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ensino

revistaensinosuperior.com.br

EAD
Roteiristas chegam
às instituições para
transformar as aulas
Crédito estudantil
Como criar programas de
financiamento sustentáveis
Administração
O que falta nesses cursos,
na opinião dos empresários

GRUPO ÚNICO PDF

Compartilhar
e colaborar
Ao desenvolverem planos
estratégicos conjuntos, instituições
provam que é possível inovar, ganhar
escala e fortalecer a competitividade

Simon Schwartzman A avaliação do ensino superior precisa mudar


APRESENTA

Inteligência Artificial

Que
benefícios
um bot
oferece à IES

GRUPO ÚNICO PDF

Reunimos algumas Um exemplo claro de que o futuro,


de fato, chegou, está nas tarefas que
“O bot é um robô que precisa ser
treinado para executar suas tarefas.
funções que um os bots já estão executando nos mais
diversos segmentos da sociedade.
Isso é realizado percebendo quais
são as intenções do interlocutor”,
atendente virtual Apesar de não serem parecidos explica o diretor do Lyceum, Fábio
com a figura simpática da Rosie, a Cespi. “Baseado nas interações
pode desempenhar na empregada robótica da animação ele percebe as intenções do
Os Jetsons, estamos falando de interlocutor, por exemplo, quando
Instituição de Ensino recursos eficientes, rápidos e com ele te cumprimenta ou faz algumas
— entenda como resultados de sucesso nas funções. perguntas específicas. O recurso é
capacitado a efetuar os atendimentos
essas soluções podem Mas vamos do começo: internet bot a cada intenção”, diz.
ou web robot, como o próprio nome
trazer vantagens como já dá a entender, são softwares que O Lyceum Bot já está em atividade e
economia e eficiência conduzem atividades específicas, de integra informações de IES, prestando
maneira automática, na rede. Isso atendimento a alunos e prospectos
nas tarefas mesmo, como robôs! por meio da inteligência artificial,
com altas taxas de sucesso um novo público, que a IES
na implementação. O diretor nunca atendeu antes ou que
comentou benefícios que essa não atenderia no formato
tecnologia já oferece. convencional”, ressalta Cespi.

Bot de personalidade Reduz custos


Qual o número de seu CPF? Que Uma das principais vantagens
curso você tem interesse? Poderia para gestores de IES é a
informar o CEP da sua residência escalabilidade oferecida com
para eu indicar qual a nossa esse tipo de tecnologia. “É ter
unidade mais próxima? uma pronta resposta sempre,
sem que seja preciso fazer o
Uma conversa fluida, dinâmica cliente esperar — e pagar
e humanizada a ponto de, apenas pelos atendimentos
muitas vezes, o usuário chegar a realizados”, pontua.
agradecer o bot no final. Fábio Cespi
Em uma das telas dos
“Nosso processo utiliza técnicas para que o relatórios em tempo real efetuados pelo Lyceum
recurso ofereça um treinamento humanizado, Bot, é possível notar que estão sendo feitos 233
que forneça um pouco de vida e, até mesmo, da atendimentos simultâneos em uma unidade devido
personalidade que representa a identidade da à publicação de um banner em um site muito
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empresa. O aluno deve sentir-se confortável na popular — quantos profissionais seriam necessários
conversa”, garante Cespi. para atender todas essas chamadas? E se, nos
dias seguintes, essa procura fosse menor?
Execução de tarefas O que fazer com o excedente?
Um diferencial nesse tipo de solução considerado
raro no mercado, de acordo com o diretor, é a Trata-se de um atendimento padronizado,
possibilidade do bot ir além do simples “tira não acontece de pegar um atendente mais bem-
dúvidas” e passar a executar algumas etapas humorado, irritado, com ou sem vontade de ajudar
da interação.
“O custo é ao menos dez vezes menor se
“A instituição economiza o chamado custo compararmos com sistemas convencionais de
de oportunidade: o padrão é que, após tirar atendimento”, afirma.
a dúvida em um call center, por exemplo, o
candidato tenha de iniciar um novo processo Versatilidade e eficiência
para efetuar sua inscrição — com o bot, ela é Há alguns meses, os 140 mil alunos de uma
feita no decorrer da conversa e, assim, evita-se instituição focada no EAD conduzem as principais
que o interlocutor desista ou vá para um interações acadêmicas por meio do Lyceum Bot.
concorrente”, comenta. “Com poucas palavras, eles conseguem ver suas
notas, pagar seus boletos, efetuar uma rematrícula,
Atendimento 24 x 7 aliás, como é um sistema integrado, o bot é capaz
Sabia que um grande volume de atendimentos do de alertar, por exemplo, sobre uma mensalidade em
Lyceum Bot ocorre aos sábados? Se essa situação atraso”, detalha.
for aplicada sob atendentes de call center, imagine
o período de espera ou, mesmo, o número de Tudo isso de forma simples, que pode ser
profissionais que devem ser contratados, com acessada no próprio website da instituição, no
o pagamento de horas extras etc. website ou aplicativo Lyceum para o aluno ou via
aplicativos como Facebook Messenger, WhatsApp,
“Há, também, os atendimentos que acontecem Telegram etc., com acesso tanto no computador,
de madrugada — os bots propiciam o ganho de como em tablets e smartphones.
Sumário

16
Entrevista
Simon Schwartzman, sociólogo e cientista político,
fala sobre a necessidade de diferenciar as instituições
de ensino superior e melhorar o sistema de avaliação

22
EAD
Imprescindíveis no mercado audiovisual, roteiristas
começam a ser valorizados na área educacional, onde podem
contribuir para melhorar a qualidade das aulas online

26
Capa
Dezenas de instituições começam a atuar em conjunto
para elevar a qualidade do ensino, melhorar seus processos
internos e enfrentar a concentração de mercado

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34
Formação
Como deve ser a formação dos novos administradores,
caso os cursos queiram acompanhar o frenesi do mercado.
Neste contexto, os valores éticos podem fazer a diferença

40
Financiamento
Para driblar a crise econômica que afeta o país, instituições de
ensino apostam em novos modelos de financiamento para dar
oportunidades a alunos que não podem pagar as mensalidades

Seções
8 Mural 46 Ensaio

11 Indicadores 48 Meu trabalho transforma

12 Inovações acadêmicas 50 Cultura

14 Educação no mundo

4 Ensino Superior
Obtenha mais liberdade
acadêmica e integrações
para criar experiências de
aprendizado personalizadas.
A Plataforma Aberta do Canvas*
permite integrar as ferramentas
e os recursos que você
precisa para obter os melhores
resultados. Tudo isso com um
Serviço e Suporte desde a
migração de seu antigo LMS
até a conclusão de suas
metas acadêmicas.

* O Canvas é de código aberto e segue os


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padrões API e LTI. Visite o EduAppCenter
e saiba mais.

Agende uma demonstração e descubra por quê


o Canvas tem os maiores índices de migração do mercado:

www.canvaslms.com/brasil
canvasbrasil@instructure.com
(11) 4680-6763
Carta ao leitor

O papel de cada um
Hermes Figueiredo
presidente do Semesp

N
o mundo todo, a educação on- conselhos, solicitando a revogação ime-
line está crescendo em função diata dessas resoluções ilegais. Não cabe
das transformações sociais que a esses órgãos avaliar ou restringir o re-
afetam as pessoas e as organi- gistro profissional de alunos graduados
zações. Tanto os cursos totalmente a dis- em cursos reconhecidos pelo MEC, se-
tância como os programas híbridos, que jam eles ministrados a distância ou pre-
mesclam atividades presenciais e virtuais, sencialmente.
estão atraindo cada vez mais alunos. O Temos uma legislação educacional ro-
Brasil está acompanhando essa movi- busta, que reconhece a modalidade EAD
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mentação global, inclu- e estabelece as condições
sive do ponto de vista re- Vetar para a sua oferta. Entre
gulatório. Recentemente, outros termos, ela defi-
tivemos alterações im-
profissionais ne, através do Art. 100
portantes na legislação formados em da Portaria nº 23, que os
educacional para dar su- cursos EAD revela cursos EAD tenham até
porte a essas mudanças. 30% de atividades pre-
Porém, alguns conselhos
descompasso senciais, sem contar os
profissionais resistem a com a realidade estágios, que, no caso da
reconhecer esse novo ce- área de saúde, abrangem
nário, como prova a decisão de alguns 20% da carga horária dos cursos, perfa-
deles de proibir a inscrição e o registro de zendo 50% de atividades presenciais.
egressos de cursos EAD. De acordo com As instituições de ensino superior têm au-
esses conselhos, entre eles os da Saúde, tonomia acadêmica para definir os pro-
Arquitetura e Engenharia, a modalidade jetos de seus cursos, e essa condição de-
não garante uma formação de qualida- ve ser respeitada, inclusive para garantir
de, principalmente porque as atividades a diversidade da oferta e a tão desejada
práticas são em número insuficiente. inovação acadêmica. Estou certo de que
O Semesp, juntamente com a Associa- a sensatez prevalecerá nesse caso e que
ção Brasileira de Educação a Distância conseguiremos manter o necessário ali-
(Abed), notificou legalmente todos os nhamento com as transformações sociais.

6 Ensino Superior
FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA PARA
PROFESSORES E GESTORES EDUCACIONAIS
Múltiplas linguagens para uma experiência de aprendizagem completa

oons
t
Car

Práticas Podc
a

sts
Text
o
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GRUPO ÚNICO PDF


Mídias S

oci
u las Inf
a
ais
og
Video

ráficos

GRADUAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO EXTENSÃO CURSOS ONLINE CONSULTORIA

institutosingularidades.edu.br

ACESSE OS
NOSSOS PODCASTS
Mural

Foco na Cooperação com


área jurídica
O Ibmec SP lançou um centro de pesquisas, o a Nova Zelândia
Weblab, para investigar questões como fake news,
responsabilidade e censura na internet. Ligado ao A Education New Zealand, agência do governo
curso de Direito, o centro já tem dois projetos de da Nova Zelândia, quer se aproximar das institui-
pesquisa aprovados: um que abordará a respon- ções de ensino superior brasileiras para estabele-
sabilidade civil dos intermediários – como Face- cer acordos de cooperação acadêmica. Recente-
book, Instagram, Twitter, LinkedIn e Pinterest – mente, a entidade organizou um encontro em São
na divulgação de notícias falsas, e outro voltado Paulo, do qual participaram oito universidades
para a legislação de proteção de dados. O projeto neozelandesas, entre elas Auckland University of
conta com o apoio do Facebook. De acordo com Technology, Massey University e University of
o coordenador da graduação em Direito, Alan Waikato, e nove instituições brasileiras, incluin-
Vendrame, o centro vai “analisar o direito aplica- do USP, Unicamp, FGV, Insper e FIA. De acor-
do à internet e à ética nas redes sociais”. Apesar do com Ana Azevedo, representante da agência
de o foco estar centrado na realidade brasileira, no Brasil, o maior interesse não é tanto a promo-
GRUPO ÚNICO PDF
o Ibmec também utilizará pesquisas produzidas ção da mobilidade estudantil, mas sim a coopera-
no exterior, além de contatar professores das uni-
versidades de Columbia, Stanford, Oxford eYale.
Quem também anunciou uma novidade para
a área do Direito foi a PUCPR. Com o objetivo de
preparar o estudante para uma carreira interna-
cional, a instituição criou o programa de extensão
Law International Program (LIP) na modalidade MIT se
semipresencial. O curso é oferecido em inglês e
aproxima
dura um ano e meio.
O programa é uma constatação de que o Di-
da América
reito é um tema da pauta global, apesar de legis-
Latina
lação ser, a priori, um fenômeno social local, des- A escola de negócios do
taca Luciana Drimel Dias, professora titular da MIT (MIT Sloan School of Management) esco-
PUCPR e coordenadora do LIP. lheu a Universidade do Chile como sua primeira
“É uma inovação e vem para su- parceria na América Latina. Juntas, as duas insti-
perar a visão ultrapassada de que tuições vão oferecer um curso de Data Analytics
o curso de Direito não pode se in- para 40 alunos. As aulas acontecerão em Santia-
ternacionalizar. O programa visa, go, mas durante duas semanas os alunos farão
por meio da mentoria, indicar um uma imersão no MIT Sloam, em Cambridge.
rumo de carreira internacional Entre os módulos do curso, destacam-se: Intro-
com possibilidade de imersão em dução a Data Science e Big Data, Fundamentos
mais de 200 universidades estran- de mineração de dados e machine learning, Apli-
geiras”, esclarece. cações na vida real e Estudos de casos.

8 Ensino Superior
C A L E N D Á R I O
AGOSTO

16 O futuro do ensino superior


ção em pesquisa. Um levantamento feito pela
Capes mostrou que, em média, os estudos pro-
duzidos em conjunto por brasileiros e neoze- 21 Jornadas Regionais – São José dos Campos
landeses têm alcance maior que os estudos pro-
SETEMBRO
duzidos isoladamente em cada um dos países. A
diretora da agência ressalta que, apesar da dis- 11 Jornadas Regionais – Campinas
tância geográfica e das diferenças culturais, os
países têm vários interesses em comum, o que
26 e 27 Fnesp
propicia as parcerias. Entre os temas com po-
tencial para unir as duas pontas, ela cita: ener- OUTUBRO
gias renováveis, preservação de culturas indí-
22 Jornadas Regionais – São José do Rio Preto
genas e agricultura. Este último campo interes-
sa particularmente os neozelandeses, que têm
grande expertise na aplicação de tecnologias no
campo. Uma nova delegação virá em outubro ERRATA
deste ano, adiantou Azevedo, para dar conti- Diferente do que foi publicado na seção Ensaio
GRUPO ÚNICO PDF
nuidade a esse projeto de aproximação. da edição 238, a grafia correta de uma das
autoras do artigo é Simone Cristina Vianna.

