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Pé do Morro II

A constituição da comunidade Pé do Morro II é dada a partir da identificação de


características semelhantes às de remanescentes de Quilombo, que nos levou a agrupar
as localidades Baraúna de Cima, Lagoinha, Olho D’água e Pé do Morro Dias e as
comunidades Dourados, descritas por alguns como Pé do Morro dos Dourados, e
Gaspar, nessa mesma comunidade Pé do Morro. Como existem outras duas
comunidades com o mesmo nome na área do município de Tanque Novo, esta é
denominada Pé do Morro II pelos moradores. Nenhuma comunidade de Tanque Novo,
que se auto-denomina remanescente de quilombo, está certificada pela Fundação
Cultural Palmares, órgão do governo responsável pela certificação, no entanto, um
estudo feito pelo Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica da UnB
(ANJOS, 2005), citado por SEAGRI-BA e Geografar - UFBA, classifica Gaspar, Pé do
Morro, sem especificar qual deles, e outras duas localidades do município, Baixada e
Caldeirão, como comunidades negras rurais quilombolas. Em Tanque Novo existem as
localidades chamadas Baixa Verde e Caldeirão, mas, pelas características das mesmas,
consideramos que Anjos não tenha se referido a essas em seu trabalho e não foi possível
saber sobre quais ele se referiu.

Segundo os moradores do Pé do Morro II, o fundador da comunidade teria sido


o senhor Antônio Dias Moreira, proveniente de uma região chamada Bacamar, que teria
construído sua casa junto ao morro local, dando origem à denominação Pé do Morro ou
Pé do Morro Dias, localizada na coordenada 778.971E e 8.502.259N, a
aproximadamente 3 km a leste da comunidade Alecrim, pela estrada. No registro de
terras sobre a fazenda Várzea Redonda, citada anteriormente no texto sobre a
comunidade vizinha Alecrim, vimos que Bento Joaquim da Silva, residiu em um lugar
chamado Bacamarte, que recebeu como herança do sogro, nome parecido com o
Bacamar citado pelos moradores, que nos faz inferir que seja o mesmo lugar, o que não
foi possível comprovar.

Os moradores da localidade Baraúna de Cima, que possui aproximadamente 20


casas, dizem que a localidade era conhecida como Pé do Morro, mas o nome mudou
depois da construção da Escola Municipal. Além dos Dias, também existem pessoas
com sobrenome Barbosa e outros. Olho D’água fica 2 km ao sul da Baraúna de Cima,
para quem sai do Gaspar, fica logo depois de um lugarejo, com oito casas, chamado
Lagoinha, dos descendentes de Joaquim Dias Neto e Ana Francisca Dias. Possui um
lençol freático raso, que deu origem a uma minação e, conseqüentemente, ao nome da
localidade.

A comunidade Dourados fica a 2 km a sudeste da capela do Alecrim, distante


aproximadamente 6 km a leste de Tanque Novo. Segundo os moradores foi originada
pela família do senhor Gordiano Silva Dourado, que morou nessa comunidade há
muitos anos; eles acreditam que ela tenha aproximadamente 200 anos de origem. A
comunidade recebeu o nome Dourados por causa do sobrenome da família do senhor
Gordiano. Além do senhor Gordiano, os moradores informam que o senhor Carlos José
também foi um dos primeiros moradores a habitar essa comunidade.

Sobre a comunidade Gaspar, um descendente de Antônio Dias, o líder


comunitário Zelindo José Dias, diz não saber ao certo por que a comunidade em que ele
mora chama-se Gaspar, mas acredita que recebeu esse nome em homenagem a um
antigo morador que morou por essas terras. Depois do senhor Gaspar, o senhor Nem, pai
de Joaquinzão da Lagoa Redonda teria sido o principal líder da comunidade, pois foi
político quando Tanque Novo ainda pertencia a Botuporã. Um documento citado por
Neves, escrito em 1916, informa-nos sobre a existência de um Gaspar, em 1810, em São
José, que, pela descrição, seria ou a comunidade São José ou a fazenda São José, na
comunidade Mocambo dos Cardosos:

Poucos dias depois de installada a Villa de Caeteté, foram


providos os lugares de Juizes Vintenarios de Cannabrava do
Caires e Cannabrava de Vicente Ferreira, as quaes já eram
vintenas desde a administração de Minas de Rio de Contas, e
foi creada a de Gentio. [...] Quanto a Cannabrava de Vicente
Ferreira, que depois em razão de vir a pertencer em grande
parte á família Caldeira, adquiriu esse nome, vêm descripto os
seus limites com Urubu, por aquella data assim: - “Morro do
Chapéo, pelo que toca a esta freguesia, a Noruega, do falecido
Marques, São José, de Serafim Gaspar até o Bonito que foi de
José de Souza Costa” (A Penna. Caetité. 18 mai. 1916.
Editorial. In: GUMES, João [Antônio dos Santos]. Município
de Caeteté: notas e notícias. [s.l. : s.n.]. [Caetité: Tip. De A
Penna, 1918], p. 15-25. apud NEVES, 2008, p. 47-54).

Os limites da comunidade Pé do Morro II estão quase totalmente dentro da área


legal do município de Paramirim. Com o auxílio dos funcionários da prefeitura de
Tanque Novo, verificou-se que a casa mais distante do Olho D’água, que é assistida pela
prefeitura de Tanque Novo, pertence ao senhor Joaquim José dos Santos, o que foi
confirmado pelo mesmo e está a 8 km da sede Tanque Novo, em linha reta, na
coordenada 779.116E e 8.497.269N. Esse senhor nos conta que um dos primeiros
moradores da localidade chamava-se Jobre Badú, seguido de José Ângelo Dias, João
Ernesto Dias e outros. Os relatos dos moradores indicam que o terreno atual pertencia à
família Carneiro, que vendeu para um homem e este passou de herança para o casal
Jobre Badú e Carolina, proveniente de Macaúbas.

Figura – Casa de Joaquim José dos Santos


Devido às assinaturas no documento que comprova a compra das terras da
fazenda Furados pelos irmãos Prudenciano e Juvêncio, conforme vimos no texto sobre o
Alecrim, procuramos mais informações sobre a origem das famílias e descobrimos,
através de Gustavo Dourado e Alderi Souza de Matos, que, em meados do século
XVIII, o marujo português Mateus Nunes Dourado, natural da cidade do Porto, recebeu
do governador da Província da Bahia uma área de terras nas proximidades de Santo
Antônio de Jacobina. Atraído pelas minas de ouro, ali fixou residência e constituiu
família, casando-se com Joana da Silva Lemos, filha de pai português, proprietária da
exploração mineral na região e dona de muitas terras. Tiveram um único filho varão,
José da Silva Dourado, que se casou com Maria Custódia Leal e teve três filhos: João
José, Francisca e Maria Joaquina da Silva Dourado.

Neves nos mostra que a família Dourado se fez presente em uma área próxima
do atual município de Tanque Novo, na chamada fazenda Algodões:
Juazeiro – Sítio hoje em Botuporã, limites com Macaúbas,
medindo meia légua de comprimento e um quarto de largura,
arrendado pela Casa da Ponte ao capitão José Antônio do Rego,
em 1816, por 10 tostões anuais, limitando com Algodões, de
João José da Silva Dourado; Buriti, da viúva de Joaquim
Oliveira Cortes; Pé da Serra, de Geraldo José do Rego e
Domingos José do Rego; e Santana de João da Silva Batista,
sendo avaliado no tombamento fundiário de 1819 por 80 mil
réis e vendido, em 1831, para Geraldo José do Rego (NEVES,
2003, p. 369)

Percebemos que João José da Silva Dourado, neto do marujo português também
foi atraído pelo ouro, assim como o avô, desta vez para a região de Rio de Contas, no
entanto, como a mineração nesse local entrava em decadência, adquiriu a fazenda
Algodões, onde constituiu família, que se dedicou à agropecuária. Como veremos, seus
descendentes se espalharam por esta e outras fazendas próximas a Tanque Novo.

