido por seu
vação.
imenso amor, não abandonou os ho-
mens, mas providenciou-lhes ma-
ravilhosa salvação em Cristo. Para
que Cristo pudesse salvar os homens, ^ 2 — A nova vida oculta em Cristo
teve que fazer três coisas importan-
tes: tornar-se homem e, como subs-
f
E s t a nova vida que recebemos pela
fé, está oculta em Cristo. Não é, por-
tituto de todos os homens, cumprir
tanto, uma transformação exterior da
a lei, pagar pelos pecados dos ho- pessoa. Não é uma vida exterior-
mens, vencer os inimigos do homem: mente diferente da vida das demais
pessoas. Não se caracteriza por coi- O batismo, ou a conversão, não é
sas externas, como por exemplo: uma coroação ou diplomação pela
uma vida sem doenças, sem sofri- santificação alcançada, mas é a res-
mentos, sem problemas. É uma vida surreição para uma nova vida. A con-
oculta em Cristo, aqui ainda em hu- versão de um pecador é Deus dan-
milhação (1 Jo 3 . 2 ) . Semelhante à do-lhe nova vida, a fé. Esta vida es-
vida que Cristo teve aqui na terra. tá oculta em Cristo e só resplande-
Nele habitava corporalmente toda a cerá em todo seu fulgor quando
plenitude de Deus, porém, exterior- Cristo se manifestar (Cl 3 . 3 - 4 ) . En-
mente era o simples filho do carpin- quanto estamos aqui na terra, pouco
teiro José. Sua divindade era um mis- se vê desta vida, pois ela está man-
tério que só a fé enxergava. Da mes- chada por fraquezas e pecados, dú-
ma forma seu novo reino, a igreja vidas e incompreensões, obstinações
cristã, ainda está oculto. Seus sinais e pecados. Mesmo assim, a fé não
é u m pensamento morto na mente do
exteriores são a palavra de Deus e
Cristão. A fé é vida. Vida que atua,
os sacramentos. 0 homem natural os
que impulsiona, que se revela em
despreza e se escandaliza na insig-
amor ao próximo. "Somos feitura
nificância da igreja cristã, como des- dele, criados em Cristo Jesus para
prezava a pessoa de Cristo e se es- boas obras" (Ef 2 . 1 0 ) .
candalizava na humildade do reino
de Jesus. Vejamos por exemplo, o * 0 cristão, por isso, vive em dois
quadro que o apóstolo Paulo, men- mundos. Com o seu corpo, toda a
sageiro de Cristo, pinta a seu respei- matéria corporal e espiritual, ele es-
to: "Sofre fome, e sede, e nudez; é tá no mundo. Está sujeito às coisas
esbofeteado, e não tem morada cer- do mundo, doenças, necessidades.
ta; é injuriado, perseguido, calunia- Ele luta pela vida e sofre como to-
do, considerado lixo do mundo, es- das as pessoas sofrem até a sua
cória de todos." (1 Co 4 . 1 1 - 1 3 ) . morte. Ao mesmo tempo ele é mem-
Mesmo assim, como o reino de Deus bro do corpo de Cristo. Ele foi aben-
estava próximo ali onde Jesus anda- çoado c o m as bênçãos nas regiões
va, assim o reino de Deus está pró- celestiais. Ele tem parte no novo
ximo ali onde palavra e sacramentos mundo, do qual Cristo é a primícia
estão em uso. E a pessoa que os a- por sua ressurreição. E quando Cris-
ceita pela fé, tem o que as palavras to voltar, o cristão será igualmente
prometem e dizem, a saber, perdão ressuscitado ou transformado. Seu
dos pecados, vida e salvação. Tal corpo de humilhação será igual ao
pessoa é membro do reino de Deus corpo glorioso de Cristo, "segundo a
e tem Cristo no coração; tem comu- eficácia do seu poder que tem de até
nhão com Deus. Quando Cristo vem subordinar todas as coisas" (Fp 3 .
a nós por palavra e sacramentos, va- 2 1 ) . Somente então o batismo alcan-
lem-nos as mesmas palavras do tem- çará a sua plenitude. Então tudo a
po de Jesus: "Veio para os seus, mas que fomos consagrados pelo batismo
os seus não o receberam, mas a todos se cumprirá. Ressuscitaremos para
quantos o receberam, deu-lhes o po- nunca mais morrer. Até lá nossa v i -
der de serem feitos filhos de Deus". da está oculta em Cristo.