Vivência intercultural
A Facens, localizada em Sorocaba (SP), rece-
Diploma digital
beu recentemente estudantes da Bulgária, Co-
O Ministério da Educação anunciou por
reia do Sul, Lituânia, Nigéria, Polônia, Reino
meio de uma portaria que os diplomas de
Unido e Tanzânia, todos alunos da Coventry
graduação deverão ser emitidos e registra-
University, no Reino Unido. A visita faz parte
dos em um ambiente digital que permita sua
do programa Global Leaders, iniciativa da
validação a qualquer tempo. Para isso, as ins-
universidade britânica para promover o con-
tituições deverão disponibilizar em seu site
vívio multicultural. Ao longo de nove dias, os
um local para a consulta do código de vali-
alunos compartilharam experiências e conhe-
dação do diploma. O MEC também deter-
cimentos em atividades como visitas a labora-
minou a criação de um ambiente de acesso
tórios e empresas da região. Dois professores
restrito para os egressos fazerem o download
de Coventry também deram palestras sobre
do documento. A oferta dos novos serviços
novas tecnologias e desenvolvimento de pro-
deverá ser incorporada pela gestão da insti-
jetos bem-sucedidos na área de engenharia.
tuição; está proibida a cobrança de taxas aos
alunos. O prazo para a adequação é de dois
anos, ou seja, em 2021 essas novidades deve-
rão estar implantadas.

Ensino Superior 9
Diretoria SEMESP

Presidente Diretores de Segmento


Hermes Ferreira Figueiredo Centro Universitário
Zely de Toledo Pennachi Machado
1º Vice-Presidente Bruno Roberto Pereira de Toledo
Thiago Rodrigues Pêgas
Diretores de Segmento

ensino
2º Vice-Presidente Faculdade
Valdir José Lanza Raul Gustavo Porto Gennari
Irmã Tânia Conceição da Cruz
3º Vice-Presidente
Lúcia Maria Teixeira Membros Efetivos do
Conselho Fiscal
1ª Diretora-Secretária Giacomo Pasetto Logatti
Tania Cristina Bassani Cecílio Paulo Pires Vila Verde ANO 20 – Nº 239 – Maio de 2019
David José Hortenzi Vilela Braga www.revistaensinosuperior.com.br
2º Diretor-Secretário ISSN: 2238-5576
Ruy Guérios Membros Suplentes do
Conselho Fiscal EDITORA
1ª Diretora-Financeira Marcos Antonio de Lima Marina Kuzuyabu
Cecília B. Pires Tavares Iram Alves dos Santos marina@revistaensinosuperior.com.br
de Anderlini Padre Justino Scatolin
2º Diretor-Financeiro Membros Natos do Conselho COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
Marcos Vinicius Busoli Cascino da Presidência Débora de Bem, José Eduardo Coutelle e
Gabriel Mário Rodrigues Rubem Barros (texto); Laura Rachid (web);
Diretor de Relações Paulo Antonio Gomes Cardim Fernando Brum (infográfico); Maria Stella
Institucionais Valli (revisão).
João Otávio Bastos Junqueira Diretor Executivo
Rodrigo Capelato
Diretores de Segmento
Universidade GRUPO ÚNICO PDF
Elmara Lúcia de Oliveira Bonini
COMUNICAÇÃO E EVENTOS
Gerente: Luciana Vertullo
luciana@revistaensinosuperior.com.br
José Francisco Hintze Júnior

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10 Ensino Superior
S I N D A T A Indicadores
Semesp/Inep

380 mil docentes conduzem


o ensino superior brasileiro
O número de funções docentes no Brasil chegou a 380.673, de acordo com dados mais recen-
tes do Censo da Educação Superior (o termo ‘função docente’ indica que o mesmo professor pode
atuar em mais de um estabelecimento). Desse total, 55% estão na rede privada e 45% na públi-
ca. É interessante notar que essa proporção se configurou em 1999 – até aquele ano, havia mais fun-
ções docentes na rede pública. Em relação aos últimos 40 anos, observa-se uma expansão de 3,7
vezes, considerando que em 1979 as instituições contratavam, juntas, 102.588 professores.

Evolução do número de funções docentes: 209.442

Rede pública Rede privada

171.231

GRUPO ÚNICO PDF

84.591

81.373

60.337

49.451
INFOGRÁFICO: FERNANDO BRUM

1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017

Ensino Superior 11
Inovações acadêmicas

Avanços sibilitando a formação de alunos mais preparados

rápidos às necessidades do mercado digital. “O nosso obje-


tivo é formar pessoas que façam parte do time das
FAE Centro Universitário se associa startups,dasorganizaçõestradicionaisqueprecisam
ao polo de startups Distrito Spark evoluir e dos novos modelos de negócios que estão
CWB para acelerar seus processos de surgindo. Para isso, estamos realizando programas
inovação – com o apoio do Distrito – para alinhar as habilida-
por Everton Drohomeretski des e competências dos alunos às necessidades do
mundo da economia digital e exponencial”, explica

C
om sede em Curitiba (PR), a FAE a coordenadora do Núcleo de Empregabilidade da
GRUPO ÚNICO PDF
Centro Universitário tomou uma de- FAE, Elaine Cristina de Azevedo Pacheco.
cisão inédita em sua trajetória de mais Na área do empreendedorismo, destaca-se a
de 60 anos: abrigar em suas dependên- criação do FAE Incentiva, projeto do Núcleo de
cias um parceiro externo, o Distrito Inovação e  Empreendedorismo que estimula a
Spark CWB. A empresa apoia o desenvolvimen- criação de novos negócios, dissemina a cultura em-
to de negócios inovadores, além de atuar como preendedora, viabiliza sessões de mentorias com
coworking (espaço de trabalho comunitário). profissionais do Distrito e possibilita a evolução de
Estabelecida há pouco mais de um ano, a par- projetos acadêmicos dentro do hub de inovação.
ceria já rendeu projetos interessantes. “O Distrito A parceria impacta ainda o público dos progra-
não veio somente ocupar o 8º andar da FAE Busi- mas de pós-graduação. “Por meio de um trabalho
ness School, mas trocar expertises que permitam colaborativo, especialistas de diferentes segmentos
o crescimento e a transformação de ambas as ins- atuantes no Distrito contribuíram para o desenho
tituições”, declara o gerente regional do Distrito, do novo curso de pós-graduação em Transforma-
Gustavo Comeli. Atualmente, o hub abriga qua- ção Digital de Negócios da FAE”, pontua a coorde-
se 20 startups, além de empresas como Rumo, nadora do curso, Claudia Cristina Lopes Machado.
Bosch e BCredi. Diante de resultados positivos conquistados em
Na visão de Jorge Apóstolos Siarcos, diretor-ge- tão pouco tempo, o objetivo da FAE é dar continui-
ral do Grupo Educacional Bom Jesus (mantenedor dade à iniciativa, pois acreditamos que esse projeto
da instituição de ensino) e reitor da FAE Centro – e os próximos que virão com outros representan-
Universitário, a cooperação entre as organizações tes do ecossistema empreendedor – tornará a nossa
está viabilizando avanços educacionais importan- instituição um hub de inovação acadêmica.
tes. Para os alunos é, sem dúvida, uma oportunidade
de encurtar caminhos e chegar mais longe. Everton Drohomeretski, pró-reitor de Ensino,
Para dar alguns exemplos, a parceria está pos- Pesquisa e Extensão da FAE Centro Universitário

12 Ensino Superior
GRUPO ÚNICO PDF
Educação no mundo

Diversidade Há um movimento na Europa pedindo a ‘descoloni-


zação’ dos currículos – e as instituições de ensino supe-
no currículo rior estão buscando atendê-lo. University of Cambrid-
ge, University College London e University of Birmin-
Estudantes gham são algumas das que estão revendo a bibliografia
questionam o estudo
dos cursos para torná-la mais diversa. Atualmente,
exclusivo de autores
grande parte delas é dominada por autores masculi-
do sexo masculino,
ocidentais e brancos nos, brancos e ocidentais, como apontam os defensores
das mudanças. Essa demanda dos alunos é tão forte na
Europa que um relatório de tendências para 2019, pro-
duzido pela Open University, apontou a descoloniza-
ção como um dos grandes fatores de influência do ano.

GRUPO ÚNICO PDF


Arte para
GIRO Restrição
inspirar Correção
A escola de Seis dormitórios
Depois do negócios Deusto da State University
Protesto escândalo envolvendo Business School, of NewYork tiveram
propina em sediada em Madri, seus nomes alterados
Um grupo de troca de vagas, as está dando uma depois de um
estudantes impediu universidades de elite parte de suas aulas longo período de
a apresentação da dos Estados Unidos em Florença, discussão. Os nomes
peça teatral “As divulgaram uma das especificamente nos homenageavam os
suplicantes”, de mais baixas taxas de museus e catedrais fundadores da cidade
Ésquilo (dramaturgo admissão da história. da cidade. O objetivo de New Paltz, onde
grego nascido em 525 Yale selecionou 5,91% é oferecer aos alunos fica um dos campi
a.C), na Universidade do total de inscritos; do programa Master da universidade,
Sorbonne. Os Stanford, 4,3%; e in Business Innovation porém, todos eram
manifestantes Harvard, 4,5%. uma formação mais escravagistas. A
interpretaram o uso Os números humanista, inspirada Yale University já
de máscaras pretas reforçaram o nos princípios que havia feito alteração
pelos atores como caráter exclusivo guiaram artistas semelhante.
um ato racista. dessas escolas. como Michelangelo,
Leonardo da Vinci
e Dante Alighieri.

14 Ensino Superior
CALENDÁRIO CURSOS JUNHO

&RQȴUDDVGDWDVGRVFXUVRV
TXHDFRQWHFHU¥RHPMXQKRH
JDUDQWDVXDLQVFUL©¥R

GRUPO ÚNICO PDF


JUNHO
4 e 5 de Junho _$XODΖQWHUDWLYD
Formação de Operadores de FIES
7 de Junho _&XUVR3UHVHQFLDO
Workshop Framework de
Transformação Digital para Escolas
14 de Junho _&XUVR3UHVHQFLDO
Marketing Educacional Integrado:
Captação, Call Center e Comercial
17 e 18 de Junho _$XODΖQWHUDWLYD
Processos Pedagógicos e Gestão do
Ensino
27 e 28 de Junho _$XODΖQWHUDWLYD
Processos e Rotinas do PI e Censo da
Educação Superior
28 de Junho _&XUVR3UHVHQFLDO
Compliance para Instituições Privadas
de Ensino
Entrevista Simon Schwartzman

Oferta
variada
por Rubem Barros

J
á vai longe o tempo em que o sociólogo e cientista político Simon
Schwartzman assumiu a presidência do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Estávamos então em 1994,
ano de lançamento do Plano Real, um momento em que o
horizonte parecia claro e o país acreditava estar começando o processo
de sua reinvenção.
Schwartzman ficou no cargo até 1998. Depois disso, rodou o mundo
como professor e pesquisador visitante em diversas instituições (Berkeley,
Oxford, Columbia, Harvard, entre várias outras). Em 2000, realizou um
GRUPO ÚNICO PDF
estudo para a Unesco sobre a educação na América Latina e no Caribe.
No ano passado, recebeu do Ministério da Educação a medalha da Ordem
do Mérito Educativo.
Durante todos esses anos, tem defendido posições em favor da
liberalização organizativa do ensino superior. Na entrevista a seguir, o
pesquisador comenta caminhos possíveis para remodelar a educação
superior no Brasil, advogando a necessidade de diferenciar a oferta e
centralizar a pesquisa em instituições mais talhadas para essa função,
liberando outras apenas para o ensino.

Nas duas últimas décadas, tivemos um sen- Mas esse crescimento não foi proporcional
sível aumento do investimento em educa- em termos de qualidade...
ção, mas não conseguimos um avanço pro- Realmente, na educação básica não houve
porcional. Quais os principais motivos? melhoria da qualidade. Se olharmos dados de
Se pensarmos em termos de acesso à educa- desempenho dos alunos do médio e do funda-
ção, nos anos 90 conseguimos que praticamente mental, tem se mantido baixo e estacionado, com
todo mundo fosse à escola no ensino fundamen- algumas exceções aqui e ali. Já no ensino supe-
tal. O ensino médio cresceu pouco, o ensino su- rior, não temos uma avaliação adequada, pois
perior cresceu muito, a pós-graduação também. não temos indicadores de qualidade, então não
Ou seja, houve avanços do ponto de vista quan- podemos dizer isso com a mesma certeza. Tem
titativo. Hoje em dia temos cerca de 8 milhões de muita coisa boa e muita coisa que a gente acha
alunos no ensino superior. que não é boa.

