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O
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p
P

Jogos de Soma Zero e Não-Zero:


o

julgamento de valores
l
W
1
e
m
O

A Filosofia é um jogo com objetivos e sem regras. A


L

matemática é um jogo com regras e sem objetivos.


e
d

David Hilbert
s
E
a
D
m
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i
A
d
D

Tudo é, por diferentes vias,


l
E
e

interdependente.
I
u
C
n
a

Assim, tal como indicava o antigo deus


O
m

romano Jano, mesmo na escala planetária,


S
e
2

lidamos sempre com duas faces do ser humano –


uma iluminada e outra obscura – da mesma forma
como contamos com duas leis fundamentais da
termodinâmica e com dois princípios fundamentais
46
de jogo: os de soma zero e os de soma não zero,
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pois, como ensinava o genial filósofo Charles


E
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e

Sanders Peirce, toda existência concreta está


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suportada no número dois.


O
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Um jogo de tênis, por exemplo, é de soma


o
l

zero – há sempre um perdedor e um vencedor.


W
1
e

Uma relação amorosa ou um encontro entre


m
O

amigos geralmente é, ou deveria ser, um jogo de


L
e

soma não zero – sem perdedores ou vencedores.


d
s

Todo jogo de soma zero implica dissipação e,


E
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D

paradoxalmente, concentração – um valor transita


m
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A

de um a outro estado. Quando dois oponentes se


d
D

degladiam num combate, por exemplo, eles são


l
E

aparentemente iguais no início da contenda, mas


e
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u

serão aparentemente diferentes no final.


C
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a
O
m

A primeira lei fundamental da termodinâmica


S
e
2

é a da agregação de energia, a segunda é a


da dissipação, ou entropia. A entropia implica
dissipação e diminuição de energia disponível,
diminuição de diferenciação.
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a
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O primeiro impulso é considerar jogos de


E
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e

soma zero como anti-entrópicos e, portanto, típicos


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da primeira lei da termodinâmica, de concentração


O
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de energia. Todavia, trata-se de uma ilusão – um i-


P

ludus, ou contra-jogo.
o
l
W
1
e

Jogos de soma zero implicam dissipação e se


m
O

há uma aparente diferenciação dos seus elementos


L
e

no final do processo, na verdade o que ocorre é


d

a eliminação dos fatores diferenciais através da


s

dissipação e eliminação. Isto é, anulando uma


E
a
D

das partes aquilo que era concentração se torna


m
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i
A

desdiferenciação.
d
D
l
E

No jogo de soma zero, uma das partes é


e
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u

eliminada. Se tudo fosse caracterizado pelo jogo


C
n

de soma zero, depois de uma sequência finita


a
O
m

de passos, nada mais existiria para além de um


S
e
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vencedor final.

Mas, ainda assim, na escala da vida real há um


evidente paradoxo nos jogos de soma zero: devido
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ao fato de não existirem condições absolutas,
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à dissipação segue-se uma concentração e um


E
n
e

reforço dos elementos de diferenciação. Todo o


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resto tende à entropia.


O
i
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P

Nos jogos de soma não zero, que


o
l

caracterizam a simbiose, a geração de elementos


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1
e

diferenciais acontece por dissipação positiva, tal


m
O

como a viscosidade, por distribuição. Mas, nos


L
e

jogos de soma não zero há igualmente um curioso


d

paradoxo – embora o princípio de distribuição


s

seja entrópico por natureza, todo o sistema tende


E
a
D

à geração de elementos diferenciais. Isto é, neles,


m
0
i
A

em princípio, nenhuma das partes ganha; mas, por


d
D

isso, ambas as partes acabam por ser reforçadas,


l
E

reafirmadas. Assim, não é eliminado o conflito – e


e
I
u

a consciência, tal como tudo o que conhecemos,


C
n

apenas pode existir através da diferença.


a
O
m
S
e
2

Ambos os tipos de jogo implicam a entropia


porque operam numa escala onde a flecha do
tempo é omnidirecional. Portanto, numa ou noutra
condição, há dissipação.
49
R
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t

Na verdade, qualquer que seja a relação entre


E
n
e

diferentes partes, ambos os tipos de jogo estarão


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m

presentes, sempre dependendo da escala.