O livro de registro de terras da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de


Macaúbas (1857-1859) contém alguns registros referentes aos descendentes, como, por
exemplo, o registro número 716, no qual se vê que a fazenda Caititú, atual sede do
município de Botuporã, que está a aproximadamente 20 km a noroeste da comunidade
Dourados, em linha reta, pertenceu aos “herdeiros de João José”. Os registros a seguir
revelam outros detalhes importantes:

O Capitão Venancio Theodoro declara que pussui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubas três partes de terras no lugar denominado Pattos, na
Fazenda dos Algodoens, por compra que fes a João José da
Silva Junior, e a sua mulher, e a Demetro da Silva Dourado e a
sua mulher, e a Manoel da Silva Dourado easua mulher, cujas
partes são mestisos ese entremão pela parte do Norte com
Manoel José Pereira, pela parte do Nascente com os
interessados da Fazenda Malhadinha nos nomes dogiráo, epela
parte do puente na Serra de Santa Anna nos desagoadores =
declaro que pela parte do Sul, estrema com o mesmo Manoel
José Pereira. Villa de Macaubas 5 de Maio de 1859. Venancio
Theodoro de Souza. Registrado no dia 7 do mes de Maio.
Pagou mil eduzentos reis. Escrivão João Antônio do Rego, o
Vigario Fernando Augusto Leão (registro 427).

José Antonio de Oliveira e Silva declara que possui nesta


Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Macaubasa Fazenda do Sarandi que houve por herança da sua
finada Mai............ Dona Anna Maria do........os demais
herdeiros, aqual a Fazenda se estrema para oNascente com
Felippe Batista de Souza, e Antonio Goncalves Seixas para
oNorte, com João Alves da Costa e Maximino Pereira de Souza
e os herdeiros do finado João José da Silva Dourado, pelo
puente com Claudio Antonio de Oliveira, epela parte do Sul
com herdeiros do finado Manoel Francisco Xavier do Rego.
Macaubas o 1º . de Junho de 1859. José Antonio de Oliveira.
Foi apresentado eregistrado no dia 16 do mesmo mes de Junho.
Pagou nove centos, e oitenta e oito réis. Escrivão João Antônio
do Rego, o Vigario Fernando Augusto Leão (registro 669).

Jorge Pereira Dourado pussui nesta Freguesia de Nossa


Senhora da Conceição da Villa de Macaubas uma parte de
terras na Fazenda das Vargens em comum com os mais
enteressados Filhos eherdeiros de Jose Joaquim Pereira cuja
parte de terras houve por herança de sua finada Sogra Francisca
Angélica de Jesus esuas estremas constão da Escreptura de
compra das terras da mesma Fazenda que se acha em puder do
mesmo Cabeça do Cazal. Villa de Macaubas 14 de Maio de
1859. Jorge Pereira Dourado. Registrado no dia 16 do mesmo
mes de Maio. Pagou mil réis. Escrivão João Antônio do Rego,
o Vigario Fernando Augusto Leão (registro 469).

Segundo as informações divulgadas por Gustavo Dourado e Matos, João José da


Silva Dourado casou-se com Guardiana Maria Cardoso, com a qual teve treze filhos,
sete homens e seis mulheres, além de outro natural, três deles estão indicados no
registro 427. A fazenda Sarandi, indicada no registro 669, fica a menos de 10 km ao
noroeste da sede de Tanque Novo e com a qual o registro nos mostra que os herdeiros
do “finado” João José limitavam-se ao norte. A descrição sobre a fazenda Gameleira
feita por Neves, divulgada no texto sobre a comunidade Alecrim, mostra-nos um
Dourado, Gonçalo Pereira Dourado, mais próximo da atual comunidade Dourados de
Tanque Novo, na década de 1850. O registro 469 indica que Jorge Pereira Dourado,
talvez filho de Gonçalo, herdou da sogra um lugar na fazenda Vargens, que pode ser o
mesmo da atual comunidade Dourados, devendo-se consultar a escritura para
confirmação.

Como vemos, depois da morte do pai, alguns descendentes de João José


venderam as propriedades e se dirigiram para outra região. Segundo o IBGE a origem
do atual município de América Dourada, que fica a mais de 200 km da atual
comunidade Dourados, deve-se aos filhos e netos de João José da Silva Dourado, pois
eles compraram uma fazenda, em 1870, que no decorrer dos tempos passou a povoado e
foi denominado Mundo Novo.

