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ZAHN
CanalhaS
TRADUÇÃO
ANDRÉ GORDIRRO
SUMÁRIO
Capa
Folha de rosto
Dramatis Personae
Nota do Editores
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Créditos
Dramatis Personae
Embora outras rarefeitas obras tenham sido lançadas no início dos anos 1980,
dois marcos importantes deram impulso à saga, projetando-a ao atual ousado
projeto transmídia: em 1987, veio o lançamento do RPG STAR WARS: The
Roleplaying Game; em 1991, a publicação de STAR WARS: Herdeiro do Império,
de Timothy Zahn. Enquanto a importância do RPG foi estabelecer novos
cenários e trazer detalhes do universo de STAR WARS, o livro de Zahn fez
história ao ser o primeiro com autorização oficial da Lucasfilm para abordar os
acontecimentos posteriores ao Episódio VI. Os personagens e as histórias do
livro foram aproveitados por toda uma nova geração de autores, que escreveram
centenas de obras a fim de complementar cada vez mais esse universo e saciar a
sede dos fãs, especialmente durante o intervalo de quinze anos entre os
lançamentos das duas trilogias no cinema – e também depois.
E trata-se de uma viagem que não tem ponto de partida nem direção definidos.
Não importa por qual obra você decida começar, seja por uma das novas ou uma
das Legends. Temos a certeza de que viverá uma grande aventura.
EDITORA ALEPH
CAPÍTULO
Han Solo nunca estivera na Cantina Reggilio antes, porém já havia visitado
centenas de lugares exatamente como aquele e conhecia muito bem o tipo. Era
razoavelmente silenciosa, embora por precaução, e não por boas maneiras;
ligeiramente animada, mas com a moderação que surgia da necessidade de
manter a discrição; e tinha uma decoração decadente, que não pedia e nem
esperava por desculpas.
Era, em resumo, o lugar perfeito para uma armadilha.
A um metro de distância, na outra metade do assento circular da cabine,
Chewbacca deu um rosnado de aborrecimento.
– Sem brincadeiras - Han rosnou de volta, tamborilando inquieto a caneca de
cerveja corelliana com especiaria que ele ainda não tinha tocado. - Mas se
houver uma chance de esse lance ser legítimo, nós temos que aproveitá-la.
Chewbacca grunhiu uma sugestão.
– Não — respondeu Han categoricamente. - Eles estão organizando uma
rebelião, lembra? Não têm nada sobrando para dar.
Chewbacca rosnou de novo.
– Claro que a gente vale - concordou Han. - Só por ter derrubado aqueles TIEs
que estavam na cola de Luke, a recompensa deveria ter dobrado. Mas você viu a
expressão na cara de Dodonna; ele não estava tão contente assim por nos dar o
primeiro lote. Se Sua Alteza Real não estivesse bem ali se despedindo, tenho
certeza de que ele teria tentado nos convencer do contrário.
Han Solo encarou a caneca. Além disso, ele não acrescentou, pedir para a
princesa Leia uma substituição dos créditos da recompensa significaria ter que
contar para ela como ele perdera o primeiro lote. Não para jogatina, maus
investimentos ou mesmo para a bebida, mas para um pirata desgraçado.
E aí ela teria lhe dado um daqueles olhares.
Havia coisas piores, Han decidiu, do que estar na lista de assassinatos de
Jabba.
Por outro lado, se a oferta de serviço que ele tinha recebido durante a entrega
em Ord Mantell fosse verdadeira, havia uma boa chance de Leia jamais ter que
saber.
– Olá, Solo. — A voz desagradável surgiu pela direita de Han. — Olhe para
frente, com as mãos espalmadas sobre a mesa. Você também, Wookiee.
Han trincou os dentes ao soltar a caneca e espalmar as mãos sobre a mesa. Lá
se foi a chance de o serviço ser legítimo.
– É você, Falsta?
– Ei, boa memória — disse Falsta em tom de aprovação ao entrar no campo de
visão de Han e se sentar na cadeira do outro lado da mesa.
Falsta estava exatamente como Han se lembrava dele: baixo e esquelético,
com uma barba por fazer de quatro dias e usando a jaqueta de couro de sempre,
sobre mais uma camisa de pássaro flamejante saída de sua coleção. A arma de
raios era ainda mais feia do que a camisa: uma DT-57 da época das Guerras
Clônicas, muito modificada.
Falsta gostava de dizer que a arma antigamente tinha pertencido ao próprio
general Grievous. Han não acreditava naquilo, nem ninguém.
– Ouvi dizer que Jabba está furioso com você - continuou Falsta, enquanto
apoiava o cotovelo na mesa e apontava o cano da arma de raios bem na cara de
Han.
– Ouvi dizer que você expandiu os negócios para assassinatos — respondeu
Han de olho na arma e cuidadosamente reposicionando a perna embaixo da
mesa. Ele só teria uma oportunidade.
Falsta deu de ombros.
– Ei, se é isso que o cliente quer, é isso que o cliente recebe. Eu posso lhe
dizer uma coisa: o Sol Negro paga muito mais por um assassinato do que Jabba
paga por uma captura. - Ele sacudiu um pouco o cano da arma de raios. — Não
que não me importe em pegar alguns créditos de graça. Desde que eu
simplesmente esteja aqui, por acaso.
– Claro, por que não? - concordou Han, franzindo a testa. Aquele foi um
comentário estranho. Será que Falsta estava dizendo que não foi ele quem
passou aquela mensagem para Han?
Não — que ridículo. A galáxia era um lugar imenso. Não havia possibilidade
de um caçador de recompensas simplesmente ter entrado por acaso em uma
cantina qualquer em uma cidade qualquer em um mundo qualquer no mesmo
momento em que Han estivesse ali. Não, Falsta estava apenas sendo
engraçadinho.
Tudo bem. Han também sabia ser engraçadinho.
– Então você está dizendo que, se eu lhe desse o dobro do que Jabba está
oferecendo, você se levantaria e iria embora?
Falsta deu um sorriso maligno.
– Você tem essa quantia com você?
Han inclinou a cabeça para Chewbacca.
– No terceiro energipente, descendo do ombro.
Os olhos de Falsta foram para a bandoleira de Chewbacca...
E em uma única contorção, Han deu uma joelhada para cima, fez a mesa bater
no cotovelo de Falsta e tirou a arma de raios de perto, ao mesmo tempo em que
pegou a caneca e jogou a cerveja corelliana com especiaria nos olhos do homem.
Houve uma breve onda de calor quando o tiro de reflexo do caçador de
recompensas passou pela orelha esquerda de Han.
Um tiro foi tudo que Falsta conseguiu dar. Um instante depois, a arma estava
apontada inofensivamente para o teto, paralisada pela pegada firme de
Chewbacca em volta da pistola e da mão que a empunhava.
Aquilo deveria ter sido o fim da situação. Falsta deveria ter concedido a
derrota, entregado a arma e saído da cantina, um pouco humilhado, porém ainda
vivo.
Mas Falsta nunca tinha sido do tipo que concedia alguma coisa. Mesmo
enquanto piscava furiosamente por causa da cerveja que ainda escorria para
dentro dos olhos, a mão esquerda se enfiou como uma faca no interior da jaqueta
e saiu com uma arma de raios de pequeno porte.
Ele estava no processo de mirá-la quando Han disparou em Falsta por baixo
da mesa. O homem desabou para frente, com o braço direito ainda erguido na
mão de Chewbacca, e a arma de pequeno porte quicou na mesa até parar.
Chewbacca manteve aquela pose por mais um instante, depois abaixou o braço
de Falsta até a mesa, ao mesmo tempo que agilmente recolhia a arma de raios da
mão do morto.
Por meia dúzia de segundos, Han não se mexeu, ficou segurando a arma de
raios embaixo da mesa e vasculhando a cantina com o olhar. O lugar ficara em
silêncio, e praticamente todos os olhos agora focavam nele. Até onde Han podia
ver, ninguém sacara uma arma, mas a maioria dos frequentadores nas mesas
mais próximas tinha as mãos sobre ou perto de coldres.
Chewbacca rosnou um alerta.
– Todos vocês viram - falou Han, embora duvidasse de que mais de algumas
poucas pessoas realmente tivessem visto. - Ele atirou primeiro.
Houve outro momento de silêncio. Então, quase que despreocupadamente,
mãos se ergueram das armas, cabeças se viraram, e a conversa baixa voltou.
Talvez esse tipo de coisa acontecesse o tempo todo na Reggilio. Ou talvez
todos eles conhecessem Falsta suficientemente bem para saber que ninguém
sentiria falta dele.
Ainda assim, com certeza era hora de partir.
– Vamos — murmurou Han enquanto guardava a arma de raios no coldre e
saía pela lateral da mesa.
Eles teriam que voltar à área do espaçoporto, decidiu Han, sondar as cantinas
de lá e ver se conseguiriam pegar algum frete. Certamente não renderia o
suficiente para quitar a dívida com Jabba, mas pelo menos tiraria os dois de
Wukkar. Ele ficou de pé e verificou a cantina uma última vez...
– Com licença!
Han deu meia-volta e abaixou a mão para a coronha da arma de raios, por
reflexo. Mas era apenas um homem comum correndo em sua direção.
Quer dizer, quase um homem. Metade do rosto estava coberta por um medselo
cor de pele que tinha sido esticado sobre a face e o cabelo, com um olho
prostético que quicava no lugar onde o olho direito normalmente estaria.
E também não era simplesmente qualquer olho. Era algo com design
alienígena, que brilhava como uma versão menor do olho multifacetado de um
Arconiano. Mesmo na luz difusa da cantina, o efeito era impressionante,
perturbador e estranhamente hipnótico.
Com um choque, Han se deu conta de que o ficara encarando fixamente e
afastou o olhar. Não apenas era falta de educação, mas uma isca visual como
aquela era exatamente o tipo de truque que um assassino esperto poderia usar
para atrair a atenção das vítimas em um momento crítico.
Mas as mãos do homem estavam vazias, sem arma de raios ou faca visíveis.
Na verdade, a mão direita não teria sido de muita utilidade, de qualquer forma.
Retorcida e deformada, estava embrulhada no mesmo medselo da face. Ou ela
tinha sido seriamente danificada ou então havia uma mão prostética embaixo
daquilo que tinha vindo dos mesmos alienígenas que lhe forneceram o olho.
– Melhor você tentar arrumar um olho diferente — sugeriu Han, relaxando um
pouco.
– Eu preciso tentar arrumar muitas coisas — disse o homem ao parar alguns
metros atrás. O olho remanescente se voltou para a arma de raios de Han, depois
se ergueu com um esforço de volta para o rosto dele. — Meu nome é Eanjer...
bem, meu sobrenome não é importante. O que é importante é que me roubaram
uma grande quantidade de dinheiro.
– Lamento ouvir isso — falou Han recuando para a porta. — Você precisa
falar com a polícia da Cidade de Iltarr.
– Eles não podem me ajudar - disse Eanjer dando um passo à frente para cada
passo de Han para trás. — Eu quero meus créditos de volta e preciso de alguém
que saiba se virar e não se importe em trabalhar fora da lei e dos costumes. É por
isso que estou aqui. Estava torcendo para encontrar alguém que se encaixasse em
ambos os critérios. — O olho se voltou para o corpo de Falsta. — Após tê-lo
visto em ação, está claro que você é exatamente o tipo de pessoa que procuro.
– Foi legítima defesa — contra-argumentou Han, aumentando o passo. O
problema do homem provavelmente era uma desprezível dívida de jogo, e ele
não tinha intenção de se envolver com algo do gênero.
Mas fosse lá o que mais Eanjer fosse, o homem era determinado. Eanjer
acelerou para manter o passo de Han e ficar ao lado dele.
– Eu não quero que você faça isso de graça - falou Eanjer. - Eu posso pagar.
Posso pagar muito, muito bem.
Han foi parando, relutante. Provavelmente ainda era algo desprezível, e ouvir
o cara seria uma completa perda de tempo. Mas ficar sentado em uma cantina de
espaçoporto também provavelmente seria.
E se ele não ouvisse, havia uma boa chance de a peste segui-lo pelo caminho
inteiro até o espaçoporto.
– De quanto estamos falamos? - perguntou Han.
– No mínimo, as suas despesas - respondeu Eanjer. - No máximo... — Ele
olhou em volta e abaixou o tom de voz para um sussurro. - Os criminosos
roubaram 163 milhões de créditos. Se recuperá-los, divido com você e com
quem mais chamar para ajudá-lo.
Han sentiu um aperto na garganta. Isso ainda poderia ser nada. Eanjer poderia
estar simplesmente inventando histórias.
Mas se estivesse falando a verdade...
– Beleza - disse Han. - Vamos conversar, mas não aqui.
Eanjer voltou a olhar para o corpo de Falsta e sentiu um arrepio no corpo.
– Não — concordou baixinho. — Qualquer lugar, menos aqui.
– O nome do ladrão é Avrak Villachor - falou Eanjer. O único olho vasculhou
a lanchonete que Han escolhera, um lugar mais refinado do que a cantina e a
uma distância prudente de três quarteirões. - Mais precisamente, ele é o líder do
grupo específico envolvido. Sei que também está associado a alguma
organização criminosa maior... não sei qual.
Han olhou para Chewbacca do outro lado da mesa e ergueu as sobrancelhas. O
Wookiee deu de ombros e balançou a cabeça. Aparentemente, ele também nunca
tinha ouvido falar em Villachor.
– E, tem um monte dessas para escolher - falou Han para Eanjer.
– Realmente. - Eanjer abaixou o olhar para a bebida como se a percebesse
pela primeira vez, depois continuou a vasculhar
nervosamente o ambiente. - Meu pai é... era... um importador muito bem-
sucedido. Há três semanas, Villachor veio ao nosso lar com um grupo de
capangas e exigiu que passássemos o negócio para a organização de Villachor.
Quando ele se recusou... - Ele sentiu um arrepio pelo corpo. - Eles o mataram -
disse Eanjer, com uma voz baixa, quase impossível de ouvir. — Eles
simplesmente... Nem usaram armas de raios. Foi alguma espécie de granada de
fragmentação. Ela apenas o destroçou... - Ele foi parando de falar.
– Foi isso que aconteceu com seu rosto? - perguntou Han.
Eanjer pestanejou e ergueu o olhar.
– O quê? Ah. - Ele ergueu a mão medselada para tocar delicadamente o rosto
medselado. - Sim, eu peguei a rebarba da explosão. Houve tanto sangue. Eles
devem ter pensado que eu estava morto. - Eanjer estremeceu, como se tentasse
se livrar da memória. — De qualquer forma, eles levaram tudo do cofre e foram
embora. Todos os registros corporativos, os dados de nossa rede de transporte, as
listas de terceirizados... tudo.
– Incluindo 163 milhões de créditos? - indagou Han. - Devia ser um cofre bem
grande.
– Não, na realidade - respondeu Eanjer. - Cabe uma pessoa, mas nada
especial. O dinheiro estava em fichas de crédito, um milhão por ficha. Caberiam
todas em uma pochete. — Ele puxou a cadeira um pouco mais próximo à mesa. -
Mas o problema é este: fichas de crédito são associadas ao proprietário e aos
agentes designados pelo proprietário. Com meu pai morto agora, eu sou o único
que consegue retirar o valor completo delas. Para qualquer outra pessoa, as
fichas valem não mais do que um quarto, talvez metade de 1% do valor nominal.
E isso apenas se Villachor encontrar um sheer que consiga passar pelo código de
segurança.
– Isso ainda o deixaria com 800 mil créditos - argumentou Han. — Nada mal
para uma noite de trabalho.
– É por isso que não tenho dúvidas de que ele está atrás de um slicer para o
serviço neste momento. - Eanjer respirou fundo. - O problema é este: os registros
de negócios que Villachor roubou não importam. Todas as pessoas que
trabalhavam para nós estavam lá específica e pessoalmente por causa do meu
pai, e sem ele, elas vão sumir na bruma. Especialmente uma vez que as fichas de
crédito estavam à mão porque estávamos nos preparando para pagar pelos
serviços feitos. Se você não paga a um transportador, ele não trabalha mais para
você.
Especialmente se o transportador fosse na verdade um contrabandista, que era
a forte suspeita que Han tinha sobre o que estava por trás do pretenso negócio de
importação da família. Ele ainda não tinha certeza se o próprio Eanjer sabia
disso, se suspeitava ou estava completamente alheio ao fato.
– Deixe-me entender direito - alou Han. - Quer que a gente invada a casa de
Villachor... você por acaso sabe onde fica?
– Ah, sim - respondeu Eanjer, concordando com a cabeça. - Fica bem aqui na
Cidade de Iltarr. E uma propriedade chamada Marblewood, um terreno de quase
um quilómetro quadrado que cerca uma grande mansão.
– Ah - disse Han. Provavelmente era o grande espaço aberto na zona norte da
cidade que ele vira ao se aproximar com a Falcon. Na ocasião, Han tinha achado
que fosse um parque. - Você quer que a gente entre lá, invada onde quer que ele
esteja guardando as fichas, roube os créditos e saia novamente. É mais ou menos
isso?
– Sim - respondeu Eanjer. - E fico muito agradecido...
– Não.
O único olho de Eanjer pestanejou.
– Como é que é?
– Você escolheu o homem errado - falou Han. - Nós somos transportadores,
como seu pai. Não sabemos nada sobre invadir caixas-fortes.
– Mas certamente você conhece pessoas que sabem - disse Eanjer. - Pode
chamá-las. Eu divido os créditos com elas também. Todo mundo pode ter uma
parte igual.
– Você mesmo pode chamá-las.
– Mas eu não conheço nenhuma pessoa assim - reclamou Eanjer, com a voz
suplicante. - Não posso simplesmente pegar um comlink e chamar o ladrão mais
próximo. E sem você... - Ele parou e se esforçou visivelmente para recuperar o
controle. - Eu vi como você cuidou daquele homem na cantina. Você pensa
rápido e age com convicção. Mais importante, você não o matou até não ter
escolha. Isso significa que posso confiar que você fará o serviço e será justo ao
negociar comigo quando acabar.
Han suspirou.
– Veja bem...
– Não, veja bem você - disparou Eanjer, com uma pontada de raiva surgindo
na frustração. - Eu tenho sentado em cantinas há duas semanas inteiras. Você é a
primeira pessoa que encontrei que me deu absolutamente alguma esperança.
Villachor já teve três semanas para encontrar um sheer para aquelas fichas de
crédito. Se eu não pegá-las antes dele, Villachor vai ganhar. Vai ganhar tudo.
Han olhou para Chewbacca. Mas o Wookiee estava sentado calado, sem dar
pistas do que pensava ou sentia. Claramente estava deixando a decisão para Han.
– São os créditos que você realmente quer? - perguntou ele para Eanjer. - Ou
está atrás de vingança?
Eanjer abaixou o olhar para a mão.
– Um pouco dos dois - admitiu.
Han ergueu a caneca e tomou um grande gole. Ele estava certo, obviamente.
Ele e Chewbacca realmente não eram as pessoas adequadas para o serviço.
Só que Eanjer também estava certo. Os dois conheciam um monte de gente
que era.
E com 163 milhões de créditos em jogo...
– Eu preciso fazer uma ligação - disse Han enquanto abaixava a caneca e
pegava o comlink.
Eanjer concordou com a cabeça, sem fazer menção de ir embora.
– Certo.
Han fez uma pausa.
– Uma ligação particular.
Por outro segundo, Eanjer continuou sem se mexer. Então, abruptamente, ele
arregalou o olho.
– Ah - falou ele, rapidamente ficando de pé. - Certo. Eu, hã, eu volto.
Chewbacca emitiu uma pergunta.
– Não faz mal perguntar por aí - respondeu Han enquanto digitava um número
e tentava manter a voz calma. Cento e sessenta e três milhões. Mesmo uma
pequena fatia disso quitaria a dívida com Jabba uma dezena de vezes. E não
apenas com Jabba, mas com todo mundo que queria um pedaço da cabeça de
Han rodeada de cebolas em uma travessa. Ele poderia pagar para que todos
saíssem de sua cola, e ainda haveria o suficiente para ele e Chewie seguirem
livres para onde quisessem. Talvez pelo resto da vida. - Só espero que Rachele
Ree não esteja em alguma viagem qualquer.
Para a leve surpresa de Han, ela de fato estava em casa.
– Ora, olá, Han - respondeu Rachele alegremente quando ele se identificou. -
Que bom que você ligou, para variar. Está em Wukkar? Ah, sim... vejo que está.
Cidade de Iltarr, é? A melhor comida corelliana no planeta.
Chewbacca grunhiu um comentário baixinho. Aborrecido, Han concordou
com a cabeça. O comlink deveria estar programado para evitar rastreamento,
mas defesas eletrónicas nunca pareciam deter Rachele.
– Eu tenho uma pergunta - disse ele. - Duas perguntas. Primeiro, você ouviu
alguma coisa sobre uma invasão de alto nível e um assassinato há mais ou menos
um mês? Teria acontecido em uma importadora.
– Você está falando da Importadora Polestar? - perguntou Rachele. - Claro; foi
o assunto nos bares há três semanas. O proprietário foi assassinado, e o filho
aparentemente se escondeu.
– Bem, ele surgiu novamente - falou Han. - O nome do filho é Eanjer, e ele se
feriu no ataque?
– Deixe-me verificar... sim, Eanjer Kunarazti. Quanto a ter se ferido... a
reportagem não diz. Deixe-me verificar com outra fonte minha... sim, parece que
sim. O sangue dele foi encontrado na cena, de qualquer forma.
– Já está bom - disse Han. Ele não tinha imaginado realmente que Eanjer
estivesse armando um golpe, mas não custava verificar. – Quero dizer, não está
bom, mas...
– Eu sei o que você quis dizer - respondeu Rachele, com o que Han imaginou
que fosse um sorriso maroto. - E a segunda pergunta?
– Pode procurar por uns nomes e ver se algum deles está perto de Wukkar
neste momento? - perguntou Han. - Eanjer me ofereceu o serviço de recuperar os
créditos que foram roubados.
– É mesmo? - disse Rachele, parecendo intrigada. - Você anda expandindo os
negócios desde a última vez que te vi?
– Não exatamente - respondeu Han. Lutar uma batalha ou duas para a Aliança
Rebelde não era considerado expansão de negócios, disse ele para si mesmo com
convicção. - Eanjer apenas gosta da maneira como faço as coisas.
– E por acaso todo mundo não gosta? - contra-argumentou Rachele
secamente. - Sem problema. Quem você está procurando?
Han passou todos os nomes em que conseguiu pensar, gente que era ao
mesmo tempo competente e razoavelmente confiável. Considerando quantos
anos ele havia passado nadando na periferia da galáxia, era uma lista
surpreendentemente curta. Han adicionou mais três nomes sugeridos por
Chewbacca e ignorou explicitamente a quarta sugestão do Wookiee.
– E isso - disse ele para Rachele. - Se pensar em mais alguém, eu te ligo de
novo.
– Claro - respondeu Rachele. - Seu amigo mencionou o ganho provável?
Algumas dessas pessoas vão querer saber logo de saída.
Han sorriu por dentro, desejando que estivesse lá para ver a expressão dela.
– Se conseguirmos mesmo, dividiremos 163 milhões.
Houve um momento de silêncio estupefato na outra ponta.
– Sério? - disse Rachele finalmente. - Uau. É praticamente possível contratar o
próprio Jabba por essa quantia.
– Obrigado, mas nós dispensamos - falou Han. - E esse valor parte do
princípio de que Eanjer sobreviva durante toda a operação. É melhor você deixar
isso claro também.
– Deixarei - respondeu Rachele. - Então está tudo em fichas de crédito, hein?
Faz sentido. Ok, farei algumas ligações e retornarei. Ele faz alguma ideia de
onde as fichas de crédito estejam?
– Eanjer diz que estão com alguém chamado Villachor. Você o conhece?
Houve outra pausa curta.
– Sim, eu ouvi falar dele - falou Rachele, com um tom de voz subitamente
alterado. - Ok, vou começar com a sua lista. Onde vocês estão hospedados?
– No momento, estamos apenas alojados na Falcon.
– Bem, vocês vão acabar precisando de algum lugar na cidade - disse Rachele.
- Obviamente, tudo em vista já foi reservado para o próximo Festival. Mas verei
o que consigo arrumar.
– Obrigado, Rachele - falou Han. - Eu te devo uma.
– Pode apostar. Nos falamos depois.
Han desligou e guardou o comlink.
Chewbacca emitiu uma pergunta.
– Porque eu não o quero, é por isso - respondeu Han. - Duvido que ele
apareceria mesmo que eu pedisse.
Chewbacca rosnou novamente.
– Porque ele disse que nunca mais queria me ver de novo, lembra? Às vezes,
Lando é sincero sobre o que diz, sabe?
Um movimento chamou-lhe a atenção no rabo do olho, e Han ergueu o olhar
para ver Eanjer se aproximando deles hesitante.
– Está tudo bem? - perguntou o homem, enquanto o olho pulava de um para o
outro.
– Claro - disse Han. - Eu coloquei alguém para juntar uma equipe.
– Maravilha - falou Eanjer terminando de se aproximar da mesa e se sentando.
Ele devia ter visto o fim da breve discussão, decidiu Han, e provavelmente
pensou que tinha sido mais séria do que foi, na verdade. - Essa pessoa é alguém
confiável?
Han concordou com a cabeça.
– Ela é uma integrante do baixo escalão da velha aristocracia de Wukkar.
Conhece tudo e todo mundo, e não está exatamente empolgada com as pessoas
que comandam a situação no momento.
– Se você diz - respondeu Eanjer, que não parecia completamente convencido,
mas ficou claro que ele não estava pronto para forçar o assunto. - Acho que
descobri um momento perfeito para a invasão. Daqui a duas semanas ocorre o
Festival das Quatro Honrarias.
Han olhou para Chewbacca e recebeu um gesto de ombros.
– Nunca ouvi falar - disse ele para Eanjer.
– É a versão de Wukkar da Semana do Carnaval - respondeu ele torcendo o
lábio. - Tudo que o Centro Imperial faz, alguém aqui tem que fazer melhor. Seja
como for, é um evento de sete dias, com cada dia dedicado à pedra, ao ar, à água
e ao fogo, com um dia de preparação entre cada uma das Honrarias. E o evento
mais importante em Wukkar, com pessoas vindo de lugares tão distantes como
Vuma e o Centro Imperial para participar.
– E provavelmente batedores de carteira de lugares tão distantes como Nal
Hutta - murmurou Han.
– Eu não teria como saber - respondeu Eanjer. - A questão é que Villachor
organiza uma das maiores comemorações da cidade no terreno dele.
Han se ajeitou um pouco mais na cadeira.
– No terreno dele? Você quer dizer que Villachor deixa as pessoas
perambularem bem ao lado da casa?
– É mais uma mansão do que uma casa - explicou Eanjer. - Ou talvez mais
uma fortaleza do que uma mansão. Mas, sim, milhares de pessoas entram e saem
livremente naqueles quatro dias.
Chewbacca emitiu a conclusão óbvia.
– É claro que ele terá aumentado a segurança - concordou Han.
– Mas pelo menos não teremos que passar por cima de muros e através de
uma linha externa de sentinelas. Como conseguimos um convite para esse troço?
– Não é preciso convite - disse Eanjer. - A comemoração é aberta a todos. A
metade da boca que era visível estava curvada para cima, em um sorriso amargo.
- Villachor gosta de bancar que é um filantropo e amigo da cidade. Também
gosta de ostentar a riqueza e o estilo.
– Isso é bom. Alguns dos meus melhores negócios surgiram de pessoas que
achavam que eram melhores e mais espertas do que todas as outras. Isso pode
realmente dar certo.
– Então você vai me ajudar? - perguntou Eanjer, esperançoso.
– Primeiro vamos ver o que Rachele arruma - falou Han. - Eu tenho algumas
ideias, mas como disse antes, essa não é a nossa especialidade. Mas se
conseguirmos as pessoas que preciso, nós devemos pelo menos ter uma chance.
– Garanta que elas saibam o que está envolvido - disse Eanjer. - Cento e
sessenta e três milhões.
– É, essa parte eu entendi - respondeu Han. - Me dê o número de seu comlink,
e eu ligo quando tivermos mais para conversar.
– Tudo bem - falou Eanjer com um pouco de incerteza ao pegar um datacard e
entregar. - Quando vai ser isso?
– Quando - falou Han com uma paciência exagerada - tivermos mais para
conversar.
Para a total falta de surpresa de todo mundo - exceto talvez da própria Rachele
-, ela de fato conseguiu um quarto para eles.
Embora o quarto não fosse exatamente o que Bink esperava quando
despachou Rachele para fazer o serviço. Ela imaginara uma suite que pudesse
usar como base de operações para invadir o lugar. Um quarto vizinho ou, melhor
ainda, diretamente em cima ou embaixo. Mas havia limites mesmo para a magia
de computadores de Rachele e uma rede de contatos de alto nível.
Ainda assim, se o lugar não era perfeito, poderia ter sido bem pior.
– É aquilo ali? — perguntou Tavia ao chegar à janela ao lado dela e colocar
uma mecha solta do cabelo preto atrás da orelha.
– É aquilo ali — confirmou Bink enquanto olhava para o parquinho no outro
pédio. Duas das janelas da suite estavam bloqueadas pelos troncos das grandes
árvores que cercavam a vegetação, mas o resto era claro e visível.
– Pelo menos você não vai descer de rapei até o parque - disse Tavia. - Não
daqui.
– Quanto a isso, você está certa — concordou Bink. De todos os aspectos do
trabalho de Bink que Tavia odiava, ver a irmã descer pela lateral de um prédio
em uma sinteticorda fina era provavelmente a parte que ela mais detestava.
Não que esse serviço fosse muito melhor, pelo menos não do ponto de vista de
Tavia. Ainda assim, pular de árvore em árvore em um gancho não era tão ruim
quanto aquela longa queda mal e porcamente controlada de um telhado.
– Uau — falou Kell baixinho em algum ponto atrás das duas mulheres. - E
você simplesmente nos colocou aqui?
– Não foi tão difícil assim - garantiu Rachele. - Eu notei que o casal que
deveria se hospedar aqui hoje à noite estava registrado na Ordem da Selva, então
consegui que eles recebessem a oferta de um safári grátis na Reserva Megrast, na
província de Ancill. Foi simples, na verdade.
Kell balançou a cabeça, admirado.
– Eu ainda digo: uau.
Bink sentiu o lábio tremer. Kell podia ficar impressionado o quanto quisesse,
mas ele realmente deveria parar de verbalizar tanto. Já havia egos inchados
demais naquele ramo.
Ela olhou para trás casualmente e viu os demais perambulando pelo ambiente.
Talvez Winter estivesse disposta a dar algumas lições para Kell de como manter
a frieza. A mulher de cabelos brancos estava claramente tão impressionada com
o feito de Rachele quanto Kell, mas escondia bem melhor.
– Algum problema? - murmurou Tavia.
– Não, tudo bem - murmurou Bink de volta.
Teoricamente, estava tudo bem. Solo era um bom avaliador de cárater, na
maioria das vezes. Assim como Mazzic, mesmo que nem sempre Bink
concordasse com ele. Se Mazzic dissera que Winter e Kell eram gente boa, e
Solo aceitara aquela avaliação, então provavelmente era verdade.
Mas havia algo a respeito dos dois recrutas que a incomodava. Kell lhe
parecia ser jovem demais, não apenas em idade, como em experiência e
resistência mental. Ao mesmo tempo, Bink enxergava fantasmas anónimos à
espreita, por trás do olhar de Kell. Alguma coisa desagradável em seu passado o
movia, talvez para mais longe do que Kell estava realmente preparado para ir.
Winter, estranhamente, era quase o extremo oposto. Não era muito mais velha
do que Kell, mas o olhar tinha uma profundidade surpreendente de idade e
maturidade. Winter também possuía um equilíbrio natural, o tipo de elegância e
autoconfiança que Bink também enxergava em Rachele. Será que aquilo
significava que Winter fazia parte da aristocracia de um mundo qualquer, assim
como Rachele? Em caso positivo, o quê, em nome do Império, ela estava
tazendo com uma gangue de ladrões? Será que estava ali por ingança?
– Aqui. - A voz de Solo interrompeu as reflexões de Bink. Ela pestanejou para
afastar os pensamentos e viu Han oferecendo um dos eletrobinóculos
sofisticados de Rachele. - Rachele disse que temos até amanhã à tarde para
sairmos daqui. Acha que consegue nos colocar para dentro até lá?
– É claro — respondeu Bink enquanto pegava os eletrobinóculos da mão dele.
Se ela tinha aprendido uma coisa naquele ramo, era jamais dizer para o cliente
que não era possível realizar alguma coisa.
Ela se voltou para a janela, colocou os eletrobinóculos nos olhos e começou a
trabalhar.
