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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Boletim Técnico

Eduardo AC Garcia

Brasília DF
15 de abril de 2009
2

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA


Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa

PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luiz Inácio Lula da Silva

MINISTRO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO


Reinhold Stephanes

SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MAPA


PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA EMBRAPA
Silas Brasileiro

SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO E


COOPERATIVISMO
Marcio Antônio Portocarrero

DEPARTAMENTO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO E


SUSTENTABILIDADE – DEPROS - MAPA
Sávio José Barros de Mendonça

Ficha Catalográfica

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Empresa


Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Combate à desertificação e mitigação
– convívio com a seca. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e
Cooperativismo; Eduardo AC Garcia. Brasília: MAPA/SDC, 2009. 134 p.

(Série A – Textos Básicos de Economia de Sistemas de Produção, 1,


2009).

ISBN
Desertificação. Problemas, Prevenção Convivência Ações de controle.
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

SUMÁRIO
1 Introdução ............................................................................................... 7

2 Conceitos .............................................................................................. 20

2.1 Desertificação .................................................................................... 21

2.2 Combate à desertificação .................................................................. 27

2.3 Degradação de recursos da terra ...................................................... 35

2.4 Desenvolvimento sustentável (D∩S) ................................................. 37

2.5 Plano de convivência com a seca ...................................................... 43

2.6 Erosão ............................................................................................... 49

2.7 Outros conceitos ................................................................................ 53

2.7.1 Cenários e estudos prospectivos .................................................... 53

2.7.2 Conservação e manejo integrado de ambientes e recursos


naturais ................................................................................................ 59

2.7.3 Agricultura sustentável .................................................................... 60

2.7.4 Participação e ações solidárias da comunidade ............................. 62

2.7.5 Educação ambiental e capacitação para o combate à


desertificação....................................................................................... 63

2.7.6 Novas abordagens no tratamento do problema da


desertificação: sistêmica, dinâmica, risco e simulação ........................ 63

2.7.7 Indicadores no controle da desertificação e mitigação-


convívio com a seca ............................................................................ 64

3 O problema da desertificação no País .................................................. 64

4 Objetivos e Metas ................................................................................. 88


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Elementos de um plano de combate à desertificação


indicados pela Convenção (…) 6

Figura 2 Relações entre desertificação (fenômeno local), mudança


climática (fenômeno global) e perda – degradação da
biodiversidade (processo local, regional e global) 10

Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas pela


desertificação nos continentes 13

Figura 3 Áreas susceptíveis à desertificação e áreas afetadas pela


desertificação 31

Figura 4 Eixos do PAN – Brasil e serem integrados para o combate à


desertificação 32

Figura 5 Núcleos de desertificação na Região Nordeste 33

Tabela 2 Núcleos de desertificação na Região Nordeste 34

Figura 6 Mapa de isoietas: precipitações médias anuais (1960 –


1990) 35

Figura 7 Percentual de dias com déficit hídrico estimado pelo CPTE /


INPE 36

Figura 8 Níveis de potencialidades agrícolas dos solos do Nordeste 37


5

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Figura 9 Mapa de cobertura vegetal do Nordeste 38

Figura 10 Divisão hidrográfica da Região Nordeste 39

Figura 11 Tipos de solos da Região Nordeste 40

Figura 12 Ilustração de integração de componentes físicos no


zoneamento ambiental 41

Figura 13 Indicações de causas e correspondentes efeitos no


problema de desertificação 47

Figura 14 Processo de desertificação e exemplos de indicadores


desse processo 48

Figura 15 Três dimensões básicas (peças que se integram) na


construção de um plano: deseja, realidade e poder, com
desdobramentos e integrações em três dimensões:
preparação, gestão e dever 54

Figura 16 Ilustração do controle de causas e de seus efeitos que


evitam a desertificação 57

Figura 17 Diagramas de Ishikawa para indicar arranjos de causas do


problema da desertificação, de meios materiais e humanos de
controle e de objetivos a alcançar 58

Quadro 1 Indicação dos principais “clientes”, interessados e


envolvidos no plano 62

Quadro 2 Indicações do preenchimento da matriz do quadro lógico 65

Quadro 3 Exemplos de indicadores no combate à desertificação 70


6

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Figura 17 Indicador descritivo da dinâmica – evolução de


degradação da área no intervalo 0 – n 73

Figura 15 Imageamento de áreas susceptíveis à desertificação no


Nordeste: descritores de seis indicadores 74
7

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

1 Introdução
O fenômeno da desertificação é tanto regional e de países em desenvolvimento
como mundial e de países desenvolvidas, com variações, nessas transformações
de florestas, matas e terras com potenciais produtivos em terras inférteis, em terras
que perderam a sua capacidade de produção.

Um fenômeno destrutivo de riquezas, de ativos e fontes naturais, dos recursos


da terra, que se manifesta com degradações (danos) dessas riquezas,
principalmente em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, como resultados
de atividades humanas imprevidentes e de variações climáticas severas.

São atividades humanas como as de usos e manejos inadequados dos recursos


hídricos, dos solos na agricultura e pecuária, de minerais sem proteção ambiental,
da vegetação e biodiversidade, com reduções ou perdas da qualidade de vida de
populações afetadas: esse é o conceito de degradação da terra.

Um fenômeno que ameaça, em níveis elevados e insustentáveis, à


biodiversidade e que resulta, em especial, de desmatamentos e queimadas
indiscriminadas que se praticam em usos e manejos indevidos dos recursos da
terra.

A degradação do solo é uma crise silenciosa, que, segundo a Organização das


1
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 2007 e 2008), define-se
como “o declínio em longo prazo na função e na produtividade de um
ecossistema”. Essa queda se intensificou, em gravidade e extensão, nas últimas

1
O declínio em longo prazo, na função e na produtividade de um ecossistema, ocorre quando se
modificam as características físicas, químicas e biológicas do solo por causa do esgotamento;
quando se dá a degradação da terra: do solo (por erosão, compactação e salinização); dos recursos
hídricos (perda da água de chuva, pouca ou nenhuma água na estiagem e perdas de quantidade e
qualidade da água); da vegetação (rala, menor porte e mais demorado crescimento); da
biodiversidades (perdas de atributos e menor capacidade de regeneração) por múltiplas e
complexas causas, naturais e antrópicas como a sobre-exploração e sobrepastoreio.
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décadas, com incidência em mais de 20,0% das terras agrícolas, 30,0% das
florestas e 10,0% das áreas de pastagens no mundo.

Aproximadamente 1,5 bilhões de pessoas, segundo a FAO (2008), em torno de


um quarto da população mundial, “depende diretamente de solos que estão sendo
degradados” e que, como conseqüência dessa degradação, respondem por quedas
de produtividades e produções agrícolas e pecuárias e por migrações de
produtores de seu meio rural. São fenômenos responsáveis, também, por
inseguranças alimentares e perdas da biodiversidade, entre outras.

Configuram situações graves, definidas pela degradação ambiental, afetando


comunidades que vivem à margem de domínios ecológicos, econômicos e sociais
e onde a pobreza, como síndrome de carências diversas (destaque pela falta de
bens e serviços ambientais); o “ordenamento” territorial insustentável dos
recursos da terra; e as mudanças climáticas severas contribuem para que terras
áridas, semiáridas e subúmidas secas sejam, com relativa facilidade e rapidez,
áreas desertificadas, em aproximadamente 22,0% das terras sujeitas a esse
processo.

O estudo da FAO Avaliação da degradação do solo em zonas áridas, de 2008,


financiado por Global Environment Facility, revela que a principal causa da
degradação do solo é a má gestão da terra, a má gestão dos recursos da terra. Essa
causa é agravada pelo fato de as terras secas serem responsáveis por
aproximadamente 22,0% da produção de alimentos do mundo. São terras com
riscos de desertificação em aproximadamente 33,0% da superfície total (51,72
milhões de km2) e 70,00% de todas as terras das zonas áridas.

A evidência do impacto da desertificação, junto com a difusão da pobreza, é a


degradação de aproximadamente 3,3 milhões de km2 da área total de campo:
73,0% com baixa capacidade de sobrevivência; 47,0% de queda na fertilidade dos
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

solos de áreas secas; e 30,0% de áreas secas com alto potencial de irrigação e alta
densidade demográfica.

Parte da evidência está na perda de cerca de 6,0 mil km2 por causa do
sobrepastoreio, salinização de solos por irrigação com praticas e tecnologias
impróprias às condições locais e usos intensivos, além da capacidade de suporte
de ecossistemas e manejos inadequados às realidades locais.

No Brasil, são terras que correspondem a aproximadamente 15,7% da


superfície total do território, com várias categorias de susceptibilidade, tais como:
muito alta (24,3% da área total susceptível de 980,7 mil km2); alta (39,2% do total
da área susceptível; áreas áridas e semiáridas) e moderada (36,5% da área total
susceptível) (PROGRAMA DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E
MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA. IICA, 2008).

É oportuno ressaltar que as áreas susceptíveis à degradação dos solos, dos


recursos hídricos, da vegetação e biodiversidade e à redução da qualidade de vida
d populações afetadas, não se limitam às regiões semiáridas ou subúmidas secas
do Nordeste. Têm-se registros e, por vezes com melhores avaliações desses
processos, em estados como os de Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São
Paulo e Rondônia, entre outros.

Os problemas de desertificações desses outros estados afetados pela


desertificação não serão objeto de consideração neste boletim, não por serem
menos importantes, mas porque o problema, real ou aparente, é mais intensivo e
exigente de solução imediata, no Nordeste. Região, onde aumentos de “normais”
mínimas de temperatura, baixos índices de precipitação pluviométrica (ou o
agravamento de sua distribuição no tempo) e atividades agrícolas e pecuárias
inadequadas às condições e capacidades de suporte do semiárido, podem levar,
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com maior rapidez, à desertificação. Nessas condições, as exigências de ações e


estratégias de combate à desertificação, tornam-se prioritárias e urgentes.

Segundo dados da Fundação Esquel Brasil e com bases em estimativas de


produtividades agrícolas e de impactos em fontes de água, a desertificação no
Nordeste está avançando 3,0% ao ano (FENÔMENO, 2008).

O processo de desertificação não ocorre apenas no Brasil, mas é uma tendência


que se observa em outras regiões do mundo como, p.ex., Austrália, os Estados
Unidos e a China, entre os mais de 110 países afetados por esse fenômeno,
associado ao crescente aquecimento global (pelo efeito estufa e alta concentração
de gás carbônico) e ao aumento de atividades como a industrial, urbanização e
agrícolas-pecuárias sem as necessárias adequações e cuidados com o meio
ambiente.

São causas, - as que provocam a desertificação, muito mais complexas do que


simples contribuições dos fatores anteriormente citados, derivadas de interações
entre complexos de variáveis atmosféricas, hidrosféricas e da biosfera, além de
irracionalidades de usos e manejos de ambientes e recursos da terra, com tantas
variáveis e falhas de conhecimentos que tornam incerto o futuro de ecossistemas,
de comunidades e até da própria humanidade.

Estudos realizados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) na África mostraram perdas econômicas, devidas à desertificação, de
US$7,00/ha/ano, para áreas de pastos nativos; US$50,00/ha/ano, para a
agricultura de sequeiro e US$250,00/ha/ano para a agricultura irrigada.

Há evidências e notáveis manifestações de degradação dos recursos da terra


(do solo e recursos hídricos, da vegetação e da biodiversidade, além de redução da
qualidade de vida de comunidades afetadas por esse fenômeno) e da competição
por tais recursos que os tornam cada vez mais disputados e escassos.
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Efeitos dessa escassez e disputa, sem as devidas normatizações (ações


educativas de prevenção e proteção) e disciplinamentos legais e econômico-
mercados, provocam conflitos sociais no meio rural e aumentam os contingentes
de refugiados humanos por motivos ambientais e econômicos.

A desertificação é um processo difícil de reverter, porém, sempre com


possibilidades de preveni-lo ao conhecê-lo e, com base desse conhecimento, agir,
com oportunidades e eficiente objetividade na proteção de, em especial, zonas
frágeis e potencialmente vulneráveis com ocupações, uso e manejos, suportáveis
pelos ecossistemas.

Com possibilidades de aliviar as pressões, em níveis e riscos toleráveis,


mediante a recuperação de terras parcialmente degradadas, incorporando-as ao
processo produtivo que possam reduzir essas pressões com novas áreas.

Com possibilidades, principalmente, de utilizar os recursos desses ambientes,


com garantia de proteção das fontes, em contextos como os de conservação (ver
Quadro3) e manejo integrado e onde se possam tratar e internalizar, nos processos
de uso e manejo, no saber tradicional de comunidades, as fragilidades e medidas
de proteção com as atividades de aproveitamentos possíveis e sustentáveis de suas
potencialidades.

Dentre essas possibilidades e sustentabilidades se define a contribuição,


possível e efetiva, do Mapa, alinhada, por um lado, à sustentabilidade do
agronegócio e pelo outro, à proteção.

É um processo, - a desertificação, com diferentes percepções e visões, entre


outras, as de cientistas-pesquisadores e as de governos; as de países (regiões)
desenvolvidas e países (regiões) em desenvolvimento; as de domínios econômicos
que fazem dos recursos naturais matéria-prima subvalorada para a indústria que os
consomem em excesso e concentra os benefícios e as de comunidades dominadas
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e afetadas que, também, contribuem com as sobre-explorações e manejos


indevidos.

Por se tratar de um processo “lento” (em termos relativos e, em especial, para a


desertização), as consequências só passaram a ser observadas nas últimas décadas
do século XX, a partir dos anos 30, no Meio Oeste Americano, na forma de
tempestades de areias (Dust Boowl: bacias de poeiras) e onde a intensa
degradação dos solos afetou cerca de 380 mil km2, assolou campos e forçou a
migração de milhares de pessoas com graves problemas socioeconômicos como
desemprego e pressão sobre infra-estruturas de cidades alvos das migrações.

A desertificação não é um processo recente, mas histórico que acompanha o


homem, desde o início, na era neolítica com o domínio do foco, de ferramentas
como machado e do aparecimento da agricultura e domesticação de plantas e
animais em áreas concentradas e simplificadas de ecossistemas como os florestais
(GARCIA, 2009b).

Tomou destaque na Conferência da Eco 92 – Rio de Janeiro / Agenda 21 e na


Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, com mais de 180
países signatários, passou a se constituir um marco de referência. A adesão do
Brasil foi em 1994, ratificada e em vigor a partir de 1997.

Na Agenda 21, cap. 12: desertificação e seca estabelece-se como essencial, Na


luta contra a desertificação e seca, a participação das comunidades locais,
organizações rurais, governos nacionais, ONGs e organizações internacionais e
regionais (destaque em negrito ausente da fonte consultada)

Em áreas programáticas (AP), dessa Agenda, tais como na AP - 2, preconiza-


se a cooperação entre todos os atores envolvidos, desde a população local como
agricultores e organizações de classe, até o governo central; a AP - 6 recomenda a
participação (...) ao reconhecer que “A experiência acumulada sobre sucessos e
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

fracassos de programas e projetos aponta para a necessidade de apoio das


populações às atividades relacionadas com o combate à desertificação”.

É necessário “ir para além do ideal teórico de participação do público e obter o


envolvimento ativo [efetivo] das populações, baseado em conceitos como os de
parcerias [e cooperação]. Isto implica a partilha de responsabilidades e o
envolvimento de todos os atores”.

A Agenda 21 Global, em parte orientou discussões para definir a Agenda


Nacional de Combate à Desertificação, com base em recomendações que se
sintetizam em seis passos (complementados) contra esse fenômeno, mencionados
a seguir:

a) Estabelecer um fórum e grupos de trabalhos com atores da administração,


políticos, empresas, sociedade civil, representantes dos trabalhadores (...).

É preciso, com base nesses grupos representativos de trabalho, (re)definir e


fortalecer a ação do Mapa para esse combate, com estratégias e ações que se
destacam, de forma resumida, neste boletim; são atividades que procuram a
eficiência no uso dos recursos naturais.

b) Discutir e analisar os problemas (negritado ausente da fonte consultada, a


Agenda 21) em um contexto abrangente e integrado.

Este passo é destacado neste boletim e se considera fundamental para definir


objetivos, ações e estratégias integradas e viabilizadas em planos de
combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca.

A seca se situa como um fenômeno natural provocado por baixas


precipitações pluviométricas e/ou irregulares distribuições delas e por alta
incidência solar e evaporação na região, que podem ser aumentadas com a
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derrubada de florestas e queimadas, com graves consequências sociais,


econômicas e ambientais.

O problema se localiza em ações antrópicas que geram ou aceleram as


causas desse fenômeno e nas consequências do agravamento induzido. Parte
do problema se situa na escassa vontade – decisão política para buscar e
implementar soluções diferentes das tradicionais medidas de pretendido
combate à seca. Outra parte está na falta de orientação, - educação, e na
ausência de opções para que, entre outras, o agricultor deixe de promover
desmatamentos e queimadas inadequadas.

c) Identificar os objetivos e conceitos (negritado ausente da fonte consultada,


a Agenda 21) de ações orientadas para o desenvolvimento sustentável.

Mais do que identificar, definir os objetivos, com as ações, meio e recursos


necessários para atingi-los, em plena conformidade com a definição e
delimitação dos problemas na região alvo.

d) Definir um plano de ação integrado numa agenda local.

Nessa definição há um espaço legítimo e insubstituível para definir a ação


do Mapa com suas atividades de manejo e conservação do solo, sistema de
integração lavoura-pecuária-silvicultura, projeto de recuperação de
microbacias hidrográficas, recuperação de áreas em processo de degradação,
capacitação e treinamento de lideranças e gestores e, em especial, o projeto
de controle da desertificação, conforme se anuncia neste boletim.

e) Implementar o plano. Deve ser feita conforme orientações ou diretrizes de


políticas públicas, uma delas, alcançar o desenvolvimento sustentável da
região sujeita e/ou com risco de seca e com o problema de desertificação.

f) Determinar INDICADORES (destaque em maiúscula ausente da fonte


consultada, a Agenda 21) consistentes, úteis e operacionais para gerir com
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

objetividade, agir com base em necessários critérios técnico-científicos


operacionais sintetizados e assumir (comprometer-se), com
responsabilidade, nos planos, ações e resultados desse combate.

A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação é um


instrumento jurídico negociado pelos países membros das Nações Unidas (ONU),
com força de lei para aqueles que a assinaram e ratificaram (é o caso, p.ex., de o
Brasil com o Decreto Legislativo no. 28, de 12/06/1997 e/ou a Resolução no. 238,
de 22/12/1997), com possibilidades de contribuir para a proteção e para o manejo
- conservação dos recursos naturais de regiões com climas áridos e semiáridos,
como é o caso de áreas do Nordeste. Tais elementos, - os de proteção, por um lado
e de manejo – conservação, pelo outro, são fundamentais em um plano de
combate à desertificação, segundo a perspectiva e orientação dessa Convenção
(…), com adequações e desdobramentos necessários para atender necessidades e
possibilidades da região objeto de intervenção, conforme se anuncia, neste
boletim.

É oportuno esclarecer que são dois lados, - o de proteção e o de manejo-


conservação, que têm pontos comuns para serem fortalecidos.

Em muitos aspectos a proteção e o manejo–conservação se complementam


com ações e estratégias que devem ser conjuntamente incentivas. Dois lados,
proteção de fontes e uso de potencialidades, a serem integrados em planejamentos
e gerenciamentos, ainda que metodológica e operacionalmente tenham fontes de
recursos e ações administrativas diferentes. Contudo, tais ações e estratégias
conjuntas e harmonizadas devem compor um plano regional de combate à
desertificação e convívio com a seca, conforme um dos passos acima indicados.
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Os passos recomendados apresentam alguns elementos apresentados, de fome


resumida, na Figura 1, com considerações importantes, das quis se destacam,
neste boletim, umas poucas.

O problema; não se trata apenas de identificar, - no sentido de descrição


mediante um conjunto de caracteres para distinguir fatores contribuintes à
desertificação, mas principalmente de entender, com o máximo de detalhes
causais e de seus efeitos, aquilo que se define e delimita como problema em
contextos físicos, culturais, socioeconômicos e institucionais – legais, entre
outros, de uma região vulnerável à desertificação, considerando-se aspectos dessas
dimensões e inter-relações na definição do problema.

A definição do problema implica caracterizar esse conjunto de fatores em


termos espaciais e temporais, com indicações, tais como, entre outras: intensidade,
recorrência, gravidade e setores – agentes afetados; com indicações descritivas e
quantitativas (neste boletim são omitidas essas indicações).

É avaliar esses fatores, na definição de desertificação, conforme determinadas


referências consistentes e aplicáveis na região e ordená-los em escalas
operacionais. Compreende atividades para hierarquizar esses fatores com
indicadores da importância (gravidade) relativa; dos setores-agentes afetados; da
extensão ou cobertura; e da complexidade de cada fator-causal na definição do
problema.

É analisar as possíveis formas de relacionamentos (inter-relacionamentos)


entre as causas, às vezes, de forma complementar, - uma causa complementa ou é
complementada por outra(s); em outras, com sinergismos (…) para estabelecer
estratégias e definir ações de combate.

Parte do conhecimento acerca da importância e de interações,


interdependências (...) entre fatores causais do problema acena para:
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

AÇÕES

Elaborar e implementar um programa de ação


nacional de combate à desertificação, com a
OBJETIVOS participação da população e de comunidades
Combater a desertificação (...), com parcerias, cooperações e
e os efeitos da seca, em coordenações.
abordagens consistentes Um programa com flexibilidade para se
com a Agenda 21 ajustar às mudanças, com ênfase em
medidas preventivas e com possibilidades
de revisões periódicas.

PROBLEMA
Identificar fatores contri-
buintes * à desertificação COMBATE À
e definir-especificar DESERTIFICAÇÃO E AOS
obrigações ** dos EFEITOS DE SECAS
envolvidos (…).

RECOMENDA
Recomenda a criação de
ABORDAGEM
sistemas de alerta precoce
e a preparação da Integrada [sistêmica], considerando
sociedade com planos de aspectos físicos, biológicos e
contingências para lidar socioeconômicos do problema para
com a seca. acenar nas ações de solução.
Inclusão do fortalecimento Associando suas estratégias de erradicação
de sistemas como o de da pobreza * com os esforços de combater
segurança alimentar. a desertificação ** e mitigar os efeitos da
seca.

Figura 1 Elementos de um plano de combate à desertificação indicados pela Convenção (...)


Fonte: Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008).
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 definir ou especificar obrigações de afetados, como as de desenvolverem


e/ou adotarem medidas preventivas, ações de controle e práticas de manejo;

 buscar soluções, considerando, por um lado, desejabilidades e


possibilidades de adoção do cliente e, pelo outro, exeqüibilidades de
financiar, gerar / adequar e disponibilizar / difundir essas soluções: são
lados a serem harmonizados; e buscar formas de planejar e gerir os meios e
estratégias integradas entre os setores público e privado; e

 aplicar, por parte dos interessados, as soluções conforme recomendações


pertinentes.

Na parte de abordagem se destacam, na Figura 1: a erradicação da pobreza


extrema e da fome, em populações vitimadas pela desertificação e secas, até 2015,
como metas de desenvolvimento acordadas em níveis internacionais. São acordos
com escassos ou nulos avanços, quando observados os resultados com pouca (ou
nenhuma) efetividade nesse combate.

Tal ineficiência e ineficácia em tratamentos e resultados nos alvos afetados por


esse fenômeno são devidas, em parte (em nível macroeconômica) à falta de
coordenação e de objetividade-coerência de ações e estratégias entre nações ricas
– desenvolvidas e nações pobres – em desenvolvimento e, em nível regional e
operacional, à pouca efetividade de resultados entre o que se propõe em nível
centralizado, realiza com critica objetividade e efetivamente se alcança com as
“pretendidas” soluções.

Tal vez exista uma visão (a sistêmica), uma intenção (a de ajudar), nessa
abordagem, por parte de uns e uma grande expectativa em outros, mas, os que
podem financiar e propor, consultando às comunidades, não tem feito o necessário
(não apenas pela omissão da consulta e participação efetiva da comunidade nesse
combate) para implementar as ações e estratégias e convertê-las em resultados:
soluções do problema com efetividade. Mas, tanto países ricos e desenvolvidos
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Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

(os que podem financiar esse combate) como países em desenvolvimento (que
esperam soluções) são, com comprometimentos variáveis, responsáveis pela
pouca efetividade de integração de aspectos físicos (abióticos), biológicos e
socioeconômicos do problema da desertificação para acenar, em abordagens
sistêmicas, na busca e implementação de soluções consistentes.

