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RESUMO
O Viaduto sobre o rio Trancão foi, recentemente, objecto de uma intervenção de reabilitação. A
referida reabilitação consistiu na reparação de zonas deterioradas por corrosão de armaduras, na
introdução de uma protecção geral por pintura e no reforço sísmico da estrutura. Esta última
intervenção apresenta particularidades muito específicas originadas pelo tipo de solução
estrutural da obra em causa.
O viaduto é constituído por 5 conjuntos de 6 arcos – 5 vãos na direcção longitudinal com 57m –
funcionando cada um dos 6 arcos individuais, em conjunto com as vigas longitudinais do
tabuleiro e os montantes que ligam os arcos individuais a estas vigas, como um pórtico.
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
A obra, localizada na A1 à saída de Lisboa, destina-se a atravessar o vale do Rio Trancão tendo sido
concluída em 1959. É constituída por 5 tramos em arco com 57 m de vão entre eixos de apoios,
apresenta um comprimento total de cerca de 290 m entre testas de encontros e uma largura de 26.50
m. O projecto de estrutura é da autoria do Engº António Franco e Abreu e Engº Rui Correia.
A laje do tabuleiro apoia-se em 6 vigas longitudinais com 1.20 m de altura espaçadas na direcção
transversal de 4.40 m. As vigas apoiam-se em montantes que nascem dos arcos e no próprio arco na
zona central de cada tramo. As carlingas estão espaçadas de 9.5 m na direcção longitudinal,
coincidindo a sua localização com a ligação das vigas longitudinais aos montantes e aos arcos.
A transição entre vãos é efectuada por troços de laje vigada simplesmente apoiada com 5.5 m de
comprimento entre eixos de apoio (Fig.3). A constituição desta laje é semelhante à anteriormente
descrita. Um dos apoios simples é fixo, realizado por ferrolhos de ligação entre as vigas longitudinais,
enquanto o outro é móvel, realizado por aparelhos de roletes metálicos.
Cada tramo do tabuleiro está apoiado por seis arcos poligonais de secção variável com espaçamento
igual ao das vigas longitudinais. O vão dos arcos é de 51.5 m e a sua flecha é igual a 18.6 m. Para
além dos travamentos transversais na base e no topo dos arcos existem a nível intermédio, na
nascença dos montantes, outros travamentos constituídos por travessas circulares Ø 1.0 m e Ø 0.70 m.
Os arcos são articulados na base na direcção longitudinal, realizando-se o seu apoio na estrutura dos
maciços através de ferrolhos Ø 32m m e placas de chumbo. Na direcção transversal, dada a disposição
dos ferrolhos, as rotações estão restringidas. Os arcos estão apoiados em estruturas constituídas por
maciços de encabeçamento de estacas. Estes elementos apresentam dimensões de 25.3 x 6.50 x 2.0 m3
a partir dos quais nascem montantes curtos que apoiam a base dos arcos. Em cada alinhamento cada
conjunto de seis arcos apoia-se em 18 estacas Ø 1.0 m, sendo 12 estacas inclinadas a 6º e 6 estacas
verticais. Os apoios de extremidade dos arcos laterais são fundados em sapatas.
Os 5 vãos do viaduto são estruturalmente independentes uma vez que a ligação do tabuleiro entre os
vários tramos é realizada por um troço simplesmente apoiado com um apoio móvel numa das
extremidades.
Neste trabalho abordam-se essencialmente as intervenções de reforço realizadas para dotar a estrutura
de um comportamento adequado para a acção sísmica.
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Encontro Nacional de Betão Estrutural 2010
A. Costa, J. Appleton, M. Figueiredo
O comportamento estrutural do viaduto foi analisado para as acções gravíticas, acção do vento e acção
sísmica. Para o efeito foi realizado um modelo tridimensional de todo o viaduto incluindo as
fundações em estacaria.
A acção sísmica foi considerada através do espectro de resposta elástica de aceleração definido no
Documento Nacional de Aplicação (DNA) do EC8 - NP ENV 1998-1-1: 2000 para terrenos do tipo C,
depósitos aluvionares no presente caso, conforme requisito definido pelo Dono de Obra.
A análise realizada permitiu concluir que a estrutura apresenta um comportamento adequado para as
acções gravíticas e para acção do vento. No que se refere ao comportamento sob a acção sísmica
verificaram-se deficiências importantes que colocam em causa a segurança da estrutura. Refira-se que
à data da execução da obra a acção sísmica não era considerada para o dimensionamento deste tipo de
estruturas.
