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educação

revista portuguesa de

O Exílio dos Professores Brasileiros em Portugal e


a Documentação da DOPS-PR

Ana Karine Braggioi & Alexandre Felipe Fiuzaii

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil

Este artigo almeja analisar a experiência vivida por professores


brasileiros que se exilaram para garantir sua sobrevivência, ameaçada
por perseguições ocorridas no período da ditadura civil-militar brasileira
(1964-1985). Nosso enfoque se direciona aos indivíduos citados nos
dossiês temáticos do acervo da Delegacia de Ordem Política e Social
do Estado do Paraná (DOPS/PR) e que se exilaram em Portugal. Entre
os 2.378 dossiês da DOPS/PR catalogados, analisamos os oito dossiês
que tratam especificamente do exílio de brasileiros. Nestes materiais,
rastreamos os nomes dos exilados que foram professores no Brasil e/
ou que atuaram na docência em Portugal. Nosso objetivo é apresentar,
como uma parte da história do exílio, a história de alguns destes
professores, que, apesar das dificuldades de adaptação a uma nova
cultura e de vivência em novos espaços sociais e políticos, afastados
de amigos e familiares, assumiram relevo na consolidação e circulação
de novos ideais no plano político-ideológico. Contribuíram ainda para
o desenvolvimento pedagógico, utilizando como referência, ainda que
esporádica, a Pedagogia Libertadora do movimento educacional crítico
e emancipatório sob influência de Paulo Freire, que, por sua militância
política incompatível com os anseios do governo ditatorial, também
vivenciou a experiência do exílio.

Palavras-chave: Exílio; Militância; Docência; Ditadura.

Introdução São Paulo, do dia 7 de fevereiro de 1979, foi


escrito por dois desconhecidos na parede de
O exílio é como um imenso navio fantasma uma casa em Paris onde moravam estudantes
apátrida. Nós, seus tripulantes, trazemos na boca o brasileiros exilados. A mensagem, de modo
amargor dos que viajam sem rumo… E tem mais: irônico, talvez resuma o estado de espírito
o serviço de bordo é péssimo e eu sofro de enjoo. de milhares de brasileiros e brasileiras que
(Freitas Júnior, 1979) foram exilados ou banidos, embora nem
sempre o humor tenha se mantido vivo diante
Esse breve testemunho, de acordo com dos empecilhos encontrados para o regresso.
informações expressas no jornal Folha de Como denota a bibliografia sobre o tema e os

Revista Portuguesa de Educação, 32(1), pp. 16-34. doi: 10.21814/rpe.14274


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depoimentos dos exilados, de um lado estava a contextos sócio-culturais mais diversos, desde
autoconfiança e a maleabilidade na adaptação a alfabetização em jovens países africanos até
social, necessárias para a sobrevivência e para a ação cultural no contexto do movimento
alimentar a esperança de um dia voltar e, do feminista europeu” (p. 9).
outro, as histórias dramáticas com momentos Nosso trabalho consistiu em analisar o
de desespero e até mesmo culminando, em material produzido pela imprensa brasileira
alguns casos, em suicídio (Freitas Júnior, e arquivado pelos agentes policiais da DOPS/
1979). PR, que gerou uma média de 80% de toda a
Não por acaso, essa é a única citação com tom documentação relativa ao exílio, acrescido
humorístico que encontramos entre os mais de dos documentos produzidos pelos próprios
700 recortes de jornais dos anos de 1977 a 1979 agentes, em forma de relatórios, circulares
arquivados pela Delegacia de Ordem Política internas, informes, fichas e fotos dos indivíduos
e Social do Estado do Paraná (DOPS/PR). A que foram banidos. Toda a documentação
maioria dos relatos nesses jornais expressa a analisada está dividida em oito dossiês, sendo
falta de apoio das embaixadas brasileiras, as eles: Asilados Políticos (dossiê número 42),
dificuldades de comunicação com familiares Elementos Banidos - parte A e parte B (dossiês
e amigos, a ausência de informações sobre o números 900 e 901), Exilados Subversivos
andamento da política brasileira, a esperança (dossiê número 957), Presos Políticos Banidos
do retorno à democracia e da instauração de (dossiê número 1588), Retorno de Exilados
uma anistia ampla, geral e irrestrita. Também (dossiê número 1708) e Retorno de Exilados
podia abranger as dificuldades de adaptação e Banidos parte A e parte B (dossiês números
a uma nova cultura e a uma nova língua, a 1709A e 1709B).
sujeição a empregos totalmente diferentes No que concerne à natureza das fontes
das áreas de atuação, mas necessários para históricas aqui examinadas, temos os jornais
se manter em outro país, além do interesse de grandes órgãos da imprensa escrita,
em regressar para o Brasil e continuar a luta selecionados e arquivados pelos agentes
política. Alguns depoimentos ainda mostram estatais com um fim persecutório, de
o interesse em regressar e processar o governo vigilância e de produção de informações sobre
brasileiro pelas torturas sofridas em prisões e o inimigo político. Outro dado a se destacar é
interrogatórios antes do exílio. que este material era, antes de ser publicado,
Apesar das dificuldades citadas, o exílio alvo da censura prévia, inclusive no interior
também foi um dos caminhos que levaram das redações. Portanto, tais textos passavam
muitos brasileiros a se reencontrar e se por mais de um filtro estatal, acrescido de
organizar política e ideologicamente. O certo colaboracionismo dos jornais de grande
Instituto de Ação Cultural (IDAC) criado em circulação, ainda que o recorte histórico deste
Genebra em 1971, por Paulo Freire, Claudius texto (1977-1979) abranja o fim da censura
Ceccon, Miguel Darcy de Oliveira e Rosiska prévia aos jornais, em 1978. Por outro lado,
Darcy de Oliveira, representa a capacidade de ainda que suscetível ao controle estatal e
adaptação e articulação provida pelas condições empresarial, guardados os devidos cuidados
do exílio. Segundo Freire, Rosiska, Oliveira, metodológicos, concordamos com Julio
& Ceccon (1983), esse Instituto possibilitou Aróstegui (2006) ao afirmar que: “Para as
inovação das ideias pedagógicas, através da pesquisas em história política, cultural, social,
participação “de experiências educativas nos a imprensa é uma fonte imprescindível” (p.

