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ADV.(A/S) : SIDNEY DURAN GONÇALEZ
AGDO.(A/S) : RELATOR DO HC Nº 447.758 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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VOTO–VISTA
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tem se aplicado a Súmula 691 desta Corte, verbis:
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habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar”.
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(HC 115.613/SP, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma).
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fundamentação lastreada em elementos concretos. Ilegalidade.
5. Súmula 691. Manifesto constrangimento ilegal. Superação.
6. Ordem de habeas corpus concedida, confirmada a medida
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liminar” (HC 126.816/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda
Turma).
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Turma, em recente e pioneira decisão, ao julgar o HC 143.641/SP, do qual
fui relator, admitiu o cabimento de habeas corpus coletivo como forma de
salvaguardar o direito fundamental de ir e vir de um conjunto de
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mulheres perfeitamente identificáveis, submetidas a idêntico
constrangimento ilegal.
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pelo Supremo Tribunal Federal, homenageava nossa tradição jurídica de
conferir-se a maior amplitude possível ao “remédio heroico”,
consubstanciada entre nós na denominada “doutrina brasileira do habeas
corpus”.
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Naquele histórico habeas corpus coletivo, concedido por esta Segunda
Turma, levou-se em consideração que tramitavam no Poder Judiciário
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cerca de 100 milhões de processos, a cargo de pouco mais de 16 mil juízes,
situação que estava a exigir o emprego de medidas processuais de
natureza coletiva para conferir a máxima eficácia aos princípios
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Essa compreensão, de resto, harmoniza-se com o previsto no art. 580
do mesmo CPP, o qual admite a extensão da ordem a todos aqueles que
se encontrem na mesma situação processual de determinado paciente
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beneficiado por um writ.
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E tais prerrogativas foram sistematicamente reconfirmadas pelos
monarcas subsequentes, sendo a expressão "lei do país", mais tarde,
substituída pela locução "devido processo legal" (due processo of law), no
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Estatuto de Westminster de 1353. Com isso, os direitos das pessoas
passaram a ser assegurados não mais pela simples aplicação da lei, mas
por meio da instauração de um processo levado a efeito segundo a lei.
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A despeito de sua origem inglesa, essa franquia deitou profundas
raízes nas colônias britânicas da América do Norte, incorporada que foi
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ser adequado, ou seja, não pode ser um simulacro de procedimento,
devendo assegurar, no mínimo, a imparcialidade do juiz, a publicidade
do julgamento, a igualdade entre as partes, o efetivo contraditório, a
ampla defesa e a motivação das decisões.
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Com o passar do tempo, em benfazeja evolução doutrinária e
jurisprudencial, passou-se a entender que não bastava apenas respeitar
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ritualisticamente o devido processo legal, afigurando-se imperioso
assegurar às partes o denominado fair trial, ou seja, o “justo processo”,
que transcende a mera observância mecânica das regras procedimentais,
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solidária.
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Ora, com a edição da Súmula 122, o Tribunal Regional Federal da
Quarta Região, sob a equivocada premissa de dar cumprimento a
precedentes desta Suprema Corte, perfilhou uma interpretação
radicalmente contrária à histórica jurisprudência garantista nela
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prevalente, implementando, de forma temerária e francamente
injurídica, a hipótese de prisão automática, ou seja, desprovida de
adequada fundamentação - medida própria dos regimes ditatoriais -,
or
o que representa inaceitável retrocesso institucional.
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2. Habeas corpus denegado” (HC 126.292/SP, Rel. Min. Teori
Zavascki; grifei).
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PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). ACÓRDÃO PENAL
CONDENATÓRIO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
or
POSSIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA.
1. Em regime de repercussão geral, fica reafirmada a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que
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trânsito em julgado de sentença condenatória, mediante mera remissão,
sem qualquer outra fundamentação, a determinados julgamentos do
STF ou a súmulas de tribunais.
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Isso se revela ainda mais evidente quando se tem em conta a taxativa
redação dos incs. LVII e LXI do art. 5° da Constituição, cujo enunciado,
respectivamente, é o seguinte: (i) “ninguém será considerado culpado até
or
o trânsito em jugado de sentença penal condenatória”; e (ii) “ninguém
será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente [...]” (grifei).
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liberdades intentadas no século XVIII, remontando, quando menos, à
Revolução Francesa. Encontrou, de forma pioneira, expressão no Decreto
de 9 de outubro de 1789, especificamente em seu art. 22, o qual proibia
que juízes e tribunais empregassem fórmulas vagas ou genéricas para
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arrematar suas decisões, no âmbito criminal, ostentando a dicção abaixo:
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Daí a previsão, ainda que tardiamente acolhida em nosso
ordenamento constitucional e legal, no sentido de que as ordens judiciais
não podem emanar da simples vontade subjetiva dos julgadores e nem
veicular meras fórmulas legais ou jurisprudenciais desapegadas de um
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contexto fenomenológico real e concreto.
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obrigatoriamente levar em consideração a situação particular do
investigado, acusado ou réu, mostrando-se imprescindível que, em cada
caso, o juiz justifique a necessidade de sua separação do convívio social,
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bem assim dos respectivos familiares e amigos, porquanto se cuida de
medida estatal extrema, insuscetível de reparação posterior, na hipótese
de ocorrer eventual equívoco ou excesso.
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De qualquer forma, penso que, para solucionar a controvérsia posta
nestes autos, nem se faria necessário ingressar na seara constitucional,
podendo sua solução ser encontrada exclusivamente na legislação
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dispõe o art. 564, IV, do mesmo diploma legal.
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inconstitucionalidade, encontrando-se, em consequência, plenamente
vigentes, razão pela qual devem ser escrupulosamente cumpridos pelas
autoridades estatais, em particular pelos juízes e tribunais criminais,
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jungidos que estão ao princípio da legalidade estrita.
texto.
