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RECIFE- 2015
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1. INTRODUÇÃO
1.1. Queijo
É um concentrado lácteo constituído de proteínas, lipídios, carboidratos, sais minerais, cálcio, fósforo e
vitaminas, entre elas A e B. É um dos alimentos mais nutritivos que se conhece. Os minerais participam
do processo de coagulação do leite, influenciando a textura do queijo. O líquido residual, cujo teor varia
com o tipo de queijo, é chamado lactosoro; boa parte dele é eliminada durante o processo de fabricação
e aproveitada como matéria-prima na produção de iogurtes, ricota e outros produtos.
A classificação dos queijos baseia-se em características decorrentes do tipo de leite utilizado, do tipo de
coagulação, da consistência da pasta, do teor de gordura, do tipo de casca, do tempo de cura etc.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), queijo é “o produto fresco ou
maturado que se obtém por separação parcial do soro do leite ou leite reconstituído (integral, parcial ou
totalmente desnatado) ou de soros lácteos, coagulados pela ação física do coalho, enzimas específicas
de bactérias específicas, de ácidos orgânicos, isolados ou combinados, todos de qualidade apta para uso
alimentar, com ou sem agregação de substâncias alimentícias e/ou especiarias e/ou condimentos,
aditivos especificamente indicados, substâncias aromatizantes e matérias corantes.”
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica os queijos de acordo com seu teor em gordura [G =
(mg/mt-mg)x100], e seu teor de umidade (U=(mu/mt-mg)x100]. Onde mg, mu, mt são,
respectivamente, a massa de matéria graxa, a massa úmida e a massa total, em gramas. Têm-se assim
escalas de vão de U < 1 (queijos extras duros) a U > 67 (queijos macios) e G > 60 (queijos muito
gordurosos) a G < 10 (queijos não-gordurosos).
A embalagem dos queijos difere de acordo com a sua consistência. Grande parte dos queijos frescos não
é embalada, sendo geralmente comercializados em anéis ou pequenos tabuleiros plásticos. Os queijos
de pasta mole continuam o seu processo e maturação durante a comercialização pelo que pode ser
utilizado um filme que permita trocas gasosas. No caso dos queijos de pasta dura, a embalagem consiste
geralmente num revestimento com cera e num filme plástico ou de celofane. Quando o queijo é
comercializado em porções, é normalmente utilizada a embalagem a vácuo.
O queijo fresco deve ser transportado em veículos refrigerados, a uma temperatura máxima de 4 °C. No
caso de queijos de pasta mole, a temperatura de transporte deverá ser inferior a 6 °C e nos de pasta
dura não poderá ultrapassar os 10 °C.
No ponto de venda, o queijo fresco deverá encontrar-se a uma temperatura entre 0 °C e 6 °C, enquanto
o curado poderá estar entre 0 °C e 10 °C. O tempo de conservação do queijo é muito variável, desde
alguns dias no caso dos queijos frescos, até alguns anos no caso dos queijos de cura longa ou extra-
longa.
1.2. Iogurte
É um produto de leite fermentado semi-sólido que se originou séculos atrás, na Bulgária. Sua
popularidade cresceu e agora é consumido em muitas partes do mundo. O iogurte é uma forma de leite
fermentado por bactérias produzido na maioria dos países onde o leite fresco está disponível.
Originalmente um meio de preservar o valor nutritivo do leite (o pH ácido de iogurte inibe o
crescimento de organismos de deterioração), sendo atualmente um produto alimentar muito popular
mundialmente.
O iogurte é produzido comercialmente por fermentação controlada de leite (geralmente de vaca) por
duas espécies de bactérias (Figura 1), Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus (também conhecido
como Lactobacillus bulgaricus) e Streptococcus salivarius subsp. thermophilus (também conhecido como
Streptococcus thermophilus).
Os iogurtes sólidos e batidos são normalmente acondicionados em copos plásticos ou em copos de vidro
fechados com um selo de alumínio revestido. Os iogurtes líquidos são geralmente acondicionados em
garrafas plásticas, fechadas com um selo de alumínio ou com uma tampa plástica.
A refrigeração durante a distribuição é essencial, para evitar o crescimento dos microrganismos que
tenham resistido ao tratamento térmico e também para evitar a mudança da cor da fruta devido à
acidez. O transporte deve ser efetuado em condições tais que a temperatura máxima do iogurte não
ultrapasse os 8 °C no transporte longo e os 10 °C na distribuição local.
