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RITA CASTRO 2
FÁBIO CASTRO RUSSO 3
PAULA DUARTE ROCHA 4
Introdução
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Entregue: 1.9.2014; aprovado: 10.10.2014.
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Advogada na Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados.
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Advogado na Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados.
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Advogada na Mozambique Legal Circle Advogados.
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Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 2/2005, de 27 de dezembro, na redação que lhe
foi dada pelo Decreto-Lei n.º 2/2009, de 24 de abril.
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A proposta de Quinta Diretiva foi formulada pela Comissão Europeia em 1972
(COM/72/887FINAL), tendo conhecido três revisões (em 1983, em 1990 e em 1991),
sem que, porém, tenha chegado a ser aprovada.
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Tipologia
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Em sentido contrário, ver Maria da Graça Trigo, Os Acordos Parassociais
sobre o Exercício do Direito de Voto, 2.ª ed., Lisboa, Universidade Católica Editora,
2011, p. 217, que defende a possibilidade (ou, pelo menos, a não impossibilidade…)
de se recorrer à execução específica quando esteja em causa o cumprimento de uma
prestação que ainda seja possível: “salvo naqueles casos limitados em que a emissão
do voto seja considerada um facto infungível, não será impossível utilizar a acção de
execução específica em situação de incumprimento de vinculações de voto”.
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António Menezes Cordeiro, Direito das Sociedades, vol. I, 3.ª ed., Coimbra,
Almedina, 2011, pp. 704 e ss.
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Raúl Ventura, Estudos…, cit., p. 36. No mesmo sentido, cf. o acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça português, de 27 de maio de 2003 (rel. Moreira Alves),
Revista n.º 1263/03 – 1.ª Secção, disponível em <http://www.stj.pt/jurisprudencia/
sumarios> (consultado em 30 de agosto de 2014), do qual extraímos a seguinte pas-
sagem: “Com base nos acordos parassociais não podem ser impugnados actos da
sociedade ou dos sócios para com a sociedade”; mais recentemente, vd. o acórdão
do Tribunal da Relação do Porto, de 30 de junho de 2011 (rel. Teresa Santos), Proc.
n.º 1346.10.5TBAMT-A.P1, Colectânea de Jurisprudência, n.º 231, tomo III, 2011,
onde se salienta que “os acordos parassociais apenas têm eficácia obrigacional, isto
é, apenas produzem efeitos entre os sócios subscritores, pelo que, sendo a sociedade
um terceiro em relação ao acordo, não podem ser impugnados actos da sociedade
ou dos sócios para com a sociedade, com fundamento na eventual violação desse
mesmo acordo”.
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Alguma doutrina tem sustentado nos tempos mais recentes a relevância jus-
-societária (inclusive para efeitos de impugnação de deliberações sociais) dos acordos
parassociais em que intervenham todos os sócios da sociedade a que respeitem: cf.,
designadamente, Manuel Carneiro da Frada, “Acordos parassociais ‘omnilaterais’.
Um novo caso de ‘desconsideração’ da personalidade jurídica?”, Direito das Socieda-
des em Revista, n.º 2, 2009, pp. 97 e ss.
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parassocial intervir, ela própria e a par dos seus sócios, nesse acordo:
a sociedade em causa era objeto mas também sujeito do acordo paras-
social. Acreditamos que a intenção subjacente a esta prática estaria
relacionada com o desejo de os sócios intervenientes afastarem a regra
da inoponibilidade dos acordos parassociais em relação à sociedade,
tornando-se este vinculativo também para a sociedade.
Numa interpretação estrita do n.º 1 do artigo 98.º, entendemos
que a prática em apreço surge em desvio às normas e aos princípios
previstos no Código Comercial para os acordos parassociais, possivel-
mente consubstanciando até uma situação de fraude à lei. Com efeito,
julgamos que acordos subscritos também pela sociedade devem ser
interpretados como acordos parassociais atípicos, celebrados à luz da
liberdade contratual, sendo-lhes todavia aplicável a regra estabelecida
no n.º 1 do artigo 98.º, a interpretar de modo estrito. Ou seja, nas
situações em que a sociedade é parte do acordo, a regra da inoponibi-
lidade dos mesmos em relação à sociedade deve manter-se.
Com base nesta interpretação, e em nome da segurança jurídica,
temos vindo a sugerir que as sociedades moçambicanas não devem,
elas próprias, ser signatárias dos acordos parassociais que lhes digam
respeito, sugestão que tem sido recebida com alguma resistência, mas
que, ainda assim, se nos afigura avisada13.
Uma outra questão (menos) problemática, mas que extravasa o âmbito deste
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Refira-se, neste contexto, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça português,
de 16 de março de 1999 (rel. Francisco Lourenço), Proc. n.º 1.274/87, Colectânea de
Jurisprudência, tomo I, 1999, ou ainda o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
português referido na nota 11, no qual o tribunal salientou que “[o]s acordos paras-
sociais são contratos autónomos, independentes e extrínsecos à sociedade, embora se
encontrem a ela ligados por um nexo funcional”.
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Veja-se, a propósito, o artigo 406.º, n.º 2, do Código Civil Português, segundo
o qual “[e]m relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos espe-
cialmente previstos na lei”.
