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SIGLAS E ABREVIAÇÕES
Adm Admoestações
Lle Bilhete para frei Leão (Louvores a Deus)
1C Tomás de Celano, Vida I
2C Tomás de Celano, Vida II
CG Constituições Gerais da OFM
CIC Código do Direito Canônico
4Ct-b Carta aos fiéis (segunda recensão)
7Ct Carta a toda a Ordem dos Frades Menores
EG Estatutos Gerais da OFM
GS Constituição pastoral "Gaudiurn et Spes", 1965
Jo Evangelho de São João
Mc Evangelho de São Marcos
Mt Evangelho de São Mateus
OfF Oficio da Paixão do Senhor
PC Decreto "Perfectae caritatis", 1965
1Pd la. Epístola de São Pedro
RB Regra Bulada (1223)
RnB Regra não Bulada (1221)
SMD Saudação à Mãe de Deus
3S Legenda dos Três Companheiros (Tres socii)
Test Testamento de São Francisco
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Apresentação
Trata-se, portanto, de algo mais profundo que um simples texto legislativo. Com efeito,
trata-se de afirmar a própria identidade do Irmão Menor de hoje, oferecendo a cada irmão a
possibilidade de ser fiel à vocação franciscana e chamando-nos a viver nossa forma de vida
em situações concretas de nosso tempo.
Convido, pois, a todos os irmãos de nossa Ordem a ler e estudar com maior afinco
nossas Constituições Gerais e a aproveitar-se bem desse material que hoje lhes é oferecido
através de nosso Secretariado Geral para a Formação e os Estudos.
INTRODUÇÃO
TEMA 1
Evolução das CG desde 1953 até hoje
As CG, por sua própria natureza, estão chamadas a ser um complemento da Regra,
enquanto adaptam seus critérios evangélicos - que são fundamentais e permanentes - às
exigentes transformações dos tempos, por meio de disposições que asseguram e estimulam a
fidelidade ao carisma primitivo.
Isto explica porque, apenas treze anos depois da morte de S. Francisco, o Capítulo
Geral, reunido pelo papa Gregório IX, em Roma, se encontrou diante da necessidade de
completar a Regra com umas Constituições, a fim de poder observá-la naquela situação
histórica. A estas primeiras CG seguiram, em 1260, sendo Ministro Geral S. Boaventura, as
famosas Constituições de Narbona. Desta forma, quase desde seu princípio, a Ordem se viu
forçada a responder com CG continuamente atualizadas, às novas transformações e às novas
situações históricas. Por este motivo o papa Pio XII, em seu "Breve" de 14 de julho de 1953,
por ocasião da promulgação das novas constituições daquele ano, escrevia: "A Ordem dos
Irmãos Menores teve como critério constante adaptar as CG às condições dos novos tempos
e às normas da Igreja".
A partir da segunda metade deste século se produziram na Igreja e no mundo uma série
de fenômenos e mudanças tão importantes que obrigaram a Ordem a revisar muitas de suas
instituições internas, para acomodá-las à pureza de seu carisma original e às exigências dos
novos tempos. Esta revisão se produziu durante várias etapas sucessivas num processo que
desembocou nas CG promulgadas em 1987. Uma visão rápida sobre o percorrido nestes anos
nos haverá de dispor melhor para o estudo e a compreensão destas CG.
1. As CG de 1953
As CG de 1953 são sem dúvida um documento bastante representativo da concepção
que se tinha até então de Constituições. Seu enfoque era eminentemente jurídico. Do ponto
de vista de seu conteúdo recolhiam substancialmente todas as disposições contidas nas CG
que vigoravam na Ordem desde o século XIX, com as convenientes acomodações às leis
eclesiásticas, especialmente às normas de 28 de junho de 1908. Do ponto de vista formal
conservaram a divisão em doze capítulos, porém, assumiram de forma mais definida o caráter
de um código, com todos os elementos técnicos inspirados no Código de Direito Canônico de
1917. Era um verdadeiro código jurídico, com normas bem determinadas, cuja observância
fiel era exigida claramente.
Este código não oferecia elementos doutrinais explícitos, nem alusões à Sagrada
Escritura ou aos escritos de S. Francisco, nem alguma reflexão de caráter espiritual. Por outro
lado, respondia à concepção de Vida Religiosa em geral que se tinha naquele tempo, à qual se
submetia também a vida franciscana em suas linhas gerais, e na qual não brilhava com
suficiente claridade nem sua forma específica de forma de vida nem de sua missão. Para nós
hoje vários parágrafos nos podem parecer incompletos ou até em desacordo com a verdadeira
vida franciscana. Explica-se assim que, diante das exigências apresentadas pelo Concílio
Vaticano II, a Igreja e a Ordem tenham abandonado estas Constituições por se apresentarem
inexatas e pobres.
2. As CG de 1967
Estas Constituições se guiaram pelo espírito do Concílio Vaticano II e foram elaboradas
segundo os critérios do Motu próprio "Ecclesiae Sanctae" (6 de agosto de 1966), no qual se
exigia a apresentação dos fundamentos bíblicos e teológicos da vida religiosa, explicitação do
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Igreja e entre o povo, como servidores de todos e testemunhas de paz no mundo. E nestes
termos que o documento descreve o carisma franciscano. No espírito da unidade fraterna
descreve também o caminho que leva da estreiteza de uma vida semi-monástica a uma vida
pluriforme e múltiple, que permite viver melhor, segundo o espírito franciscano, a verdadeira
pobreza, a fraternidade e a participação na vida dos homens.
Por sua linguagem e por seu conteúdo é um documento profundamente inspirado e de
uma grande força profética. Com sua aparição se sentiu um novo ar na Ordem e foi semeada
uma grande esperança. Vários setores da Ordem o acolheram com entusiasmo e se tornou
uma das fontes inspiradoras das CG de 1987.
7. Até as CG de 1987
O novo Código de Direito Canônico, promulgado em 1983, apresentou os critérios que
deveriam orientar a legislação própria de cada um dos Institutos religiosos, destinada a
proteger sua respectiva vocação e identidade. Entre tais critérios estabeleceu a diferença entre
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8. Questionário
- Que incidência esta evolução da Ordem teve em minha vida pessoal e em minha
Província?
- Soubemos nós aproveitar as CG de 1967? Em que medida? Quais foram nossas
maiores dificuldades em relação a estas CG ? Que desafios nos propuseram?
- Acaso a insuficiente assimilação das CG de 1967 podem ser um perigo real para a
assimilação das atuais? Que diferença traz a aceitação ou não das novas CG?
- Tempo de transição requer de nós o fomento de algumas virtudes próprias a serem
fomentadas: fidelidade ao essencial, esperança, diálogo, busca incessante,
paciência... Comprovar a importância das citações na leitura e compreensão das
novas CG. Por isso, convém ter à mão os documentos mais importantes.
A formação permanente
aparece como a resposta irrenunciável nestes momentos.
TEMA 2
Sentido das CG em nossa vida
O tema anterior nos fez compreender a nova mentalidade que, à raiz do Concílio
Vaticano II surgiu nos Institutos religiosos com respeito a suas leis, em particular da Regra e
CG. A fidelidade ao carisma implica na integração dos princípios estabelecidos na "Perfectae
caritatis" (n. 2): volta às fontes e atualização.
1. A luz do art. 12
O art. 12 explica o lugar e o sentido que têm as CG na vida dos irmãos e da Ordem.
Vejamos suas idéias centrais:
a) As CG não substituem a Regra; se inspiram nela. Porém, segundo o espírito da
nova legislação (cf. arts. 2 e 11) não se limitam a determinar alguns aspectos da
observância regular, mas relêem "espiritualmente" a Regra, criando um projeto de
vida fiel a S. Francisco e sua Regra, e adaptado ao mundo atual.
b) Oferecem as normas fundamentais de vida de todos os irmãos em todas as partes. É
nosso projeto básico de vida. É por ele que realizamos, espiritual e praticamente,
nossa vocação evangélica. Ao mesmo tempo não pretendem uniformizar a vida
franciscana, mas estabelecer critérios e determinações que inspirem e ao mesmo
tempo guiem o comportamento dos irmãos. É assim que se garante a unidade da
Ordem, que depende, antes de mais nada, da vivência do mesmo projeto de vida.
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que o princípio de participação ativa tenha que ser equilibrado com o serviço
confiado ao irmão Guardião (cf arts 7; 42-43; 45-46).
De que forma se chegou a esta mudança de perspectiva no modo de entender e
assimilar as CG? Sem dúvida, influíram fatos sócio-culturais, por exemplo, uma maior
sensibilidade pela pessoa, pela igualdade e participação; porém, sua fonte inspiradora provém
das diretrizes do Concílio e do redescobrimento progressivo do valor central da fraternidade
em nosso carisma. Por isso, a mudança de modelo social em nossas relações interpessoais
exige, em última instância, uma atitude permanente de conversão. O projeto evangélico de
vida nascerá de uma busca comum, constantemente renovada, da vontade de Deus. As CG,
fieis a S. Francisco, insistem muito nisto (cf. arts. 32; 42-43; 67; 100; 135).
4. Problemática
As CG são objetivos. Cada Fraternidade deve integrar em sua forma de vida os
diversos elementos do projeto que as CG assinalam. Porém, deve ser capaz de aplicar estes
elementos conforme as circunstâncias novas. Não pode ser idêntico o projeto de vida de uma
Fraternidade paroquial, num contexto rural ou industrial, ao de uma Fraternidade inserida no
mundo do trabalho ou de evangelização. Desta forma, dentro da mesma Província, haverá um
pluralismo de formas de vida.
Por causa disso, algumas províncias, com o fim de dinamizar a vida fraterna,
introduziram o chamado "projeto fraterno". Trata-se de um instrumento prático que exige
uma certa aprendizagem no modo de levá-lo a bom termo. Sobretudo exige uma nova
sensibilidade e participação fraterna na vivência de nossa forma de vida.
5. Questionário
- Seria muito enriquecedor que cada irmão expressasse como tem vivido, em sua
história pessoal, sua atitude frente às Leis da Ordem e, em geral, frente às normas
que emanam da autoridade.
