Disciplina: Introdução à Filosofia, 2017/1º Semestre
Professor: Elton Vitoriano Aluno: Edmo Flores dos Santos Data: 26/04/2017
COMENTÁRIO AO TEXTO “AS CINCO VIAS DA PROVA DA EXISTÊNCIA
DE DEUS” – TOMÁS DE AQUINO
Primeiramente, gostaria de destacar a importância de ter escolhido esse texto
para comentário. Não se trata somente do conteúdo em si, mas do método como ele é trabalhado pelo ilustre autor. A escolha desse texto revela uma certa simpatia minha pela forma tomista de falar das coisas. Sem dúvidas, esse modo de abordar os diversos temas, de Tomás de Aquino, me ajudou e me ajuda na compreensão dos problemas filosóficos. Em segundo lugar, é importante salientar a influência histórico/cultural no pensamento tomista. Sabemos que, no tempo de Tomás de Aquino, todos os problemas filosóficos estavam voltados para a seguinte questão “Quem é Deus? ”. Sendo assim, percebemos uma guinada no pensamento filosófico ocidental. Antes, a pergunta era sobre o Ser. Agora, na Filosofia Medieval, da qual S. Tomás é representante, a questão se volta para Deus. Por último, gostaria de enfatizar a influência aristotélica no pensamento tomista. No período em que o tomismo de desenvolveu, houve uma redescoberta dos textos de Aristóteles e, através da leitura dos mesmos, Tomás de Aquino adquire uma ampla visão da realidade das coisas. Agora, entraremos diretamente no texto em que me propus comentar. Cabe ressaltar que aquilo que foi lido e comentado em sala de aula me inspirou a fazer este breve comentário. Como o próprio título sugere, as cinco vias são demonstradas para provar a existência de Deus. O ponto de partida de cada via, de vez em quando, é constituído por elementos extraídos da cosmologia aristotélica que Tomás utiliza, confiante em sua eficácia persuasiva, num momento em que o aristotelismo era a filosofia hegemônica. Mas a força dos argumentos em particular é toda e sempre de índole metafisica, e assim pretende permanecer em situações científicas diversas. S. Tomás enumera cinco vias para passar dos efeitos sensíveis até à existência de Deus. A primeira via é a prova cosmológica, extraída da Física. Parte do princípio de que "tudo o que se move é movido por outro". Ora se o que o move também por sua vez se move, é preciso que seja movido por outra coisa; e esta por outra. Mas é impossível continuar até ao infinito; porque então não haveria um primeiro motor nem os outros se moveriam, como, por exemplo, o pau não se move se não é movido pela mão. Por conseguinte, é necessário chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro; e todos consideram esse motor como sendo Deus. É interessante essa observação de S. Tomás. Sabemos que tudo se move no mundo. Mas se pararmos para perceber atentamente as coisas, certamente um questionamento viria à mente de um curioso observador: Quem movimenta tudo isso? S. Tomás resolve genialmente essa questão atribuindo esse trabalho a Deus. Essa é, sem dúvidas, uma boa saída par quem deseja, tanto na física como na filosofia, provar a existência de um criador para todas as coisas. A segunda via é a prova causal. Na série das causas eficientes não podemos remontar até ao infinito, porque então não haveria uma causa primeira e, portanto, nem uma causa última nem causas intermediárias: deve, por conseguinte, haver uma causa eficiente primeira, que é Deus. Esse argumento, portanto, se baseia em dois elementos: por um lado, todas as causas eficientes causadas por outras causas eficientes; por outro lado, a causa eficiente não causada, que é a causa de todas as causas. No fundo, trata-se de responder a esta interrogação: como é possível que algumas coisas sejam as causas de outras coisas? Indagar sobre essa possibilidade significa chegar a uma causa primeira não-causada, que, se existe, identifica-se com aquele ser que chamamos Deus. A terceira via é extraída da relação entre possível e necessário. As coisas possíveis existem somente em virtude das coisas necessárias: mas estas têm a causa da sua necessidade ou em si ou em outro. As que têm a causa noutro, remetem a esse outro, e dado que não é possível continuar até ao infinito, é preciso chegar a algo que seja necessário por si e seja causa da necessidade daquilo