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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 1.004 DO DIA 17/08/2017

MATERIAL DIDÁTICO

LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS –


GÊNEROS TEXTUAIS

0800 283 8380


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SUMÁRIO
UNIDADE 1: INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3
UNIDADE 2: LEITURA ............................................................................................... 5
2.1 - MODELOS DE LEITURA ............................................................................................ 5
2.1.1 - O modelo ascendente ...................................................................................... 5
2.1.2 - O modelo descendente .................................................................................... 5
2.1.3 - O modelo ascendente/descendente ................................................................. 7
2.2.1 - A maturidade do leitor ...................................................................................... 8
2.2.2 - A complexidade textual .................................................................................... 8
2.2.3 - O conhecimento prévio .................................................................................... 9
2.2.4 - O gênero e o objetivo da leitura ....................................................................... 9
UNIDADE 3: PRODUÇÃO DE TEXTO ..................................................................... 12
3.1 - FALA E ESCRITA ................................................................................................... 12
3.2 - A ESCRITA........................................................................................................... 14
3.3 - PRODUÇÃO TEXTUAL ............................................................................................ 16
3.4 – COESÃO E COERÊNCIA ......................................................................................... 18
UNIDADE 4: GÊNEROS TEXTUAIS ........................................................................ 23
4.1 – DEFINIÇÕES ........................................................................................................ 23
4.2 – GÊNEROS DISCURSIVOS ....................................................................................... 26
4.3 – GÊNERO TEXTUAL X TIPOLOGIA TEXTUAL ............................................................... 29
4.4 – TIPOS TEXTUAIS .................................................................................................. 30
4.4.1 - Narrativa......................................................................................................... 30
4.4.2 - Descrição ....................................................................................................... 33
4.4.3 – Argumentação ............................................................................................... 35
4.4.4 – Exposição ...................................................................................................... 39
4.4.5 – Injunção ......................................................................................................... 41
UNIDADE 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 43
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 45

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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UNIDADE 1: INTRODUÇÃO

A linguagem humana pode ser concebida como a representação do mundo e


do pensamento, concretizada em um código através do qual os homens recebem e
interpretam mensagens que refletem seus pensamentos e seus conhecimentos de
mundo.
Trata-se, ainda, de uma atividade que pressupõe interação, diálogo, uma
vez que, através da linguagem, os indivíduos produzem textos (orais ou escritos),
cujo sentido se faz a partir da interação falante/ouvinte, escritor/leitor.
Na prática da leitura e produção de texto, é importante considerar a
linguagem como ação social. “O nosso pensamento se origina e se forma no
processo de interação e luta com pensamentos alheios, o qual não pode deixar de
refletir-se na forma de expressão verbal do nosso.” (Bakhtin, 1992). Assim sendo,
ler e elaborar textos são atividades interativas, através das quais se produz sentido a
partir de conhecimentos de naturezas diversas compartilhados entre aqueles que
participam do processo de interação.
Quando se interage através da linguagem, sempre se tem um objetivo, um
fim a ser atingido: há relações para se estabelecer, efeitos que se pretende causar,
comportamentos para desencadear, ou seja, com o uso da linguagem existe sempre
a pretensão do enunciador de atuar, de alguma maneira, sobre aquele que recebe a
mensagem e, assim, obter dele determinadas reações (verbais ou não-verbais).
Diante disso, os gêneros textuais tornam-se variados. Nas palavras de Bakhtin
(1992):

“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter
e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas
da atividade humana. (...) O enunciado reflete as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático
e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da
língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e
sobretudo, por sua construção composicional.”

Nesse sentido, o objetivo deste material centra-se, nas práticas de leitura e


produção de textos, a uma breve exposição a respeito de gêneros textuais. Para
isso foi feito um resumo de teorias de leitura e de aspectos da produção textual com

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o intuito de fornecer um melhor embasamento para a discussão sobre gêneros.


Assim, organizou-se como se segue:
O próximo capítulo apresenta uma breve descrição dos modelos teóricos de
leitura, tendo em vista a classificação em relação à direção do fluxo da informação
durante o ato de ler. Considerando a leitura um processo cognitivo e social, busca-
se apresentar, também, alguns fatores importantes que influenciam o uso de
diferentes estratégias de leitura, entre eles o gênero textual.
O capítulo 3 borda alguns aspectos da produção textual, tais como as
características deste processo, em especial do texto escrito, tendo em vista seu
caráter dialógico, isto é, a interação entre autor e leitor na produção de sentido
durante a atividade da escritura. Uma vez que se pretende, neste capítulo, ressaltar
a produção verbal escrita, busca-se, também, estabelecer brevemente as diferenças
entre esta modalidade da língua e a modalidade falada. Objetiva-se, ainda,
apresentar uma pequena orientação sobre como se alcançar um texto bem-formado,
lançando mão da questão de coesão/coerência e das quatro metarregras propostas
por Charolles (2002).
O quarto capítulo dedica-se a apresentar a concepção de gêneros
discursivos, segundo Bakhtin (1992), tendo em vista a idéia de que a elaboração de
texto é uma atividade sociocomunicativa, em que falante/escritor e ouvinte/leitor
interagem na produção de sentido. Considera-se, também, a idéia de que os
gêneros diferenciam-se conforme a função que exercem em cada situação
específica. Devido às similaridades entre expressões, a saber: gêneros textuais,
gêneros discursivos, ambientes discursivos, sentiu-se a necessidade de delimitar o
conceito destes termos, bem como diferenciar tipologia e gênero textual. Por fim,
pretende-se descrever, brevemente, cinco tipos de texto, ou modalidades
discursivas: narração, descrição, argumentação, exposição e injunção, uma vez que
se trata dos mais comuns tipos textuais utilizados nas situações comunicativas.
E o último capítulo é destinado às considerações finais a respeito de tudo
que foi discutido.

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UNIDADE 2: LEITURA
2.1 - Modelos de leitura
Os modelos de leitura, em termos gerais, podem ser classificados de acordo
com a direção do fluxo da informação no ato da leitura: modelo de fluxo ascendente,
descendente e ascendente/descendente simultaneamente.

2.1.1 - O modelo ascendente


Neste modelo, o fluxo da informação parte do texto impresso para o leitor: o
autor utiliza os dados apresentados no texto com o intuito de compreender o texto
escrito. Trata-se, portanto, de um processo perceptivo e de decodificação. Como
exemplo, Kleiman (2004b) aponta o modelo de processamento serial de Gough e o
modelo de processamento automático de LeBerge e Samuels. O leitor, segundo o
modelo ascendente, analisa o input visual, gráfico, partindo das partes menores para
obter o significado todo. Kato (2003) apresenta as etapas do processo de leitura
proposto por Gough:
“a) Transformação do estímulo percebido em uma imagem visual (composta de
barras, curvas e ângulos). É a identificação, a meu ver, da configuração geral da
palavra.
b) Identificação letra por letra, da esquerda para a direita, e colocação dos tipos
dentro de um ‘registro de caracteres’.
c) Interpretação das letras com fonemas; para Gough, a interpretação chega apenas
ao nível abstrato do fonema, ficando a representação fonêmica ‘gravada em uma
fita’, à espera de que a ‘bibliotecária’ faça a busca textual.
d) Depósito dos itens lexicais na memória operacional, onde se dá a compreensão a
nível sentencial, através de um misterioso operador sintático-semântico chamado
‘Merlin’.
e) “Aplicação, por um ‘editor’, de regras fonológicas a essa sentença interpretada,
resultando daí um enunciado fonético.”

2.1.2 - O modelo descendente


Neste modelo, o foco é colocado na contribuição do leitor para o ato de ler: a
informação flui do leitor para o texto, e este serve como base para suscitar o
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conhecimento prévio. Trata-se de um processo em que o significado é criado no


decorrer da leitura quando o leitor aciona os conhecimentos lingüísticos e
esquemáticos: o significado do texto parte do leitor. Os modelos teóricos de
característica descendente são chamados modelos psicolingüísticos de leitura, em
que esta é apresentada como um processo cognitivo.
O modelo de testagem de hipóteses de Goodman é um modelo
psicolingüístico em que a leitura é vista como um jogo de adivinhações e consiste
em desvincular a recodificação obrigatória da língua escrita para a fala, salientando,
portanto, a importância dos processos cognitivos na compreensão do texto.
Segundo este modelo, o leitor precisa de certas habilidades para o processamento
da leitura:
• “Scanning;

• fixação ocular.