Para o incrédulo isto é loucura, no 1.° Artigo do Credo Apostólico
sem nenhum sentido prático. Para a que Deus o criou, sustenta, defende
fé, isto é realidade que orienta toda e protege. Que por tudo isso deve
a vida. Pois "o que tem esta espe- dar-lhe louvor, servi-lo, obedecer-lhe.
rança nele, purifica-se a si mesmo, Não pode fazer com os bens recebi-
assim como ele é puro" (1 Jo 3 . 3 ) . dos o que bem entende, mas cabe-
Por isso, se fostes ressuscitados com lhe administrá-los conforme a von-
Cristo, buscai as coisas lá do alto, tade de Deus, para a glória de Deus
onde Cristo vive, assentado à direi- e o bem estar do próximo. Terá que
ta de Deus" (Cl 3 . 1 ) . Acaso não sa- prestar contas a Deus por qualquer
beis que o vosso corpo é santuário desejo, palavra, ação, pelo que fez
do Espírito Santo que está em vós, c o m os bens que Deus lhe concedeu
o que tendes da parte de Deus e que e pelo que deixou de fazer (Hb 9 .
não sois de vós mesmos, (1 Co 6 . 27; Tg 4 . 1 7 ; Ef 4 . 2 9 ) . Diante des-
19). Sim, no batismo inicia uma no- ta responsabilidade, estremece.
va vida.
Seu refúgio diário é seu Salvador
' Uma vida como membro do corpo Jesus. A respeito dele confessa no
de Cristo (Ef 4 ) , como filho de 2.° Artigo do Credo Apostólico:
Deus (Gl 3 . 2 6 ) , como sacerdote de "Creio que Jesus. . . me remiu a m i m
Deus (1 Pe 2 . 9 ) , como embaixador homem perdido e condenado, me
de Deus (2 Pe 5 . 2 0 ) . Tal pessoa resgatou e me salvou de todos os
não é mais do mundo (Jo 1 5 . 1 9 ) , pecados, da morte e do poder do
mas é concidadão dos santos (Ef 2. d i a b o . . . para que eu lhe pertença
1 9 ) . E enquanto peregrina nesta ter- e viva submisso a ele em seu reino
ra, busca administrar tudo para a e o sirva em eterna justiça, inocên-
glória de Deus e o bem estar do pró- cia e bem-aventurança." Isto não é
ximo, visando especialmente a sal- simples confissão de lábios, mas
vação do próximo, i uma confissão do coração. Se pu-
déssemos oihar para dentro do co-
ração de um cristão, mesmo do mais
Administrador a partir do
fraco, e observar ali o novo homem,
Batismo
veríamos exatamente esta confissão.
O cristão ama seu Salvador de todo
Na parábola do administrador in- o coração, de toda a sua alma, de
fiel, Jesus admoesta: "Se, pois, não iodo o seu entendimento. O cristão
vos tornardes fiéis na aplicação das também confia em seu Deus, cria-
riquezas de origem injusta, quem dor e mantenedor de todo o coração
vos confiará a verdadeira riqueza"? e cabe que "grande fonte de lucro é
(Lc 1 6 . 1 1 ) . Estas palavras mostram a piedade c o m o contentamento" (1
que Jesus quer que cada um de seus Tm 6 . 6 ) .
discípulos seja um bom administra-
dor de todos os bens que Deus lhe
confiou. E todo o cristão o confirma- Ao mesmo tempo, veremos na
rá com um vigoroso A m é m . mente do cristão como a carne pe-
camino?a, mesmo do melhor cristão,
0 cristão, como administrador, sa- luta ferozmente contra o novo ho-
be que tudo o que possui, o recebeu mem, a fé e procura enganar o cris-
da graciosa mão de Deus. Confessa tão e seduzi-lo ao pecado. Nas diver-
a fé não se produz com artifícios, ma transformam a contribuição em
nem com dinheiro, mas unicamente obra necessária para a salvação. Ou-
pela correta anunciação da palavra tro uso errado da lei é julgar-se que
de Deus, aplicando lei e evangelho determinados métodos ou sistemas
corretamente, e pela correta adminis- salvarão as finanças. Como se o mé-
tração dos sacramentos. Só por estes todo ou o sistema tivesse força em
meios se edifica a igreja cristã. Só si. Prega-se o evangelho de maneira
por estes meios o Espírito Santo ope- sentimental para mover pessoas à
ra a fé, quando e onde lhe aprou- contribuição. Dá-se ênfase errada a
ver. Isto é preciso ser lembrado es- certos aspectos da vida cristã e m
pecialmente em tempos de decadên- detrimento de outros lados da vida
cia, quer de uma comunidade, quer santificada. Por exemplo, como se
de uma igreja ou em épocas de de- somente o bom contribuinte, ou o
cadência geral. Então os ministros e bom participante dos departamentos
líderes das comunidades precisam e- fosse um bom cristão.