- Que reações espontâneas suscita em mim o esforço atual da Província por assimilar
as novas CG ? A que são devidas estas reações?
- Que espero, a nível pessoal e de Fraternidade, do estudo e aprofundamento das CG?
- Você está de acordo que estas CG podem ser assimiladas com um sentido novo?
Procure expressar este sentido novo, comparando com outras sensibilidades.
- O que você está fazendo, pessoalmente e em fraternidade, para assimilar as CG lhe
parece suficiente? Se não for suficiente, que você sugere?
- Fundamentando suas motivações à luz dos arts. 38-41, aprofunde a idéia de
participação responsável no projeto comum de vida.
TEMA 3
Nossa identidade evangélica
qual se acentua, por outra parte, o caráter específico de vida consagrada que tem a forma de
vida proposta pelas CG.
Cada dimensão de nossa vida aparece inspirada pelo exemplo e doutrina de Jesus
Cristo:
- o desejo de segui-lo mais radicalmente é o que motiva a profissão dos irmãos (cf.
art. 5 §2);
- obediência adquire seu significado pleno em Jesus Cristo, que "colocou sua vontade
na vontade do Pai" (cf. art. 7 §1);
- a pobreza de Jesus Cristo que se fez pobre por nós neste mundo, despojando-se de
tudo e convivendo com os pobres, é o que ilumina o voto de pobreza e suas
conseqüências de inserção entre os pobres (cf. art. 8);
- é o Cristo que ora ao Pai o grande referencial para a oração dos irmãos (cf. art. 19
§1);
- a fraternidade, como atitude de vida, se inspira na forma evangélica revelada pelo
Senhor (cf. art. 38);
- a minoridade, síntese do modo de os irmãos irem pelo mundo, encontra também sua
razão de ser no seguimento de Jesus Cristo (cf. art. 64);
- é a aniquilação de Jesus Cristo que leva os irmãos a adotar a vida e a condição dos
pequenos na sociedade (cf. art. 66 § 1);
- em sua ação como instrumentos de reconciliação e como pregadores da Boa Nova
da salvação, é a pessoa de Jesus Cristo que motiva sua atividade e o conteúdo de
sua mensagem (cf. arts. 70; 83 §1; 85);
- finalmente, a tarefa formativa dos irmãos só pode adquirir sentido na medida em
que se orienta para a fidelidade a Jesus Cristo (cf. art. 126).
Como elemento constitutivo que é da nossa vida, o seguimento de Jesus Cristo inspira
todos os aspectos da mesma, porém, nestas CG tem uma especial incidência sobre a
minoridade, a pobreza e a inserção entre os pobres, como se poderá ver nos temas 9 e 10, e
também no tema 13 sobre a obediência.
4. Na Igreja
A Igreja é o horizonte dentro do qual os irmãos menores são chamados a viver o
Evangelho. Este princípio enunciado em poucas palavras no início das CG (cf. art. 1 §1),
encontra seu ponto de partida na experiência de S. Francisco e dos primeiros irmãos. Basta
recordar o que nos diz Tomás de Celano a propósito do primeiro encontro do jovem
Francisco com o Evangelho na igrejinha da Porciúncula, quando quis que fosse o sacerdote
que lho explicasse (cf. 1C 22), ou aquilo que o mesmo Francisco nos diz referindo-se à
confirmação pontifícia de sua forma de vida; "o Altíssimo mesmo me revelou que deveria
viver segundo a forma do Santo Evangelho. . . e o Senhor Papa mo confirmou" (Test. 15).
Nas CG há certas referências à Igreja de caráter jurídico, exigidas pela própria natureza
de algumas de suas disposições. Há outras, em compensação, que refletem as características
da fé eclesial que deve animar os irmãos menores. Vejamo-las brevemente:
- Em primeiro lugar, as novas CG dizem que a fé católica é um dom de Deus que
deve ser vivido com humildade, vigor e alegria (cf. art. 90), e que a Igreja é um
sacramento de salvação no nosso tempo (cf. art. 87 §3).
- A partir da convicção de que formam parte do povo de Deus, os irmãos estejam
sempre em sintonia com a Igreja (cf. art. 4 §1), favoreçam a comunhão eclesial (cf.
art. 127 §3) e estejam sempre atentos às suas necessidades (cf. arts. 53; 72 §1; 112
§2).
- A fé eclesial dos irmãos tem uma de suas expressões na "obediência ao Senhor
Papa", na submissão à autoridade dos bispos no que se refere à Pastoral e na estima
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se tivermos em conta o sentido carismático que tem a vocação de S. Francisco para a Igreja e
para o mundo e se assumirmos sua figura como uma mediação que nos foi proposta pelo
Senhor para realizar nosso seguimento de Jesus Cristo. A Ordem tem esta mediação como
algo específico e fundamental de sua razão de ser e por isso propõe o exemplo e a doutrina de
S. Francisco como um referencial seguro e necessário.
No artigo 2 concretiza de forma peculiar a referência a S. Francisco na Regra aprovada
pelo Papa Honório III (cf. também o art. 5 §2), classificada em termos jurídicos como "o
fundamento da vida e da legislação da Ordem", porém que terá de ser lida e observada no que
o artigo chama o "contexto vital", para alcançar o que se faz necessário recorrendo aos outros
escritos do Santo e à sua experiência de vida (cf. art. 2 §2). Desta forma se recorre a uma das
fontes da renovação da vida religiosa proposta pelo Concílio Vaticano II (cf. GS 4.31). A
referência a S. Francisco se constitui, portanto, em critério de fidelidade e renovação.
7. Reflexão
Depois desta visão de conjunto sobre os elementos essenciais que nos identificam,
devemos recordar a distinção que existe entre identidade teórica e identidade prática. O que
acabamos de ver pode ser qualificado como nossa identidade programática, a qual só será
real na medida em que ela se torna parte de nosso ser. Nossa Ordem será conhecida no
mundo de hoje não por aquilo que os irmãos têm escrito sobre si mesmos, senão por aquilo
que são; "por seus frutos os conhecereis" (Mt 7,20). Nota-se que "dar fruto" nem sempre é
sinônimo de "fazer coisas”.
O que as CG descrevem como nossa identidade é o "dever ser" mas também a
iluminação e motivação para chegar à meta. Entre o "dever ser” e o "ser" atual existirá
sempre uma tensão dinâmica de busca, de discernimento e de crescimento. A identidade neste
caso, tem as características da utopia; não se pode pretender, portanto, havê-la conquistado
por completo.
8. Questionário
- Retomemos cada um dos elementos constitutivos de nossa identidade que foram
sublinhados e revisemos até que ponto temos clareza sobre os mesmos, tanto a nível
pessoal como de fraternidade local e provincial.
- Em qual ou quais destes elementos podemos dizer que já oferecemos uma imagem
identificável? Por quê?
- Que passos concretos estamos dando em nossa fraternidade local e provincial para
assumir hoje a identidade que nos propõem as CG?
TEMA 4
Profissão e votos
à obediência” (RB 2,11), para a atual fórmula da profissão, certamente existe uma grande
diferença. Como instrumento jurídico que é, a fórmula de profissão adquiriu ao longo dos
séculos uma série de precisações necessárias para fazer da profissão uma consagração clara e
válida.
Todavia, além dos elementos jurídicos, a fórmula da profissão contém uma grande
riqueza de referências teológicas relacionadas com nossa vocação evangélica especifica, à luz
das quais a profissão não deve ser considerada como um ato jurídico de um momento, senão
como uma tarefa que compromete e dinamiza toda a nossa vida. Com efeito, se retomarmos
lentamente cada uma das frases da fórmula em suas duas partes, encontraremos nelas como
que uma síntese dos fundamentos da Ordem, presentes no Título precedente. Isto nos indica a
relação tão estreita que existe entre a profissão e a vocação específica à qual fomos
chamados.
Há um elemento de particular importância que merece ser destacado na fórmula.
Encontra-se nos apóstrofes que acompanham os três verbos chaves da mesma:
- "faço voto. . . de viver durante toda a minha vida"
- "prometo observar sempre...”
- "me entrego de todo coração. ..”
Conforme o que vimos, a profissão é uma consagração totalizante que compreende toda
a pessoa tanto em intensidade (de todo o coração) como em duração (durante toda a minha
vida - sempre). É um ato permanente de dedicação ("vovere") de todo o ser durante toda a
existência, sem reservar-se nada para si. É uma resposta generosa e agradecida do homem ao
chamado gratuito e amoroso de Deus.
2. Profissão: manifestação de minha relação com Deus
Realizando a graça do batismo e seguindo o chamado de Deus, mediante a profissão
dos votos, o irmão menor se abandona nas mãos de Deus, sacrificando toda a sua existência
num pacto de Aliança com Ele (cf. art. 5 §1). Esta consagração da vida a Deus (cf. art. 66 §
1) se realiza concretamente pela observância dos votos (cf. art. 7-9). Seguindo a Jesus Cristo,
o irmão menor trata de descobrir e cumprir a vontade do Pai em todas as suas relações. Esta
disposição de colocar continuamente sua própria vontade na vontade do Pai, o irmão menor a
promete pelo voto de obediência (cf. art. 7 §1.3). Pelo voto de pobreza, escolhe a forma de
vida de Jesus renunciando a todas as seguranças humanas para confiar totalmente na
providência do Pai celestial (cf. art. 8 §1-2). Seu amor indiviso ao Pai celestial se expressa
pelo voto de castidade, que é sinal visível do mundo novo (cf. art. 9 § 1-2).
Assim vistos, os votos não são somente uma renúncia senão uma verdadeira
possibilidade para "conseguir mais plenamente a própria maturidade pessoal e a liberdade
dos filhos de Deus" (art. 7 §1); para assemelhar-se à vida de Cristo e de sua pobrezinha Mãe
(cf. art. 8 §2) e para amar à Deus "com todo o esforço, com todo o afeto, com todas as
entranhas, com todos os desejos e vontades" (art. 9 §1).
