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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROJETO DE PESQUISA:

O espírito positivo e os fundamentos da Música: o “elo


perdido” na filosofia Comtiana e aproximações com a
Matemática e a Física no contexto educacional brasileiro

Sorocaba, SP
2º semestre de 2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROJETO DE PESQUISA:

O espírito positivo e os fundamentos da Música: o “elo


perdido” na filosofia Comtiana e aproximações com a
Matemática e a Física no contexto educacional brasileiro

__________________________________________________________________________________

Programa de Doutorado em: Educação da UFSCar Campus Sorocaba (PPGEd-So)

Área de concentração: Educação


Linha de Pesquisa 3: Teorias e Fundamentos da Educação
Tema de interesse: Filosofia da Educação.

Sorocaba, SP
2º semestre de 2019
O espírito positivo e os fundamentos da Música: o “elo
perdido” na filosofia Comtiana e aproximações com a
Matemática e a Física no contexto educacional brasileiro

RESUMO
Esta pesquisa busca investigar os motivos pelo qual a Música não entra como ciência na
filosofia positivista de Auguste Comte. Sendo ela também uma ciência abstrata, deveria estar
presente ao lado da Matemática, da Física, da Química e da Biologia que, sendo positivas,
podem ser observadas, experimentadas, comparadas e classificadas como métodos, através de
sua compreensão, gerando assim, conhecimento. Tais ciências podem ser percebidas, através
de seus fenômenos, isto é, obedecendo as leis gerais e a Música poderia ser entendida de tal e
qual forma. O que justifica este trabalho é que a Música sempre esteve associada às demais
áreas, como é o caso do ensino pitagórico e platônico, que daria origem, na Idade Média, ao
Quadrivium, conhecido como o estudo dos números e apresenta quatro formas básicas de
estuda-los: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Assim, esta pesquisa busca resgatar
a Música como “elo perdido” dos estudos numéricos na atualidade, mais especificamente
relacionando-a com os componentes curriculares da Matemática e da Física, atendendo no
Brasil às duas demandas iniciais da Lei nº 11.769, de 2008: de que a Música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular Arte e de que o ensino da Música
será ministrado por professores com formação específica na área. Assim, se por um lado, se a
Música voltasse a ser vista pelo seu caráter científico, a partir da análise e aplicação de seus
fundamentos, ela poderia ser ministrada não somente por arte-educadores, mas – e isso parece
ser mais coerente – por professores de Matemática, por outro lado, ao se falar de formação
específica, a Música já aparece como parte dos estudos das licenciaturas em Física sob o nome
de Acústica ou Ondulatória que, para explicar seus fenômenos, utiliza-se largamente da
produção de som através dos instrumentos musicais, como as cordas e os tubos. Através de uma
análise de conteúdos de cunho bibliográfico e qualitativo, a pesquisa indaga sobre como, na
História e na Filosofia da Educação, a Música foi estudada pelas suas propriedades
matemáticas, através de pensadores como Pitágoras e Arquitas, Platão e Euclides, Ptolomeu e
Boécio, e em que momento ela acabou desaparecendo enquanto ciência na filosofia e, por
conseguinte, na pedagogia de Auguste Comte. Como desdobramento, é possível relacionar os
fundamentos destas três diferentes áreas de conhecimento (Música, Matemática e Física)
através da observação, o que poderá vir a ser um complemento real para o leitor enquanto
observador, propondo ainda, atividades que podem ser trabalhados nas aulas destes dois
componentes, atestando que a Música, segundo Boécio, enquanto deleita os ouvidos com sons,
apraz a razão com as proporções numéricas
Palavras-chave: Auguste Comte. Música. Espírito positivo. Matemática e Física.

1
Sumário

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 2
1. Problema .......................................................................................................................................... 10
2. Hipóteses .......................................................................................................................................... 11
3. Objetivos .......................................................................................................................................... 11
4. Justificativa ...................................................................................................................................... 12
5. Metodologia de Pesquisa .................................................................................................................. 14
6. Referencial Teórico-Metodológico ................................................................................................... 15
7. Cronograma...................................................................................................................................... 16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 17

INTRODUÇÃO

A Música enquanto conteúdo obrigatório do sistema educacional brasileiro foi


legalizada em 2008, pela Lei 11.769. Anteriormente, conglomerada em meio a outras artes, teve
menor destaque tanto como conteúdo no currículo de Educação Artística, quanto em relação
aos demais componentes nas três Leis de Diretrizes e Bases (1961, 1971 e 1996), foi finalmente
proposta uma valorização com o acréscimo da Lei à ultima LDB, mais especificamente ao
artigo 26, parágrafo segundo (que dispõe sobre o componente curricular Arte), dizendo que ela
é conteúdo curricular obrigatório, mas não exclusivo desta disciplina.
No século XIX, D. Pedro II assina o Decreto nº 496, de 1847, em que se “estabelece
as bases, segundo os quaes se deve fundar nesta Côrte hum Conservatorio de Musica, na
Conformidade do Decreto N.º 238 de 27 de Novembro de 1841.” (BRASIL, 1847). Neste
conservatório, seriam ensinados “rudimentos, preparatorios e solfejos, canto para o sexo
masculino, rudimentos e canto para o sexo feminino, instrumentos de corda, instrumentos de
sopro, harmonia e composição.”.
Em 1851, através do Decreto nº 630, o imperador colocou nas escolas primárias e
secundárias, a Música ao lado da “grammatica da lingua nacional, e arithmetica, noções de
algebra e de geometria elementar, leitura explicada dos evangelhos, e noticia da historia
sagrada, elementos de geographia, e resumo da historia nacional, desenho linear e exercicios de
canto.” (BRASIL, 1851).