Não havia muita coisa para ver ali. E o que havia não era muito animador.
Mas seria possível. Não seria fácil, mas possível.
Bink baixou os eletrobinóculos e deu meia-volta. Nos últimos minutos, o
restante do grupo encontrara cadeiras e sofás para se sentar e estava conversando
em voz baixa entre si.
– A situação é a seguinte. - Ela foi até o lugar livre ao lado de Rachele e se
sentou.
O ambiente ficou subitamente em silêncio.
– As janelas do hotel possuem sistemas de segurança embutidos, mas parece
que foram desabilitados pelos ocupantes — falou Rachele. - Isso significa que...
– Eles desabilitaram os sistemas de segurança? - perguntou Kell franzindo a
testa.
– Sistemas de segurança central são muito fáceis de invadir - explicou Tavia.
— Especialmente sistemas de hotéis, que não são conhecidos pela sofisticação.
Nossos amigos lá provavelmente estavam com medo de que alguém assumisse o
controle e usasse os sistemas para espioná-los.
– Que era exatamente o que teríamos feito — concordou Bink. — Vocês
também notarão que eles escolheram uma suite no sexto andar, no lado do prédio
que dá para o jardim, com árvores grandes que impediriam qualquer tentativa de
chegar às janelas via airspeeder. Ambas as atitudes indicam uma certa paranoia.
– Parece apropriado para pessoas que lidam com Villachor - murmurou
Eanjer. Ele estava sentado a alguns metros dos demais, olhando o parque com
uma expressão taciturna, e a mão esquerda massageava distraidamente a direita
por cima das bandagens de medselo.
– E após ter desabilitado o arremedo de segurança do hotel - continuou Bink -,
o que seria mais natural do que instalar a própria segurança? — Ela gesticulou
para a suite. — A primeira linha de defesa foi pregar uma série de placas de
transparaço no lado interno do vidro normal das janelas. A boa notícia é que as
placas não são muito grossas, então eu devo conseguir usar uma serra monofio
para cortar a que eu quiser.
– Ou você pode simplesmente usar o sabre de luz de Zerba — sugeriu Dozer. -
Será bem mais rápido.
– Bem, só há um pequeno probleminha com isso — disse Bink.
– A segunda linha de defesa é um conjunto de sensores de energia.
– Tem certeza? - perguntou Lando. — Geralmente, sensores de energia são
instalados escondidos.
– Certeza absoluta - respondeu Bink. — A onda de pulso no vidro é
inconfundível. Quem chegar a 5 metros de qualquer uma das janelas com
alguma coisa que tenha uma energicélula vai acionar alarmes de uma ponta a
outra da suite.
– Que gracinha - resmungou Dozer. — Não há jeito de desabilitá-los,
imagino?
– Não daqui de fora — falou Bink. — Mas acho que tenho um motor manual,
à manivela, para a serra monofio. - Ela olhou para Tavia. — Certo?
– Sim — respondeu a irmã com a boca crispada em uma expressão
descontente. - Como você planeja chegar suficientemente perto para usá-la,
exatamente?
Bink se preparou. Tavia não gostaria da resposta.
– Vai ter que ser de galho em galho — disse ela. - Um arnês e ganchos
manuais.
Os lábios finos de Tavia ficaram ainda mais crispados.
– Ganchos manuais não se prendem com tanta firmeza quanto os elétricos.
– Vou ficar bem — garantiu Bink. - Só preciso garantir que estarei bem presa
na árvore onde vou me balançar. Se o gancho falhar, eu posso simplesmente
voltar e tentar novamente.
– Que tal usar ganchos elétricos até o meio do caminho e depois trocar por
manuais? — sugeriu Rachele. - Você deve conseguir usar os elétricos ao longo
deste prédio e pelo menos até a metade do conjunto lateral de árvores. Desde que
você troque para os manuais antes de se aproximar da suite, não deve ter
problema.
– Não vale o esforço - explicou Bink. - Ganchos elétricos são um sistema
integrado. Eu teria que tirar o arnês, deixá-lo pendurado em um galho ou coisa
assim e pegá-lo ao voltar. Além disso, aquele alcance de 5 metros que mencionei
sobre os sensores de energia é apenas um palpite. Eles podem ter sensores
concentrados, apontados para direções aleatórias, que tenham duas ou até três
vezes aquele alcance. Eu faria um papel de idiota se alcançasse a janela e
encontrasse meia dúzia de homens com armas de raios esperando pacientemente
que eu chegasse lá. Não se preocupe: o sistema manual funcionará muito bem.
– Vamos dizer que funcione - falou Lando. - Assim que você estiver lá, o que
vem a seguir?
– Ah - disse Bink levantando um dedo. - Na verdade, essa é a parte fácil. —
Ela abaixou o dedo erguido para apontar para trás, pela janela. - Bem no meio
daquele quarto lá está um cofre de chão Jaervin-Daklow. Provavelmente foi
comprado aqui na cidade, pois parece novo. Eles são grandes, pesados,
praticamente impossíveis de arrombar, e têm um codificador touchpad que é
virtualmente impossível de penetrar.
– A não ser? - falou Han.
– A não ser que a pessoa veja o touchpad enquanto o código está sendo
digitado — respondeu Bink com um sorriso maroto nos lábios. - Nossos amigos
lá podem ser muito espertos a ponto de instalar o cofre virado para longe da
janela, de maneira que ninguém consiga ver, ah, digamos, daqui. — Ela colocou
o dedo na testa. — Mas não foram tão espertos assim a ponto de perceber que a
parede interna do quarto está voltada para o cofre a menos de 3 metros de
distância. E essa mesma parede tem uma camada de tinta fresca, branca e
reluzente.
Por um momento, o ambiente ficou em silêncio.
– Você está brincando - disse Zerba.
Bink deu de ombros.
– Você transforma bastões em borboletas e muda de roupa mais rápido do que
um piscar de olhos - argumentou ela. - Os Jedi supostamente erguiam pedras
com a mente e faziam as pessoas esquecerem o próprio nome. Todos nós temos
nossas especialidades. A minha é essa.
– Os botões luminosos individuais em um touchpad nunca são exatamente os
mesmos — explicou Tavia. — A diferença dos emissores, mais as partículas de
poeira e gordura dos dedos, tudo isso altera um pouco a cor e a textura óptica.
Quando um botão é apertado, aquela luz é bloqueada e o padrão na parede atrás
é mudado.
– Do que você precisa para dar certo? - perguntou Solo.
– Preciso estar na janela quando eles começarem a digitar o código -
respondeu Bink. - O resto é apenas a leitura dos reflexos.
– E das sombras - acrescentou Tavia. - Se pudermos calcular se o operador é
canhoto ou destro, e geralmente podemos, a forma como as sombras mudam
quando ele aperta as teclas individualmente também pode ser lida.
Bink revirou os olhos.
– Tavia, não é para você contar para as pessoas como o truque funciona - falou
ela em tom de bronca de mentira. - Eles vão perder todo o respeito se souberem
como é fácil.
– É, isso vai acontecer — disse Solo secamente. - Quando vai estar pronta?
Bink olhou para Tavia.
– Duas horas?
A irmã não pareceu contente, mas concordou com um leve aceno de cabeça.
– Duas horas - confirmou Bink ao se voltar para Solo. - Se Villachor tiver
outro visitante tarde da noite, e se nossos amigos lá do outro lado forem
convidados, eu consigo estar na janela antes de eles voltarem. Depois disso,
talvez meia hora para entrar e arrombar o cotre, ver o que está dentro que nos
diga quem eles são e o que querem com Villachor, e a seguir mais dez minutos
para fechá-lo novamente.
– E se Villachor já tiver encerrado as atividades hoje? - perguntou Zerba. - Se
ele mantiver a agenda, não terá outra reunião até amanhã de manhã.
Bink deu de ombros.
– Então fazemos amanhã de manhã.
– Em plena luz do dia?
– Não é problema - garantiu Bink. — Há folhagem suficiente lá fora pra me
esconder da maioria das pessoas.
– São aquelas que não fazem parte da maioria das pessoas que me preocupam
- murmurou Zerba.
– Eu talvez consiga reservar outra noite para nós aqui, se realmente for
necessário — disse Rachele em tom de dúvida. - Vai ser complicado, porém.
– Um momento - falou Lando. Ele subitamente se endireitou na cadeira, de
olho na janela. - Parece que eles vão sair.
Bink virou o corpo e o pescoço. A luz do quarto estava ligada, e havia
sombras suficientes na parede dos fundos para mostrar que alguém estava lá
abrindo o cofre. Ela levou os eletrobinóculos aos olhos e focou na sombra.
Sim, daria certo, Bink decidiu. Ela teria que estar encostada na janela para ler
os movimentos e decifrar os toques nas teclas, mas já planejava estar ali de
qualquer forma. A luz e as sombras se alteraram e marcaram a abertura e o
fechamento da porta do cofre. O homem lá atrás apareceu...
Bink ficou rígida. Só que não era um homem. O rosto que apareceu
brevemente pelo campo de visão tinha escamas verdes, com uma massa de
cabelo negro preso, que descia pelas costas.
De algum ponto na área onde Kell e Zerba estavam sentados veio um gritinho
contido.
– Aquilo é...
– Aquilo é um Falleen — confirmou Eanjer em tom soturno. - O que, pelo
Império, um Falleen está fazendo aqui?
– Calma - aconselhou Solo. Mas ele não parecia tão mais empolgado do que
Eanjer.
Ou tão mais empolgado do que Bink se sentia, por falar nisso. Havia Falleens
pelo Império inteiro, obviamente, assim como havia Rodianos, Duros e até
mesmo Wookiees. Mas tão perto assim do Centro Imperial, as chances eram
desagradavelmente altas de que qualquer Falleen estaria trabalhando para...
– Calma? - reclamou Kell. - Falleen significa Sol Negro.
– Não necessariamente — disse Winter. Dentre todos, ela parecia manter a
melhor aparência de calma. — Além disso, príncipe Xizor não é a única voz dos
Falleens na galáxia hoje em dia. A maioria deles não tem nada a ver com o Sol
Negro. Na verdade, há grupos que estão efetivamente tentando restaurar a honra
do nome dos Falleens por meio de sua derrocada.
Chewbacca rosnou.
– Bem, claro, a maioria desses grupos provavelmente está na folha de
pagamentos de Vader - concordou Solo. - Mas isso não quer dizer que não
estejam atuando.
– E aposto que eles deixaram Xizor realmente preocupado — murmurou Kell.
– Fique à vontade para cair fora, se quiser - ofereceu Zerba.
Kell contraiu o maxilar.
– Não, obrigado.
– óe isso ajuda, acho que só existe um haileen na suite — disse Rachele
olhando o datapad. - Examinando os registros do serviço de quarto, vejo apenas
um pedido por hora de refeição que um Falleen provavelmente escolheria. O
resto da comida é mais adequada para humanos.
– Quantos humanos? — perguntou Lando. - Com que quantidade estamos
lidando?
Os lábios de Rachele se mexeram enquanto ela fazia a conta silenciosa.
– Eu diria dez a doze, mais nosso Falleen.
– Talvez o Falleen não esteja no comando - sugeriu Tavia.
– Não se engane — falou Dozer. — Se é o Sol Negro, o Falleen com certeza
está no comando.
– Pelo que ouvi, o Sol Negro tem um monte de humanos em suas fileiras
também - observou Eanjer. - Então, se ele for do Sol Negro, o que isso significa
para nosso plano?
– No momento, nada - respondeu Han. - Ainda temos que descobrir qual é a
conexão dele com Villachor, e para isso precisamos dar uma olhada naquele
cofre. Bink?
– Estou dentro — assegurou Bink ao ficar de pé. — E agora, estão todos
convidados a sair e conversar em outro lugar.
– Nós não vamos a lugar algum - insistiu Kell.
– Ah, vão sim — disse Bink com firmeza. — Eu preciso espalhar e testar meu
equipamento e não quero um monte de pezões nervosos pisando em cima.
– Além disso, todos nós temos um trabalho a fazer - acrescentou Solo ao se
levantar. — Rachele, como é a segurança do hotel?
– Não é das piores — respondeu ela novamente manipulando o datapad. -
Parece que tudo que a pessoa precisa fazer é pegar um cartão no lobby. E
também não parece que haja holocâmeras de segurança, a não ser no lobby e nos
locais de reunião.
– Isso vem a calhar. - Solo olhou para Zerba. — Você acha que consegue
arrumar um cartão para nós?
Zerba deu um muxoxo de desdém.
– Com hóspedes entrando e saindo o tempo todo? Com um pé nas costas.
– Ótimo - disse Solo. - Rachele, quero que você volte à suite e vigie o
complexo de Villachor. Informe quando o Falleen e seu comboio chegarem e
quando eles partirem.
– Parece que eu peguei o serviço chato - falou Rachele.
– Não se preocupe, eu tenho outro trabalho que deve mantê-la ocupada —
garantiu Solo. — Winter, Eanjer, vocês vão com ela. Chewie, você e Lando
fiquem aqui com Bink e Tavia. Zerba, Kell, Dozer, vocês estão comigo.
– Eu gostaria de ficar aqui em vez de ir com Rachele, se puder - Winter se
manifestou.
– Algum motivo especial? - perguntou Solo.
– Como disse antes, eu conheço muito sobre sistemas de segurança. — Winter
inclinou a cabeça para Bink. — Não tanto quanto Bink e Tavia conhecem, é
claro. Mas três pares de olhos são melhores do que dois, e eu posso notar algo
que elas deixarem passar.
Solo olhou para Bink e ergueu a sobrancelha em uma pergunta silenciosa.
– Por mim, tudo bem - respondeu Bink encarando Winter. A mulher de
cabelos brancos estava certa sobre a correlação entre sucesso e o número de
olhos bem-informados em cena.
Além disso, Bink não gostava de trabalhar com gente enigmática. Manter
Winter ali poderia lhe dar a oportunidade de conhecê-la melhor.
– Ok, então — falou Solo. - Chewie e Lando: fiquem de olho em qualquer
problema. Todo o resto, temos lugares a ir. Vamos a eles.
CAPÍTULO
A bomba era minúscula, um pequeno estalinho que Kell havia montado para a
ocasião, com muita fumaça e som e pouca fúria de fato. Não era suficientemente
poderosa para derrubar Dozer.
O sujeito com a arma de raios, por outro lado, foi derrubado. Dozer caiu de
costas no carpete espesso, com a mão esquerda do homem espalmada contra o
peito até os dois atingirem o chão, e a arma pressionada com a mesma força na
bochecha esquerda de Dozer. Em algum momento, o som da explosão teve como
eco o barulho da porta da suite sendo fechada com força.
Dozer teve a intenção de gritar alguma coisa em tom de medo, algo que se
encaixasse no personagem de um espectador inocente. Mas o impacto com o
piso o deixou quase sem ar para ofegar. De rabo de olho, embaixo dos anéis de
fumaça e atrás das pernas do sujeito agora ajoelhado ao seu lado, ele viu mais
dois homens armados correrem na direção da escadaria, com as armas de raios
fora dos coldres e de prontidão.
Mentalmente, Dozer fez um gesto negativo com a cabeça. Homens corajosos,
e sem dúvida muito durões. E também muito estúpidos. Eles não faziam ideia se
havia um ou vinte homens à espreita na escada para onde avançavam. Se Dozer
estivesse no comando, ele teria enviado um esquadrão de cinco integrantes ou
nenhum.
Mas era um Falleen que mandava ali, e os Falleens eram conhecidos por não
se importarem com nenhuma outra raça que não fosse a própria.
No fim do corredor, a porta da escadaria fez um baque ao abrir quando os dois
homens avançaram, preparados para matar ou morrer a mando do chefe.
Felizmente para eles, desta vez os dois não tinham com que se preocupar, de
uma forma ou de outra. Após o estalinho de Kell e o lançador-relógio a mola de
Zerba, aquela escada estava deserta há muito tempo.
– Não se preocupe, nós vamos pegar seu amigo — disse o homem inclinado
sobre Dozer. — Será bem mais fácil para você se
íaiai agora.
– Sou apenas um mensageiro — Dozer conseguiu colocar uma boa tremedeira
na voz, como um homem realmente assustado faria.
– Só vim aqui entregar um pacote.
– E fazer a gente abrir a porta para que seu amigo rolasse uma bomba em cima
de nós?
– Eu não sei nada sobre bomba alguma - reclamou Dozer, colocando um
pouco mais de tremedeira na voz. Não foi tão difícil assim, não com uma arma
de raios pressionada contra a bochecha.
– Veja bem, eu estava bem ali com você. Acha que eu quero ser explodido?
O homem resmungou.
– Gorkskin? Fale comigo.
– Parece verdade — respondeu alguém fora do campo de visão de Dozer,
relutantemente. - Tem uma marca de empresa aqui que bate com o banco de
dados da Cidade de Iltarr. E há um pedido de entrega para Mencho, com hora e
lugar.
O guarda de Dozer resmungou de novo.
– Abra. - Ele ergueu as sobrancelhas. - Algo contra, mensageiro?
Dozer considerou salientar que a caixa só poderia ser legalmente aberta pelo
próprio destinatário. Diante das circunstâncias, ele decidiu que isso fugiria
totalmente ao personagem. Sem falar que seria uma estupidez perigosa.
– Não - respondeu Dozer.
– Ótimo. Gorkskin?
– Está trancada - disse Gorkskin.
– Tem certeza?
Houve uma rápida sucessão de dois disparos de armas de raios, e Dozer fez
uma careta quando a onda de calor bateu no rosto.
– Acho que não - respondeu Gorkskin sarcasticamente. Houve outro barulho
quando ele quebrou o estojo de segurança danificado para abri-lo. — Ora, ora.
Você vai adorar isto aqui, Wivi. A caixa está cheia de dinheiro. Quinhentos ou
seiscentos créditos, no mínimo.
A arma de raios na bochecha de Dozer se afundou um pouco mais.
– Ora, ora — disse Wivi, com a voz em um falso tom casual. - Estou curioso
para saber quem gosta tanto de Mencho a ponto de enviar créditos para ele.
– Todo em moedas também - falou Gorkskin. - Não em uma ficha de crédito
bacana, facilmente rastreável.
– Claro que não - disse Wivi. — Vamos tentar de novo, mensageiro. Quem
mandou você?
– Eu lhe disse - respondeu Dozer, com o máximo de medo e confusão no tom
de voz, se perguntando, preocupado, se dera um passo maior do que as pernas.
Eles viram o cenário falso que Rachele plantara no datapad e nos registros da
cidade, e ainda assim não estavam acreditando. Se Solo tinha mais provas, era
melhor se apressar e exibi-las.
– Sou apenas um mensageiro... - repetiu Dozer.
– Do Serviço de Entregas Quickline - completou uma nova voz calmamente.
Dozer sentiu um nó no estômago. Na superfície, a voz era tranquila, pacata e
bem civilizada. Mas aquele ar de civilidade tinha a espessura de uma molécula...
e por baixo havia algo frio, sombrio e muito, muito maligno.
– Com todo respeito, lorde Aziel, o senhor não deveria estar aqui — disse
Wivi, em um tom de voz subitamente respeitoso. — Não até que tenhamos
protegido a área.
– Não há perigo - falou a voz.
Dozer notou que havia algo de diferente no cheiro do corredor, e então, para
sua surpresa, ele sentiu o coração desacelerar e foi tomado por uma nova onda
de calma. Talvez o recém-chegado, esse tal de lorde Aziel, pudesse fazer algo a
respeito de sua enrascada.
– O agressor, seja lá qual for seu objetivo ou plano, foi embora há muito
tempo - continuou a voz. - E este homem é o que alega: um mero mensageiro.
– Senhor, nós não confirmamos isso ainda - falou Gorkskin.
– Então vamos confirmar — disse a voz. - Deixem que ele fique de pé.
Wivi deu um último olhar frustrado de desprezo para Dozer. Então,
relutantemente, ele tirou a arma de raios da bochecha de Dozer e se levantou.
Após outro segundo de hesitação, Wivi estendeu o braço e ofereceu a mão.
Dozer também hesitou, apenas a fração de segundo que um transeunte ainda
assustado hesitaria, depois pegou a mão oferecida e deixou que Wivi o erguesse
de pé.
E quando ele começava a ajeitar o casaco, Wivi virou Dozer de lado, e ele se
viu cara a cara com o Falleen que eles observaram do outro lado do parque, mais
cedo.
Só que o alienígena não era tão ameaçador como aparentara naquela ocasião.
Na verdade, conforme Dozer encarava o rosto de escamas verdes e os olhos
azul-escuros, ele não conseguia sequer se lembrar por que Solo e os demais
pensaram que o Falleen era alguém com quem eles deveriam se preocupar, antes
de mais nada. Aquele era um cavalheiro da mais alta estirpe, longe de ser alguém
que se envolveria em algo tão vulgar quanto atividades criminosas.
– Você é mesmo um mensageiro? — perguntou Aziel.
Dozer engoliu em seco e foi tomado por uma onda de culpa e arrependimento.
O Falleen diante dele era tão honorável e carinhoso. Sequer pensar em mentir
para uma pessoa assim pareceu ser uma traição de tudo que era correto e decente
sobre o universo.
E, no entanto, uma pequena parte insistente de sua mente lembrava que havia
uma razão para Dozer estar ali. Havia alguma coisa sobre aquela situação que
era vital que ele mantivesse em segredo, mesmo deste esplêndido Falleen. Vital
para as vidas de outras pessoas, bem como a própria vida de Dozer.
Talvez ele conseguisse agradar a ambas as partes. Dozer certamente trouxera o
estojo de segurança ali a pedido de Solo. Então...
– Sim - respondeu ele. - Eu sou um mensageiro.
– Do Serviço de Entregas Quickline?
Dado que a empresa não existia de verdade e que Dozer era literalmente seu
único funcionário:
– Sim.
– Você teve algo a ver com aquela explosão?
O estalinho tinha sido obra de Kell, o sistema de ativação fora de Zerba, e o
plano tinha sido de Solo.
– Não - disse Dozer.
– Muito bem - falou Aziel.
O Falleen olhou para os dois brutamontes - porque era isso que todos eles
eram, Dozer se dava conta então: criaturas da ralé que mal podiam ser
consideradas sencientes quando comparadas à nobreza de seu chefe - e fez um
pequeno gesto.
– Devolvam o estojo e deixem que ele siga seu caminho.
– E os créditos? - perguntou Wivi.
– A ordem de entrega diz que eles devem ir para Mencho Tallboy — frisou
Aziel. — Então eles devem ser entregues. — Os olhos brilharam. — E ele pode
explicar então a origem e o propósito. Seja como for, o mensageiro pode seguir
seu caminho.
Dozer sentiu uma onda de gratidão quando Wivi entregou o estojo danificado
em silêncio. Havia tão poucas pessoas verdadeiramente gentis no Império
naqueles dias. Fora uma honra ter conhecido uma delas.
Foi só quando ele estava no turboelevador, a caminho do nível da rua, que a
sensação começou a desaparecer, e Dozer lentamente começou a perceber o que
acabara de acontecer com ele.
E como, com um pouquinho menos de cuidado da parte dele, Dozer poderia
ter entregado todo o plano.
Ele ainda estava tremendo quando Han levou o airspeeder novamente para o
trânsito do fim de noite.
CAPÍTULO
O plano de Dayja, assim que chegou à sacada, era prender uma sonda à janela,
ouvir o que as pessoas lá dentro diziam e tentar entender quem ou o que elas
eram.
Ele não esperava chegar ao destino justamente quando o grupo estava se
desfazendo.
Mas era o que estava acontecendo. O grupo inteiro — nove humanos, um
Wookiee, um quase-humano, provavelmente um Balosar - estava de pé, indo em
direções diferentes dentro da sala de estar, aparentemente a caminho de cantos
diferentes da suíte.
Dayja murmurou um xingamento ao recuar para a lateral da sacada, fora do
campo de visão das janelas. O veículo que ele notara andara vigiando
Marblewood, sim, e seguiu um comboio não identificado de lá até o Hotel
Lulina Crown. O rastreador voltara para lá, e depois ele e a maioria do grupo, se
não todo, tinha ido embora e se reunido no hotel do outro lado do parque, em
frente ao Lulina Crown. Alguns saíram, outros foram para a frente do hotel, e
finalmente o grupo inteiro retornou para a suíte, que Dayja temporariamente
identificara como o principal quartel-general.
Tinha sido muita correria para um dia só, especialmente considerando que não
tinha dado nenhum resultado aos olhos de Dayja. E não fosse pela explosão tarde
da noite no Lulina Crown, Dayja teria decidido que tinha coisas melhores a fazer
e deixado o grupo e suas atividades aos cuidados da polícia local.
A explosão, porém, colocara aquela decisão fora de cogitação. Atentados à
bomba geralmente eram associados a roubo, sequestro, assassinato ou grave
dano à propriedade. Mas aquela explosão não estava ligada a nada dessa lista. O
fato levava inexoravelmente à conclusão de que o incidente tinha sido uma
distração.
Mas uma distração para quê? Naquele momento, D’Ashewl estava sentado na
suíte do hotel examinando as informações da polícia, mas até então não havia
detectado nenhum crime que a explosão pretendesse confundir, distrair ou
abafar.
Ainda assim, Dayja não tinha dúvida de que aquelas pessoas estavam
envolvidas. Então ele descobriu a suíte do grupo, encontrou um quarto vazio três
andares acima deles e desceu por rapei até a sacada.
Só para descobrir que seus pseudoinformantes inocentes estavam encerrando
o expediente.
Dayja ainda estava tentando decidir o que fazer a seguir quando notou que um
dos ocupantes da suíte, aquele com a mão e metade do rosto medselados, vinha
para a porta da sacada.
Dayja levou a mão à faca escondida enquanto a mente disparava. Ele podia
correr, se esconder ou atacar.
Ou podia fazer o que foi ali fazer.
Dayja esperou até que o homem percorresse todo o caminho até a sacada e se
instalasse com os cotovelos no parapeito, olhando as luzes de Marblewood do
outro lado. Então, de olho na janela ao lado para garantir que eles não fossem
interrompidos, Dayja deu alguns passos na direção do recém-chegado.
– Boa noite - disse ele baixinho.
Por uma fração de segundo o homem não reagiu, como se os ouvidos tivessem
dificuldade em mandar um alerta para o cérebro. Jzntao, como uma súbita lutada
de vento, um arrepio passou pelo corpo do sujeito. Ele virou meio corpo para
Dayja, e o único olho perfeito se arregalou. Ou o homem tinha as reações mais
lentas da galáxia, ou tinha tanto remédio para dor dentro do organismo que vivia
em um nevoeiro permanente. Considerando o tamanho da área de medselo em
questão, Dayja achou que provavelmente fosse a segunda opção.
– Quem é você? - exigiu o homem, com a voz tensa. - Não... fique aí.
– Calma, eu não vou machucar você - disse Dayja em tom reconfortante,
dando mais alguns passos à frente. - Só quero conversar.
O único olho do sujeito lançou um olhar para a janela, e o olho prostético
implantado no medselo brilhou hipnoticamente na confusão das luzes da cidade.
– Sobre o quê?
– Sobre você. - Dayja gesticulou para a sala de estar vazia. - Sobre eles. Seu
interesse em Avrak Villachor. Esse tipo de coisa. - Ele ergueu as sobrancelhas. -
Você está interessado em Villachor, não é?
A língua do homem surgiu brevemente no lábio superior.
– Você é um dos homens de Villachor?
– Longe disso - garantiu Dayja em um tom seco. - Meu nome é Dayja. Qual é
o seu?
O olho do homem se voltou para a janela novamente.
– Eanjer.
– Vejo que é um nome local — comentou Dayja. — Interessante. E quanto aos
seus amigos? A maioria não é da cidade, correto?
Eanjer franziu a testa, e o olho percorreu a sacada como se ele subitamente
tivesse se lembrado ae onae os dois estavam.
– De onde você veio? - perguntou Eanjer. - Como chegou aqui em cima?
– Ah, não vamos falar sobre mim - repreendeu Dayja. - Vamos falar sobre
você e seus amigos. O que todos vocês estão fazendo na Cidade de Iltarr?
O rosto de Eanjer ficou sério.
– Procurando justiça.
– Isso é bom - falou Dayja em tom encorajador. - Isso é muito bom. Veja bem,
eu também procuro justiça. - Ele encarou a pupila do olho remanscente de
Eanjer, sabendo que a primeira e mais honesta reação viria dali. - Eu sou da
Inteligência Imperial.
Novamente, Eanjer arregalou o olho. Desta vez, Dayja estava suficientemente
perto para ver a pupila crescer junto com o olho.
Ela cresceu, mas rapidamente voltou ao tamanho normal. A revelação
assustara o sujeito, mas ele tinha se recuperado rapidamente.
– Você tem como provar? - perguntou Eanjer.
– Sim - respondeu Dayja, ele próprio lançando um olhar para a janela.
Mais cedo ou mais tarde, um dos outros acabaria voltando. Não seria bom que
ele e Eanjer estivessem conversando ali quando aquilo acontecesse.
– Diga-me - continuou Dayja -, você está confinado a esta suíte? Ou pode sair
e entrar quando quiser?
Eanjer deu um muxoxo baixinho de desdém.
– Eu saio e entro quando quero, é claro. Você pensou que eu fosse um
prisioneiro?
Dayja foi evasivo ao dar de ombros.
– Você joga sinuca?
Novamente, a única pupila de Eanjer se arregalou brevemente antes de voltar
ao normal.
– Sim, por quê?
– Há uma mesa na biblioteca lá embaixo, no segundo andar, logo na saída do
tapcaf - informou Dayja. - Será um lugar bacana e reservado para conversarmos.
– Tenho certeza de que será - falou Eanjer com um toque de nervosismo na
voz.
– Não se preocupe, eu só quero conversar - garantiu Dayja. - Talvez comparar
algumas anotações. Eu tenho a impressão de que você tem informações úteis
para mim. - Ele deu um sorriso matreiro. - Eu sei que tenho informações úteis
para você.
Eanjer respirou fundo e chegou a uma decisão.
– Tudo bem - respondeu ele. - Temos uma hora antes de nos reunirmos
novamente.
– Ótimo - disse Dayja, voltando ao fim da sacada e ao arnês de gatuno que o
esperava. - Eu encontro você em cinco minutos. Se chegar antes, arrume as bolas
e escolha um taco.
Ao longo dos anos, Dayja passara um bom tempo em salões de sinuca e bilhar
como aquele ao lado do tapcaf do hotel. Porém, dado que a maioria das visitas
havia sido para obter informação ou vigiar um suspeito em vez de realmente
tentar dominar o jogo, ele nunca se tornara um jogador muito bom.
Ainda assim, contra um homem com um braço medselado e provavelmente
com uma prótese alienígena, Dayja calculou que teria uma boa chance.
Para sua surpresa, ele não teve. Nem mesmo com Eanjer joganao com a mao
esqueraa e tenao que equiiiDrar a ponta ao
taco atabalhoadamente sobre o pulso enfaixado.
Mas tudo bem. Na verdade, estava tudo ótimo. Dayja aprendera há muito
tempo que esportistas competitivos falavam mais livremente quando estavam
ganhando.
E o que Eanjer falava valia muito a pena escutar.
– 163 milhões, hein? - comentou Dayja enquanto observava Eanjer se preparar
para outra tacada. - São muitos créditos. E você disse que o valor vai ser
dividido entre onze pessoas?
– Eu disse que seria dividido igualmente - corrigiu Eanjer. Ele deu uma tacada
de leve na bola branca. Dayja observou-a bater na bola três, que caiu
perfeitamente na caçapa da quina. - Eu nunca disse que éramos onze.
– Erro meu - disse Dayja. - Ainda assim, me parece que você deveria ficar
com mais do que apenas uma parte, uma vez que as fichas de crédito eram suas,
antes de mais nada.
Eanjer deu de ombros.
– Cem por cento de nada é nada - disse ele ao dar a volta para o fim da mesa.
Eanjer alinhou o taco contra a bola branca e mirou na bola seis desta vez.
Puxou o taco para a tacada, mas antes disso a bola seis piscou e ficou preta
abruptamente.
Eanjer praguejou baixinho.
– Que pena - Dayja se compadeceu. - Mas poderia ter sido pior. Eu já vi a bola
ficar preta justo quando o jogador ia dar a tacada na branca, sem poder parar a
tempo. A essa altura, tudo que o jogador pode fazer é praguejar ao dar sequência
à jogada e ver a própria tacada lhe custar a partida.
– E a seguir ouvir a risada do oponente, imagino eu - falou
Eanjer, dando um olhar maligno para Dayja ao reposicionar a tacada. - Vamos
ao que interessa, que tal? Você quer que o acordo seja uma divisão em doze
partes?
– De maneira alguma - garantiu Dayja. - Eu não estou interessado em
Villachor e seus créditos adquiridos de forma ilícita. Só estou interessado no
convidado de Villachor... e no pequeno tesouro do convidado.
