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DIREITO DO CONSUMIDOR

Unidade 8: Defesa do Consumidor em


Juízo e da Defesa Coletiva

SUMÁRIO: 1. CONCEITO (2) 2. OS DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS (2) 2.1. DIREITOS OU INTERESSES DIFUSOS (3) 2.2. DIREITOS OU
INTERESSES COLETIVOS (4) 2.3. DIREITOS OU INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS (4) 3. A LEGITIMIDADE ATIVA PARA PROPOSITURA DE AÇÕES COLETIVAS (5) 3.1.
LEGITIMAÇÃO CONCORRENTE E DISJUNTIVA (5) 3.2. LEGITIMAÇÃO AUTÔNOMA (5) 3.3. LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA (6) 3.4. LEGITIMADOS EM ESPÉCIE (6) 4. AS
AÇÕES JUDICIAIS (7) 5. OBRIGAÇÕES DE FAZER OU NÃO FAZER (7) 6. GRATUIDADE NAS AÇÕES COLETIVAS (8) 7. DIREITO DE REGRESSO E DENUNCIAÇÃO DA LIDE (8)
8. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA (9) 9. AÇÕES COLETIVAS PARA A DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS (9) 9.1. COMPETÊNCIA (10) 9.2. LITISCONSÓRCIO
(11) 9.3. CONDENAÇÃO GENÉRICA (11) 9.4. LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE SENTENÇA (11) 9.5. EXECUÇÃO COLETIVA (12) 9.6. CONCURSO DE CRÉDITO (12)
9.7. PRAZO DE HABILITAÇÃO DOS INTERESSADOS (12) 10. AÇÕES DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS (13) 10.1. FORO DO DOMICÍLIO DO
CONSUMIDOR (13) 10.2. CHAMAMENTO AO PROCESSO (14) 10.3. AÇÃO PREVENTIVA MANDAMENTAL (14) 11. COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS (14) 11.1.
DIREITOS DIFUSOS (INCISO I) (15) 11.2. DIREITOS COLETIVOS (INCISO II) (15) 11.2.1. RELAÇÃO COM O DIREITO INDIVIDUAL DO CONSUMIDOR (§ 1º) (15) 11.3.
EXTENSÃO SUBJETIVA DA COISA JULGADA NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA (§ 3º) (16) 11.4. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS (INCISO III) (16) 11.5. AÇÃO INDENIZATÓRIA
INDIVIDUAL (§ 2º) (16) 11.6. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA (§ 4º) (16) 12. LITISPENDÊNCIA E CONTINÊNCIA (17) REFERÊNCIAS (18) ANOTAÇÕES (18)

Nesta unidade abordaremos a tutela jurisdicional e as ações coletivas, que tratam da defesa dos
direitos dos consumidores, falaremos da defesa do consumidor em juízo, a qual poderá ser de
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, trataremos das pessoas que têm legitimidade
ativa para a propositura desse tipo de ação coletiva, da competência, do litisconsórcio, do
concurso de credores, dos efeitos da coisa julgada (erga omnes e ultra partes) e da litispendência e
continência com suas diferenciações para a aplicação em cada caso específico.

Objetivo

Conhecer os meios inscritos na legislação e utilizáveis pelo consumidor, perante


um órgão do Judiciário, a fim de proteger sua pessoa, bem como seus bens contra
eventuais lesões.
◆ Compreender e identificar os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos;
◆ Identificar os legitimados para propositura de ações coletivas e as várias
espécies de legitimações ativas;
◆ Conhecer a ação especial de tutela específica da obrigação de fazer ou não
fazer, bem como suas características;
◆ Analisar o direito de regresso e a denunciação da lide à luz do CDC;
◆ Conhecer a ação civil coletiva para a defesa dos interesses individuais homogêneos;
◆ Conhecer as ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços;
◆ Estudar sobre os efeitos da coisa julgada nas ações coletivas;
◆ Verificar a aplicabilidade da litispendência e da continência no Direito do
Consumidor.

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Direito do Consumidor

1 Conceito
O Código de Defesa do Consumidor veio garantir a tutela jurisdicional do consumidor, em
outras palavras, dando uma resposta legislativa adequada ao tema do acesso do consumidor aos órgãos
judiciários e, mais que isso, preocupando-se principalmente com a proteção de toda a coletividade
de consumidores, sendo o responsável, no sistema jurídico pátrio, por definir o sentido de direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos e inovando com a introdução do mecanismo intitulado
ação civil coletiva para a defesa desses últimos.

Conceito
Por “defesa” entendemos os meios inscritos na legislação e utilizáveis pelo
consumidor perante um órgão do Judiciário a fim de proteger sua pessoa, bem
como seus bens contra eventuais lesões. A defesa do consumidor em juízo foi
abordada pelo legislador, individualmente ou a título coletivo, a partir do artigo
81 e se estende até o artigo 104 do CDC.