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522). su trabajo, sus amigos” (p. 17). Portanto, esta


Ao tratarmos do tema do exílio dos fratura no cotidiano e no tempo marca um
professores, não há como não problematizar novo posicionamento no mundo, produzindo
a complexidade do fenômeno exilar. Partindo experiências diversas nos países de acolhida.
das reflexões de Edward Said (2003), Como destacado no livro De Muitos
Caminhos, “a experiência de outros países
O exílio nos compele estranhamente a pensar mostra que, mais além do estritamente político,
sobre ele, mas é terrível de experienciar. Ele é uma a internacionalização e o expatriamento
fratura incurável entre um ser humano e um lugar provocados pelo exílio formam um potencial
natal, entre o eu e seu verdadeiro lar: sua tristeza cultural de valor excepcional” (Uchoa
essencial jamais pode ser superada… As realizações Cavalcanti & Ramos, 1978, p. 13), bem visíveis
do exílio são permanentemente minadas pela perda nos indivíduos diretamente engajados com
de algo deixado para trás para sempre. (p. 46) questões educacionais, como os professores
exilados ou indivíduos que assumiram,
Ainda que estas ponderações versem sobre pelas consequências do exílio, a profissão de
outros casos nacionais, e tomando como professor.
ponto de partida o sofrimento que marcou o Embora já desterrados, os exilados ainda
desterro e a fuga da ditadura no Brasil, ganha continuavam sendo prejudicados pela
expressão o impasse vivido por estes exilados. perseguição política estatal, seja na inclusão
Associado ao fenômeno do nacionalismo, de seus nomes como procurados em alguns
o exílio desencadearia um processo de dos controles de entrada de determinados
desenraizamento, fraturando a identidade países, como na recusa de fornecimento de
inerente aos indivíduos ou aos grupos (Said, documentos por parte do governo brasileiro,
2003). Apesar de o autor refletir sobre seu inclusive para seus filhos menores. Além disso,
aspecto coletivo, observam-se no estudo a vigilância política continuou sendo feita no
das trajetórias individuais diferentes formas exílio por intermédio de pessoas infiltradas
de lidar com o exílio, conforme comentado nas comunidades de exilados, como pelos
anteriormente. Por conseguinte, o desterro, informes produzidos por repartições como
ainda que resultante de diferentes níveis da Consulados ou Embaixadas brasileiras. Por
perseguição política, nos faz pensar que, de fim, esta produção de informações alimentava
fato: “não houve um único exílio para cada um os serviços de inteligência da ditadura e os
dos países de origem, mas múltiplos exílios arquivos das DOPS de cada um dos Estados
desenvolvidos por uma diversidade de motivos brasileiros.
e de práticas políticas e sociais, em cada uma Por sua vez, as DOPS foram órgãos de
das nações onde os desterrados encontraram segurança pública estaduais, interligados
refúgio” (Yankelevich, 2011, p. 22). nacionalmente, responsáveis por manter a
Ao tratar do exílio espanhol após a Guerra ordem política e social do país através de
Civil, o jurista Virgilio Zapatero (2009) atividades de investigação, censura (no sentido
assevera no mesmo sentido: “Al exiliado, estrito de exame da documentação arrolada) e
decía Maria Zambrano, le dejaron sin nada, repressão. Seu funcionamento estava baseado
al borde de la historia; solo en la vida y sin no sistema arquivístico, por este carregar e
lugar; sin lugar propio. Había perdido su casa, ser diariamente retroalimentado com todas as
su familia, su pueblo, su hacienda, sus libros, informações que subsidiavam suas ações. Eram

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arquivados documentos de todas as espécies; O fato é que a experiência do exílio foi


de modo sintético, podemos dizer que existiam vivida por vários membros de movimentos
três tipos deste material: os produzidos pelos reformistas e revolucionários que estavam
agentes da polícia política depois de efetuados ameaçados, psicológica e/ou fisicamente,
interrogatórios, vigilâncias e até mesmo por manifestarem seus anseios pela melhoria
infiltrações nas instituições consideradas das condições sociais através de projetos
subversivas; os produzidos pelos órgãos e políticos incompatíveis com os anseios do
indivíduos que estavam sob vigilância e eram governo ditatorial. Estes exilados e exiladas
apreendidos; e os produzidos pela imprensa compunham a oposição política à ditadura,
sobre os vigiados. sendo professores, estudantes, líderes sindicais,
Apesar das particularidades históricas, as políticos, artistas, militares, entre outros.
DOPS se coadunavam com o trabalho exercido Apesar de ser um tema já pesquisado, nos
pela Polícia Internacional de Defesa do documentos arquivados pela DOPS/PR temos
Estado/Direcção-Geral de Segurança (PIDE/ uma possibilidade de analisar e compreender
DGS) em Portugal; inclusive, são recorrentes, a partir de outro prisma o fenômeno exilar
no período que antecedeu a Revolução dos brasileiro.
Cravos, as trocas de informações entre as Deste modo, a pretensão deste artigo é
duas polícias políticas sobre seus respectivos analisar a documentação oficial produzida
exilados (Fiuza, 2006). O 25 de abril de 1974 pelo Estado ditatorial e a experiência vivida
veio a romper com estes acordos, mas a por professores brasileiros que se exilaram
ditadura brasileira seguiu monitorando os para garantir sua sobrevivência, ameaçada por
exilados brasileiros que afluíram a Portugal, perseguições ocorridas no período da ditadura
preocupada, por exemplo, com as “ações do civil-militar brasileira (1964-1985). É notório,
Comitê Pró-Anistia em Portugal. Considerado a partir da produção desenvolvida pelos
um dos mais ativos, o comitê português exilados, especialmente entre os professores,
reuniu não apenas os exilados que já viviam como seus preceitos políticos influenciavam
na península, como também os que deixaram suas atividades pedagógicas, principalmente
os outros países para aguardarem a anistia através da Pedagogia Libertadora, que tem
naquele país” (Quadrat, 2004, p. 324). como princípio a educação como um ato
Nos documentos elencados na DOPS é político. Como aponta Gramsci (1991, p. 44),
notória a existência de muitas contradições, essa produção não é puramente individual, de
como, por exemplo, entre os interesses cada agente e indivíduo, mas produzida num
governamentais e os interesses dos exilados, fluxo dinâmico que se realiza e se desenvolve
entre o conceito de banido e de exilado, entre numa atividade transformadora social e em
a lei da anistia restrita e a anistia ampla, entre a constante contato com outros grupos sociais e
reabertura dos processos jurídicos dos banidos com a natureza, ou seja, com o meio onde o
ou a consideração do banimento como pena indivíduo está inserido.
cumprida. Enfim, avolumam-se muitas outras Nosso enfoque está nos indivíduos citados
questões que circundavam o tema do exílio, o nos dossiês temáticos do acervo DOPS/PR
que o torna um assunto quase inesgotável. que se exilaram em Portugal. Entre os 2.3781

1 São 2.378 dossiês, sem considerar que alguns possuem mais de uma pasta; por exemplo, o dossiê “Retorno de Exilados e Banidos”,
sob o número 1709, possui duas pastas: 1709A e 1709B.