– E o que seria esse misterioso tesouro exatamente?
Dayja franziu os lábios. Isso seria arriscado, mas não tão arriscado quanto
encarar Villachor e Qazadi sozinho.
– Farei um acordo com você - ofereceu ele. - Eu lhe conto tudo sobre o
tesouro e dou qualquer apoio sigiloso de que você precisar, desde que você o
traga para mim assim que invadir a caixa-forte de Villachor. Em troca, você me
promete que não contará para os demais onde conseguiu a informação e me
manterá informado sobre seu andamento.
Eanjer o encarou com atenção.
– E você nos deixará seguir com o plano? Você, um agente da lei, nos deixará
simplesmente entrar lá e roubar Villachor?
– Sim, porque eu estava planejando fazer exatamente a mesma coisa -
respondeu Dayja. - Dessa maneira, seremos capazes de juntar nossos recursos e
informações, e tomara que possamos nos ajudar.
– Com meu grupo correndo todos os riscos.
– E levando a maior parte das recompensas - salientou Dayja. - Além disso,
após o golpe de vocês no Lulina Crown na noite de hoje, eu poderia prender todo
o grupo agora mesmo se quisesse. Como você disse, cem por cento de nada é
nada.
Por um momento, os dois se encararam em silêncio.
– Tudo bem - disse Eanjer finalmente. - Vamos ouvir.
– Certamente - falou Dayja. Ele pousou o taco na borda da mesma e
gesticulou para uma fileira de assentos ao lado. - Vamos nos sentar, e eu contarei
a respeito de uma organização criminosa conhecida como Sol Negro. E sobre a
coleção secreta e altamente lucrativa de arquivos de chantagem que eles
mantêm.
CAPÍTULO
Havia sido um longo dia, e como era de seu costume, Villachor saiu para a
varanda da suíte particular para alguns minutos de silêncio e relaxamento.
Era uma noite calma e agradável, sem nuvens e com apenas uma brisa
inconstante. As luzes da Cidade de Iltarr brilhavam em volta de Villachor - em
volta e acima, uma vez que a maioria dos prédios ao redor de sua propriedade
era muito mais alta do que a própria mansão modesta de quatro andares. Na
maioria das noites, ele se deleitava com a vista, imaginando que estivesse em
algum palanque da Velha República, dando ordens para um exército de criados
em volta dele, em silêncio humilde.
Naquela noite, porém, as torres escuras com pontinhos de luz pareciam
encará-lo com um olhar sombrio. E em vez de um soberano altivo, Villachor se
sentia um alvo no meio de um estande de tiro.
Algo estava acontecendo lá fora. Algo espreitava pelas ruas da cidade, talvez
estivesse de olho em um de seus portões neste exato momento. Algo que
potencialmente poderia acabar com tudo que ele havia criado naquele mundo e
naquele setor subornando, chantageando e assassinando.
E Villachor não fazia ideia do que era.
O painel no parapeito piscou indicando uma solicitação: Sheqoa, seu chefe de
segurança, estava na porta da suíte pedindo para entrar. Villachor girou o topo do
braço da cadeira, apertou o botão para que Sheqoa entrasse e fez uma aposta
particular consigo mesmo de que daquela vez ele ouviria a entrada do sujeito por
trás, na varanda.
Novamente Villachor perdeu a aposta. Os ex-soldados imperiais da tropa de
choque, afinal de contas, não eram famosos por fazer barulhos desnecessários.
– Eu recebi um relatório de Riston, senhor - falou Sheqoa, cuja voz vinha de
menos de 2 metros de distância. Ele havia entrado na varanda e andado um
bocado. - Ele diz que o brilhestim de Crovendif é legítimo e tem muita certeza
de que não veio de Kessel.
– Muita certeza? - reagiu Villachor. - Que porcaria é essa de muita certeza?
– Desculpe, senhor - disse Sheqoa, em tom respeitoso, porém firme. - Mas
Riston diz que não há como ter 100% de certeza, não com uma coisa criada
organicamente. Há muita variação nas próprias aranhas. O máximo que ele
consegue é ter 85% de certeza.
Villachor fez uma expressão de desdém - seu primeiro impulso foi se levantar,
marchar até o precioso laboratoriozinho de Riston e balançar o pescoço fino do
analista até que ele produzisse algo mais útil.
Mas aquilo não lhe renderia nada mais que uma satisfação momentânea. O
principal trabalho de Sheqoa era proteger Villachor, contudo, com o passar dos
anos, o grande ex- comandante também assumira a tarefa informal de agir como
um escudo entre o chefe e o resto do corpo de funcionários.
O que provavelmente era uma boa coisa. Quando havia algo a ser conquistado
com ameaças de violência, Sheqoa estava logo ali ao lado de Villachor,
entregando armas ou cuidando ele próprio da tarefa. Mas quando não havia,
Sheqoa também estava ali para evitar que o chefe matasse as pessoas.
Especialmente pessoas competentes.
Se Riston dissera que não havia algo a ser apurado da amostra de Crovendif,
ele provavelmente estava certo.
Com algum esforço, Villachor afastou as ideias sobre matar o analista.
– E quanto ao próprio Crovendif? - perguntou ele.
– Crovendif trabalha para nós há dez anos, oito como vendedor, dois como
gerente de asfalto - respondeu Sheqoa. - Desempenho decente. Nada espetacular.
– Esperto o bastante para dar um golpe como esse sozinho?
Ele sentiu a cara feia de Sheqoa.
– A inteligência de Crovendif mal dá conta de conseguir a porcentagem
correta de vendas - respondeu o grandalhão. - O senhor acha que é um golpe?
– Acho que a escolha do momento é altamente suspeita - rosnou Villachor. - O
vigo Qazadi aparece; e então, mal sepassaram nove dias, alguém surge e nos
oferece brilhestim abaixo dos valores do Sol Negro?
Sheqoa ficou calado por um momento, aparentemente tentando digerir aquela
informação.
– Tem que ser o golpista mais azarado da galáxia - disse ele devagar. - As
chances de isso acontecer são... bem baixas.
Villachor olhou para as luzes da cidade ao redor, novamente contendo a
vontade de esganar. Ele não esperava que Sheqoa entendesse as sutilezas da
situação, e o chefe de segurança cumpriu exatamente suas expectativas.
Isso não era coincidência. Não mesmo. Ou alguém estava provocando Qazadi
e o Sol Negro, o que era uma coisa extraordinariamente idiota de se fazer... ou
então o estranho misterioso era alguém do pessoal de Qazadi, e a oferta de
brilhestim era um teste.
Um arrepio subiu pelas costas de Villachor. Um teste. Mas um teste de quê?
Da lealdade de Villachor? Tudo bem - ele era capaz de passar num teste assim.
Mas em que direção Villachor deveria pular? Deveria contar para Qazadi
sobre o vendedor de brilhestim e esperar que o vigo lhe dissesse o que fazer?
Isso poderia demonstrar fraqueza e indecisão da parte de Villachor, qualidades
que nem de longe o príncipe Xizor queria ver em um de seus chefes de setor.
Será que, em vez disso, ele deveria examinar a questão pessoalmente e levá-la à
atenção de Qazadi apenas depois que a investigação fosse concluída? Mas se
Qazadi o flagrasse no meio do processo, poderia parecer que Villachor planejava
fazer um acordo sem que o Sol Negro soubesse. Esse seria o caminho rápido
para uma cova de indigente.
E se não houvesse uma resposta certa? E se Xizor já o tivesse julgado e esse
teste do brilhestim não fosse nada mais do que uma maneira de deixar Villachor
escolher o caminho para a própria armadilha? Xizor dificilmente precisava de
uma desculpa para eliminar um de seus subordinados, mas ele poderia fazer
daquela forma apenas pelo prazer de ver o condenado se debater dentro de uma
rede da qual não havia escapatória.
E tais pensamentos jamais devem ser simplesmente descartados, dissera
Qadazi sobre os receios de Villachor no primeiro encontro entre os dois, porque
eu não saio do Centro Imperial sem um grande motivo.
Villachor fez uma expressão de desdém. Qazadi explicara que sua visita tinha
três motivos: retirar os arquivos de chantagem do Centro Imperial e assim
despistar Vader e os outros inimigos de Xizor; tirar o próprio Qazadi do alcance
de várias intrigas que aqueles mesmos inimigos estavam se preparando para
lançar; e usar os arquivos para gerar mais alguns escravos relutantes dentre a
elite da Cidade de Iltarr e os dignatários que em breve chegariam a Wukkar para
o Festival das Quatro Honrarias.
Três motivos para sair do Centro Imperial. Se havia três, por que não quatro?
Será que o quarto motivo não seria armar a destruição de Villachor?
E ainda havia o incidente no Hotel Lulina Crown, onde o assistente de Qazadi,
Aziel, estivera no centro de um estranho semiataque.
– Alguma novidade sobre o incidente no Lulina Crown? - perguntou ele.
– Não, senhor - respondeu Sheqoa em um tom estranhamente relutante. - Não
exatamente.
– Não exatamente? - repetiu Villachor incisivamente. - O que significa não
exatamente?
– A polícia deu o caso como encerrado - falou Sheqoa, soando aflito. - Eles
descartaram como se fosse um trote.
Villachor girou o corpo na cadeira e ergueu um olhar furioso para o outro.
– Um trote? - reclamou ele. - Uma bomba explode num corredor de hotel e
vira um trote?
Villachor deu as costas novamente e encarou fixamente as luzes da cidade
enquanto puxava o comlink. Aparentemente era hora de lembrar ao comissário
de polícia Hildebron o nível de serviço que os créditos do suborno do Sol Negro
haviam comprado.
– Foi ordem do comissário Hildebron - informou Sheqoa evasivamente. -
Após ele ter recebido uma ligação do mestre Qazadi.
Villachor ficou paralisado, com o comlink a meio caminho dos lábios.
– O mestre Qazadi suspendeu a investigação?
– E o que parece.
Lentamente, Villachor devolveu o comlink ao cinto. Mas aquilo era loucura.
Por quê, pela galáxia, Qazadi suspenderia a investigação? Aziel era um agente
do Sol Negro como ele, um colega próximo, e - até onde Villachor era capaz de
saber - um amigo tão íntimo quanto era possível um Falleen ter. Pela lógica,
Qazadi deveria estar na delegacia naquele exato momento, enchendo o gabinete
de Hildebron com feromônios e insistindo que a ameaça contra seu colega e os
códigos do cryodex fosse neutralizada...
Villachor sentiu um nó na garganta. É claro. Os códigos do cryodex.
Porque o fato de estar no bolso do Sol Negro não significava que Hildebron
não fosse um profissional competente. Ele era. E uma investigação realmente
correta poderia revelar facilmente que Aziel estava na Cidade de Iltarr como
guardião da metade dos códigos que ativavam o cryodex que Qazadi havia
trancado em sua suíte.
Obviamente, uma investigação incorreta poderia levar ao roubo daqueles
mesmos códigos se quem quer que estivesse tentando roubá-los decidisse tentar
de novo. Mas aparentemente Qazadi estava disposto a arriscar que isso
acontecesse.
Talvez ele estivesse certo em agir assim. Aziel viera a Marblewood para
ajudar Qazadi a ativar o cryodex antes de cada sessão de chantagem de
Villachor, mas o cryodex e os arquivos em si jamais correram risco algum. Se os
códigos de Aziel fossem roubados ou destruídos, isso simplesmente significaria
que Villachor não poderia usar os arquivos contra possíveis alvos. Uma
inconveniência, mas longe de ser um problema de verdade.
Mas tivesse o ataque falhado ou sido um trote, a questão é que um agente do
Sol Negro tivera sua noite arruinada no meio do território de Villachor. Isso não
era algo que poderia simplesmente ser ignorado ou varrido para longe.
E se o brilhestim fosse um teste, talvez essa situação também fosse.
– Nós temos alguém no hotel? - perguntou ele.
– Não - respondeu Sheqoa. - Eu achei que o mestre Qazadi tivesse ordenado
que ficássemos afastados.
– Isso foi antes de o pessoal dele ser atacado - rosnou Villachor.
– Eu quero um esquadrão postado lá até a meia-noite. Coloque pelo menos
dois homens no mesmo andar, e os demais em qualquer quarto que eles
consigam em cima e embaixo da suíte de lorde Aziel.
– Sim, senhor - disse Sheqoa com hesitação. - Posso lembrá-lo, senhor, de que
estaremos sobrecarregados controlando a multidão do Festival nas atuais
circunstâncias? Retirar um esquadrão inteiro da nossa escala de serviço só vai
piorar a situação.
– Eu não me importo - falou Villachor rispidamente. - Desde que
mantenhamos um contingente completo na caixa-forte, isso é tudo que importa.
Se alguém quiser usar o Festival para entrar de mansinho na casa e roubar
algumas colheres, que fique à vontade para tentar. Qualquer coisa assim pode ser
resolvida mais tarde.
– Entendido - disse Sheqoa, ainda nitidamente insatisfeito, mas sabendo que
não deveria continuar discutindo a questão. - O senhor não poderia convencer o
mestre Qazadi a trazer Aziel e os demais para cá em vez disso? Tornaria a
segurança bem mais fácil.
Villachor sentiu um nó no estômago. Sim, certamente tornaria. Na verdade,
Villachor havia salientado esse mesmo argumento para Qazadi no primeiro
encontro entre os dois.
Mas Qazadi dispensou a sugestão ao invocar uma política do Sol Negro de
manter os arquivos de chantagem e os códigos do cryodex separados, a não ser
que um dos arquivos estivesse para ser lido. Villachor ouviu o argumento,
aquiesceu educadamente e fingiu aceitá-lo, embora tivesse ficado tão insatisfeito
quanto Sheqoa. Aquilo sempre lhe parecera mais uma desculpa com uma
blindagem furada do que uma explicação.
Talvez houvesse outro motivo para Qazadi manter Aziel longe de
Marblewood. Talvez Aziel não estivesse ali apenas para cuidar dos códigos, mas
também estivesse esperando nos bastidores para avançar e assumir como
sucessor de Villachor no momento em que ele falhasse no teste de Qazadi.
Se fosse esse o caso, dificilmente seria do interesse de Villachor fazer um
grande esforço e sobrecarregar seus recursos a fim de proteger Aziel.
Testes dentro de testes dentro de testes. E Villachor ainda não sabia em que
direção Qazadi queria que ele pulasse.
Mas havia uma coisa de que Villachor tinha certeza: se Qazadi esperava por
uma transferência de poder tranquila e civilizada, era melhor esquecer.
– Volte a falar com Riston - ordenou ele para Sheqoa. - Diga- lhe que quero
que continue a fazer testes até poder me dizer com certeza de onde vem aquele
brilhestim.
– Não acho que haja mais testes que ele possa fazer, senhor - respondeu
Sheqoa.
– Então é melhor que Riston invente alguns - disparou Villachor. - Vá.
– Sim, senhor.
Sheqoa não pareceu satisfeito, mas ele sabia o que era uma ordem.
– E você não deve contar para o mestre Qazadi ou para o pessoal dele sobre
nada disso aqui - acrescentou Villachor. - Não até termos certeza.
– Sim, senhor - disse o grandalhão. - Boa noite, senhor.
Ele deu meia-volta e saiu de mansinho, tão silencioso quanto chegara.
Villachor também se virou e observou até a sombra de Sheqoa passar pela porta
na outra extremidade da suíte. Então, com um suspiro pensativo, ele se voltou
para a vista da cidade.
Obviamente, Riston não descobriria nada de novo. Mas ordenar mais testes
garantiria algum tempo para Villachor - o suficiente, ele esperava, para examinar
as possíveis armadilhas colocadas de maneira tão tentadora diante de si.
Enquanto isso, o Festival das Quatro Honrarias começaria em três dias, e com
ele viriam multidões de pessoas importantes e insignificantes da Cidade de Iltarr
para suas dependências e pátio. Villachor tinha uma exposição para montar,
entretenimento para preparar, comida e bebida para coordenar, e um grande
número de autoridades para levar discretamente ao interior da mansão a fim de
suborná-las, ameaçá-las ou chantageá-las.
Ele prometeu a si mesmo que, quando o Festival acabasse, até mesmo Xizor
teria que admitir que Villachor, e apenas Villachor, sabia a melhor forma de gerir
as operações do Sol Negro naquele setor. Se o plano de Qazadi ainda fosse
derrubá-lo, ele descobriria que Villachor era um alvo muito mais difícil do que
imaginara.
E se a isca de brilhestim fosse outra pessoa tentando avançar em seu
território...
Villachor arreganhou os dentes para as luzes altas. Se alguém lá fora fosse
mesmo tolo o suficiente para enfrentá-lo, aquela pessoa se arrependeria. Muito,
muito amargamente.
A tranca fez um clique e a porta se abriu, e com um cansaço que Dayja não se
permitira sentir até aquele exato momento, ele entrou na suíte.
D’Ashewl estava à espera de Dayja, sentado à mesa do escritório.
– Como foi lá?
– Deu certo - respondeu Dayja.
Ele arrastou os pés no tapete espesso até a cadeira confortável mais próxima e
se permitiu desabar nela. Tinha sido um dia muito, muito longo.
– O mestre Cuciv nem percebeu minha chegada e neste momento está
dormindo para passar o efeito da droga língua-solta.
D'Ashewl resmungou.
– Espero que você saiba o risco que está correndo com aquilo - alertou ele. -
Uma chance de 80% de ataque cardíaco é algo para ser levado a sério.
– Eu sei - disse Dayja, torcendo o rosto ao se lembrar de ter visto o velho
agente do espaçoporto sobreviver à onda inicial da droga antes de o coração
finalmente se estabilizar. - Mas não havia escolha. Nós precisávamos saber a
respeito dos datacards dos arquivos de chantagem e não podíamos deixar Cuciv
com nenhuma memória de ter sido interrogado a respeito. O que significa que os
droides de interrogação estavam fora de cogitação, juntamente com a Bavo Seis,
a OV 600 ou qualquer outra droga de nosso repertório.
– E se ele tivesse morrido?
Dayja deu de ombros.
– Eanjer tinha dois outros nomes. Um deles provavelmente sobreviveria ao
procedimento.
D’Ashewl resmungou de novo.
– Mas você pegou?
– Sim - respondeu Dayja. - Datacard de tamanho padrão, preto fosco, com o
símbolo do Sol Negro gravado na frente em preto reluzente.
– Sutil - ironizou D’Ashewl. - Artístico também. Não o que se esperaria dos
capangas de Xizor. De que tamanho é o símbolo?
– Bem, esse é o pequeno problema - admitiu Dayja. - Cuciv foi um pouquinho
vago quanto a isso. Eanjer vai ter que mandar a equipe dele criar duas ou três
versões e torcer para que uma delas seja suficientemente parecida para passar.
– Não é o ideal - falou D’Ashewl. - Mas você provavelmente consegue fazer
isso funcionar.
Por um momento, o ambiente ficou em silêncio. Dayja retirou a faca, o
comlink, a arma de raios de pequeno porte dos bolsos e pousou na mesinha baixa
ao lado da cadeira, tentando decidir se estava cansado demais para comer ou
faminto demais para dormir. Faminto demais para dormir, concluiu ele. Dayja se
levantou e foi para a estação de comida ao lado da central de entretenimento na
outra ponta do escritório.
– Teve sorte identificando meus novos melhores amigos a partir dos
holovídeos que mandei para você? - perguntou ele de costas.
– Na verdade não - respondeu D’Ashewl. - Sempre me surpreendo que poucos
criminosos tenham algo mais do que apenas os nomes nos registros policiais.
Mesmo os registros do DSI não têm muita coisa.
– Os criminosos do alto escalão aparentemente contratam slicers com tempo
livre demais - concordou Dayja.
– Ao que parece - disse D'Ashewl. - Ele já fez a pergunta óbvia?
– Por que não assobiamos para chamar uma legião de stormtroopers e
invadimos Marblewood com tudo? - perguntou Dayja em tom ácido. - Não com
essas mesmas palavras, mas Eanjer deu a entender a pergunta. Eu tentei passar a
impressão de que temos que nos manter dentro dos procedimentos legais. Todo
aquele lance de liberdades e direitos civis.
D’Ashewl deu um muxoxo de desdém.
– Liberdades e diretos, Sei. - Ele suspirou, um som que foi audível até a
estação de comida. - Eu espero que você se dê conta de que estamos na corda
bamba, Dayja. O Diretor está tendo problemas sérios com a corte neste momento
e pode estar de saída, quer a gente consiga ou não os arquivos de chantagem para
ele. Se estivermos ligados a ele quando cair, e até nove dias atrás nós estávamos,
não será agradável para nenhum de nós.
– Ainda há tempo - disse Dayja com firmeza. - Se ele conseguir descobrir
quais de seus inimigos estão na folha de pagamentos do Sol Negro, o Diretor
pode virar essa ligação contra eles.
– Talvez - disse D’Ashewl, não parecendo convencido. - Mas ele conseguindo
ou não escapar da queda, nosso futuro ainda está por um fio. Se pegarmos os
arquivos, seremos heróis. Se não conseguirmos, a questão de o Diretor cair ou
não pode ser insignificante. Xizor ficará furioso que sequer tenham feito uma
tentativa e, com suas capacidades de chantagem ilesas, ele será um inimigo
formidável.
– A vida é uma aposta - frisou Dayja enquanto apertava botões para pedir algo
que fosse rápido de preparar e igualmente rápido de comer. - Trabalho de
espionagem é ainda mais. Não se preocupe, vai dar certo.
– Espero que você esteja certo - falou D’Ashewl. - O que você vai fazer com a
jogada do brilhestim? Isso já está em andamento, não?
– Sim, mas pode ser pausado por alguns dias - respondeu Dayja. - Ninguém
além daquele gerente de asfalto, Crovendif, sabe como eu sou. Desde que eu
fique longe da rua, estarei bem.
– Então você vai deixar Eanjer e a equipe dele assumirem a dianteira?
– Por enquanto - disse Dayja. - Eu presumo que Qazadi estará aqui para o
festival inteiro. Se Eanjer não conseguir pegar os arquivos de chantagem, eu
devo ter tempo de voltar ao plano original.
– Vamos colocar nossas vidas em um conjunto de mãos extremamente sujas -
alertou D’Ashewl.
– Vai ficar tudo bem - garantiu Dayja, se permitindo um sorriso contido.
A preocupação de D’Ashewl era tocante e certamente não era inapropriada.
Mas ambos sabiam que falar em “nossas vidas” era meramente uma cortesia.
D’Ashewl estava na carreira havia tempo suficiente e amealhara muitos amigos
e aliados, a ponto de até mesmo Xizor hesitar enfrentá-lo. Certamente não por
causa de uma tentativa de espionagem que tinha fracassado, no fim das contas.
Não, a vida de D’Ashewl não estava nas mãos de Eanjer. Porém, Dayja não
tinha costas tão quentes assim. O que acontecesse nos próximos dias faria ou
encerraria sua carreira. Permanentemente.
Mas era preciso correr o risco. O Sol Negro era um mal que vinha roendo as
raízes da galáxia havia muito, muito tempo, e precisava ser detido. Se o
Imperador não estava inclinado a agir e Lorde Vader estava preocupado demais,
então o serviço caberia a homens menos importantes.
E se esses homens menos importantes também perecessem... ainda assim,
como ele dissera, a vida era uma aposta.
Os dados estavam lançados. Dayja simplesmente teria que esperar para ver
que resultado eles dariam.
Por alguns minutos depois de Lando ir embora arrastando os pés até o quarto,
Han permaneceu onde estava, olhando pela janela para o conjunto de luzes da
mansão de Villachor. Envolta na escuridão das dependências de Marblewood, a
mansão quase parecia um pequeno agrupamento de estrelas à deriva no espaço,
completamente sozinho. E todo piloto na galáxia sabia como agrupamentos de
estrelas eram perigosos.
Lando estava certo, obviamente. Han era um piloto e um contrabandista. O
que ele conhecia a respeito de golpes?
Nada, na verdade. Mas Han conhecia as pessoas. Sabia como elas pensavam e
reagiam, especialmente aquelas levadas pela ganância e sede de poder. Tinha
visto isso com Jabba e Batross, tinha visto acontecer com oficiais imperiais e
sentia uma pontada em si próprio de vez em quando.
Talvez fosse isso o que ele mais gostava a respeito de Leia. Como uma
princesa de Alderaan, ela tivera muito poder, mais do que a maioria das pessoas
sonharia ter um dia na vida. No entanto, Leia tinha deixado aquilo de lado pelo
que considerava ser uma causa maior e mais nobre.
Se aquilo era uma causa maior, obviamente, ou apenas um jeito chique de
cometer suicídio em massa, ainda levaria um tempo para saber. Mas isso não era
problema de Han. O problema era que ele mais ou menos prometera justiça para
Eanjer e a partilha de 163 milhões de créditos para todos os outros.
E Lando estava certo sobre outra coisa. Às vezes a confiança que Han
depositava em outras pessoas se revelava muito inapropriada.
Ele pensou a respeito da situação por um pouco mais de tempo. Então se
arrancou da cadeira e foi à procura de Dozer. Considerando como o outro andara
agindo ao abandonar a sala de estar mais cedo, só havia um local provável para
começar a procurar. Han encontrou Dozer na cozinha, mastigando um enorme
sanduíche.
– Estou interrompendo? - perguntou Han ao entrar e se sentar.
– Não - disse Dozer. - Você veio falar sobre Lando ser o testa de ferro? Porque
se for o caso, esqueça tudo o que eu disse antes. Até onde eu sei, ele pode ficar
com a vaga.
– Bom ouvir isso - falou Han. - Porque tem outro serviço que eu quero que
você faça para mim. Uma coisa que talvez leve alguns dias.
Dozer franziu os olhos.
– Está tentando se livrar de mim?
– Claro que não - garantiu Han.
– Porque se for por eu ter ficado preocupado com o Sol Negro mais cedo, eu
estou de boa com isso agora - insistiu Dozer.
– Eu sei - disse Han. - O serviço é apenas uma coisa que eu pensei que vamos
precisar, só isso.
– A-hã - concordou Dozer, ainda parecendo desconfiado. - O serviço envolve
encarar aquele Falleen novamente?
– Sem Falleen - respondeu Han. - Será um pouco complicado, mas deve ser
seguro o bastante.
Por mais alguns segundos, Dozer continuou examinando o rosto de Han.
Então ele pousou o sanduíche cuidadosamente no prato e tirou as migalhas das
mãos.
– Ok - disse ele se recostando na cadeira. - Conte-me tudo a respeito do
serviço.
CAPÍTULO
Nos três dias seguintes, a equipe permaneceu perto da base. O quarto das
gêmeas rapidamente virou uma oficina eletrónica enquanto Bink, Tavia,
Chewbacca e Winter trabalhavam em montar cuspidores que coubessem no
espaço limitado dentro de um datacard. Infelizmente, o amigo de Eanjer, Donnal
Cuciv, não fora capaz de informar o tamanho correto do símbolo do Sol Negro
impresso no datacard que Villachor lhe mostrara, o que significava que eles
precisariam de pelo menos três e possivelmente uns cinco para cobrir todas as
possibilidades com segurança. Com Winter e Chewbacca também construindo
um cryodex falso, o prazo seria apertado.
Ainda assim, Chewbacca estava com a mão na massa, e até então o Wookie
jamais o decepcionara. Han não esperava que essa fosse a primeira vez.
Os demais tinham muito trabalho também. Kell instalou uma oticina de
explosivos no quarto adjacente ao das gémeas e passou três dias montando
cargas de vários tamanhos e formas. Zerba se ocupou com os trajes rasgáveis
para troca rápida que Han lhe passara, com pausas frequentes para descansar os
olhos e praticar prestidigitação. Eanjer, em contrapartida, tinha pouco a fazer
além de perambular pela suíte, fazer perguntas e, de resto, atrapalhar os outros.
Lando e Han passavam a maior parte do tempo na sala de estar, longe dos
olhos dos demais e lendo o volume cada vez maior de material que Rachele
conseguia recolher sobre Villachor, seus funcionários, a mansão e as pessoas
com quem ele mais lidava, muitas das quais também eram possivelmente
associadas ao Sol Negro.
Tinha vezes que Han considerava toda aquela quantidade de dados um pouco
avassaladora. Villachor estava com as mãos em praticamente todos os aspectos
da vida da Cidade de Iltarr, com metade da polícia e provavelmente mais da
metade das autoridades do governo aparentemente prontas para largar tudo sob
seu comando. Era uma confirmação preocupante de que a equipe tinha montado
acampamento no meio de um território seriamente hostil.
Lando, previsivelmente, não parecia incomodado com aquilo. Talvez, como
um apostador, ele estivesse mais do que acostumado a encarar mesas cheias de
inimigos. Talvez ele fosse apenas melhor em esconder seu nervosismo. Ele
examinava os dados de Rachele rápida e metodicamente, às vezes fazendo
comentários sobre alguma informação especialmente reveladora ou útil. Às
vezes experimentava vários sotaques que achava que poderiam ser úteis quando
finalmente encarasse Villachor cara a cara.
Era um pouco irritante vê-lo assim tão calmo, mas Han tinha que admitir que
talvez Lando encarasse a situaçao de uma maneira melhor. Jabba e os outros
Hutts não eram assim tão diferentes de Villachor e do Sol Negro, a não ser pelo
fato de que a influência deles era mais ou menos descarada e óbvia, em vez de
estar enterrada em um labirinto de raízes subterrâneas. Han havia sobrevivido às
intrigas e à inimizade dos Hutts. Ele também sobreviveria a qualquer coisa que
Villachor jogasse contra ele.
Dozer era a principal exceção do comportamento geral de ficar em casa,
adotado pelos demais. Desde a primeira vez que Tavia pedira a ele que saísse
para comprar algumas energicélulas, Dozer tomara para si o papel de menino de
recados, indo pegar tudo, de peças de detonador a novas bandagens de medselo
para Eanjer e comida rodiana quando Zerba subitamente tinha uma vontade
louca.
Houve um momento em que Rachele brincou que Dozer passava mais tempo
fora da suíte do que dentro, e se perguntou em voz alta se conseguiria um
desconto referente à parte dele do aluguel. Foi um exagero, obviamente, mas
todo mundo notou que Dozer geralmente se ausentava por horas a fio, em busca
de seu objetivo no momento.
Han apenas torcia para que nenhum deles suspeitasse do verdadeiro motivo da
ausência do sujeito.
Enquanto eles trabalhavam, as dependências de Villachor lá embaixo estavam
sendo transformadas em alguma coisa que era meio feira livre e meio exposição.
Do céu, telas e pavilhões acenavam com a promessa de um retorno do esplendor
da Velha República.
A multidão já era enorme, e parecia que uma em cada três pessoas que
avistava Villachor queria vir cumprimentá-lo, agradecer pela hospitalidade ou
conversar um momento com ele como se fosse de fato um amigo.
Mas se havia uma coisa que Lando aprendera na mesa de sabacc era
paciência. Ele exercia aquela paciência naquele momento, passeando pela borda
do séquito de Villachor, examinando o homem e seus guarda-costas. Os nativos
usavam determinados gestos e palavras nas saudações, que ele percebia ao
mesmo tempo que tentava identificar os sinais de interesse, impaciência ou tédio
da parte do próprio Villachor.
Finalmente, houve uma calmaria. Villachor fez uma pausa e olhou em volta
enquanto murmurava alguma coisa para um dos guarda-costas. Lando deu a
volta por um par de Ithorianos de cabeça de martelo e foi atrás do grupo.
Villachor notou a aproximação dele, e Lando notou um leve tremor no lábio
antes de o rosto do anfitrião dar mais um de seus sorrisos falsos.
– Boa tarde - disse Villachor, provavelmente na esperança de que, ao falar
primeiro, pudesse controlar a duração da conversa. - Curtindo o Festival?
– Muito - respondeu Lando, dando um educado aceno de cabeça que parecia
ser condizente com os cidadãos da elite da Cidade de Iltarr. — Eu imagino que
algo do gênero seja extremamente caro de organizar.
O sorriso de Villachor diminuiu um pouco. Aparentemente, a maioria das
pessoas com quem falava tinha o bom senso de não abordar um assunto tão
grosseiro.
– Vale muito o custo — respondeu ele calmamente. — O prazer que o Festival
dá ao cidadão comum é algo que não pode ser medido.
– É verdade — concordou Lando. - E, obviamente, eu suponho que o Festival
ofereça oportunidades únicas de conhecer pessoas. Algumas das quais podem
trazer ofertas interessantes.
O sorriso de Villachor cresceu, ao mesmo tempo que esfriou alguns graus.
– Eu sinto muito, mas todas as discussões sobre novos negócios estão
interrompidas durante o Festival, mas fique à vontade para entrar em contato
com meu gabinete após o fim da Honraria ao Fogo em Movimento. - Ele
inclinou a cabeça e começou a dar as costas.
