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TEXTO FUNDAMENTAL

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº 39: 115-137 JUN. 2011

PROSOPOGRAFIA1

Lawrence Stone

RESUMO

O artigo faz uma apresentação geral da metodologia de pesquisa prosopográfica. Em primeiro lugar, faz-se
uma revisão histórica dos primeiros esforços prosopográficos propriamente ditos, distinguindo as escolas
elitista, de caráter mais individualizante, e a sociológica, de caráter mais coletivo. Na seqüência, os
precursores do método são apresentados, seguidos de alguns dos mais importantes trabalhos iniciais: as
pesquisas historiográficas de Charles Beard e de Lewis Namier e a sociológica de Robert Merton. Em
seguida, o autor comenta alguns dos principais problemas encontrados no uso acrítico da prosopografia:
a ausência de dados adequados; erros nas classificações dos dados; erros nas interpretações dos dados;
problemas na interpretação teórica dos dados. A identificação desses problemas não visa a negar a
importância da prosopografia, mas a esclarecer quais os perigos que um uso descuidado dela podem
acarretar; dessa forma, em seguida se apresentam alguns dos mais importantes resultados contemporâneos
obtidos com a prosopografia, tomando como referência as pesquisas inglesas. Por fim, o autor comenta o
quadro geral dos estudos prosopográficos contemporâneos, indicando sua situação nos Estados Unidos e
na França, bem como as possibilidades e os perigos que a introdução do computador na prosopografia
trazem para a prática historiográfica.
PALAVRAS-CHAVE: prosopografia; pesquisa histórica; Teoria Sociológica; teoria das elites; metodologia
de pesquisa.

I. ORIGENS2 por meio de um estudo coletivo de suas vidas. O


método empregado constitui-se em estabelecer um
Nos últimos 40 anos, a biografia coletiva (se-
universo a ser estudado e então investigar um
gundo os historiadores modernos), a análise de
conjunto de questões uniformes – a respeito de
carreiras (segundo os cientistas sociais) ou a
nascimento e morte, casamento e família, origens
prosopografia (segundo os antigos historiadores)
sociais e posição econômica herdada, lugar de
desenvolveu-se como uma das mais valiosas e
residência, educação, tamanho e origem da rique-
familiares técnicas do pesquisador histórico. A
za pessoal, ocupação, religião, experiência em
prosopografia3 é a investigação das característi-
cargos e assim por diante. Os vários tipos de in-
cas comuns de um grupo de atores na história
formações sobre os indivíduos no universo são
então justapostos, combinados e examinados em
1 Este texto foi originalmente publicado na revista Dædalus busca de variáveis significativas. Eles são testa-
(Cambridge, Mass., v. 100, n. 1, p. 46-79, Winter 1971), dos com o objetivo de encontrar tanto correla-
sob o título de “Prosopography”. Tradução de Gustavo ções internas quanto correlações com outras for-
Biscaia de Lacerda e de Renato Monseff Perissinotto. mas de comportamento ou ação.
2 A pesquisa para este artigo foi apoiada pela bolsa GS
A prosopografia é usada como uma ferramen-
1559X da National Science Foundation.
ta com a qual se atacam dois dos mais básicos
3 A palavra “prosopografia” tem uma longa história: seu problemas na história. O primeiro refere-se às ori-
primeiro uso conhecido é de 1743 (NICOLET, 1970; estou gens da ação política: o desvelamento dos interes-
em dívida para com os editores de Annales por uma consul- ses mais profundos que se considera residirem
ta a esse artigo na fase de provas). Ela fornece um termo
preciso e acurado para um método histórico cada vez mais
sob a retórica da política; a análise das afiliações
comum e já é de uso corrente por um grupo na profissão. sociais e econômicas dos agrupamentos políticos;
Parece, portanto, bastante desejável que se torne de uso a revelação do funcionamento de uma máquina
cotidiano entre os modernos historiadores. política e a identificação daqueles que manipulam

Recebido em 15 de novembro de 2010.


Aprovado em 30 de novembro de 2010.
Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. 39, p. 115-137, jun. 2011
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os controles. O segundo refere-se à estrutura e à tos, ideais e ideologia. Quando o problema princi-
mobilidade sociais: um conjunto de problemas pal é político, argumenta-se que é essa rede de
envolve a análise do papel na sociedade, especial- vínculos puramente sociais e econômicos que dão
mente as mudanças nesse papel ao longo do tem- ao grupo sua unidade e, portanto, sua força polí-
po, de grupos de status específicos (usualmente tica e, em grande medida, também sua motivação
da elite), possuidores de títulos, membros de as- política, visto que a política é uma questão dos
sociações profissionais, ocupantes de cargos, gru- “de dentro” contra os “de fora”. Esta escola deve
pos ocupacionais ou classes econômicas; um ou- pouco ou nada às Ciências Sociais, apesar de que
tro conjunto de problemas refere-se à determina- poderia ter aprendido muito com elas, e é larga-
ção do grau de mobilidade social em determina- mente inocente quanto ao uso consciente de teo-
dos níveis por meio de um estudo das origens rias sociológicas ou psicológicas. Seus pressu-
familiares (sociais e geográficas), dos novatos postos, entretanto, entendem claramente a políti-
[recruits] de um certo status político ou posição ca mais como uma questão de interações entre
ocupacional, o significado dessa posição em uma pequenas elites dirigentes e seus clientes do que
carreira e o efeito de deter essa posição sobre as como movimentos de massa e esse auto-interes-
fortunas da família; um terceiro conjunto de pro- se, entendido como uma feroz competição
blemas lida com a correlação de movimentos in- hobbesiana pelo poder, pela riqueza e pela segu-
telectuais ou religiosos com fatores sociais, geo- rança, é o que faz o mundo girar (RUSTOW,
gráficos, ocupacionais ou outros. Assim, aos olhos 1966).
de seus expoentes, o propósito da prosopografia
A segunda escola é mais estatisticamente ori-
é dar sentido à ação política, ajudar a explicar a
entada, voltada para o estudo das massas e inspi-
mudança ideológica ou cultural, identificar a reali-
ra-se deliberadamente nas Ciências Sociais. Em
dade social e descrever e analisar com precisão a
sua maioria, os membros desta escola estão preo-
estrutura da sociedade e o grau e a natureza dos
cupados com todos (ou alguns) aqueles sobre os
movimentos em seu interior. Inventada como um
quais nada muito detalhado ou íntimo pode ser
instrumento da história política, ela é agora
conhecido, pois estão mortos e, portanto, indis-
crescentemente empregada pelos historiadores
poníveis para entrevistas. Os membros desta es-
sociais.
cola têm uma concepção de que a história é deter-
Os maiores contribuidores para o desenvolvi- minada mais pelos movimentos da opinião popu-
mento da prosopografia podem ser divididos em lar do que pelas decisões dos assim chamados
duas escolas razoavelmente distintas. Aqueles da “grandes homens” ou pelas elites; eles têm cons-
escola elitista preocupam-se com a dinâmica de ciência de que não há utilidade em definir as ne-
pequenos grupos ou com a interação, em termos cessidades humanas apenas em termos de poder
de família, casamento e laços econômicos, de um e de riqueza. Eles são necessariamente mais preo-
número restrito de indivíduos. Os temas de estu- cupados com a história social que com a política
do são usualmente as elites do poder, tais como e, portanto, procuram investigar um rol mais am-
os senadores da Roma antiga ou dos Estados Uni- plo, ainda que inevitavelmente mais superficial, de
dos ou os membros do parlamento inglês ou os questões que aquelas usualmente pesquisadas pe-
membros dos gabinetes ingleses, mas os mesmos los membros da escola elitista. Eles também são
processos e modelos podem ser e são aplicados bem mais preocupados com os testes das corre-
aos líderes revolucionários (LASSWELL & lações estatísticas das diversas variáveis que em
LERNER, 1965). A técnica empregada consiste dar a conhecer um sentido da realidade histórica
em fazer uma investigação meticulosamente deta- por meio de uma série de detalhados estudos de
lhada sobre a genealogia, os interesses comerci- caso. Desse modo, como eles tentam descrever o
ais e as atividades políticas do grupo, os relacio- passado, eles tendem a fazê-lo mais por meio da
namentos expostos por meio de detalhados estu- construção de tipos ideais weberianos que pela
dos de caso, apoiados apenas de maneira secun- apresentação de uma série de exemplos concre-
dária e em um grau relativamente menor por su- tos. Muito de seu trabalho refere-se à mobilidade
portes estatísticos. O propósito de tal pesquisa é social, mas alguns olham para relações estatisti-
demonstrar a força de coesão do grupo em tela, camente significativas entre o ambiente e as idéi-
mantido unido por laços sangüíneos, sociais, edu- as e entre as idéias e o comportamento político ou
cacionais e econômicos, sem falar de preconcei- religioso. As duas escolas, assim, diferem signifi-

