^EKEIRA
I BAZAR DE PARIS I
*g Livros collegiaes, litteratura e sciencias.
^
^ Assignatura para qualquer revista ^'^
<g extra ligeira ^
Figurinos, artigos para
^ eseriptc»rio, ar- »^
^ marinho, etc. %•
TGl^G X
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LISBOA
LIVEAEIA DE ANTÓNIO MARIA PEREIRA EDITOR
5o, 52, — Rua Augusta — 52, 54
•8%
A' MEMORIA
QUERIDA
DE
'
A Província (Porto) ; o Repórter, o Kacional, o rem^^o (Liaboa), etc,
1885-1891.
VIU PORTUGAL CONTEMPORÂNEO
desenlace.
Abril, 1894.
Oliveira Martins
EXPLICAÇÕES
Novembro de 1883.
ADVERTÊNCIA
CONTEMPORÂNEO
LIVRO PEIMEIEO
(1826.28)
A Carta Constitucional
As esperanças jacobinas
1. — A 3íOrvTE DE D. JOiO YI
'
V. irnitnria de Porlurjal, (S." ed.) Il, pp. 253-5 — - Ihid. I. vil, 3, 4.
1. —A xMORTE DE D. JOÃO VI 3
2. D. PEDRO BRAZlLEIIiO
' V. Historia de Portugal (Z.^ ed.) ii. pp. 230-3.—' V. BrozU e as.
prime o Brazil.» —
Stuart não appLaudiu a idéa.
Conhecia melhor Portugal, e sobretudo repugnava-
Ihe o plano dos soccorros em vez de ligar, convi-
:
3. SALDANHA, o IIEROE
Liberato, Mamonas).
CARTA morta.»
ficaria letra
Ao mesmo tempo que assim intimava as suas
ordens ao governo, dirigia-se em tom bem diverso
ao ministro inglez ACourt. O observador reco-
nhece, comparando, o grau do nosso abatimento e
o papel do inglez entre nós. Saldanha diz assegu-
rarem-lhe que a Rússia e a Hespanha intrigam e
protestam contra a carta, mas que, visto a nossa
fiel alliada a approvar fde ciutro mudo Stuart não
teria sido o mensageiro), está prompto a levantar-se
12 L. I. — A CARTA CONSTITUCIONAL — I
ria II — lima
creanea que havia de vir casar com
o logo que tudo se combinasse. Saiu o antigo,
tio,
formou-se novo ministério liberal em que entrava
Saldanha, mais que ministro, dictador, general,
tudo! Era a mola real, a chave, o fecho da abo-
bada do novo edifício liberal ; e em Lisboa, no
Porto, em Coimbra, por toda a parte onde formi-
gava um movimento jacobino, Saldanha era accla-
mado como esperança da pátria e braço armado
da Liberdade.
As festas do juramento no fim de junho foram
brilhantes nas duas cidades a burguezia letrada
:
'
V. 7/í'«^ de rorhvjid (3.^ ed.) II, pp. 207.
3. — SALDANHA, O HEROE 17
_
interesses ameaçados, o escrúpulo das consciências
oífendidas pelo maçonismo que era uma abomina-
ção, pela liberdade que era um attentado contra o
lealismo monarchico. A nau constitucional fora
lançada ao mar no meio dos foguetes, das salvas,
dos vivas. Mas a tripulação? —
Saldanha? fraco
piloto, sujeito a ataques de molleza, a vertigens
de abandono, sem intelligencia firme, nem recti-
dão, nem consciência lúcida.