3. Profissão: manifestação de minha vida de fraternidade
Esta aliança com Deus conduz, “segundo o espírito de S. Francisco” (art. 5 §1), à
fraternidade dos irmãos menores (cf. art. 6 §1). Assim, a vida segundo os votos se modela
concretamente em conformidade à Regra de S. Francisco, às CG e demais leis próprias (cf.
art. 6 §2). Por esse motivo, a realização dos votos se manifesta na minha inserção na
Fraternidade. A obediência se realiza na relação com os Guardiães e Ministros, especialmente
com o Ministro Geral, porém também no serviço mútuo entre os irmãos (cf. art. 7 §3).
Igualmente a realização da pobreza, através de uma vida laboriosa e sóbria, deve expressar-se
na vida fraterna (cf. art. 8 §3). Por fim, o amor fraterno vivido na Fraternidade quer ser uma
ajuda e um estímulo a fim de que a castidade seja guardada com maior segurança (cf. art. 9
§3).
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TEMA 5
Espírito de oração e devoção
Com este título as CG sublinham a centralidade que tem Deus na vocação evangélica
do irmão menor (cf. RB 5,2), e como conseqüência a importância da oração no nosso projeto
de vida.
1. O primado de Deus nas CG
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Para compreender o lugar que ocupa o Capítulo II nas CG, é necessário, em primeiro
lugar, dar-nos conta de como nossa forma de vida se fundamenta e edifica sobre a experiência
de Deus. Façamos algumas referências:
- Chamados por Deus e consagrados para Deus sumamente amado mediante o
seguimento de Jesus Cristo sob a ação do Espírito Santo (art. 1 §1).
- A profissão estabelece com Deus uma aliança e expressa a entrega de amor (art. 5).
- Os votos realizam existencialmente a nossa consagração (arts. 6-9).
- Nossa fraternidade se funda e se alimenta em nossa filiação divina e co-irmandade
com Jesus Cristo, pelo que, sendo plenamente humana, seu dinamismo é
propriamente o da caridade, isto é, o amor que o Espírito Santo infunde em nossos
corações (arts. 38-39).
- Nossa vocação de minoridade, igualmente, nasce do seguimento de Jesus, que se
humilhou por nós até a morte; sua vivência central é a pobreza de espírito, nossa
verdade diante de Deus (arts. 64-65).
- Também nossa missão é obra do Espírito Santo, continua a do Filho e tem por
objeto central a proclamação do único Absoluto, Deus (arts. 83-84).
- Por isso, o testemunho de vida ou proclamação silenciosa do Reino de Deus é já um
certo começo e o primeiro modo de evangelizar (arts. 87; 89; 90).
- Em conseqüência, a formação tem por objeto, antes de tudo, o seguimento de
Cristo, possibilitando o espírito de conversão e fomentando principalmente o
convívio com Deus (arts. 126-127; 135).
- A admoestação e correção dos irmãos devem estar sempre imbuídas da própria
consciência de ser pecadores diante de Deus e da experiência de sua misericórdia
salvadora (art. 251).
É significativo que cada capítulo das CG seja encabeçado por este primado de Deus,
formulado, cada vez, segundo um esquema trinitário; o Pai pelo Filho no Espírito Santo, que
corresponde ao Deus da Revelação e à experiência que teve Francisco do Deus "vivo e
verdadeiro" (cf. LLe 3; OfP Sal 15,1).
2. A experiência franciscana de Deus
Para assimilar espiritualmente estas CG é necessário que os irmãos não se detenham
somente em considerar as obrigações que têm a respeito da oração, senão que captem e façam
sua a experiência de S. Francisco que aquelas quiseram recolher. Nosso carisma se inspira,
primordialmente, na experiência que teve de Deus o Poverello do qual Celano diz que não
era tanto um orante, mas totalmente feito oração (cf. 2C 95), citação que tem sido retomada
no artigo 19 §2.
Destaquemos pois os traços desta experiência à luz das próprias CG:
- A vida de oração é a primeira expressão de nosso seguimento de Cristo (art. 19 § 1),
não somente porque Jesus rezou, senão também porque nossa vida consiste na
cristificação, tal como aparece na RnB, especialmente quando S. Francisco faz sua
a oração sacerdotal de Jesus (cf. RnB 22, 41-45) e diz de Jesus que Ele é nossa
suficiência para tudo, particularmente para poder dar graças ao Pai por seu amor
infinito (Ibid. 23,5).
- O parágrafo 2 do artigo 19 concentra a altura e a profundidade da experiência
orante de S. Francisco; esta dinâmica totalizadora própria da adoração de Deus "em
Espírito e em verdade", que fez de Francisco um verdadeiro contemplativo. Não
está aqui, por acaso, o segredo de sua vida? De fato, os temas apontados se repetem
constantemente em seus Escritos, em especial nas suas orações.
- A primeira fórmula de oração franciscana é o louvor que em S. Francisco brota
espontaneamente da experiência da absoluta gratuidade do amor criador e salvador
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porém, para o irmão menor é, além disso, sua regra de vida. Necessitamos criatividade para
devolver-lhe o lugar que lhe corresponde em nossa vida fraterna.
c) A Liturgia das Horas (art. 23).
É nosso principal meio para o louvor e a intercessão. Temos recuperado além do mais
nossa tradição de rezar com a Igreja ao nos reunirmos em Fraternidade, sem que seja
necessário ir ao coro.
d) A Oração Mental (art. 24).
As CG se limitam a reproduzir o cânon 663 §3 do Código de Direito Canônico; porém,
todos sabemos que esta mediação é essencial para cultivar o espírito de oração e devoção,
especialmente numa época, como a atual, devorada pelo ativismo, e por formas de vida de
presença no meio do mundo.
e) Outras formas de piedade, tradicionais na Ordem, especialmente dedicadas aos
mistérios da humanidade de Jesus, à Virgem Maria e ao nosso Pai (art. 26), ainda, dizem as
CG, devem estar solidamente fundadas bíblica e teologicamente, respeitando o primado da
Liturgia na piedade cristã.
f) O cuidado e atenção a tempos e lugares mais propícios para promover a dimensão
contemplativa de nossa vida (cf. arts. 29-31). Pertencem à tradição da Ordem. Recordemos
que é uma das prioridades do Capítulo Geral de 1985.
5. Problemática
Este ponto quer ajudar os irmãos a confrontar os princípios com a realidade vivida.
Sem dúvida, todos os irmãos estão convencidos do primado da oração na sua vocação, porém
todos experimentam igualmente que o mais evidente e fundamental é o mais delicado e
último na experiência real.
- Quando a eficácia se torna o critério de verdade e de consistência resta pouco
espaço para a fraternidade, o gratuito, a oração.
- O contexto sócio-cultural não favorece em geral o recolhimento, a reflexão, a
dimensão contemplativa da nossa vida.
- O antropocentrismo secular, não entendido corretamente, favorece o compromisso
pela promoção do homem; porém, marginaliza a experiência da transcendência e do
Reino como iniciativa soberana de Deus.
- O progresso da ciência e da técnica coloca novas perguntas à experiência e à
linguagem religiosa, já que proporciona uma explicação intramundana e positivista
dos fenômenos e acontecimentos.
- Tensão entre vida de oração e urgências pastorais.
- Deficiências na formação dos irmãos a respeito da experiência de Deus, demasiado
marcada pelo pietismo intimista ou certo formalismo nas celebrações comunitárias.
- Desorientação e desânimo nos irmãos, que repercutem imediatamente na relação
com Deus.
- Contudo, nos últimos anos houve um certo ressurgir na valorização e prática da
oração. Começamos a recolher os frutos? São frutos de maturidade ou, melhor,
ocultam problemas mal resolvidos?
A oração é uma destas experiências que deve combinar, equilibradamente, uma
confiança espontânea na relação com Deus com uma sadia suspeita de que uma vida
profunda de oração não se dá espontaneamente.
6. Questionário
- Seria conveniente ir enumerando e analisando cada uma das dificuldades que temos
hoje para aprofundar a experiência de Deus, distinguindo dificuldades:
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TEMA 6
A vida de penitência
Enquanto lemos os artigos 32-37 do Capítulo II percebemos a mudança de perspectivas
que introduzem as CG no nosso projeto de vida. A penitência se centrava num conjunto de
práticas, especialmente a abstinência e o jejum, como aplicação do capítulo III da Regra. O
estudo das fontes e, portanto, uma maior fidelidade a S. Francisco e ao espírito da Regra,
recuperaram a idéia de penitência como dinâmica central da nossa vocação evangélica.
1. Vida evangélica e espírito de conversão
Chama a atenção como se usam os termos penitência e conversão nas CG (cf. arts. 1;
32; 34; 86; 87), retomando assim a concepção bíblica vigente nos escritos de S. Francisco (cl.
Test 1-3; 26).
Não podemos ser irmãos menores se nossa consagração a Deus não envolver toda uma
dinâmica de transformação, sinal da ação do Espírito Santo em nós, cujas características são
o radicalismo no seguimento de Jesus, animado pelo espírito de oração, a caridade fraterna, a
negação de nós mesmos, a condição de menores entre os homens, o testemunho vivo do
Evangelho e a realização da paz e da justiça no mundo (cf. art. 1).
Pertence ao nosso estilo de relação fraterna o espírito de serviço e obediência caritativa
que, longe de nos colocar acima dos demais, nos faz amar os irmãos mais que a nós mesmos,
mostrando preferência pelos irmãos fracos, enfermos e idosos (cf. arts. 7; 38; 44).
Este mesmo espírito deseja ser um com Cristo no seu aniquilamento (cf. art. 4), na
atitude de humildade sincera diante de Deus e diante dos homens (cf. art. 65), criando formas
de vida que nos fazem compartilhar a condição com os menores da sociedade (cf. art. 66).
Sem a negação constante de nós mesmos e a assídua conversão a Deus não podemos
testemunhar contra os falsos valores do nosso tempo (cf. art. 67), nem promover um mundo
mais justo, pacifico e solidário (cf. arts. 68-71).
A importância central que tem a desapropriação em nossa vida exige este espírito de
conversão, pelo qual nos sentimos peregrinos e forasteiros neste mundo, como queria S.