• seleção de ‘pistas’ cruciais;

• predição das ‘pistas’ (que opera junto com a seleção numa relação de
dependência mútua);

• formação de perceptos;

• busca lexical e conceitual (‘a habilidade para buscar na memória pistas


fonológicas bem como informações sintáticas e semânticas associadas às imagens
perceptuais’);

• conhecimento lingüístico e conhecimento prévio conceituais e empíricos;

• testagem semântica das escolhas (‘a habilidade para confirmar ou


desconfirmar as escolhas’);

• retestagem grafo-fônica (‘a habilidade para retestar as escolhas, quando há


uma desconfirmação anterior, reutilizando as imagens perceptuais não utilizando
mais informações’);

• regressão ocular (no caso de anomalia ou inconsistência no processamento)

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• e decodificação (após uma escolha bem sucedida, o leitor integra a


informação ao significado que está sendo construído)”. (Kleiman, 2004b)

2.1.3 - O modelo ascendente/descendente


Este terceiro modelo diz respeito às propostas interacionistas para o
fenômeno de compreensão escrita. Nesta visão, o ato de ler envolve tanto a
informação impressa (o texto) quanto a informação que o leitor traz consigo (o
conhecimento prévio), portanto, o significado surge a partir da interação entre o leitor
e o autor, através do texto: ambos os tipos de processamento (ascendente e
descendente) interrelacionam no processo de acesso ao sentido.
Segundo as teorias interacionistas, a leitura realiza-se

“quando um leitor, ao deparar com um enunciado escrito – em


processamento ascendente -, ativa o seu pré-conhecimento,
armazenado em esquemas (...). Estes esquemas, por sua vez,
através de um processamento descendente, criam expectativas
no leitor quanto ao possível significado a ser negociado com o
escritor.” (Moita Lopes, 2002)

Nesse sentido, o significado do texto caracteriza-se por ser um resultado dos


processos de interação entre o leitor e o autor através dos quais seus esquemas são
negociados. (Kleiman, 2004a; 2004b).
A leitura e compreensão de textos constituem um processo cognitivo, já que
envolvem atenção, percepção, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento,
linguagem, e podem ser caracterizados, ainda, como um ato social, uma vez que
existem dois sujeitos, leitor e autor, que interagem entre si durante os atos de ler e
compreender.
Existem divergências quanto à caracterização da leitura: segundo Kato
(2003), não se pode falar em um único processo de leitura, mas sim de uma
multiplicidade de estratégias empregadas pelo leitor conforme as condições que a
ele são dadas. Por outro lado, Kleiman (2004a) afirma que a atividade da leitura é
um só processo com diferentes maneiras de realiza-se que variam conforme os
caminhos usados pelo leitor para alcançar o objetivo pretendido. No entanto, seja a
leitura um processo único ou não, é certo que existem diferentes modos de ler um

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texto que dependem de vários fatores, tais como a maturidade do leitor; a


complexidade textual; o conhecimento prévio; o gênero do texto e o objetivo da
leitura entre outros.

2.2.1 - A maturidade do leitor


Segundo González Fernández (1992), existem estratégias metacognitivas de
leitura que auxiliam na resolução de problemas de compreensão, permitindo ao leitor
compreender um texto com maior eficácia através do planejamento, monitoração e
regulação dos próprios processos cognitivos envolvidos no ato de ler. Com essas
estratégias, o leitor é capaz de identificar os objetivos da leitura, aspectos
importantes do texto e, também, de verificar sua própria compreensão. O leitor
maduro, conforme apresenta Kato (2003), é aquele que controla, planeja as
estratégias de leitura para monitorar a compreensão do texto, tendo em vista seus
objetivos. Assim, considerando que o leitor maduro adquire as estratégias de leitura
cumulativamente, pode-se dizer que existem níveis de maturidade:

“Uma criança que está objetivando apenas a leitura de palavras poderá


monitorar seu comportamento para o reconhecimento nesse nível, assim
como o adulto proficiente o faz no nível de compreensão do texto. Mas entre
uma criança que lê errado e não se corrige e outra que o faz, a segunda
seria mais madura, pois conseguiu detectar uma falha em seu
comportamento. Em nível de texto, se o leitor passa de uma leitura
automática e fluente (obedecendo a princípios e máximas de forma
inconsciente) para uma leitura pausada e vagarosa, isso pode ser um sinal
de que ele detectou alguma falha em sua leitura e passou a usar uma
estratégia mais ascendente, mais vinculada ao texto. Essa desaceleração
assinala também um comportamento metacognitivo”. (Kato, 2003)

2.2.2 - A complexidade textual


Um texto é considerado complexo quando se leva em consideração o
conteúdo não-familiar e/ou fatores lingüísticos. A leitura de um texto de conteúdo
familiar permite que o leitor processe deduções e análises com base em seus
esquemas já estabelecidos. Por outro lado, se o assunto não é familiar, o leitor
necessita construir novos esquemas para estabelecer a compreensão do texto, o
que o torna mais complexo. No que se refere aos fatores lingüísticos, a
complexidade encontra-se no nível do vocábulo, da sentença e do texto: as palavras
difíceis, as estruturas subordinadas, passivas e sentenças invertidas, quando

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apresentadas descontextualizadas, são, de fato, complexas. No entanto, se o texto


oferece condições para o leitor inferir os significados das palavras e quando as
sentenças estão bem colocadas no texto, o processo da leitura ocorrerá a partir da
unidade maior (o texto) para as unidades menores (sentenças e palavras), o que
facilita a compreensão. Quando esse processo de cima para baixo não for suficiente
para o entendimento do texto, então este passa a ser considerado lingüisticamente
complexo.

2.2.3 - O conhecimento prévio


O leitor utiliza diferentes conhecimentos adquiridos ao longo da vida para
compreender o texto: conhecimento lingüístico, textual e o conhecimento de mundo.
A ativação do conhecimento prévio é importante para o leitor “fazer as inferências
necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente.”
(Kleiman, 2004a). No momento da leitura, o leitor lança mão de suas experiências,
crenças, opiniões, interesses, ou seja, de um conhecimento prévio que é
fundamental para determinar o tipo de leitura que será realizada. Nesse sentido, a
dificuldade na compreensão de um texto não ocorre facilmente, por exemplo,
quando a linguagem do autor é voltada a textos dos quais o leitor não tem
conhecimento, mesmo que ele tente fazer as inferências, provavelmente a
compreensão não será totalmente eficaz. “Um texto será, então, legível por outro
lado, porque funciona segundo leis, esquemas, de que já dispõe o leitor (...), porque
se dá como reescritura de outros textos, levando assim em conta a experiência
anterior do leitor.” (Vigner, 2002a)

2.2.4 - O gênero e o objetivo da leitura


Uma evidência das multiplicidades das estratégias empregadas pelo leitor é
a existência de diversas formas de interação do leitor com textos de diferentes
gêneros: conforme o tipo do texto, seja uma poesia, um texto concreto, uma ficção,
seja um texto acadêmico, jornalístico, entre outros, o processo da leitura é diferente,
ora é preciso ler em voz alta, ora o leitor precisa de liberdade para criar sobre o
texto, às vezes o texto deve ser visto, mais do que lido, outras vezes é necessário
uma reconstrução das intenções do autor. São muitas as estratégias que variam,

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também, conforme o objetivo da leitura: o tipo do texto determina, até certo ponto, os
objetivos da leitura: o objetivo geral ao se ler um artigo científico é diferente daquele
quando se lê uma poesia concreta.
Kleiman cita uma experiência realizada por psicólogos americanos que
mostra como o objetivo determina a estratégia de leitura:
“(...) os sujeitos da experiência deviam ler trecho abaixo, imaginando que
estavam querendo comprar uma casa, e que a casa descrita no texto lhes
interessava para essa possível compra:

Os dois garotos correram até a entrada da casa. “Veja, eu disse a você que hoje
era um bom dia para brincar aqui”, disse Eduardo. “Mamãe nunca está em casa
na quinta-feira”, ele acrescentou. Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os
meninos podiam correr no jardim extremamente bem cuidado. “Eu não sabia que
a sua casa era tão grande”, disse Marcos. “É, mais ela está bonita agora, desde
que meu pai mandou revestir com pedras essas parede lateral e colocou lareira”.
Havia portas na frente e atrás e uma porta lateral que levava à garagem, que
estava vazia exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas aí. Eles
entraram pela porta lateral; Eduardo explicou que ela estava sempre aberta para
suas irmãs entrarem e saírem sem dificuldade.
Marcos queria ver a casa, então Eduardo começou a mostrá-la pela sala
de estar. Estava recém pintada, como o resto do primeiro andar. Eduardo ligou o
som: o barulho preocupou Marcos. “Não se preocupe, a casa mais próxima está
a meio quilômetro daqui”, gritou Eduardo. Marcos se sentiu mais confortável ao
observar que nenhuma casa podia ser vista em qualquer direção além do enorme
jardim.
A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar
para brincar: os garotos forma para cozinha onde fizeram um lanche.
Eduardo disse que não era para usar o lavabo porque ele ficara úmido e
mofado uma vez que o encanamento arrebentara.
“Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de seles e moedas raras”,
disse Eduardo enquanto eles davam uma olhada no escritório. Além do escritório,
havia três quartos no andar superior da casa.

