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Israel anunciou a retomada dos ataques aéreos a Gaza, após militantes palestinos terem
disparados foguetes contra o território israelense após o final de um período de 72 horas de
cessar-fogo, encerrado na manhã desta sexta-feira.
O atual conflito na Faixa de Gaza já dura um mês, sem perspectivas de um acordo de longo
prazo que coloque fim à violência que já matou mais de 1.900 pessoas, a maioria civis.
Além disso, 1,5 milhão de pessoas que não vivem em abrigos estão sem acesso a água
potável.
Mas para compreender o conflito israelense-palestino é preciso olhar além dos números.
A BBC responde a dez perguntas básicas para entender por que esse antigo conflito entre
israelenses e palestinos é tão complexo e polarizado.
O movimento sionista, que procurava criar um Estado para os judeus, ganhou força no início
do século 20, incentivado pelo antissemitismo sofrido por judeus na Europa.
A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada para
muçulmanos, judeus e católicos, pertencia ao Império Otomano naquele tempo e era
ocupada, principalmente, por muçulmanos e outras comunidades árabes. Mas uma forte
imigração judaica, alimentada por aspirações sionistas, começou a gerar resistência entre as
comunidades locais.
Mas, antes e durante a guerra, os britânicos fizeram várias promessas para os árabes e os
judeus que não se cumpririam, entre outras razões, porque eles já tinham dividido o Oriente
Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre árabes e nacionalistas
sionistas que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes.
Mas 1948 não seria o último ano de confronto entre os dois povos. Em 1956, Israel enfrentou
o Egito em uma crise motivada pelo Canal de Suez, mas o conflito foi definido fora do campo
de batalha, com a confirmação pela ONU da soberania do Egito sobre o canal, após forte
pressão internacional sobre Israel, França e Grã-Bretanha.
Em 1967, veio a batalha que mudaria definitivamente o cenário na região - a Guerra dos Seis
Dias. Foi uma vitória esmagadora para Israel contra uma coalizão árabe. Após o conflito,
Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, do Egito; a Cisjordânia (incluindo
Jerusalém Oriental) da Jordânia; e as Colinas de Golã, da Síria. Meio milhão de palestinos
fugiram.
Israel e seus vizinhos voltaram a se enfrentar em 1973. A Guerra do Yom Kippur colocou
Egito e Síria contra Israel numa tentativa dos árabes de recuperar os territórios ocupados em
1967.
Em 1979, o Egito se tornou o primeiro país árabe a chegar à paz com Israel, que desocupou
a Península do Sinai. A Jordânia chegaria a um acordo de paz em 1994.
A religião judaica diz que a área em que Israel foi fundado é a terra prometida por Deus ao
primeiro patriarca, Abraão, e seus descendentes.
A região foi invadida pelos antigos assírios, babilônios, persas, macedônios e romanos.
Roma foi o império que nomeou a região como Palestina e, sete décadas depois de Cristo,
expulsou os judeus de suas terras depois de lutar contra os movimentos nacionalistas que
buscavam independência.
Com o surgimento do Islã, no século 7 d.C., a Palestina foi ocupada pelos árabes e depois
conquistada pelas cruzadas europeias. Em 1516, estabeleceu-se o domínio turco, que durou
até a Primeira Guerra Mundial, quando o mandato britânico foi imposto.
A Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina disse em seu relatório à
Assembleia Geral em 3 de setembro de 1947 que as razões para estabelecer um Estado
judeu no Oriente Médio eram baseados em "argumentos com base em fontes bíblicas e
históricas", na Declaração de Balfour de 1917 - em que o governo britânico se pôs favorável
a um "lar nacional" para os judeus na Palestina - e no mandato britânico na Palestina.
Após o Holocausto nazista contra milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra
Mundial, cresceu a pressão internacional para o reconhecimento de um Estado judeu.
Sem conseguir resolver a polarização entre o nacionalismo árabe e o sionismo, o governo
britânico levou a questão à ONU.