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É o que o antropólogo Darcy Ribeiro dizia


o
l

sobre uma ação recíproca entre uma tendência


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1
e

à homogeneização e outra voltada para a


m
O

diversificação – um fenômeno que não pode ser


L
e

restrito a qualquer período histórico.


d
s

Ainda que num dado contexto estejamos


E
a
D

tratando de dissipação e concentração, num


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A

outro plano acontecerá o oposto, como se fosse


d
D

um contínuo processo de mudança de fase. Um


l
E

grupo de soldados vence outro numa batalha, por


e
I
u

exemplo. Dentro do grupo de soldados, seja ele o


C
n

dos vencedores ou dos perdedores, pelo menos


a
O
m

idealmente, o que encontramos imediatamente é


S
e
2

colaboração, ação sistêmica e, portanto, um jogo


de soma não zero; mas no conjunto da ação, haverá
uma entidade ganhadora e outra perdedora, um
deles desaparecerá e teremos um jogo de soma
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zero.
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E
n
e

Tudo dependendo da escala.


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m
O
i
p

Conceitualmente, todo organismo nada


P

mais é que jogo de soma não zero – ainda que,


o
l

em outros planos, em diferentes escalas, possam


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1
e

coexistir jogos de soma zero. A Teoria da Seleção


m
O

Natural de Darwin é um exemplo de como tal


L
e

acontece.
d
s

Assim, não há data de nascimento para o


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princípio de jogo de soma não zero.


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d
D

Temos, por vezes, a imagem estereotipada


l
E

de que o jogo de soma zero pode ser compreendido


e
I
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como a luta pela sobrevivência numa floresta,


C
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por exemplo, e que o jogo de soma não zero é


a
O
m

excelentemente representado pelo que chamamos


S
e
2

de civilização. Ainda que, mesmo idealmente,


essas figurações sejam muito apropriadas, não
podemos nos esquecer de que em qualquer que
seja o processo estarão sempre presentes os dois
51
tipos de jogo.
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E
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e

Quando pensamos nos incontroláveis


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desígnios do destino, tocamos o princípio de


O
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soma não zero num complexo de partículas


P

interdependentes, mas simultaneamente no jogo


o
l

de soma zero enquanto ação em dissipação.


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O

Toda a articulação de memória é criativa


L
e

por excelência, pois se trata inevitavelmente de


d

complexos combinatórios, dissipativos – afinal,


s

criatividade nada mais é que combinar coisas que


E
a
D

ainda não estavam totalmente associadas.


m
0
i
A
d
D

E ainda que o estabelecimento da forma


l
E

esteja, através do princípio da criatividade,


e
I
u

diretamente relacionado com a primeira lei da


C
n

termodinâmica e com o jogo de soma não zero,


a
O
m

a sua aspiração à fixação geral, à determinação


S
e
2

absoluta de um estado de concentração, é a


expressão da segunda lei da termodinâmica, a
entropia, e o jogo de soma zero.

52
A idéia da entropia como destino fatal do
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a
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t

Universo – num processo onde gradualmente


E
n
e

todas as energias se tornariam iguais, eliminando


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m

qualquer possibilidade de mais dissipação – foi


O
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p

originalmente formulada em 1852 pelo físico


P

inglês William Thomson.


o
l
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e

Grande parte das pessoas ainda acreditava,


m
O

nos primeiros anos do século XXI, que a segunda lei


L
e

da termodinâmica – para a qual tudo caminharia


d

inevitavelmente para um quadro de desordem, de


s

desdiferenciação, ou entropia – já teria designado


E
a
D

o temido final do Universo: tudo disposto em


m
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A

partículas iguais... tudo morto.


d
D
l
E

Mas, Ludwig von Bertalanffy, pai da Teoria


e
I
u

Geral dos Sistemas – e que teria sido um dos


C
n

fundadores espirituais da transdisciplinaridade,


a
O
m

não tivesse a expressão sido cunhada por Piaget


S
e
2

apenas em 1970 – defenderia, no seu livro Problems


of Life, de 1952, que «ordem espontânea... pode
aparecer» em sistemas através dos quais energia
fluísse. Semelhante argumentação também tinha
53
sido feita, sete anos antes, por Erwin Schröndinger
R
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0
t

no seu clássico What is Life?, publicado em 1945.