Francisco (cf. art. 72; RB 6,1).
Por isso, onde os irmãos estiverem, em qualquer tarefa que realizarem, se levarem vida
penitente, radicalmente evangélica, estarão evangelizando com seu exemplo (cf. arts. 84; 92).
Sem fazer dignos frutos de penitência, os irmãos não poderão converter ninguém à fé e
ao Evangelho (cf. art. 86). E mais, os irmãos menores são chamados a pregar no mundo a
conversão a partir de atitudes e opções de minoridade. A promoção da verdade e da justiça
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3. Reflexão
Ao terminar de ler os artigos 32-37 temos a mesma sensação que costumamos ter ao ler
alguns grandes textos dos Escritos de S. Francisco (por exemplo, primeira Carta a todos os
fiéis, verdadeiro programa para os cristãos que querem viver em penitência; ou Capítulo 17
da Regra não Bulada): como a sabedoria da cruz é o horizonte adequado para compreender e
viver nosso projeto de vida.
Daí nasce também, consequentemente, a mesma reflexão e pergunta que perpassa a
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experiência dos discípulos no Evangelho: quem pode entender esta linguagem? Fomos
chamados a perder a vida para ganhá-la; porém nosso egoísmo se revolta, como Pedro (cf.
Mc 8,27-38; Jo 6,54-71), contra o escândalo messiânico da Cruz. Necessitamos da luz da
Páscoa e da força do Espírito para seguirmos este caminho.
Sempre foi difícil a conversão ao Evangelho: porém hoje estamos conscientes de certas
dificuldades específicas de nosso tempo. Assinalamos algumas, que às vezes atribuímos ao
ambiente externo, porém estão também em nós:
- Não é verdade que a mensagem cristã foi marcada unilateralmente pela renúncia?
- Tem sentido esse projeto de vida, que exige do homem uma negação constante de si
mesmo? Isto não se presta para um desequilíbrio psicológico?
A resposta a estas questões pressupõe uma dupla iluminação:
a) Teórica: o humanismo cristão deve integrar os dados das ciências humanas, por
exemplo, como a negação de si mesmo não anula a realização adulta do homem,
mas a possibilita.
b) Prática: esta é a mais delicada, pois supõe um discernimento da realidade das
pessoas. Com efeito, para chegar a viver habitualmente este espírito de conversão,
configurado pela Cruz, o irmão menor necessita, previamente, um elevado grau de
integração psicológica e de liberdade espiritual. E se não o tiver?
As CG não colocam estes problemas, porque elas se situam no horizonte do ideal e
projeto de vida. No Capítulo VI, sobre a formação, propõe uma formação integradora do
humano, do cristão e do franciscano. Pressupõem, pois, a necessidade de resolver estas
questões na fase inicial. Sem dúvida, todos sabemos que a vida humana está sujeita a
conflitos e processos complexos.
Como manter nosso ideal de radicalidade evangélica tendo em conta a dinâmica real
das pessoas e das fraternidades?
4. Questionário
- Dialogar na fraternidade sobre este espírito de conversão, que implica uma atitude
espiritual, de abertura, flexibilidade e desejo de renovação e uma atitude espiritual
de escuta da Palavra e de entrega incondicional à vontade de Deus. Analisar que
mecanismos de defesa podem impedir este espírito em nós.
- Estamos de acordo com os novos acentos da prática penitencial destas CG? Não
negam as práticas tradicionais, porém, dão mais importância às atitudes, ao
partilhar, ao que temos e somos com os demais, à experiência do sofrimento alheio
e próprio etc.
- Aprofundar a problemática colocada pelas reflexões da parte 3 sobre o humanismo
da Cruz e as possíveis objeções que vêm do ambiente hedonista que nos rodeia e de
certas concepções sobre a realização e felicidade do homem.
- Que sinais lhe parecem autênticos e quais lhe parecem inautênticos quando se fala
da negação e do sacrifício?
- Você tem a impressão de uma vida fácil, confortável, pessoalmente e em
fraternidade? Pode-se fazer algo? Por exemplo, o que você propõe na fraternidade?
- A que conversão concreta lhe chama o Senhor aqui e agora?
21
TEMA 7
"Todos vós sois irmãos"
Com esta expressão aparece identificado o Capítulo III das CG, dedicado ao tema da
Vida Fraterna. Esta expressão, de profunda raiz evangélica (cf. Mt 23,8), foi tomada
literalmente da Regra não Bulada 23, 23 para evocar as origens que inspiraram e inspiram
nossa condição de irmãos na Igreja e no mundo. O caráter genérico e indeterminado da frase
nos mostra que, desde já, para nós ser irmãos corresponde a uma vocação que tem
repercussões universais. Não pode ser reduzida, portanto, às relações inter-pessoais dos
irmãos da Ordem, ainda que as CG dêem certa prioridade a estas últimas.
Visto que “ser irmãos" é um elemento fundamental do nosso carisma específico, se
explica que o tema da fraternidade se encontra ao longo de todas as CG, apesar de que haja
um capítulo especialmente dedicado a ele. Portanto, para compreendê-lo, se deve ter em
conta todo o conjunto.
1. Princípios inspiradores
É importante destacar alguns princípios que fundamentam e explicam a vocação de
irmãos. Encontram-se quase todos nos primeiros artigos do Capítulo III expresso em forma
breve. Vejamo-los em detalhes:
a) Somos chamados a sermos irmãos porque somos "filhos do Pai celestial e irmãos de
Jesus Cristo no Espírito Santo" (art. 38). Este princípio se inspira numa das
passagens culminantes da Carta aos Fiéis (cf. Ctb 49,53) onde Francisco expressa a
máxima aspiração e, por sua vez, a grande recompensa de quem é fiel. As relações
de família que acontecem na Fraternidade marcam, a partir da fé, a origem da nossa
condição de irmãos e dão consistência a nossas relações fraternas. Por isso as CG
recorrem ao modelo da "família unida em Cristo" (art. 45 §1) quando querem
motivar o crescimento da comunhão fraterna.
b) Nossa condição de irmãos está na perspectiva do seguimento de Jesus Cristo
"segundo a forma evangélica revelada por Deus a S. Francisco" (art. 38). Depois
que o Senhor lhe deu irmãos, foi o mesmo Altíssimo que lhe revelou que devia
viver segundo a forma do Santo Evangelho (cf. Test. 14). À luz disto, o ser irmãos
não obedece a uma moda, nem a uma conveniência social, nem a uma exigência
jurídica. É uma vocação específica que brota como uma conseqüência dos
postulados inspiradores do Evangelho.
c) "Visto que a caridade de Deus foi derramada pelo Espírito Santo em seus corações"
(art. 39), os seguidores de S. Francisco são irmãos espirituais. Um "irmão
espiritual", isto é, um irmão no espírito, é aquele que se deixa guiar sempre pela
"Divina inspiração" e não pelo "espírito da carne". A divina inspiração de que tanto
falava S. Francisco é o grande motor que conduz, que ilumina e que estimula o ser e
o agir dos irmãos. Com este mesmo motor se impulsionam as relações dos irmãos
entre si, nas quais o amor e o cuidado devem ser muito maiores daqueles que uma
mãe manifesta por seu filho carnal (cf. art. 38).
d) "Cada irmão é um dom dado por Deus à fraternidade". Este princípio que esteve tão
fortemente gravado na mente de Francisco até o fim de seus dias (cf. Test. 14), tem
uma singular importância em nossa concepção de vida fraterna. Por um lado,
procede de um profundo sentido da gratuidade de Deus que nos dá irmãos e do
reconhecimento de que a fraternidade faz parte do plano Salvador do Pai; por outro
lado, leva a um respeito reverencial pelo processo de salvação que se dá em cada
irmão e a uma valorização sincera da pessoa de cada um dos irmãos pelo que são
em si mesmo à luz da fé.
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4. Questionário
- No nosso relacionamento diário com os demais, manifestamos a convicção de que
somos filhos do mesmo Pai e irmãos em Jesus Cristo? Na nossa prática de vida
fraterna damos mostra de já termos assimilado este princípio?
- Façamos uma lista dos sinais demonstrativos que, segundo nós, expressa (a nível
pessoal ou fraterno) que estamos vivendo nossa condição de irmãos como uma
verdadeira vocação específica. À luz dela, poderíamos ver nossos progressos e
nossas deficiências a este respeito.
- Até que ponto podemos dizer que nos comportamos como "irmãos espirituais" e
não como "irmãos carnais", isto é, movidos por outros tipos de interesses?
- Através de que fatos concretos estamos vivendo a igualdade em nossa
Fraternidade? Continuam algumas expressões de uma mentalidade clerical? Quais?
Que estamos fazendo a nível provincial e local para superar a mentalidade
"clerical"?
- Podemos dizer que a nossa Província e/ou nossa fraternidade têm um espírito de
abertura universal? Quais seriam as expressões mais claras deste espírito? Que
iniciativas concretas poderíamos colocar em ação para melhorar esta condição
típica de nossa vocação de irmãos?
- Particularmente em relação à Família Franciscana que se encontra em nossa cidade,
diocese ou região, como se expressa nossa união? Como poderíamos incrementá-
la?
TEMA 8
A comunhão fraterna
1. A importância da terminologia
A comunhão fraterna ocupa um lugar de grande destaque no projeto de vida dos irmãos
menores. Com efeito, já desde o artigo primeiro que apresenta a radicalidade evangélica entre
os fundamentos da Ordem, aparece esta radicalidade como um imperativo para todos os
irmãos através de duas manifestações específicas: o espírito de oração e devoção, e a
comunhão fraterna (cf. art. 1 §2). Segundo isto, sem comunhão fraterna nosso projeto de vida
fica desfigurado, mutilado; não poderíamos entendê-lo, pois careceria de uma base
evangélica.
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Os artigos 38-54 das CG são dedicados de maneira particular à vida de fraternidade dos
irmãos entre si. A expressão que identifica o Título 1: A "Comunhão Fraterna" se encontra ao
menos doze vezes, em todo o documento. É empregada freqüentemente para fazer referência
ao espírito de caridade que deve reinar no interior da Ordem, porém algumas vezes se aplica
também ao incentivo desse mesmo espírito nas relações com todos os demais seres humanos.