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cativamente em seus objetos de estudo e um pou- 1849; HOOK, 1860-1876; MUNK, 1861;
co em seus pressupostos, meios e objetivos, mas WOOLRYCH, 1869; FOSS, 1870; GILLOW,
elas são similares em seu interesse comum no 1885-1902; AGNEW, 1886; FOSTER, 1891-1892;
grupo, mais que no indivíduo ou na instituição. DALTON, 1892-1904; 1910; HENNESSY, 1898;
BEAVEN, 1908-1913; VENN & VENN, 1922-
Tanto a escola elitista quanto a de massas tor-
1954).
naram-se primeiramente identificáveis na profis-
são durante as décadas de 1920 e 1930, quando O propósito dessa abundância – que se reali-
vários trabalhos apareceram e tiveram um pro- zou nos Estados Unidos, na Alemanha e em ou-
fundo efeito em todo o desenvolvimento posteri- tros lugares – não é de todo claro, pois a
or. As matérias-primas com as quais esses estu- prosopografia como um método histórico não fora
dos prosopográficos foram e são elaborados são inventada e essas publicações não eram usadas
principalmente de três grandes tipos: listas sim- por historiadores profissionais, exceto como mi-
ples de nomes de ocupantes de certos cargos ou nas de onde se poderia extrair blocos de informa-
títulos ou qualificações profissionais ou educaci- ções a respeito de indivíduos particulares. Em ter-
onais; genealogias de famílias; dicionários biográ- mos de motivações psicológicas, esses colecio-
ficos inteiros, que são usualmente elaborados em nadores obsessivos de informações biográficas
parte com base nas duas primeiras categorias e pertencem à mesma categoria dos machos eróti-
em parte com base em uma variedade de fontes co-anais como os colecionadores de borboletas,
infinitamente mais ampla. O recolhimento de ma- de selos postais ou de carteiras de cigarros; todos
teriais biográficos desse tipo progrediu bastante são subprodutos da ética protestante. Mas parte
antes que os primeiros “prosopógrafos” profissi- do estímulo veio do orgulho ou da afeição local
onais aparecessem em cena. Para tomar o caso ou institucional, que assumiu a forma de um de-
da história inglesa (embora a história romana pu- sejo de recordar os membros passados de uma
desse igualmente ser um bom exemplo (NICOLET, corporação, de uma faculdade, de uma profissão
1970)), ao longo do período que vai do final do ou de uma seita. Parte também derivou de uma
século XVIII ao início do século XX, antiquários, paixão inexaurível pela genealogia e pela caçada
clérigos e acadêmicos diligentes produziram in- de ancestrais que dominou grandes parcelas das
formação biográfica de todos os tipos em quanti- classes altas inglesas desde o século XVI. Com a
dades bastante impressionantes. Das editoras pú- grande expansão da classe média educada no sé-
blicas e privadas fluiu um rio de coleções biográ- culo XIX e com o crescimento das bibliotecas
ficas de cada descrição e de cada qualidade: mem- universitárias e públicas, havia afinal um mercado
bros do parlamento, pares, baronetes, pequena suficientemente grande para justificar a publica-
nobreza [gentry], arcebispos de Canterbury, cle- ção desses volumes que eram, na verdade,
ro londrinense, chanceleres, juízes, serjeants-at- esotéricos e ilegíveis.
law4, oficiais militares, recusantes católicos5, re-
A suprema aquisição desse movimento inglês
fugiados huguenotes, professores de Oxford e
secular para a biografia coletiva foi a realização
Cambridge – a lista é quase infinita (COLLINS,
do grande Dictionary of National Biography [Di-
1714; 1720; CAMPBELL, 1742-1744;
cionário da biografia nacional], que é um monu-
CHARNOCK, 1794-1798; WILSON, 1806;
mento permanente à motivação e à dedicação dos
BURKE, 1833-1838; CAMPBELL, 1845-1847;
vitorianos na busca de informações sobre os indi-
víduos mortos. Quando os primeiros praticantes
4 Os sarjeants-at-law eram advogados responsáveis com da prosopografia histórica passaram a trabalhar
exclusividade pela tramitação de alguns processos; há rela- após a I Guerra Mundial, eles portanto encontra-
tos a seu respeito anteriores ao século XIV, mas com o ram à disposição uma massa de informações bio-
reinado de Elizabeth I (1558-1603) eles passaram a perder gráficas já coletada e impressa, apenas esperando
influência e importância, até serem extintos no início do ser analisada, coletada e usada para construir uma
século XX (nota dos tradutores). figura inteligível da sociedade e da política.
5 Os recusantes católicos eram os católicos que, como o
O primeiro historiador a adotar o método elitista
nome indica, recusavam-se a cumprir os ritos anglicanos na
Inglaterra, sujeitando-se, é claro, a penalidades variadas. da prosopografia a fim de tratar de um grande
As leis que os apenavam valeram do século XVI ao século problema histórico foi Charles Beard, que já em
XIX, com variadas intensidades (N. T.). 1913 ofereceu uma explicação para o estabeleci-

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mento da constituição federal estadunidense a partir razão, talvez devido ao seu título um tanto
de uma análise cerrada dos interesses econômi- proibitivo, ele nunca atraiu muita atenção geral6.
cos e classistas dos Founding Fathers (BEARD,
A verdadeira marca no sentido da aceitação
1913). No capítulo-chave – “Os interesses eco-
geral pela profissão não ocorreu senão quando da
nômicos dos membros da Convenção” –, ele per-
publicação dos livros de Namier, Structure of
guntou a si mesmo se eles representavam “gru-
Politics at the Accession of George III (London,
pos distintos cujos interesses econômicos com-
1929), de Sir Ronald Syme, Roman Revolution
preendiam e sentiam de maneiras concretas e de-
(Oxford, 1939), e de R. K. Merton, “Science,
finidas em suas próprias experiências pessoais
Technology, and Puritanism in Seventeenth
com idênticos direitos de propriedade ou se tra-
Century England” (Osiris, v. IV, 1938, p. 360-
balhavam somente sob a orientação de princípios
632). Todos os três estavam aptos a abordar o
abstratos de Ciência Política”. Sua conclusão era
estoque de informações biográficas que foram
inequívoca: “Os primeiros passos firmes rumo à
acumuladas e publicadas ao longo dos séculos
formação da Constituição foram tomados por um
anteriores. Merton usou o Dictionary of National
pequeno e ativo grupo de homens imediatamente
Biography para seu trabalho, Syme estava em
interessados, em função de suas posses, no re-
débito com dois historiadores alemães – M. Gelzer
sultado de seus trabalhos”, uma conclusão obtida
e F. Münzer – e Namier pôde explorar 130 anos
por meio de uma biografia econômica de todos
de organização de dados a respeito da vida dos M.
aqueles conectados a esse processo. Esse memo-
P.s. O trabalho pioneiro da escola alemã de
rável e brilhante trabalho pioneiro parece curiosa-
prosopografia anterior à I Guerra foi de conside-
mente ter tido pouca influência nos desenvolvi-
rável importância para o posterior desenvolvimen-
mentos posteriores à I Guerra, talvez devido ao
to da prosopografia clássica – e possivelmente
quadro dogmaticamente rígido de determinismo
também da moderna –, mas suas realizações fo-
econômico no qual ele foi construído. No seu pre-
ram ofuscadas pelos trabalhos mais impressionan-
fácio de 1935, Beard tentou negar que essa sua
tes e ambiciosos de Namier e de Syme. Distantes
atitude em relação ao determinismo econômico
de Beard e de Newton, os últimos dois foram os
fosse aplicável a tudo, que ele fora profundamen-
primeiros historiadores de notável capacidade a
te influenciado pelo pensamento marxista ou que
usar esse tipo de abordagem para tentar uma
ele estivesse atribuindo motivos sórdidos ou auto-
reinterpretação maior de um desenvolvimento po-
interessados aos Founding Fathers. Contudo, suas
lítico crítico que já fora estudado ad nauseam por
negativas não eram totalmente convincentes
historiadores mais convencionais por um período
(BEARD, 1935, p. 73, 324, xii-xiv). A contribui-
bastante longo. Ambos trabalharam de maneira
ção de Beard para a prosopografia elitista foi uma
impressionística por meio de estudos de caso e
curiosidade suspeita a respeito das finanças de um
de anedotas pessoais, que eles usaram para elabo-
ator político e a hipótese de que elas eram impor-
rar um quadro dos interesses pessoais da elite,
tantes. O que lhe escapou foi o papel dos víncu-
principalmente os agrupamentos de parentesco,
los sociais e de parentesco que seriam tão impor-
as afiliações comerciais e uma complicada rede
tante nos estudos posteriores de Sir Lewis Namier
de favores concedidos e recebidos.
e outros. Por outro lado, a obra de Beard deve ter
sido familiar a Namier, que, por maior que tenha O terceiro estudo, de R. K. Merton, era bem
sido sua repulsa pelo determinismo econômico diferente tanto em seus objetivos quanto em seu
marxista, certamente deve ter-se impressionado método. De modo mais apropriado para um soci-
com o poder interpretativo do método. ólogo estadunidense que para um historiador bri-
tânico, o que ele produziu foi uma biografia de
Um ano depois, um outro pesquisador
grupo baseada em estatísticas, mais que um re-
estadunidense, A. P. Newton, publicou um livro
trato de grupo composto a partir de uma série de
menos conhecido que levou o método um pouco
estudos de caso. O problema que ele propusera-
adiante (NEWTON, 1914). Ele cuidadosamente
se também era diferente, pois não tentava estudar
traçou as relações de parentesco e as conexões
ações políticas específicas, mas um estado de
econômicas de modo a demonstrar a formação
da liderança puritana oposicionista a Carlos I na
década de 1630. Seu livro foi claramente um mo- 6 Ele não teve seguimento até a publicação do livro de
desto predecessor do de Namier, mas por alguma Hexter (1941).

