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J Bras Patol Med Lab • v. 47 • n. 3 • p. 217-223 • junho 2011 review article

A importância da qualidade da água reagente no Primeira submissão em 19/05/11


Última submissão em 19/05/11
Aceito para publicação em 20/05/11
laboratório clínico Publicado em 20/06/11

The importance of water quality in clinical laboratory reagent

Maria Elizabete Mendes1; Carla Costa Fagundes2; Cláudio Campos do Porto3; Laiz Cameirão Bento4;
Thiago Guarato Rodrigues Costa5; Ricardo Alexandre dos Santos6; Nairo Massakazu Sumita7

unitermos resumo
Água reagente A água é um reagente utilizado na maioria dos testes laboratoriais e por isso deve seguir um padrão
Tecnologias de purificação
de controle de qualidade rigoroso. O fornecimento urbano de água apresenta moléculas orgânicas,
íons inorgânicos, partículas, coloides, gases, bactérias e seus produtos, que podem alterar os resultados
Interferentes dos exames laboratoriais e causar eventuais erros e falhas mecânicas em equipamentos analíticos. Para
Métodos de purificação remover essas impurezas, é necessário recorrer a uma combinação de tecnologias de purificação. Há
de água várias organizações que especificam normas sobre a água reagente, a fim de minimizar sua interferência
nos ensaios laboratoriais. A maioria dos laboratórios utiliza as normas estabelecidas pelo Clinical
and Laboratory Standards Institute (CLSI) que classifica a água em: clinical laboratory reagent water
(CLRW), special reagent water (SRW) e instrumental feed water (IFW). O monitoramento da qualidade
é realizado pela determinação de resistividade, condutividade, carbono orgânico total (TOC), controle
microbiológico e endotoxinas. Os parâmetros são avaliados de acordo com a periodicidade estabelecida
pela norma utilizada. Neste artigo, discutem-se a importância da água utilizada nos procedimentos
laboratoriais, o controle da qualidade e as interferências nos ensaios laboratoriais.

abstract key words


Water is a reagent used in most laboratory tests and, therefore, must follow stringent quality control standards. Reagent water reagent
The urban water supply has organic molecules, inorganic ions, particles, colloids, gases, bacteria and their Purification technologies
products, which may alter laboratory test results and cause occasional errors and mechanical failures
in diagnostic equipment. To remove these impurities, it is necessary to use a combination of purification Interfering

technologies. There are several organizations that specify reagent water standards to minimize its interference Water purification methods
in laboratory assays. Most laboratories set standards established by the Clinical and Laboratory Standards
Institute (CLSI), which classifies the type of water as follows: clinical laboratory reagent water (CLRW), special
reagent water (SRW) and instrumental feed water (IFW). The quality monitoring is performed by means of
assessing the resistivity, conductivity, total organic carbon (TOC), microbial control and endotoxins. The
parameters are evaluated in accordance with the frequency determined by the standard used. In this article
we discuss the importance of water employed in laboratory procedures, its quality control and its interference
in laboratory assays.

1. Doutora em Medicina (Patologia); médica patologista clínica; chefe da Seção Técnica de Bioquímica de Sangue da Divisão de Laboratório Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (DLC/HC-FMUSP) (LIM-03 da Patologia Clínica); coordenadora do Núcleo de Qualidade e Sustentabilidade da DLC/HC-FMUSP.
2. Biomédica (aprimoramento em Patologia Clínica no HC/FMUSP).
3. Farmacêutico bioquímico; farmacêutico do Serviço de Bioquímica Clínica da DLC/HC-FMUSP.
4. Biomédica (aprimoramento em Patologia Clínica no HC/FMUSP).
5. Biomédico (aprimoramento em Patologia Clínica no HC/FMUSP).
6. Farmacêutico bioquímico; farmacêutico do Serviço de Bioquímica Clínica da DLC/HC-FMUSP.
7. Doutor em Medicina; professor da disciplina de Patologia Clínica da FMUSP; médico patologista clínico; diretor do Serviço de Bioquímica Clínica da DLC/HC-FMUSP (LIM-03 da Patologia
Clínica); assessor médico em Bioquímica Clínica do Fleury Medicina e Saúde.
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metros de qualidade para as aplicações da água reagente, a fim