xaminar se estão anunciando a pa-
lavra corretamente e perseverar nes- É preciso frisar novamente, só a
ta anunciação e na oração. palavra de Deus e os sacramentos e-
dificam uma comunidade cristã. Por
Infelizmente, em vez disto, muitas isso é nossa constante preocupação
comunidades gastam seu tempo, seus anunciar esta palavra nas casas, bus-
dons e suas energias na fabricação car com ela as ovelhas desgarradas,
de muletas para remediarem a situa- levar esta palavra aos enfermos e ve-
ção. Muletas que iludem temporaria- lhinhos, ensinar nossos membros nos
mente e pioram o estado do doente. cultos e por estudos bíblicos a usa-
As muletas mais perigosas são o uso rem esta palavra, para que mutua-
errado de lei e evangelho. Muitos lí- mente se admoestem e se consolem
deres dizem a seus pastores: "É pre- com esta palavra, suplicando a nos-
ciso pregar mais l e i " , como se a lei so Deus que tenha misericórdia, que
pudesse dar vida. Outros dizem, nos- por sua graça abençoe esta palavra
nos corações, que seja gracioso e
sos pastores pregam demais sobre a
conceda crescimento e vida santifi-
graça e deveriam pregar mais sobre a
cada, que mova corações para o tra-
santificação. Melhor seria dizer que
balho, que conceda dons e recursos
talvez pregam mal sobre a graça. Ora, necessários para a expansão de seu
a graça é alimento da fé. A mesma reino. Assim alimentamos a fé gera-
graça que justifica é a graça que da no batismo e / o u na conversão.
santifica. Muitos não entendendo isso Assim edificamos uma comunidade.
julgam que pelo ditar leis resolverão Quando os discípulos de Jesus f o -
os problemas. Estipulam taxas, dízi- ram colocados diante de uma tarefa
mos, negam os meios da graça — o d i f í c i l , a saber, amarem os irmãos,
batismo e a santa ceia — aos que não pediram a Jesus: Aumenta-nos a fé
estão em dia com suas contribuições (Lc 1 7 . 5 ) . Este é o desejo e a ora-
Escandalizam, desta forma, as pes- ção de todo o administrador. Para
soas e a fé dos jovens confir- que isso aconteça precisamos ensi-
mandos, negando-lhes a confirmação nar-lhe "todo o desígnio de Deus"
por seus pais não estarem em dia (At 2 0 . 2 7 ) .
com suas contribuições. Desta for-
5 — Administração global setores sobre outros. Os dons são
diferentes. O cristão luta em todos
Quando falamos da vida santifica- os sentidos e destaca-se de acordo
da do cristão, e isto acontece em ca- com seus dons em alguns setores e
da sermão, em cada estudo bíblico, facilmente pode relaxar outros aspec-
em cada hino luterano e em cada o- tos.
ração, pois o mesmo Salvador que
justifica é o mesmo que santifica, 5 . Quinto, que devemos ter mui-
a mesma palavra que justifica é a to cuidado em não procurar medir a
mesma que santifica, cumpre lem- santificação de um cristão com me-
brar alguns aspectos: didas por nós estipuladas, que po-
dem ser falsas. Não nos cabe ava-
1 . Primeiro, que a justificação de liar e julgar o próximo. O que nos
um pecador é obra do Espírito Santo, cabe é, na qualidade de sacerdotes
sem nenhum mérito ou dignidade de reais, instruir, admoestar, consolar e
nossa parte. Esta justificação é com- edificar com a palavra de Deus, o-
pleta e instantânea no momento da rando uns pelos outros.
conversão.