O plano foi aceito pelos israelenses mas não pelos árabes, que o viam como uma perda de
seu território. Por isso, nunca foi implementado.
No dia seguinte, Israel solicitou a adesão à ONU, condição que alcançou um ano depois.
Hoje, 83% dos membros da ONU reconhecem Israel (160 de 192).
Relatório da Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina à Assembleia Geral,
em 1947, recomendou que o Estado árabe incluiria a área oeste da região da Galileia, a
região montanhosa de Samaria e Judeia com a exclusão da cidade de Jerusalém e a
planície costeira de Isdud até a fronteira com o Egito.
Mas a divisão do território foi definida pela linha de armistício de 1949, estabelecida após a
primeira guerra árabe-israelense.
Originalmente ocupada por Israel, que ainda mantém o controle de sua fronteira, Gaza foi
ocupada pelo Exército israelense na guerra de 1967 e foi desocupada apenas em 2005. O
país, no entanto, mantém um bloqueio por ar, mar e terra que restringe a circulação de
mercadorias, serviços e pessoas.
Gaza é atualmente controlada pelo Hamas, o principal grupo islâmico palestino que nunca
reconheceu os acordos assinados entre Israel e outras facções palestinas.
Pouco antes da guerra de 1967, organizações palestinas como o Fatah, liderado por Yasser
Arafat, formaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e lançaram operações
contra Israel, primeiro a partir da Jordânia e, depois, do Líbano. Os ataques também
incluíram alvos israelenses em solo europeu.
Em 1987, teve-se início o primeiro levante palestino contra a ocupação israelense. A
violência se arrastou por anos e deixou centenas de mortos. Um dos efeitos da intifada foi a
assinatura, entre a OLP e Israel em 1993, dos acordos de paz de Oslo, nos quais a
organização palestina renunciou à "violência e ao terrorismo" e reconheceu o "direito" de
Israel "de existir em paz e segurança", um reconhecimento que o Hamas nunca aceitou.
Após os acordos assinados em Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestina, que
representa os palestinos nos fóruns internacionais. O presidente é eleito por voto direto. Ele,
por sua vez, escolhe um primeiro-ministro e os membros de seu gabinete. Suas autoridades
civis e de segurança controlam áreas urbanas (zona A, segundo Oslo). Somente
representantes civis - e não militares - governam áreas rurais (área B).
Jerusalém Oriental, considerada a capital histórica de palestinos, não está incluída neste
acordo e é uma das questões mais polêmicas entre as partes.
Mas, em 2000, a violência voltou a se intensificar na região, e teve início a segunda intifada
palestina. Desde então, israelenses e palestinos vivem num estado de tensão e conflito
permanentes.
Mas estes não são os únicos obstáculos, como ficou claro no fracasso das últimas
negociações de paz sérias, em Camp David, nos Estados Unidos, em 2000, quando o então
presidente Bill Clinton não conseguiu chegar a um acordo entre Arafat e o primeiro-ministro
de Israel, Ehud Barak.
Jerusalém: Israel reivindica soberania sobre a cidade inteira (sagrada para judeus,
muçulmanos e cristãos) e afirma que a cidade é sua capital “eterna e indivisivel”, após
ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é reconhecida internacionalmente.
Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital.
Fronteiras: os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras
anteriores a 4 de junho de 1967, antes do início da Guerra dos Seis Dias, o que incluiria
Jerusalém Oriental, o que Israel rejeita.
Assentamentos: ilegais sob a lei internacional, construídos pelo governo israelense nos
territórios ocupados após a guerra de 1967. Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental há mais
de meio milhão de colonos judeus.
Refugiados palestinos: os palestinos dizem que os refugiados (10,6 milhões, de acordo com
a OLP, dos quais cerca de metade são registrados na ONU) têm o direito de voltar ao que é
hoje Israel. Mas, para Israel, permitir o retorno destruiria sua identidade como um Estado
judeu.