O consumidor pode defender seus interesses e direitos de duas maneiras: individualmente ou


de forma coletiva, podendo sua defesa processual ser como autor ou réu. Entretanto, o valor do dano
e o alto custo de uma demanda judicial nem sempre encorajam o consumidor a lançar mão da tutela
individual. Depreende-se, portanto, que a tutela individual é essencial e necessária, e que sofreu uma
grande mudança a partir do incremento dos Juizados Especiais, dando grande impulso ao direito do
consumidor, mas não constitui proteção suficiente e efetiva para o mesmo.
Por esse motivo, por refletir a sociedade de consumo e porque os interesses individuais, quando
submetidos ao Judiciário, seguirão as regras tradicionais do Código de Processo Civil, é que o CDC
deu maior ênfase à defesa coletiva, permitindo a proteção dos consumidores em larga escala, mediante
as ações coletivas e ações civis públicas, controlando como um todo as ações dos fornecedores, pois
em matéria de direito do consumidor, existe sempre uma boa possibilidade de se causar pequenos
danos a milhares ou até mesmo a milhões de consumidores e somente a ação coletiva poderia ter
eficácia contra abusos assim perpetrados.

2 Os Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos


Muito embora a Constituição Federal faça referência aos direitos difusos e coletivos no art.
129, III, foi a Lei 8.078/90 que apresentou, no art. 81, os parâmetros definidores desses direitos e
mais, acabou por trazer uma nova espécie denominada de direitos individuais homogêneos. O CDC,
como lei principiológica, concretizadora dos princípios e regras constitucionais, deu também aqui o
elemento jurídico legal que designou os limites e aplicação dos direitos postos e definidos.

Art. 81 - A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente ou a título coletivo.
Parágrafo único - A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

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Direito do Consumidor

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os
transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
origem comum.

2.1 Direitos ou Interesses Difusos


Os direitos difusos podem ser definidos como aqueles cujos titulares detentores do direito
subjetivo que se pretende proteger e regrar são indeterminados e indetermináveis. Trata-se de uma
espécie de direito que, apesar de atingir alguém em particular, merece especial proteção porque atinge
simultaneamente a todos.

Exemplo
Pode-se exemplificar a existência de tal direito com a veiculação de publicidade
enganosa na televisão, quando se pretende a retirada da publicidade do ar, pois o
anúncio sujeita toda a população a ele exposta, ou seja, de forma indiscriminada e
geral, todas as pessoas são atingidas pelo anúncio enganoso.

É bem verdade, isso não elimina que uma pessoa em particular possa ser atingida e enganada
pelo anúncio, chegando a adquirir o produto veiculado e não obtendo o resultado prometido ou
sofrendo algum dano pelo consumo do referido produto. Caso em que o consumidor tem um direito
individual próprio também protegido, podendo exercer todos os direitos assegurados pelo CDC,
como, por exemplo, ingressar com ação de indenização por danos materiais e morais.
Ressalte-se, entretanto, que não é necessário que se identifique um consumidor que tenha sido viola-
do no seu direito individual para que se possa proteger um direito tido como difuso. Até porque sua caracterís-
tica marcante e diferenciadora repousa exatamente na indeterminabilidade da pessoa concretamente violada.
Em matéria de direito difuso, as circunstâncias de fato objetivamente consideradas são que
estabelecem a ligação entre o obrigado e todas as pessoas difusamente consideradas, inexistindo
uma relação jurídica base.
No exemplo da publicidade enganosa, o anúncio e sua projeção objetiva e significativa sobre toda
a população difusamente considerada seriam as circunstâncias fáticas ensejadoras de responsabilidade.
O bem jurídico protegido possui natureza indivisível, não podendo ser cindido, exatamente por
atingir e pertencer a todos indistintamente. O fato de o mesmo objeto gerar dois tipos de direito (individual
e difuso) não modifica a característica da indivisibilidade do objeto relativo a esse direito difuso.
São exemplos de fatos de direitos difusos a publicidade em geral, a distribuição e venda de
medicamentos e as questões ambientais em geral, desde que esses direitos sejam tratados de uma forma
a não determinarem as pessoas que eventualmente poderiam ser lesadas. Em outras palavras, estará no
pedido e na causa de pedir (mais adiante explicado) a diferenciação dos direitos coletivos (gênero).

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2.2 Direitos ou Interesses Coletivos


Aqui os titulares do direito são, em regra, indeterminados, mas podem vir a ser determinados.
Não há necessidade de se apontar concretamente um titular específico e real para a verificação
da existência de um direito coletivo. Entretanto, esse titular pode ser facilmente determinado, a partir
da verificação do direito (pré)existente.
A diferença em relação aos direitos difusos reside no fato de estarmos diante de um grupo, categoria
ou classe de pessoas, ligadas entre si ou entre elas e a parte contrária por uma relação jurídica base.
Assim, a adequada qualidade dos serviços educacionais pelas escolas são exemplos de direito
coletivo (pois afetam um grupo de pessoas, ou seja, os alunos de uma determinada escola).
Percebam que, diante dos interesses coletivos, ainda não estamos falando em indenização
aos eventuais consumidores individualmente lesados, pois ainda estamos na seara de interesses
transindividuais e de natureza indivisível.
Nos direitos coletivos, portanto, identificam-se duas relações jurídicas base que ligam sujeitos
ativo e passivo e que devem preexistir à lesão ou ameaça de lesão:
◆◆ A primeira é aquela em que os titulares estão ligados entre si por uma relação jurídica.
Exemplo: os membros de uma entidade de classe;
◆◆ A segunda é aquela em que os titulares estão ligados com o sujeito passivo por uma relação
jurídica. Exemplo: os usuários de um mesmo plano de saúde.

O objeto ou bem jurídico protegido é indivisível, pois não pertence a nenhum consumidor em
particular, mas à coletividade de consumidores como um todo.