Por vezes, encontramos outras expressões que têm significado semelhante, como, por
exemplo, "união fraterna" "vida fraterna em comunhão", "unidade e comunhão" etc.
É importante ressaltar que se emprega o termo "comunhão" e não "comunidade" fala-se
de "união" ou de "unidade", porém nunca de "unicidade". Isto se entende melhor se tivermos
presente que as CG resgataram o conceito de "Fraternitas" para a Ordem. O documento diz
de forma explícita que a Ordem é uma Fraternidade (cf. arts. 1 §1; 87 §1) e pelo menos 39
vezes emprega esta palavra para referir-se seja à toda Ordem, ou a uma Província, ou ao
grupo de irmãos que habita numa casa.
Outra palavra-chave na linguagem das CG é "irmãos". Os "irmãos" são os sujeitos na
maioria das frases, os destinatários de todas as disposições. As CG são a lei fundamental para
"os irmãos menores". Este é seu título máximo, um título que contém por certo todo um
programa de vida.
"Irmãos", "Fraternidade", "Comunhão". Eis aqui uma terminologia de rico conteúdo
que proporciona matizes específicos ao mandamento evangélico do amor e que é preciso ter
em conta para compreender melhor o alcance dos princípios que inspiram e dinamizam.
4. Reflexão
Tudo o que vimos anteriormente nos leva a refletir sobre várias dimensões práticas da
nossa vida que contrastam com os postulados ali apresentados. Destacá-los tem um grande
valor, enquanto nos ajuda a encontrar uma aplicação concreta em nossa resposta diária para
os princípios expressos pelas CG.
Referimo-nos somente a alguns pontos, a título de começo de reflexão, a qual será
enriquecida em grande parte quando cada uma partilhar na sua Fraternidade as reflexões
pessoais.
Uma primeira reflexão nos é sugerida pelo nosso próprio nome que, como vimos
anteriormente, é um nome programático. É certo que o uso desgasta as coisas e às vezes
também as palavras, porém não é menos certo que, segundo um elementar princípio da
exegese, "a linguagem não é inocente". Por isso é muito justo que nos perguntemos: por que
se desgastaram certas palavras da nossa linguagem fraterna? Foi o que ocorreu, por exemplo,
com o antigo título de "frei", que hoje para quase ninguém significa irmão e que degenerou
na identificação de um certo "status" social. E se a "linguagem não é inocente", por que nos
apegamos a títulos como "Doutor", "Padre", "Padres Franciscanos” e a outros que têm
conotações de distinções e privilégios em certos países? Nosso maior título e nossa grande
tarefa é a de sermos ''irmãos menores". S. Francisco no-lo ensinou em termos muito claros:
"Ninguém seja chamado prior, mas todos sem exceção chamem-se irmãos menores" (RnB
6,3). “Todos vós sois irmãos; e entre vós não chameis a ninguém de pai sobre a terra, pois um
é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Tampouco os chameis mestres, pois um é o vosso
Mestre, aquele que está nos céus” (RnB 22, 33-35).
Outra reflexão pode partir do lugar real que ocupam os valores humanos em nossas
relações fraternas. Às vezes temos a impressão que os irmãos estão reunidos numa
determinada casa, em função de um trabalho e este nem sempre bem realizado. Os contatos
entre eles são mínimos, só os estritamente necessários. As relações são funcionais. Predomina
o ceticismo, a desconfiança e o mau humor, ao invés da alegria, do estímulo mútuo e ajuda
recíproca. Aparece por diversos ângulos a crítica mesquinha e destrutiva, sem que muitas
vezes o interessado se dê conta disso.
Talvez nem sempre se valoriza suficientemente o significado que tem a co-
responsabilidade na construção da comunhão fraterna. É possível que nas nossas
Fraternidades já se tenha superado o autoritarismo e o paternalismo depois da recuperação do
lugar que deve ter o irmão na Fraternidade. Porém, não se trata de uma simples reivindicação
de direitos; a construção da vida fraterna implica tarefas especificas para cada irmão e de
todos em comum. Quando há egoísmo e anarquia não podemos dar uma resposta comum ao
chamado e ao dom da fraternidade e se corre o perigo de cair em autoritarismos piores que os
anteriores.
Os Capítulos, tanto locais quanto provinciais, nos oferecem outro motivo para reflexão.
Bem sabemos que é através deles que atingimos a expressão máxima da vida de uma
Fraternidade, mas também são um dos principais meios para animar a vida fraterna. Porém
isso não acontece automaticamente. Devem ser preparados cuidadosamente, como quando se
prepara uma festa de família. Na verdade, são um encontro da família, a celebração da
irmandade. Sua principal finalidade é a de "tratar as coisas que se referem a Deus" (RnB
18,1). Requer-se ao mesmo tempo a máxima atenção para que não degenerem em reuniões
rotineiras sobre assuntos administrativos da casa ou da Província e, menos ainda, em
momentos de tensões com jogos políticos de pressões e influências.
Nem sempre é fácil estabelecer a diferença entre os dons peculiares de cada pessoa e os
caprichos que dificultam o crescimento da comunhão fraterna; e entre os diferentes ritmos no
processo de conversão e o afã de proteger-se nas diferenças pessoais para dificultar o mesmo.
Deveríamos fazer um discernimento sereno, a nível fraterno, a fim de que o principio
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baseado em que os irmãos são um dom dado por Deus à Fraternidade se entenda em seu justo
significado.
5. Questionário
- Seria útil que cada um tratasse de identificar e analisar o tipo de relação que
acontece na respectiva casa onde vive: é uma agregação de pessoas?, é uma vida
conventual de comunidade?, é um grupo de pessoas que trabalham juntas?, é uma
reunião de amigos?, se constrói a comunhão fraterna?
- Podemos dizer que nossas fraternidades são lugares privilegiados para o encontro
com Deus? Por quê? Assinalar os principais fatores que dificultam este encontro.
- Como se ocupa a Fraternidade (provincial ou local) dos irmãos idosos, dos
enfermos e dos "difíceis"?
- Pratica-se em nossas comunidades a correção fraterna e a revisão de vida? Como?
- Quais são as expressões concretas que manifestam o sentido de cor-
responsabilidade em nossa respectiva Fraternidade?
- Existe um projeto de Fraternidade em nossa Província, em nossa casa? Como se
leva adiante este projeto?
- Como se celebra o Capítulo em nossa Fraternidade? Que dinâmicas seguimos na
sua preparação e na realização?
- É nossa Fraternidade acolhedora? Como recebe as visitas?
- Da sua parte, tem preocupação em servir desinteressadamente seus irmãos, ajudá-
los em suas dificuldades e estimulá-los em seus êxitos e trabalhos?
TEMA 9
Nossa vocação de menores
O tema da minoridade tem sido um dos mais refletidos durante os últimos tempos. Esta
reflexão ocorreu no interior da nossa Ordem e nos permitiu clarear o significado desta
dimensão específica da nossa vocação, facilitando-nos assim uma maior fidelidade ao
Evangelho no mundo de hoje. Bastaria olhar, por exemplo, a documentação pós-conciliar que
a Ordem produziu nos Capítulos Gerais de Medellín e Madrid e no Conselho Plenário da
Bahia para nos dar conta da importância que recebeu este tema.
As CG fizeram eco a esta rica reflexão e, inspiradas nos ensinamentos de S. Francisco,
nos oferecem uma visão bastante profunda e atual da minoridade. Dado o papel fundamental
que a minoridade tem em nosso carisma específico, se explica que o tema se encontre não só
no Capítulo especial (Cap. IV) mas também em outras partes do documento.
3. Fundamento da minoridade
Outro texto-chave no tema da minoridade é o artigo 65, enquanto nos apresenta seu
fundamento, seu ponto de partida, isto é, a verdade daquilo que é o homem diante de Deus. O
confronto das realidades, Deus e o homem, manifesta a santidade, a grandeza, a bondade, a
altura, a majestade de Deus e a debilidade, a pequenez, a baixeza, a insuficiência... do
homem.
Podemos dizer, portanto, que a minoridade parte de uma convicção teológica e não de
uma atitude psicológica nem de uma consideração sociológica. Começamos a ser menores,
segundo S. Francisco, na medida em que colocamos a nossa própria vida no horizonte de
Deus. As outras dimensões (psicológica e sociológica) não as desconhecemos; mas ainda, as
temos em conta, porém não são as orientadoras.
Desta convicção teológica brotam três conseqüências: duas relacionadas com Deus e
uma com os homens:
a) O reconhecimento de Deus como único e supremo bem, o qual exige fé que se
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renova, que cresce, uma ação dinâmica e responsável na história de cada irmão.
Para o irmão menor, Deus não é uma formulação teórica fixa um conceito estático
nem um Deus pela metade, que divide sua fé ao lado de outros "deuses".
b) O esforço permanente para agradar a Deus em tudo. Esta conseqüência está
relacionada com a radicalidade totalizante da anterior: abarca toda nossa história e
todas as ações de nossa vida a fim de fazê-las como num sacrifício, agradáveis a
Deus. De todas as maneiras é uma ação de dimensões humanas, segundo as
capacidades de cada um; não exigem resultados matemáticos.
c) Aceitar com alegria o fato de sermos considerados como vis, simples e
desprezados. Aqui as convicções expressas no artigo 64 são colocadas à prova no
confronto com os outros. Somente quando os outros nos tratam segundo o que nós
dizemos ser (servos vis, simples e desprezados) e quando aceitamos este tratamento
com alegria, dar-se-á o ciclo completo da minoridade. Porque a minoridade não é
uma idéia nem um bom desejo, é uma convicção colocada à prova. Sublinhamos
que é uma provação aceita de bom grado, como quem assume consciente e
livremente a condição de menor, o qual produz "gáudio e alegria" (cf. art. 64).
4. Minoridade e testemunho de vida
Nas CG existe uma certa insistência em relacionar a minoridade com o testemunho de
vida, isto é, a minoridade por si mesma é chamada a exercer um papel profético na sociedade.