Os esforços do combate à desertificação e de mitigação – convívio com a seca


tem-se orientado de forma desarticulada e inclusive sem o suficiente
conhecimento do problema, conforme se destaca neste boletim, que deveria
acenar para a sua solução mediante a escolha de meios, conforme se depreendo do
Fórum de Cooperação para o Desenvolvimento (DCF).

Nesse Fórum, mencionaram-se deficiências como na integração de fatores da


divisão do trabalho para setores específicos; na gestão sem alicerce; e nos
obstáculos para a concessão de ajuda, entre outras carências.

Segundo o Secretario – Geral da ONU, Ban Ki-moon, “a ajuda nem sempre


tem sido destinada a quem mais precisa: razões políticas ou militares (…); alguns
países gozam de atenção da comunidade internacional, enquanto para outros fica
difícil atrair fundos (…); a ajuda tem ficada atada a requisitos que afetam a
autonomia nacional, levam a distorção na destinação de recursos, têm resultados
pobres na melhora do desempenho econômico (…)”. “Acrescenta-se o fato de
existirem tendências preocupantes como as de aumento dos preços dos alimentos
e dos combustíveis e a crise financeira que se relacionam à perda de recursos da
terra”.

Na abordagem para o combate à desertificação e aos efeitos das secas,


destacam-se, também (Figura 1), deficiências (não-adequações, simplismos,
omissões de modernas metodologias etc.) de procedimentos e instrumentos, de
técnicas e métodos (…) para definir o problema da desertificação em contextos
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como os de cenário, prospectivos, de integração, de risco, de dinâmicas próprias


de ambientes e fatores (…). São aspectos importantes que uma proposta de um
plano de combate deve considerar em um contexto de desenvolvimento
sustentável.

Os problemas da desertificação de solos e suas propostas de solução já eram,


em função de interesses de setores e países ricos, aparentemente secundários ou de
pouca motivação, para os países desenvolvidos, buscar soluções, passando a
planos inferiores com a magnitude da crise financeira, - da crise no mercado de
crédito, decorrência da crise imobiliária dos Estados Unidos da América, a partir
de 2005/8. Uma crise que, apesar de aumentos de preços dos alimentos, da
intensificação de riscos de áreas degradadas, de desastres ambientais (...) ofuscou
o problema da desertificação e parece ter adiado a busca de soluções e de
convivência com as secas, em função das dificuldades de financiamento dessas
ações.

2 Conceitos
O conceito, como entidade abstrata (do pensamento, da comunicação e do
conhecimento) para designar uma categoria, um evento e/ou uma relação de
variáveis em uma proposição, ainda que eventualmente seja provisório e tenha
certo enfoque ou viés conforme interesses e posições de determinados atores, - os
dominantes em uma região ou uma situação, facilita o entendimento pela concisão
e clareza do texto uniformizado sobre uma base conceitual explícita.

Daí a importância e a necessidade de se mencionar o conceito em qualquer


documento seja ele um boletim técnico simplista ou um instrumento legal
complexo, um projeto local em escala microrregional ou um programa
supraministerial em nível macroeconômico.
21

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

2.1 Desertificação
Processo de degradação e/ou de perda da capacidade do potencial produtivo de
ecossistemas em regiões ou zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas; um
processo que resulta de vários fatores agindo isolada ou, com frequência,
simultaneamente, incluindo, entre outras, as variações bioclimáticas e as
atividades humanas que potencializam ou intensificam essas variações; isto,
porque, devido às condições ambientais dessas zonas, ultrapassam a capacidade
de suporte e de sustentabilidade.

São atividades humanas com impactos negativos sobre o meio ambiente,


desenvolvidas nessas zonas, em geral, de ecossistemas frágeis e com limitadas
capacidades de regeneração – recuperação e de disponibilidades de bens e
serviços ambientais excedentes para as atividades humanas.

Correspondem às atividades extrativistas e agrícolas - pecuárias, entre outros,


que aceleram processos como os de erosão geológica (desertização); alteram
significativamente a paisagens; e favorecem mudanças de ambientes bióticos
equilibrados com determinadas riquezas naturais como é a Caatinga, para
ambientes abióticos dominantes empobrecidos e sem água, como são os núcleos
de desertificação com determinadas características geoclimáticas e ecológicas
(Tabela 2).

É preciso, no combate à desertificação com objetividade do que deve e pode


ser feito em cada região, disposição para fazer o que é necessário e decisão, –
vontade política, com recursos suficientes, para romper ciclos ao agir nos fatores
controláveis (atividades humanas) que provocam a degradação e podem acelerar
as variações bioclimáticas.
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A taxa de degradação, na trilha da


desertificação ilustrada na figura ao lado e
na Figura 17, pode ser eliminada ou
reduzida em níveis e riscos toleráveis (pelo
meio ambiente, pela comunidade etc.),
mediante práticas integradas de manejo e Área não-degradada; Jaguaribara (CE)

tecnologias apropriadas de conservação.

TRILHA
Degradação
Práticas e tecnologias que possam
substituir, com vantagens para o produtor e
sem destruir o meio, usos e manejo
inadequados. Com períodos suficientes
para a recomposição (pousio: descanso às
terras cultivadas) de fontes, reservas e
Área degradada; erosão laminar; Jaguaribara (CE)
ciclos; com práticas e tecnologias
adequadas às condições físicas, socioculturais e econômicas de uma região,
conforme se indica, em termos gerais, neste boletim.

O conceito desertificação surgiu, no final da década de 40, século XX, para


identificar áreas que ficavam parecidas com desertos: um problema grave
associado com outros não menos graves, com inter-relacionamentos aceitos pela
comunidade científica, tais como: desertificação ←∩ / ∞ → 2
perda da
diversidade biológica ←∩ / ∞ → mudanças climáticas ⇒ passivo ambiental.

Por conveniências de setores e países e pelas implicações impostas pela


internalização de passivos ambientais nas fontes responsáveis, - aquelas que
provocaram essas perdas, ao não assumirem os custos da desertificação, têm sido

2
Os símbolos interpretam todas as possíveis relações entre componentes, tais como: “a” →”b”, da
causa “a” para o efeito “b”; “a” ←”b”, do efeito “b” para a causa “c”; “c” ∩ ”d”, o fator “c”
integrado ao fator”d”; “c” ∞ ”d”, para indicar proporcionalidade direta entre o fator “c” e o fator
“d”; e ⇒ para indicar um resultado final.
23

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

considerados relacionamentos complexos questionáveis e até rejeitados em seus


fundamentos, à despeito das evidências dos efeitos e desses passivos. São atores,
os que degradam, poluem (…) que não acatam o comprometimento com ações e
metas que possam reduzir/eliminar causas de mudanças climáticas, de
desflorestamentos, de perdas da biodiversidade e da desertificação.

A Figura 2 indica relações entre três grandes problemas ambientais


contemporâneos, com poucos exemplos de ciclos, destacando-se, para o caso
considerado neste boletim, a desertificação: erosão→redução etc. Nessa Figura, a
degradação dos solos é um dos aspectos focais que se discute neste boletim por
causa da relação direta com a missão e objetivos do MAPA, com o
desenvolvimento do agronegócio em um contexto amplo de manejo e conservação
dos recursos da terra. Mas, a degradação do solo é, também, um assunto
relacionado com outros problemas não menos graves, uma vez que tal
deterioração é responsável, em mais de 30%, pela emissão de gases do “efeito
estufa”: as perdas de biomassa e matéria orgânica liberam carbono na atmosfera;
tem implicações para a redução e a adaptação às mudanças climáticas e, como
efeito direto, implicações com perdas na biodiversidade.

O semiárido pode ser considerado uma das regiões mais vulneráveis à


desertificação do Brasil que, sob o aspecto social, o aquecimento global pode
resultar em acentuada redução da pluviosidade média, com efeitos na vegetação
típica da caatinga, substituída, provavelmente, por vegetação de regiões áridas.

O aquecimento global pode, também, inviabilizar a agricultura familiar e de


subsistência; aumentar a emigração humana; e até reduzir o volume de água do rio
São Francisco, com possíveis implicações em projetos como o da Transposição
desse rio, no contexto do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias
Hidrográficas do Nordeste Septentrional.
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Desertificação

Reduções da produção primária Reduções de plantas


e de ciclos de nutrientes e da diversidade de
organismos do solo
Redução do sequestro
de carbono em (…) Erosão do solo Redução da
conservação do solo

Aumentos de
eventos extremos: Reduções da diversidade
secas, enchentes etc. Reduções de reservas de Perdas de nutrientes e na estrutura de coberturas
carbono e aumentos de da umidade do solo vegetais e nos micro-
emissões de CO2 organismos do solo

Mudança Perda da
climática biodiversidade

Aumento – redução Mudança na estrutura e


de espécies como (…) na diversidade como (...)

Figura 2 Relações entre desertificação (fenômeno local), mudança climática (fenômeno


global) e perda - degradação da biodiversidade (processo local, regional e global)
Fonte: Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008)

São possíveis e, por vezes prováveis, implicações do aquecimento global, em


mudanças significativas no mapa da agricultura com migrações para regiões de
melhores condições climáticas e, ainda assim, reduções em produções agrícola-
pecuárias. Com perdas na disponibilidade de água, além de outros efeitos como os
de elevação do nível do mar, migração forçada, tempestades mais intensas, secas,
25

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

enchentes, extinções, incêndios florestais, epidemias, destruição de lavouras e


fome.

Em termos gerais, os processos de desertificação e os planos de combate são


complexos e compreendem múltiplas dimensões não apenas de conhecimentos
técnico – científicos do meio ambiente (físico, químico e biológico) que os
explicam para uma determinada região, mas conhecimentos sociais, econômicos,
culturais, históricos, institucionais e da administração de recursos dessa região.

A desertificação e seu combate compreendem, também, informações como as


de planejamento e gestão, no passado (políticas, legislações, planos etc.) que
eventualmente poderão auxiliar novas formas ou abordagens de planejamentos
estratégicos e de gestões integradas na organização (zoneamento, planejamento e
gestão) de territórios. Destacam-se, nessa organização, informações de estruturas
como as fundiárias, de posse e de arranjos agricultor – capital. São lições e
experiências que podem ser úteis e valiosas na formulação de novos planos de
combate à desertificação e de convívio com a seca, auxiliando-os, além de
legitima-os quando se resgata e valoriza esse saber.

Nesses novos planos se destacam, entre outras, as tecnologias de sistemas de


informações georeferenciadas, com suas bases de dados consistidas e sintetizáveis
em indicadores para auxiliar a tomada de decisões. São informações que suprem
abordagens, tais como:

a) A sistêmica; um plano de combate à desertificação em regiões áridas,


semiáridas e subúmidas secas, elaborado a partir de causas e condições de
cada situação específica, em cada região, deve considerar as características
do ecossistema, de sistemas socioculturais e econômicos e da história-
evolução de usos e manejo dos recursos da terra nessa região. Deve recorrer
à história ambiental para compreender o quanto que os problemas foram
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construídos e como o processo de ocupação socioeconômica e cultural


impactou a capacidade de resiliência. Nessas considerações o destaque é de
sistemas naturais, socioculturais, econômicos, entre outros, devidamente
articulados. Nesse contexto, não existe ecossistema frágil, vulnerável,
resistente ou forte, baixo (…), mas formas de organização natural mantidas
pela dinâmica de relações recursivas. Conhecê-las é condição necessária
para o manejo.

b) A dinâmica; tanto a desertificação como o plano de combate pode evoluir e


apresentar dinâmicas que devem ser consideradas no manejo e conservação
desses ambientes.

c) A simulação; alguns aspectos, elementos, informações do plano são


considerados sob supostas condições e simplificações de simulações.

d) O risco; na elaboração de cenários surgem elementos de incertezas que


podem ser reduzidos e considerados de riscos em diagnósticos integrados e
prospectivas estratégicas de cenários.

Nos planos de combate à desertificação, destacam-se, também, as informações


de saberes tradicionais, de práticas de uso e manejo dos recursos naturais nesses
ecossistemas frágeis. São lições e experiências de comunidades no convívio com a
seca que poderão potencializar as informações técnico-científicas em
conhecimentos legitimáveis desse combate.

No boletim se destaca a complexidade da própria definição de desertificação,


pressupondo-se indispensável se ter uma acepção, ainda que provisória, porém a
mais completa possível em determinado momento, para começar a se definir
ações e estratégia desse combate e convívio com a seca. Novas informações, no
transcurso desse processo de controle, deverão ampliar o escopo de planos e
melhor direcionar atividades que, para o caso considerado neste boletim,
27

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

apresentam notável viés para as ações de manejo – conservação no âmbito do


Mapa.

A melhor definição, - com a caracterização e delimitação de problemas,


facilita esse combate pelas estratégias mais consistentes e pela objetividade –
direcionamento de ações.

2.2 Combate à desertificação


A desertificação é um inimigo fortalecido e/ou com suas causas naturais como
as de mudanças climáticas, - o aquecimento global, possivelmente
potencializadas, essas mudanças, por ações e intervenções imprevidentes do
homem. Um inimigo, que é preciso conhecê-lo na região por suas causas e efeitos
para equacioná-lo em planos, políticas públicas, atividades conjuntas público-
privadas de controle, ações e estratégias nacionais – internacionais direcionadas
para esse combate.

Combater a degradação de recursos da terra, com certa efetividade nos


resultados, pressupõe conhecer as causas desse processo que se manifestam, ao
final, com a desertificação. Parte desse combate significa evitar – minimizar, em
níveis toleráveis, os fatores, condições e atitudes que a estimulam, provocam ou
aceleram.

Esse combate tem sido para a agricultura sustentável, um tema recorrente


tanto na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação como em
outras convenções, agendas, planos e proposições em vários níveis.

Um tema em destaque que, a partir de 2007/08, motivou novas preocupações


pelas relações diretas com a produção de alimentos, em setores significativos da
população, e de fontes biorenováveis de energia passando a se constituir um
problema ambiental, social e econômico nacional e global.
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Quais são as causas da desertificação? As manifestações dessas causas, em


níveis variáveis de região para região, podem ser sintetizadas como segue
(complementa o quadro):

a) os intensos desmatamentos indiscriminados e feitos sem critérios técnicos


em áreas frágeis; práticas de queimadas constantes; e ocupação desordenada
do solo: redução e/ou extinção da vegetação, uma das manifestações do
empobrecimento do solo e do favorecimento da erosão;

b) a utilização de tecnologias agropecuárias inadequadas para as condições do


semiárido e uso abusivo na aplicação de agrotóxicos e praticas de irrigação
que poluem fontes de água e provocam salinizações nos solos;

c) as práticas tradicionais de uso e manejo inadequados dos recursos solo, água


e vegetação; são, com frequência, práticas associadas a um sistema de
propriedade da terra concentrador de benefícios e com arranjos produtivos
de externalidades negativas, agravados pela existência de secas periódicas;

d) a exploração intensiva (sobrepastoreio e cultivo excessivo), muito além da


capacidade de suporte ambiental em áreas de equilíbrios “consideradas”
frágeis e instáveis (na abordagem de sistema não se tem essas
considerações;

e) a mineração sem cuidados adequados com o meio ambiente durante a


exploração desses recursos naturais.
29

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Coloca-se em destaque, na relação de causas da desertificação, o escasso


conhecimento do valor “real” Pontos para reflexão no combate à desertificação:
desses recursos e da Foco: o ser humano, as comunidades em seus meios, com
as suas culturas, perspectivas, possibilidades (…).
necessidade, não reconhecida, O progresso, com objetividade no foco, depende de:
de proteger as fontes como - A implementação de programas de ação regional (...).

condição necessária para se ter - A necessidade de cooperação internacional e parceria.


- A participação plena: mulher e homem em ações.
um fluxo produtivo objeto de
- O imprescindível engajamento da comunidade.
manejo e conservação. As condições necessárias objetos de atendimentos são:
- Conhecer o problema por suas causas, efeitos (…).
Essa negligencia (descuido
- Ordenar / priorizar as causas com base em indicado-
ou prática tradicional “aceita” res, critérios, diretrizes, objetivos (...).
- Relacionar e avaliar as causas em lógicas estruturas.
de não preservação nem
- Alocar recursos suficientes e com objetividade.
proteção das fontes naturais de
- Encorajar a participação: motivar, conscientizar (...)
recursos) é comum em modelos Papel da P&D no combate à desertificação:

de crescimentos regionais - Melhorar o conhecimento do problema e os meios (...).


- Atender objetivos e metas conforme diretrizes (…).
imediatistas com base em
- Projetar/integrar/valorizar os saberes novo e tradicional
padrões economicistas. - Fortalecer a P&D para esse combate, com direção.
- Definir relações: pobreza– migração–desertificação.
Destaque, também, para as
- Agir, com objetividade, em redes, parcerias (…).
concentrações de populações,
EDUCAR PARA PREVENIR, TREINAR PARA
com freqüência superior à AGIR NA CONSERVAÇÃO E MANEJO
INTEGRADO (...) PARA O COMBATE.
capacidade de carga do
ambiente que ocupam.

O combate à desertificação (ver quadro ao lado: pontos de reflexão no


combate à desertificação) precisa, com suficiente antecedência, do entendimento
profundo, além de simples ”leituras” de manifestações de fenômenos naturais.

Precisa de um conhecimento necessário para fundamentar atividades que


devem fazer parte do aproveitamento racional, sustentável e integrado desses
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ambientes e recursos das zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, em


ecossistemas tidos (por causa da falta de informações desses sistemas) como
frágeis e de limitada capacidade de sustentação e regeneração - recuperação.

Precisa do entendimento e conhecimento de relações, tais como dos solos


rasos e de rochas aflorantes; da existência de aquíferos e de suas características;
de tipos de recargas; de “normais” como as de temperatura, evaporação e
precipitação pluviométrica; de aspectos socioculturais e econômicos, históricos de
políticas públicas, de planejamentos e de gestões, entre outros, devem ser
considerados, em abordagens sistêmicas, nesse combate.

É com base nesse entendimento e no conhecimento necessário do valor


econômico, social e estratégico dessas zonas e de seus serviços ambientais que se
definem, em grande parte, estratégias e atividades orientadas para o
desenvolvimento sustentável dessas zonas.

Valorizar esses ambientes significa conhecê-los para apreciá-los e com base


nessa avaliação valorativa, conservá-los, tendo como objetivos: a prevenção e/ou
redução da degradação; a reabilitação de terras parcialmente degradadas; e a
recuperação de terras degradadas, entre outras importantes atividades. Observe-se
o papel do Mapa, nessas atividades, a ser fortalecido para direcionar e ampliar o
atendimento.

Aliado ou concomitante com esse combate se tem a mitigação dos efeitos da


seca para auxiliar às comunidades no convívio com ela, não por pretendidos e/o
frustrados controles diretos desse fenômeno natural, mas mediante ações que
impeçam seu agravamento ao preservarem equilíbrios ecológicos, matas ciliares
preservadas e fontes de água conservadas, entre outras. Ações que permitam
“melhor” reconhecer e gerenciar esse fenômeno, inclusive com possível potencial
de oportunidades de fontes alternativas de energia. Ações que possibilitem
amenizar seus efeitos, tornando-os toleráveis, como é o caso da previsão da seca,
31

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

dirigida à redução da vulnerabilidade de comunidades não mais surpreendidas


pelo fenômeno.

Pela avaliação de previsões de secas com a máxima confiabilidade possível e


decorrente implantação de ações (p.ex., emergenciais, transitórias e permanentes,
segundo seja o caso) e seus monitoramentos oportunos é possível, em tese,
minimizar danos de “secas anunciáveis”.

Gerar e divulgar informações previsionais sobre as características de secas,


formas de proteção em cada período do ano, mudanças de comportamento das
comunidades, alternativas de produção e consumo, entre outras, estarão
contribuindo para o convívio com a seca.

No combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca são


valiosas e imprescindíveis as contribuições possíveis e esperadas do MAPA ao
buscar delinear e desenvolver atividades nessa luta: atividades como as de
pesquisa – extensão para inovações adequadas à cultura e saber tradicional de
comunidades afetadas pela desertificação; estratégias como as de parcerias que
possam potencializar o resultado tecnológico nesse combate, desse convívio.

O combate à desertificação, para que seja eficiente deve ter objetividade em


seu foco, consistência das ações desenvolvidas e efetividade nos resultados,
estratégias, parcerias de seus planos no alvo. Isso significa:

a) Definir as vulnerabilidades das zonas relacionadas com as práticas agrícolas


de uso e manejo dos recursos naturais; conhecer a fraca capacidade de
reorganizar a estrutura produtiva nesses ambientes.

Trata-se de um conhecimento básico para desenvolver ações de conservação


com relações simbióticas com as previsões / prognósticos do clima, com a
recomposição de sistemas hídricos e com a proteção da diversidade
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biológica, conforme se sintetiza no quadro de reflexão para o combate à


desertificação.

b) Entender, pelas análises de causas a lógica–racionalidade de ações e os


padrões de pressões da agricultura e pecuária extensiva, da exploração
madeireira e com fins energéticos, da erosão dos solos, da concentração de
recursos como terra e hídricos por distorções estruturais como as de posse e
de arranjos capital–trabalho sobre o meio ambiente e seus recursos.

É um entendimento básico para formular um plano de combate à


desertificação que poderá esclarecer, entre outros, os fatores que favorecem
o desmatamento da vegetação nativa. Em tese, são incentivos econômicos
quando se omitem os valores de bens e serviços ambientais dessa vegetação,
da diversidade biológica do bioma Caatinga. A explicação da falta de opções
econômicas para substituir os “benefícios” de derrubar-queimar poderá
acenar para a pesquisa buscar alternativas em contextos como os da proteção
dessas fontes em cenários com base em novos fundamentos de políticas e
legislações.

A vegetação desempenha importante papel no equilíbrio da água no solo ao


permitir que parte da chuva se infiltre através das raízes para a recarga do
lençol freático, além de se constituir proteção natural contra a erosão. Parte
dessa função está compreendida pelo manejo florestal na conservação do
solo. Evidenciar a importância das funções da vegetação e atribuir valor às
mesmas, faz parte de um plano de educação e de manejo e conservação em
que o Mapa pode contribuir.

A queimada que segue ao desmatamento é uma prática rudimentar e


tradicional que o agricultor utiliza para controlar pragas, limpar áreas para o
plantio e renovar pastagens, entre outras. Uma prática que tem sustentação
no economicismo e em modelos regionais imediatistas. Com as sucessivas
33

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

queimadas se tem a degradação física, química e biológica do solo, as perdas


de biodiversidade e da dinâmica do ecossistema, o favorecimento à erosão,
além de outros efeitos negativos como incêndios. Evidenciar esses efeitos
faz parte da educação, manejo e conservação em que o Mapa pode
contribuir.

c) Compreender efeitos negativos de sobreutilizações de ambientes e recursos


naturais; da salinização que decorre da irrigação de terras para fins de
exploração agrícola; de perdas da diversidade biológica pelos usos e manejos
impróprios desses recursos. Essa compreensão deve, quanto possível, estar
baseada em indicadores e estimativas econômicas.

d) Avaliar os fatores causais e suas inter-relações, naturais e antrópicas, que


provocam a erosão de solos; as perdas acentuadas de produtividade agrícola e
pecuária; e, como impactos, os problemas de desnutrição, fome e doenças nas
comunidades afetadas, em perversos ciclos.

Análises de inter-relações de variáveis causais, de ordenamentos e de


importâncias relativas dessas variáveis são importantes elementos de gestão e
tomada de decisão para orientar estratégias e ações em condições de
limitações de recursos financeiros. Importantes elementos para especificações
de atribuições e complementações de resultados de diversos órgãos em um
plano de combate à desertificação e convívio com a seca multi-institucional.

O entendimento, com base em resultados dessas análises, poderá apontar e/ou


destacar fatores aparentemente sem importância, mas que complementam ou
potencializam efeitos de outros fatores causais e, portanto, precisam de
tratamentos conjuntos, em planos e estratégias de combate.
34

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e) Reconhecer as deficiências de dados e informações com qualidade, valor e


utilidade para o planejamento, a gestão e a tomada de decisões, para
completar uma base de informações.