T e m b r a d o isso, vamos contem-
2 . Segundo, que só se pode falar plar a vida santificada de um cristão
e m vida santificada a partir da f é , batizado, como administrador, mais
a partir do novo homem que Deus de perto. O cristão, conforme o seu
cria. Este novo homem, por mais fra- novo homem, quer servir a seu Sal-
co que seja, renuncia totalmente ao vador de todo o coração. Seu culto
diabo e quer servir a seu Deus e Sal- começa no coração. Lá se travam as
vador de todo o coração, e para tan- principais lutas. Nossa mente carnal
to precisa ser fortalecido pela palavra é terrivelmente criativa quando se
de Deus. trata de nos levar ao pecado. Arran-
3 . Terceiro, que a santificação, ja toda sorte de camuflagens, toda a
não necessária para a salvação, se sorte de desculpas, e nem sempre
bem que a f é , necessariamente pro- é fácil detectar as ciladas do pecado.
duz boas obras, se desenvolve gra- Há luta constante em nossa mente
dativamente, nela o cristão coopera, entre a inclinação pecaminosa de
não formando dupla c o m o Espírito nossa carne e nosso novo homem.
Santo, mas enquanto e o quanto o Nossa carne recebe estímulo do
Espírito lhe der força. A santificação mundo e da fraqueza dos irmãos e
tem altos e baixos e não é igual, de Satanás. Vale aqui a palavra do
quanto ao seu grau, em todas as apóstolo: "Não vos conformeis com
pessoas. Alguns alcançam, pela gra- este século, mas transformai-vos pe-
ça de Cristo, elevados graus na san- la renovação da vossa mente" (Rm
tificação, outros permanecem mais 1 2 . 2 ) . Esta renovação se dá pelo
fracos. Por vezes os fortes caem ter- constante estudo da palavra de Deus.
rivelmente e os fracos vêm a cres- Assim a santificação envolve, em pri-
cer. meiro lugar, todo o nosso pensar,
imaginar e desejar. Sobre isso pre-
4 . Quarto, que a santificação cisamos vigiar constantemente. Dali
sempre deve ser encarada como u m a vida santificada se estende ao nos-
todo. Não podemos esfacelá-la em so olhar, ouvir, falar e agir; ao nosso
setores, ou até super-estimar alguns
57
relacionamento com nossos familia- de Deus. Ainda outros, como Ananias
res, vizinhos, nossa vida profissional e Safira, visam honra no seu servir.
e nossos momentos de lazer. Como Isto vale também quanto à oferta.
administradores cristãos nossa res- Quem julgar que o ofertar o isenta
ponsabilidade é global e igual em to- de testemunhar, erra. Quando faltam
dos os momentos da vida. Em cada pastores, missionários, líderes leigos,
momento de nossa vida somos mem- ou recursos materiais à igreja, é si-
bros do corpo de Cristo. Em todos nal de que há membros que não to-
estes momentos o administrador cris- mam a palavra a sério e, não obede-
tão se orienta pelos dez mandamen- cendo ao chamado de Deus, prefe-
tos. Esta lei tem duas tábuas. Não rem seguir as atrações do mundo, es-
no sentido de a primeira tábua ser colhendo profissões mais rentáveis,
mais importante do que a segunda. negando seus dons e recursos à igre-
Devemos ter cuidado em não enfati- j a . A f é cristã não desvia a pessoa
de seus deveres familiares, profissio-
zar um mandamento sobre outro. A
nais, patrióticos ou sociais, antes dá
pergunta dos fariseus: "Qual o maior
a tudo o seu devido lugar e correto
mandamento?" se encontra também
equilíbrio, procurando administrar t u -
no nosso coração. Por que esta per- do para a glória de Deus. Cada qual
gunta? Ela brota do velho hábito de descobrindo o dom e desenvolvendo
querer negociar com Deus. Mais ou o dom que Deus lhe concedeu, sen-
menos assim: Cumpre o mandamen- do fiel e servindo ali onde Deus o
to principal, então você não precisa colocou. A tábua dos deveres nos o-
tomar os outros mandamentos tão a rienta na vida santificada. Todo nos-
sério. Constantemente nossa carne so culto, como administradores ainda
quer afastar a vida santificada do é muito fraco e imperfeito, precisa ser
fundamento da graça e colocá-la so- constantemente purificado pelo per-
bre o fundamento do merecimento. dão de Deus, e necessita da cons-
Por exemplo: Temos aqueles que tante orientação do Espírito Santo.