Com isso se confirma o caráter de vocação específica que a minoridade dá aos irmãos.
É muito significativo que já desde o primeiro artigo das CG, este testemunho
praticamente determina a natureza da Ordem, e se diz que é obrigatório para os irmãos dar
testemunho de minoridade (cf. art. 1 §1). Aqui aparece pela primeira vez o termo minoridade
que, evidentemente, não é definido, porém se apresentam como uma convicção traduzida em
fatos, em atitudes de vida que devem ser percebidas pelos outros que sejam demonstráveis.
De acordo com isto, a minoridade não é um conceito teórico nem sentimento intimista. Ao
traduzir-se em atitudes de vida, tem um papel profético no mundo. Com o exemplo de sua
vida, os irmãos menores são chamados a confundir os falsos valores do tempo presente (cf.
art. 67).
A minoridade tem uma expressão concreta na pobreza. Porém, segundo as CG, a
pobreza não se limita a sujeitar-se aos Ministros no uso das coisas materiais; seria reduzi-la a
um ascetismo personalista sem nenhuma força evangelizadora. Por isso, os irmãos menores
devem mostrar, tanto particularmente quanto na fraternidade, que somos verdadeiramente
pobres de fato e de espírito através da sobriedade de vida, do espírito de trabalho e da in-
serção entre os pobres e marginalizados da sociedade (cf. art. 8 §3).
Fiéis ao princípio de privilegiar o "ser" sobre o "fazer", as CG insistem no valor que
tem o testemunho da minoridade na tarefa da evangelização. Com efeito, quando tratam os
dois modos da evangelização, em várias ocasiões fazem referência a este aspecto.
O primeiro modo da evangelização é a chamada "proclamação silenciosa do Reino de
Deus" que deve ser feita por todos os irmãos sem exceção, seja qual for sua idade, ofício ou
condição. Tal proclamação se fará através "da vida minorítica em fraternidade" (cf. art. 89
§1). Esta atitude está na base - a modo de um princípio inspirador - de todos os artigos que se
referem à evangelização através do testemunho de vida (cf. arts. 90-99).
O segundo modo da evangelização, ou seja, a proclamação explícita da palavra, deve
estar também impregnado do espírito de minoridade. Segundo as CG é necessário anunciar a
Boa Nova e exercer o ministério da pregação com toda a competência para o mesmo, porém
é preciso fazê-lo com paciência e humildade" (art. 104) e não confiando unicamente nas
habilidades humanas nem nas estruturas de pastoral, pois "para a difusão da palavra de Deus
o espírito da minoridade é mais eficaz" (art. 109 §1).
31
5. Problemática
Não resta dúvida que a Ordem já atingiu um bom nível de clareza sobre os
fundamentos e os significados da minoridade. Porém, não basta que seus documentos
definam decididamente o papel que tem a minoridade em nossa vida. É indispensável
estarmos conscientes dos pontos de resistências, alguns deles seculares, que impedem a
realização de nossa vocação específica de menores. Seria indispensável um atento exame
dessas resistências, feito pelos irmãos nas fraternidades a fim de facilitar a colocação em
prática de tudo aquilo que nos propõem as CG. A título de ponto de partida deste exame,
vejamos algumas destas resistências:
- O culto exagerado da pessoa humana, a que temos chegado neste momento da
história, torna cada vez mais difícil assumir a condição de servo, de desprezado,
daquele que não é considerado. Se a minoridade é uma vocação específica, por
outro lado, é algo que condiciona toda a pessoa daquele que é chamado a vivê-la.
Pede, portanto, uma conversão, uma mudança radical de privilegiados a
desprezados; um querer deixar de ser "pais" (padres) e "chefes" para começar a ser
“irmãos “ e “servos”.
- O desconhecimento na prática do que é específico de nossa vocação de irmãos
menores na Igreja e no mundo. É muito freqüente que o povo, vendo-nos viver e
atuar, não saiba distinguir nosso carisma específico dos demais carismas da Igreja.
Seria indispensável remover não somente as resistências que apresenta nossa fraca
condição humana mas também somar esforços para transformar algumas estruturas,
que se tornaram rígidas com o passar dos séculos, muitas das quais são resquícios
de uma errônea compreensão do nosso carisma no passado.
- Um certo ativismo padronizado e a confiança colocada mais na perfeição dos
métodos do que no conteúdo de fundo. Os complicados programas e estruturas de
pastoral, assim como a adoção, às vezes impensadas, dos meios técnicos da
comunicação constituem freqüentemente uma prova disso. Nos deixamos contagiar
pela busca doentia da eficácia, típica do homem moderno, esquecendo talvez que
nossa força de impacto está precisamente no valor profético da simplicidade. Esta
realidade coloca a exigência de re-descobrir ou de inventar formas novas a fim de
que a minoridade tenha o impacto testemunhal que é chamada a dar.
6. Questionário
- Existe uma real preocupação a nível pessoal e comunitário para aprofundar o
conhecimento e a interiorização do mistério do aniquilamento de Cristo que tanto
atraiu S. Francisco?
- Quais poderiam ser as características concretas que distinguiram nossa condição de
menores como uma vocação específica na Igreja?
- Vamos reler a segunda parte do artigo 64 onde se diz como devemos ir pelo mundo
e completemos esta leitura com as fontes em que ela se inspirou. Quais destas
características estão acontecendo em nós? Como poderíamos continuar
incentivando isso?
- Através de que fatos concretos podemos dizer que estamos dando, a nível de
fraternidade provincial e/ou local, um verdadeiro testemunho de minoridade?
- No nosso serviço de evangelização predominam mais os conteúdos ou as formas?
Por que sim e/ou por que não?
- Que formas de minoridade poderíamos recuperar ou inventar a fim de que nossa
vocação de menores exerça a sua função testemunhal na cidade ou país em que
vivemos?
32
TEMA 10
A minoridade em nossa vida
A frase escolhida como título geral do Capítulo IV: "Peregrinos e forasteiros neste
mundo", situa muito bem o espírito com que deve ser lido e compreendido. Trataremos de
assumir este espírito para captar aquilo que ali se diz a respeito das incidências concretas que
deve ter a minoridade em nossa vida. Esta captação será melhor se tivermos estudado
previamente o tema anterior que se refere aos fundamentos e princípios inspiradores de nossa
vocação minorítica.
1. Pobres entre os pobres
O tema da opção pelos pobres e do viver entre eles aparece com bastante clareza e
força nas CG. É evidente que a Ordem recuperou com vigor um dos valores que a
caracterizou nas suas origens e nos melhores momentos de sua história. Vejamos algumas das
características de maior importância apresentadas nas CG.
a) A opção preferencial pelos pobres tem uma inspiração exclusivamente cristológica:
o motivo que leva a fazer-se pobre entre os pobres é "para seguir mais de perto e
refletir com maior clareza o aniquilamento do Salvador" (art. 66 §1), para agir "a
exemplo de Cristo" (art. 8 §3). Note-se que as expressões empregadas ("seguir mais
de perto", "refletir com maior clareza") situam a inserção na linha da mais pura
radicalidade evangélica. Ambas são a expressão de uma tarefa, de um programa de
vida para o irmão menor: seguir a Jesus Cristo e refleti-lo, demonstrá-lo aos demais
("clarius demonstrent" diz o texto original latino). As CG não apresentam outro tipo
de motivação para a inserção; de acordo com isto, qualquer outra motivação deve
estar inspirada e orientada pelo seguimento de Jesus Cristo.
b) A opção pelos pobres e o viver entre eles é uma tarefa obrigatória para todos os
irmãos; não é um assunto para "voluntarismos". O artigo 97 o apresenta em termos
tão definidos, que não ficam dúvidas: "Todos e cada um dos irmãos façam opção
pelos marginalizados. . ." (art. 97 §1). Isto se explica se tivermos em conta que a
inserção se inscreve dentro do seguimento de Jesus Cristo, elemento fundamental
de nossa forma de vida (cf. art. 8 §3).
c) A opção pelos pobres se inscreve na perspectiva do Reino de Deus, em cuja
construção somos chamados a colaborar a partir do mundo dos pobres: "A partir
dessa condição social contribuem para a vinda do Reino de Deus" (art. 66 §1).
Note-se que ao falar de "condição social" se dá à inserção uma conotação clara e
definida; não se trata de uma simples atitude espiritualista. É a decisão de colaborar
na construção do Reino a partir da pequenez e dos pequenos: "Bem aventurados os
pobres, porque deles é o Reino dos céus" (Mt 5,4).
d) A opção pelos pobres aparece em estreita relação com a vida de penitência. Os
irmãos devem procurar "servir em penitência aos menores entre os homens,
reconhecendo neles o Filho de Deus" (art. 32 §3). O serviço "aos mais pequeninos"
tem todas as conotações de minoridade e inserção. À luz disto, a penitência não se
reduz a uma ascese personalista mas adquire toda uma dimensão social.
2. Irmãos pacíficos e humildes
Os adjetivos "pacíficos e humildes" identificam o primeiro Titulo do Capítulo IV.
Foram extraídos da RB 3,11. onde S. Francisco explicita a forma como os irmãos devem ir
pelo mundo. Reunidos aqui, querem significar que a vida dos irmãos deve ser dedicada à
construção da paz a partir da atitude de minoridade. Com isso está nos indicando que o valor
33
testemunhal não pode entender-se como uma espécie de quietismo ensimesmado. Requer-se
toda uma ação decidida numa linha determinada, isto é, com objetivos e critérios claros.
Porém, antes de tudo, deve corresponder a uma convicção de que a própria vida tem como
missão prioritária a promoção da justiça e da paz. "Vivam os irmãos neste mundo como
promotores da justiça e arautos e artífices da paz", nos dizem as CG no artigo 68 §1, com um
certo tom de mandato. O complemento da frase, inspirado na Carta aos Romanos (12,21), é
de uma grande importância: "Vencendo o mal com a prática do bem". Com isso não somente
se indica o modo com que temos que confrontar o que se diz anteriormente, mas também
anuncia um critério de ação que está explicitado nos artigos que seguem.