2
No século XX, no governo Getúlio Vargas (1930-1945), através da intervenção de
Anísio Teixeira e posterior condução pelo maestro Heitor Villa-Lobos (MARCONDES, 2000,
pp. 267-272), foi criado o Decreto nº 19.890, de 1931, que colocava o Canto Orfeônico como
matéria obrigatória do currículo no ensino secundário. De cunho nacionalista, o
desaparecimento gradual foi acontecendo com o fim da era Vargas.
Com a primeira LDB, a Música perde o caráter de componente e passa a ser agrupada
com as demais artes dentro da Educação Artística, criando para esta disciplina um perfil
polivalente. Pela formação em Licenciatura Curta, os professores priorizaram as artes visuais
em detrimento do ensino das artes coletivas (Música, Teatro e Dança).
Cinquenta e cinco anos depois, surge a Lei nº 13.278, de 2016, que reforça tal
polivalência, Nela, as quatro linguagens devem ser ministradas pelo professor de Arte. Por isso,
é tão singular para esta pesquisa atentar para os princípios em que são estabelecidos a lei de
2008 que trata do ensino da Música numa tentativa de inclui-la também em outras disciplinas,
utilizando-o enquanto ensino interdisciplinar. Assim como a Música esteve presente como
componente curricular no sistema educacional brasileiro por bastante tempo e a legislação
esboça um retorno para um lugar de destaque no século XXI, na História da Educação, o mesmo
acontece com esta arte desde os primeiros programas de ensino da humanidade, como os da
Antiguidade Clássica e Idade Média. Aliás, para Chauí:

[…] os gregos que produziram uma ciência matemática, um corpo lógico e


sistematizado de conhecimentos racionais, fundados em princípios gerais que se
traduziram numa geometria, numa aritmética e numa música (entendida como
conhecimento racional da harmonia ou proporção de sons). Os babilônios e os caldeus
produziram conhecimentos sobre os céus e os meteoros – ligados às necessidades
práticas da astrologia –, mas os gregos transformaram tais conhecimentos num corpo
sistemático e lógico, criando a astronomia, conhecimento racional dos movimentos
dos astros. (CHAUÍ, 2002, p. 24).

Com pensadores como Pitágoras e Arquitas, Platão e Euclides, Ptolomeu e Boécio, a


Música é vista como indispensável para o desenvolvimento humano, todavia, ela estaria desde
seu princípio, próxima à Matemática. Percebe-se no pai desta ciência que:

Todo mundo se lembra do teorema de Pitágoras: o quadrado da hipotenusa é igual á


soma dos quadrados dos catetos? Pitágoras (c. 560-500 a.C.) era filosofo e matemático
e devemos muitas coisas a ele. Ele viveu no sul da Itália, que na época fazia parte do
grande império grego. Um belo dia, os sons produzidos pelas pancadas de um ferreiro
nas malhas de ferro chamaram sua atenção: eram suaves e, de repente, ficavam
estridentes. Pitágoras percebeu, então, que algo determinava o caráter das sonoridades
e concluiu que só podia ser o efeito de certas combinações das e medidas de cada
barra de ferro. Transformou essas medidas em razoes numéricas 1/2, 2/3 e ¾ e
3
aplicou-as ao comprimento de uma corda musical Estavam criadas as primeiras
proporções de intervalos musicais, que é como se chamam as distancias entre as notas,
e estava estabelecida a ligação entre música e matemática. (GUSMÃO, 2008, p. 8,9).

Sobre Pitágoras, Gusmão (2008) continua dando exemplo de como ele observou o
comportamento das notas a partir de um instrumento de uma corda só, o monocórdio.
Interessante perceber que, no livro Pequena viagem pelo mundo da música, a autora dá ênfase
para a relação entre a música e a matemática.
Observa-se também em Pitágoras que “todas as coisas derivam dos números.
Entretanto, os números não são o primum absoluto, mas eles mesmos derivam de outros
‘elementos’ Com efeito, os números são uma quantidade (indeterminada)”. (REALE e
ANTISERI, 2003, pp. 24-26). O que este pensador quis dizer é que o número é a organização
humana sobre as coisas (MILIES e BUSSAB, 1999, p. 24-25). Os números existem na mente
para compreender o aparente. Não seria assim também a música? Para Barros (2012, p. 87),
“esta é puro ressoar do interior […], uma espécie sutil da negação da aparência sensorial. Vindo
a ser como matéria vibrante para, logo em seguida, abismar-se no silêncio”.
Um discípulo de Pitágoras, Arquitas de Tarento, (428-347 a.C.), considerado o pai da
mecânica matemática, homem ilustre, a abordagem dos números aconteceria estudando a
geometria, aritmética, astronomia e acústica. Isto quer dizer que já no século V a.C., percebia-
se que na acústica, campo da Física onde hoje está concentrada a Música, esta fazia parte das
propriedades matemáticas.
De fato, atribui-se a Pitágoras e a seus discípulos, principalmente a Arquitas e a Filolau
de Crotona a construção da escala diatônica obedecendo a critérios numéricos (matemáticos) e
acústicos (sonoros), tendo destaque para a divisão dos sons em oitavas (relação 2:1), quartas
(relação 4:3) e quintas (relação 3:2). Curiosamente, a multiplicação entre a quarta (diatessaron)
e a quinta (diapeton), ou seja, entre 4:3 e 3:2 é igual a 2. A Música ocidental é afinada por esta
divisão: um acorde, formado por quatro notas, é a combinação da tônica, mediana, dominante
e repetição da tônica; respectivamente, primeira, terça, quinta e oitava notas. Ainda hoje, ao
trabalhar os doze semitons contíguos, existe uma correlação numérica que, chamada de
temperado, em homenagem ao Cravo Bem Temperado, coleção musical escrita em 1722 por
Johann Sebastian Bach, é baseada na escala diatônica de Pitágoras.
Assim, as definições que a Física moderna dá para este temperamento é:

4
Oitavas
0 1 2 3 4 5 6 7 8
C 16,35 32,70 65,41 130,81 261,63 523,25 1046,50 2093,00 4186,01
C# 17,32 34,65 69,30 138,59 277,18 554,37 1108,73 2217,46 4434,92
D 18,35 36,71 73,42 146,83 293,66 587,33 1174,66 2349,32 4698,64
D# 19,45 38,89 77,78 155,56 311,13 622,25 1244,51 2489,02 4978,03
E 20,60 41,20 82,41 164,81 329,63 659,26 1318,51 2637,02 5274,04
F 21,83 43,65 87,31 174,61 349,23 698,46 1396,91 2793,83 5587,65
F# 23,12 46,25 92,50 185,00 369,99 739,99 1479,98 2959,96 5919,91
G 24,50 49,00 98,00 196,00 392,00 783,99 1567,98 3135,96 6271,93
G# 25,96 51,91 103,83 207,65 415,30 830,61 1661,22 3322,44 6644,88
A 27,50 55,00 110,00 220,00 440,00 880,00 1760,00 3520,00 7040,00
A# 29,14 58,27 116,54 233,08 466,16 932,33 1864,66 3729,31 7458,62
B 30,87 61,74 123,47 246,94 493,88 987,77 1975,53 3951,07 7902,13

Aqui é possível trabalhar uma das mais importantes áreas da Matemática e também da
Física: a Proporcionalidade. O elemento principal do quadro é o A4, padronizado pela
International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização)
com a norma ISO 16, de 1975. Na prática, este som serve para a afinação da altura musical. Ela
pode ser estudada pela metodologia, ou seja, aparecendo ao observador, podendo ser testada
com um afinador, também chamado de diapasão. A propósito, verificar faz parte da ciência,
revelando em seu estado positivo ou cientifico o dado empírico como possibilidade daquilo que
é dado a conhecer. Mais do que é dado, o positivismo acredita naquilo que pode gerar uma
experiência sensível e a música faz isso através da audição. (ARANA, 2007, 6).
A Harmonia ou Música para Platão, representava o número no tempo, enquanto que a
Aritmética é o estudo ou teoria dos números; a Geometria como o estudo do número no
espaço; e a Astronomia, o número no tempo e no espaço.
A Música deveria se fazer presente desde a infância, onde estaria paralela à ginástica
e a brincadeiras e esporte. Após esse período, a Música estaria ligada à poesia, onde se
aprenderia a harmonia e o ritmo que, para o filósofo, tinha uma conotação moral, ligada ao
senso de justiça. Assim, os demais conteúdos (Matemática, História e Ciência) poderiam ser
ensinados. Não por acaso, a Moral foi instituída em 1852 por Auguste Comte como a sétima
ciência, em que o filósofo positivista trabalharia com a constituição psicológica do sujeito e
suas relações sociais.
Euclides de Alexandria (330-277 a.C.), considerado o autor da “suma” da matemática
grega e o primeiro geômetra (REALE e ANTISERI, 2003, pp. 313-315; BRAGA, GUERRA e
CLÁUDIO, 2004, p. 40), escreveu várias obras relacionando estudos sobre visão (sua Optica é

5
de 295 a.C.), sobre astrologia, astronomia, mecânica e música. A geometria euclidiana perdurou
até o início do século XX, quando pesquisas matemáticas intituladas de não-euclidianos foram
propostas para um novo estudo da Matemática.
A obra de Euclides é vista como um tratado sobre o trabalho de filósofos como
Hipócrates e Eudóxio, sendo sua principal obra Os Elementos (ÁVILA, 2010, pp. 56-65).
Contudo, é em Sectio Canonis onde se encontra a relação entre a Matemática e a Música. A
tradução do título desta obra é a divisão da régua, vindo da seção do cânon. Ele apresenta a
mesma divisão monocórdica de Pitágoras. Seguindo o pensamento de Arquitas de Tarento,
estudou os intervalos, classificando os intervalos da seguinte forma:
I) múltipla (pollaplasion), onde o termo menor é uma parte do maior, representada
como n : 1, com n > 1; II) superparticular (epimorion), em que os termos diferem por uma
unidade, representada como n + 1 : n, com n > 1; III) superdividida (epimeres), em que o
excesso do termo maior é “partes” do menor, isto é, a diferença entre o maior e o menor não
divide este, representada como n + m : n, com n > m > 1. Ainda para Euclides:

Algumas relações são múltiplas ou superparticulares, e obedecem a intervalos


específicos: a oitava é chamada um intervalo duplo; a quinta, um “hemiólico”; a
quarta, um “epítrito”; e o tom, um “epogdóico”. Com exceção do adjetivo grego
hemiolios, que tem correspondente em língua portuguesa como sesquiáltero, os outros
termos usados acima entre aspas não têm equivalente no português. Os autores das
traduções por nós cotejadas valem-se da transliteração, e, de nossa parte, seguimos o
mesmo processo. Vale destacar os significados daquelas palavras: sobre sesquiáltero,
o dicionário nos faz saber que “diz-se de duas quantidades das quais uma contém a
outra vez e meia”. O que é expresso pelo intervalo de quinta, 3:2. Do mesmo modo,
epitritos significa, em grego, o que “contém um inteiro e um terço (1 + 1/3)”, e,
portanto, o intervalo de quarta, (4/3). Por fim, epogdoos exprime o que contém um
inteiro mais um oitavo (1 + 1/8)), no caso, o tom, (9/8). (BARBOSA, 2018, p. 35).

Cláudio Ptolomeu (90-168), “o último grande astrônomo grego” (FARIA, 2001, p. 31),
famoso por sua teoria geocêntrica, escreveu Harmônica, ou Teoria do Som. Hoje restam apenas
fragmentos. Nesta obra, estabelecendo uma teoria entre a Matemática e a Música, discutia como
as notas musicais podem ser traduzidas em equações matemáticas e vice-versa. Ele diz que:

A Música tem três médias, uma é a aritmética, a segunda é a geométrica e a terceira


é a contraposta que chamam de harmônica. A aritmética, quando três termos
apresentam a mesma diferença proporcionalmente: o primeiro excede o segundo tanto
quanto o segundo excede o terceiro. E nessa proporção acontece que é menor a razão
dos termos maiores e maior a dos menores. A geométrica, quando o primeiro está para
o segundo tal qual o segundo para o terceiro. Dessas proporções os maiores termos
têm a mesma razão que os menores; a contraposta, que chamamos de harmônica,
quando (os termos) são assim: o primeiro excede o segundo por tanto de si mesmo
quanto o termo médio excede o terceiro. Acontece que, nesta proporção, é maior a
razão dos números maiores, e menor a dos menores. (SANDRONI, 1973, p. 233).
6
É, porém, Anício Severino Boécio (480-524), que serviu de tradutor de muitas obras
do grego para o latim, obras estas que seriam o alicerce do milênio seguinte. Ao fazer um
compêndio sobre a Música sob o título na De Institutione Musica, manteve os fundamentos
desta linguagem próximos às da Matemática. Sua contribuição para aquilo que era estudado em
1141 da era Cristã esteve presentes na Dialética, ao lado de Porfírio e Aristóteles, na Aritmética,
juntamente com Marciano Capella, na Música, sozinho, na Geometria, com textos de Abelardo,
Isidoro de Sevilha, Frontino, Columelle, Gerberto, Boécio e Gerlard. Ifrah (2000, p. 296) diz
que a Aritmética foi estudada a partir do grego Nicômaco a partir da tradução de Boécio.
Segundo Castanheira (2009, pp. 10, 11), Boécio trata no primeiro livro de sua obra,
temas como a influência da Música na vida humana e o seu conhecimento (através dos números)
como a única maneira de controlá-la. Desta forma, a medida dos sons é apreendida através de
proporções quantitativas. Esta afirmação nega o papel dos sentidos na compreensão da Música,
uma vez que estes são instáveis e sofrem influências do ambiente, idade, distância entre emissor
e receptor, bem como outros fatores e também a possibilidade do conhecimento se fundar na
performance musical, argumentando que a voz possui limitações, como a de tom, além de sofrer
influência da respiração e da audição.
Boécio apresenta a teoria pitagórica dos intervalos, onde os raciocínios elementares
estão sobre os intervalos musicais e suas proporções. Apresenta também as bases do sistema
musical grego: o nome das notas, seus inventores e suas funções, a teoria dos tetracordes, sua
divisão em gêneros e os princípios de sua construção. Ao finalizar seu material, propõe que a
teoria inicial de que a compreensão da Música acontece através dos números e a noção da
natureza da consonância: nesta lei, enquanto os ouvidos se deleitam com sons, a razão se apraz
com as proporções numéricas e apenas a combinação de sons que expressa proporções
intelectualmente satisfatórias pode ser considerada bela consonância. Para o filósofo romano,
o músico não é aquele que toca um instrumento ou escreve canções, mas aquele que domina e
aplica os princípios especulativos da disciplina.
Sendo, pois, responsável pela cultura europeia do século V, quando nasceu, até o início
do Renascimento, Boécio não somente trouxe os elementos do pensamento grego, mas
consolidou o que viria a ser chamado de as Sete Artes Liberais (as três primeiras ligadas à
linguagem: Gramática, Retórica e Oratória, pertinentes à mente e as quatro restantes ligadas ao
número: Aritmética, Música, Geometria e Astronomia, relacionadas à matéria e à quantidade,
portanto, ao número e à extensão). Essa divisão foi reformulada gradativamente no