pelo afadigarem-se nos trabalhos da
igreja, dando devoções e participan-
do dos departamentos, julgam ser 6 — Administração com ordem
melhores do que aqueles que cum-
Nossos sacrifícios de louvor, pelo
prem fielmente seus deveres fami-
sacrifício recebido, não se expressam
liares e profissionais. Temos aqueles
desordenadamente. A administração
que usam as atividades na igreja co-
dos bens recebidos se expressa de
mo fuga dos deveres domésticos ou forma organizada. As pessoas na co-
profissionais, dando a impressão de munidade são muitas, muitos são
serem bons cristãos para encobrirem também os dons e as funções. Para
suas desonestidades profissionais e que tudo se processe c o m ordem e
seus problemas domésticos. Outros nada seja esquecido ou o m i t i d o , há
caem em outro extremo, dizendo: necessidade de organização. Nesta
Meu culto é seguir fiel e honesta- organização o cristão se orienta pelos
mente meu trabalho profissional e dez mandamentos. E a comunidade
cuidar de minha família. Esquecem tem o direito, dentro de sua liberda-
que a fé não vem pelo trabalho fiel e de cristã, para fixar certas normas
honesto, mas pelo ouvir da palavra e diretrizes que, no entanto, não de-
vem servir como imposição necessá- muitas maneiras. Cada congregação
ria para a salvação, ou que talvez ve- t e m liberdade para escolher a manei-
nham contradizer os dez mandamen- ra que mais lhe convêm. Se todos os
tos ou o espírito do evangelho. São membros pudessem estar dominical-
diretrizes para a boa ordem e, mo- mente no culto, bastaria, talvez, a
vidos pelo amor, os membros seguem coleta dominical. Mas, isso nem
estas normas. Como por exemplo, sempre é possível. Realizando alguém
normas para a boa organização da seu culto em casa, sem dúvida, não
comunidade, fixando local e horário se furtará de uma parte importante
de cultos, fixando a ordem (liturgia) do culto, o ofertar. Igualmente mui-
do culto, o sistema de recolhimento tos têm renda mensal e não deixa-
das ofertas, a direção missionária, o rão de trazer suas primícias a Deus.
trabalho em conjunto na paróquia, no
distrito, em âmbito nacional e inter- Assim há necessidade de certa or-
nacional. dem. Todo o bom administrador con-
trola sua administração. Para a orien-
Além disto, cada cristão fixará pa- tação da congregação, especialmen-
ra si uma série de diretrizes para a- te hoje c o m altos encargos financei-
gir disciplinadamente, a f i m de que ros, a promessa é importante. Não
sua natureza carnal não o engane e tanto por ser promessa, ou como ga-
o desvie de seus bons propósitos, rantia, mas para orientação. Não co-
tornando-o um mau administrador dos locamos nossa confiança nas promes-
dons e bens que Deus lhe concedeu. sas, mas no Deus que supre. Há ne-
Tomemos um exemplo: a vida devo- cessidade que o tesoureiro lance os
cional. Viver uma vida oracional é dados cuidadosamente. Como admi-
viver em comunhão com Deus. Fala- nistradores permitiremos também a
mos c o m Deus em qualquer lugar e nossos irmãos darem uma olhada pa-
em qualquer momento. São nossas ra dentro de nossa administração, a
orações livres. Mesmo assim é i m - f i m de mutuamente nos aconselhar,
portante que fixemos para nós mo- repreender, estimular. Isto não con-
mentos bem estabelecidos para a ora- tradiz a palavra: "Não saiba a tua
ção, quer para nossa vida oracional mão direita o que faz a esquerda"
individual ou familiar. Momentos em ( M t 6 . 3 ) . Esta passagem se dirige
que nos orientamos por boas orações contra aqueles que querem se orgu-
escritas, nas quais nos guiamos até lhar de seus feitos.
por uma lista de assuntos. Caso con-
trário nossas orações se tornarão um A comunidade, como administra-
devaneio e palavrório sem rumo, sem dora dos bens de Deus, também de-
sentido e sem luta. A mesma coisa ve prestar conta de sua administra-
se dá cem a oferta. Se não estabe- ção e sempre reexaminar sua admi-
lecermos para nós uma ordem, elas nistração para ver se está adminis-
cairão em desordem. Ordem para nós trando todos os dons e bens da me-
é um freio que colocamos em nosso lhor forma possível.
velho homem para que seja coman-
Em tudo isso não confiamos na
dado pelo novo homem. Por exem-
iei, nem na organização, mas na for-
plo; a Escritura não nos prescreve a
ça do evangelho. O melhor exemplo
maneira como coletar ofertas. Há
para para ilustrar isso é a história
do bom samaritano (Lc 1 0 . 2 5 - 3 7 ) .