Introdução
de minimizar suas interferências nos ensaios utilizados(5). Entre
As decisões clínicas apoiam-se não somente no resul- elas, estão Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
tado do teste, mas na conjugação de sua história clínica American Society for Testing and Materials (ASTM), Standard
com os sintomas. Os resultados laboratoriais de qualidade Methods for Analysis of Water and Wastewaters, United States
dependem da confiabilidade da instrumentação e da qua- Pharmacopeia (USP)(5, 7-9), American Chemical Society (ACS),
lidade da água. Fatores analíticos precisam ser controlados British Standards Institute (BSI), International Organization
e otimizados para reduzir o número de possíveis falhas que for Standardization (ISO)(9), College of American Pathologists
possam se refletir nos resultados(6). (CAP)(10), Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI)(6) e
Organização Mundial da Saúde (OMS)(10). Essas especificações,
A água é um elemento essencial que contribui para o
envolvendo tipos, métodos de obtenção e controles necessários
desenvolvimento e a qualidade do laboratório. É o reagen-
para a utilização correta, auxiliam as equipes que atuam nos
te mais utilizado na prática laboratorial(6). Em função da
laboratórios(11).
natureza química de sua molécula, as propriedades físicas
e químicas da água diferem muito das de qualquer outra A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 302:2005, da
substância. Uma característica da água, no estado líquido, ANVISA, preconiza que o laboratório clínico, em sua fase
é a sua capacidade de dissolver substâncias polares ou analítica, deve definir o grau de pureza da água reagente
iônicas para formar soluções aquosas. Ela tem forte poder utilizada em suas análises, a forma de obtenção e o controle
de dissociação e, como consequência, o material dissolvido da qualidade(11).
aumenta bastante a condutividade da água. Devido à sua Os padrões estabelecidos pelo CLSI são os mais comu-
capacidade térmica ser elevada (1 cal/oC), ela é capaz de mente empregados em nosso país. O documento C3-A4
adquirir ou perder muito mais calor que outras substâncias – Preparation and testing of reagent water in the clinical
comuns, quando submetida à mesma temperatura(1). laboratory – define os parâmetros utilizados para cada tipo
No laboratório, decorrem de suas propriedades as de água e, de acordo com a necessidade do ensaio, um
diversas aplicações: reconstituição de reagentes, diluições, desses tipos é escolhido. Assim, as águas foram classifica-
soluções brancas ou padrões, preparação de soluções de das pelo CLSI em: clinical laboratory reagent water (CLRW),
enxágue e de tampões, confecção de meios de cultura, special reagent water (SRW) e instrumental feed water (IFW)(8).
alimentação de analisadores automatizados, lavagem, sa- As especificações do CLSI(10) em relação à contagem de
nitização e recuperação de utensílios. Portanto, esse fator unidades formadoras de colônias bacterianas (UFCs/ml) são
analítico precisa ser controlado e otimizado para reduzir similares para os tipos CLRW e SRW, isto é, devem ser
erros potenciais e garantir a qualidade dos resultados (2, 6). inferiores a 10 para ambas. Quanto ao material particu-
Um dos principais problemas que afetam as atividades lado, para ambas, o filtro no final da purificação deve
laboratoriais é a facilidade de contaminação da água. remover partículas com diâmetro superior a 0,22 µm.
Há cinco tipos de contaminantes: material particulado e Para o carbono orgânico total, os níveis aceitos devem
coloide, substâncias inorgânicas, compostos orgânicos ser inferiores a 500 g/g na CLRW e inferiores a 50 ng/g
dissolvidos, microrganismos com seus subprodutos (piro- na SRW.
gênios) e gases(3, 4). O CLSI no documento C3-A4 define como classificações
As águas de abastecimento urbano que alimentam os adicionais:
laboratórios contêm contaminantes como íons inorgânicos, • água para autoclave e lavagem – a água deve ser
moléculas orgânicas, partículas, coloides, gases, bactérias e purificada e conter baixos níveis de compostos
seus produtos. Os íons inorgânicos podem afetar reações orgânicos, inorgânicos e material particulado, que
bioquímicas. As bactérias também podem interferir nas poderiam contaminar soluções e meios de cultura
análises, seja diretamente ou pela ação de seus produtos, no processo de autoclavagem;
como os pirogênios, a atividade das nucleases e da fosfatase • água fornecida pelo fabricante do método – como
alcalina(3, 4). diluente ou como reagente, deve ser empregada
Para atender ao desenvolvimento de novas tecnologias, a apenas com o conjunto diagnóstico e em nenhuma
ampliação da sensibilidade dos testes em medicina laboratorial, outra aplicação. Esse tipo de água não substitui as
várias entidades em nível internacional têm estabelecido parâ- água dos tipos CLRW ou SRW;