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Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre


trancado ponde havia jóias. O quarto de suas irmãs não era tão interessante
exceto pela televisão com o Atari. Eduardo comentou que o melhor de tudo era
que o banheiro do corredor era seu desde que um outro foi construído no quarto
de suas irmãs. Não era tão bonito como o de seus pais, que estava revestido de
mármore, mas para ela era a melhor coisa do mundo”

(Traduzido e adaptado por Pitchert, J & Anderson, R. Taking different perspectives on a


story, Journal of Educational Psychology, 1977, 69)

Se fizermos uma lista das informações que são relevantes para o comprador
da casa, ela provavelmente corresponderia às informações que os sujeitos da
experiência conseguiram lembrar depois de ler o texto: tamanho da casa, número de
cômodos, tamanho do jardim, revestimento de pedra, lareira, pintura, número de
banheiros, mármore no banheiro, closet no quarto de casal. Nessa mesma
experiência, o texto acima foi também apresentado a um segundo grupo de leitores
com a instrução de que tentassem se lembrar de tudo aquilo que seria interessante
para um ladrão que estivesse planejando arrombar a casa. Nesse caso, os sujeitos
conseguiram lembrar informações como o fato de mãe não estar em casa nas
quintas-feiras, os arbustos que isolam a casa, a distância dos vizinhos, as bicicletas,
som, televisão com Atari, coleção de selos e moedas, roupas, jóias, e assim
sucessivamente. Portanto, dois objetivos diferentes, procurar no texto a descrição de
uma casa que interessava ou para comprar ou para arrombar, resultaram na
recuperação de informações diferentes.” (Kleiman, 2004a)

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UNIDADE 3: PRODUÇÃO DE TEXTO

3.1 - Fala e escrita


A princípio, poder-se-ia dizer que a diferença entre fala e escrita encontra-se
no fato de uma estar relacionada à manifestação fônica, ao estímulo auditivo e a
outra à manifestação gráfica, ao estímulo visual. Trata-se de meios distintos de
realização textual, que apresentam, ainda, diferenças formais e funcionais, embora
também seja possível afirmar que se trata de duas realidades similares.
Segundo Kato (2003), as diferenças formais entre fala e escrita são
acarretadas pelas condições de produção e de uso da linguagem. A língua escrita
pode ser caracterizada como aquela que apresenta um planejamento verbal melhor
em relação à fala, a organização estrutural e a seleção das palavras são mais
cuidadosas, enquanto que na fala informal esse planejamento é menos elaborado.
Kato apresenta as características apontadas por Ochs para os dois tipos de discurso
– planejado (DP) e o relativamente não-planejado (DRNP):

Quadro 1

DRNP DP

▪ Dependência contextual ▪ Menor dependência contextual

▪ Menos uso de estruturas adquiridas


▪ Uso de estruturas morfossintáticas
cedo, mais estruturas adquiridas
adquiridas cedo
tardiamente

▪ Uso de repetição lexical ▪ Menor uso de repetição lexical

▪ Menor uso de variação de forma e ▪ Maior uso de variação de forma e


conteúdo conteúdo

“É importante ressaltar, aqui, dois fatos: a) Ochs não restringe as


características de DP à linguagem escrita; b) ela admite a presença de traços de
DRNP na linguagem escrita não-dissertativa.” (Kato, 2003)

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Ainda sobre as diferenças formais entre as linguagens oral e escrita, Kato


(2003) apresenta uma síntese dos estudos de Tannen:
“a) a linguagem oral é bastante dependente de contextos, enquanto que a escrita é
descontextualizada;
b) a coesão, na linguagem oral é estabelecida através de recursos paralingüísticos e
supra-segmentais, enquanto que na linguagem escrita, ela é estabelecida através de
meios lexicais e de estruturas sintáticas complexas que usam conectivos explícitos.”

Essas diferenças, segundo Tannen (apud Kato, 2003), podem ser


observadas se consideram uma prosa dissertativa e uma conversação casual,
informal. No entanto, é possível encontrar estratégias da língua oral na prosa
moderna, bem como estratégias da língua escrita em uma fala mais densa, ou seja,
as diferenças formais existem mais em função do gênero e do registro do texto do
que em função da modalidade (oral ou escrita).
Pode-se dizer, então, que, dependendo da situação de uso da língua, haverá
uma maior ou menor diferença entre as modalidades oral e escrita. Ao se pensar na
língua coloquial espontânea (o vernáculo, segundo Labov, 1972) e a gramática
literária tem-se dois extremos em que a linguagem coloquial oral obedece às
exigências da comunicação e de sua função, enquanto que a linguagem escrita é
regida por convenções normativas impostas.
Nesse sentido, Kato (2003) resume as diferenças formais entre fala e
escrita, considerando as condições de uso da linguagem:
“a) a escrita é menos dependente do contexto situacional;

b) a escrita permite um planejamento verbal mais cuidadoso;

c) a escrita e mais sujeita a convenções prescritivas;

d) a escrita é um produto permanente.”

Já as diferenças funcionais entre fala e escrita estabelecem quais são as


funções da escrita dentro da cultura de uma comunidade de fala. Em uma
comunidade letrada, as atividades lingüísticas são distribuídas entre as modalidades
falada e escrita, mas nem sempre a escrita preenche todas as funções da fala, uma
vez que nem sempre se escreve como se fala considerando a gramática, o léxico e
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a situação contextual. Nesse sentido, fala e escrita apresentam funções distintas: a


escrita é mais rígida quanto às regras prescritivas gramaticais, enquanto a fala
permite fugir ao controle dessas regras, o que determina o uso mais restrito da
escrita em um contexto social.
Fala e escrita são, portanto, duas realidades diferentes quanto à natureza do
estímulo (auditivo X visual), quanto à forma e à função, no entanto há semelhanças
que as aproximam como meios condutores de mensagem lingüística e realizações
de uma gramática.

3.2 - A Escrita
O ato de comunicação verbal (a fala e a escrita) pode ser caracterizado
“a) por envolver uma relação cooperativa entre emissor e receptor;

b) por transmitir intenções e conteúdo;

c) por ter uma forma adequada à sua função.” (Kato, 2003)

O ato de falar evolve planejamento e execução, ou seja, trata-se de uma


ação-processo que envolve decisões em várias etapas e em vários níveis, desde a
natureza pragmático-discursiva (que ato desempenhar, o que pressupor ao meu
ouvinte), até de níveis gramaticais e fonético-articulatórios. É possível dizer,
também, que a escritura apresenta as mesmas características, ou seja, trata-se de
uma atividade em que se planeja o que se quer escrever para depois colocar esse
plano em ação, com exceção do planejamento e execução no nível articulatório, que
se restringe à fala. (Kato, 2003)
Segundo os modelos processuais da escrita, esta é caracterizada como um
ato que envolve uma meta (objetivo) e um plano, e também um ato de resolução de
problemas. As metas são de três tipos:

• Ideacional (ou de conteúdo proposicional): o autor planeja por onde começar,


em que direção prosseguir, que pontos ressaltar e como terminar o texto.

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• Textual (ou da conexão das idéias em um todo coerente): o autor planeja e


executa o caminho necessário para atingir a coesão e a coerência do texto. Esse
planejamento também ocorre no nível sentencial.

• Interpessoal (ou relação emissor – receptor e problemas atitudinais): o autor


planeja o tipo de leitor para quem ele vai escrever e que efeito ele quer causar nesse
leitor. Existe, aqui, a preocupação não somente com o que se escrever, mas como
se escreve.

Cada um desses três tipos de metas (ideacional, textual e interpessoal)


apresenta problemas e resoluções:

Quadro 2

O problema encontra-se no fato do autor não poder extrair da


memória apenas as informações relevantes e direcionadas para

Ideacional um fim, às vezes aquilo que se descartou poderia ser


aproveitado. As idéias surgem, e a melhor organização das
mesmas é uma decisão que o autor deve tomar tendo em vista as
metas que ele pretende atingir.

O problema principal reside no fato de a comunicação não ocorrer


frente a frente e, por isso, o autor irá decidir quem será o seu
Interpessoal
leitor virtual. É a partir dessa decisão que a forma e o conteúdo
do texto serão definidos.

O problema situa-se nas escolhas que o autor deverá tomar a


respeito do formato do texto, considerando o efeito que se
pretende alcançar com o texto em relação ao leitor. As
Textual alternativas são muitas: formato piramidal (idéia geral seguida das
idéias particulares), argumentativo (introdução, problema,
solução, argumentação e conclusão), de delimitação (exposição
de vários argumentos até chegar ao próprio defendido pelo autor)

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16

e de uma narrativa (seqüência temporal). O problema continua no


nível sentencial e do constituinte.

A escrita é, portanto, um ato comunicativo em que se tem, de um lado, o


autor e, de outro, um receptor imaginado. A meta principal e inconsciente do autor é
fazer com que o texto seja coerente, e, para se considerar um texto bem-escrito, as
intenções de quem escreve devem ser bem traduzidas no texto e recuperadas com
facilidade pelo leitor.

3.3 - Produção textual


Considerando o ato de escrever uma atividade interativa entre o emissor e o
receptor, um conceito de texto apropriado, nesse sentido, é aquele proposto por
Bernádez (apud Sautchuk, 2003):

“Texto é a unidade lingüística comunicativa fundamental, produto da


atividade humana, que possui sempre caráter social; está caracterizado por
seu estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência
profunda e superficial, devida à intenção do falante de criar um texto
íntegro, e à sua estruturação mediante dois conjuntos de regras: as próprias
de nível textual e as do sistema da língua.”

O texto escrito, especificamente, segundo a definição apresentada acima,


caracteriza-se, pois, por possuir uma função comunicativa e social exercida entre
dois enunciadores que participam do processo da escrita: trata-se de uma atividade
verbal resultante de um processo dialógico entre autor e leitor. Ambos assumem a
missão de produzir o sentido do texto e, nessa missão, tem-se

“os papeis de um ser que escreve e o de um ser que monitora esse ser,
não em uma sucessão, num intervalo temporal e num distanciamento
especial, mas no momento mesmo da produção. Nesse momento, aquele
que escreve se bifurca em enunciador eco-enunciador, surgindo a figura do
escritor-leitor-do-próprio-texto, o que faz com que o texto escrito seja
resultado de uma co-ação, seja um produto da atuação ininterrupta de um
ser que escreve e lê, lê e escreve.” (Sautchuk, 2003).