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Renascimento, em que o trivium transformou-se nas Humanidades, quando foi preciso “libertar-
se” da escolástica e retomar os textos gregos e latinos. Aqui, a Música sai das escolas e encontra
espaço nos conservatórios.
Parece ser em Comenius (1592-1670), em sua Didática Magna desenvolve o conceito
de pampædia, a arte de ensinar tudo a todos. (PIAGET, 2010, p. 41). Contudo, a música entra,
assim como em Aristóteles, para refrear os instintos, perdendo sua análise cientifica nos
programas de ensino. Na obra citada, ela adquire o caráter de poesia, sendo ensinada pelos
professores de língua nacional. Para o pensador tcheco, a segunda etapa do ensino seria
composta pela Gramática, Física, Matemática, Ética, Dialética e Retórica.
No século XVIII, a partir da situação difícil pela qual passava a Europa e que deu
origem à Revolução Francesa, foi criada na Paris de 1794 a Escola Central de Trabalhos
Públicos, tendo seu nome substituído por Napoleão Bonaparte de Escola Politécnica, a partir
de 1805. Seu objetivo inicial era formar engenheiros e depois da renomeação, passou a ser uma
escola militar, sendo até hoje tutelada pelo Ministério da Defesa.
A Escola Politécnica recebe a seguinte formação: no primeiro ano, formação humana
e militar e tronco comum (Matemática, Física, Matemática aplicada, Economia e Computação).
No segundo ano, além do tronco comum, os alunos estudam Mecânica, Biologia e Química. O
terceiro ano é constituído por aprofundamento cientifico e estágio de pesquisa e no último ano
o aluno realiza sua especialização. Os alunos ainda estudam cursos de humanidades, línguas e
esportes ao longo dos quatro anos.
É nesta escola, em 1814, que Auguste Comte entra aos dezesseis anos de idade, que
adquire sólida formação matemática e científica” (SIMON, 2005, p. 144), com interesses pelas
ciências naturais, preocupado com as questões históricas e sociais de seu tempo. Tornou-se
mais tarde examinador de admissão desta mesma escola. Fruto de seu tempo, defendia que no
espirito positivo, parte da última etapa da Lei dos Três Estados (teológico, metafisico e
científico ou positivo), o homem seria formado pela Matemática, Astronomia, Física, Química e
Biologia, para finalmente chegar à sua Física Social, que ele mesmo chamaria posteriormente
de Sociologia. Em 1852, Comte dirá que a sétima ciência é a Moral.
Pode-se perceber que a Música seja na forma da ciência dos números no espaço
(MIORIM, 1998), como diria Platão, seja como a arte da Moral, a partir do mesmo filosofo
grego, não aparece em nenhum momento nos escritos comtianos como pilar da educação. Ela,
que obedece às mesmas leis gerais das natureza e das demais ciências abstratas, que pode ser

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observada, experimentada, comparada e classificada, seguindo o método comtiano, parece não
configurar no sistema de ensino positivista. Como última etapa do desenvolvimento humano,
aquele que formaria o espírito positivo ligado à Ciência, os fundamentos da Música seriam
estudados juntamente com os fundamentos da Matemática e da Física. Para Comte:

A educação, como campo das ciências humanas, também necessita ser


compreendida e desenvolvida com base em critérios cientificos. Ela cumpre o papel
de levar cada ser humano a viver o estado positivo, fazendo com que ele supere os
estados teológicos e metafísicos, em que se vive orientado por crenças e visões
míticas. O homem desenvolvido, maduro, é aquele que já não mais vive de crenças
religiosas ou da fé em um deus, mas da religião do grande ser que é a humanidade.
(DALBOSCO et al, 2008, p. 120)

Outra destas ciências, a Biologia, também dedica grande parte de seu currículo para o
estudo da Audição. O livro O ouvido e a audição, de Steve Parker (1997), por exemplo,
descreve o que acontece dentro do ouvido, qual é a natureza do som, o que são ouvidos
sensíveis, como ocorre a captação das ondas sonoras, como é a percepção dos sons, entre outros.
Ao tratar a Matemática como um dos principais componentes da Educação brasileira
atual (em muitas matrizes curriculares, o período escolar é composto por trinta aulas, sendo
que, no Ensino Fundamental, seis aulas são dedicadas a esta disciplina e seis à Língua
Portuguesa; as dezoito horas restantes são dedicadas a outros seis componentes, enquanto que
no Ensino Médio, são cinco aulas para cada um dos dois componentes principais e as outras
vinte aulas para outros dez componentes), a Música daria suporte para os estudos da lógica
matemática, da topologia e das teorias de conjuntos, de modelos, da prova, dos tipos e da
recursão. Os fundamentos da Música, tais como a combinação dos sons (melodia e harmonia)
e o ritmo, vistos também em suas propriedades, como a altura, o timbre, a intensidade e a
duração (NESTROWSKI, 2000), auxiliaria nos fundamentos da Matemática, isto é, na
construção do pensamento sobre números, conjuntos, funções e figuras geométricas e na relação
destes com a observação sobre a realidade. Sobre o Currículo da Matemática, Pires (2000)
discute em seu livro propostas para uma Matemática moderna na educação brasileira, inclusive
refletindo sobre interdisciplinaridade com as demais disciplinas escolares. O mesmo acontece
em A Matemática e os Temas Transversais, de Monteiro e Pompeu Junior 2003), onde os
autores propõem uma relação da matéria com outras áreas do Currículo. Vale lembrar aqui que
a Pluralidade Cultural é um dos temas propostos por Brasil (1998).
Além disso, auxiliaria nos fundamentos da Física, no campo da Acústica, estudando
Ondulatória, os fundamentos da intensidade (medida em phons), nível de pressão sonora
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(medida em decibéis), frequência (medida em Herz), altura (em inglês: pitch, medida em mel),
o timbre (com seu correspondente físico, o espectro), e ainda, nos fenômenos da propagação
das ondas, como a difração, a reflexão, a refração, a interferência, o efeito Haas e o Efeito
Doppler. Hewitt (2002, pp. 330-369), em Física Conceitual, divide a quarta parte de seu livro,
intitulado Som, em três capítulos: Virações e Ondas, Som e Sons Musicais. Feynmnan (2004,
pp. 89-115) também relaciona o ensino da Física com outros componentes curriculares.
Ao aprofundar nestes textos, a pesquisa propõe um olhar sobre a Música como parte
da educação positivista – uma vez que atende aos princípios desta escola, cujos elementos não
devem ser separados do que é relativo, orgânico, preciso, certo, útil real (RUSS, 1994, p. 222).
O positivismo está na base da concepção pedagógica do Brasil republicano desde a Constituição
Brasileira de 1891 (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2006, p. 50; VASCONCELOS, 2012, pp. 70-
74), mesmo trazendo “de terras estranhas um sistema complexo e acabado de preceitos, sem
saber até que ponto se ajustam às condições da vida brasileira e sem cogitar das mudanças que
tais condições lhe imporiam.” (HOLANDA, 1995, p. 160).
Assim, trazendo as disciplinas do Quadrivium, a Aritmética e a Geometria acharam
espaço na atual Matemática e a Astronomia na atual Física, mas… onde foi parar o ensino da
Música?