A Santa Alliança
1. — A GUERRA APOSTÓLICA
A's festas de Lisboa e do Porto, onde, sob a
protecção de ura governo sympathico, o espirito li-
beral ou jacobino dos restos da geração de 20 e dos
homens novos formados por essa escola dava*largas
a um entliusiasrao inconsistente e bastante archaico;
ás girandolas e ás salvas, aos vivas e aos abraços
das duas cidades, respondia um movimento de pro-
testo enérgico das províncias, isto é, das guarni-
ções. Portugal, como povo, não acordara ainda do
torpor de largos annos, dorido das desgraças do ca-
lamitoso reinado de D. João vi. Os casos de agora
— acclamaçoes constitucionaes, sedições absolutis-
tas — são apenas os preliminares da longa futura
campanha, do duello Mnal entre a nação histórica e
o espirito novo, estrangeiro, mais uma vez im-
posto, por uma dictadura, a uma nação aberta ao
cosmopolitismo.
Ao mesmo tempo que era Lisboa se jurava a
Carta, em Traz-os-Montes e no Minho os soldados
acclamavara D. Miguel rei, prendendo infanteria 24
em Bragança os officiaes, o bispo, o governador,
por não adherirem ao pronunciamento. Ao mesmo
tempo em Villa-Viçosa cavallaria 2, infanteria 17
em Estremoz, pronunciavam se absolutistas (Soriano,
1. —A GUERRA APOSTÓLICA 23
ria II.)
9 METTERMCH E CANMNG
'
Pretendem alguns que n'este plano da ida de D. Miguel para o Bra-
zil houve o pensamento de o eliminar, para d'esse modo se preparar a res.
taurai;ão do reino-unido de Portugal e Brazil. Em abono d'essa opinião
acha-se na Hiat. chrou. iIk Poi-liiga! (2.' ed. p. 237) do sr. C de Mello trans-
cripto o seguinte trecho de uma carta inédita do conde de Villa Real,
em que se falia «das instancias que de novo se fizeram a... para r(ue a vi-
ctiina do... caia no laço armado pelo,..ii E diz-se depois: <Se eu, emquanio
estive na casa d'onde não se quer vento nem casamento (Hespanha) pen-
sei que poderia isso íazer-se sem grande inconveniente, uma vez que se
dessem suílicientes garantias de que se não abusaria da condescendência,
agora sou de opinião totalmente contraria. As circumstancias são total-
mente diversas... Certamente, se n'eslas circumstancias se consentisse
que mudasse de área o sujeito em questão, se concluiria que o objecto
era o de tornar a» cousas ao estado era que se achavam antes de 1820
pelo que toca ;i independência »
32 L. I. —A C.\RT.\ CONSTITUCIONAL — I
3. — D. MIGUEL EM VIENNA
Quando
cljegou a Vienna a noticia da morte de
3D. João VI quando ainda ninguém esperava a sur-
;
Beatriz.
Era uma creança ainda, essa noiva, e o infante
sentia, aoque dizem, uma paixão antiga pela prin-
ceza Luiza de Baviera, com quem ainda em vida
de D. João vi tinha querido casar. Uma forte con-
vicção da sua legitimidade penetrava-o e d'ahi ;
'
A autobiographia de Metternich, publicada depois da 1.* edição d'e8ta
obra, e á qual uos referiremos adeaute, é um livro onde o auctor encobriu
muitos lados o muitos episódios da sua politica. Estão n'e8te caso as com-
binações portuguezas.
D. MIGUEL EM VIENNA
selheira,
E' n'uma das phases mansas do seu espirito ir-
requieto que o vemos escrever á infanta regente
(19 de outubro) «determinado a manter illezas as
leis do reino e as instituições legalmente outorga-
das por nosso augusto irmão. desejando que er-
. .
dividir em
dois o throno, metade a D. Miguel com
o titulo de rei e os poderes de co-regente, metade
a D. Maria cujo reinado effectivo chegaria com a
edade núbil. fAutob, of Pr. Mettemich, eã. mgl. m, 624:)
Tal era o pensamento da Áustria, nem cartista,
nem adepto á theoria pura da logar tenencia ex- —
pediente de que se lançara mão para conciliar a
posição de D. Miguel com os actos antecedentes
de D. Pedro.