E
n
e
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m

«Qual é o aspecto mais característico


O
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da vida? Quando é que se pode dizer que uma


P

parte da matéria tem vida?» – perguntava-se


o
l

Schröndinger – «Quando ‘faz alguma coisa’, quando


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1
e

se move, quando procede a trocas de matéria


m
O

com o respectivo meio ambiente... É, ao evitar a


L
e

queda rápida no estado inerte de ‘equilíbrio’ que


d

um organismo se apresenta tão enigmático; por


s

isso, nos primórdios do pensamento humano era


E
a
D

defendida a idéia de que alguma força especial não-


m
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i
A

física ou sobrenatural atuaria no organismo...».


d
D

A resposta, então, aconteceria através de uma


l
E

simples palavra: metabolismo.


e
I
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C
n

O termo metabolismo surge do grego


a
O
m

ballein, que significa “jogar”, “atirar”. Dessa palavra


S
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2

apareceu a expressão bailar, que significa dançar,


atirar os corpos ao movimento. Daí temos o
termo ballet. Quando ao grego ballein é somada a
partícula sum – formando sumballein – a expressão
54
significa símbolo, que nos traz a idéia de atirar
R
a
0
t

junto, de co-incidência. É também daí que emerge


E
n
e

a palavra diabo, de diaballein, que significa atirar


W
m

através, atirar algo no meio das pessoas, fazendo


O
i
p

com que haja confusão e discórdia. Somada à


P

partícula meta, cujo significado é mudança, produz


o
l

metaballein, ou metabolismo, que indica a idéia


W
1
e

de atirar a mudança ou, em outras palavras, lidar


m
O

com a mudança em movimento.


L
e
d

Essa idéia de movimento em ação


s

rapidamente revelou o princípio da troca como


E
a
D

base do seu significado – troca de energia ou, mais


m
0
i
A

precisamente, resgate da ordem do ambiente,


d
D

extração dos elementos diferenciais do complexo


l
E

universo que compõe cada coisa: metabolismo.


e
I
u
C
n

Por isso, quanto menor a diversidade,


a
O
m

menor a possibilidade de resgatar ordem, e maior


S
e
2

a tendência à entropia.

Mais tarde, Ilya Prigogine tornaria os


argumentos de Bertalanffy e Schröndinger ainda
55
mais claros ao afirmar que «a produção de entropia
R
a
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t

contém sempre dois elementos dialéticos: um


E
n
e

elemento criador de desordem, mas também um


W
m

elemento criador de ordem. E os dois estão sempre


O
i
p

ligados».
P
o
l

Isto é, a expansão num quadro de distribuição


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1
e

e dissipação também gera diferenciação, ordem. E


m
O

é por essa razão que o Universo se torna cada vez


L
e

mais complexo e diferenciado. Essa é a natureza


d

primeira daquilo a que chamamos vida.


s
E
a
D

Essa é a natureza primeira do entrelaçamento


m
0
i
A

dos jogos de soma zero, de soma não zero e a


d
D

origem daquilo a que chamamos vulgarmente de


l
E

descoberta.
e
I
u
C
n

Se refletirmos sobre a natureza primeira


a
O
m

do conceito conhecido como livre arbítrio, ele


S
e
2

nos parecerá imediatamente jogo de soma


zero, enquanto estabelecimento de uma
decisão independente, soberana, mas será
simultaneamente jogo de soma não zero,
56
enquanto produto daquela força dialética indicada
R
a
0
t

por Prigogine – pois da complexa massa ambiental


E
n
e

temos a emergência do acaso. Assim, em última


W
m

instância, livre arbítrio é acaso sem intenção.