1. Problema
A filosofia positivista crê que o último e melhor estado do ser humano se dá a partir
das ciências, principalmente a Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia
e Moral (ou Psicologia Positiva). Entretanto, a Música, que desde o princípio da História e da
Filosofia da Educação, não configura neste paradigma, como era entre os gregos antigos e o
Quadrivium medieval. Se as quatro “Artes dos Números” são Aritmética, Geometria,
Astronomia e Música, onde foi parar a Música no espírito positivo de Auguste Comte?
Assim, o problema é entender porque o filósofo francês não trouxe a Música, este “elo
perdido” das disciplinas numéricas. Uma vez entendida essa proposta, cabe então relacionar os
fundamentos entre os componentes curriculares que compõem a Matemática e as Ciências da
Natureza, propondo um diálogo interdisciplinar a partir de textos teóricos e, se necessário, de
experimentos físico-matemáticos na solução da resolução deste problema.

10
2. Hipóteses
 A Música não aparece em Comte pela própria educação que o filosofo teve. Sendo
um dos primeiros alunos da Escola Politécnica, escola inicialmente para formação
de engenheiros e militares, Comte teria contato mais profundo com conhecimentos
estabelecidos como científicos em sua época (Matemática, Física, Química e
Biologia).
 A Música não entraria como Ciências por ter que perder sua subjetividade artística,
uma vez que ela se tornaria mecânica demais para exprimir qualquer significado
subjetivo. Portanto, ela teria sido consagrada como Belas Artes, também na França
do século XVIII, ao lado da arquitetura, pintura, escultura, dança, teatro e literatura.
O cinema entraria como a sétima arte.
 A Música não encontrou espaço na passagem da Idade Média para o Renascimento
por valorizar o sentimento de fé e liturgia. Na volta ao passado, ela foi auxiliar das
poesias greco-romanas, sendo a poesia mais valorizada que ela. Isso teria refletido
na pedagogia moderna.
 A Música, se tivesse sido pensada enquanto Ciência, pode ser melhor ouvida,
apreciada e até sentida se o ouvido tivesse sido educado através das proporções
matemáticas e físicas inerentes aos seus fundamentos.

3. Objetivos
A presente pesquisa articula-se de maneira a tentar alcançar alguns objetivos gerais e
específicos. Em relação ao objetivo geral, a investigação busca:

Identificar o motivo da inexistência da Música enquanto espírito positivo na filosofia


comtiana e propor relação entre a Música e as demais ciências deste espírito.

Em relação aos objetivos secundários, busca:

 Relacionar os fundamentos da Música com os fundamentos das disciplinas do


espírito positivo, em especial a Matemática e da Física.

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 Comparar o programa de ensino sobre ensino musical nos textos dos gregos antigos
e do Quadrivium medieval com os princípios do currículo da filosofia comtiana
enquanto proposta educativa.
 Refletir sobre o ensino de Música acrescentado à LDB como conteúdo dos
componentes Matemática e Física, através da Lei 11.769/2008 que dispõe que a
Música não deve ser conteúdo exclusivo do componente Arte.