Reconhecer, também, as fragilidades institucionais, pela função ou missão


institucional nesse combate, para indicar formas e meios de fortalecimento
dessas instituições.

Definir, entender, compreender, avaliar e reconhecer (...) são fases de um


processo de combate com origem no conceito de desertificação capaz de acenar e
se constituir ponto de partida para:

a) Estabelecer os objetivos e metas desse combate: prevenção e/ou redução da


degradação das terras; reabilitação de terras parcialmente degradadas;
recuperação de terras degradadas, etc.

b) Testar / validar e escolher os procedimentos metodológicos necessários na


obtenção, tratamento e difusão de dados, informações e tecnologias
necessárias para esse combate e convívio.

c) Estimar os indicadores de síntese de dados e informações, úteis e valiosas,


para a gestão ambiental, para a educação da conservação e manejo integrado
solo – água - vegetação na região.

d) Orientar o atendimento às demandas por soluções conforme indicações do


problema, dos objetivos propostas, dos recursos alocados, da gestão e dos
resultados propostos e esperados.

e) Definir procedimentos como os de acompanhamento (monitoramento),


avaliação e (re)orientações, se for o caso, nesse combate e convívio.

Para o Mapa é imprescindível o entendimento do problema na sua atuação


que se planeja, desenvolve e dirige para estimular o aumento da produção
agropecuária e o desenvolvimento do agronegócio em bases sustentáveis; e para
35

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

atender o consumo interno e formar excedentes competitivos exportáveis, porque


atendem requisitos de qualidade, segurança e competitividade. Parte desses
requisitos está no cuidado com o meio ambiente, na sua proteção que se traduz em
amparo de fontes produtivas.

São objetivos, consistentes com a missão do Mapa, que tem como


consequência a geração de emprego e renda, a promoção da segurança alimentar,
a inclusão social e a redução de desigualdades sociais: aspectos notáveis no
semiárido que precisam melhorias e que tornam indispensáveis as contribuições
do Mapa, se fortalecido e direcionado para esse atendimento.

Para cumprir essa missão, o Mapa formula e executa políticas, integrando


aspectos metodológicos, tecnológico-científicos, organizacionais e ambientais ao
gerar / adaptar e difundir / disponibilizar soluções tecnológicas para tratar ou para
contribuir na solução de problemas sociais como os de segurança alimentar e
desnutrição. Essa missão coloca em relevo cuidar de ambientes e recursos da terra
relativamente frágeis degradáveis.

2.3 Degradação de recursos da terra


São perdas ou reduções significativas de produtividades ou produções
econômicas e ou biológicas de um ecossistema, como as que ocorrem nos solos,
nos recursos hídricos com desperdícios e poluição e na vegetação, com efeitos na
redução da qualidade de vida de comunidades vulneráveis e dependentes de
recursos desses ecossistemas.

As terras secas podem ser consideradas, em geral, ecossistemas frágeis,


vulneráveis de zonas áridas, semiárias e subúmidas secas, delimitadas conforme o
índice de aridez (Chuva / Evaporação + transpiração ou evapotranspiração
potencial) na classificação climática de Thorthwaite, com valores, variações de
intervalos e terras afetadas, em milhares de km2, apresentados na Tabela 1.
36

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Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas pela desertificação nos continentes.
AMER. AMER.
CLIMA ÍNDICE ÁFRICA ÁSIA AUSTRÁLIA EUROPA
NORTE SUL
Hiperárido < 0,05 6.720 2.770 0 0 30 260

Árido 0,05 ≤ 0,20 5.040 6.260 3.030 110 820 450

Semiárido 0,21 ≤ 0,50 5.140 6.930 3.090 1.050 4.190 2.650

Subúmido
0,21 ≤ 0,65 2.690 3.530 510 1.840 2.320 2.070
Seco

Subúmido e
>0,65 - - - - - -
úmido

TOTAL - 19.590 19.490 6.630 3.000 7.360 5.430


Fonte. Atlas Mundial Times, 1995.

São vários ciclos compreendidos na degradação dos recursos da terra, alguns


deles ilustrados no gráfico que segue. Ciclos e processos em forma de espiral e/ou
com efeitos em cascata que levam aos desequilíbrios, por causas do aquecimento
global, à danificação da camada de
Migração…
Fome,

ozônio, à desertificação de solos, às Queda Prod. Agrícola (...)


perda da biodiversidade (...), sendo
Desequilíbrio ciclo água
necessário conhecê-los e determinar
em que fase e como proceder para Perda fertilidade solo
provocar a ruptura de ciclos.
Degradação da terra:
- ambientes abiótico e biótico
Em geral, as rupturas de ciclos, - recursos naturais: água,
solo, vegetação (...); perda de
processos espirais ou efeitos em bem-estar de comunidades
Usos-manejos inadequados

cascata de, p.ex., no meio rural:


Tecnologias inapropriadas

Degradação
Sobre-utilizações (...)

miséria – dependência - miséria que,


Perda - degradação da
pela emigração leva para o meio biodiversidade (...)

urbano: desemprego – miséria -


Degradação
precariedade serviços básicos –
marginalidade -miséria-desemprego Mudança climática

podem ser provocadas em vários


37

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

elos e por várias formas e/ou órgãos, uma deles o Mapa, com suas ações e
resultados esperados de conservação na agricultura sustentável

Pressões como as de altas dos preços dos alimentos e dos combustíveis, apesar de
serem temporariamente mitigáveis pelas novas possibilidades tecnológicas no
aumento da produção agrícola e de fontes bio-renováveis de energia, poderão não
ser suficientes para deter a degradação da terra. Isso poderá acontecer, se tais
aumentos não forem devidamente sustentáveis em bases técnicas e operacionais,
entre outras, como as de conservação e manejo integrado capaz de romper elos de
estruturas–cadeias que levam à insegurança alimentar, à alta de preços desses
bens, à fome, à migração rural-urbana.

A degradação dos recursos da terra se relaciona com diversos ciclos, alguns


ilustrados no gráfico ao lado, que é preciso entender suas lógicas para, em
seguida, procurar rompê-los ao atacar suas causas e fatores de propulsão.

2.4 Desenvolvimento sustentável (D∩S)


Conceito fundamental e necessária referência em todas as fases de um plano
de combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca. Referência para,
no início, definir o problema, e, ao final, aplicar soluções, prévias as
especificações de objetivos - metas, de meios - recursos, de estratégias e
desenvolução de atividades que permitam alcançar as soluções.

O conceito surgiu em 1987, no Relatório Brundtland. É considerado, neste


boletim, de forma simples e operacional, como uma referência para um
determinado espaço e para um conjunto de fatores físicos, socioculturais,
econômicos, institucionais (…) e de condições e atitudes como vontade-
disposição à discussão, ao entendimento e ao acordo entre todos os interessados,
com agendas a implementar, nesse espaço, conforme se indica no quadro a seguir.
38

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Nessa formulação se tem


pressupostos e implicações nem O desenvolvimento sustentável
(D∩S) pode ser definido como
sempre facilmente aceitos, Um processo de aproximações, de
verificáveis e atingíveis, tais negociações e de confluências de interesses,
capaz de compreender, de forma integrada
como o da abertura e disposição (porque resulta de transações e acordos),
articulada (porque a todos convém a
de todos para o diálogo de partes participação) e transparente (pela
legitimidade do acordo na participação e
diferentes em seus objetivos e discussão) várias dimensões. São dimensões
como a econômica (p.ex., na produção e
meios; a decisão e disposição consumo sustentáveis na região),
por todos para acordos numa sociocultural (p.ex., na distribuição de bens e
benefícios com equidade), ambiental (p.ex.,
agenda aceitável em cada fase e quando o econômico e social consultam e
respeitam a capacidade de suporte do meio
contínuos progressos e na região). Com suporte técnico-científico e
operacional (baseado na racionalidade de
melhorias de resultados no critérios ou padrões adequados à realidade
para proteger, produzir, consumir, reciclar
horizonte de longo prazo. Não se etc.) e base ética (pela transversalidade
trata de um modelo nem de algo dessas dimensões) na construção do bem-
estar de presentes e futuras gerações. Dessa
que possa ser aplicado de forma, o conceito D∩S não permite posições
intransigentes, egoístas e o predomínio de
qualquer forma e para qualquer interesses de grupos; por outro lado exige;
legislação e planos políticos no concerto
situação, mas de um processo dessas dimensões.
com identidade da região que
deve ser construído pelos atores da mesma com base em planos políticos e
legislações propiciadores da desenvolução nessa região.

O conceito original de desenvolvimento sustentável tem sido utilizado, com


frequência, de forma exagerada, com viés e, por vezes, com interpretações
erradas, discriminadas e banalizadas que o tornam, nessas vezes, “vazio”, sendo
objeto de críticas, tais como: incorreto, insustentável, utópico, inútil, artificioso,
capcioso (…). Um conceito contraditório em seus termos “desenvolvimento” →
fazer crescer no sentido econômico, de competição (concorrência) e “sustentável”
→ manter ou suportar, no sentido biológico como equilíbrio dinâmico de
cooperação, negando-se mutuamente. Um conceito com lógicas diferentes ao
39

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

aduzir como causa aquilo que é efeito; impreciso, incompossível e ambíguo,


possibilitando seu uso no discurso com objetivos e meios diferentes, p.ex., entre
países “desenvolvidos” e países “em desenvolvimento”, propício, portanto, “para
defender” interesses contrários à essência do D∩S sintetizado no quadro.

São críticas insustentáveis e/ou com parciais fundamentos e notáveis


exageros, propositadamente não-consideradas neste boletim, admitindo-se a
viabilidade de intenções da ECO-92 ao aceitá-lo como um processo que “atenda
às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações
futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”, sem colocar a equidade
intergeração por cima da equidade intra-geração, sem sobrevalorizar a capacidade
moralista para decidir nem subestimar a dinâmica que tornariam assimétricas as
situações intertemporais comparadas.

Nessa aceitação do processo, prévios acordos em arranjos que viabilizem


esse atendimento em nível de região, combina-se o crescimento de “fluxos”
possíveis (conservação e manejo de ambientes e recursos naturais, pelo aumento
criterioso da capacidade ambiental das fontes), com a preservação - proteção
“melhorada” desses “estoques”, de reservas e ciclos naturais com melhorias em
sua capacidade, em equilíbrios dinâmicos para atenderem às necessidades: fluxos
de bens e serviços devidamente reconhecidos, em seus valores reais, pelos
mercados.

O próprio reconhecimento do valor de bens e serviços ambientais pelo


mercado deverá contribuir para eliminar (ou reduzir) usos – consumos indevidos,
ecessivos ou superfluos (desperdícios), em benefícios de gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades. Referem-se a equilíbrios monitorados
que possam assegurar o atendimento às necessidades disciplinadas na “otimização
condicionada” às capacidades de suporte de uma “função objetiva” com
40

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limitações impostas pelas dimensões que ali se integram, conjudam e definem tais
otimizações.

A busca desse atendimento, facilitado pela educação, transita e se sustenta


em INDICADORES confiáveis, consistentes e úteis – aplicáveis, para comunicar
– informar, alertar– prognosticar (...) realidades de pelo menos três pilares ou
dimensões do D∩S, conforme se ilustra no gráfico que segue. Entenda-se que
pela disposição à negociação, ao acordo que se respeita e/ou imposição legal é
possível, ao disciplinar o crescimento econômico e internalizar passivos
ambientais em suas fontes, transferir parte dssese benefícios econômicos para as
dimensões social e meio ambiente – ecológica, com melhorias , - as indicadas
pelas correspondentes setas nessas dimensões, e retração “imposta” na dimensão
econômica, indicada pela correspondente seta nessa dimensão.

No “estado inicial” (triangulo em cinza) se tem uma relativa baixa


sustentabilidade ambiental e pouco desenvolvimento social, ambos canalizados
para a maximização e
Situação Melhorada
concentração de benefícios Negociação-acordo
0% Imposição-regulamentação
100% Gestão (Educação)
econômicos.

O exagerado
Econômica
Social
“disciplinamento” poderá se
Situação inicial
traduzir em preserva- Prejuízos sociais e
cionismo, sem considerar ambientais

potencialidades e possibili-
dades de extração de
excedentes no ecossistema,
100% 0%
excludente, portanto, do 10 %
0%
Ambiental
crescimento e de melhorias
sociais: uma forma de
41

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

desertificação antrópica. Mas o combate à desertificação com foco no ser humano


elimina essa possibilidade e destaca a conservação e manejo de recursos naturais
em perspectivas como as da agricultura sustentável, agricultura familiar e do
manejo dos recursos da terra

A “negocição” que alicerça o disciplinamento econômico e a transferência


de recursos dessa dimensão para as outras como indicado no gráfico ao lado
poderão evidenciar melhorias sociais; isto, porque a desertificação não é apenas
ambiental, mas, também, antrópica. Dessa forma considerada, a transferência de
benefí-cios econômicos ajudará beneficiará tanto o meio ambiente como o social,
entre outras dimensões (não consideradas no exercício simplista dessa ilustração)
com uma nova configuração indicada pelo triângulo traçejado. É importante
notar, nesse exercício de combate à desertificação, alguns condicionantes ou
situações que a favorecem, tais como (relação preliminar):

a) Ambiental: conscientização social, fruto da educação, da capacitação (...),


com relação à fragilidade de sistemas naturais (solos, água e flora – fauna) e
dos efeitos antrópicos de certas atividades (aquelas sem critérios técnicos
adequados à região) sobre esses sistemas, sem a polarização de visões
estreitas do economicismo nem a intransigência de percepções não menos
estreitas do preservacionismo.

b) Econômico: sensibilidade dos limites do potencial de cresci-mento, da


necessi-dade de disciplina-mento com base em indicadores da capa-cidade
de suporte ambiental, sem viés para a “quantidade” e o “ter” maximiza-dos
e concentrados.

c) Social: compreensão, envolvimento, participação, solidariedade e


consideração de valores, diversidades, saberes tradicionais e perspectivas da
soceidades no D∩S: foco na “qualidade” e o “ser”.
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Pelo exposto, pode-se concluir que o conceito D∩S e seu processo de


“implantação” em uma região não compreendem apenas problemas técnico-
científicos físicos, mas, também problemas político-institucionais com
desdobramentos legais, sociais e culturais que colocam múltiplos e, com
frequência, conflitantes interesses, objetivos, recursos e possibilidades, ainda para
situações específicas. É o caso do semiárido, com espaços geográficos diversos,
dentro de arranjos que refletem desigualdades e situações complexas de
acomodações como as de estrutura de posse de recursos da terra (um processo
histórico-cultural), para poucos e de exclusão e miséria para muitos.

Nesse conceito, criar novas oportunidades e as condições para que “todos”


sejam capazes de optar (para uns, “ceder”; responsabilidade social e para outros
“aceitar”, ambos como preços da sustentabilidade) e escolher os melhores
caminhos, evidencia fatores do combate à desertificação; vontade e decisão
política para perceber como agir com ecoeficiência; recursos necessários para
desenvolver com eficiência; orientações e diretrizes, entre outras de políticas
públicas, para solucionar conflitos com eficácia, tanto os que resultam de
violência explicita da marginalização, quanto de violência implícita que
discrimina; e planos políticos e leis de sustentação consistentes que deem o
suporte ao D∩S em uma região.

O documento original Combate à desertificação e mitigação – convívio com a


seca apresenta conceitos complementares e desdobramentos do conceito D∩S no
contexto da desertificação.

Outro conceito importante a considerar é o da convivência com a seca em


planos que considerem esse fenômeno natural da região e que permitam
minimizar, em níveis toleráveis, seus efeitos.
43

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

2.5 Plano de convivência com a seca


Há associações e equívocos entre os conceitos desertificação e seca que podem
confundir e até desorientar planejadores, tomadores de decisão e órgãos de
financiamento e desenvolvimento, quando se propõem especificar e implementar
um plano de convivência com a seca. Um plano capaz de compreender aspectos,
tais como (relação apenas ilustrativa):

a) Os econômicos: apoio à agricultura familiar e ao desenvolvimento com base


em novos critérios, práticas e tecnologias para garantir a segurança alimentar
e gerar excedentes com valores agregados no local, para o mercado.

b) Os sociais: infraestruturas para a saúde, a educação e o saneamento básico


no contexto da segurança social possível na região.

c) Os culturais e históricos como saberes tradicionais e experiências no


convívio com a seca: valorização desses saberes e resgate da identidade
cultural de comunidades é um propósito importante desse plano.

d) Os físicos, tais como, os conhecimentos básicos sobre a localização,


caracterização e disponibilidade de fontes de águas superficiais e
subterrâneas, além de caracterizações dos solos e da vegetação. São
conhecimentos que tem como argumentos informações e tecnologias técnico-
científicas adequado à região, às condições do cliente e, portanto, integráveis
com seus saberes, com foco no manejo e conservação no contexto de
unidades de planejamento como as de bacias hidrográficas e outras unidades
territoriais.

d) Os organizacionais incluindo, entre outros, estruturas cooperativas para


agregar valor no local ou com novas formas de organização e integração de
esforços e recursos, de interesses e objetivos (…) das comunidades.
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e) Os de planejamento estratégico e gestão integrada que permita combinar


estratégias e atividades públicas e privadas para a integração e harmonização
da eficiência econômica e a sustentabilidade social e ambiental na região.

f) Os institucionais: de descentralização de investimentos, de infraestruturas


básicas como as de energia, transporte e comunicação; e de mudanças em
estruturas socioculturais e históricas relativas à pose da terra, da água e dos
meios de produção.

g) Os planos de contingências e de alertas de fenômenos com antecedência,


entre outros, dentro do plano de convivência com a seca, para mitigar efeitos
e preparar- auxiliar à população.

h) Os sistemas de informações com dados de todas as dimensões integráveis e


sintetizáveis em indicadores.

g) E, principalmente, os aspectos de educação - capacitação para a proteção de


fontes e para o manejo - conservação de seus fluxos com melhoria de bem-
estar: conscientização e educação.

Esses aspectos, entre outros a compor um plano de convívio com a seca,


poderão ter definições e enfoque diferentes, conforme seja o entendimento e
aceitação do conceito seca por parte dos formuladores desse plano.

Alguns identificam a seca (S) e a desertificação (D), como um único e mesmo


fenômeno (S = D) e, portanto, admitem que a eliminação dos efeitos da seca pelo
controle de suas causas, significa acabar com a desertificação (S ⇒ D). Outros
pressupõem que a desertificação é um processo que pode aumentar o rigor das
secas ( ∆D ⇒ ∆S) e, dessa forma pressuposto e aceito, concluem que combater a
desertificação é evitar a mudança climática. Há aqueles que associam as secas
como causas da desertificação (S → D) e, dessa forma, gerenciá-las significaria
impedir a desertificação; entre outras posições.
45

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Pelo exposto e para se ter uma orientação objetiva na formulação de um plano


de convivência com a seca, é preciso diferenciar esses dois conceitos. O da
desertificação, conforme anteriormente apresentado e o da seca, de acordo com o
que segue, sem admitir que sejam definições necessariamente corretas e/ou de
aceitações unânimes entre os cientistas, apenas referências.

O conceito de seca (não existe uma definição rigorosa e universal), como um


fenômeno climático mais antigo e visível do que a desertificação caracteriza-se
por normais pluviométricas (ou outras fontes naturais de água) insuficientes (em
relação a determinada padrão) em uma determinada região e período de tempo,
tendo em conta certas referências. Essas referências, possíveis de se integrar em
uma definição ou conceito, são:

a) Seca meteorológica: precipitação abaixo das normais de precipitações


pluviométricas esperadas em uma região e determinado período.

b) Seca hidrológica: níveis de rios e reservatórios abaixo de normais


esperadas em pontos – chaves de locais significativos numa região e em
determinado período.

c) Seca agrícola: níveis de umidade do solo, supridos por diversas fontes


naturais de água, insuficientes para atender a demanda das plantas.

d) Seca econômica: quando o déficit de água provoca a falta de bens e


serviços em uma determinada região e período, como os de alimentos e
energia elétrica devido ao volume insuficiente, a má distribuição das chuvas,
ao aumento no consumo de água e ao mau gerenciamento dos recursos
hídricos, entre outras causas desse déficit.

Os termos mencionados acima de abaixo, insuficiente e déficit (ainda que não


façam parte de abordagens sistêmicas) que qualificam o fenômeno das secas em
uma determinada região e período precisam, além de referências para suas
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definições, - consideradas como sendo as normais da região e período, de


3
indicadores para expressar esse fenômeno, sua severidade, e relacioná-lo com
diversos efeitos. Essa expressão e relação são fundamentais em um plano de
convivência com a seca que, dentro de uma abordagem de sistemas

Por outro lado ou de forma concomitante, é preciso entender os fatores que


determinam (poderão determinar) essa convivência em um contexto sociocultural,
econômico e físico amplo e realista de uma região:

a) que medidas devem ser consideradas e para quem devem ser propostas essas
medidas, conforme determinados indicadores;

b) em que condições de adoção devem ser consideradas essas medidas o que


significa auscultar aspectos socioculturais e históricos das comunidades
vulneráveis e afetadas pelo fenômeno;

c) como buscar a harmonia entre atividades econômicas e a proteção –


preservação de fontes, de reservas, de ciclos em ambientes do semiárido o
que significa contar com indicadores e referências;

d) quais são as condições necessárias para se ter a conservação – manejo de


fluxos de bens e serviços ambientais e que é preciso fazer para garanti-la;

e) quais são as exigências de ações e estratégias cooperativas,


multidisciplinares e multi-institucionais, implícitas nessa convivência;

f) que é o que se busca em cada fase e é possível alcançar em cada caso de um


plano estruturado e com visão de longo prazo.

3
Um dos índices mais utilizados e reconhecidos para a qualificação da seca é o Índice de
Severidade de Seca de Palmer (PALMER, 1965), que tem como argumentos, em sua definição, o
total de precipitação requerida para manter uma área em um determinado período sob condições
estável da economia. Esse total depende da média de ocorrência de fatores meteorológicos e das
condições meteorologias dos meses precedentes. Tem como base as estimativas de médias
históricas de evapotranspiração, recarga de água no solo, escoamento superficial e umidade do
solo.
47

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Nesse entendimento, destaca-se o foco do combate à desertificação: o ser


humano em seu meio, que precisa entender como
prevenir, descontinuar o ritmo de perdas e reverter
processos de degradação e qual é seu papel nessa
prevenção e/ou na reversão. Nesse contexto, surge a
educação e capacitação para auxiliá-lo.

O plano deve compreender ou prever o re-


ordenamento de espaços agro-econômicos diversos e
complexos do semiárido, portanto, com especificações
baseadas em critérios e evidências (dados e
informações confiáveis e atualizadas) de fragilidades,
de limitações e potencialidades a serem internalizadas, com sustentabilidade, nas
atividades econômicas de cada caso, local ou região.

Relacionado com os aspectos básicos de um plano mencionados acima, tem-se


os fundamentos, instrumentos e recursos, entre outros, de uma política, de um
plano de convivência com a seca. Como fundamentos se relacionam alguns,
notadamente com viés em uma dimensão do D∩S;

a) Oferecer opções tecnológicas para amenizar a escassez de água e as


limitações da capacidade produtiva do solo por insuficiente umidade, entre
outras. É oportuno destacar que esse plano compreende um forte,
imprescindível, componente político, propositadamente não considerado
nesta síntese.

b) Desenvolver e disponibilizar técnicas de dimensionamento, construção e uso


– manejo de sistemas de abastecimento de água como, p.ex., cisternas rurais
(para beber, para produzir etc.; figura ao lado), barragens, subterrâneas poços
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com dessalinizadores etc. Tais ações, se oportunas, devem ser integradas com
as da transposição do rio São Francisco.

c) Disponibilizar critérios técnicos e operacionais para a conservação e manejo


integrado do solo – vegetação.

d) Motivar – mobilizar as comunidades para participar e usufruir de projetos


como os de educação ambiental, capacitação e valorização de ambientes e
recurso a serem protegidos.

O plano de convivência da seca no semiárido começa e se desenvolve –


aprimora em base ao potencial (limitações, restrições) dessas zonas, incluindo,
entre outros aspectos (indicadores médios, com variações consideráveis):

a) O regime pluvial médio de 750 mm com grande potencial (perspectiva) de


armazenamento de parte desses 750 bilhões de m3/ano de água para uso –
manejo criterioso.