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espírito e explicava um conjunto mental não por estabelecida no século XIX. Baseada em um es-
meio de vínculos familiares ou de interesses eco- tudo cerrado dos arquivos estatais, suas glórias
nômicos, mas de afiliações ideológicas: ele tenta- foram as histórias institucional, administrativa,
va vincular uma atitude favorável à ciência natu- constitucional e diplomática. Mas os maiores avan-
ral à fidelidade ao que ele frouxamente descrevia ços nessas áreas foram todos feitos pela raça de
como puritanismo. Por outro lado, seu trabalho gigantes dos finais das eras vitoriana e eduardiana,
era similar ao de Namier e de Syme no que ele sendo as figuras extraordinárias da história ingle-
examinava – embora com uma profundidade de sa C. W. Stubbs, T. F. Tout, F. W. Maitland e S.
pesquisa muito menor –, isto é, o comportamento R. Gardiner. Em suas buscas de novos e mais
de uma elite mais que o da massa. frutíferos caminhos para entender o funcionamen-
to das instituições, alguns jovens historiadores logo
Tanto Syme quanto Namier, mas particular-
antes e depois da I Guerra Mundial começaram a
mente este último, tiveram uma enorme influên-
passar da análise cerrada de textos de teoria polí-
cia sobre a geração seguinte de pesquisadores em
tica e de documentos constitucionais ou da
seus campos de especialidade. Alguns anos atrás
elucidação da maquinaria burocrática para um
um resenhista examinou os trabalhos recentes e
exame dos indivíduos envolvidos e das experiên-
correntes dos historiadores da política britânica
cias a que eles estavam sujeitos. Exasperado com
do século XVII e, dos problemas que se propuse-
a devoção oca de uma geração de intérpretes his-
ram e dos métodos que utilizaram para solucioná-
tóricos da composição da constituição
los, concluiu que eram todos membros de uma
estadunidense, Beard redigiu a “Introdução” de seu
única corporação: “Namier Ltda.” (RAYMOND,
próprio livro com o ácido comentário segundo o
1957, p. 499-500). Hoje ambos os métodos, o de
qual “a constituição teve uma origem humana –
estudos de caso e o estatístico – e especialmente
imediatamente, pelo menos – e ela agora é discu-
o último –, difundiram-se para outros períodos e
tida e aplicada por seres humanos que se encon-
áreas e são aplicados em uma crescente escala a
tram engajados em certas vocações, ocupações,
cada aspecto do processo histórico, a cada tem-
profissões e certos interesses”. Em sua desafia-
po e a cada lugar. A escola das massas agora tem
dora afirmação introdutória de um quarto de sé-
um próspero sub-ramo chamado psefologia, ou
culo depois, Syme também declarou guerra aber-
análise do comportamento do eleitorado; a escola
ta à geração anterior de historiadores (BEARD,
elitista produziu um sub-ramo mais científico, a
1913, p. xiv; SYME, 1939, p. vii)9. Quando lidou
análise dos nomeados para cada legislatura. Essas
com as atitudes do parlamento a respeito das co-
duas novas áreas específicas estão absorvendo
lônias estadunidenses antes da Revolução Ameri-
crescentes quantidades de tempo, dinheiro e aten-
cana, Namier não se incomodou com a teoria po-
ção dos historiadores e dos cientistas políticos7.
lítica da taxação sem representação; ao invés dis-
II. RAÍZES INTELECTUAIS so, ele perguntou: “Que conhecimento das colô-
nias estadunidenses tinha a Casa em que a Lei do
Que esses desenvolvimentos ocorreram no
Selo foi aprovada e revogada e na qual as Leis de
mesmo período em escritos de pesquisadores tra-
Townshend foram decretadas? Quantos de seus
balhando de maneira inteiramente independente (Sir
membros foram às colônias americanas, tinham
Ronald Syme assegura-me que não lera Namier)
vínculos com eles ou tinham um conhecimento
prova que há mais neles que mera descoberta ca-
íntimo dos assuntos americanos? Algum deles era
sual. A prosopografia não teria florescido da ma-
nascido na América?”10 (NAMIER, 1961, p. 229).
neira como floresceu nos anos 1920 e 1930 se
não tivesse ocorrido uma crise na profissão
historiográfica, que já era discernível para os jo-
vens mais perceptivos da geração seguinte8. Essa
9 Para uma descrição dessa drástica mudança
crise vicejou a partir da quase exaustão da grande historiográfica, cf. Nicolet (1970).
tradição acadêmica de historiografia ocidental,
10 Alguns esclarecimentos históricos necessários: Lei do
Selo (Stamp Act): lei aprovada em 1765 pelo parlamento
7 Alguns exemplos foram publicados em Rowney e Graham
britânico e que exigia que quaisquer impressos nas colônias
(1969, parte VI). britânicas na América deveriam utilizar papel produzido
8 Os líderes dessa revolução intelectual foram os franceses na Inglaterra e certificado com um selo; essa lei foi aprova-
Marc Bloch e Lucien Febvre. da sem a participação de representantes dos colonos e

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Seguindo esse exemplo, questões semelhan- edade era a maior possível, pois os anos 1920 e
tes sobre “quem”, mais que sobre “o quê”, foram 1930 foram períodos em que as explicações ge-
formuladas a respeito de questões tão diversas na néticas das diferenças culturais não foram trata-
historiografia inglesa como a Magna Carta, a Câ- das com a seriedade que agora começava a pare-
mara dos Comuns, rebeliões, o funcionalismo cer que possivelmente mereceriam 11 . O
público e os gabinetes ministeriais (NEALE, 1949; darwinismo social, que fora uma poderosa influ-
KEELER, 1954; AYLMER, 1961; HOLT, 1961; ência pela virada do século, dava maior ênfase na
GUTTSMAN, 1963; NAMIER & BROOKE, criação que na natureza. Além disso, os psicólo-
1964; HOBSBAWM & RUDE, 1969). A premissa gos freudianos, que logo após começaram a de-
implícita é que uma compreensão de quem os ato- senvolver suas próprias abordagens, também con-
res foram levará mais longe a explicação do fun- feriram grande ênfase na infância e na experiên-
cionamento da instituição a que eles pertenceram, cia sexual inicial. Deve-se admitir, todavia, que a
revelará os verdadeiros objetivos atrás do fluxo psicologia freudiana não tem muita utilidade para
de retórica política e tornar-nos-á mais capazes o historiador, que usualmente é inábil para pene-
para entender suas realizações, assim como para trar nos quartos, nos banheiros ou nos berçários.
interpretar mais corretamente os documentos que Se Freud está correto e se são esses os lugares
produziram. em que a ação encontra-se, não há muito que o
historiador possa fazer. A modificação subseqüente
A direção em que esse ataque à abordagem
das idéias freudianas, realizada por Erik Erikson,
convencional das instituições políticas e das polí-
de acordo com quem a formação do caráter con-
ticas públicas desenvolver-se-ia foi poderosamente
tinua ao longo da infância e da adolescência e cris-
influenciada por outras importantes tendências no
taliza-se em uma “crise de identidade” logo antes
clima intelectual do período, das quais a primeira
da maturidade, oferece novas possibilidades para
e mais importante era o relativismo cultural. Mai-
o historiador, que pode às vezes descobrir um
or familiaridade com países estrangeiros por meio
pouco sobre os pensamentos e os sentimentos de
de viagens combinada com o crescente volume
seu objeto de pesquisa em sua adolescência, mes-
de estudos antropológicos revelaram o extraordi-
mo que se conheça pouco ou nada de sua menini-
nário leque de padrões culturais que são adotados
ce e de sua primeira infância. Até o momento,
por diferentes sociedades ao redor do globo. O
todavia, a psicologia de Erikson tem sido bem
público instruído tornou-se incomodamente cons-
pouco usada pelos historiadores e uma influência
ciente de que a moral, o Direito, as constituições,
muito mais importante sobre a profissão têm sido
as crenças religiosas, as atitudes políticas, as es-
as teorias comportamentalistas de desafios e res-
truturas de classe e as práticas sexuais diferem
postas às pressões ambientais.
amplamente de uma sociedade para outra; essa
consciência a seu tempo levou ao reconhecimen- O terceiro elemento de influência no clima in-
to de que há poucas normas universais para o telectual do período foi a redução da confiança na
comportamento humano ou para a organização integridade dos políticos e o declínio da crença na
social. A ênfase no condicionamento ambiental importância das constituições. Muito desse cinis-
como o fator determinante na criação dessa vari- mo foi gerado pelo desastre político e moral da I
Guerra Mundial, seguido pelo colapso das espe-
motivou uma grande reação política, na América e na Ingla-
ranças em uma ordem mundial melhor. Muitas
terra, contribuindo para criar o clima que resultou, dez pessoas passaram a acreditar que essa era a épo-
anos depois, na independência dos Estados Unidos; em ca em que milhões morreram e a civilização euro-
1766 essa lei foi revogada. péia desintegrara-se, enquanto os políticos mano-
As leis de Townshend (Townshend Acts ou, como Lawrence bravam uns aos outros por cargos e poder, pro-
Stone usa, Townshend Duties) foram um conjunto de leis curando exceder-se mutuamente na retórica
propostas pelo Ministro das Finanças britânico em 1767, chauvinista do ódio. O resultado foi a penetração
Charles Townshend, e aprovadas pelo parlamento, visan- nos círculos intelectuais e nas classes superiores
do a, entre outras coisas, tributar os colonos americanos
com vistas ao pagamento dos governantes locais, punir o
estado de Nova Iorque e impor tributos sem representação
dos colonos. É quase desnecessário dizer que essas leis 11 Para uma pesquisa sugestiva, ainda que altamente
produziram revoltas e conflitos e que, assim, foram ele- especulativa, sobre as possibilidades da influência da gené-
mentos importantes na Revolução Americana (N. T.). tica, cf. Darlington (1969).

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do antigo folclore dos pobres, segundo o qual to- mente admitia a respeito de seu próprio trabalho
dos os políticos são canalhas. Essa foi a era do que “O desenho de pesquisa impôs uma tonalidade
exibicionismo, em que o topo social desvinculou- pessimista e truculenta às custas da quase comple-
se do século XIX, com livros como Eminent ta exclusão das emoções cavalheirescas e das vir-
Victorians (1918), de Lytton Strachey, e The tudes domésticas”, enquanto um resenhista de pri-
Robber Barons (1934), de Mathew Josephon. meira hora comentou com assombro que no livro
Também não se deve esquecer que os eventos do de Namier “O sistema político que ele descreve
período não fizeram nada para corrigir a balança; certamente não é atrativo, baseado como era em
foi a época de Teapot Dome, Jimmy Thomas e um auto-interesse possivelmente esclarecido, mas
Stavisky12. Essas suposições populares e desco- certamente sórdido” (WINSTANLEY, 1929, p. 660;
bertas reais a respeito da permissividade moral e SYME, 1939, p. viii).
sobretudo financeira dos políticos levaram os his-
Esse cinismo também não se limitava às atitu-
toriadores a pensar que motivos similares só po-
des face a políticos individuais, mas também se
deriam ser revelados como força motriz da histó-
dirigia aos sistemas políticos. Se as revoluções
ria se fosse possível ter acesso aos documentos
significam nada mais que a substituição de uma
particulares dos atores políticos do passado.
elite governante coesa e autocentrada por outra,
À parte o fascismo (que tinha pouco apelo inte- se um punhado de homens inescrupulosos pilo-
lectual), o marxismo era a única ideologia podero- tam o barco do Estado da maneira como querem,
sa do período. O marxismo concedeu a vários his- qualquer que seja a bandeira constitucional sob a
toriadores uma crença um tanto ingênua no qual eles viajam, então a diferença entre a tirania e
determinismo econômico, que reforçou fortemen- a democracia torna-se obscura, para dizer o mí-
te essas suspeitas sombrias sobre as motivações nimo. Desse ponto de vista, a escola elitista de
humanas. Beard então declarou que “o principal historiadores prosopógrafos dos anos 1930 era
motivo orientador” por trás dos elaboradores da profundamente afetada pela crise contemporânea
constituição estadunidense “eram as vantagens eco- de confiança na democracia. Namier
nômicas que os beneficiários esperavam obter para deliberadamente pretendeu destruir teorias a res-
si próprios” (BEARD, 1913, p. 17-18). Nesses es- peito de uma conspiração tirânica de Jorge III
tágios iniciais, portanto, a prosopografia refletia uma contra a constituição britânica e Syme pretendeu
atitude profundamente pessimista em relação aos remover qualquer base para julgamentos morais
comportamentos humanos e era conduzida tanto sobre a destruição da república romana por
pelos radicais sob a influência marxista, como Beard, Augusto. Em 1939 A. Momigliano aplicou a Syme
quanto por homens como Sir Lewis Namier e Sir sua própria descrição de Tácito: “um monarquis-
Ronald Syme, que eram ostensivamente conserva- ta do desespero perspicaz da natureza humana”
dores em suas formas de pensar. Syme franca- (MOMIGLIANO, 1940, p. 5). Robert Dahl cor-
retamente observou, todavia, que “para indivídu-
os com um forte traço de idealismo frustrado, ela
12 O Teapot Dome foi um escândalo político estadunidense [a teoria das elites] tem justamente o componente
ocorrido em 1922 e 1923, em que membros do governo do certo de rígido cinismo” (Dahl apud RUSTOW,
Presidente Warren Harding receberam propinas para o 1966, p. 713). O teórico das elites e o historiador
licenciamento da exploração de reservas de petróleo.
das elites tendem a desapontar os igualitários, pois
Jimmy Thomas foi um ferroviário e líder sindical inglês sua misantropia surge diretamente de sentimen-
que, sendo eleito deputado, participou de diversos gabine- tos morais ofendidos.
tes na Inglaterra na primeira metade do século XX. Em
meados dos anos 1930, foi acusado de vazar segredos fi- A atitude em relação ao funcionamento da po-
nanceiros públicos para banqueiros e especuladores, o que lítica assumida pelos prosopógrafos iniciais pare-
resultou no fim da sua carreira pública. ce dever pouco aos escritos de teóricos políticos.
O caso Stavisky tratou-se de desvio de recursos públicos O próprio Marx enfatizou primeiro o papel dos
na França, ocorrido em 1934. O fraudador Alexandre senhores feudais e depois o da burguesia e dirigiu
Stavisky aplicava diversos golpes; em 1934 ele fraudou a sua atenção para o auto-interesse que guiou suas
cidade de Bayonne, vendendo títulos seguro falsos; para
ações. Mas as primeiras teorias políticas comple-
isso, foi apoiado por diversas autoridades, em que, mesmo
que de maneira inocente, chegava-se até a Presidência da tamente elitistas provieram da Europa no início
República (N. T.). do século XX, com os escritos de R. Michels, G.

