Вы находитесь на странице: 1из 75

DIREITO CIVIL - PONTO 02

Domicílio. Bens.
Negócios jurídicos: conceito. Representação. Condição. Termo. Encargo. Defeitos.
Invalidade. Atos jurídicos lícitos e ilícitos

ESTADO E DOMICÍLIO

1. ESTADO
Trata-se da soma das qualificações jurídicas da pessoa na sociedade – situaçãoo
jurídica resultante de qualidade da pessoa.

 Aspectos:
o Estado individual – aspectos da constituiçãoo orgânica, que afetam a
capacidade civil
o Estado famliar – situação na família – matrimônio, filiaçãoo
o Estado político – posição política na sociedade: nacional, estrangeiro

 Caracteres:
i) Indivisibilidade – não é possível possuir mais de um estado – é uno e indivisível.
Exceção é a dupla nacionalidade.
ii) Indisponibilidade – por ser reflexo da personalidade;
iii) Imprescritibilidade – nasce com a pessoa, e com ela desaparece.

2. DOMICÍLIO
Local; escolhido ou determinado por lei onde as pessoas podem ser
ENCONTRADAS PARA RESPONDER POR SUAS OBRIGAÇÕES – é a sede jurídica
da pessoa.
a) morada – é o lugar onde a pessoa se estabelece temporariamente; exemplo: morar
em Salvador por 06 meses, é passageiro;

b) residência – é o lugar onde a pessoa se estabelece habitualmente, ou seja, é


permanente; exemplo: pessoa que reside na cidade e passa finais de semana com
frequência em sua casa de campo, terá 02 residências; o indivíduo pode ter várias
residências.

c) domicílio – é o lugar onde a pessoa estabelece residência, COM ÂNIMO


DEFINITIVO, transformando-o em centro de sua vida jurídica.
O conceito de domicílio compreende o conceito de residência, porque há também a
exigência de habitualidade (elemento objetivo). Mas é preciso também a existência
do ânimo definitivo, de ficar com interesse de transformar o lugar em centro de sua
vida jurídica (elemento subjetivo). Exemplo: pessoa que passa os fins de semana no
sítio, mas tem a sua vida jurídica na residência da cidade.

DOMICÍLIO = RESIDÊNCIA (quid facti) + QUALIFICAÇÃO LEGAL (quid juris)


 Comum / voluntário / geral (art. 70) – É a residência mais o animus / vontade /
opção de que ela seja o local principal de suas atividades (centro). Elemento
material = residência; elemento anímico ou psicológico = ânimo de
permanência (oposto de transitoriedade). Domicílio é um centro de referência
jurídica.

 Pluralidade de domicílios (artigos 71 e 72) – É admitida no Brasil, seguindo a


doutrina alemã, a pluralidade de domicílios. Qualquer um dos locais pode ser
caracterizado como domicílio (pessoa que tem dois domicílios). STF Súmula nº
483. É dispensável a prova da necessidade, na retomada do prédio situado em
localidade para onde o proprietário pretende transferir residência, salvo se
mantiver, também, a anterior, quando dita prova será exigida.

 Domicílio Profissional: (artigo 72 não tem correspondente no CC/16) local onde


é exercida a profissão, ou seja, é uma especial modalidade de domicílio
RESTRITA A ASPECTOS DA VIDA PROFISSIONAL da pessoa física. O
domicílio profissional não afasta o domicílio geral.

 Domicílio aparente ou ocasional (art. 73) – essa teoria foi desenvolvida por
HENRI DE PAGE (civilista belga). Criado por ficção da lei em face de pessoas
que não tenham residência habitual; será seu domicílio o local em que se
encontrarem. EXEMPLO: andarilhos, pessoas que trabalham no circo.

 Mudança de domicílio (artigo 74) – ocorre com a mudança da residência,


aliada ao ânimo de mudar

 Domicílio da pessoa jurídica (art. 75) – fala da regra genérica do domicílio da


pessoa jurídica de direito público, as regras específicas estão na CF/88. As
pessoas jurídicas de direito privado terão seu domicílio no local previsto no
estatuto ou no contrato social, sendo o local de sua sede.

STF Súmula nº 363 A pessoa jurídica de direito privado pode ser


demandada NO DOMICÍLIO DA AGÊNCIA, OU
ESTABELECIMENTO, EM QUE SE PRATICOU O ATO.

O artigo 100 do CPC trata dessa questão afirmando que será competente o foro do
local no qual a pessoa jurídica tenha celebrado relações jurídicas com autonomia.

2.1. ESPÉCIES DE DOMICÍLIO


a) CONVENCIONAL ou COMUM – é o comum, é aquele que se fixa por ato de
vontade própria, ou seja, a pessoa fixa por ato de vontade, ao se mudar.
b) LEGAL OU NECESSÁRIO – é o determinado por lei e previsto no artigo 76; trata-
se de domicílio obrigatório da pessoa natural – a aquisição de domicílio legal não
exclui automaticamente o que antes se possuía:
1) do incapaz (domicílio de seu representante ou assistente);
2) do preso (onde cumpre pena; preso cautelar não tem domicílio legal no
lugar onde esteja preso, pois não está cumprindo pena);
3) do servidor público (onde exerce permanentemente as suas funções, ou seja,
só tem este domicílio o servidor que exerce função permanente);
4) do juiz (comarca onde judica);
5) do militar (onde está servindo);
6) do marítimo (marinheiro da marinha mercante) (local da matrícula do navio).
7) do agente diplomático - que citado no estrangeiro não designar domicílio –
poderá ser demandado no DF, ou no último lugar onde esteve domiciliado
8) de cada cônjuge – do casal
9) do viúvo sobrevivente – conserva o domicílio conjugal até adquirir outro

O artigo 77 também fala de um tipo de domicílio necessário, qual seja, o domicílio


dos agentes diplomáticos; que é o local no Brasil e não no exterior.

c) DE ELEIÇÃO OU ESPECIAL (artigo 78, CC e 111, CPC) –


Foro do contrato – local de cumprimento das obrigações contratuais
Foro de eleiçãoo – local escolhido para a solução de litígios referentes ao contrato
L contratos de adesão – somente se admite caso não haja prejuízo para o
aderente – cf. STJ o juiz pode declinar ex officio ida competência para o juízo do
domicílio do réu

L contratos de consumo - se atentatória aos direitos do consumidor, cláusula de


eleição é nula de pleno direito (artigo 51, IV, CDC)

 Domicílio da pessoa jurídica – pode ser livremente eleito – não o sendo, será
o local da diretoria/administração
L cf. STF 363 – pode ser demandada no domicílio da agente que
praticou o ato
L sede no estrangeiro – estabelecimento brasileiro onde foram
contraídas

 Domicílio das PJ de direito público interno


o União – demandada no DF/capital do Estado onde iniciou a
demanda
o Estados – demandados nas capitais
o Município – sede da prefeitura
BENS

1 NOÇÕES GERAIS

Atentando-se para a divisão do direito subjetivo, os bens são: objeto do direito. Tanto
o significado semântico quanto o jurídico coincidem, ou seja, bem é o INTERESSE
JURIDICAMENTE TUTELADO PELA NORMA, é o que o titular do direito quer
alcançar. Todos os autores fazem uma bagunça na conceituação de bens. Existem duas
posições solidificadas que distinguem coisa de bem:

1ª corrente coisa – tudo que está externo ao homem bem – tudo que é jurídico; que
tenha valoração econômica e que pode ser apropriado
CRÍTICA: não há como enquadrar os não patrimoniais no conceito de
bem (direito à vida, à integridade física).

2ª corrente BEM – é gênero. Tudo que possa estar na relação jurídica como
objeto, tendo ou não valor econômico. coisa – é espécie, sendo bem que tem valor
econômico.
Crítica: as coisas fora de comércio não têm valor econômico e fala-se
mesmo assim em coisa. (TRF1: lua e estrelas são coisas, mas não
são bens, porque insuscetíveis de apropriação)

Essa corrente foi adotada pelo novo CC/02, que traz somente o conceito de bens e
as coisas como as dotadas de valor econômico. Godoy: o novo CC acabou com essa
celeuma jurídica e passou a utilizar a terminologia única de BENS, assim, essa discussão
está superada (posição de Washington de Barros Monteiro – a qual acho mais
adequada).(TRF1)

Os bens não patrimoniais já foram estudados no capítulo de direitos da


personalidade; no capítulo de bens, são tratados os patrimoniais.
Bem é o interesse juridicamente tutelado pela norma, é o que o titular do
direito quer alcançar. Existem duas posições solidificadas que distinguem coisa de bem,
entretanto, o novo CC acabou com essa celeuma jurídica e passou a utilizar a
terminologia única de BENS, assim, essa discussão está superada. Os bens não
patrimoniais já foram estudados no capítulo de direitos da personalidade; no capítulo de
bens, são tratados os patrimoniais. Pablo: ao conceito de COISA fica restrito o conceito
relacionado à MATERIALIDADE. Sendo que BENS ficam com um conceito mais amplo
(relação jurídica).

PATRIMÔNIO: conceito que engloba todos os bens, com conteúdo pecuniário.


Composto por todas as relações jurídicas dotadas de valor econômico. Mas a doutrina
mais nova tem repensado esse conceito, para conceber a expressão patrimônio de maneira
adjetiva: patrimônio jurídico, que é mais ampla em relação à gama de relações jurídicas
tuteladas pelo direito.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS - bens considerados em si mesmos; - Bens
reciprocamente considerados
1 BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
1.1 BENS CORPÓREOS E INCORPÓREOS
Não estão previstos na lei. Os primeiros têm existência física, concreta. Os últimos
não são percebidos pelos sentidos.

1.2. BENS MÓVEIS E IMÓVEIS (arts. 79 a 84)


MÓVEIS, nos termos do artigo 82, são os bens suscetíveis de movimento próprio,
ou de remoção por força alheia, sem alteração de sua substância ou da destinação
econômico-social. A movimentação pode ser por força própria (semovente) ou por força
alheia.

SUBCLASSIFICAÇÃO DOS BENS MÓVEIS


a) Pela própria natureza: semoventes e os sem movimento próprio
b) Por antecipação: “atualmente” são imóveis, mas possuem finalidade última
como móveis, de modo que se antecipa sua mobilidade (ex: plantações para corte)
c) Por determinação legal: São considerados bens móveis para efeitos legais (artigo
83):
1) as energias que tenham valor econômico; (novidade no CC, mas já constava no
sistema jurídico, quando se falava de furto de energia, ou seja, já considerando-a
como bem móvel).
2) os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
3) os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

O PENHOR AGRÍCOLA não é considerado bem móvel, porque a colheita e a safra se


agregam ao solo e por definição de lei é considerado bem imóvel; assim, o PENHOR
AGRÍCOLA é direito real sobre objetos IMÓVEIS, sendo assim, uma exceção à regra
do artigo 83, inciso III. Além disso, o seu registro se dá no Registro de Imoveis.

Pelo artigo 84, os materiais destinados a alguma construção, enquanto não


forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os
provenientes da demolição de algum prédio.

IMÓVEIS: são os que não podem ser mobilizados, transportados ou


removidos SEM A SUA DESTRUIÇÃO.

SUBCLASSIFICAÇÃO DOS BENS IMÓVEIS


a. por natureza (não podem ser movimentados sem ruptura), são o solo e tudo que lhe
agregue naturalmente; e
b. artificialmente por:
1 acessão física (plantações e construções, que se prendam por fundação ao solo, p. ex., a
tenda não se prende ao solo; o que foi feito pelo homem); artigo 81, I, afirma que as
edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local.
2 acessão intelectual (são coisas móveis que são imobilizadas, por exemplo, o maquinário
na fazenda agrícola e o estabelecimento empresarial, ou seja, são os móveis enquanto
estiverem a serviço do imóvel) artigo 79 afirma que são bens imóveis o solo e tudo
quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente; (há enunciado do CJF dizendo
que esse conceito está afastado do direito, mas os examinadores podem continuar
cobrando, já que a doutrina tradicional ainda cita) e
3 determinação legal: artigo 80 afirma que se consideram imóveis para efeitos legais:
I – os direitos reais sobre IMÓVEIS e as ações que os asseguram e
II – o DIREITO À SUCESSÃO ABERTA.

Não perdem também o caráter de imóveis os materiais provisoriamente


separados de um prédio, para nele se reempregarem, inciso II, do artigo 81.
BENS imóveis por determinação legal demandam a outorga CONJUGAL. Não
se pode mais usar a expressão outorga UXÓRIA. Independentemente da época da
aquisição do bem.

1.3 BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS


Base: possibilidade de substituição por outro igual.
 FUNGÍVEIS: sempre serão bens móveis, que têm como característica
poderem ser substituídos por outros de mesma qualidade, quantidade e
espécies (artigo 85)
 INFUNGÍVEIS: Os infungíveis por outro lado não podem ser substituídos
dessa forma. Esse conceito é muito importante para o Direito das Obrigações
(assunto será retomado).
Também tem relevância na distinção entre os contratos de comodato e mútuo.
- A INFUNGIBILIDADE pode se dar por ato de vontade do titular ou em função
do valor histórico do bem.

1.4 BENS CONSUMÍVEIS E INCONSUMÍVEIS (art. 86)


Sob duas vertentes pode ser considerado o bem consumível ou inconsumível:
a. materialmente consumíveis – são os fisicamente consumíveis, os que perdem
substância logo em seu primeiro uso, p. ex., giz, sabão, alimento.
HÁ BENS MATERIALMENTE CONSUMÍVEIS E INFUGÍVEIS
a) juridicamente consumíveis – são os bens de consumo, ou seja, são os destinados à
alienação.

Há no CDC a classificação de bens em duráveis e não-duráveis, relevante para


efeitos do art. 26 do CDC (prazo decadencial do direito de reclamar pelos vícios
aparentes).

1.5 BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS (arts. 87 e 88)


Base: possibilidade ou não de fracionamento do bem sem a perda do seu valor
econômico ou de sua finalidade. A indivisibilidade pode ser:

a. física – não poderão ser fracionados em várias partes, mantendo as mesmas


qualidades das partes divisas,
b. legal – bens podem ser materialmente divisíveis, mas, por aspectos legais não podem ser
divididos (ex.: Lei de uso e ocupação do solo de um município estipula a metragem
mínima de um lote).
c. convencional – bens podem se tornar indivisíveis por acordo entre as partes (ex.:
estipulação de cláusula de solidariedade em contrato de mútuo com dois devedores)
d. economicamente indivisíveis – é a novidade trazida pelo novo CC, p. ex., dividir o
terreno, respeitando os requisitos legais, mas deixando em uma das partes somente pedra,
logo, não haverá o aproveitamento econômico ou utilitário, sendo assim, não podem ser
divisíveis.

1.6. BENS SINGULARES E COLETIVOS (arts. 89/91)


SINGULARES são aqueles analisados isoladamente, mesmo estando em uma
coletividade ou em uma universalidade de fato. São considerados em sua individualidade.
É interessante para a teoria da empresa.
COLETIVOS são considerados em sua coletividade (a que se dá destinação unitária), são
as universalidades, estão em duas categorias:
a. Universalidade de fato: Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens
singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham DESTINAÇÃO UNITÁRIA – por
força da VONTADE - , os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias, nos termos do artigo 90. p. ex., biblioteca ou rebanho.
b. Universalidade de direito: conjunto de relações jurídicas dotadas de valor
econômico de uma pessoa. Exemplo: patrimônio (todas relações jurídicas relevantes e
economicamente apreciadas); sucessão aberta.
A importância dessa distinção se reflete claramente no Direito Contratual, na
medida em que, se forem vendidas 100 cabeças de gado, elas estão individualmente
consideradas; se for vendido o rebanho, o que foi negociado foram todos os bens
coletivamente considerados, assim, não fará diferença a morte de alguns ou o nascimento
de outros, já que todos os bens são considerados coletivamente.

2. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS


Existia no artigo 59 do CC/16 uma regra afirmando que o acessório segue o
principal, o que não consta mais no novo CC, o que leva a concluir que às vezes o
acessório segue, outras vezes não segue o principal. Para saber quando isso ocorre, é
preciso distinguir as espécies de bens acessórios. (arts. 92/97)
 PRINCIPAIS – são os bens que têm existência autônoma, não dependendo
de outros bens para garantir a sua existência.
 ACESSÓRIOS – somente têm existência dependendo do principal, o
acessório segue o principal, exceto se houver previsão em contrário no
contrato.
Na verdade, ao estudar a classificação dos bens reciprocamente considerados, estar-
se-á estudando a classificação dos bens acessórios (em relação aos principais). Os
contratos principais são determinantes na existência dos contratos acessórios (locação
e fiança).

 ESPÉCIES DE BENS ACESSÓRIOS - Apesar de ainda não separados do


bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico
(artigo 95).
2.1 FRUTOS – são utilidades que o bem principal periodicamente produz, cuja
percepção não prejudica a sua substância. RENOVÁVEIS. Subclassificação:
a) Quanto à NATUREZA
CONCEITO EXEMPLO
Plantação, cria de animal.
espontaneamente dado pela coisa,
Natural Plantações que não dão
prescinde de participação humana.
periodicamente são produtos.
Café gerenciado (plantado e
Industrial Há participação do homem
colhido)
relações jurídicas que rendem
Civil periodicamente, ou seja, o bem principal Locação e rendimentos.
é uma relação jurídica

b) De acordo com a ligação (física) com o bem principal


Pendentes ainda não foram desligados do bem principal
Percebidos ou
já foram fisicamente desconectados do bem principal
colhidos
ercipiendos já deveriam ter sido desligados, mas não o foram
já foram desligados, manuseados e encontram-se prontos para
Estantes
a comercialização
Consumidos já foram desligados e consumidos, por isso, não existem mais
Essa classificação é importante para a definição dos: direitos de retenção, de
indenização e do dever de restituição, previstos nos Direitos Reais:
DIREITO DE DIREITO DE
RETENÇÃO INDENIZAÇÃO
POSSUIDOR DE BOA- Sobre os frutos Pelo custeio dos frutos
FÉ PERCEBIDOS PENDENTES
Pelo custeio dos frutos
POSSUIDOR DE MÁ-FÉ -
PENDENTES

2.2 PRODUTOS
Produtos – utilidades que o bem principal produz, cuja EXTRAÇÃO PREJUDICA A
SUA SUBSTÂNCIA.
Não têm periodicidade. Ex.: extração mineral (minério de ferro em relação ao solo). NÃO
RENOVÁVEIS

2.3. PERTENÇAS
 Pertenças: são pertenças os bens que se destinam de modo duradouro ao
uso ou serviço ou embelezamento de outro bem SEM QUE DESSAS
SEJAM PARTES INTEGRANTES (Orlando Gomes), ou seja, não são
partes integrantes, mas agregam algo ao bem principal, condicionando a
caracterização do bem principal, mas que não perdem a sua
individualidade. É o que ocorre com BENS MOVEIS INCORPORADOS
A UM IMÓVEL PELO PROPRIETÁRIO. É uma acessão intelectual. Ex:
o trator da fazenda, os quadros de uma casa.

Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes


integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço
ou ao aformoseamento de outro.

A Pertença (artigos 93 e 94) tem a particularidade de NÃO SEGUIR O PRINCIPAL


(vide art. 94)
Ela é um bem acessório que é posto a serviço do bem principal, mas que se liga a ele sem
condicioná-lo com o principal; ele é o mesmo bem principal sem a pertença. Já era
aceita pela jurisprudência e agora está no código. Exemplos: rádio novo no carro,
opcionais no carro, sem ser parte integrante necessária do carro

Deve-se ter em mente que, em regra, AS PERTENÇAS NÃO ACOMPANHAM O


BEM PRINCIPAL, SALVO se isso estiver convencionado, ou resulte da lei ou das
circunstancias do caso concreto, como por exemplo, quando a pertença for essencial ao
bem. Ex: um piano no conservatório musical é essencial. Agora, um piano em sua casa,
não é essencial.

Assim, se o conservatório musical é vendido, o piano acompanha. Agora, se a casa é


vendida, o piano, em regra, não acompanha. É o que dispõe o art. 94 do CC:

Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem


principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário
resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.

Diferença entre parte integrante e pertenças: a parte integrante não tem


autonomia da pertença. Ex: lâmpada e lustre. Qual a utilidade da lâmpada fora do lustre?
O mesmo se aplica ao toca cd de um carro. Qual a utilidade do toca cd sem o carro? Se ele
é aquele toca cd que vem original no carro, é parte integrante do bem.