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súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula,
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jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento
ou a superação do entendimento” (grifei).
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Ora, afigura-se injustificável que esses dispositivos legais, que
acabaram de entrar vigor, direcionados a todos os magistrados brasileiros
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decretar a prisão de alguém a alguns serventuários da Justiça, dotados
carimbos padronizados, ou a programas de computador, os quais
determinariam automaticamente o recolhimento dos réus à prisão, tão
logo publicada a sua condenação em segundo grau.
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Ocorre que, para a perplexidade geral da comunidade jurídica, o
Tribunal Regional Federal da Quarta Região adotou, como regra, a
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decretação automática do cumprimento antecipado da pena, após a
conclusão do julgamento em segunda instância, com base exclusivamente
na aludida Súmula 122.
ab
seguinte:
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das decisões estatais, mais do que expressiva imposição
consagrada e positivada pela ordem constitucional,
reflete uma poderosa garantia contra eventuais excessos
do Estado, pois, ao torná-la elemento imprescindível e
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essencial dos atos que veiculam a privação da liberdade
individual, quis o ordenamento jurídico erigi-la como
fator de limitação dos poderes deferidos às autoridades
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públicas. Não se pode jamais esquecer que a exigência de
motivação dos atos judiciais constritivos da liberdade
individual deriva de postulado constitucional inafastável,
que traduz expressivo elemento de restrição ao exercício
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automática, sem levar em consideração a exigência da individualização
das penas e da fundamentação das decisões, ofende, de forma
contundente, não apenas os mandamentos constitucionais e legais
aç
vigentes, bem como a legislação ordinária aplicável e ainda a orientação
jurisprudencial pacífica desta Suprema Corte, sintetizada no julgado
abaixo, de acordo com o qual:
or
“A exigência de motivação da individualização da pena -
hoje, garantia constitucional do condenado (CF, arts. 5º, XLVI, e
93, IX) -, não se satisfaz com a existência na sentença de frases
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País, mas em particular por esta Suprema Corte.
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execução provisória da pena, de forma automática, como pode ser visto
nos HCs 144.712-MC/SP, 145.380-MS/SP, e 146.006-MC/PE.
or
Do mesmo modo, ao relatar o HC 142.173/SP, perante a Segunda
Turma, o Ministro Gilmar Mendes adiantou uma mudança do seu
posicionamento, externado no julgamento do HC 126.292/SP, de relatoria
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Evidenciado o constrangimento ilegal, em razão da
ausência de demonstração da imprescindibilidade da medida
extrema, esta Corte deverá invalidar a ordem de prisão
expedida” (grifei).
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Por isso, com a devida vênia, ouso manifestar, uma vez mais, o meu
assombro diante da guinada jurisprudencial do Supremo Tribunal
or
Federal com relação à prisão antes do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória, sobretudo porque ocorreu logo depois de esta
Suprema Corte haver assentado, na ADPF 347 e no RE 592.581/RS, que o
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carcerária correspondia a 726.712 presos, dos quais cerca de 40% eram
provisórios (sem condenação definitiva). E a taxa de ocupação no sistema
prisional brasileiro era, naquele ano, de 197,8%.6
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Ademais, como se sabe, a política de encarceramento em massa é
extremamente onerosa aos cofres públicos, pois, de acordo com
informações do Conselho Nacional de Justiça- CNJ, mesmo nas precárias
or
condições atuais, os Estados gastam, em média, cerca de R$ 2.400,00 por
mês para a manutenção de cada detento. 7 Já o custo médio de construção
de cada nova vaga corresponde a R$ 44.000,00, segundo matéria
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serviço.8
Essas, aliás, foram algumas das razões pelas quais o Plenário desta
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única autoridade pública do Legislativo ou do Executivo de
uma particular unidade federativa , e sim do funcionamento
deficiente do Estado como um todo. Os poderes, órgãos e
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entidades federais e estaduais, em conjunto, vêm se mantendo
incapazes e manifestando verdadeira falta de vontade em
buscar superar ou reduzir o quadro objetivo de
inconstitucionalidade. Faltam sensibilidade legislativa e
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motivação política do Executivo.
É possível apontar a responsabilidade do Judiciário no que
41% desses presos, aproximadamente, estão sob custódia
ab
[...]
Com relação aos problemas causados pela chamada
cultura do encarceramento, do número de prisões provisórias
decorrente de possíveis excessos na forma de interpretar-se e
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significa cumprir ao Tribunal o papel de retirar os demais
Poderes da inércia, catalisar os debates e novas políticas
públicas, coordenar as ações e monitorar os resultados” (grifei).
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Um dos principais fatores responsáveis pela superlotação em nossas
cadeias é o uso excessivo, desproporcional e inadequado de prisões
provisórias, muitas decretadas de forma totalmente indevida, porquanto,
or
consoante revelou estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-
IPEA, 37,2% dos réus que cumprem prisão provisória não são
condenados à pena privativa de liberdade ao final do processo, mas
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9 https://apublica.org/wp-content/uploads/2015/02/pesquisa-ipea-
provisorios.pdf
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nos requisitos a que alude o art. 312 do Código de Processo Penal,
porquanto, antes do trânsito em julgado, ela nunca deixará de apresentar
a natureza de uma prisão cautelar.
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À toda a evidência, decisões que apenas fazem remissão a julgados
deste Tribunal ou a súmulas de tribunais para decretar a prisão, como é o
caso daquelas que atingiram as pessoas que figuram como pacientes neste
or
HC coletivo, não se mostram, repito, segundo penso, revestidas de
fundamentação hábil e necessária, à luz do que estabelecem a
Constituição e as leis do País, o qual, segundo o texto magno, encontra-se
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el
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