– Eu compreendo - disse Lando dando um longo passo para se aproximar,
ciente de que os dois guarda-costas já se moviam para interceptá-lo. - Deixe-me
dizer apenas uma palavra: Cryo...
Lando foi interrompido quando os dois guarda-costas o seguraram, e um
colocou o antebraço em sua garganta como um gesto de advertência enquanto o
afastavam de Villachor.
– Um momento - falou Villachor, detendo os homens com um dedo erguido.
— Muito bem — continuou ele com um tom de voz casual ensaiado. - Uma
palavra.
O guarda tirou milimetricamente o braço da garganta de Lando, pronto para
esganá-lo se necessário. Lando pigarreou.
– Cryodex — disse ele.
Lando contou seis batidas do coração antes de Villachor falar novamente.
– Tragam-no - disse ele abruptamente.
Villachor deu meia-volta e retornou a passos largos para a mansão, indo na
direção de uma das menores portas de serviço. Os guarda-costas soltaram Lando,
e um deles o cutucou nas costas, dando uma ordem silenciosa.
Não que ele precisasse de qualquer incentivo. Lando ia atrás de Villachor a
passos rápidos, ajustando o ritmo para alcançá-lo aos poucos. Ele sabia que
havia dezenas ou possivelmente centenas de pessoas e droides entrando e saindo
da mansão naquele dia, para reabastecer as barracas com comida e bebida e
cuidar de outros afazeres. Seria instrutivo ver exatamente como Villachor havia
arrumado as trancas das portas para permitir um vaivém deles e, ao mesmo
tempo, impedir que estranhos aleatórios entrassem na mansão.
Foi, na verdade, um completo anticlímax. Villachor simplesmente percorreu a
trilha de lajotas até a porta, pegou e virou a maçaneta, e abriu a porta sem
problemas, incómodos ou contestação.
Lando conteve um sorriso quando ele e os dois guarda-costas entraram atrás
de Villachor. Como um dos truques de mágica de Zerba, as aparências
enganavam. Villachor pegara a maçaneta, mas, imediatamente antes de virá-la,
curvou-se levemente na cintura. Havia então um disparador eletrónico, com o
receptor no mecanismo da maçaneta e o ativador escondido em algum lugar na
área do pescoço ou ombro de Villachor. Possivelmente o pingente retangular
com uma minúscula pedra esmaltada que Lando notara em uma pequena
gargantilha em volta do pescoço de Villachor.
E que também estava no pescoço dos guarda-costas, Lando percebia então.
Eles haviam arrumado um jeito de entrar. Talvez.
Villachor parou depois de alguns passos perto da porta e esperava por eles ao
lado de mais dois guardas.
– E agora - disse ele, sem sequer a falsa cordialidade na voz -, vamos a um
lugar calmo para conversar um pouco.
CAPÍTULO
10
Lando foi levado para Villachor até um aposento pequeno e sem janela, que
continha possivelmente a mesa de trabalho mais intimidante que Lando já tinha
visto na vida. Mais dois guardas esperavam do lado de dentro, bem perto da
porta, o que elevava para seis o número de homens armados.
– Sente-se - disse Villachor, indicando uma enorme cadeira acolchoada em
frente à mesa enquanto ele dava a volta por trás dela. - Talvez você queira algo
para beber?
Lando sabia que aquela provavelmente era uma oferta sincera. Mas também
era um teste. Villachor estava sondando Lando, tentando perceber a fala, as
reações, os modos e padrões. Era a mesma dança refinada que também
acompanhava toda partida de sabacc, e Lando estava acostumado àquilo.
– Não, obrigado — disse ele se acomodando na cadeira.
Ela era ainda mais confortável do que aparentava; os braços macios e as
almofadas cederam ao peso de Lando e o envolveram. Ele estaria sem sorte se
estivesse planejando uma saída rápida e inesperada. Provavelmente era esse o
motivo por trás do design da cadeira, na verdade.
– Eu sei que seu tempo é valioso.
– É mesmo - concordou Villachor, que se sentou na própria cadeira.
– Porém, mais valioso ainda do que o tempo é a informação — continuou
Lando. — E tenho certeza de que o senhor não quer que o que estou prestes a lhe
dizer seja ouvido por ninguém além do seu pessoal mais próximo e mais
confiável.
Villachor deu um sorrisinho.
– Se eu não confiasse nestes homens, eles teriam ido embora há muito tempo.
– É claro — falou Lando. - Mas existe confiança e confiança.
Por um instante, Villachor o encarou pensativo. A porta se abriu do outro lado
da sala, e o homem que a pesquisa de Rachele identificara como o chefe de
segurança, Sheqoa, entrou. Villachor olhou de relance para o sujeito e retornou o
olhar para Lando.
– Muito hem — disse ele. — Tawb, Manning, esperem lá fora. Os demais,
voltem para seus afazeres. Sheqoa, você fica comigo.
Tão silenciosamente quanto Sheqoa entrara, o restante dos guardas saiu.
Villachor esperou que a porta estivesse fechada novamente, depois gesticulou
para Sheqoa ficar atrás de Lando.
– Muito bem, você tem a privacidade que queria - falou ele. - Fique sabendo
que, se isto for alguma espécie de piada ruim, meu rosto será a última coisa que
seus olhos verão na vida.
– Sem piadas - garantiu Lando, que estava acostumado a ser ameaçado, mas
havia algo na voz de Villachor que lhe provocou um arrepio na espinha. — Vou
começar contando algumas coisas que o senhor já sabe. O senhor é um
integrante do alto escalão do Sol Negro, está recebendo um integrante ainda
mais elevado, um vigo chamado Qazadi, e o mestre Qazadi possui um conjunto
de arquivos de chantagem que o senhor está usando para ganhar ou sedimentar
vantagens contra vários cidadãos de Wukkar e provavelmente alguns visitantes
de fora do planeta que vieram para o Festival.
Ele fez uma pausa para tomar ar.
– Você é um contador de histórias divertido, no mínimo — comentou
Villachor, sem revelar nada na expressão. — Por favor, continue.
– Os arquivos de chantagem estão, obviamente, super encriptados - disse
Lando. - O aparelho usado para decifrá-los é chamado de cryodex, de design
alderaaniano, e apenas poucos deles ainda existem.
– Ou possivelmente nenhum - sugeriu Villachor.
– Não, existem pelo menos dois - garantiu Lando. - O mestre Qazadi tem um.
- Ele inclinou a cabeça. - Eu tenho outro.
O olhar de Villachor foi para Sheqoa, depois se voltou para Lando.
– Eu calculo pelo seu tom excessivamente dramático que você espera que isso
tenha algum significado para mim.
– Sim - concordou Lando. - E uma vez que ambos concordamos que o tempo
é precioso, deixe-me colocar as cartas na mesa. Eu represento um grupo de
pessoas que assumiu a tarefa de vasculhar o Império em busca de gente que
pense da mesma forma, cujos talentos e ambições estejam sendo subutilizados
ou, em alguns casos, completamente desperdiçados. Quando pessoas assim são
encontradas, esse grupo oferece melhores condições para elas. Às vezes, isso
envolve um posto em uma organização diferente, uma que as valorize mais. Em
outras ocasiões, significa dar ajuda para que elas caminhem sozinhas. Às vezes,
indicamos uma solução intermediária, um trabalho temporário ou talvez uma
autonomia tutelada.
– E se a pessoa está plenamente contente onde está? — perguntou Villachor.
Lando deu levemente de ombros.
– Pela minha experiência, ninguém que esteja trabalhando abaixo de suas
capacidades está plenamente contente.
– A não ser que a pessoa saiba que a atual situação é a melhor que
provavelmente terá.
– Sempre há algo melhor - falou Lando. - É simplesmente uma questão de
reconhecer a oportunidade quando ela chega.
– Você faz parecer tão fácil - disse Villachor secamente. - E tão desprovido de
um provável perigo. Fale sobre este seu suposto cryodex.
– Como eu disse, o cryodex é a chave para ler os arquivos de chantagem que
estão guardados em sua caixa-forte neste momento
– explicou Lando mantendo a voz firme. O plano inteiro de Han dependia de
que essa história fosse convincente. - Esses arquivos teriam um valor
imensurável para as pessoas que eu represento.
O sorriso de Villachor foi sombrio e irritadiço.
– E tudo que eu tenho que fazer é entregar os arquivos, e oportunidades
maravilhosas cairão do céu?
– Oportunidades maravilhosas, exatamente - confirmou Lando.
– O senhor seria capaz de literalmente cobrar o próprio preço, à sua escolha. -
Ele fez que não com a cabeça. - Mas nós dois sabemos que não cairiam apenas
oportunidades. O príncipe Xizor em pessoa provavelmente lideraria a expedição
atrás de sua cabeça.
– E da sua - salientou Villachor. - Porque eles certamente arrancariam todos os
nomes, rostos e memórias de mim antes que eu tivesse permissão para morrer.
– Ah, eu não tenho dúvida — concordou Lando em tom sombrio. — Por isso
o senhor seria um tolo se roubasse os arquivos, e por isso eu seria um tolo se
sugerisse tal coisa.
Villachor franziu levemente a testa.
– Neste caso, por que você está aqui exatamente?
– Para oferecer uma alternativa mais segura — disse Lando. — Não para
roubar os arquivos, mas para copiá-los.
Novamente, o olhar de Villachor se voltou para Sheqoa.
– Copiá-los - repetiu ele categoricamente.
– Exatamente - falou Lando. - O senhor tem os arquivos; eu tenho o cryodex.
Nós nos encontramos na caixa-forte, deciframos os arquivos e copiamos em
datacards padrão, talvez protegidos por nossas próprias encriptações, escolhidas
por nós.
– Nossas encriptações?
Lando ergueu a mão.
– Um ato falho. Suas encriptações, obviamente.
– Ótimo — disse Villachor em uma voz que novamente provocou um arrepio
nas costas de Lando. - Porque qualquer tentativa da sua parte de fazer uma cópia
exigiria que eu lhe matasse ali mesmo. Vamos dizer que eu tenha cópias dos
arquivos. O que acontece a seguir?
– Eu apresentaria o senhor aos cavalheiros dos quais lhe falei - Lando
conseguiu responder, com a garganta subitamente seca. - Vocês chegarão a um
acordo mutuamente satisfatório, e a ascensão à plenitude de seu potencial terá
começado.
– Sim - falou Villachor pensativamente. - Deixe-me lhe dizer o que eu acho.
Acho que você nunca viu um cryodex na vida, muito menos possui um. Acho
que você não tem organização alguma por trás, certamente nenhuma com algum
poder. Acho que está aqui simplesmente como um teste para ver se minha
lealdade ao Sol Negro pode ser subvertida por uma história tão ridícula e obtusa.
E acho que, só por cautela, eu terei que matá-lo.
Villachor se recostou novamente na cadeira.
– Vamos tentar de novo. Quem é você, e para quem você trabalha?
– Não há necessidade de ameaças — reclamou Lando brandamente, sentindo
um pouco da tensão ir embora.
A ameaça era real; porém, estranhamente, aquilo era um bom sinal, na
verdade. Se Villachor não estivesse interessado, ou pelo menos intrigado pela
oferta, ele simplesmente teria mandado Sheqoa expulsá-lo.
– Meu nome não é importante, mas o senhor pode me chamar de Kwerve. E
quanto aos meus empregadores... - Lando deu de ombros. - Por enquanto eles
devem permanecer anónimos.
– Que pena — falou Villachor. Talvez ele tivesse contraído a sobrancelha ao
ouvir o nome, mas a reação foi suficientemente pequena a ponto de Lando ter
apenas imaginado. - Teria sido útil saber para onde enviar seu corpo.
– E claro que o senhor não precisa se comprometer agora - continuou Lando.
— Eu não esperaria por isso. Daqui a dois dias é a Honraria ao Ar em
Movimento. Na ocasião, trarei meu cryodex para mostrá-lo. O senhor pode
selecionar um dos datacards de chantagem, e eu decifrarei um dos arquivos para
o senhor. Depois disso, conversaremos mais.
– Considerando que nós dois ainda sejamos capazes de conversar?
– Por que não seríamos? - contra-argumentou Lando com bom senso. — O
senhor não fez nenhuma declaração e não tomou nenhuma atitude que seja de
alguma forma desleal aos chefes do Sol Negro. Tudo que o senhor concordou em
fazer foi ver se um estranho que alega possuir um artefato valioso realmente o
possui. Se eu possuir, é possível que sua intenção seja comprar o artefato e
enviá-lo para o Centro Imperial como um presente para a coleção de raridades
do príncipe Xizor.
– Talvez - disse Villachor enquanto sondava o rosto de Lando com o olhar.
Lando ficou sentado calado, esperando Villachor analisar a proposta. Quando
veio a decisão, ela veio subitamente.
– Depois de amanhã, na quinta hora após o meio-dia - disse ele abruptamente.
- A tempestade presa será apresentada nesse horário e atrairá a atenção dos
visitantes para a seção noroeste das dependências. Você virá à porta por onde
está prestes a sair e esperará até que seja aberta. Você trará, obviamente, o
cryodex.
– Obviamente — concordou Lando, que começou a se levantar, mexendo os
quadris para soltar-se dos braços extremamente estofados da cadeira.
E abruptamente caiu sentado de novo quando a mão de Sheqoa empurrou
Lando para baixo com força.
– Se você planeja uma traição - continuou Villachor, em um tom de voz baixo
e mortal -, eu sugiro veementemente que, em vez disso, você saia de Wukkar no
transporte mais próximo.
– Compreendido. Eu verei o senhor depois de amanhã, às cinco horas após o
meio-dia. - Lando virou o pescoço a fim de olhar para Sheqoa. - Posso?
Por um momento, o grandalhão apenas o encarou com uma cara inexpressiva.
A seguir, ele soltou o braço de Lando. Com mais esforço e remelexo, Lando
finalmente se soltou da cadeira.
– Os homens do lado de fora vão acompanhá-lo à saída - falou Villachor, que
permaneceu sentado. — Até lá, mestre Kwerve.
– Até lá - confirmou Lando. — Uma observação final, se for possível. Nada
neste universo dura para sempre. Nem o poder, posto ou aliados. - Ele inclinou a
cabeça. — Nem mesmo o Sol Negro. - Lando transformou a inclinação de
cabeça em um aceno educado. - Bom dia, mestre Villachor.
Sheqoa o acompanhou até a porta e murmurou algumas palavras para os
guarda-costas que esperavam do lado de fora. Um deles gesticulou
silenciosamente para Lando, e sem dar uma palavra, eles o acompanharam por
um corredor largo, passaram por um par de portas entalhadas à mão e chegaram
a uma porta modesta em uma parede grossa, mas também modesta. Lando foi
conduzido através dela e se viu na extremidade sul da ala sul da mansão.
A mesmíssima porta, na verdade, por onde Aziel sempre entrava.
O que significava que, presumindo que a planta de Rachele estivesse correta,
Lando acabara de passar pelo salão de baile menor e pela caixa-forte de
Villachor.
Talvez em dois dias ele conseguisse ver o interior daquela caixa- forte, onde
Rachele e sua incrível teia de contatos e fontes ainda nem tinham conseguido
entrar.
Talvez em dois dias ele estivesse morto.
– Sim, é areia - disse o técnico com nojo, enquanto conduzia Kell e o droide,
ainda preso ao punho dele, por um labirinto de bancadas e armários de
ferramentas que batiam na cintura, na direção de um banco vazio perto dos
fundos. - É o terceiro hoje, e a Honraria mal começou. - Ele virou Kell de costas
e o sentou. — Você, curve-se - falou o técnico para o droide.
Obedientemente, o droide dobrou o corpo na cintura e colocou o punho e o
braço de Kell em um ângulo mais confortável.
– Pelo menos é só um dia - comentou Kell. - O resto das Honrarias deve ser
mais fácil para eles.
– Não creia nisso - resmungou o técnico, que repuxou o topo da luva do
droide e espiou a junta emperrada. - O ar em movimento levanta terra, poeira e
qualquer areia que os droides EG não tenham recolhido, a água em movimento
chega a lugares aonde a areia não chega, e nem me faça falar sobre o fogo e os
fogos de artifício. - Ele estalou a língua. - É, estou vendo. Espere... vou soltá-lo
num instantinho.
O técnico foi até um armário de ferramentas aberto e espiou lá dentro,
murmurando baixinho. Enquanto ele fazia isso, Kell olhou a oficina como quem
não quer nada.
Era um lugar impressionante, mais bem equipado até do que a maioria das
instalações de reparos de droides onde Kell estivera no decorrer dos anos. Em
uma das paredes laterais só havia equipamento de manutenção de ponta da
Cybot Galáctica, com máquinas intercaladas com armários de peças
sobressalentes e suportes de ferramentas. Plugadas às máquinas ou espalhadas
sobre bancadas próximas, havia partes parcialmente desmanteladas de personal
chefs 434-FPC, droides de trabalho EG e droides protocolares das séries PD e
3PO. O equipamento na outra parede lateral parecia ser dedicado a produtos da
Industrial Automaton, SoroSuub, Changli e GlimNova, com alguns droides
serviçais SE4 e trabalhadores ASP-15 em cima das mesas. Enfiado num canto,
parecendo um pouco esquecido, estava um droide garçonete WA-7 que
certamente era uma sobra da época da República, provavelmente esperando por
peças sobressalentes que Kell julgava estarem esgotadas havia muito tempo.
Mais agourenta, uma seção inteira da parede dos fundos era dedicada a
equipamentos dos droides policiais 501-Z. Um Z parcialmente desmontado
estava espalhado sobre uma das mesas, e Kell prestou atenção à estranha placa
do braço, coxa e cintura.
– Lá vamos nós - disse o técnico ao tirar uma sonda comprida e fina de um
armário.
Ao voltar para Kell, ele enfiou a sonda dentro da luva do droide. Após alguns
segundos mexendo aqui e ali, de repente a força no pulso de Kell diminuiu. O
técnico afastou os dedos mecânicos alguns centímetros, e Kell soltou a mão.
– Maravilha - falou Kell enquanto massageava o pulso. - Muito obrigado. Eu
temia passar toda a Honraria preso aqui.
– Não, quem vai passar sou eu - disse o técnico em tom amargo. - Da próxima
vez que o senhor vir um droide tentando pegar alguma coisa, faça-me um favor e
fique longe dele, ok?
– Pode deixar - prometeu Kell. - Aquela é a saída, certo?
– Certo - respondeu o técnico. - O guarda do lado de fora irá levá-lo de volta
ao pátio.
A grande erupção do géiser foi o clímax do dia inteiro, tão espetacular quanto
os projetistas e técnicos prometeram que seria. Várias torrentes de areia e
pequenos seixos irromperam do maior dos vulcões de lava fria e se misturaram
às luzes e brasas e aos fogos de artifício que brilhavam entre eles, tudo isso
acompanhado por música especialmente encomendada para o evento. A multidão
estava tão animada quanto o próprio géiser, e as pessoas vibravam, batiam
palmas e urravam a cada nova nuance ou reviravolta. Era o apogeu da Honraria à
Pedra em Movimento, visto por milhares de pessoas e que certamente seria
comentado por outras milhares nos próximos dias e meses.
Sozinho na sacada de apresentação, Villachor mal notava o espetáculo.
Kwerve. Era assim que o misterioso visitante se chamara. Um nome inócuo,
certamente. Um nome que a enorme maioria das pessoas não acharia nem um
pouco incomum ou interessante.
Mas Villachor não era a maioria das pessoas. Ele era um chefe de setor do Sol
Negro, e as pessoas em sua profissão sinistra ficavam de olho umas nas outras.
Bidlo Kwerve fora um dos principais agentes de Jabba, o Hutt, até que Jabba
decidiu torná-lo a primeira vítima oficial de seu novo rancor de estimação. Uma
criatura que, se as histórias fossem verdade, o próprio Kwerve encontrara e
ajudara a dar ao gângster corpulento.
Então por que o visitante de Villachor escolhera aquele nome? Será que estava
dizendo que trabalhava para os Hutts? Que não estava trabalhando para os
Hutts? Que o objetivo principal daquela operação era derrubar os Hutts?
Se fosse o caso, parte do objetivo seria colocar Villachor no vácuo da
organização que seria deixado pela morte de Jabba?
O detalhe maluco era que isso realmente seria possível. Os arquivos de
chantagem de Xizor estavam longe de ser a única arma do Sol Negro, mas
certamente eram uma das mais potentes. Ser capaz de atingir aquela população
do exército silencioso de Xizor daria uma imensa vantagem para um rival, quer
esse rival escolhesse afastar uma das pobres vítimas ou simplesmente expô-la, e
desse modo eliminar sua utilidade para o Sol Negro.
Kwerve também estava certo a respeito de outra coisa. No momento, o Sol
Negro estava no ápice de seu poder, mas aquela posição não duraria para
sempre. Senhores do crime e organizações subiam e desciam como as marés,
destruídos por rivais gananciosos ou corrompidos e implodidos pela própria
ganância. Essa mesma combinação de caos e morte havia derrrubado Sise
Fromm, Alexi Garyn, Jorj Car’das e inúmeros outros. Algum dia Jabba também
cairia.
Assim como o próprio príncipe Xizor. Provavelmente até mesmo antes de
Jabba, considerou Villachor, dada a intensa rivalidade de Xizor com Lorde
Vader. Muitos senhores do crime menosprezavam Vader ou o descartavam como
um mero lacaio de Palpatine. Villachor sabia que não devia fazer isso.
E quando Xizor caísse, como ficaria Villachor?
Vivo, bem e em algum lugar seguro, ele se prometeu com firmeza. Villachor
se certificaria disso. Ele sobreviveria ao Sol Negro, e se possível até prosperaria
durante o processo.
Será que a oferta de Kwerve era a porta para aquela liberdade? Ou era
simplesmente outro teste sádico, e a suposta porta não levaria a lugar algum, a
não ser à morte súbita?
Villachor ainda não sabia, mas descobriria.
De uma forma ou de outra, ele terminaria o Festival em uma posição melhor
do aquela que em que estava no início. Villachor teria poder e liberdade ou teria
um cryodex sobressalente para oferecer a seu senhor no Centro Imperial. Um
cryodex e muito provavelmente uma cabeça recém-cortada.
Deixe Qazadi ousar testá-lo então.
11
12
– Onith três besh - repetiu Eanjer gesticulando para Rachele. - Mais alguma
coisa?... Certo. Obrigado. - Ele desligou.
– Era o seu contato? - perguntou Han.
– Sim - respondeu Eanjer, sustentando o olhar de Han com o único olho por
apenas um segundo antes de se virar para Rachele.
E se virou com o que pareceu estranhamente um lampejo de culpa e incomodo
no rosto.
Han também não foi o único que notou.
– Engraçado como ele por acaso testemunhou aquele airspeeder decolar -
comentou Dozer com a voz cheia de desconfiança. - E suficientemente perto
para ver a placa com os próprios olhos nus.
– Porque não havia outro jeito de ter visto aquele número - concordou Tavia. -
Não todo coberto por pó brilhante.
– Ele tem acesso a determinados recursos - explicou Eanjer. - Do que vocês
estão reclamando? Nós temos a placa, não temos?
– Esta não é a questão, é? - contra-argumentou Dozer. - Podem me chamar de
paranoico, mas eu gosto de saber um pouquinho a respeito das pessoas com
quem estou trabalhando. Especialmente uma vez que informação de graça
geralmente vem com ganchos.
– Ah, eu não consegui de graça - disse Eanjer em tom pesaroso. - Acredite.
Vou pagar o olho da cara por essa pequena gema.
– Aqui está - falou Rachele. - Ora, ora. Parece que nossos sequestradores estão
passeando em um veículo policial da Cidade de Iltarr, sem identificação.
– A polícia está atrás de nós? - perguntou Kell, soando espantado. - Ah, que
beleza.
– Talvez não - disse Tavia. — Lembrem-se de que muitos policiais locais
estão na folha de pagamento do Sol Negro. Isso pode ser alguma manobra de
Villachor para tirar mais informações de Lando.
– Mas por que tirá-lo da mansão em vez de simplesmente mantê-lo lá dentro e
apertá-lo? - perguntou Winter. - A não ser que Han esteja certo sobre Villachor
estar tentando ver quem mais pode estar com Lando.
– Eu não sei - interrompeu Rachele, cujos dedos ainda dançavam sobre o
teclado. - Mais eis aqui a parte interessante. Eu ouvi rumores sobre um
interrogatório policial sigiloso e muito extraoficial que ocorre em uma fábrica
abandonada na área industrial a cerca de 10 quilómetros a leste do espaçoporto.
Aposto que é para lá que eles estão indo.
– Não sei - falou Eanjer incrédulo. - Meu contato disse que eles estão apenas
voando a esmo. Se eles têm um lugar para ir, por que simplesmente não vão lá?
– Porque precisam garantir que não estão sendo seguidos - respondeu Tavia.
– Melhor ainda - disse Han com uma ideia começando a se formar na mente.
Se eles realmente soubessem aonde os sequestradores estavam indo, e se ele e os
demais tivessem tempo para se preparar antes que os sujeitos chegassem lá... -
Eles precisam chamar um especialista em bombas para abrir aquele estojo.
– Você tem razão — falou Kell, com um toque de empolgação crescendo na
voz. - Se eles estiverem esperando pelo especialista antes de pousar, talvez a
gente consiga chegar antes à fábrica.
– Faz sentido - disse Rachele. - Assim que pousarem, eles estarão vulneráveis.
Desse jeito, eles ficarão em movimento durante o tempo todo até estarem
prontos para resolver o caso.
– Eu não sei - alertou Dozer olhando para os demais no aposento. - Sem
querer ofender, mas mesmo com uma vantagem de sete contra dois, eu não gosto
de nossas probabilidades.
– Está mais para três contra dois - disse Han. - Eu, você e Chewie.
– Espere - reclamou Rachele. - Se você acha que o restante de nós vai
simplesmente ficar de fora, está muitíssimo enganado.
– Rachele tem razão - falou Winter com firmeza.
– Não sobre ela - retrucou Han com a mesma firmeza. - Rachele é muito
conhecida na cidade. Se alguém a vir, ela está ferrada, com certeza. - Ele
gesticulou. - O mesmo vale para Eanjer. E com Bink ainda no terreno de
Villachor, não podemos arriscar que alguém descubra que ela tem uma gêmea,
Tavia, o que deixa você de fora.
– Ainda sobram Kell e eu - salientou Winter.
– Certo - falou Dozer sarcasticamente. - E suas especialidades em combate
são?
– Eu conheço o bastante para saber que seria bom termos algum poder aéreo -
disse Kell. - Se você conseguir alguma espécie de atmocaça, eu sei pilotar.
Dozer franziu a testa para Han, depois voltou a encarar Kell.
– Você está brincando.
– De maneira alguma - respondeu Kell.
– Ele sabe - apoiou Winter - Eu já o vi voar.
– A não ser que você ache que não consegue roubar algo do gênero a tempo -
disse Han. O plano nebuloso começava a se formar...
Dozer empertigou os ombros.
– Onde você quer que eu entregue?
– Apenas roube e mantenha o atmocaça em algum lugar no espaçoporto até eu
ligar para você. - Han digitou no comlink. - Chewie? Preciso que você volte
aqui. Você vai pegar Dozer e Kell e ir ao espaçoporto. Temos um plano.
Ele recebeu uma resposta afirmativa e desligou.
– Rachele, preciso que você descubra algumas armas automáticas pesadas
para mim. Tavia, preciso que você arme alguns disparadores remotos para elas.
– Sem problema, eu já tenho um bando de controles remotos - respondeu
Tavia ao se levantar e correr na direção de seu quarto.
– Ótimo — falou Han. — Rachele, você consegue localizar algumas armas?
– Não há necessidade - disse Winter. - Eu já sei onde há um depósito.
Han olhou fixamente para ela.
– Sério? Como?
Winter deu de ombros.
– Eu cheguei aqui um dia inteiro antes de você — salientou ela. — Não fiquei
sentada apenas, sem fazer nada.
– Creio que não — admitiu Han. — Que tipo de segurança tem o depósito?
– Nada que não possamos encarar — respondeu Winter. — E o mostruário de
um Rodiano que se acha um contrabandista de armas em franca ascensão. É
pequeno, mas devemos conseguir encontrar o que precisamos.
Tavia reapareceu com uma pochete preta na mão.
– Aqui estão oito disparadores remotos - disse ela ao entregar a pochete para
Han. — Espero que sejam suficientes.
– Obrigado - falou ele enquanto espiava o interior da pochete. Disparadores
padrão, acionáveis por comlink. - Winter?
– Oito devem servir — confirmou ela.
– Ótimo - disse Han ao fechar a pochete novamente. - Vamos, pegaremos o
outro airspeeder. Rachele, veja se consegue acessar alguma planta daquela
fábrica. Se conseguir, mande para mim e Chewie.
– Pode deixar. - Rachele se debruçou novamente sobre o computador.
– Todos vocês têm o que fazer - falou Han para os demais. - Ao trabalho.
A fábrica era velha, estava caindo aos pedaços, tinha três andares com tinta
descascando e janelas com camadas de poeira de décadas e arranhões
provocados pelo vento. Era o tipo de lugar que ninguém olharia duas vezes, onde
ninguém gostaria de entrar e que absolutamente ninguém jamais gastaria suados
créditos para alugar.
O que o tornava o lugar perfeito para uma força policial instalar uma sala de
interrogatório por baixo dos panos.
– Você sabe que vai disparar esses troços às cegas - alertou Winter quando
eles armaram o quinto dos seis fuzis de raios de repetição E-Web que foram
roubados do depósito do contrabandista de armas. - Se você tentar conectar esses
gatilhos aos eletrobinóculos e ao sistema de mira, o fluxo de dados será óbvio
demais para o outro lado deixar de notar. Eles vão rastreá-lo até você, e aí será o
fim.
– Eu sei - falou Han. - Ainda bem que eu não me importo se a gente realmente
acertar alguma coisa.
Winter fez uma longa pausa e olhou feio para ele.
– Você não planeja acertar alguma coisa? Então por que trouxemos as armas,
afinal?
– Porque elas são ótimas para fazer barulho - respondeu Han ao se abaixar
para prender um dos gatilhos de Tavia ao mecanismo de disparo. - Algo para
fazer todo mundo olhar para as direções erradas. Chewie e Kell vão infligir todo
o dano de verdade.
– Tomara que seja apenas onde eles devam infligir - murmurou Winter.
– Chewie dá conta do recado. - Han olhou para Winter pelo cano do E-Web. -
A pergunta é: e Kell?
– Eu disse que já o vi voar.
– Sim, mas você não disse que o viu voando em combate - salientou Han. -
Você o conhece bem, afinal de contas?
Winter deu de ombros ao terminar de firmar o tripé do E-Web e subir
novamente no airspeeder.
– Ele se juntou a Mazzic há mais ou menos seis meses, dois meses depois de
mim. Kell parece competente e leal o bastante, mas tenho a impressão de que ele
tem alguma história por trás. Um lance de família, provavelmente.
– É, bem, quem não tem? - resmungou Han ao entrar no airspeeder ao lado
dela.
Ele ligou os repulsores, decolou e foi para o ponto que escolhera para colocar
a última arma.
– E ele não falou especificamente - acrescentou Winter com hesitação -, mas
acho que Kell também é Alderaaniano.
Han sentiu o lábio se contorcer. Leia fingira não se abalar, tanto durante a fuga
da Estrela da Morte quanto depois. Porém, durante tudo aquilo, mesmo quando
ela estava dando parabéns a ele e a Luke pela vitória em Yavin, Han notara o
sofrimento profundo e duradouro por trás dos olhos dela.
Ele tinha reconhecido o mesmo sofrimento em Winter. E agora que pensava a
respeito, Han se dava conta de que ela tinha razão. Kell carregava o mesmo
fardo na memória.
Han tinha provado daquele sofrimento, embora não no mesmo nível que Leia,
Winter e Kell, e sabia muito bem que aquilo provocava alguns efeitos nas
pessoas. Às vezes o sofrimento as deixava deprimidas, indiferentes ou letárgicas.
Às vezes as deixava permanentemente furiosas e incapazes de se importar com
alguém ou alguma coisa por muito, muito tempo.
Às vezes o sofrimento as tornava temerariamente suicidas.
– Não se preocupe, ele vai se sair bem - assegurou Winter. - Kell sabe o que
está em jogo e compreende seu dever. O que quer que você tenha dito para ele
fazer, Kell fará.
– Bem, se não fizer, ele vai se entender com Lando - disse Han. O comlink
tocou, e ele o tirou do cinto. - Chewie? E aí?
Desta vez, as notícias eram boas.
– Ótimo - respondeu Han olhando o céu.
O trânsito de airspeeders nas principais rotas do centro da cidade ao sul e a
oeste estava intenso como sempre, e havia um fluxo constante de veículos indo e
vindo nas áreas interurbanas menos populosas, ao norte e a leste. Mas nada
parecia estar vindo na direção deles naquele momento.