Nestes artigos são desenvolvidas as características que deve ter a tarefa de anunciar e
promover a justiça e a paz como menores. Aqui as enunciaremos brevemente, servindo-nos
também de outras passagens das CG:
- Para ser pacificadores é necessário ser antes pacíficos, porque não se pode
transmitir uma paz que não se possui. Por isto se insiste em fomentar as atitudes
minoríticas (cf. arts. 68 §2; 35 §1).
- A condição de irmão menor exige por sua própria natureza o caminho da não-
violência para defender os direitos dos oprimidos (cf. art. 69 §1).
- A força da ação pacificadora dos menores parte do seu testemunho de vida; por isso
se insiste em que o anúncio da paz e da justiça seja feito em primeiro lugar com as
obras (cf. art. 1 §2) e que a paz seja fomentada no tratamento mútuo dos irmãos (cf.
art. 39).
- No exercício da tarefa da evangelização, a paz deve também ser anunciada com
palavras (cf. arts. 68 §2; 85).
- Não basta anunciar a Paz; é também indispensável denunciar a guerra, o
armamentismo e a opressão dos pobres, "sem poupar trabalhos e sofrimentos pela
edificação do Reino de Deus e da paz" (art. 69 §2).
- A promoção da justiça e da paz exige, além disso, colaborar com "os homens de
boa vontade" na construção de uma sociedade mais justa e digna (cf. arts. 96-97; 98
§1).
- Na instauração da paz, os irmãos menores tenham uma missão específica como
"instrumentos de reconciliação" (cf. arts. 70; 1 §2; 33 §1; 98 §2).
3. Homens despojados e livres
O Título III do Capítulo IV trata do uso das coisas materiais, sob a frase-lema: "Não se
apropriem de nada" (cf. Mt 16, 24; RB 6, 1). Desta forma, já nos está indicando que as
disposições nelas contidas não se reduzem a uma simples norma externa, mas movidos por
um motivo evangélico.
Este motivo nos parece mais claro se recordarmos o artigo 8, onde se nos apresenta o
voto de pobreza. De fato, ali aparece a pobreza na perspectiva do seguimento de Jesus Cristo:
- como uma forma de seguir as pegadas de quem "se fez pobre por nós neste mundo"
(RB 6,3; cf. art. 8 §1);
- como uma des-apropriação dos bens materiais em cumprimento de uma das
exigências do seguimento de Cristo (cf. art. 8 §1-2);
- como um confiar-se na providência do Pai celestial (cf. art. 8 §1);
- como um querer partilhar a sorte dos pobres por meio do trabalho, da vida sóbria e
da solidariedade com os marginalizados da sociedade (cf. art. 8 §2-3).
A partir desta perspectiva as CG nos lembram nossa condição de “peregrinos e
forasteiros neste mundo" (cf. lPd 2,11; RB 6,2) e apresentam diversas disposições para nos
ajudar na fidelidade a esta condição. Tais disposições dizem claramente que:
- os irmãos não tenham propriedade pessoal (cf. art. 72 §1), pois na profissão fizeram
34
6. Questionário
- Qual é nossa posição específica com relação à opção pelos pobres? Nós tomamos
uma decisão a nível pessoal e fraterno a esse respeito? Que passos estamos dando
ou poderíamos dar para chegar a uma verdadeira opção pelos pobres na fraternidade
provincial e local?
- Quais são as verdadeiras motivações que nos levam a fazer a opção pelos pobres?
- Poderíamos retomar as sete características assinaladas no n. 2: "Irmãos pacíficos e
humildes" e nos examinar diante de cada uma delas.
- Qual é, a nível pessoal e fraterno, nossa atitude frente ao consumismo?
- Diante das relações que o trabalho tem com a vida fraterna e com a solidariedade
social, quais seriam os aspectos que, em nossa Fraternidade, merecem um
incremento e quais uma revisão?
TEMA 11
Nossa missão no mundo
1. Análise
O título do capítulo é tomado da 7Ct 9, onde S. Francisco formula nossa missão em
termos teológico-espirituais com grande clareza. Percebemos neles os grandes temas bíblicos
da missão como "kerygma" e testemunho do Reino, que as CG, seguindo literalmente o nosso
Pai (art. 83 §1), expressam à luz da economia trinitária da Salvação.
A estrutura do Cap. V, especialmente a subdivisão do Título II, é altamente
significativa.
Titulo I. Todos os irmãos são chamados a evangelizar, pois nosso projeto de vida é, por
si mesmo, missão evangelizadora.
Título II. Ao definir os modos de evangelização, as CG seguem o esquema proposto
por Francisco na RnB 16.
- Nosso primeiro e mais importante modo de evangelizar é nosso exemplo de vida,
isto e, nossa vida de fraternidade e minoridade, a qualidade evangélica de nossas
opções, a força de nosso amor em favor de todos, especialmente dos mais
desfavorecidos. Este modo de evangelização pertence a todos os irmãos.
- O segundo é o ministério explícito da pregação, que nosso Pai considerava um
carisma dado a alguns dos irmãos, não a todos, e que normalmente está vinculado
às ordens sagradas, ainda que não necessariamente. Neste sentido vemos convergir
nossa tradição primitiva e a nova sensibilidade criada pelo Vaticano II na Igreja.
O Título III se refere aos aspectos organizativos do ministério da evangelização. Os
artigos refletem a consciência que O Título III se refere aos aspectos organizativos do
ministério da evangelização. Os artigos refletem a consciência que as CG tem de oferecer
perspectivas novas e colocar problemas de reestruturação de tarefas.
tem de oferecer perspectivas novas e colocar problemas de reestruturação de tarefas.
O Título IV reassume nossa vocação missionária e universal, à qual, a Deus, tem sido
fiel a Ordem na sua história. Porém, em consonância com os títulos anteriores, as CG pedem
uma revisão e adaptação à nova sensibilidade.
O Título V se refere à missão que, desde nossas origens, a Ordem tem na Terra Santa.
Dado o interesse que todo o Capítulo V tem, especialmente os arts. 83-89, aconselha-se
uma atenção para captar a dinâmica com que as CG expressam nossa missão no mundo. As
reflexões que seguem são urna ajuda no sentido de discernir sua intenção profunda.
4. problemática de fundo
Sem dúvida, os Caps. I-II-III das CG introduzem novas perspectivas na compreensão
do nosso projeto de vida. O tema 1 e outros clarearam as mudanças que experimentou a vida
38
franciscana depois do Concilio Vaticano II. No entanto, até o Capítulo IV, Título 1, arts. 64-
71 e, sobretudo até o Capítulo V, talvez não estávamos suficientemente conscientes do peso
das conseqüências práticas que implicam as CG O que está em jogo não é um
"aggiornamento", senão uma transformação profunda de nossa mentalidade, hábitos de
conduta, tarefas e projetos. As considerações que seguem não se apresentam como
afirmações indiscutíveis, mas, como apontamento para um diálogo fraterno.
Para facilitar uma ordem, distribuiremos os temas por pontos de reflexão:
TEMA 12
O serviço da evangelização
O tema anterior nos proporcionou uma visão de conjunto da nossa missão no mundo.
Consideramos os grandes desafios do nosso momento histórico. E constatamos, felizmente,
que as intuições e opções de S. Francisco respondem à problemática do Evangelho hoje.
Falta-nos tratar alguns aspectos complementares e práticos da nossa evangelização: arts. 100-
125.
1. Sobre a pregação e a pastoral (arts. 100.110)
O artigo 100 apresenta a pregação ou a proclamação explícita da Mensagem cristã
como graça de alguns irmãos e sublinha seus núcleos, aludindo a alguns grandes temas da
pregação de S. Francisco: o temor e o amor do Criador e o chamado à conversão.
O artigo 101 define juridicamente a igualdade e diferença do serviço da pregação em
relação com as sagradas ordens. A Ordem recupera sua tradição primitiva: todos os irmãos,
não só os clérigos, podem pregar, se estão preparados para isto e tem a aprovação e missão
correspondentes. Isto repercute, logicamente, no tema da igualdade na formação inicial.
Os arts. 102-104 insistem nas repetidas exortações de S. Francisco (cf. RB 9), que quis
que o testemunho da Palavra estivesse sempre unido à vida e que seu conteúdo fosse
eminentemente prático, existencial, não especulativo: as CG dão a esta referência um
contexto mais amplo: a dimensão profética de nossa pregação que exige pureza de coração e
discernimento das condições e contexto vital dos ouvintes. O profetismo franciscano, no
entanto, deve manter sempre um espírito de minoridade, de respeito à ação de Deus nos
homens, não caindo na tentação do poder.
Os artigos 105-110 se referem a certas atividades de evangelização bem concretas:
- a dedicação à evangelização como colaboradores do clero diocesano (art. 105);
- a instrução catequética (art. 106);
- as missões populares (art. 107);
- a direção espiritual e pastoral do confessionário (art. 108);
- os meios de comunicação social (art. 109);
- a ciência teológica (art. 110).
Chama a atenção a insistência no ministério explícito da pregação e como somos
colaboradores das Igrejas locais. Por que não se nomeiam expressamente as paróquias?
Evidentemente, não ficam excluídas (cf. art. 84); porém, parece haver uma preferência por
uma pastoral mais de acordo com a tradição da Ordem e as exigências de liberdade profética
da nossa missão.
Não nos cabe entrar nos aspectos jurídicos destes artigos, que, por outra parte, são
excessivamente genéricos. Quem sabe o que mais se destaca seja a intenção de sublinhar um
quadro de critérios, evitando descer a detalhes. Por quê?
- Talvez pelo pluralismo de atividades na Ordem, que exige um discernimento "in
situ";
- Talvez porque, como ocorre em outros momentos destas CG, percebemos certa
dissociação entre princípios teológicos-espirituais e prática real de nossas
fraternidades;
- Talvez porque ainda não haja suficiente experiência de formas novas de
evangelização ou nossa integração com a pastoral diocesana ou a colaboração em
termos interprovinciais necessita um tempo mais longo de experiência e
confrontação.