121
PROSOPOGRAFIA

Mosca e V. Pareto. Embora Michels estivesse dis- or, é a principal pista para as eleições parlamenta-
ponível em francês, Pareto e Mosca não foram res” (MCFARLANE, 1945; NEALE, 1949, p. 4,
traduzidos para o inglês antes dos anos 1930 e 27). Para alguns pesquisadores, a prosopografia
não há nenhuma evidência de que eles tenham tido não é meramente uma forma de ignorar as pai-
a menor influência nos círculos historiográficos xões e as idéias; ela foi adotada com o propósito
do mundo anglo-saxão antes dessa época. Namier, específico de neutralizar esses elementos
Merton e Syme eram fortemente antimarxistas e perturbadores e intratáveis.
ainda assim somente Merton parece ter tido fami-
Um quarto estímulo para a prosopografia
liaridade com esses modelos elitistas antimarxistas.
elitista, que por seu turno reforçou a nova consci-
O que temos, assim, é o desenvolvimento pelos
ência do essencial papel desempenhado na políti-
teóricos políticos de uma teoria completa do go-
ca pelas associações de dependentes, foi a quase
verno das elites uma geração antes de os historia-
obsessiva preocupação dos antropólogos com a
dores porem-se a trabalhar. Mas com exceção de
família e o parentesco, cujo impacto total está
Merton, os historiadores levaram a cabo suas pes-
apenas começando a fazer-se sentir completamente
quisas empíricas baseados em seus pressupostos
na profissão de historiador atualmente. Foi o tra-
semiconscientes a respeito do comportamento
balho de Namier sobre a política inglesa de mea-
político, sem o benefício da teoria política que
dos do século XVIII que primeiramente orientou
lhes teria fornecido a estrutura de que necessita-
a atenção dos historiadores para as potencialidades
vam. Esse é um dos episódios mais estranhos da
dos arranjos familiares e dos vínculos de paren-
história intelectual, uma conseqüência da lerdeza
tesco como elos políticos (NAMIER, 1961, p. 19;
com que os grandes cientistas sociais europeus
cf. também SYME, 1939, p. vii; NEALE, 1949;
são traduzidos para o inglês e do isolamento da
ANNAN, 1955; HOLT, 1961). Talvez não seja tão
história em relação às outras Ciências Sociais no
improvável ver um paralelo entre a preocupação
início do século XX.
com tais vínculos da escola elitista de historiado-
Um aspecto-chave da interpretação elitista do res e preocupações similares na ficção contem-
processo histórico é a remoção deliberada e siste- porânea, notavelmente em À la recherche du temps
mática tanto dos programas partidários quanto das perdu de Proust e o mais recente Music of Time,
paixões ideológicas do centro do palco político e de Antony Powell.
sua substituição por uma complexa rede unindo
Essas tendências intelectuais são suficientes
os patrões a seus clientes e dependentes. Para a
em si mesmas para explicar a ascensão da escola
história romana, isso é expressamente afirmado
elitista entre as guerras. A escola das massas, orien-
pelos professores L. R. Taylor e E. Badian
tada de maneira mais científica, obviamente deve
(TAYLOR, 1949, p. 23; BADIAN, 1958, p. 1).
algo a todas essas tendências, mas muito mais à
Para a história inglesa, Namier substituiu a “cone-
ascensão concorrente das Ciências Sociais. De
xão” pelo partido como o princípio organizador
Weber a Merton os mais inteligentes e os mais
central da política de meados do século XVIII, K.
bem-sucedidos dos cientistas sociais limitaram-
B. McFarlane inventou a expressão “feudalismo
se a avançar hipóteses de nível médio a respeito
bastardo” para representar relações semelhantes
de coisas como o suicídio, ou a burocracia, ou a
entre patrões e clientes que ele acreditava poderi-
receptividade a perspectivas políticas de direita. A
am explicar o século XV, enquanto Sir John Neale
prosopografia histórica obviamente é de imenso
tomou emprestada a palavra “clientela”
valor como uma fonte de materiais para tais in-
[“clientage”] dos historiadores clássicos para dar
vestigações e não é coincidência que Marx, Weber
sentido ao sistema político elizabetano. Em uma
e Merton tenham todos tido fortes interesses his-
passagem-chave, o último autor escreveu: “mui-
tóricos. A principal inspiração para o tipo de ques-
tos da pequena nobreza parecem ter-se agrupado
tões formuladas e para os métodos empregados
em relações estreitas ou fracas ao redor de um ou
para solucioná-las por Merton e uma multidão de
outro dos poucos grandes homens do interior [...].
investigadores históricos subseqüentes da escola
O agrupamento e a interdependência da pequena
de massas foi o desenvolvimento de técnicas de
nobreza, com sua acompanhante, a constante luta
survey sociais. Delas provêm a confiança no mé-
por prestígio e supremacia, permeava a vida in-
todo de amostragem e o hábito de formular um
glesa. Eles supõem que o papel desempenhado pela
conjunto bastante amplo de questões, muitas das
política em nossa sociedade moderna, e no interi-

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quais acabam revelando-se completamente peito das vidas e das carreiras de uma pequena
irrelevantes, na esperança de distinguir as variá- minoria indica que elas eram de alguma forma
veis significativas pela manipulação estatística atípicas. Em um grau que não pode ser medido,
posterior. pesquisas baseadas em tais evidências fragmen-
tárias tenderão a exagerar, e talvez de maneira in-
Dadas essas várias tendências convergentes
corrigível a distorcer, o status, a educação, a mo-
da vida intelectual no período compreendido en-
bilidade vertical e assim por diante a respeito do
tre as duas guerras mundiais, é dificilmente sur-
grupo sob exame. Para muitos grupos, em muitas
preendente que tenha sido então que a
áreas, a prosopografia não pode ser utilmente
prosopografia floresceu. De fato, em retrospecto
empregada antes da explosão de registros do sé-
o que é surpreendente é a lentidão de seu avanço
culo XVI, causada pela invenção da imprensa
na cena histórica, pois foi somente nos anos 1950,
móvel, pela difusão da alfabetização e o cresci-
ou mesmo nos anos 1960, que um número signi-
mento do Estado-nação burocrático e arquivístico.
ficativo de pesquisadores começou a usar o mé-
todo e que um fluxo regular de achados úteis co- A única exceção a essa generalização é quando
meçou a ser publicado. existe uma única pesquisa de tipo censitário, como
a catasto florentina de 1427. Esses documentos
III. LIMITES E PERIGOS
raros permitem cortes transversais [cross section]
Experiência suficiente acumulou-se agora para em uma sociedade em um determinado momen-
tornar possível avaliar tanto as potencialidades to, mas eles não podem responder nenhuma per-
quanto as limitações das pesquisas gunta a respeito da mudança ao longo do tempo,
prosopográficas. Alguns dos erros e das deficiên- pois usualmente não há nada antes ou depois com
cias são conseqüências inevitáveis do pioneirismo os quais os comparar. Eles também necessitam
em um método novo e podem ser evitados no fu- ser manuseados com cuidado, pois podem silen-
turo pelo aprendizado com os erros do passado. ciosamente omitir certas classes de pessoas, como
Outros, todavia, são mais profundos e surgem de os mendigos; suas categorias podem ser vagas
alguns pressupostos políticos e psicológicos que ou erráticas e suas estatísticas financeiras prova-
estão incorporados nas fundações da velmente subestimam a afluência dos ricos em
prosopografia. relação aos pobres.
III.1. Deficiências dos dados A segunda limitação imposta pela evidência
registrada refere-se ao status. Em todos os luga-
É auto-evidente que as pesquisas biográficas
res e épocas, quanto mais baixo vai-se no sistema
de números substanciais de pessoas somente são
social, mais pobres ficam os documentos. Como
possíveis para grupos razoavelmente bem-docu-
resultado, muitas pesquisas que já foram feitas ou
mentados e que a prosopografia é assim limitada
que estão sendo realizadas devotaram-se às elites.
pela quantidade e pela qualidade dos dados acu-
O objeto mais popular para a prosopografia fo-
mulados sobre o passado. Em qualquer grupo his-
ram e ainda são as elites políticas, mas outros gru-
tórico, é provável que quase tudo será sabido a
pos que se prestam mais facilmente a tal trata-
respeito de alguns de seus membros e quase nada
mento são membros de certas categorias de alto
a respeito de outros; alguns itens faltarão para al-
status, como funcionários públicos, oficiais da
guns e itens diferentes faltarão para outros. Se o
Marinha, o alto clero, intelectuais e educadores,
montante de coisas desconhecidas é muito gran-
advogados, médicos [doctors], membros de ou-
de e se junto com as seriamente incompletas for-
tros corpos profissionais e empresários industri-
mam uma substancial maioria do todo, as genera-
ais e comerciais. Os únicos elementos das clas-
lizações baseadas nas médias estatísticas tornar-
ses baixas a respeito de quem alguma coisa pode
se-ão de fato bastante frágeis, quando não total-
ser feita que não seja altamente impressionista são
mente impossíveis. Pesquisas que têm que se li-
as minorias perseguidas, pois os relatórios polici-
mitar à décima ou à vigésima parte do grupo a
ais e legais com freqüência oferecem muito da
cujo respeito sabe-se o suficiente dependem para
informação necessária, especialmente em socie-
sua fidedignidade que a minoria conhecida seja
dades com longas tradições de pesado controle
uma amostra genuinamente aleatória do todo. Mas
burocrático e policial, como a França. O estranho
essa é uma suposição improvável, pois o mero
resultado é que os únicos grupos de pobres e hu-
fato de que mais que o usual foi registrado a res-
mildes a respeito de quem às vezes podemos des-