– Você e Kell, esperem pelo meu sinal - falou Han. - E mande Dozer vir aqui
imediatamente; é melhor que ele ajude com os E- Webs.
Han recebeu uma confirmação e desligou.
– Dozer provavelmente preferiria ficar esperando no espaçoporto - comentou
Winter.
– Eu não dei escolha para ele.
– Talvez devesse dar - disse Winter. - De todo mundo no grupo, ele é quem
mais me preocupa.
– Ele não tem problema - falou Han. - Só está se sentindo um pouco fora do
que sabe fazer, apenas isso.
– Um ladrão de naves que não teve que roubar nave alguma até agora - disse
Winter acenando com a cabeça. - Então por que você o trouxe?
– Ele seria o testa de ferro até Lando aparecer - respondeu Han enquanto dava
a volta com o airspeeder e parava ao lado do motor quebrado e coberto por
poeira de uma esteira rolante.
– Isso significa que ele guarda mágoa de Lando? - insistiu Winter ao sair e
pegar o cano do último E-Web.
– Dozer, não - garantiu Han ao pegar a outra ponta e ajudá-la a tirar a arma do
porta-carga do airspeeder. - Pague a Dozer os mesmos créditos por metade do
serviço, e ele voltará para casa rindo. Vamos colocar essa aqui do outro lado
daquele regulador.
Eles estavam na metade da montagem do E-Web quando Han notou um
airspeeder saindo do céu da noite e vindo na direção dos dois. Por um instante
ruim, Han achou que eles tivessem estourado o tempo, mas assim que o veículo
se aproximou, ele viu que era um airspeeder do grupo.
O veículo pousou, e Dozer saiu.
– Como estamos aqui? - perguntou ao se aproximar a passos largos.
– Quase terminando - respondeu Han. - Chewie disse que você conseguiu
alguma coisa para Kell?
– Melhor do que apenas alguma coisa — disse Dozer enquanto protegia os
olhos da massa de luzes da cidade a oeste ao olhar para a fábrica. - Encontrei um
Z-95 Headhunter para ele. Uma versão AF-4 ainda por cima, com todos os
recursos de que a pessoa precisa para transformar prédios antigos em pilhas de
poeira. — Ele gesticulou. - Porém, se aquele é o alvo, eu provavelmente teria
dado duas pistolas sónicas para Kell e encerrado o assunto. Onde você me quer?
– Ali - falou Han apontando na direção de um barracão meio desmoronado. -
Deve ter espaço suficiente para você e o airspeeder ali dentro. Você cuidará dos
dois E-Webs deste lado. Winter e eu estaremos no outro lado, com quatro.
– OK — respondeu Dozer hesitante. - Então vamos atacar quando eles
entrarem?
– Não - disse Han. - Vamos esperar que eles entrem.
– Ah - falou Dozer com mais hesitação ainda. - E assim que abrirmos fogo,
como nós vamos evitar que tudo isso desabe em cima deles?
– Na verdade - respondeu Han -, nós não vamos.
13
Kell fez uma careta quando pedaços da parede que ele acabara de explodir
bateram e quicaram no canopi do Z-95. Ele definitivamente passara raspando por
essa. Algo a se lembrar para a próxima vez.
Considerando que haveria uma próxima vez. Kell mal tinha acabado de passar
pelos destroços da explosão quando subitamente a parte de baixo do Z-95 foi
alvejada por um intenso tiroteio de raios. A primeira hipótese automática foi que
a mira de Han e Dozer dera defeito, mas um segundo depois Kell se deu conta de
que o ataque vinha dos homens ao lado dos outros dois airspeeders lá embaixo.
Um ataque intenso também. As armas de raios que eles disparavam eram
extremamente poderosas, muito além da capacidade de um equipamento civil.
Mesmo a blindagem do Z- 95, feita para combate espacial pleno, estava
rangendo e estalando sob o assalto furioso.
Teria sido extremamente satisfatório voar a toda velocidade até a outra ponta
da fábrica, virar o caça e acertar todos eles com um contra-ataque dos canhões
laser KX5. Mas Kell não podia arriscar. O ataque dos E-Webs havia mostrado
que a fábrica era perigosamente instável. E o escapamento do motor e o calor
osaquecimento imediato necessário para montar tal ataque, poderia ser
derrubado em todo o lugar. Seria um resgate bastante patético se Lando e Zerba
fossem esmagados até a morte por terem ficado presos na casca de um
hovercraft.
Felizmente, esse problema estava prestes a ser resolvido.
– Homens maus aos sessenta e cinco e setenta e seis anos — ele gritou,
enquanto o lutador girava alguns graus enquanto disparava a distância para ter
uma visão melhor do chão da fábrica. Ele levou um momento para olhar para a
tela, para a planta que Rachele lhe enviara e para a rede de orientação que
Chewbacca havia sobreposto. Amigável aos cinquenta e oito. Alvo para o
bombardeio: sessenta e sete. Eu repito: branco para bombardeio, sessenta e sete.
A parede dos fundos estava se aproximando rapidamente. A parte do plano
projetada para ele contemplava disparar outra explosão, fazer um novo buraco e
partir antes que pudesse ser abatida. Em vez disso, ele soltou o pé no acelerador,
deslizou para o lado para fazer uma curva rápida, a fim de matar o impulso da
inércia que o estava levando para frente e finalmente parar. Era arriscado, e
Chewie provavelmente teria algo a dizer sobre isso depois, se eles
sobrevivessem.
Mas o plano de Han era tão insano, e sua execução tão impossível, que ele só
teria ficado vagando por aí, para ver por si mesmo se realmente tinha alguma
chance de trabalhar.
Para algumas coisas na vida, valeu a pena arriscar tudo. Para o resto... bem,
sempre foi uma questão de critérios.
14
15
– Pense nisso como uma apólice de seguro - falou Han. - Sua própria coleção
de arquivos de chantagem, já decifrados e prontos para uso pessoal.
– Você quer dizer minha própria execução - disse Villachor em tom sombrio.
— Se eu tivesse tais cópias e o Sol Negro algum dia descobrisse a respeito, eu
estaria morto dentro de horas. Possivelmente dentro de minutos.
– Possivelmente - concordou Han.
Villachor já havia mencionado a rápida retaliação do Sol Negro duas vezes
durante a conversa. Pelos rumores que Han ouvira com o passar dos anos, ele
tinha certeza de que não era um exagero.
Mas Villachor continuava escutando.
– Por outro lado, não há motivo para que algum dia eles descubram -
continuou Han. - Eu trago o cryodex, nós fazemos cópias, e você as coloca em
algum lugar seguro. Talvez misture com todos os outros documentos
criptografados.
– Sim - murmurou Villachor. - Você sabe, imagino eu, que seu colega Kwerve
já fez essa sugestão.
– Eu sei - disse Han. - Pensei que valeria a pena fazer de novo.
– Valeria do meu ponto de vista, talvez — falou Villachor. — Você oferece o
que aparenta ser um negócio atraente, e no entanto não pede nada em troca?
Han deu de ombros e respondeu:
– É um gesto de boa-fé. Claro, nós estamos interessados nos arquivos, mas
estamos muito mais interessados em você pessoalmente. Se esse tipo de acordo
fizer com que você se junte a nós, vamos considerar que é um investimento
válido a longo prazo.
Os dois deram mais alguns passos antes de Villachor falar novamente.
– Deixe-me oferecer um meio-termo — sugeriu ele. - Quando você trouxer
seu chefe, traga também o cryodex. Eu o verei funcionar mais uma vez e
permitirei que façam cópias de cinco arquivos, que vocês poderão levar consigo.
— Ele deu um sorrisinho. — Considere isso meu gesto de boa-fé.
– Parece razoável — disse Han acenando lentamente com a cabeça como se
considerasse a sugestão.
As rachaduras começavam a surgir na determinação de Villachor: Han podia
ouvi-las na voz do homem.
Mas aquelas rachaduras não eram muito grandes. A não ser que algo drástico
acontecesse nos próximos dois dias, Villachor não estaria disposto a desertar do
Sol Negro ou mesmo transferir os arquivos de chantagem para fora da caixa-
forte.
O que significava que eles teriam que seguir com o plano original, afinal de
contas. Eanjer ficaria contente com isso.
– Tudo bem - falou Han. - Deixe-me consultar meu chefe e ver o que ele diz.
Villachor deu um muxoxo de desdém.
– Mais atrasos.
– Não dá para evitar - disse Han. - Se isso ajuda, estamos tão ansiosos para
encerrar essa situação quanto você.
– Tenho certeza de que estão. — Villachor suspirou de modo audível quando
parou. - Posso esperar receber alguma mensagem sua na Honraria ao Fogo em
Movimento, depois de amanhã?
– Com certeza - prometeu Han. - Se eu não puder trazer o chefe para vê-lo na
ocasião, ao menos trarei uma sugestão de quando vocês dois poderão se
encontrar.
– Muito bem - falou Villachor. Ele olhou nos olhos de Han, e por um
momento Han ficou surpreso com a intensidade vista ali. - Estamos no
precipício, meu amigo. Riquezas e poder incomparáveis, ou uma morte lenta e
assustadora. Tenha muita certeza de que deseja continuar.
Com um esforço, Han sustentou o olhar de Villachor. Não, ele não queria a
morte, rápida ou lenta. Mas também não queria riquezas e poder, pelo menos não
do tipo que Villachor estava falando. Tudo que Han queria era ficar livre de
Jabba e depois liberdade para fazer o que bem quisesse.
Mas esse ainda era o caminho para aquele objetivo.
– Eu tenho - respondeu ele com firmeza.
– Ótimo. - O olhar intenso como laser de Villachor sumiu. — Até a Honraria
ao Fogo em Movimento, então.
Han concordou com a cabeça.
– Bom dia, mestre Villachor.
Ele se forçou a caminhar tranquilamente por todo o caminho até o portão. Os
seguranças ali tinham sido obviamente alertados, e eles observaram Han com
atenção enquanto ele passava. Mas nenhum fez movimento algum para detê-lo.
Mesmo assim, ele tomou o cuidado de seguir o caminho em zigue-zague que
Dozer havia criado para voltar à suíte. Só por precaução.
Sheqoa tentou esconder, mas pela mudança de expressão na última hora, Bink
sabia que a tarde tinha sido um fracasso.
Não que ela estivesse realmente surpresa. Bink e Lando haviam interpretado
seus papéis perfeitamente, equilibrando o reconhecimento culposo com a ação
oposta, porém igualmente suspeita, de ignorar completamente um ao outro. Ela
ficara um pouco preocupada de ser jogada contra Dozer por Sheqoa, mas pelo
que percebera ouvindo as comunicações via comlink de Sheqoa, parecia que
Dozer havia saído de Marblewood antes que alguém conseguisse capturá-lo.
Dado o mau humor cada vez maior de Sheqoa, Bink decidiu, enquanto
tagarelava alegremente, que ele provavelmente gostaria de um bom abraço
caloroso.
– Então, aí... ai, minhas estrelas, olha a hora — disse ela olhando o relógio. -
Sinto muito, Lapis, mas tenho que ir. Meu chefe está com alguns clientes
Anomids na cidade e quer que eu o ajude a levá-los para um restaurante de luxo.
Você sabe como Anomids são
curiosos a respeito de novas culturas.
– Se ele quer mostrar a cultura de Wukkar para os Anomids,
deve trazê-los aqui - respondeu Sheqoa, com a mente claramente em outras
coisas.
– Foi o que eu disse - falou Bink, balançando o dedo para enfatizar. - Mas meu
chefe é teimoso e sempre procura uma desculpa para comer comida cara. Você
vai estar aqui para a Honraria ao Fogo em Movimento, não vai?
Com um esforço evidente, Sheqoa voltou o olhar e a atenção para ela.
– Claro - respondeu ele com um leve sorriso. - E você?
– Não perderia por nada na galáxia — prometeu Bink. — Eu vejo você em
dois dias, então.
Ela se aproximou e abraçou Sheqoa, com cuidado para não prender o braço
direito dele, e se espremeu contra seu peito.
– Eu tive um dia maravilhoso — murmurou Bink no pescoço de Sheqoa. -
Obrigada por tudo.
O primeiro reflexo dele foi ficar rígido de surpresa. O próximo, uma fração de
segundo depois, foi começar a relaxar e curtir o toque de Bink. O terceiro, após
uma fração de segundo ainda menor, foi se lembrar de que estava de serviço e
afastá-la delicadamente, mas com firmeza.
E dentro de todas aquelas reações, ela finalmente identificou o cheiro que
sentira antes.
– Vejo você então - falou Sheqoa com as mãos nos ombros dela ao mantê-la
afastada.
Por um momento ele olhou para Bink, depois deu meia-volta e desapareceu na
multidão. Bink também deu meia-volta e foi para o portão. Então, além de
desconfiar dela - o que ele certamente deveria fazer —, Sheqoa também decidira
bancar o espertinho com ela. O cheiro que ele percebera era um traço de tinta,
uma camada invisível de tinta que deixava manchas indeléveis nos dedos da
pessoa que a tocava e que brilhavam com luz ultravioleta.
Não foi surpresa; Sheqoa suspeitou de sua atenção extasiada, era apenas para
ser feito com a chave que ele tinha pendurado na gola em cadeia em torno de seu
pescoço, e ele pretendia obter provas de sua culpa no momento ela tentou agarrá-
lo. Simples, diabólico e praticamente infalível.
Bink sorriu para si mesma. De certo modo, ele quase sentiu pena dele.
16
17
A manhã surgira com um raiar do sol pleno, sem nuvens, e todos os sinais de
um dia glorioso à frente. Algumas nuvens brancas tinham aparecido por volta do
meio-dia, mas foram embora no início da tarde. Naquele momento, com o sol
quase no horizonte e o céu ao leste já começando a escurecer, havia todos os
sinais de que os fogos de artifício que encerrariam a Honraria ao Fogo em
Movimento ocorreriam contra a noite totalmente estrelada.
Era um bom dia para ganhar 163 milhões de créditos, pensou Han.
Não seria um dia tão bom para sair de mãos abanando. Seria um dia realmente
péssimo para levar um tiro. Ele fez uma careta de desdém ao passar pela
multidão conversando alegremente, ao ouvir as pessoas exclamando diante dos
jatos de chamas e tornados de fogo que cruzavam o ar acima das dependências
de Marblewood. O humor de Han tivera altos e baixos naquele dia, indo do
otimismo insano ao medo paralisante de que eles estivessem a caminho de um
fracasso catastrófico. Naquele momento, ao caminhar em direção à mansão, com
os prédios mais altos da cidade por trás, o humor pendia para o lado do mau
pressentimento.
O que não fazia sentido algum. Han fizera tudo que era possível. O
equipamento estava pronto, ele repassara todos os detalhes do plano e, por
habilidade ou pura sorte, Han havia conseguido juntar a equipe perfeita para
executá-lo.
Talvez esse fosse o problema. Talvez a equipe fosse boa demais. Tirando o
planejamento geral, não havia realmente muita coisa para o próprio Han fazer.
Na verdade, assim que ele entregasse o datacard especialmente preparado para
Villachor, sua parte estaria encerrada. Han voltaria para a suíte, se sentaria em
uma poltrona confortável ao lado da janela e observaria tudo se desenrolar
embaixo dele através de eletrobinóculos. Ele ficaria com toda a espera, todo o
estresse e preocupação e nada da ação.
Han fez uma careta de desdém um pouco maior. Ele estivera no comando
quando ele e Chewie fizeram a rota de Kessel. Era ele na cabine de tiro quando
havia piratas ou mercenários que precisavam ser expulsos a tiro das costas da
Falcon.
E embora Han tivesse passado a maior parte do lance de Yavin sentado
tranquilamente com o sol nas costas, ele sabia que, quando chegasse a hora, seria
ele quem surgiria para derrubar a tiros aqueles caças TIE da cola de Luke.
Han não estava acostumado a ficar sentado esperando enquanto outra pessoa
qualquer se divertia. Mas, para variar na vida dele, Han teria que se conformar
com aquilo.
Como sempre, não foi difícil encontrar Villachor. Tudo que blan teve que tazer
toi oinar para o ponto onde estavam as atrações de fogo mais complexas e
descobrir que caminho as pessoastomavam quando não estavam olhando para o
fogo ou indo em direção às barracas de comida e bebida. Como a maioria dos
figurões que Han conhecera, e praticamente todos os chefões do crime, Villachor
gostava de ser bajulado.
Como era de se esperar, o homem e dois guarda-costas estavam na horda de
uma multidão que olhava boquiaberta para um chafariz de fogo que parecia
igualar precisamente o fluxo e os movimentos do chafariz de água que estivera
ali dois dias atrás. Um belo truque, Han teve que admitir enquanto esperava a
fila de simpatizantes em volta de Villachor diminuir.
Finalmente houve um momento de calma.
– Ah - falou Villachor quando Han foi até ele, com um tom meio estranho na
voz. - Fiquei me perguntando se você viria.
– Eu disse que sim - lembrou Han. - Eu trouxe...
Ele se interrompeu quando um dos guardas surgiu por trás e uma coisa dura
foi pressionada contra a lateral do seu corpo. Um segundo depois, o outro guarda
se juntou ao companheiro e segurou os braços de Han com firmeza.
Ele olhou para os homens e a seguir para Villachor.
– Você está brincando.
O lábio de Villachor tremeu.
– Tranquilo, por obséquio - disse ele.
Villachor deu meia-volta e foi para uma das portas de serviço da mansão,
seguido por Han e pelos guarda-costas.
Han não viu nenhum dos outros seguranças pelo caminho. Aparentemente,
Villachor queria manter a situação em sigilo até mesmo para o próprio pessoal.
O motivo para isso ficou rapidamente claro. Havia três Falleens esperando no
interior, a alguns metros da porta. O do meio usava um robe esmerado com
camadas e uma longa faixa ornamentada. Provavelmente o tal Qazadi que Eanjer
mencionara, especialmente porque os dois Falleens que o flanqueavam tinham a
aparência durona de guarda-costas. Por meio segundo, Han pensou em tentar dar
a primeira palavra, depois decidiu que o silêncio calmo seria a melhor maneira
de agir.
Provavelmente foi melhor assim, porque Qazadi claramente queria a primeira
palavra para si.
– Aqui está ele - disse o Falleen antes de a porta sequer ter se fechado atrás do
pequeno grupo. - O humano que, na arrogância e no orgulho, pensa que pode
subverter a lealdade jurada de um agente do Sol Negro.
Han olhou para Villachor. A expressão dele estava controlada, mas havia suor
na testa.
– Eu sou apenas um funcionário, mestre Qazadi - falou Han, se voltando para
o Falleen. - Eu não tenho permissão para ter arrogância ou orgulho. Só transmito
mensagens.
– Talvez eu deva transmitir uma mensagem minha - sugeriu Qazadi
calmamente. - Seu corpo, por exemplo, destroçado em pedacinhos de carne e
osso. Será que uma comunicação dessas daria uma mensagem clara o bastante
sobre o preço de nos desafiar?
Han engoliu em seco. Ele sentiu o coração disparar enquanto a onda de medo
se aproximava rapidamente do pânico.
Eram os feromônios do Falleen, Han sabia, que o levavam àquela emoção.
Mas saber aquilo não adiantava nada.
– Tenho certeza de que há melhores maneiras de conseguir o que o senhor
quer - respondeu ele, mantendo a voz tão calma
quanto possível.
– O que eu quero? - perguntou Qazadi ao erguer as sobrancelhas fingindo
surpresa. - O que o faz pensar que eu quero alguma coisa além da sua morte e a
de todos em sua organização?
– O fato de o senhor estar falando, e não atirando. - Han ergueu as mãos,
basicamente o único gesto que podia fazer com os braços ainda seguros pelos
guarda-costas de Villachor. - Então?
Qazadi deu um sorrisinho.
– Ele realmente é esperto, mestre Villachor - comentou o Falleen. - Muito
bem. Eu quero o cryodex.
Mesmo sabendo que aquele seria o pedido de Qazadi, Han ainda sentiu uma
nova onda de medo.
– E em troca? - perguntou ele, também sabendo qual seria a resposta do
Falleen.
Han estava certo.
– Uma morte rápida - disse Qazadi. - Ou, dependendo do que você me contar
sobre seu pessoal e seus recursos, há uma chance muito remota de você de fato
sair de Marblewood com a vida intacta.
– Parece um acordo razoável - falou Han. - Eu preciso ligar para meu contato.
Qazadi fez um pequeno gesto, e os guardas soltaram os braços de Han. Ele
puxou o comlink e digitou o número de Lando.
Lando não gostaria daquilo. Nem um pouco.
– Mas por que levaram Han para dentro? - perguntou Rachele preocupada,
com os eletrobinóculos enfiados no rosto, parada diante da janela da sala de
estar. - Tudo que ele tinha que fazer era entregar um datacard. Por que não
fizeram isso lá fora?
– Talvez Villachor quisesse privacidade - disse Lando, imaginando se a
desculpa parecia tão esfarrapada para os outros quanto para si.
Pareceu que sim.
– Desde quando? - indagou Winter. A voz estava mais controlada do que a de
Rachele, mas Lando notou a mesma preocupação. - Até agora, ele sempre
preferiu nos manter do lado de fora sempre que possível. Mudar esse padrão é
um mau sinal.
Chewbacca soltou um rosnado de mau agouro.
– Calma - aconselhou Lando. - Han é crescidinho. Seja lá o que Villachor
tenha em mente, tenho certeza de que ele consegue se safar no papo.
Na cintura, o comlink apitou. Lando puxou e clicou para atendê-lo.
– Sim?
– Ei, Kwerve. - A voz de Han estava apenas um pouco descontraída demais. -
Tem um problema aqui.
– Que tipo de problema? - perguntou Lando chamando os demais enquanto
ligava o viva-voz do comlink.
– Estou em uma reunião com o mestre Qazadi - disse Han. - Ele gostaria de
ver nosso cryodex.
Epa.
– Você quer dizer que ele gostaria de vê-lo funcionando? - perguntou Lando
com cuidado.
– É, algo assim - respondeu Han. - Acho que seria de nosso interesse mostrá-
lo para ele.
Lando olhou de relance para os demais, reunidos em volta dele. Rachele e
Tavia pareciam assustadas. Winter parecia controlada e estar tramando algo.
Dozer parecia nervoso. Chewbacca parecia pronto para partir para a violência. E
Eanjer...
Lando franziu a testa. Eanjer parecia estranhamente culpado.
Que motivo exatamente Eanjer teria para parecer culpado?
– Eu posso perguntar para o chefe - disse Lando no comlink. - Teriam que lhe
mostrar que há uma compensação excelente para isso.
– Digamos apenas que haverá uma compensação muito desagradável se ele
não mostrar o cryodex - falou Han com um tom sombrio.
Por um momento, Lando teve um visão daquela cena constrangedora em Nar
Shaddaa, antes do fiasco de Ylesia, quando ele ficara tão furioso com Han que
ameaçara meter um raio na cabeça do amigo. Han tinha a tendência de provocar
esse tipo de reação nas pessoas.
Mas Lando tinha falado no calor da raiva, frustração e traição. A ameaça de
Qazadi era fria, calculista e muito, muito séria.
– Eu direi para ele - prometeu Lando. - Eu retorno assim que tiver a resposta.
– Seja rápido - disse Han. - O mestre Qazadi não me passa a impressão de ser
paciente.
– Pode deixar - falou Lando. - Eu retorno em breve.
Ele desligou.
– Bem, isso tornou o dia mais interessante - comentou Lando. - Alguma ideia?
Chewbacca deu um rosnado em tom de ameaça.
– Claro que vamos tirá-lo de lá - concordou Rachele firmemente. — Acho que
a questão é como.
– Na verdade, a primeira questão é por quê, tipo por que a situação entrou em
colapso de repente? - falou Lando. - Eanjer? Você tem algo a dizer?
Quando ele se sentiu desafiado, Eanjer respondeu a ele com uma pergunta.
– O que você quer dizer?
– Você recebeu uma ligação do seu contato ontem — disse Winter. Ele disse
alguma coisa sobre isso?
Eanjer engoliu visivelmente.
– Eu ... - ele parou. Quero dizer…
Chewbacca deu um passo em direção a ele. Eanjer se afastou e depois pareceu
se encolher.
– Sinto muito — disse ele, falando quase baixo demais para Lando ouvir. Eu
não acho que ... mencionou que Villachor estava fazendo propostas para os
imperiais.
– E você não achou que valeu a pena contar sobre isso? Tavia repreendeu.
Porra, Eanjer, se ele fizer um acordo com os Imperiais, perderemos todo o
controle sobre ele. Ele pode jogar conosco sem ter que colocar todas as fichas no
pote, com a certeza de que ele tem uma brecha se seu jogo não for bem sucedido.
– Eu sei, eu sei — disse Eanjer, parecendo ainda mais contrito. Eu não achei
que nada disso pudesse acontecer tão rápido, só isso.
– Acho que aconteceu assim — disse Dozer sem rodeios. E agora que?
– Você ouviu Chewie e Rachele — disse Lando. Vamos sair
Como? Dozer respondeu.
– De alguma forma — disse Lando com uma paciência tensa, enquanto sua
mente lutava para elaborar um plano. Inverno, existem outros depósitos de armas
espalhados pela cidade em que nos podemos aventurar?
– Até onde sei, há dois — disse Winter. Mas qualquer coisa que pudéssemos
contrabandear através de suas portas, certamente não seria poderosa o suficiente
para passar pelas portas, paredes ou janelas da mansão.
– Sem mencionar todos os seguranças — destacou Dozer.
– O power dome terá que ser desligado para o grande show de fogos de
artifício mais tarde — ressaltou Rachele. Talvez pudéssemos conseguir algo
grande o suficiente para quebrar a parede daqui de cima.
– Não podemos esperar tanto tempo — disse Lando. Não sei quanta paciência
Qazadi tem, mas duvido que dure mais de uma hora, mais ou menos.
Eanjer limpou a garganta.
– Eu tenho uma idéia — ele disse hesitante. Winter, com que precisão você
duplicou o outro cryodex?
– Com a máxima precisão — disse Winter.
– Quer dizer, com a maior precisão?
– Que parte do "completo" não é compreendido? Lando rosnou.
– Não, não, eu entendo — disse Eanjer. Eu estava pensando ... se deixarmos
Qazadi ver o cryodex, e se ele já o viu perto o suficiente junto com Aziel ... "Ele
fez uma pausa, olhando em volta com expectativa.
Rachele foi o primeiro a entender isso.
– Ele vai pensar que é da Aziel — disse ele. E isso Aziel é ... não é?
– Que está…? Eu poderia pensar que é Aziel quem está por trás da proposta
de Lando para obter os arquivos de chantagem? Winter perguntou. Claro, porque
não?
– Você está certo — concordou Tavia. Se ele suspeita que Villachor é
responsável por uma possível traição, por que ele não poderia pensar o mesmo
de Aziel?
Por mais alguns segundos, ninguém fez um gesto ou falou. Han aguardou
ansiosamente...
E então Qazadi se mexeu e deu um sorrisinho para Han.
– Eu admiro um homem que gasta seu último suspiro cumprindo ordens -
disse ele. - Levantem-no.
As mãos que prendiam Han ao chão mudaram de direção e o puxaram para
ficar em pé novamente.
– E eu ficarei com esse datacard - acrescentou o Falleen quase como se tivesse
esquecido. - Dygrig?
Um dos guardas de Qazadi recuperou o datacard e o entregou para o chefe.
– Vocês têm ordens a cumprir - continuou Qazadi pensando enquanto olhava o
datacard.
– Senhor? - perguntou um dos guarda-costas de Villachor.
– Sim, vá em frente, Manning - falou Villachor com um sinal de suspiro. -
Tawb, vá com ele.
– Ande - rosnou Manning no ouvido de Han enquanto apertava o braço dele
com as mãos novamente. Seu hálito tinha um leve cheiro de tabaco;
aparentemente o homem fumava cigarra.
Os guarda-costas o conduziram por um corredor comprido e por três lances de
escada acima até o quarto andar. Pelo caminho, Han percebeu com algum
interesse, eles passaram por uma única pessoa exatamente, um velho em roupas
de chef correndo para a área da cozinha. Aparentemente, todos os funcionários
de Villachor estavam do lado de fora ou de prontidão nas várias áreas de serviço
da mansão.
– Aonde estamos indo? - perguntou Han ao erguer o olhar para as clarabóias
enquanto andavam pelo corredor até a ala nordeste.
– Você ouviu Sua Excelência - rosnou Tawb.
– Sim, um armário na sala da guarda. - Han olhou Manning de lado. - Você
bem que podia me dar uma cigarra para ajudar a matar o tempo.
Manning deu um muxoxo de desdém.
– Sei.
– Não, é sério - insistiu Han. - Eu realmente preciso de uma cigarra e sei que
você fuma; posso sentir o cheiro em você. Vamos lá, seja razoável. Eu realmente
preciso.
– Você realmente precisa fumar? - Manning soltou o braço de Han, deu um
longo passo à frente e depois acertou o passo ao lado dele. Ele tirou do bolso
uma cigarra comprida e fina. - Uma dessas?
– Cuidado - alertou Tawb. - Qazadi não vai gostar se você jogar fumaça nos
aposentos dele.
– Não vou fazer isso - garantiu Manning. Ele acendeu a cigarra, tragou e
baforou. - Fumar assim? - perguntou ele para Han e soltou outra nuvem de
fumaça.
– É, assim - disse Han, lutando contra o aperto de Tawb enquanto tentava se
aproximar dos anéis de fumaça, torcendo para conseguir esconder o nojo que
sentia daquilo. - Vamos, deixe-me pelo menos sentir o cheiro.
– Porque eu teria muitos problemas se desse alguma coisa a você - continuou
Manning ao andar de costas enquanto tragava e baforava mais fumaça em cima
de Han, sempre mantendo distância suficiente para que Han só sentisse um leve
cheiro da borda de cada nuvem antes que ela subisse para o teto. —
Especialmente uma cigarra. Especialmente na suíte de Qazadi.
– Ora, vamos - implorou Han.
Ele praticamente podia sentir os pelos do nariz se enroscando ao inalar a
fumaça, e seus pulmões pairaram sobre a borda de um violento ataque de tosse.
Mas eu tive que fazer isso parecer real se eu quisesse que Manning continuasse
com o jogo.
– Chega — Tawb disse. Vamos lá, estamos bem perto.
– Relaxe — Manning se acalmou. Ele soltou um último suspiro e depois
deslizou uma tampa sobre o charuto para apagá-lo. Vou guardar o resto para
mais tarde — disse ele, colocando-o de volta no bolso. Aproveite a memória. Ele
parou em uma porta aberta e gesticulou para dentro. Entre lá
– Claro — disse Han. Winter e Rachele deveriam estar em sua suíte agora,
mantendo um olhar atento na mansão e nos jardins, e um estranho padrão de
fumaça em uma das clarabóias, deveria ser exatamente o tipo de coisas que um
deles poderia perceber.
Ou pode ser que a mensagem tenha sido perdida completamente. Mas se eles
pudessem detectá-lo, eles poderiam perceber que Han estava apontando a parte
da mansão onde ele estava sendo mantido.
Era uma possibilidade muito remota. Mas, às vezes, tiros longos
compensavam.
O quarto por onde passaram era surpreendentemente grande, equipado com
uma pequena mesa e quatro cadeiras, um par de luzes no chão e seis camas
espaçadas ao redor da sala de estar. Era um quartel para guardas bem equipados,
para homens ou homens que usariam o quarto por muito poucas coisas, exceto
para dormir. Manning levou-o na direção de uma grande porta na parede lateral,
que tinha um teclado grande ao lado. Ele digitou um código simples - um, dois,
três - e a porta se abriu para revelar um grande camarim. Tawb caminhou até
Han e deu-lhe um empurrão para mandá-lo para dentro.
– Você tem que estar brincando — Han protestou enquanto recuperava o
equilíbrio e olhou em volta. Sem roupas, sem caixas de arrumação, o armário
estava completamente vazio, exceto por um punhado de hastes penduradas ao
longo das paredes laterais, prateleiras móveis e uma dúzia de cabides. E se você
pelo menos me der uma daquelas cadeiras?
– E se não o fizermos? Tawb disse, dando ao gabinete uma rápida verificação
de sua parte, depois se afastando. Aproveite a sua estadia. Estaremos de volta
quando o Mestre Villachor mandar por você.
– Muito provavelmente quando o Mestre Qazadi me mandar — Han
respondeu quando a porta se fechou. Parece que é ele quem está encarregado de
tudo agora.
Nenhum comentário foi ouvido de nenhum deles. Han não esperava que
houvesse.
O armário estava escuro, mas Han descobrira um interruptor ao lado da porta
em seu caminho. Ele bateu, e um conjunto de luzes suaves iluminou as bordas
superiores do gabinete.