A maioria de seus habitantes eram descendentes de João José


da Silva Dourado tomando conhecimento da existência de uma
cidade com este nome (Mundo Novo), sentiram a necessidade
de mudar o nome do povoado para América. As povoações
vizinhas passaram a chamar América dos Dourados. Passando
depois a se chamar América Dourada (IBGE, 2010).

Descobrimos outra versão um pouco diferente para a história de formação de


América Dourada, divulgada por Matos, na qual, antes de 1859, quando o registro 669
divulga que o senhor João José era falecido, ele teria comprado uma enorme fazenda,
denominada Lagoa Grande, com vinte léguas quadradas, à qual deu o nome de América
Dourada. Esta correspondia a vários municípios atuais: América Dourada, João
Dourado, Irecê, Lapão, Ibititá, Presidente Dutra, Jussara, São Gabriel e outros, e João
José teria vendido 1.200 cabeças de bois, uma carga de prata e outra de ouro para fazer
o negócio.

Se foi o senhor João José da Silva Dourado ou os filhos dele que compraram a
fazenda que deu origem ao município de América Dourada, é uma questão que não
abordamos nesta pesquisa. Mas foi importante saber que os membros da família
Dourado tinham terras na região de Tanque Novo, pois há indícios de que os moradores
da atual comunidade Dourados de Tanque Novo sejam descendentes de escravos da
família Dourado, pois são negros, assim como a maioria dos moradores do Pé do Morro
II e, até pouco tempo, eram chamados “nego dos Dourado” ou “nego do Pé do Morro”,
por alguns moradores do município, em tom preconceituoso.
Os treze filhos de João José da Silva Dourado e Guardiana Maria Cardoso
foram: Maria (Iaiá Sá Maria), Demétrio, Joaquim, Bento, Manoel, Antônio, José, João,
Ana Joaquina (Sinhazinha), Constança, Francisca, Lucrécia, Clemência, todos com o
sobrenome da Silva Dourado. Quando o registro 427 cita João José da Silva Júnior,
pode estar se referindo tanto ao oitavo citado anteriormente, quanto ao filho de João
José da Silva Dourado com outra mulher, o que não foi possível comprovar. Os outros
dois se referem ao segundo e ao quinto filho citados, respectivamente. Não se sabe
quantos desses nasceram na fazenda Algodões ou em outra, próxima ao atual município
de Tanque Novo, nem quando foram para fazenda América Dourada, no entanto, os
cônjuges dos filhos e os netos do casal João José e Guardiana são conhecidos através de
Gustavo Dourado, em anexo, e, ao serem relacionados com as informações anteriores,
esclarecem quais estiveram ligados à comunidade Dourados de Tanque Novo.

Alderi Souza de Matos nos revela que o oitavo filho, casado com Carolina
Cardoso Pereira, teve João Cardoso Dourado, nascido em Caetité no dia 7 de janeiro de
1854. Este se casou no dia 7 de janeiro de 1878, na fazenda São João, então município
de Macaúbas, atual Paramirim, com a prima Geraldina Brandelina (este último nome
não aparece na relação de Gustavo Dourado, mas está em outras genealogias da família)
da Silva Dourado, nascida em 6 de janeiro de 1860, filha de Bento da Silva Dourado, o
quarto filho, casado com Maria Cardoso de Oliveira.

No texto sobre a comunidade Alecrim vimos que Cláudio Antônio de Oliveira e


seus filhos José Antônio de Oliveira e Antônio Cardoso de Oliveira, compraram em
1861 uma gleba de Vargens entre Malhada Grande, Furados e Lagoa do Mato, sendo a
esposa de Bento, Maria Cardoso de Oliveira, provavelmente parente deles. O
sobrenome da primeira esposa de Manoel, Esmera Cardoso, também indica proximidade
com a família de Antônio Cardoso de Oliveira. O texto também mostra que Francisco
Alves Carneiro teve uma esposa chamada Maria da Glória Cardoso Carneiro e depois
ele se casou com a irmã dela, chamada Ana Amélia Cardoso Carneiro. Essa informação
nos leva novamente ao casal Bento e Maria Cardoso, pois foi o único que teve uma filha
chamada Maria Cardoso e outra Ana Amélia Cardoso.