O próprio Villa Real dizia ter sido sempre de
opinião qne por forma nenhuma o infante devia ac-
ceitar a nomeação de logar-tenente, e que só a ur-
gência das circumstancias obrigou D, Miguel a to-
mar o partido que tomou, sem renuncia dos seus
direitos ao contrario, fazendo d'elles reserva ex-
:
4. —A VINDA DO MESSIAS
O povo
escarnecia dos moderados, dos fracos, re-
tratando em cantigas e pasquins a inércia imponente
das tropas que deviam salvar a CARTA
o enfermo do occidente
1. — A FOME
E' necessário demorarmo-nos um pouco a travar
relações mais intima^ com o estado do paiz, nas
vésperas da resolução d'essa crise que, nascida
cora a invasão franceza e com a separação do Bra-
zil,tomou um caracter politico com o jacobinismo
de 20, e attingiu o seu periodo agudo depois da
morte de D. João VI. As causas accumuladas ap-
pareceram então com franqueza, complicadas com
a questão dynastica e se alguma responsabilidade
;
'
V. Eist. de Portugal. (3,* ed.) II, pp. 158 e iegg.
1. —A FOME 59
DESPEZA
Impostos directos 1:989 Lista civil e camarás. . .
Alfandegas 5:0C0
Briis nacionaes e diversos ICtl
2. — os PARTIDOS
Corria-se, realmente, esse risco, pois apesar das
declarações em contrario, todos viam na carta
uma resurreição disfarçada de 20 ; e todos viam no
irrequieto Saldanha um ambicioso em volta do qual
se agrupavam os vencidos de 23, e toda a co-
horte de novos apóstolos das opiniões jacobinas. O
governo da infanta debatera-se contra esta tenden
cia, e só pudera repellir Saldanha e o seu partido
entregaildo-se nas mãos do bispo de Vizeu e do
partido diametralmente opposto, que esperava um
pretexto apenas para acabar de uma vez com a
singular extravagância da carta.
A má vontade era geral. Na proclamação com
que a Regência annunciava o dom de D. Pedro,
manlfcstava-se uma frieza singular,
(ap. Araújo, chron.)
'
V. o Brazil e as colónias porl!i(/iter.as (?.* ed.) iii, 1.
1 . — O KEI CHEGOU !
gido por um
clamor de vozes, allucinado, como a
fera cega pela capa vermelha do toureiro, estacou,
tremeu, e converteu-se —
decidido a investir com
fúria, baixando a cabeça, cerrando os olhos, rugindo
uma ameaça longa. .
E em Belém desembarcou ;
Co papel o c . . limpou !
absoluto Viva ! ! —
Morra o senhor D. Pedro maia
a p> que o pariu Morra la E assim, venerando
. . !
E em Belem desembarcou. ..
—
Veiu tenente^ fazemol-o capitão... Viva D»
Miguel I, absoluto Viva !
Lá no cães desembarcou :
Já a surra se acabou . .
—
•
Fora malhado !
Chuclju judeu !
Acabou-se a guerra :
D. Miguel é rei !
Autoiiogr. cit.j A
Inglaterra conquistara, como vimos,
o logar de arbitro na questão portugueza; e essa
arbitragem tinha como plano apoiar o governo mi-
guelista, impondo-lhe porém o respeito ás formulas
legitimistas. Para facilitar as cousas, Wellington
mandou ao Rio insistir com D. Pedro que manti-
vesse a combinação do casamento, mas o pae não
quiz. (Magalhães, Apmt.J
Vencedor no reino, apoiado pela Europa, accla-
mado pelo povo, D. Miguel era pela legitimidade
do facto, e talvez do direito, rei. Pareciam termi-
nadas as questões, e era agora que ellas iam co-
meçar. A
emigração de quasi três mil homens pu-
nha fora do reino uma semente de guerra que fru-
ctificaria. A harmonia apparente era o symptoma
de uma crise próxima, em que as duas fracções
portuguezas, uma doida de febre, a outra podre de
intriga ou allucinada por illusões, haviam de achar-
se frente a frente, sem força para vencerem, entre-
gues ás soluções do accaso e ás ordens da politica
da Europa. Emquanto a victoria era em Portugal
assignalada por um terror purista similhante ao
que descarnara a Península no tempo dos judeus, *
o Portugal emigrado, roído de invejas, dilacerado
de ódios, punha a nú perante o mundo a miséria
extrema a que os infortúnios da historia nos ti-
nham conduzido. Eram vãos os protestos lavrados
contra a legitimidade de D. Miguel. Que impor-
tava que na eleição dos procuradores ás cortes ti-
vesse havido irregularidade e violências, mentiras,
burlas ? O exemplo das cortes constitucionaes pos-
teriores tira toda a auctoridade'á accusação, hoje
e então, tirava todo o peso ás dissertações a ma-
neira ignóbil por que a gente liberal se comportara
^,
.'