16 Ensino Superior
GRUPO ÚNICO PDF

No ensino superior, Simon Schwartzman:


É possível baratear o

não temos uma custo das instituições


públicas se ficar claro

avaliação adequada
que boa parte delas
não faz pesquisa

Ensino Superior 17
Entrevista

O que poderíamos fazer para melhorar a na área de direito, ver quantos por cento dos alunos
avaliação, tanto dos alunos como de cur- passam na prova da OAB, algo assim. Essa tentati-
sos e instituições? va de medir o desempenho de 50 cursos diferentes
Os indicadores atuais têm erros conceituais. acaba dando numa grande burocracia, no sentido
O relatório da OCDE que saiu no ano passado de saber exatamente qual resultado você tem.
mostra claramente que o Enade não tem valida-
de. Não se pode comparar um ano com o outro e E como se faria a regulação?
nem há um padrão de referência que diga o que é A questão da regulação é diferente da avalia-
bom e o que é ruim. Por exemplo, quando avalia ção. Na avaliação, você diz se esse é melhor ou pior.
os cursos de Medicina, traz numa hierarquia os Na regulação, você diz se pode ou não pode fun-
melhores e os piores, mas não diz qual é o mínimo cionar. O que se faz no mundo todo é credenciar
aceitável. Pode ser que todos sejam bons ou que a instituição, a universidade. A partir do momen-
todos sejam ruins. O outro problema do Enade é to em que ela estiver autorizada, não precisa ava-
que não permite comparar a prova deste ano com liar o curso. Nas faculdades isoladas, que não são
a do ano passado. Tem ciclos de três anos, mas universidades, você poderia criar um sistema mais
cada vez a prova é diferente e não se sabe se o re- livre de verificação das condições – equipamentos,
sultado de um ano é melhor ou pior que o de três professores contratados, plano de trabalho, proje-
anos antes. O terceiro problema do Enade é que to pedagógico.Temos de fazer uma coisa mais leve,
ele não é feito a partir do currículo do aluno. Ou o autorizar e avaliar tanto quanto possível a institui-
GRUPO ÚNICO PDF
estudante faz de qualquer jeito, ou as instituições
trabalham para levar os melhores e deixar os pio-
ção. O Brasil é muito grande, é difícil ter estrutura
para avaliar tudo.
res em casa. O efeito é que você não sabe se aquilo
de fato reflete a qualidade do curso. É uma prova No ensino superior, temos alguns fatores
complicada, cara e em que não se sabe o que está preocupantes como alto índice de evasão,
sendo medido. e exercício profissional posterior em traba-
lhos que não exigiriam formação universitá-
O que poderia ser feito? ria. É uma oferta errada para a demanda?
Procurar algum tipo de dado que tenha a ver São duas coisas diferentes. A questão da evasão
com coisas mais práticas. Por exemplo, se os alu- é muito séria. A faculdade não pode receber uma
nos conseguem trabalho depois de formados, ou quantidade grande de alunos e depois só formar
medir a eficiência do curso, principalmente se uma quantidade pequena desses alunos. É um es-
for uma instituição pública, vendo quantos dos telionato. O aluno da instituição privada paga du-
alunos ingressantes se formam, coisas desse tipo. rante algum tempo, depois abandona. No setor
Pode-se pensar em outro tipo de prova de com- público, o aluno não paga, mas o governo está gas-
petências mais gerais, capacidade de empreen- tando dinheiro.
dedorismo, de raciocínio. Mas isso não se aplica
muito na educação superior. No mundo inteiro, No privado há o ProUni, o Fies...
ninguém faz nada parecido com o Enade. Claro, você está pagando professor, escola,
instalações, o curso todo. Se o aluno não paga e
Se o Enade fosse obrigatório, os alunos o le- não se forma, o dinheiro está sendo jogado fora.
variam mais a sério? É preciso ter uma política mais firme quando há
Não é o caso.Tem de pegar outro tipo de dados financiamento público, exigir que as instituições
sobre o que acontece com os alunos. Por exemplo, formem as pessoas que elas aceitaram. Já a questão

18 Ensino Superior
da destinação depois que eles se formam depende
muito da área. Em algumas áreas, como adminis-
tração ou direito, os alunos podem se empregar
em coisas muito distintas. Não é necessariamen- “O relatório da OCDE
te um problema que trabalhem em coisas fora da
área de formação, não é tudo tão certinho. Em al- mostra claramente que o
gumas áreas, como na medicina, sim. Na admi-
nistração, não. Enade não tem validade”
Mas alguns poderiam ter gasto menos
tempo para obter uma formação técnica e,
eventualmente, continuarem a estudar de-
pois se fosse de seu interesse.
Exato, tem essa questão, de cursos técnicos Grande do Sul, Pernambuco. O que não existe é
mais curtos, e há uma tendência do mundo inteiro um reconhecimento disso numa política associa-
que é o sistema europeu, decorrente do proces- da ao Estado.Você acaba contratando professores
so de Bolonha, assim como o sistema americano em tempo integral para dar um curso de Adminis-
e da Inglaterra também. Eles oferecem um curso tração, quando talvez fosse mais interessante con-
inicial de dois, três anos, que pode ser mais geral, tratar alguém que está trabalhando na adminis-
GRUPO ÚNICO PDF
numa área como ciências sociais, e depois o aluno
vai para o mercado de trabalho. Se quiser e tiver
tração na área privada e fosse dar aulas contando
sua experiência. O professor que tem doutorado
condições, pode estudar mais uns anos e fazer uma não pode trabalhar em administração, pois tem de
especialização. O importante é dar um acesso ini- se dedicar em tempo integral. É uma concepção
cial, pois há uma demanda muito grande (todo equivocada, que não reconhece a realidade. A rea-
mundo quer ter curso superior), então é preciso lidade é que a pesquisa está consagrada em algu-
atender isso. Mas depois é preciso dar alguma coisa mas instituições, mas a verba é diluída [em várias].
que faça sentido para a pessoa, ter diferentes cami- Hoje em dia, em outros países, há uma política de
nhos para diferentes pessoas, esse é o ponto funda- identificar as instituições com mais capacidade de
mental. Quando você coloca o vestibular na frente, pesquisa e dar um apoio mais forte a elas. No mo-
muitos acabam ficando pelo caminho. delo da Califórnia, do qual muito se fala, há três
tipos de instituições: a Universidade da Califórnia,
Para que pudéssemos instituir esse princí- que faz pesquisas e oferece doutorado; a Univer-
pio de cursos mais curtos, talvez tivéssemos sidade do Estado da Califórnia, que faz a forma-
de mudar o artigo 207 da Constituição, que ção para profissões e não tem doutorado, apenas
torna indissociáveis ensino, pesquisa e ex- mestrado; depois tem os colleges, municipais, que
tensão. Como vê isso? vão até apenas a graduação. É uma política que diz
Na prática, isso já ocorre, o setor privado, que quem pode fazer pesquisa e oferecer doutorado.
representa 75% das matrículas, praticamente não No Brasil, não, todo mundo pode oferecer dou-
faz pesquisa, com exceção de umas poucas insti- torado. A Capes controla um pouco isso, mas no
tuições, como a Getulio Vargas, Insper. E no setor nível do curso, não da instituição.
público, grande parte das universidades federais
tem pouca pesquisa, que fica concentrada nas Administração é o curso com maior número
melhores, como a UFRJ, em Minas Gerais, Rio de formandos, e sempre se volta à adminis-

Ensino Superior 19
Entrevista

tração privada, quando há muitas vagas na É complicado, a expansão do Fies foi demasia-
administração pública, que prima pela ine- da, a um custo impagável. Uma das vantagens do
ficiência. Não estamos perdendo uma opor- sistema privado é que ele é muito mais barato que
tunidade? o público. Na medida em que se reconheça que boa
Não acho que o problema da eficiência da ad- parte das instituições públicas são só de ensino, não
ministração pública dependa muito da formação de pesquisa, é possível baratear o custo delas. Pode-
dos servidores públicos. Como os concursos fede- ria haver mais alunos, mais professores de tempo
rais são muito exigentes, o pessoal que entra é qua- parcial, com outro tipo de contrato, poderia expan-
lificado.Acho que a ineficiência tem mais a ver com dir mais se oferecesse uma educação tipo college ou
o quadro legal, com as normas, com a burocracia, é tecnológica, o que o setor público ainda não faz,
um problema do sistema. quem faz é o setor privado. Outra coisa que tem se
falado muito é a ideia de criar um sistema de finan-
É um problema de cultura organizacional? ciamento educativo a ser pago com a renda futura
É de como está organizada a burocracia. As re- do aluno. Em vez de ele se comprometer a pagar
gras, a legislação, como funcionam as máquinas um empréstimo enquanto ainda está estudando,
públicas.Você pega as universidades federais, que você concede o empréstimo e quando ele se formar
hoje em dia são uma burocracia pública: se fos- e começar a ganhar dinheiro vai destinar uma parte
sem instituições autônomas, com responsabilida- da renda para pagar seus estudos. Vários países já
de pelo dinheiro que elas têm, pelo que gastam e fazem isso, com a vantagem de que você não sus-
GRUPO ÚNICO PDF
pelos alunos que formam, você mudaria a cultura
da universidade. É o formato de serviço público
tenta todo o sistema educativo. A outra coisa é que
se há algum custo na educação, isso desestimula a
que dificulta muito o funcionamento. Não pode pessoa que vai só ver como é que é, que não está
comprar, não pode contratar, não pode resolver muito interessada. Uma coisa que cria gordura no
o salário das pessoas, não pode ter novos recur- sistema é o fato de que a pessoa larga, pega um
sos, é uma coisa completamente amarrada. Você crédito sem pensar em pagar. Há vários caminhos
pode ter gente muito boa, mas eles conseguem possíveis, seja aumentando a oferta do setor públi-
fazer pouco. co, ou oferecendo outros tipos de financiamento
no setor privado.
As mudanças no Fies e no ProUni restringi-
ram muito o acesso ao financiamento pú- Um dos problemas centrais da educação bá-
blico e a adesão ao financiamento privado sica é a formação docente. Como o ensino su-
foi baixa. Há como financiar sem o risco de perior poderia contribuir para melhorá-la?
haver um ônus futuro para o estado? É um problema complicado, pois a questão

“A profissão de professor não precisa


ser para a vida toda para todo mundo”

20 Ensino Superior
do salário dos professores é muito difícil de re- pessoas bem formadas, cujo objetivo na vida não
solver, são centenas de milhares no país inteiro é ser professor durante a vida toda, mas que pode-
e os estados e municípios, os grandes emprega- riam passar alguns anos trabalhando com jovens,
dores, não têm capacidade para pagar um salá- motivando-os, e depois seguir suas profissões. A
rio melhor. Isso tem um sentido negativo, pois carreira docente tem de ser repensada também. O
os alunos que têm condições de fazer outros modelo de que a pessoa se forma em Pedagogia e
cursos para profissões que pagam melhor não vai ser professor pelos próximos 30 ou 40 anos é
vão escolher a carreira docente. Por outro lado, complicado, muita gente não quer isso.
quando as secretarias de Educação abrem um
concurso, sempre há muitos candidatos, o que O ensino superior brasileiro precisa de uma
mostra que a carreira não é tão pouco atrativa visão de futuro, regras claras de funciona-
assim. Tem estabilidade, uma série de vantagens. mento, mais flexibilidade e mais transpa-
Agora, se a questão salarial é difícil de resolver, rência. E o Ministério da Educação, que é
pois no agregado não há como colocar muito mais parte, talvez não seja a melhor agência para
dinheiro, é possível mudar a carreira do professor. regular esse sistema. Quem seria?
Se você pudesse fazer um sistema em que as pes- É algo que tem de ser discutido.Tem dois pro-
soas de melhor desempenho tivessem uma pro- blemas aí: primeiro, como o MEC tem as suas
moção melhor, mais rápida, poderiam ser atraídos próprias instituições, ele é parte nesse processo e
mais talentos. Ou seja, a promoção por mérito. E não faz uma avaliação muito rigorosa do próprio
GRUPO ÚNICO PDF
tem de melhorar a qualidade dos cursos de for-
mação, um problema sério. Não só a formação no
sistema. Poderíamos ter uma agência externa, re-
guladora, como existe em diferentes áreas, uma
curso, mas tem de haver também um trabalho para agência para a educação que fizesse essa avalia-
que se introduza o professor na sala de aula, uma ção de forma independente do ministério. A outra
formação prática. Há quem defenda que se deve coisa é que o sistema do Brasil é muito grande e
fazer algo como a residência médica, em que ele complicado. Isso poderia ser descentralizado, ao
se forma e vai para a escola trabalhar sob a tutoria menos parcialmente. Um estado como São Paulo
de um professor já formado. No Brasil, não existe poderia ser responsável pela avaliação de todo o
muito isso, há gente que sai de um curso a distância ensino superior paulista, não precisa do MEC
e quando vai para sala de aula não sabe o que fazer. para isso. Hoje em dia, todas as instituições priva-
Outra coisa que no Brasil não se faz é abrir um das do Brasil são avaliadas por Brasília. Não pre-
espaço para que pessoas mais jovens, que estão cisa. Talvez alguns estados não tenham estrutu-
na universidade, começando uma carreira, traba- ra para cuidar da qualidade das suas instituições.
lhem como professores. Alguém que esteja estu- São Paulo certamente tem. Não faz muito sentido
dando engenharia poderia dar aulas de matemá- ter Brasília controlando o país inteiro. Os EUA,
tica e de física. Deveríamos facilitar isso. O estu- por exemplo, não têm uma agência nacional de
dante poderia ganhar um dinheiro adicional, o que avaliação cuidando de tudo. Eles montaram sis-
seria bom para ele, e também para os alunos dele, temas nacionais aos quais as instituições aderem.
todos jovens. Isso poderia ser feito sob orientação. Têm três ou quatro sistemas de avaliação e as ins-
tituições aderem a essas agências, que têm regras
Mas como ficaria a carreira? e processos de avaliação próprios. Não há um sis-
A profissão de professor não precisa ser para tema nacional. São vários modelos diferentes, e
a vida toda para todo mundo. Pode ser um trabalho não há uma burocracia dentro do Ministério da
provisório numa etapa da vida. Isso poderia trazer Educação para fazer isso.