Como já dito, NÃO segue o principal, SALVO nos casos previstos no artigo 94:
 Determinação da LEI
 Manifestação de VONTADE
 CIRCUNSTÂNCIA do caso: típico caso de boa-fé objetiva; exemplo:
verificar o carro e ver o eqüalizador, o que agrada muito o comprador; o
vendedor não fala nada de que ele não irá com o bem principal; fica claro
que o vendedor não poderá, depois de concretizada a venda, querer retirar o
bem sob a alegação de que a pertença não segue o principal. (arts. 93 e 94)

Diferença face às partes integrantes – as pertenças não perdem sua individualidade por
acessorizar a coisa principal. Já as PARTES INTEGRANTES são bens que, unidos a
um principal, formam com ele um todo, perdendo sua aexistência material própria,
embora mantenham sua identidade (passam a ser parte integrante do bem principal).
2.4. BENFEITORIAS
Benfeitorias (artigo 96) – obras realizadas pelo homem em um bem que já existe, com
o propósito de conservá-lo, melhorá-lo, ou embelezá-lo. Ex: construir uma casa em um
terreno não é benfeitoria, é acessão; aumentar a garagem de uma casa é benfeitoria.
têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore (§ 3o.) situações
Necessárias
emergenciais
facilitam o uso da coisa, ou seja, as que aumentam ou facilitam o uso do
Úteis
bem (§ 2o.).
são de mero embelezamento ou deleite, que não aumentam o uso habitual
Voluptuárias do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor (§
1o.).

Essa classificação é importante para a definição dos: direitos de retenção, de indenização e


do dever de restituição, previstos nos Direitos Reais:

DIREITO DE DIREITO DE
DIREITO DE LEVANTAR
RETENÇÃO INDENIZAÇÃO
Pelas voluptuárias, se não trouxer
Pelas
Pelas benfeitorias prejuízo para a substância do bem.
POSSUIDOR benfeitorias
necessárias e Salvo se o novo possuidor quiser
DE BOA-FÉ necessárias e
úteis indenizar o seu valor para mantê-las
úteis
no bem principal
POSSUIDOR
- benfeitorias -
DE MÁ-FÉ
Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem
sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.

BENS EM RELAÇÃO AO SEU TITULAR


Os bens podem ser públicos ou particulares. BASE: titularidade do domínio.
1) Bens particulares – pertencentes aos particulares
2) Bens públicos – São públicos os bens de domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa
a que pertencerem. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião (artigo 102). Os bens
públicos são pertencentes ao poder público e podem ser: (arts. 98/103)
a) De uso comum: não sofrem restrição quanto ao acesso (todo qualquer cidadão pode
usar). Nada impede que se cobre um valor para sua conservação ou utilização, fato que
não o descaracteriza, nos termos do artigo 103. São impenhoráveis e inalienáveis,
enquanto conservar a sua qualificação, na forma que a lei determinar; e imprescritíveis
(Exemplos: rios, mares, estradas, ruas praças. Artigo 99, I)
 De uso especial: pertencentes a um órgão, são utilizados pelo poder público, para o
desempenho da atividade pública. Também são impenhoráveis e inalienáveis, enquanto
afetados, ou seja, enquanto conservarem sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Também são imprescritíveis. (Exemplos: edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, inclusive de suas autarquias. Artigo 99, II)
3 Bens dominicais: constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Fazem parte do
“patrimônio comum” dessas pessoas jurídicas, identificáveis por exclusão. São
alienáveis mediante autorização legislativa (artigo 101), imprescritíveis e impenhoráveis.
Artigo 99, III). Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
direito privado (parágrafo único, artigo 99).
A EC/46 alterou o inciso IV, do artigo 20 da CF/88, que trata dos bens da União.

BENS EM RELAÇÃO À SUA SUSCETIBILIDADE DE ALIENAÇÃO


Os bens podem ser alienáveis ou inalienáveis. Os inalienáveis podem ser:
1 Naturalmente inalienáveis ou inapropriáveis por sua natureza:
2 Juridicamente inalienáveis ou legalmente inalienáveis: impossibilidade decorre de lei.
a. Voluntariamente inalienáveis – em decorrência de um ato de vontade. Ex: cláusulas de
inalienabilidade, que, normalmente, vêm acompanhadas da incomunicabilidade e da
impenhorabilidade. Essas cláusulas de inalienabilidade, no Brasil, estão adstritas a casos
de liberalidade. Há quem sustente a inconstitucionalidade dessas disposições porque
estariam limitando a circulação de bens, mas essa posição é minoritária. Alterações sobre
a cláusula:
a) O artigo 1911 incorporou entendimento sumulado pelo STF, que determina que a
cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, IMPLICA
IMPENHORABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE. É evidente que o contrário
não é verdade.
b) No artigo 1848 está expresso que, salvo se houver justa causa, declarada no
testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade,
impenhorabilidade e incomunicabilidade SOBRE OS BENS DA LEGÍTIMA. Assim,
para gravar a legítima, o testador tem que declarar a justa causa (casamento com
vagabundo, vício em jogo, incapacidade para gerir os bens).

BEM DE FAMÍLIA

3 BEM DE FAMÍLIA LEGAL


4.1. BREVE HISTÓRICO
O referencial histórico mais importante do nosso bem de família é a lei Texana de
26.01.1839, que instituiu o “homestead” naquele Estado. Por meio do homestead fixava-se
a impenhorabilidade do pequeno imóvel. Este instituto serviu de inspiração ao bem de
família, como conhecemos hoje.
Nessa linha, o Código Civil de 1916 disciplinaria o nosso bem de família a partir do
art.70, havendo sido, posteriormente, revogado pelos arts. 1711 e seguintes do CC/02.

4.2. ESPÉCIES DE BEM DE FAMÍLIA


Existem duas espécies de bem de família. São eles: bem de família voluntário (ou
convencional), que está regulado a partir do art.1711 e ss. do Código Civil; e, o bem de
família legal, regulado pela lei n.8.009/90. Portanto:

BEM DE FAMÍLIA

Espécies de bem de família


No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família:
a) Bem de família convencional ou voluntário (previsto nos arts.
1711 a 1722 do Código Civil);
b) Bem de família legal (instituto regulado pela Lei nº 8.009/90).

Bem de família legal


Bem de família legal é...
- uma proteção conferida pela Lei n. 8.009/90
- por meio da qual um único imóvel residencial próprio do casal ou
da entidade familiar
- é considerado, em regra, impenhorável
- e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,
fiscal, previdenciária, trabalhista ou de qualquer outra natureza,
- salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90.

Em outras palavras, a Lei n. 8.009/90 considera que o imóvel (só


um) pertencente à família ou à entidade familiar não pode ser, em
regra, penhorado para pagamento de dívidas, salvo nas hipóteses
excepcionais previstas no art. 3º da Lei.

Apesar do nome “bem de FAMÍLIA”, o objetivo real do instituto é


assegurar o direito constitucional à moradia, tanto que esse direito
existe mesmo que a pessoa more só. A nomenclatura mais
adequada do instituto deveria ser “bem de moradia” (mas deixa
isso para lá...).

Hipóteses excepcionais em que o bem de família pode ser


penhorado
O art. 3º da Lei n. 8.009/90 traz uma lista de incisos com as
hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado.

Dívidas de pensão alimentícia


Se a pessoa tem a obrigação de pagar pensão alimentícia e
não o faz, o seu bem de família poderá ser penhorado para
saldar essa dívida?
SIM. A Lei n. 8.009/90 previu que uma das exceções à regra da
impenhorabilidade do bem de família são justamente as dívidas de
pensão alimentícia. Em outras palavras, o devedor de pensão
alimentícia não poderá invocar a impenhorabilidade decorrente do
bem de família. Se ele não pagar, sua casa ou apartamento
poderão ser penhorados e levados à alienação judicial.
Isso sempre esteve previsto na Lei n. 8.009/90, no inciso III do
art. 3º.

O que fez, então, a Lei n. 13.144/2015?


A Lei n. 13.144/2015 alterou a redação do inciso III do art. 3º,
prevendo uma ressalva.
A redação passou a ser a seguinte:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:
(...)
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos,
sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre
união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos
responderão pela dívida;

Vamos entender com calma.

O panorama atual com a Lei n. 13.144/2015 é o seguinte:

REGRA:
Se o indivíduo for devedor de pensão alimentícia, o bem de família
que a ele pertencer poderá ser penhorado para pagar a dívida.

RESSALVA:
Se o(a) devedor(a) for casado(a) ou viver em união estável e seu
cônjuge ou companheiro(a) também for proprietário do bem de
família, deverá ser respeitada a parte do imóvel que pertencer a
esse cônjuge ou companheiro.

Ex: João e Maria são casados em regime de comunhão universal


de bens; João deve pensão alimentícia para seu filho, fruto de
outro relacionamento anterior; se ele não pagar, a casa em que
mora com Maria poderia, em tese, ser penhorada; no entanto,
Maria é meeira desse imóvel, ou seja, tem direito à metade do
bem; logo, o novo inciso III diz que deverão ser “resguardados os
direitos, sobre o bem, do seu coproprietário”; deverão ser
resguardados os direitos de Maria sobre o bem.

O que significa resguardar os direitos do coproprietário


sobre o bem? Em nosso exemplo, o que significa resguardar
os direitos de Maria sobre o bem?
Significa que não poderá ser penhorada a parte do imóvel que
pertence ao coproprietário. Em nosso exemplo, não se poderá
penhorar metade do imóvel porque esta pertence a Maria.

Mas então será permitido penhorar a outra parte? O juiz


poderá determinar a penhora da metade da casa que
pertence a João? É possível levar o imóvel à alienação
judicial e depois entregar metade do dinheiro para o(a)
meeiro(a), com base no art. 655-B do CPC?
Também não. Na prática, o imóvel ficará inteiramente
impenhorável e não poderá ser alienado judicialmente para
pagar a dívida. Isso porque o STJ entende que, se houver
meação do bem de família e se o(a) meeiro(a) não tiver
responsabilidade pela dívida, não se poderá alienar a casa porque
senão atingiria, indiretamente, o cônjuge/companheiro que
não tem nada a ver com o débito. Veja alguns precedentes
nesse sentido:

(...) A proteção instituída pela Lei n. 8.009/1990, quando


reconhecida sobre metade de imóvel relativa à meação, deve ser
estendida à totalidade do bem, porquanto o escopo precípuo da lei
é a tutela não apenas da pessoa do devedor, mas da entidade
familiar como um todo, de modo a impedir o seu desabrigo,
ressalvada a possibilidade de divisão do bem sem prejuízo do
direito à moradia. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1227366/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 21/10/2014.

(...) O imóvel indivisível protegido pela impenhorabilidade do bem


de família deve sê-lo em sua integralidade, e não somente na
fração ideal do cônjuge meeiro que lá reside, sob pena de tornar
inócuo o abrigo legal. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 866.051/SP, Rel. Min. Honildo
Amaral de Mello Castro (Des. Conv. do TJ/AP), julgado em
25/05/2010.
(...) A impenhorabilidade da meação impede que a totalidade do
bem seja alienada em hasta pública. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 931.196/RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado
em 08/04/2008.

(...) A impenhorabilidade da fração de imóvel indivisível contamina


a totalidade do bem, impedindo sua alienação em hasta pública.
(...)
STJ. 3ª Turma. REsp 507.618/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 07/12/2004.

Assim, não se aplica a regra do art. 655-B do CPC 1973 para o


caso de o imóvel penhorado ser um bem de família (Art. 655-B.
Tratando-se de penhora em bem indivisível, a meação do cônjuge
alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.)

Desse modo, conforme já explicado, na prática, o imóvel ficará


inteiramente impenhorável.

Qual é o instrumento processual que o


cônjuge/companheiro proprietário poderá usar para
defender sua parte?
O CPC 1973 determina que, recaindo a penhora em bens imóveis,
o cônjuge do executado deverá ser intimado (art. 655, § 2º do
CPC 1973).
O CPC 2015 traz regra semelhante, prevendo, no entanto, uma
exceção: “Art. 842. Recaindo a penhora sobre bem imóvel ou
direito real sobre imóvel, será intimado também o cônjuge do
executado, salvo se forem casados em regime de separação
absoluta de bens.”
O cônjuge deverá apresentar embargos de terceiro alegando que
não tem relação alguma com a dívida e, que, portanto, sua parte
no bem não pode ser penhorada para pagar o débito.
O que foi explicado aqui vale também para a união estável.

Mesmo tendo sido intimado, ele poderá opor embargos de


TERCEIRO?
Sim. Existe até um enunciado do STJ afirmando isso:
Súmula 134-STJ: Embora intimado da penhora em imóvel do
casal, o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro
para defesa de sua meação.
Observação:
Em regra, os cônjuges/companheiros são coproprietários do bem
de família por causa da meação (lembrando que meação não se
confunde com herança; meação existe mesmo com os dois
cônjuges ainda vivos).
A definição se haverá meação ou não depende do regime de bens
adotado pelo casal (ex: no regime da separação legal o cônjuge
não é meeiro). No entanto, é possível que haja a copropriedade
porque o casal decidiu comprar o bem juntos e registrá-lo como
copropriedade no registro de imóveis.

SITUAÇÃO NA QUAL NÃO SE APLICA A RESSALVA:


Não se aplica a ressalva acima explicada se o casal (ambos os
cônjuges ou companheiros) for devedor da pensão alimentícia.
Neste caso, o imóvel será penhorado e poderá ser inteiramente
utilizado para pagar o débito.

Ex: João e Maria são casados; Lucas (neto do casal) ajuizou ação
de alimentos contra eles, sendo a sentença procedente; assim,
ambos são devedores de pensão alimentícia em favor do neto;
caso não paguem a dívida, a casa em que moram poderá ser
penhorada e o dinheiro obtido com a alienação poderá ser
inteiramente utilizado para pagamento do débito.

Compare a alteração feita pela Lei n. 13.144/2015:

Redação anterior Redação ATUAL

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível Art. 3º A impenhorabilidade é


em qualquer processo de execução oponível em qualquer processo de
civil, fiscal, previdenciária, trabalhista execução civil, fiscal, previdenciária,
ou de outra natureza, salvo se trabalhista ou de outra natureza,
movido: salvo se movido:
(...) (...)
III - pelo credor de pensão alimentícia; III – pelo credor da pensão
alimentícia, resguardados os direitos,
sobre o bem, do seu coproprietário
que, com o devedor, integre união
estável ou conjugal, observadas as
hipóteses em que ambos responderão
pela dívida;
A Lei é inovadora?
NÃO. Isso porque a ressalva que ela introduziu já era consagrada
na jurisprudência. Mesmo antes da Lei n. 13.144/2015, o cônjuge
ou companheiro que não tivesse responsabilidade pelo pagamento
dos alimentos já podia invocar a intangibilidade de sua parte no
bem de família.
A alteração, contudo, é salutar porque deixa a situação mais clara
e serve de defesa para o cônjuge ou companheiro que não tiver
obrigação com a pensão alimentícia cobrada.

Exemplo que comprova que a lei não inova: irmãos que


possuem o mesmo bem de família
Imagine que Cláudio e Teresa são irmãos e, com a morte de seu
pai, herdaram a casa onde vivem. Assim, os dois irmãos moram
na mesma casa e esta pertence a ambos.
Cláudio teve um filho com uma ex-namorada e paga pensão
alimentícia ao menor. Ocorre que ele se torna inadimplente e é
executado.
Será possível penhorar a casa onde ele mora, mesmo sendo bem
de família? Em tese sim. No entanto, Teresa é dona de metade
desse imóvel.
A situação de Teresa não é protegida pelo novo inciso III do art.
3º da Lei n. 8.009/90 porque este fala em “união estável ou
conjugal”. Teresa e Cláudio são irmãos e não companheiros ou
cônjuges.
Apesar disso, mesmo sem respaldo no inciso III, Teresa poderá
opor embargos de terceiro pedindo que não incida a penhora
sobre a casa. E qual será o fundamento invocado por Teresa? O
direito de propriedade, garantido, inclusive, constitucionalmente
(art. 5º, XXII).
Desse modo, com esse exemplo, percebe-se que a nova redação
dada ao inciso III era desnecessária.

Márcio André Lopes Cavalcante


Professor

4.2.1. BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO OU CONVENCIONAL (art.1711 e ss. do


Código Civil)

Conceito
O bem de família voluntário, regulado pelos arts. 1711 e ss. do CC/02, é aquele
instituído por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou de terceiro, mediante
registro no Cartório de Registro de Imóveis (art.167, I, “1”, da LRP).
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante
escritura pública ou testamento, destinar parte de seu
patrimônio para instituir bem de família, desde que não
ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo
da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do
imóvel residencial estabelecida em lei especial.
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de
família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato
da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da
entidade familiar beneficiada.

Logicamente, o instituidor do bem de família deve ser pessoa SOLVENTE, afim


de se evitarem fraudes contra credores.

Efeitos do bem de família voluntário:


A partir da sua instituição, dois efeitos básicos são gerados:
a) Impenhorabilidade do bem por dívidas futuras, nos termos do art.1715;

Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas


posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos
relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas
neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio,
como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para
sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem
outra solução, a critério do juiz.

Repare que a execução de uma dívida condominial pode levar à


penhorabilidade do bem.
Dívidas relativas à tributos também não serão atingidas pelo bem de família.

b) Inalienabilidade do bem, nos termos do art.1717.

Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como


bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no
art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos
interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério
Público.

A regra é que o bem de família possui uma inalienalibilidade relativa, isto porque
não se pode, em regra, vendê-lo. Ocorre quem em situações justificadas, ouvidos os
interessados e o MP, ele poderá ser vendido.
Dois aspectos inovadores do bem de família voluntário devem ser realçados:
a) O seu valor não poderá ultrapassar o teto de 1/3 (um terço) do patrimônio
líquido dos seus instituidores.
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante
escritura pública ou testamento, destinar parte de seu
patrimônio para instituir bem de família, desde que não
ultrapasse um terço do patrimônio LÍQUIDO existente ao tempo
da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do
imóvel residencial estabelecida em lei especial.

Esta regra foi criada pensando evitarem-se fraudes contra credores.

b) É possível ao instituidor afetar valores mobiliários (rendas) para constituir o


bem de família (art.1712)
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial
urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se
em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger
valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação
do imóvel e no sustento da família.

Por este artigo, vê-se que o bem de família voluntário será um prédio residencial,
urbano ou rural. Mas o NCC inovou dizendo que, ao se instituir o bem de família, pode-se
vincular à ele um rendimento que servirá para conservá-lo. Ex: o casal institui o bem de
família voluntário de um imóvel. Este casal possui 100 mil reais aplicados numa caderneta
de poupança. Por este art. 1712, permite-se que, no Cartório vincule-se o rendimento desta
poupança ao imóvel instituído do bem de família. Deve-se atentar que este valor não pode
ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores.

Por esta regra, você acaba blindando o imóvel e a renda. Repare que a renda se
tornará impenhorável.

Outra situação: Imagine um casal com casa própria, mas que está em dificuldade
financeira. Eles saem do imóvel, alugando-o, vindo a morar na casa dos pais. Esta
renda de aluguel poderá ser protegida pelo bem de família?
Situação diversa é aquela em que o imóvel residencial é alugado para que a família
sobreviva mediante percepção da renda do aluguel. Em tal caso, é firme a jurisprudência
do STJ (REsp. 439.920/SP, AgRg. no REsp.975.858/SP), especialmente calcada nas
normas do bem de família legal, no sentido de proteger a renda, por entendê-la
impenhorável.

BEM DE FAMÍLIA – IMÓVEL LOCADO – IMPENHORABILIDADE –


INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DA LEI Nº 8.009/90. O fato de o único imóvel
residencial vir a ser alugado não o desnatura como bem de família, quando comprovado
que a renda auferida destina-se à subsistência da família. Recurso especial provido. (REsp
439920/SP, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/11/2003, DJ 09/12/2003, p. 280)

Atenção: ler os arts. 1720 (administração do bem de família voluntário) e arts. 1721
e 1722 (extinção do bem de família voluntário).

Dissolução do casamento/união – não extingue o bem. Morrendo um dos cônjuges o


sobrevivente pode pedir a extinção do bem se for o único do casal

EXTINGUE-se com a morte dos cônjuges E a maoriodade dos filhos, desde que não
sujeitos a curatela.