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dossiês catalogados, analisamos os oito só há 128”, 1978). Assim, segundo Dallari


dossiês, citados anteriormente, que tratam (“Dallari refuta nota”, 1978), as perseguições
especificamente do exílio de brasileiros. Nesta e ameaças ocorridas no período autoritário
documentação, rastreamos os nomes dos conduziram cerca de 10 mil pessoas a exilar-se
exilados que foram professores no Brasil e/ou para garantir sua sobrevivência.
que atuaram na docência em Portugal. Por conseguinte, de acordo com a secretária
Organizamos esse artigo em três partes. Na Iramaya Benjamim, do Comitê Brasileiro
primeira, apresentamos os indivíduos que pela Anistia, existiam pouco menos de seis
antes do exílio atuavam na docência e os que mil brasileiros exilados na Europa, incluindo
atuaram na docência em Portugal durante o familiares de processados, sendo em média
exílio. Focamos ainda nos exilados que viveram um cônjuge e dois filhos. Esse número foi
em Portugal e apontamos, quando perceptível obtido através de um censo que estava em fase
nos documentos, se eles conseguiram se manter de conclusão; porém, só deve ser considerado
no exílio atuando na docência ou se aderiram como estimativa, visto que muitos exilados
à docência por consequência do exílio. Na tinham temor de serem identificados
sequência, tratamos das histórias individuais nominalmente, mesmo o censo sendo realizado
de cada professor exilado em Portugal, por uma espécie de senha numerada (“Quase
perscrutando quais atividades políticas seis mil”, 1978).
desenvolveram no exílio, se é que conseguiram Entre os 20 professores citados, há os
continuar na luta, e quais os problemas que foram banidos e os que se exilaram
encontrados para o retorno. Na última parte, “voluntariamente”. Essa questão entre
desenvolvemos algumas considerações sobre banidos, ou exilados formalmente, e exilados
as experiências e sobre a anistia implantada no voluntários, ou informalmente, foi muito
Brasil. polêmica, gerando vários recortes de jornais
sobre este assunto e que foram arquivados pela
1. Brasileiros professores e DOPS/PR.
professores brasileiros Os banidos são considerados os presos
Nos dossiês da DOPS/PR analisados políticos que foram trocados por diplomatas
levantamos os nomes de brasileiros que foram estrangeiros sequestrados em quatro diferentes
professores ou que trabalharam no exílio ocasiões, ocorridas entre os anos de 1969 e
como docentes, num total de 20 indivíduos, os 1970. Os diplomatas sequestrados foram: o
quais apresentamos na Tabela 1. Esse número embaixador norte-americano Charles Burke
foi seguramente maior, uma vez que só Elbrick, em 4 de setembro de 1969 – por ele
levantamos os nomes daqueles que figuravam foram trocados 15 presos políticos; o cônsul
nestes documentos. japonês Nobuo Okuchi, em 11 de março de
O número exato de brasileiros exilados não é 1970 – por ele foram trocados cinco presos
possível de ser levantado. Segundo o presidente políticos; o embaixador alemão Ehrenfried
da Comissão Pontifícia de Justiça e Paz de São Von Hollenben, em 11 de junho de 1970 –
Paulo, professor Dalmo de Abreu Dallari, “o por ele foram trocados 40 presos políticos;
número exato [de exilados] ninguém tem em e o embaixador da Suíça Giovanni Enrico
mãos. Entretanto, pelo simples noticiário dos Bucher, em 7 de dezembro de 1970 – por ele
jornais qualquer pessoa poderá facilmente foram trocados 70 presos políticos (“Dallari
chegar a centenas de exilados” (“No exílio refuta nota”, 1978). Entre esses presos políticos

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Ta b e l a 1
Professores exilados

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trocados por embaixadores, temos alguns Bergamini Miotto, foi ainda mais longe nas
professores, como podemos observar na Tabela suas colocações, dizendo que muitos estavam
2: Carlos Minc Baunfeld, Ieda dos Reis Chaves, apenas fazendo turismo: “não existe exilado.
Ladislau Dowbor, Maria do Carmo Brito, Pedro Existe o banido. Esses que se dizem apátridas
Alves Filho e Wilson Nascimento Barbosa. nos países onde chegam é mais para conseguir
Há outros casos singulares de banimento, documentos para fazer até turismo” (“Assessora
como foi o caso da expulsão dos integrantes de Falcão”, 1978).
do grupo teatral internacional Living Theatre, A questão conceitual entre banido e exilado
no dia 27 de agosto de 1971, assinada pelo moveu muitos órgãos a pronunciarem-se.
mais violento presidente da ditadura, Emílio O professor Raimundo Faoro, presidente
Garrastazu Médici. No mesmo arquivo da da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
DOPS/PR, encontra-se a ficha política do também expôs seu conceito de exilado,
músico português exilado Sérgio Godinho2, afirmando que aqueles que saíram do país o
que traz observações quanto a esta expulsão. fizeram de modo dramático e carregados de
De acordo com o Ministro da Justiça, intranquilidade psicológica. Para ele, exilados
Armando Falcão, que publicou uma nota não eram apenas aqueles que haviam sido
oficial no dia 17 de fevereiro de 1978, as banidos ou expatriados, mas também os que
afirmações de que milhares de brasileiros saíram do país por correrem perigo de prisão,
estariam residindo no exterior em condições e por considerarem que a restrição de sua
impróprias e impedidos de retornar ao país liberdade seria uma injustiça. Assim, Faoro
eram falsas. Em nota, afirmou que somente afirmou, na altura, que o conceito de exilado
os banidos estavam impedidos de regressar ao do Ministério era muito restritivo (Faoro, cit.
país, alegando que todos os outros brasileiros em “Governo esgotou o tema”, 1978).
que viviam no exterior por motivos políticos A Igreja também se posicionou através do
haviam escolhido voluntariamente sair do país cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo
e, do mesmo modo, poderiam voltar quando Evaristo Arns, que coerentemente pediu que
quisessem. Se, por acaso, tivessem algum “não se fizesse discussão em torno de termos,
processo instaurado contra eles, deveriam que não se discutisse entre exilados banidos e
defender-se na forma da Lei e “não fugindo”. entre pessoas que se exilaram voluntariamente”,
Assim asseverava: “não há, na realidade, pois há “um conjunto todo de injustiças que
‘exilados brasileiros’, mas, sim, brasileiros que deve ser sanado e um procedimento que se
se expatriaram por julgar isto de sua melhor baseasse em semântica, nessa hora, seria uma
conveniência” (Falcão, cit. em “No exílio só injúria aos que sofrem e também uma injúria
há 128”, 1978). Como se depreende deste aos que aqui nesta terra lutam pela justiça”
depoimento, a versão oficial de que não havia (Arns, cit. em “Dallari refuta nota”, 1978).
ditadura, tortura, desaparecimentos, censura Na Tabela 2 também é possível analisar o ano
e repressão era recorrente nas palavras dos do início do exílio de cada professor. O que
porta-vozes do regime. podemos perceber, não só entre professores,
A assessora de Assuntos Penitenciários do mas entre todos os exilados, sejam sindicalistas,
Ministério da Justiça, a professora Arminda estudantes, políticos, entre outros, é que saiu

2 Fichário Individual, n. º 18.294, datado de 21.12.1972, Arquivo do DOPS, Arquivo Público do Paraná. Este importante músico
e ator português esteve exilado na Suíça a partir de 1965 para fugir do serviço militar em Portugal e da ditadura portuguesa (1926-
1974).