Y.BUL ãa civil. {?>??•. {2», ed.) 1, lY, 6.
102 L. I. —A CARTA CONSTITUCIONAL — IV
no Porto, emquanto em Lisboa se acclamava o
usurpador. O facto é que o historiador encontra
nas assignaturas do auto da acclamação todos os
nomes portuguezes ; e que na emigração vê ape-
nas uma dúzia de nomes, se tanto, seguidos por
três milhares de soldados anonymos. O caracter
nacionalmente legitimo da usurpação é incontestá-
vel o caracter jurídico é discutivel quanto a cri-
; ;
O reinado de D. Miguel
A sedição do norte
1. — A JUNTA DO PORTO
O regimento 6, que acabava de chegar ao Porto,
deu certas esperanças aos liberaes do norte. Com
effeito no dia 16 (maio) essa tropa proclamou no
quartel de Santo-Ovidio D. Pedro iv, D. Maria ii,
e a CARTA, —
trindade soberana ainda mais difficil
de conceber do que a outra. O coronel, afflicto,
pedia que não proseguissem em tal imprudência
— Como os soldados, porém, nào quizessem ou-
vil-o, sumiu-se, metteu-se em
Mas a mulher,
casa.
que era mais homem do queenvergonhou-o,
elle,
obrigando-oa sair, a pronunciar-se. O pobre coronel
foi. Da guarnição do Porto só parte adheria, e o
povo mantinha-se indifferente. (Monteiro, mj<ona) For-
mára-se um conselho militar, logo que as tropas
do governo tinham evacuado a cidade já em po-
der dos sublevados. Que queriam estes? Bem
pouco. Libertar D. Miguel que diziam coacto, de-
mittir o governo, restaurar a CARTi.
104 L. II, — o REINADO DE D. MIGUEL — í
'
y,[Eist07-ia de Portugal (3.» ed.) i, pp. 3Í-46.
106 L. II. —o REINADO DE D. MIGUEL — i
2. — PALMELLA
3 —A BELFASTADA
ou simulado.
Palmelia tirou então o charuto e deu o caso por
acabado: nada havia a fazer senão entregar- se o
exercito; e elles, a jdnta, os fidalgos, voltarem
socegadamente para Inglaterra no Belfast, que es-
tava á espera, de caldeiras accesas. ísinguera pro-
testou no conselho contra a comedia indigna, con-
tra o miserável abandono de doze mil soldados
compromettidos, para os quaes nem se discutia uma
capitulação, deixando-os abandonados á mercê do
inimigo. Os generaes e fidalgos faziam o contrario
de César: chegar, ver e, fugir. «Os acontecimen-
tos do Porto são de tal natureza que unicamente
«e devia cuidar em os sepultar no eterno esqueci-
mento», escreve de Paris (11 dez. 29) o emigrado
Abrantes a vSilva Carvalho, em Londres, accres-
centando que Palmelia ('francamente disse que
elle commettera um erro politico em irão Porto.»
(Ant. Vianna, Silva Carvalho e o seu tempo)
reira!. Corja!