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• água purificada fornecida envasada comercialmente (TOC) anualmente. A deterioração de um único parâmetro
– o usuário deve tomar cuidado com a degradação pode indicar a necessidade de manutenção. A expansão
da água quando estocada e deve validar os parâ- dos controles baseia-se na aplicação da água reagente e
metros da CLRW ao longo do tempo de utilização na avaliação dos riscos(5, 6).
dessa água. Cada novo lote de água envasada deve
ser validado antes de seu uso. Tecnologias de purificação
A CLRW substitui a antiga classificação da água em tipos I Para se tornar adequada para a utilização no laboratório,
e II e é utilizada no laboratório de análises clínicas em diversas a água deve passar por purificação para a eliminação dos
funções, como reconstituição de reagentes, padrões, calibra- contaminantes dissolvidos nela, tornando-se água reagente.
dores e brancos de reações, lavagem de cubetas, probes e O processo de purificação não é específico e pode ser de-
outros instrumentos. Essa água é isenta de materiais orgâni- corrente de uma combinação de métodos para que atenda
cos e inorgânicos, partículas e coloides, além de bactérias e às especificações internacionais de qualidade (2, 6, 12-14).
seus subprodutos(5, 6). Já a SRW é a categoria livre de nuclea­ Existem vários métodos para remoção de impurezas, por
ses (DNAses e RNAses), que é a recomendada em técnicas isso é necessário recorrer a uma combinação de tecnologias,
moleculares(5, 6). Há também a IFW, que é usada para banhos associando suas vantagens (Tabela), a fim de se obter uma
aquosos, enxágues internos de maquinário, diluições e outras água de alta qualidade.
funções utilizadas nos analisadores automatizados(5, 6). Algumas medidas anteriores e posteriores ao processo
Vale ressaltar que a água reagente não deve ser estoca- de purificação da água podem ser necessárias para melhorar
da; ela deve ser usada no momento em que é produzida, a eficiência do processo de purificação, como a manutenção
devido à contaminação por gases do ambiente e cresci- preventiva e a limpeza das caixas-d’água e a instalação de
mento microbiano(6, 12). filtros prévios ao sistema automatizado de purificação. O
Como tendências atuais no monitoramento, propostas sucesso na produção de purificação da água deve-se aos
pelo CLSI, observam-se: detecção da deterioração dos com- equipamentos utilizados e à sua manutenção adequada(6, 15).
ponentes do sistema de purificação da água, garantia que Os processos de purificação são:
as especificações estão sendo cumpridas continuamente • filtração – processo de separação de partículas
e registros mínimos requeridos estão sendo efetuados, contaminantes presentes na água por meio da
verificação diária da resistividade, contagem de UFCs utilização de um material poroso, como filtros de
mensalmente, medida do total de compostos orgânicos carvão ativado ou de celulose (5, 6, 13, 16, 17);

Tabela Vantagens e desvantagens dos métodos de purificação


Método Vantagens Desvantagens
Remoção de cloro, partículas e matéria
Filtração Produto sem eliminação de íons e bactérias
orgânica
Remove grande porcentagem de todos os
Destilação Alto custo e consumo de energia
tipos de contaminantes
Danifica o mecanismo de replicação, sem
Ultravioleta Baixo uso de energia
remoção dos microrganismos
Eficiência na substituição dos compostos
Deionização Saturação rápida das resinas de troca iônica
inorgânicos