4. Justificativa
O positivismo visa o progresso através da ciência, seja pela Matemática, Física,
Astronomia, Química e Biologia, antes de chegar à Sociologia – assim como para Hume (2004,
p. 229), a Política pode ser transformada em ciência, a Sociologia caminhou nessa direção e a
Educação traça o mesmo percurso.
De fato, o avanço tecnológico trouxe muitas contribuições para a melhoria da
sociedade e nada melhor do que a escola para preparar as mentes que darão continuidade a este
progresso.
As matérias relacionadas acima partem de um mesmo princípio: os números. Entender
a Música como um todo articulado e inseparável das demais ciências e poder exercitar seus
fundamentos permite desenvolver, de forma combinada, os conhecimentos práticos,
contextualizados, que respondam às necessidades da vida contemporânea, e o desenvolvimento
de conhecimentos mais amplos e abstratos, que correspondam a uma cultura geral e a uma visão
de mundo. (BRASIL, 1999, p. 207-208).
Relacionar o ensino da Música sob esse viés matemático é poder codificar, ordenar,
quantificar e interpretar compassos – aliás aqui, a sequência numérica é um de seus
fundamentos mais importantes (CARVALHO, 2000; DUHALDE e CUBERES, 1998, p. 49) –
, coordenadas, tensões, frequências e demais variáveis. Assim, esta pesquisa, que busca colocar
a Música no mesmo status que as demais ciências e a educação musical tão importante como
os ensinos de Língua Portuguesa e Matemática atualmente, podendo fornecer elementos para
que esta arte (no sentido original de técnica) traga aos professores de Exatas e da Natureza
condições para que a Música seja mais um instrumento de trabalho em busca da construção do
conhecimento e da interpretação e abstração da realidade, transformando-a através da cultura,
da pesquisa e de suas aplicações.

12
A pesquisa é relevante também porque busca atender à demanda da legislação vigente
sobre a musicalização: a não-exclusividade dentro da Arte e a falta de formação de professores
para trabalhar em aula com este conteúdo. Aqui abre espaço para que outros docentes que
tiveram Música em sua formação possam atuar na área de maneira interdisciplinar e
experimentar a produção sonora à maneira do matemático Boécio, através da lei da
consonância: nesta lei, enquanto os ouvidos se deleitam com sons, a razão se apraz com as
proporções numéricas e apenas a combinação de sons que expressa proporções intelectualmente
satisfatórias pode ser considerada bela consonância.
Outro fator relevante está de acordo com o propósito da Lei 13.278, de 2016,
estabelecido no artigo segundo: a inclusão da “necessária e adequada formação dos respectivos
professores em número suficiente para atuar na educação básica”. Ora, os professores que
tiveram a formação em Música nas Universidades são os de Arte, Filosofia e Física. Os nomes
das disciplinas podem aparecer de diversas formas no curso superior, mas geralmente são
chamadas, respectivamente, de Códigos Sonoros, Estética e Acústica. Assim, a Música
trabalhada por estes professores na Educação Básica poderia ser trabalhada
interdisciplinarmente a partir da Lei dos Três Estados, sendo que na História da Arte, o docente
não escaparia de trabalhar a Música no contexto religioso como os ditirambos, a tragédia grega,
o canto gregoriano; na Filosofia, lembrando o conceito metafísico de Comte, o educador traria
os conceitos de beleza, sublime, grotesco, catarse, e ainda na moral, os conceitos do verdadeiro,
do bom e do belo. Na Acústica, os elementos das ondas seriam estudados a partir da propagação
nos instrumentos musicais, tanto os de corda quanto os de sopro e até os eletrônicos, outro ramo
da Física (OLIVEIRA, 2010, p. 41; SÁ, 1997; VON BAEYER, 2004, pp. 53-66)), sendo que
neste caso, o ensino não seria apenas teórico ou abstrato, mas funcionando como um
laboratório, testando frequências e acordes, tendo como desdobramento criação de melodias,
harmonias e ritmos musicais nas aulas de Física. Carvalho et al (2011, p. 107) dizem que
“investigar é uma prática adotada pelos cientistas para compreender os fenômenos naturais.”
Ressaltam que “o ensino de Física (assim como de quaisquer outras disciplinas do currículo
escolar) deve ser capaz de preparar o aluno para além do ambiente escolar, habilidades que lhe
permita atuar consciente e racionalmente fora do contexto da escola.” A pesquisa passa
necessariamente pela definição de qual é a função do currículo no contexto escolar. (LIMA et
al, 2012).

13
Esta pesquisa é relevante para o presente pesquisador, pois este fez seus estudos nas
graduações em Arte-Educação, Filosofia, Pedagogia e Letras. Especializou-se em ensino de
Arte no Brasil, em Teologia e em Gestão Escolar, continuando seus estudos no mestrado em
Educação no entendimento da formação de professores e das práticas educativas. O autor é
músico trombonista, atualmente estudando trompa e trabalhando musicalização em escolas
públicas, igrejas evangélicas e faculdades particulares.
Acredita que sua formação e sua experiência, vinculados a este programa de
Doutorado, podem contribuir muito na visão sobre a Música enquanto técnica, linguagem e
expressão, a partir de seus fundamentos teóricos e metodológicos e na propositura que esta tem
em relação às demais disciplinas escolares, principalmente nas Ciências Exatas e da Natureza.
Considera, portanto, partindo do mesmo princípio, quando o conhecimento é aprendido através
das leis que o regem e que representam o núcleo da filosofia positiva, ou seja, o foco no
conhecimento dos fatos: os números, trabalhados de maneira empírica. É diretor efetivo de uma
escola estadual onde tem um grupo de adolescentes que aprendem Música através do ensino da
flauta doce. É preocupado sobre a forma como este ensino está sendo trabalhado nas escolas e
como está sendo a implementação das Leis nº 11.769, de 2008 e nº 13.278, de 2016, uma vez
que quase não se houve falar sobre socialização de metodologias e experiências de arte-
educadores, nem de matemáticos, nem de físicos, sobre a implantação do ensino da Música
enquanto currículo escolar.