O iogurte, no ponto de venda, deve estar em expositores refrigerados, a uma temperatura de 0 e 6 °C. O
seu tempo de conservação pode variar de acordo com as técnicas e cuidados usados no seu fabrico. A
data limite normalmente aconselhada é de 28 dias.
2. MATÉRIAS-PRIMAS
2.1. Queijos
Leite - Por definição do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) é, sem outra
especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de
vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outras espécies de animais deve conter o nome
da espécie de que proceda. É um dos alimentos mais completos encontrados na natureza. É o primeiro e
praticamente único alimento dos mamíferos recém nascidos, incluindo, naturalmente, o homem. De
forma simplificada, podemos dizer que o leite é um líquido branco, resultante da ordenha de fêmeas das
espécies mamíferas durante o período de lactação. Muito consumido no seu estado natural, líquido,
mas como se trata de um alimento extremamente rico, é altamente perecível. O leite “in natura”,
quando armazenado em condições ambientes, sofre uma série de alterações, devidas principalmente à
ação de microrganismos contaminantes. Tais alterações e/ou transformações levaram ao
desenvolvimento de vários derivados do leite, que passaram a ser utilizados como alimento. Desta
forma, a coalhada, o iogurte e o queijo são os principais produtos empíricos, desenvolvidos a partir de
contaminações acidentais e consideradas fontes alimentícias de excelente valor nutritivo, amplamente
consumido pela população mundial. Embora sejam comercializados leites de outras fontes, o leite da
espécie bovina é o de maior expressão mundial, com o qual se produz uma infinidade de produtos
lácteos.
Composição centesimal do leite - De forma geral, a composição qualitativa do leite é a mesma, seja qual
for sua origem, mas a porcentagem de cada um dos componentes principais varia muito entre uma
espécie animal e outra, em função das necessidades nutritivas do recém nascido. A quantidade de
proteína está relacionada proporcionalmente ao tempo gasto para que o recém nascido duplique seu
peso. A menor porcentagem de proteína do leite humano coincide com a grande dependência dos
bebês nos primeiros anos de vida, que levam em média, cerca de 6 meses para duplicar o seu peso
inicial. O leite humano, por causa de sua porcentagem centesimal e de micronutrientes, é considerado o
melhor alimento devido sua adequação às necessidades dos recém nascidos. Nos animais, a variação da
composição do leite também ocorre entre raças e mesmo entre indivíduos de uma mesma raça, de
Fonte: OLIVEIRA, J. S. Queijos: Fundamentos Tecnológicos. Governo do Estado de São Paulo, 1982.
2.2. Iogurtes
Embora a consistência, sabor e aroma possam variar de uma região para outra, os ingredientes básicos e
de fabrico dos iogurtes são essencialmente os mesmos. Embora o leite de vários animais tenha sido
utilizado para a produção de iogurte, em várias partes do mundo, a maior parte desta produção
industrial utiliza leite da raça bovina. Leite integral, leite parcialmente desnatado, leite desnatado ou
creme podem ser utilizados. A fim de garantir o desenvolvimento da cultura do iogurte, os seguintes
critérios para o leite cru devem ser atendidos: baixa contagem de bactérias, livre de antibióticos,
saneantes químicos, leite de mastite, colostro e leite estragado, nenhuma contaminação por
bacteriófagos (vírus que infectam bactérias).
Outras matérias-primas que podem ser usadas em alguns tipos de iogurte:
Outros produtos lácteos (leite desnatado concentrado, leite em pó desnatado, soro de leite, lactose).
Estes produtos são muitas vezes usados para aumentar o teor de sólidos sem gordura.
Adoçantes ou edulcorantes: glicose ou sacarose, adoçantes de alta intensidade (por exemplo,
aspartame).
Estabilizantes: gelatina, carboximetilcelulose, alginatos, carragenatos, concentrado protéico de soro.
Estes produtos de modificar a textura do iogurte acabado e evitar a separação dos componentes
líquidos e sólidos (aumento de período de vida útil).
Aromas: incluindo naturais e aromatizantes artificiais.
Corantes.
Preparações de frutas.
Cultura de iniciação - para a maioria dos iogurtes é uma mistura simbiótica de Streptococcus salivarius
subsp. thermophilus (ST) e Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus (LB).