Eletrodeionização Regeneração das resinas por corrente elétrica Não remoção de partículas e matéria orgânica

Morte dos microrganismos retidos por trás


Micro/ultrafiltração Filtração esterilizante
do filtro
Remove grande porcentagem de todos os Membranas sujeitas a incrustações e obstruções
Osmose reversa
tipos de contaminantes a longo prazo

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• destilação – é usada para separar misturas homogêne- • Determinação de resistividade e condutividade: são
as do tipo sólido-líquido, nas quais os componentes úteis para mensurar a quantidade de contaminantes
têm pontos de ebulição diferentes. O vapor da água iônicos presentes na água, porque determinam indi-
aquecida é condensado, coletado e armazenado, retamente os sólidos totais dissolvidos. As medidas
removendo grande parte dos contaminantes(6, 14, 17); da resistividade e a condutividade de uma amostra
• desinfecção por sistema ultravioleta (UV) – a água de água reagente devem ser feitas diariamente
circula no reator de esterilização. Em contato com conforme descrito nas normas CLSI(6, 15).
a luz, os microrganismos são inativados pela luz • Determinação de TOC: o carbono total (CT) é
UV (na faixa de 250 a 270 nm), resultado do dano definido pela quantidade de gás carbônico (CO2)
fotoquímico ao ácido nucleico. A localização da produzido, quando uma amostra é oxidada por
lâmpada deve ser anterior à troca iônica(6, 14, 17); completo, e inclui a matéria orgânica dissolvida
• deionização – é utilizada para remoção de subs- e o carbono inorgânico (CI). O aumento do TOC
tâncias inorgânicas, empregando-se colunas com inativa reagentes por ação enzimática, promovendo
resinas carregadas eletricamente, que permitem a bloqueios dos filtros e restrição do fluxo e propor-
troca seletiva de íons por compostos inorgânicos cionando paradas para a manutenção. A análise do
dissolvidos na água(5, 6, 17, 18); TOC deve ser realizada mensalmente para garantir
• eletrodeionização – é um processo contínuo, em a ausência de moléculas orgânicas(4, 6, 19).
que a água passa em canais, migrando para o canal • Controle microbiológico: a água de alimentação
de eletrodo, seguindo através de membranas per- pode formar biofilmes, que interferem nos resultados
meáveis a ânions e cátions (canais de purificação) de exames laboratoriais e degradam equipamentos
e, por fim, pelo canal de concentração. O campo pela biocorrosão. O biofilme é fonte de endotoxinas e
elétrico criado faz que os íons removidos transitem polissacarídeos, gerando a contaminação e a perda da
por canais em que ficam concentrados, enquanto pressão da água. São realizados por meio da técnica
o produto transita por outro canal e é estocado. de contagem de bactérias heterotróficas (THPC), em
Para evitar a precipitação de carbonato de cálcio que o valor obtido é uma aproximação do número
ou magnésio, existem partículas de carvão ativado de microrganismos viáveis presente no sistema de
entre as resinas de troca iônica que são continua- purificação. As metodologias utilizadas são as técnicas
mente regeneradas pela corrente elétrica(5, 6, 15-17); de espalhamento em placa, de membrana filtrante
• microfiltração e ultrafiltração – a membrana, que e por microscopia de epifluorescência. O controle
é colocada na saída do sistema de purificação, microbiológico deve ser feito semanalmente(5, 6, 12, 20).
não permite que quaisquer partículas acima de • Endotoxinas: constituem o maior componente lipídico
0,22 µm a atravessem, promovendo uma filtração da membrana externa de bactérias Gram-ne­gativas,
esterilizante, como é o caso da microfiltração. Mais que as liberam em seu meio circundante durante
recentemente, a ultrafiltração foi proposta como sua multiplicação ou quando morrem. As endoto-
uma forma de eliminar outros contaminantes não xinas adsorvem-se de modo variado à maioria das
eliminados pela microfiltração, pois os poros do superfícies, incluindo o carvão ativado e as resinas.
filtro são menores, variando de 25 a 3 kDa(5, 6, 13, 17); A detecção e/ou a quantificação dos níveis de
• osmose reversa – é o processo de passagem de água endotoxinas pode ser feita por teste do coágulo,
através de uma membrana semipermeável em um turbidimetria ou técnica cromogênica(6, 21-23).
sistema de alta pressão, que força sua passagem
pela membrana, retendo partículas, compostos
orgânicos e bactérias(6, 17, 18). Discussão
No laboratório clínico, as análises são realizadas com
Controle de qualidade da água reagente cada vez menor volume de amostras e isso exige uma
A água reagente deve obedecer a um padrão de controle pureza cada vez maior dos reagentes, inclusive a água(24).
de qualidade rigoroso. O monitoramento da qualidade está A IFW é adequada para a alimentação direta de ana-
explicitado a seguir. lisadores automatizados, pois pode ter especificações de