2.3 Direitos ou Interesses Individuais Homogêneos


Aqui os sujeitos são sempre mais de um e determinados, porque, apesar de homogêneos,
o direito é individual. Trata-se de espécie de direito coletivo, mas coletivo somente na forma
como são tutelados, fato este que permitirá o ingresso de ação judicial por parte dos legitimados
no art. 82 do diploma consumerista.
O nexo entre os sujeitos ativos e os responsáveis pelos danos ocorre com uma situação jurídica
que tenha origem comum para todos os titulares do direito violado, sendo desnecessário que exista
uma relação jurídica básica anterior à lesão ou ameaça de lesão, e seu objeto é divisível, pois o resultado
real da violação é diverso para cada um. O dano individualmente considerado será oportunamente
apurado em liquidação de sentença, e o fato de serem tais danos diversos em nada afeta a ação coletiva
de proteção e apuração de danos ligados aos direitos individuais homogêneos.
Portanto, na hipótese desses direitos, a ação judicial é coletiva, não intervindo o titular do
direito subjetivo individual. Caso este queira promover ação judicial por conta própria, para a proteção
de seu direito individual, poderá fazê-lo, não afastando de forma alguma a ação coletiva.

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Direito do Consumidor

Exemplo
São exemplares as indenizações em virtude de acidentes com transportes aéreos,
naufrágios, cláusula abusiva em contrato de prestação de serviços educacionais,
ameaça de ruína em conjunto habitacional e outros. Percebam que, no caso dos
direitos individuais homogêneos, o pedido de indenização a todos os consumidores
lesados e a sentença sempre serão de forma genérica

3 A Legitimidade Ativa para Propositura de Ações Coletivas

Art. 82 - Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos
por este Código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus
fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a
autorização assemblear.
§ 1º - O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas no
art. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

§ 2º - (VETADO).

§ 3º – (VETADO).

Acabamos de ver o art. 82, sobre os legitimados, acompanhe agora os tipos de legitimação.

3.1 Legitimação Concorrente e Disjuntiva


Para conferir maior garantia possível de proteção aos direitos definidos pela norma
protecionista, estabeleceu-se que o exercício do direito de ação deve ser conferido a determinados
entes de modo concorrente. Objetivou-se, dessa maneira, evitar que alguma entidade em especial
fosse privilegiada na permissão para ingressar com as ações.
É também disjuntiva, pois nenhuma entidade precisa da autorização das demais para
propor a ação, podendo a entidade agir por conta própria sempre que entender válido e necessário
ingressar com a demanda.

3.2 Legitimação Autônoma


Nos casos envolvendo direitos difusos e coletivos, a legitimidade das entidades para
propositura de ações coletivas é autônoma, não se trata de substituição processual, fruto de legitimação
extraordinária para estar em juízo, pois respondem por si mesmas na ação, exercendo esta no âmbito de
sua autonomia, muito embora o direito discutido não pertença às entidades, mas a toda a coletividade.

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Como não há necessidade de identificação dos titulares e o objeto é indivisível, não se pode
afirmar que as entidades estariam defendendo direito alheio em nome próprio, elas recebem da lei,
especialmente em razão dessa indivisibilidade do objeto, legitimidade autônoma para agir judicialmente.

3.3 Legitimação Extraordinária


No caso das ações coletivas envolvendo direitos individuais homogêneos, a legitimidade
das entidades elencadas é extraordinária (art. 91, CDC), sendo caso de substituição processual
por expressa determinação do artigo retromencionado e em obediência também ao regramento
contido no art. 6º do CPC.
Aqui o titular é determinado e plural e o objeto é divisível, de modo que, ao propor a ação
coletiva, a entidade agirá em nome próprio para postular direito alheio.

3.4 Legitimados em Espécie


A CF/88 dispõe no art. 129, III, que são funções institucionais do Ministério Público (MP)
promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Acerca da ação civil coletiva, prevê o CDC,
no caput do art. 92 que, se o MP não ajuizar a ação, atuará sempre como fiscal da Lei, norma que,
conjugada com o art. 127 da CF, torna requisito, para a participação do parquet na causa, a discussão
envolvendo interesses sociais ou individuais indisponíveis.
O art. 5º, XXXII, da CF, determina ao Estado (União, estados, DF e municípios) promover,
na forma da lei, a defesa do consumidor. Assim, as pessoas de direito público têm legitimidade para
propor as ações civil pública e civil coletiva de responsabilidade por danos individualmente sofridos
no âmbito de seus territórios (art. 91, do CDC).
O inciso III, do art. 82 ainda do CDC, cria a personalidade judiciária para estar em juízo, ou
seja, a Lei autoriza entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, a ingressar com a
ação coletiva ainda que não tenham personalidade jurídica.
As associações (inclusive os sindicatos) também podem ingressar com ações coletivas, sem
necessidade de autorização da assembleia, desde que atendam a duas exigências, a saber, que tenham
sido constituídas, na forma da Lei, há pelo menos um ano e que tenham entre seus fins institucionais
a defesa dos direitos do consumidor.
Basta, portanto, o estatuto social prever, genericamente, a defesa do consumidor para que a
associação possa, em juízo, defender qualquer tipo de interesse relacionado à classe. E consoante o § 1º do
art. 82 do CDC, tratando-se de ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos, pode ser
dispensado pelo juiz o requisito de pré-constituição quando haja manifesto interesse social evidenciado
pela dimensão, ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
Esse último requisito é formal e tem como função impedir que associações sejam formadas
apenas na intenção de propor específica medida judicial.
Ressalte-se que referida dispensa não é ato discricionário do juiz, pois estando presentes as
exigências legais, o juiz terá que dispensar o requisito.