O
i
p
P

Em função da nossa forte tradição lógica


o
l

Aristotélica, que estabeleceu o pleno domínio do


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1
e

princípio o terceiro excluído, segundo o qual nada


m
O

pode ser e simultaneamente não ser, mergulhamos


L
e

em infinitas discussões de caráter excludente,


d

quando deveríamos perceber que haverão outras


s

lógicas possíveis, de natureza não-excludente


E
a
D

– tal como mostrou, de forma tão brilhante, o


m
0
i
A

matemático Stephanne Lupasco.


d
D
l
E

Assim, quando lidamos com aqueles


e
I
u

estereótipos – jogos de soma zero identificados


C
n

enquanto processos de concorrência e princípios


a
O
m

de Seleção Natural; e jogos de soma não zero


S
e
2

enquanto simbiose e desígnio civilizatório por


excelência – devemos ter sempre em mente de que
se tratam de conceitos profundamente relativos.

57
Mesmo o princípio Marxista da mais-valia
R
a
0
t

implica o permanente intercâmbio com o Outro.


E
n
e

Fosse a questão uma simples expropriação de valor


W
m

pelo mais poderoso, o próprio valor não poderia


O
i
p

existir.
P
o
l

Por isso, quando Marx revela a mais-valia


W
1
e

como chave para a compreensão do processo


m
O

de acumulação de capital, ele imediatamente


L
e

imagina a utopia do comunismo – pois a utopia


d

não é o impossível, o não existente, mas sim


s

o surpreendentemente possível. O ideal do


E
a
D

comunismo, assim como o próprio conceito de


m
0
i
A

ideal, está dentro dos princípios estabelecidos


d
D

pela Teoria dos Jogos.


l
E
e
I
u

É seguramente chocante para muitos, e


C
n

até mesmo profano, associar Marx a questões de


a
O
m

idéias, tal como algo ideal, pois para ele tudo era
S
e
2

ação. Mas, ação e pensamento são uma única coisa.


A idéia sem ação – semente da acusação contra
Hegel – é igualmente uma armadilha preparada
pelo princípio do terceiro excluído.
58
R
a
0
t

Não há acumulação sem consumo, e não


E
n
e

há exploração sem algum tipo de partilha, assim


W
m

como não há jogo de soma não zero puro, no seu


O
i
p

sentido absoluto. Como também não há jogo de


P

soma zero total.


o
l
W
1
e

Da mesma forma, não pode existir egoísmo


m
O

absoluto – um rei apenas o é se tiver súditos.


L
e

Esse fenômeno foi observado pelo economista e


d

prêmio Nobel Thomas Schelling quando defendeu


s

que num caso ideal de jogo de soma zero puro


E
a
D

simplesmente não há comunicação.


m
0
i
A
d
D

A ilusão do espírito egoísta é um traço artificial,


l
E

fenômeno de linguagem, tal como acontece com


e
I
u

o seu oposto, o altruísmo, como tão claramente


C
n

demonstrou Marcel Mauss no seu clássico Essai


a
O
m

Sur Le Don. Ao oferecermos desinteressadamente


S
e
2

um presente a alguém, estamos estabelecendo


escondidos laços de obrigação e dívida, mesmo
que disso não tenhamos consciência.

59
Um fato que não escapa aos maiores e mais
R
a
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t

complexos sistemas econômicos, como mostrou o


E
n
e

matemático John Nash.


W
m
O
i
p

Mesmo nos combates desenhados pela


P

Seleção Natural existe a simbiose – princípio


o
l

essencial da vida e responsável pelo surgimento


W
1
e

dos primeiros organismos vivos, como tão


m
O

brilhantemente foi demonstrado por Lynn


L
e

Margulis.
d
s

James Lovelock, o genial cientista e pensador,


E
a
D

responsável com Lynn Margulis pela elaboração


m
0
i
A

da Hipótese de Gaia em 1970, diria que «temos


d
D

crescido em número a ponto da nossa presença


l
E

ser perceptível afetando o planeta como uma


e
I
u

doença. Tal como nas doenças humanas há quatro


C
n

possíveis resultados: destruição dos organismos


a
O
m

invasores responsáveis pela doença; infecção


S
e
2

crônica; destruição do hospedeiro; ou simbiose


– um duradouro relacionamento de benefício
mútuo entre hospedeiro e invasor».