SUBTÍTULO IV
 Do Bem de Família


Art. 1.711. Podem os cônjuges, § 3o O instituidor poderá administradora, a que se refere o
ou a entidade familiar, mediante determinar que a administração § 3o do art. 1.713, não atingirá os
escritura pública ou testamento, dos valores mobiliários seja valores a ela confiados,
destinar parte de seu patrimônio confiada a instituição financeira, ordenando o juiz a sua
para instituir bem de família, bem como disciplinar a forma de transferência para outra
desde que não ultrapasse um pagamento da respectiva renda instituição semelhante,
terço do patrimônio líquido aos beneficiários, caso em que a obedecendo-se, no caso de
existente ao tempo da instituição, responsabilidade dos falência, ao disposto sobre pedido
mantidas as regras sobre a administradores obedecerá às de restituição.
impenhorabilidade do imóvel regras do contrato de depósito. Art. 1.719. Comprovada a
residencial estabelecida em lei Art. 1.714. O bem de família, quer impossibilidade da manutenção
especial. instituído pelos cônjuges ou por do bem de família nas condições
Parágrafo único. O terceiro terceiro, constitui-se pelo registro em que foi instituído, poderá o
poderá igualmente instituir bem de seu título no Registro de juiz, a requerimento dos
de família por testamento ou Imóveis. interessados, extingui-lo ou
doação, dependendo a eficácia Art. 1.715. O bem de família é autorizar a sub-rogação dos bens
do ato da aceitação expressa de isento de execução por dívidas que o constituem em outros,
ambos os cônjuges beneficiados posteriores à sua instituição, ouvidos o instituidor e o Ministério
ou da entidade familiar salvo as que provierem de Público.
beneficiada. tributos relativos ao prédio, ou de Art. 1.720. Salvo disposição em
Art. 1.712. O bem de família despesas de condomínio. contrário do ato de instituição, a
consistirá em prédio residencial Parágrafo único. No caso de administração do bem de família
urbano ou rural, com suas execução pelas dívidas referidas compete a ambos os cônjuges,
pertenças e acessórios, neste artigo, o saldo existente resolvendo o juiz em caso de
destinando-se em ambos os será aplicado em outro prédio, divergência.
casos a domicílio familiar, e como bem de família, ou em Parágrafo único. Com o
poderá abranger valores títulos da dívida pública, para falecimento de ambos os
mobiliários, cuja renda será sustento familiar, salvo se cônjuges, a administração
aplicada na conservação do motivos relevantes aconselharem passará ao filho mais velho, se for
imóvel e no sustento da família. outra solução, a critério do juiz. maior, e, do contrário, a seu tutor.
Art. 1.713. Os valores mobiliários, Art. 1.716. A isenção de que trata Art. 1.721. A dissolução da
destinados aos fins previstos no o artigo antecedente durará sociedade conjugal não extingue
artigo antecedente, não poderão enquanto viver um dos cônjuges, o bem de família.
exceder o valor do prédio ou, na falta destes, até que os Parágrafo único. Dissolvida a
instituído em bem de família, à filhos completem a maioridade. sociedade conjugal pela morte de
época de sua instituição. Art. 1.717. O prédio e os valores um dos cônjuges, o sobrevivente
§ 1o Deverão os valores mobiliários, constituídos como poderá pedir a extinção do bem
mobiliários ser devidamente bem da família, não podem ter de família, se for o único bem do
individualizados no instrumento destino diverso do previsto no art. casal.
de instituição do bem de família. 1.712 ou serem alienados sem o Art. 1.722. Extingue-se,
§ 2o Se se tratar de títulos consentimento dos interessados e igualmente, o bem de família com
nominativos, a sua instituição seus representantes legais, a morte de ambos os cônjuges e
como bem de família deverá ouvido o Ministério Público. a maioridade dos filhos, desde
constar dos respectivos livros de Art. 1.718. Qualquer forma de que não sujeitos a curatela.
registro. liquidação da entidade

4.2.2. BEM DE FAMÍLIA LEGAL (LEI N. 8.009/90)


Conceito: Trata-se de uma modalidade socialmente festejada de bem de família,
instituída pela Lei n.8.009 de 29.03.90.
Diferentemente do bem de família voluntário, não se exige, para a sua criação,
nenhum ato de vontade, nem muito menos registro cartorário ou limite de valor. Vale
dizer, o bem de família legal consagra uma impenhorabilidade protetiva automática
diretamente derivada da lei.
Portanto, independentemente de registro em cartório, de valor ou de ato de vontade,
o bem será protegido pela impenhorabilidade.
O STJ, no REsp. 1.178.469/SP diz que o bem será impenhorável,
INDEPENDENTEMENTE DO VALOR DO BEM.
AGRAVO REGIMENTAL - RECURSO ESPECIAL - DIREITO CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL - BEM DE FAMÍLIA - IMÓVEL DE LUXO.
1.- Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do seu
valor econômico, da proteção conferida pela Lei 8.0009/90 aos bens de família.
Precedentes.

O STJ editou a súmula 205 para admitir a aplicação da lei 8.009/90 a penhoras
realizadas antes mesmo de sua vigência: Súmula 205, STJ: “a lei n. 8.009/90 APLICA-
SE À PENHORA REALIZADA ANTES DE SUA VIGÊNCIA”.

Na prática, inúmeras são as vantagens do bem de família legal, razão por que
poucas são as situações em que o bem de família voluntário afigura-se mais útil, a
exemplo do que dispõe o parágrafo único do art. 5º, da lei 8.009/90.

Se o cidadão mora com a família em dois imóveis, um mais simples, de menor


valor e um mais caro, de maior valor, a proteção legal do bem de família recairá sobre
o imóvel de menor valor, salvo se ele tiver instituído o bem de família
VOLUNTÁRIO SOBRE O IMÓVEL DE MAIOR VALOR. É o que dispõe o
parágrafo único do art. 5º da lei 8.009:
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar,
ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a
impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se
outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis
e na forma do art. 70 do Código Civil. (ou 1711, do NCC).

Abrangência da lei n. 8.009/90


O art.1º da lei n. 8.009/90 define o alcance desta impenhorabilidade protetiva

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade


familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de
dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que
sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel


sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as
benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos,
inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a
casa, desde que quitados.

Portanto, pela dicção do parágrafo único do art.1º, a proteção é ampla, já que atinge
não só o imóvel como um todo, mas as construções, as plantações, as benfeitorias de
qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive de uso profissional, bem como
os moveis que guarnecem a casa.

Relativizando o parágrafo único, do art.1º, o STJ, em mais de uma oportunidade,


tem ADMITIDO O DESMEMBRAMENTO DO IMÓVEL PARA EFEITO DE
PENHORA (REsp. 510.643/DF, REsp. 515.122/RS).

Vale lembrar, ainda, que a proteção legal abrange inclusive os bem móveis
quitados que guarnecem a residência no caso de imóvel locado (art. 2º da lei n.8009/90):

Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de


transporte, obras de arte e adornos suntuosos.
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a
impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que
guarneçam a residência e que sejam de propriedade do
locatário, observado o disposto neste artigo.

A jurisprudência brasileira é dotada de extrema plasticidade, no que tange aos bens


móveis passíveis de tutela pela lei 8.009/90. À título exemplificativo, já houve decisões
protegendo: Televisão, computador, ar condicionado e, até mesmo, um teclado musical
(neste caso, ver o REsp. 218.882/SP).

Questão de concurso: a vaga de garagem também é protegida pelo bem de família


legal?
O STJ editou a súmula 449 estabelecendo que não haverá a proteção legal do bem
de família, se a vaga de garagem tiver matrícula diversa da matrícula do imóvel do
residência

Súm. 449. A vaga de garagem que possui matrícula própria no


registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de
penhora.

Portanto, a proteção da vaga de garagem só vai existir se o numero da matrícula do


imóvel for o mesmo da matricula da vaga da garagem. Se esta vaga, porém, possuir um
número de matrícula próprio, não estará protegida pelo bem de família legal, podendo ser
penhorada. Isso ocorre quando o condomínio compra, por exemplo, um terreno ao lado do
prédio e o faz de garagem. Neste caso, a vaga da garagem terá outra matrícula, podendo
ser penhorada.

Exceções à proteção legal do bem de família (art.3º)


Este art.3º flexibiliza o bem de família legal. Ele traz situações de ordem pública
que são exceções ao bem de família.

Ademais, entende-se que estas exceções do art. 3º, podem ser aplicadas ao bem de
família voluntário. Academicamente, onde há a mesma razão, deve haver o mesmo direito.
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria
residência e das RESPECTIVAS CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS;
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento
destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos
créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
IV - PARA COBRANÇA DE IMPOSTOS, PREDIAL OU
TERRITORIAL, TAXAS E CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS EM
FUNÇÃO DO IMÓVEL FAMILIAR;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como
garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para
execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)

Segundo o caput, a impenhorabilidade é a regra geral, em qualquer processo de


execução civil, fiscal, previdenciário, trabalhista ou de qualquer outra natureza, salvo:

I – se o processo foi movido para recebimento de créditos trabalhistas de


empregados domésticos e das respectivas contribuições trabalhistas. Desta forma, a
empregada doméstica que mover ação para receber créditos trabalhistas, pode, inclusive,
ficar com a casa da sua patroa, já que não há proteção do bem de família quando se tratar
de recebimento de verbas trabalhistas decorrentes de relação de empregado doméstico.

Entretanto, analisando o inciso I, do art. 3º, o STJ, no REsp. 644.733/SC, entendeu


que a referida exceção interpreta-se restritivamente para abranger o empregado, mas não o
trabalhador meramente eventual, como eletricista, diarista e pintor.

II – se o processo foi movido pelo titular do crédito decorrente do financiamento


destinado à construção ou aquisição do imóvel. Esta situação ocorre quando o processo
for movido pelo agente financeiro que financiou a aquisição ou a construção do
imóvel. Ex: a CEF financia a compra do imóvel. Se o agente não paga, a caixa econômica
vai cobrar, não podendo-se opor contra ela o bem de família.

III – se o processo for movido pelo credor de pensão alimentícia. Esta é uma
situação muito importante. Se o processo for movido em decorrência de pensão
alimentícia atrasada, pode-se penhorar o imóvel do devedor, vez que não há proteção do
bem de família para este caso.

IV – se o processo for movido para cobrança de impostos, taxas e contribuições


devidas em função do imóvel. Ex: cobrança de IPTU. Se o cidadão não pagar, a prefeitura
poderá penhorar este imóvel. O mesmo ocorre com o ITR, para penhorar a fazenda em que
o cidadão reside.
E os tributos que não são vinculados ao imóvel, têm proteção? NÃO, JÁ QUE
NÃO SE PODERIA PENHORAR O BEM DE FAMÍLIA NUMA COBRANÇA
FISCAL DE ICMS.

Atenção: Já é pacífica a jurisprudência brasileira no sentido de que A


COBRANÇA DE TAXA CONDOMINIAL TAMBÉM EXCEPCIONA A
PROTEÇÃO LEGAL DO BEM DE FAMÍLIA, podendo conduzir o imóvel à penhora
(RE, 439.003, STF). Portanto, se o morador deixa de pagar a taxa de condomínio, poderá
ter seu imóvel penhorado, não cabendo alegar a proteção do bem de família.

V – se o processo for movido para executar hipoteca sobre imóvel oferecido como
garantia real. Isto ocorre quando o casal voluntariamente dá o imóvel em hipoteca e
depois não paga. Neste caso, não haverá a proteção do bem de família. Isso poderia gerar
fraude, ferindo, inclusive, a regra do “venire contra factum proprium”.

No que se refere ao inciso V do art. 3º, o STJ entende, de fato, não haver a proteção
do bem de família se o imóvel foi voluntariamente dado em garantia hipotecária (Ag.Rg
no Ag. 1.152.734/SP, Ag.Rg. no AREsp. 72620/DF, de dezembro de 2011.). ‘É possível
penhorar o bem de família quando o casal deu em garantia hipotecaria. Todavia, o mesmo
Tribunal tem entendido que a mera indicação do bem na penhora admite que
posteriormente o devedor alegue a proteção do bem de família’ (Ag.Rg. no REsp.
813.546/DF e REsp. 875.687/RS).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. BEM DE FAMÍLIA.


IMPENHORABILIDADE. EXCEÇÃO. EXECUÇÃO DE HIPOTECA. ART. 3º, V, DA
LEI Nº 8.009/90. 1. A Corte Estadual decidiu em sintonia com entendimento firmado por
este Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a impenhorabilidade do bem de família
é inoponível quando a hipótese versar sobre execução de hipoteca instituída como garantia
real da própria dívida, sendo os devedores os beneficiários diretos. 2. Agravo regimental a
que se nega provimento. (AgRg no Ag 1152734/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 20/08/2010)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. IMPENHORABILIDADE. LEI N.


8.009/90. RENÚNCIA INCABÍVEL. PROTEÇÃO LEGAL. NORMA DE ORDEM
PÚBLICA. IMPENHORÁVEIS OS BENS MÓVEIS QUE GUARNECEM A
RESIDÊNCIA DOS DEVEDORES. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
DECLARAÇÃO DE POBREZA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A indicação do bem à penhora, pelo devedor na execução, não implica renúncia ao
benefício conferido pela Lei n. 8.009/90, pois a instituição do bem de família constitui
princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada.
2. O aparelho de televisão e outros utilitários da vida moderna atual, em regra, são
impenhoráveis quando guarnecem a residência do devedor, exegese que se faz do art. 1º, §
1º, da Lei n. 8.009/90.
3. O benefício da assistência judiciária gratuita pode ser obtido pela simples afirmação do
interessado de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários
de advogado, sem prejuízo de sua manutenção ou de sua família, não dependendo a sua
concessão de declaração firmada de próprio punho pelo hipossuficiente. A presunção legal
poderá ser elidida por prova em contrário, e também o magistrado, avaliando as alegações
da parte interessada ou as circunstâncias da causa, examinará as condições para o seu
deferimento. 4. Recurso especial provido.(REsp 875687/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/08/2011, DJe 22/08/2011)
Esta parte final diz que: se no curso da execução, o devedor indicar o imóvel à
penhora, ele poderá lá na frente, voltar atrás e dizer: é bem de família, não pode penhorar!
VI – se o bem for adquirido com produto de crime, não haverá proteção do bem de
família. Ademais, se a sentença penal condenatória condenar ao ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens, também não haverá proteção ao bem de família.

VII – não haverá proteção do bem de família se o processo for movido para
cobrança de fiança LOCATÍCIA. Repare que não é qualquer fiança, mas é fiança
decorrente da lei de locação.

De acordo com essa exceção, o fiador de bem de família não tem bem de família.
Como assim? Se ele for fiador, não poderá alegar, em uma eventual execução, que o seu
próprio bem é bem de família.

O STF firmou entendimento no sentido da constitucionalidade da penhora do


imóvel do fiador na locação, admitindo inclusive a Repercussão Geral (RE, 612.360).

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 612.360-RG/SP, Rel. Min.


ELLEN GRACIE, reconheceu existente a repercussão geral da matéria constitucional
igualmente versada na presente causa, e, na mesma oportunidade, reafirmou a
jurisprudência desta Corte sobre o tema, proferindo decisão consubstanciada em acórdão
assim do: "CONSTITUCIONALIDADE DA PENHORA DO BEM DE FAMÍLIA DO
FIADOR. RATIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA FIRMADA POR ESTA SUPREMA
CORTE. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL." O exame da presente causa
evidencia que o acórdão impugnado em sede recursal extraordinária ajusta-se à diretriz
jurisprudencial que esta Suprema Corte estabeleceu -e reafirmou -na matéria em referência.
Sendo assim, pelas razões expostas, e considerando, ainda, precedentes específicos sobre a
matéria ora em exame (AI 586.457/RJ, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA -AI 804.037/RJ, Rel.
Min. DIAS TOFFOLI, v.g.), conheço do presente agravo, para negar seguimento ao
recurso extraordinário, eis que o acórdão recorrido está em harmonia com diretriz
jurisprudencial prevalecente nesta Suprema Corte (CPC, art. 544, § 4º, II, "b", na redação
dada pela Lei nº 12.322/2010). Publique-se. Brasília, 21 de junho de 2012.Ministro
CELSO DE MELLO - Relator

O STJ já firmou entendimento no sentido de que a proteção do bem de família legal


abrange, inclusive, o imóvel da pessoa que vive só, vez que o direito constitucional a
moradia, na perspectiva da dignidade da pessoa humana, justifica este entendimento (Súm.
364, STJ):

Súm. 364, STJ. O conceito de impenhorabilidade de bem de


família abrange também o imóvel pertencente a pessoas
solteiras, separadas e viúvas.
Art. 1º O imóvel residencial próprio pela Lei Complementar nº 150, de má-fé imóvel mais valioso para
do casal, ou da entidade familiar, é 2015) transferir a residência familiar,
impenhorável e não responderá por II - pelo titular do crédito decorrente desfazendo-se ou não da moradia
qualquer tipo de dívida civil, do financiamento destinado à antiga.
comercial, fiscal, previdenciária ou construção ou à aquisição do imóvel, § 1º Neste caso, poderá o juiz, na
de outra natureza, contraída pelos no limite dos créditos e acréscimos respectiva ação do credor, transferir
cônjuges ou pelos pais ou filhos que constituídos em função do respectivo a impenhorabilidade para a moradia
sejam seus proprietários e nele contrato; familiar anterior, ou anular-lhe a
residam, salvo nas hipóteses III -- pelo credor de pensão venda, liberando a mais valiosa para
previstas nesta lei. alimentícia; execução ou concurso, conforme a
Parágrafo único. A III – pelo credor da pensão hipótese.
impenhorabilidade compreende o alimentícia, resguardados os direitos, § 2º Quando a residência familiar
imóvel sobre o qual se assentam a sobre o bem, do seu coproprietário constituir-se em imóvel rural, a
construção, as plantações, as que, com o devedor, integre união impenhorabilidade restringir-se-á à
benfeitorias de qualquer natureza e estável ou conjugal, observadas as sede de moradia, com os respectivos
todos os equipamentos, inclusive os hipóteses em que ambos responderão bens móveis, e, nos casos do art. 5º,
de uso profissional, ou móveis que pela dívida; (Redação dada pela inciso XXVI, da Constituição, à área
guarnecem a casa, desde que Lei nº 13.144 de 2015) limitada como pequena propriedade
quitados. IV - para cobrança de impostos, rural.
Art. 2º Excluem-se da predial ou territorial, taxas e Art. 5º Para os efeitos de
impenhorabilidade os veículos de contribuições devidas em função do impenhorabilidade, de que trata esta
transporte, obras de arte e adornos imóvel familiar; lei, considera-se residência um único
suntuosos. V - para execução de hipoteca sobre imóvel utilizado pelo casal ou pela
Parágrafo único. No caso de imóvel o imóvel oferecido como garantia entidade familiar para moradia
locado, a impenhorabilidade aplica- real pelo casal ou pela entidade permanente.
se aos bens móveis quitados que familiar; Parágrafo único. Na hipótese de o
guarneçam a residência e que sejam VI - por ter sido adquirido com casal, ou entidade familiar, ser
de propriedade do locatário, produto de crime ou para execução possuidor de vários imóveis
observado o disposto neste artigo. de sentença penal condenatória a utilizados como residência, a
Art. 3º A impenhorabilidade é ressarcimento, indenização ou impenhorabilidade recairá sobre o de
oponível em qualquer processo de perdimento de bens. menor valor, salvo se outro tiver sido
execução civil, fiscal, previdenciária, VII - por obrigação decorrente de registrado, para esse fim, no Registro
trabalhista ou de outra natureza, fiança concedida em contrato de de Imóveis e na forma do art. 70 do
salvo se movido: locação. (Incluído pela Lei nº Código Civil.
I - em razão dos créditos de 8.245, de 1991) Art. 6º São canceladas as
trabalhadores da própria residência e Art. 4º Não se beneficiará do execuções suspensas pela Medida
das respectivas contribuições disposto nesta lei aquele que, Provisória nº 143, de 8 de março de
previdenciárias; (Revogado sabendo-se insolvente, adquire de 1990, que deu origem a esta lei.
Art. 7º Esta lei entra em vigor na Art. 8º Revogam-se as disposições
data de sua publicação. em contrário.
FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS

1. FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO


Todo acontecimento da vida ao qual o ordenamento jurídico atribua efeitos jurídicos.
O fato jurídico se caracteriza pela produtividade de efeitos jurídicos, distinguindo-se
do fato material, que não os produz, não estando acobertado pela coercibilidade.

2. ESPÉCIES DE FATOS JURÍDICOS


2.1. FATO JURÍDICO STRICTO SENSU
É uma alteração da ordem jurídica SEM FATO HUMANO. Por exemplo, o
nascimento e a morte, o aluvião, etc.
Há também os fatos jurídicos stricto sensu processuais. Por exemplo, o incêndio no fórum,
a morte do autor ou o réu, etc.

2.2. ATO-FATO JURÍDICO


É o comportamento humano ao qual a lei atribui consequências jurídicas
INDEPENDENTE DE TER SIDO PRETENDIDA OU NÃO A SUA PRÁTICA.
O que interessa são os resultados da conduta.Por exemplo, conforme o CC 1263, basta se
assenhorear de coisa sem dono para lhe adquirir a propriedade.

2.3. ATO JURÍDICO


É uma exteriorização consciente da vontade dirigida a uma finalidade conforme o
direito. Logo, todos os atos jurídicos têm de ser lícitos.
Pode se dar por uma manifestação ou declaração de vontade. Manifestação é um simples
comportamento material da pessoa. A declaração de vontade é uma manifestação
formalizada da vontade.
O Código Civil de 2002 adotou a teoria dualista (sistema alemão), distinguindo,
explicitamente, os atos jurídicos stricto sensu dos negócios jurídicos, dada a autonomia
conceitual de cada espécie.