123
PROSOPOGRAFIA

cobrir bastante são as minorias, que por definição tre si, com freqüência com extrema violência.
são excepcionais, pois estão em revolta contra os Além disso, mesmo quando os laços de parentes-
hábitos e as crenças da maioria. co eram fortes e pode-se demonstrar que o eram,
há limites para a busca significativa de vínculos
A terceira limitação imposta pelas evidências
genealógicos. Dois prosopógrafos diligentes
surge do fato de que elas são abundantes para
pesquisando sobre o Longo Parlamento de 1640
alguns aspectos da vida humana e quase
traçaram conexões genealógicas que relacionavam
inexistentes para outros. Os registros sobreviven-
o radical John Hampden13 a 80 companheiros
tes referem-se antes de mais nada ao montante,
membros do parlamento, mas infelizmente se ve-
ao tipo, à titularidade e à transmissão da proprie-
rificou que esses parentes eram de opiniões polí-
dade. É essa a primeira preocupação dos regis-
ticas e religiosas enormemente variadas. Quando
tros legais oficiais e privados, de impostos públi-
os autores descobriram que, voltando no tempo o
cos e das administrações públicas e privadas, que
suficiente, podiam encontrar uma conexão de pa-
em conjunto formam a vasta massa do material
rentesco entre Carlos I e Oliver Cromwell14, per-
escrito do passado. Assim, há um forte viés nos
ceberam que talvez tivessem ultrapassado os li-
sentidos de tratar os indivíduos como homo
mites da utilidade dessa linha específica de inves-
œconomicus e de estudá-los primariamente à luz
tigação. Dúvidas similares foram recentemente
de seus interesses e comportamentos financeiros,
expressas a respeito do papel atribuído pela esco-
pois é isso que os registros iluminam com enor-
la prosopográfica ao parentesco na Roma clássi-
mes claridade e detalhe. Mas os interesses econô-
ca (BRUNTON & PENNINGTON, 1954)15.
micos podem entrar em conflito e, mesmo quan-
do o interesse é claro, é impossível estar-se segu- III.2. Erros na classificação dos dados
ro de que ele é a consideração dominante. Além
Classificações significativas são essenciais para
disso, a divisão entre aqueles que aceitam com-
o sucesso de qualquer pesquisa, mas infelizmente
promissos e aqueles que adotam medidas extre-
para o historiador cada indivíduo desempenha
mas é com freqüência mais importante politica-
muitos papéis, alguns dos quais estão em conflito
mente que a divisão entre grupos de interesses
com outros. Ele pertence a uma civilização, a uma
econômicos claramente definidos (cf., por exem-
cultura nacional e a uma multidão de subculturas
plo, AYDELOTTE, 1967; 1969).
– étnica, profissional, religiosa, amizades [peer-
Após os interesses econômicos, o segundo group], políticos, sociais, ocupacionais, econô-
item de informações que são relativamente fáceis micos, sexuais e assim por diante. Como resulta-
de descobrir a respeito de alguém são suas ori- do, nenhuma classificação é de validade universal
gens e ligações familiares. Entre as classes supe- e uma perfeita congruência das classificações é
riores, o casamento foi usado no passado para bem rara. Categorias de status podem guardar
fornecer aos homens jovens amigos e contatos pouca relação com a riqueza e também podem
úteis, bem como para absorver propriedades e
assim criar grandes patrimônios territoriais. Os
laços familiares também desempenharam um im- 13 John Hampden (1595-1643) foi um político britânico,
portante papel na construção de grupos e partidos considerado um dos principais líderes da Revolução Ingle-
políticos em todos os momentos da Idade Média sa (1640-1660), em particular como defensor das prerroga-
ao século XVIII e além. Deve-se apenas pensar tivas do parlamento e contra os esforços absolutistas da
nos Howards e nos Dudley na Inglaterra do sécu- monarquia inglesa (N. T.).
lo XVI, nos Villiers no início do século XVII, nos 14 Carlos I e Oliver Cromwell foram líderes políticos
Pelhams no século XVIII e nos Cecils e nos britânicos que estiveram em lados opostos na Revolução
Cavendishes no final do século XIX e no início Inglesa; enquanto Carlos I era católico e a favor do absolu-
tismo, Cromwell era protestante e a favor do parlamento.
do século XX para reconhecer a contínua impor-
O significativo da oposição apresentada por Lawrence Stone
tância desse fator. Mas isso não responde a ques- é que Cromwell foi o responsável pela execução de Carlos
tão de quão longe é seguro prosseguir nessa linha I em 1649, tendo assumido o poder em seguida e até sua
de raciocínio, pois a ação de cimento do paren- morte, em 1658 (N. T.).
tesco claramente varia de lugar para lugar, de pe- 15 Para uma refutação convincente da teoria de “que os
ríodo para período e de nível social para nível vínculos genealógicos e políticos normalmente coincidiri-
social. Há incontáveis exemplos na história de am” no início do século XVIII, cf. Meier (1966), Holmes
membros da mesma família que discordaram en- (1967, p. 327-334) e Brunt (1968).

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variar em sua importância ao longo do tempo. dos quanto não nomeados, eram pequenos mer-
Categorias de classes baseadas na riqueza podem cadores (RABB, 1967)17. Esse é um problema que
não refletir as realidades sociais, podem ser quase afeta todos os trabalhos que usam essa metodologia
impossíveis de identificar e podem ser mais difí- e contra o qual as únicas defesas são a mais cui-
ceis de comparar ao longo do tempo; categorias dadosa avaliação das probabilidades e a aplicação,
profissionais podem atravessar as linhas tanto de onde necessário, de índices de erros para corrigir
status quanto de classe e subir e descer o sistema as estatísticas. Outro erro que com freqüência
social; categorias de poder, bem como cargos ocorre nas pesquisas prosopográficas origina-se
políticos, podem variar ao longo do tempo em ter- de uma falha em relacionar os achados sobre a
mos do status social vinculado a eles, do poder composição da população sob estudo com a da
que possuem e da renda que obtêm. população em geral. Um bom exemplo das difi-
culdades em que o historiador pode tropeçar se
O segundo perigo que ameaça cada
ele negligencia esse aspecto é a disputa sobre a
prosopógrafo é que ele pode falhar em identificar
composição social das vítimas do Terror na Re-
subdivisões importantes e pode assim tratar con-
volução Francesa. O Professor D. Greer desco-
juntamente indivíduos que diferem significativa-
briu que a grande maioria das vítimas eram origi-
mente um do outro16. Uma boa pesquisa depende
nárias das classes inferiores ou médias, mais que
de um constante comércio entre as hipóteses e as
da nobreza. Notou-se então que a proporção de
evidências, as primeiras sofrendo repetidas modi-
nobres vítimas pode ter sido bastante pequena,
ficações à luz das últimas. Mas se uma subdivisão
mas como a proporção de nobres na população
que depois se revela de importância crítica não
em geral era ainda menor, ainda há uma correla-
for notada a tempo, usualmente é tarde demais
ção entre o nascimento nobre e a execução. Pode-
para voltar e realizar todo o trabalho de novo –
se ainda dizer que um nobre tinha x vezes mais
uma dificuldade que é particularmente aguda em
chances de ser morto no Terror que um membro
pesquisas auxiliadas por computadores, pois os
da burguesia ou um camponês (GREER, 1964, p.
códigos determinam as questões que podem ser
385-387)18.
depois formuladas (TIRAT, 1963, p. 217).
Um outro tipo de erro que surge da negligên-
III.3. Erros na interpretação dos dados
cia das relações entre a parte e o todo origina-se
Mesmo se sua documentação é adequada e seu da suposição de que porque a maioria de mem-
sistema de classificação é corretamente elabora- bros de um certo grupo provém de uma classe
do, o prosopógrafo imprudente está sujeito a tirar social ou de uma ocupação particular, então eles
conclusões errôneas de seus dados. Um risco são representativos, no sentido de que a maioria
comum que se lhe apresenta é a possibilidade de de membros dessa classe ou ocupação pertence
que a porção da população total a respeito de quem ao grupo. Hugh R. Trevor-Roper indicou que os
ele pode descobrir informações confiáveis não homens que tomaram o poder na Inglaterra no
representa uma amostra aleatória do total. Se o final dos anos 1640 e no início dos anos 1650
desconhecido geralmente cai em uma simples ca- eram em sua maioria originários não da velha elite
tegoria enviesada, as figuras obtidas da amostra
do conhecido darão uma imagem distorcida da
realidade. Desse modo, o próprio Theodore Rabb 17 Para uma resenha que indica esse e outros aspectos, cf.
oferece motivos para pensar que sua amostra dos McCusker (1969). Um outro exemplo desse problema é a
investidores ingleses do século XVII é enviesada, pretensão de David Pottinger de que os escritores do Anti-
pois muito provavelmente muitos dos seus 38% go Regime francês eram originários predominantemente da
de investidores não identificados, tanto nomea- noblesse d’épée [nobreza de espada] e da alta burguesia –
uma conclusão obtida após a eliminação de 8,5% de todos
os escritores em virtude do fato de que sua origem social
não poderia ser descoberta (cf. POTTINGER, 1958). Eu
16 Para um exemplo que foi criticado nesses termos, cf. devo essa crítica ao Professor Robert Darnton.
Stone (1965a); cf. também Coleman (1966), Hexter (1968), 18 Um exemplo um pouco diferente da mesma falácia é a
Petersen (1968) e Woolf (1969). O fracasso em elaborar tentativa de D. Lerner de mostrar que os líderes nazistas
subcategorias suficientemente detalhadas reduziu seriamen- eram “homens marginais”, quando sua definição de
te a utilidade do estudo de Brunton e Pennington sobre o marginalidade claramente compreende mais da metade da
Longo Parlamento. população (RUSTOW, 1966, p. 702).