6. A Palestina é um país?
A ONU reconheceu a Palestina como um "Estado observador não membro" no final de 2012,
deixando de ser apenas uma "entidade” observadora.
Mas o voto não criou um Estado palestino. Um ano antes, os palestinos tentaram, mas não
conseguiram, apoio suficiente no Conselho de Segurança.
Quase 70% dos membros da Assembleia Geral da ONU (134 de 192) reconhecem a
Palestina como um Estado.
7. Por que os EUA são o principal parceiro de Israel? Quem apoia os palestinos?
De acordo com uma pesquisa encomendada pela BBC no ano passado em 22 países, os
EUA foram o único país ocidental com opinião favorável a Israel, e o único país na pesquisa
com uma maioria de avaliações positivas (51%).
Além disso, ambos os países são aliados militares: Israel é um dos maiores receptores de
ajuda americana, grande parte destinada a subsídios para a compra de armas.
Na região, o Egito deixou de apoiar o Hamas, após a deposição pelo Exército do presidente
islamita Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana - historicamente associada ao Hamas.
Hoje em dia o Catar é o principal país que apoia o Hamas.
Após o colapso das negociações de paz patrocinadas pelos Estados Unidos e o anúncio, no
início de junho, de um governo de união nacional entre as facções palestinas Fatah e
Hamas, considerado inaceitável por Israel, iniciou-se uma nova onda de violência.
Israel reconheceu posteriormente que não poderia garantir se os responsáveis teriam sido o
Hamas ou um grupo independente.
Após as prisões, o Hamas disparou foguetes contra território israelense. Israel lançou
ataques aéreos em Gaza.
Em 2 de julho, um dia após o funeral dos jovens israelenses, um palestino de 16 anos foi
sequestrado em Jerusalém Oriental e assassinado. Três israelenses foram acusados de
queimá-lo vivo e, em Gaza, houve um aumento do disparo de foguetes contra Israel.
No dia 8 de julho, o Exército de Israel lançou uma operação contra militantes do Hamas na
Faixa de Gaza.
9. Como israelenses e palestinos justificam a violência?
A decisão de iniciar uma incursão terrestre em Gaza tem, segundo Israel, um objetivo:
desarmar os militantes palestinos e destruir os túneis construídos pelo Hamas e outros
grupos a fim de se infiltrar em Israel para realizar ataques.
Israel quer o fim do lançamento de foguetes do Hamas contra território israelense. A maioria
dos foguetes não tem nenhum impacto, já que o país conta com um sistema antimísseis
avançado, o Domo de Ferro.
Israel diz ter o direito de defender-se e acusa o Hamas de usar escudos humanos e realizar
ataques a partir de áreas civis em Gaza. O grupo palestino nega.
O Hamas diz que lança foguetes contra Israel em legítima defesa, em retaliação à morte de
partidários do grupo por Israel e dentro de seu direito de resistir à ocupação e ao bloqueio.
10. O que falta para que haja uma oportunidade de paz duradoura?
Além disso, eles teriam que chegar a acordos razoáveis sobre fronteiras, assentamentos e o
retorno de refugiados.
No entanto, desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, muitas coisas mudaram,
especialmente a configuração dos territórios disputados após as guerras entre árabes e
israelenses.
Para Israel, estes são fatos consumados, mas os palestinos insistem que as fronteiras a
serem negociadas devem ser aquelas existentes antes da guerra de 1967.
Além disso, enquanto no campo militar as coisas estão cada vez mais incontroláveis na
Faixa de Gaza, há uma espécie de guerra silenciosa na Cisjordânia, com a construção de
assentamentos israelenses, o que reduz, de fato, o território palestino nestas áreas.
Mas talvez a questão mais complicada pelo seu simbolismo seja Jerusalém, a capital tanto
para palestinos e israelenses.
Tanto a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, quanto o grupo Hamas, em Gaza,
reinvindicam a parte oriental como a capital de um futuro Estado palestino, apesar de Israel
tê-la ocupado em 1967.