O nome Maria Rosa no anexo em lugar de Maria da Glória, bem como a


ausência do nome Brandelina, comentado anteriormente, e a não especificação se João
José Júnior seria o oitavo filho de João José da Silva Dourado com Guardiana Maria
Cardoso, ou o filho deste com outra mulher, mostra-nos que a genealogia divulgada por
Gustavo Dourado apresenta algumas falhas. Levando em consideração esses erros,
supomos que, depois de casadas com Francisco Alves Carneiro, as irmãs Maria (da
Glória) e Ana Amélia teriam alterado o sobrenome Dourado para Carneiro.

Francisco Alves Carneiro e João Cardoso da Silva seriam concunhados e a


primeira filha de Demétrio, Guardina Silva Dourado e o homem citado pelos moradores
da comunidade Dourados como fundador da comunidade Dourados, Gordiano Silva
Dourado, podem até terem sido a mesma pessoa, diferenciadas devido à imprecisão do
repasse da informação oral ou da própria genealogia. A partir da ligação entre a família
de João Cardoso Dourado e a família de Francisco Alves Carneiro, o caminho deste foi
semelhante ao do concunhado, como veremos.

A história de João Cardoso Dourado e Geraldina Brandelina da Silva Dourado,


divulgada por Matos, revela que depois que se casaram na fazenda São João, no então
município de Macaúbas, o casal foi para Angico, área pertencente à Fazenda Lagoa
Grande, que teria dado origem ao município de América Dourada, e, em 1888, fixaram
residência no lugar denominado Canal. Devido à influência de um coronel chamado
Benjamin José Nogueira (1855-1910), que teria sido o primeiro diácono e moderador da
Igreja Batista da cidade Corrente, no extremo sul do Piauí, João passou a evangelizar
pela região do Canal.

Em 1903, saindo a cavalo de Senhor do Bonfim, onde residia, o missionário


presbiteriano Rev. Pierce Chamberlain foi até o Canal e conheceu o coronel João
Dourado. Mediante um contato mais demorado com o Rev. Pierce, João Cardoso foi
batizado e o missionário prometeu-lhe uma professora para alfabetizar os seus filhos e
parentes. Em março de 1904, chegou ao Canal a professora Damiana Eleonor da
Conceição. No dia 5 de fevereiro de 1905 a congregação da Fazenda Canal foi
organizada em igreja pelo Rev. William Alfred Waddell, cunhado do Rev. Pierce. João
Dourado foi eleito presbítero, junto com três outros membros da família.

Em 1906, o Rev. Waddell mudou-se com a família para Ponte Nova, pouco mais
ao sul, onde a missão alugou e depois adquiriu uma grande fazenda junto ao rio Utinga,
onde é a atual sede do município de Wagner. Ali foi criado um colégio evangélico para
os filhos dos sertanejos nordestinos, o Instituto Ponte Nova. Na época, somente três
outras localidades baianas (Salvador, Ilheus e Caetité) forneciam ensino de segundo
grau, o atual Ensino Médio. O propósito do Instituto Ponte Nova era preparar
professores para escolas primárias e bíblicas, treinar jovens para o trabalho da igreja e
encaminhar alguns deles ao ministério. Dos doze alunos iniciais, oito foram enviados
pelo coronel João Dourado, sendo quatro deles seus filhos. O coronel Benjamin
Nogueira também enviou os filhos e alguns parentes para estudarem em Ponte Nova.

Alguns moradores atuais de Tanque Novo dizem que a influência para estudar
em Ponte Nova chegou até Tanque Novo, provavelmente devido à ligação de Francisco
Alves Carneiro com seu concunhado. Existe registro da saída para Mundo Novo, em
1907, de João Alves Carneiro, descrito no texto sobre o Alecrim e relatos de que
Severino Xavier Malheiro, cunhado do irmão de Zeferino, Manoel Rodrigues de
Magalhães, da fazenda Sarandi, enviou o filho dele. Segundo as fontes orais, Zeferino e
Ana Bela também quiseram enviar o filho Venício, mas não concretizaram. Francisco
Alves Carneiro esteve próximo de João Cardoso Dourado, no entanto, o bisneto e
historiador Abderman informa que ele sempre foi católico. A ligação entre as famílias
Carneiro, Cardoso e Dourado precisa ser mais bem estudada para se entender em que
circunstâncias se deram a compra das terras que originaram a cidade de Tanque Novo.