Essa perspectiva parece ser interpretada em ações como, p.ex., o projeto de


construção de um milhão de cisternas, incluindo, entre outras atividades: a
implantação de projetos demonstrativos e capacitações em gerenciamento de
recursos hídricos, gestão administrativo-financeira de cisternas em nível de
comunidades e capacitação de pedreiros.

b) A diversidade de plantas e animais do bioma da caatinga que deve ser


conhecida e valorizada: proteção de habitats e possíveis melhorias para
gerar excedentes econômicos sustentáveis.

c) O ser humano, o sertanejo: experiência, saberes tradicionais e organizações


– movimentos sociais a serem resgatados, valorizados e internalizados em
ações do plano, além de projetos de capacitações como os ilustrados acima.
49

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

2.6 Erosão
Na degradação do solo, caminho para a desertificação, destaca-se a erosão, um
processo natural de desagregação da massa do solo, pelo impacto das gotas de
chuva numa superfície livre ou pela ação do vento, entre outros fatores; de
transporte do material desagregado pelo escoamento superficial de partículas da
capa agricultável; e de deposição, à jusante, de materiais da rocha e solos.

Um processo acelerado por inadequadas práticas de manejo e técnicas -


tecnologias de uso do solo, da água e da vegetação: principais causas, de origem
antrópica, relacionadas com a desertificação. Um processo favorecido pela perda
da cobertura vegetal que protege a superfície contra a ação da água (erosão
hídrica) e do vento (erosão eólica).

Várias formas de uso e manejo dos solos, no Nordeste semiárido, podem


resultar em processos de degradação, tais como: o extrativismo vegetal e mineral;
o sobrepastoreio e excessivo uso agrícola, formas de manejo e técnicas de
produção que expõem os solos aos diversos agentes erosivos, entre outras.

A erosão depende de um conjunto de fatores que agem de forma isolada e,


com frequência, conjunta, potencializando o efeito negativo de cada fator.

Garcia (2009a) analisa esses fatores e determina a ação ou impacto de cada um


e do conjunto, sob determinadas condições do semiárido nordestino, com
informações importantes para definir práticas e tecnologias de manejo integrado e
de conservação desses ecossistemas.

Que fatores determinam a erosão dos solos? O Quadro 1 relaciona alguns


desses fatores e exemplos de contribuições, para determinadas condições, na
perda do solo por erosão.
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Bordas protegidas por vegetação: mata ciliar

Borda de rio desprotegida: erosão Irrigação / inundação de campo aberto

Campo aberto: erosão pela ação do vento


Encosta desmatada: erosão

Sulcos rasos: Picui (PB) Sulco profundo Picui (PB) Área abandonada: erosão

Erosão laminar Erosão lateral Caprino pastando na caatinga


51

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

As perdas de solo, de água e de nutrientes são responsáveis pelo decréscimo na


produtividade agrícola e pecuária, pela eutrofização de corpos de água e pela
degradação do solo com impactos nos recursos hídricos, na flora e na fauna.

Quanto às perdas de solo por erosão, observam-se variações, destacando-se a


erosão entressulcos.

A erosão em entressulcos, combinação de dois processos (desagregação e


transporte), é uma das mais danosas, ao remover a camada superficial que contém
a matéria orgânica, os nutrientes inorgânicos, materiais orgânicos e insumos
agrícolas como fertilizantes, com alterações de processos microbianos que se
refletem na fertilidade (perda) do solo

Em termos econômicos são perdas quase que incalculáveis pela


impossibilidade de reparar os ambientes danificados com essas perdas, mas, com
possibilidades de se ter estimativas ou aproximações como as apresentadas pelo
PNUMA, na África (pág. 3).

Estimativas como as de Garcia (2009a) para o semiárido nordestino, baseadas


em cálculos do custo provável de reposição de nutrientes (suposto caso de manter-
se a fertilidade do solo e com as necessárias correções de consumo pelas culturas
e preços de mercados dos fertilizantes) e no custo de oportunidade, com valores
estimados oscilando entre R$91,25 / ha/ano a R$112,60 / ha / ano.

No processo de erosão há causas físicas e causas mecânicas, agentes passivos e


agentes dinâmicos, fatores controláveis e fatores naturais (...), com interações que
devem ser conhecidas e tratadas em planos de conservação e manejo do solo
conforme as características e condições da região: práticas a melhorar; tecnologias
a introduzir conforme saberes.
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Quadro 1 Fatores que determinam a erosão dos solos e suas possíveis contribuições a
CONDIÇÃO OU
FATOR EFEITOS e EXEMPLOS DE INDICADORES
SITUAÇÃO

A quantidade erodida de solo é diretamente


Quantidade proporcional a quantidade de chuva: intensidade e
Chuva concentração

erosividade Intensidade Quanto maior → maior o potencial de desagregação

Distribuição Maior potencial de erodibilidade no verão

Pouco desenvolvido; relevo suave ondulado; pouca


Luvissolos (18,4%)
água disponível; erodibilidade elevada
Tipo de solo
erodibilidade Neossolos Lit. (10,0%) Acentua degradação

Argisolos Relevos suaves – forte ondulação; boa drenagem

Declividade Perdas do solo proporcionais à inclinação da rampa


Topografia
Cumprimento Perdas do solo diretamente proporcionais

Tipo de Pastagem Menos de 0,1 ( 0 < P < 1,0)


vegetação
Cultivos, com/práticas O fator de conservação poderá variar entre 0,2 a 0,7
P=fator de
conservação Cultivos sem/ práticas P .> 0,7

Plantio morro abaixo P > 0,9


Tipo de
Plantio / nivelamento 0,5 – 0,7 < P < 0,9
manejo
Plantio / barreira 0,2 – 0,3 < P < 0,5

Solo desnudo C > 0,9

Tipo de uso Pastagem não-


0,2 < C < 0,3; com crescimento médio a alto
C=fator de degradada
proteção
Queimada e
Fator de crescimento baixo: C , < 0,1
superpastoreio
a
Os fatores ou variáveis são analisados conjuntamente em funções matemáticas que permitem avaliar a
contribuição de cada um dessas variáveis nas perdas totais de solo pela erosão (GARCIA, 2009a).
53

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

As perdas provocadas pela erosão representam reduções da fertilidade


natural do solo e seu efeito direto na queda significativa da produtividade agrícola
e pecuária; um aumento do consumo de fertilizantes com aumentos de custos de
produção; encarecimento da produção agropecuária; eutroficação e assoreamento
de rios, açudes, barragens, entre outros prejuízos econômicos e ambientais.

2.7 Outros conceitos


Em planos, programas, projetos (...) de combate à desertificação e
mitigação–convívio com a seca aparecem e se aplicam outros importantes
conceitos, diretamente ou como referências de atividade e avaliações que esses
planos (...) possa compreender. São conceitos sintetizados na parte que segue.

2.7.1 Cenários e estudos prospectivos


A prospecção e construção de cenários facilitam a reflexão e tomada de
consciência sobre o desenvolvimento que se quer e pode construir ao transformar
a visão de futuro em possíveis (em alguns casos prováveis) realidades; ao fazê-lo
quando se pensa e planeja essa criação, buscando os fatores e condicionantes que
levam ao progresso, sem, contudo, dispensar, nessa criação, o passado com suas
lições e experiências (GARCIA, 2009c).

A prática de exploração do futuro é tão antiga quanto à própria humanidade


sem, contudo, tal prática, à despeito de avanços científicos, conseguir gerar
respostas satisfatória em previsões de eventos (...). Apenas tem sido possível
antecipá-los, conforme trajetórias, evoluções e prospecções de fatores portadores
de futuros.

Um exemplo de antecipação é a desertificação prevista por causa de


desmatamentos, queimadas, práticas de uso e manejo e atitudes imediatistas, entre
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outros fatores portadores desse futuro. Uma morte anunciada pelo aquecimento
global / mudanças climáticas no semiárido com seus prováveis (possíveis)
impactos negativos em sistemas, tais como:

a) recursos hídricos; p.ex., estresse e redução na disponibilidade de água;

b) climáticos, p.ex., tornar mais árido o Nordeste por causa de mudanças em


frequências e severidades de eventos extremos;

c) vegetação; redução e/ou substituição de espécies da Caatinga, do semiárido,


por espécies do árido;

d) agricultura, p.ex., intensidade de uso, além de sua capacidade de suporte e


inadequado manejo para as condições locais;

e) degradação humana, por causa de degradações nos recursos hídricos, na


vegetação e no solo com aumentos de marginalização, de insegurança
alimentar e de problemas na saúde e saneamento básico, entre outros.

O conceito de cenário pode ser o de “uma a seqüência de eventos hipotéticos


de situações complexas, construídas com a finalidade de focalizar as atenções em
processos causais e pontos de decisão”, segundo Kahn e Weiner (1969), a fim de
demonstrar como uma meta determinada pode ser atingida se atendidas certas
condições.

No caso considerado neste boletim, essa meta é controlar os fatores causais


dessa construção antes de que seja finalizada, no semiárido do Nordeste e buscar o
convívio com a seca antes de emigrações. È possível antecipar essa finalização e
emigração se nada efetivo for feito no combate e para o convívio.

As condições são as de caracterizar esse fenômeno (a realidade), definir


propósitos (desejos e expectativas) e controlar (poder de agir) as causas da
desertificação.

A abordagem de cenários compreende (GARCIA, op. cit.):


55

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

1 Uma visão global, sistêmica, da realidade que se impõe na medida em que se


observam efeitos e interdependências entre fatores causais ou correlacionais,
tais como os físicos (ambientais), econômicos, sociais e político-
institucionais.

A complexidade de entrelaçamentos de fatores determina que o tratamento


de apenas um deles apresente um valor explicativo reduzido ou
inexpressivo.

Assim, p.ex., uma “boa” prática de manejo e uso do solo sem uma
alternativa exequível de substituição de desmatamentos e queimadas na
agricultura do sertanejo não será benéfica o suficientes no controle da
desertificação; ou a prestação de serviços como os de crédito rural sem um
acompanhamento de sua aplicação poderá ser até prejudicial por
comprometer o patrimônio do sertanejo.

Uma das características básicas de cenários é a capacidade de reunir,


comportar e articular–integrar opções, prognósticos, hipóteses e
contribuições de múltiplos fatores. Para tal propósito considera estruturas
flexíveis pela sua capacidade de se ajustar e acompanhar evoluções,
tendências (...).

2 Ênfase em aspectos qualitativos da realidade e onde cada cenário possa


caracterizar um futuro qualitativamente diferente.

3 As relações entre variáveis e atores são vistas como estruturas dinâmicas,


que comportam mudanças qualitativas ao longo do horizonte de “projeção”
de um fator do plano de combate à desertificação.

4 O futuro é concebido como a motivação básica de ações e decisões do


presente, e não como um prolongamento inevitável da dinâmica do passado.
56

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Essa visão de futuro deve-se ao fato (ou ao pressuposto: uma hipótese de


trabalho) de as pessoas, grupos, organizações ou classes sociais são capazes
de influenciar o seu próprio destino dentro de um quadro de oportunidades e
restrições concretas, porém manejável por elas.

Conhecer essa capacidade dentro de um quadro de oportunidades e


limitações é um dos aspectos básicos na formulação de um plano de
combate à desertificação.

5. Uma visão plural do futuro. Em cada momento, o futuro “previsível” é


múltiplo e incerto, porque resulta da confrontação ou cooperação de
diferentes atores sociais em torno de determinados interesses. Dessa forma,
a construção do futuro se explica mais pela ação humana do que pelo jogo
de determinismos.

6. Adoção de modelos conceituais, métodos qualitativos e quantitativos e de


uma visão probabilística (quando possível: associada ao risco) dos
fenômenos. Esta característica é consequência das anteriores que incluem a
incerteza (a ser reduzida) e a pluralidade (opções de escolha) como algo
inerente à exploração do futuro, à criação de cenários.

7. A consideração explícita dos atores envolvidos. Cada cenário representa, em


geral, uma particular hegemonia ou o predomínio de uma aliança de
determinados atores em torno de um conjunto de interesses, objetivos e
recursos.

Isso significa, na prática, considerar a dimensão política como um forte


condicionante do futuro. Afinal, as mudanças políticas, econômicas,
tecnológicas, sociais, culturais ou mesmo ecológicas não ocorrem ao acaso,
mas resultam, em parte, do jogo de coalizões e de conflitos dos grupos ou
instituições intervenientes em cada situação.
57

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Neste caso, procura-se que essa dimensão política tenha como foco o
interesse e as ações do coletivo e que determinados grupos, de fato
influentes, não determinam o controle da desertificação

8. Pertinência, coerência, plausibilidade e credibilidade. Um cenário não é a


realidade futura e sim um meio de orientar a ação presente à luz de futuros
possíveis e desejáveis.

A preocupação com o realismo e com a eficácia, entre outros, devem guiar a


reflexão prospectiva visando um melhor domínio da história na construção
do futuro.

Os cenários devem focar assuntos relevantes da realidade, de desejos, de


poderes, da governabilidade (...); formular hipóteses-chave sobre o futuro; e
assegurar a coerência e plausibilidade das combinações possíveis em torno
de um plano de combate à desertificação.

Há várias tipologias de cenários que o formulador de uma proposta de plano


poderá considerar e escolher uma ou uma combinação. São tipos de cenários, tais
como: os imagináveis ou hipotéticos; os possíveis dentro de um determinado
contexto; os normativos ou de situações esperadas desejadas; os mais prováveis
ou cenários de referências para determinadas regiões, fatores e condições; e os
cenários extrapolativos.

O quadro sinóptico (Quadro 2) que segue sintetiza alguns cenários, com


ênfase em os normativos e exploratórios, que podem ser utilizados para auxiliar a
formulação de um plano de combate à desertificação.

As fontes de dados e informações para essas construções compreendem, entre


outras, os objetivos de planos estratégicos governamentais dos entes federativos,
relacionados como o tema; a Declaração do Semi-árido – DAS, documento da
sociedade civil que compreende mais de 1.200 organizações (BRASIL, 2004); e,
58

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principalmente dados a serem obtidos diretamente de comunidades, grupos,


organizações (...) para completar uma base de informação das regiões vulneráveis
e afetadas, em termos da realidade, possibilidade, desejos e poder, conforme se
indica, sem especificações, neste boletim.

Quadro 2 Tipos de cenários que podem ser utilizados para auxiliar a


elaboração de um plano de combate à desertificação no Nordeste

CENÁRIO

Normativo Exploratório
Futuro desejado como vontade Caracteriza futuros possíveis ou
ou compromisso de coalizões prováveis, mediante simulações e
específicas e certos objetivos. A desdobramentos de condições
lógica é estabelecer o que se iniciais diferenciadas, sem
deseja e logo agir para alcançá- assumir opção ou preferência
lo, a partir do presente.

Extrapolativo Múltiplo
O futuro como Pressupõem-se rupturas
prolongamento do nas trajetórias de futuro:
passado e presente Plausíveis ou prováveis

Livre de Variações Referência Alternativos


surpresa canônicas Evolução futura suposta Cenários com menor
como mais provável em probabilidade, porém
função de mudanças e ampliando o leque de
tendências latentes futuros
59

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

2.7.2 Conservação e manejo integrado de ambientes e recursos


naturais
A conservação é entendida como a utilização racional de um ambiente ou de
um recurso natural qualquer, de modo a se obter um rendimento considerado
satisfatório, porque, nessa consideração, é garantida a sua renovação ou a sua
auto-sustentação em função de sua capacidade, com a proteção da fonte, do
ambiente.

Dessa forma entendido, a conservação do solo, p.ex., é compreendida como a


sua exploração agrícola, adotando-se técnicas de proteção contra erosão e redução
de fertilidade.

Analogamente, a conservação ambiental quer dizer o uso apropriado do meio


ambiente, dentro dos limites capazes de manter sua qualidade-quantidade, seu
equilíbrio-integridade e sua capacidade de atendimento, em níveis e riscos
aceitáveis.

Nesse conceito 4 há definições básicas, tais como as de utilização racional com


práticas adequadas de manejo e tecnologias para a conservação; rendimento
satisfatório, considerando determinadas referências, entre outras as ambientais e
econômicas; capacidade de sustentação à intervenção, à exploração; limites
capazes de manter estados como os de qualidade, quantidade e equilíbrio; e níveis
e riscos aceitáveis. São definições complementares dispensadas neste boletim.

4
No contexto da Política Nacional da Biodiversidade, o conceito de conservação se define em
consonância com a Convenção sobre Diversidade Biológica, com um sentido próximo ao do
conceito de preservação, de proteção. Assim, na forma in situ significa conservação de
ecossistemas e habitats, bem como a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies
em seus meios; no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham
desenvolvido suas propriedades características: o sentido de racionalidade de uso. Em outro
contexto como os de unidades de conservação, o conceito tem o sentido de manejo de recursos
naturais.
60

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O gráfico que segue (Quadro 3) sintetiza o conceito de conservação no sentido


em que se utiliza neste boletim, com indicações de processos e decisões baseadas
em dados confiáveis e indicadores consistidos.

O manejo pode ser conceitualizado como um conjunto de práticas culturais,


como p.ex., no caso da agricultura, capinas, altura de corte, adubação em
cobertura, pulverização, manejo integrado de pragas, irrigação considerando
características das fontes de água, dos solos e das plantas, rotações ou cultivos
alternados etc., empregadas no cultivo de determinada espécie.

2.7.3 Agricultura sustentável


Definida em bases da conservação e do manejo integrado dos recursos solo,
água e vegetação, entre outros, que, além de serem protegidos por práticas e
sistemas de inovação, permitem o “melhor” aproveitamento de potencialidades
em horizontes de longo prazo.

Por ter sustentação em princípios da conservação e do manejo integrado


característicos de uma região em suas dimensões físicas e antrópicas, o conceito é
regional.

A capacidade de manter estável, se não melhoradas as condições de produção


no local, determinam diversidades de bens produzidos e de uso – aplicações de
recursos disponíveis na propriedade com maior intensidade e sempre dentro de
limites da capacidade de suporte. Isto, como garantia para manter a produção por
longo prazo ao proteger fontes como as de nutrientes do solo, de recursos
hídricos e da biodiversidade. Dessa forma, tende a fechar o ciclo produtivo
dentro da propriedade, com certo equilíbrio energético, equilíbrio entre extração
– produção e consumo.
61

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Quadro 3 Elementos do conceito de conservação: utilização reacional

REALIDADE D∩S
Usos e manejos
Avaliação Consistente
Crítica Decisão Esperado
Preservação
Unidade de Conservação  Avaliação

Realidade: análise
Potencialidade: indicador CONSERVAÇÃO
Restrição/ limitação: indicador
Capacidade de suporte: indicador Nova realidade

Utilização racional
Avaliação
Risco  Sistemas de produção
Tecnologias para inovações
Práticas para manejo integrado
Saberes tradicionais: resgate e valorização

Avaliação
Econômica  Alternativas de utilização

Educação  Campos pilotos e demonstrativos


Capacitação Cursos teórico-práticos
Taxa

Seminários e fóruns de trabalhos


Programas de rádios (...)
Extensão-assistência técnica
Motivação/participar $
Recursos / agir $
Infraestrutura $
Legislação $ $ $ $$ $ $ $ $$
Decisão

 Avaliação geral e decisão: Se existem potenciais /capacidade de suportes suficientes?


→ Usos. Caso não → preservação
 Avaliação de riscos e decisão: Se mínivos e aceitáveis? → Utilização racional. Caso não
→ preservação
  Avaliações de viabilidade econômica, de mercado, social (...) e decisão. Se existem e
são oportunas, estratégicas, convenientes (...) → Alternativas de utilização. Caso não →
preservação
 Avaliação de possibilidades de educação, capacitação (...) e decisão. Caso existam →
definir as ações pertinentes para a utilização racional. Caso não → preservação

$ $ $ $ $ $ $ = FLUXO DE RECURSOS FINANCEIROS Início / fim


____________ = FLUXO DE MATERIAIS
_ _ _ _ _ _ _ _ = FLUXO DE INFORMAÇÕES Processo Decisão
62

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Não significa dispensar modernas tecnologias, insumos (...) que certamente


impactam o maio ambiente, mas utilizá-los de forma criteriosa e observar que
esses impactos sejam mínimos e, principalmente, toleráveis por esse meio.

Para que a atividade agrícola – pecuária seja sustentável é preciso que


considere aspectos básicos socioculturais, econômicos, históricos (...) das
comunidades e ambientes compreendidos. Não é suficiente proteger e melhorar
dos recursos da terra se tais melhorias não são traduzidas em melhorias sociais; se
o controle da desertificação, dentro da agricultura sustentável, não se traduz em
bem-estar para as comunidades vulneráveis que se engajam e apóiam um plano de
combate à desertificação.

Pelo exposto, conclui-se que a agricultura sustentável é mais do que novas


práticas e tecnologias de manejo e conservação; são transformações sociais,
culturais, econômicos e de novos relacionamentos com o meio ambiente que se
encontram nas transformações da educação e da conscientização para valorizar
esse meio, protegê-lo e utilizá-lo de forma racional.

2.7.4 Participação e ações solidárias da comunidade


É fácil entender a necessidade da participação da comunidade e de ações
solidárias quando se considera que o foco, a realidade problematizada, do combate
à desertificação é uma situação (provocada) do ambiente que afeta negativamente
o ser humano e que esse ambiente compreende fontes de bens e serviços
ambientais ameaçados, em riscos e/ou em processos de degradação / perdas para
todos.

Isso ocorre, em parte, pela ausência de um direito de propriedade, por


distorções institucionais como as de posse e concentração dos recursos da terra e
pela característica de fungibilidade, isto é, de serem bens e serviços que não
podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade, quantidade valor;
63

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

são bens essenciais submetidos a utilizações desordenadas e competitivas desses


recursos que, ao mesmo tempo em que pertencem a todos (p.ex., florestas públicas
e recursos hídricos), não pertencem a ninguém em particular: é a tragédia dos bens
comuns, agravadas por distorções ou favorecimentos legais – institucionais como
os de posse da terra e por formas insustentáveis de garimpagem. Formas notáveis
de degradação de garimpeiros que arrasam, com suas formas artesanais de
garimpagem, áreas vegetadas e corpos de água, mediante desmatamentos, erosão-
assoreamento e uso de substância como o mercúrio.

2.7.5 Educação ambiental e capacitação para o combate à


desertificação
A educação e capacitação são as ações que mais se destacam, inclusive com
orientação explícita do documento para atendê-las, em primeira instância, por
considerá-las essenciais para a conscientização cidadão e para se buscar e
assegurar o comprometimento, responsabilidade e participação da comunidade
educada, em planos de combate à desertificação.

2.7.6 Novas abordagens no tratamento do problema da


desertificação: sistêmica, dinâmica, risco e simulação
Conceitos basilares para se definirem ações, tanto de execução direta como as
de apoio, incentivo e objeto de financiamento, referem-se à missão, visão e
objetivos do MAPA, destacando-se, nesses conceitos, a razão da inclusão do
desenvolver do agronegócio em planos de combate à desertificação e mitigação –
convívio com a seca.

Conceitos de novas abordagens metodológicas, tais como as de sistemas,


simulação, riscos e dinâmica, conforma já indicado no conceito de desertificação.
64

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2.7.7 Indicadores no controle da desertificação e mitigação- convívio


com a seca
Pela sua importância na conservação e manejo dos recursos naturais e no
combate à desertificação, o conceito é considerado em sessão especial, com
exemplos e ilustrações.

A parte que segue destaca elementos do problema da desertificação, no


Nordeste, em um contexto de diagnóstico, porém sem descrições e análises
necessárias para ter o entendimento da situação e indicar medidas de prevenção,
correção–recuperação ou tratamento necessárias. É uma apresentação ilustrativa e
de reflexão que poderá motivar o leitor, caso interessado, a fazer ou não a consulta
do material documental citado.

3 O problema da desertificação no País


Em parte do texto anterior foram relacionados os principais problemas da
desertificação e da pobreza na maioria da população de uma região com riquezas
naturais, anotando-se, em alguns casos, fatores e condições que confluem para
definir entraves ao desenvolvimento, mais de origem social (cultural e histórico:
reflexo na pobreza e saúde, nutrição e segurança deficientes) e econômica (setores
dominantes de estruturas e meios de produção) do que física.