Ensino Superior 21
EAD

De Hollywood
para as escolas
Imprescindíveis no mercado
audiovisual, roteiristas
começam a ser valorizados na
área educacional, onde podem
contribuir para melhorar a
qualidade das aulas online

por Marina Kuzuyabu

GRUPO ÚNICO PDF

22 Ensino Superior
I
ntercalando trechos do filme O jogo da imitação (2014) com
as explicações do professor Henrique Poyatos, um vídeo de
aproximadamente quatro minutos explica quem foi o matemático
Alan Turing , qual papel ele desempenhou na 2ª Guerra Mundial
e como suas contribuições foram fundamentais para a invenção
do computador moderno. O vídeo é bem editado e se diferencia
substancialmente de grande parte dos materiais utilizados nos cursos a
distância. O segredo? A roteirização.
Atualmente, seis profissionais dessa área integram a equipe de
produção da Fiap On, unidade da Fiap dedicada aos cursos online. Turing ficou famoso
por conseguir
A função deles é deixar os vídeos mais interessantes, atrativos, próximos desvendar o código
dos vídeos a que os alunos costumam assistir no tempo livre. militar alemão
gerado pela
Enigma, máquina
Para alcançar essa meta, vale buscar persona- inserção de recursos, como infográficos, citações, de criptografia
supostamente
gens, entrevistar especialistas de fora da institui- pequenas notas ou imagens externas. “Tudo isso, impenetrável. O feito
ção, gravar cenas externas e recorrer ao extenso naturalmente, sem excessos, pois a ideia é ajudar o ajudou a encurtar a
guerra, pois revelou
repertório audiovisual do Brasil e do exterior. O professor e o aluno”, pondera a especialista. aos Aliados posição
GRUPO ÚNICO PDF
importante é que o aluno compreenda o assunto
de forma agradável e lúdica, como explica Lean-
O roteirista pode ainda sugerir adaptações na
linguagem ou até na estrutura da narrativa. “Uma
das tropas alemãs

dro Rubin, diretor da Fiap On. “Embora contem videoaula pode ser muito cansativa, daí a necessi-
com o suporte dos professores, os roteiristas têm dade de tantas intervenções”, explica. “O profes-
capacidade de ler, pesquisar e se aprofundar nos sor precisa ser muito objetivo e conciso.As explica-
temas e, a partir disso, propor abordagens inte- ções têm de ser consistentes, pois o aluno não terá
ressantes”, afirma. a oportunidade de perguntar. Sendo assim, é pre-
Criado em 2014, o departamento de cursos ciso prever todas as possíveis perguntas para, de
online da Fiap contabiliza em seu portfólio mais antemão, detalhar bem o conteúdo”, acrescenta.
de 70 mil vídeos, incluindo videoaulas. Estas, con-
tudo, são trabalhadas pelos próprios docentes.
Já no Senac EAD os roteiristas entram em ação GUIA PARA INICIANTES
para ajudar os professores na gravação das aulas. Além de melhorar a videoaula, o roteiro é fun-
De acordo com Fernanda Fenili, responsável pela damental para a equipe de produção e para o pró-
gestão dos cursos daWEBTV do Senac EAD, esse prio professor no momento em que ele está gra-
trabalho conjunto existe desde o surgimento da vando. No documento usado no Senac EAD, há
unidade de cursos a distância, ou seja, 2003. duas colunas: uma com anotações para a equipe
Na prática, a parceria funciona da seguinte técnica e outra para o professor. “Além de ajudar
forma: os professores preparam a aula e os ro- o docente a usar melhor o tempo da aula, o recur-
teiristas avaliam como torná-la mais objetiva, in- so é extremamente importante para aqueles que
teressante ou compreensível. Para alcançar esses estão começando na EAD. Muitos ‘travam’ dian-
objetivos, eles podem sugerir, por exemplo, que te da câmera simplesmente porque não estão ha-
o conteúdo seja abordado em tópicos, e não em bituados com o equipamento. O roteiro é essen-
um bloco único. Eles também podem optar pela cial nessas horas”, detalha.

Ensino Superior 23
EAD DE HOLLYWOOD PARA AS ESCOLAS

Há também professores que gostam de usar mesmo a distância. Os vídeos de um curso online,
teleprompter. Nesses casos, o cuidado dos rotei- portanto, precisam ser curtos para se adaptar às
ristas é deixar a linguagem mais natural, inserin- necessidades contemporâneas. “Uma explicação
do perguntas e interjeições que ajudam a tornar o de 14 minutos pode ser segmentada em dois ví-
discurso mais espontâneo. deos de sete minutos para os alunos conseguirem
Apesar das adaptações na linguagem, Fenili acompanhar o curso, assistindo às aulas quando
afirma que o estilo dos professores jamais é des- podem”, exemplifica.
respeitado. “Não há orientações para que os do- Nessa estratégia, a roteirização tem grande re-
centes mudem o jeito como dão aula ou para que levância, pois é nessa etapa que é feita a segmen-
se comportem de determinada forma. Isso não tação do conteúdo. Nessa fase, também se pensa
existe aqui”, reforça. na forma – “a linguagem precisa ser mais solta,
Para a equipe que está filmando e editando, próxima da de uma conversa com o aluno” – e
o roteiro é peça-chave e funciona como um guia no ritmo – “a ideia é que a aula ela seja rápida, tal
para o produto final que se espera entregar para como os vídeos doYouTube”.
os estudantes. Em todos os cursos da instituição, sejam pre-
senciais ou online, se usa o conceito do arco, tam-
CURSOS LIVRES bém oriundo do universo da dramaturgia, para
evitar que as aulas se transformem em um amon-
Apesar de sua utilidade na educação, esse do- toado de conteúdos desconexos.
GRUPO ÚNICO PDF
cumento emprestado do universo cinematográ-
fico ainda não é tão usado pelas instituições de
Felipe Anghinoni, diretor e sócio-fundador
da Perestroika, faz uma comparação com a sé-
ensino superior. A opinião é compartilhada tanto rie Friends para explicar o conceito. Cada tem-
por Fernanda Fenili, do Senac EAD, como por porada tem uma história principal, que é conta-
Leandro Rubin, da Fiap On. Ambos conhecem da aos poucos ao longo dos episódios. Esse é o
diversos modelos de educação a distância e não arco. Ainda que os episódios contenham outras
têm conhecimento da presença de muitos rotei- histórias, estas são menores e se encerram em si.
ristas em IES. De maneira análoga, as aulas de um curso
Por outro lado, na área dos cursos livres, a rea- seriam como os episódios de uma temporada, o
lidade é diferente. Talvez porque o público des- que pressupõe a existência de uma narrativa para
ses cursos não esteja interessado em certificados, abarcar todos eles. De acordo com Anghinoni,
mas sim no conhecimento em si, as escolas que que começou a carreira no mercado publicitário,
atuam nesse universo precisam conquistar as esse recurso é eficaz tanto para o aprendizado
pessoas de outra forma. E muitas têm investido como para a retenção dos alunos.
na maneira como esse conhecimento é entregue.
Trabalhar com roteiristas faz parte disso. MAIOR PARTICIPAÇÃO DO PROFESSOR
Na escola de metodologias criativas Peres-
troika, a experiência de aprendizagem dos alunos Apesar do crescimento das videoaulas em
é centro de muitas atenções e uma pequena parte cursos a distância, a produção desse tipo de ma-
disso está expressa no formato dos cursos online. terial didático ainda carece de diretrizes técnicas,
De acordo com Rafaela Peruffo, gestora da Pe- avaliaVinicius Carvalho Pereira, professor do de-
restroika Online, a abordagem da instituição tam- partamento de Letras e do programa de pós-gra-
bém se deve ao reconhecimento de que as pessoas duação em Estudos da Linguagem da Universi-
estão com pouca disponibilidade para estudar, dade Federal do Mato Grosso (UFMT).

24 Ensino Superior
Em artigo publicado no Texto Livre: Lingua-

Características
gem e Tecnologia, periódico quadrimestral, com
avaliação de pares, mantido pela Faculdade de
Letras da Universidade Federal de Minas Gerais de um bom roteiro
(UFMG), o pesquisador chama a atenção para
a definição de alguns parâmetros de qualidade e Mesmo considerando que não existe
para a maior participação do professor no pro- um formato único, Fernanda Fenili,
cesso de roteirização. “A ideia é que o professor responsável pela gestão dos cursos da
possa não apenas definir o texto verbal da aula
WEBTV do Senac EAD, define as
(como acontece na maioria das equipes de pro-
dução), mas sim ter ferramentas para também de- características de uma boa videoaula roteirizada:
cidir quanto aos outros elementos constituintes Tem início, meio e fim;
do gênero videoaulas”, pontua.
Assim como os demais especialistas ouvidos Apresenta linguagem objetiva, clara e
pela reportagem, Pereira também destaca a ne-
concisa;
cessidade de trabalhar com textos curtos, seg-
mentados em diferentes cenas, para não sobre-
Explica em detalhes os pontos que mais
carregar o aluno e ainda ajudá-lo a se organizar.
Caso ele precise assistir novamente a um trecho geram dúvidas entre os alunos;

GRUPO ÚNICO
da aula, ele conseguirá localizar com mais facili-
dade o conceito que deseja rever.
PDF
Tem conteúdo consistente, afinal, é uma aula;
Outro destaque do texto é a descrição de um
experimento realizado com uma pequena amos- Utiliza recursos complementares
tra de cinco professores, que receberam instruções O[Y[PMP[_QS^ÔRUO[_ZMYQPUPMOQ^`M™:Ö[
para roteirizarem suas próprias videoaulas. Qua-
\[PQM`^M\MXTM^[\^[RQ__[^õ\^QOU_[_QO[X[OM^
tro deles decidiram fazer uma aula expositiva, em
vez de uma aula dramatizada, com a participação Z[XaSM^P[MXaZ[\M^MQZO[Z`^M^[Q]aUXÞN^U[š
de personagens e diálogos ficcionais. A preferên-
cia pelo modelo tradicional mostra, na opinião do
pesquisador, como ele está “enraizado na cultura
de educação a distância praticada hoje no Brasil”. os professores a compreenderem o processo de
Os participantes da pesquisa também opta- produção de videoaulas e, consequentemente, a
ram de forma unânime pelo acréscimo de legen- participar mais das tomadas de decisão referen-
das, o que foi considerado negativo pelo pesqui- tes aos “elementos técnicos que impactam dire-
sador. Recorrendo a uma bibliografia sobre de- tamente o seu canal de interação com o aluno”.
sign instrucional, Pereira afirma que a legenda é Para aproximá-los ainda mais desse universo,
redundante (exceto para alunos com deficiência ele recomenda a redução do uso de termos téc-
auditiva e quando há necessidade de tradução) e nicos, além de direcionamentos mais claros. Os
sobrecarrega os alunos. professores, contudo, se apropriaram facilmente
Reconhecendo os limites da experiência rea- de muitas características das videoaulas, o pode
lizada, dado o exíguo número de docentes, Perei- indicar um novo caminho para as instituições que
ra afirma que a utilização de um instrumento de estão trabalhando com roteirização e querem in-
roteirização, tal como o usado na pesquisa, ajuda cluir mais os docentes no processo de produção.

Ensino Superior 25
Capa

A FORÇA
da colaboração
Dezenas de instituições
começam a atuar em conjunto
para elevar a qualidade
do ensino, melhorar seus
processos internos e
enfrentar a concentração de
YQ^OMP[-_Qd\Q^UÛZOUM_
consolidadas mostram que os
\M^`UOU\MZ`Q__ã`ÛYMSMZTM^

por Marina Kuzuyabu

GRUPO ÚNICO PDF

26 Ensino Superior
P
oucos sistemas educacionais se parecem com o do Brasil, onde
75% das matrículas do ensino superior estão na rede privada.
O projeto foi criado pela
Com a queda do número de ingressantes provocada pela crise entidade no segundo
econômica e a redução do Fies, a competição se tornou ainda semestre de 2016 com
o objetivo de estimular
mais acirrada em determinadas regiões e áreas de estudo. a cooperação entre as

Nesse cenário, quem poderia supor que as instituições aceitariam com- IES e, assim, garantir
sua sustentabilidade
partilhar suas estratégias de negócios com o mercado? Ou ainda detalhar em um mercado cada
vez mais concentrado
como conseguiram elevar a nota do Enade? Por improvável que pareça,
é assim que vêm trabalhando as 53 instituições de ensino que integram
as Redes de Cooperação do Semesp .
A iniciativa se inspira em redes colaborativas existentes nos Estados
Unidos, onde algumas delas têm mais de 100 anos de história, como a
Five Colleges, formada por cinco instituições que reúnem 30 mil estu-
dantes, aproximadamente.
Em comparação com as redes mais antigas dos Estados Unidos, as bra-
sileiras ainda estão em estágio embrionário. Porém, ao longo desses dois
anos e meio de trabalho, as redes nacionais já conseguiram economizar
GRUPO ÚNICO PDF
o equivalente a R$ 1 milhão. Esse dinheiro seria gasto na contratação de
consultores e profissionais especializados, na produção de conteúdos
para cursos EAD, na criação de novos cursos e em mais uma série de ini-
ciativas, que foram realizadas em conjunto ou até cedidas.

Esse montante, contudo, não é o principal Católico Salesiano Auxilium), Unifeb (Cen-
ganho, afirmam os integrantes. Todos concor- tro Universitário da Fundação Educacional
dam que a troca de experiências é o principal de Barretos), Unifipa (Faculdades Integradas A maior parte do
R$ 1 milhão mencionado
ativo das redes. “Saímos do isolacionismo para Padre Albino) e Unifev (Centro Universitário de anteriormente foi
o modo cooperação. Está acontecendo uma mu- Votuporanga). economizado com a
colaboração dessas
dança de mindset e acredito que esse seja o gran- Elas estavam divididas em duas redes, mas
instituições do interior
de legado das redes. A concentração do mercado agora passam por um processo de fusão para de São Paulo, que têm em
está muito forte. Ou nos juntamos ou vamos de- ganhar mais força. São as redes pioneiras, como comum o fato de serem
fundações católicas
saparecer”, analisa João Otávio Bastos Junquei- ficaram conhecidas.
ra, reitor da Unifeob. Justamente por serem as mais antigas, são
elas que têm mais projetos concluídos ou em
AS PIONEIRAS andamento . Uma das iniciativas de destaque é
a criação do curso de Medicina no Unisalesiano
As primeiras instituições que aderiram ao Araçatuba. Sem experiência na área, a instituição
projeto foram: Universidade São Francisco, pensou em contratar uma consultoria para auxi-
Unifeob (Centro Universitário Octávio Bastos), liá-la na estruturação do programa, um serviço
FHO (Centro Universitário Hermínio Ometto), que custaria R$ 300 mil, aproximadamente. Esse
Unisalesiano Araçatuba (Centro Universitário valor foi poupado.

