Вы находитесь на странице: 1из 19
x. A NOVA RELAGAO COM O SABER EDUCAGAO E sERCULTURA Qualquer reflexao sobre o futuro dos sistemas de educagao e de formagao na cibercultura deve ser fundada em uma anélise prévia da mutagao contemporanea da relagao com o saber. Em relagao a isso, a primeira constatacao diz respeito a velocidade de surgimento e de re- novacio dos saberes e savoir-faire. Pela primeira vez na histéria da humanidade, a maioria das competéncias adquiridas por uma pessoa no inicio de seu percurso profissional estarao obsoletas no fim de sua carreira. A segunda constatacio, fortemente ligada & primeira, diz respeito 4 nova natureza do trabalho, cuja parte de transagao de co- nhecimentos nao para de crescer. Trabalhar quer dizer, cada vez mais, aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos. Terceira cons- tatago: o ciberespago suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam ¢ modificam numerosas fungdes cognitivas humanas: memoria (bancos de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos 0s tipos), imaginagao (simulagées), percepgao (sensores digitais, telepresenca, realidades virtuais), raciocinios (inteligéncia artificial, modelizacao de fenmenos complexos). Essas tecnologias intelectuais favorecem: —novas formas de acesso a informagao: navegacio por hiper- documentos, caga a informagdo através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploragao contextual através de mapas dinamicos de dados, — novos estilos de raciocinio e de conhecimento, tais como a si mulacio, verdadeira industrializagao da experiéncia do pensamento, que nao advém nem da dedugao logica nem da indugio a partir da experiéncia. Como essas tecnologias intelectuais, sobretudo as memérias diné- micas, so objetivadas em documentos digitais ou programas disponi- veis na rede (ou facilmente reproduziveis e transferiveis), podem ser compartilhadas entre numerosos individuos, ¢ aumentam, portanto, © potencial de inteligéncia coletiva dos grupos humanos. Cibercultura 157 O saber-fluxo, 0 trabalho-transagio de conhecimento, as novas tecnologias da inteligéncia individual e coletiva mudam profundamente os dados do problema da educagio ¢ da formacao. O que € preciso aprender ndo pode mais ser planejado nem precisamente definido com antecedéncia, Os percursos e perfis de competéncias sio todos singu- lares e podem cada vez menos ser canalizados em programas ou cur- sos validos para todos. Devemos construir novos modelos do espago dos conhecimentos. No lugar de uma representagao em escalas linea- res ¢ paralelas, em pirdmides estruturadas em “niveis”, organizadas pela nogao de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espagos de conheci- mentos emergentes, abertos, continuos, em fluxo, nao lineares, se re- organizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posicao singular ¢ evolutiva. De onde duas grandes reformas so necessarias nos sistemas de educacao e formagao. Em primeiro lugar, a aclimatagao dos dispos tivos e do espirito do EAD (ensino aberto e a distancia) ao cotidiano ao dia a dia da educagao. A EAD explora certas técnicas de ensino a distancia, incluindo as hipermidias, as redes de comunicagao interativas ¢ todas as tecnologias intelectuais da cibercultura. Mas o essencial se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede. Nesse contexto, 0 professor € incentivado a tornar-se um anima- dor da inteligéncia coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos. A segunda reforma diz respeito ao reconhecimento das expe: cias adquiridas. Se as pessoas aprendem com suas atividades sociais ¢ profissionais, se a escola ¢ a universidade perdem progressivamente 0 monopélio da criagao € transmissdo do conhecimento, os sistemas piiblicos de educag3o podem ao menos tomar para si a nova misao de orientar os percursos individuais no saber ¢ de contribuir para 0 reconhecimento dos conjuntos de saberes pertencentes as pessoas, ai incluidos os saberes ndo-académicos. As ferramentas do ciberespaco permitem pensar vastos sistemas de testes automatizados acessiveis a qualquer momento e em redes de transagdes entre oferta e procura de competéncia. Organizando a comunidade entre empregadores, indi- viduos e recursos de aprendizagem de todos os tipos, as universida- des do futuro contribuiriam assim para a animagao de uma nova eco- nomia do conhecimento. ne 18 Pierre Lévy Este capitulo ¢ seguinte desenvolvem as idéias que acabam de ser expostas ¢ propdem, por fim, algumas solugdes praticas — as “r- vores de conhecimentos”. A ARTICULAGAO DE NUMEROSOS PONTOS DE VISTA Em um de meus cursos na Universidade de Paris-VIIL, intitulado “Tecnologias digitais e mutagdes culturais”, pego que cada estudante faca uma apresentagao oral de dez minutos, Na véspera dessa apre- sentago, ele deve entregar-me um resumo de duas paginas, com uma bibliografia, que podera eventualmente ser fotocopiada por outros estudantes que desejem aprofundar-se no assunto. Em 1995, um deles entregou-me suas duas paginas de resumo dizendo, com ar um pouco misterioso: “Tome! E uma apresentagao virtual!”. Por mais que folheasse seu trabalho sobre os instrumentos musicais digitais, nd descobri o que o distinguia dos resumos habi- tuais: um titulo em negrito, subtitulos, palavras sublinhadas em um texto bem articulado, bibliografia. Divertindo-se com meu ceticismo, ele arrastou-me até a sala de computadores ¢, seguidos por alguns ou- tros alunos, nos instalamos ao redor de uma tela. Descobri, entao, que as duas paginas de resumo que havia percorrido no papel eram a pro- jegdo impressa de paginas da Web. Em vez de um texto localizado, fixado em um suporte de celulose, no lugar de um pequeno territério com um autor proprietirio, um int cio, um fim, margens formando fronteiras, confrontei-me com um do- cumento dindmico, aberto, ubiqiiitario, que me reenviava a um corpus praticamente infinito. © mesmo texto tinha outra natureza. Falamos de “pagina” em ambos os casos, mas a primeira pagina é um pagus, um campo demarcado, apropriado, semeado com signos enraizados, © outro é uma unidade de fluxo, submetida as restrigdes das taxas de transmissao nas redes. Mesmo que se refira a artigos ou livros, a pri- meira pagina é fisicamente fechada. A segunda, em contrapartida, nos conecta técnica e imediatamente a paginas de outros documentos, dis- persas em todas as partes do planeta, que remetem por sua ver, inde- finidamente, a outras paginas, a outras gotas do mesmo oceano mun- dial de signos fluruantes. A partir da invengao de uma pequena equipe do CERN, a World ‘Wide Web propagou-se entre os usuarios da Internet como um rasti- Iho de pélvora para tornar-se, em poucos anos, um dos principa xos de desenvolvimento do ciberespago. Isso talver nao expresse mais is ei- Cibercultura 159

Вам также может понравиться