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diversos parâmetros, de acordo com o fabricante, para Já as moléculas orgânicas em alta concentração, como
que tenha melhor funcionamento com menor número de ácidos carboxílicos, podem se ligar aos sítios ativos da enzi-
interferentes. Analisadores automatizados podem utilizar ma e formar complexos com o cofator de metal, alterando
CLRW desde que seja especificado pelo fabricante(12, 15). a afinidade entre o antígeno e o anticorpo(10, 24).
A análise de cálcio por método colorimétrico consiste na Os imunoensaios automatizados estão sendo muito
reação do cálcio livre presente na amostra com o arsenazo, utilizados. Neles, o volume de amostra usado é menor, o
originando um complexo medido espectrofotometrica- que exige maior qualidade da água para reduzir o número
mente. A concentração de moléculas orgânicas presentes de falhas no teste. Calibradores incorretos, branco alto e
na água deve ser baixa para que não se liguem ao cálcio, valores de pacientes tendendo a positividade evidenciam
reduzindo, assim, a concentração real da amostra. Da mes- um ensaio de má qualidade, o que pode ser ocasionado
ma forma, a alta contagem de bactérias eleva o nível de pela água contaminada(21).
proteínas ligantes do cálcio, resultando em uma diminuição Nos testes de diagnósticos in vitro (IVD), a água é utiliza-
de seu valor real(25). da no preparo dos reagentes, mas também na realização dos
Um sistema de purificação em que não se utiliza carvão ensaios, interferindo nos resultados e, consequentemente,
ativado como dispositivo de pré-filtragem pode apresentar nas decisões médicas(21).
quantidade considerável de cloro residual vindo do abaste- Nos testes de biologia molecular, as endotoxinas e proteí­
cimento externo. Esse cloro residual pode levar a uma in- nas como RNAses, DNAses e proteases precisam ser retiradas
terferência de até 25% nas dosagens de cloretos e também da água, pois essas enzimas catalisam a hidrólise de moléculas
pode interferir nos testes bacteriológicos e de enzimas(25, 26). de RNA e DNA, tornando-as instáveis. A ultrafiltração é o
A dosagem de sódio (Na) e potássio (K) pode apresentar melhor método de remoção de RNAses e endotoxinas(10, 28).
resultados alterados se a água utilizada na diluição obtiver A reação em cadeia da polimerase (PCR) e a trans-
1 mg/l desses analitos. Na dosagem de Na pode ocorrer um criptase reversa (RT-PCR) não podem ser contaminadas
erro de 3,2% em uma concentração de 136 mEq/l; na de K, por bactérias, seus produtos, moléculas orgânicas e íons.
esse erro pode ser de 50% em uma concentração de 5 mEq/L(25). Diversas bactérias liberam enzimas e íons que imitam o
Nos imunoensaios, a presença de enzimas liberadas comportamento de enzimas usadas no método. Alguns íons
por bactérias, íons e moléculas orgânicas pode trazer agem como cofatores de enzimas, enquanto outros atuam
interferências; por exemplo, quando houver a medida da como inibidores(10, 21). Os íons, como fosfato e muitos outros
atividade enzimática da fosfatase alcalina na amostra bio- bivalentes, também têm capacidade de se ligar ao DNA e
lógica. Algumas bactérias,como a Citrobacter sp. , secretam ao RNA das amostras, interferindo nas análises proteicas(8).
fosfatase alcalina e esta pode gerar reação cruzada nesse É fundamental fazer a manutenção correta dos equipa-
tipo de ensaio(15, 27). mentos responsáveis pela purificação da água, minimizan-
A maior parte dos sistemas de água utiliza filtro de po- do-se a contaminação microbiana(18).
rosidade 0,22 µm como parte do processo de filtração final. Ensaios utilizando microarrays também são afetados pela
Estes removem partículas e bactérias maiores, no entanto, qualidade da água. A presença de compostos orgânicos e
elas se decompõem por trás do filtro e a fosfatase alcalina é íons pode afetar as etapas de hibridização, lavagem, de-
liberada juntamente com a água. Métodos de ultrafiltração tecção de fluorescência e análise correta dos resultados(10).
podem ser usados eficientemente para remover bactérias A cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC)
menores e seus subprodutos(24). e a espectrometria de massa acoplada à cromatografia
Estudos realizados mostraram que a ultrafiltração com líquida (LC-MS) têm como exigência principal que a água
filtro de 13 kDa fornece água livre de fosfatase alcalina. Tec- apresente baixos níveis de moléculas orgânicas, pois estas
nologias de purificação mais modernas incluem filtragem são prejudiciais às colunas. Isso ocasiona redução da vida
geral para reduzir a carga de partículas de entrada e osmose útil, com perda de resolução, aumentando o ruído de
reversa para diminuir carga de íons, orgânicos, coloides e fundo e a interferência nos métodos de detecção (picos
partículas(24). Além disso, íons como magnésio (Mg) e zinco fantasmas). Altas concentrações de matéria orgânica
(Zn) são cofatores da fosfatase alcalina, enquanto o cádmio também podem modificar a tensão superficial da água
(Cd) e o fósforo (P) são inibidores da atividade dessa enzima, ou interferir em testes espectroscópicos que envolvem
ressaltando a importância da água livre de íons(15). absorbância por UV(3, 8, 24).

