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Noam Chomsky: entenda sua teoria linguística e

seu pensamento político


Como o linguista norte-americano se tornou um dos maiores intelectuais do mundo e teve sua teoria
contestada por uma língua indígena brasileira

28/01/2019 - 10H38/ atualizado 10H38 / por Nathan Fernandes


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filósofo norte-americano Noam Chomsky (Foto: Júlia Rodrigues)

Antes de tirar o campo da linguística do sarcófago em que se encontrava e mostrar que essa área poderia
trazer muita diversão aos intelectuais, Avram Noam Chomsky já gostava de política. Nascido em 7 de
dezembro de 1928, no estado da Filadélfia, nos EUA, o pequeno Noam foi criado pelos pais, que, como
muitos judeus, fugiram da Rússia depois do assassinato do czar Alexandre II, em 1881.

Ainda com 10 anos, Chomsky ficou chocado com as notícias sobre a queda de Barcelona, quando o general
Francisco Franco derrubou a Segunda República Espanhola, dando início a uma ditadura que duraria 36
anos. Foi esse o tema do seu primeiro artigo, publicado no jornal da escola em que estudava. No texto, o
pequeno comentarista político denunciava o fascismo de Franco.  

O órgão da fala
Na década de 1950, Chomsky já estava preparado para entrar na faculdade como um furacão. Quando
concluiu a graduação na Universidade da Pensilvânia, em 1957, ele não só dominava a área da linguística
como a tinha virado de cabeça para baixo.

Naquele período pós-Segunda Guerra, a onda era dar uma cara científica a tudo. Abordagens sociais, como as
da sociologia e da antropologia, eram tidas como “moles”. Era preciso endurecer. Foi o que Chomsky fez.
Antes mesmo de concluir o doutorado, o intelectual já dava palestras nas universidades de Chicago e Yale,
apresentando sua inovadora teoria linguística. Segundo ela, as pessoas não “aprendiam” a linguagem, elas já
nasciam com um órgão responsável por isso.

Sim, sem modéstia alguma, o linguista afirmava ter descoberto uma parte da anatomia humana de que
ninguém nunca tinha ouvido falar. E ela ficava dentro de um outro órgão: o cérebro. Se tivesse sido
comprovada, seria a maior descoberta anatômica desde que William Harvey descobriu o sistema circulatório
em 1628.

Segundo essa ideia, usando um exemplo do próprio Chomsky, se um linguista marciano viesse estudar as
línguas da Terra, descobriria que todos os idiomas aqui são um só, com pequenas variações de “sotaque”. Por
isso, não seria preciso visitar lugares distantes, ou tribos isoladas no meio da mata para estudar línguas
diferentes. Todas fariam parte de uma mesma estrutura comum.

“Ele [Chomsky] fazia o campo de trabalho parecer mais elevado, mais bem estruturado, mais científico, mais
conceitual, mais no plano de Platão, e não apenas um amontoado enorme de dados que os pesquisadores de
campo traziam de lugares de que ninguém nunca tinha ouvido falar antes”, escreveu o jornalista norte-
americano Tom Wolfe (1930-2018), no livro O Reino da Fala (2016). Isso fez com que a linguística, até
então um patinho feio (e quase morto) da ciência, ganhasse tanta notoriedade quanto o próprio Chomsky.     
Noam Chomsky (Foto: Júlia Rodrigues)
Noam Chomsky (Foto: Júlia Rodrigues)

Fluente em “politiquês”
As ideias alinhadas com o carisma e a fala mansa tornaram o especialista um alvo de honrarias constantes.
Em 1979, a resenha de um de seus livros no jornal The New York Times começava com: “Julgado em termos
do poder, do alcance, da novidade e da influência do seu pensamento, Noam Chomsky é, possivelmente, o
mais importante intelectual vivo no mundo hoje”. Um título que ele carrega até hoje.

Em 1986, o linguista apareceu em oitavo no Índice de Citações de Artes & Humanidades da Thomson
Reuters, que mapeia a frequência com que autores são citados em outros trabalhos — ele ficou atrás apenas
de Marx, Lenin, Shakespeare, Aristóteles, a Bíblia, Platão e Freud.

Em 2005, uma pesquisa conjunta das revista Prospect e Foreign Policy, alçou Chomsky ao posto de maior
intelectual do mundo, com o dobro de votos de Umberto Eco, o segundo colocado. Em 2010, a Enciclopédia
Britânica incluiu Chomsky entre os cem filósofos mais influentes de todos os tempos, acompanhado de
nomes como Sócrates, Platão, Confúcio, São Tomás de Aquino, Hume, Rousseau, Heidegger e Sartre.

Grande parte do seu legado também tem a ver com a política. Foi em 1967 que o pensador quebrou os muros
da área da linguística. Com o artigo “A Responsabilidade dos Intelectuais”, publicado na New York Review
of Books, ele comentou os absurdos cometidos pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.

No texto, ele ainda incitava os intelectuais à ação: “É responsabilidade dos intelectuais falar a verdade e
denunciar as mentiras. Isto, ao menos, pode parecer um truísmo a ponto de nem sequer merecer comentário.
No entanto, não é assim. Para o intelectual moderno, isso não é nada óbvio”.