5. Metodologia de Pesquisa
A pesquisa caminhará no sentido de ler a obra de Auguste Comte para entender mais
profundamente seu conceito de homem, sociedade, mundo, conhecimento e, por fim, de
educação. A formação específica sobre a Lei dos Três Estados, sobre o espirito positivo e outras
terminologias próprias do paradigma comtiano. Para isso, sua bibliografia, tais como Curso de
filosofia positivista, Discurso sobre o espírito positivo, Discurso preliminar sobre o conjunto
do positivismo e Catecismo positivista serão a base desse estudo.
Ao investigar sobre a Música enquanto ciência dos números, a proposta é ler os autores
que trabalharam com essa questão, como por exemplo, Euclides (em Sectio Canonis), Boécio
(em De Institutione Musica), Platão (A República) e Arquitas (em Harmonia). Não somente
reflexões sobre o tema, mas será tanto melhor se, durante a leitura, forem descobertos
programas de ensino trabalhados nos diferentes períodos da História da Educação.

14
Pensadores que surgirem durante o percurso também serão investigados. Nestas
leituras, serão comparados os fundamentos da Matemática, da Física e da Música, relacionando-
as com estudos contemporâneos sobre estas três áreas de conhecimento e como elas se
convergem. Assim, leituras de autores de livros didáticos também podem acontecer.
Podem ser testados também afinadores manuais (diapasão) e eletrônicos (metrônomos)
correspondendo a testes sugeridos pelas leituras feitas. Os resultados, assim como as reflexões
e as conclusões, bem como o aproveitamento dos créditos do Programa de Pós-graduação,
deverão ser descritas no trabalho final do Doutorado.
Como desdobramento, uma proposta é a construção de um manual de orientação para
professores de Matemática e Física sobre como trabalhar Música em sala de aula. Na graduação,
apenas os aspectos teóricos são estudados: passa-se rapidamente pelo conteúdo e de forma
estritamente teórica. Aqui, a criação de uma material pedagógico, acompanhando propostas já
existentes em livros didáticos, poderá traz para o ambiente da sala de aula experimentos
artístico-científicos, chegando mesmo a levar professores e alunos a tocarem alguns ritmos e
pequenas melodias.

6. Referencial Teórico-Metodológico
Esta pesquisa parte da investigação de cunho bibliográfico e análise qualitativa de
conteúdo, revelando implicações no objeto de estudo, no caso a Música, a partir de seu processo
histórico, enquanto Currículo que caminhava junto com outras ciências, como a Aritmética, a
Geometria e a Astronomia, como ela se tornou autônoma em determinado momento da
educação brasileira e como foi sufocada por uma educação polivalente do ensino de Arte em
que se privilegiava as artes visuais em detrimento das artes cênicas do corpo, do som e da fala.
A metodologia positivista busca resgatar o conhecimento não através de sua origem,
mas dos fenômenos que ela revela no presente, seus fatos, podendo utilizá-lo enquanto ciência,
ou seja, como um instrumento importante para a melhoria do futuro em setores como a escola
e a própria sociedade. E é isso que se pretende fazer com a investigação dos fundamentos da
Música enquanto ciência nesta pesquisa. O método também propõe a revisão com a cultura de
modo a trazer novos significados. Para Comte:

No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter


noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as
causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao
uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas
relações invariáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida
15
então a seus termos reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre
os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, cujo número o progresso da
ciência tende cada vez mais a diminuir. (COMTE, 1983, p. 4).

Assim, utilizar a história enquanto método de investigação do passado


para compreender o presente é ter a possibilidade de interferir no futuro com responsabilidade.
Através deste método que, para Comte, a Música pode entrar como ciência tanto quanto a física
social ou sociologia – para Comte, “essa disciplina tem como objetivo principal valer-se dos
resultados científicos a que chega a prescrever as condições de instauração do espirito positivo
na sociedade.” (ABRÃO, 1999, pp. 398,399).
Após isso, dá-se o estabelecimento da relação entre os fundamentos da Música e os da
Matemática, como sugerem textos da História e da Filosofia da Educação.
Outro aspecto importante é salientar o que é a doutrina positivista. O que essa filosofia
entende enquanto história e história da educação, para chegarmos à conclusão de que a
compreensão da Música enquanto arte e ciência é importante para a construção de homem, de
sociedade e de mundo.
Como referência para os fundamentos das três principais ciências que respaldam esta
pesquisa, será adotada a nomenclatura já consagrada pelas comunidades matemática, física,
musical e cientifica. Essa inter-relação é comum à ciência, pois como diz Kuhn (2011:

Visto que a maior parte dos objetos continua a ser agrupada, mesmo quando em
conjuntos alterados, os nomes dos grupos são em geral conservados. Não obstante, a
transferência de um subconjunto é, de ordinário, parte de uma modificação
fundamental na rede de inter-relações que os une. (KUHN, 2011, p. 256):

7. Cronograma

Como é uma pesquisa qualitativa, que trata de análise de conteúdo e de cunho


bibliográfico, o foco das ações será a leitura e a escrita. As aulas na Universidade e momentos
de pesquisa e experimentos caminham paralelamente ao processo de produção textual.

Semestres
Atividade
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
Créditos obrigatórios
Seleção da literatura que embasará a pesquisa
Exame de proficiência
Reuniões para orientação

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Encontros dos grupos de estudos
Participação em eventos científicos
Compilação prévia e sistematização dos dados
coletados
Revisão dos dados em conjunto com orientador
Análises preliminares
Qualificação
Adequação do texto às recomendações da
qualificação
Elaboração de texto para tese
Produção do texto final
Defesa da tese

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