Na perspectiva natural, de ecossistemas, os problemas podem se referir:

a) Escassa informação consistida e internalizada, no conhecimento e


comportamento do sertanejo, de gestores (...) acerca desses sistemas, em
termos de potencialidades, capacidade de suporte, restrições e limitações de
uso e manejo.

b) Na evidência das regiões semiáridas e subúmidas secas, com suas


características físicas especiais (tidas como limitantes ao serem
65

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

indevidamente comparadas com outras) concentrarem, em todo o mundo,


populações mais pobres sujeitas a maiores níveis de degradação.

c) Na pouca efetividade de programas e planos propostos e implantados para


esse combate: escassez de recursos humanos, financeiros e materiais
adequados para alcançar propósitos nem sempre claros porque partiam de
problemas difusos.

d) Programas e planos desarticulados, com visões estreitas e horizontes


imediatistas;

e) Em abordagens simplistas, sem planejamentos nem gestões adequadas às


condições dessas regiões.

As causas do problema da desertificação são, em geral, complexas, derivadas,


por vezes, de interações de variáveis atmosféricas, hidrosféricas, edafológicas,
bióticas (em especial da vegetação) e antrópicas. Uma forma de levantar e analisar
as causas é mediante diagnósticos completos e integrados.

Um dos primeiros levantamentos sobre desertificação foi na década de 70 que,


pela falta de dados e deficiências metodológicas, ficaram muitas lacunas. Outros
estudos como os do Instituto Desert, em 1972, Radambrasil, IBGE e Projeto
Aridas, procuraram completar uma base de dados e definir os problemas do
semiárido, com propostas de solução.

O Brasil, ao consultar e se fundamentar em recomendações da


Convenção (...), com ajustes à realidade, elaborou, em 2004, seu
Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação –
PAN, com ações orientadas para áreas crítica, susceptíveis à
desertificação e áreas afetadas por processos de desertificação, conforme se
mostra na Figura 3.
66

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1,45 mil km2

1,24 mil km2

27,75 mil km2

+ 25,00 mil km2

52,50 mil km2

2
365,28 393,89 mil km
2
52,42 98,6 mil km
2
247,83 81,87 mil km

Figura 3 Áreas susceptíveis à desertificação e áreas afetadas pela


desertificação
Fonte: Mapa. Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2009)
67

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Um Programa com incentivos aos Planos de Ações Estaduais que pressupõe


constante e intenso esforço de articulação, coordenação, cooperação e criação de
sinergias.

Daí porque seus objetivos sejam: criar e fortalecer mecanismos institucionais


de coordenação, participação e ação; potencializar mecanismos de participação
entre diversos atores; formular diretrizes; e buscar informações para aprimorar ou
gerar novos conhecimentos para agir, monitorar, prevenir etc.

As áreas contempladas nesse Programa, com mais de um milhão de km2,


compreendem 1.482 municípios dos nove estados nordestinos, além de áreas de
Espírito Santo e Minas Gerais e mais de 32 milhões de habitantes (2005).

As áreas compreendidas pelo PAN-Brasil são aquelas susceptíveis à


desertificação e áreas afetadas por processos de desertificação em três níveis, com
estimativas de duas fontes consultadas, no quadro da parte inferior da Figura 3,
para dois períodos diferentes.

As ações propostas deverão ser integradas em eixos temáticos conforme se


mostra na Figura 4, enfatizando-se as sinergias entre convenções como as do
Combate à Desertificação e Diversidade Biológica e Clima.

O conceito norteador do PAN-Brasil é o desenvolvimento sustentável:


promovê-lo em sua concepção abrangente ao considerar dimensões como a
econômica, social, ambiental e institucional, com ampla participação e controle
social. É uma das características desse Programa a ser executado em conformidade
com ações prioritárias recomendadas pela Convenção. São ações integradas em
quatro eixos, destacando-se, neles, a educação na redução da pobreza e no
conhecimento para proteger, manejar e conservar; a educação para conhecer e
ampliar a sustentabilidade da capacidade produtiva; e a educação na gestão
democrática e na conscientização para a mobilização e a participação.
68

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Figura 4 Eixos do PAN – Brasil a serem integrados para o combate à


desertificação.

A desertificação no Brasil se concentra em núcleos conforme se indicam


na Figura 5, com especificações na Tabela 2.

A Figura 5 mostra a localização dos núcleos de desertificação, isto é, das


áreas concentradas, onde se observam processos de degradações
progressivas da cobertura vegetal e dos horizontes superficiais do solo,
acelerados por usos e manejos indevidos a que são submetidos esses
“instáveis e frágeis” ecossistemas (dado o estado de informações e
conhecimentos desses ecossistemas; pág. 11 e 12). No caso de Gilbués
(vermelho) á área é subúmida seca; e Seridó (amarelo), Irauçuba (azul) e
Cabrobó (verde) a área comum é a semiárida.
69

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Figura 5 Núcleos de desertificação na Região Nordeste


Fonte: Mapa. Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2009)

Outras importantes características físicas que devem fazer parte de um


diagnóstico para definir ações e estratégias um plano de combate à
desertificação e mitigação – convívio com a seca, são mostradas nas
Figuras 6 – 11.
70

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Tabela 2 Núcleos de desertificação na Região Nordeste. 1998


NÚCLEO DE DESERTIFICAÇÂO km2)
ESTADO
POPULAÇAO
MUNICÍPIO ÁREA PRINCIPAIS CAUSAS E
ATINGIDA (mil
AFETADOS TOTAL ILUSTRAÇÕES
hab.)
Pernambuco: Foi o primeiro núcleo a ser
Núcleo de Cabrobó 7.133 71,68 identificado na década de 70.
Belém de São Fco. 1.623 26,74 Sobrepastoreio, saliniza-ção do
Floresta 1.835 20,21 solo (irrigação mal conduzida),
Retrato da 3.675 24,73 agricultura inadequada,
desertificação desmatamento generalizado.
Piauí:
Início na década de 40.
Núcleo de Gilbués
7.694 23,56 Sobrepastoreio, garimpo de
Barreiras do Piauí
3.475 10,23 diamantes, desmatamento
Monte Alegre de Piauí
1.955 3,10 generalizado, agricultura
S.Gonçalo do Gurguéia,
2.264 10,29 inadequada.
Correne, Curimatá e
- O Problema se agrava no
Riacho Frio).
- inverno pela enxurrada e no
Área atingida, em 2004,
verão pelo vento.
33% do Estado
Ceará:
Núcleo do Irauçubá.
4,04 192,32
Jaguaribe (23,5%)
Jaguaretama (17,6%),
1,38 19,57 Sobrepastoreio, desmatamento
Jaguaribara (11,3%)
generalizado
S.J, Jaguaribe (8,7%)
0,55 17,49
Alto Santo (7,15),
Irauçubá. Forquilha.
2,12 155,28
Sobral
2,86 91,67
Rio Grande do Norte
0,88 40,79
Núcleo de Seridó.
0,29 8,14 Desmatamento generalizado,
Currais Novos. Cruzeta.
0,31 5,66 Mineração e agricultura
Equador
0,24 6,57 inadequada.
Carnaúba do Dantas.
0,61 11,19
Acaraí. Pareolha
0,52 19,32
Fonte: Mapa. Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2009)

Na ASD se observa uma alta variabilidade espacial dos índices médios de


chuva, oscilando entre 600 a 2.100mm, sendo a sub-região central a mais crítica,
na divisa entre os Estados da Bahia e Pernambuco. Nessa área de influência seca
se encontra o núcleo de desertificação Cabrobó/PE. Em contraste, em área com
altos índices médios de chuva acima de 1.000mm, encontra-se o núcleo de
Gilbués/PI.
71

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Figura 6 Mapa de isoietas: precipitações médias anuais (1960 – 1990)


Fonte: Mapa. Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008)

A caracterização do clima com base em series de pelo menos 30 anos e com


detalhamentos da distribuição é de especial importância para caracterizar um dos
componentes mais importantes na erosão dos solos: a erosividade: quantidade,
intensidade, distribuição e frequência, entre outros atributos.
72

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A água é o insumo básico de sobrevivência de todas as espécies e indicador de


desenvolvimento sendo, por isso, objeto de atenção especial e de gestão criteriosa
para, conforme prescreve a Política Nacional de Recursos Hídricos, “proporcionar o
uso múltiplo das águas”; em situações de escassez, garantir o uso prioritário para o
consumo humano e a dessedentação de animais e geri-los de forma descentralizada. O
clima semiárido é caracterizado, entre outros, pela insuficiência de chuvas e grande
irregula-ridade quanto à distribuição espacial e temporal (Fig. 6), concentrada em
uma estação de 2,0 a 5,0 meses de duração e como variações entre 30,0% a 50,0%
A Figura 7 apresenta as estimativas, em termos percentuais, de dias com déficits
hídricos, em dez níveis, calculados para o período out. de 1970 a dez. de 1990

Figura 7 Percentual de dias com déficit hídrico estimado pelo CPTE /


INPE (complementado), para um período de dez anos
73

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Figura 8 Níveis de potencialidades agrícolas dos solos do Nordeste


Fonte: MAPA: Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008)

As ASD foram classificadas em seis níveis de potencialidades agrícolas dos


solos, em função de fertilidade, características físicas e morfológicas e limitações
topográficas, verificando-se que os solos aptos para a agricultura estão
distribuídos de forma dispersa e cobrem apenas 5,0% desse território; 27,5%, na
74

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categoria regular e 22,0%, na classe regular a restrita. Potencialidade e


capacidade de suporte do solo ao uso são fatores a considerar na conservação e
manejo integrado de recursos naturais.

Figura 9 Mapa de cobertura vegetal do Nordeste


Fonte: MAPA: Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008).

Os tipos de cobertura vegetal da ASD foram agrupados em dez grupos, com


destaques para a área antropizada (40,7%), a Caatinga (27,3% ou 364,8 mil km2)
75

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

o Cerrado (14,1%) e as áreas de tensão ecológica (13,4%). A determinação e


caracterização das áreas antropízadas é importante no estudo da desertificação.

A divisão hidrográfica é feita conforme prescreve a


Política Nacional de Recursos Hídricos, considerando
seis regiões hidrográficas na ASD, definidas:
ÁREA
ASD VAZÃO
REGIÂO TOTAL
2 (mil km2) (m3/s)
(mil km )
Atlântico Leste 388,1 284,6 1.492
Atlân.Nord.Ocid 274,3 26,3 2.683
Atlânt.Nord.Ori. 286,8 261,5 779
Atlânt.Sudeste 214,6 11,3 3.179
Parnaíba 333,0 267,6 763
S.Francisco 638,5 488,2 2850

Figura 10 Divisão hidrográfica da Região Nordeste


Fonte: MAPA: Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008).
76

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Nas ASD se tem uma ampla


variedade e dispersão de solos,
com predomínio dos Latossolos
(30,0%: foto):de relevos planos,
fertilidade baixa a média, bem
drenados e aptos para a irrigação;
os Neossolos Litólicos (15,0%:
foto), pouco desenvolvidos, rasos
e normalmente pedregosos, com
relevos ondulados a acidentados;
susceptíveis à erosão; e os Neos-
solos Quartzarenicos (9,0%), baixa
fertilidade e aptos para a irrigação

Figura 11 Tipos de solos da Região Nordeste


Fonte: MAPA: Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2008)
77

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

A cobertura vegetal é um dos elementos a considerar nas estimativas de perdas


do solo por erosão: erosividade e erodibilidade. O tipo de cobertura, variável
objeto de manejo, influencia o escoamento e a produção de sedimentos.

Os diagnósticos físicos (apenas indicados neste boletim), mas que devem ser
descrições, quantificações e integrações de componentes ambientais do semiárido
podem evidenciar, mediante coeficientes técnicos e indicadores de intensidade,
gravidade e extensão, novas causas do problema da desertificação. Essa
integração, ilustrada na Figura 12, com análises temáticas permite obter
resultados de causas transdisciplinares utilizados em zoneamentos.

Um procedimento para evidenciar causas complexas transdisciplinares (p.ex.,


erros em épocas de plantios e não-correlações com culturas, tipos de solos e
umidade do solo) é mediante zoneamentos ambientais, agrícolas e de riscos
climáticos. Mapas de indicadores e coeficientes técnicos desses zoneamento
permitem a integração, ordenamento e agrupamento de variáveis, com certa
precisão, que identificam zonas para preservar, proteger e conservar.

O zoneamento é um instrumento (da Política Nacional do Meio Ambiente) de


integração sistemática e interdisciplinar realizado e orientado para subsidiar e/ou
fundamentar políticas (legislações e administrações de ordenamentos territoriais),
planejamentos de usos e manejos dos recursos da terra e ações de gestão desses
ambientes e recursos delimitados e caracterizados. Trata-se de uma divisão do
território em parcelas, nas quais poderão ser autorizadas ou vetadas, total ou
parcialmente, a realização de determinadas atividades, conforme critérios,(entre
outros os técnicos e tecnológico-cientificos, básicos de ocupação, uso e manejo e
de ação do Poder Público.

Como instrumento de ordenamento, o zoneamento ambiental traduz políticas


econômicas, sociais, culturais e ecossistêmicas de uma região, interpretando ou a
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interpretar (diretrizes do zoneamento) fundamentos e instrumentos de políticas,


tais como:

∩ ∩ ∩ ∩ ∩

∩ ∩ ∩ ∩ ∩

∩ ∩ ∩ ∩ ∩
hidrográfico
Cobertura
Potencial
Isoietas

do solo

vegetal

Tipos de
hídrico
Déficit

Sistema

solos

Exemplo de componentes que se integram Resultados


ANÁLISES INTEGRADAS
Preservação, proteção, uso (…)

Elementos estruturadores do
ANÁLISES TEMÁTICAS Meio físico
Elementos reguladores do
Zonas para:

Meio físico

Normas de proteção e de manejos e usos (…); programas,


planejamentos, gestões, políticas, financiamentos etc.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL; conscientização (...)

Figura 12 Ilustração de integração de componentes físicos no zoneamento


ambiental
79

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

a) meio ambiente com seus fundamentos e instrumentos contemplados na Lei


6.938/81 e em desdobramentos e complementos de operacionalização e
implementação;

b) agrícola, baseada na Lei 8.171/91 e seus desdobramentos e complementos


para a sua implementação;

c) recursos hídricos, com sua Lei 9.433/97 e suas resoluções (...) para os
devidos desdobramentos e implementações de seus instrumentos;

d) unidades de conservação, com a Lei 9.985/00 e seus complementos e


desdobramentos;

e) o código florestal, com a Lei 4.771/65, suas reformulações e


desdobramentos – complementos;

f) conservação de solos, em processo de formulação da lei correspondente,


seguida de desdobramentos para a implementação; e em especial

g) o PAN-Brasil e legislações pertinentes, em níveis nacional, estadual e


municipal, compreendendo setores e órgãos, tanto público como privados,
além de organizações.

Os problemas da desertificação no Nordeste não se reduzem às conseqüências


de desconhecimentos de “normais” e de condições físicas do ambiente, nem às
práticas de manejos e técnicas de usos inadequados às condições do semiárido e
subúmido seco de recursos como os do solo, hídricos e vegetação. Compreendem,
também, elementos de origem social, institucional, cultural e econômico; aspectos
críticos de mercados e de políticas públicas interagindo, em muitos casos, com os
fatores físicos.

Um fator decisivo na melhora de uma região é a presteza, entusiasmo e


participação da comunidade em ações públicas dirigidas para as melhorias de
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condições de vida em um ambiente sadio. Nesse contexto e conforme informações


de Duque (2004) é preciso entender os “problemas das comunidades retardadas
5
que apresentam aspectos paradoxais Anota que a insegurança material leva ao
pessimismo, à indiferença e que as “comunidades retardadas” tem reduzida
aptidão para internalizar conhecimentos avançados; limitações “em compreender
o valor do trabalho mútuo e demasiado zelo em não modificar seus costumes”.
Com seus saberes, essas comunidades permanecem no “método manual, de baixo
rendimento e à margem de avanços, impotentes, por se mesmas, para satisfazer as
6
suas necessidades elementares”. Trata-se de manifestações e comportamentos
que tem seus fundamentos em tradições, experiências e frustrações

Quais são os problemas, na dimensão social, que um plano de combate à


desertificação no semiárido do Nordeste, precisa considerar e tratar com
consistência? Entender quais são as causas de “aparentes” apatias e indiferenças
pela desconfiança daquilo na qual não participa; de comodismos e conformismos

5
São sintetizados três casos de experiência que mostram a complexidade e aparente contradição,
quando se trata a questão social de comunidades não-educadas. O primeiro refere-se ao
fornecimento de ração auxiliar de leite às crianças pobres que resultou na diminuição da
alimentação dada pelos pais as crianças: o esforço decresceu com a ajuda recebida. A segunda foi
o empréstimo temporário de máquinas aos irrigantes, enquanto compravam as suas, prolongando-
se por 15 anos, sem a aquisição de equipamentos próprios e com a destruição dos emprestados. A
terceira evidencia falta de interesse e de iniciativas do dono da terra pela conservação: conforme
aumentam as obras construídas pelo Governo, decresce a ação do sertanejo no aproveitamento do
açode particular e público (DUQUE, 2004).
6
“Um sertaneja de 50 anos de idade já assistiu e sofre pelo menos quatro secas; e ainda não
guarda, nos anos chuvosos, uma parte das colheitas, para salvar, na próxima crise, a sua família e
os seus gados. Prefere padecer a preservar os cereais. A imprevidência tem a força do atavismo; o
poder dos costumes é mais forte do que o sofrimento (...)”. São resultados aparentemente
contraditórios que evidencias a complexidade do problema de melhorar as condições de vida de
comunidades sem uma adequada formação, instrução e educação. Destacam as necessidades de
alimento [segurança alimentar], fraternidade [sentimento de responsabilidade e solidariedade,
ambição para se superar sem depender do governo, formação de novos hábitos como os de
acautelamento do abastecimento, prevenção e preservação da água, do solo e da biota] e ação
conjunta, com confiança e respeito da ação pública ao valorizar e potencializar os saberes
tradicionais de identidade (DUQUE, 2004).
81

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

diante do assistencialismo; da pouca ou falta de receptividade, pessimismo e


desconfiança, insegurança e imprevidência, desinteresse e omissão de participar.

A percepção e entendimento de fatos de inquietação, das possibilidades de


melhorias e das perspectivas e oportunidades que o próprio meio físico possam
oferece-lhe são aspectos básicos para incentivar e efetivar a participação.

Como hipótese central de trabalho se estabelece que exista no sertanejo, em


comunidades afetadas pela desertificação e vulneráveis aos efeitos negativos das
secas, inquietações em relação a degradação ambiental, preocupações de
melhorias de vida nesse meio e energias coletivas adormecidas que é preciso, com
urgência, entender para provocar o despertar e as reações de querer e se empenhar,
para acreditar e se entusiasmar e para buscar a participação, com aceitação de
comprometimento - responsabilidade, em suas próprias melhorias: é o resgate,
valorização e evidência da cidadania aproveitados no combate à desertificação.

Que é o que o Mapa pode contribuir para esse despertar da consciência e da


ação coletiva na melhoria? Faz parte da missão desse Ministério, através de sua
Empresa de Pesquisa, - a Embrapa, auscultar, gerar / adaptar e difundir
informações de resgate e valorização do saber tradicional e de um novo saber de
práticas para o manejo e de tecnologias para a conservação de ambientes e
recursos solo, hídricos e biota.

São elementos básicos, - as práticas e tecnologias, de um plano de educação a


serem discutidos, acordados e construídos, em parte, com a comunidade,
aproveitando suas diversas manifestações na caracterização de entraves e em
propostas de soluções que possam ser adotáveis. Nessas manifestações é possível
identificar brechas de melhorias e plausíveis alternativas de soluções. Tanto os
entraves como as possibilidades de soluções e de adoções, são importantes
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informações de orientação para a pesquisa e extensão rural gerar / adaptar e


transferir / difundir as soluções que a comunidade quer e pode adotar.

Diversos e complementares podem ser os sítios para a comunidade se


manifestar, tais como: reuniões específicas, centros comunitários, preleções em
feiras, escolas, exposições regionais, campos demonstrativos e áreas piloto em
propriedades rurais (...), prévios apoios e engajamentos de igrejas, prefeituras,
escolas rurais, lideranças das comunidades e, principalmente, de organizações de
produtores motivadas e incentivadas. Não basta reuni-los para pretender
empreender atividades conjuntas no pressuposto de ser possível e desejável
determiná-las sem essa participação efetiva e consciente dos interessados.

Daí a necessidade de que tais atividades e estratégias de melhorias sejam


discutidas e acordadas com todos os atores representativos da região alvo de um
plano ou projeto, sem posturas pré-concebidas; que os mesmo possam
compreendê-lo e vejam nele, além de suas identificações e expressões de saberes e
identidades, as oportunidades de melhorias.

Nesse contexto, admite-se, como hipótese de trabalho, que em discussões,


acordos e definições de atividades e estratégias integráveis em planos de combate
à desertificação e mitigação – convívio com a seca com as comunidades há
brechas para ampliar os saberes tradicionais e potencializá-los com novas
informações, com novos conhecimentos.

Nessa ampliação – adequação o Mapa tem um espaço para proposições de


práticas e de tecnologias do manejo e da conservação e de fontes de informações
para (re)orientar e fortalecer programas como os de pesquisa, extensão, crédito
rural, cooperativismos e associativismo, entre outros.

Foram obtidas informações sobre organizações sociais do semiárido


nordestino, mediante a pesquisa documental, que mostravam a divisão de esforços
entre setores e, ainda, em um mesmo setor; de dispersão de recursos em projetos
83

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

isolados ou projetos sem consistências nem perspectivas; e do o confronto de


interesses e desacordos entre propostas de produtos esperados e resultados
efetivamente alcançados, bem como entre dirigentes e dirigidos.

Esses termos revelam, ainda que sem a necessária compreensão dessas


dificuldades, problemas que devem ser considerados em um plano; problemas
como os de credibilidade de ações governamentais; e problemas de
assistencialismos e protecionismo históricos (ver nota de rodapé 4).

Algumas estratégias e ações do Mapa podem se orientar para levantar dados,


ordená-los e analisá-los para compreender problemas de organização,
reestruturação e cooperação, acreditando-se que o cooperativismo e
associativismo, ainda dentro das linhas de atuação e orientação de demandas
atendidas pelo Departamento de Cooperativismos e Associativismo (Denacoop /
Mapa), sejam capazes de promover o crescimento regional com inclusão. Capazes
de promover ações do desenvolvimento humano, de geração de trabalho e renda e
de melhoria da qualidade de vida de associados às cooperativas e associações
rurais.

Como na maioria dos aspectos problemáticos mencionados, neste, tem-se,


também, a pouca preparação para organizar o cooperativismo e aproveitar o
associativismo no semiárido nordestino. São, portanto, oportunidade que se
perdem para buscar e fortalecer a solidariedade e a confiança entre sertanejos
vizinhos (DUQUES, 2004; complementado).

Algumas experiências mostram crescimentos sustentados por melhorias de


atividades produtivas em arranjos de cooperativas agropecuárias e melhorias na
capacidade de planejamento e de gerenciamento, conforme percepções de avanços
significativos na organização de cadeias produtivas de Ceará e Pernambuco
(MAPA, 2008).
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Tais avanços, no possível fortalecimento e ampliação de atividades do


cooperativismo e associativismo do Mapa, poderão compreender, de forma mais
intensiva e, em especial, direcionada, as zonas semiáridas e subúmidas secas
nordestinas afetadas pela desertificação, com maiores resultados que os indicados
nas percepções e avanços alcançados.

Outras ações e estratégias coordenadas e/ou desenvolvidas pelo Mapa e que se


apresentam como fatores limitantes do semiárido nordestino são o crédito e
financiamento rural, em arranjos de possíveis estruturas produtivas melhoradas
com novos conhecimentos e inovações adequadas à região. Essas ações e
estratégias, quando fortalecidas e devidamente direcionadas para as comunidades
engajadas porque delas participarem e são responsáveis também em suas
definições e implementações, deverão contribuir no desenvolvimento da região.

É oportuno destacara que são ações e estratégias, as de crédito e financiamento


rural, possíveis de serem potencializadas com as ações de organização,
(re)estruturação, do cooperativismo e associativismo rural. Proposições de
melhorias integráveis, também, com ações como as de assistência técnica –
extensão rural, sistemas de informações, zoneamentos ambientais e com estudos
de mercados – economias regionais, onde o crédito se situa.