Ele passou os minutos seguintes olhando ao redor da sala, esperando encontrar
algo útil que não teria notado em sua primeira avaliação. Mas não havia nada. Os
cabides eram do tipo de alta classe, madeira polida com ganchos cromados -
ligeiramente úteis como suportes - mas nada que pudesse causar qualquer dano
contra uma pesada porta de madeira. As prateleiras e os varais das roupas eram
feitos da mesma madeira polida, que, de novo, não oferecia muita esperança
como material para conseguir sua fuga. As paredes e o chão também eram feitos
de madeira, de um tipo diferente da prateleira, mas igualmente sólidos. Teto…
O teto.
Han olhou para cima. O teto parecia ser feito de algum tipo de cerâmica. Mas
quando Rachele falara sobre a caixa-forte, ela mencionara um vão entre o teto e
o piso acima dele. Se o mesmo design se aplicasse ali, aquele teto não deveria
estar sustentando peso algum e talvez não fosse tão grosso assim.
E se o vão entre andares fosse suficientemente grande para Han caber nele...
Ele levou alguns minutos para retirar as prateleiras e apoiá-las nas paredes
laterais, em ângulos opostos do chão ao teto para criar uma espécie de andaime
improvisado. Han pegou o cabide de madeira com aparência mais robusta, subiu
nas prateleiras e experimentou bater no teto.
Nada aconteceu. Ele bateu com mais força, depois com mais força ainda,
imaginando se o barulho atrairia atenção indesejada. Mas ninguém entrou
correndo. Han continuou batendo até que, finalmente, de uma batida de força
mediana, o cabide rompeu a cerâmica.
Ele estava certo - o material não era muito grosso. Han forçou a teia de
rachaduras que partiam do ponto de impacto e arrancou o suficiente para fazer
uma abertura de 20 centímetros. Ele subiu o resto do andaime e enfiou a cabeça
no buraco.
Havia um vão entre os andares, realmente. Infelizmente, não tinha mais do
que 20 ou 30 centímetros de profundidade, e ficava mais estreito em cima da
porta do armário. Bink talvez conseguisse passar, especialmente com o
equipamento de alpinismo adequado, mas não havia jeito de Han fazer aquilo.
Mas se ele conseguisse arrancar pedaços suficientes do teto do lado de fora do
armário, talvez fosse capaz de usar uma das barras de roupa para bater no
teclado e abrir a porta. O código um-dois-três que Manning usou, provavelmente
era uma configuração padrão, e seria fácil digitar novamente.
Segurando de novo para poder descer, ele moveu seu andaime para um lugar
bem em frente à porta e foi trabalhar.
Por tudo isso Dayja tinha sido capaz de ler nos folhetos de visitantes, o
Tributo a Fire in Motion foi o destaque do Festival, um dia em que os vários
locais em toda a largura de todo o planeta, trabalhando da maneira mais amarga
para superar os outros. Algum dia, Dayja decidiu, ele teria que ter tempo para vir
aqui e apreciá-lo corretamente.
Mas hoje não foi esse dia. Hoje, ele só tinha olhos para a multidão que
passava pelos jardins da Hacienda de Mármore.
Havia onze pessoas na equipe de Eanjer, eu sabia disso. Depois de observá-los
secretamente na varanda nove dias antes, ele os tinha visto na sala de
conversação de sua suíte. E apesar de eu ter visto apenas uma das mulheres, tive
uma visão clara de todos os rostos dos outros. Hoje, naquele exato momento,
eles tiveram sua última e melhor chance de se infiltrar na mansão de Villachor e
invadir seu cofre. Eles deveriam estar aqui, prontos para desempenhar seus
papéis em qualquer plano com o qual Eanjer tivesse chegado.
Ele já havia visto três deles. Dois deles, o mais jovem da equipe e balosar
Peeping macho humano, parecia ter o mesmo trabalho: passear e sub-
repticiamente colocar algo debaixo trajes com projetos da chama de diferentes
serviços droids que cuidou de provisionamento e manutenção de dróides.
Restrições, Dayja supostamente, ou possivelmente pequenas acusações de
detonite. O terceiro membro da equipe, uma jovem de cabelos negros, vestida
com um longo tom vermelho intenso, grudara em Sheqoa, o chefe da segurança
de Marblewood. Ela, obviamente, estava planejando ser a distração.
Então onde, raios, estavam os outros oito?
À esquerda, um jorro de chamas azul-amareladas subitamente disparou para o
céu e mandou uma onda de calor pela multidão reunida. Dayja deu um olhar
distraído para o chafariz, depois mudou a direção e foi para as barracas de
bebidas. O sol havia acabado de se pôr, e faltava mais ou menos uma hora e meia
para a escuridão completa e a exibição apoteótica de fogos de artifício. Dayja
decidiu dar uma hora para Eanjer agir; depois disso, se nada tivesse acontecido
ainda, ele encontraria Villachor e tentaria retomar o seu plano original de
infiltração.
Enquanto isso, as barracas de comida e bebida de Marblewood ainda tinham
um estoque impressionante. Não haveria problema em tirar vantagem disso.
O teto do quarto bem do lado de fora da porta foi tão fácil de quebrar quanto o
teto do armário, embora Han fizesse uma careta a cada estalo e ruído que a
cerâmica fazia quando os pedaços se soltavam. Ele conseguiu ver que a porta do
quarto estava parcialmente aberta e ficou um pouco surpreso de que ninguém lá
fora tivesse notado o barulho que fazia.
Ainda assim, como Han já havia percebido, a maioria dos funcionários de
Villachor estava ocupada em outros lugares. Isso e mais o barulho da multidão e
do espetáculo lá fora eram aparentemente suficientes para acobertar suas
atividades.
O primeiro problema aconteceu quando ele se deu conta de que as barras eram
longas demais para manejar dentro do buraco, através do vão entre os andares,
até descê-las pelo buraco ao lado da porta. Também teimavam em não quebrar,
mesmo com Han apoiando uma delas contra a parede e pulando sobre ela.
Mas ainda havia os cabides de luxo. Prendendo um no outro, ele conseguiu
fazer uma corrente flexível suficientemente comprida para pendurar pela
abertura e tocar no teclado.
Não que tenha sido fácil. Foram necessárias inúmeras tentativas e mais
paciência do que Han achou que tivesse. Mas, no fim, ele conseguiu abrir a
porta.
Felizmente, o quarto ainda estava vazio. Segurando um dos cabides de
prontidão como um porrete, e reconhecendo no fundo de sua mente que uma
arma assim seria ridícula contra facas, chicotes neurônicos e armas de raios, Han
cruzou o quarto e espiou de mansinho lá fora.
E se viu completamente bloqueado. A 15 metros, descendo o corredor,
parados de cada lado de uma porta, estavam os dois guarda-costas Falleen que
ele vira mais cedo.
Evidentemente Qazadi era a única pessoa na Cidade de Iltarr que não estava lá
fora vendo o espetáculo pirotécnico de Villachor.
Han praguejou baixinho e recuou da porta. Ok, então ele estava encurralado
ali. Mas isso não duraria para sempre. Assim que Lando surgisse com o cryodex
falso, Qazadi certamente desceria para dar uma olhada. Aonde fosse Qazadi, os
guarda-costas também iriam.
E com o resto dos funcionários de Villachor ocupados, assim que os Falleens
saíssem, Han basicamente teria liberdade de ação dentro da mansão.
Presumindo que Lando realmente trouxesse o cryodex.
Enfie isso na sua cabeça, as palavras raivosas de Lando retornaram à
memória. Como nós fomos amigos no passado, eu não eu não vou fazer o que
você realmente merece, o que é para explodir sua mente. Mas nunca mais se
aproxime de mim.
Lando havia dito a ele dias antes, que a questão já havia esfriado desde a
disputa, que ele havia relutantemente percebido que Han não o havia enganado
de propósito. Em virtude de sua longa história em comum, Han aceitara que esse
fogo era autêntico.
Mas e se não fosse? E se as desculpas não fossem de todo, não fossem mais
do que as palavras que Lando achava que ele tinha a dizer para se aproximar dos
cento e sessenta e três milhões de créditos de Eanjer?
Nesse caso, tudo o que Lando tinha que fazer era continuar com o plano
original, ajudar os outros a invadir o cofre do Tesouro de Mármore e deixar Han
para Qazadi decidir o que ele queria fazer com ele. Limpo e bem cuidado, sem
Lando precisar sujar as mãos.
E seria quase como garantir que ele nunca teria que se preocupar com Han
chegando perto dele novamente.
Han respirou fundo. Não, Lando não faria isso com ele. Não dessa maneira.
Definitivamente não com Chewie respirando em seu pescoço.
Eu apenas tive que esperar. Isso foi tudo. Apenas espere.
Voltando pela sala para uma das camas, ela se sentou no chão atrás dela,
abaixando o suficiente para colocar os olhos logo acima do nível do colchão, de
onde ela podia ver o corredor, mas onde ela não iria fazê-la. A pessoa era
imediatamente visível, a menos que a pessoa que passasse tivesse um olhar
cuidadoso.
Lando e os outros viriam com alguma coisa. Eu só precisava estar pronta para
quando eles fizessem.
Cuidadosamente, Lando instalou seu falso cryodex em seu contêiner e o selou.
– Todo mundo pronto? — perguntou ele olhando em volta da sala.
O grupo deu um coro de respostas afirmativas. Eles certamente pareciam
prontos, decidiu Lando. Mesmo com o chapéu marrom de aba larga que escondia
metade do rosto e a tensão da expectativa do que viria a seguir, Tavia estava
deslumbrante no discreto vestido marrom. Rachele tinha transferido o
computador para a janela, pronta para prestar qualquer apoio a quem precisasse,
fosse pesquisa de informações ou vigilância aérea. Winter e Dozer estavam
vestidos com trajes que não atrairiam olhares na rua, mas que foram feitos para
ajudar a correr, desviar ou atirar. Chewbacca, como sempre, apenas parecia
impaciente para andar logo.
– Ok - falou Lando enquanto ajustava cuidadosamente a barra do casaco
rasgável comum que Zerba tinha feito para ele. - Vamos nessa.
– Esperem! - berrou Eanjer, vindo do corredor.
Lando virou e se perguntou, irritado, o que o sujeito queria então.
Ele ficou boquiaberto. Eanjer tinha vestido um casacão comprido, azul-escuro,
com o colarinho virado para cima a fim de esconder grande parte do medselo
que cobria a metade direita do rosto. Na cabeça, de maneira vistosa, havia uma
grande boina bordo com penas que pendiam pela borda e escondiam boa parte
do resto.
– Por que você está todo arrumado assim? — indagou Lando.
– Eu vou com vocês — respondeu Eanjer em tom firme. — E minha culpa que
Han está nessa enrascada. Eu não vou simplesmente ficar sentado aqui sem fazer
nada.
– E se o pessoal de Villachor reconhecer você? — perguntou a ele.
– Eles não vão — assegurou Eanjer.
– E se eles fizerem? Tavia insistiu.
O único olho de Eanjer parecia algo cortado de uma pedra de sílex quando ele
se virou lentamente para ele.
– Então você e Bink terão que fazer um pouco mais de trabalho de distração,
certo?
Chewbacca grunhiu e fez um gesto impaciente para a porta.
– Sim, e não podemos desperdiçar qualquer ajuda — Lando concordou com
relutância. Ele não queria que Eanjer fosse lá com ele. Mas a menos que
colocassem algemas nos pulsos do homem, ou ordenassem a Rachele que
sentasse nele, não haveria maneira prática de mantê-lo na suíte. Ok, mas... – Ele
apontou um dedo para ela. Você permanecerá nas sombras, fará apenas o que um
de nós lhe disser para fazer e não se converterá em nenhum tipo de distração.
Entendido?
– Entendimento –Enjer sorriu cinicamente. Afinal, se Villachor me pegar, seus
cento e sessenta e três milhões serão subitamente reduzidos para oitocentos mil.
Nós não podemos permitir isso, certo?
– Eu não me importo com a redução — rosnou Lando. Nós sabemos o que
estamos fazendo. Você não. Então fique fora do caminho.
– Confie em mim — disse Eanjer suavemente. Não tenho intenção de morrer
hoje.
Bem, disse Lando. Porque nenhum de nós pretende fazer isso. Ele respirou
fundo. Tudo bem. Vamos
Houve outra rodada de assentimento silencioso enquanto todos se dirigiam
para a porta.
Ao se juntar a eles, Lando sentiu ainda mais o sulco enrugado da testa. Teria
sido difícil dizer que eu o ouvira no meio de todos os outros murmúrios. Mas eu
poderia jurar que Winter acabara de dizer ...
– Inverno -Ele interpelou ela.
– Sim Ela disse, olhando para ele.
Lando sentiu seus lábios se contraírem.
– Nada — ele disse, e continuou andando.
Porque, na verdade, ninguém disse que a Força nos acompanha. Ninguém,
exceto rebeldes e fanáticos religiosos.
E se Winter pertencia a um desses dois grupos, ele realmente não queria saber
nada sobre isso.
CAPÍTULO
18
Uma chama sibilante passou diretamente acima deles como uma cobra
flamejante. Lando se abaixou por reflexo, embora o fogo estivesse contido por
um campo repulsor e separado por bons 2 metros da cabeça dele. Chewbacca,
que estava mais próximo ainda à chama, sequer piscou.
Mas, por outro lado, Chewbacca estava seriamente concentrado agora. Como
já tinha visto aquele humor antes, Lando estava contente por não ser o foco do
Wookiee.
O fogo passou, e Chewbacca rosnou.
– Ele está aqui - disse Lando.
– Onde? — perguntou Eanjer.
– Ao lado do posto de segurança na extremidade sul do pavilhão infantil —
informou Lando.
Eanjer resmungou.
– Estou um pouco surpreso de que ele tenha se disposto a se reunir
publicamente assim.
– Eu não ofereci outra escolha - disse Lando com a cara fechada. — Duvido
que ele esteja muito contente a respeito disso.
– Nem sempre conseguimos o que queremos - comentou Eanjer
filosoficamente. - Qazadi está com ele?
Chewbacca rosnou de novo.
– Nenhum sinal do Falleen - disse Lando. - Ok. Mais dez passos e será o
momento de você e Chewie se separarem e encontrarem Bink.
– Espere um minuto — reclamou Eanjer franzindo a testa para Lando com o
olho bom. - Eu pensei que iria com você.
– Não sei de onde você tirou essa idea — falou Lando. - Você vai com
Chewie.
– Mas...
– E se você encher nossos ouvidos de estática quanto a isso, ele vai jogá-lo
sobre o ombro e levá-lo para fora daqui como uma criança malcriada - disse
Lando. — Entendeu?
Eanjer ergueu o olhar para Chewbacca.
– Entendi — respondeu ele relutantemente.
– Você veio aqui ajudar a soltar Han - lembrou Lando. - Esse é o trabalho de
Chewie, e sei que ele pode contar com a sua ajuda.
Chewbacca vociferou sua opinião sobre aquilo.
Dessa vez, Lando decidiu que seria melhor não traduzir.
– Da minha parte, só vou entregar uma encomenda e depois irei embora -
disse Lando, em vez da tradução.
O que também não era verdade. Mais uma vez, Eanjer não precisou se
preocupar com os detalhes.
Chewbacca rosnou um aviso.
– Hora de ir– disse Lando, enfatizando sua ordem com um firme empurrão no
ombro de Eanjer. Boa sorte.
Com um breve aceno de cabeça, Eanjer deslizou pela multidão, Chewbacca
andando atrás dele. Lando esperou até que o Wookiee fosse apenas uma cabeça
emergindo acima da multidão, e então retirou seu comlink.
– Rachele?
– Parece que há um total de oito guarda-costas no grupo — ela informou. Mas
há pelo menos mais quatro tipos de segurança vagando, formando um anel a
cerca de vinte metros do lado de fora do grupo principal. Poderia haver mais
alguns que eu não consegui detectar.
Lando assentiu. Ele esperava que Villachor fosse fortemente protegido e
estava certo.
E Qazadi?
– Não há sinais dele. Villachor poderia estar planejando levá-lo para dentro
para que você possa conhecê-lo.
– Tenho certeza de que é assim — disse Lando acidamente. Entrar na mansão
era o que deixara Han preso, e Lando não tinha intenção de oferecer a Villachor
um especial dois por um. Particularmente considerando o que ele usava sob o
terno para rasgar. Tavia está indo bem?
– Ela já está lá, circulando ao redor da instalação principal do gêiser de
chamas — disse Rachele. Espere ... Sim, ela viu Chewbacca. Está começando a
se mover para o sudeste ... bem, agora eu posso ver Bink, saindo do quiosque de
bebidas com Sheqoa. Chewie e Tavia estão a caminho para interceptá-los.
Bem, disse Lando. Ele pensou brevemente em dizer a Rachele para dar um
rápido telefonema a Tavia para lembrá-lo sobre a nova sincronização com a qual
haviam concordado, mas decidiu contra. Ela e Chewbacca sabiam o que estavam
fazendo, e Bink já sabia o que esperar para não ultrapassá-los. Contanto que eles
não a empurrem, o tempo deve ser preciso. Ok, eu vou entrar — disse ele. Como
você vê a extremidade norte do pavilhão infantil?
– Está claro, pelo que vejo — disse Rachele. Mas eu não posso ver todas as
pessoas de Villachor daqui. Tenha cuidado.
– Eu vou ter — disse Lando. Não se esqueça de que todas as probabilidades
são contra Villachor, tornando meu rosto familiar demais, mesmo entre sua
própria força de segurança.
– Isso pode ser o que seus cálculos lhe dizem — Rachele disse severamente.
Eu não tenho tanta certeza.
– Eu vou ficar bem — disse Lando. Eu tenho aquelas cargas estridentes do
pacote de Kell. Se o pior acontecer, posso começar a jogá-los ao redor deles e
tentar escapar em meio à confusão.
– Apenas não muito barulho — Rachele lembrou a ele. A última coisa que
queremos agora é desencadear um pânico total.
– Eu sei — disse Lando. Vou verificá-los novamente antes de fazer a entrega.
O pavilhão das crianças era fácil de identificar, cheio de equipamentos
coloridos para brincar e repleto de gritos e risos excitados das crianças. Lando se
aproximou do extremo norte com cautela, mas não notou nenhum homem de
rosto duro andando por ali. Através do labirinto colorido de estruturas de
escalada e estruturas de jogo, ele vislumbrou aparições ocasionais de Villachor e
seu grupo de guardas, à espera de Lando, no extremo sul, exatamente onde
Lando lhes havia dito que esperar.
Villachor não ficaria feliz por levar um bolo dessa maneira, mas as pessoas
nem sempre conseguiam o que queriam.
Ao passar pelo pavilhão, Lando deixou cair o estojo discretamente dentro da
coluna no canto noroeste.
Ele andou por mais um minuto, ziguezagueando entre grupos de pessoas, e em
dado momento passou por uma fila dupla de gente que ia e vinha entre um dos
chafarizes de chamas e a barraca de bebidas. Só então ele puxou o comlink e
ligou para o número de Villachor.
O homem atendeu prontamente.
– Villachor.
– Kwerve - Lando se identificou. - O pacote o espera no canto noroeste do
pavilhão infantil.
Houve uma breve pausa.
– Eu pensei que teríamos uma discussão cara a cara como cavalheiros
civilizados.
– Eu sei - concordou Lando. - Meu chefe decidiu que não havia mais nada que
a gente precisasse dizer um para o outro no momento. Ele também quer saber
quando podemos esperar que o outro funcionário seja libertado.
– Depois que verificarmos seu aparelho - respondeu Villachor. - E se ele não
estiver onde você disse, ou se acontecer uma explosão quando abrirmos, eu lhe
prometo que a única libertação que seu funcionário terá será na forma de uma
morte muito lenta.
– Não haverá explosões — prometeu Lando com uma careta. Era melhor que
o plano de Chewie para resgatar Han funcionasse. — Por sua vez, meu chefe
mandou que eu lhe dissesse que, se alguém do nosso pessoal for machucado, é
você que morrerá muito lentamente.
– Tenho certeza de que sim — disse Villachor com uma calma enganosa. Diga
a ele que estou ansioso para conhecê-lo um dia.
– Algum dia — prometeu Lando, tentando igualar o tom do outro. Aproveite o
pacote. Estaremos esperando para ver nosso amigo livre muito em breve.
Quando isso aconteceu, tudo aconteceu de uma só vez.
Em um minuto, o corredor do lado de fora do quarto de Han estava tão morto
quanto a lista de amigos de um hutt. No seguinte, ele foi de repente o anfitrião de
um desfile. Mantendo-se tão agachado quanto pôde, viu seis seres humanos e
três falleen partirem em formação; Um dos Falleen estava vestido como se
tivesse recebido uma convocação imperial, e os outros foram mortos e os
humanos estavam armados até os dentes.
Em algum lugar, aparentemente Lando entregou o cryodex.
Esperou até que a procissão passasse e lhes deu um minuto depois disso, só
para ter certeza. Então, abandonando a alpendre, ele caminhou silenciosamente
em direção à porta. Uma verificação rápida em ambas as direções mostrou-lhe
que o corredor estava vazio novamente. Tentando observar em ambas as direções
ao mesmo tempo, ele voltou para a parte central da mansão.
No entanto, não havia muito que ele pudesse fazer, e ele sabia disso. Não, pelo
menos até o plano realmente começar. Sem armas, aliados ou comlink, tudo que
eu poderia fazer era encontrar um lugar para ficar escondido por um tempo.
Felizmente, depois de ter tido tempo para pensar nisso, encontrei o lugar ideal.
Apenas as grandes salas foram totalmente identificadas nos planos de
Rachele, mas a análise dela sobre um determinado grupamento de pequenos
quartos no segundo andar sugeria que eles eram provavelmente uma estação de
guarda. No momento, com o contingente de guardas de Marblewood
sobrecarregado, seria lógico que as subestações menores provavelmente
estivessem desertas.
A principal sala de segurança daquele grupamento, onde o equipamento e as
armas provavelmente ficavam guardadas, estava solidamente trancada. Mas a
área de estar ao lado estava aberta e vazia.
E o melhor de tudo, ela era convenientemente localizada bem no fundo do
corredor em relação ao principal alojamento dos seguranças e à sala da guarda,
aquela que ficava bem em cima do salão de baile menor.
A sala onde, se tudo ocorresse de acordo com o plano, a equipe se reuniria
para invadir a caixa-forte.
Han sabia que havia uma boa chance de não ser pertubado por ninguém até
que o entretenimento inesperado que Kell e Zerba haviam providenciado
começasse lá fora. Mas caso alguém o incomodasse...
A área de estar revelou ter um estoque de petiscos, garrafas de água, sucos de
frutas e bebidas à base de caf. Han encontrou uma bandeja, levou ao aparador e
encheu com metade das garrafas e metade da tigela de frutas. A seguir, com as
costas para a porta, ele enfiou no cinto o cabide que havia retirado do armário
que lhe servira de cela, onde ficaria à mão.
Um guarda que passasse provavelmente ficaria instantaneamente desconfiado
de um estranho perambulando pelos corredores da mansão, mas não deveria
desconfiar tanto de um simples funcionário que viera reabastecer os petiscos.
Com sorte, o guarda permaneceria sem desconfiar por tempo suficiente para
Han dar o primeiro tiro.
Ao olhar para os petiscos e se perguntar se pareceria suspeito se um guarda
flagrasse um dos funcionários do bufe comendo durante o serviço, Han decidiu
esperar.
Villachor ficara olhando o pavilhão infantil com uma expressão furiosa por
quase dois minutos, planejando elaboradamente o que faria com o prisioneiro se
Kwerve estivesse mentindo, quando a confirmação finalmente chegou.
– Eles pegaram - anunciou Manning baixinho ao se aproximar um pouco mais
do comlink de colarinho. — Mesmo estojo que ele trouxe antes.
O mesmo estojo. Será que isso também significava a mesma armadilha com
bomba?
– Eles abriram?
– Não, senhor — disse Manning. Eles estão levando-o para a sala de guarda.
Onde Dempsey e seu equipamento para escanear bombas já estavam
instalados.
– Bom Villachor olhou em volta, quase esperando ver Kwerve observando-o
da beira da multidão. Mas o homem não estava em lugar nenhum. De volta para
dentro, ele ordenou. Permita que Vossa Excelência saiba que devemos ter o
cryodex no saguão sudoeste em alguns minutos.
– Ele já está lá — Manning disse desconfortavelmente. Bromley diz que ele
parece impaciente.
Villachor engoliu uma maldição. Claro que Qazadi estava impaciente. Ele
queria ver alguém morto.
Mas pelo menos, esse alguém não seria Villachor. Nem uma vez eu mostrei a
ele que Kwerve havia realmente lhe trazido um cryodex.
Embora a razão pela qual Kwerve tivesse lhe dado tão facilmente ainda o
incomodasse. Seu prisioneiro valeria tanto para seu chefe? Ou havia outra coisa
que ainda continuava a se mover abaixo da superfície?
– Você quer que a gente vá atrás dele, senhor? Tawb perguntou. Ou lançamos
um alerta geral? Nós temos a descrição do Kwerve.
– Mas não o rosto dele — rosnou Villachor.
Tawb fez uma careta.
– Não senhor.
Villachor olhou para o céu acima dele. Droides voadores amaldiçoados e
inúteis, os técnicos ainda não conseguiram decifrar por que não podiam tirar
fotos decentes.
– Esqueça isso — ele decidiu. Seus dois guarda-costas e Sheqoa foram os
únicos que realmente viram o homem, e neste momento, Villachor precisava que
os três ficassem exatamente onde estavam.
– Não há grande prejuízo que ele possa causar aqui fora. Não agora.
Villachor gesticulou para os outros seguranças.
– Os demais, voltem às áreas de patrulha - disse ele falando mais alto do que o
barulho da multidão. - E fiquem atentos.
Outra pessoa qualquer, até mesmo outro senhor do crime, talvez tivesse
expressado sua impaciência andando de um lado para o outro no saguão. Mas
vigos não andavam de um lado para o outro. Pelo menos não esse. Qazadi estava
perfeitamente imóvel quando Villachor e seus dois guarda-costas entraram pela
porta; ele encarou e trespassou Villachor com um olhar frio.
– O cryodex está em nossas mãos, Vossa Excelência - anunciou Villachor. -
Estão verificando se há armadilhas neste exato momento.
– E aquele tal mestre Kwerve? - perguntou Qazadi.
– Ele fugiu da reunião e deixou o estojo em um lugar diferente
– disse Villachor. — Provavelmente já foi embora das dependências.
– Sem o companheiro? - Um leve sorriso gelado surgiu nos lábios de Qazadi. -
Acho que não. Alerte seus guardas para vigiarem as portas com cuidado. Mais
cedo ou mais tarde ele tentará entrar na mansão.
– Os guardas já foram alertados - respondeu Villachor tentando não torcer a
cara. Ele não precisava de um vigo para dizer como deveria gerenciar o próprio
território. - As portas estão bem seguras.
– Ótimo — falou Qazadi. — Eu gostaria de ver esse suposto cryodex. Quando
termina a verificação?
Do outro lado do saguão, a porta da sala da guarda se abriu e
surgiu Dempsey, com um passo que era uma mistura fatídica de urgência e
hesitação. Ele segurava o cryodex em frente ao corpo com as duas mãos, como
se fosse uma obra de arte de valor incalculável.
– Eu diria que a verificação está completa agora - disse Villachor ao acenar
para Dempsey. - Traga-o aqui. Pelo que vejo não havia explosivos?
O olhar de Dempsey se voltou para Qazadi. Porém, em vez de responder, ele
simplesmente apertou o passo.
Villachor sentiu uma nova pontada de raiva. Ele não estava acostumado a ver
suas perguntas serem ignoradas.
– Eu perguntei se havia explosivos - repetiu Villachor asperamente.
– Não havia, mestre Villachor — falou Dempsey ao parar aos trancos a alguns
metros do grupo. Agora ele parecia fazer muito esforço para não olhar para
Qazadi. - Mas havia uma armadilha, um tubo de gás pressurizado pronto para
explodir em uma nuvem quando o estojo fosse aberto.
Então Kwerve tinha uma última carta letal na manga. Ele e seu pessoal
pagariam caro por aquilo.
– Que tipo de gás?
– Vou precisar levar o tubo de volta ao laboratório para realizar uma análise
química adequada - respondeu Dempsey. - Mas a etiqueta... - A língua lambeu o
lábio superior. — A etiqueta identificava como fieljina branca.
Um chiado violento irrompeu dentro do grupo de Qazadi, um som diferente de
tudo que Villachor ouvira antes. Ele estremeceu como reação e se virou para
olhar.
Villachor pensava ter visto Qazadi furioso antes. Ele estava errado. Foi assim
que um homem furioso foi realmente visto.
– Excelência? Ele perguntou cautelosamente.
– Você vai encontrar esse humano, Kwerve, e trazê-lo para mim — Qazadi
disse em uma voz que fez um frio percorrer o corpo de Villachor. Então você
encontrará todos os membros da sua organização e também os trará para mim.
– Entendido, Excelência — disse Villachor, desejando que o demônio o
levasse embora. Ele se virou para Dempsey. Em nome da galáxia, o que é esse
fieljine branco?
– É um veneno — disse Dempsey, tremendo visivelmente naquele momento.
Isso só mata o falleen.
Villachor olhou para ele, sentindo o sangue escorrer de seu rosto. Em um
piscar de olhos, isso passou de uma rivalidade comercial para algo amargamente
pessoal.
Kwerve estava morto, certo. Assim foram todos em sua organização e,
provavelmente, todos que já tiveram relações com sua organização.
E a menos que Villachor executasse o filho de Sith, e rapidamente, ele
provavelmente se juntaria a todos eles.
– Eu vejo — ele disse. Bem ...
Ele parou de novo, enquanto a porta se abriu de repente. Ele se virou, quase
esperando ver Kwerve e uma equipe de assalto fortemente armada, entrando para
resgatar seu companheiro.
Mas eram apenas dois membros de sua equipe de segurança, Becker e Tarrish,
que estavam à porta, com um homem desconhecido usando suspensórios de
camponeses, espremidos entre eles.
– O que aconteceu? Ele rosnou.
– Alguém de fora, chamado Crovendif, disse-nos para trazê-lo, senhor —
disse Becker, seu comportamento profissional rachando quando percebeu o
clima tenso no saguão. - Crovendif disse que esse é o homem que deu a amostra
de brilhestim para ele, há alguns dias.
Villachor sentiu uma pontada de alívio. Finalmente notícias boas, e o
momento não poderia ter sido melhor.
– O senhor pediu a organização de Kwerve, Vossa Excelência - disse Villachor
fazendo um gesto para que eles entrassem. - Aqui está o primeiro deles.
– Sério? - disse Qazadi enquanto observava o recém-chegado.
Villachor notou que o breve acesso de raiva aparentemente
havia passado. Com Falleens, ele sabia que isso podia ser um mau sinal ou um
péssimo sinal.
– Traga-o para mim. - Qazadi gesticulou para Dempsey. - E o cryodex.
Villachor confirmou a ordem com um aceno de cabeça. Becker e Tarrish
conduziram o prisioneiro para Qazadi e pararam a alguns metros de distância ao
serem interceptados por dois dos guarda- costas do Falleen, que pegaram o
homem sob custódia silenciosamente, porém com firmeza. Ao mesmo tempo,
Dempsey foi cautelosamente até o grupo e da mesma forma entregou o cryodex
para um dos Falleens do Qazadi, que por sua vez passou o aparelho para o chefe.
– Como o senhor pode ver, Vossa Excelência, é realmente um cryodex - falou
Villachor enquanto Qazadi estudava o instrumento. - E como lhe disse, minha
única intenção era atrair esse sujeito e a organização dele...
– O que é isso? - rosnou Qazadi, subitamente com raiva de novo. - Onde você
pegou isso? - Ele disparou um olhar fulminante como laser para o prisioneiro. -
Onde conseguiu isso? - indagou o Falleen.
– Eu não sei - reclamou o prisioneiro estremecendo diante da fúria do Falleen.
- Quem quer que sejam essas pessoas, eu não estou com elas...
Abruptamente, Qazadi deu um longo passo à frente e estapeou com força o
rosto do homem. Ele cambaleou para trás e só não caiu no piso de pedra porque
os guardas impediram.
– Vossa Excelência, o que foi? - perguntou Villachor cautelosamente.
Qazadi virou um olhar cruel para ele.
– Este aqui não é um cryodex qualquer - disparou o Falleen. - Esse é o
cryodex de Aziel. De AzieD.
– De Aziel? - repetiu Villachor, completamente confuso agora. - Ele tem o
próprio...?
E numa onda repentina e horrível, ele compreendeu. Aziel não detinha os
códigos de um cryodex que Qazadi guardava em sua suíte, da forma como
Qazadi lhe contara. Ele jamais tivera. Na verdade, Aziel era o guardião do
próprio cryodex.