Nesse sentido, a elaboração do texto escrito é, na verdade, um processo em


que o autor usa tanto as estratégias de produção textual, quanto as estratégias de
leitura. Assim, o escritor maduro seria aquele com a capacidade de ativar as
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diversas estratégias cognitivas e metacognitivas de processamento da escritura e da


leitura.
Segundo Koch (1998),

“a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e,


portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades; trata-se de
uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de
estratégias concretas de ação e a escolha de meios adequados à
realização dos objetivos; isto é, trata-se de uma atividade intencional que o
falante, de conformidade com as condições sob as quais o texto é
produzido, empreende, tentando dar a entender seus propósitos ao
destinatário através da manifestação verbal; é uma atividade interacional,
visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na
atividade de produção textual.”

Na definição de Bernárdez , aqui repetida por conveniência,

“Texto é a unidade lingüística comunicativa fundamental, produto da


atividade humana, que possui sempre caráter social; está caracterizado por
seu estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência
profunda e superficial,(...)”

a caracterização do texto por meio de uma coerência profunda e superficial está


relacionada a uma macro e uma microestrutura:
• Macroestrutura: “diz respeito a todos os componentes
(predominantemente extralingüísticos) que possibilitam a organização global de
sentido do texto e que são responsáveis por sua significação. São esses
componentes que tornam possíveis o planejamento, a compreensão, a memorização
e a reprodução das idéias do texto. À macroestrutura associam-se, portanto, todos
os elementos e mecanismos que visam a manter a coerência do texto.” (Sautchuk,
2003)
• Microestrutura: “é responsável pela estruturação lingüística do texto,
isto é, representa todo um sistema de instruções textualizadoras de superfície que
auxiliam na construção linear do texto por intermédio de palavras e de frases,
organizadas como elementos e mecanismos de coesão.” (Sautchuk, 2003)

A escrita, segundo esses argumentos, demanda, portanto, não somente um


domínio da estrutura lingüística (da gramática da língua), mas também um
conhecimento de mundo (cultura, escolaridade, conhecimentos específicos etc) e de
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aspectos cognitivos relacionados ao próprio processo de escrever (raciocínio,


explicitação ou implicação, capacidade de síntese, de análise etc).

3.4 – Coesão e coerência


A distinção de dois níveis de organização textual (micro e macroestrutura) e
a boa formação do texto relacionam-se com os conceitos de coesão e coerência:

Maria foi para a escola. Arrumou seus materiais e pegou a condução que
passou às 6 horas e 40 minutos.
Na escola, Maria deve assistir à aula de Português, na qual apresentará
um trabalho. Vai encontrar suas amigas para organizar a apresentação.

O texto acima se constitui de dois parágrafos em que ocorre uma mudança


espaço temporal e temática. São duas seqüências incluídas na unidade superior e
última formada pelo texto inteiro. Se se pensa no nível seqüencial ou no nível
textual, os problemas de coerência colocam-se em termos mais ou menos
diferentes:
• “num nível local ou microestrutural, a questão incide exclusivamente nas
relações de coerência que se estabelecem, ou não, entre as frases
(sucessivamente ordenadas) da seqüência;
• num nível global ou macroestrutural, a questão incide, ao contrário, nas
relações que se estabelecem entre as seqüências consecutivas.”
(Charolles, 2002)

Nesse sentido, tem-se a coerência global de um texto quando se constrói


uma seqüência de macroestruturas e microestruturas coerentes. A boa formação
textual, segundo Charolles (2002), deve obedecer a algumas regras (ou
metarregras) de coerência. Quatro delas são chamadas:
• Metarregra de repetição;
• Metarregra de progressão;
• Metarregra de não-contradição;
• Metarregra de relação;
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Antes de continuar a exposição das metarregras, é importante apresentar o


conceito de coesão. As marcas lingüísticas, os índices formais na estrutura da
seqüência lingüística e superficial do texto são caracterizados como elementos de
coesão. Trata-se de elementos de natureza sintática, gramatical, e também de
natureza semântica, pois, como apontam Halliday e Hasan (apud Koch e Travaglia,
2003), a “coesão é a relação semântica entre um elemento do texto e um outro
elemento crucial para sua interpretação.”
Em outras palavras, a coesão textual é a união entre as partes. Entende-se
como partes de um texto: orações, períodos, frases, parágrafos, capítulos. Trata-se
de um mecanismo concreto, pois é possível identificar no texto os elementos de
coesão, tais como os articuladores, os anafóricos, as elipses, as substituições etc.
Podem-se distinguir dois tipos de coesão: referencial e seqüencial. “A
coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto faz
remissão a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo
textual” (Koch, 1991). Este tipo de coesão refere-se à união/relação das palavras no
texto: são as referências, a coesão lexical, as substituições, as elipses.

• Referência: os elementos de referência são os itens da língua que não


podem ser interpretados sematicamente por si mesmos, mas remetem a outros itens
do discurso necessários à sua interpretação.
Exemplo: Maria gosta de João. Ela começou a namorá-lo na escola. Ele é muito
carinhoso, e a menina tem bons momentos ao lado deste garoto. Os nomes Maria e
Pedro foram sendo substituídos por outros elementos ao longo do texto para que
este não ficasse repetitivo.

A referência pode ser feita para trás (anáfora) ou para frente (catáfora).
Exemplos: Maria gosta de João. Ela começou a namorá-lo na escola. O pronome
oblíquo lo refere-se ao substantivo João, que aparece antes do pronome. A
referência é feita para trás (anáfora). Maria gosta de João, cuja mãe vende roupas
em uma loja. O pronome relativo cuja também se refere ao substantivo mãe, que
aparece depois do pronome. Neste caso a referência é feita para frente (catáfora).

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• Coesão lexical: a coesão lexical é obtida por meio de dois mecanismos: a


reiteração e a colocação. A primeira se faz por repetição do mesmo item lexical ou
através de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos. A segunda, por sua vez,
consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo campo significativo.

Exemplo: Maria gosta de João. Maria começou a namorar o menino na


escola. Essa estudante tem bons momentos ao lado do garoto. A coesão deste
texto é feita a partir da repetição do nome Maria, da substituição deste nome por
estudante, e da substituição do nome João ora por menino, ora por garoto.

• Substituição: substituição consiste na colocação de um item no lugar de


outro(s) elemento(s) do texto, podendo ser também a substituição de uma oração
inteira. Não se confunde substituição e referência, já que nesta o termo continua
existindo com um outro nome, e na substituição o termo deixa de existir para ser
substituído por um termo que, na verdade, não precisa retomar o elemento
substituído.
Exemplo: Maria gosta de João e Paula também. A primeira convidou-o para ir ao
parque a segunda fez o mesmo. A palavra também substitui todo o raciocínio
anterior Maria gosta de João. A expressão fez o mesmo retoma toda a idéia
expressa na oração anterior a primeira convidou-o para ir ao parque.

• Elipse: elipse seria uma substituição por zero: omite-se um item lexical, um
sintagma, uma oração ou todo um enunciado facilmente recuperado pelo contexto.
Exemplo: Maria pergunta para João:
- Você vai ao parque comigo?”
- Vou. – ele diz.

Apenas o verbo vou, dito por João, consegue expressar toda a idéia contida
na pergunta feita por Maria. Idéia essa que foi substituída por um zero na resposta
de João. É possível entender essa substituição devido ao contexto.
Já a coesão sequencial “diz respeito aos procedimentos lingüísticos por meio
dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de

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enunciados, parágrafos e mesmo seqüências textuais), diversos tipos de relações


semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir” (Koch, 1991).
Trata-se das relações (oposição, tempo, concessão, finalidade etc) das frases e das
palavras do texto através dos articuladores.

• Articuladores: são palavras que estabelecem relações entre as partes do


texto. Trata-se das conjunções.
Exemplo: Maria convidou João para ir ao parque e ele aceitou. Mas, na hora
marcada, ele não pode ir, embora tivesse feito um esforço. As conjunções
empregadas nesse texto estabelecem as relações de adição (conjunção e),
adversidade (conjunção mas) e de concessão (conjunção embora).

Os conceitos de coesão e coerência constituem um par, em que a coerência


estaria relacionada à boa formação do texto, nas não no sentido da gramaticalidade
usada no nível da frase (coesão), mas sim em termos da interlocução comunicativa.
A coerência é o que faz com que uma seqüência lingüística seja vista como
um texto, porque permite o estabelecimento de relações – sintático-gramaticais,
semânticas e pragmáticas – entre os elementos da seqüência (morfema, palavras,
expressões, frases, parágrafos, capítulos etc), possibilitando construí-las e percebê-
las como constituindo uma unidade significativa global.
Nesse sentido, voltando às metarregras de Charolles (2002), em resumo se
tem as seguintes descrições das quatro metarregras apresentadas pelo autor:

• Metarregra de repetição: ”para que um texto seja (microestruturalmente e


macroestruturalmente) coerente é preciso que contenha, no seu desenvolvimento
linear, elementos de recorrência escrita.” Trata-se da coesão referencial
apresentada anteriormente.