Desde então foram centenas de reflexões, acusações e alfinetadas a governos conservadores e de esquerda,
em mais de cem livros e quase 300 artigos escritos com seu viés anarquista. Casado com a brasileira Valéria
Chomsky desde 2014, o linguista também se mantém atualizado sobre o que acontece no Brasil.

Em entrevista à GALILEU, em 2017, ele afirmou: “Esse desprezo pela democracia é o sonho dos neoliberais.
Aqui no Brasil, é bastante óbvio. É só dar uma olhada na popularidade do seu presidente [Michel Temer],
que está em 7% [5%, de acordo com a pesquisa então mais recente do Ibope]. Mesmo assim, suas medidas
continuam seguindo em frente”.

Depois de uma estadia em terras brasileiras em 2018, ele também opinou a respeito do presidente Jair
Bolsonaro e do ministro da economia Paulo Guedes. “O Brasil tem uma enorme riqueza e recursos, que eles
estão felizes em ter em suas mãos; para o futuro do Brasil é um desastre", afirmou ao site Democracy Now.
Noam Chomsky (Foto: Júlia Rodrigues)
Noam Chomsky (Foto: Júlia Rodrigues)

Uma ideia dentro da outra


Em 2002, Chomsky superou a si mesmo, chegando ao ápice de sua produção de artigos linguísticos. Naquele
ano, junto de Marc D. Hunter e Tecumseh Fitch, ele propôs a teoria da recursividade. Segundo essa ideia, a
recursividade consiste em inserir uma frase (ou uma ideia) dentro de outra, formando séries teoricamente
infinitas.

Tom Wolfe dá o exemplo com a frase: “Ele concluiu que, agora que as chances dela haviam se queimado,
poderia brilhar e conquistar a fama por que sempre ansiara”. Dentro da ideia que começa com “Ele concluiu
que” existem outras quatro ideias: “as chances dela haviam se queimado”, “ele poderia brilhar”, “poderia
conquistar a fama” e “por que sempre ansiara”. Esse emaranhado de ideias, umas dentro das outras,
compostas por 22 palavras, são a recursividade.

Para Chomsky, a recursividade era a única coisa que distinguia o pensamento humano das outras formas de
cognição, o que explicaria a predominância do ser humano sobre os outros animais. Logo, a recursividade
deixaria de ser entendida como uma teoria e passaria a ser vista como uma lei, tal qual a lei da gravidade.

Leia também:
+ 5 reflexões para entender o pensamento de Galileu Galilei
+ Karl Marx: conheça a vida e a obra do pensador alemão

Mas a coisa não era bem assim...


Em 2005, um artigo publicado na revista Current Anthropology, por Daniel L. Everett, mostrou que uma
tribo isolada, que vivia às margens do rio Maici, no Amazonas, os Pirahã, não possuía qualquer traço de
recursividade, o que colocava a teoria de Chomsky no chão.

“Eles só falavam no tempo presente, não tinham, virtualmente, concepção alguma de ‘futuro’ ou ‘passado’,
nem palavras para ‘amanhã’ e ‘ontem’, apenas uma palavra para ‘outro dia’”, explicou Tom Wolfe, dando um
exemplo sobre a língua que contém somente três vogais (a, o, i) e oito consoantes (p, t, b, g, s, h, k, x).

A reação ao artigo foi instantânea. A comunidade acadêmica atacou Everett em peso. Chomsky limitou-se a
chamá-lo de “charlatão”. E, em uma entrevista ao jornalFolha de S. Paulo, de 2009, o linguista defendeu a
recursividade: "Os falantes de pirahã têm os mesmos componentes genéticos que nós, então as crianças
pirahãs tentam construir uma linguagem normal. Suponha que o pirahã não permita isso. Seria como
encontrar uma comunidade que engatinha, mas não anda, de forma que as crianças que crescessem lá
provavelmente engatinhariam também. As implicações disso para a genética humana seriam nulas."

Em um artigo, no site Aeon, de 2018, Everett escreveu: “Naturalmente, eu esperava que alguém apontasse
falhas no meu raciocínio ou que desse exemplos claros de dados que eu havia perdido ou que fizesse uma
pesquisa de campo para testar minhas alegações. Essa é a norma nos debates acadêmicos. Mas, na primeira
rodada de críticas, com duração de cinco anos, o que veio em minha direção foram principalmente
xingamentos”.

Da parte de Chomsky, a crítica nem avançou. O linguista simplesmente nunca mais discutiu o assunto,
reelaborou suas ideias sobre recursividade e sobre o “órgão da fala” de forma que coubessem em um
conceito mais amplo e seguiu em frente, como se nada tivesse acontecido.

Seja como for, Chomsky sempre será lembrado como o pesquisador que abriu todo um novo campo para a
linguística, com tópicos inéditos e questões que sequer poderiam ser sonhadas antes de sua revolução. Ele
ressuscitou uma área semimorta e a colocou no Olimpo da ciência.

Mas, mesmo com tanto trabalho, a verdade é que as evidências apontam que a origem da linguagem humana,
no fundo, continua sendo um grande mistério — da mesma categoria em que se encontram a origem da
consciência e a do Universo. Só que ao menos, para sorte da humanidade e do pensamento científico, existem
pessoas que não se intimidam com isso.

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