Outro problema que se coloca no campo de combate à desertificação é o


escasso valor (ou sem valor) de ambientes e recursos como solo, hídricos e
vegetação do semiárido; o não-reconhecimento dessas riquezas naturais por
estruturas como as de mercado e sistemas contáveis; e a limitada capacidade para
agregar valor, no local, em processo e produtos em que esses recursos se
transformam em bens e serviços.

São problemas ligados, em grande parte, com estruturas de organização, posse


e concentração desses recursos. Relacionados, principalmente, com as deficiências
85

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

– limitações de conhecimentos, inclusive por parte de entidades governamentais, e


de bases obsoletas como as legislativas – jurídicas.

Nesse contexto de (des)ordenamentos surgem conflitos fundiários de uma base


herdada; uma estrutura fundiária concentrada que remete ou está associada ao
problema de expulsão de pequenos arrendatários, parceiros, meeiros e pequenos
produtores de base familiar.

Os efeitos dessa estrutura são transformações de relações sociais de produção,


aumento de contingentes de trabalhadores assalariados temporários, subemprego e
desemprego no meio rural.

É importante considerar, ainda que sem as necessárias informações para a


caracterização de fatos que possam orientar planos de combate (…), a perda de
competitividade de processos e produtos como decorrência de fatores críticos na
certificação e monitoramento – controle de processos e resultados com qualidade,
oportunidade e especificidade - diferenciação de atendimento.

Neste campo, são notáveis as atividade que podem ser fortalecidas para serem
ampliadas e direcionadas ações do Mapa na certificação ambiental, de processos e
produtos excedentes e com “possíveis” vantagens no mercado. São ações que, via
educação, poderão contribuir para o aumento de renda e melhorias de bem-estar
dessas comunidades.

Contudo, tais contribuições poderão ser limitadas quando consideradas


isoladamente. É preciso o entendimento de todo um contexto físico e antrópico
para que os resultados possam ser potencializados como, p.ex., tecnologias para
produzir com a proteção de fontes; crédito e assistência técnica, com segurança
em estruturas fundiárias; agregação de valor de bens produzidos no local para a
segurança alimentar providente e aproveitamento de oportunidades de mercado
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com vantagens; alternativas às práticas tradicionais de desmatamentos –


queimadas; melhorias em condições de saneamento e educação etc.

O nordestino do semiárido é a expressão e síntese de seu meio, história e


evolução, com sua própria identidade, anseios e perspectivas de melhorias. Um
ser que precisa ser entendido e projetado nesse contexto, com melhorias, para que
possa ser auxiliado no convívio com a seca e controle da desertificação. Trata-se
de um entendimento complexo e com muitas variáveis, inter-relações (…) que não
poderiam ser compreendidas por um boletim técnico simples, em muitos aspectos,
simplista.

Neste boletim, apenas indicam-se alguns componentes agregados, com sentido


em determinada direção e exemplificam-se formas como se poderiam auscultar e
ordenar variáveis para um possível início de processos com informações
disponíveis e recursos que, de forma objetiva, “racional” e criteriosa possam ser
alocar em um plano de combate à desertificação e mitigação – convívio com a
seca.

A objetividade desse plano deve-se ao foco direto e delimitado desse combate


em etapas, conforme a urgência de vencer cada batalha; a racionalidade, na lógica
e conveniência de aliviar pressões ao recuperar áreas em processo de degradação e
educar para prevenir, proteger e manejar-conservar; e criteriosa, pelo acerto, em
parte técnico e tecnológico-científico, na consistência e adequabilidade dos
instrumentos e estratégias utilizadas ao compreender às comunidades. Essa
provocação de entendimento é o destaque neste boletim.

Para fins ilustrativos e precedendo técnicas de ordenamentos e hierarquização


de fatores, como elementos de orientação na tomada de decisão (questões a
responder: por onde começar e o que segue), apresenta-se o problema da
desertificação e seus desdobramentos, em formas muito resumidas, nas Figuras 13
e 14.
87

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

A importância e a pertinência dessas apresentações ilustrativas estão, em parte,


na maneira objetiva, simples e direta em que se indicam os relacionamentos de
causas e efeitos; os efeitos e os objetivos; e os objetivos e os meios necessários,
como recursos materiais e humanos, atividades de planejamento gestão etc., para
se alcançar as finalidades propostas, conforme se indica nas Figuras 16 e 17.

Essa maneira ilustrativa facilita exposições, discussões e entendimentos em


grupos de trabalho, com todos os interessados, indispensáveis para acordar
atividades e estratégias do planejamento na elaboração de um plano de combate à
desertificação e convívio com a seca.

A desertificação, na Figura 13, é considerada, para fins didáticos, como o


resultado de três grandes componentes de causas que agem e interagem: a
desertificação por causas de desmatamentos – queimadas, com a exposição do
solo aos agentes erosivos; do uso intensivo, precedido de desmatamentos
recorrentes, que coloca o desafio da definição de uma referência para avaliar os
efeitos dessa intensidade. Essa referência é a capacidade de suporte dos recursos
da terra e consulta características típicas do local, tais como potencialidades e
limitações; a referência se define com indicadores da capacidade de suporte
ambiental em cada região; e políticas inadequadas que, de uma ou outra forma,
favorecem a incidência de fatores da desertificação como são os de uso indevido
da água na irrigação, os usos e manejos “tradicionais” dos solos e políticas
públicas.

Na Figura 14 se ilustra um dos fatores mais importantes da desertificação: a


erosão dos solos com alguns indicadores desse processo no semi-árido nordestino.
A desertificação, via erosão dos solos, como causa de processos naturais e
antrópicos sinalizando algumas relações importantes, porém gerais, portanto
insuficientes para indicar necessidades ou urgências de atendimento. No final do
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processo se indica a erosão do solo que se define por um conjunto de fatores


agindo diretamente e em estreitas inter-relações e sinergismos.

Entender os efeitos desses fatores no processo de erosão, com origens e


manifestações diversas, e as interações entre eles é básico para estabelecer
fundamentos e instrumentos de prevenção, recuperação e controle; para definir
lógicas e racionalidades que se situam em várias dimensões para compor planos
de manejo, políticas públicas, legislações de conservação e projetos de educação –
capacitação de produtores, entre outros instrumentos multidimensionais que se
integram para o combate à desertificação. Os interessados sobre estimativas,
simulações e estudos de casos que evidenciam relações e inter-relações entre
fatores que concorrem para definir a erosão no semiárido podem consultar Garcia
(2009a), entre outras fontes

4 Objetivos e Metas
Tanto na fonte consultada como neste boletim síntese, sugere-se o
fortalecimento e, por vezes, ajustes e/ou redirecionamentos tanto de competências
e propósitos do Mapa, no que se refere à política agrícola, à produção e
abastecimento; à proteção, conservação e manejo do solo e dos recursos hídricos
voltado ao processo produtivo agrícola e pecuário do semiárido em estruturas
como as da agricultura familiar e de subsistência e à assistência técnica e extensão
rural, quanto aos propósitos da política de combate à desertificação e mitigação-
convívio com a seca. Ajustes nessa política para compreender a devida
importância do uso com proteção, do manejo com integração no planejamento-
gestão participativa.

São sugestões com viés para o manejo e conservação de recursos naturais,


porém compreendendo fundamentos e instrumentos como os de preservação e
proteção ambiental, admitindo-se como hipótese de trabalho que é possível e, em
89

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

muitos casos se complementam as atividades de proteção ambiental com as de uso


desses ambientes sob proteção.

São objetivos e metas, os de manejo e conservação, sugeridos no sentido de se


conformarem às adequações de realidades - possibilidades das zonas semiáridas e
subúmidas secas, estabelecidas pela Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação (UNCCD; art. 10º.), ao considerar:

“o objetivo do programa de ação nacional consiste em identificar os


fatores que contribuem para a desertificação e as medidas de ordem
prática necessárias ao seu controle e à mitigação dos efeitos das
secas”.

Entende-se que essa conformação não atinge ou é de competência exclusiva do


Mapa, mas compreende a administração pública, ao Poder Público ao qual é
atribuída competência para estabelecer normas de uso e ocupação do solo, em
todos os níveis nos quais o problema da desertificação se faça presente, conforme
jurisdições dos entes do pacto federativo. Competências como, p.ex., dos
municípios, onde se recomendam, conforme prescreve o Estatuto das Cidades,
que essa unidade administrativa implemente um sistema de gestão ambiental para
auxiliar normas legais, entre outras, as de proteção ao meio ambiente, tanto
natural como construído.

A Lei Agrícola, em seu cap. VI, relativo à proteção do meio ambiente e da


conservação dos recursos naturais, define, entre outros objetivos, os de
atendimento às demandas regionais com características específicas como é o caso
do problema de desertificação no Nordeste, exigente por ações específicas de
prevenção, proteção e de manejo – controle no âmbito de atuação do Mapa.

No Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidades – DEPROS /


Mapa consta, entre outros propósitos, elaborar planos, programas e projeto de
90

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desenvolvimento de sistemas especiais de produção agropecuária, ambientalmente


sustentável e

“implementar programas, projetos, ações e atividades de fomento,


visando à melhoria da eficiência e à sustentabilidade dos sistemas
convencionais de produção agropecuária, avaliando os impactos
ambientais, sociais, econômicos e estruturais”.

Na implementação desses planos, programas projetos por parte do DEPROS


relacionam-se diversas ações com um sentido sistêmico, tais como: a produção
agropecuária integrada; a recuperação de áreas degradadas no contexto do
ambiente físico e antrópico; e o manejo, proteção e conservação do solo e água no
contexto de bacias hidrográficas como unidades de planejamento e gestão (os
destaques em negrito de conceitos nos parágrafos precedentes não são
considerados nas fontes consultadas; MAPA, 2008).

Em desdobramentos ou aplicações do Regimento Interno do Mapa se


registram, entre outros propósitos consistentes com o combate à desertificação e
mitigação - convívio com a seca, os seguintes:

a) a promoção de treinamento sobre [o planejamento] a gestão da empresa


agrícola com vistas às melhorias de controles administrativos da
propriedade;

b) a realização de cursos para técnicos [lideres da comunidade, associações


rurais, cooperativas etc.] e produtores rurais em áreas de manejo e
conservação do solo e da água e sobre sistemas agrícolas.

Com base nas informações anteriores é possível definir objetivos gerais,


algumas delas com desdobramento no documento Combate à desertificação e
mitigação – convívio com a seca, que compreendem orientações na especificação
de objetivos e metas específicas de um dos projetos prioritários do DEPROS para
91

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

o desenvolvimento agropecuário sustentável: a proteção de áreas vulneráveis e a


recuperação de áreas degradadas. Algumas dessas proposições são:

a) Promover atividades de prevenção, proteção e recuperação de áreas


vulneráveis e de áreas afetadas pela desertificação, segundo seja o caso, em
processos como os de erosão dos solos.

Entre os meios dessa promoção, prevenção e recuperação se têm a


capacitação–treinamento de lideranças e produtores rurais, a educação
ambiental e a pesquisa–extensão orientada para a otimização sustentável na
conservação dos recursos naturais, portanto, sem comprometer as fontes
quando utilizados esses recursos na perspectiva de longo prazo e na
capacidade efetiva de atender às futuras gerações.

O Mapa considera que o fortalecimento das atividades agropecuárias está


estreitamente associado ao manejo e a conservação dos recursos naturais.
Por essa consideração pressupõe que as ações planejadas, acordadas e
orientadas para os usos e manejos adequados desses recursos, em especial,
do solo, água e vegetação, são fundamentais na promoção da agricultura
sustentável.

b) Participar, incentivar, financiar ações de prevenção, de proteção e de


controle de áreas sujeitas à desertificação com base em dados confiáveis e
atualizados da região e clientes alvos dessas atividades.

c) Realizar e/ou participar, incentivar e financiar ações de monitoramento com


base em dados confiáveis e atualizados das atividades realizadas e dos
resultados alcançados, possíveis de sintetizar em indicadores

Um dos meios básicos da efetivação da participação (…) de ações de


proteção e de realização de monitoramento é o dado e informação com
qualidade, valor e utilidade, a ser sintetizado no indicador utilizado no
92

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planejamento e gestão ambiental e na conservação e manejo integrado dos


recursos naturais do semiárido nordestino.

Outro meio é o zoneamento ambiental, que, entre outros fins, permite gerar
uma base de dados e informações em tempo real, para o ordenamento
territorial de orientação ao financiamento de ações de prevenção como as de
eventos climáticos críticos e de monitoramentos por zonas para fins de
proteção e manejo – conservação, segundo seja o caso.

Parte das atividades desenvolvidas pelo Mapa é para completar uma base de
dados suficiente que permita fundamentar o processo de D∩S em cada
região, de desenvolvimentos regionais integrados, com ações, entre outras,
as de prevenção e recuperação de áreas em processo de degradação.
Também é função do Mapa ordenar o território com base em critérios,
conforme foi ilustrado na Figura 12.

No combate à desertificação é preciso compreender, com a necessária


representatividade, confiabilidade e atualização (daí a necessidade de uma base de
dados consistida), às comunidades, suas expectativas e possibilidades de adoção
de novas informações e tecnologias, sem o maléfico sentido paternalista. Isto é,
sem o autoritarismo que o Estado (ao limitar as liberdades individuais com base
em valores axiológicos para fundamentar as imposições) ou uma pessoa exerce
sobre uma comunidade, combinando decisões arbitrárias, julgando-as corretas, e
inquestionáveis.

Compreender, - no plano, a natureza das atividades produtivas, interesses,


perspectivas, organização e estados socioculturais de comunidades vulneráveis
e/ou afetadas por esse fenômeno, como parte imprescindível desse combate, não
apenas para construir esse plano com a participação e comprometimento de todos,
da maioria, mas para efetivá-lo, com essa participação, e legitimá-lo ao torná-lo
um plano da comunidade. Isso, porque o plano sintetiza dimensões como o da
93

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

realidade, do desejo e do poder (ver Figura 15) no contexto coletivo e


democrático.

Dessa forma entendido, negociado e construído o plano de combate à


desertificação, ficarão excluídas “outras” dimensões da realidade (p.ex., a seca
como uma oportunidade de negócio), do desejo (p.ex., a concentração de
benefícios na perspectiva economicista) e do poder (p.ex., da terra e seus recursos
centralizados em função de estruturas e instituições que precisam de revisões ou
mudanças).

Um plano de combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca


deverá compreender pelo menos seis dimensões que interagem e/ou se
complementam, conforme se ilustra na Figura 15. Essas dimensões são:

a) Os desejos (de melhorias para a maioria) e as possibilidades (de adoção


dessa maioria) de informações para novos conhecimentos e de serviços,
práticas e tecnologias de mudanças e inovações de uma realidade
insatisfatória: o problema delimitado no espaço e tempo, caracterizado pelas
suas causas e ordenado conforme descritores apropriados em cada caso.

O problema só existe se forem identificados, caracterizados e delimitados


clientes e áreas afetados por ele e se esses clientes e representantes das áreas
se manifestarem em busca de soluções; esse é o sentido da participação da
comunidade para expressar o problema da realidade e o objetivo como
desejo de soluções, de aproveitamento de oportunidades, de melhorias de
bem-estar no local (convivência com a seca).

São desejos e possibilidades de comunidades e áreas afetadas pela situação


insatisfatória e que devem indicar melhorias em arranjos e cadeias de ações
e estratégias e de resultados e impactos.
94

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Portanto, nesses desejos e possibilidades se desconsideram expressões de


minorias que, entre outros propósitos, explícitos ou não, fazem das secas e
das condições do semiárido oportunidades de negócio sem benefícios
sociais.

b) A realidade problematizada, colocada em termos de dimensão da


governabilidade, ao responder questões, tais como:

Quais são os “estados” e condições insatisfatórias e o que eles representam


para o Estado, para a sociedade e para o meio ambiente?

Quais são os fatores, condições e causas que determinam essa situação?

Quantos clientes e comunidades pobres e áreas são os afetadas pela


desertificação?

Como esses impactos negativos se traduzem em ações de supervisão, de


monitoramento e de controle, de governabilidade?

Quais são as possibilidades de transformação dos fatores mais importantes?

Há suficientes recursos, conhecimentos, decisão-vontade política e


instrumentos para tratar as causas da desertificação na região?

c) O poder; dimensão em que se especifica, pela capacidade efetiva de ação,


pela vontade e decisão política de agir para solucionar, o quanto é
importante o plano e o procedimento de sua elaboração com a participação
efetiva e comprometida da comunidade ao se identificar com esse plano e ao
sentir a valorização de seus saberes e poder coletivo.

Essa importância pode ser avaliada e ordenada pelo nível de atendimento às


demandas de recursos necessários para a definição, com as comunidades, e
implantação na região com determinadas realidade, desejo e poder de ação.
95

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

DESEJO

Preparação- Dever-
disposição responsabilidade

REALIDADED PODER

Planejar, gerir
ajuste institucional

Figura 15 Três dimensões básicas (peças que se integram) na construção de


um plano: desejo, realidade e poder, com desdobramentos e integrações em
três dimensões: preparação, gestão e dever.

d) O dever, dimensão que pode ser definida como o comprometimento dos


envolvidos, públicos e privados, com o plano em resposta à governabilidade
e à legitimação determinadas, respectivamente, pela ação do Estado e pela
participação da comunidade.
96

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É a capacidade de suporte à ação e atividades que propõe desenvolver e da


capacidade para assumir, com responsabilidade, essas ações e suas respostas
na solução (ou não) do problema, de atendimento ao desejo.

e) Preparação, dimensão composta por partes destacadas, neste boletim, como


são a realidade e o desejo de melhorias.

É importante notar que a preparação para atender necessidades da realidade


em desertificação e desejo de bem-estar, viver mais e melhor (…) tem
implicações de não-sustentabilidade não apenas pelas limitações de recursos
para entender a complexidade dessa realidade, mas pelo sem limite do
desejo. Dessa forma, a preparação é para explicitar a realidade no que é
possível em função de uma base de dados disponível e definir os objetivos
que possam atender anseios priorizados

Uma parte importante da preparação se destina ao ordenamento e


priorização de causas importantes da realidade problematizada e
insatisfatória; dirige-se, também, para ordenar necessidades conforme
determinados indicadores de priorização.

A preparação, além de representar o lado da exeqüibilidade técnica e


operacional para compreender a realidade e atender os objetivos, busca o
equilíbrio ao se orientar por conceitos como os do poder e dever e da
racionalidade (p.ex., da razão custo / benefício) para agir em um ou outro
fator desse combate.

Técnicas e métodos para a preparação de ordenamento, hierarquização e


decisão na escolha do que pode – deve ser tratado em cada “batalha” desse
combate são apresentadas e ilustradas por Garcia (2009a).
97

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

f) Planejamento estratégico, gestão integrada, condicionamentos institucionais


como os de ajustes ou mudanças de legislações que se destacam das
dimensões da realidade, - do problema, e do poder, - da capacidade de ação.

Para o combate do problema de desertificação, sintetizado na Figura 13,


com indicações gerais de causas e correspondentes efeitos, têm-se, na Figura 16,
os objetivos e metas para cada um dos conjuntos exemplificados: controle de
causas e, como resultado, o domínio ou controle no efeitos que determinam a
desertificação. A passagem da realidade (problemas: Figura 13) para o desejo (os
objetivos: Figura 16) coloca em destaque os correspondentes meios
intermediários de recursos (financeiros, materiais e humanos), procedimentos e
técnicas-tecnologias necessárias para se atingirem os objetivos, conforme se
ilustra na Figura 17.

Para cada causa e seu correspondente efeito se tem um procedimento, uma


demanda de recursos, um período para tratar essa causa, um custo e um benefício,
um resultado. O ordenamento dessas causas em termos desses custos e benefício é
um indicador para a consideração ou não de cada uma delas em um plano,
esclarecendo que muitas causas agem de formas conjuntas ou simultâneas, com
efeitos potencializados ou sinérgicos. Neste boletim não se consideram esses
casos.

A parte que segue complementa, também em termos gerais, aspectos


agregados de problemas ou da realidade e de objetivos ou desejos, com um
propósito pedagógico e, certamente insuficiente para se constituir uma referência
de treinamento e capacitação e/ou para a elaboração de um plano ou projeto de
combate à desertificação. É preciso, para tal propósito, dispor de uma base de
dados atualizada e consistente, de dados da realidade e do desejo de mudança do
que social e ecologicamente se considera insatisfatório. Alguns aspectos básicos
98

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para a obtenção, síntese e análise de dados que possam orientar um plano são
apresentados no documento fonte desta síntese (GARCIA, 2009a)

5 Exemplos de Técnicas para Completar uma Base de


Problemas e Objetivos do Combate à Desertificação e
Mitigação – Convívio com a Seca
Em termos gráficos, tanto os problemas e objetivos de um plano de combate à
desertificação (...) como os recursos necessários para caracterizá-los (os
problemas) e atingi-los (os objetivos), em uma proposta de um plano podem ser
sintetizados e apresentados na Figura 17. Porém, antes dessa apresentação
simplista é preciso percorrer determinadas etapas para dar sustentação e
legitimidade às propostas de planos, ainda que simples, mediante planejamento
que permitam orientar a transformação de situações não satisfatórias, - com
problemas, em situações desejadas e possíveis.

São etapas do Enfoque Quadro Lógico (EQL) e do método de planejamento


ZOPP com elementos que se apóiam reciprocamente (de métodos e abordagens,
de aplicação e gestão) e permitem aproximar experiências, conhecimentos e ideias
fornecidas por um grupo.

O método ZOPP é baseado em princípios como os da cooperação entre


técnicos, financiadores (…) e comunidades e análise de problemas e suas causas e
feitos, incorporando técnicas gráficas (p.ex., árvores de problemas e objetivos e
diagrama de Ishikawa) como as ilustradas nas Figuras 13 a 17.

O EQL é uma matriz elaborada durante um processo de estruturação com os


elementos considerados mais importantes de um plano. Inclui as representações
de todos os afetados, envolvidos e possíveis beneficiários do plano, que permite
uma apresentação sistemática, lógica, sequencial e sucinta de assuntos relevantes
(Quadro 4).
99

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Sociais, entre outros resultados consistentes com D∩S:


- Fixação do homem no meio rural → redução de problemas (...)
- Aumento ou manutenção de sua qualidade de vida:
Redução da mortalidade infantil, aumento da expectativa de
E vida, segurança alimentar, saneamento (...) em seu meio rural.
f - Consolidação familiar e da unidade de produção (...).
e
i Econômicas, entre outros:
t - Aumento da produtividade e da produção agropecuária.
o - Aumento sustentável e distribuído na renda e no consumo.
-Estruturação e organização do mercado como efeito em (…)
s
- Estabilidade – segurança: riscos aceitáveis e incertezas
reduzidas em função de previsibilidade, preparação (....).
p
o Urbanas, entre outros:
s - Diminuição da pobreza em periferias urbanas, porque (...).
i - Menor pressão de aumento do desemprego, devido a (...)
t - Menor pressão de desequilíbrio urbano e regional (…)
i
v Ambientais, entre outras:
o - Resgate e proteção: biodiversidade, solo, água (...).
s - Valorização de serviços ambientais como retenção da
água no solo, purificação (assoreamento), amenizar
secas, oportunidades de melhorias. Perspectivas, am-
bientais e econômicas, com a do comércio do carbono.

CONTROLE DA DESERTIFICAÇÃO C
o
n
Controle desmatamento: Conservação: Práticas adequadas (...):
Cobertura (proteção) do solo Dentro capacidade/suporte De irrigação e drenagem (...) t
Impedir a erosão mediante (...) Cultivos adequados (...) De manejo integrado solo (...) r
o
l
Eficientes, atualizadas, completas informações para a educação, capacitação, assistência – extensão,
prevenção-proteção, conservação e manejo do solo integrado à água, à vegetação (...): educação. e
Redução da pobreza rural e eficiências de legislações, políticas e ações-estratégias de combate (…)

Figura 16 Ilustração do controle de causas e de seus efeitos que evitam a desertificação


Fonte: Mapa. Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca (2009).
100

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Problemas no FISICO

Q Q Q

Causas da
DEGRADAÇÃO

Q Q Q Q Objetivos no FISICO
Econ. Social Cultural Institucional
P r o b l e m a s Pq Pq Pq

Objetivos no
CONTROLE

Pq Pq Pq Pq
Econ. Social Cultural Institucional
O b j e t i v o s
Recursos, técnicas, métodos no FISICO

C C C
Meios de controle, de
prevenção, de
recuperação (...)
EDUCAÇÃO
Políticas Públicas
GESTÃO (...)
C C C C
Econ. Social Cultural Institucional
Recursos, técnicas, métodos

Q =qual é o problema? Que fatores e condições o determinam na região?