60
Dessa forma, estamos sempre lidando com
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0
t

elementos de diferenciação, princípios de ordem


E
n
e

fundados na agregação e na desagregação – ao


W
m

que chamamos, normalmente, de bem e mal.


O
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P

A origem etimológica das palavras bem e


o
l

mal são tão surpreendentes como elucidativas.


W
1
e
m
O

A palavra bem tem a sua raiz etimológica


L
e

indo européia na expressão *du, que significava


d

“utilidade” e “eficiência”. Passou ao grego


s

dunamai, que significa “poder” e a dunamis, que


E
a
D

indica a idéia de força e que gerou a nossa palavra


m
0
i
A

dinâmica. Daí, transformou-se no latim arcaico


d
D

duenos, produzindo mais tarde a palavra buenos,


l
E

que significa “bom”, e que passou intacta para o


e
I
u

espanhol bueno. Dessa raiz também surge a nossa


C
n

palavra belo – a partir de uma forma diminutiva do


a
O
m

latim bonus.
S
e
2

A palavra inglesa good, por sua vez, lança a


sua raiz etimológica no indo europeu *ghodh, que
indicava a idéia de “trazer junto”, de “unir”.
61
R
a
0
t

Ambas as palavras good e bom indicam, por


E
n
e

diferentes caminhos, o princípio de agregação


W
m

– revelando uma conexão direta com a idéia do


O
i
p

belo.
P
o
l

Por outro lado, a palavra mal é lançada à


W
1
e

origem indo européia na partícula *m que indicava


m
O

as idéias de limite e de medida. Dessa raiz surgiram


L
e

numerosas palavras, como o sânscrito manu, que


d

significa “aquele que pensa” e “aquele que mede”,


s

para além de medida, matéria, morte, milagre e


E
a
D

mágica.
m
0
i
A
d
D

A partícula indo européia *m tinha ainda o


l
E

significado de energia criativa, impulso no sentido


e
I
u

de estabelecer relações concentradas de idéias


C
n

diferentes e, por isso, ainda, a razão de ter sido


a
O
m

geradora das palavras medida e milagre.


S
e
2

Essa estranha e enigmática origem


etimológica para a palavra mal, que nos revela a
íntima conexão entre os termos surgidos do indo
62
europeu *m, também nos alerta para o fato de
R
a
0
t

que todo o ato criativo é uma construção, e que


E
n
e

toda a construção implica, em alguma medida,


W
m

uma desconstrução.
O
i
p
P

Tudo aquilo que se enfeixa na idéia do bem


o
l

se refere ao princípio de utilidade, de eficiência


W
1
e

– revelando a qualidade primeira da agregação.


m
O
L
e

Quando tratamos do mal – para muito além


d

de qualquer julgamento de valor – encontramos


s

nas suas profundezas o princípio da desagregação.


E
a
D

Para medir somos primeiro obrigados a desagregar,


m
0
i
A

e o mesmo acontece com a compreensão da


d
D

matéria. Morte, milagre ou mágica são momentos


l
E

de desagregação de uma determinada realidade.


e
I
u
C
n

Assim, daquela longínqua raiz indo européia


a
O
m

que gerou a nossa palavra mal, também temos a raiz


S
e
2

da expressão homem – pois todo o pensamento,


todo o conhecimento, implica desagregação. E,
como o genial poeta Fernando Pessoa disse, «o
que em mim sente, está pensando». Fato que
63
ilumina um antigo ensinamento Védico: somente
R
a
0
t

a diferença produz a consciência.