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Ta b e l a 2
Professores exilados, ano, motivo e países de exílio

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do país um grande contingente de indivíduos 2. Experiências do exílio


logo após a instauração do golpe civil-militar p o rt u g u ê s
no ano de 1964, e outro após a instauração
do Ato Institucional nº 5 (AI-5) de 1968, nas A relação diplomática luso-brasileira, apesar
chamadas duas ondas do exílio e com suas dos ruídos na comunicação entre os países,
respectivas peculiaridades. parece ter sido pouco afetada pelo asilo de
Como apontou o jornal Folha de Londrina, brasileiros em Portugal. Isso certamente
ao tratar do livro Os Exilados: 5 mil brasileiros decorre do fato de que a longeva ditadura
à espera da anistia, de Cristina Pinheiro portuguesa havia sido derrubada em 25 de
Machado, publicado em 1979, o expurgo de abril de 1974, com a chamada Revolução
1964 ocorreu logo após a “divulgação dos dos Cravos. Nos 20 meses seguintes o país
primeiros 100 punidos pelo movimento foi governado por uma coalizão de centro
militar e a edição do Ato Institucional e de esquerda, o que levou muitos exilados
número 1”, começando assim a “caça as brasileiros a se mudarem para o país, atraídos
bruxas: perseguições políticas, inquéritos pelas experiências adotadas pelos governos
policiais-militares, casas saqueadas, violência portugueses e pela aura da revolução de abril,
desenfreada” (“Os homens, as mulheres e que encantou a esquerda mundial.
as crianças”, 1979). Foi neste momento que Após o 25 de abril, parte da intelectualidade
grupos de professores universitários foram brasileira optou por Portugal como destino e
demitidos e alguns se exilaram, como, por porto seguro, pela língua comum, pela proposta
exemplo, o professor Luiz Hildebrando Pereira inerente ao processo revolucionário em curso
da Silva e o professor Milton Santos, como (PREC) e por sua proposta de vanguarda
se pode verificar na Tabela 2. Vale comentar política: “diante desses fatos, Portugal passou a
que este livro de Cristina Pinheiro Machado atrair exilados de vários países, principalmente
é considerado por diversos autores o primeiro da América Latina, conforme relata Gilvan
a propor uma análise do exílio com base Rocha, os quais foram concentrados numa
em depoimentos dos exilados que estavam colônia de férias de trabalhadores na Costa da
retornando (Cruz, 2012, p. 117). Porém, antes Caparica” (Cortez, 2000, p. 656). Apesar destas
dele, no ano de 1978, foi publicado o livro De condições políticas favoráveis aos exilados
muitos Caminhos, que também se baseia em brasileiros, Rodrigo Pezzonia (2017) revela,
depoimentos de exilados brasileiros (Uchoa & em sua tese de doutoramento, os impasses no
Ramos, 1978). governo português quanto a entrada destes
Com a situação política no país cada vez exilados:
mais dramática, uma nova onda de repressão
foi desencadeada, conduzindo a uma segunda O Ministério da Segurança, em julho de 1974,
fase do êxodo dos brasileiros de oposição, era severo em advertir que, enquanto não fosse
principalmente após a edição do AI-5. editada uma legislação que pudesse normatizar
Na Tabela 2 também é possível analisar os a atividade dos exilados, estes não deveriam ser
países de exílio de cada professor e comprovar aceitos no território português. Pois, apenas com
que, entre os 20 citados, sete se exilaram em estas leis poder-se-ia obstar ações, que pudessem
Portugal. Discorreremos sobre alguns deles no comprometer as relações existentes entre
próximo tópico. Portugal e os países aos quais esses estrangeiros
pertenciam, justificando, assim, atitudes de

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retaliação. Além disso, as organizações oficiais Pezzonia (2017) traça uma precisa cartografia
portuguesas não deveriam ser facultadas como do exílio brasileiro em Portugal, arrolando um
locais de trabalho a estrangeiros refugiados ou outro nome de professores e professoras
políticos, como tradutores, intérpretes, brasileiros que não figuram na documentação
professores, etc. (p. 45) da DOPS, levantada para a produção deste
texto.
Apesar desta política, o mesmo autor Enfim, há indícios de que a questão dos
identificou, em seu pioneiro estudo, como exilados não foi pauta de reuniões entre os dois
os exilados brasileiros conseguiram exercer países, nem mesmo no ano de 1978, quando
suas atividades profissionais, inclusive em o assunto se tornou ainda mais polêmico
cargos públicos, como foi o caso de vários com os debates entre o Comitê da Justiça
professores que trabalharam em escolas e Paz e o Ministério da Justiça, por conta
e universidades públicas. As práticas das exigências que vinham sendo realizadas
educacionais desenvolvidas por esses para que fosse aprovada uma lei de anistia.
professores identificaram-se, em muitos O motivo, segundo o Ministro de Relações
casos, com o processo de conscientização e Exteriores de Portugal, Sá Machado, é que “os
libertação da pedagogia freireana. Além disso, exilados não constituem problema ao nível
em países africanos de língua portuguesa, Executivo”, pois, caso fossem considerados
o anteriormente citado IDAC conseguiu como ameaças, exercendo manifestações ou
desenvolver uma série de projetos voltados à atividades políticas criminais, o Estado tomaria
alfabetização de cunho mais politizado. providências, e aí sim a questão passaria ao
Num documento do Ministério de Assuntos domínio dos tribunais. Porém, “esse não é o
Internos português, datado de 26 de abril de caso dos exilados brasileiros” (Machado, cit.
1977, são arroladas informações sobre os em “Para chanceler português”, 1978).
exilados; entre eles, inúmeros professores: Apesar desta assertiva, muitos exilados
brasileiros continuaram a lutar por seus ideais
o texto afirma que o total de estrangeiros em durante o exílio. Por exemplo, o professor
funções públicas é de 228. Neste caso, 60 seriam Pedro Celso Uchoa Cavalcanti, junto com
brasileiros. Estrangeiros ligados ao Ministério Jovelino Ramos, dirigiu e organizou o livro
da Educação e da Investigação Científica intitulado De Muitos Caminhos, lançado pela
seriam 162; destes, os brasileiros são a maioria: primeira vez no ano de 1976 por uma editora
41 profissionais... Agora, no que confere a portuguesa. Esse livro é o primeiro volume
participação em atividades suspeitas, de um do projeto Memórias do Exílio. Neste livro,
total de 20 estrangeiros, 13 seriam brasileiros; há uma Carta dirigida a Paulo Freire, do
sete, vinculados ao Ministério da Educação e da escritor, sociólogo e poeta Fernando Batinga
Investigação Científica. (Pezzonia, 2017, p. 96) de Mendonça, e neste texto é notório, bem
como em outros manuscritos, entrevistas e
Segundo o mesmo autor, a inserção dos dossiês disponíveis no livro, a necessidade
professores e professoras brasileiros na fundamental da construção do conhecimento
Universidade Pública portuguesa foi observada e reforço das relações sociais estabelecidas
de perto pela Embaixada brasileira, conforme no exílio para a criação de uma sociedade
atesta a documentação oficial. Vale ressaltar mais ética, justa, humana e solidária, na luta
ainda que a tese de doutoramento de Rodrigo pela liberdade e igualdade. Outro exemplo é