C = como resolver o problema? Como devem ser especificados os meios?
Pq = por que resolver o problema? Para quem se orientam as soluções?

Figura 17 Diagramas de Ishikawa para indicar arranjos de causas do problema da


desertificação, de meios materiais e humanos de controle e de objetivos a alcançar
101

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Essa matriz precede, ao informar, (é uma síntese de procedimentos omitidos


neste boletim) a fase de planejamento, que é o que se deseja, pode e deve mudar
com a intervenção, com as ações e estratégias acordadas, integradas e propostas
no plano: uma situação inicial indesejável, crítica (...): o problema,
transformando-a com melhorias possíveis e desejáveis.

Essas duas situações, inicial e final-esperada, apesar de apresentarem fatores


comuns para o semiárido nordestino, poderão variar em seus detalhes, de região
para região, conforme sejam as especificidades ou singularidades dos problemas,
dos envolvidos e afetados e dos objetivos e alternativas–possibilidades de cada
uma dessas situações.

As etapas do planejamento participativo compreendem, entre outras, uma base


de dados e informações para representar o problema ou situação inicial não
satisfatória. Essa base deve ser, quanto possível, consistida e de equivalentes
níveis de desdobramentos (detalhamentos) e atualizações. Isso, facilita a análise e
síntese (em indicadores) em escalas técnico-operacionais determinantes da
gravidade e urgência de tratamento dos problemas no presente.

A seguinte etapa compreende a definição de objetivos, de soluções estratégicas


das situações desejadas – esperadas com as soluções previstas. Segue a
especificação de meios necessários, materiais, financeiros e humanos, para
alcançar os objetivos propostos na situação almejada.

Os conceitos de situações “não-satisfatória” no presente (refere-se a


determinada região, condições, envolvidos-afetados, objetivos e recursos,
estruturas de dominações etc.) e “desejada – exequível” (por esses mesmos
condicionadores) no futuro são básicos para determinar as participações de
agentes, os afetados com o problema (conhecidos) e dos possíveis beneficiados
(esperados) no futuro.
102

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São fases, as do planejamento participativo, essenciais do ciclo de vida de um


plano ou projeto, de um processo de tomada de decisões e de comunicação, dentre
as alternativas para melhorar a situação existente e onde cada alternativa
representa um caminho possível para alcançar a situação desejada. Esta situação
deverá oferecer os benefícios do combate “bem sucedido” à desertificação e os
melhoramentos que possam mitigar efeitos das secas e possibilitar a convivência
com esse fenômeno reconhecido pela comunidade e gerenciado com a
comunidade.

Dessas fases, com ilustrações de técnicas da EQL e outras e com


exemplificações, trata-se, em termos gerais, nas próximas seções.

É oportuno esclarecer que o EQL não é um plano; trata-se apenas de uma fase
que o precede e ajuda para, entre outros propósitos, auxilia a planejadores, a
gestores e executores do plano, para responder:

a) Por que o plano deve ser discutido, acordado e implementado com a direta e
responsável participação da comunidade? É uma referência que se apresenta
para discussão, (re)definição e acordos de pontos importantes a considerar
no plano.

b) Quais são seus objetivos, os meios requeridos para atingi-los e as mudanças,


ajustes, novas ações (...) propostas para serem alcançadas no horizonte do
plano? A discussão permite (re)definir propósitos e auscultar possibilidades
de adoção.

c) Como se pretendem gerar / adaptar e transferir / difundir essas propostas de


melhorias? Combinam-se a parte técnica, financeira, conceitual de políticas
(…) com a parte operacional de desenvolvimento e de transferência, de
monitoramento e avaliação de impactos diretos e indiretos, da articulação –
integração, entre outras.
103

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

d) Quais são as condições e as possibilidades externas à região, às


comunidades que influenciam (poderão influenciar) o alcance de resultados,
dos efeitos esperados com o plano? O plano é um instrumento que acena ou
se desenvolve simultaneamente com orientações prospectivas e de cenários.

Algumas dessas orientações são referências para avaliar ex – antes os


resultados do plano.

Tanto os impactos, relacionados aos objetivos, como as suas avaliações para


determinar a efetividade situam-se fora da governabilidade dieta do plano

e) Como se identificam, monitoram, avaliam, projetam em cenários (...) as


mudanças e impactos, os ajustes e novas ações (...) indicadas no plano?

Com as respostas obtidas das “melhores” fontes de dados e informações, - os


envolvidos e interessados, procura-se dar indicações da racionalidade,
conveniência, oportunidade e até de estimativas ex - antes de benefícios esperado
de um plano já na fase de planejamento.

As etapas de um ciclo de vida de um projeto podem ser agrupadas em dois


conjuntos:

a) A etapa de análise que compreende diagnósticos temáticos integrados da


situação existente em cada região. São estudos detalhados que buscam as
representações, por dados consistidos, de situações existentes: os problemas;
dados históricos e de evoluções para entender as situações; análises
conjuntas de causas com quantificações e descrições de efeitos e interações
entre fatores físicos e antrópicos; e prognósticos de situações esperadas:
formulação de cenários e prospectivos, para cada conjunto de pressupostos e
de hipóteses, de alternativas e condições.
104

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b) A etapa de concepção de um plano ou projeto, um instrumento de política


(de tomada de decisão, de comunicação, de fundamentação-orientação para
aplicação de recursos etc.), que poderá ser sintetizada numa matriz lógica
compreendendo todas as ações e estratégias desse instrumento.

A primeira parte, a de análise, compreende a apreciação dos envolvidos, de


todos os grupos, pessoas e organizações da região, públicas e privadas, que, direta
ou indiretamente, estejam envolvidos (ou possam estar) com as ações e estratégias
de um plano de combata à desertificação e que possam influenciá-lo ou serem
influenciadas por esse instrumento uma vez implementado. Essa análise pode ser
complementada, com novas informações, no transcurso do planejamento do plano
ou projeto.

Para que o planejamento seja confiável e realista na percepção da situação


existente, eficientes nas ações que propõe e efetivas nos resultados esperados
dessas ações e estratégias conjuntas e integradas, é necessário que o planejamento:

a) seja operacional e privilegie - mantenha a participação como um diálogo


entre partes interessadas: todos os participantes devem ter semelhantes
(iguais) compreensões do problema, de formas de lidar com a situação
existente para alcançar os objetivos de melhorias; da importância de cada
participação nessa construção;

b) inclua valores e interesses da comunidade que se integrem e potencializem


com as ações de melhorias;

c) tenha fundamentação técnico-científica adequada às condições da região e


de fácil entendimento e aplicação – integração com saberes tradicionais de
comunidades alvos do planejamento; fundamentação que, além de
adequada, possa ser de fácil entendimento com informações (para novos
conhecimentos) e técnicas (para inovações no manjo e conservação) de
relativa facilidade e segurança na adoção;
105

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

d) considere o gênero ao compreender regras, tradições e relações sociais,


culturais e econômicas definidas entre o homem e a mulher;

e) compreenda todas as partes interessadas – afetadas: trabalhadores,


agricultores, posseiros, proprietários, organizações de classes locais e
regionais / sindicatos, cooperativas, órgãos da administração pública
municipal, estadual e nacional, escolas, igrejas, feiras regionais etc.

O primeiro passo, na análise de participação de todas as pessoas, grupos,


interessados (...), compreende os seguintes procedimentos:

Listar (classificar e agrupar, descrever e analisar, avaliar e obter novas


informações das inferências) todos os participantes de interesse que se localizam
na região alvo do plano, com suas posições, tipos de interesses, níveis de
incidências do problema em cada um e relações com outros.

Cada participante escreve um problema, com breve argumentação e, quanto


possível, com indicações de causas, gravidade (...). Na discussão se procura
identificar e caracterizar o problema central para cada grupo e nível de interesse.

O próximo passo é o da análise das causas e de feitos do problema central,


organizando-as de acordo com determinados critérios de agrupamento e
hierarquização.

A síntese dessa listagem (do agrupamento e classificação, da descrição e


análise e da avaliação) com indicações da caracterização desses participantes
aparece no Quadro 4. É a síntese indicativa – descritiva dos dados dos envolvido –
interessados, sumarizada em uma matriz, com possibilidades de armazenar e tratar
em um banco de dados e onde cada informante é designado por um código
(identificador numérico ou não de um campo de tabelas relacionadas em um
sistema de informações.
106

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA


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Quadro 4 Indicação dos principais “clientes”, interessados e envolvidos no plano


GRUPO DE PRINCIPAIS RECURSO E
CODIGO VALOR PODER INDICE CONFLITO
INTERESSE CARACTERÍSTICAS MANDATO

Os grupos de interesses podem ser orientados conforme descritores de


atividades constantes no dicionário do banco de dados ao qual se refere essa
matriz. Esses grupos poderão compreender apoiadores potenciais, indiferentes e
oponentes potenciais, classificação por escala de operação, por tipo de atividade
etc.

Nas principais características se listam os interesses de cada grupo afetados


pelo problema, - a realidade, e os possíveis benefícios esperados com a solução do
mesmo, - os desejos, podendo-se utilizar subdivisões para os agrupamentos de
causas (problemas) e benefícios (objetivo).

É preciso fazer fiel observação e registro, “tradução” e interpretação dessas


características básicas para que efetivamente sejam consideradas com sua devidas
importâncias nas fases seguintes do planejamento e nas etapas de implementação
do plano.
107

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Na coluna recursos e mandatos (Quadro 1) indicam-se os recursos que cada


grupo pode aportar – contribuir (ou reduzir) para o sucesso do plano (ou não) e o
nível de autoridade legal, de peso econômico, de responsabilidade, de importância
social-cultural (...) que esse grupo pode ter (poderá ter). É possível especificar a
contribuição do grupo como, p.ex., se apoiador potencial, se comprometido para
desempenhar uma função ou prestar um serviço, como complemento ou
potencalizador.

A coluna do valor se refere a importância que o interessado dá ao plano ou aos


componentes, em termos de necessidades e interesses. Esse valor pode ser
positivo ou negativo, representado por números associados com determinadas
características, conforme se exemplifica a seguir (devem constar as especificações
de agrupamento, conforme critérios ou referências adequadas a cada caso):
VALOR ou IMPORTÂNCIA QUE O PLANO explicita (deverá explicitar
conforme a natureza de suas propostas, em aspectos básicos: considerados três:
problemas, objetivos e recursos):

Escolher e anotar a opção, do quadro ao


lado, que melhor represente a situação

Realidade 5 = Bom, porque apresenta as principais características possíveis


de consideração no plano: consistência, objetividade,
completude, integração e exequibilidade
Desejo
4 = Aceitável, uma vez que compreende parte das principais
características.
Meios
3 = Deficiente, ao omitir fatores e condições necessárias e
possíveis de consideração no plano

2 = Mau, porque omite as principais características possíveis de


consideração no plano, ainda que com indicações ou referências
da realidade, do desejo e do poder

1 = Péssimo; simplista e sem referências


108

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A coluna poder se refere à capacidade de controle, de influência (...) que o


grupo interessado tem no plano, podendo variar conforme certa escala; a
ilustração que segue exemplifica a variável da matriz de caracterização do cliente,
do interessado (...). O plano tem outros componentes interessados com capacidade
de ação, isto é, com poder. O quadro que segue ilustra um caso:

Escolher a "melhor
opção" representativa

6 = Completo e/ou suficiente: o interessado dispõe de recursos, posição,


relacionamentos, contatos (...) necessários para influenciar ou decidir
no plano

5 = Influência significativa, quando o interessado tem força, mediante


(especificar) para influenciar a ação, interesse e participação dos
Poder em outros grupos
relação ao
plano 4 = Força e influências moderadas, em termos de _________________

3 = Força e influências baixas, definida por:____________________

2 = Reativo, sem poder nem influencias sobre os outros, porém com


condições de reatividade ao acompanhar e avaliar situações

1= Desconhecido

A coluna índice de impacto do interessado no plano se define como o produto


de valor pelo poder, no domínio de 36 (máximo) a um (o desconhecido), com
indicações para definir possíveis áreas de conflitos entre os grupos e ter uma
oportunidade para (re)definir objetivos, antes de se ter uma proposta do plano,
evitando-se ou minimizando-se assim a ocorrência de conflitos no
desenvolvimento.

A informação que é possível obter de exercícios como os indicados acima, com


pessoas, lideranças grupos interessados, permite gerar outras informações que
109

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

resultam de ordenamentos, sínteses e disposições adequadas para fins de


planejamento; para a preparação, execução e avaliação do plano.

Entre essas “outras” informações, utilizando-se técnicas do EQL, tem-se uma


matriz de estrutura lógica ou marco lógico (LOG FRAME) formada por quatro
linhas e quatro colunas, a serem preenchidas levando-se em consideração
informações detalhadas, entre outras, as do Quadro 4.

Nesse marco lógico se define um conjunto de conceitos interrelacionados que


possibilitam estabelecer como o plano pode ser desenvolvido, o que deve ser feito
e que resultados podem se alcançados. Compreende as diversas dimensões do
plano em termos de:

a) atividades a serem desenvolvidas conforme indicações ou orientações de


discussões e acordos com os interessados acerca da realidade, o desejo ou
objetivos e o poder ou as ações (Figura 15).

b) os componentes (poder) e resultados esperados (desejo) como informações,


serviços e produtos a serem gerados (que se espera gerar / adaptar e
disponibilizar) para o manejo e conservação de recursos da terra;

c) os objetivos esperados, conforme manifestações de envolvidos –


interessados no plano;

d) os impactos, mudanças, inovações (...) de médio e longo prazos.

É necessário especificar, para cada uma dessas dimensões do plano, seus


correspondentes elementos, de acordo com a se:

a’) uma descrição sucinta das ações ou atividades propostas (conforme a


realidade), dos componentes (conforme o poder) de objetivos com os
resultados (conforme o desejo) e do impacto que se prognostica;
110

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b’) metas e indicadores de monitoramento de avaliação – correção (se


necessário);

c’) meios de verificação dos resultados representados por dados, das fontes de
informação e da síntese desses dados: os indicadores

d’) hipótese / pressupostos sobre aspectos externos como fontes de controle

Os Quadros 5 e 6 mostram a matriz do marco lógico (passos na construção,


com duas lógicas e um exemplo) para auxiliar o planejamento de um plano de
combate à desertificação.

Pela lógica vertical se tem a razão ou justificativa pela qual se elabora o plano,
enquanto que pela lógica horizontal se esclarece o que poderá ser o resultado e de
que maneira se pode prever o sucesso. As condições estabelecidas em cada nível
devem ser as necessárias e suficientes para alcançar os propósitos ou objetivos do
nível superior

O preenchimento dessa matriz deve ser iniciado pela descrição das atividades
(1) até chegar à coluna Hipóteses (4) na mesma linha: indicam-se as condições
necessárias (passos intermediários de indicadores e meios de verificação) para o
sucesso das atividades.

Da coluna de Hipóteses que possibilita a realização de atividades se passa para


a segunda linha e 1ª. coluna, a de Componentes (5).

Dos componentes se passa para a coluna de Hipótese (8) e, de forma


semelhante, prossegue-se com os “resultado” e impactos (…).
111

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Quadro 5 Indicações do preenchimento da matriz do quadro lógico


MARCO DESCRIÇÃO METAS E MEIOS DE HIPÓTESE
LÓGICO INDICADOR INDICADORES VERIFICAÇÃO PRESSUPOSTO

Impacto 13 16

Resultado 9 12
Lógica vertical

Componente 5 8

Atividades 1 4

Lógica horizontal

Impactos: Hipóteses:
Redução de incertezas
Redução de custos
Objetividade de ações
Redução de pressões (...)

Resultados: Hipóteses:
Bases de dados consistidos (...) Dados com qualidade permitem (...)
Parcerias e integrações eficientes Parcerias e integrações potencializam
Habilidades / planejar e gerir Todos têm alguma habilidade que (...)
Ações de prevenção, controle A prevenção é a melhor forma de (...)

Componentes: Hipóteses:
Diagnósticos físicos e socioculturais Indicadores permitem integrar (...)
Fortalecimento e interação A complementação e interação são ...
Capacitação / planejamento e gestão Capacitação desenvolve habilidades
Estratégias de monitoramento (..._ Monitorar para avaliar – agir com (...)

Atividades: Hipóteses:
Planejamento de reunião preparatória Informações claras e objetivas motivam
Discussão e agenda A discussão permite legitimar (...)
Organização do encontro (...) A organização é básica para (...)
Treinamento / curso de (...) com (...) A demanda/capacitação é básica (...)
112

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Quadro 6 Orientações gerais para o preenchimento da matriz do quadro lógico


MARCO DESCRIÇÃO METAS E MEIOS DE HIPÓTESE
LÓGICO INDICADOR INDICADORES VERIFICAÇÃO PRESSUPOSTO

Impacto. A Medem o impacto Especifica, para cada São as fontes de Condições e


finalidade do plano final das ações atividade, ação e dados e informações decisões
mostra como se propostas e resultado, de forma que podem ser importantes
espera contribua desenvolvidas, com isolada e integrada, utilizadas para necessárias para a
para a solução do especificações de os valores a serem verificar se os sustentabilidade de
problema ou quantidade, alcançados, como objetos foram benefícios, com os
aproveitamento de qualidade e prazos objetivos quantifica- alcançados. Podem impactos, esperados
oportunidades dos e com incluir número de do plano
especificação de produtores
prazos atendidos, práticas e
tecnologias adotadas

Resultado. Indicações dos Metas que reflitam a Fontes de dados e Condições supostas
Resultados diretos resultados situação, ao final, informações para para que os
propostos, a serem alcançados com os resultados verificar se os resultados alcancem
alcançados, com a resultados foram seus propósitos
aplicação / desenvol- alcançados
vimento dos
componentes do
plano

Componente. Descrições e Descrições breves e Relação das fontes São pressuposições


São as informações, quantificações dos claras sobre de dados e ou condições que se
serviços e produtos indicadores dos quantidade, informações para esperam ocorram
desenvolvidos e componentes qualidade e monitorar e avaliar o para que os
oferecidos pelo oportunidade de desempenho dos componentes do
plano. Compreende: atendimentos dos componentes do plano produzam os
obras, estudos, componentes do plano resultados
treinamentos, plano desejados
demonstrações (...)
requeridas para que
se gerem os
resultados

Atividades. Compreende Para cada atividade São as fontes de Pressupostos e


Lista detalhada de indicações se define uma meta e dados e informações condições, fora de
todas as tarefas que orçamentais de cada indicadores de para acompanhar a controle da gestão
devem ser componente do acompanhamento execução de do plano, que
executadas para plano e de suas das atividades nos atividades, conforme precisam ocorrer
completar cada um atividades componentes do determinados para que os
dos componentes, plano cronogramas e componentes sejam
organizadas orçamento do plano completados
cronologicamente e
com suas devidas
estimativas de custos
113

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

5 Indicadores
Referências importantes na definição de indicadores para atividades, ações,
estratégias de planos, projetos (...), como os de combate à desertificação, quando
se tem como base o conceito de D∩S, são: Brasil 3 tempos, o PPA em vigor e
informações do IBGE (p.ex. Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil
2004). No documento Combate à desertificação e mitigação – convívio com a
seca se evidenciam conceitos, roteiros técnicas (...) dessas referências.

Indicador é um valor, numérico ou descritivo (número, percentual, razão,


gráfico, figura, imagem de satélite, proposição descritiva etc.), que sintetiza a(s)
medição(ões) ou resume um ou mais dado(s), variável (eis), associadas através de
diferentes formas para relevar significados específicos de uma atividade, ação ou
estratégia, de um aspecto ou situação / estado, de um programa ou projeto (...)
com o objetivo de informar, comunicar, comparar (...) atendendo determinados
propósitos como os propostos em políticas.

Um propósito geral é o desenvolvimento. Nesse caso, os “indicadores de


desenvolvimento sustentável são instrumentos essenciais para guiar a ação e
subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao
desenvolvimento sustentável” segundo conceituação do IBGE (2004).

Os propósitos a serem atendidos (para o caso do Mapa, esse atendimento é,


também, de cobranças do TCU em relatórios de gestão, entre outros), os
indicadores devem, quanto possível:

a) Destacar os problemas, principais fatores – causais, as inter-relações (este


aspecto é destacado pelo IBGE) entre causas notáveis, as dificuldades
operacionais (...), acenando para:
114

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a.1) situações que requerem atenção prioritária; a degradação da terra é uma


dessas situações; o abando da terra ou de projetos de assentamentos pode ser
um indicador;

a.2) possíveis definições de objetivos - metas, meios – recursos necessários


para atingi-los conforme determinadas expectativas; o entendimento das
dificuldades da agricultura de sequeiro ou da agricultura por irrigação
apontam como indicadores que apontam para especificar objetivos concretos;

a.3) cronogramas e previsões de desdobramentos, elos ou entraves que geram


custos desnecessários.

Os indicadores devem diferenciar ecossistemas “saudáveis” (terem as


necessárias referências) daqueles degradados (caracterizados mediante
índices de degradação): sensíveis para prover informações sobre mudanças do
ecossistema; para prevenir sistemas susceptíveis à degradação (...).

b) Internalizar e assegurar o atendimento de requisitos, condições,


possibilidades (...) do cliente, neste caso, os tomadores de decisão,
planejadores, gestores, formuladores de políticas e, principalmente, o cliente
em seu meio, o sertanejo na caatinga, as comunidades afetadas / vulneráveis à
seca que podem ser atendidas com ações, projetos de combate à
desertificação.

Os indicadores estabelecem medições da resiliência do ecossistema:


habilidade / capacidade em se recuperar depois de cessadas as perturbações
que o levam a estados críticos: a desertificação. Se não cessam tais
perturbações, os indicadores informam – comunicam quais são os níveis
críticos e os riscos que devem ser assumidos a partir de determinadas causas,
ignoradas, de degradação da terra.
115

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

c) Ao internalizar, com fidelidade, atualidade, pertinência (...) os requisitos do


cliente traduzidos em dados – informações valiosas e úteis, os indicadores
devem proporcionar, de forma simples e operacional, critérios (ou padrões
adequados à realidade) de comparações relevantes e de visibilidades para a
auto-avaliação, além de se constituírem meios para o atendimento de
“cobranças” (ação gerencial do Mapa) na aplicação de recursos econômicos
públicos.

d) Meio para justificar atividades, ações ou estratégias, planos ou projetos (...),


com indicações de pertinência ou oportunidade, de racionalidades (entre
outras, as definidas por relações como de custo / benefícios), de
integrabilidade dessas ações (...) e/ou entre essas ações com outras.

Na base dos propósitos dos indicadores se encontram alguns requisitos (relação


preliminar, suficiente para esta síntese), tais como:

a) Dispor de dados com qualidade (conforme referências adequadas), valor


(para o cliente, para os propósitos da representação do atributo ou fato pelo
indicador) e utilidade: o dado, além de ser fiel representação do atributo, deve
ser de fácil tratamento e entendimento para o cliente: são características da
informação primária que se comunicam no indicador que os sintetiza.

b) O atributo a ser representado pelo dado deve ser fácil de observar / apurar,
medir, registrar e sintetizar no indicador: da qualidade e aplicabilidade do
dado depende a qualidade e aplicabilidade do indicador.

c) Tanto os dados que se utilizam na construção de indicadores como os


próprios indicadores desses devem ser objetos de observações, medições,
registros e avaliações periódicas; os indicadores, por sua vez, devem ser
coerentes com os demais indicadores.
116

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No documento Combate à desertificação e mitigação – convívio com a seca se


apresentam, ilustram e exemplificam diversos aspectos relacionados com a
construção de indicadores e com a aplicação (...) em planos e projetos de combate
à desertificação.