Animal produtor
ORDENHA
Leite fresco
FILTRAÇÃO/
RESFRIAMENTO
Creme
ou nata
Manteiga PADRONIZAÇÃO
Leite padronizado
PASTEURIZAÇÃO
Leites comerciais ou ESTERILIZAÇÃO
fluídos, condensado,
em pó, aromatizado,
colorido ou sorvetes
Leite pasteurizado ou esterilizado
INOCULAÇÃO
CORREÇÃO E
ADITIVAÇÃO
COAGULAÇÃO
AQUECIMENTO/
HOMOGENEIZAÇÃO PASTEURIZAÇÃO
Batido ou
DESSORAMENTO Líquido
Tradicional
INOCULAÇÃO
RESFRIAMENTO
MATURAÇÃO
ESTOCAGEM EMBALAGEM
Queijo
Iogurte
INOCULAÇÃO/COAGULAÇÃO
Pode ser feita diretamente pela flora microbiana do leite, ou pela adição de cultivo bacteriano
apropriado (coalho ou fermento). Após um período de tempo, o leite fermentado transforma-se na
coalhada. A função do coalho é coagular a caseína presente no leite. A principal enzima responsável por
essa ação é a renina, uma fosfoproteína de ação proteolítica presente no estômago de ruminantes
jovens. Ela atua hidrolisando ligações peptídicas da caseína, transformando-a em para-caseína que
2+
precipita em presença de íons Ca formando, então a coalhada. Este processo é dependente da
temperatura, do pH e do teor de cálcio do leite. A temperatura ótima de ação do coalho é em torno de
40 °C, mas costuma-se utilizar temperaturas ligeiramente mais baixas (em torno de 35 °C) para evitar
que a coalhada fique muito dura. Outro método de coagulação da caseína é adicionar ácido ao leite em
quantidade suficiente para igualar o pH do meio ao ponto isoelétrico da proteína (pH 4,6). Neste pH as
micelas de caseína agregam-se e precipitam. Esse método fornece queijos de qualidade inferior aos
produzidos pelo método enzimático. Tradicionalmente os coalhos são de origem animal, principalmente
bezerros e porcos, mas, para atender às necessidades especiais de grupos como os vegetarianos e os
muçulmanos, foram desenvolvidos coalhos de origem vegetal e microbiana. Coalhos de origem vegetal
têm, em geral, bom desempenho, mas os queijos fabricados com eles costumam apresentar sabor
amargo depois de algum tempo de armazenamento. Já os coalhos de origem microbiana têm
características bastante semelhantes aos de origem animal. Durante a formação da coalhada podem ser
adicionados, conforme a necessidade e o interesse do produtor, aditivos como CaCl2, nitratos, corantes,
2+
etc. O CaCl2 aumenta o teor de íons Ca no leite, acelerando a coagulação da caseína e ajudando a
firmar o coágulo. É utilizado, principalmente, quando o teor de proteína no leite não é o ideal. Na
fabricação de queijos com baixíssimo teor de gordura, adiciona-se Na3PO4 antes do CaCl2. Esse sal reage
com o leite formando Ca3(PO4)2 coloidal que aumenta a elasticidade do coágulo, funcionando como um
substituto dos glóbulos de gordura do leite. Nitrato de sódio ou de potássio tem a função de inibir a
ação de contaminantes, especialmente bactérias do gênero Clostridium. O nitrato adicionado é reduzido
a nitrito, pela ação da xantinaoxidase, durante a maturação. O nitrito não inibe a ação das bactérias
DESSORAMENTO
O dessoramento é a operação unitária de separação da massa coagulada (queijo bruto) do soro através
de prensagem, geralmente associada de moldagem.
Uma vez retirada da cuba, a massa coalhada é cortada à mão ou mecanicamente, e colocada em moldes
para dar ao queijo a sua forma final.
A prensagem vai regular a textura da massa expulsando mais soro. A intensidade e a duração da
prensagem são fatores importantes para adequar a variedade do queijo. Pode ser feita por colocação de
pesos simples ou por um processo pneumático. As pressões aplicadas são menos intensas no caso de
queijos mais brandos e, em alguns casos, não se aplica mesmo prensagem, deixando que o peso do
queijo no molde atue como prensa.