E
n
e
W
m

Como lidamos com esses princípios,


O
i
p

como estabelecemos forma, ou melhor, como


P

nos revelamos enquanto forma, são questões


o
l

fundamentalmente de natureza estética –


W
1
e

estratégias de percepção.
m
O
L
e

Portanto, as vias sobre como designamos


d

a composição da nossa paleta sensorial, como


s

designamos aquilo que somos, o nosso design


E
a
D

sensorial, será a chave dos princípios de ordem que


m
0
i
A

determinam o humano, nas suas mais complexas


d
D

metamorfoses ao longo de milhares de anos.


l
E
e
I
u

Diferentes fatores são responsáveis pela


C
n

metamorfose da nossa paleta sensorial. Devido


a
O
m

ao fato de sermos todos interdependentes, esses


S
e
2

fatores estão diretamente relacionados à tendência


de específicas intensificações sensoriais e também
à escala.

64
Entre 1990 e 2004 a população planetária
R
a
0
t

conheceu um explosivo crescimento de cerca


E
n
e

de 21%, mas o aumento do consumo energético


W
m

foi ainda maior, ultrapassando os 30%! O nosso


O
i
p

crescimento de consumo energético ultrapassou


P

em muito o demográfico.
o
l
W
1
e

Isso indica que, apesar de muitas impressões


m
O

negativas, o universo das relações humanas se


L
e

tornou mais complexo e mais rico.


d
s

O aumento de consumo energético a nível


E
a
D

planetário implica uma mutação civilizacional,


m
0
i
A

uma ampliação da memória, no seu sentido mais


d
D

vasto e mais profundo, e também, naturalmente,


l
E

uma profunda metamorfose estética.


e
I
u
C
n

Em termos gerais, essa não é uma idéia


a
O
m

nova. No célebre ensaio Energy and the Evolution


S
e
2

of Culture, publicado no American Anthropologist


em 1943, o antropólogo Leslie White defendia que
«tudo no Universo pode ser descrito em termos
de energia».
65
R
a
0
t

White combateu vivamente, e muitas vezes


E
n
e

tomando como questão puramente pessoal, as


W
m

idéias de outro famoso personagem, Franz Boas,


O
i
p

que para além de genial antropólogo – tantas


P

vezes dedicado a questões de natureza estética


o
l

– também era um renomado físico.


W
1
e
m
O

Boas, que acabaria por ser reconhecido como


L
e

o pai das linhas fundamentais da antropologia que


d

caracterizaram o século XX, foi responsável pelo


s

conceito de etnocentrismo e também pela idéia de


E
a
D

que é fundamental estudar cada cultura a partir


m
0
i
A

dos seus próprios termos. «Todas as atividades


d
D

humanas assumem formas que as conferem


l
E

valores estéticos», defendia Boas.


e
I
u
C
n

Por outro lado, os antropólogos evolucionistas


a
O
m

– como White – defendiam que as raças caucasianas


S
e
2

eram absolutamente superiores, em função de


um inquestionável processo evolucionário. Para
Boas – ainda que os seus tratados não deixem por
vezes de revelar um certo traço racista, comum
66
à época – a cultura se sobrepunha à realidade
R
a
0
t

puramente biológica. Uma idéia que daria corpo


E
n
e

ao conceito da inteligência como uma espécie de


W
m

organismo dinâmico, coletivo e virtual – idéia que


O
i
p

se cristalizaria apenas no final do século XX.


P
o
l

Leslie White encontrou uma franca


W
1
e

identificação com o universo do realismo socialista


m
O

e dedicou boa parte da vida ao combate contra as


L
e

idéias de Boas.
d
s

Curiosamente, como se contradissesse


E
a
D

a sua forte convicção num fator evolucionista


m
0
i
A

soberano, que colocava raças umas à frente


d
D

das outras, estabelecendo um único quadro de


l
E

desenvolvimento humano, White defendeu que


e
I
u

o consumo de energia – independentemente da


C
n

raça – era o sinal, por excelência, da complexidade


a
O
m

e diversidade cultural.
S
e
2

Para White, “a cultura se desenvolve


quando a quantidade de energia utilizada pelas
pessoas, per capita e por ano, aumenta; e quando
67
a eficiência tecnológica significa colocar essa
R
a
0
t

energia no trabalho é aumentada», ou quando


E
n
e

ocorrem ambos os casos.