• Metarregra de progressão: “para que um texto seja (microestruturalmente e


macroestruturalmente) coerente é preciso que haja no seu desenvolvimento uma
contribuição semântica constantemente renovada.” Trata-se da progressão temática
do texto, ou seja, da continuidade do tema e da introdução de idéias novas. Esse

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processo supõe ser realizado de forma que o a introdução de elementos de


novidade semântica seja feita em equilíbrio com a temática do texto: as ocorrências
inéditas devem ser ligadas a algum elemento já conhecido ou à temática central do
texto.

• Metarregra de não-contradição: “para que um texto seja


(microestruturalmente e macroestruturalmente) coerente é preciso que no seu
desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico que contradiga um
conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou dedutível desta por
inferência.”

• Metarregra de relação: “para que um texto seja (microestruturalmente e


macroestruturalmente) coerente é preciso que os fatos que se denotam no mundo
representado estejam relacionados.” Assim como a regra anterior, essa quarta regra
é de natureza fundamentalmente pragmática e enuncia que, para que uma
seqüência seja admitida como coerente, é necessário que as ações, estados ou
eventos que ela denota sejam percebidos como congruentes no tipo de mundo
reconhecido por quem a avalia, ou seja, os fatos devem estar diretamente
relacionados uns aos outros.

Essas quatro metarregras mostram condições lingüísticas e pragmáticas que


um texto deve satisfazer para ser considerado coerente. O conceito de coerência
textual pode ser, portanto, estabelecido como a relação entre as idéias do texto, em
uma seqüência contínua e lógica. Para se conseguir essa coerência é preciso
considerar os elementos lingüísticos, o conhecimento de mundo, o conhecimento
compartilhado e as inferências.

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UNIDADE 4: GÊNEROS TEXTUAIS

4.1 – Definições
A palavra texto está articulada, de maneira mais abrangente, a outros termos
tais como: enunciação, sentido, significação, contexto entre outros que, de alguma
maneira, estão ligados aos mecanismos de organização textual responsáveis pela
construção de sentido. Voltando ao conceito de texto, pode-se apresentar, além
daquele de Bernárdez, citado anteriormente, outros vários conceitos:

“(...) em um sistema semiótico bem organizado, um signo já é um texto


virtual, e, num processo de comunicação, um texto nada mais é que a expansão da
virtualidade de um sistema de signo” (Eco, 1984)

“Em sentido amplo, a palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou


escrito, longo ou breve, antigo ou moderno. Concretiza-se, pois, numa cadeia
sintagmática de extensão muito variável, podendo circunscrever-se tanto a um
enunciado único ou a uma lexia, quanto a um segmento de grandes proporções.
São textos, portanto, uma frase, um fragmento de um diálogo, um
provérbio, um verso, uma estrofe, um poema, um romance e, até mesmo, uma
palavra-frase, ou seja, a chamada frase de situação ou frase inarticulada, como a
que se apresenta em expressões como ‘fogo’, ‘silêncio’, situadas em contextos
específicos.” (Guimarães, 1992)

“Chama-se texto o conjunto de enunciados lingüísticos submetidos à


análise: o texto é, então, uma amostra de comportamento lingüístico que pode ser
escrito ou falado.
L. Hjelmslev torna a palavra texto no sentido mais amplo e com ela designa
um enunciado qualquer, falado ou escrito, longo ou curto, velho ou novo. ‘Stop’ é
um texto tanto quanto O Romance da Rosa. Todo material lingüístico estudado
forma também um texto, retirado de uma ou mais línguas. Constitui uma classe
analisável em gêneros divisíveis, por sua vez, em classes, e assim por diante, até
esgotar as possibilidades de divisão.” (Dubois, 1973)

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“(...) chamamos de texto toda a unidade de produção de linguagem situada,


acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação). (...) todo
o texto empírico é o produto de uma ação de linguagem, é sua contraparte, seu
correspondente verbal ou semiótico; todo o texto empírico é realizado por meio de
empréstimo de um gênero e, portanto, sempre pertence a um gênero; entretanto
todo texto empírico também procede de uma adaptação do gênero-modelo aos
valores atribuídos pelo agente à sua situação de ação e, daí, além de apresentar as
características comuns ao gênero, também apresenta propriedades singulares, que
definem seu estilo particular. Por isso, a produção de cada novo texto empírico
contribui para a transformação histórica permanente das representações sociais
referentes não só aos gêneros de textos (intertextualidade), mas também à língua e
às relações de pertinência entre textos e situações de ação.” (Bronckart, 1999)

Assim, é possível dizer que o texto organiza-se dentro de certas restrições


de natureza temática, composicional e estilística, o que o caracterizam como
pertencente a um determinado gênero. Os gêneros textuais são, portanto, a
diversidade de textos que ocorrem nos ambientes discursivos de nossa sociedade e
que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição. (Marcuschi, 2001).
Os ambientes discursivos são os lugares ou as instituições sociais onde se
organizam formas de produção de texto: o ambiente discursivo escolar, acadêmico,
mídia, jurídico, religioso, político etc. Essa organização lingüístico-discursiva,
percebida em diferentes gêneros textuais, ocorre por meio de modalidades
discursivas (narração, descrição, argumentação, exposição, instrução, diálogo etc) e
estas variam conforme o efeito específico que se pretende produzir nas relações
entre os usuários de uma língua. Enquanto o número de gêneros é, em princípio,
ilimitado, aplicando-se conforme os avanços culturais e tecnológicos, o número de
modalidades discursivas é menos e mais ou menos limitado:

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Quadro 3

Modalidade
Gênero Textual Ambiente Discursivo
Discursiva

Novela Mídia televisiva

Romance Narrar Indústria literária

Narração de jogo de
Mídia esportiva
futebol

Biografia Indústria literária


Relatar
Noticiário Mídia

Crônica Mídia impressa/ jornal/revista

Carta ofício Expor/argumentar Acadêmico escolar/oficial

Editorial Mídia jornal impresso

Manual de instrução Instruir Indústria-comércio (mercantil)

Cheque Expor/instruir Bancária

Entrevista Interativo/diálogo Mídia escrita

Vale ressaltar, aqui, a relação entre texto e discurso: ora se fala em


gêneros textuais, ora em gêneros discursivos. Embora alguns lingüistas considerem
ambos, texto e discurso, equivalentes, tomando-os como sinônimos e empregando,
indistintamente, um e outro, é possível apontar algumas sutis diferenças: o discurso
é a idéia do enunciador emanada do e pelo texto, lançada em direção ao
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enunciatário, permitindo a ele relacioná-la a um determinado momento ou


acontecimento e construir um sentido: o discurso concretiza o texto, mas se
diferencia dele na medida em que se ultrapassa seus limites. Segundo Marcuschi
(2002), o texto é “uma entidade concreta, realizada materialmente e corporificada
em algum gênero textual”, já o discurso “é aquilo que um texto produz ao se
manifestar em alguma instância discursiva.” Nas palavras de Travaglia (2002), o
discurso é a “própria atividade comunicativa, a própria atividade produtora de
sentidos para a interação comunicativa, regulada por uma exterioridade sócio-
histórica-ideológica”, o texto seria o resultado dessa atividade.

4.2 – Gêneros discursivos


A língua é usada por um grande número de pessoas e em diferentes
situações, portanto é possível imaginar os diversos modos de se utilizar essa língua
que se adéquam, cada um, ao propósito específico de cada atividade humana. O
enunciado, oral ou escrito, reflete as condições específicas e os objetivos de cada
situação de uso da língua, através do conteúdo temático, dos próprios recursos da
língua (recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais), e também pela construção
composicional. Esses três elementos juntos constituem, conforme as situações
específicas, tipos relativamente estáveis de enunciados, também denominados
gêneros do discurso. (Bakhtin, 1992)
Nesse sentido, os gêneros seriam “tipos relativamente estáveis”, marcados
sócio-historicamente, já que estão diretamente relacionados às diferentes situações
sociais. É cada uma dessas situações que determinam, então, um gênero, com
características temáticas, composicionais e estilísticas próprias.