SALGA
A salga destina-se a evitar que o queijo se deteriore e, em simultâneo, a transmitir o sabor final. Existem
vários métodos de salga, tais como: na massa, em salmoura, direta e mista. No processo da salga na
massa, a mistura de sal é feita na massa antes de ser colocada nos moldes. Por sua vez em salmoura, o
queijo é imerso numa solução salina e incorpora rapidamente o sal. Na salga direta, o queijo é coberto
com grãos de sal e a absorção do sal decorre lentamente, enquanto que na mista o queijo é primeiro
mergulhado em salmoura e depois coberto com sal sólido. Dos processos acima referidos, o mais
comum é o que passa pela imersão em salmoura.
Com poucas exceções, os queijos contêm entre 0,5-2,0% de NaCl. Queijos azuis têm em torno de 3-7%
de sal. Durante a salga do queijo, a diferença na pressão osmótica entre a salmoura e a massa faz com
que parte da umidade desta seja liberada, arrastando consigo soroproteínas, ácido láctico e minerais
dissolvidos, ao mesmo tempo em que o NaCl é absorvido. Para que este equilíbrio funcione bem é
importante que a concentração da salmoura e seu pH sejam apropriados; além disso, o teor de cálcio do
meio deve ser da ordem de 0,1-0,2% podendo ser ajustado por adição de CaCl2, se necessário. O pH
2+ +
ideal da salmoura é entre 5,2 e 5,3. Durante o processo de salga ocorre troca de íons Ca por Na nas
moléculas de para-caseína, o que torna a massa mais macia. Se o pH estiver abaixo de 5,0 haverá mais
MATURAÇÃO
No caso de queijos que necessitam de maturação, esta pode ser feita antes ou após a embalagem; em
alguns casos, o queijo é deixado maturar por certo período depois do qual é embalado e levado para
completar a maturação.
A maturação consiste em uma série de processos físicos, bioquímicos e microbiológicos que ocorre em
todos os queijos, exceto aqueles que são consumidos frescos. Estes processos alteram a composição
química dos queijos, principalmente no que tange a seu conteúdo em açúcares, proteínas e lipídeos. O
tempo de maturação varia para cada tipo e é neste processo que se desenvolvem as características
organolépticas e de textura, características de cada um deles. A maturação dos queijos é feita, na
maioria dos casos, em câmaras com controle de temperatura e umidade. O tempo varia de acordo com
o tipo, podendo ir de poucas semanas a muitos meses. Tradicionalmente o índice de maturação é
medido pela degradação de caseína, através da avaliação da proporção entre nitrogênio total e
nitrogênio solúvel, assim denominado o nitrogênio oriundo de matéria orgânica. Este índice deve
aumentar com o avanço da maturação. O principal processo ocorrido na maturação, especialmente dos
queijos duros, é a degradação das proteínas ou proteólise. Esta é efetuada pelos sistemas enzimáticos
do coalho e é fator preponderante para a qualidade do queijo, sobretudo nos aspectos sabor e
consistência. Em queijos cuja massa é cozida em altas temperaturas – por exemplo, o Gruyère, que é
cozido a 52 °C – ou nos de massa escaldada como o Parmesão, a plasmina é a principal enzima
proteolítica. Em queijos semi-duros, como o Tilsit, ocorrem dois processos simultâneos de maturação:
um, o usual, ocorre no interior da massa, onde as ligações peptídicas das proteínas são quebradas,
liberando peptídeos pequenos e aminoácidos; o outro ocorre na casca onde as proteínas podem ser
degradadas até a formação de amônia. Não existe uma correlação direta entre o aroma dos queijos e a
concentração de aminoácidos livres. Sabe-se, no entanto, que estes podem ser metabolizados por
enzimas bacterianas produzindo produtos menores, entre os quais flavorizantes. Brevibacterium linens
produz amônia, aminas, álcoois, aldeídos e os ácidos capróico e 3-metilbutírico a partir de aminoácidos;
todos esses produtos influenciam, em maior ou menor grau, o sabor e o aroma dos queijos. Produtos da
degradação de aminoácidos contendo enxofre desempenham papel particularmente importante. L-
metionina, por exemplo, pode ser degradada a S-metiltioésteres e metanotiol ao qual se atribui o odor
característico de queijos como Gruyère, Comté e outros. Já o sabor amargo que, às vezes, se observa em
alguns queijos é atribuído à liberação excessiva de peptídeos e baixa massa molar. A Figura 3 apresenta
um esquema geral da degradação de aminoácidos em queijos.