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a professora Valentina da Rocha Lima, que, Interessante que alguns dos planejadores e
juntamente com outras três mulheres exiladas, organizadores não se identificaram logo no
coordenou e organizou o segundo volume, início da execução do Projeto, o que se deve
intitulado Memórias das Mulheres do Exílio, às incertezas e inseguranças provocadas
lançado em 1980 no Brasil (Costa, Moraes, pelo exílio. Dos seis envolvidos, somente
Marzola, & Lima, 1980). Jovelino Ramos não era exilado. Era o vice-
O projeto Memórias do Exílio, que, de presidente do Conselho de Igrejas Protestantes
modo semelhante à criação do IDAC, se e conseguiu uma fração diminuta, mas muito
deu em Genebra, foi uma ideia nascida importante, dos recursos para o financiamento
durante a experiência de exílio de brasileiros do primeiro livro. O principal organizador foi o
que estavam na Polônia, quando ficaram professor Pedro Celso Uchoa Cavalcanti, o que
impressionados com a riqueza da memória faz com que todas as suas citações arquivadas
coletiva dos poloneses sobre as emigrações nos dossiês da DOPS/PR estejam remetidas
políticas ocorridas na década de 1920. Estas ao Projeto. Um terceiro organizador é Rubem
constituíam um acervo histórico de valor Cesar Fernandes, que não tem seu nome
inestimável, devendo integrar-se ao amplo citado no livro, e nem mesmo nos arquivos da
projeto que estava se formando pelos exilados, DOPS/PR encontramos citações comentando
em defesa da construção de conhecimentos sobre seu exílio. Outros dois organizadores só
emancipadores, contribuindo para a se identificaram dois anos após a publicação
consciência social e histórico-crítica. Como feita em Portugal; são eles Clovis Brigagão e
bem asseveram os organizadores na introdução Marcus Arruda. Por fim, o sexto organizador
do primeiro livro: preferiu ficar no anonimato (“Uma reflexão
crítica”3, 1978).
o projeto Memórias do Exílio nasceu assim A concretização desse Projeto se deu através
de uma preocupação com o passado, uma da elaboração do primeiro volume da coleção,
preocupação que, sendo típica de historiadores, o livro intitulado De Muitos Caminhos, que
é também comum entre exilados, excluídos conta com 25 entrevistas realizadas com
que foram da vida pública de seu país. Mas o exilados brasileiros, entre eles o ex-deputado
projeto é outrossim uma ponte para o futuro, um e professor Márcio Moreira Alves, e com
documento da presença ativa de gente atualmente documentos inéditos sobre o exílio. Na parte
marginalizada pela propaganda governamental final do livro, os autores prepararam um
com a pecha de “maus brasileiros”. (Uchoa dossiê especial e completo sobre o dominicano
Cavalcanti & Ramos, 1978, p. 9) brasileiro Frei Tito de Alencar Lima, que se
suicidou nos arredores de Lyon, durante seu
O planejamento e a organização do exílio, no ano de 1974, por complicações
Projeto foram feitos por seis intelectuais, psicológicas provocadas pelas perseguições
sob o patrocínio de Paulo Freire, Abdias políticas e torturas sofridas na prisão (Uchoa
do Nascimento e Nelson Werneck Sodré. Cavalcanti & Ramos, 1978; “Uma reflexão

3 A mesma matéria de jornal que estamos usando de referência foi publicada pela segunda vez, com o mesmo formato, inclusive
sob o mesmo título, Memórias do Exílio: a vida de 10 mil brasileiros no exterior, no Jornal Folha de Londrina de 11 de janeiro de 1979,
que está arquivado no acervo da DOPS/PR em outro dossiê, no de número 1709A. Como a matéria do Jornal do Brasil foi a primeira
edição, a usaremos como referência nas nossas citações durante esse artigo.

Revista Portuguesa de Educação, 32(1)


O exílio dos professores brasileiros em Portugal 27

crítica”, 1978). (“Mulheres escrevem livro”, 1980; “Uma


O segundo volume da coleção foi o livro reflexão crítica”, 1978).
Memórias das Mulheres do Exílio, lançado Segundo Uchoa Cavalcanti (“Uma reflexão
pela primeira vez no ano de 1980 pela editora crítica”, 1978), ao comentar sobre o segundo
brasileira Paz e Terra. Esse livro abrangeu livro, esse seria a prova de como o exílio mudou
mais depoimentos que o primeiro, contando a vida das mulheres, já que, por exemplo,
a experiência de 40 mulheres exiladas. Os algumas das que eram ativistas no Brasil
depoimentos estavam sendo coletados desde tiveram que lidar com situações completamente
o ano de 1976 e resultaram em 2000 páginas contrárias às funções que exerciam, como,
(“Mulheres escrevem livro”, 1980). Esse total por exemplo, cuidar das crianças e controlar
de páginas só foi possível porque o livro sobre a comida para que durasse mais tempo. Em
as mulheres teve maior investimento do que o contrapartida, outras que eram pouco ativas
primeiro, que não tinha nem mesmo dinheiro politicamente no Brasil, no exterior viram-
para a compra de fitas para gravação dos se obrigadas a agir. O mais interessante é que
depoimentos, fazendo com que as fitas fossem o livro valoriza a figura feminina – que, por
reaproveitadas e muitos depoimentos fossem conta da política brasileira e também mundial,
gravados por cima de outros. Os apoiadores do sempre foi ignorada, enquanto os homens
segundo volume, além do Conselho de Igrejas, eram os “heróis” –, ainda que sem assinalar-
foram a Fundação Ford e o Social Research se como feminista (“Uma reflexão crítica”,
Council da Universidade de Washington, 1978). Entre as mulheres brasileiras exiladas,
onde Uchoa Cavalcanti foi professor. Porém, vale destacar a figura de Rosiska Darcy de
segundo ele, isso é um descaso das fundações Oliveira, fortemente influenciada por Paulo
e do governo brasileiro, pois são eles quem Freire ao conhecê-lo em Genebra. Esta valente
deveria ter o interesse em registrar a memória mulher, demonstrando acreditar na educação
brasileira (“Uma reflexão crítica”, 1978). e na cultura como meios emancipatórios,
Na coordenação dessa segunda obra estava produziu (e produz) diversas obras, tratando
a professora Valentina da Rocha Lima, esposa de temas como o feminismo, a educação e
do professor Uchoa Cavalcanti4, e mais a vida contemporânea, de que é exemplo o
três companheiras exiladas: Maria Teresa livro A Libertação da Mulher, publicado pela
Porciúncula Moraes, Albertina de Oliveira primeira vez em 1975, em Lisboa (Oliveira &
Costa e Norma Marzola. Elas começaram a Calame, 1975).
organização das entrevistas enviando dois Os últimos volumes da coleção Memórias
mil convites para exiladas, sem obedecer a do Exílio pretendiam abordar o retorno dos
qualquer padrão prévio, ou seja, entrevistaram exilados, analisando o Brasil a partir do
tanto as mulheres que saíram exiladas, como estrangeiro, a esperança do retorno e o que
as que apenas acompanharam algum exilado se encontraria no país real na chegada. Não