Entre os fatos mais antigos que os moradores da comunidade Dourados


relembram, está a seca de 1932, que deixou em situação de calamidade toda essa região;
muitas pessoas tinham que comer batata do mato para não morrer de fome. Também
relatam que algumas pessoas da comunidade fabricavam anil colocando a planta de anil
de molho durante três dias, depois tirando as folhas, coando com cinzas e colocando
dentro de um saco para escoar. Fabricava-se azeite torrando a mamona, pisando e depois
colocando no fogo, com água, até se transformar em óleo. Algumas mulheres, com
destaque para dona Nenzinha, produziam roupas ou cobertores. Ela passava o algodão
colhido no descaroçador, batia com o arco, levava para a roca, onde fiava e, depois da
linha feita, tecia o pano do tear, cortava e costurava de acordo com o que pretendia
fazer. O senhor Josias Dourado fazia carro de boi e outros objetos de madeira.

Outros relatos sobre a atualidade da comunidade Dourados se referem à abertura


de uma estrada que dá acesso à comunidade, ou ao primeiro rádio trazido pelo senhor
Joaquim, à inauguração do campo de futebol, ao primeiro automóvel comprado pelo
senhor João, à construção da capela e da Escola Municipal Família Dourado, à energia
elétrica, poço artesiano e casa de farinha, conseguida através da Associação Beneficente
e Comunitária das Comunidades de Dourados e Gaspar, que serve às comunidades de
Dourado, Manuel Correia, Gaspar e a localidade Baraúna de Cima, sendo presidida pelo
senhor Paulo Xavier. Em relação à localidade Olho D’água, os entrevistados disseram
que em 2007 melhorou no que se refere aos meios de transporte, meios de comunicação,
fabricação de farinha, construção de casas e da escola, apesar do estudante 1543 dizer
em 2009 que “[...] a gente vai estudar longe porque a escola não dá para tanta série
[...]”. Contaram 14 residências em 2007 e em 2009, o estudante 1543 escreve “[...]
moram na minha comunidade 30 famílias e muito felizes [...]”.

Os estudantes disseram que, em 2007, havia na localidade Olho D’água 34


moradores que concluíram até a 4ª série e 15 estudantes, sendo 11 deles da localidade e
4 de fora. Segundo os mesmos, os professores se reuniam com os alunos em época de
São João e faziam comidas típicas, organizavam quadrilhas e outras atividades e que, na
comemoração do folclore, os alunos faziam algumas brincadeiras, desenhos de
personagens das lendas, tais como: saci, mula-sem-cabeça etc. Apesar dos alunos que
levantaram os dados citarem uma escola na localidade, a Escola Municipal de Olho
D’água não foi encontrada nem na pesquisa de campo, nem no banco de dados
municipal, estadual ou federal. Acredita-se que os mesmos estejam se referindo à Escola
Municipal Nossa Senhora da Glória, localizada, no banco de dados federal, na fazenda
Pé do Morro dos Dias e, na relação municipal, no Pé do Morro II, apesar dos moradores
vizinhos a essa escola dizerem que a mesma se encontra na comunidade Gaspar.