125
PROSOPOGRAFIA

fundiária, que governou a Inglaterra antes da guer- tes é em parte causa e em parte efeito de uma
ra, mas da pequena nobreza pobre [poor gentry], tendência a ver a história exclusivamente em ter-
da mere gentry ou da parish gentry19, que até en- mos da classe governante, em que os movimen-
tão não tomara parte significativa nos negócios tos populares desempenham um pequeno ou ne-
nacionais e somente um papel menor nos assun- nhum papel. Syme afirmou que “Em todas as épo-
tos locais. Inspirado por essa descoberta, ele con- cas, qualquer que fosse a forma e o nome do go-
tinuou e generalizou que a simples pequena no- verno, fosse ele monarquia, república ou demo-
breza socialmente decadente compunha os prin- cracia, uma oligarquia permanece atrás da facha-
cipais elementos insatisfeitos no interior e os prin- da” (SYME, 1939, p. 7). Isso é uma grande ver-
cipais apoiadores do radicalismo. De fato, toda- dade tão longe aonde se vá, mas pode-se razoa-
via, parece agora razoavelmente claro que um velmente perguntar se isso vai longe o suficiente.
número maior da mere gentry – na verdade, a Estudos cerrados das manobras políticas das eli-
maioria da classe no interior no Norte e no Oeste tes podem obscurecer mais que iluminar as
– eram homens leais à Igreja e ao Rei, que lutaram profundezas do funcionamento dos processos
pelo rei Carlos. A pequena nobreza independente sociais. Grandes mudanças nas relações de clas-
que apoiou Cromwell era apenas uma minoria se, na mobilidade social, nas opiniões religiosas e
atípica, instigada a tomar posição muito em desa- nas atitudes morais podem estar ocorrendo nos
cordo com a maioria de sua classe por motivos estratos inferiores, as quais a elite será afinal obri-
que ora podemos apenas muito vagamente deter- gada a responder – isso caso não seja varrida por
minar, mas um dos quais era certamente a con- uma revolução violenta21.
vicção religiosa (HOSKINS, 1952; TREVOR-
Se olharmos os três mais brilhantes exemplos
ROPER, 1953; EVERITT, 1966, p. 143-144, 243-
da pesquisa prosopográfica sobre as elites políti-
244; CLIFFE, 1969, cap. 15)20.
cas publicadas nos anos 1950 – Roman Revolution,
III.4. Limitações da compreensão histórica de Syme, Structure of Politics, de Namier, e a
grande trilogia da Câmara dos Comuns elizabetana
Até aqui, os erros descobertos foram todos
de Sir John Neale –, poderemos ver o mesmo
erros que podem ser evitados por meio do apren-
estreitamento de foco. Syme interpretou as trans-
dizado com as duras lições da experiência, mas
formações da república romana em um império
há outros que são mais difíceis de erradicar. Em
como a consolidação de uma nova elite ao redor
primeiro lugar, a concentração no estudo das eli-
de Augusto, o resultado de uma complexa disputa
facciosa no topo. Ele provou seu argumento, mas
ignorou as urgentes demandas das massas de cli-
19 A respeito da tradução das expressões mere gentry e
entes anônimos para seus patrões e que apoiaram
parish gentry (bem como outras semelhantes), seguimos a
orientação dos professores Eunice Ostrenski e Modesto
– e talvez impuseram – essa mudança de poder.
Florenzano, da Universidade de São Paulo (USP), para Movimentos políticos, e revoluções ou contra-re-
quem, devido às grandes dificuldades para traduzir a pala- voluções em particular, só com dificuldade po-
vra “gentry”, deve-se evitar traduzi-la. De acordo com eles, dem ser satisfatoriamente explicados pelo estudo
há uma imensa discussão entre os historiadores a respeito exclusivo da liderança. A descrição que Namier
do significado desse termo (dos quais participam Trevor- fez das manobras e das negociações na Câmara
Hoper, Clarke, Tawney etc.), de modo que adotar uma
tradução específica é tomar partido – o que não vem ao
dos Comuns do século XVIII comprometeu
caso na presente tradução. De qualquer forma, convém irreparavelmente as teorias convencionais, mas
notar que gentry é o coletivo de gentlemen (“cavalheiros”). seu modelo explicativo não pode incluir o
Por outro lado, mere gentry, middling gentry, parish gentry, surgimento do sentimento popular gerado por John
pseudogentry etc. foram termos criados por Hugh Trevor- Wilkes ou a Guerra da Independência dos Esta-
Hoper, que viu marcadas distâncias entre a gentry comum dos Unidos. De maneira semelhante, a descrição
e a gentry mais empobrecida, sem cargos na corte e em
declínio. Nesse caso, seria possível traduzir mere gentry e
de Sir John Neale das relações entre a Rainha
parish gentry respectivamente como “nobreza comum” e Elizabeth e seus parlamentos necessita de modifi-
“nobreza paroquial”. Agradecemos imensamente a Eunice cação por meio de uma apreciação mais acurada
Ostrenski e a Modesto Florenzano por esses esclareci- das raízes profundas que o puritanismo estava fin-
mentos (N. T.).
20 Para um outro exemplo do mesmo erro, cf. Donald
(1956) e Skotheim (1959). 21 Cf. as observações de P. A. Brunt (1968, p. 230-231).

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cando na sociedade. Essa era uma ideologia que pensada por esses historiadores às táticas da polí-
tanto permeava quanto explorava o nexo do tica, mais que às suas estratégias, pressupõe uma
clientelismo aristocrático que Sir John tão brilhante sociedade sem convicções na qual a manipulação
e convincentemente descreveu. e as intrigas são mais importantes que questões
de princípio ou de políticas públicas. Acontece
A segunda grande fraqueza intelectual dos
que os meados do século XVIII, sobre o qual
prosopógrafos tem sido sua relativa relutância em
Namier centrou primeiramente sua atenção, foi um
inserir em sua perspectiva de história um papel
dos poucos períodos da história inglesa destituí-
para as idéias, os preconceitos, as paixões, as ide-
do de grandes temas controversos e um período
ologias, os ideais ou os princípios. A correspon-
em que os atores políticos constituíram um gru-
dência pessoal íntima é uma raridade entre os re-
po excepcionalmente homogêneo: ele então esco-
gistros históricos. Ela usualmente é destruída du-
lheu, por acidente ou de propósito, um período e
rante a vida ou na morte, pois, ao contrário dos
uma classe que eram especialmente suscetíveis
registros genealógicos, legais ou comerciais, nin-
de análise por meio dos métodos que ele adotou.
guém entre os familiares ou amigos tem qualquer
Mas alguns de seus seguidores descobriram, às
incentivo para preservá-la. Mesmo nos raros ca-
próprias custas, que nem sempre é seguro levar
sos em que esse material existe, com freqüência
os mesmos pressupostos para frente e para trás
não é muito esclarecedor, pois os homens rara-
no tempo. Robert Walcott tentou usar o modelo
mente confiam suas mais profundas convicções
para o reinado da Rainha Ana, com resultados que
ao papel, mesmo com seus amigos. Além do mais,
são agora geralmente reconhecidos como estan-
como em vários períodos da história foi positiva-
do bem próximos de desastrosos (WALCOTT,
mente perigoso expressar visões minoritárias so-
1956; HOLMES, 1967, p. 2-4, 327-334; PLUMB,
bre a religião ou a política, tais comentários escri-
1967, p. xiv, 44-46, 135-138). Pode-se também
tos, como sobrevivência de temas básicos, ten-
imaginar se o fracasso de Oliver Cromwell em
dem a restringir-se às normas aceitas da socieda-
lidar com sucesso com seus parlamentos realmente
de. O viés sistemático no registro histórico em
pode ser explicado por sua falta de habilidades
favor dos interesses materiais e dos vínculos de
táticas, como o Professor Trevor-Roper argumen-
parentesco e contrário a idéias e princípios ade-
ta, ou se a discordância a respeito de temas cons-
quou-se bem com a pressuposição explicitamente
titucionais e religiosos fundamentais entre os mi-
defendida pelos maiores dos primeiros membros
litares e os civis e entre os independentes, os
da escola das elites (cf. BEARD, 1935, p. 13;
presbiterianos e os anglicanos inviabilizou a ob-
NAMIER, 1961, p. 18). “Os interesses espirituais
tenção de um acordo mesmo para o mais perspi-
do povo são considerados muito menos que seus
caz e assíduo manipulador de homens (TREVOR-
casamentos”, reclamou Momigliano tão logo o li-
ROPER, 1967). Pode-se portanto concluir que o
vro de Syme apareceu. Sir Herbert Butterfield pro-
poder explicativo da teoria política de grupos de
testou, referindo-se a Namier, dizendo que “os
interesse, que tendeu a ser associada à aborda-
seres humanos são os portadores de idéias, assim
gem prosopográfica elitista, é muito maior em al-
como os repositórios de interesses [vested
guns períodos e em alguns lugares que em ou-
interests 22 ]” (MOMIGLIANO, 1940, p. 6;
tros. Quanto menor a presença de grandes temas
BUTTERFIELD, 1957, p. 211).
políticos, mais baixa a temperatura ideológica, mais
A despeito de algumas retratações posteriores, oligárquica a organização política, mais provável
há pouca dúvida de que na prática tanto Namier a formulação de uma interpretação histórica con-
quando Syme concediam pouca importância a vincente.
quaisquer ideais ou preconceito que contrarias-
Outra limitação da escola prosopográfica de
sem os cálculos do auto-interesse. A atenção dis-
historiadores é que seus membros às vezes negli-
genciam indevidamente a natureza da política, a
moldura institucional dentro da qual o sistema fun-
22 “Vested interests” é uma expressão que usualmente
ciona e a narrativa de como os atores políticos
modelam as políticas públicas. “É-nos dada uma
descreve direitos de propriedade legalmente reconhecidos
ou grupos que agem no sistema político para defender seus história que se inicia silenciosa ou curiosamente
interesses. Como ela é de difícil tradução para o português, negligente assim que ela toca as próprias coisas
deixamos somente como “interesses” (N. T.). que o governo e o parlamento existem para fa-