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4 As Ações Judiciais

Art. 83 - Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Parágrafo único – (VETADO).

Todas as espécies de ações, hábeis a propiciar a tutela adequada e efetiva dos interesses dos
consumidores protegidos pelo CDC, tais como, ação de conhecimento, cautelares, mandamentais,
execuções, ação coletiva, ação civil pública, habeas corpus e outras, são admissíveis.

Conceito
Entende-se tutela adequada como aquela que se ajusta às necessidades reais do
consumidor, ao passo que efetiva é a que produz resultados.

5 Obrigações de Fazer ou Não Fazer

Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º - A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar
o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
§ 2º - A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art. 287 do Código de
Processo Civil).
§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,
citado o réu.
§ 4º - O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5º - Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz
determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas,
desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

Art. 85 - (VETADO).

Art. 86 - (VETADO).

Para assegurar a efetividade da execução específica da obrigação, o legislador criou a “ação


especial de tutela específica da obrigação de fazer ou não fazer”, cujas características estão descritas no
artigo retromencionado.
Com a edição do CDC, o que era exceção passou a regra, de modo que a execução específica
da obrigação, nas relações de consumo, tornou-se prioridade, facultando-se ao consumidor optar pela
conversão da prestação em perdas e danos, devidas também na impossibilidade da tutela específica,
ou pela obtenção do resultado prático equivalente. Vale dizer que se a tutela específica requerida não
puder ser concedida por impossibilidade do meio ou desaparecimento do bem pretendido, pode o juiz
criar as condições que tenham o mesmo efeito real do adimplemento.

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Existe a previsão da antecipação da tutela, liminarmente ou após a justificação prévia,


sendo relevante a presença de dois requisitos para sua concessão: ser o fundamento da demanda
relevante (fumus boni juris) e haver justificado receio de ineficácia do provimento final (periculum
in mora). O que a Lei pretende é que o simples receio da diminuição da eficácia do provimento
final, e não a ineficácia total, seja, desde logo, motivo suficiente, somado ao fundamento relevante,
para a concessão da medida liminar.
Para a efetividade da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente
ao adimplemento, pode o magistrado determinar medidas de apoio, quaisquer que sejam elas, ou
seja, medidas que se ajustam adequadamente às necessidades reais do consumidor, tais como busca
e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva,
além de requisição de força policial. O rol de tais medidas é exemplificativo, o que torna possível até
mesmo a prisão em flagrante de quem desrespeitar a ordem judicial (art. 330, CP).
Permite também, o artigo, que o juiz fixe multa diária para que o réu cumpra a determinação, é a
chamada astreinte, e o funcionamento é idêntico, quer se trate de ação individual, quer seja ação coletiva.
A fixação da multa independe de pedido do autor e deve levar em consideração não só o
aspecto do respeito à decisão judicial e à Justiça, mas também o fato inafastável de que se ela não tiver
valor compatível com a eventual vantagem do descumprimento, será inócua.
Vale ressaltar que o valor da multa pertence ao autor e funciona como um plus do seu direito.

6 Gratuidade nas Ações Coletivas


Art. 87 - Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação
autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e despesas processuais.
Parágrafo único - Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis
pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao
décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.

A lei procurou facilitar o acesso à Justiça e o legítimo estímulo à propositura das ações coletivas
através da garantia da gratuidade do processo nessas ações. A liberação é automática e independe
de pedido, bastando que a ação coletiva seja proposta. Todavia, existe a ressalva para os casos de
litigância de má-fé, onde os objetivos retromencionados não podem servir de suporte à prática de
abusos por parte das associações no ingresso da ação, caso em que haverá a condenação solidária entre
a associação autora e seus diretores responsáveis pelo ajuizamento da ação às verbas de sucumbência,
a saber: honorários de advogado, décuplo das custas e despesas processuais.

7 Direito de Regresso e Denunciação da Lide


Art. 88 - Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste Código, a ação de regresso poderá
ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos
autos, vedada a denunciação da lide.
Art. 89 - (VETADO).

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Informa o artigo em estudo a possibilidade do exercício do direito regressivo do fornecedor


contra corresponsável pelo dano ao consumidor, por meio de processo autônomo ou nos mesmos
autos daquele do qual resultou sua condenação. Ambas as faculdades são exercitáveis apenas nas
hipóteses do parágrafo único do art. 13 deste mesmo código.
Observa-se, no preceito, rigoroso respeito ao princípio da economia processual, quando autoriza
o direito de regresso nos mesmos autos de conhecimento em que o consumidor figura como autor.
Agiu corretamente o legislador consumerista ao vedar a denunciação da lide, pois ausente
esse óbice, os corréus teriam elementos os mais variados para sua defesa, tais como, o fornecedor ao
declarar que a matéria prima usada no produto e adquirida de terceiro era a causa do vício do produto
ou serviço. Isso tumultuaria o processo, retardando a tutela jurídica do consumidor.
A desdúvida que, na ação de regresso, fica prevento o juízo que conheceu da causa em que o
fornecedor indenizou o consumidor. A interligação dos fatos de ambos os processos pede o exame
unificado pelo mesmo magistrado.

8 Aplicação Subsidiária
Art. 90 - Aplicam-se às ações previstas neste Título as normas do Código de Processo Civil e
da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo
que não contrariar suas disposições.

