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Cidadania

A Filosofia para Crianças


Novembro, 2008
Dina Mendonça - Investigadora do IFL, UNL

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Apresentação

... fazer filosofia não é uma questão de idades,


mas de habilidades em reflectir escrupulosamente
e corajosamente sobre o que se considera importante.

Mathew Lipman

A Filosofia para Crianças é um programa pedagógico que visa


desenvolver as capacidades de raciocínio e do pensamento em geral, assim
como as capacidades de verbalização do pensamento e aspectos cruciais da
construção da comunicação, como o confronto de ideias e a reflexão em
grupo. Esta aprendizagem multifacetada da actividade do pensar é feita
através da criação de um diálogo, tem como fim promover o pensamento
através de uma comunidade de investigação na sala de aula, onde as
crianças são encorajadas a falar e a ouvir-se umas às outras e assim discutir
ideias filosóficas na presença de um facilitador. O objectivo pedagógico
não é o de informar as crianças da existência dos filósofos, das suas ideias e
obras mas antes, contribuir para o desenvolvimento e compreensão da
linguagem e das capacidades criticas e criativas das crianças de modo a
promover o seu pensamento autónomo.

A Filosofia para Crianças foi originalmente desenvolvida por Matthew


Lipman e Anne Sharp nos Estados Unidos da América no fim dos anos
sessenta. Ao dar aulas na universidade de Columbia, Matthew Lipman
apercebeu-se que os seus alunos não tinham adquirido a capacidade de
pensar por si próprios. Lipman concluiu que era preciso fornecer aos alunos
modos de desenvolver a capacidade de pensar antes dos alunos chegarem
ao nível universitário. Podemos identificar como influencias teóricas de
Lipman a tradição filosófica no seu conjunto começando pelo método
socrático e a forma de diálogo das obras platónicas, e mais especificamente
a tradição pragmatista que realça a importância da investigação em
comunidade e da importância do processo de conhecimento. Encontramos
também entre os autores que influenciaram Lipamn o psicólogo russo, Lev
Vygotskii, que defendia que aprendemos a pensar tal como aprendemos a
falar, ao internalizar os padrões linguísticos e de reflexão à nossa volta.
Consequentemente Lipman desenha o seu programa considerando que já
que pensar é, até certo ponto, assimilar a linguagem dos outros que nos
rodeiam para aprender a falar connosco próprios, é necessário cuidar
atentamente desse processo de aprendizagem. Um dos aspectos que
Lipman dá extrema importância são os processo de questionamento no
desenvolvimento das capacidades de raciocínio.

A partir desta visão sobre a educação do pensar, Lipman criou um modelo


pedagógico baseado no conceito de comunidade de investigação onde tanto
os alunos como o professor colaboram uns com os outros na reflexão sobre
o mundo que os rodeia.

Assim, Filosofia para Crianças da metologia Lipman assenta em


promover:
1) a pergunta como modo de abrir, problematizar e construir saberes;
2) a investigação criativa como modo de pensar nossa realidade
individual e social;
3) o debate participativo, aberto e fundamentado como prática de
conhecimento;
4) a democracia como forma de respeitar e valorizar nossas diferenças;
5) o trabalho solidário e colaborativo como modo de agir em educação;
e 6) a resistência crítica frente a toda forma de imposição.

O estudo sobre o efeito do programa Filosofia para Crianças feito nos


Estados Unidos da América nos anos 80 mostrou que as crianças não só
melhoravam as suas capacidades de raciocínio mas também que os
participantes aumentavam as suas capacidades de leitura e as capacidades
matemáticas. Além disso, os professores que trabalham com a metodologia
testemunham frequentemente que a Filosofia para Crianças é um momento
da sala de aula que permite um espaço onde se promove a auto-estima e a
capacidade de comunicação em geral.