127
PROSOPOGRAFIA

zer”, reclamou Sir Herbert Butterfield. Ele con- IV. REALIZAÇÕES


cluiu asperamente que “Há pouco interesse no tra-
Nada do que foi dito até agora deve ser inter-
balho dos ministros em seus departamentos; no
pretado como se a prosopografia elitista fosse inú-
nascimento de uma política pública e nas origens
til ou enganosa por natureza. Bandeiras verme-
de decisões importantes; no conteúdo real de con-
lhas foram hasteadas ao redor dos principais pon-
trovérsias políticas do momento; na atitude do
tos de perigo onde ficaram os ossos de muitos
público perante medidas e homens e nos golpes e
pioneiros do método e procurou-se explicar por-
contragolpes do debate parlamentar [...]. Tais ten-
que se deveria reduzir as pretensões da
dências são calculadas para levantar a questão
prosopografia geralmente como uma ferramente
sobre se a nova forma de análise estrutural não é
exploratória. Se os erros passados podem ser evi-
capaz de produzir nos praticantes da arte seu pró-
tados e se as limitações do método são reconheci-
prio tipo de doença ocupacional”
das, as potencialidades são muito grandes. De fato,
(BUTTERFIELD, 1957, p. 208-209). A doença
pressupondo-se que se aceita – como seguramente
de que Sir Herbert reclama é uma forma de dalto-
deve ser – que os valores e os padrões de com-
nismo que impede suas vítimas de perceberem o
portamento são influenciados poderosamente pela
conteúdo político da política.
experiência passada e pela educação, o poder do
Muitos prosopógrafos elitistas instintivamente método dificilmente pode ser negado. Tudo que é
optam por uma visão simplista da motivação hu- necessário é maior disposição para reconhecer a
mana, de acordo com a qual as origens da ação inconstante complexidade da natureza humana, o
são uma coisa ou outra. Todos nós exigimos de poder das idéias e a influência persistente das es-
nossos alunos que distingam os motivos religio- truturas institucionais. A prosopografia não tem
sos dos políticos nas políticas externas de Gustavo todas as respostas, mas ela é idealmente adequa-
Adolfo, ou de Oliver Cromwell, ou de quem quer da para revelar as redes de vínculos
que seja. Na vida real, a natureza humana não pa- sociopsicológicos que mantêm um grupo unido.
rece funcionar dessa maneira. O indivíduo é mo- Por exemplo, identificar tais laços entre os líderes
vido pela convergência de forças em constante da oposição parlamentar a Carlos I no final dos
alteração, um aglomerado de influências como o anos 1630 e no início dos anos 1640 não nos aju-
parentesco, a amizade, os interesses econômicos, da decidir se questões econômicas, constitucio-
os preconceitos de classe, os princípios políticos, nais ou religiosas causaram a Guerra Civil. Mas
a convicção religiosa e assim por diante, todas as certamente ilumina muito poderosamente o pro-
quais desempenham seus papéis e que podem ser cesso da formação do partido radical, ao fim, tor-
utilmente separadas apenas com fins analíticos. na redundante qualquer questão semelhante, pela
Além disso, há razões para pensar-se que a im- simples razão de que os homens não arrancam
portância relativa das várias características de suas instituições políticas pela raiz exceto se to-
fundo variarão de cultura para cultura, de nação das essas influências estiverem operando em con-
para nação e de época para época; que algumas junto para formar um incentivo avassalador para
atitudes podem ser mais estreitamente relaciona- a mudança.
das a atributos sociais que outras; que alguns atri-
A melhor forma para ilustrar todo o espectro
butos sociais são moderadamente influentes em
das contribuições que a prosopografia tem feito
relação a um grande espectro de atitudes enquan-
para a compreensão histórica nos últimos 20 anos
to outros são altamente influentes em relação a
é focar em alguns lugares e épocas particulares,
uma única atitude (EDINGER & SEARING,
para o que a história religiosa, social e política da
1967).
Inglaterra entre 1500 e 1660 servirá tão bem quanto
De qualquer forma, é essencial distinguir com qualquer outra. O primeiro grande problema que
nitidez entre temas relativamente menores, a res- foi enormemente enriquecido por essas pesquisas
peito dos quais um político está suficientemente é a Reforma inglesa. Embora durante as décadas
disposto a favorecer um parente ou um cliente ou de 1950 e 1960 o livro-texto dominante interpre-
a receber um suborno, e questões maiores, de tasse esse evento em termos primariamente polí-
princípio, a respeito das quais ele provavelmente ticos, como um ato do Estado levado a cabo por
seguirá os ditames de sua cabeça e de seu cora- um punhado de homens do topo, havia ao mesmo
ção, mais que os de seu sangue ou de seu bolso. tempo em movimento toda uma série de

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monografias que refutaram esse quadro simples. geográfica desses grupos minoritários persegui-
Exames das condições educacional, moral e fi- dos começaram afinal a sair das sombras. Ne-
nanceira do clero pré-Reforma demonstraram suas nhum pesquisador sério desconsidera mais a so-
muitas fraquezas, mas também indicaram que o brevivência do lolardismo24 como sendo sem con-
que estava acontecendo não era tanto um declínio seqüência na difusão das idéias religiosas radicais
da qualidade e do zelo do clero quanto um aumen- e podemos agora ver que a disseminação das idéi-
to das demandas feitas sobre ele pelos leigos as protestantes não meramente por meio das ati-
(BOWKER, 1968; HEATH, 1969, p. 187-196). vidades de um punhado de acadêmicos em
Vista sob essa luz, a Reforma torna-se também Cambridge, mas também por meio da penetração
uma outra “revolução de expectativas crescentes”. de panfletos luteranos importados, de Bíblias
Os monges também foram estudados de maneira traduzidas e outras literaturas subversivas que iam
prosopográfica, com resultados similares, e esta- das cidades portuárias para as áreas interioranas
beleceu-se que havia um declínio em números no via comerciantes, tecelões, frades dissidentes e
período pré-Reforma e uma maciça fuga voluntá- assim por diante (ASTON, 1964; CLEBSCH,
ria da reclusão monástica no início dos anos 1530. 1964; DAVIS, 1966).
Monastérios e conventos podiam ser vistos ten-
A história religiosa subseqüente da Inglaterra
tando desesperadamente se adaptar às necessida-
também se beneficiou enormemente da
des das classes superiores laicas funcionando
prosopografia. Demonstrou-se que os exilado
como asilos de idosos para serviçais pensionistas,
marianos, que fugiram para o exterior a fim de
como hotéis para cavalheiros transeuntes e para
escapar da perseguição católica entre 1553 e
nobres e como instituições para a guarda de cri-
155825, eram uma elite social e intelectual para
anças indesejadas (HODGETT, 1962). O destino
quem dificilmente há qualquer paralelo antes da
dos monges após a Dissolução23 logo foi sujeito à
migração de judeus da Alemanha hitlerista nos anos
análise prosopográfica, que suprimiu as dúvidas
1930; seu papel na determinação do formato do
acerca da falácia da velha lenda dos sofrimentos
Ato Anglicano de 1558-155926 agora é reconhe-
dos despossuídos (BASKERVILLE, 1937;
cido como tendo sido de grande importância
HODGETT, 1962). O comportamento dos bis-
(GARRETT, 1938; NEALE, 1953, parte I;
pos durante a crise da Reforma foi elucidado e as
WALZER, 1965, p. 92-113). Nossa compreensão
divisões de opiniões, convincentemente relacio-
de por que a Igreja Anglicana falhou em seus anos
nadas a diferentes formações acadêmicas – em
iniciais para ganhar maior aceitação e para conse-
Teologia ou em Direito – e a diferentes carreiras –
guir mais conversões foi iluminada por meio da
na Igreja ou na burocracia estatal (SMITH, 1953).
prosopografia clerical, que revelou deficiências em
Ainda mais importante em suas conseqüênci- números, educação, zelo e independência econô-
as históricas que essas valiosas pesquisas sobre
membros das hierarquias oficiais da Igreja foi a
descoberta das origens do radicalismo religioso 24 O lolardismo, ou, em inglês, lollardy, consiste no segui-
na sociedade secular. O grande avanço aqui veio mento das idéias de John Wyclif (1320-1384), teólogo de
com a publicação do trabalho pioneiro do Profes- Oxford considerado um dos precursores da Reforma Pro-
sor A. G. Dickens, Lollards and Protestants in the testante. O lolardismo vigeu entre os séculos XIV e XVI e,
Diocese of York (1959), que usou fontes até en- rejeitando a autoridade do Vaticano, pregava maior fideli-
tão inexploradas e propôs todo um conjunto de dade à letra da Bíblia (N. T.).
novos problemas, que desde então tem sido 25 O período em questão consiste no reinado de Maria I,
aprofundado por pesquisadores e discípulos. Gra- chamada também de Maria a Sanguinária (“Blood Mary”),
ças ao paciente rastreamento dos hereges protes- devido às perseguições feitas aos protestantes (N. T.).
tantes nos registros de tribunais seculares e religi- 26 O Ato Anglicano (Anglican Settlement) foi uma decisão
osos, o tamanho, a influência, a composição so- proposta pela Rainha Elizabeth e promulgada pelo parla-
cial, as características ocupacionais e a dispersão mento britânico que reinstituiu o anglicanismo como reli-
gião oficial do Estado inglês, com o rei (ou rainha, no caso)
como líder espiritual supremo, além de questões teológicas
23 A Dissolução refere-se ao processo de dissolução dos e litúrgicas mais específicas. O objetivo dessa decisão foi
mosteiros realizada entre 1538 e 1541, por Henrique VIII, pôr um termo à disputa religiosa que então agitava a Ingla-
com a subseqüente absorção dos bens e das propriedades terra, opondo em particular o anglicanismo ao catolicismo
eclesiásticas pelo rei (N. T.). romano (N. T.).