4 O casamento de Rocha Lima com Uchoa Cavalcanti não foi o único motivo de a militante estar na coordenação do segundo livro.
Ela, em Portugal, atuou num grupo acadêmico que discutia os problemas sociais e a condição da libertação da mulher, coordenou
um seminário sobre a evolução histórica da situação social da mulher e foi docente no Departamento de História da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, ou seja, seu currículo era ideal para coordenar um livro sobre o exílio feminino. Com Norma
Marzola não foi diferente; além de militante, foi aluna da Universidade Nova de Lisboa, onde se especializou em Evolução Cultural
e Social, orientada pelo renomado historiador José Vitorino Magalhães Godinho.

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28 Braggio, A. K. & Fiuza, A. F.

encontramos nenhum indício de publicação Para ela, o exílio também foi uma experiência
desses últimos volumes que estavam sendo boa. Em Portugal, ela passou a fazer parte de
planejados. Porém, encontramos alguns um grupo acadêmico que discutia problemas
depoimentos em outros recortes de jornais sobre a condição da libertação da mulher,
onde os professores comentam sobre o coisa que acreditava que não viveria no Brasil,
regresso. naquele momento.
Viver no exílio para muitos só foi possível O retorno, para a professora Maria do Carmo
porque a esperança do retorno os mantinha Brito, exilada em Portugal, também é carregado
firmes; já para outros, as novas experiências os de receios. Ela tinha medo da ação de pequenos
fizeram desapegar-se do saudosismo brasileiro. grupos de repressão, do capitalismo selvagem
Uchoa Cavalcanti é um exilado que se coloca brasileiro, de ser tratada como diferente e de
como desapegado do Brasil. Para ele, as reviver a morte do marido. Sua preocupação
experiências do exílio foram imprescindíveis não era vã, uma vez que foi a primeira mulher
para seu amadurecimento, a ponto de achar no comando de uma organização guerrilheira
que após o exílio sentiria saudades dele. Como no Brasil, e provavelmente em toda a América
afirmou em entrevista para o Jornal do Brasil: Latina, quando esteve à frente da Vanguarda
“para mim, o Brasil não é uma necessidade Popular Revolucionária (VPR). Porém, para
como talvez o seja para outros exilados. ela, a esperança no povo brasileiro era maior
Aprendi a viver sem saudade do meu país... do que seus medos, por isso ela sonhava muito
Nele [no exílio], vivi experiências importantes, em retornar ao Brasil trazendo na mala as boas
que me tornaram menos imbecil do que eu era lembranças, como a solidariedade, a cultura, a
no Brasil” (Uchoa Cavalcanti, cit. em “A volta consciência e a dignidade dos países em que
do exílio”, 1979). No exílio, ele conheceu o passou durante o exílio (Brito, cit. em “A volta
socialismo na Polônia, a fertilidade de ideias do exílio”, 1979).
na Itália, sua esposa (a brasileira Valentina da Por sua vez, o professor Alcidino Bittencourt
Rocha Lima) em Portugal, e outras experiências Pereira não comentou na Imprensa sobre
riquíssimas que ele sabe que não existiriam seus sentimentos quanto ao retorno, mas é
no Brasil, pois, para ele, o país que o esperava interessante frisar que ele só veio ao Brasil em
no retorno seria muito precário, muito pobre 1979 para legalizar sua situação de anistiado
e com uma democracia feita apenas para as e visitar parentes e amigos. Logo retornaria
classes média e alta. para a Alemanha para continuar seu trabalho
Essa preocupação com o regresso também de professor na Universidade de Berlim, até
afligia a professora Valentina da Rocha Lima e, o final do ano de 1980, quando seu contrato
em entrevista também para o Jornal do Brasil, de trabalho venceria (Bittencourt Pereira, cit.
ela mostrou-se preocupada: em “Exilados Voltam”, 1979). No período que
antecedeu seu exílio, foi militante político,
a primeira dúvida que me assalta é se vou ou estudante de Direito e ator no teatro político.
não me reconhecer no Brasil. Será tudo familiar? Aquando de seu retorno ao Brasil, na década
Mudei eu? Mudou o Brasil? Temo que as de 1990, atuou em importantes cargos diretivos
mudanças talvez não me agradem. Afinal, como no Governo do Estado do Paraná.
é que me vou colocar num modelo de civilização Porém, retornar não dependia somente da
que rejeito? (Rocha Lima, cit. em “A volta do vontade dos exilados. O ex-deputado Márcio
exílio”, 1979) Moreira Alves, que em Lisboa lecionou em um

Revista Portuguesa de Educação, 32(1)