Desde que não haja incompatibilidade, são aplicadas às ações previstas no CDC para a defesa do
consumidor as normas do CPC e as da Lei nº 7.347/85, que estabelecem o procedimento da ação civil pública.

Importante
Assim, as ações individuais devem submeter-se, em princípio, ao CPC, e as
coletivas às regras especiais da ação civil pública, com as inovações da própria
Lei 8.078/90, além das regras gerais da codificação processual não afetadas pelo
regime específico deste último e moderno grupo de ações.

9 Ações Coletivas para a Defesa de Interesses Individuais Homogêneos


Art. 91 - Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no
interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos
individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.

Art. 92 - O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará sempre como fiscal da lei.
Parágrafo único - (VETADO).

Trata-se aqui da legitimação extraordinária já comentada anteriormente, no tópico Legitimação


Extraordinária. As ações coletivas para a defesa de direitos individuais homogêneos têm origem no
direito norte-americano, cujos princípios e regras básicas foram trazidos para o ordenamento jurídico
pátrio. Elas não possuem por objeto somente um provimento jurisdicional condenatório, mas também
declaratório, constitutivo (ou desconstitutivo) ou mandamental, de acordo com o art. 83 do CDC.

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Direito do Consumidor

Para atuação do Ministério Público, é necessário que a causa envolva interesse social ou
individual indisponível, pois não se admite que o parquet venha a propor ações para a proteção de
direitos individuais disponíveis sem que haja um mínimo de relevância social. Ressalte-se que como
fiscal da Lei, o MP deve intervir em qualquer processo decorrente de ação coletiva para a defesa de
interesses individuais homogêneos, haja ou não relevância social.

9.1 Competência
Art. 93 - Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a Justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou
regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

O presente artigo rege todo e qualquer processo coletivo, estendendo-se também às ações em
defesa de interesses difusos e coletivos.
Ressalva-se aqui a competência da Justiça Federal aplicando, naquilo que interessa ao direito do
consumidor, as hipóteses previstas no art. 109 da Constituição da República, conforme resumo que se segue:
◆◆ Nas causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, compete à Justiça Federal
julgar as ações coletivas para a defesa dos interesses individuais homogêneos, desde que no
local do dano exista vara federal.
◆◆ Não havendo, porém, na comarca juízo federal, e tendo o dano ocorrido no local, será
competente para julgar a causa o Juiz Estadual, cabendo recurso ao Tribunal Regional
Federal da região correspondente.
◆◆ Inexistindo interesse da União, o cargo competente para a apreciação das ações mencionadas,
oriundas de danos ocorridos no local, é o Juiz Estadual, podendo ser interposto recurso
contra sua decisão perante o Tribunal de Justiça do Estado.
◆◆ Tratando-se de dano de âmbito nacional ou regional, existindo interesse da União,
será competente, de qualquer maneira, a Justiça Federal, que deve possuir pelo menos
uma vara na Capital do Estado ou Distrito Federal. O recurso deve ser interposto
perante o Tribunal Regional Federal.
◆◆ Inexistindo interesse da União e sendo o dano de âmbito nacional ou regional, competente
será o Juiz de Direito sediado na Capital do Estado ou no Distrito Federal, podendo ser
interposta apelação contra sua sentença junto ao Tribunal de Justiça.

No que pertine à competência no dano de âmbito local, deve ser feita uma interpretação
sistemática do modelo adotado na combinação do art. 93, I, com o art. 101, I, ambos do CDC, para
concluir que a competência para o ajuizamento de qualquer ação para apurar a responsabilidade do
fornecedor pelos danos causados na ação coletiva é de escolha do autor, isto é, dos legitimados do art. 82.
Pode, portanto, escolher entre o foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano ou no seu domicílio.

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Para a competência no direito individual remanesce valendo a regra do art. 101, I, CDC, para o
ajuizamento das ações individuais baseadas em danos de ordem local, bem como nos casos de danos de
âmbito regional ou nacional, podendo a ação ser proposta no domicílio do autor, do réu ou no local do dano.

9.2 Litisconsórcio
Art. 94 - Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

Intervindo o interessado como litisconsorte, eventual sentença de improcedência fará coisa


julgada contra si, não podendo ajuizar outra ação. Todavia, desde que não tenha intervindo na
demanda coletiva, poderá o interessado mover uma ação em nome próprio, haja vista não ter sido
atingido pelos efeitos da coisa julgada.

9.3 Condenação Genérica


Art. 95 - Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.
Art. 96 – (VETADO).

A sentença de procedência, atendo-se ao pedido, deve ser genérica, certa e ilíquida, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados, já que, até aquele instante, não teria sido possível ao
juiz verificar os prejuízos sofridos por todas as vítimas interessadas no processo.
Os valores a serem pagos advirão da fase posterior de liquidação.

9.4 Liquidação e Execução de Sentença


Art. 97 - A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Parágrafo único – (VETADO).