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A medição espectrofotométrica por sensores ópticos


Conclusão
pode ser interferida na presença de pequenas bolhas for-
madas por gases como o nitrogênio. Essas bolhas podem A implantação das boas práticas no laboratório clínico é
ser removidas por meio da utilização de um cartucho de essencial em função das exigências normativas que requerem
fibra de desgaseificação(24). um controle de qualidade rigoroso. Tal sistemática vem sendo
aplicada em todos os processos, particularmente no que diz
Na preparação de meios de cultura deve-se utilizar água
respeito à qualidade da água reagente, antes negligenciada.
produzida por osmose reversa, por ser livre de substâncias
A água reagente apresenta especificações internacionais
bactericidas. Os parâmetros que devem ser verificados nessa
de qualidade, pois as novas tecnologias de ensaio são refra-
água incluem condutividade, pH e presença de grande
tárias à água reagente de baixa qualidade. O tipo de água
concentração de íons de cobre, visto que estes inibem o
e a respectiva especificação devem estar de acordo com os
crescimento bacteriano(29).
requisitos analíticos da metodologia em uso. O tratamento
Após ter demonstrado a interferência dos contaminantes da água deve ser rigorosamente monitorado para que não
nos diversos testes, afirma-se o quanto a água é fundamen- ocorram acúmulo de biofilme e contaminação orgânica e
tal para a realização dos procedimentos laboratoriais. Com inorgânica, os quais podem levar à alteração dos resultados
isso, todos os parâmetros precisam ser monitorados, pois a de exames. Assim, os cuidados na preparação e no manu-
qualidade da água entregue ao analisador é tão importante seio da água auxiliam na minimização de possíveis erros
quanto a de qualquer outro reagente. analíticos, aumentando a confiabilidade dos resultados.

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Endereço para correspondência


Maria Elizabete Mendes
Divisão de Laboratório Central do HC-FMUSP –
Núcleo da Qualidade
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 – Prédio dos
Ambulatórios – 2o andar – Bloco 9
CEP: 05403-010 – São Paulo-SP
e-mail: ccq.dlc@hcnet.usp.br

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