“A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a


variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa
atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai
diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se
desenvolve e fica mais complexa. Cumpre salientar de um modo especial a
heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais ou escritos), que incluem
indiferentemente: a curta réplica do diálogo cotidiano (com a diversidade
que este pode apresentar conforme os temas, as situações e a composição
de seus protagonistas), o relato familiar, a carta (com suas variadas formas),
a ordem militar padronizada, em sua forma lacônica e em sua forma de
ordem circunstanciada, o repertório bastante diversificado dos documentos
oficiais (em sua maioria padronizados), o universo das declarações públicas
(num sentido amplo, as sociais, as políticas). E é também gêneros do

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discurso que relacionaremos as variadas formas de exposição científica e


todos os modos literários (desde o ditado até o romance volumoso).”
(Bakhtin, 1992)

Essa heterogeneidade, apontada por Bakhtin, leva este autor a distinguir os


gêneros primários dos gêneros secundários. Os primeiros compreendem o
diálogo, carta, situações de interação face a face e são constituídos naqueles
momentos de comunicação ligados a esferas sociais cotidianas de relações
humanas, os gêneros secundários, por outro lado, compreendem o romance, o
teatro, o discurso científico, o discurso ideológico etc e são relacionados a outras
esferas, públicas e mais complexas, de interação social, muitas vezes mediada pela
escrita e apresentando uma forma composicional monologizada, absorvendo, pois, e
transmutando os gêneros primários: os gêneros primários, ao se tornarem
componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro deles e adquirem
uma característica particular – perdem sua relação imediata com a realidade
existente e com a realidade dos enunciados alheios. Como exemplo, Bakhtin
apresenta o caso em que a réplica do diálogo cotidiano ou a carta, inseridas no
romance, conservam sua forma e seu significado cotidiano apenas no plano do
conteúdo do romance, só se integram à realidade existente através do romance
considerando como um todo, ou seja, do romance concebido como fenômeno da
vida literário-artística e não da vida cotidiana.
A concepção de gênero de Bakhtin não é, portanto, estática, como poderia
ser entendida a princípio, mas sim dinâmica, uma vez que se trata de um produto
social que está em função das transformações da sociedade, da própria organização
verbal e, ainda, em função dos falantes/ouvintes que produzem a estrutura
comunicativa e atribuem sentindo à mesma.
Segundo Schneuwly,

“o gênero pode ser considerado como ferramenta, na medida em que o


sujeito – o enunciador – age discursivamente numa situação definida – a
ação – por uma série de parâmetros, com a ajuda de um instrumento
semiótico – o gênero. A escolha do gênero se dá em função dos parâmetros
da situação que guiam a ação e estabelecem a relação meio-fim, que é a
estrutura básica de uma atividade mediada.” (Koch, 2002)

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Assim, saber utilizar diferentes gêneros do texto significa dominar diversas


situações comunicativas. O uso da linguagem pelo enunciador exige deste decisões
importantes, entre elas, a primeira seria a escolha do gênero mais adequado para a
situação, além de outras relativas à constituição dos mundos discursivos, à
organização seqüencial ou linear do conteúdo temático, à seleção de mecanismos
de textualização e de mecanismos enunciativos. Todas essas decisões exigem do
enunciador competência para executá-las.
Quando se opta por um determinado gênero, o enunciador está escolhendo,
de fato, um intertexto, constituído pelo conjunto de gêneros do texto elaborados por
gerações anteriores e que podem ser utilizados naquela situação específica, com
eventuais transformações. Trata-se de gêneros formados por conjuntos bem
definidos de textos que constituem o que se chama “reservatório de modelos
textuais”. O gênero é escolhido através de uma decisão estratégica que envolve
uma confrontação entre os valores atribuídos pelo enunciador aos parâmetros da
situação e os usos atribuídos aos gêneros do intertexto.

”A escolha do gênero deverá (...) levar em conta os objetivos visados, o


lugar social e os papeis dos participantes. Além disso, o enunciador deverá
adaptar o modelo do gênero a seus valores particulares, adotando um estilo
próprio, ou mesmo contribuindo para a constante transformação dos
modelos.” (Koch, 2002)

Conforme apresenta Bakhtin (1992), o enunciado – oral ou escrito, primário


ou secundário, em qualquer esfera da comunicação verbal – é individual e, por isso,
reflete a individualidade de quem fala ou escreve. Embora nem todos os gêneros
permitam que se expresse essa individualidade, (como aqueles que requerem uma
forma padronizada: formulação de documento oficial, da ordem militar, da nota de
serviço etc), nos gêneros literários, por exemplo, o estilo individual faz parte do
empreendimento enunciativo enquanto tal e constitui uma das suas diretrizes. A
maioria dos gêneros do discurso, na verdade, não tem como finalidade exclusiva a
expressão do estilo individual do enunciador, mas essa individualidade é um produto
complementar: a variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos
estratos e dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode
relacionar-se de diferentes maneiras com a língua comum. Mesmo naqueles
gêneros de forma padronizada a individualidade é refletida, ainda que
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superficialmente, principalmente se se pensa na realização oral desses tipos de


enunciados.

4.3 – Gênero textual X tipologia textual


O termo tipologia textual, segundo Marcuschi (2002), deve ser empregado
para designar uma construção teórica definida pela natureza lingüística de sua
composição: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Em
geral, os tipos textuais abrangem as categorias: narração, argumentação, exposição,
descrição, injunção. Seria o que se chamou acima de modalidades discursivas.
Gênero textual, por seu turno, é definido como o conjunto de textos que
apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo, composição e canal. Exemplo:

Quadro 4
JACULATÓRIA
Conteúdo expressão de fervor religioso
Função obtenção de graça ou perdão
Estilo laudatório e invocatório
Composição curta, poucos enunciados
Canal oração

Travaglia (2002) caracteriza o gênero textual pela função social específica


que o mesmo exerce. Segundo o autor, estas funções sociais são vivenciadas pelos
enunciadores que, intuitivamente, sabem que gênero usar em momentos
específicos, por exemplo, quando se vai escrever uma carta, já se sabe as
características que irão fazer com que essa carta seja adequada à situação: uma
carta para a família não é a mesma direcionada para o reitor de uma universidade.
Como outros exemplos, Travaglia cita os gêneros textuais: aviso, comunicado,
edital, informação, informe, citação, todos com a função social de dar conhecimento
de algo a alguém. Petição, memorial, requerimento, abaixo-assinado: gêneros
textuais com a função social de pedir, solicitar. Trata-se de exemplos que
apresentam uma função social formal, rígida.

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Como pode ser observado no quadro 3, um mesmo gênero pode realizar-se


em dois ou mais tipos, assim como diversos gêneros compreendem um mesmo tipo
textual. Uma carta pessoal, por exemplo, pode apresentar as tipologias: descrição,
injunção, exposição, narração e argumentação – esse fato é denominado
heterogeneidade tipológica (Marcuschi, 2002) ou conjugação tipológica (Travaglia,
2002). Dificilmente será possível encontrar um tipo textual puro, a classificação de
determinado texto em relação ao seu tipo será por uma questão de dominância em
função do tipo de interlocução que se pretende estabelecer e que se estabelece, e
não em função do espaço ocupado por um tipo na constituição do texto.

4.4 – Tipos textuais


4.4.1 - Narrativa
Uma narrativa não é apenas a descrição de uma seqüência de ações ou de
eventos:
“Naquele dia, após ter feito uma grande farra na véspera e ter
dormido mal, X se levantou às cinco horas e meia, saiu de sua casa às seis
horas e cinco e encontrou pessoas às quais ele disse que o dia estava
lindo”

A passagem acima é uma descrição de ações, mas não necessariamente


uma narrativa. Para que haja uma narrativa é preciso um narrador (aquele que conta
a história, uma testemunha etc), que seja provido de uma intencionalidade, uma
vontade de transmitir alguma coisa - uma certa representação da experiência do
mundo - a alguém, um destinatário que, de uma certa maneira, dará um sentido
particular a sua narrativa. Para que uma seqüência de eventos contados se
transforme em narrativa, é preciso, ainda, inventar-lhe um contexto.
O texto narrativo, segundo Platão & Fiorin (1996), é composto por
mudança(s) de situação operada(s) pelas ações da(s) personagem(ns). Existem dois
tipos de mudança:
1º) alguém passa a ter alguma coisa que não tinha (narrativa de aquisição)
2º) alguém deixa de ter alguma coisa que tinha (narrativa de perda)

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Uma narrativa típica apresenta, implícita ou explicitamente, quatro mudanças


de situação, sejam elas mudanças de aquisição ou de perda:
“a) uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um dever, um desejo
ou uma necessidade de fazer algo. (...)
b) uma em que ela adquire um saber e um poder, isto é, a competência necessária
para fazer algo. (...)
c) uma que é a mudança principal da narrativa, a realização daquilo que se quer ou
se deve fazer. (...)
d) uma em que se constata que a transformação principal ocorreu e em que se
podem atribuir prêmios ou castigos às personagens.” (Platão & Fiorin, 1996)

Sendo assim, é possível apontar quatro características básicas do texto


narrativo:
• “é um conjunto de transformações de situações referentes à personagens
determinadas, mesmo que sejam coletivas (por exemplo, o povo brasileiro), ou a
coisas particulares, num tempo preciso e num espaço bem configurado (...);
• Como a narração opera com personagens, situações, tempos e espaços bem
determinados, trabalha predominantemente com termos concretos, sendo, portanto,
um texto figurativo;
• No interior do texto narrativo, há sempre uma progressão temporal entre os
acontecimentos relatados, isto é, conta ele eventos concomitantes, anteriores ou
posteriores uns aos outros (observe, no entanto, que o narrador pode dispor os
acontecimentos no texto na ordem em que quiser, desde que deixe claro qual é o
anterior, o concomitante e o posterior (...));
• Já que o ato de narrar ocorre, por definição, no presente, dado que (...) o
presente indica uma concomitância em relação ao momento da fala (no caso, fala do
narrador), ele é posterior à história contada, que, por conseguinte, é anterior a ele;
por isso, o subsistema do pretérito (pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito
mais-que-perfeito e futuro do pretérito) é o conjunto de tempos por excelência da
narração.” (Platão & Fiorin, 1996)
Como exemplo de uma narrativa, o texto que segue é um conto do autor
Stanislaw Ponte Preta:

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A velha contrabandista

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela
passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta.
O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da
velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da
Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra
ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse
saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros,
que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a
velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal
esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que
fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia
com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte,
quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez.
Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O
fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a
velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço.
Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a
senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta,
quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não
apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o

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contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?