São partes legítimas, para promover a liquidação e a execução de sentença, a vítima ou seus
sucessores, agora individualmente considerados (legitimação ordinária), bem como todos os legitimados
do art. 82 do CDC, na qualidade de representantes, agindo, em nome da vítima ou sucessores, ainda que
não tenham ajuizado a ação de conhecimento. O que significa, em tese, que a ação de responsabilidade
pode ter sido proposta pelo MP, que a liquidação tenha permanecido a cargo da Procuradoria do Estado,
e que a execução de sentença fique por conta de uma associação de consumidores.
A liquidação visará o quantum debeatur, cabendo ao interessado demonstrar, sob o crivo do
contraditório, a existência dos prejuízos sofridos – danos patrimoniais e extra patrimoniais – e o nexo
de causalidade. Embora vetado o parágrafo único, devem ser aplicados os arts. 608 e 609 do CPC,
atinentes à liquidação por artigos, por força do art. 90 do CDC.
O ajuizamento da liquidação seguirá o prazo prescricional da execução, nos termos da
súmula nº 150 do STF. Portanto, enquanto a execução não estiver prescrita, não haverá como falar em
prescrição do procedimento preparatório de liquidação.

147
Direito do Consumidor

9.5 Execução Coletiva


Art. 98 - A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata
o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiverem sido fixadas em sentença de
liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções.
§ 1º - A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação, da qual
deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.
§ 2º - É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Todos os legitimados contemplados no art. 82 do CDC, na qualidade de representantes das


vítimas ou de seus sucessores, podem promover a execução coletiva da sentença, compreendendo
também os interessados cujas indenizações já tiverem sido fixadas em sentença de liquidação e sem
prejuízo da propositura de outras execuções coletivas. Mas, para tanto, necessário se faz que tenham
sido liquidados os danos das vítimas individualizadamente, pois, caso contrário, não há o que executar,
já que a sentença é genérica e ilíquida.
A certidão das sentenças de liquidação é que dá fundamento à execução coletiva e nela deverá
constar informação sobre o trânsito em julgado, de modo a diferenciar a execução definitiva da
provisória (arts. 587 e 588, CPC).
No caso da execução coletiva somente é competente o juízo da ação condenatória, ao passo
que na execução individual é competente o juízo da liquidação da sentença ou da ação condenatória.

9.6 Concurso de Crédito


Art. 99 - Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação prevista na Lei nº 7.347,
de 24 de julho de 1985, e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do mesmo
evento danoso, estas terão preferência no pagamento.
Parágrafo único - Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da importância recolhida ao
Fundo criado pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto pendentes de decisão
de segundo grau as ações de indenização pelos danos individuais, salvo na hipótese de o patrimônio
do devedor ser manifestamente suficiente para responder pela integralidade das dívidas.

Deve haver preferência no pagamento de créditos decorrentes de indenizações concedidas em


ações coletivas (interesses difusos ou coletivos) e de créditos oriundos de ações de reparação civil de
danos resultantes do mesmo evento danoso.
Devendo ficar suspensa a destinação dos créditos obtidos em ações coletivas enquanto
pender, em segundo grau de jurisdição, ações individuais, a não ser que o patrimônio do devedor seja
ostensivamente suficiente para responder pelas dívidas de forma integral.

9.7 Prazo de Habilitação dos Interessados


Art. 100 - Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível
com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução
da indenização devida.
Parágrafo único - O produto da indenização devida reverterá para o Fundo criado pela Lei nº
7.347, de 24 de julho de 1985.

148
Direito do Consumidor

Se os interessados não se habilitarem no prazo de um ano, os legitimados do art. 82 do CDC


poderão promover a liquidação e a execução da indenização devida. Tal medida foi inspirada na fluid
recovery (reparação fluida), criada pela jurisprudência estadunidense.
Pode ocorrer que os consumidores, individualmente considerados, não tenham manifestado
interesse em levar adiante uma liquidação e uma execução de um crédito de valor muito pequeno e
inexpressivo em relação a cada um deles. Entretanto, quando considerados globalmente, o prejuízo
pode ser notável, justificando a liquidação e execução coletivas, caso em que o produto da indenização
deve ser revertido para o fundo criado pela Lei de Ação Civil Pública.

10 Ações de Responsabilidade do Fornecedor de Produtos e Serviços


Art. 101 - Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste Título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o
segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nessa
hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80
do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado
a informar a existência de seguro de responsabilidade facultando-se, em caso afirmativo, o
ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a denunciação
da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este.

10.1 Foro do Domicílio do Consumidor


O CDC permite ao consumidor o ajuizamento da ação de responsabilidade civil, no foro de
seu domicílio, com fundamento na sua vulnerabilidade, bem como na facilitação da defesa de seus
direitos como direito básico.
Entende-se por ação de responsabilidade civil aquela que:
◆ visa à indenização decorrente da responsabilidade pelo fato do produto/serviço (arts. 12 e 14);
◆ a que objetiva o cumprimento dos deveres inerentes à responsabilidade pelo vício do
produto/serviço (arts. 18 a 20);
◆ a que visa a tutela específica da obrigação ou ao resultado prático equivalente (art. 84);
◆ assim como qualquer ação capaz de propiciar ao interesse e ao direito do consumidor a sua
adequada e efetiva tutela (art. 83).

Não houve por parte do CDC, ao referir-se ao gênero responsabilidade civil, intenção
de distinguir entre as espécies contratual e extracontratual, concluindo-se que ambas foram
abrangidas pela regra em comento.

Importante
Vale ressaltar que a portaria nº 4/98 da Secretaria Nacional de Direito Econômico
considerou abusiva a cláusula que elege foro, para dirimir conflitos decorrentes de
relação de consumo, diverso daquele onde reside o consumidor.

