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passagem em mente, como quem con-


sultasse o vento da tarde em Delfos, len-
do o que lhe surgiu, logo se encheu de
segurança para dizer que o quer que a
poesia fosse, teria de ser aquilo. De res-
to, o ensaísta que há dias celebrou tam-
bém 96 anos, e que era sem sombra de
dúvida um dos raros interlocutores que
podia admirar-se sinceramente com esta
obra, tomava balanço nos mitos, lem-
brando “a sempre jovem aventura de
Penélope”, para nos dizer que “Bessa-
-Luís vai tecendo com uma mão o que co literário. “Quer dizer: os seus roman- uma boa dose de ‘realismo’ (o que quer que sua própria interioridade, a um efeito de
destece com a outra. Nada parece guiá- ces são, sobretudo, textos em roda livre isso seja) e uma pitada de moralidade (no choque ou perturbação. Não há um só
-la, na aparência, senão uma fidelidade que se vão acomodando ao género”. Mas sentido vicentino)”. E isto porque, ao lon- momento de tréguas, o seu talento não
sonâmbula à vontade de desfiar por sua o embuste é tão mais delicioso e preg- go da sua obra, Agustina “prefere sempre cumpre com o cerimonial a favor das
própria conta um fantástico rosário de nante como mostra Mexia, porque se se as personagens à intriga para depois as expetativas desse leitor médio, mas qua-
‘relações humanas’, tornadas em suas pensar que um grande romancista se abandonar a favor dessa mesma intriga, se se compadece dele, dos “que ficam em
mãos como elementos de um puzzle distingue pela arquitetura que confere mas intriga e personagens são quase um terra, os lenços agitados pelo bom ven-
variável ao infinito”. às suas obras, então “Agustina não é pro- álibi”. E chama a atenção para a forma to da costa”. Está na hora em que mui-
No que toca ao princípio de revolta que priamente uma romancista. O que é tão como, nos seus livros, vemos “um espírito tos lenços se agitam e há quase uma ale-
faz da poesia o mais urgente dos géne- mais curioso quanto a sua obra perten- imaginativo em ação que se aproveita de gria de um país que, nas últimas déca-
ros literários, foi a própria quem, numa ce sem dúvida à linhagem do grande todas as liberdades do romance – o roman- das, mais não tem feito do que frustrar
carta a Eugénio de Andrade, na hora de romance europeu, do Alto Romance ce é o género onde cabe tudo –, mas tam- qualquer propósito cultural coerente e
dele se despedir, desdobrou essa tenta- (como se diz ‘alta comédia’). Agustina bém o canibaliza a seu bel-prazer”. impiedoso. Um país que se arrumou à
tiva que acaba por vencer o próprio hori- não é uma flaubertiana, porque está toma- Há uma terrível deceção que esta obra morte e julga as coisas ao contrário, não
zonte sobre o qual se lança: “O melhor da de uma espécie de divina impaciên- concretiza. De cada ponto dela, “pode percebendo como é Agustina quem o
não são os sentimentos nobres das pes- cia, mas é capaz da mais sublime arte partir-se para todos os outros sem que despede. Ela que perguntava: “Quando
soas, mas o ácido prazer de amar seja o do detalhe”. haja um círculo de que cada um seja o será o tempo duma nova cultura?” E res-
que for. Uma longa viagem nos une e nos Pedro Mexia fala da frustração do “con- centro” (Lourenço). A sua intervenção pondia: “Quando for o tempo duma não-
separa. Nunca trocámos cartas porque sumidor médio de romances”, esse que alastra como uma denúncia e expiação -História, quando não se apascentar a
essa débil força da confidência esteve “quer sobretudo uma forma de identifica- do efeito da degenerescência do campo memória como uma repetição de zelos
sempre para nós fora de moda. Nunca ção com a matéria ficcional que passa por cultural, que tem vindo a perder a sua fúteis e perversos”.
deixámos que as palavras nos dessem capacidade de desastre para cair numa A sua existência foi sempre vivida em
lições. As palavras são como caminhos, convivialidade acomodada ou, no máxi- luta, recusando-se a envergar este luto
umas vão dar a qualquer sítio que não mo, ressentida. Agustina não tinha o de uma nação restante, a ir na fila de um
nos importa conhecer; outras não ser- menor pejo em lembrar a condição do um absurdo velório sentimental, uma
vem para nada, e são as melhores”. artista e do pensador enquanto membro nação inteira vagueando à beira dos fra-
E depois de tudo isto, remata: “A poesia de uma minoria social – é, aliás, esse o cassos que erigiu à altura de mitos e que
não é feita de palavras, mas da cólera de título de uma das suas comunicações –, castiga quem quer que se erga, toman-
não sermos deuses”. mas há mais de três décadas notava como do como blasfémia as atitudes realmen-
Para falar na obra de Agustina é neces- “a classe dita intelectual se banalizou te desafiadoras, todas as obras que con-
sário encará-la como uma insolência devido em parte ao mecanismo dos média, frontem este modo de viver legado pelas
absoluta, ainda mais no seu tempo, vin- que distribui continuamente uma ima- gerações mais velhas às mais novas como
da de uma mulher. Na introdução a uma gem morna desse tipo de cidadão que se um sufoco, um horror diante de toda a
soberba antologia dos textos de não fic- quer cada vez mais igual a qualquer impertinência. Assim, quando um jor-
ção da autora – Contemplação Carinho-
/PTTFVTMJWSPTWFNPT outro”. E acrescenta que isto significa nal francês lhe perguntou “porque escre-
sa da Angústia (ed. Guimarães, 2000) –, iVNFTQÐSJUPJNBHJOBUJWP que “a sua competência fica reduzida a ve?”, ressalvando que esse tipo de per-
Pedro Mexia assina um texto notável, FNBËÊPRVFTFBQSPWFJUB um simples artifício”, e nota que “aqui- gunta “há muitos anos nos deixou de
uma das mais perfeitas análises do des- lo que foi a tradição do intelectual, a sua interessar, a nós, os veteranos”, aprovei-
concerto que provocou uma obra que se EFUPEBTBTMJCFSEBEFT natureza congénita de opositor, alimen- ta para descompor a ingenuidade de
aproveitou da “morte do romance” não EPSPNBODFw tada quotidianamente pelas medidas vigi- quem se aproxima da literatura como
como uma fatalidade, mas como a pos- lantes tão caras ao poder, começa a ganhar de outros passatempos imbecis: “Fran-
sibilidade de lhe fazer umas estrondo- um bolor de mau presságio”. camente – porque pensam que eu escre-
sas exéquias, servindo-se deste que se "TVBFYJTUÍODJBGPJ É demasiado exigente o génio de Agus- vo? Para incomodar o maior número
tornou “o género quase hegemónico há TFNQSFWJWJEBFNMVUB  tina. Toda as armas de sedução de que possível de pessoas, com o máximo de
200 anos” como um meio e não como
um fim. “Será então necessário admitir
SFDVTBOEPTFBFOWFSHBS se serve rapidamente tiram ao leitor as
veleidades de se acercar dela como de
inteligência. Por narcisismo, que é um
facto civilizador (...) Escrevo para desi-
que Agustina Bessa-Luís não é essencial- FTUFMVUPEFVNB um entretenimento casual, obrigando a ludir com mérito, que é a maneira de se
mente uma romancista”, admite o críti- OBËÊPSFTUBOUF uma troca compreensiva, à expansão da fazer lembrar com virtude”.

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