Na beira do caminho jazia um ho- nossos melhores esforços estão man-
mem assaltado, deitado em seu san- chados pelo pecado. Não temos nada
gue. O fariseu e o levita passaram a apresentar a Deus. No momento
de lado, porque seus corações esta- em que queremos negociar com Deus
vam cheios de egoísmo. Então pas- e lhe dizer: "Veja como sou fiel nos
sou ali o bom samaritano. Vendo o meus afazeres, como cumpro os
homem, vendo a necessidade, foi e meus compromissos, como trabalho e
socorreu o homem. A fé o levou a oferto", neste momento estou me co-
locando debaixo da lei de Deus.
colocar mãos à obra e socorrer. Ar-
Neste momento não me vale mais a
riscou sua vida, socorreu com sacri-
graça de Deus, mas a l e i . Neste mo-
fícios, foi perseverante, a exemplo
mento estou colocando pecado entre
do amor que Cristo nos concede m i m e Deus, visto que nossas melho-
diariamente. res obras estão manchadas pelo peca-
do. Neste momento as boas obras (se
7 — Recompensa as tiver) serão colocadas num lado
Assim, na luz da graça de Deus, da balança e todos os meus pecados
na força da graça, e para exaltar a no outro lado da balança e a lei jul-
graça, nos esforçamos para sermos gará. Não é necessário dizer que sen-
bons administradores dos bens que tença colheremos.
Deus nos confiou.
Nossa administração não está
Lembramos que a construção da
construída sobre a lei, mas tem co-
igreja é obra de Deus e não depen-
mo fundamento a graça e o evange-
de de nossas forças. Deus não nos
precisaria. Ele deu-nos o privilégio lho. Do amor de Cristo que recebe-
de trabalhar. Se formos infiéis, nos mos diariamente brota o amor desin-
lançará de sua face e proverá ou- teressado que nos leva a administrar
tros. Servimos a Deus, confiando na tudo para a glória de Deus e nos leva
graça e na sabedoria de Deus. Ser- a procurar cumprir nossos deveres
vimos a Deus, suplicando que purifi- para com a família, a igreja, a pátria
que nossas obras por sua graça e e os irmãos necessitados.
aceite o nosso fraco louvor. Nem se- E quando chegar a hora da presta-
quer compreendemos os caminhos de ção de contas, por ocasião de nossa
Deus, pois seu poder se aperfeiçoa morte ou do juízo f i n a l , nada tere-
na fraqueza (2 Co 1 2 . 9 ) . Nestes ter- mos a apresentar ao Salvador, a não
mos Abraão e muitos fiéis serviram ser agarrar-nos pela f é ao nosso ba-
ao Senhor. Abraão não negou a Deus tismo, para lhe dizer: Senhor, lá tu
o seu próprio filho Isaque, única ga-
me recebeste, lá tu me vestiste com
rantia de que ele seria uma bênção
o manto branco da tua justiça, por
para todas as nações. Abraão "espe-
amor do teu nome, recebe-me. Para
rou contra a esperança" (Rm 4 . 1 8 ) .
Assim procederam muitos fiéis men- surpresa nossa, ouviremos as pala-
cionados em Hebreus 1 1 . Assim pro- vras: Foste fiel no mínimo, sobre mui-
cedem ainda hoje muitos cristãos, co- to te colocarei I E perguntaremos: Se-
mo administradores de Deus. nhor, quando te vimos, faminto, nú,
c o m sede, doente e te fomos visitar?
Em tudo isso não buscamos ne- Tudo nos será surpresa. Tudo é gra-
nhuma recompensa. Sabemos que ça sobre graça. Imerecida graça.
1 CO 16.1,2 ENSINA A OFERTA PROPORCIONAL? / 4
FROMESSAS DO A N T I G O T E S T A M E N T O / 36
DOCUMENTOS LUTERANOS
CONFISSÕES LUTERANAS