Para tratar da complexidade de desertificação, com tantas causa e


consequências inter-relacionadas desse fenômeno é preciso dispor de muitos
dados e informações valiosas e úteis; de uma metodologia adequada para avaliar
efeitos-causas, interações (...); de uma percepção sistêmica para relacionar peças
de um todo (...). Na elaboração de um plano de combate à desertificação não se
tem essa condição, sendo necessário que o próprio plano considera ações para
uma melhor compreensão do problema na forma de uma base de dados
consistidos.

Gestores, planejadores e tomadores de decisão desejam que os dados da


desertificação sejam simplificados e apenas comuniquem o que for essencial: é o
sentido do indicador ao representar fatores abióticos (climático, hidrológico,
geomorfológico e edafológico), bióticos, agronômicos (técnicas agrícolas e
pecuárias), socioeconômico, cultural, institucional (...) da desertificação e para
monitorar, avaliar – agir (...) nas ações e estratégias de combate. Isso pode ser
facilitado com uma síntese da complexidade da desertificação para se ter uma
percepção integrada – sistêmica de partes indissociáveis e interativas colocadas.
Esse processo pode ser auxiliado por modernas técnicas de informações
georeferenciadas (…), de tecnologias da informação (...).

No Quadro 3 são sintetizados (um exemplo) possíveis indicadores de


informação-comunicação de aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos.
117

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Quadro 3 Exemplos de indicadores no combate à desertificação


INDICADOR ESPECIFICAÇÃO ILUSTRAÇÃO
Porcentual desmatado (tipo de vegetação, por período etc.) /
Desmatamento
Área total
Percentual da cobertura, com especificações e tipificações
Cobertura vegetal relevantes e necessárias na informação – comunicação,
comparação.
Estimativa massa foliar em t ou m3 / ha: (especificações ou
Biomassa da caatinga
tipificação)
Uso do solo / ambiente Área utilizada em (...) / formas de uso e manejo
Percentual (ou calculo) de solo erodido para determinadas
condições de uso e manejo, de ambientes, de perspectivas (...).
Exemplos:
- Índices - indicadores de erodibilidade, incluindo dados como
Erosão os de tipo de solo, declividade, forma ou natureza do uso e
manejo.
- Índices - indicadores de erosividade para diferentes condições
de previsão de intensidade da chuva, distribuição e
defasagens, de frequência (...).
Disponibilidade – vazão, m3/s (por período, por fonte etc.) /
Uso – consumo de água
Necessidades atendidas (por tipo ou classe de uso – consumo)
Vazões sazonais e temporais entre períodos
Qualidade da água
Índice de qualidade da água

Possíveis indicadores
climáticos. Exemplos:
Indicador do problema
de mudança climática
(IBGE, 2004):
Consumo de
substâncias
destruidoras da
camada de ozônio,
1992 - 2003

Área total dos núcleos


de desertificação e das
regiões vulneráveis à
desertificação na
Região Norte – Brasil.
1998 (IBGE, 2004)
118

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Continuação (b)
Quadro 3 Exemplos de indicadores no combate à desertificação
INDICADOR ESPECIFICAÇÃO ILUSTRAÇÃO

Vulnerabilidade climática
à desertificação e
núcleos de desertificação
na Região Nordeste.
1998 (IBGE, 2004)

Migração: taxa líquida; especificação ( jovens, adultos etc.)


Dinâmica demográfica, sociocultural.
Sociais Escolaridade: media de anos; deserção
% : no. mulheres chefes de família / total de famílias.
Saneamento básico: água potável, serviços sanitários etc.
Renda relativa entre períodos e por tipos de atividades Índice
Gini.
Econômicos
Estrutura fundiária. Índice Gini.
Excedentes comercializáveis entre períodos
(kg/ha)|tf / (kg/ha)|to: comparação entre períodos (inicial: to e
Produtividade agrícola final tf) para diferentes formas de uso – manejo, tipo de
pecuária cultura etc.
Taxas de lotação (UA)|tf / (UA)|to
Associação de municípios
Institucionais e
Cooperativas e associações de classes
organizacionais
Comitês como os de microbacias hidrográficas
119

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Continuação (c)
Quadro 3 Exemplos de indicadores no combate à desertificação
INDICADOR ESPECIFICAÇÃO ILUSTRAÇÃO
IDH

100%
90
80
70
60
50
40
30
TA TMI IDH

20
NE: 22,4% 33,9 0,676

10
Brasil 11,4 22,5 0,766

TA TMI
Taxa de analfabetismos (TA), taxa de mortalidade infantil (TMI)
e nível médio (índice) de desenvolvimento humano (IDH) no
Brasil (_____) e no Nordeste (_ _ _ _) em 2005.

X1 X2

Semiárido Nordeste
ILUSTRAÇÂO GERAL
PARA O CASO DE SEIS
VARIÁVEIS DE UM
MESMO PERÍODO E DOIS
ESPAÇOS GEOGRÁFICOS X4 10 20 30 40 50 60 70 80 90
X3
X1 X2 X3 X4 X5 X6
NE .. ... ... ... ... ... ... ... ...
Sem-árido .. .. .. .. .. ... .. ... ..

X5 X5
120

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As Figuras 18 e 19 mostram indicadores descritivos da dinâmica de


cobertura vegetal.

Conhecer-proteger / aplicar:
a) Capacidade de produção / sustentável (...)
b) Condições de restauração (...), para:
Proteção de fontes, ciclos (...)
Conservação de recursos e ambientes
Manejo integrado conforme (a) e (b)
Alternativas baseadas em:
Período t 0 (ano base: década de 60); estado inicial Condições sociais, econômicas (...) do sertão
Tecnologias adequadas
Outros instrumentos

Práticas de manejo
Intensidade de uso

Minimizar a restauração quando (...)


Evitar a degradação porque (...)

Aumentar a produtividade (...)


Recuperar

Período t m (alguns anos depois); vegetação rala,


afloramentos

Práticas de manejo
Intensidade de uso

Evitar

Período t m+n (estado final: 2000-2005): erosão (...)

Figura 18 Indicador descritivo da dinâmica - evolução de degradação da área no intervalo 0-n


Fonte: Accioly (2008; adequado ao texto)
121

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Áreas com processos avançados de desertificação definidos conforme a susceptibilidade (...)


Áreas com processos iniciais de desertificação: critérios
Áreas sem manifestações do processo de desertificação, porém vulneráveis (critérios)
Áreas isentas de desertificação potencial (critérios)

A definição do critério de susceptibilidade pode compreender diversos indicadores.


No caso ilustrado (KAZMIERCZAK, 1996), foram considerados seis indicadores:
chuva (X1); erodibilidade (X2); cobertura vegetal e uso do solo (X3); pressão exercida
pela pecuária (X4); índice de vegetação com diferença normalizada (X5); e índice de
Repelli (anomalias de precipitação para o semiárido) (X6), dispostos em um modelo
aditivo: ISD = Σ Xi.

Figura 19 Imageameno de áreas susceptíveis à desertificação no Nordeste:


descritores de seis indicadores
122

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6 Propostas de ações do Mapa para o combate a


desertificação e mitigação – convivência cm a seca
Onde se inserem e como se faz a inserção de ações, estratégias, projetos (...) do
MAPA, no âmbito de sua missão, visão de futuro e objetivos, para o controle da
desertificação e mitigação – convívio com a seca no semiárido nordestino?

Todas as ações e estratégias


que diretamente sejam
∩ 
planejadas, gerenciadas e ∩
desenvolvidas ou que sejam ∩
objetos de incentivos,
financiamento (...) tem

orientações de duas fontes; a
primeira é a missão, visão e
objetivos institucionais do Mapa: ∩
“formular e implementar as
políticas para o desenvolvimento ∩

do agronegócio, integrando os
aspectos de mercado,
tecnológicos, organizacionais e ambientais, para o atendimento dos consumidores;
promover a segurança alimentar, a geração de emprego, a redução das
desigualdades e a inclusão social”.

Conforme o PPA 2004-2007, o Mapa orienta seus esforços no sentido de


fortalecer objetivos setoriais, um deles é manejo e conservação de solos na
agricultura:

“assegurar o uso e o manejo adequados do solo e promover a recuperação de


áreas degradadas com vistas a garantir a produção sustentável de alimentos e a
disponibilidade de água para o consumo humano e animal”
123

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

A justificativa, nesse contexto setorial, é o de que a agricultura sustentável


deve minimizar os impactos ecológicos decorrentes da perda da biodiversidade
pela retirada da cobertura natural e a redução da erosão, da degradação da terra,
observando sua capacidade de uso e a aplicação adequada de tecnologias (...).

A segunda fonte de orientações das atividades do Mapa é buscar a integração


com parceiros, nesse combate, conforme se ilustra na figura central acima e se
ajustar – complementar conforme orientações básicas, entre outras, as seguintes:

a) O Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação


dos Efeitos da Seca (Pan – Brasil), instrumento de planejamento com as
diretrizes para esse combate, destacam-se as principais ações de proteção –
preservação de fontes e reservas naturais, processos, ciclos (…); de
conservação e manejo integrado de ambientes e recursos naturais; e
subsídios ao desenvolvimento sustentável.

São ações e subsídios delineados em eixos, conforme se indica na Figura 4 e


onde, por meio de articulações que compreendem os poderes públicos e a
sociedade sob coordenação de um Ponto Focal Nacional das informações e
relações entre o governo e a sociedade civil, procura-se gerar e/ou adaptar e
difundir tecnologias e práticas agropecuárias e de manejo sustentável
inovadoras e de menor impacto sobre o meio ambiente. Algumas dessas
práticas são desenvolvidas por produtores e entidades de pesquisas para a
agricultura familiar como as de plantio direto em áreas subúmidas secas.

b) Atlas das áreas susceptíveis à desertificação no Brasil. Brasília: MMA,


Secretaria de Recursos Hídricos. 2007.

c) Plano estratégico de desenvolvimento sustentável do Semiárido.

d) Programas, planos e estudos chaves, tais como: Radambrasil, Projeto


Áridas, SUDENE e CONSLAD, entre outros.
124

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e) Informações técnico-científicas da Embrapa, de Universidades e Centros de


pesquisa localizados ou com atuação na Região do Nordeste.

f) Estudos e recomendações de Governos Estaduais do Nordeste, da Bahia e do


Espírito Santo.

g) Programa de combate à desertificação no âmbito do proágua semiárido.

h) “Garimpagens” de informações e dados relativos aos saberes tradicionais,


experiências e lições de comunidades. Avaliação, ordenamento –
classificação dessas informações.

Como ações possíveis de serem desenvolvidas ou intensificadas para o DAS


pelo Mapa, destacam-se (relação preliminar: em fase de discussão):

1) FORMAÇÃO (CONTRIBUIÇÃO) DE UM REPOSITÓRIO (BANCO DE


DADOS DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL PARA O SEMIÁRIDO) DE
INFORMAÇÕES EM UM SISTEMA QUE POSSA ATENDER DEMANDAS
PARA ESSE COMBATE. Ênfase para a sustentação de atividades diretamente
relacionadas com a missão, visão e objetivos – metas do MAPA. Esta é uma das
ações que se insere, de forma harmônica, com propostas – sugestões da
Convenção (...), com indicações do PAN – Brasil ao destacar o fortalecimento da
base de conhecimento e desenvolvimento de sistemas de informações para
monitorar e avalia – agir na ASD.

Uma fonte importante para a formação desse repositório são os dados e


informações de pesquisas da Embrapa na Região.

2) PREPARAÇÃO DE MATERIAL DE REFERÊNCIA PARA


TREINAMENTOS, CURSOS, ORIENTAÇÕES, FORMAIS OU NÃO, EM
TRÊS NÍVEIS: ENSINO (básico e superior), ORGANIZAÇÃO – GESTÃO E
PRODUTOR – COMUNIDADES, em especial lideranças.
125

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Parte dessa preparação se encontra em andamento com a elaboração de um


documento norteador Combate à desertificação e mitigação – convívio com a
seca.

Desse documento, destacam-se seus anexos e apêndices que, em meio digital,


compreendem as convenções da diversidade biológica, do clima e da
desertificação; livros de referências sobre desertificação de organismos como O
IICA e a FAO; projetos e estudos como os de Radambrasil e Áridas; e a legislação
completa e atualizada relativas a temas relacionados com a desertificação.

Parte do material preparado para cursos, treinamentos – capacitação e


educação ambiental aparece agrupado por tópicos, tais como:

a) Caracterização (ênfase em diagnósticos do problema) e importância para a


diversificação (ênfase em aspectos de conservação para a valorização) de
sistemas produtivos na sustentabilidade da agricultura: efeitos de
simplificações induzidas pela monocultura e diversificação – integração
lavouras – pecuárias – floresta.

b) Consorciações e rotações: condições, exigências e possibilidades para


determinados conjuntos de recursos e ambientes; estudo de casos.
Protótipos, com flexibilidades, para possibilitar encontrar / adaptar soluções
à diversidade de agroecossistemas e de condições ambientais, econômicas,
sociais – culturais (...).

c) Os benefícios da agrofloresta e as possibilidades de projetos com


mecanismos de desenvolvimento limpo, em alternativas como as captação –
sequestro de CO2.

Estudos de casos de sistemas agroflorestais menos complexos que


combinam vegetação nativa com potenciais de mercados em atividades
fitoterapeúticas (...).
126

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d) Plantio direto; técnicas e procedimentos adequados às condições e, quando


possível, complementados com saberes – praticas tradicionais.

e) Adubação verde, como prática importante de conservação e melhoria de


propriedades dos solos.

f) Adubação orgânica (biofertilizantes).

g) Controle integrado de pragas, controle biológico e alternativas de uso de


agrotóxicos: evidências de benefícios de policultivos, rotações de culturas,
integração com a produção animal, uso de variedades adaptadas às
condições edafoclimáticas locais, conservação da estrutura e das
propriedades dos solos por meio da adubação orgânica, da adubação verde,
do plantio direto sem herbicidas, dentre outras técnicas diminuem a
incidência de pragas e de doenças nas lavouras.

h) Opções de proteção, conservação e manejo dos solos e dos recursos hídricos.


A racionalidade econômica, em evidência, da prevenção se comparada com
recuperações, despoluições (...).

Planos de bacias hidrográficas: protótipos e estudo de casos

Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e suas implicações


na agricultura (...): outorga para o uso; cobrança pelo uso; planos diretores
de bacias hidrográficas; enquadramentos em classes de usos (...) da água à
luz de realidades como as de poluição, degradação de áreas estratégicas
(matas ciliares, nascentes etc.).

A necessidade de gerenciamento com elementos e critérios integráveis das


bacias hidrográficas tem sido um dos principais argumentos da transposição
de águas do Rio São Francisco: o “Plano de Desenvolvimento Sustentável
da Bacia do Rio São Francisco e do Semiárido Nordestino”, da Companhia
de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.
127

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

Estudos de viabilidades técnico-econômica, operacional (...) de


aproveitamento racional de mais de 35 milhões de ha não – irrigáveis,
segundo Embrapa, e ênfase em melhorias da capacidade de convivência
com a seca, mediante o aumento da disponibilidade de água, inclusive com
a viabilização de dessalinização de águas de poços subterrâneos.

Estudos de alternativas para aumentar a capacidade de captação e


armazenamento de água: “um milhão de cisterna”

i) Estudo de casos da diversidade de agroecossistemas representativos de zonas


litorâneas, agreste e sertão (semi-árida).

j) O zoneamento agroecológico como instrumento de planejamento e gestão, de


monitoramento e controle, de prevenção e alocação de recursos (...).
Modernas técnicas de geoprocessamento, de sistemas de informações
geográficas (...) para auxiliar o planejamento, a gestão e o monitoramento –
controle da agricultura sustentável

3) Como possíveis ações diretas do Mapa (são ações de sua atual


competência que, poderão ser objeto de fortalecimento para ampliá-las e
direcioná-las; são apresentadas apenas três):

a) Sistema de integração lavoura – pecuária – silvicultura (ILPS)

Problemas. São projetos que se orientam para situações, tais como: pouca /
limitada diversificação possível de atividades em propriedades rurais, com
práticas de uso e manejo desintegradas de ambientes e recursos naturais, as
quais favorecem perdas de riquezas e de oportunidades, não apenas pela
simplificação de ecossistemas, pela perda da biodiversidade (…), mas pelos
usos indevidos de recursos.
128

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São propriedades rurais que podem apresentar áreas sob forte pressão
antrópica, com incompatibilidades espaciais com os sistemas naturais e com
elevadas incertezas, entre outras, as de perdas - degradações de riquezas
naturais mostradas por indicadores.

Objetivos. Aproveitar as oportunidades de diversificação de atividades


econômicas no âmbito de propriedades rurais e possibilitar a incorporação
de práticas de proteção e de conservação-manejo integrado de ambientes e
recursos naturais alocados na produção de alimentos seguros e saudáveis.
Recuperar áreas degradadas e incorporá-las ao processo produtivo em
atividades como grãos, carne, leite, madeiras, agroenergia (…) em sistemas
consorciados e/ou em rotação de culturas, com vistas a potencializar
sinergias positivas ou a limitar - isolar efeitos negativos, antagonismos.
Reduzir, em níveis resilientes, pressões antrópicas sob o ambiente e agir
dentro de princípios – critérios de conservação e de riscos toleráveis,
conforme critérios aplicáveis.

Ações e procedimentos considerados. Nesses projetos e atividades da ILPS


o Mapa considera as seguintes ações passíveis de apoio (parte dos meios
para se alcançar os objetivos): a capacitação de técnicos e produtores rurais
afetados por esses problemas e com possibilidades de solução; a
implantação de unidades de validação e demonstração do sistema; as
práticas de conservação de solo e água; o plantio direto em estudo de casos;
e a aquisição de insumos como sementes – mudas de espécies florestais
típicas da região, calcário e equipamentos em termos de horas – máquinas,
entre outros.

b) Projeto de recuperação de microbacias hidrográficas

Problemas. As situações problematizadas objetos dessas ações são:


indevidas práticas, informadas – comunicadas por indicadores, de uso–
129

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

manejo de solo-água-vegetação na microbacia, responsáveis por perdas da


capas agricultáveis (indicadores), por erosão, assoreamento de leitos de rios
com contaminantes do agravamento (físico) de enchentes, para equivalentes
“normais” pluviais na bacia e pela poluição, entre outras, de sistemas como
os hidrobióticos; e perdas de vegetação estratégica.

Limitado conhecimento de relações básicas de conservação-manejo


integrado da relação água-solo-vegetação nativa, com efeitos negativos na
recarga de aquíferos, na qualidade-quantidade da água e na biodiversidade.
As limitações, deficiência, incompletezas, inconsistência de informações e
conhecimentos quanto à recuperação, monitoramento e avaliação com o
auxílio de indicadores. A informação e conhecimento que se tem para
prevenir, recuperar ou conservar - manejar microbacias afetadas é
insuficiente, inconsistente, temático e excludentes de comunidades.

Objetivos. Diagnósticos e estudos prospectivos para estabelecer condições


necessárias que permitam, com probabilidades de êxito, a definição (p.ex.,
planos de educação, de campos demonstrativos) e introdução de práticas
de proteção, recuperação, conservação e manejo integrado solo – água –
vegetação nativa na microbacia (…) do subsistema hídrico (…), no
sistema hidrológico (…).

Ações e procedimentos considerados. Práticas para restaurar processos de


sistemas nessas unidades, minimizar impactos de fenômenos pluvio-
fluviais, proteger áreas de valor estratégico como nascentes (cabeceiras) e
margens de rios em microbacias sob pressão antrópica definida por
indicadores (…). Conscientização da necessidade de proteção de “estados”
de qualidade mediante ações de conservação definidas e implantas com a
130

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necessária, imprescindível, participação de produtores, lideranças (...) de


comunidades afetadas.

Para alcançar esses objetivos serão consideradas, na atual programação de


trabalho do Mapa, as seguintes ações (parte dos meios) passíveis de apoio:
Estudos e diagnósticos – cenários para o melhor entendimento de fatores
causais de degradação e perdas de recursos: informação para o
conhecimento acerca da necessidade de proteger, conservar, gerir recursos
valiosos; capacitação de técnicos, lideranças e administradores rurais em
áreas demonstrativas e estudo de casos; montagens de protótipos e áreas
demonstrativas de terraceamentos, coberturas vegetais, planejamentos para
evitar voçorocas; ações como as práticas de conservação (…) de proteção de
nascentes e encostas, conforme indicações de diagnósticos e estudos; ações
de organização de proteção e conservação – manejo em parcerias com as
prefeituras, lideranças da comunidade e, em especial, com os comitês /
subcomitês, agências e representações legais da PNRH na microbacia;
estratégias de alinhamento e complementação em ações conjuntas.

c) Recuperação de áreas degradadas

Problemas. A degradação pode ser entendida como a destruição, substituição


ou remoção da vegetação e, como efeitos negativos, perdas da fauna com a
destruição, simplificação (…) de habitats, de cadeias alimentares (…). Pode
ser a perda (remoção ou cobertura por...) do solo fértil e, como efeitos
negativos, a perda de qualidade – quantidade de vazão de corpos superficiais
e subterrâneos de água, refletida em alterações de características físicas,
químicas e biológicas. Em ambos os casos se têm perdas do potencial
econômico (social) e ecológico: degradada.
131

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

A degradação de solos pode ser não apenas agrícola (perda não da


capacidade em aumentar a biomassa, mas na produção econômica) e
biológica (degrada-dação / capacidade) com a erosão em evidência.

Na caracterização de problemas e suas causas é desejável, além de análises


descritivos, a síntese com indicadores de gravidade, efeitos combinados,
custo / benefício.

Caracterizar as áreas degradadas com claras e específicas referências como


as causais e as de processos, evoluções, agentes - fontes (…) causadores
para ordenar e classificar e, com essas orientações, estabelecer possíveis
cursos de ações a serem testados e planos como os de unidades de
conservação e áreas de recuperação com prováveis incorporações aos
processos produtivos.

Se a área degrada for por atividade de mineração os objetivos são de


recuperação de estéreis e rejeitos, minimização de poluições do ar e hídrica,
recuperação de habitats via o reflorestamentos, desassoreamentos de leitos
de rios etc., conforme sejam os níveis propostos de recuperação (básico,
parcial ou completas).

Objetivos. Em termos gerais os objetivos são agrupados por atividades como


as de pré-planejamentos: estudos descritivos analíticos e RIMA de
quantificação de impactos para definir o plano de recuperação e os objetivos
de curto, médio e longo prazos: a remoção de lavras e plantios (seleção de
espécies) para restabelecer coberturas vegetais desejáveis. Quanto às obras
de engenharia na recuperação também se têm objetivos com ações como as
de construções de represas, canais, terraços / banquetas etc.

A recuperação de áreas degradadas poderá compreender locais de


urbanização com propósitos específicos, para construção de aceiros,
132

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combate de fontes de pragas e doenças, construção de barragens, e obras de


saneamento básico. Inclui-se, também e com destaque, a recuperação de
áreas agrícolas erodidas pela exposição do solo às chuvas, pela
mineralização de biomassa depois de queimadas, perda de nutrientes por
enxurradas etc., destacando as ações de conservação, plantio direto,
eliminação de práticas de preparo do solo, formação de cobertura morta,
rotação e sucessão de culturas, construção de terraços, recuperação matas
ciliares.

Ações e procedimentos considerados. As ações passíveis de apoio são:


aquisição de insumos como sementes e mudas, corretivos, horas / maquina;
consultoria para estudos; capacitação/ planejar – gerir, conservar – manejar.

Na fonte consultada para fazer esta síntese aparecem outros projetos e tipos de
atividades que são objeto de consideração do Mapa, bem como esquemas e
diretrizes para apresentação e apresentação de projetos.

É importante destacar que as ações e estratégias desenvolvidas pelo Mapa


resultam de entendimentos para definirem formas integradas e participativas, por
meio de parcerias com órgãos públicos e privados e organizações da sociedade
civil, mediante a celebração de convênios e acordos de cooperação técnica.

São acordos e convênios que focalizam assuntos prioritários de demandas


locais e regionais, tendo como parceiros, entre outros: secretarias estaduais e
municipais de agricultura e desenvolvimento rural; instituições e unidades de
pesquisa e ensino relacionadas com assuntos; serviços de assistência técnica e
extensão rural; sindicatos e organizações de classe; cooperativas agrícolas –
pecuárias e a participação efetiva das Superintendências Federais de Agricultura
dos Estados em atividades como as de monitoramento, fiscalização a avaliação.
133

Combate à desertificação e mitigação – convivência com a seca: síntese

REFERÊNCIAS
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