Figura 3 - Esquema geral de proteólise decorrente da ação microbiana durante a maturação de queijos:
1=descarboxilação; 2=transaminações; 3= desaminações oxidativas; 4=degradações; 5=reduções; 6=oxidações
Em queijos contendo quantidade maior que o normal de bactérias do gênero Clostridium ocorre
paralelamente outra rota, a fermentação butírica. Nela, o lactato é transformado em butirato com
concomitante formação de CO2 e H2, responsável pelo estufamento dos queijos durante a maturação.
Esse defeito, conhecido como estufamento tardio, caracteriza-se pela formação de buracos grandes na
massa podendo, em casos mais graves, ocorrer também rachaduras na casca.
Das espécies de Clostridium que ocorrem no leite, as mais comumente envolvidas na fermentação
inadequada são C. butyricum, C. esporogenes e C. tyrobutyricum, sendo que esta última é geralmente
apontada como a principal responsável pelo estufamento tardio. O microorganismo mais
freqüentemente encontrado em amostras estufadas de queijos provolone, parmesão e prato,
fabricados no Brasil, foi C. butyricum. A principal fonte de bactérias do gênero Clostridium no leite é a
silagem de baixa qualidade usada como alimento do gado, mas elas podem advir também de
contaminação com esterco durante a ordenha. Sabe-se que acima de 200 esporos de Clostridium por
litro de leite já ocorre o estufamento. Essas bactérias utilizam como substrato também outros açúcares,
como a galactose, a sacarose e a glicose; a fermentação desta produz, além de ácido butírico, dióxido de
carbono e hidrogênio, os ácidos propiônico e acético, acetona, butanol e etanol. A fermentação butírica
é indesejável, não só pelo estufamento que provoca e que, dependendo do grau em que ocorre, pode
tornar o queijo completamente impróprio para comercialização, mas também porque confere ao queijo
forte odor a ranço e sabor desagradável. A concentração de ácido butírico capaz de modificar o sabor do
queijo varia de acordo com o tipo; no Gouda, por exemplo, isso ocorre em concentrações acima de 500
mg/kg; já no Emmenthal, o sabor é modificado sempre que a proporção entre os ácidos propiônico e
butírico for inferior a 124 mg/kg.
Queijos como Emmenthal e Gruyère são particularmente sensíveis à fermentação butírica. Já no
Camembert ela nunca ocorre. Acredita-se que esta diferença de comportamento se deva a uma
conjunção de fatores, entre os quais as diferentes temperaturas de fabricação desses queijos, os seus
teores de sal e umidade, o pH da massa e até a embalagem utilizada que pode, ou não, facilitar a
expulsão dos gases formados. A diferença de comportamento entre CO2 e H2 na maturação dos queijos
está diretamente ligada as suas solubilidades em água. O primeiro, bastante solúvel, só provoca
olhaduras na massa quando sua concentração é suficiente para saturar completamente o meio em que
CORREÇÃO/ADITIVAÇÃO
A composição do leite pode ser ajustada para atingir o teor de gordura e sólidos desejado. Muitas vezes
é adicionado leite seco para aumentar a quantidade de proteína de soro de leite para proporcionar uma
textura desejável. Os ingredientes tais como estabilizantes são adicionados neste momento. Os vários
ingredientes são em seguida misturados em conjunto num tanque de mistura equipado com um sistema
de agitação.
A adição dos ingredientes, como açúcares e leite em pó, ao leite previamente analisado quanto ao pH,
teor de gordura etc., num tanque hermético que não permite trocas de substâncias ou qualquer
microrganismo. A mistura nem sempre é realizada com os mesmos ingredientes ou mesmas proporções,
pois varia conforme o tipo de iogurte que se quer produzir. Uma composição clássica de um iogurte
consiste na seguinte composição: Gordura = 0,5 a 3,0%; Lactose = 3,0 a 4,5%; Sólidos presentes não
gordurosos = 11 a 13%; Estabilizantes = 0,3 a 0,5%; Fruta = 12 a 18%. É nesta fase, ainda, que se
acrescentam outros aditivos como os adoçantes e estabilizantes (gelatina, agar-agar, ...), que pretendem
aumentar o teor em açúcares e aumentar a viscosidade, respectivamente.