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Direito do Consumidor

10.2 Chamamento ao Processo

Embora seja vedada a denunciação da lide na ação proposta contra o comerciante visando à
indenização pelo fato do produto/serviço (art. 88, CDC), é permitido ao réu o chamamento de sua
seguradora ao processo. Referida medida processual em vez de prolongar o andamento do feito, na
verdade, aumenta a garantia do consumidor, em favor de quem poderá ser proferida uma sentença
condenatória, determinando à seguradora o pagamento direto de uma indenização.

10.3 Ação Preventiva Mandamental


Art. 102 - Os legitimados a agir na forma deste Código poderão propor ação visando compelir
o Poder Público competente a proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação,
distribuição ou venda, ou a determinar alteração na composição, estrutura, fórmula ou
acondicionamento de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou perigoso à
saúde pública e à incolumidade pessoal.
§ 1º - (VETADO).
§ 2º - (VETADO).

A ação prevista no art. 102 do CDC tem natureza preventiva, segue o rito ordinário e visa a
um provimento jurisdicional mandamental, cuja inobservância deve sujeitar o responsável às penas
do crime de desobediência (art. 330 do CP).

11 Coisa Julgada nas Ações Coletivas


Art. 103 - Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento,
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e
seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1º - Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2º - Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados
que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.
§ 3º - Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei nº 7.347,
de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente
sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste Código, mas, se procedente
o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º - Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

É importante lembrar que as normas contidas no artigo retromencionado não são aplicadas
somente às ações coletivas tratadas pelo código, mas a qualquer tipo de ação coletiva.

150
Direito do Consumidor

11.1 Direitos Difusos (inciso I)


Em relação aos Direitos Difusos, a coisa julgada possui:

a) efeito erga omnes


O efeito da coisa julgada na hipótese de interesses difusos, nas ações coletivas, valerá para
todas as pessoas se a ação for julgada procedente ou improcedente pela análise do mérito com provas
adequadamente produzidas. No primeiro caso, todos os consumidores se aproveitarão da sentença
definitiva, inclusive para fazer pleitos individuais. No caso da improcedência, estará impedida a
propositura de nova ação coletiva, mas não o ajuizamento de ações individuais.

b) efeito da improcedência por insuficiência de provas


Aqui ocorre a coisa julgada formal, situação em que qualquer legitimado pode mover uma
nova ação com idêntico fundamento, porém utilizando-se também de uma nova prova. Como se
trata de insuficiência de provas, é importante que o magistrado se manifeste expressamente a respeito,
devendo a entidade autora pedir, no caso de improcedência, que o juiz diga muito claramente se o
faz por insuficiência de provas, cabendo embargos de declaração a fim de se obter expressamente na
sentença tal declaração.

11.2 Direitos Coletivos (inciso II)


Por sua vez, nos Direitos Coletivos, a coisa julgada possui:

a) efeito ultra partes


Aqui o efeito da coisa julgada é estendido para além das partes, porém limitadamente aos
consumidores integrantes do grupo, categoria ou classe. Isto se dá em função da dupla característica
dos interesses coletivos – indivisibilidade do objeto e relação jurídica base –, beneficiando, por
exemplo, consumidores pertencentes à Associação, ao Sindicato, aos clientes de um mesmo banco, etc.
Se a ação for julgada improcedente com avaliação das provas produzidas, ainda haverá o efeito ultra
partes, o que impedirá a propositura de nova ação coletiva, mas não o ajuizamento de ações individuais.

b) efeito da improcedência por insuficiência de provas


Assim como nos interesses difusos, a sentença não produz efeito e qualquer dos legitimados
pode propor a ação novamente, inclusive a própria entidade que a propôs anteriormente.

11.2.1 Relação com o Direito Individual do Consumidor (§ 1º)


Mesmo quando julgada improcedente a ação coletiva com avaliação das provas produzidas,
poderá o consumidor propor Ação Individual com idêntico fundamento.
O fato da coisa julgada da ação coletiva negativa não atingir o consumidor individualmente
considerado, se justifica pela autonomia da ação coletiva para proteger interesses difusos e coletivos,
de modo que não há como atingir negativamente o direito individual daquele que não participou do

151
Direito do Consumidor

feito. De outro modo, a coisa julgada da ação coletiva positiva beneficia o consumidor individual e
se justifica com fundamento na lógica do sistema, qual seja, o de que a ação foi proposta para trazer
resultado benéfico para toda a coletividade.

11.3 Extensão Subjetiva da Coisa Julgada na Ação Civil Pública (§ 3º)

a) efeito da coisa julgada positiva


Nas ações civis públicas, compreendendo interesses difusos ou coletivos, o efeito da coisa
julgada, quando procedente o pedido, alcança todas as vítimas e seus sucessores, podendo estes
procederem à liquidação e à execução da sentença, nos termos dos arts. 97 a 99, correspondendo,
assim, às ações coletivas para a defesa de direitos individuais homogêneos.

b) efeito da coisa julgada negativa


Por sua vez, quando o pedido for julgado improcedente, os efeitos da coisa julgada não devem
prejudicar as ações individuais movidas pelas vítimas e seus sucessores (§ 1º do art. 103).