. —
Sá-da-Bandeira chorava de tris-
teza e raiva. Caçadores 6 e parte de infanteria 21
voltaram-se, desertando. Se se demorassem, fugia
tudo. Era urgente marchar para salvar a honra,
ao menos. Arrastando-se, partiram, de aza-ferida
como o Belfast, lá ao longe, no mar . . .
o Terror
•o REI EXKKRMO
invocando-se a Virgem-Purissima-Nossa-Senhora,
para que protegesse o augusto e araado rei, de-
fendendo-o de todos os seus inimigos, livrando o
reino do pestilente e infernal contagio da seita ma-
çónica. etC. {Cânticos e lourort-s sagrcloi, etc.) Sempre qUS
. .
perigo.
Nada ha mais frágil do que os Ídolos. idolatria A
é em si uma doença. Qualquer accidente a i*evela,
e foi isto o que succedeu com a enfermidade do rei.
1. —o REI ENFERMO 429
dade social.
O furor começou contra as mulas que foram jus-
tiçadas, e contra os liberaes aquem, pretendem, se
ficasse dando o nome de malhados^ da cor d'essas
bestas imraoladas. (Monteiro, Hist.) As arruaças plebêas
A FORCA
2. — AS FORCAS
—
A forca pede forcas traducção revolucionaria
do fatigado adagio latino. Dois mezes depois da
tragedia de Lisboa veiu a do Porto, remate das
obras meritórias da Alçada, * no dia 7 de maio.
A terrivel sentença condemnava dez dos réus a
morrerem no patibulo, devendo (com mais razão)
partilhar a mesma sorte os contumazes, fugidos para
Londres no Belfast. Era um longo rol de mortes,
commentadas com requintes fúnebres. As cabeças
se os condemnassem, a
elles, á eterna gloria...
De um lado ficavam os meirinhos e escrivães, de
capas e batinas negras, calção, meia e sapato afivel-
lado, «para como diz a Ordena-
pôr sua fé no feito»
ção, de outro os clérigos, em
n'um tom de ru- coro,
far de trovões distantes, psalmeavam De profun- :
a. Santa Religião
dá desconto á natureza !
Enforcados 37 »
Contumazes 5:000 »
Emigrados 13:700 n
* Historia de Portugal (3.* ed.) ii, pp. 83 6 segg.
3 — AS CADEIAS
o Limoeiro era em Lisboa a sala d'espera de
S. Julião, cujas casa-matas e segredos regorgita-
vam de habitantes. Durante o Terror miguelista
via-se o que se vira na França e por toda a parte,
em condições idênticas. A
natureza humana é sem-
pre uma. A denuncia torna-se um officio e uma ne-
cessidade vive -se d'ella, para satisfazer ódios,
:
O
Maia, capitão, cheio de graçola nacional, como
os soldados que o imitavam, tinha invenções pica-
rescas. Por cousa nenhuma trocaria esse posto da
Torre, de uma alegria inaudita Pedia-lhe um pre-
!
sera . .
lhados !
—
quando o duque da Terceira entrou em Lisboa,
Tudo isso vem longe ainda. Ha muito que contar.
156 L. 11. —o REINADO DE D. MIGUEL II
Portugal novo
1. — os EMIGRADOS
2. —A TERCElBA
nova.
A vinda de D. Pedro e a conquista do archipe-
lago são o começo de uma historia. Com o produ-
cto do empréstimo saiu Villa-flôr para as ilhas de
oeste: quatro dias antes (31) saia D. Pedro, do Rio
para a Europa. A rainha também vinha, em outro
navio, direito a França. Nos seus barcos, Villa-
flôr nada fez a principio, reapparecendo conforme
partira de Angra: houve exclamações, conspirou-
se ainda para depor a Regência, matar Palmella,
chamar Saldanha, isoriano, seieix D. Pedro velejava
para a Europa. De caminho, parou á vista do
Fayal d'onde escreveu á sua gente. Essas cartas
alegraram os ânimos, avivando as esperanças. Pal-
mella embarcou, e Villa-flôr tornou á sua empreza.
O marquez foi em nome da Regência convidar D.