AQUECIMENTO/HOMOGENEIZAÇÃO
A homogeneização tem como objetivo desintegrar e dividir finamente os glóbulos de gordura no leite,
para que a mesma fique homogeneamente dividida. Deste modo, evita-se que a gordura ascenda à
superfície devido ao seu menor peso em relação aos componentes da mistura. Serve também para
prevenir que se formem aglomerados sólidos durante a incubação e para assegurar que a gordura do
leite esteja distribuída uniformemente. A homogeneização vai levar à redução do tamanho dos glóbulos
de gordura tornando a consistência mais lisa. Para garantir que não haja excesso de água em relação aos
outros componentes, a mistura é aquecida com a finalidade de evaporar a água e, durante o processo, o
leite tem sua temperatura baixada de 90ºC para 70ºC. Posteriormente ocorre nova homogeneização a
pressões elevadas (200-250 bar = 20-25 MPa) com o mesmo propósito. A mistura é então
homogeneizada utilizando alta pressão. Além disso, são misturados cuidadosamente os estabilizadores
e outros ingredientes para melhorar a homogeneização e impedir a formação de creme e soro durante a
incubação e armazenamento. A estabilidade, consistência e corpo do iogurte são reforçados por
homogeneização. Uma vez que a mistura homogeneizada esfriou a uma temperatura ótima de
crescimento, para que a cultura iniciante do iogurte seja adicionada.
PASTEURIZAÇÃO
A mistura de leite aditivada que será transformada em iogurte é pasteurizada a 85 °C durante 30
minutos ou a 95 °C durante 10 minutos. Este tratamento térmico elevado é usado para desnaturar as
proteínas do soro do leite, permitindo a formação de um gel estável rico em peptídeos e proteínas
devido à ação dos microrganismos Lactobacillus bulgaricus e Streptococcus thermophilus, que impede a
separação da água durante o armazenamento. Esse tratamento térmico também reduz o número de
microrganismos deterioradores do leite para proporcionar um melhor ambiente para a cultura
iniciadora crescer e permanecer viva e ativa no iogurte antes, durante e depois da fermentação. Se o
iogurte for pasteurizado após a fermentação os microrganismos caracterizadores são inativados.
INOCULAÇÃO
De acordo com a escolha da forma da embalagem, aditivação ou consistência, o iogurte pode ser
classificado em três tipos: sólido, batido ou líquido. É a partir desta fase do processo que cada tipo de
iogurte sofre um tratamento diferente. Vejamos os procedimentos de fabricação dos 3 tipos básicos de
iogurte:
FERMENTAÇÃO
Na produção de iogurte, duas espécies diferentes de bactérias fermentam a lactose: Lactobacillus
bulgaricus e Streptococcus thermophilus. A cultura de iniciação é uma mistura simbiótica de
Streptococcus salivarius subsp. thermophilus (ST) e Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus (LB). As
enzimas presentes nestas bactérias convertem a lactose em ácido lático. À medida que o ácido se
acumula na solução o pH cai, desnatura proteínas do leite e engrossam a massa que adquire um sabor
ácido “azedo”. Uma variação do pH pode fazer o iogurte mais doce e mais fino (pH mais elevado) ou
mais grosso e mais azedo (pH menor e mais ácido). A coagulação das proteínas do leite são
desnaturadas quando o pH é baixo. O leite aditivado (mistura base para iogurte) mantido a cerca de 42
°C até atingir um pH de 4,6 permite que a fermentação progrida para formar um gel macio e o sabor
característico do iogurte. Este processo pode demorar várias horas. Embora possam crescer de forma
independente, a taxa de produção de ácido é muito mais elevada quando usadas em conjunto do que
quando qualquer um dos dois organismos é cultivado individualmente. ST cresce mais rápido e produz
tanto ácido e dióxido de carbono. O formiato (ácido fórmico) e dióxido de carbono produzido
estimularão o crescimento do LB. Por outro lado, a atividade proteolítica de LB produz peptídeos
estimuladores e aminoácidos para utilização por ST. Estes microrganismos são responsáveis pela
formação de sabor típico e textura do iogurte. A mistura formadora de iogurte coagula durante a
fermentação devido à queda do pH. Os estreptococos são responsáveis pela queda do pH inicial da
mistura de iogurte para aproximadamente 5,0. Os lactobacilos são responsáveis por uma diminuição
PROTEÍNAS PEPTÍDEOS E
Enzimas proteolíticas AMINOÁCIDOS
Streptococcus thermophilus
ÁCIDO FÓRMICO
Lactobacillus bulgaricus +
GÁS CARBÔNICO
ÁCIDO LÁTICO
ACETALDEÍDO
EMBALAGEM
Para o tipo tradicional, a embalagem é feita em potes antes do processo da fermentação. No iogurte
batido ou líquido a mistura final (iogurte ajustado) é bombeada a partir da cuba de fermentação e
embalada como desejado, em potes ou garrafas assépticas e estéreis comercialmente.