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Cf., a propósito, Maria da Graça Trigo, “Acordos parassociais”, in AA.
VV., Problemas do Direito das Sociedades, Instituto do Direito das Empresas e do
Trabalho, Coimbra, Almedina, 2008, pp. 179. É de salientar que esta autora sustenta
diferente posição na sua obra Os Acordos Parassociais…, cit., pp. 139-140 e 194-195;
aparentemente, porém (e não obstante a reedição desta obra em 2011), o pensamento
mais recente da A. corresponde ao que se expôs no corpo do texto.
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Alexandre Soveral Martins, “Notas sobre os acordos parassociais relativos
à transmissão de acções”, in Fernando Araújo/Paulo Otero/João Taborda da
Gama (org.), Estudos em Memória do Prof. Doutor J. L. Saldanha Sanches, vol. II,
Coimbra, Coimbra Editora, 2011, pp. 41-42.
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A este propósito ver acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 5 de março
de 2009 (rel. Manuel Fernando Granja Rodrigues da Fonseca), Proc. n.º 686/2009-6,
disponível em <www.dgsi.pt/jtrl.nsf> (consultado em 30 de agosto de 2014), do
qual extraímos a seguinte citação: “Admitir acordos parassociais com incidência na
administração e na fiscalização da sociedade equivaleria a permitir, de forma indi-
recta, uma organização diferente da constante do pacto social, a qual estaria/ficaria
incólume ao crivo das instâncias fiscalizadoras e cuja verdadeira orgânica escaparia
ao controlo de terceiros, nomeadamente os credores sociais. […] [É] princípio basilar
do direito societário, de acordo com o qual os membros dos órgãos sociais devem
actuar no exercício das suas funções prosseguindo o interesse da sociedade. […]
[N]a hipótese de haver acordo parassocial que imponha à administração comporta-
mentos não conformes ao interesse social, não só tais comportamentos são inexigí-
veis, como há um verdadeiro dever por parte dos administradores de não os cumprir,
vinculados que estão, em primeiro lugar, à prossecução dos interesses da sociedade.
[…] [A] administração e a fiscalização duma sociedade ficam assim fora do universo
aberto aos acordos parassociais, pelo que as cláusulas neles apostas que pretendam
determinar a conduta dos administradores duma sociedade (bem como a da sua fis-
calização) não são permitidas por lei (artigo 17º, n.º 2 CSC), pelo que, contrárias à
lei, devem considerar-se nulas (artigos 280.º e 294.º Código Civil)”. Parece-nos ir em
sentido idêntico o acórdão do Tribunal da Relação do Porto referido na nota 11, aí
se escrevendo que “a administração e a fiscalização duma sociedade ficam assim fora
do universo aberto aos acordos parassociais, pelo que as cláusulas neles apostas que
pretendam determinar a conduta dos administradores duma sociedade (bem como a
da sua fiscalização) não são permitidas por lei (art. 17º, nº 2 CSC), pelo que, contrá-
rias à lei, devem considerar-se nulas (arts. 280º e 294º do CC)”.
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Conclusão
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cordeiro, António Menezes, Direito das Sociedades, vol. I, 3.ª ed., Coim-
bra, Almedina, 2011.
Frada, Manuel Carneiro da, “Acordos parassociais ‘omnilaterais’. Um novo
caso de ‘desconsideração’ da personalidade jurídica?”, Direito das Socie-
dades em Revista, n.º 2, 2009, pp. 97-135.
Martins, Alexandre Soveral, “Notas sobre os acordos parassociais relativos
à transmissão de acções”, in Fernando Araújo/Paulo Otero/João
Taborda da Gama (org.), Estudos em Memória do Prof. Doutor J. L.
Saldanha Sanches, vol. II, Coimbra, Coimbra Editora, 2011, pp. 29-56.
Pereira, António de Almeida, Sociedades Comerciais, Valores Mobiliários e
Mercados, 6.ª edição, Coimbra, Coimbra Editora, 2011.
Trigo, Maria da Graça, “Acordos parassociais”, in AA. VV., Problemas do
Direito das Sociedades, Instituto do Direito das Empresas e do Trabalho,
Coimbra, Almedina, 2008, pp. 179-194.
Trigo, Maria da Graça, Os Acordos Parassociais sobre o Exercício do Direito
de Voto, 2.ª ed., Lisboa, Universidade Católica Editora, 2011.
Ventura, Raúl, Estudos Vários sobre Sociedades Anónimas, Coimbra, Alme-
dina, 1992.
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Semestral
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ISSN
2182-8695 (impresso)
ISSN
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Direito de
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DIRETOR
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DIRETORES-ADJUNTOS
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SECRETÁRIA
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Índice Geral
I – DOUTRINA
Filomeno Rodrigues
A próxima revisão da Constituição de Moçambique: ampliação das liber-
dades como factor de desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Ovídio Pahula
A Desconcentração e a Descentralização em Angola . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Paulo Cardinal
Direitos de Utilização das Terras: um breve percurso de Direito Comparado 127
II – JURISPRUDÊNCIA ANOTADA
III – PARECERES