Desde dos anos 80 que a Filosofia para Crianças se espalhou pelo mundo
inteiro, sendo a metodologia utilizada numa grande variedade de contextos,
e muitos dos países começaram a desenvolver o seu próprio material para
as sessões. Formou-se assim uma comunidade internacional que partilha o
modo como aplica a metodologia, ao mesmo tempo que reflecte sobre os
seus aspectos teóricos e o seu impacto nas ideias pedagógicas das ciências
da educação. Ainda que diferentes países tenham começado a divergir no
uso de material para dinamizar as sessões, todos mantêm em geral os
princípios da comunidade de investigação tal como Lipman os desenhou.

Assim, pode-se dizer que em todo o mundo em que se implementa a


Filosofia para Crianças se procura dinamizar uma comunidade de
investigação de modo a que:
1) se pratique fazer perguntas e explicá-las;
2) se aprenda a ouvir as perguntas e comentários dos outros participantes;
3) se aprenda a identificar contradições, consequências e coerências das
ideias expostas;
4) que se aprenda a saber enunciar o tipo de intervenção que se faz no
diálogo (estou a dar um exemplo, a concordar, etc.);
5) que se saiba concretizar o que se diz através de um exemplo e se cultive
a procura de contra-exemplos;
6) que se aprenda a fazer relações entre ideias (de sessão para sessão, e de
uns participantes para outros);
e finalmente 7) que se pratique respeitar a diferença sem indiferença.

O que acontece na sessão de Filosofia para Crianças

A partir da leitura de uma pequena história as crianças colocam perguntas


para serem discutidas. Estabelece-se então um diálogo a partir das várias
opiniões que cresce no procurar de exemplos, na descoberta de relações de
ideias, na criação de novas questões. Desde modo, as crianças encontram
um espaço para dar voz aos seus pensamentos, às suas interrogações, ao
mesmo tempo que aprendem a ouvir-se umas às outras.

A sessão começa normalmente com a leitura de uma história filosófica, ou


um pequeno episódio de uma história filosófica. Estas histórias foram
escritas de modo a suscitar perguntas sobre temas filosóficos e muitas
vezes as personagens são crianças que fazem perguntas e conversam sobre
esses mesmos assuntos filosóficos.
De seguida os participantes da sessão colocam perguntas sobre a história.
As perguntas são escritas de modo a serem visíveis para todos os
participantes. Normalmente esta parte da sessão termina porque já não há
mais espaço para escrever perguntas e não porque não haja mais perguntas.
Depois, lêem-se as perguntas e começa-se a organiza-las agrupando as que
se relacionam e construindo uma ordem de prioridade à medida que se
analisa o que a pergunta está a pedir.
Com a conversa sobre as perguntas acaba-se por escolher uma primeira
pergunta para reflectir em conjunto. Aí a reflexão em grupo começa por
pedir à pessoa que colocou a pergunta que explique porque é que teve
aquela pergunta e o que acha que pode fazer com a possível resposta.
Rapidamente os outros membros da comunidade começam a sugerir
possíveis respostas para a pergunta. O papel do facilitador aqui aparece
como crucial porque é da sua responsabilidade apontar contradições que
apareçam na conversa assim como ajudar a aprofundar o dialogo entre os
participantes. Por exemplo, numa sessão com uma sala da Infantil uma
participante começou a sessão dizendo que achava que não havia magia e
depois de muito conversa, acabou por afirmar que conhecia um mágico que
era o seu pai. Neste momento o facilitador deve perguntar-lhe se ela
continua a afirmar que não há magia, já que acaba de dizer que o seu pai é
mágico. É frequente, com a pratica das sessões, os participantes ajudarem-
se uns aos outros a pensar e por isso é natural que, como aconteceu nessa
sessão, uma Mariana venha explicar que o pai da Rita é um magico
especial e diferente, abrindo assim a conversa para a possibilidade de
existirem vários significados para o conceito de magia.
A sessão acaba frequentemente porque o tempo da Filosofia terminou.
Antes de dar final à sessão é importante fazer um resumo do que aconteceu
na sessão apontando para uma possível sessão de continuidade temática se
necessário. O ponto final da sessão é dado ao pedir à pessoa que colocou a
pergunta e provocou a reflexão, que retorne à sua pergunta fazendo uma
avaliação do modo como a conversa contribuiu ou não para a sua resposta.
Uma das partes importantes da Filosofia para Crianças são as histórias que
servem como estímulos das sessões. No entanto o material de trabalho não
oferece uma conversa "filosófica" sem que se cultive a construção de uma
comunidade de investigação onde se cria hipóteses explicativas, se clarifica
vocabulário, se pede e oferece razões, se dá exemplos de contra-exemplos,
se questiona sobre o que está na base dos comentários dos outros
participantes, onde se procure fazer inferências e seguindo o caminho da
discussão de modo declaradamente social. Os participantes têm que
partilhar as suas diferentes perspectives sem se acomodarem simplesmente
ao facto de aceitarem que existem opiniões diferentes mas procurando
ouvir-se uns aos outros, compreender as suas discórdias, desafiando-se uns
aos outros apontando falhas de raciocínio e reconstruindo as suas próprias
ideias face ao diálogo. Com a metodologia Lipman, o cultivo do
pensamento critico não é um exercício vazio, mas uma pratica feita de
forma viva e contextualizada.