Mas se aquele era o cryodex de Aziel, então a oferta de Kwerve para copiar os
arquivos de chantagem...
Villachor ficou aflito. Era impossível. Para um ajudante de um vigo do Sol
Negro, era completamente impossível sequer pensar em traição.
E, no entanto, ali estava o cryodex, entregue a eles pelo próprio Kwerve. O
cryodex de Aziel.
Ou alguma coisa que parecia o cryodex de Aziel.
– Só pode ser uma cópia — disse Villachor no silêncio tenso. — Uma
falsificação.
– Como? - indagou Qazadi. - Há marcas na parte traseira que só o cryodex
dele tinha. Marcas que nenhuma outra pessoa jamais
veria. Marcas que certamente ninguém mais notaria. Por que elas
teriam sido incluídas?
– Eu não sei - falou Villachor. - Mas só pode ser um truque. Porque se for
mesmo o cryodex do lorde Aziel... - Ele se interrompeu ao se dar conta de que
não ousaria dizer.
Qazadi não teve tais escrúpulos.
– Então Aziel é um traidor - disse ele baixinho. - E portanto, talvez, você
também seja.
– Não - falou Villachor rapidamente. Talvez rápido demais. - Se eu estivesse
planejando alguma coisa com o lorde Aziel, nós dois dificilmente precisaríamos
passar por essa complicação toda. Eu poderia ter entregado os arquivos para ele
há muito tempo.
– Talvez você tenha feito isso - disse Qazadi. - Talvez esse seja apenas o
método que você escolheu para atrair meu interesse para a questão e depois
providenciar a minha morte. - Ele ergueu o cryodex levemente. - Com certeza,
assim que eu estivesse morto, seria difícil provar quem seria o verdadeiro dono
deste aparelho.
Villachor sentiu um nó no estômago. A situação inteira era uma loucura
completa.
Mas um vigo do Sol Negro não precisava das típicas provas de um tribunal
para tomar decisões e julgar. Ele poderia fazer isso puramente baseado nas
próprias suspeitas.
– Mas eu não acho que veneno seja o seu estilo - continuou Qazadi. - Se não
for você, talvez um de seus homens esteja agindo em conluio com o traidor.
O primeiro impulso de Villachor foi negar. Seus homens eram leais,
selecionados a dedo pelo próprio Sheqoa.
O segundo impulso foi manter a boca bem fechada. Se a ameaça de morte de
Qazadi fosse apontada para outra pessoa, não seria para ele.
Qazadi também sabia disso.
– Vejo que você não nega a possibilidade - comentou ele.
– Infelizmente, tudo é possível, Vossa Excelência - falou Villachor escolhendo
as palavras com cuidado. - Antes do dia de hoje, eu teria dito que a lealdade de
todos os meus homens ao Sol Negro era inquestionável. Agora... - Ele balançou
a cabeça.
– Sim - disse Qazadi, e a palavra saiu da boca como um silvo de cobra. - Você
retirou todos os guardas humanos da caixa-forte, como mandei?
– Sim, Vossa Excelência - confirmou Villachor. Na ocasião, ele achara a
ordem perigosamente estúpida; agora, estava bem contente por ter obedecido. -
E verifiquei a caixa-forte após eles terem saído. Os datacards continuam no
lugar. - Villachor usou a cabeça para indicar o prisioneiro, que havia conseguido
ficar mais ou menos de pé e estava apoiado entre os guardas. - O que o senhor
quer que eu faça com ele?
– Eu cuido dele - disse Qazadi com um olhar frio para o homem. - Você disse
que não está com essas pessoas, humano?
– Eu nunca ouvi falar desse tal Kwerve - respondeu o sujeito, com a voz
estremecida, a respiração fraca e acelerada. - Ou desse Aziel, ou de um cryodex,
ou de todo o resto. Eu só tenho uma boa fonte de brilhestim e procuro alguém
para distribuí-lo para mim. Até trouxe outra amostra, que está com ele ali. - Ele
começou a erguer a mão a fim de apontar para Becker.
E ofegou engasgado quando o guarda de Qazadi dobrou o braço dele no
cotovelo.
– Eu não estou com eles - gemeu o prisioneiro. - Eu juro.
Por mais um momento, Qazadi encarou o sujeito. O homem
estremeceu sob o olhar do Falleen e evitou seus olhos como se estivesse à
beira das lágrimas. Bem diferente do traficante arrogante e convencido que
Crovendif havia descrito, pensou Villachor com desdém.
– Levem-no para meus aposentos - disse Qazadi finalmente. - O que ele
carregava?
– Um comlink, uma holocâmera e uma pequena ampola - respondeu Becker. -
Talvez o brilhestim. Sem armas.
– Tragam aqui.
Novamente Becker deu uma olhadela para Villachor em busca de
confirmação, depois deu um passo à frente e entregou os itens para um dos
homens que segurava o prisioneiro.
– Levem essas coisas para os meus aposentos também - ordenou Qazadi. -
Esperem por mim lá.
– Nós obedecemos, Vossa Excelência - disse um dos guardas.
Ele empurrou o prisioneiro, e o trio foi na direção do
turboelevador de serviço no fundo do saguão. Qazadi observou a saída deles,
depois se voltou para um dos quatro guardas humanos remanescentes.
– Levem mais dois e os meus airspeeders e se posicionem em pontos de
observação ao redor do Hotel Lulina Crown - ordenou ele. - Eu mandarei o lorde
Aziel trazer o cryodex aqui. Se o mestre Villachor estiver correto e esta for
simplesmente alguma cópia bem feita, ele responderá ao chamado sem hesitação
ou medo.
Ele olhou para Villachor.
– Se o mestre Villachor estiver errado e este for mesmo o cryodex de Aziel,
ele tentará fugir. Pelas próprias ações, Aziel será condenado.
O guarda se curvou.
– Eu obedeço, Vossa Excelência. - Ele puxou o comlink e saiu rapidamente do
saguão, na direção da garagem.
– Posso oferecer a assistência da minha própria segurança? - perguntou
Villachor com hesitação.
– Existe alguém em quem você confie com a própria vida? - contra-
argumentou Qazadi.
Diante das circunstâncias, Villachor sabia qual seria a resposta correta.
– Não - admitiu ele.
– Então seus homens não podem ajudar - falou Qazadi. - Eu lhe informarei os
resultados dos interrogatórios no devido tempo.
Ele deu meia-volta e foi na direção da escada, com os dois Falleens e os três
humanos formando uma caixa móvel ao redor de Qazadi.
Villachor observou o vigo ir embora, com uma sensação de nó no estômago.
Nas quase três semanas desde a chegada de Qazadi e seu séquito, ele tinha visto
os guardas do Falleen assumirem uma formação defensiva tão óbvia apenas nas
raras ocasiões quando eles saíam da segurança da mansão para as dependências
lá fora. Obviamente, Qazadi não se sentia mais seguro dentro da casa de
Villachor.
Villachor mal podia culpá-lo. Se o cryodex era falso, como tinha sido feito?
Se era real, o que poderia ter possuído Aziel para que ele fizesse essa jogada
louca por poder?
A não ser que o pessoal de Kwerve não estivesse apenas mirando em
Villachor. Talvez eles estivessem trabalhando com ambos os lados: com Aziel
pelo cryodex, com Villachor pelos próprios arquivos.
Ou talvez não houvesse traição alguma. Afinal de contas, ele só tinha a
palavra de Qazadi de que o cryodex de Kwerve era idêntico ao de Aziel. Será
que essa era a forma de Qazadi pintar Villachor com a suspeita de traição?
Se fosse isso, provavelmente não haveria nada que pudesse fazer. Villachor
era um chefe de setor; Qazadi era um vigo. Se Aziel era realmente um traidor ou
se Qazadi estava manipulando uma prova inexistente para implicar Villachor, era
a palavra de um lado contra a de outro.
E não havia dúvida alguma sobre em que lado o príncipe Xizor acreditaria.
De repente, o acordo com os imperiais parecia cada vez melhor.
– Senhor? - disse Tawb.
Villachor saiu dos pensamentos sombrios e sentiu uma onda de determinação
renovada. Ele não sairia correndo para lorde D'Ashewl, Darth Vader ou até
mesmo o próprio imperador. Ele defenderia sua posição e lutaria pelo poder e o
território que trabalhara tão pesado para construir. O poder e o território que
eram dele por direito. Como Villachor seria sequer capaz de pensar em desistir?
E aí ele se deu conta de como fora capaz de pensar naquilo e cerrou os dentes
em um rosnado cruel.
Maldito Qazadi e seus feromônios de Falleen, de qualquer forma.
– Senhor? - repetiu Tawb com mais urgência.
– O que foi? - disparou Villachor.
– Estou recebendo informes de uma comoção lá fora - disse o guarda-costas
em tom de emergência.
– Que tipo de comoção? - A voz de Qazadi cruzou o saguão.
Villachor se virou. O falleen e sua guarda haviam parado perto da base da
escada e estavam olhando para Villachor e os outros.
Villachor virou-se para Tawb. E ele amaldiçoou Tawb e sua boca grande
também.
– Você já ouviu falar — ele rosnou. Que tipo de comoção?
– Parece... — Tawb franziu a testa e aproximou-se do comlink de seu clipe.
Parece que alguns dos droides estão ficando loucos...
19
– O que você quer dizer com eles sumiram? - indagou Villachor. —Ambos?
– Sim, senhor - respondeu Kastoni, com um tom de fúria contida por pouco. -
E dois dos guardas do mestre Qazadi estão mortos. Parece que nosso vendedor
de brilhestim é mais do que um típico traficante de drogas.
Villachor apertou o comlink com tanta força que doeu. Aquilo, ou eles tinham
tido ajuda de quem quer que tivesse roubado o pingente de Sheqoa.
– Encontre-os — ordenou ele, deixando sua raiva e frustração entrarem em
banho-maria. Estourar furioso apenas o impediria de pensar claramente, e isso
era a última coisa a que Villachor podia se dar ao luxo. — Retire quantos
homens forem necessários da patrulha das dependências, mas encontre-os.
– Senhor, eles provavelmente já estão fora das dependências...
– Se estiverem, cuidaremos deles depois - interrompeu Villachor. - Você se
concentre em garantir que eles não estejam se escondendo em algum lugar na
minha casa. Ficou claro?
– Sim, senhor.
Villachor desligou, praguejou baixinho e ligou para Sheqoa.
– Os prisioneiros fugiram - disse ele quando o outro atendeu.
– Sim, eu acabei de saber - falou Sheqoa com a cara fechada. — Eu mandei
mais cinco homens para Kastoni e estou tentando retirar guardas suficientes das
dependências para colocar em cada porta.
– Utimo - disse Villachor. - Deixe bem claro que ninguém entra ou sai sem
minha ordem expressa.
– Sim, senhor - respondeu Sheqoa. — Quer que eu destaque mais alguns
homens para o senhor?
– Você quer dizer caso eles peguem Manning e Tawb cochilando como eles
fizeram com os finados guardas de mestre Qazadi? - falou Villachor em tom
ácido. - Acho que isso é muito improvável.
– Sim, senhor - disse Sheqoa. - Se eles ainda estiverem aqui, nós vamos
encontrá-los.
20
– Eu não sei — disse Kastoni, olhando para frente e para trás nos monitores e
teclados. Tenho certeza de que fizeram alguns ajustes em algum lugar. Por que
mais eles entram aqui? Mas não tenho ideia do que eles poderiam ser.
– Vamos precisar de um técnico — concordou Lando, fingindo olhar em volta.
Ele notou o console que Zerba havia cortado quase tão logo ele entrou na sala.
Mas, claro, ele sabia o que procurar. Ele também sabia que não deveria apontar
muito depressa. Já fiz a ligação, mas todos os nossos técnicos estão espalhados
pela cidade nos vários locais do Festival. Vai demorar um pouco para qualquer
um deles voltar.
– Tudo bem — disse o outro guarda, Bromley, do outro lado da sala. De
qualquer forma, não acho que o Mestre Villachor queira que seu pessoal esteja
bisbilhotando por aqui. Nosso chefe de andróides poderá consertá-lo assim que
ele acordar.
– Espero que sim — disse Lando, olhando casualmente para a porta.
E ele estava petrificado. No outro extremo do corredor, falando
incessantemente para o comlink escondido em seu clipe enquanto caminhava em
direção à sala de controle, estava Sheqoa.
Uma das poucas pessoas na propriedade de Marble que conhecia Lando de
vista.
De repente, Lando ficou sem tempo.
– Espere um segundo — disse ele, apontando o dedo para o console
danificado. Aquela consola ... vês o corte?
– Sim — disse Kastoni quando ele cruzou para ela. Parece que eles fizeram
isso com a mesma coisa que usaram para cortar e abrir a porta.
– Tenho certeza de que era — disse Lando, juntando-se a ele e examinando
seu próprio console. Não havia nada para identificá-lo como um painel de
controle do 501-Z, pelo menos nada que ele pudesse ver. Mas, obviamente, Bink
tinha percebido que era, e se ela pudesse fazê-lo, certamente o sargento da
polícia Talbot poderia fazer isso também. Parece que é um console de controle
501-Z — disse ele. Eles têm Zeds patrulhando os jardins em algum lugar?
Com o canto do olho, viu Kastoni balançar a cabeça em sua direção.
– Isso controla os Zeds? Ele bufou. Oh inferno. Ele tocou o comlink que
estava em seu clipe. Lando prendeu a respiração... – É Kastoni, senhor — disse
Kastoni rapidamente. Parece que eles estavam mirando no painel de controle dos
Zeds ... Sim, senhor.
Ele recuou e esticou o pescoço para olhar pelo corredor.
Sim, eu vejo ... Mestre Sheqoa? -eu chamo-. Mestre Villachor requer sua
presença.
Kastoni foi pelo corredor. Lando virou as costas para ele, inclinando-se sobre
o console Zed, enquanto fingia examinar o corte irregular que o sabre de luz de
Zerba havia produzido. Atrás dele, os dois homens conversavam em voz baixa e,
embora Lando não conseguisse distinguir as palavras, ele pôde ver a mudança no
tom de voz de Sheqoa quando parou de falar com Kastoni e começou a
conversar com Villachor. A conversa chegou ao fim e Lando ouviu passos que
estavam saindo rapidamente.
– Você foi verificar seus Zeds? Lando perguntou por cima do ombro.
– Sim, se eles ainda estão lá — Kastoni rosnou, chegando ao seu lado.
– Você sabe que a polícia sabe alguma maneira de acordar alguém que foi
atingido por um atordoador? Bromley perguntou. Alguma droga ou algo que
possamos usar?
– Nada que possa ser legal — Lando disse a ele. Sinto muito. Aqui, você
poderia me ajudar a tirar esse outro console do caminho? Precisamos ver se os
cabos deles também entram nos conduítes da parede.
O landspeeder de Aziel não fora tão fácil de invadir quanto Dozer fizera
parecer. Longe disso. Mas ele era o melhor, ele estava determinado, e o Sol
Negro realmente precisava gastar os créditos em uma segurança melhor.
Ainda assim, Dozer podia ouvir os passos se aproximando no permacreto na
hora em que finalmente terminou e rolou pelo chão até um ponto seguro.
Winter o esperava a cinco fileiras de distância, abaixada atrás de um clássico
Incom T-24 lindamente restaurado.
– Nada como terminar em cima do laço - murmurou ela.
– Isso mantém o coração batendo - sussurrou Dozer de volta enquanto olhava
por trás do estabilizador ventral do T-24 e se perguntava se o seu dono tinha
optado por um sistema de segurança decente.
Havia doze pessoas vindo a passos largos, incluindo Aziel. O contingente
completo, se a estimativa anterior de Rachele sobre o
tamanho do grupo estivesse correta. Em volta da cintura de Aziel
havia uma pochete que aparentemente continha o cryodex.
– Qual é o plano? - perguntou Winter.
– A primeira parte de qualquer plano é sempre a mesma - respondeu Dozer
enquanto abria o console do controle remoto que ele instalara no sistema do
landspeeder. O sincronismo ali seria importantíssimo. - Você separa o doce das
pessoas contratadas para guardá-lo.
– Se você quer dizer que espera que ele entre naquele landspeeder sozinho,
isso não vai acontecer - alertou Winter. - Lá em Marblewood, o motorista e dois
guardas sempre entraram no mesmo momento que Aziel.
– Eu sei - falou Dozer. - A gente simplesmente vai ter que se virar com o que
tem.
O primeiro humano da fila parou diante do landspeeder de Aziel e entrou pela
porta do motorista. Assim que o sujeito fez isso, o próximo homem na fila
passou por ele e abriu a porta traseira. O segurança entrou e foi seguido por
Aziel, que por sua vez foi acompanhado pelo próximo homem na fila. Os demais
guardas esperaram até que ambas as portas estivessem fechadas, depois foram na
direção dos outros três landspeeders. Dozer se concentrou para escutar o motor
do primeiro landspeeder ser ligado.
E no meio segundo entre a ignição e a digitação do código de acesso do
motorista, Dozer ativou o interruptor do redirecionador no console.
Com um ronco, os motores foram levados à potência máxima.
Dozer apertou o acelerador e girou completamente o controle de
nível; o veículo deu um pulo para cima e colidiu com força no teto de
permacreto.
Os guardas eram bons, de fato. Nenhum deles perdeu tempo olhando
boquiaberto para o movimento súbito e inexplicável do landspeeder. Em vez
disso, os oito sacaram as armas de raios e se espalharam, à procura de quem
seria o responsável pela sabotagem.
Um segundo depois, correram freneticamente para se proteger quando Dozer
derrubou o landspeeder bem no meio deles.
– Você pegou um - avisou Winter baixinho de uma nova posição, no nariz do
T-24. - O resto está se protegendo entre outros veículos.
Onde Dozer não poderia atingi-los. Mas era um atitude óbvia de defesa, e ele
tinha contado com ela. Tudo que Dozer realmente queria fazer era atrasá-los e
obrigá-los a reagir em vez de pensar.
Porque aquele era o momento de afastá-los de Dozer. Ele ergueu o
landspeeder acima do nível dos veículos em geral, balançou-o violentamente
para trás e para frente, a fim de manter os passageiros se agitando no interior, e
lançou o landspeeder pela garagem, na direção dos destroços dos dois veículos
que Dozer e Winter haviam provocado antes.
Com a mistura perfeita de raiva frustrada e reação irracional com que Dozer
contara, o grupo inteiro de guardas se levantou dos esconderijos e disparou atrás
do landspeeder.
Dozer deu um sorrisinho. Perfeito. Agora tudo que ele tinha que fazer era
manter o veículo balançando tanto que o motorista não conseguisse pressionar o
botão para desligar o motor, deixar os guardas caçarem o sabotador que eles
naturalmente presumiam que estivesse em algum ponto perto do destino do
landspeeder, e depois trazê-lo de volta para lá. Antes que os guardas
conseguissem retornar, ele deveria ser capaz de virar o veículo de cabeça para
baixo, abrir a porta, tirar o cryodex da pochete de Aziel enquanto o Falleen e
seus guardas estivessem tontos demais para fazer qualquer coisa, e fugir dali.
– Cuidado. Três deles estão entrando em um dos outros landspeeders - alertou
Winter.
O sorrisinho de Dozer virou uma careta. Ok, então os guardas de Aziel não
eram tão burros quanto ele pensara. Eles estavam dividindo as apostas; um grupo
cuidava da busca no solo, enquanto o outro voava.
O que significava que ele tinha menos tempo do que pensara para terminar o
plano.
– Você pode fazer ligação direta em um airspeeder? - perguntou Dozer para
Winter.
– Provavelmente - respondeu ela, e pelo rabo de olho, Dozer viu Winter
olhando em volta. - Algum modelo em especial?
– Esquece - falou Dozer. Ele recuou até Winter e enfiou o console nas mãos
dela. - Para frente, para trás, de lado, balançar, acelerar - disse ele rapidamente,
tocando cada controle para identificá-los. - Mantenha o landspeeder lá, e
mantenha-o em movimento.
– Dozer...
– E se o landspeeder cair, significa que o motorista desligou o motor, e nós
desistimos e saímos correndo - acrescentou ele olhando para os veículos
estacionados mais perto; Dozer optou pelo OS-20 a dois veículos dali.
– Dozer, cuidado!
Ele deu meia-volta. Um airspeeder negro entrou roncando pela entrada
desobstruída, com mais dois pairando em posições de guarda atrás dele. O
primeiro veículo parou assim que entrou na garagem enquanto o motorista
aparentemente avaliava a situação.
– São de Villachor - disse Winter com a voz tensa. - As placas...
– Sim, sim - interrompeu Dozer ao pegar de volta o console. - Pegue um
veículo para nós, eu vou contê-los.
O recém-chegado concluiu a avaliação e se voltou na direção do landspeeder
de Aziel, que estava pairando...
E virou a toda para o lado, tentando sair do caminho, enquanto Dozer
mandava o veículo sabotado diretamente para cima dele.
O outro piloto quase conseguiu. O veículo de Aziel pegou de raspão no
anteparo dos jatos e jogou o airspeeder contra a parede lateral em uma colisão
rangente. Um vislumbre de movimento chamou a atenção dos olhos de Dozer: o
outro landspeeder de Aziel havia decolado então, com propulsores a toda
velocidade, a caminho do veículo sabotado.
E com isso, as chances de Dozer de repente foram reduzidas a zero. Com dois
veículos no jogo e mais dois pairando do lado de fora, à espera de uma
oportunidade de participar, era apenas uma questão de tempo para que eles
conseguissem isolar o veículo sabotado de Aziel por tempo suficiente para o
motorista se soltar dos assentos e desligá-lo.
Era agora ou nunca.
– Proteja-se - disparou Dozer e virou o controle com força.
O landspeeder sabotado mudou de direção e colidiu novamente no recém-
chegado. Dozer virou-o novamente para frente e trouxe o veículo diretamente
para o ponto onde ele e Winter estavam abaixados. Pela visão periférica, notou
que os dois airspeeders lá fora tinham desaparecido em algum lugar. Dozer
trouxe o veículo sabotado quase até eles, colidiu-o com o teto pela última vez,
depois virou o landspeeder de cabeça para baixo e fez com que deixasse cair no
chão na frente deles.
Ele não tinha ideia de quanto tempo levaria os homens e as pessoas dentro
para se recuperar daquele duplo impacto. Ele também não tinha intenção de ficar
tempo suficiente para descobrir. Saltando de seu esconderijo, ele correu para o
veículo que estava virado de cabeça para baixo, digitou o controle de seu seguro
e abriu a porta.
O interior do slider da Terra estava quase tão quebrado quanto o exterior.
Aparentemente, Aziel tinha sido equipado com um frigobar com bebidas para o
seu conforto, o conteúdo do qual, foram espalhados em cima, ou estavam
pingando nos luxuosos assentos.
Mas nada disso importava. A única coisa que importava era o cryodex que
permanecia preso ao redor da cintura do idiota atordoado, e que não havia
blasters apontando para ele. Descompactando a mochila que estava na cintura de
Aziel, Dozer se agachou para sair do veículo e correu na direção dos turbolifts.
Ele não teve tempo para se apossar de um hovercraft naquele momento, ele sabia
disso, e mesmo se ele tivesse, ele não tinha nenhum lugar onde pudesse ir com
ele. Sua única chance era tentar escapar dos perseguidores que os procuravam no
estacionamento e jogar todas as suas possibilidades no nível do solo.
Winter estava agachado ao lado de um dos hovercrafts, trabalhando na
fechadura. Dozer agarrou seu pulso quando ele passou, fazendo-a ficar de pé e
arrastando-a para trás dele. Atrás dele, o estacionamento explodiu com os flashes
e a fúria de várias explosões de blaster, e Dozer fez uma careta enquanto muitas
das cenas queimavam o ar acima de suas cabeças. Ele pensou em olhar para trás
para ver o quão próximos seus perseguidores estavam, mas decidiu que ele tinha
que focar toda a sua atenção em sua fuga. Os turbolifts não estavam mais de
trinta metros à frente. As portas de todas abriram ao mesmo tempo...
E com uma maldição horrorizada, Dozer parou de repente. Em um piscar de
olhos, a situação subitamente chegara ao fim.
O jogo estava encerrado... e ele e Winter haviam perdido.
CAPÍTULO
21
22
O jogo acabou, Winter pensou com frieza. Ela jogara bem e sobrevivera por
muito mais tempo do que jamais imaginara. Certamente por mais tempo que
muitos de seus companheiros. Mas então acabou.
E ela perdeu.
Sem forças, Winter estimava que havia pelo menos trinta, ao vê- los sair aos
borbotões dos turboelevadores. Trinta stormtroopers imperiais. As armaduras
brancas reluziam mais do que deveriam na luz difusa do lugar, com os fuzis de
raios de prontidão enquanto eles se espalhavam com eficiência silenciosa pela
garagem.
– Lá se foi nossa fuga - murmurou Dozer ao lado dela. - Pelo menos nós
sabemos por que aqueles outros dois airspeeders de repente descobriram outro
lugar para estar.
Winter olhou para trás. Pairando do lado de fora da entrada da garagem,
reluzindo como a armadura dos stormtroopers na luz difusa da cidade, estava
uma nave imperial de desembarque, classe sentinela, com canhões de laser e
armas de raios giratórias cobrindo a garagem.
– Vocês - disse bruscamente uma voz filtrada.
Winter se virou para a frente. Dois stormtroopers foram até ela e Dozer, com
os fuzis de raios não exatamente apontados para eles.
– Venham conosco.
E ali o jogo realmente chegava ao fim.
Outro homem tinha surgido dos turboelevadores abertos quando Winter e
Dozer chegaram. Ele foi meio que uma surpresa: um sujeito mais velho, de rosto
rosado e com um excesso de peso bem maior do que até mesmo um oficial
superior da Frota poderia manter impunemente, vestindo roupas comuns, porém
caras. Alguém importante, a julgar pela maneira como a escolta de stormtroopers
ficou em posição de sentido ao parar diante dele.
– Ah — falou o homem alegremente, com um olhar intenso, concentrado e
sagaz. - É isso?
– É isso o quê? - perguntou Dozer, com uma confusão genuína na voz. - Eu
não sei o que está acontecendo aqui, mestre, mas estou muito contente que o
senhor e suas tropas tenham aparecido. Essa gente - ele apontou para trás com o
polegar - está maluca ali. Simplesmente maluca.
– Sério? - comentou o homem calmamente. - Voando a esmo como maníacos,
não estavam?
– E batendo no telhado e nos veículos estacionados e simplesmente destruindo
o lugar inteiro — disse Dozer pegando gosto pela história. — Pensei que a gente
fosse morrer, com certeza.
– Uma experiência assustadora, realmente - apiedou-se o homem, quase como
se genuinamente acreditasse naquilo. - Mas não se preocupe. Tudo acabou agora.
Vamos prender todo mundo e resolver essa situação. - Ele acenou com a cabeça
na direção da lateral de Dozer. - E muito obrigado por recuperar minha pochete.
Não sei como você conseguiu, mas fico contente por você ter sido capaz de
resgatá-la antes que essas travessuras pudessem danificá-la ainda mais.
Winter sentiu um aperto no coração. Então os imperiais sabiam até sobre o
cryodex.
– Sua pochete? - perguntou Dozer franzindo ao abaixar o olhar para o objeto
na mão. - Não, não, isto é...
– Isso é a minha pochete, que foi roubada de mim - interrompeu o homem
com firmeza. - É por isso que, quando recebi uma dica de seu paradeiro, eu
imediatamente chamei o capitão Worhven do destróier estelar imperial
Dominador e pedi que ele me ajudasse a recuperá-la. - O sujeito sorriu de novo,
e desta vez o sorriso era incisivo. - Eu tenho certeza de que você entende como
às vezes é difícil trabalhar com os nativos.
Winter engoliu em seco. Especialmente quando os nativos eram
essencialmente propriedade de Villachor e do Sol Negro, que os controlavam.
– Ficamos contentes em poder ajudar - disse ela cutucando Dozer. Diante das
circunstâncias, realmente não havia sentido em arrastar mais a situação.
Com um suspiro resignado, Dozer entregou a pochete para o homem.
– Obrigado — disse ele, que abriu a pochete e espiou o interior. — Sim, é isto
aqui, comandante — confirmou o homem ao fechá-la e se virar para o
stormtrooper ao lado. - Mande que seus homens recolham todo mundo e levem-
nos para a guarnição de Tweenriver ser interrogado. By the way, o que aconteceu
com os outros dois hovercraft? Espero que eles não tenham permissão para
escapar.
– Não, meu senhor, nós os temos — disse o stormtrooper.
– Excelente — disse o homem. Naturalmente, as comunicações por qualquer
dos prisioneiros não são permitidas.
Sim, meu senhor. O stormtrooper fez um gesto em direção a Dozer e Winter.
O que há com esses dois?
O homem olhou para Winter e Dozer, e pareceu a Winter que, dessa vez, seu
sorriso tinha um toque de satisfação irônica.
– Sr. e Sra. Smith podem se aposentar — disse ele. Você vai precisar de ajuda
com seu veículo?
Houve uma breve pausa enquanto Dozer aparentemente tentava dizer algumas
palavras.
– Não — ele finalmente disse. Obrigado Nós podemos gerenciar.
– Muito bem — disse o homem energicamente. Adeus
Ele se virou e voltou para o elevador, enquanto um dos stormtroopers o seguia
respeitosamente atrás dele.
O outro stormtrooper fez um gesto com seu blaster.
– Eles ouviram — ele disse bruscamente. Saia.
Sem esperar por uma resposta, ele passou por eles e se dirigiu para onde os
outros imperiais estavam reunindo os homens furiosos de Aziel em pequenos
grupos para desarmar e algemar.
– Vamos — disse Dozer entre os dentes cerrados, pegando o braço de Winter e
voltando para o hovercraft em que ela estava trabalhando. Você conseguiu abri-
lo?
– Sim — disse Winter, com a cabeça ainda girando. Isso tinha que ser algum
tipo de truque. Algum jogo que o predador estava jogando com sua presa.
Ela ainda estava esperando para cair os atingiu enquanto Dozer jogado com
cabos hovercraft, acendeu-o e atirou para o céu, transformando cuidadosamente
pela saída, sob o escrutínio do alerta olho e lasers silenciosas da patrulha Ele
estava de guarda sobre o Sentinela.
– Era muito barulhento para permanecer em segredo — disse Dozer
amargamente enquanto ele as levava para o fluxo do tráfego através das luzes da
cidade.
– Que queres dizer? Winter perguntou.
– Isso não é óbvio? Ele rosnou. Os imperiais conhecem a coisa toda
completamente. Primeiro, eles nos permitem obter o cryodex para ficar com ele,
e agora eles estão nos deixando livres na esperança de que possamos obter os
arquivos de chantagem também.
Winter sentiu o estômago apertar. Claro. Ela tinha estado tão focada em seu
relacionamento com a Aliança, que por um momento ela esqueceu que estava
em um lado completamente diferente dessa vez.
– O contato de Eanjer — ele murmurou.
– Quem mais? Disse Dozer sombriamente. Não é de admirar que o homem
soubesse o suficiente sobre Sol Negro e Qazadi.
– Eu me pergunto que tipo de acordo Eanjer terá alcançado com ele.
– Seja o que for, não está fazendo isso — disse Dozer com firmeza. A
evidência está aqui. Mesmo assim, isso será como um enorme quebra-cabeça
para Villachor e Qazadi, para digeri-lo.
– Você quer dizer o desaparecimento de Aziel e do cryodex sem deixar
rastros? - perguntou Winter.
Ela puxou o comlink e ligou o sinalizador. Não adiantou - eles ainda deviam
estar dentro do campo de interferência dos imperiais.
– Não vai durar muito, você sabe - disse Winter. - Eles terão que deixá-lo sair.
– Claro, mas tomara que não soltem Aziel até a gente estar bem longe...
– Espere — interrompeu Winter quando o comlink deu sinal. Ela atendeu. -
Rachele?
– Sim - respondeu ela parecendo aliviada. - Vocês estão bem? Eu fiquei
ligando sem parar.
– Estamos bem - garantiu Winter. - Os imperiais tinham um campo de
interferência sobre o hotel.
– Os imperiais?
– É uma longa história; não temos tempo - falou Winter. - O que está
acontecendo com Bink?
– Espere um instante — interrompeu Bink. — Você não pode simplesmente
deixar como está. O que está acontecendo com Aziel?
– Os imperiais chegaram e o capturaram — respondeu Winter. — Tanto ele
quanto o cryodex.
– O que deve, na verdade, trabalhar a nosso favor — comentou Dozer. -
Dependendo da velocidade com que a rede de espiões de Villachor descubra
isso, ele vai presumir que Aziel desertou para o Império ou então imaginar que
ele fugiu.