Pedro para o commando; e o conde snbmetteu suc-
cessivamente (maio-agosto) todo o archipelago ao
governo da Terceira. Ao mesmo tempo que appa-
recia um chefe, augmentavam os recursos. S. Mi-
guel era rica: deu cento e vinte contos; e por so-
bre isto as guarnições e armamento das ilhas to-
madas trouxeram dois mil soldados mais ou menos
seguros, duzentas e cincoenta peças de artilheria,
cinco mil e quinhentas espingardas, seiscentas arro-
bas de pólvora, duzentos mil cartuchos, etc. Era ao
tempo em que os francezes levavam de Lisboa a
esquadra de D. Miguel.
A historia da Terceira acaba aqui, a da aven-
tura de I). Pedro vae começar; mas antes d'ella
é mister que estudemos as impressões novas do
"partido liberal e as agonias delirantes do absolu-
, tista.
. . .Despedaçados
Os affeclos de irmão, de amanle e filho,
Resta-nos na alma, qual buida frecha
Que no peito ao cravar-se estala e deixa,
Caindo, o ferro na ferida occulto .
(Herculano, Poesias.)
Londres)
. . .Eia, partamos!
Ao mar
(Herculano, Poesias)
o principio do fim
•
o empréstimo era de 50 milhões de francos, ao juro 5 % pagável
em 25 annos, a razão de uma vigésima quinta parte por anno. O preço
1. — INFLUENCIA DA REVOLUÇÃO DE JULHO 193
Chegou o paquete :
Trabalha o cacete
naval segundo as' regras da arte. (l. i^i*nc, inst. dix ans.j
Nelson-Roussin vingaria a reputação medioere da
marinha franceza —
se de facto não íosse Roussin-
Quichote !
' o capital do empréstimo com a casa Outrequin & Jauge era do va-
lor nominal de áO milhões de trancos. A realisação das entregas do em-
214 L. II. —o REINADO DE D. MIGUEL — IV
De março a julho de 1832, desde a chegada de
D. Pedro á Terceira, até ao desembarque do Min-
dello, as operações financeiras e os impostos bas-
tam. O
enthusiasmo partidário e a esperança da
victoria fácilfazem com que o empréstimo forçado
não encontre resistências (salvo a do Quintella) e
com que se acceite o imposto duro das portas e
janellas. Mais tarde (novembro), depois de mezes
de uma lucta que acirrava os ânimos, á falta de
dinheiro, reclamam-se os donativos em género. Ex-
torsões ou dadivas? Ambas as cousas a um tem-
po, conforme as pessoas.
Os mercadores de lan tinham de dar (dec. 1832,
nov. 21) no prazo de vinte e quatro horas, cada
qual, cem covados de panno; e os de fazendas
entregue.
Este empréstimo de 1832 era o resultado do malogro da operação con-
tratada antes, em 1830, com a casa Orr. Goldsmid & C* também de Pa-
ris.
3. — o ARMAMENTO DA NAÇÃO 215
(1832-4)
A guerra civil
A aventura
1. — D. PEDRO REGENTE
O momento que
lhe cabe na historia é este, e por
issoagora nós a observaremos rapidamente, para
não embaraçarmos o fio da narrativa ulterior com
um elemento ao depois quasi sem importância.
Ora pepinal
tal
Posto que doutoral
Só produz asneira
E indecencia. .