- O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha.
- Juro. – respondeu o fiscal.
- É lambreta.

(PRETA, Stanislaw Ponte. A velha contrabandista. In: Para gostar de ler:


contos. Volume 8. Editora didática. São Paulo: Ática, 1983)

O texto acima mostra mudanças de situação referentes a personagens


determinadas, num tempo e num espaço demarcados, estabelece uma relação de
anterioridade e de posterioridade entre os episódios, usa o subsistema de tempos do
passado, trata-se, portanto, de um texto narrativo.

4.4.2 - Descrição
Um texto descritivo é aquele em se expõe as características de um ser - seja
pessoa, objeto, situação etc - considerando-o fora da relação de anterioridade e
posterioridade. Ao contrário do texto narrativo, a descrição não relata propriamente
mudanças de situação, mas propriedades e aspectos simultâneos dos elementos
descritos, considerados, pois, numa única situação. (Platão & Fiorin, 1996)
O texto de base descritiva está presente tanto na ficção (romances, novelas,
contos, poemas) como em outros gêneros textuais (textos científicos, enciclopédias,
propagandas, jornais, revistas etc) e objetiva a visualização do cenário onde uma
ação se desenvolve e das personagens que dela participam: trata-se do plano de
fundo que explica e situa a ação, em uma narrativa, ou que comenta e justifica a
argumentação. Existem características lingüísticas específica do texto descritivo:
freqüência de figuras (metáforas, metonímias, comparações, sinestesia), adjetivos,
formas adjetivas, uso de verbos de estado, situação ou indicadores de propriedades,
atitudes, qualidade, usados principalmente no presente e no imperfeito do indicativo
(ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar etc), uso de advérbios de localização
espacial.
Pode-se estabelecer a divisão desse tipo de texto em: descrição literária e
descrição não-literária (ou técnica). Na primeira predomina o aspecto subjetivo, com

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ênfase no conjunto de associações conotativas que podem ser exploradas a partir


de descrições de pessoas, cenários, paisagem, espaço, ambientes, situações e
coisas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer tanto em prosa
como em verso. Na descrição não-literária, ou descrição técnica, o objetivo centra-se
na descrição de aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, na
descrição de experiências, processos etc. Trata-se de uma descrição objetiva, em
que se cria o objeto usando uma linguagem científica, precisa.
Como exemplo de uma descrição literária, o texto que segue é um trecho da
obra de Eça de Queiroz – A Relíquia

Estávamos sobre a pedra do Calvário. Em torno, a capela que a abriga,


resplandecia com um luxo sensual e pagão. No texto azul-ferrete brilhavam sóis de
prata, signos do Zodíaco, estrelas, asas de anjos, flores de púrpura; e, dentre este
fausto sideral, pendiam de correntes de pérolas os velhos símbolos da fecundidade,
os ovos de avestruz, ovos sacros de Astarté e Baco de ouro. [...] Globos
espelhados, pousando sobre peanhas de ébano, refletiam as jóias dos retábulos, a
refulgência das paredes revestidas de jaspe, de nácar e de ágata. E no chão, no
meio deste clarão, precioso de pedraria e luz, emergindo dentre as lajes de
mármore branco, destacava um bocado de rocha bruta e brava, com uma fenda
alargada e polida por longos séculos de beijos e afagos beatos.

(QUEIRÓZ, Eça.1997. A relíquia. São Paulo: Publifolha)

Observa-se no texto acima que as ações e qualificações são vistas como


simultâneas, não havendo entre elas relação de anterioridade e de posterioridade.
Há, portanto, uma organização espacial, e não temporal, como na narrativa. Trata-se
de uma descrição, um tipo textual que apresenta uma função, pois fixa caracteres,
dá qualificação de personagens, espaços, tempos. Uma descrição não é neutra,
pois, a partir dos elementos selecionados e da forma como são apresentados, revela
uma visão de mundo.
Como exemplo de descrição não-literária (técnica), o texto abaixo
corresponde a um folheto de propaganda de carro:

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Conforto interno – È possível falar de conforto sem incluir o espaço interno.


Os seus interiores são amplos, acomodando tranquilamente passageiros e
bagagens. O Passat e o Passat Variant possuem direção hidráulica e ar
condicionado de elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do
ambiente.
Porta Malas – O compartimento de bagagens possui capacidade de 465
livros, que pode ser ampliada para te 1500 litros, com o encosto do banco traseiro
rebaixado.
Tanque – O tanque de combustível é confeccionado em plástico reciclável
e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a deformação em caso de
colisão.

4.4.3 – Argumentação
O texto argumentativo é aquele em que se defende uma idéia, opinião ou
ponto de vista, uma tese. Em um texto argumentativo, distinguem-se três
componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.
• A tese, ou proposição: é a idéia que se defende
• Os argumentos: são as respostas à pergunta “por que”, feita ao tema
• As estratégias argumentativas: são os recursos (verbais e não-verbais)
utilizados para envolver o leitor/ouvinte de forma a convencê-lo, ou persuadi-lo e
gerar mais credibilidade ao texto.

A atividade comunicativa não pressupõe apenas que, simplesmente, o


receptor entenda a mensagem transmitida pelo emissor, mas, considerando que
comunicar é agir sobre o outro, então a função daquele que envia uma mensagem é,
também, fazer com o que o receptor aceite-a: tem-se a argumentação como
instrumento lingüístico que visa a persuadir, a fazer com que o leitor/ouvinte aceite o
que lhe foi comunicado. São diversos os gêneros textuais que utilizam esse recuso
argumentativo: o texto acadêmico, científico, uma propaganda etc.
Os argumentos usados para convencer aquele que ler/ouve o texto podem
ser de diferentes tipos: argumento de autoridade, argumento baseado no consenso,

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argumento baseado em provas concretas, argumento com base no raciocínio lógico


e argumento da competência lingüística. (Platão & Fiorin, 1996)
• Argumento de autoridade: é a citação de autores renomados, autoridades
naquele campo de conhecimento. Usa-se esse tipo de argumento para mostrar que
se tem conhecimento a respeito do assunto.
• Argumento baseado no consenso: é o uso de máximas, proposições
aceitas como verdadeiras sem que sejam necessárias provas, demonstrações dessa
veracidade.
• Argumento baseado em provas concretas: é o argumento embasado em
dados, estatísticas válidas, exemplos, fatos comprobatórios. Esses fatos devem ser
pertinentes, suficientes, adequados e fidedignos para que sejam considerados
provas de uma determinada afirmação.
• Argumento com base no raciocínio lógico: é o uso de proposições que se
relacionam umas com as outras. Por exemplo, proposições com relação de causa e
conseqüência. É importante lembrar que esse tipo de argumentação favorece
problemas como fuga do tema e incoerências.
• Argumento da competência linguística: é o uso da variante culta da língua
e de vocabulário adequado à situação. Trata-se de um mecanismo lingüístico que
favorece a credibilidade e, portanto, auxilia na persuasão do leitor/ouvinte.
Embora não se possa reduzir a argumentação a um inventário de estruturas
léxico-sintáticas que marcam explicitamente as tomadas de posição do emissor
diante de certas proposições, vale apresentar, aqui, um quadro com amostras das
formas mais usadas na argumentação, tendo em vista a necessidade de se
estruturar organizada e coerentemente um texto deste tipo para que se possa atingir
o objetivo proposto. (Vigner, 2002b)

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Quadro 5

Fórmulas introdutórias As transições

- comecemos por - passemos então a


- a primeira observação recai sobre - voltemos então a
- inicialmente, é preciso lembrar que - mais tarde voltaremos a
- a primeira observação importante a - antes de passar a... é preciso
ser feita é que observar que...
- sublinhado isto

As fórmulas conclusivas A enumeração

- logo - em primeiro (segundo etc) lugar


- conseqüentemente - e por último
- é por isso que - e em último lugar
- afinal - inicialmente
- em suma - e em seguida, além do mais, além
- pode-se concluir afirmando que disso, além de que, aliás
- a // se acrescenta, por outro lado
- enfim
- se acrescentarmos por fim

As fórmulas concessivas A expressão da reserva

- é certo que - todavia


- é verdade que - no entanto, entretanto
- evidente, seguramente, - mas, porém
naturalmente - contudo
- incontestavelmente, sem dúvida
alguma
- pode ser que

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As fórmulas de insistência A inserção de um exemplo

- não apenas... mas - consideremos o caso de


- mesmo - tal é o caso de
- com muito mais razão - este caso apenas ilustra
- tanto mais que - o exemplo de... confirma
- etc