que é necessário por outro; e isso é Deus. Este argumento parte da constatação de que as criaturas, já que nascem, crescem e morrem, são contingentes e, portanto, possíveis, isto é, não possuem o ser em virtude de sua essência. Como exemplificar, então, a passagem da possibilidade à existência atual e, portanto, ao grau de ser ou necessidade que de fato possuem? Se tudo fosse possível, teria havido um tempo em que nada teria existido e agora nada existiria. Se quisermos explicar a existência atual dos seres, isto é, a passagem do estado possível ao estado atual, é preciso admitir uma causa que não foi e não é de modo algum contingente ou possível, porque está sempre em ato. E essa causa se chama Deus. A quarta via é a dos graus. Encontra-se nas coisas mais ou menos de verdade, de bem e de todas as outras perfeições: por conseguinte, também haverá o máximo grau de tais perfeições e será ele a causa dos graus menores, como o fogo, que é maximamente quente, é a causa de todas as coisas quentes. Ora a causa do ser, da bondade e de todas as perfeições é Deus. Isso me pareceu um pouco confuso, mas lendo bem o texto tomista deu para dar uma clareada. Parece que as coisas mais ou menos verdadeiras, boas etc., o são em relação a um ser absolutamente uno, verdadeiro e bom, que possui o ser de modo absoluto. Esta é a razão da passagem: se as coisas têm um grau diverso de ser, isso significa que tal fato não lhes deriva em virtude de suas respectivas essências, caso em que seriam sumamente perfeitas. E, se não deriva de suas respectivas essências, isso significa que o receberam de um ser que dá sem receber, que permite a participação sem ser participe, porque é fonte de tudo o que de algum modo existe. A quinta via é a que se infere do governo das coisas. As coisas naturais, privadas de inteligência, estão dirigidas para um fim; e isto não seria possível senão fossem governadas por um Ser dotado de Inteligência, como a flecha não pode dirigir-se ao alvo senão por obra do arqueiro. Por conseguinte, há um Ser inteligente que ordena todas as coisas naturais para um fim; e este Ser é Deus. Mais uma vez nos deparamos com uma via que parte da constatação de que as coisas ou algumas delas agem e operam como se tendessem para um fim. Essa via, ao meu ver, foi de fácil compreensão, assim como a primeira. Ora, se o agir em função de um fim constitui certo modo de ser, pergunta-se qual seja a causa dessa regularidade, ordem e finalidade, constatáveis em algumas coisas. Tal causa não se pode identificar com as próprias coisas, visto que elas são privadas de conhecimento e, neste caso, é necessário o conhecimento do fim. Desse modo, é preciso remontar a um ordenador, dotado de conhecimento e em grau de dar ser às coisas daquele modo especifico no qual elas de fato operam. Durante a leitura deste texto, fui percebendo claramente a preocupação do autor em responder aos questionamentos de maneira científica, lógica e racional. A forma come ele é construído conduz o leitor a um eficaz convencimento, ou ao menos, a uma confusão de ideias. Não tem como não se admirar da forma como Santo Tomás de Aquino vai expondo seu pensamento. Os argumentos por ele apresentados representam uma certa defesa de suas ideias filosóficas e religiosas. O primeiro destes argumentos, o cosmológico, foi o que mais me encantou. Esse argumento tinha sido utilizado por Aristóteles para demonstrar não só a existência de Deus como primeiro motor, mas a existência de tantos intelectos motores quantas são as órbitas dos céus. Para S. Tomás, pelo contrário, o primeiro motor é um só e é Deus; e só para Deus é válida a prova. Quanto ao movimento dos céus, parece, com efeito, supor uma substância inteligente que o produza, porque, ao contrário dos outros movimentos naturais, não tende para um só ponto, no qual deva cessar; mas é muito possível que se -ia produzido diretamente por Deus. Diante de tudo isso, podemos concluir afirmando que S. Tomás de Aquino consegue expressar de forma clara e convincente o poder de seus argumentos. É claro que nem todo mundo consegue perceber isso de forma clara. Mas, para aqueles que são mais objetivos, os escritos tomistas são verdadeiros mundos a serem descobertos.