5. Questionário
- Por que, às vezes, os irmãos sentem dificuldades em integrar sua vida de
fraternidade com o compromisso paroquial? Trata-se de dificuldade de princípio, de
estrutura, de falta de opções?
- Por que as CG pressupõem uma opção tão clara por uma pastoral de evangelização?
Não negam a sacramentalização, sem dúvida; porém, destacam a evangelização.
- Que conseqüência trouxe para você (a nível de consciência de atitudes), a evolução
de uma sociedade que se descristianiza?
- Parece-lhe que diminuiu o espírito missionário em sua Província?
- Se você pertence a uma fraternidade missionária, o que acha que está faltando?
- O que você pediria ao Capítulo Provincial se tivesse que revisar algumas obras e
compromissos?
- Você se sente franciscanamente identificado com o que faz?
- Que conseqüência implicaria o fato de todos os irmãos estudarem teologia e alguns
preferirem não se ordenar?
TEMA 13
Autoridade e serviço
Todo grupo humano, de qualquer tipo, necessita uma forma de autoridade e de governo
para sua própria organização e sobrevivência. Assim também, na vida religiosa, a autoridade
e o governo têm sobretudo um caráter funcional e sociológico. Além do mais, têm um caráter
teológico porque jogam um papel importante no descobrimento e cumprimento da vontade de
Deus. Dócil ao exemplo de Cristo, todo o governo deve exercer o próprio poder em espírito
de serviço, “de modo que expressem a caridade com que Deus ama o homem" (PC 14).
Fundamentais para nossa visão da autoridade e do governo são pois, os seguintes aspectos:
- Governo como função (aspecto sociológico);
- Governo como expressão da vontade de Deus (aspecto teológico);
- Governo como serviço (aspecto diaconal).
Vejamos agora como se expressam nossas CG sobre o tema da autoridade e do
governo.
Como autêntico "sinal de comunhão fraterna de toda a Ordem" (art. 188), ao Capítulo Geral
compete aquilatar e conservar o patrimônio e a vida de toda a Ordem em conformidade com
sua vocação e carisma. A nível Provincial esta autoridade compete ao Capítulo Provincial (cf.
art. 215 §1-2). Também a nível de uma casa, o Capítulo local constitui o governo fraterno da
mesma (cf. art. 240). De acordo com este reconhecimento da fraternidade como autoridade
suprema, é preferível a atribuição dos ofícios por eleição devidamente confirmada (cf. art.
181 §1).
2. Ofício unido a uma co-responsabilidade comunitária
Uma ulterior característica do ofício se manifesta na união do exercício de toda
autoridade como uma corresponsabilidade comunitária que se expressa nos diferentes
"conselhos" (Definitório...) (confira arts. 168-169; 175; 221 §1). Inclusive quando, segundo
o direito, um Ministro ou Guardião não está obrigado a uma forma de exercício comunitário
da autoridade, todavia, é convidado a “escutar de bom grado os irmãos" (art. 45 §2-3). Em
consonância com esta colocação dos cargos numa forma de governo comunitário, os ofícios
devem ser aceitos e exercidos em espírito de corresponsabilidade (cf. art. 181 §34).
3. Ofício como serviço em favor da Fraternidade
Seguindo o espírito de S. Francisco, as CG dão um grande valor e importância à função
do ofício como serviço. Decisivo para o exercício de um ofício é o espírito de serviço
fraterno (cf. art. 181 §4). Fala-se do serviço da autoridade, o qual, conforme a vontade de
Deus, deve ser exercido humildemente em favor de todos os irmãos (cf. art. 185 §1).
Segundo esta compreensão de ofício, os encarregados devem mostrar-se, na sua maneira de
exercer a autoridade, como verdadeiros irmãos (cf. arts. 199; 252 §1-2). Os Ministros e
Guardiães, vivendo eles mesmos na obediência, devem usar a própria autoridade
especialmente para suscitar a obediência dos irmãos e colocar em evidência a vontade de
Deus (cf. arts. 7; 185 §1; 237).
O empenho no serviço em favor do espírito franciscano é visto como característica
fundamental de todos os cargos. O espírito franciscano dos irmãos deve ser incrementado,
reforçado e estimulado na Fraternidade (cf. arts. 199; 213; 221 §1 e 237). No centro deste
serviço fraterno está o cuidado pelo bem de cada irmão e da Fraternidade. Servindo a este
bem se deve fazer tudo o que o promove e impedir tudo quanto o prejudica (cf. arts. 185 §1-
2; 237; 252 §1-2).
Mesmo quando é necessário exercer a autoridade do ofício para corrigir, isto deve
fazer-se com espírito de amor, com discernimento e equidade. Diante de um irmão pecador,
este amor chega a ser condição para a conversão e o arrependimento (cf. arts. 213; 221 §1;
251 §1-4; 252 §1-2).
Aqui podemos observar uma mudança na visão da autoridade e do ofício. Contrastando
com uma anterior concepção rígida do ofício, isto é, como autoridade indiscutível que
expressa e representa a vontade de Deus, hoje se destaca muito mais o caráter de serviço em
favor da Fraternidade, segundo a vocação franciscana. Esta característica do ofício como
serviço exige uma maior disponibilidade ao diálogo e uma grande sensibilidade da parte de
todos, tanto Ministros como súditos.
4. Questionário
- Em minha vida, tanto fraterna como pessoal, preocupei-me mais em obedecer o que
me mandam ou em descobrir se isto é feito pelo meu bem?
- Que tipo de Ministro ou Guardião eu conheci em minha vida? Destaque a
experiência pessoal. Que impressão eu guardo deles?
- Como deveria ser um Ministro ou Guardião exemplar? Descobrir suas qualidades e
43
TEMA 14
Formação para a vida franciscana
1. Análise
Temos que nos deter na meditação do art. 126, visto que, na sua densidade, expressa o
fim da formação franciscana, recolhendo os temas que configuram a nossa identidade:
- experiência do seguimento incessante de Jesus,
- segundo a forma de vida de São Francisco,
- no mundo atual.
Não é fácil a síntese destes três aspectos. No que eles têm, precisamente, de projeto
renovado de vida franciscana, as CG plasmam esta síntese. Por isso, os artigos que seguem
estabelecerão os critérios básicos para levar a cabo uma formação correspondente.
44
- Aquela que se refere à formação inicial. Com efeito, seu conteúdo o percebemos
mais imediatamente se pensamos nos candidatos à Ordem.
- Aquela que se refere, também, a todos os irmãos, já que oferece as pistas básicas da
formação permanente em relação com o atual projeto de vida, as CG
De fato, é muito significativo que o título da formação permanente anteceda ao da
formação inicial. Por quê?
A resposta vem dada pelo artigo 135: a formação permanente tem que ser entendida
como uma fidelidade constantemente renovada à nossa vocação, isto é, como dinâmica de
conversão. A citação de uma das frases mais conhecidas de S. Francisco, no fim de sua vida,
é ilustrativa: "Devem desejar possuir o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar" (RB
10,8).
Não basta atualizar a informação. Muitos irmãos participaram de cursos e conferências,
atualizaram seus conhecimentos, mudaram de linguagem e, inclusive, certos hábitos de
conduta. Porém a formação permanente atinge um nível mais profundo: que compromete
toda a pessoa e a Fraternidade.
Podemos acaso assimilar vivencialmente o projeto de vida que são estas CG sem uma
conversão profunda?
A idéia de formação permanente vai mais longe: é essencial para o nosso projeto viver
na dinâmica de conversão. Isso o exige nossa vocação para a vida de penitência e nossa
missão no mundo. Não somos monges separados da realidade circundante, e sim servos do
Reino numa história que acelera seu ritmo de mudança.
O artigo 136 retoma os critérios de formação do título anterior. O artigo 137 afirma a
correlação e complementariedade entre responsabilidade pessoal e dinâmica comunitária.
O parágrafo 3 do art. 137 merece uma menção especial por seu caráter prático. Todo ele
tem como pano de fundo o princípio da participação ativa da Fraternidade que guia estas CG.
É necessário que os irmãos assumam e exercitem aquelas mediações que ajudam a superar a
mentalidade passiva nas coisas da Fraternidade.
3. Outros desafios
Os títulos seguintes estudam aspectos mais específicos da formação, todos eles
importantes; porém, visto que estes materiais foram pensados para as Fraternidades locais,
em geral, vamos nos limitar a assinalar alguns pontos mais significativos para a reflexão dos
irmãos:
a. Importância do testemunho de vida para a formação (cf. arts. 139; 145).
Não basta ter bons formadores e uma boa qualidade de formação nas Casas de
formação. Não experimentamos com freqüência o deslocamento entre os ideais
com que se identificam os jovens nas etapas de formação inicial, e a realidade de
nossos estilos de vida ordinário? É verdade que uma formação adequada deve
capacitar inclusive para assumir nossa mediocridade. Porém, isso nos justifica, por
acaso?
Por outra parte, os jovens não têm direito a receber formas de vida mais de
acordo com o espírito destas CG? É verdade que muitas formas do passado
continuam sendo válidas e que uma Província não pode mudar da noite para o dia,
e, além do mais, a verdadeira Fraternidade deve exigir dos jovens capacidade para
adaptar-se às gerações anteriores; porém, existe proporcionalidade entre a
adaptação à instituição que lhes pedimos e nossa vontade de mudança?
b. Equilíbrio entre responsabilidade individual do formador principal e
responsabilidade da Fraternidade formadora (cf. art. 140).
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4. Questionário
- As fraternidades conhecem as dificuldades atuais da formação inicial?
- Seria conveniente que cada irmão dissesse espontaneamente suas sensações
primárias quando ouve falar de diminuição ou de aumento de vocações na Ordem.
Porém, também, que objetive com sinceridade o que espera das gerações jovens.
- A respeito da formação permanente:
- O que você exigiria de si mesmo?
- Que meios você sugeriria para sua Fraternidade?
- O que você organizaria a nível de Província?
- Podemos oferecer aos jovens modelos válidos de vida franciscana?
- Analise e compare sua formação inicial, as experiências vividas de professo solene
e seu momento atual.
- O que você pediria à formação inicial?
- Você está sendo responsável em sua formação permanente?