2.3.1. ATO JURÍDICO STRICTO SENSU


Comportamento humano voluntário ao qual a lei prestabelece os efeitos jurídicos à
qual o ordenamento atribui efeitos independentes da vontade do agente
As consequências jurídicas do ato são invariáveis, os efeitos são ex lege, não há
possibilidade de ampliá-los, tampouco restringí-los (p.ex. a adoção).
Esta categoria também existe no DPC. A citação é um exemplo, pois que todos os seus
efeitos são impostos pela lei anteriormente.

2.3.2. NEGÓCIO JURÍDICO


Comportamento humano voluntário (exteriorização da vontade) destinado à
produção de efeitos jurídicos queridos pelos agentes.
O negócio jurídico é guiado pela autonomia privada ( o Poder de Autodeterminação do
Indivíduo), o que quer dizer que há liberdade, delimitada por lei, para a escolha, pelas
partes, das conseqüências que serão geradas pelo acordo.

Tudo o que extrapola a liberdade de negociação das partes é sancionado como inválido ou
ineficaz pelo ordenamento.
Finalidade negocial – manifestaçãoo da vontade tem uma finalidade negocial nos
negócios jurídicos: adquirir, modiicar, conservar ou extinguir direitos.

Observe-se que enquanto o Código Civil adotava a teoria unitária do ato jurídico (sistema
francês), não fazendo distinção entre o ato e o negócio jurídico, o Código Civil de 2002
adotou a teoria dualista (sistema alemão), distinguindo, explicitamente, os atos jurídicos
stricto sensu dos negócios jurídicos, dada a autonomia conceitual de cada espécie.
O NCC, ao contrário do negócio jurídico (arts. 104 a 184), não tratou
especificamente do ato jurídico em sentido estrito, dispondo em seu art. 185 que “Aos atos
jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as
disposições do Título anterior”.

NEGÓCIOS JURÍDICOS (TEORIAS) – durante muito tempo, a doutrina se digladiou


sobre as teorias que explicam a existência do negócio jurídico. São duas as teorias
(Antônio Junqueira de Azevedo):
a) VOLUNTARISTA – Teoria da Vontade
(“willenstheorie”).
Defende que o núcleo do negócio é a VONTADE INTERNA. É a vontade de produção
dos efeitos. Foi a que mais influenciou o direito brasileiro (artigo 112), porque há uma
regra interpretativa que favorece a intenção.

b) OBJETIVISTA – Teoria da Declaração


(“Erklärungstheorie”)
Defende que o núcleo do negócio é a VONTADE EXTERNA, ou seja, a vontade
declarada e não o que a pessoa pensou. Em eventual debate entre a vontade e a
declaração, há predominância da declaração objetiva sobre a vontade subjetiva. Teoria
oposta à teoria voluntarista é a teoria objetiva denominada por Scognamiglio de TEORIA
PRECEPTIVA (preceito da autonomia privada dirigido a interesses concretos próprios de
quem o estabelece), são seguidores dessa teoria: BULLOW, HENLE, LARENZ e
BETTI. Para essa teoria o negócio jurídico constitui um comando concreto ao qual o
ordenamento jurídico reconhece eficácia vinculante.

c) Por outro lado, existe a TEORIA NORMATIVISTA


(KELSEN) que reconhece o negócio jurídico como fato criador do Direito. Há previsão
nos Códigos francês, espanhol e italiano de que os negócios jurídicos têm força
normativa (Planiol). Orlando Gomes expõe que o Princípio da Força Obrigatória
consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes.

Entretanto, as teorias não são antagônicas, a vontade externa espelha a vontade


interna, quando ocorrer uma desarmonia entre ambas é porque houve um vício de
consentimento. A vontade interna é a causa da vontade externa.
Obs.: o que é teoria da pressuposição? Baseada nas idéias de Windscheid, esta
teoria sustentava a invalidade do negócio jurídico, quando a certeza subjetiva do declarante
não se confirmasse ao tempo da execução do negócio.

QUADRO-RESUMO:
FATO NÃO JURÍDICO : Sem conseqüência jurídica
FATO JURÍDICO INVOLUNTÁRIO: Não
Com conseqüência provocado
jurídicaTodo acontecimento voluntariamente pelo
natural ou humano que homem
FATO
determina a produção de
Qualquer acontecimento da
efeitos na órbita jurídica, ou VOLUNTÁRIO
vida (voluntário ou natural)
seja, tem conseqüência
jurídica. Acontecimento ATO JURÍDICO EM
hábil a modificar, criar ou SENTIDO AMPLO
extinguir direitos. Que seja Conduta humana
relevante para o Direito
Observações à tabela acima:

a.i.1) o negócio jurídico era o que o CC/16 definia como


ato jurídico (destinado a provocar aquisição, extinção ou modificação de direito)
a.i.2) a palavra negócio não leva necessariamente a um
contrato bilateral, ou seja, ele pode ser unilateral, como: promissória ou testamento. Mas,
evidentemente, pode ser bilateral (contratos).
a.i.3) as regras que serão tratadas adiante (artigos 104 a
184) tratam somente ao negócio jurídico, aplicando-se somente no que couber ao ato
jurídico lícito.

2.3.2.1. CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

a) Quanto à extensão
 Título singular – bens determinados
 Título universal – totalidade de direitos (p.ex. herançaa)

b) Quanto ao número de declarações de vontade


 Unilaterais, se aperfeiçoam com uma declaração de vontade em um único
(ex.:
sentido (mesmo que proveniente de duas pessoas – p.ex. cônjuges) -
testamento, codicilo, instituição de fundação, aceitação
e renúncia da herança, promessa de recompensa, etc.).
LRECEPTÍCIOS, se os seus efeitos só se produzirem após o
(ex.: denúncia ou
conhecimento da declaração pelo destinatário
resilição de um contrato, revogação de mandato, etc.).
L NÃO-RECEPTÍCIOS, se sua efetivação independer do endereço a certo
destinatário (ex.: testamento, confissão de dívida, etc.).

 Bilaterais, exige duas manifestações de vontade em sentido OPOSTO -


Essa coincidência chama-se consentimento mútuo ou
acordo de vontades (contratos em geral).
L SIMPLES, quando concederem benefício a somente uma das partes e
encargo à outra
L SINALAGMÁTICOS, quando conferirem vantagens e ônus a ambos os
sujeitos;

 Plurilatareis: são os atos que envolvem mais de duas partes, com


declarações no mesmo sentido, como o contrato social de constituição de
sociedade com mais de dois sócios - as vonades não são contrapostas como
nas hipótese anteriores.

c) Quanto à vantagem patrimonial


 Gratuitos – só uma das partes aufere vantagem, e a outra somente um ônus
 Onerosos – quando ambas as partes auferem vantagens e ônus – todo NJ
oneroso é bilateral
L COMUTATIVOS – prestações certas e determinadas (antevistas as
vantagens/sacrifícios)
L ALEATÓRIOS – incerteza, para ambas as partes, sobre
vantagem/sacrifício
L risco é da essência

 Neutros – NJ que carecem de atribuição patrimonial – destinaçãoo de bens -


São chamados de neutros e se caracterizam pela
destinação dos bens. Em geral, coligam-se aos
negócios translativos, que têm atribuição patrimonial,
como por exemplo a instituição das cláusulas de
inalienabilidade e incomunicabilidade.
 Bifrontes – contratos que, cf. a vontade das partes, podem ser gratuitos ou
onerosos

A conversão de negócio jurídico só se torna possível se o


contrato é definido na lei como negócio gratuito, pois a vontade
das partes não pode transformar um contrato oneroso em
gratuito, uma vez que subverteria a sua causa.
Nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos em
onerosos por convenção das partes.

 A doação e o comodato, por exemplo, ficariam


desfigurados, se tal acontecesse, pois se
transformariam, respectivamente, em venda e locação.

d) Quanto ao momento da produção de efeitos


 Inter vivos
 Mortis causa – destinados a produzir efeito após a morte do agente – morte é
pressuposto de eficácia
* seguro de vida – negócio inter vivos no qual o evento morte é o termo
(mesmo antes da morte já produz efeitos

e) Quanto às formalidades
 Solenes – forma é condição de validade do NJ
 Não solenes – NJ de forma livre

f) Quanto ao número de atos necessários


 Simples
 Complexos – resultam da fusão de diversos atos sem eficácia independente
L complexidade OBJETIVA – vários atos do mesmo sujeito, em relação
ao mesmo objeto – p.ex. várias prestações
L complexidade SUBJETIVA – pluralidade de declarações de diversos
sujeitos

 Coligados – NJ que se compõe de vários outros (p.ex. arrendamento de


posto, coligado ao aluguel das bombas – união do conteúdo de dois contratos.

g) Quanto às modificações que podem produzir


 Dispositivos – usados para alienar, modificar ou extinguir direitos
 Obrigacionais – geram obrigações para uma, ou ambas as partes

h) Quanto ao modo de obtenção do resultado


 Fiduciário – os efeitos do ato vão além da intenção das partes, que, passam a
depende, para a realização do fim pretendido, de ato voluntário de uma delas
(partes têm consciência da inadequação do meio eleito)
 Simulado – as declarações de vontade são falsas
2.4. ATO JURÍDICO NÃO NEGOCIAL
Em alguns casos se aplicam os arts. 104 a 184 relativos ao negócio jurídico a atos
jurídicos não negociais.

2.5. ATO ILÍCITO


É um comportamento antijuridico, que gera consequências. Um exemplo de ato ilícito
processual é a litigância de má-fé.

3. FUNCIONALIZAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO


Os manuais clássicos tendem a analisar o negócio jurídico em função de sua estrutura.
Isto pois o ordenamento anterior somente se interessava em saber se a vontade das
partes se manifestou livremente quando da conclusão do acordo. O foco era na utilidade
econômica do contrato para as partes.

Atualmente o ordenamento quer saber a função do negócio jurídico (para que? por
que? finalidade?), qual o seu interesse prático para a sociedade.

Quer dizer, o negócio jurídico é vontade + regulamentação. Um negócio jurídico só tem


LEGITIMIDADE E MERECIMENTO (juridicidade) se além de atender à livre
vontade das partes, ele favorecer a dignidade da pessoa humana, a segurança jurídica
e o princípio da confiança:
Súmula 312 do STJ - é abusiva a cláusula que limita o
tempo de internação do segurado

Informativo 491 do STJ - a cláusula que estabelece limite


de custos é ilícita, pois que são imprevisíveis os gastos
com doença - é justamente ist que elea a pessoa a contratar
um seguro

Informativo 493 do STJ - é ilícito o estabelecimento de


prazo de carência para atendimentos emergenciais o
contrato de seguro é pacto de solidariedade e cooperação,
cujo objetivo é assegurar a saúde do parceiro contratual.
Qualquer limite é inviável limitação à dignidade da pessoa
humana

O negócio jurídico é o instrumento por meio do qual se exerce a autonomia privada. Mas,
além, de sua faceta de autonomia contratual (CF 150), se reconhece a autonomia existencial
(CF 1, III), que autoriza negócios jurídicos de natureza extrapatrimonial no intuito de
desenvolver livremente a sua própria personalidade.

1. ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO


 Elementos essenciais – indispensáveis à existência do ato (substância):
declaraçãoo de vontade; pluralidade de partes; a coisa; o preço, etc. Podem ser
comuns a qualquer negócio (gerais), ou particulares a certas espécies
 Elementos naturais - consequências ou efeitos que decorrem da própria
natureza do negócio sem necessidade de exoressa menção

 Elementos acidentais – estipulações acessórias facultativas

2. TRICOTOMIA DO NEGÓCIO JURÍDICO – PLANOS DE ANÁLISE


a) EXISTÊNCIA – presença dos elementos estruturais necessários ao seu
reconhecimento pelo ordenamento. É o plano de substanciação do negócio jurídico.
Por exemplo, a compra e venda a non domino é inexistente pela ausência do
consentimento do proprietário. Anteriormente o casamento de pessoas do mesmo sexo era
considerado inexistente. O informativo 486 o STJ adotou o posicionamento de facilitar a
união homoafetiva em casamento.
 Requisitos de existência
a) Declaração de VONTADE – uma manifestação exterior de uma vontade.
Pode ser:
b) Expressa – manifestação explícita
c) Tácita – revelada pelo comportamento do agente (juris et de jure)
d) Presumida – lei deduz a vontade a partir de certos comportamentos
específicos (juris tantum)
A presumida se distingue da tácita pois na primeira uma norma associa
diretamente um comportamento a uma declaração de vontade (indução); na
segunda há por parte do destinatário da declaração uma dedução intuitiva
da vontade do declarante por meio da análise de seu comportamento
e) Receptícia – se dirige a destinatário especial, com o escopo de levar ao seu
conhecimento a intenção do agente. É condição de eficácia da declaração.
f) Não-receptícia – não se dirige a destinatário específico e produz efeitos
independentemente da recepção por outra pessoa (p.ex. testamento, que
produz efeitos sem nem mesmo o destinatário saber que ele existe)

 Silêncio como manifestação de vontade – em regra o silêncio carece de


significado jurídico – somente pode ser considerado como declaraçãoo tácito quando
a leit autoriza, ou presumida quando o prevê.

 RESERVA MENTAL - ocorre quando um dos declarantes oculta a sua real intenção
– quando não quer um efeito jurídico que declara querer – objetivo é enganar;
L caso desconhecida do outro – é irrelevante
L caso conhecida – cf. o CC é caso de ausência de vontade – o que acarreta
a inexistência do NJ – cf. doutrina é causa de mera nulidade por simulaçãoo

b) Agente - Além da vontade, é preciso que haja agente emissor da vontade, ou


pessoa física ou jurídica. Todo negócio jurídico para existir precisa de um agente.
c) Objeto - E para existir, todo negócio tem que ter um objeto. Um bem jurídico ou uma
prestação. Contrato de empréstimo de dinheiro sem dinheiro é inexistente. O mútuo não
existe.

d) Forma - Para existir, além de manifestação de vontade, agente e objeto, todo negócio
tem que ter uma forma. Aí vem o problema.
A forma é o meio pelo qual a vontade se manifesta. Vicente Ráo diz que a forma é
o revestimento externo da vontade. Mas repare que a forma não é igual a manifestação de
vontade, mas sim, uma forma de manifestação da vontade. Ex: Forma escrita, forma verbal
etc.
A forma mímica também é aceita (ex: gesto de parada do ônibus, que é uma forma
de aceitação de contrato de prestação de transporte. O pagamento é a execução deste
contrato, mas o gesto mímico é uma forma de aceitação do contrato).

O requisito existencial da forma sofre uma mitigação. Qual seria ela? O silêncio.
Seguindo sistemas estrangeiros, como o Belga, o Francês, o Alemão e o Suíço, o direito
brasileiro, em situações excepcionais (art.111 do Código Civil), aceita o silêncio como
forma de manifestação da vontade.
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as
circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a
declaração de vontade expressa.

Na doação pura, por exemplo, se houver um prazo para o donatário aceitar ou não a
doação e ele não se manifestar, este silencio traduz uma forma de aceitação.

Pergunta formulada no 9º Concurso para Delegado de Polícia/RJ: “Quem cala


consente”. “Este ditado popular tem respaldo no direito civil?” Em outras palavras,
em caráter excepcional, admite-se que o silêncio seja considerado forma de celebração do
negócio?

Viu-se que todo negócio para existir depende de uma forma. Mas será que por
exceção, o silêncio poderia repercutir no campo do direito civil? O professor não vai
responder isso hoje (só na próxima aula). E vai fechar a aula, mostrando que a forma é
requisito de existência do negócio. O negócio para existir precisa de manifestação de
vontade, agente, objeto e forma. A forma, pressuposto de existência não pode ser
confundida com o que se chama de forma prescrita em lei. Se a pessoa vender seu imóvel
de valor superior a 30 salários mínimos, a forma, como pressuposto de validade, é a
prescrita em lei (escritura pública). Não se pode confundir a forma, requisito de existência,
com a prescrita em lei, requisito de validade.

Na próxima aula, ao estudarmos o dolo, veremos ainda a conexão do silêncio com a


invalidade do negócio jurídico e o ‘venire contra factum proprium’.

o FINALIDADE NEGOCIAL – é o propósito de adquirir, conservar,


modificar ou extinguir direitos – manifestaçãoo de vontade em determinado
sentido jurídico – visando desencadear determinado efeito.
b) VALIDADE – regularidade dos elementos estruturais. É plano de adjetivação do
negócio jurídico. Somente os negócios jurídicos existem no plano da validade (já,
existência e eficácia são atribuíveis a qualquer ato ou fato jurídico). Não há, por exemplo,
morte válida/inválida, roubo válido/inválido, etc.
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Invalidade é uma sanção ao negócio jurídico que ingressa no mundo jurídico de forma
defeituosa.
A invalidade é genética, os negócios jurídicos nascem com este vício, são originárias. Não
existe invalidade superveniente.
 Requisitos de existência
o Gerais – uma manifestação exterior de uma vontade. Pode ser:
a) Vontade LIVRE e de BOA-FÉ;
b) Agente CAPAZ;
c) Objeto LÍCITO (não atenta contra a lei, o que difere da impossibilidade
jurídica), POSSÍVEL (impossibilidade física deve ser absoluta;
impossibilidade jurídica é o não reconhecimento pelo ordenamento de algo
como objeto de negociação) e DETERMINADO (DETERMINÁVEL,
suscetível de determinaçãoo no momento da execuçãoo)

d) FORMA PRESCRITA ou LIVRE


Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura
pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior
a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Isso significa que se vender um apartamento de 500 mil reais, deve-se lavrar escritura
pública. Se não observar isso, o negócio é inválido porque o negócio é solene, exige forma
publica como requisito de validade.

Pegadinha dentro do art. 108: “não disposto a lei em contrário”. Há situações em que
o próprio ordenamento jurídico admite mesmo no negócio jurídico imobiliário acima de 30
salários, que a forma seja particular.

Obs.: independentemente do valor, não se exige escritura pública, por exemplo,


para contratos de promessa de compra e venda (ainda que o negócio seja superior a 30
salários mínimos, arts. 1.417 e 1.418), ou que tenham por objeto a aquisição de imóvel
sujeito ao sistema de SFH, nos termos da lei 4380/64.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não
dependerá de forma especial, senão quando a lei
expressamente a exigir.

Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente


testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não
ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao
tempo em que foram celebrados.

Então, negócio que tem valor superior a 10 salários mínimos exige forma escrita
para efeito de prova.

o Específicos – atinentes a determinados negócios


Alguns ainda exigem CAUSA – interesse prático que se coadune com o
interesse social e geral – finalidade sócio-econômica compatível
L é NULO o NJ quando o motivo determinante comum for ilícito - Por
exemplo alugar um apartamento para abrir um prostíbulo ou alugar um
helicóptero para transportar drogas.

c) EFICÁCIA – aptidão para a produção de efeitos em concreto – decorre do


implemento de uma condição imposta – independe da validade
A eficácia é verificada em nível superior, ou seja, somente depois que o negócio existe,
somente depois de válido. Ou seja, a análise no plano da eficácia EXIGE QUE O
NEGÓCIO SEJA EXISTENTE E VÁLIDO.
Orlando Gomes estabelece uma distinção entre os atos ineficazes e inválidos: o
negócio é inválido quando defeituoso em seus pressupostos e requisitos. Diz-se ineficaz
quando, embora válido, não produz os efeitos normais devido a obstáculo estranho aos
seus elementos essenciais, como a necessidade de prática de ulteriores atos para se tornar
eficaz ou implemento de condição ou advento de termo.
Em que pese a distinção entre atos ineficazes e inválidos, vale registrar que os atos
ou negócios anuláveis serão eficazes até que lhes seja decretada a anulação, tanto é que o
negócio pode ser convalidado pelo decurso do tempo. Nesse sentido, é bastante
esclarecedora a posição de Roberto Ruggiero: na verdade, o negócio anulável não é já um
negócio que o ordenamento considere inexistente; pelo contrário, existe e tem eficácia
plena como se não tivesse vícios, até que a pessoa interessada e autorizada por lei a fazer
valer o vício o faça valer, mediante uma ação, uma exceção ou uma anulação. A eficácia
do negócio é, pois, condicionada ao não exercício do direito a invocar a sua invalidade.

Observe-se, entretanto, que em algumas hipóteses (raras), os atos jurídicos nulos


também produzem efeitos, como por exemplo, o casamento putativo. Assim, nos termos
do artigo 15611.

