ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. CESSÃO DE CRÉDITO. RÉU QUE NÃO COMPROVA A REALIZAÇÃO DA NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DO DEVEDOR, NOS TERMOS DO ART.290 DO CC/02, E NEM PROVA A EXISTÊNCIA DA RELAÇÃO JURÍDICA HAVIDA ENTRE O CEDENTE E A PARTE AUTORA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM A SER REDUZIDO EM ATENÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE E EM VIRTUDE DA PULVERIZAÇÃO DE AÇÕES. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que julgou parcialmente procedente os pedidos, nestes termos: “ Diante de todo o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos para: a) declarar a abusividade da conduta da ré, bem como a inexistência de débito objeto da lide, impondo a Ré, que proceda ao cancelamento do suposto contrato; b) determinar à exclusão definitiva do nome da parte Autora dos órgãos de proteção ao crédito, concernente ao débito em questão, no prazo de 05 dias, sob pena de fixação de multa diária;c) condenar, ainda, a Ré, a pagar a parte autora, a título de danos morais, o valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais), com a incidência de juros de mora desde a citação e correção monetária (INPC) a contar da sentença, conforme Súmula 362 do STJ. ”. 1. Alega a parte autora que tivera o seu nome negativado nos órgãos de proteção ao crédito em virtude de dívida que desconhece, sustentando portanto a inexistência de relação jurídica com o Banco credor da dívida ora cedente do crédito, o que por consequência torna ilegítima a negativação realizada a cargo da cessionária ora recorrida. Requereu indenização oriunda da negativação indevida, pelos danos morais sofridos.
2. A parte recorrente busca a reforma da sentença, assevera que houve a
cessão do contrato, atendidos os requisitos previstos em lei, tendo sido comprovada a existência da dívida, bem como a sua condição de cessionária do crédito, pelo quê não há que se falar em ato ilícito, bem como inexistem elementos que atestem a existência do dano moral.
3. A despeito das alegações da acionada sobre a legalidade da anotação
realizada, não apresenta documentação que corrobore suas alegações. Com efeito, tendo a parte autora alegado que não firmara o contrato que ensejou negativação de seu nome nos cadastros de proteção ao crédito, incumbia à empresa demandada a comprovação acerca da regularidade da constituição da dívida. In casu, em que pese ter a empresa demandada ter provado a ocorrência da cessão de crédito , não consta dos autos a prova da notificação da cessão ao devedor, o que constitui requisito de eficácia da mesma, nos termos do art.290 do CC/02; a ré tão somente junta comprovante de remessa do envio da notificação relativa à inclusão do nome da parte autora nos cadastros de proteção ao crédito; ademais, a empresa demandada não colaciona o instrumento contratual que teria dado origem à dívida original junto ao cedente, o que , em tese, provaria a legitimidade da constituição da dívida, ora impugnada. É dizer, diante da negativa da parte autora de ter firmado qualquer relação contratual com o cedente, incumbia á parte ré, cessionária do crédito, para além de provar a notificação do devedor acerca da realização da cessão, também a prova documental da existência da relação jurídica havida com a parte cedente, assumindo para si tal ônus, advindo como efeito anexo da cessão e responsabilidade por eventuais danos decorrentes de sua cobrança indevida. 4. A parte autora, por sua vez, colaciona aos autos consulta do órgão de proteção ao crédito no evento 01, em que consta o apontamento indevido, por solicitação da demandada, desincumbindo-se assim do ônus de provar o fato constitutivo de seu direito , nos termos do art.373, inciso I do CPC. É cediço na jurisprudência pátria que a negativação do nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito por cobrança indevida gera dano moral in re ipsa, que prescinde de comprovação. 5. Insta ressaltar que, em que pese a existência de apontamentos anteriores no cadastro de proteção ao crédito no nome da parte autora, todos os apontamentos mais antigos foram objeto de discussão judicial, tendo sido ajuizadas ações discutindo a legitimidade de cada um deles, o que afasta a aplicação da súmula 385 do STJ. 6. Todavia, no tocante ao pedido de majoração do valor da indenização, compreendo que razão assiste ao recorrente no tocante ao quantum que fora fixado, dada a pulverização de demandas, tendo a parte acionante ajuizado diversas ações contra os demais fornecedores que solicitaram a sua inscrição nos órgãos de proteção ao crédito, bem como considerando que existem outras restrições que apesar de posteriores, não há prova cabal de suas ilegitimidades, sendo mister sopesar tais questões para a adequação do quantum ás circunstâncias do caso.
7. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO E DOU-LHE PARCIAL
PROVIMENTO, para condenar o réu em R$ 2.000,00 ( dois mil reais) a título de danos morais, corrigidos desde a data do arbitramento, nos termos da súmula 362 do STJ e juros de mora desde o evento danoso, nos termos da súmula 54 do STJ. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.
8. Salvador, Sala das Sessões, 27 de Abril de 2017.
9. BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
10.Juíza Relatora 11. BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ 12.Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Processo Nº. : 0086293-96.2016.8.05.0001
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : FIDC NP MULTISEGMENTOS CREDISTORE
Recorrido(s) : LOURIVAL PEDRO DA SILVA FILHO
Origem : 1ª VSJE DO CONSUMIDOR (MATUTINO)
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso. 13.Salvador, Sala das Sessões, 27 de Abril de 2017.
14.BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
15.Juíza Relatora 16.BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ Juíza Presidente