6. REFERÊNCIAS
Calixto, K.; Gonçalves, D. Aplicação de sais fundentes e avaliação de aspectos físico-químicos. Granolab
Biotecnologia. Disponível na web. Acesso em dezembro de 2015.
Ferreira, M. A. Análises Microbiológicas para Qualidade do Leite Fluído. Dossiê técnico. Centro de Apoio
ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília – CDT/UnB. Setembro/2007.
Ferreira, M. A. Controle de Qualidade Físico Químico em Leite Fluído. Dossiê Técnico. Centro de Apoio
ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília - CDT/UnB. Abril/2007.
Hillsborough Community College - Ybor City Campus. 1025C Laboratory Exercise 8: Preparation of
Yogurt. Disponível na web. Acesso em dezembro de 2015.
Métodos físico-químicos para análise de alimentos. IV Edição. 1ª Edição Digital. Instituto Adolfo Lutz,
2008. Disponível na web. Acesso em março de 2012.
Perry, K. S. P. Queijos: aspectos químicos, bioquímicos e microbiológicos. Quim. Nova, Vol. 27, No. 2,
293-300, 2004.
Silva, A. I. D. et al. PRODUÇÃO DE IOGURTE. Projecto FEUP. Universidade do Porto. 2010. Disponível na
web. Acesso em dezembro de 2015.
Tecnologia nos Lacticínios. Manual do consumidor. s/autor. Disponível na web. Acesso em dezembro de
2015.
7. EXERCÍCIOS PROPOSTOS
2. Considere os produtos derivados do leite: queijo e iogurte. O que existe em comum entre eles no
processamento? E o que os diferenciam? Explique.
4. Indique 5 testes analíticos que um analista deveria escolher para dar o aval positivo de um leite cru
para produção de queijos. Explique a importância de cada teste.
5. Microrganismos são rotulados cotidianamente como espécies “maléficas” para o ser humano.
Critique ou ratifique esta informação transpondo o seu raciocínio para a tecnologia dos queijos e
iogurtes. Explique e exemplifique.
6. Iogurtes e queijos são produtos industriais de grande aceitação mercadológica e podem ser
enquadrados num mesmo grupo de insumos químicos no tocante ao processo tecnológico. Que
considerações, em âmbito geral, convergentes e divergentes você faria sobre esses produtos? Explique.
7. A deterioração microbiológica é um dos fenômenos mais desagradáveis que pode ocorrer num
alimento. Considerando o leite cru como um alimento rico em proteínas, carboidratos e lipídeos, que
substâncias indesejáveis poderiam ser formadas estando presentes microrganismos proteolíticos,
fermentadores de carboidratos e lipolíticos. Justifique sua resposta, esboçando esquema de possíveis
reações ocorridas e produtos formados. (Nota: Desconsiderar interações reacionais entre as espécies
produzidas nesta degradação microbiana).
8. No processamento dos laticínios queijos e iogurtes, uma das etapas mais importantes é a inoculação.
Comente sobre a sua finalidade, vantagens e desvantagens nestas tecnologias.
9. A maturação é uma operação essencial para qualificação de alguns tipos de queijos cotidianos. Liste
as principais vantagens, os requisitos necessários e as dificuldades encontradas nesta operação unitária
láctea. Escreva possíveis equações de reações envolvidas nesta operação explicando suas conseqüências
positivas ou negativas.
10. Explique objetivamente, mas com detalhes cruciais, a sinergia das bactérias Streptococcus
thermopilus e Lactobacillus bulgaricus na produção de iogurtes comerciais.
11. É muito comum com o avanço da tecnologia o uso de matérias-primas alternativas, seja de caráter
permitido ou fraudulento, para baratear e aumentar lucros. Sobre esta citação, construa uma tabela de
forma generalizada, mostrando os principais produtos usados para as duas situações citadas para
queijos e iogurtes comerciais.
12. O iogurte é uma das categorias de leites fermentados mais difundidas comercialmente. Como
exemplos de outros leites fermentados têm-se o leite acidófilo, kefir, kumys e a coalhada. Pesquise a
respeito desses produtos e construa uma tabela que mostre as suas convergências e divergências em
aspectos produtivos.