O exílio dos professores brasileiros em Portugal 29

instituto de ensino superior, escreveu para o nesses países uma experiência política mais
jornal Gazeta do Povo, em 1978, mostrando-se tranquila em relação aos que se exilaram em
indignado com a recusa do governo brasileiro países capitalistas e tidos como democráticos
em fornecer documentos às pessoas exiladas. (Fernandes, cit. em “Uma reflexão crítica”,
Segundo ele, isso só acontecia porque o governo 1978). Segundo Uchoa Cavalcanti, numa visão
fazia perseguição burocrática aos indivíduos pouco usual entre os militantes políticos, isso
que estavam na oposição ao então regime. teria acontecido porque a militância política
Os fatos que ele apontou vão na contramão só existiria no mundo democrático capitalista
das informações do Ministro da Justiça, pois e “nem no franquismo nem no comunismo
a “afirmação do Ministro da Justiça, de que há espaço para politização militante” (cit. em
não existem exilados e, sim, expatriados, “Uma reflexão crítica”, 1978).
é mais uma vez desmentida pelos fatos. Se De acordo com os dois organizadores da
meros expatriados fôssemos, poderíamos, obra, as diferentes áreas de exílio, a força
evidentemente, requerer a prova de nossa individual e até mesmo o acaso determinavam
nacionalidade às autoridades consulares”, mas as adaptações e o aprendizado, influenciando
nem isso eles estavam conseguindo (Moreira também suas fundamentações e práticas
Alves, cit. em “De exilados e banidos”, 1978). pedagógicas. O que aconteceu em comum
Por conseguinte, além das dificuldades de com a maioria dos exilados foi o nomadismo,
obtenção da documentação nos países de que não permitia a opção de controlarem
acolhida, era recorrente o empecilho para seus destinos. Como podemos ver na Tabela
obter ou renovar os passaportes, e mesmo 2, muitos não conseguiram estabelecer-se
de encaminhar documentos para os filhos em somente um país, e, assim, transitaram
nascidos ou crescidos no exílio. por vários países. Sobrevivendo de bolsas
Como se depreende destes depoimentos, as de estudo, favores, trabalhos temporários,
impressões sobre o retorno ao Brasil eram as solidariedade e compaixão, alguns até
mais variadas entre os exilados, uma vez que conseguiram bons empregos. Segundo alguns
não formavam um grupo homogêneo. Segundo exilados, o amargor das experiências fez com
Uchoa Cavalcanti, o exilado não poderia ser que muitos se humanizassem, amadurecessem
considerado um “monobloco” ameaçador, pois e se tornassem politicamente mais preparados,
“tem gente tão diversa no exílio quanto a gente mas também houve os que se tornaram mais
que permaneceu no Brasil, com tendências, autoritários e despreparados para continuar a
aspirações, limitações e talentos igualmente vida política (“Uma reflexão crítica”, 1978).
diversificados. O que nos une é a brasilidade, Uma dinâmica comum à maioria dos
que, na distância, correu mais tensa nas veias” exilados e exiladas aqui mencionada se
(Uchoa Cavalcanti, cit. em “Uma reflexão refere a intelectuais que puderam se dedicar
crítica”, 1978). à docência por sua experiência anterior, o
Igualmente, o convívio no exílio é diferente que se diferenciava da maior parcela dos
de um indivíduo para outro. Como analisou exilados que buscavam ocupações laborais
Fernandes, um dos organizadores do livro diversas.Portanto, o recorte presente neste
De Muitos Caminhos (1978), ao realizar as artigo, em torno dos professores exilados,
entrevistas, algumas chegavam a ser irônicas, revela outra particularidade, que é uma
como entre os militares que preferiram exilar- recorrência observada nos diferentes exílios
se em países socialistas, como Cuba, tendo das décadas de 1960 e 1970: a constituição

Revista Portuguesa de Educação, 32(1)


30 Braggio, A. K. & Fiuza, A. F.

de uma rede exilar. Tais redes reuniam os professor Jorge de Sena, naturalizado brasileiro,
exilados pela proximidade da militância no por sua vez, doutorou-se na Faculdade de
Brasil, pela filiação partidária, pela profissão, Letras de Araraquara e aí exerceu a docência.
por parentesco, mas também havia certa O historiador português da USP Joaquim
volatilidade trazida pela convivência nas Barradas de Carvalho teve uma forte inserção
comunidades brasileiras que foram se formando acadêmica e atuação política nos círculos
inicialmente no exílio latino-americano e, oposicionistas às duas ditaduras. Podemos
posteriormente, europeu, principalmente na citar ainda João Sarmento Pimentel, Jaime
França, Alemanha, Suíça, Itália e Inglaterra. Cortesão, Eduardo Lourenço, Agostinho da
Estas redes formaram núcleos importantes Silva e Adolfo Casais Monteiro, entre outros
no exílio, tanto para atividades de denúncia (Lemos & Leite, 2003).
contra a ditadura brasileira, como para a
execução de projetos políticos, pedagógicos C onsiderações Finais
e profissionais, como foi o caso dos projetos
O exílio voluntário não decorreu somente
educativos e ocupações laborais no interior
da vontade do indivíduo de sair do país, mas
das Universidades, por parte deste grupo.
das condições de liberdade durante a ditadura
De Portugal, parte deste grupo de
militar, que afetaram o convívio social, levando
professores brasileiros novamente se deslocou,
a essa escolha, por vezes saída inexorável para
desta vez para os países africanos, recém-
garantir a sobrevivência física. Através da
saídos da condição de colônias, onde, ao
propaganda governamental, os que saíram
longo da década de 1970, realizou projetos
eram acusados de fugitivos da Justiça. Com
educacionais liderados por Paulo Freire.
isso, o direito internacional que dava proteção
Alguns destes professores atuaram junto aos
ao exilado, mostrando que o asilo, antes de
movimentos de libertação colonial; entre eles,
ser um dos direitos humanos, é um direito
estiveram intelectuais ligados ao Instituto de
de Estado, camuflava-se e causava maiores
Ação Cultural (IDAC), fundado por exilados
conflitos entre o governo e seus exilados.
brasileiros, liderados por Paulo Freire, em
Como aponta Dallari (“Dallari refuta
janeiro de 1971, em Genebra. Este grupo,
nota”, 1978), a anistia seria o princípio de
até 1979, realizou trabalhos vinculados à
reconciliação do país com seus exilados. E,
educação formal, formação de professores,
nessa reconciliação, o Brasil só teria a ganhar,
projetos de formação de lideranças femininas
visto que pessoas de alto nível profissional,
e de alfabetização.
intelectual e científico voltariam para colaborar
Refletindo sobre os caminhos do exílio,
com seu desenvolvimento. Neste sentido, os
igualmente inúmeros intelectuais portugueses
professores trariam modernização pedagógica,
se exilaram no Brasil durante a ditadura
dado que a maioria deles regressaria com visões
portuguesa e aí se dedicaram à docência5.
mais humanistas e militantes, com capacidades
Vítor de Almeida Ramos lecionou Literatura
de proporcionar a seus alunos um processo
Francesa na UNESP, campus de Assis, em São
de identificação dos problemas sociais e uma
Paulo, e na Universidade de São Paulo (USP)
busca pela sua superação. Porém, a anistia, por
a partir do fatídico ano de 1964. O escritor e

5 Sobre o tema, ver ainda: Paulo, H. (junho, 2009). O exílio português no Brasil: Os “Budas” e a oposição antisalazarista. Portuguese
Studies Review, 14(2), 125-142.

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O exílio dos professores brasileiros em Portugal 31