– Eu não vejo como isso nos ajuda — disse Rachele. — Se pensarem que
Aziel está fugindo, eles podem decidir apertar Tavia para descobrir o que ele está
tramando.
– Só que eles têm apenas a palavra de Sheqoa de que Tavia está envolvido —
disse Dozer. Sheqoa significa Villachor, e Qazadi não confia em Villachor além
do que Villachor representa para a segurança do cofre. Ele não vai interrogar
alguém simplesmente, digamos, porque é o que Sheqoa diz.
– Olha, podemos conversar sobre isso depois que Bink abrir o cofre — disse
Winter. Em que situação você está?
– Eu tenho três seqüências de código adicionais na minha frente — disse
Bink. Ela os leu. Você deve ter notado que eles têm comprimentos diferentes, o
que significa que eles não são apenas variantes de um código padrão de vários
dígitos ou algo parecido.
– Até agora, a equipe não encontrou nenhum padrão — disse Rachele.
Alguma ideia?
Winter olhou para a cidade abaixo deles, visualizando a distribuição do
teclado padrão Galáctico Superior que Villachor estivera usando e sobrepondo as
quatro sequências que eles já conheciam acima daquele teclado.
– A série parece estar em ordem alfabética — sugeriu ele.
– Sim, já temos essa parte — disse Bink em breve. Você não é o único que leu
tudo o que existe sobre Villachor. Poderia ser uma lista de batalhas famosas, ou
seus velhos animais de estimação, ou sua escola ...
– Eu tenho isso — disse Winter de repente, como se tudo aparentemente se
encaixasse. Claro-. Tente esta sequência: sete dois, nove, dois, três, quatro.
Houve um breve silêncio.
– Não está certo — disse Bink.
O inverno franziu a testa. Não foi certo?
Ele sorriu fortemente. Claro que não estava certo. Foi culpa dele por não ter
seguido as outras sequências completamente até o final. -Tente a mesma
seqüência, seguida por três, dois, cinco, três, seis, cinco, três.
Outro curto silêncio. Dozer subiu para a próxima via e acelerou.
– É isso - disse Bink, só faltando exultar. - Abrimos... lá vamos nós. Uma
caixa de datarcads de chantagem do Sol Negro... uma caixa realmente bonita...
mais uma pilha de outros datacards que Villachor sem dúvida também odiaria
perder. E um punhado das fichas de crédito mais lindas que vocês já viram na
vida.
– Eu desisto - falou Rachele, parecendo empolgada e perplexa ao mesmo
tempo. - O computador não consegue encontrar nada com aquela sequência.
– Isso porque o computador procura por palavras normais, mas não consegue
cobrir toda a gama de nomes próprios - respondeu Winter. - O código de hoje é
Qazadi Falleen. Villachor está alternando dentro de uma lista alfabética dos nove
vigos do Sol Negro, com suas respectivas espécies anexadas.
– Que lindo - disse Dozer. - Um lambe-botas subserviente, e é uma lista que
ele tem que manter memorizada de qualquer forma.
– Exatamente - falou Winter. - Como está indo o resto da operação?
– No rumo certo - respondeu Bink. - Kell está usando meu sensor e plantando
as cargas finais, Zerba está limpando o cofre, e eu vou subir de volta à sala da
guarda.
– Só não deixe de estar bem atrás dele quando as cargas dispararem - alertou
Rachele. - Aquela parte do universo vai se tornar um lugar bem insalubre por
bastante tempo depois da explosão.
– Não se preocupe, eu ficarei bem — falou Bink baixinho. - Até mais.
– Espere um instante... eu ainda não acabei de falar sobre Tavia
– disse Rachele. - Talvez a gente devesse mandar Lando e Chewie antes do
planejado.
– Se você fizer isso, corremos o risco de perder ambas as equipes
– alertou Dozer. - O plano todo é fazer com que tudo acontecesse ao mesmo
tempo, de maneira que Villachor não soubesse para que lado pular. Lembra?
– Han? - chamou Rachele. - O plano é seu, na verdade. O que você acha?
– Vamos dar um tempo agora - veio a voz de Han, suave e com um estranho
eco. - Eu não acho que Qazadi faria alguma coisa sem avisar Villachor a respeito
primeiro. Se vier aquela ordem, saberemos a tempo de colocar Chewie e Lando
em ação.
Winter franziu a testa para Dozer.
– Como ele espera saber o que Villachor está ou não fazendo? - murmurou
ela.
Dozer deu de ombros.
– É Han - disse ele, como se aquela fosse toda a explicação de que Winter
precisasse.
Ou, mais provavelmente, toda a explicação que ela receberia.
– Então ficamos esperando - falou Rachele, que ainda não parecia contente,
mas aparentemente estava disposta a aceitar a decisão de Han. - Mas ficaremos
em cima dele, ok?
– Claro — disse Han. - A conferência acabou. Todo mundo de volta ao
trabalho.
Winter olhou para Dozer com uma expressão de interrogação. Ele deu de
ombros e gesticulou, e ela desligou.
– O que faremos agora? — perguntou Winter.
– Eu não sei — respondeu Dozer lentamente. — O contato de
Eanjer provavelmente sabe onde fica a suíte. Por outro lado, pode
não saber. Eu realmente espero que ele não saiba onde é o ponto de encontro.
– Então nós não vamos nem à suíte e nem ao ponto de encontro?
Ele deu de ombros novamente.
– Eu só estava pensando que é uma bela noite para um passeio. Se importa de
se juntar a mim?
Winter olhou para a cidade. Ao longe, um dos apoteóticos espetáculos de
fogos de artifício estava começando.
– Claro, por que não?
Bink refletiu sobre o fato de que Han não tentou impedi-la, enquanto ele
atravessava a mansão. Zerba também não havia feito. Kell poderia ter tentado,
mas provavelmente não notara o fato de que ela os estava abandonando.
Essa foi a parte do assunto que o incomodou. Ele trabalhou com um bom
número de pessoas nos últimos anos e nunca falhou com nenhum deles antes.
Claro, ela não estava falhando nem Zerba nem qualquer um dos outros que
estavam aqui. Realmente não. Han agora tinha controle da situação e Han sabia
o que estava fazendo. Geralmente
Mas, às vezes, a percepção da culpa era ainda mais importante do que a
própria culpa.
Ele cerrou os dentes. Era sobre a irmã dele. Se eles não pudessem entender, ou
simplesmente não se importassem, então para o inferno com todos eles.
E especialmente para o inferno com alguém que cruzou seu caminho com o
argumento de que ele estava indo para a boca do lobo - na porta da suíte de
Qazadi, para ser morto. Isso seria alguém que não apenas não entenderia a
situação, mas também estaria insultando seu profissionalismo.
Diretamente à frente, o espaço entre os andares se estreitou para terminar em
outra porta pesadamente emoldurada que ela já havia cruzado duas vezes.
Soltando os ganchos que estavam presos no teto acima dela, ela deslizou a
cabeça e os ombros pela abertura, recolocou os ganchos do outro lado e
continuou se movendo. Pelo menos Han não deveria ter se preocupado com isso
- pelo que ele tinha sido capaz de ouvir, no momento em que ele contou a
história enquanto esperavam na usina - ficou claro para ele que ele já tinha
checado todos os ambientes aqui, e concluiu que havia muito espaço para ela
tornar invisível sua viagem pela mansão.
Embora, para ser justo, talvez o que o incomodava, era como Bink seria capaz
de lidar com a distância vertical entre o segundo e o quarto andar. Os poços dos
elevadores eram as rotas óbvias, o que também significava que o povo de
Villachor os cobria.
Para sua sorte, havia uma rota que provavelmente nunca ocorreria a nenhum
deles.
Ele sempre se surpreendera com o número de edifícios com mais de cem anos
que incluíam quartos ou corredores escondidos em algum lugar. Talvez os ricos e
poderosos naqueles tempos tivessem sido mais paranóicos que seus
descendentes hoje, ou talvez simplesmente, gostassem do romance e do glamour
um tanto antiquados daquilo tudo. Visto que a mansão de Villachor antigamente
abrigara um governador de setor, Bink apostaria muito que havia um conjunto
inteiro de passagens de emergência discretamente enfiadas em algum lugar entre
as paredes.
Infelizmente, as plantas de Rachele não incluíam nenhum refúgio escondido, e
ela não tinha tempo para procurá-los.
Felizmente, aquelas mesmas plantas mostravam o elevador de cozinha.
Bink abriu caminho pela parede com pouco esforço e menos barulho ainda. O
poço era simplesmente tão estreito quanto ela esperava. Também era fácil de
passar para alguém do tamanho dela, que sabia o que estava fazendo.
Bink entrou na passagem apertada e começou a escalar.
23
Nervoso, Lando notou que os disparos de raios estavam ficando mais altos e
intensos enquanto subia correndo a escada, três degraus de cada vez. Até agora
ele não tinha visto nenhum dos guardas de Villachor subindo por trás, mas isso
deveria acontecer muito em breve.
O ideal seria que o tiroteio tivesse parado no momento em que Lando
chegasse ao quarto andar da ala nordeste. No meio do corredor, estava o motivo
de os disparos continuarem. Um dos dois airspeeders havia parado no meio do
piso, bloqueando o que vinha atrás. Chewbacca e Eanjer estavam agachados
atrás do segundo veículo; o Wookiee mexia no controle remoto tentando fazer o
airspeeder ultrapassar o danificado. No fim do corredor, um Falleen e um par de
guardas humanos estavam agachados atrás de um fuzil de raios de repetição F-
Web que disparava uma rajada contínua nos airspeeders, enquanto um segundo
Falleen estava deitado ao lado deles mirando com o que parecia ser uma versão
pirata de um BlasTech T-21.
Lando parou ao lado de Eanjer.
– Por que a demora? — berrou ele mais alto que o tiroteio.
– Acertaram um tiro da sorte — berrou Eanjer de volta. - Chewie acha que
consegue consertar, mas vai levar tempo, e nós precisamos fazer o outro
airspeeder passar para mantermos a pressão sobre os atiradores no fundo do
corredor.
– Por que você não... - Lando matou a pergunta.
Era óbvio que Eanjer não podia fazer o conserto por Chewbacca. O controle
remoto precisava de duas mãos, e a mão direita medselada de Eanjer era inútil.
– Chewie, passe o controle para mim — disse ele para o Wookiee. — Eu darei
um jeito. Conserte o outro.
Chewbacca vociferou e enfiou o controle nas mãos de Lando, depois se deitou
no chão e rastejou até o airspeeder derrubado.
Com um airspeeder normal, Lando poderia simplesmente ter colidido o
segundo em cima do primeiro, amassando ou quebrando o canopi do primeiro
veículo para criar o espaço que precisasse. Mas os airspeeders de Villachor eram
reforçados e blindados demais para isso, o que coincidentemente também era o
motivo de eles já não terem sido fatiados pelos disparos de raios vindos da outra
ponta do corredor. Os esforços de Chewie já tinham derrubado parte do teto;
infelizmente, o vão entre pisos não tinha lhe dado suficiente espaço extra para
fazer o airspeeder passar.
Mas o Wookiee ainda não havia tentado bater contra as paredes. Se elas
fossem suficientemente finas, e se houvesse bastante espaço pelas laterais do
corredor, talvez isso funcionasse.
Lando fez o airspeeder que pairava no ar recuar alguns metros virou o veículo
na direção da parede e se preparou para a colisão.
Com uma brusquidão que passou uma forte impressão para Dayja de que tinha
sido premeditada, o grande espetáculo de fogos de Marblewood começou em
toda a sua plena glória brilhante. Não apenas com os rojões de baixa altitude que
ele tinha visto antes, mas também com os explosivos mais altos e rebuscados,
quase de nível militar.
O problema era que o escudo abrangente ainda estava ligado. E quando os
rojões acertaram o campo de energia invisível, explodindo prematuramente e
provocando uma chuva de fogo no solo, aquilo foi a gota d’água para a multidão
lá embaixo. Com berros, xingamentos e uma dispersão de gritos histéricos, a
multidão se desmanchou em caos.
Um pedaço dos destroços flamejantes caiu no telhado a mais ou menos 5
metros da chaminé de Dayja. Ele recuou e pegou o comlink. Basta! Se aquilo era
coisa de Eanjer ou apenas um acidente, Dayja não podia ficar mais sentado
assistindo.
Outro disparo explodiu contra o escudo e provocou uma chuva de fragmentos
sobre a multidão, e com uma sensação de resignação, Dayja guardou o comlink.
Era tarde demais. O pânico havia começado, e não havia nada que ele, a polícia
ou qualquer um dos outros serviços de emergência da Cidade de lltarr pudessem
fazer a respeito.
Tudo o que ele podia fazer agora era assistir.
Han havia avisado Kell que a coisa toda teria que se desdobrar rapidamente. O
garoto havia pego a palavra.
O detonito que foi colocado sob a plataforma flutuante foi o primeiro; um
grupo de pequenas cargas decepcionantes que deixaram as linhas de energia de
todos os repulsores na metade dianteira desabilitadas. A plataforma manteve sua
posição por não mais do que meio segundo, e então a borda de ataque caiu no
chão, produzindo um acidente explosivo. Quase mascarado pelo eco
ensurdecedor, houve uma crise ainda mais profunda, enquanto o pilar
enfraquecido que conectado com o chão que havia sido enfraquecida por Zerba-
sabre de luz, dobrados e entrou em colapso sob o súbito e pressão inesperada.
Outro meio segundo, e cargas finais de Kell explodiu, arrancando pedaços
duracrete da parte traseira do cofre, e um par de detonar carga em forma
explosiva que thunderously Shook ouvidos, que veio das armadilhas poderosos
caza- peitos que haviam sido enterrados abaixo da superfície.
Com a aparência de uma miniatura da Estrela da Morte explodindo nos
sistemas de pós-combustão, e com um rugido que parecia abalar para baixo toda
a mansão, o cofre caiu de seu pilar, rolou para baixo da plataforma inclinada, e
fez contato com o chão.
Por um segundo eterno, Villachor e seus homens observaram, incrédulos, a
esfera de seis metros de diâmetro que se dirigia para eles. Então, quase em
perfeito sincronismo, eles entraram em choque descontroladamente em sua
tentativa de sair do caminho deles.
Villachor e seus dois guarda-costas tiveram sucesso. Sheqoa e os outros três
guardas não conseguiram.
Mesmo antes de desaparecerem abaixo da esfera, Han já estava se movendo,
dando um passo à frente e se plantando entre os dois guardas, que agora
assistiam boquiabertos ao drama que se desenrolava dentro da caixa-forte. Han
colocou as mãos no peito deles e empurrou com o máximo de força possível para
cada lado.
Os trajes eram pesados, mas a força ampliada de Han foi mais do que
suficiente para a tarefa. Os guardas voaram para trás uns bons 3 metros antes de
caírem esparramados no chão - talvez longe o suficiente para estarem fora do
caminho da esfera que se aproximava, mas Han realmente não se importava
tanto assim, de uma forma ou de outra.
Agora ele estava mais preocupado com a vida das centenas de cidadãos que
poderiam estar andando ou parados diretamente no caminho de um colosso
rolante prestes a irromper pela parede da mansão. Os disparadores de fogos de
artifício instalados anteriormente por Kell e Zerba deveriam ter feito a maior
parte da multidão ir na direção das saídas, mas sempre havia alguns que eram
valentes, distraídos ou estúpidos demais para saber quando era a hora de ir
embora.
Para essas pessoas, o cofre rolante provavelmente seria o último erro de
cálculo que elas fariam na vida.
O cofre estava quase chegando à parede blindada da caixa-forte. Han deu
meia-volta, correu para a porta lateral da antessala e esvaziou a Caliban
emprestada na parede em volta da porta enquanto corria. A arma de raios ficou
vazia; Han a jogou fora e se lançou contra a porta, torcendo que a armadura
fosse tão resistente quanto parecia.
Era sim. Han atravessou a porta praticamente sem se abalar, e um enorme
trecho da parede veio com ele. A saída mais próxima para o lado de fora da
mansão ficava a 30 metros de distância, para o sul; Han recuperou o equilíbrio e
se virou para lá, torcendo fervorosamente para que conseguisse ser mais rápido
do que a esfera lá fora. Atrás dele, Han ouviu o ruído violento de destruição
conforme a esfera avançava pela blindagem da caixa-forte...
E eis que ele saiu pela porta do pátio e se voltou para o caminho da esfera.
Han estava certo em relação à multidão. A maioria das pessoas já estava bem
longe, correndo para os portões enquanto os fogos de artifício explodiam
espetacularmente contra o escudo abrangente acima delas. Mas algumas dezenas
de visitantes ainda estavam por ali e observavam as falhas dos fogos com uma
informalidade ou arrogância que parecia ensaiada.
Han revirou os olhos. Até ele sabia que deveria se abrigar quando chovia,
especialmente quando a chuva era feita de brasas. Ainda assim, se explosões
aleatórias no céu não eram suficientes para fazer esses últimos teimosos
andarem, talvez algo mais íntimo e pessoal fosse.
Ele tirou o chicote neurônico do cinto, ativou-o e girou-o bem acima da
cabeça.
A maioria dos indolentes já tinha visto Han na armadura reluzente. Todos
viram o brilho branco-azulado do chicote, que estalava e chiava.
– Andem! - berrou Han enquanto girava o chicote acima da cabeça. - Saiam
daqui... agora!
Eles finalmente entraram em movimento, correndo como um Toong assustado,
quando a esfera irrompeu pela parede externa da mansão e rolou pelo pátio,
destruindo as pedras da pavimentação embaixo dela ao passar. Dez metros à
frente do cofre, onde a pavimentação cedia espaço para a grama, uma cerca de
estacas se erguia do solo e circundava a mansão como uma floresta eletrificada e
mortal de 6 metros de altura.
O cofre atravessou rolando a cerca sem sequer desacelerar.
Han passou se abaixando pelo vão que ainda chiava e forçou os limites de
velocidade e força da armadura para correr em volta do cofre e chegar à frente
dele. Novamente girando o chicote freneticamente acima da cabeça, ele avançou.
Aquela era uma das façanhas mais malucas que Han realizara na vida. Mas
estava funcionando. No escuro, com a distração dos fogos de artifício, muitas
das pessoas no caminho da esfera provavelmente jamais teriam visto o perigo até
que fosse tarde demais. Mas uma figura de armadura com um chicote azul
brilhante era impossível não ver. Elas se espalharam diante de Han, a maioria
entendeu a situação e correu para as saídas, os demais dispararam em todas as
direções, exceto o vetor em que Han e o cofre seguiam.
Ele continuou em frente, observando o cofre no monitor traseiro, torcendo
para que conseguisse se manter a salvo até que a esfera finalmente perdesse o
ímpeto. Torcendo, também, para que ela não pegasse a parte de trás da grande
multidão que se dirigia para as saídas, deixasse um enorme rastro de morte entre
as pessoas e depois quebrasse o muro exterior e entrasse no intenso tráfego da
Cidade de Iltarr.
Han torcia muito, muito mesmo para que isso não acontecesse.
Parecia, pensou Han mais de uma vez, com algo saído de um holodrama
insano.
Ele esperava que o cofre rolasse em uma bela linha reta. Não rolou. O
segmento aberto da esfera ocasionalmente se prendia no chão, o que às vezes
atrasava o ímpeto à frente, e em outras alterava drasticamente a direção. Han
tinha que prestar atenção no monitor traseiro do capacete para evitar perder
completamente a esfera, ao mesmo tempo que continuava a interpretar o papel
do droide descontrolado enquanto tirava as pessoas do caminho do perigo.
Algumas vezes Han pensou ter visto alguns seguranças de Villachor, mas eles
estavam tão boquiabertos quanto os visitantes. Nenhum dos seguranças fez
qualquer esforço para detê-lo. Quando estava já no meio das dependências, o
segmento finalmente bateu no solo com força suficiente para se quebrar. Depois
disso, o trajeto da esfera ficou muito mais previsível.
Por alguns maus momentos, Han pensou que sua preocupação anterior seria
confirmada, de que a esfera realmente fosse atravessar o muro e entrar na cidade.
Mas, pelo menos dessa vez, o pior não aconteceu. A esfera desacelerou e
finalmente parou a cerca de 50 metros do muro. Han desligou o chicote, deu
meia-volta e voltou-se para ela.
Ele estava olhando para o túnel formado pelo armário de pedra Hijarna,
quando a porta se abriu, e Zerba e Kell se arrastaram de maneira insegura.
– Eles estão bem? Han perguntou a eles.
– Isso foi ótimo — disse Kell, soando e parecendo estar bêbado. Lembre-me
de nunca mais fazer isso.
– Sempre será melhor do que andar — disse Zerba. Especialmente quando há
pessoas que estão atirando em você.
– Contanto que a sua porta não termine na parte inferior — disse Han,
enquanto os ajudava a sair do túnel e ir para o chão.
– Não foi por acaso — assegurou-lhe Zerba. O gabinete estava fora do centro
da esfera, e a pedra Hijarna é muito mais densa que a duracreta. O mesmo
princípio que o dado cobrado.
Eu vou acreditar sua palavra 'eu disse Han. Um ruído fora explosões da
direção da mansão foi ouvido, e se virou para ver um avanço do acelerador do
caminhão vários passageiros, atravessando a abertura segura tinha produzido na
cerca de arame farpado eletrificada, e que se dirigia a eles pelo meio dos jardins.
Atrás dele, uma chuva de fogos de artifício estava furiosa nas paredes da sala.
– Que bom — disse Zerba com aprovação. Eu acho que não há chance de eles
queimarem completamente o lugar.
– Provavelmente não — disse Han. Mas, desde que eles tenham que lidar com
o que resta de segurança, não acho que eles nos incomodem.
– A menos que esses sejam alguns deles — alertou Kell, apontando com um
dedo ainda instável em direção ao veículo que se aproximava.
– É apenas sobre Chewie — assegurou Han.
– Tem certeza? Kell perguntou.
Han concordou com a cabeça.
– Eu conheço o estilo de voo dele.
Mesmo assim, não faria mal verificar. Han ligou a visão telescópica do traje e
deu um zoom na speeder van. Era realmente Chewbacca, com Lando e as
gêmeas com ele.
Não havia sinal de Eanjer.
Han franziu a testa e melhorou a captação da imagem, caso tivesse deixado de
ver Eanjer nas sombras, em algum dos bancos detrás. Mas o homem não estava
ali. Han franziu ainda mais a testa e mudou a atenção para as dependências atrás
da speeder van, depois para a mansão. Ainda não havia sinal de Eanjer.
Ele estava verificando as janelas da mansão para ver se o sujeito poderia estar
preso lá dentro quando algo acima delas chamou a atenção.
Havia um homem sentado no telhado.
Han aumentou um pouco a visão telescópica. Não apenas havia um homem
sentado calmamente lá em cima, mas ele estava com um par de eletrobinóculos
nos olhos. Alguma espécie de observador?
Mas aqueles não eram eletrobinóculos comuns, Han percebeu ao se concentrar
no equipamento. Eles eram pequenos e compactos, do tipo que a pessoa poderia
enfiar em um bolso lateral sem sequer ser notado. O tipo caro de eletrobinóculos
que um oficial imperial do alto escalão usaria.
Um oficial do alto escalão ou um agente imperial.
Irrefletidamente, Han afastou o olhar. Dozer havia especulado mais cedo que
o contato de Eanjer pudesse ser um imperial. Parece que ele estava certo.
– Pegaram tudo? - perguntou ele para Zerba enquanto tirava o capacete e
soltava as presilhas da armadura do torso.
– Bem aqui - confirmou Zerba dando um tapinha na pochete da cintura. —
Arquivos de contrabando, outros datacards variados, e todas as fichas de crédito
de Eanjer.
– Otimo - disse Han soltando a armadura do braço e do torso no chão. —
Deixe comigo. Kell, pode me dar uma mão para sair dessa coisa?
Na luz refletida, ele viu Zerba franzir a testa. Mas o outro simplesmente soltou
a pochete e a entregou.
A armadura tinha sido retirada e Han estava revirando a pochete quando a
speeder van freou ao lado deles. A porta se abriu e Chewbacca rosnou.
– Sim, quase - falou Han. - Onde está Eanjer?
– Ele ficou para trás a fim de virar mais alguns canhões de fogos de artifício
na direção da mansão - respondeu Lando enquanto saía pelo outro lado e ia na
direção de Han. - Eanjer disse que vai ao ponto de encontro por conta própria. -
Ele esticou a mão. - Se você não se importa, eu vou pegar a minha parte agora.
Han fez uma expressão de desagrado. Ele imaginou que Lando fosse fazer
essa gracinha.
– Que tal esperamos até todos nós estarmos no ponto de encontro? - sugeriu
Han.
– Que tal você me dar agora? - contra-argumentou Lando. — Então eu posso
pular o ponto de encontro e seguir com a minha vida.
– O que ele está falando? - perguntou Zerba.
– Lando quer trocar a parte dele dos créditos pelos arquivos de chantagem -
explicou Han.
– Ele pode fazer isso? - indagou Kell franzindo a testa.
– Sim, ele pode - disse Lando em tom firme. - Nós já concordamos. E, sem
querer ofender, Han, mas você tem o péssimo hábito de perder a recompensa
para outras pessoas. Então passe aí.
Não havia como evitar.
– Beleza - falou Han com um suspiro.
Ele puxou a caixa com os arquivos de chantagem e entregou para Lando.
– Obrigado - disse ele ao enfiar a caixa dentro da túnica de policial. — Agora,
se você puder me deixar no meu airspeeder, eu vou seguir meu rumo. Quanto ao
resto de vocês, foi divertido.
Um momento depois, eles estavam dentro da speeder van, e Chewbacca
seguia para uma das saídas. Provavelmente ainda havia seguranças de serviço,
mas Han não esperava que eles fossem causar problemas. Não com um dos
veículos do próprio Villachor.
Han estava preocupado com Lando e com o que Lando diria.
E com o que Lando faria.
– Ele tem cerca de 1,75 metro de altura, cabelo escuro, pele negra, bigode tipo
três — falou Dayja correndo no comlink enquanto o airspeeder passava pelo
portão e entrava no intenso tráfego da cidade. — Está com os arquivos de
chantagem e, se tiver algum bom senso, levará para fora de Wuklcar assim que
chegar ao espaçoporto.
– Eu não imagino que você saiba o nome dele - disse D’Ashewl. — Há muitas
naves no solo agora.
– Eu não sei o nome de ninguém, a não ser o de Eanjer - disse Dayja. - Mas
acho que podemos reduzir as possibilidades. A nave dele provavelmente será
alguma coisa pequena, para um passageiro apenas. Tenho a impressão de que ele
apareceu depois que os demais e veio sozinho. Pela aparência, ele
provavelmente é do tipo que adora as coisas boas da vida, mas não pode pagar
por elas, então procure por uma nave que já esteve no topo da lista dos esnobes,
mas que atualmente parece um pouco gasta. Tempo de chegada há nove dias,
com provavelmente uma janela de doze horas em ambos os lados.
– Entendido - respondeu D’Ashewl. - O que ele está vestindo?
– Você vai morrer ao ouvir isso - falou Dayja ao se abaixar quando um dos
rojões que acertavam a mansão jogou fogo em um telhado próximo. - Ele está
usando o uniforme da polícia da Cidade de Iltarr. Mas duvido que tente passar
pelo espaçoporto desse jeito.
– Eu espero que não - concordou D’Ashewl. - Mais alguma coisa?
– Ele estará com pressa - disse Dayja. - Na verdade...
Ele parou e fez os cálculos de cabeça. Pegar a speeder van roubada até o local
onde um veículo de fuga adequado certamente estava estacionado; mudar para
aquele veículo; ir ao espaçoporto; ir à baia; ligar os motores...
– Ele deve pedir uma permissão para decolar em 32 ou 55 minutos,
dependendo de como vai chegar, se de airspeeder ou landspeeder - falou Dayja.
– Ok - disse D’Ashewl. Se ficara surpreso ou duvidara das estimativas de
Dayja, ele foi discreto. — Você quer que ele seja capturado no solo?
– Melhor não — respondeu Dayja. - Eu não sei em que estado estão Villachor
e sua organização neste exato momento, mas não podemos arriscar que um de
seus agentes no espaçoporto se meta antes que tenhamos garantido. Peça ao
Dominador para capturá-lo depois que ele entrar em órbita.
– Vou ligar para o Capitão Worhven imediatamente — disse d'Ashewl. Tenho
certeza de que você ficará feliz em receber outra tarefa sem dar maiores
explicações.
– Faz parte do seu trabalho — disse Dayja. Algo novo sobre Aziel?
– Infelizmente, tivemos que deixá-lo ir — disse d'Ashewl. O príncipe Xizor
foi tão gentil que lhe deu credenciais diplomáticas. Mas havia evidências
suficientes de que o cryodex havia sido originalmente roubado, então consegui
retê-lo como prova.
– Perfeito — disse Dayja. Se conseguirmos os arquivos de chantagem,
teremos o bloqueio e a chave. O diretor ficará satisfeito.
– Eu não me importo com o diretor — disse d'Ashewl com um grunhido.
Lorde Vader ficará satisfeito. Ele representa o futuro do império.
– Talvez — disse Dayja cautelosamente. A última coisa que ele queria naquele
momento era se enredar em outro argumento político. Obtenha um canal de
comunicação com a torre do espaçoporto e coloque o Dominator em alerta. Eu
estarei lá assim que eu puder me apropriar de um speeder do estacionamento do
Villachor.
– Suponho que você quer conduzir o interrogatório por si mesmo?
– Dayja sorriu vigorosamente.
– Apenas pegue ele — ele disse. Eu cuido do resto.
Eanjer sempre esperou sair deste emprego vivo. Ele não estava tão certo sobre
o resto da equipe.
Eu também fiquei um pouco mais do que surpreso que, na realidade, o plano
teria funcionado.
O píer de ancoragem permaneceu em silêncio enquanto passava pela porta.
Ele estava preocupado que Han e Chewbacca tivessem conseguido chegar à sua
frente, apesar de terem que deixar os outros saírem do veículo nas proximidades
do ponto de encontro. No entanto, o Falcon permaneceu silenciosamente
estacionado no escuro brilho da cidade vizinha, com suas luzes e sistemas
desligados e frios.
Ele se perguntou brevemente o que os outros pensariam quando ele e Han não
aparecessem no ponto de encontro. Eles provavelmente concluiriam que ambos
prepararam tudo isso com antecedência, com a clara intenção de não
compartilhar os milhões desses cartões de crédito com qualquer outra pessoa.
Eles ficariam furiosos, prometiam vingança e faziam todas as outras coisas que
as pessoas faziam em tais situações.
E eles falariam sobre isso. Eles definitivamente iriam falar sobre isso. Com
sorte, o que restava da reputação contaminada de Han nunca poderia se
recuperar.
Não que Han precisasse de uma boa reputação. Eu não precisaria mais disso.
Encontrou um lugar onde pudesse sentar-se confortavelmente e observar toda
a seção de campo aberto entre a entrada da doca e a rampa dos Falcões.
Descansando com sua luz blaster em seu colo, ele se preparou para esperar.
Do outro lado da baia, a tranca da porta se abriu com um clique. Eanjer ergueu
a arma de raios e mirou com o olho bom.
E abaixou novamente quando o droide de limpeza entrou na baia, com os
quatro braços escovando diligentemente as paredes e o piso.
Eanjer verificou o relógio e franziu a testa. Han estava atrasado.
O som de fogos de artifício pela cidade havia parado fazia muito tempo.
Assim como o volume de trânsito havia diminuído conforme o povo da Cidade
de Iltarr saía dos vários locais do Festival e rumava para casa. E Han ainda não
tinha aparecido.
Finalmente, com atraso, Eanjer percebeu.
Era uma cópia excelente, ele teve que admitir ao passar por baixo da nave e
iluminar o casco com a eletrotocha. Um cargueiro YT-1300 clássico,
praticamente com a mesma idade e estado, até mesmo com algumas das mesmas
modificações.
Mas apenas com algumas. Outras, como o compartimento de mísseis de
concussão e o canhão de raios Ground Buzzer, não estavam presentes.
Não era a Millennium Falcon. Era um chamariz, trocado na baia em algum
momento durante os últimos nove dias.
Han não viria. Na verdade, ele já tinha ido embora fazia muito tempo, sem
dúvida.
Eanjer deu um sorriso frágil na escuridão. Dozer, obviamente. Tinha que ter
sido ele. Todo o tempo que Dozer passara longe da suíte nos primeiros dias de
preparação, supostamente resolvendo compromissos e comprando equipamentos
para todos os demais.
Eanjer teria que encontrar alguma maneira de fazer o ladrão de naves pagar.
Ainda assim, haveria outras oportunidades. Ele podia esperar.
Eanjer saiu da baia e cruzou o espaçoporto até onde a própria nave estava
pousada. Não olhou para trás.
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DÍVIDA DE HONRA É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS, LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.