O objectivo final das sessões de filosofia não é o de encontrar respostas


conclusivas e finais para as perguntas levantadas, nem o de alcançar um
consenso confortável entre os membros da comunidade. As sessões guiam-
se por duas linhas condutoras: por um lado aprender a conviver com as
perguntas filosóficas (clarificando as questões, revendo crenças, levantando
novas hipóteses para futuras verificações, etc.) e, por outro lado,
desenvolver as capacidades cognitivas e sociais que o processo de reflexão
exige.

As Vantagens da Filosofia para Crianças


A descrição do programa Filosofia para Crianças já aponta para as suas
inúmeras virtudes pedagógicas. É importante referir que, como afirmava
John Dewey, uma das maiores falácias da educação é a convicção de que
só se está a ensinar aquilo que nos dedicamos a ensinar. Na verdade
estamos sempre a ensinar indirectamente inúmeras outras coisas. Assim
embora vá apontar uma série de vantagens do programa Filosofia para
Crianças penso que, tal como dizia Randolf Pausch, não enviamos os
nossos filhos para aulas de ginástica porque queremos que saibam o
desporto. Claro, é também por isso mas sobretudo porque aprendem outras
coisas fundamentais como: trabalho de equipa, perseverança, lidar com os
desafios e com os erros, lidar com as vitorias perante outros que gostamos,
etc. A Filosofia para Crianças não foi desenhada para que todos os meninos
se tornem filósofos mas para que tenham um espaço para aprender a
reflectir em conjunto.

O programa oferece um espaço e modo de aprender a ouvir os outros, de


praticar a continua aprendizagem de verbalizar o pensamento ao promover
modos de ultrapassar confusões e ambiguidades, ao promover a expressão
das convicções dos participantes de modo a torna-las explicitas (ou mais
explicitas), permitindo um espaço para descobrir o prazer de brincar com
ideias e conceitos, assim como aprender a identificar várias perspectivas
sem cair no relativismo de opiniões (oferecendo um espaço onde se pode
mudar de opinião à luz de novas razões e discussão sobre a sua validade) o
que ajuda a ganhar autonomia de pensamento e a desenvolver capacidades
para reflectir sobre questões éticas e sociais, como a identificação de
critérios de juízos, identificação da relevância ou não dos detalhes
contextuais, etc. Ao desenvolver a capacidade de concordar ou discordar,
de pensar com os outros e de descobrir a reflexão cooperativa, os
participantes intensificam a sua identidade permitindo um crescimento
saudável da auto-estima, ao mesmo tempo que descobrem relações entre
pensar, falar e fazer. Como um todo, a Filosofia para Crianças como foi
desenvolvida por Lipman, com as seus utensílios pedagógicos
(metodologia e material), aumenta a capacidade de leitura e compreensão
de assuntos ao dar à escola um local onde os alunos podem reflectir sobre
problemáticas que lhes enchem os dias.