No plano da eficácia, há distinção entre os atos jurídicos stricto sensu e os negócios


jurídicos, conforme leciona Francisco Amaral: Quanto aos efeitos, no ato jurídico em
sendo estrito é a própria lei a determiná-los, enquanto no negócio jurídico é a vontade dos
particulares.
Há um aspecto da ineficácia que corrobora a necessidade do plano distinto que
analise a inexistência, já que não se pode confundir a ineficácia do ato nulo com a
ineficácia do ato inexistente, como afirma Marcos Bernardes de Mello: ... é necessário
deixar claro que não tem sentido, do ponto de vista lógico, falar-se de ineficácia do ato
inexistente e compará-lo à ineficácia do ato nulo, porque (a) a ineficácia, quando referida a
ato inexistente, constitui conseqüência irremovível do não-ser (o NÃO-SER não pode
produzir coisa alguma), enquanto (b) em relação ao nulo a ineficácia resulta, na verdade,
de uma RECUSA de eficácia, como repúdio à ilicitude a que o sistema impõe a invalidade
como sanção.
O plano da eficácia estuda os elementos acidentais dos negócios jurídicos:
CONDIÇÃO, TERMO, MODO ou ENCARGO, que são fatores que interferem na
eficácia dos negócios jurídicos.

7. INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIO SJURÍDICOS


A interpretação foi um tema pouco explorado pelo novo CC/02 (artigos 112 a 114)
A declaração de vontade foi privilegiada, mas não acima de tudo. É preciso se atentar
à intenção do agente, que deve de alguma maneira ter se manifestado na declaração. O art.
112 abandonou a Teoria Pura da Vontade. O NCC conseguiu um equilíbrio entre as
Teorias da vontade e da Declaração, agora, é aplicada a Teoria da Auto-
Responsabilidade, que consiste no prestígio da vontade (ainda é uma mola propulsora),
atribuindo a responsabilidade do emissor dessa vontade, mas deve-se procurar um lastro na
declaração.

EU(Rodrigo): creio que a tese adotada pelo NCC foi a TEORIA DA CONFIANÇA
que prevê, em síntese, o dever de sempre tentar buscar a vontade real (interna), mas tal
busca somente pode ter como ponto de partida a declaração de vontade, pois é a
declaração de vontade que gera na parte a confiança necessária para a celebração do
NJ.
Sendo assim, é a declaração o ponto de partida para qualquer busca da vontade
interna (ou seja, seria inadmissível alegar que a vontade interna não tem qualquer relação
com a declaração de vontade). (art. 113)

Essa regra de interpretação é objetiva. A boa-fé que se fala aqui é a OBJETIVA,


que em cada livro do CC se renova; ela é uma regra de conduta, um padrão de
comportamento leal, o que se espera de pessoas leais e solidárias. Ela é objetiva porque,
para verificar se alguém está de boa-fé ou não, não importa mais o que está na cabeça do
agente, basta a verificação se sua conduta está adequada ou não ao padrão objetivo
ideal. Trata-se de uma manifestação do Princípio da Eticidade. A boa-fé objetiva
desempenha várias funções no CC, e aqui está funcionando como uma regra interpretativa.

1 Art. 1561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento em relação a estes
como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
Entendimento predominante: sempre deve ser feita a interpretação com os aspectos
subjetivos, não dando certo, parte-se para os aspectos objetivos, (Godoy discorda, acredita
que as duas formas de interpretação devem coexistir). (art. 114, cc)

8. MOTIVO DO NEGÓCIO E SUA RELEVÂNCIA


O motivo (razão que leva alguém a praticar um negócio jurídico) é irrelevante quando
permanece na cabeça do indivíduo mas, se o motivo for expresso, haverá a vinculação do
negócio jurídico, como está previsto no artigo 140.
P. ex., o indivíduo perde a consciência durante o afogamento, ao recobrar sua consciência,
encontra pessoa que acreditou que o salvou; assim, o indivíduo decide fazer uma doação por
esse motivo, mas não houve salvamento:
1) se foi externado o motivo, e não houve salvamento, a doação perde a validade;
2) se não foi externado o motivo, mesmo com a inexistência de salvamento, a doação é
válida. (art. 140, CC)

9. RESERVA MENTAL
Parte da doutrina entende que é um vício do negócio jurídico (artigo 110). É uma
proposital divergência entre a vontade interna e a vontade declarada, assim, o
indivíduo reserva mentalmente o que quer, a manifestação da vontade não coincide com a
real vontade do sujeito. Ressalte-se que o CC fala que o negócio jurídico é válido
(SUBISTE).
Não se trata de dolo porque não obriga ninguém a celebrar o negócio jurídico, ou
seja, não há ninguém induzido a erro. Existem duas pessoas celebrando um negócio
jurídico e UMA delas manifesta algo diferente do que realmente quer. Está no plano da
manifestação da vontade. Se a RESERVA MENTAL não for conhecida do destinatário,
ela não tem relevância. Somente terá relevância se for do conhecimento do
destinatário. Se a outra parte aderir, poderá haver a simulação.
Exemplo 01: casamento para regularização em país estrangeiro, sendo que um
dos cônjuges não sabia dessa intenção, assim, o casamento é válido, mas se os dois
sabiam, haveria invalidade do ato (não é simulação, porque para isso teria que haver a
intenção das duas partes).
Exemplo 02: promessa de reversão de parte da renda para filantropia, com a verdadeira
intenção de lucrar.

Consequência jurídica da reserva mental manifestada?

 1ª corrente – Para o Código Civil Brasileiro, com base no art. 110, do


Código Civil e, na linha de pensamento do Ministro Moreira Alves, uma vez
manifestada a vontade e dela tomando conhecimento a outra parte, o negócio é
considerado INEXISTENTE. Art. 110, do CC:

“Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu


autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou,
salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.”

Ou seja, se o destinatário toma conhecimento da reserva, o negócio não subsiste mais.


É inexistente. Isso é para marcar numa prova objetiva, mas em uma prova dissertativa, a
coisa muda de figura e é aí que entra a segunda corrente.

 2ª corrente – Uma segunda corrente (Carlos Roberto Gonçalves), entretanto,


sustenta que se o destinatário toma conhecimento da reserva, o negócio é
existente, MAS INVÁLIDO POR DOLO OU SIMULAÇÃO.

Quando a reserva é manifestada, o problema não está no plano da existência. O


negócio existe, mas é inválido. Em que pese não ter sido adotada pelo código, alguns
autores preferem a linha da invalidade (à exemplo do Pablo Stolze), porém, em provas
objetivas ficar com a letra da lei (art. 110 do CC).
REPRESENTAÇÃO

Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.

Está relacionada à incapacidade, servindo como instrumento jurídico, por meio do


qual, alguém fale pessoalmente, mas, juridicamente, em nome de outra pessoa, ou seja, o
vínculo jurídico é criado para o representado.
O CC pretendeu traçar um regramento genérico
que se aplica à representação. Ela pode ser:
a. Legal (tutela, curatela, pais representando filhos)
b. Convencional (procuração)
O artigo 120, CC/02 afirma que a parte geral só serve para a representação legal (já
não se utiliza a parte geral, lá na específica já tem tudo previsto), seria somente útil na
representação convencional.
Pelo artigo 116, se atuar fora de seus poderes, estará atuando ultra vires e aí não
vincula o representado. O representado somente se vincula pelo ato do representante, se
este houver atuando dentro de seus poderes.
Se for legal, a lei estabelecerá quais são os limites de atuação do representante; se
for convencional, o instrumento escrito (procuração) estabelecerá quais são esses
poderes.
Exceção: somente em um caso o representado se vincula pela manifestação do
representante, mesmo este atuando ULTRA VIRES: REPRESENTAÇÃO PUTATIVA, que
muito excepcionalmente pode ocorrer no caso de representação voluntária, p. ex.,
procuração feita sem o conhecimento do representado, porque assinou folha em branco;
assim, é preciso que o representado tenha de alguma forma contribuído para o ato, como no
exemplo, assinou folha em branco.
Imprecisão técnica cometida pelos dois CC: A procuração é o instrumento do
mandato, isso está errado porque o mandato pode ser até mesmo verbal, na verdade, a
procuração é instrumento da representação.
A regra do artigo 119 não pode ser confundida com a hipótese do artigo 116.
Pelo art. 119, o representante age de acordo com os poderes que lhe foram
outorgados, mas está em desacordo com os interesses do representado (aquele negócio
jurídico, naquela situação e condições) – há conflito de interesses.

O representado fica plenamente vinculado, havendo somente uma pretensão


indenizatória de sua parte contra o representante. Mas se o terceiro sabia do conflito de
interesse com o representado, caberá o pedido de anulação, no prazo de 180 dias a contar da
celebração do negócio jurídico.
Por outro lado, a regra do artigo 117 estabelece que, salvo se o permitir a lei ou o
representado, é ANULÁVEL o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por
conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo
representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido
estabelecidos.
Art. 115. Os poderes de celebrado pelo ou devia ser do
representação conferem-se representante o negócio conhecimento de quem
por lei ou pelo interessado. realizado por aquele em com aquele tratou.
Art. 116. A manifestação quem os poderes houverem Parágrafo único. É de
de vontade pelo sido subestabelecidos. cento e oitenta dias, a
representante, nos limites Art. 118. O representante é contar da conclusão do
de seus poderes, produz obrigado a provar às negócio ou da cessação da
efeitos em relação ao pessoas, com quem tratar incapacidade, o prazo de
representado. em nome do representado, decadência para pleitear-
Art. 117. Salvo se o a sua qualidade e a se a anulação prevista
permitir a lei ou o extensão de seus poderes, neste artigo.
representado, é sob pena de, não o fazendo, Art. 120. Os requisitos e os
ANULÁVEL o negócio responder pelos atos que a efeitos da representação
jurídico que o estes excederem. legal são os estabelecidos
representante, no seu Art. 119. É ANULÁVEL nas normas respectivas; os
interesse ou por conta de o negócio concluído pelo da representação voluntária
outrem, celebrar consigo representante em são os da Parte Especial
mesmo. CONFLITO DE deste Código.
Parágrafo único. Para esse INTERESSES com o
efeito, tem-se como representado, se tal fato era

Esta bipoloridade de interesses pode estar aliada a uma


representação privada, que é concessão de poderes a terceiros.
Não confundir representação com mandato. Representação é
concessão de poderes. Mandato é contrato.
É possível representação sem mandato e mandato sem
representação:
Ex.: contrato de sociedade por quotas de responsabilidade limitada.
5 sócios, 4 conferem poderes a um deles para representar a
sociedade, tem representação, não tem mandato.
Mandato em causa própria – quando o advogado atua em sua
própria defesa. Tem mandato e não tem representação.
Representação é concessão de poderes, mandato é um dos tipos de
contrato.
Autocontrato / Contrato consigo mesmo é uma figura construída
no direito alemão, ocorre quando uma mesma pessoa figura
simultaneamente em ambos os pólos da relação contratual, num
deles, em nome próprio, no outro, em nome alheio, por força de
uma representação privada.
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o
negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta
de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo
representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes
houverem sido subestabelecidos.
O autocontrato é anulável quando celebrado no interesse
exclusivo daquele a quem se conferiu os poderes. É anulável
porque admite convalidação.
Se a cláusula de autocontrato vier de contrato de consumo ou de
contrato de adesão, é nula.
STJ súmula 60
E nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário
vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.
PLANO DA EFICÁCIA

Conforme já estudado, os planos da existência, validade e eficácia formam a


escada ponteana.

Plano da eficácia
“Escada Ponteana”
Plano da Validade

Plano da Existência

No plano da eficácia encontram-se as conseqüências dos negócios jurídicos, com a


modificação e extinção dos direitos. Assim, para que o negócio gere efeitos (isto é, tenha
eficácia), ele deve existir (1º degrau) e ser válido (2º degrau). Sendo assim, ele poderá
alcançar o 3º degrau e ser eficaz.

Exemplo: É possível ter um negócio que existe, é inválido, mas tem eficácia, como
acontece, por exemplo, com um contrato anulável pela lesão. Neste caso, antes da
propositura da ação anulatória, ele existe, é inválido, mas está gerando efeitos entre as
partes.

No plano da eficácia encontra-se, por exemplo, o regime do casamento, o


inadimplemento contratual (cláusula penal, juros, perdas e danos), o registro imobiliário,
bem como os elementos acidentais do negócio jurídico, que será o tema da aula.

4.3.1. Elementos acidentais do negócio jurídico.


Elementos acidentais são elementos NÃO ESSENCIAIS, ou seja, que podem ou
não estar presentes no negócio jurídico. Portanto, eles não são obrigatórios, estando, em
regra, no plano da eficácia.

Os elementos acidentais que, em regra, estão no plano da eficácia, são tratados pelo
CC pelos arts. 121 a 137. São eles: condição, termo e encargo (ou modo).

4.3.1.1. CONDIÇÃO
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for
maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer,
considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a
quem aproveita o seu implemento.
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido
praticar os atos destinados a conservá-lo.

Condição é elemento acidental do negócio jurídico que relaciona os seus efeitos a evento
FUTURO e INCERTO.
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do
negócio jurídico a evento futuro e incerto.
Dica: quando se tem a condição, deverá aparecer a conjunção “se” ou
“enquanto”. Exemplo: “Dou-lhe um carro se você for até Aparecida do Norte de
bicicleta”. “Dou-lhe uma renda de X reais por mês enquanto você estudar para concurso”.
Isso nada mais é do que uma condição de eficácia do negócio jurídico. A doação do carro
somente ocorrerá se o sujeito for até Aparecida do Norte de bicicleta. Já no segundo
exemplo, enquanto o sujeito estudar para concurso, ele receberá a renda mensal, já que
aquela foi a condição imposta para recebe-la.

Classificações da condição

a) Classificação quanto á licitude.

Condição lícita é aquela não contrária à lei, a ordem pública e aos bons costumes.

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não


contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as
condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o
negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das
partes.
Condição ilícita é aquela que é contrária à lei, a ordem pública e aos bons costumes.
Exemplo: Dou-lhe um carro se você matar fulano.

Entre as condições ilícitas temos as condições perplexas e as condições puramente


potestativa.

Condições perplexas são aquelas que tiram o efeito do negócio jurídico. Exemplo:
“Dou-lhe um carro se você vencer o jogo de futebol no domingo, mas você não pode jogar
pelo time vencedor”. Essa é uma condição perplexa, já que ela tira por completo o efeito do
negócio jurídico, uma vez que se trata de algo IMPOSSÍVEL.

Condições puramente potestativas são aquelas em que há puro arbítrio de apenas


uma das partes. Exemplo: “dou-lhe um carro se eu quiser”. Trata-se de condição em que só
há vontade de uma parte.

Obs. O art.123 do Código Civil desloca a condição para o plano da validade,


gerando nulidade do negócio jurídico.
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são
subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando
suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias
b) Quanto à possibilidade

Condição possível é aquela que pode ser realizada no plano físico e jurídico. Exemplo:
“dou-lhe um carro se você for até a Europa”.

Condição impossível é aquela que não pode ser realizada, tanto no plano físico quanto
no plano jurídico. Exemplo: “Dou-lhe um carro se você for até marte”.
IMPOSSIBILIDADE DEVE SER OBJETIVA

As condições impossíveis invalidam o negócio jurídico quando SUSPENSIVAS.

Entretanto, quando RESOLUTIVAS, elas são tidas como não escritas (princípio da
conservação do negócio jurídico). É o que se extrai da combinação do art. 123, I c/c
art.124, do CC:

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são


subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando
suspensivas;

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis,


quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.

c) Quanto à origem

Condição causal (ou casual) é aquela que decorre da natureza. Exemplo: “dou-lhe um
carro se chover amanha”.

Condição potestativa é aquela que decorre da vontade. Ela se subdivide em:


(i) Condição puramente potestativa é aquela que tem vontade de apenas uma
das partes, sendo considerada ilícita, gerando invalidade do negócio
jurídico. Neste ponto encontra-se a origem da proibição das cláusulas
abusivas, nos contratos de adesão, já que se trata de imposição de vontade de
apenas uma das partes.

(ii) Condição simplesmente potestativa (ou meramente potestativa) é aquela


que tem vontade de uma parte e mais vontade de outra parte. Ou seja, há
vontade de ambas as partes. Trata-se de condição lícita, gerando efeito entre
as partes. Exemplo: “dou-lhe um carro se você for até Aparecida de
bicicleta”. Há vontade de doar o carro e vontade de cumprir a condição que é
possível.
Condição mista é aquela em que há vontade de ambas as partes e de evento da
natureza. Ela mistura a condição potestativa e causal. Exemplo: “Dou-lhe um carro se
você cantar amanha no show e se estiver chovendo”. São duas condições impostas:
uma condição causal (se chover) e uma condição potestativa (doar o carro se a outra
parte cantar no show). Portanto, é condição lícita.

d) Quanto aos efeitos

Condição suspensiva é aquela que suspende a AQUISIÇÃO e o EXERCÍCIO do


direito, conforme se extrai do art.125 do Código Civil:
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à
condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá
adquirido o direito, a que ele visa.

Exemplo: “dou-lhe um carro se você cantar no show amanha”. Trata-se de condição


suspensiva, que suspende o efeito do negócio jurídico enquanto não for implementada. Ou
seja, o sujeito ainda não tem direito sobre o carro, não podendo exercer qualquer direito
sobre ele. Somente depois de implementar a condição (cantando no show), é que passará a
ter direito sobre o carro. Portanto, guardar essa regra importante: NÃO HÁ DIREITO
ADQUIRIDO QUANDO HOUVER CONDIÇÃO SUSPENSIVA.

Na condição suspensiva sempre aparecerá a conjunção “se”.

Condição resolutiva é aquela que gera a EXTINÇÃO DO DIREITO quando de sua


ocorrência. Aqui aparecerá a conjunção “enquanto”.
Exemplo: “Lhe darei uma renda mensal enquanto estiver estudando para concurso”.
Se parar de estudar, sobrevém a condição resolutiva extinguindo o negócio jurídico.

Repare que na condição resolutiva o sujeito já tem o direito. Quando implementada


a condição resolutiva, ela extinguirá o direito. Já na condição suspensiva é diferente, uma
vez que o sujeito não tem o direito, mas somente depois de ocorrer a condição é que lhe
sobrevém o direito.
Exemplo: art. 509 do Código Civil: Venda a contento e venda sujeita a prova.

Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se


realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha
sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente
não manifestar seu agrado.

O melhor exemplo de venda a contento e venda sujeita à prova ocorre no caso dos
vinhos. O garçom chega à mesa e serve o vinho, esperando o cliente toma-lo. Enquanto o
sujeito não aprovar que o vinho é bom, estaremos diante de uma condição suspensiva. No
entanto, se o sujeito rejeita o vinho, haverá condição resolutiva. Ele pode rejeitar o vinho e
mandar trocá-lo? Sim, desde que haja boa fé do cliente.
Portanto, na venda a contento e na venda sujeita a prova, temos as duas condições
(suspensiva e resolutiva). Só para ficar claro: qual a diferença entre venda a contento e
venda sujeita a prova? Quando não se conhece a coisa ainda, a venda é a contento (ou ad
gustum). Quando se conhece a coisa, a venda é sujeita a prova.
Outro detalhe importante: a condição resolutiva não suspende a aquisição e nem o
exercício do direito. Ou seja, o negócio jurídico vigora. Basta lembrar-se do exemplo da
renda enquanto estiver estudando.
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não
realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde
a conclusão deste o direito por ele estabelecido.
Já nos “NEGÓCIOS CONTINUADOS”, a condição resolutiva não gera
extinção dos atos anteriores. Trata-se, portanto, do princípio da conservação do negócio
jurídico (art. 128):
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para
todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um
negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização,
salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos
já praticados, desde que compatíveis com a natureza da
condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

Exemplo: Sujeito está no restaurante e pede uma garrafa de vinho. Depois pede a
segunda, a terceira, só que na quarta garrafa, ele rejeita. Obviamente que a rejeição desta
quarta garrafa não vai prejudicar a compra dos vinhos anteriores.
O mesmo acontece no caso de condição resolutiva em caso de pagamento de
prestações. Se houver uma condição resolutiva de algum pagamento, obviamente que isso
não prejudicará os pagamentos anteriores que já foram feitos, salvo, é claro, se houver má-
fé, ou seja contrário à ordem pública etc. Portanto, quando se arguir a condição resolutiva
de um pagamento em contrato continuado, não gera a extinção do pagamento das parcelas
anteriores, já que haverá a conservação do negócio jurídico.

4.3.1.2. TERMO
Termos é o elemento acidental do negócio jurídico que relaciona a sua eficácia a
evento FUTURO e CERTO. Aqui aparecerá a conjunção “quando”. Exemplo: quando
começa (termo inicial do contrato), quando termina (termo final do contrato).

Dies a quo – termo inicial (quando começa o negócio jurídico).

Dies ad quem – termo final (quando termina o negócio jurídico).