2. — A CORTE EM FRANÇA
Voltando com a rainha a França, D. Pedro fi-
xou ahi a sua residência (agosto de 31). Luiz Plii-
lippe dera-lhes o seu palácio de Meudon e uma
corte, como a reis. No segundo semestre d'esse
anno trabalhava tudo para pôr a nado o barco li-
beral. D. Pedro, regente, congregava os cabeci-
lhas; Palmella, em Inglaterra, procurava dinheiro
e gente; nos Açores, Villa-flôr conquistava todo o
archipelago. Depois da expedição de Roussin ao
Tejo, accendera-se o ciúme e o receio da Inglater-
ra Palmerston instava pela brevidade da expedi-
:
stu tempo.) Em
setembro (31) estava tratado o nego-
cio. Seriam dois milhões de libras, ou 9.000 con-
2. —A CORTE EM FRANÇA 237
3. — os VOLUNTÁRIOS
3S veteranos 1 advogado
7 soldados 1 retratista
5 carpinteiros 1 moleiro
10 sapateiros 3 caixeiros
2 gravadores 2 alfaiates
3 criados de servir 4 sotas
9 lavradores 20 vadios
2 médicos
4. — BELLE-ISLE-EN-MER
A antiga Vindilis dos romanos, nas costas do
Morbihan, a duas léguas de Quiberon, fora o ponto
escolhido para equipar a expedição destinada a
conquistar Portugal, indo primeiro aos Açores re-
forçar-se com os recursos militares ahi reunidos. A
Inglaterra, apesar de hostil, ligada ainda a Portugal
pelos sérios interesses commerciaes de uma colónia
numerosa de residentes, não queria comprometter-se
abertamente, consentindo em casa o equipamento
de uma expedição invasora. Além d'isso, nem por
governarem os whigs, na Inglaterra parlamentar, os
toiys deixavam de ter voz ao passo que em França
;
5. — o EXERCITO LIBERTADOR
Na viagem a frota separou-se. D. Pedro foi apor-
tar a S. Miguel (22 de fevereiro), os outros navios
á Terceira que era, o destino marcado em Belle-
Isle. As primeiras impressões, nas duas ilhas, não
foram agradáveis para os que esperavam. Em S.
Miguel, D. Pedro não dera um só viva á carta,
(Soriano, Cerco) O quc, lembrando os textos dos papeis
As illusões perdidas
1. —A RECEPÇÃO DO PORTO
2. — PENAFIEL-VALLONGO
Apesar do dia lO ter sublinhado as promessas e
ameaças feitas, nada se movia e uma vez que se ;
4. — SOUTO-REDONDO
Via-se apenas um simples general, D. Pedro;*
mas ficaria assim fechado no Porto, com a sua
estrella engastada no annel de ferro dos exércitos
miguelistas que a não deixavam brilhar? Pois o
proceder timido de Povoas não estava aífirmando
claramente o grande medo que lhe infundiam as
286 L. III. — A GUERRA CIVIL — I
'
Para que o leitor possa apreciar bem o valor numérico das deser-
ções, pomos aqui os dados do Relatório do ministro da guerra ás camarás
de 34 :
Em 1833 . 32!) »
o cerco do Porto
1. —o THEATRO DA GUERRA
'
V. para to Ta a descripção do tlieatro da guerra a Carta topographica
das linhas do Porto, pub. pelo coronel Moreira.
1. — o THB;ATR0 DA GUERRA 293
navios miguelistas —
que não vieram, porque tam-
bém para nada serviam.
« Está tudo perdido, escrevia cora eíFeito D. Pe-
de 15 agosto de 32)
—
de Braga, o chamado das Medallias pelo numero
das que ahi se ganhavam á custa de vidas.
Da Ramada alta, sobre a estrada de Villa-do-Con-
de, para o sul, flanqueando a cidade pelo poente,
descia do Bom-Successo a linha, a terminar junto do
rio em Lordello com a bateria d'este nome. Sobre
o Douro, finalmente, para dos centros da cidade
responder áá fortalezas da margem fronteira, ti-
nham-se artilhado todos os pontos dominantes a :
2. —o Dl,\ DE S. MIGUEL
ganas.
Quanto á fazenda tens na Companhia 2000 libras que realisei;
mandei-as realisar a Londres ; vê a portaria.
3. — D. PEDRO, GENERAL DE INVERNO 317
bro, o resto a 10000 nos mezes seguintes é a tua margem de saques para
:
couta, é preciso liquidar o custo com o contracto, porque não tendo con-
sumo do reino não é do seu monopólio e deve ser pago pelo custo assim ;