Termino este pequeno elogio à metodologia descrevendo o modo como


possibilita desenvolver a capacidade interrogativa. Sem dúvida cada uma
das qualidades acima referida poderia ser alvo de uma descrição mais
detalhada. No entanto a actividade de bem questionar é por excelência uma
virtude filosófica que se revela na prática como uma das contribuições
decisivas e importantes da Filosofia para Crianças. Temos tendência a
pensar que perguntar vem com a capacidade natural de querer saber mais
coisas. Por isso não encontramos na escolaridade em geral nenhum
momento, espaço ou reflexão para treinar o fazer perguntas e perceber as
perguntas. A Filosofia para Crianças mostra que fazer perguntas ao longo
de um ano lectivo nos ajuda a melhor formular as nossas perguntas
tornando-as mais incisivas, mais pertinentes, mais claras e mais
dialogantes. Nas sessões os participantes têm oportunidade de aprender que
para perceber a pergunta de outra pessoa por vezes não é suficiente ler a
pergunta mas é necessário procurar o que provocou a pergunta e que
direcção quem a fez lhe deu. Porque muitas vezes uma sessão roda
exclusivamente à volta de uma pergunta que foi colocada por um dos
participantes estes aprendem a reconhecer que para além da resposta existe
a problematização e compreensão da complexidade que rodeia as
perguntas.

Algumas perguntas sobre a metodologia (e algumas respostas


demasiado curtas)

Quem deve ensinar Filosofia para Crianças?

Uma das questões que se levanta com frequência é saber quem deve
ensinar Filosofia para Crianças. Se devem só ser pessoas com formação
filosófica ou se devem ser os próprios professores da sala. Não irei elaborar
sobre o que está por detrás desta difícil discussão. Basta dizer que quem o
fizer deverá ter uma formação específica que lhe permita conhecer o
programa metodológico pois o papel de facilitador requer uma formação
cuidada que oriente a pratica das discussões.

Estamos a ensinar o que devem pensar?

A filosofia para Crianças não diz aos participantes o que devem pensar
sobre os assuntos que aparecem para ser discutidos a partir de perguntas.
Os temas são abertos e existem uma série de mecanismos usados pelo
facilitador para aprofundar o tema em discussão, Mas a filosofia para
Crianças não contempla nenhum momento para “ensinar” os conceitos e a
tradição filosófica como se ensina os países em geografia.

Vão tornar-se pessoas mais responsáveis?

Muitas vezes me perguntam isto e sei que em parte o programa se


apresenta como tendo uma vertente democrática e social que aumenta o
saber estar em grupo. E dado que alguns dos assuntos que aparecem nas
histórias são de teor ético e moral, os participantes de uma comunidade de
investigação irão muitas vezes reflectir sobre questões éticas. E seria
mesmo excelente para o programa pedagógico que se pudesse dizer que
essa pratica os fará necessariamente cidadãos mais éticos e responsáveis.
Mas a única coisa que podemos dizer é que tal como grande parte da aposta
da escolaridade, a Filosofia para Crianças aponta nesse caminho mas não o
pode garantir. No entanto podemos afirmar com segurança que é mais fácil
saber pensar quando nos foi dado espaço e oportunidade para experimentar
pensar aprendendo os passos fundamentais de uma reflexão cuidada.

Existem outras metodologias?

No seguimento da espantosa disseminação da metodologia Lipman


apareceram outros autores que escreveram outros livros a que chamaram
Filosofia para Crianças. Que seja do meu conhecimento nenhuma desses
autores desenhou, como Lipman, uma metodologia pratica que acompanhe
a "literatura filosófica". Assim, embora seja sempre de salutar toda o
material pedagógico que alimente a capacidade de pensar e reflectir, não
existem outras metodologias explicitamente organizadas que requeiram,
como a metodologia Lipman, uma familiarização e treino por parte dos
educadores

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