Prazo é o lapso temporal entre o termo inicial (dies a quo) e o termo final (dies ad
quem). Se meu contrato começa dia 11.05.12 e termina em 11.05.14, o prazo será de 02
anos.

Segundo dispõe o art. 135 do Código Civil, quanto ao termo inicial deve-se
aplicar as regras da condição suspensiva.

Já quanto ao termo final, deve-se aplicar as regras da condição resolutiva. Mas isso é
regra geral, havendo, entretanto, exceções.
Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as
disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.
Atenção: O termo inicial – AO CONTRÁRIO DA CONDIÇÃO SUSPENSIVA -
não suspende a aquisição do direito, mas apenas o seu exercício.
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a
aquisição do direito.

O que diferencia o termo inicial da condição suspensiva? O termo inicial suspende


apenas o exercício do direito, mas não a sua aquisição. Já a condição suspensiva suspende
tanto o direito quanto o seu exercício. Exemplo: meu contrato começa a vigorar amanha
(dia 22.05.12). Hoje eu já tenho direito adquirido sobre o contrato? Sim, mas só não posso
exercê-lo. Se o contrato já tem o termo inicial que é amanha, é possível alegar que se tem
o direito adquirido, mas não é possível exercê-lo.

Classificações do Termo

a) Quanto à origem
 Termo legal é aquele que decorre da lei. Exemplo: Caso do mandato legal – o
termo inicial do compromisso do inventariante ocorre quando ele assume o
compromisso, quando assume o mandato imposto pela lei. O termo final
ocorre quando termina a inventariança.
 Termo convencional é aquele que decorre da vontade / acordo das partes. É o
contrato.

b) Quanto à certeza
 Termo certo/determinado: é possível saber o que ocorrerá e quando ocorrerá.
Exemplo: fim de um contrato.

 Termo incerto/indeterminado: é possível saber que ocorrerá, mas não é possível


saber quando ocorrerá. Exemplo: a morte.

4.3.1.3. ENCARGO OU MODO


O encargo é um ônus ou fardo introduzido em ato de liberalidade. Alguns
entendem que é um dever, mas Tartuce diz que a doutrina majoritária entende ser um ônus.

O encargo é conhecido como o famoso “presente de grego”, ou seja, o sujeito lhe


dá uma determinada coisa, somente se você deve agir de determinada forma.

As conjunções que aparecem aqui são: “para que” e “com o fim de”. Exemplo de
Clóvis Beviláqua: “Dou-lhe um terreno para que você construa em parte dele um asilo”.
Nesse caso, o donatário já recebe o terreno, até porque ele precisa recebê-lo para construir
o asilo.

Atenção: o encaro NÃO SUSPENDE A AQUISIÇÃO E NEM O EXERCÍCIO


DO DIREITO.
Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício
do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.

Assim, no exemplo dado por Clóvis Beviláqua, como o donatário já recebe o


terreno, se não for construído o asilo no prazo fixado, caberá a revogação da doação (art.
555 do CC).

Encargo ilícito - Art.137, do CC:

Art. 137. Considera-se NÃO ESCRITO o encargo ilícito ou


impossível, salvo se constituir o motivo determinante da
liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.

Em regra, o encargo ilícito ou impossível é considerado não escrito, inexistente.


Exemplo: “Dou-lhe um revolver para que você mate fulano”. Para que neste caso gera
ilicitude.

Agora, se, por exemplo: “Dou-lhe um terreno se você construí uma pista de pouso
para avião e OVNI”. Neste caso, em relação à parte final (para OVNI) é considerada como
não escrita.

TABELA DIFERENCIANDO CONDIÇÃO SUSPENSIVA, TERMO E ENCARGO

Este quadro é o que mais cai em concurso público sobre o tema. Decorar!

Condição suspensiva Termo inicial Encargo


Suspende a aquisição e o Somente suspende o Não suspende a aquisição e
exercício do direito. exercício do direito, não a nem o exercício do direito.
aquisição.
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

1.LIINHAS GERAIS
NJ válido exige declaração de vontade livre e espontânea – defeito na sua formação
ou manifestação acarreta vício que o torna anulável

 Prazo – decadencial, de 4 (quatro) anos


L termo inicial: coação – do dia em que cessar; erro/dolo/fraude/lesão/estado de
perigo – da realização do NJ

 Vicios do negócio jurídico


o Vício de consentimento - defeito de formação – descompasso entre a
declaraçãoo de vontade com o querer íntimo do declarante
o Vïcio social – defeito de manifestação – caracterizado por defeito na
finalidade para a qual a vontade é declarada.

2. DEFEITOS EM ESPÉCIE

2.1. ERRO OU IGNORÂNCIA


 Conceito - Falsa representação da realidade que influencia de maneira determinante a
manifestação de vontade – agente ENGANA-SE SOZINHO

São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de


erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio.

 Espécies de erro
o Erro acidental – refere-se a qualidades secundárias do objeto ou pessoa – não
acarretam efetivo prejuízo – NJ seria realizado mesmo que bem
representada a realidade – p.ex. erro de cálculo

o Erro substancial – erro sobre a causa determinante do NJ – caso bem


representada a realidade o NJ não teria sido celebrado

São espécies:
a) erro sobre a natureza do negócio (in negocio) – agente supõe estar
celebrando negócio jurídico diverso;
b) erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore) incide sobre a
identidade do objeto – manifestação recai sobre objeto diverso do que
queria o agente (quer a casa de campo, aluga a da cidade);
c) erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto – suposiçãoo de que
o objeto possui determinada qualidade que, posteriormente se verifica
inexistir (p.ex. pensa que o relógio é de ouro maciço, mas é folheado)
d) erro quanto à identidade ou qualidade da pessoa – referente a NJ intuitu
personae – deve influir de modo relevante na escolha (p.ex. doação ao
salvador do doador)
L erro somente essencial quando não se puder identificar a pessoa ou
coisa cogitada

Erro de direito – falso conhecimento, ignorância ou interpretaçãoo errônea


da LEI - deve ser o MOTIVO ÚNICO para ensejar anulabilidade
L alegável para evitar os efeitos de ato negocial cuja formação sofreu a
interferência de contade viciada por aquele erro (motivo único ou principal)
– p.ex. contrata importaçãoo de produto proibido

 ERRO SUBSTANCIAL e VÍCIO REDIBITÓRIO –


o o erro quanto às qualidades essenciais do objeto é subjetivo (está na
manifestação de vontade) - Prazo – decadencial, de 4 (quatro) anos

o o vício redibitório é objetivo, sobre a coisa, que contém defeito oculto


desconhecido (não facilmente perceptível) – ação edilícia rescindir o contrato
ou abater o preço – decadência em 30 dias para móveis e 1 ano para bens
imóveis

 Erro real – efetivo causador de prejuízo concreto para o interessado

 Erro obstativo ou impróprio – de relevância exacerbada – impede o consentimento


acarretando inexistência do NJ – Direito brasileiro não o distinguiu

 Falso motivo – motivo é a razão subjetiva para a realização do NJ – em regra é irrelevante,


salco uando nele for expresso, caso em que o intergrará como razão essencial do NJ

L neste caso, descoberta a falsidade do elemento motivador o NJ poderá ser aulado

 Transmissão errônea da vontade – divergência entre o querido e o que foi transmitido


(por pessoa interposta) – propicia anulaçãoo
L caso proposital a transmissão diversa a parte que escolheu o emissário responde pelo
prejuízo, com direito a regresso

 Convalescimetno do erro – erro não prejudica o NJ quando a pessoa se oferece para


executá-lo em conformidade com a vontade real do manifestante
 PARÂMETROS SOBRE O RECONHECIMENTO DO ERRO
o ESCUSABILIDADE – somente são anuláveis os NJ em que o erro é do tipo em
que incorreria qualquer pessoa que empregasse a diligência ordinária – erro
grosseiro não anula – qualidade do erro auferida face ao conhecimento do
contratante
A doutrina moderna, a exemplo do que se lê no Enunciado n.12 da I Jornada de Direito Civil, por
considerar demasiadamente abstrato o segundo requisito, com amparo no princípio da confiança, passou
a entender DEVER O ERRO SER ANALISADO TENDO EM CONSIDERAÇÃO A PESSOA DO
CONTRATANTE – MESMA IDEIA DO STJ – P.EX. EXIGE-SE MAIS DO BANCO DO QUE DO BOIA-
FRIA.
En. 12 – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não
escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.

Se o erro representou um prejuízo e é substancial, é possível, em tese, anular o negócio, não


havendo que se falar em escusabilidade. Entretanto, o STJ, aparentemente, ainda sofre influência da teoria
clássica, como se lê do REsp. 744.311/MT:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO.


DAÇÃO EM PAGAMENTO. IMÓVEL. LOCALIZAÇÃO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE
SÓLIDA POSIÇÃO NO MERCADO. ERRO INESCUSÁVEL.
1. Não se há falar em omissão em acórdão que deixa de analisar o segundo pedido do
autor, cujo acolhimento depende da procedência do primeiro (cumulação de pedidos
própria sucessiva).
2. O erro que enseja a anulação de negócio jurídico, além de essencial, deve ser
inescusável, decorrente da falsa representação da realidade própria do homem mediano,
perdoável, no mais das vezes, pelo desconhecimento natural das circunstâncias e
particularidades do negócio jurídico. Vale dizer, para ser escusável o erro deve ser de
tal monta que qualquer pessoa de inteligência mediana o cometeria.
3. No caso, não é crível que o autor, instituição financeira de sólida posição no mercado,
tenha descurado-se das cautelas ordinárias à celebração de negócio jurídico
absolutamente corriqueiro, como a dação de imóvel rural em pagamento, substituindo
dívidas contraídas e recebendo imóvel cuja área encontrava-se
deslocada topograficamente daquela constante em sua matrícula. Em realidade, se
houve vício de vontade, este constituiu erro grosseiro, incapaz de anular o negócio
jurídico, porquanto revela culpa imperdoável do próprio autor, dadas as peculiaridades
da atividade desenvolvida.
4. Diante da improcedência dos pedidos deduzidos na exordial - inexistindo, por
consequência, condenação -, mostra-se de rigor a incidência do § 4º do art. 20 do CPC,
que permite o arbitramento por equidade. Provimento do recurso especial apenas nesse
ponto.
5. Recurso especial parcialmente provido.

o COGNOSCIBILIDADE (teoria da confiança) para anular um negócio jurídico


deve ser provado que o destinatário da declaração tinha condições de perceber o
erro em que incorria o declarante, mas nada fe - qualidade do erro auferida face
à percepção do contratado de que age em erro o contratante – APROXIMA O
ERRO DO DOLO – torna-se irrelevante a grosseria do erro.
 L teoria acompanhada da proteção do interesse
negativo - – compensaçãoo para o contratante que não contribuiu
para o erro – não prevista expressamente no Brasil
Art. 144. O ERRO NÃO PREJUDICA A VALIDADE DO NEGÓCIO jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, SE OFERECER PARA EXECUTÁ-LA NA CONFORMIDADE DA
VONTADE REAL DO MANIFESTANTE.

Art. 141. A TRANSMISSÃO ERRÔNEA DA VONTADE por meios interpostos é ANULÁVEL NOS
MESMOS CASOS EM QUE O É A DECLARAÇÃO DIRETA.

2.2. DOLO
 Conceito – artifício ou expediente astucioso empregado PARA INDUZIR ALGUÉM
À PRATICA DE ATO QUE O PREJUDICA, e aproveita ao autor do dolo, ou a
terceiro.
Difere do erro, em que a vítima se engana sozinha; difere da fraude, que se consuma sem
participação pessoal do lesado; difere da simulação, em que a vítima não participa

 Espécies de dolo:
a) dolo principal – causa determinante da declaração de vontade – vicia o NJ
b) dolo acidental – NJ seria realizado mesmo a despeito, embora por outro modo –
não vicia, mas obriga ao pagamento de perdas e danos;
c) dolus bonus – tolerável – é o exagero das qualidades das mercadorias vendidas –
não pode induzir a erro;
d) dolus malus – grave – exercido com o propósito de ludibriar e prejudicar;
L cabe ao juiz dinstigui-los
e) dolo positivo (comissivo) e negativo (omissivo) – praticados por ação ou
omissão – legislador equiparou;
f) dolo de terceiro – somente enseja anulação se a parte que se aproveite tenha ou
dele devesse ter conhecimento;
g) dolo do representante – não é considerado terceiro – representado responde
solidariamente por ter criado um risco com a concretação – se a representação por
legal a responsabilidade do representado se limita ao proveito;

h) dolo bilateral – se ambos procedem dolosamente ninguém poderá alega-lo –p.ex.


estelionato;
i) dolo de aproveitamento – alguém se aproveita da situaçãoo de premente
necessidade ou inexperiência do outro contratante para obter lucro exagerado.

2.3. COAÇÃO

 Conceito – AMEAÇA ou PRESSÃO injusta exercida sobre um indivíduo para força-lo,


contra a sua vontade, à prática de ato ou celebração de NJ – violência psicológica

 Espécies de coação:
o Absoluta (física) – inocorre consentimento ou manifestação da vontade –
hipótese de inexistência
o Relativa (moral) – vítima escolhe entre praticar o ato ou correr o risco de
concretização da ameaça – vício de vontade – coação psicológica
o Principal – coação é a causa determinante
o Acidental – influencia apenas as condições da avença

 Requisitos –
3.i) deve ser a causa determinante do ato ou negócio;
3.ii) deve ser grave a coação – auferida a gravidade por um critério cocnreto –
condições particulares ou pessoais da vítima (sexo, idade, saúde, etc). NÃO
BASTA O TERMO REVERENCIAL, DESACOMPANHADO DE
AMEAÇA OU VIOLÊNCIA
3.iii) injustiçaa – não é ameaça o bexercício regular de um direiot – p.ex. protesto
do título
3.iv) ameaça deve ser referente a dano atual ou iminente – possível e inevitável
3.v) ameaça deve ser de prejuízo a pessoas ou bens da família – conceito aberto
– caso não pretença à família o uiz decidirá

 Coação exercida por terceiro – vicia se dela sabia ou deveria saber o


beneficiado – responsabilidade será solidária
L caso não haja conhecimento o negócio subsiste, responde o coator pelas
perdas e danos

2.4. ESTADO DE PERIGO


Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a
pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente
onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá
segundo as circunstâncias.

 Conceito – situação de EXTREMA NECESSIDADE que conduz uma pessoa a


celebrar NJ em que assume obrigação DESPROPORCIONAL e EXCESSIVA
L ofensa à Justiça comutativa

 Estado de perigo e lesão:

Estado de perigo Lesão


Vicia a oferta (comprometimento da vontade Vício objetivo configurado por uma usura
pela situação extrema) real
Agente é obrigado a optar entre dois males Mera necessidade patrimonial
Pode decorrer de inexperiência
Exige conhecimento do perigo – elemento Não é necessário que a outra parte saiba –
subjetivo elmento objetivo
Pode conduzir a NJ unilateral Exige desequilíbrio entre as prestações
Admite suplementação da prestação para a
manutenção do NJ

 EDP e Estado de necessidade – o EDP não exige que não haja auto-causação /
inevitabilidade

 EDP e coação – na coação somente se considera o elemento subjetivo – divórcio da


vontade real com a manifestada – não interessam as condições de celebraçãoo – no EDP
há consideraçãoo das condições objetivas em que realizado.

 Elementos do EDP:
a) uma situação de necessidade;
b) iminência de dano atual e grave – sem tempo/condições de evita-lo
c) nexo de causalidade entre a declração e o perigo – é a causa determinante
- dano não precisa ser conreto, basta a suposição e o conhecimento da
suposição pela outra parte
- não precisa ser inevitável, basta que limite gravemente a liverdade
- pode ter sido provocado pela própria pessoa
d) incidência da ameaça sobre a pessoa ou alguém que lhe inspire afeto;
e) conhecimento do perigo pela outra parte;
f) que a obrigaçãoo seja execessivamente onerosa

 Efeitos do EDP – em regra acarreta a anulabilidade do NJ. No caso de boa-fé do


contratante há conservação do negócio com redução do excesso.
L cf. CJF será conservado havendo suplementação ou redução do proveito

Sem dúvida, a aplicação do presente instituto, que salvaguarda valores sociais, é nítida na
hipótese da espúria exigência de cheque caução ou garantia assemelhada, como condição para o
tratamento médico emergencial. O estado de perigo, pois, é fundamento legítimo para invalidação do ato
negocial praticado nessas circunstâncias (REsp. 796.739/MT, REsp 918.392/RN, Resolução Normativa
n.44/2003 da ANS).

2.5. LESÃO
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional
ao valor da prestação oposta.

 Conceito – ocorre quando a pessoa sob premente NECESSIDADE ou


INEXPERIÊNCIA se obriga a prestação MANIFESTAMENTE
DESPROPORCIONAL À CONTRAPRESTAÇÃO
L é alegável por qualquer das partes

A lesão não se confunde com o estado de perigo, isso porque o estado de perigo é um vício de
aplicação específica para situações de necessidade que ponham em risco valores existenciais
fundamentais como a VIDA e a SAÚDE.
 Características:
 A parte conhece a desproporção dos valores (difere do erro)
 Contraparte não causa, mas se aproveita da situação (difere do dolo)
 Risco de dano é PATRIMONIAL e não de vida como no EDP

 Elementos
 Objetivo - manifesta DESPROPORÇÃOO
 Subjetivo – INEXPERIÊNCIA ou premente necessidade PATRIMONIAL (p.ex.
falência iminente)
L Dolo de aproveitamento é a intenção de explorar, de se aproveitar intenção de prejudicar
não é necessária

Elemento subjetivo afeto ao contrato: inexperiência com aquele tipo de negócio;


necessidade , como a impossibilidade de evitar aquele contrato

 Momento da verificação – celebraçãoo do negócio – valores vigentes neste momento


“§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores
vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.”

 Efeitos da lesão – torna ANULÁVEL (NULO cf. o CDC), salvo se:


(i) oferecido suplemento;
(ii) parte favorecida reduzir o proveito.

“§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido


suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a
redução do proveito.”

Não está presente nos contratos aleatórios – salvo se manifestamente desproporcional em


relação à álea normal do contrato.
Lesão e negócios comutativos e aleatórios
Lembrando Silvio Rodrigues, em geral, a lesão ataca negócios comutativos, e não os aleatórios.
Negócio comutativo é aquele em que as prestações são certas. Já os negócios aleatórios são
aqueles em que há incerteza em relação às prestações. Se a pessoa assina um contrato aleatório, ela
assume o risco, por isso não haverá, em regra, lesão em negócios aleatórios.

Dentro dos negócios aleatórios, temos duas espécies de negócios aleatórios:

“Emptio spei”: dentro dessa modalidade de negócio aleatório, o contratante corre o risco de não
receber prestação alguma. É a compra de uma esperança, quando o comprador assume o risco da
existência da coisa. Ex: pago cinqüenta reais a um pescador pelo que ele trouxer no barco ao final do dia; a
depender da quantidade de peixe capturado, o comprador ou o pescador sairá ganhando, mas mesmo que
não venha nada, o preço continua devido, 458; outros exemplos: colheita de uma fazenda, tesouros de um
navio afundado, ninhada de uma cadela etc.

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos
futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o
outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de
sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado
venha a existir.

“Emptio rei speratae”: o contrato para ser exigível pressupõe um mínimo de objeto da prestação.
Aqui o risco é na quantidade; então, se não vier nada ou se nada for produzido, o preço não será devido.
(parág. único do art. 459).
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o
adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá
também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver
concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à
esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não
haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.

Concluindo, A LESÃO NÃO SE APLICA AOS CONTRATOS ALEATÓRIOS POIS A PESSOA


ASSUME O RISCO DO NEGÓCIO.

Qual a semelhança e a diferença entre lesão e teoria da imprevisão?


O que há de semelhante é que tanto na lesão, quanto na teoria da imprevisão, existe
DESEQUILÍBRIO.

A lesão caracteriza-se por uma desproporção que NASCE COM O PRÓPRIO NEGÓCIO,
justificando a sua invalidade – presente no momento da celebração.

Já na teoria da imprevisão, o negócio nasce válido e se desequilibra depois, em virtude de um


acontecimento superveniente.

Ademais, aqui não se invalida nada: a imprevisão autoriza apenas a revisão ou a resolução do
negócio.

Na lesão há vício congênito. A parte vai a juízo, prova a necessidade e a inexperiência, aponta que
a lesão nasceu com o contrato e pede a invalidação. Na teoria da imprevisão não funciona assim. Essa
teoria faz valer a chamada cláusula rebus sic stantibus. Isso vem desde o Código Hamurabi em que havia
uma regra que é considerada precursora da teoria da imprevisão: “se o trigo não crescesse até uma
determinada época do ano, por ausência de chuvas, as partes deveriam modificar a tabula de contrato.” Na
imprevisão, o desequilíbrio é superveniente e nada se invalida. O negócio é realizado e resolvido.