Foram verificadas deficiências relevantes a vários níveis. O primeiro tipo de deficiência é relativo aos
deslocamentos da estrutura induzidos pelos sismos. O facto da ligação entre os diferentes vãos do
viaduto ser realizada com tramos simplesmente apoiados ao nível do tabuleiro, incorporando uma
junta de dilatação, confere um comportamento independente a cada uma das estruturas associada a
cada vão. Isto significa que os diferentes módulos estruturais entre juntas podem movimentar-se em
contra-fase sob a acção sísmica como ilustram alguns dos modos de vibração da obra (Fig. 2). Dado
que os aparelhos de apoio nas juntas não apresentam capacidade de deformação transversal e
longitudinal suficiente, as vigas dos tramos simplesmente apoiados poderão sair do lugar originando
uma situação gravosa relativa à segurança envolvendo uma provável queda destes tramos.
Os elementos que apresentam maiores deficiências de resistência são as estacas, os arcos e montantes
e as travessas circulares inferiores de travamento dos arcos, verificando-se que a integridade dos três
primeiros elementos é fundamental para garantir a estabilidade da obra.
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Reforço estrutural do Viaduto sobre o Rio Trancão
Tratando-se de uma obra localizada numa via de acesso estratégica importa garantir a sua
funcionalidade após a ocorrência de um sismo de elevada intensidade.
3. SOLUÇÃO DE REFORÇO
As possíveis metodologias de intervenção a implementar na obra devem ter por objectivo resolver ou
atenuar as duas principais deficiências detectadas na análise relativa à avaliação da segurança:
Foram estudadas diversas metodologias procurando atingir os objectivos acima referidos tendo por
base, também, o objectivo de minimizar a intervenção na estrutura.
Para efeito do controlo dos deslocamentos nas juntas de dilatação levantam-se duas possibilidades:
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laterais do tabuleiro apresentavam valores de tal modo elevados que a solução de reforço não
era tecnicamente exequível.
ii. Substituir os aparelhos de apoio existentes por outros com capacidade de deformação para
acomodar os deslocamentos induzidos pelos sismos e introduzir juntas de dilatação também
com capacidade de deformação adequada. Trata-se de uma intervenção complexa dada a
elevada dimensão dos aparelhos de apoio e das juntas de dilatação a colocar. Este aspecto
coloca grandes dificuldades à realização de um sistema de apoio que acomode elevados
deslocamentos relativos longitudinais. A dimensão das intervenções a realizar obrigaria a
restrições significativas do tráfego no viaduto.
Para efeito do aumento da segurança da obra relativamente aos esforços associados à acção sísmica
colocam-se várias possibilidades:
i. Reforço dos elementos estruturais com capacidade resistente insuficiente. Trata-se de uma
intervenção profunda uma vez que a maioria dos elementos necessitam de reforço. O elevado
acréscimo de capacidade resistente necessário para dotar a estrutura de um comportamento
adequado obriga à implementação de metodologias de reforço potentes constituídas por
encamisamento das secções com betão armado ou com chapas metálicas e ao reforço das
fundações. A implementação do reforço é complexa dado que as zonas a reforçar abrangem
essencialmente os nós de ligação dos elementos estruturais. Quanto ao reforço das fundações
não é viável proceder ao aumento da capacidade resistente de cada uma das estacas, pelo que
a metodologia mais adequada consiste numa intervenção global na envolvente do maciço de
modo a controlar a deformação relativa entre este elemento e o terreno reduzindo, desta
forma, os elevados esforços no topo das estacas.
ii. Introdução de novos elementos estruturais para participarem na resistência à acção sísmica.
Com o objectivo de minimizar a intervenção na estrutura estudaram-se várias possibilidades
de introduzir na obra uma estrutura paralela com capacidade para absorver parte significativa
da acção sísmica. Dado o valor das acções em causa as soluções teriam de envolver sempre
estruturas de grande porte. Essas estruturas poderiam ser materializadas por torres lançadas
sobre maciços de estacas que apoiariam o viaduto ao nível do tabuleiro de forma a absorver as
acções horizontais. Estas soluções apresentam uma significativa desvantagem que está
associada ao reduzido esforço axial que nelas actua o que conduz a grandes dificuldades na
absorção dos esforços ao nível das fundações.
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Reforço estrutural do Viaduto sobre o Rio Trancão
A eficácia da solução em causa no controlo da acção sísmica sobre a estrutura pode ser ilustrada
através dos espectros de resposta de acelerações. A figura 4 mostra os espectros de resposta para
níveis de amortecimento entre 5% e 35%.
4.5
4.0
3.5
5%
10%
3.0
Aceleração (m/s 2)
15%
20%
2.5
25%
2.0 30%
35%
1.5
1.0
0.5
0.0
0.0 0.2 0.4 Figura 1.0.8Doca 20
0.6 1.0– Corte
1.2transversal.
1.4 1.6 1.8 2.0
Frequência (Hz)
Tomando para amortecimento equivalente da estrutura isolada um valor de 25% e considerando que
as características da estrutura com e sem isolamento de base são as seguintes (frequências relativas ao
1º modo de vibração):
− sem isolamento de base: f = 0.84Hz; ξ = 5%
− com isolamento de base: f = 0.42 Hz; ξ = 25%
O valor da aceleração será reduzido de 3.9 m/s2 para 0.9 m/s2, isto é, a acção passará para cerca de
25% do valor associado à estrutura sem isolamento e amortecimento viscoso, o que traduz a elevada
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eficácia desta solução, mesmo partindo de uma frequência relativamente baixa na estrutura não
isolada. Foi realizado um pré-dimensionamento da solução de modo a atingir-se um amortecimento da
ordem de 25 a 30% com o objectivo de definir as características dos amortecedores viscosos.