W
m
O
i
p

O famoso conflito entre as idéias de White


P

e Boas produziu um curioso efeito – White


o
l

acabaria por ser considerado politicamente de


W
1
e

esquerda pois para ele «a cultura se desenvolve


m
O

tal como a produtividade do trabalho humano


L
e

aumenta», e – simultaneamente – de direita pois


d

segundo a sua concepção de mundo, haveriam


s

raças superiores e raças inferiores. Por outro


E
a
D

lado, Boas seria considerado em termos inversos,


m
0
i
A

paradoxalmente.
d
D
l
E

Em ambos os casos – ou, pelo menos, no


e
I
u

julgamento de ambos os casos, de White e de Boas


C
n

– o conflito parece acontecer devido à presença de


a
O
m

ordens de valor.
S
e
2

Mas, se abandonarmos os julgamentos de


ordens de valor e, assim, deixarmos de considerar
que uma raça pode ser superior ou inferior, a idéia
68
da complexidade e diversidade cultural relacionada
R
a
0
t

diretamente ao consumo e transformação de


E
n
e

energia, enquanto estabelecimento de forma,


W
m

emerge como um conceito muito interessante.


O
i
p
P

Mais tarde, outro defensor do evolucionismo,


o
l

o antropólogo Robert Carneiro, antigo aluno de


W
1
e

Leslie White, procuraria quantificar – e qualificar


m
O

– estágios civilizatórios demonstrando que todas


L
e

as sociedades que possuíam códigos formais de


d

lei aconteciam inevitavelmente em cidades com


s

mais de dois mil habitantes, ainda que nem todas


E
a
D

as sociedades com dois mil ou mais habitantes


m
0
i
A

tivessem obrigatoriamente códigos formais de lei.


d
D
l
E

Paradoxalmente, a tese de Leslie White,


e
I
u

segundo a qual a diversidade e complexidade


C
n

cultural está diretamente relacionada ao consumo


a
O
m

energético pode se enquadrar perfeitamente no


S
e
2

princípio do etnocentrismo de Franz Boas. E as idéias


de Boas, para quem todas as sociedades têm a sua
riqueza, pode ser perfeitamente compreendida
sob o aspecto de consumo energético, sem que
69
sejamos obrigados a classificar pessoas como
R
a
0
t

melhores ou piores, inferiores ou superiores.


E
n
e
W
m

O que muda é a escala e com ela toda a


O
i
p

estrutura de relações.
P
o
l

Os setores periféricos das megacidades são


W
1
e

um claro exemplo de como tal acontece – locais


m
O

com alta densidade humana, onde há menos


L
e

consumo energético e uma dramática simplificação


d

da diversidade cultural, evidente até mesmo


s

na forma de falar, na redução da quantidade e


E
a
D

diversidade de fonemas usados e no consequente


m
0
i
A

empobrecimento das suas relações.


d
D
l
E

Mas, empobrecimento não significa, aqui,


e
I
u

um julgamento de valor, e sim uma condição de


C
n

menor complexidade.
a
O
m
S
e
2

As palavras empobrecimento e pobreza


lançam suas antigas raízes etimológicas no indo
europeu *per, que indicava a idéia de redução, de
síntese.
70
R
a
0
t

Todavia, também há situações em que duas


E
n
e

sociedades com uma mesma diversidade cultural


W
m

apresentam índices diferentes de consumo


O
i
p

energético, como é o caso do Japão e da Noruega.


P

Com um Produto Interno per capita praticamente


o
l

igual, a Noruega consome cerca de 60% mais


W
1
e

energia que o Japão.


m
O
L
e

A diferença pode acontecer a partir de


d

um determinado patamar e indicia que há mais


s

implicidade de termos na sociedade japonesa,


E
a
D

traduzida em economia.
m
0
i
A
d
D

Ainda assim, a assimetria no consumo


l
E

energético em termos planetários é impressionante.


e
I
u

Os Estados Unidos e o Canadá têm um consumo


C
n

energético per capita, segundo dados de 2004,


a
O
m

praticamente duas vezes superior ao da Europa e


S
e
2

vinte vezes maior que o da África.