muito tempo, ficou somente no debate entre R eferências


os que a queriam ampla, geral e irrestrita, e
os que a preferiam sob certas condições. Os Aróstegui, J. (2006). A pesquisa histórica:
últimos ganharam e ela foi transformada em História e método. Bauru: Edusc.
Lei, inclusive extremamente favorável aos Cortez, L. G. (2000). Pensamento e acção
algozes destes exilados e demais vítimas da política de exilados brasileiros pela
ditadura, mas que possibilitou que metade dos independência das colônias portuguesas.
estimados seis mil exilados pudessem retornar In Grupo de Trabalho do Ministério da
após setembro de 1979 (“A volta do exílio”, Educação para as Comemorações dos
1979). Todavia, o retorno não era simples, pois Descobrimentos Portugueses, Actas do
muitos tinham receio e anseios diversos de Congresso Luso-Brasileiro – Portugal-Brasil:
voltar ao Brasil. Alguns queriam chegar o mais Memórias e imaginários (v. 1, pp. 650-664).
rápido possível; outros, cautelosos, preferiam Lisboa: Ministério da Educação.
esperar mais um pouco pelo andamento da Costa, A. O., Moraes, M. T. P., Marzola, N., &
política brasileira e resolver seus problemas Lima, V. R. (1980). Memórias das mulheres
no exterior, como, por exemplo, concluir no exílio. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
seus trabalhos, pagar contas, vender seus Cruz, F. L. (2012). A História e as memórias
imóveis, ou até mesmo terminar seus cursos do exílio brasileiro. Revista Catarinense de
universitários. História, 20, 115-137.
No exílio, alguns se sentiram livres para Fiuza, A. F. (2006). Entre um samba e um
continuar suas atividades políticas e até fado: A censura e a repressão aos músicos no
mesmo registraram sua história em livros de Brasil e em Portugal nas décadas de 1960 e
autobiografia e também através da coleção 1970 (Tese de Doutoramento). Faculdade de
Memórias do Exílio. Sem sombra de dúvidas, Ciências e Letras da Universidade Estadual
sem esse Projeto a memória coletiva do exílio Paulista, Assis, Brasil.
estaria ainda mais fragmentada e perdida no Freire, P., Rosiska, M., Oliveira, D., &
tempo. Ceccon, C. (1983). Vivendo e aprendendo:
O exílio é um assunto que nunca se esgota. Experiências do IDAC em educação popular
Sempre há mais experiências que demandam (4ª ed.). São Paulo: Brasiliense.
sua escrita, sua exposição pública e sua difusão Gramsci, A. (1991). Concepção dialética da
social pela preservação da memória do país. História (9ª ed.). Rio de Janeiro: Civilização
Nesse sentido, a história oral e os documentos Brasileira.
presentes nos arquivos, como no acervo das Lemos, F., & Leite, R. M. (2003). A missão
DOPS, são fontes preciosas para a história portuguesa: Rotas entrecruzadas. São Paulo:
recente do país. Como assevera o ex-exilado EDUNESP.
e sociólogo Fernando Batinga de Mendonça: Oliveira, R. D., & Calame, M. (1975). A
“Brasileiros nascemos, brasileiros iremos libertação da mulher. Lisboa: Sá da Costa.
morrer./ A Pátria não é propriedade privada./ Pezzonia, R. (2017). Exílio em português:
Ela pertence a todos nós” (cit. em “Exilado que Política e vivências dos brasileiros em Portugal
voltou”, 1978). (1974-1982) (Tese de Doutoramento).
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, São
Paulo, Brasil.

Revista Portuguesa de Educação, 32(1)


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Revista Portuguesa de Educação, 32(1)


O exílio dos professores brasileiros em Portugal 33

DOPS, Exilados Subversivos, pasta 957, Th e e x i l e o f B r a z i l i a n t e a c h e r s


topografia 111. i n p o rt u g a l a n d t h e d o c u m e n t s
Quase seis mil exilados na Europa. (1978, of DOPS-PR
junho 17). Jornal Correio de Notícias.
Disponível em: Departamento Estadual de Abstract
Arquivo Público. Arquivo DOPS, Exilados This article aims at analyzing the experiences
Subversivos, pasta 957, topografia 111. of Brazilian teachers who were exiled for their
Uma reflexão crítica sobre o que aconteceu. survival, as they were threatened by persecution
(1978, dezembro 2). Jornal do Brasil. during the period of the Brazilian civil-military
Disponível em: Departamento Estadual de dictatorship (1964-1985). We focus on the
Arquivo Público. Arquivo DOPS, Exilados individuals referred to in the thematic dossiers
Subversivos, pasta 957, topografia 111. in the files of the Political and Social Order
Office in the State of Paraná (DOPS/PR) who
were exiled in Portugal. Among the 2.378
dossiers cataloged at DOPS/PR, we analyzed the
eight dossiers that mention specifically the exile
of Brazilians. In these files, we traced the names
of the exiles who were teachers in Brazil and/
or Portugal. Our goal is to present, as a part of
the history of the exile itself, the history of some
of these teachers, who, despite the difficulties
of adapting to a new culture and living in
new social and political spaces, away from
friends and family, have assumed prominence
in the consolidation and circulation of new
ideals in the political-ideological plan. They
also contributed to pedagogical development,
using as a sporadic reference the Liberating
Pedagogy of the critical and emancipatory
educational movement under the influence
of Paulo Freire, who, because of his political
militancy incompatible with the aspirations of
the dictatorial government, also experienced
exile.

Keywords: Exile; Activism; Teaching;


Dictatorship.

Revista Portuguesa de Educação, 32(1)


34 Braggio, A. K. & Fiuza, A. F.

El exilio de profesores emancipatorio bajo influencia de Paulo Freire,


b r a s i l e ñ o s e n P o rt u g a l y l a que, por su militancia política incompatible con
d o c u m e n ta c i ó n d e l D O P S - P R los anhelos del gobierno dictatorial, también
vivenció la experiencia del exilio.
Resumen
Este artículo anhela analizar la experiencia Palabras clave: Exilio; Militancia;
vivida por profesores brasileños que se Enseñanza; Dictadura.
exiliaron para garantizar su supervivencia,
amenazada por persecuciones ocurridas en el
período de la dictadura civil-militar brasileña
(1964-1985). Nuestro enfoque está dirigido
a las personas mencionadas en los dossiers
temáticos de la colección de la Policía de Orden
Político y Social del Estado de Paraná (DOPS/
PR) y que se exiliaron en Portugal. Entre los
2.378 expedientes de la DOPS/PR catalogados,
analizamos los ocho expedientes que tratan
específicamente del exilio de brasileños. En
estos materiales, rastreamos los nombres
de los exiliados que eran maestros en Brasil
y/o trabajaron en la enseñanza en Portugal.
Nuestro objetivo es presentar, como parte de
la historia del exilio, la historia de algunos de
estos profesores, que, a pesar de las dificultades
de adaptación a una nueva cultura y de vivencia
en nuevos espacios sociales y políticos, alejados
de amigos y familiares, continuaron luchando
por sus ideales y han asumido relevo en la
consolidación y circulación de nuevos ideales
en el plano político-ideológico. Contribuyeron
aún al desarrollo pedagógico, utilizando como
referencia, aunque esporádica, la Pedagogía
Libertadora del movimiento educativo crítico y

i
Colegiado de Filosofia, Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil. ORCID:
0000-0001-8339-4700
ii
Colegiado de Pedagogia, Centro de Educação, Comunicação e Artes, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil.
ORCID: 0000-0003-2270-6816

Toda a correspondência relativa a este artigo deve ser enviada para:


Ana Karine Braggio
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Centro de Ciências Humanas e Sociais
Rua da Faculdade, 645 – Colegiado de Filosofia
Jardim La Salle Recebido em 1 de maio de 2018
85903-000 – Toledo, PR – Brasil Revista Portuguesa de Educação, 32(1)
Aceite para publicação em 7 de janeiro de 2019
E-mail: anakarinebraggio@hotmail.com

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