2.6. FRAUDE CONTRA CREDORES

 Conceito - ato de disposição patrimonial que conduz o devedor à insolvência, ou a


agrava, em prejuízo de seus credores - é modalidade de vício negocial.

É necessária a anterioridade do crédito. O credor só anula um negócio jurídico se


demonstrar que já era credor antes do ato de alienação. Este crédito não precisa ser
exigível, líquido e certo.
A anterioridade do crédito é determinada pela causa que lhe dá origem,
independente de seu reconhecimento judicial.
L cf. STJ deve-se aplicar com temperamento a regra do art. 106, parágrafo
único, do CC/16. Embora a anterioridade do crédito seja, via de regra,
pressuposto de procedência da ação pauliana, ela pode ser excepcionada
quando for verificada a fraude predeterminada em detrimento de credores
futuros.
O credor deve provar também a scientia fraudis, ou seja, que o adquirente poderia ter
ciência da fraude.A scientia fraudis pode ser notória - quando se compra m imóvel,
mesmo que o alienante esteja lotado de títulos protestados; ou presumida, quando o preço
a alienação e dá a preço vil ou quando quem compra o imóvel é um parente.

 Elementos constitutivos - são cumulativos e se dividem em objetivos e subjetivos.


o Objetivo (eventos damni) – eventus damni que significa uma lesão ao credor em
função do negócio jurídico praticado, caracterizada pela dilapidação do patrimônio
do devedor (que é a garantia do adimplemento da dívida), que o conduz à
insolvência ou a agrava
o Anterioridade - (ii) que o crédito cobrado seja anterior ao ato de disposição
patrimonial praticado pelo devedor, sendo que a anterioridade é determinada pela
causa que lhe dá origem, independente de seu reconhecimento judicial.

o Subjetivo (consilium fraudis) – a má-fé do adquirente


consilium fraudis, ou seja, concerto fraudulento engendrado pelo devedor e pelo
terceiro.
Há autores, todavia, que afirmam bastar como requisito subjetivo a presença da
scientia fraudis, que é a ciência pelo adquirente de que o ato praticado conduz à
insolvência do alienante, ou a agrava.

A má-fé deve ser provada pelo credor, mas se presume também: quando
notória a insolvência, ou quando houver motivo para ser conhecida pelo
contratante (p.ex. parente; preço vil; venda de todos os bens; etc.)

 Hipóteses legais
6.i) ato de transmissãoo gratuita de bens ou remissão de dívida - a fraude é
presumida, bastando, para a anulação, a comprovação do eventus damni
6.ii)atos de transmissãoo onerosa – exige-se prova do eventos damni e também do
consilium fraudis;
6.iii) pagamento antecipado de dívida – credor que receber fica obrigado a
repor ao acervo o que recebeu, desde ue não seja privilegiado
6.iv) concessão fraudulenta de garantias – são presumivelmente fraudulentas
as grantias de dívidas que o insolvente tiver dado a algum credor – anula-se só a
garantia – não se exige prova da má-fé

6.v) Ação pauliana ou revocatória


 Natureza jurídica – desconstituciva – anula o NJ e determnna o retorno do
bem ao patrimônio do devedor
L parte da doutrina defende a ineficácia relativa do NJ

 Legitimidade ativa –
a) credores quirografários – pois o patrimônio do devedor é sua única
garantia;
b) titular de crédito anterior à alienação
c) credor de garantia especial – caso insuficiente . Mesmo o credor
preferencial pode ajuizá-la. O credor real também, quando a
garantia real se tornar insuficiente.

 Legitimidade passiva - alienantes e os adquirentes, é caso de


litisconsórcio passivo necessário unitário, pois o resultado da lide será
igual para ambos (CC 161).
L terceiro sub-adquirente, tem sua presença no polo passivo em
litisconsórcio dependente de sua boa-fé.
Não tendo ainda pago o preço os subadquirentes de boa-fé poderão depositar em juízo o
valor dos imóveis adquiridos.

Ao tratar da fraude o legislador optou por proteger o interesse do adquirente de boa-fé, de modo
que, se, como informa o enunciado, os adquirentes do imóvel fracionado ignoravam os defeitos
dos negócios que praticavam, não há como proceder à sua anulação.
Veja-se que no caso em que os subadquirentes tesjeam de boa-fé o NJ por eles
praticado não pode ser atingido, de modo que a anulação da primeira alienação não teria
um resultado útil para o credor.
Percebe-se que a anulação da primeira alienação não teria resultado útil para o credor, tendo em
vista que o bem, ora com terceiros de boa-fé, não poderia ser atingido. Em casos assim, segundo a
solução apresentada pelo STJ deve-se aplicar analogicamente o art. 182 do CC que determina que
nos casos de nulidade, não sendo possível a restituição das partes ao estado em que se achavam
antes do ato, deve-se determinar a indenização pelo equivalente. O que acarrente a
responsabilização do asegundo lienante perante o credor.

Outra questão seria o fato de a solução apresentada – indenização da credora pelo


equivalente – não ter sido requerida expressamente pela autora. Considera-se, entretanto,
que tal pedido restaria implícito no pedido de anulação, tendo em vista que segundo o
CC caso não seja possível a anulação automaticamente o pedido se converte per se em
indenizatório. Assim já decidiu o STJ.

Atento a isto o STJ declarou que :


3. "Quanto ao direito material, a lei não tem dispositivo expresso sobre os efeitos do
reconhecimento da fraude, quando a ineficácia dela decorrente não pode atingir um
resultado útil, por encontrar-se o bem em poder de terceiro de boa-fé. Cumpre, então,
dar aplicação analógica ao artigo 158 do CCivil [similar ao artigo 182 do Código
Civil de 2002], que prevê, para os casos de nulidade, não sendo possível a
restituição das partes ao estado em que se achavam antes do ato, a indenização
com o equivalente. Inalcançável o bem em mãos de terceiro de boa-fé, cabe ao
alienante, que adquiriu de má fé, indenizar o credor." (REsp 28.521/RJ, Rel.
Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 18/10/1994,
DJ 21/11/1994, p. 31769)

STJ. 4ª T. Ação pauliana. Fraude contra credores. Sucessivas


alienações de imóveis que pertenciam aos devedores. Anulação de
compra e venda de imóvel por terceiros de boa-fé. Impossibilidade.
Limitação da procedência aos que agiram de má-fé, que deverão
indenizar o credor pela quantia equivalente ao fraudulento desfalque
do patrimônio do devedor. Pedido que entende-se implícito no pleito
exordial. Amplas considerações do Min. Luis Felipe Salomão sobre o
tema. Precedentes do STJ. CCB, arts. 109 e 158. CCB/2002, arts. 161 e
182.

Prazo:
A AÇÃO PAULIANA sendo vício negocial possui PRAZO DECADENCIAL DE 4
ANOS, contados da data em que foi realizada a alienação:
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se
a anulação do negócio jurídico, contado:
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou
lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;

É possível reconhecer a fraude contra credores, de forma incidental, em um outro


processo que não seja originado por conta de uma ação pauliana?
NÃO. Nesse sentido:
Súmula 195-STJ: Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra
credores.

Já a fraude contra credores pode sim ser reconhecida incidentalmente

 Fraude não ultimada – se o adquirente ainda não houver pago o preço, desobrigar-
se-á depositando o valor em juízo e citando os interessados: valor de mercado,
pode ser complementado se inferior.

 Validade dos NJ celebrados de boa-fé pelo devedor – são válidos os NJ celebrados


pelo devedor para MANTER SUA FAMÍLIA e seu ESTABELECIMENTO –
presume-se a boa-fé – juris tantum

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção
de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.

 Efeitos de seu reconhecimento – segundo a literalidade do CC os NJ assim praticados


são considerados NULOS. A jurisprudência do STJ, por outro lado tem defendido a
ineficácia relativa da alienação perante o credor.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante
hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência
ajustada.

2.8. AÇÃO PAULIANA


A AÇÃO PAULIANA (ação revocatória e anulatória em nada diferente da ação
que será ajuizada contra os demais vícios de anulação) é o instrumento utilizado pelo
prejudicado.
a. Na transmissão onerosa, deverão estar provados os dois requisitos.
b. Na transmissão gratuita, prova-se somente o eventus damni.

O bem protegido na ação pauliana será revertido para todos os demais credores.

A legitimidade ativa é do credor anterior à fraude (credor pré-existente), os


credores posteriores não terão. No CC/16, o legítimo era o credor quirografário, porque
os demais já tem uma garantia, mas, nos termos do novo CC, o credor com garantia
também pode ter interesse na pauliana, desde que, a garantia tenha se tornado insuficiente.
Quando o cidadão quer fraudar, ele é rápido, pode acontecer que no pólo passivo figure o
terceiro adquirente de má-fé, o terceiro de boa-fé não será réu da ação pauliana, note-se
que nos contratos de boa-fé, não pode o terceiro ser colocado no pólo passivo. Se estiver
de boa-fé a lei resguarda o terceiro, o credor não irá poder perseguir o bem. Nos negócios
gratuitos, a má-fé é presumida.
A ação pauliana tem PRAZO DECADENCIAL DE 04 ANOS, a contar da
celebração do negócio fraudulento.
A jurisprudência tem permitido que seja desconstituída a personalidade jurídica
para ser alcançado o patrimônio particular do sócio, de forma a afastar a fraude contra
credores.

 BEM DE FAMÍLIA fica afastado, para não prestigiar a má-fé do devedor; o imóvel
que retornou ao acervo do devedor em decorrência da pauliana não pode ser
protegido pelo bem de família.

Concurso: qual a natureza jurídica da sentença da ação pauliana?


Há uma questão que deve ser pedida em fase discursiva. Segundo o novo CC/02,
trata-se de sentença ANULATÓRIA (artigo 165), ou seja, desconstitutiva, retornando o
bem ao patrimônio do devedor.
Acontece que existe uma parcela (minoritária) da doutrina, com base em
LIEBMAN, representada por YUSSEF CAHALI, entende que a sentença pauliana é
apenas DECLARATÓRIA da ineficácia jurídica do negócio fraudulento em face do
credor prejudicado, ou seja, o negócio é válido, mas é ineficaz em relação do credor. A
vantagem dessa posição reside no fato de que se o devedor conseguir dinheiro e pagar ao
credor o negócio é válido, mas INEFICAZ em face do credor (PABLO).

2.7. FRAUDE À EXECUÇÃO

Ato de disposição patrimonial praticado no curso de uma lide com potencialidade


de gerar a insolvência do réu, frustrando os seus resultados.

É como uma fraude contra credores qualificada pela litispendência.


Além de ofender o interesse do autor, fere a dignidade da Justiça (CPC 600, I).
Considera-se em fraude à execução quando, ao tempo da alienação, corria demanda
capaz de lhe conduzir à insolvência.
Neste caso não é necessária a ação pauliana, mas é preciso atravessar petição com
o pedido de ineficácia daquele negócio jurídico face ao credor.

INEFICÁCIA RELATIVA - não obstante válido entre as partes, não produz


efeitos relativamente ao credor (inoponibilidade). Ao receber a petição o juiz poderá
emitir uma decisão interlocutória tornando ineficaz o ato perante o credor e sujeitando o
bem à execução.
Conforme a jurisprudência, mesmo antes a citação, caso seja possível demonstrar
que ele a evitava e que tenha havido atos de disposição patrimonial (Inf. 220 do STF).
a. Negócios jurídicos gratuitos - Quando o negócio jurídico é gratuito, a fraude é
presumida, bastando, para a ineficácia, a comprovação do eventus damni - é a
necessidade de demonstração do nexo causal entre a insolvência e o ato de disposição
do devedor.
b. Negócios jurídicos onerosos - Também exige o eventus damni, cabendo ao autor
comprovar o nexo de causalidade entre o negócio jurídico oneroso e a insolvência do
réu.

O credor deve provar também a scientia fraudis, ou seja, que o adquirente poderia ter
ciência da fraude.
A scientia fraudis pode ser notória - quando se compra m imóvel, mesmo que o alienante
esteja lotado de títulos protestados; ou presumida, quando o preço a alienação e dá a preço
vil ou quando quem compra o imóvel é um parente.

 Fraude à execução qualificada - É possível alienar bens penhorados, mas caso a


penhora esteja registrada haverá fraude à execução qualificada, pois que isto gera
presunção absoluta de fraude. Dispensa-se a scientia fraudis dado o registro.
O registro da penhora sequela/afeta o bem à execução, destarte, qualquer oneração do
mesmo é fraudulenta. Ou seja, também se dispensa o eventus damni.
Entretanto, não existente o registro, pode o adquirente elidir a fraude demonstrando
que efetuou o negócio regularmente (STJ 375).

Exceção: Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu


começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário
regularmente inscrito como dívida ativa. O disposto não se aplica na hipótese de terem
sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da
dívida inscrita. Dispensa o registro da penhora

 Fraude à execução antecipada - É possível registrar em cartório a certidão da


distribuição de execução em juízo.
À partir do registro da certidão qualquer ato de disposição de bens será presumido
fraudulento (presunção absoluta).
 Efeitos - A rigor o efeito da fraude contra credores não é a anulabilidade do negócio,
mas sim a inefiçacia relativa.

A sentença em uma "ação pauliana / decisão em petição atravessada" não anula o negócio
jurídico fraudulento, mas sim declara a sua inoponibilidade perante o credor. Ou seja, o
negócio fraudulento permanece válido, a transferência do bem permanece, mas se averba a
penhora do bem. Instaura-se uma responsabilidade patrimonial secundária (uma pessoa se
torna responsável pela dívida de outrem - como fiador, avalista...).

 Características:
a) é incidente do processo (litispendência de ação cpaz de levar à
insolvência, ou contra isolvemte
b) litispendência considera a citaçãoo como marco, mas cf. STJ cabe ao
terceiro adquirente provar que que desconhecia a a’ão distribuída
(inversão do ônus) – o registro serve como prova da má-fé
Em certos casos cf. STF e STJ é reconhecida a fraude mesmo antes da
citação

FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO


Não há processo judicial em andamento. É Há processo judicial em andamento, tratando-
instituto de direito material se de instituto de direito processual
O que está sendo fraudada é a atividade
O que está sendo fraudado é o crédito do
estatal de jurisdição (interesse do credor E
credor, prejudicando o credor.
DO ESTADO)
Quando o juiz reconhece a fraude, ele
Quando o juiz reconhece a fraude, ele
considera ineficaz perante o credor a venda
considera anulado o ato.
ou gravame ineficaz.
Não tem reflexos penais Pode ter reflexos penais
Exige ação pauliana, autônoma e específica Declarável incidentalmente
TEORIA DAS NULIDADES

O conceito que carece de algum elemento estrutural é inexistente, é puro fato.

Nulidade é uma sanção imposta pelo ordenamento aos negócios jurídicos cujos
elementos estruturais apresentam alguma desconformidade com os requisitos do
ordenamento, o que os torna passíveis de serem privados de seus efeitos jurídicos.
No Direio Civil, a simples desobediência da forma é ofensa à norma de ordem pública
que acarreta em nulidade. Não precisa haver prejuízo para o ato ser inválido, mas se
houver prejuízo, além da invalidação, haverá o dever de reparar os danos causados.
O negócio jurídico SÓ É NULO APÓS A DECLARAÇÃO JUDICIAL não há
nulidade de pleno direito. Excepcionalmente no direito administrativo a Administração pode
anular os seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais.
A nulidade pode ser alegada pelo MP, por qualquer interessado e até pelo juiz ex
officio OU PELA PESSOA QUE DEU CAUSA à nulidade.
Entretanto, conforme a Súmula 381 do STJ, nos contratos bancários o juiz não pode
apontar de ofício a abusividade de cláusulas. Ofende o art. 5º, XXXII da proteção ao
consumidor. Desde a ADI 2591/DF o STF fixou que contrato bancário é contrato de
consumo.
 O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo
decurso do tempo (imprescritível/perpétua). A impossibilidade de sanação decorre
da gravidade do vício. Mas é possível a repetição do negócio jurídico nulo, com
efeito "ex nunc".
Para Caio Mário, em 10 anos o ato deve se consolidar em prol da garantia à
segurança jurídica das situações estabelecidas. Humberto Theodoro Jr. diz que às
vezes a nulidade prescreve, em outros não. O critério é saber se o ato já foi executado
(prescreverá) ou não (não prescreve).

A nulidade é OBJETIVA, não interessando a intenção dos agentes ao celebrá-lo.


A anulabilidade é uma espécie de invalidade, e toda invalidade é congênita, portanto,
quando uma sentença declara um negócio jurídico como anulável, seus efeitos são ex
tunc, sendo eliminados do mundo jurídico a eficácia provisória da qual, até então, era
dotado o ato.
A anulabilidade e a nulidade somente se diferenciam antes da sentença. Após, o efeito
é o mesmo, qual seja, a recomposição das partes a seu estado originário. É o que diz o CC
182, "anulado o negócio restituir-se-ão as partes ao estado em que antes se encontravam".

 Características elementares da nulidade do negócio jurídico:


a) Opera-se de pleno direito;
b) Pode ser invocada por qualquer interessado, inclusive pelo Ministério Publico;
c) Inadmite confirmação, sendo, pois, irratificável;
d) É imprescritível;
e) Pode ser conhecida ex officio pelo juiz.

2.ESPÉCIES DE NULIDADE
a) Absoluta – caso em que a inobservância de requisito legal que afeta interesse
social – há uma ofensa a preceito de ordem pública;
b) Relativa – vício que o atinge pode ser inquinado ou sanado;
c) Total – atinge todo o NJ;
d) Parcial – afeta parte do NJ – quando não prejudica a parte válida há separação
pelo princípio da conservação;
e) Textual – expressa na lei;
f) Implícita – deduzida.

3. NULIDADE (NULIDADE ABSOLUTA)

É nulo o NJ quando:
a) Agente ABSOLUTAMENTE incapaz: incapacidade deve ser absoluta
b) For ilícito, impossível ou indeterminável o seu OBJETO
c) O motivo determinante, comum a AMBAS AS PARTES, for ilícito (se o motivo
permanecer na esfera pessoal do agente, não é causa de nulidade do negócio
jurídico).
Se só uma das partes visar motivo determinante ilícito não há
problema
PS (Rodrigo): há autores que diferenciam causa e motivo do negócio
jurídico. A causa seria a finalidade declarada do negócio, e o motivo o
conjunto de razões internas – pessoais – que levaram as partes à
celebração do NJ. Ou seja, o motivo, por ser interno, subjetivo, em
princípio não anularia o NJ se afeto à somente uma das partes. Caso seja
ilícito e COMUM A AMBAS AS PARTES, teria força para anulá-lo. A
causa é comum a todos os NJ da mesma espécie (ex.: causa de um
contrato de locação seria a transferência da posse mediante recebimento
do valor; causa de uma compra e venda é a transferência de propriedade
mediante pagamento do preço). Ela não interferiria na validade do NJ.
d) Não revestir a FORMA prescrita em lei. Exemplo: escritura pública de compra e
venda de imóveis com valor superior a 30 SM.
e) For PRETERIDA ALGUMA SOLENIDADE que a lei considere essencial para a
sua validade (é hipótese muito próxima da prevista no item anterior). EXEMPLO: o
casamento deve ser celebrado de portas abertas. Não deixa de ser hipótese de
inobservância de forma.
f) Tiver por OBJETIVO FRAUDAR LEI imperativa (difere da simulação, porque
aqui, o negócio é de verdade, mas viola lei imperativa, p. ex., querer vender lotes
sem atender aos requisitos legais, o sujeito começa a vender partes ideais, sem
obedecer à Lei de Parcelamento do Solo). Essa fraude à lei é muito genérica, ampla,
não há uma vítima específica, ocorre muito nos âmbitos do Direito Trabalhista e
Direito Tributário.
g) A lei TAXATIVAMENTE O DECLARAR NULO, ou proibir-lhe a prática
sem cominar sanção (parte final é novidade) (venda de ascendente para
descendente, no CC/02, é expressamente prevista como negócio ANULÁVEL).
h) O art. 167 contempla outra hipótese específica de nulidade: a SIMULAÇÃO,
caracterizada pela manifesta desconformidade entre a vontade declarada pelas
partes e a vontade concretamente pretendida por elas. Enfim, o desajuste entre
vontade real e a vontade afirmada negocialmente. Ressalte que no Código Civil
de 1916, ao contrário do CC/2002, a simulação era causa de anulabilidade.(a
simulação será tratada com mais detalhes adiante).

Em virtude da gravidade do vício infringido, violado, considera o ordenamento


jurídico que o ato ou negócio nulo não produza qualquer efeito jurídico, podendo,
inclusive, ser reconhecido como tal ex officio, pelo próprio juiz, ou a requerimento do
interessado ou do Ministério Público, quando tenha de intervir.