11.4 Direitos Individuais Homogêneos (inciso III)


Por fim, no que tange aos Direitos Individuais Homogêneos, a coisa julgada possui:

a) efeito erga omnes


Na hipótese de interesses individuais homogêneos discutidos em ação coletiva, a sentença
deve fazer coisa julgada contra todos, apenas nos casos de procedência do pedido, a fim de beneficiar
todas as vítimas e seus legítimos sucessores.
Se a ação for julgada improcedente não produzirá qualquer efeito em relação às vítimas e seus sucessores.

b) efeito da improcedência por insuficiência de provas


Rizzatto Nunes (2004, p. 752) assevera que a “lei não faz qualquer referência à improcedência
por insuficiência de provas para os direitos individuais homogêneos”, concluindo que está vedada a
apresentação de nova demanda nesses casos, restando apenas a via individual.

11.5 Ação Indenizatória Individual (§ 2º)


Encontramos nesse dispositivo o direito à propositura de ação individual por parte do
consumidor ou seus sucessores. Para tanto, basta que não tenham participado da ação coletiva como
litisconsorte, ou seja, o efeito da coisa julgada de improcedência da ação só atinge aqueles que tiverem
ingressado no polo ativo da ação coletiva como litisconsorte facultativo, possibilidade esta contemplada
no art. 94 do CDC e que se traduz para vítima como uma prerrogativa e não como obrigatoriedade.

11.6 Sentença Penal Condenatória (§ 4º)


A sentença penal condenatória, proferida no processo envolvendo a coletividade como sujeito
passivo principal do crime, beneficia todas as vítimas do evento, bem como seus sucessores, visto
que eles podem proceder à liquidação e à execução da sentença nas ações coletivas para a defesa de

152
Direito do Consumidor

interesses individuais homogêneos. Identificamos aqui uma verdadeira ampliação do art. 63 do CPP, o
qual prevê que “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros”.

12 Litispendência e Continência

Art. 104 - As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes
ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores
das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da
ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Conceito
A litispendência caracteriza-se pela tríplice identidade (partes, pedido e causa
de pedir) entre duas ações e não vislumbramos em nenhum dos tipos de ações
coletivas essa identificação com a ação individual. Portanto, as ações coletivas
não induzem litispendência para as ações individuais.

Os efeitos da coisa julgada das ações coletivas só devem beneficiar os autores das ações
individuais, se requererem a suspensão do andamento do feito no prazo de 30 dias, caso contrário
terá sua demanda prosseguindo por sua conta e risco, abrindo mão do eventual benefício da
procedência da ação coletiva.
Tal medida se justifica, primeiro, pelo princípio da economia processual, pois é preferível
o julgamento de uma ação coletiva que possa beneficiar todos os consumidores individuais e,
segundo, procura-se evitar decisões conflitantes, mas, para tanto, é necessário que na ação coletiva
haja prova de sua ciência real e inequívoca. Em outras palavras, não basta a publicação do edital
e a divulgação em órgãos de comunicação, a intimação pessoal do consumidor é necessária para
que ele possa ser atingido pela prejudicialidade.
Ressalta ainda Rizzatto Nunes (2004, p. 755) que “[...] uma vez que o réu é o mesmo na
ação coletiva e na individual, então caberá a ele o ônus de requerer na ação coletiva a intimação do
consumidor que lhe está movendo a ação individual, para que este, no prazo de 30 dias, contados da
intimação, possa requerer a sua suspensão”.
Não há também continência entre as ações coletivas e as individuais, uma vez que aquela se
caracteriza pela ocorrência da identidade de partes e das causas de pedir entre duas ações, sendo que
o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o da outra.
Nas ações coletivas e individuais, apenas a causa de pedir pode ser a mesma, não sendo
os mesmos os autores e não sendo o objeto das ações coletivas mais abrangentes que o das
individuais, mas apenas diferentes.

153
Direito do Consumidor

E depois de termos compreendido como se dá a defesa do consumidor


em juízo, vamos encerrando aqui. Espero que nosso estudo tenha sido
proveitoso e até a próxima!

Referências

ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2000.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código de Defesa do Consumidor: comentado pelos


autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.

JUNIOR, Humberto Theodoro. A defesa nas ações do Código do Consumidor. Forense


Universitária, 2008.

NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2014.

SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: lei 8.078,


de 11.9.90. São Paulo: LTr, 1999.

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Código de Defesa do Consumidor anotado


e legislação complementar. São Paulo: Saraiva, 2005.

Anotações

154
DIREITO DO CONSUMIDOR
Créditos

Núcleo de Educação a Distância

O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado pelo

professor conteudista, que é o responsável pela produção de conteúdo

didático, e foi desenvolvido e implementado por uma equipe composta

por profissionais de diversas áreas, com o objetivo de apoiar e facilitar o

processo ensino-aprendizagem.

Coordenação do Núcleo de Educação a Distância: Lana Paula

Crivelaro Monteiro de Almeida Supervisão Administrativa:

Denise de Castro Gomes Produção de Conteúdo Didático:

Alexander Perazzo N. de Carvalho Design Instrucional: Andrea

Chagas Alves de Almeida Projeto Instrucional: Luciana Clícia,

Régis da Silva Pereira Roteiro de Áudio e Vídeo: José Glauber

Peixoto Rocha Produção de Áudio e Vídeo: José Moreira de Sousa

Identidade Visual / Arte: Diego Silveira, Francisco Cristiano Lopes

de Sousa, Sérgio O. Eugênio de Souza, Viviane Cláudia Paiva Ramos

Programação/Implementação: Jairo Araújo dos Santos, Jorge

Augusto Fortes Moura Editoração: Sávio Félix Mota Revisão

Gramatical: Luís Carlos de Oliveira Sousa

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