Figura – Escola Municipal Nossa Senhora da Glória


A Escola Municipal Nossa Senhora da Glória, localizada na coordenada
777.472E e 8.499.265N, teve 44 estudantes matriculados em 2009, sendo 10 na pré-
escola e 34 no ensino fundamental inicial. A Escola Municipal de Baraúna de Cima, que
fica a 3 km ao sul do Pé do Morro Dias, na coordenada 779.108E e 8.499.281N, atendeu
11 alunos em 2009 no ensino fundamental inicial e 3 na pré-escola. A Escola Municipal
Família Dourado, localizada na coordenada 777.125E e 8.499.860N, esteve paralisada
nesse ano. Nenhum deles estudantes utilizou transporte escolar em 2009.
Essa confusão sobre a qual lugar a escola Nossa Senhora da Glória pertence,
reflete desconhecimento sobre a própria história da comunidade. Os limites do Pé do
Morro II são imprecisos, pois os atuais moradores nada sabem sobre o tempo de
escravidão dos seus antepassados. Para Santos (2007), essa não identificação ou “longo
silêncio” sobre o passado funciona como um tipo de memória subterrânea, diante de
ressentimentos acumulados no tempo e de uma memória da dominação e de sofrimentos
que jamais puderam se exprimir publicamente. O relato oral de Juvêncio Alves
Carneiro, neto homônimo do comprador da parte de terras da fazenda Furados, diz-nos
que membros das famílias Badu, Barbosa e Dias, que povoaram inicialmente o Pé do
Morro, tiveram atrito com seu avô, em relação aos limites dos terrenos. Essa questão
teve intermediação até mesmo do monsenhor Hermelino Marques Leão, que teria dado
razão ao senhor Juvêncio e este teria feito aqueles colocarem o mourão nos limites
estabelecidos, usando de agressividade.

Silêncio e não-identificação podem ser entendidos como um processo de


resistência da comunidade, pois, como enfatiza Santos:

Durante aproximadamente um século a memória da escravidão


sofreu um processo de “silêncio”, pois tudo o que era ligado a
ela tinha um sentido negativo, sentido este imposto pela
“história oficial” (...) tendo inclusive comunidades negras que
negam até hoje seu passado escravista (...) Nesse processo
percebe-se que o “silêncio” foi uma maneira de evitar conflitos
(SANTOS, 2007, p. 103)

Observo que as memórias sobre a escravidão se encontram inseridas em alguns


relatos, no entanto, de maneira distorcida, como por exemplo, no que informam que
alguns antepassados se arriscavam para vender o rebanho de gado indo à Mata do Café,
em São Paulo, montados em animais, gastando 30 dias em média. Segundo Neves
(2000), a experiência dos negros na Mata do Café é descrita como se esses fossem o
próprio rebanho, conduzido por sampauleiros traficantes. O autor também mostra que,
com o fim da escravidão, alguns deles retornaram para seus locais de origem, devido às
relações de parentesco. Isso deve ser mais bem estudado no contexto da comunidade Pé
do Morro II.

A população da comunidade vive da criação de gado e agricultura. A maioria da


produção é para consumo próprio, sendo que, quando sobra, é vendida na feira para
aumentar a renda familiar. Antes, para ir à feira, os moradores tinham que ir a pé,
conduzindo o jegue que carregava os produtos na cangalha, ou de carro de boi, que,
atualmente, foram substituídos pelo automóvel. Os produtos cultivados eram: arroz,
feijão, mandioca, milho, alho, cebola, tomate, cenoura e beterraba. Atualmente é
cultivado feijão, milho, mandioca, da qual se extrai a farinha e a tapioca, mas nos
últimos anos caiu a produção destes e houve aumento da área de pastagem para os bois.
Segundo um dos moradores, a criação “miúda” está acabando pelo fato de se usar cerca.

O fator que mais influencia na produção das culturas é a chuva. O rebanho sofre,
tendo que se deslocar até a Lagoa da Baraúna de Cima ou do Olho D’água para beber.
Por não utilizarem métodos adequados para armazenar a água no período chuvoso, os
moradores também passam por calamidades na seca. Antes era feito o plantio com
enxadas e enxadões para abrir covas no chão e hoje já utilizam o arado, que é um pouco
mais rápido, e em poucos lugares o trator. A casa de farinha busca incentivar o plantio e
o cultivo da mandioca nessas localidades, evitando, com isso, o êxodo rural. O
estudante 1543 fala da realidade do Olho D’água: [...] Nós plantamos já para o consumo
Familiar e está ótima as plantações e a pecuária com os bovinos, caprinos e suínos
[...]”.

Encontra-se na região ametista e o granito, que foram muito retirados da


comunidade na década de 1990. Atualmente a exploração se encontra desativada, mas,
constantemente se ouvem explosões, decorrentes das bombas utilizadas por mineradores
clandestinos, portanto, a mineração encontra-se abandonada somente pelos órgãos
responsáveis. Os moradores relatam que quando estava ativa, não houve nenhum
benefício para a população local, pelo contrário, eles denunciam que não existiu
nenhuma preocupação com a preservação ambiental, o que provocou grandes danos à
natureza. Os blocos de granito foram retirados por trabalhadores de Tanque Novo, Olho
D’água, Baraúna de Cima, Pé do Morro Dias e Gaspar, para a empresa JASITEM, que
os destinava à exportação.