A solução de reforço concebida para o viaduto consistiu nos seguintes aspectos principais:
− reforço das fundações por cortinas de colunas de jet grounting na envolvente dos maciços de
encabeçamento de estacas. Esta intervenção tem como objectivos principais conferir maior
rigidez lateral às fundações, maximizando a eficácia do sistema de amortecimento e isolamento
de base, e reduzir as deformações e os esforços transversais nas estacas;
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Reforço estrutural do Viaduto sobre o Rio Trancão
A implementação do amortecimento na direcção longitudinal terá de ser realizada em cada apoio dado
o funcionamento estrutural da obra o que requereu o introdução de dois amortecedores funcionando
em paralelo com o aparelho de apoio. Na direcção transversal compatibilizaram-se os deslocamentos
transversais da base dos arcos através de elementos metálicos e introduziram-se 3 amortecedores em
cada alinhamento de apoios. Foi necessário assegurar o funcionamento dos amortecedores qualquer
que seja a direcção do deslocamento da base dos arcos. A figura 8 ilustra a solução adoptada.
Para introduzir o sistema de isolamento e amortecimento foi necessário cortar o topo dos montantes
que apoiam os arcos numa espessura da ordem de 0.32 m.
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O sistema concebido inclui ainda elementos que limitam o deslocamento da base dos arcos na
direcção transversal e longitudinal a um valor máximo e elementos que impedem os deslocamentos
para as acções gravíticas, frenagem, temperatura e vento mas que cedem sob as acções sísmicas de
maior intensidade libertando o movimento da base dos arcos. A concepção foi realizada de forma a
garantir uma adequada redundância e robustez de todo o sistema como convém neste caso.
4. EXECUÇÃO DO REFORÇO
Definida a solução de reforço seguiu-se a sua implementação em obra, tarefa também com grau de
complexidade elevado, envolvendo os seguintes aspectos principais:
− corte parcial do topo dos montantes de apoio dos arcos e introdução de apoios provisórios;
− travamento longitudinal da base dos arcos e transferência de carga para apoios provisórios;
− corte total do topo dos montantes de apoio dos arcos;
− introdução dos aparelhos de apoio do isolamento de base;
− transferência de carga para os aparelhos de apoio;
− montagem dos amortecedores e sistema de limitação de deslocamentos.
A solução estrutural em arco obrigou a que a introdução dos apoios de isolamento de base fosse
realizada mantendo sempre sob controlo o deslocamento da base dos arcos. Embora a previsão deste
deslocamento seja simples de efectuar para as acções gravíticas e variações de temperatura existem
sempre deformações restringidas na estrutura por efeito de eventuais deslocamentos das fundações e
efeitos diferidos cuja quantificação não é possível de realizar com o rigor adequado. Estas
deformações são libertadas após o corte dos apoios existentes originando deslocamentos que devem
ser considerados no dimensionamento do sistema de isolamento de base.
O corte do topo dos montantes foi realizado com fio diamantado. Nesta operação foram cortados os
19 ferrolhos ∅32 mm que ligavam os arcos aos montantes. Os apoios provisórios instalados eram
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constituídos por macacos hidráulicos com sistema de travamento. Durante a execução dos trabalhos
instalou-se um sistema de monitorização dos deslocamentos das bases dos arcos e dos montantes dos
apoios. Os deslocamentos longitudinais das bases dos arcos situaram-se, em geral, dentro do previsto,
deslocamentos da ordem de 25 mm, tendo atingido um valor máximo da ordem de 32 mm em casos
pontuais.
As operações de transferência de carga causam grandes alterações nos esforços na base dos arcos e no
topo dos montantes de apoio desses arcos pelo foram objecto de uma análise cuidada, tendo-se
verificado a necessidade de proceder ao reforço destas zonas.
Grande parte das peças metálicas do sistema de isolamento de base teve que ser fabricada e/ou
ajustada à medida para cada apoio o que obriga a uma concepção cuidada do sistema e a um trabalho
de preparação de obra muito exigente.
As figuras seguintes ilustram alguns aspectos relativos à execução dos trabalhos de introdução do
sistema de isolamento e amortecimento.
Figura 9. a) vista da base dos arcos antes da intervenção. b) corte dos montantes de apoio dos arcos com fio
diamantado
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Figura 11. Vistas do sistema de amortecimento transversal entre arcos no apoio na base do encontro.
Figura 12. a) vista do sistema de isolamento na base de um arco. b) barra de pré-esforço do sistema para
estabelecimento da continuidade longitudinal do tabuleiro
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