Ensino Superior 27
Capa A FORÇA DA COLABORAÇÃO

Todas as informações de que precisava vie-


ram da Unifev (Votuporanga), que tem curso
de Medicina, e da Unifeb (Barretos), que atua
na área da saúde.
As consultorias também aconteceram quando
as instituições precisaram atualizar seus sistemas e
serviços. O Centro Universitário Hermínio Omet-
to - FHO, de Araras, substituiu seu sistema de tele-
fonia com o apoio da Universidade São Francisco
Reuniões de trabalho
(Bragança Paulista), que já passou por esse proces-
Representantes das so. Estima-se que o centro universitário de Araras
instituições de ensino tenha economizado em torno de R$ 25 mil, aponta
discutem temas de
interesse comum Fábio Reis, diretor de Inovação Acadêmica e Redes
de Cooperação do Semesp.
A mesma instituição também esteve no centro
de outra troca de informações. Dessa vez, foi ela
quem orientou a parceira Unifeob (São João da
Boa Vista), que precisava de assessoria para atua-
lizar seu sistema de wi-fi. Nesse caso, a economia
GRUPO ÚNICO PDF
estimada foi de R$ 155 mil. “Agora começamos a
trabalhar com digitalização da nossa documenta-
ção e, para isso, visitamos uma instituição que está
avançada nesse aspecto”, adianta o diretor admi-
nistrativo e financeiro da FHO, Francisco Eliseo
Fernandes Sanches, mais conhecido como Kiko.
“Nós também já trocamos informações sobre
plano de carreira, bolsas de estudo. O pré-requisi-
to para participar das Redes é ter espírito de par-
ceria; não dá para entrar pensando em levar van-
tagem. Mais do que ser ajudado, nós queremos
ajudar o outro”, pontua.

AVANÇOS RÁPIDOS

A Austrália também tem experiência com re-


des de cooperação. Um dos consórcios mais bem-
sucedidos, o Australian Technology Network
(ATN), levou 14 anos para se consolidar.
Considerando esse histórico, as Redes de Coo-
peração do Semesp estão avançando rapidamen-
te, o que na opinião de Fábio Reis se deve a alguns
aspectos. Primeiro porque a experiência brasilei-
ra não parte do zero em termos de informação; as

28 Ensino Superior
Quem são e
projetos
realizados
Conheça as instituições que integram cada uma das redes
e algumas de suas iniciativas

Redes 01 e 02
Participantes: Resultados:
USF (Universidade São Francisco) ³Economia estimada de R$ 895 mil;
Unifeob (Centro Universitário Octávio Bastos) ³Criação da revista científica Ensaios Pioneiros;
FHO (Centro Universitário Hermínio Ometto) ³Troca e homologação de fornecedores;
Unisalesiano Araçatuba (Centro Universitário ³Troca de informações sobre: financiamento
Católico Salesiano Auxilium) estudantil, estratégias de inadimplência; informações
Unifeb (Centro Universitário da Fundação financeiras; indicadores estratégicos; modelo de
Educacional de Barretos) plano de carreira; modelo de gestão; serviços de
Unifipa (Faculdades Integradas Padre Albino) wi-fi e de telefonia;
Unifev (Centro Universitário de Votuporanga) ³Oferta conjunta de 13 cursos de pós-graduação;
³Compartilhamento de conteúdo para cursos EAD;
³Consultoria e suporte para abertura de curso de
Medicina.
GRUPO ÚNICO PDF

Rede 03
Participantes: Resultados:
FIO (Faculdades Integradas de Ourinhos) ³Economia estimada de R$ 116 mil;
Unifac (Associação de Ensino de Botucatu) ³Redução de custos de infraestrutura;
Faag (Faculdade de Agudos) ³Troca de melhores práticas em relação ao Enade;
Faculdades Integradas Einstein de Limeira ³Exposição de modelos de currículo inovadores.
Faculdades Rio Branco

experiências internacionais são largamente es- internacional bem-sucedida e que as IES con-
tudadas e disseminadas. O Semesp, inclusive, seguem qualificar seu aprendizado institucio-
Além de realizar uma
passou a integrar a Association for Collaborative nal através da colaboração”, analisa Fábio Reis. conferência anual,
Leadership (ACL) , uma associação americana que “Estamos quebrando um paradigma do Brasil de a entidade promove
estudos e pesquisas,
atua globalmente para incentivar a formação de que as IES não colaboram porque são concorren-
presta consultoria e
redes de cooperação no ensino superior. tes”, reforça. desenvolve programas
“Outro fator é que há uma percepção de par- A rede 07, composta por nove instituições de de treinamento para os
mais de 55 associados
te dos dirigentes de que é preciso cooperar em ensino bem-estruturadas e competitivas, come-
função da situação econômica do país. Eles tam- çou a trocar informações financeiras, incluindo a
bém conseguem perceber que há uma experiência folha de pagamento de cada uma, o Ebtida (lucros

Ensino Superior 29
Capa A FORÇA DA COLABORAÇÃO

Rede 04
Participantes: Resultados:
Unilins (Centro Universitário de Lins) ³Compartilhamento estratégico;
Unibarretos (Faculdade Barretos) ³Criação de programa único para egressos
Centro Universitário Moura Lacerda e empregabilidade.
Ceunsp (Centro Universitário Nossa Senhora
do Patrocínio)
Fatep (Faculdade de Tecnologia de Piracicaba)
Unicep (Centro Universitário Central Paulista)

Rede 05
Participantes: Resultados:
Uniítalo (Centro Universitário Ítalo Brasileiro) ³Economia estimada de R$ 8 mil;
Centro Universitário Unibta ³Troca de melhores práticas em relação ao Enade.

GRUPO ÚNICO PDF


Centro Universitário Braz Cubas
Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado)

antes de juros, impostos, depreciação e amortiza- Não é sempre também que o Semesp partici-
ção) e os custos administrativos. Nesse caso, os pa. Em alguns casos, a entidade é apenas comuni-
reitores decidiram compartilhar esses indicado- cada – e isso é visto com bons olhos. A intenção da
res para fazer comparações e estabelecer parâme- organização é dar condições para que as que redes
tros muitas vezes inexistentes. “Todos são centros caminhem sozinhas em um prazo de cinco anos
universitários, mas é possível que alguns tenham (contados a partir do momento de criação do gru-
uma folha de pagamento que consuma 45% do po). A independência beneficiará as próprias par-
faturamento, e outros, 60%. A ideia é comparar e ticipantes, que ganharão autonomia e acumularão
entender o que explica isso – se é a região em que conhecimento, e também o Semesp, que ganhará
a IES está inserida, se é o modelo de contrato e as- fôlego para criar novas redes pelo Brasil.
sim por diante”, explica Reis. Enquanto estiveram juntas, a entidade conti-
Nesse caso, a decisão partiu dos reitores, mas nuará no papel de colaboradora e assessora. São
não são eles que tomam todas as decisões. Em al- os profissionais do Semesp que agendam as prin-
gumas redes, já há grupos de trabalho montados cipais reuniões e definem a pauta de cada uma de-
por área: marketing, TI, financeiro etc. Os reito- las. Eles também colaboram com alguns projetos
res participam apenas dos encontros mais estra- e ajudam a disseminar informações entre as redes
tégicos, pois concordam que a descentralização – evidentemente, respeitando a confidencialida-
ajuda a acelerar as tomadas de decisão e a con- de, quando necessário.
cretização dos projetos. Na opinião de João Otávio Bastos Junqueira,

30 Ensino Superior
Rede 06
Participantes: Resultados:
Uniara (Universidade de Araraquara) ³Compartilhamento de linhas de pesquisa.
Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto)
Unifenas (Universidade de Alfenas)
Unifran (Universidade de Franca)
Unisanta (Universidade Santa Cecília)
Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)
Univap (Universidade do Vale do Paraíba)

Rede 07
Participantes: Resultados:
Centro Universitário Faesa ³Economia estimada: R$ 30 mil;
Unis (Centro Universitário do Sul de Minas) ³Elaboração de minuta jurídica para guiar
Centro Universitário Toledo Prudente GRUPO ÚNICO PDF
Unipam (Centro Universitário de Patos de Minas)
decisões de IES referente à reforma trabalhista;
³Compartilhamento estratégico.
Unisuam (Centro Universitário Augusto Motta)
Centro Universitário Eniac
Centro Universitário Uniopet
Afya (Antiga NRE)
Undb (Unidade de Ensino Superior Dom Bosco)
UniToledo (Centro Universitário Toledo)

reitor da Unifeob (São João da Boa Vista), as re- alunos alguns cursos da FHO que estão em seu
des se tornarão independentes e sustentáveis se portfólio, e vice-versa. Ambas saíram ganhando,
conseguirem eleger um profissional, ou até mes- pois conseguiram aumentar a oferta de progra-
mo uma equipe, para se dedicar exclusivamente mas lato sensu praticamente sem nenhum investi-
ao assunto. Isso evitaria uma possível desarticula- mento, informa o reitor da Unifeob.
ção e possibilitaria avanços em outros sentidos. Outro exemplo interessante vem da rede 07,
que passou a abrigar um consórcio de internacio-
NÃO É SÓ GESTÃO nalização liderado pela Unis (Centro Universitá-
rio do Sul de Minas), sediada em Varginha. Com
A colaboração entre as IES também se estabe- 10 mil alunos, a instituição tem um departamen-
leceu na área acadêmica. Na rede pioneira, duas to forte de internacionalização responsável por
instituições passaram a oferecer 13 cursos de pós- gerenciar programas de mobilidade acadêmica,
graduação em parceria. A Unifeob oferece a seus mobilidade docente, cinco cursos de graduação

Ensino Superior 31
Capa A FORÇA DA COLABORAÇÃO

Rede 08
Participantes: Resultados:
Unibr (Faculdade de São Vicente) ³Projetos em estágio inicial em função do
Fadisp (Faculdades Alfa) pouco tempo de criação da rede.
Centro Universitário Don Domênico
Faculdade Cultura Inglesa

Rede 09
Participantes: Resultados:
Fiap (Faculdade de Informática e ³Projetos em estágio inicial em função do
Administração Paulista) pouco tempo de criação da rede.
Instituto Mauá de Tecnologia
Faap (Fundação Armando Álvares Penteado)
Espm (Escola Superior de Propaganda e Marketing)
GRUPO ÚNICO PDF
Instituto de Ensino e Pesquisa Insper

com dupla titulação, disciplinas em inglês e par- Em breve, as disciplinas em inglês ofertadas pe-
ticipação em projetos de pesquisa. Atualmente, la Unis serão compartilhadas, no modelo a distân-
há 55 convênios ativos, que representam 25 paí- cia, com as demais participantes do consórcio e,
ses. Todo esse pacote movimenta 60 mil alunos em breve, a rede pretende dar mais um passo am-
por semestre, explica Felipe Flausino de Oliveira, bicioso: estabelecer um programa de mobilidade
chefe de gabinete da reitoria. nacional para que os alunos possam transitar pelas
O consórcio funciona como um escritório de IES do consórcio. Antes disso, haverá um alinha-
internacionalização comunitário; todos os convê- mento de matriz curricular, informa Oliveira.
nios e parcerias internacionais se estendem às IES Já na rede 06, composta por universidades, há
participantes, dentro das possibilidades e interes- um plano de trabalho para fortalecer a pesquisa e a
ses de cada uma. Para financiar o escritório, as pós-graduação. Criado há pouco mais de um ano,
instituições pagam mensalmente R$ 1,5 mil, um o grupo já conseguiu mapear as linhas de pesquisa
valor irrisório perto do que gastariam se fossem existentes em cada uma das instituições e montar
montar seu próprio departamento. dois grupos de trabalho conjunto, um na área de
Elas também pagam R$ 5 mil para entrar no con- saúde e outro em biomateriais, informa Katia Jorge
sórcio e desenhar, em parceria com a Unis, uma es- Ciuffi, pró-reitora adjunta de pesquisa e pós-gra-
tratégia de internacionalização adequada a seu perfil duação da Unifran (Franca).
e interesses. Esse mesmo escritório também repre- As universidades também vão compartilhar la-
senta as IES em eventos internacionais, como a re- boratórios e equipamentos.“Em vez de ir ao exterior,
cente feira estudantil realizada em Madri (Espanha). os pesquisadores poderão utilizar a infraestrutura

32 Ensino Superior
Ganho de

de uma IES da rede”, comenta. A expertise dos pes-


escala
quisadores também será aproveitada nesse traba- Desde o início deste ano, as Redes de
lho, pois espera-se aumentar a publicação de artigos Cooperação do Semesp estão utilizando
assinados em parceria.“Queremos ainda comparti-
uma plataforma virtual – cedida pela
lhar as disciplinas dadas em língua estrangeira, tanto
Canvas – para ficarem conectadas e
nos cursos presenciais como nos online”, adianta.
MOQ__M^QYaY\MUZQXPQ[\[^`aZUPMPQ_
O DIFERENCIAL ENADE No final de abril, fornecedores dos mais
variados produtos e serviços passaram
Apesar de todos os questionamentos sobre a a fazer ofertas paras as integrantes das
adequação do Enade como instrumento de ava- Redes, que poderão realizar compras em
liação, o resultado do exame é usado pelas IES
conjunto valendo-se de um preço mais
como um indicador de qualidade. Ele é mencio-
bMZ`MV[_[™AYMUZ_`U`aUØÖ[PQYUXMXaZ[_
nado nas campanhas de marketing e aparece em
todos os materiais institucionais. Por que então bMU\[PQ^O[Y\^M^O[Y[a`^MPQ!YUX
compartilhar com as concorrentes as ações feitas As duas vão ganhar, pois comprarão em
para elevar a nota no exame? Pelo espírito da co- Q_OMXMšQd\XUOM>QU_
laboração e do avanço geral de todas. Amazon, BRG Educacional, Canvas,
É assim que pensam as IES da rede 07, que es- Cobrafix, Creduc, CRM Educacional,
GRUPO ÚNICO
Fundacred, Grupo PDF
tão aprendendo com o Centro Universitário Fae-
sa, do Espírito Santo, que conseguiu dar um salto
A, Microsoft, Planeta Y,
Techne / Lyceum e VLEX são as primeiras
no resultado da prova, saindo da nota 2 para a 5.
“Eles apresentaram o que fizeram com os profes- QY\^Q_M_]aQMPQ^U^MYÓ\XM`MR[^YM
sores, com os alunos. Até o gasto com o processo
foi apresentado”, detalha Reis.
“Fiquei muito impressionado com a disponi-
bilidade das pessoas em dividir assuntos até então representantes da ESPM, Faap, Instituto Mauá,
sigilosos, que fazem parte da estratégia do negó- Insper e Fiap passaram a se reunir para trocar in- O MEC publicou
cio. Isso foi importante para reavaliarmos nossa formações e experiências, ainda que sejam con- uma portaria
no início do ano
estratégia em vários aspectos”, conta Luiz Clau- correntes em muitas áreas. “Os ganhos são em
determinando a
dio Pereira, gerente nacional de ensino da Afya, termos de eficiência e processos”, explica Rogé- adoção do diploma
antiga NRE Educacional. O grupo tem 14 insti- rio Massaro, assessor de assuntos acadêmicos da digital até 2021

tuições de ensino e mais de 30 mil alunos. Faap. Como exemplo, ele cita a recente discussão
“Nós temos um contrato de confidencialidade, sobre o diploma digital , que deverá ser implanta-
mas,mesmo com o contrato,poderíamos falar até on- do dentro de dois anos. “ Não havia pares para tro-
de interessa a cada um. Mas não é assim.Todo mun- car experiências antes. Agora podemos conversar
do é muito disponível. No caso das reuniões sobre o e comparar as soluções de cada um, saber quem
Enade, todos foram muito transparentes nas ações são seus fornecedores e como avaliam cada um de-
que fazem para se destacar no exame”, informa. les”, comenta. “Estamos muito otimistas. Somos a
É esse espírito que explica a criação de uma rede mais nova, então ainda não temos grandes re-
rede formada por instituições bem-posicionadas sultados. Mas cada uma já falou de seus bastidores
no mercado, que conseguem trabalhar com um ti- e agora começamos a visitar umas as outras. Esse
cket médio de R$ 3 mil. Há pouco mais de um ano, projeto é muito importante”, finaliza.