Mas, não podemos nos esquecer de que,


em termos civilizatórios, o consumo energético
71
– tal como a memória – não é exclusivamente
R
a
0
t

um dado imediato, congelado num determinado


E
n
e

momento, numa época específica. É um fenômeno


W
m

de acumulação e dissipação.
O
i
p
P

O consumo energético indica o metabolismo


o
l

da transformação da matéria e da transmissão das


W
1
e

idéias.
m
O
L
e

Ao tomarmos o consumo de energia como


d

sendo o estabelecimento de forma e, portanto, de


s

memória, tudo se revela enquanto estética.


E
a
D
m
0
i
A

O tratamento, acumulação e consumo de


d
D

energia é, em última análise, uma questão de


l
E

ordem, uma questão de natureza estética, de


e
I
u

ordem do pensamento – sem nunca se tratar,


C
n

entretanto, de julgamentos de valor.


a
O
m
S
e
2

Independentemente de que tipo de


sociedade tratamos, sem evocar qualquer espécie
de unidade psíquica humana, o conceito civilização
implica, pela sua própria natureza fundamental, a
72
estruturação de forma, uma densidade energética.
R
a
0
t

Trata-se do mesmo princípio básico da formação


E
n
e

de organismos: a simbiose.
W
m
O
i
p

Não por outra razão a palavra civilização


P

nasce do latim civis, que indicava a cidade.


o
l
W
1
e

Dessa idéia essencial nasceu o célebre


m
O

texto de Emanuel Kant – Idéia para uma História


L
e

Universal com um Propósito Cosmopolitano – onde


d

ele sugere que a própria história do ser humano


s

possui uma espécie de plano natural escondido.


E
a
D
m
0
i
A

Então, Kant imaginaria que, assim como


d
D

a história se desdobra, nós seremos capazes


l
E

de perceber «como a raça humana trabalha no


e
I
u

sentido de uma situação na qual todos os germens


C
n

implantados pela Natureza podem se desenvolver


a
O
m

inteiramente, e na qual o destino humano pode


S
e
2

ser plenamente realizado aqui na Terra».

Não seria esse plano natural escondido


aquilo a que simplesmente chamamos lógica e que
73
acabaria por ser tão brilhantemente foi mostrado
R
a
0
t

por George Boole, ainda no século XIX, como sendo


E
n
e

a forma do pensamento?
W
m
O
i
p

O aumento de acumulação e a intensificação


P

do consumo energético não significam


o
l

obrigatoriamente maior concentração de energia


W
1
e

– a concentração de energia é um dado da forma,


m
O

uma condição específica de diferenciação, da


L
e

natureza de ordem. A energia pode existir em


d

grandes quantidades e estar dispersa.


s
E
a
D

E essa natureza de ordem, que designa o


m
0
i
A

humano, tem sofrido uma contínua metamorfose


d
D

ao longo de milhares de anos – como atesta a


l
E

cultura material, desde os tempos mais remotos.


e
I
u
C
n

A transformação do tecido do conhecimento


a
O
m

tem sido diretamente relacionada à estrutura


S
e
2

lógica dos sistemas de armazenamento e interação


informacional – isto é, àquilo que designa as nossas
paletas sensoriais, àquilo que projeta um design
sensorial.
74
R
a
0
t

Uma transformação metabólica que


E
n
e

encontra nos dois princípios fundamentais da


W
m

termodinâmica plena expressão e que nos conduz


O
i
p

a uma reflexão com as palavras do legendário


P

jornalista Americano Walter Cronkite quando dizia:


o
l

«Infelizmente, segurança e liberdade formam uma


W
1
e

equação de soma zero. A inevitável troca: aumentar


m
O

segurança é diminuir liberdade e vice versa».


L
e
d
s
E
a
D
m
0
i
A
d
D
l
E
e
I
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C
n
a
O
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S
e
2

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