José Dias Barbosa, conhecido por Zé Padre, é considerado destaque no Olho


D’água por realizar curso de batismo, ser líder comunitário e artesão, fazendo vários
tipos de objetos como: cadeiras, arados, tombadores, carrinhos de boi, rocas,
descaroçadores e congas. Outros moradores também fabricavam balaios, esteiras e
chapéus utilizando palha de coqueiro, bananeira ou caroá. Quase todas as mulheres
velhas de hoje faziam bordado em ponto de cruz, fuxico, fiavam na roca etc, com
destaque para Maria Durico e Maria Francisca. O senhor Ezequil e Sobim também
faziam carro de boi e caixão para colocar farinha. Os pratos destacados na comunidade
foram: feijoada, farofa, leitoa assada, batata assada, requeijão, farofas de cariru, de
caiana e folha de quiabento, maniçoba, bolo frito, beiju, cuscuz, escaldado, biscoito, pão
caseiro etc. Antigamente para preparar os alimentos os moradores colocavam panelas de
barro em cima de trempes ou pedras e acendiam o fogo no chão.

A flora da região se encontra bastante devastada, mas ainda existem árvores


como a aroeira, juazeiro, jurema, além das frutíferas, que os moradores destacam como
mais importantes: umbuzeiro, jabuticaba e gabiroba. A fauna é bem diversificada,
porém, devido à caça indiscriminada, alguns animais que existiam antes estão extintos
ou se tornando cada vez mais difíceis de serem encontrados, como veado, seriema,
codorna, perdiz, lambu, preá, bagadá, cobras de várias espécies, coelho, jacu, juriti, no
entanto, a caça vem acabando com esses animais. A água é obtida em parte pela
EMBASA, em minações de poços artesianos e nos tanques e caldeirões, também
conhecidos como lajedos, que armazenam a água proveniente da chuva.

A comunidade tem agente de saúde que passa de mês em mês, visitando as


famílias do lugar e quando há uma urgência os moradores procuram o hospital da
cidade. Antes não existia atendimento médico na sede de Tanque Novo, quando adoecia
uma pessoa era preciso ir a cavalo até o local mais próximo, percorrendo em torno de 20
km para se consultar com um farmacêutico em Caldeiras, ou 25 km para se chegar a um
médico na cidade de Paramirim, ou então se utilizava algum remédio caseiro preparado
por uma benzedeira ou curador. Hoje as condições estão melhores, pois há mais higiene,
devido à orientação dada pelos agentes de saúde. O estudante 1543 se refere ao agente,
escrevendo que este “[...] pesa as crianças menores de 7 anos e mede pressão [...]”.

Entre os fatos que marcaram os moradores do Pé do Morro II estão: a reza da


via-sacra, por Francisco Dias, embaixo de uma Gameleira, tradição esta que foi passada
de geração em geração, sendo, atualmente rezada na capela do Dourado; e a
generosidade da benzedeira da localidade, conhecida por “Ficidade” do Pé do Morro
Dias. As manifestações culturais da comunidade Pé do Morro II são os festejos
religiosos a São Sebastião, Nossa Senhora Aparecida, São Gaspar e outros, a semana
santa, a Via Sacra, as festas juninas, quando as famílias se reúnem para fazer fogueiras,
assados e soltar fogos, o bumba-meu-boi e o reisado, sendo que este vem acabando.
Figura – Capela da comunidade Dourados
As escolas preservam o folclore e as cantigas de roda e também comemoram o
dia das mães, dos pais e das crianças. O futebol e a baleada são as brincadeiras mais
praticadas. O estudante 1543 escreve que quer ficar “[...] brincando no campo com a
bola e outros amigos [...]”. As crianças também brincam de casinha, carro feito de lata
de óleo e pneu de sandália, boneca de pano, sabugo de milho, jogam peteca, baralho etc.

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