É importante ressaltar que nem sempre o texto argumentativo obedece às


exigências prescritas pela norma culta da língua. Muitas vezes para se alcançar a
persuasão pretendida é preciso que o texto seja adequado à situação em que ele é
produzido. Por exemplo, o discurso feito para uma criança de rua sem família
estruturada, que não freqüenta a escola, que não se alimenta normalmente, com o
intuito de convencê-la a não cometer determinado ato, não usará as mesmas
estratégias argumentativas de um discurso feito em um tribunal do júri. Nesse
sentido, foi selecionado o texto abaixo, extraído do livro de Platão e Fiorin (1996),
para ilustrar uma argumentação. Trata-se de um vídeo exibido na Casa de Detenção
de São Paulo, para ensinar aos detentos formas de prevenção contra a Aids:

Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir


nada, vô te dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e
rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa
praga esta relado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselinha.
Num tem doto que dê jeito, nem reza brava, nem choro, sente o aroma da
perpétua: Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu?, pelo esperma e
pelo sangue! (Pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é
porque tu ta na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara
ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse
negócio de Aids. Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de

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camisinha! (Pausa)
Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o
companheiro na força bruta, na congesta! Pára com isso, tu vai acabá empestado!
Aids num toma connhecimento de macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em
home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num
tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais
malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra
casa o Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida. Sexo, só
com camisinha. (Pausa)
Quem descobre que pego a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra,
passando pros outros. (Pausa) Sexo, só com camisinha! Num tem escolha,
transá, só com camisinha.
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o
vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal
pra Aids. No desespero, tu não se toca, num vê, num qué nem sabê que, às
vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direto em ti. Às
vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga. E tu, na afobação, mete
ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que num pode
agüentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (Pausa) E a
farinha que tu cheira, e a erva que tu bafurra enfraquece o corpo e deixa tu chué
da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto
pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu
mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente dá valor pra ela quando já era!

(Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo: Adag; Realização: TV Cultura, 1988)

4.4.4 – Exposição
Um texto expositivo apresenta, de maneira geral, a explicação de um
determinado tema. São textos expositivos: reportagens, textos didáticos, instruções
de uso, artigos científicos, monografias e todos os gêneros textuais que apresentam
a finalidade de transmitir informações.

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A partir desse propósito comunicativo, exigem-se, nesse tipo de texto,


clareza na construção dos parágrafos e das orações, objetividade, vocabulário
apropriado e ordenação das idéias. Abaixo segue um exemplo de exposição:

Novas maravilhas do mundo


Séculos depois da elaboração da primeira lista sobre o tema, o mundo
finalmente conheceu suas sete novas maravilhas. Numa eleição que contou com a
participação de quase 100 mil pessoas de vários países, foram escolhidos
monumentos, construções arquitetônicas e até cidades inteiras, para simbolizar o
que há de mais bonito e significativo no patrimônio histórico e cultural da
atualidade. O mais importante é que, embora polêmica, a votação serviu de alerta
para a preservação desses e de outros bens precisos da Terra, que nem sempre
recebem a devida atenção.
Para se ter uma idéia, das sete maravilhas do mundo antigo, listadas entre
150 a.C. e 120 a.C. e imortalizadas pelo poeta grego Antípatro de Sídon, apenas
as pirâmides de Gizé, no Egito, ainda podem ser visitadas. Conhecida como Ta
Hepta thaemata, que em grego quer dizer “as sete coisas dignas de serem vistas”,
a lista original incluía os jardins suspensos da Babilônia, onde hoje fica o Iraque; a
estátua de Zeus, na Grécia; o templo da deusa Ártemis, em Éfeso, e o mausoléu
de Helicarnasso, ambos na Turquia; o colosso de Rodes, estátua gigantesca de
bronze, e o farol de Alexandria, no Egito. Dessas seis maravilhas existem apenas
ruínas ou registros em documentos históricos.
Pensando nisso, o empresário suíço Bernard Weber criou em 2001 a
fundação New 7 Wonders (Novas 7 Maravilhas), como forma de divulgar e
preservar o patrimônio existente nos dias atuais. Para conseguir a atenção
necessária, a fundação lançou, em 2005, um concurso para escolher as sete
maravilhas do mundo moderno. Depois de centenas de candidaturas, 21
monumentos foram selecionados para votação pela internet ou mensagens de
celular.
Campanhas. O concurso foi tratado com mais entusiasmo em alguns
países do que em outros. No Brasil e na Índia, por exemplo, foram feitas grandes
campanhas para que a população votasse em seus representantes. Por outro lado,

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os Estados Unidos, que concorriam com a estátua da Liberdade, em Nova York,


não fizeram praticamente nenhum esforço para eleger o documento.
De qualquer forma, a participação foi dentro do esperado e as novas
maravilhas foram anunciadas numa grande cerimônia realizada em 7 de julho, em
Lisboa, Portugal. Embora a fundação tenha divulgado a ordem de classificação dos
monumentos, não foram informados quantos votos cada um recebeu, com a
justificativa de que são todos de igual importância. Sabe-se, no entanto, que
poucos chineses sabiam da votação. (...)

(trecho da reportagem de Carolina Lenoir, no jornal Estado de Minas: 11 de agosto de 2007)

4.4.5 – Injunção
Uma injunção indica como realizar uma ação, estabelece um conselho a
respeito de determinado assunto ou fato. É também utilizado para predizer
acontecimentos e comportamentos. Um texto desse tipo utiliza uma linguagem
objetiva e simples, desprovida de ironias, e os verbos empregados são, em sua
maioria, do modo imperativo, embora também possa ser encontrado verbo no futuro
do presente. Gêneros textuais como instruções, receitas, regulamentos, regras de
jogo são do tipo injuntivo.
A injunção pressupõe um emissor e um receptor parceiros no processo de
transmissão/compreensão da mensagem: o ato comunicativo é composto por
enunciador e enunciatário em um universo discursivo no qual o primeiro é
conhecedor da competência do segundo e, por isso, reconhecedor do saber e
poder-fazer deste. Assim, a comunicação não se torna conflituosa, já que é
transmitida e interpretada de forma consensual.
Como exemplo, segue abaixo o modo de preparado de uma receita do doce
bem-casado:

Modo de preparo

Bata as gemas, junte e bata até que fique bem claro. Peneire juntos a
farinha de trigo e o fermento e misture delicadamente ao creme e juntando em
seguida as claras batidas em neve. Coloque em assadeira untada e polvilhada.

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Leve ao forno médio (180°). Ligue o forno na hora de colocar a massa. Asse por
cerca de 10 minutos. Retire do Forné e deixe esfriar. Corte com cortador e recheie
unindo dois a dois.

Recheio

Junte o leite condensado, as gemas e a manteiga. Misture bem e leve ao


fogo baixo, mexendo sempre até obter consistência cremosa (mais ou menos 10
minutos). Retire do fogo e junte o licor de cacau, o suco de limão e as nozes.
Deixe esfriar.

Finalização

Depois de recheados, passe açúcar fino e embrulhe. Faça uma linda


embalagem.

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UNIDADE 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem diferentes modelos teóricos de leitura que vão desde a linearidade


dos modelos de percepção visual e processamento de letras, que mostram
mecanismos de leitura, mas não tratam da compreensão, passando pelo modelo de
adivinhação, que aborda a compreensão, mas não explica como se chega à mesma,
até chegar aos modelos interacionistas que focalizam o processo cognitivo da
compreensão do texto.
Conforme foi apresentado, viu-se que a leitura, segundo alguns
pesquisadores do assunto, é um processo complexo, em que o leitor precisa de
conhecimentos de natureza diversa para construir significados e, assim,
compreender o texto. Ler não parece, portanto, um processo “linear e serial, passo a
passo, desde o olho até a memória que estaria aguardando a chegada do material
para começar a processá-lo.” (Kleiman, 2004b). A leitura é um processo interativo,
uma vez que diversos conhecimentos do leitor interagem em todo momento com o
texto para se chegar à compreensão deste.
Na mesma maneira, elaborar um texto pressupõe uma atividade dialógica, em
que o enunciador, em interação com o receptor da mensagem, produz o sentido do
texto. A competência textual relaciona-se, portanto, à capacidade de expressar
idéias de forma coerente e adequada aos receptores eventuais e ao objetivo
pretendido. No texto escrito, em especial, essa busca pela coerência requer o
domínio de aspectos lingüísticos, pragmáticos e da organização textual em termos
de micro e macroestruturas.
As características de um texto acompanham a função do mesmo. Assim, o
grau de formalidade varia, seja no texto oral ou no texto escrito, conforme a situação
de uso da língua; o gênero também é determinado pelo objetivo que se pretende
com a construção do texto. São diversos os gêneros porque são muitas as
atividades humanas.
Em cada prática social um determinado gênero é mais adequado, e o
indivíduo competente sociocomunicativamente percebe essa adequação e sabe
diferenciar um gênero do outro. Sabe, por exemplo, quando está diante de uma
anedota, de um poema, de uma explicação, de uma conversa telefônica etc. “A

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competência textual permite que o indivíduo identifique, ainda, seqüências de


caráter narrativo, descritivo, expositivo e/ou argumentativo.” (Koch, 2002).
O contato com diferentes gêneros textuais é, portanto, fundamental para o
desenvolvimento da competência comunicativa, pois eles mostram diversos modos
de interação. Em outras palavras, lidar com a língua em seus vários usos autênticos
no dia-a-dia, cada um com uma função apropriada para o tipo de interação
específica, é importante para a produção e para a compreensão de textos.

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