Ensino Superior 33
Formação

Prática e
mutante
õO[Y[PQbQ_Q^MR[^YMØÖ[P[_Z[b[_
administradores, caso os cursos
queiram acompanhar o frenesi do
YQ^OMP[:Q_`QO[Z`Qd`[[_bMX[^Q_
éticos podem fazer a diferença

por Rubem Barros

GRUPO ÚNICO PDF

34 Ensino Superior
“R egurgitar a comida tal como a engolimos é
sinal de sua crueza e de indigestão: o estômago
não fez seu trabalho se não mudou o estado e
a forma do que lhe foi dado a digerir.” Trocando
em miúdos: a química da digestão só se processa quando
aquele que deglute coloca em ação seus dentes e enzimas,
capazes de transformar o alimento em energia corporal,
descartando o que não é útil.
O uso da imagem para uma analogia com a educação mostra que
o atrito entre conteúdo e sentido não vem de hoje: está no capítulo “Sobre
a educação das crianças”, dos Ensaios, de Michel de Montaigne, escritos
no século 16. O autor já alertava para o caráter retórico da educação,
advogando em prol da necessidade de o educando aprender por meio
da experiência que o fizesse penetrar no sentido e na substância do que
observasse, e não apenas na retenção pela memória.
Mais de quatro séculos depois, essa questão é apenas a ponta do iceberg:
ainda que seja um problema persistente, a distância entre aprendizado
GRUPO ÚNICO PDF
teórico e prático não é mais o único item do cardápio. Agora, o principal
deles, em especial para aqueles que lidam com a área de administração, é a
velocidade com que as práticas empresariais têm mudado, revertendo em
pouco tempo arcabouços teóricos recém-sistematizados.
Dois fatos atestam a preocupação com a falta sidente da entidade, Taiguara Langrafe, pró-rei-
de sintonia entre cursos de Administração e exi- tor de Administração da Fecap.
gências de mercado: a aprovação, por periódico Um dos pontos que chamou a atenção da pes-
científico internacional, de artigo da pesquisado- quisadora (leia na pág.37) foi o fato de que, no
ra brasileira Fabíola Marangoni, versando sobre caso dos programas trainees das empresas, prin-
as competências que os administradores necessi- cipal porta de entrada para os jovens da área de
tam (“Empresas e escolas falam a mesma língua”, administração, há um aspecto que, segundo ela,
diz o complemento do título), em que ouviu 377 é mais valorizado pelas empresas: o pensamento
estudantes e 21 empresas, comparando a auto- sistêmico, ou seja, a capacidade de analisar de for-
percepção dos alunos ao que é enfatizado pelas ma conjunta diferentes aspectos de um negócio,
empresas; a elaboração pela Angrad, associação ver como eles se relacionam e distinguir aqueles
que reúne escolas de administração, de uma mi- que são determinantes.
nuta com novas Diretrizes Curriculares para os O ponto é convergente com a percepção de
cursos da área. Essa minuta será apresenta pa- gestores de empresas e educadores. Por isso,
ra discussão no evento anual da entidade, que empresas de áreas distintas como a Tetra Pak e a
acontecerá em agosto na Universidade Federal Honda fazem com que os trainees tenham con-
de Uberlândia, e posteriormente encaminhada ao tato com todas as áreas durante seu período de
Conselho Nacional de Educação, segundo o pre- treinamento. No caso da Honda, cujo último

Ensino Superior 35
O curso de Administração é
um dos três mais procurados
de todo o Brasil. O mais

Formação
recente Censo da Educação
PRÁTICA E MUTANTE Superior mostra que há em
torno de 680 mil alunos
matriculados nessa graduação

programa de seleção teve 11.578 inscritos e FORMAÇÃO EXCESSIVAMENTE


selecionou 18 pessoas após quatro meses, a BACHARELESCA
empresa tria os candidatos apenas entre quem
já tem ao menos dois anos no mercado, visando Para Luís Norberto Pascoal, diretor-presi-
maior maturidade. dente da Fundação Educar DPaschoal, muito
“Diversos candidatos têm dificuldade de desse problema decorre da formação excessiva-
fazer ligações conceituais ou de causa e conse- mente bacharelesca das graduações, com carên-
quência, de forma mais abrangente. Por isso tra- cia da dimensão prática do ofício. “Há áreas como
balhamos muito essa questão em nosso progra- engenharia ou agricultura que têm obtido exce-
ma de gestão. Eles passam por várias áreas, para lentes resultados com laboratórios maravilhosos.
Maíra Habimorad, ter uma noção do processo, das ligações internas. Administração não tem esses laboratórios. Por is-
diretora de carreiras e Há candidatos com bom conhecimento especí- so, há muitos jovens que vêm do ensino técnico
inovação da Adtalem
Educacional: avaliação
fico, mas falta um olhar mais global”, diz Ricar- que são muito melhores do que os bacharéis”, diz
de competências do Katajima, diretor de Recursos Humanos da Pascoal, em referência aos saberes específicos da
comportamentais Honda South América.
no vestibular
formação profissional.
Envolvido no diálogo com cursos superiores
de Administração , o diretor da FEDP defende a
implantação de algo que possa fazer o papel da re-
sidência nos cursos de medicina. Esse equivalen-
GRUPO ÚNICO PDF te seria uma espécie de laboratório de casos, com
tecnologia de estudos semelhante à de Harvard,
para análise de casos concretos. “O mundo em-
presarial está se ressignificando a toque de caixa,
mudou muito com o viés digital, e é preciso acom-
panhar esse processo”, avalia.
Em sintonia com a percepção de Kitajima e
Pascoal, Adolpho Mendes, especialista em re-
crutamento e relação com universidades na Tetra
Pak, também ressalta a necessidade de os ingres-
santes nos programas de trainee passarem por
vivências em todas as áreas da companhia, mas
avalia que chegam com boa base.
“No geral, chegam com noções gerais bem
desenvolvidas, mas ainda precisando evoluir em
aplicações práticas, o que somente a experiência
de trabalho pode proporcionar. Isso faz com que
o aprendizado anterior seja reavaliado, expandi-
do e complementado”, diz.
Para o gestor, a dinâmica de mercado
tem exigido dinamismo para a readequa-
ção de temas ante os avanços tecnológi-
cos e as mudanças de processos. Os cur-
sos de Administração, porém, têm res-

36 Ensino Superior
Graham Cheetham e Geoff
Chivers são pesquisadores
britânicos com inúmeros
trabalhos publicados sobre
competências profissionais
A ética como
O[Y\Q`ÛZOUM
Comparar o que é objeto da formação dos alunos de `[ PQ ^QXQb[ 1 Oa^U[_MYQZ`Q R[U M]aQXM ]aQ `QbQ
-PYUZU_`^MØÖ[Q]aMU__Ö[M_O[Y\Q`ÛZOUM_QRQ`UbM- YQXT[^ ™Z[`M PQ QZ`^MPMš [a _QVM [_ Q_`aPMZ`Q_
mente requeridas deles quando chegam ao ambien- avaliaram já terem boa formação ética ao ingressar
`Q PQ `^MNMXT[ /[Y Q__Q Y[`Q M \Q_]aU_MP[^M 2M- nos cursos, tendo a faculdade acrescido pouco nes-
bíola Marangoni desenvolveu sua tese de doutorado, _QM_\QO`[
defendida na FEA/USP, que agora virará artigo cientí- ™1YO[Y\QZ_MØÖ[Z[]aQ\U[^QXQ__QMbMXUM^MY
RUO[QY\Q^UãPUO[Q_\QOUMXUfMP[Z[_1_`MP[_AZUP[_ apesar de terem dito que foi onde mais cresceram
<M^`UZP[ P[ Y[PQX[ PQ $ O[Y\Q`ÛZOUM_ PQ ZM RMOaXPMPQ R[^MY M_ O[Y\Q`ÛZOUM_ RaZOU[ZMU_ M
Cheetham e Chivers , Marangoni selecionou cinco parte mais técnica da administração – o empreende-
YMO^[O[Y\Q`ÛZOUM_ Q [abUa ## Q_`aPMZ`Q_ ]aQ dorismo, a negociação, a orientação para resultados
_Q Ma`[MbMXUM^MY R[^YMZP[ `^Û_ S^a\[_ PU_ [a\M^MOXUQZ`Q_š^Q_aYQ9M^MZS[ZU
`UZ`[_O[Y\Q`ÛZOUM_MX`MNMUdMQUZ`Q^YQ A incorporação dos aspectos éticos e de
PUÔ^UM 0[ [a`^[ XMP[ R[^MY [abUPM_ valores está em sintonia com o que mui-
 QY\^Q_M_ `MYNÚY O[Y `^Û_ ta gente espera em termos de desa-
PURQ^QZ`Q_\Q^RU_
GRUPO ÚNICO PDF fio para o mercado daqui para a
As cinco macrocompe- frente, em especial em fun-
`ÛZOUM_ R[^MY M O[SZU`UbM M ção de dilemas trazidos pela
pessoal, a funcional, a ética e a `QOZ[X[SUM™;_S^MZPQ_\^[NXQYM_
YQ`MO[Y\Q`ÛZOUMO[ZVaZ`[PQM_\QO- que teremos daqui para frente serão
`[_]aQ\[`QZOUMXUfMY[PQ_QZb[XbUYQZ`[ Ú`UO[_ Y[^MU_ @^MfQ^ U__[ \M^M M \^[\[_`M
Segundo a pesquisadora, egressos e empresas \QPMSãSUOMÚaY\M__[_a\Q^UY\[^`MZ`QšMbM-
`ÛY bU_åQ_ PURQ^QZ`Q_ _[N^Q O[Y[ Q__M_ Ô^QM_ _Q XUM9MÞ^M4MNUY[^MPPM-P`MXQY
O[YNUZMY <M^M [_ V[bQZ_ TÔ aY O[Z`^M\[Z`[ QZ- - \^Q[Oa\MØÖ[ `QY ^MfÖ[ PQ _Q^ ?Q OTQSMY Ó
`^QP[U_QUd[_;\^UYQU^[PQXQ_O[YNUZMM_O[Y\Q- faculdade e ao mercado de trabalho achando que
`ÛZOUM_YQ`MQO[SZU`UbM[_QSaZP[M_\Q__[MU_Q seus valores já estão formados, talvez os estudan-
Ú`UOM_;_]aM`^[_Ö[\Q^\M__MP[_\QXM_RaZOU[ZMU_ tes ainda não estejam prontos para se defrontar com
Já as empresas veem dois grupos de contrastes: o questões ainda inéditas não só para eles, mas tam-
primeiro entre as éticas e as cognitivas e funcionais; NÚY\M^MM_[OUQPMPQ-RUZMXMÚ`UOMP[`^MNMXT[P[
[_QSaZP[QZ`^QO[Y\Q`ÛZOUM_\Q__[MU_QYQ`M _ÚOaX[PQbQ`^MfQ^_U`aMØåQ_NQYPURQ^QZ`Q_PM-
A escolha da escala foi feita em função de ela ]aQXM_]aQZ[_ÚOaX[%\Ma`M^MYaY[XTM^UZ[bMP[^
UZO[^\[^M^M_O[Y\Q`ÛZOUM_Ú`UOM_O[Y[aYM_\QO- _[N^Q[YQ^OMP[

Ensino Superior 37
Formação PRÁTICA E MUTANTE

pondido a essa dinâmica, pois hoje contam com COMPETÊNCIAS


oferta de disciplinas variadas, “como empreen- COMPORTAMENTAIS
dedorismo, big data e até mesmo desenvolvimen-
to de competências pessoais”, ressalta Mendes. Outro indício claro da aproximação
O gestor daTetra Pak também elogia os candi- cada vez maior entre setor produtivo e institui-
datos dos cursos de Engenharia, informação que, ções de ensino é a contratação de Maíra Habimo-
se conectada às falas de outras pessoas do merca- rad, consultora e sócia da Companhia deTalentos,
do, leva à conclusão de que, além da experiência para a diretoria de carreiras e inovação da
prática, o raciocínio lógico é uma competência de Adtalem Educacional, empresa à qual está vin-
primeiro escalão, ainda que nem sempre isso seja culado o Ibmec-SP.
verbalizado dessa forma. Habimorad atribui a popularidade dos pro-
Como ressalta Kitajima, da Honda, é essencial gramas de trainee à dificuldade de aproximação
que os profissionais que estão chegando ao mer- das faculdades em geral com as empresas, fator
cado tenham boa capacidade de conectar infor- hoje combatido em várias frentes. No caso do
mações. “Aquele que souber fazer conexões mais Ibmec, a opção foi começar por incorporar ao
rapidamente, que transformar dados em infor- processo seletivo uma etapa em que são avaliadas
mação irá se destacar.” quatro competências comportamentais.
As pontes com o universo acadêmico também “São competências essenciais, que valem pa-
têm se mostrado muito frutíferas, diz o executi- ra qualquer tipo de carreira e servem como pilares
GRUPO ÚNICO PDF
vo. Ele faz parte do Comitê de Formação de Re-
cursos Humanos da Fundação GetulioVargas, ao
para competências específicas de cada negócio”,
diz Habimorad. As competências são empatia,
Marcelo Zorovich,
coordenador do curso lado de outros 20 ou 30 gestores. Eles se reúnem visão, adaptabilidade, centralidade (veja no qua-
de Administração da
ESPM: redesenho com frequência em diversas cidades, quando são dro da pág. seguinte). Haverá exigência de um ní-
da graduação apresentados cases para discussão com universi- vel mínimo dessas competências no ingresso; no
para aumentar a
dades e executivos. meio do curso os alunos terão como meta chegar
empregabilidade
ao 2º nível. No final do curso, uma avaliação indi-
cará se chegaram ao nível desejado. Uma discipli-
na transversal, o processo integrador, trabalha-
rá o desenvolvimento desses comportamentos.
O modelo já foi implementado na graduação de
Relações Internacionais e estará em outras quatro
graduações a partir do meio deste ano.
“Hoje, não há um modelo estruturado de de-
senvolvimento de competências. No máximo, há
algo periférico em relação às habilidades acadê-
micas. O que queremos é tirar isso da periferia e
trazer para o centro da experiência pedagógica”,
resume a diretora de carreira da Adtalem.