Como se trata de vício não convalidável, o negócio jurídico NULO não é


suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169). Percebe-se,
assim, em que pese as antigas divergências doutrinárias, QUE O ATO NULO NÃO
PRESCREVE.

4. EFICÁCIA DO NEGÓCIO NULO


Em virtude da gravidade do vício infringido, violado, considera o ordenamento
jurídico que o ato ou negócio nulo não produza qualquer efeito jurídico, podendo, inclusive,
ser reconhecido como tal ex officio, pelo próprio juiz, ou a requerimento do interessado ou
do Ministério Público, quando tenha de intervir.
Como se trata de vício não convalidável, o negócio jurídico não é suscetível de
confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169). Percebe-se, assim, em que
pese as antigas divergências doutrinárias, que o ato nulo não prescreve.
PS (Rodrigo): Doutrina moderna sustenta que o ato, mesmo nulo, pode produzir
efeitos, desde que não seja requerida sua invalidação, o que pode ser facilmente
perceptível na vida prática (celebrado contrato nulo, mas que não se suscite sua nulidade,
ele produzirá sim efeitos).
 Eficácia do negócio jurídico inválido - eficaz é o negócio jurídico que tem aptidão
para gerar os efeitos jurídicos desejados pelas partes. Em princípio a sanção do
ordenamento jurídico a um negócio jurídico nulo é a ineficácia. Mas as regras
devem ser ponderadas tanto quanto os princípios. Há, destarte, casos em que,
embora nulos, é recomendável que os negócios jurídicos prossigam produzindo
efeitos para proteger a boa-fé dos participantes do negócio jurídico e de
terceiros. Por exemplo, embora anulável, ou mesmo o nulo o casamento, produz
efeitos perante os filhos. e, se um dos cônjuges está de boa-fé, produzirá efeitos em
relação a eles. E ainda, o Boletim 176 do STF afirma que a teoria da nulidades do
Direito Civil não se aplica ao Direito Trabalhista, sob pena de enriquecimento sem
causa do empregador.
Outro grande exemplo é o dos ATOS E NEGÓCIOS PRATICADOS COM
FUNDAMENTO EM LEI DECLARADA INCONSTITUCIONAl e a MODULAÇÃO
DOS EFEITOS DA DECLARAÇÃO PELO STF.

NULIDADES
Podem gerar EFEITOS INDIRETOS (p. ex. compra e venda nula não gera efeitos diretos
de compra e venda, mas pode justificar a posse do comprador)

Assim, pode-se apresentar as características elementares da nulidade do


negócio jurídico:
a) Opera-se de pleno direito;
b) Pode ser invocada por qualquer interessado, inclusive pelo Ministério Publico;
c) Inadmite confirmação, sendo, pois, irratificável;
d) É imprescritível;
e) Pode ser conhecida ex officio pelo juiz.
CONVERSÃO SUBSTANCIAL (artigo 170), que consiste na conversão do negócio
jurídico nulo (o anulável possui outros remédios) em outro negócio jurídico válido, desde
que respeitados dois requisitos:
a) presença dos requisitos do negócio jurídico novo no negócio jurídico nulo (negócio
jurídico de compra e venda de imóvel nulo porque feito por escritura particular)
e
b) as partes devem querer o negócio jurídico novo se soubessem da nulidade (pode
ser aproveitada como promessa de compra e venda, desde que se possa concluir
que as partes, se soubessem da necessidade de escritura pública o teriam feito)

Esse instituto tem pertinência com o PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO. A conversão


substancial é uma medida sanatória, por meio da qual aproveitam-se os elementos materiais
do negócio jurídico inválido, convertendo-o em outra categoria de negócio válido e de fins
lícitos. (KARL LARENZ).
Enunciado 13 do CJF: “O aspecto objetivo da conversão requer a existência do suporte fático
no negócio a converter-se”.
A conversão substancial aplica-se, em regra, apenas aos negócios jurídicos nulos, uma vez
que os anuláveis podem ser convalidados pela simples manifestação de vontade das
partes interessadas, sendo desnecessária a aplicação da teoria do aproveitamento
(excepcionalmente, aplica-se aos atos anuláveis que não sejam passiveis de ratificação).
Tratando-se de aproveitamento de ato nulo, clama reconhecimento judicial, se presente seus
pressupostos. SOMENTE O JUIZ, PORTANTO, PODE DECLARAR O
APROVEITAMENTO DA VONTADE MANIFESTADA EM NEGÓCIO NULO.
Pode gerar o efeito da CONVERSÃO APARENTE – o tipo negocial é o mesmo, p. ex.,
escritura pública de compromisso de compra e venda, que não é válida como pública, mas
pode ser aproveitada como instrumento particular, que também valida o compromisso de
compra e venda.

4.1. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS-


no Direito Civil contemporâneo, em que todo negócio jurídico tem sua função social , a
regra deve ser a conservação dos negócios jurídicos que cumpram sua função social.

 Redução do negócio jurídico - retira-se a parte inválida de um negócio jurídico,


mantendo-se a parte válida. Respeitada a vontade das partes, a invalidade parcial
de um negócio jurídico não influi na parte válida se esta for separável. Por exemplo,
a redução de juros que ultrapassem o limite legal.

 Conversão substancial do negócio jurídico - verifica-se quando um negócio


jurídico inválido produz efeitos de um outro negócio que as partes teriam desejado
se soubessem na nulidade que o acometia. Conversão, por exemplo, de um contrato
de compra e venda firmado em instrumento particular em uma promessa de compra
e venda. Não pode ser usado em negócio jurídicos inexistentes, pois estes não
entram no ordenamento.Também não se pode utilizá-la em negócios jurídicos
ilícitos. O que o ordenamento quer é que os negócios celebrados se preservem.
Espécie de equivalente da fungibilidade.
4. ANULABILIDADES (NULIDADES RELATIVAS)
 Conceito – desconformidade dos elementos estruturais do NJ com requisitos do
ordenamento afetos a interesses PARTICULARES de pessoas que o legislador decidiu
proteger Tem-se presente, basicamente, o interesse privado, não havendo, via de
consequência, gravidade tão relevante quanto na hipótese de nulidade.

A anulaçãoo depende de declaraçãoo judicial, sendo produzidos efeitos até a anulaçãoo

 Causas de anulabilidade
a) Negócio firmado por RELATIVAMENTE INCAPAZ SEM ASSISTÊNCIA;
Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em
benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, SALVO se, neste caso, for
INDIVISÍVEL o objeto do direito ou da obrigação comum

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação,
invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato
de obrigar-se, declarou-se maior.

b) Negócio com vício social, ou de consentimento;


c) Negócio firmado sem o necessário assentimento de terceiro.

 Características das anulabilidades podem ser organizadas da seguinte forma:


a) O negócio existe e gera efeitos concretos até que sobrevenha a declaração de
invalidação;
b) Somente a pessoa juridicamente interessada poderá promover a anulação
negocial;
c) Admite-se ratificação;
d) Submete-se aos prazos decadenciais;
e) O juiz não pode conhecer a anulabilidade de ofício, nem o Ministério Público
pode suscitá-la.

 Alegação da nulidade RELATIVA em juízo - ao existe anulabilidade virtual, só


textual. JUIZ E MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO PODEM PROMOVER DE
OFÍCIO. A nulidade opera com força de lei, a anulab com a vontade do
prejudicado. sem efeito até a sentença e só aproveita a quem alegá-la.
Eventualidade. vontade anulatória. Tudo foi feito por jogo do bicho. Exceção
substancial - defesa indireta - afirma existência do negocio, mas alega um vício.
Alegar nulidade em defesa é objeção substancial, é diferente da exceção, pois é
defesa indireta de mérito em matéria de ordem pública. Destarte o juiz pode suprir a
inércia da parte.

 Confirmação/convalidação/sanação do negócio jurídico anulável - Tratando-se


de vícios de natureza privada, ato anulável admite a confirmação, que pode ser
expressa ou tácita, resguardando-se, por óbvio, os direitos de terceiros.

O ATO DE CONFIRMAÇÃO deve conter a substância do negócio celebrado e a


vontade expressa de mantê-lo (art. 173, CC). Caso o devedor já tenha cumprido parte
do negócio, ciente do vício que o maculava, a confirmação expressa será dispensada
(art. 174, CC). (outra hipótese do princípio da conservação dos negócios jurídicos).
 Pode ser feita pela própria pessoa, ou por terceiros, caso a
validade do negócio dependa de sua autorização (anuência), ou ainda
 tácita, quando o negócio for cumprido em parte, dando a
entender por inquinado o vício (venire contra factum proprium) ou pela
decadência, quando a ação anulatória não seja ajuizada em 4 (quatro)
anos - lembrando que o prazo só começa a correr do dia em que cessar a
incapacidade. A regra para anulaçao de ato é de decadência em 2 anos da
conclusão do ato. Pode ser feita por meio de novação (mas não pode haver
novação de negócio jurídicos nulos). A confirmação é unilateral, pois basta
a declaração de vontade daquele que foi vítima da anulabilidade. Gera
efeitos "ex tunc".

 Invalidade do instrumento – não conduz à invalidade do NJ – se possível sua


prova por outro modo

 Invalidade das disposições acessórias – não prejudica a principal – mas


invalidade da principal afeta as acessorias

O ato ou negócio jurídico anulável produzirá regulares efeitos até que lhe
sobrevenha decisão, no sentido de impedir que continuem se produzindo.

 Efeitos da sentença anulatória - Os efeitos da sentença anulatória, segundo o art.177 do CC, são
inter partes (com exceção dos casos de indivisibilidade e solidariedade) e ex nunc (não retroativos).

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem
se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.

Entretanto, alguns doutrinadores (minoritários) entendem que o art. 182 traz efeitos retroativos
(ex tunc), parciais, pois, anulado o negócio jurídico, as partes voltam ao estado anterior (Pablo Stolze,
Flávio Tartuce e Zeno Veloso).
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em
que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão
indenizadas com o equivalente.

Legitimidade para suscitar - SOMENTE ÀS PARTES E INTERESSADOS


PODERÃO SUSCITÁ-LA, não sendo possível ao juiz conhecê-la de ofício ou ao
Parquet suscitá-la quando tiver de intervir no processo.
 PRAZO - Em regra, o prazo (decadência) para pleitear a anulação de negócio
jurídico, nos temos do art. 178, é de QUATRO ANOS.
Em regra, o prazo para propor a ação anulatória será de 04 anos, a contar de:
a) no caso de coação, do dia em que ela cessar;
b) no caso de vícios do consentimento, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
c) no caso de atos praticados por incapazes (relativamente), NO DIA EM QUE CESSAR A
INCAPACIDADE.

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, SEM
ESTABELECER PRAZO para pleitear-se a anulação, SERÁ ESTE DE
DOIS ANOS, a contar da data da conclusão do ato.

Neste caso, o prazo será de 02 anos quando a lei disser que um determinado ato é anulável,
porém, não estabelecer o prazo para se pleitear a anulação. Exemplo: hipótese prevista no art. 496 do
CC.

Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os


outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido.
Assim, segundo o enunciado 368 da IV Jornada do STJ, “o prazo para anular venda de ascendente
para descendente é decadencial DE DOIS ANOS (art. 179 do Código Civil)”, estando superada a
súmula 494 do STF.

Sentença que reconhecer a nulidade QUANTO A SENTENÇA QUE RECONHECER


A ANULABILIDADE PRODUZIRÃO EFEITOS EX TUNC, reconduzindo as partes
ao status quo anterior. Nesse sentido, Leonardo Mattietto afirma, com precisão cirúrgica,
ser “equivocada a afirmação, tão comum, de que a sentença que declara que um ato é nulo
produz efeitos ex tunc, ao passo que a sentença que decreta a anulação de um ato jurídico
produz efeitos ex nunc. Ambas, na realidade, produzem efeitos ex tunc, pois, como prevê a
lei civil, devem as partes retornar ao estado anterior (art. 182). A eventual proteção de
terceiros de boa-fé, diante dos efeitos da anulação, não infirma este raciocínio, nem obsta
o reconhecimento da invalidade.
Disso não diverge Zeno Veloso, elucidando que “tanto a sentença de nulidade
quanto a que anula o negócio têm eficácia retrooperante, restaurando o estado anterior.
Desfazem-se as obrigações e direitos fundados no negócio anulado; as partes restituem-se
mútua e reciprocamente”.
De fato, o negócio nulo não produz efeitos, enquanto o anulável produz
condicionados à não-prolação de uma sentença desconstitutiva. Ora, sobrevindo tal
decisão, no entanto, estará comprometendo o negócio em sua própria formação e origem,
desfazendo todas as consequências produzidas. Portanto, a nulidade e a anulabilidade, uma
vez proclamadas, reconhecidas, aniquilam o ato negocial, restituindo as partes ao status
quo ante.
O art. 171 da Codificação dispõe sobre a anulabilidade, determinando que, “além
dos casos expressamente declarados em lei, é anulável o negócio jurídico: I – por
incapacidade relativa do agente; II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado
de perigo, lesão ou fraude contra credores”.
Insista-se que, por força do art. 167 do Codex, a simulação não mais é causa de
anulabilidade do negócio, porém de nulidade, não produzindo qualquer efeito o ato
simulado.
Serão anuláveis, assim, além dos previstos em lei, os atos praticados por agente
incapaz relativamente (art. 4.º, CC) ou com defeito do negócio jurídico (que podem dizer
respeito ao consentimento – erro, o dolo ou a coação, a lesão e o estado de perigo – ou ao
prejuízo imposto a terceiros – é o caso da fraude contra credores). (arts. 172/184)
5. DISTINÇÕES ENTRE NULIDADES E ANULABILIDADES

CARACTERÍSTICAS
NULIDADES ANULABILIDADES
Não há nulidades sem texto, sempre devem os casos estar previstos na lei.
Somente as partes podem alegar,
ou seja, somente aqueles que tenha
Qualquer pessoa interessada pode alegar, inclusive legítimo interesse jurídico na
o MP. propositura da ação anulatória
(artigo 177).
O MP não pode alegar.
Deve o juiz conhecer de ofício, independentemente
de alegação e de ser a discussão principal do
processo.
O juiz não pode conhecer de ofício
EXCEÇÃO: Há dispositivos da lei que estabelecem
nulidades que não podem ser acolhidas de ofício
pelo juiz, p. ex., nulidades do casamento. Artigo 168

Pode ser confirmado pelas partes,


salvo direito de terceiro (art 172 a
175). PABLO afirma que deve ser
O negócio jurídico nulo NÃO é suscetível de
terceiro de BOA-FÉ.
confirmação, nem convalesce pelo decurso de
Ato de confirmação deve conter a
tempo (artigo 169), ou seja, o nulo é
substância do negócio celebrado e a
IMPRESCRITÍVEL. Admite-se a repetição.
vontade expressa de mantê-lo (art
Dizia no CC/16 que o nulo teria que prescrever
173); a confirmação pode ser também
mesmo que em prazo maior, agora o CC/02 é
tácita, comportamento no sentido de
expresso a dizer que o nulo não prescreve. Godoy:
confirmar o negócio.
isso está errado quando se tratar de direitos
patrimoniais, podendo causar graves injustiças.
A anulabilidade DECAI, se a lei
PABLO: os efeitos patrimoniais não sofrem os
não estabelecer prazo específico, o
efeitos da imprescritibilidade, a DECLARAÇÃO é
prazo será de 02 anos. Ação
imprescritível, a condenação não o é, está
anulatória se submete aos prazos
submetido ao prazo prescrional de 03 anos. A
decadenciais:
imprescritibilidade refere-se à declaração de
04 anos = prazo clássico mais
nulidade do negócio jurídico, muito embora,
conhecido, contado nos termos do
eventual pretensão condenatória de natureza
art. 178.
patrimonial seja prescritível no prazo de lei.
02 anos = nos demais casos não
constantes no art. 178, como
determina o art. 179.

A decisão do juiz que reconhece uma


Não gera qualquer efeito direto, de tal forma que o
anulabilidade é de natureza
reconhecimento é feito por decisão com natureza
CONSTITUTIVA NEGATIVA ou
DECLARATÓRIA
DESCONSTITUTIVA.
Efeito ex nunc = ERRADO.
Efeitos EX TUNC
PABLO: disse que o efeito é ex
tunc. A sentença anulatória é uma
sentença, em regra, desconstitutiva,
produzindo efeitos ex nunc, ou seja,
para o futuro. Mas nesse caso
específico a sentença anulatória tem
eficácia retroativa, tem efeito EX
TUNC, para recompor as partes ao
estado anterior (status quo ante),
conf. Art. 182 do CC.

5. SIMULAÇÃO
A simulação, como causa de nulidade, foi tratada pelo art. 167 do Código Civil de
2002.
A simulação é um grande disfarce. O sujeito declara exatamente a vontade que
queria declarar, entretanto para essa declaração a lei reserva um determinado efeito
jurídico, não pretendido pelo sujeito.
A característica fundamental do negócio simulado é a divergência INTENCIONAL
entre a vontade e a declaração. Há, na verdade, oposição entre o pretendido e o declarado.
As partes desejam mera aparência do negócio e criar ilusão de existência. Os contraentes
pretendem criar aparência de um ato, para assim surgir aos olhos de terceiros.
Na verdade, o emissor da vontade quer um outro efeito jurídico, que está oculto, o
sujeito não quer alcançar o efeito jurídico que está evidente. O que aparece não é o que o
sujeito quer, na verdade, a simulação é uma grande mentira. A simulação sempre
decorre de um acordo.
Na simulação, celebra-se o negócio jurídico que tem aparência normal, mas que
não pretende atingir o efeito que deveria produzir. No Código Civil de 1916, havia uma
distinção entre a simulação inocente (aquela que não frauda à lei e não causa prejuízo a
terceiros) e maliciosa, o que não foi repetido pelo novo CC, quando se verifica a farsa, é
causa de invalidade do negócio jurídico.
O juiz, diante do contrato simulado, se puder, aproveita-o, em decorrência do
princípio da conservação. Frise-se que existe corrente doutrinária minoritária, que entende
que a simulação só seria causa de nulidade se causasse prejuízo de terceiros ou
infringência à lei, ou seja, a simulação maliciosa (Cristiano Chaves, citando Sílvio
Rodrigues).
A simulação passou a ser tratada como nulidade por conta da agiotagem, explica-se:
no artigo 104, CC/16, que dizia que quem tinha dado causa à simulação não poderia alegar
a sua anulação; isso causava um problema no caso de empréstimos usurários, que sempre
funcionam por meio de negócios disfarçados. Por exemplo: pacto comissório que é a
possibilidade de o credor ficar diretamente com a coisa dada em garantia, o que é vedado.
Sendo tratada como nulidade, a simulação PODE SER ALEGADA POR QUEM
TENHA PARTICIPADO, PERMITINDO A ALEGAÇÃO DE SIMULAÇÃO.
Mas o legislador foi sábio, porque deu com uma mão (alegação de nulidade) e
segurou com a outra, já que a nulidade do negócio jurídico simulado NÃO PODERÁ
JAMAIS PREJUDICAR TERCEIRO DE BOA-FÉ.
 Conceito – declaração falta da vontade visando aparentar NJ diverso do efetivamente
desejado.
L intuito de engar terceiros OU fraudar a lei

 Características:
a) NJ bilateral, ou unilateral recptício
b) Conluio enter as partes
c) Declração deliberada desconforme à real intenção
d) Intuito de fraudar lei/enganar terceiros

 Espécies:
o Absoluta – partes simulam a realizaçãoo de um NJ (declaraçãoo não é
destinada a produzir resultado. As partes criam um negócio jurídico destinado
a não gerar efeito nenhum. Exemplos: assinatura da promissória para
enganar os credores; a venda do imóvel locado para encerrar a locação;
marido com receio da separação de bens, simula com o amigo a transferência
de bens, que na verdade ficarão guardados para o marido.
o Relativa – partes realizam outro NJ para esconder o que realmente desejam,
fraudando a lei ou prejudicando terceiros. O negócio jurídico existe, mas não
do jeito em que foi declarado.
Esconde um outro negócio jurídico, cujo efeito é proibido por lei. Exemplo:
compra e venda por preço menor que esconde a compra e venda por preço
maior; quando houver interposta pessoa.

 Diferença da dissimulação – esta visa ocultar o que é verdadeiro

 Efeitos – é nulo o NJ, mas subsistem o que se dissimulou – caso válido há também a
proteçãoo de terceiros de boa-fé – quer dizer, o negócio é inoponível a eles

 Hipóteses legais:
Aparencia de tramsissão de direitos a pessoa diversa da efeiva;
Contiver o NJ declração, cláusula ou condiçãoo não verdadeira
Instrumentos ante ou pós-datados

Reserva mental – se deconhecida pelo contratante é irrelevante. Caso conhecida


há nulidade cf. o CC.

Вам также может понравиться