EM TORNO DE CASOS PRÁTICOS

Se o Ibmec deu um passo adiante com rela-


ção às competências, a ESPM vem, nos últimos

38 Ensino Superior
Novo modelo

tempos, acelerando as mudanças no curso de


de ingresso
Administração, tornando-o cada vez mais prá- -_O[Y\Q`ÛZOUM_O[Y\[^`MYQZ`MU_
tico e próximo do mundo corporativo. Marcelo para ingresso no Ibmec-SP:
Zorovich, coordenador do curso, calcula que a
transformação desde 2015 chega a 40% do dese- 1. Empatia
Valores, como olha para o outro, se coloca no
nho do curso.
lugar dele, como se relaciona.
Para balizar as mudanças, a ESPM ins-
tituiu cinco anos atrás um indicador de
empregabilidade, medida ao final do
curso. Esse índice passou de 75% a 95% 2. Visão
no período. Leitura de cenários, resolução de problemas,
O contato dos alunos com o merca- mente científica, criação de hipóteses.

do começa no primeiro semestre, em


disciplinas como gestão de marketing
e outras mais transversais. Repre- 3. Adaptabilidade
sentantes de companhias vão à Observação novos caminhos (inovação),
faculdade e os alunos às em- gestão do próprio aprendizado (na
presas para debater casos. organização ou fora dela), o que é preciso
Há incentivo também pa- buscar e como faz isso sozinho.

GRUPO ÚNICO PDF


ra que os estudantes participem do Centro de
Gestão e Transformação de Negócios. Ali, têm
oportunidade de trabalhar questões-chave da 4. Centralidade
Administração, como inovação, finanças, marke- Autorrespeito, resiliência, autoestima, como
ting, criação de valor, gestão de pessoas. recebe e dá feedback de qualidades.
Por vezes, isso se transforma em uma ativi-
dade conjunta com alunos de outras universida-
des. Recentemente, houve o Desafio ESPM/ITA
“Água potável e segura”, em que a Tigre queria empresa, pois muitas delas estão montando star-
uma solução para consumo, saneamento, uso in- tups em seu interior.
dustrial e recreativo. Foram formados seis grupos Como ressalta a pesquisadora Fabíola Maran-
híbridos, com dois alunos de cada universidade e goni, há espaço no mercado para diferentes perfis
os vencedores foram para a China. profissionais. “O aluno tem de se conhecer e co-
“Numa experiência como essa, tivemos a nhecer o mercado. Não existe resposta ideal sobre
possibilidade de trabalhar habilidades como re- como deve ser o aluno. Ele tem de saber como ele
lacionamento, negociação, socioemocionais, é e qual empresa mais se aproxima do seu perfil”,
capacidades analítica e técnica”, exemplifica comenta. Não é à toa que uma das competên-
Zorovich. cias que mais estão entrando em voga, e isso já
Outro aspecto ressaltado pelo coordenador na educação básica, é o autoconhecimento. Uma
é que os alunos podem ter foco profissional em das preocupações que motivaram Montaigne a
empresas de tamanho variado, inclusive próprias, sair por aí procurando entender o mundo. Aliás,
pois hoje muitos deles têm como meta empreen- ele soube dimensionar muito bem o peso da pró-
der. Ou, muitas vezes, a faceta empreendedora pria importância e da do mundo. E olha que ele
pode ser exigida mesmo dentro de uma grande foi bem influente. Por muito tempo.

Ensino Superior 39
Financiamento

Crédito
sustentável
Para driblar a crise econômica que afeta o
país, instituições de ensino privadas apostam
em novos modelos de financiamento
para dar oportunidades a alunos que
não podem pagar as mensalidades por José Eduardo Coutelle

T
axa de juros zero, sem aprovação cadastral, para todos os alunos, e
não apenas para aqueles com alto rendimento acadêmico. Muitos
poderiam achar que este é o slogan de uma agente financeira,
porém, são apenas algumas das condições que, há mais de uma
década, a Fundação Hermínio Ometto utiliza para oferecer crédito estu-
dantil aos estudantes que não podem pagar as mensalidades.
GRUPO ÚNICO PDF

40 Ensino Superior
A aposta na relação direta com os discentes sur- estudantil batizado com o nome de PagFácil.
giu antes mesmo do boom do financiamento públi- Vários aspectos motivaram a instituição a seguir
co e se mostrou sustentável ao longo dos anos, tor- por esse caminho, sendo o primeiro deles a possibi-
nando-se uma alternativa bastante concreta ante lidade de reduzir a evasão. Constatou-se que os alu-
o refreamento e atual declínio do Fies. Com a in- nos com algum tipo de crédito tinham maior com-
dependência dos sustentos federais, a FHO, antes prometimento e evadiam menos. Na verdade, duas Do ápice, em 2014, quando
firmou mais de 700 mil
chamada de Uniararas, foi capaz de amenizar o vezes e meia a menos que os demais. O segundo novos contratos, o Fies
impacto da crise que se abateu sobre o setor – e que ponto foi que, com o aluno pagando uma parcela despencou para pouco mais
de 80 mil vagas em 2018, e
exige medidas inovadoras para o preenchimento menor, a mensalidade caberia no seu bolso e com
neste ano tem dificuldades
das vagas ociosas. isso tenderia a não se tornar inadimplente. para atingir a meta de
O desemprego, um dos principais vilões desse Porém, a instituição percebeu que a sustenta- 100 mil novos contratos

cenário, já atinge cerca de 13 milhões de brasilei- bilidade do programa dependia do aumento da


ros, com mais intensidade nas classes menos favo- captação de alunos. De nada adiantaria financiar
recidas, público atendido prioritariamente pela re- somente os estudantes já matriculados. Além de
de privada. O financiamento estatal, que até então não aumentar as receitas, o sistema diminuiria o
era a principal mola propulsora do setor, perdeu fluxo de caixa.
protagonismo e reduziu drasticamente sua oferta . Na primeira versão do PagFácil, lançada em
Apesar desse cenário, o mais recente Censo da 2008, o programa concedia aos alunos 50% a mais
Educação Superior, relativo ao período de 2017, do tempo da graduação para quitar as dívidas. No ca-
GRUPO ÚNICO PDF
mostrou que a população acadêmica voltou a cres-
cer no país, embora timidamente. É o que motiva
so de uma mensalidade de R$ 600,00 de um curso de
quatro anos, o estudante pagaria apenas R$ 400,00
algumas instituições privadas a investir em novos por mês até se formar e depois seguiria com as mes-
modelos de captação e financiamento para agregar mas parcelas até completar os dois anos seguintes.
essa grande massa ainda disposta a comprometer Isso sem juros, apenas com os reajustes anuais co-
parte de seus salários com educação. muns a todos os alunos da instituição. A única exi-
Algumas optaram pelo fornecimento de crédi- gência era que o candidato apresentasse um avalista,
to estudantil, outras pela distribuição de bolsas, e ou seja, um responsável em último caso por possíveis
uma das mais singulares passou a exigir a contra- dívidas. Posteriormente, as regras do PagFácil se tor-
partida de parte do salário dos egressos, como foi naram ainda mais flexíveis. As mensalidades foram
apresentado no workshop internacional promovi- divididas ao meio e o período de quitação foi estendi-
do pela Universidade Corporativa Semesp sobre do para o dobro do tempo do curso.
programas sustentáveis de bolsas de estudo e de Para ser autofinanciável, conforme hipótese
crédito estudantil. sustentada pela FHO, o PagFácil deveria captar
no mínimo 20% a mais de alunos. Adicionando a
O RISCO É NOSSO esse cálculo que 40% dos estudantes não contem-
plados optariam por aderir ao crédito, ainda assim
De volta ao caso da Fundação Hermínio Omet- o modelo seria sustentável. Ademais, o saldo de-
to, a instituição fundada em Araras, no interior de vedor dos alunos já formados completaria a outra
São Paulo, identificou lá pelos idos de 2006 a ne- metade do valor das mensalidades dos futuros in-
cessidade de financiar parte de seus alunos, prin- gressantes. Essa projeção foi confirmada logo de
cipalmente os das classes C e D. Após uma fra- início. Aproximadamente 5 mil alunos optaram
cassada negociação com o setor bancário, a FHO por contratar a linha de crédito. Após uma década,
decidiu desenvolver o próprio modelo de crédito em 2019, e com um salto nas matrículas, o progra-

Ensino Superior 41
Financiamento CRÉDITO SUSTENTÁVEL

ma dobrou de tamanho e agora atende 10 mil estu- pelo menos seis para renovar o benefício. Já ao final
dantes, o que compreende cerca de dois terços do do curso, os futuros egressos terão um ano de ca-
corpo discente da instituição. rência para começar a quitar as mensalidades, com
Oprogramaestáconsolidadoemtermosdeope- valor corrigido apenas pelo Índice Geral de Preços
ração e caminha para uma estabilização financeira, do Mercado (IGP-M).
como indica o diretor Administrativo e Financei- Mas para esse modelo de financiamento funcio-
ro da FHO, Francisco Eliseo Fernandes Sanches. nar foi necessário desenvolver um sistema eficiente
“Quando tivermos estabilidade no número de ma- de cobrança e, principalmente, ampliar o patrimô-
trículas, teremos o valor entrando do mesmo por- nio do fundo. Para isso, além do recebimento das
te do que está saindo. Como estamos recebendo o mensalidades devidas, a escola apostou, desde o
pagamento dos ingressantes de quatro, cinco anos início, em um programa de doações. “Nosso maior
atrás, quando havia menos adesão, estamos rece- desafio é aumentar a base de doadores”, comenta
bendo menos do que estamos jogando para a fren- Arthur Neto. Para isso, a EAESP busca permanen-
te. Mas o programa está numa fase bem adiantada temente apoio de egressos bem-sucedidos, como
de consolidação. Daqui para adiante já começamos também de pessoas físicas em geral e de instituições.
a ter um fluxo de retorno mais compatível para o
equilíbrio da instituição”, comenta o diretor. CÍRCULO DE SOLIDARIEDADE

BOLSAS PARA TODOS OS APROVADOS A experiência colombiana pode indicar um


GRUPO ÚNICO PDF
No caso da Escola de Administração de Em-
possível caminho para instituições brasileiras se-
guirem na ampliação de seus modelos de financia-
presas de São Paulo (EAESP), da Fundação Ge- mento. O programa Quiero Estudiar lançado pela
tulio Vargas (FGV), o modelo de captação de alu- Universidad de Los Andes, de Bogotá, em 2006 e
nos se ampara em um fundo de crédito estudantil reformulado em 2013, já matriculou cerca de mil
criado em 1965 e que já financiou mais de 25 mil alunos e formou 112 profissionais nesta segunda
estudantes ao longo dos anos. Para pleitear uma fase. Direcionado a jovens talentos sem recursos
bolsa reembolsável entre 20% e 100%, o candida- para bancar o ensino superior privado, o programa
to precisa indicar um fiador e apresentar, anual- funciona através de um fundo de bolsas – parecido
mente, documentação financeira que comprove com o da FGV – que financia 95% das mensali-
a necessidade do recebimento do benefício. Essa dades. Os outros 5% são cobrados como contra-
prática foi necessária, explica Arthur Ridolfo Ne- partida dos alunos selecionados, que, além disso,
to, coordenador do Programa de Bolsas de Estu- comprometem-se a honrar umTermo de Recipro-
dos da EAESP, pois já houve casos de estudantes cidade, como explica Carolina Salguero, diretora
que solicitaram o financiamento, sem taxa juros, de Inovação do Quiero Estudiar. Diferentemente
enquanto investiam o valor das matrículas e rece- dos demais modelos, que cobram o saldo devedor
biam dividendos bancários. após o aluno se formar, aqui o candidato concorda
A disponibilidade das bolsas da EAESP tem, em devolver para a instituição 20% do seu salário
entre outros, o objetivo de tornar o público da es- pelo dobro do tempo em que ficou na universida-
cola cada vez mais diversificado e atrair jovens ta- de, isso em um contrato firmado apenas no âmbito
lentos, independentemente da situação econômica. da confiança, sem a necessidade de envolver pro-
Este é um ponto caro ao programa. A instituição só cedimentos jurídicos.
financia alunos com bom desempenho. Os atuais O modelo de financiamento da Universidad de
500 bolsistas precisam alcançar média semestral de Los Andes tem algumas particularidades. Para che-

42 Ensino Superior
Francisco Sanches,
gar ao percentual de retribuição estipulado, a insti- criteriosa dos candidatos. Na sequência, uma for- diretor Administrativo e
tuição desenvolveu uma pesquisa salarial e de em- mação de qualidade e com foco na empregabilida- Financeiro da Fundação
Hermínio Ometto,
pregabilidade de seus egressos. O valor fixado foi de. E por fim, a captação permanente de recursos. apresenta seu modelo
igual a todas as carreiras. Assim, egressos com pro- A base do modelo de financiamento da Uni- de crédito estudantil em

GRUPO ÚNICO PDF


fissões mais rentáveis passaram a financiar as ati-
vidades com menores remunerações, mecanismo
versidad de Los Andes atravessou o continente e,
mesmo que ainda em fase bastante embrionária,
workshop promovido
pela Universidade
Corporativa Semesp
este que acompanha a filosofia do Quiero Estudiar, já ganhou uma versão brasileira. A Unifeob, loca-
que prega os conceitos de solidariedade, reciproci- lizada em São João da BoaVista (SP), lançou nes-
dade e pertencimento. Mas ainda com esta média, a te ano o Quero Estudar, programa de concessão
conta não fechava. Um curso de graduação de qua- de crédito livremente inspirado na versão colom-
tro anos na instituição colombiana custa aproxima- biana. Tudo começou após uma visita do reitor
damente 43 mil dólares. Já o retorno proveniente João Otávio Bastos Junqueira à Universidad de
dos alunos não passa, na melhor das hipóteses, dos Los Andes. Ele se identificou com o projeto e de-
70% deste valor. Aqui entra a última variável que cidiu replicar o programa para os alunos brasilei-
torna essa equação, em tese, sustentável: as doações. ros. De volta ao país, após apresentar os conceitos
A instituição desenvolveu um Departamento de para sua equipe de trabalho, rapidamente foram
Filantropia.A diretora do setor, Carolina Angel, tra- selecionados 53 candidatos, todos indicados por
balha basicamente com três grupos de doadores – escolas públicas da cidade, e em 2019 iniciaram
os que doam até 3 mil dólares por ano, os que doam as aulas da turma inicial.
entre 3 mil e 150 mil e, no topo, os que doam acima Ainda com o projeto em fase de desenvolvi-
desse valor – e utiliza biografias de egressos bem- mento, os alunos do Quero Estudar brasileiro re-
sucedidos como forma de ‘vender’ o projeto. Atual- ceberam financiamento de 100% das matrículas,
mente, Carolina já conta com uma carteira de 4 mil sem a necessidade do reembolso, ao contrário do
doadores, 70% deles egressos da própria universi- modelo colombiano. “Não obrigamos os alunos a
dade, e tem por objetivo ampliar esse número para pagar os 20% do salário depois de formados. Paga
6 mil. De maneira geral, o programa Quiero Estu- quem quiser. Quero mesmo é que nosso estudante
diar percorre, obrigatoriamente, três estágios para seja bem-sucedido e que depois ele venha a finan-
ser autossustentável. O primeiro deles é uma seleção ciar outro aluno”, diz Junqueira.

Ensino Superior 43
GRUPO ÚNICO PDF
GRUPO ÚNICO PDF
Ensaio

Aulas em ÚNICO
GRUPO língua
PDF
estrangeira como
estratégia de motivação
UniBH oferece aos alunos a possibilidade de
praticar o idioma estrangeiro na graduação por Leonardo Drummond Vilaça e
e percebe aumento no engajamento Flávia Virgínia Santos Teixeira*

O
engajamento e a motiva- as notas ou outros mecanismos de
ção dos alunos são instru- poder que permeiam o campo dis-
mentos pedagógicos ne- ciplinar das atividades realizadas
cessários para a realiza- ao longo de um semestre. Por este
ção da aprendizagem. Em relação mesmo motivo, as atividades didáti-
ao contexto da educação superior, cas precisam ser planejadas a partir
podemos afirmar, segundo Mal- de uma perspectiva que convoque
colm Knowles, que os adultos pos- o universo de referências do aluno.
suem uma tendência a responde- Ao pesquisar mais sobre o inglês como elemento
rem mais prontamente aos fatores de motivação, encontrou-se pesquisas como as de
internos, ligados à autorrealização, Julie Dearden e Laura Knijnik Baumvol, que falam
do que a fatores externos, como sobre disciplinas ofertadas em inglês, mas que não

46 Ensino Superior
têm como foco o ensino da língua e sim o conteúdo e les que puderam participar da oficina.
competências planejadas para a própria disciplina. Percebe-se que, pelas respostas de boa parte
Diante de alguns exemplos e de outras práticas já deles, que há uma motivação intrínseca, de acordo
realizadas no Centro Universitário UniBH, realiza- com a categoria cunhada por Sherria Hoskins e
mos uma oficina em inglês para 21 alunos do curso Stephen Newstead, tendo o processo de aprendi-
de graduação em Design, especificamente na disci- zagem da língua, a vontade de experimentar uma
plina Laboratório de Aprendizagem Integrada. nova prática na universidade, a própria curiosida-
Os trabalhos realizados pelos alunos demons- de despertada durante a oficina ou o desejo de se
traram bom entendimento dos conceitos e desen- colocar diante de um novo desafio como elemen-
volvimento adequado de todas as atividades, levan- tos que motivaram os estudos de resolução de pro-
do os professores a entenderem que os resultados blemas em inglês. Essas respostas vão ao encontro
pretendidos de aprendizagem tinham sido alcança- do que Malcom Knowles explica sobre a tendência
dos de maneira satisfatória pela maior parte dos alu- de alunos adultos a responderem mais prontamen-
nos.Todos realizaram todas as atividades, o que foi te aos fatores internos no processo de automotiva-
uma boa surpresa, já que é normal que uma parcela ção para os estudos.
dos alunos deixe de realizar alguma tarefa. Entretanto, também foram encontradas mui-
Ao final da oficina foi solicitado que os parti- tas respostas que levam a entender que outros es-
cipantes respondessem a um questionário. Dos tudantes estavam extrinsecamente motivados,
21 participantes, 17 responderam. Perguntamos pois a chance de treinar para oportunidades pro-
GRUPO ÚNICO PDF
o porquê de terem escolhido a turma que usaria
uma língua estrangeira. Quase todos – 15 partici-
fissionais e acadêmicas futuras que exijam o do-
mínio da língua inglesa, ou de melhorar o currí-
pantes – justificaram a escolha porque poderiam culo, foram citadas por participantes.
“treinar”, “exercitar” ou “aprimorar o inglês” ou A utilização do inglês como meio de instrução
porque era uma “oportunidade de praticar” a nos pareceu um elemento estratégico para o de-
conversação ou escrita do idioma. senvolvimento da motivação de certos grupos de
Todos os alunos tiveram a impressão de que as alunos, devido a fatores de seus contextos sociais
aulas acrescentaram mais às suas formações acadê- que os motivam, o que pode beneficiar o processo
micas do que se tivessem cursado a mesma oficina de aprendizagem no ensino superior. Essa pes-
em português. Um aluno disse que “as aulas minis- quisa, é, entretanto, apenas uma coleta inicial de
tradas em inglês nos preparam para o mercado de dados que merece ser aprofundada em experiên-
trabalho”. Outro disse que, “por querer treinar meu cia de duração mais longa e com maior número
inglês, acabei me dedicando mais ao conteúdo”. de alunos, turmas e disciplinas.
“Com essa aula já tenho um pouco de experiência,
caso eu tenha que apresentar um trabalho em inglês
no futuro”, acrescentou mais uma estudante. Leonardo Drummond Vilaça é líder de Ino-
vação Acadêmica do Instituto Ânima, coordenador de
Para entender a percepção dos alunos sobre a
cursos de formação docente em parceria com a Fin-
própria motivação, foi perguntando se eles acredi-
land University (Finlândia) e professor da UNA e UNI-BH.
taram que a utilização do inglês em sala de aula con-
Flávia Virgínia Santos Teixeira é coorde-
tribuiu para a motivação. Apenas dois disseram não nadora do Laboratório de Aprendizagem Integrada e
ter percebido diferença na motivação. professora da UniBH e UNA. O texto acima foi editado e
Essa experiência, apesar de não incluir os alunos extraído do livro “Experiências de Ensino e Aprendizagem
que não tinham proficiência em nível básico da lín- na Universidade: Diálogos entre Brasil e Finlândia”, publica-
gua inglesa, se mostrou uma boa prática para aque- do pela editora Letramento e Instituto Ânima.

Ensino Superior 47
Meu trabalho transforma Cassia Amaral

Médicos
humanitários
Professora do curso de
Medicina da Anhembi Morumbi
insere os alunos na realidade
das crianças desfavorecidas

Há quatro anos, os alunos do curso de Medicina Os estudantes também passam por uma
da Universidade Anhembi Morumbi vão sema- transformação, afirma a pediatra. De início, eles
nalmente a duas creches públicas para realizar acham que a experiência será apenas uma opor-
atendimento médico. Localizadas na Mooca, zo- tunidade de ter contato com as
na leste de São Paulo (SP), as escolas têm juntas crianças. Enxergam quase
500 crianças de 0 a 6 anos, sendo muitas delas como uma brincadeira.
carentes do ponto de vista econômico, cultural Porém, logo se sensibi-
e social. Muitas sequer fazem acompanhamento lizam com a realidade
médico. Não faziam, na verdade. das creches e começam
GRUPO ÚNICO PDF
Graças à iniciativa da professora Cássia Ama- a perceber a importân-
ral, as crianças desassistidas passaram a receber cia do trabalho que
os cuidados da pediatra e de sua equipe de uni- realizam. “Eles sen-
versitários. Divididos em grupos, que vão se re- tem o peso da res-
vezando, eles visitam as creches para observar e ponsabilidade, pois
examinar as crianças que requerem mais atenção, as famílias ficam muito
conforme indicação dos professores e coordena- gratas.”
dores pedagógicos.
Aqueles que precisam realizar exames e re-
ceber acompanhamento mais de perto são enca-
minhados para o ambulatório da universidade,
onde são recebidos para realizar eventuais tra-
tamentos.
De acordo com a professora, o trabalho con-
junto com a creche tem sido muito benéfico para
todos, pois antes os alunos ficavam muito res-
tritos à teoria. Cássia Amaral queria que eles
tivessem contato com as crianças e que co-
nhecessem uma realidade socioeconômica di-
ferente da vivida por grande parte deles. Os alu-
nos aprovaram a experiência e fazem questão de
participar. Muitos até gostariam que a frequência
das visitas fosse maior, visto que, devido ao rodí-
zio, eles não vão às creches toda a semana.

48 Ensino Superior
3
ª ESTUDANTeSLÍDERES FORMAÇÃO DE

PARA O SÉCULO 21

23 a 29 de junho
TRANSFORME
SEUS GRUPO ÚNICO PDF
ALUNOS
EM
AGENTES
DE
MUDANÇAS
O programa visa
desenvolver em
universitários habilidades
de liderança, persuasão, Apenas
comunicação visual, s!
35 vaga
criatividade,
empreendedorismo
e oratória.
Conheça o programa
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na Harvard University e
Massachussets Institute of Reservas
Technology (MIT). E-mail: fabio@trusttravel.com.br
Tel.: (11) 2122-4255 | 9-9955-9412
Cultura

Exposição Indicações

Tarsila MARKETING
Com tantos estímulos senso-
popular riais, apenas uma parcela ínfima de
conteúdo desencadeia reações no
comportamento das pessoas e em
suas escolhas. O que o autor pro-
põe nessa obra é um guia para re-
verter esse cenário com a ajuda de
técnicas da neurociência aplicadas
ao marketing.

Neuromarketing
Pastoral, 1927, – Darren Bridger
é uma das 120 (Autêntica Business,
obras expostas 304 págs., R$ 64,90)
no Masp

EDUARDO ORTEGA
INFANTOJUVENIL

N
GRUPO ÚNICO PDF
ascida em uma fazenda no interior paulista, em
A ficção narra a história de jo-
1886, Tarsila do Amaral fez parte da aristocracia vens que perdem a capacidade de
brasileira. Estudou as técnicas acadêmicas imaginar, ter desejos e enfrentar
tradicionais na Europa, onde conviveu com pintores frustrações. Conseguirão sobre-
viver e recuperar a imaginação e a
como André Lhote (1885-1962) e Fernand Léger criatividade, na busca de ultrapas-
(1881-1955). Porém, ao voltar ao Brasil, em 1922, sar os limites da condição humana?
Tarsila incorporou as ideias vanguardistas europeias à
sua maneira de representar o Brasil. Sem abdicar por
completo da matriz modernista europeia e formal da qual Caminho para
fez parte, a artista voltou-se para personagens, temas e ver estrelas –
LúciaTeixeira (Cortez,
narrativas ligados ao popular no Brasil. Esse é o recorte
136 págs., R$ 38,00)
da grande exposição em cartaz no Masp. A mostra reúne
120 obras e poderá ser conferida até 23 de junho de 2019.

A DO PROFESS Roma, dirigido por Alfonso Cuarón


IC O
Neste filme, o centro dos acontecimentos é a personagem Cléo, empregada e babá de uma
D

família de classe média, que vive durante um ano (período aproximado narrado pela histó-
ria) diversos acontecimentos pessoais e relacionados à família para quem trabalha. Bastante
intimista, o longa chama atenção primeiramente por ser em preto e branco e também pela
fotografia poética. Elegante e repleto de metáforas sociais, o filme é do tipo que permanece
em pensamento, sendo digerido por alguns dias após ser assistido.
Larissa Camargo, coordenadora e professora dos cursos de Design de Interiores e Produto da Unicesumar

50 Ensino Superior
GRUPO ÚNICO PDF
GRUPO ÚNICOMudança
PDF de
Mindset:
uma nova
forma de
pensar a
educação

26 e 27 wtc Participe do 21° FNESP


são
setembro
inscrições
paulo abertas

Acesse
fnesp.com.br
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