129
PROSOPOGRAFIA

mica do clero paroquial elizabetano inicial Por exemplo, como um resultado de muitos
(BROOKS, 1948; BARRETT, 1949; HOSKINS, anos de trabalho muito cuidadoso sobre a peque-
1950; TYLER, 1957). Do lado da Igreja na nobreza de Yorkshire, demonstrou-se que, da
Estabelecida27 estamos começando a ter um qua- pequena nobreza do interior que estava em declínio
dro mais adequado do crescimento do puritanis- econômico antes da guerra e que tomou partido,
mo por meio de um conhecimento maior sobre três quartos juntaram-se aos realistas e somente
quem os puritanos eram, embora muito trabalho um quarto aos parlamentaristas (CLIFFE, 1969,
ainda permaneça para ser feito sobre os mercado- p. 354)30. Se isso é verdade para todo o país, isso
res, cavalheiros, mestres-escola, clero e nobres refuta a hipótese do Professor Trevor-Roper de
puritanos28. Do outro lado, uma comparação mui- que os radicais do lado parlamentarista represen-
to cuidadosa em termos estatísticos e geográficos tava o declínio da “mere gentry”. A mesma pes-
entre os católicos dos anos 1560 e os da década de quisa também mostra a importância do puritanis-
1580 provou conclusivamente, como nenhum ou- mo entre tantos parlamentaristas e do catolicismo
tro método poderia fazer, que o desenvolvimento entre um número significativo de realistas. Ela põe
do catolicismo do período elizabetano final era uma um prego a mais no caixão da antiga teoria mar-
revivescência baseada na pequena nobreza, esti- xista, apoiada em caráter tentativo por R. H.
mulada pelas atividades missionárias de sacerdotes Tawney e J. E. C. Hill, de que a Guerra Civil foi
seminaristas e não uma sobrevivência do catolicis- um conflito entre os empresários capitalistas se-
mo popular anterior à Reforma (DICKENS, 1941; nhoriais e os rentistas à moda antiga. Nesse caso,
cf. também MAGEE, 1938; BOSSY, 1962). a análise prosopográfica detalhada pôs sob teste –
como nenhuma outra poderia – as várias teorias
A história social, que se preocupa mais com
das causas sociais da revolução e começou a se-
grupos que com indivíduos, idéias ou instituições,
parar nelas a verdade do erro31.
é um campo para o qual a prosopografia tem mais
a contribuir. Tentativas de generalizar sobre a mu- Como se poderia esperar, a maior concentra-
dança social antes ou de estudos locais detalhados ção de energia prosopográfica foi dirigida à elite
ou de estatísticas globais baseadas em sérias pes- política e em particular aos membros do parla-
quisas arquivísticas levaram ao tipo de impasse em mento. Os historiadores do final do século XIX e
que a famosa “controvérsia da pequena nobreza” do início do século XX determinaram o papel-
[“gentry controversy”] ficou presa 20 anos atrás, chave desempenhado na história política inglesa
durante a qual hipóteses rivais sobre amplos movi- pela crescentemente independente e poderosa
mentos sociais, entre 1540 e 1640, e suas relações Câmara dos Comuns e sabe-se há tempo que era
com a revolução foram tratadas com desleixo com ali que os temas básicos eram discutidos. Mas
base em exemplos astuciosamente selecionados cuja não foi senão após a II Guerra Mundial que os
tipicidade era totalmente desconhecida. Desde aque- pesquisadores começaram a questionar-se a res-
la época apareceram vários estudos locais de gru- peito de qual tipo de pessoa fazia essa história.
pos da pequena nobreza e um estudo geral sobre a Hoje temos estudos dos membros do parlamento
aristocracia, que em conjunto deram alguns pas- de quase toda legislatura entre 1559 e 1660 e um
sos para eliminar certas hipóteses e conferir peso quadro muito mais rico e convincente emergiu
estatístico a outras29. disso como resultado32. Por meio da comparação
estatística e de uma série de detalhados estudos

27 A expressão “Igreja Estabelecida” (em inglês: 30 Esses percentuais e as conclusões tiradas a partir deles
“Established Church”) é uma designação geral para as reli- são minhas, não do Dr. Cliffe.
giões oficiais de Estado (N. T.). 31 A prosopografia também minou uma outra hipótese
28 Há uma boa dose de material prosopográfico incidental sobre as causas da Guerra Civil, nomeadamente as afirma-
no grande livro de Collinson (1967), The Elizabethan ções de H. R. Trevor-Roper a respeito do papel da buro-
Puritan Movement; cf. também Seaver (1970, cap. 5-6). cracia (cf. AYLMER, 1959).
29 Para um resumo da controvérsia, cf. Finch (1956), 32 Teses não publicadas dos pupilos de Sir John Neale e
Stone (1965a, p. xi-xxvi; 1965b), Lloyd (1968) e Cliffe brilhantes síntese e interpretação desses achados podem
(1969). Nos últimos anos algo como 20 teses de doutorado ser encontrados em seu Elizabethan House of Commons
foram ou estão sendo escritas sobre grupos da pequena (NEALE, 1949). Cf. também Brunton & Pennington (1954),
nobreza de vários condados. Keeler (1954), Moir (1958), Pinkney (1962) e Helms (1963).

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de caso, podemos observar a expansão nos nú- solucionar um problema específico. Lolardos e
meros de membros do parlamento e atribuir sua protestantes no início do século XVI, revoltosos
causa a um desejo dos magnatas elizabetanos de do Capitão Swing34 no início do século XIX com-
ampliar o escopo de sua patronagem e à disposi- põem objetos ideais. Pesquisas ambiciosas sobre
ção de Elizabeth de fazer concessões que, embo- muitas centenas de indivíduos, durante períodos
ra politicamente imprudentes no longo prazo, não temporais muito amplos, usando apenas as fontes
lhe custaram seu dinheiro no curto prazo. Inves- materiais escritas mais facilmente acessíveis e
tigações estatísticas revelaram o impressionante aplicando uma abordagem no estilo “metralhado-
crescimento da escolarização e da experiência ra giratória” aos problemas que podem ser for-
administrativa dos membros do parlamento e o mulados são muito menos prováveis de produzir
persistente crescimento na proporção da pequena resultados convincentes.
nobreza. Sabemos agora como os membros fo-
V. CONCLUSÃO
ram eleitos e como as disputas eleitorais foram
travadas e vencidas e estamos agora começando A prosopografia está hoje no processo de ama-
a aprender um pouco a respeito da relação cambi- durecimento. Ela passou pelas loucuras e pelos
ante entre os eleitores e seus representantes. Po- excessos da adolescência e está agora sossegan-
demos traçar o declínio de influência eleitoral das do na rotina monótona de um responsável come-
grandes cortes de magnatas antes de 1640, ao ço de meia-idade. Se a escola elitista teve seus
mesmo tempo em que elas cederam espaço para inícios na Alemanha e nos Estados Unidos, ela
as dos cavalheiros locais e mesmo dos próprios desenvolveu-se primeiramente na Inglaterra, tan-
citadinos por assentos dos distritos urbanos to na história clássica quanto na moderna, e uma
[borough seats33]. boa dose do seu trabalho ainda vem de lá. Mas
esse pioneirismo inicial agora está sendo ultrapas-
Os estudos prosopográficos das elites locais
sado, tanto em quantidade quanto em qualidade,
externas ao parlamento, nos condados e nas cida-
pelas expansões acadêmicas dos Estados Unidos.
des, estão apenas começando a ser mais úteis em
Os últimos sempre foram o principal centro da
iluminar os fatores econômicos e sociais por trás
escola de massas, cujas escala de seus resultados
das fileiras partidárias na Guerra Civil. Eles já re-
e sofisticação de seus métodos estão agora cres-
velaram que em alguns condados e cidades – mas
cendo com rapidez35. As principais causas dessa
não em todos – houve uma perda de posições da
proliferação da prosopografia histórico-científica
autoridade no final dos anos 1640 de membros de
nos Estados Unidos são a grande influência da
pequena nobreza mais ampla, originária das anti-
Sociologia e da Ciência Política e o avançado trei-
gas oligarquias urbanas, e sua substituição por
namento no uso de – e o fácil acesso a – compu-
homens originários de uma pequena nobreza mais
tadores. A mais impressionante realização
restrita e por pequenos mercadores, à medida que
institucional dessa escola foi a criação do Inter-
políticas públicas mais radicais foram adotadas
University Consortium for Political Research36 na
para a continuação da guerra e para a obtenção de
Universidade de Michigan. Aí estão sendo
um acordo político (PEARL, 1961, p. 160;
coletadas e postas em forma legível pelos com-
EVERITT, 1966, p. 143; HOWELL, 1967, p. 171-
173; para a velha elite que permanecia em Suffolk,
cf. EVERITT, 1960). 34 Os revoltosos do Capitão Swing (Captain Swing, no
original em inglês) eram camponeses ingleses que se revol-
A principal conclusão que emerge dessa pes- tavam contra a modernização do campo no início do século
quisa bibliográfica é que o método funciona me- XIX. Para ameaçar seus senhorios, escreviam cartas anôni-
lhor quando é aplicado para grupos facilmente mas que eram assinadas por “Swing” ou “Captain Swing”
definidos e razoavelmente pequenos, em um perí- (N. T.).
odo limitado de não muito mais que 100 anos, 35 Algumas investigações notáveis de elites, feitas por
quando os dados são obtidos de uma grande vari- pesquisadores estadunidenses sobre a história dos Estados
edade de fontes que complementam e enriquecem Unidos, são as de Bailyn (1955), Mills (1956), Aronson
(1964), Rothman (1966), Main (1967) e Harris (1969).
umas às outras e quando a pesquisa é dirigida para
Para bibliografias sobre a escola de massas, cf. a nota 7,
acima.
33 Um borough é uma cidade na Inglaterra que consiste, 36 Consórcio Interuniversitário para a Pesquisa Política,
também, em um distrito eleitoral (N. T.). no original em inglês (N. T.).

131
PROSOPOGRAFIA

putadores informações sobre o comportamento temente bem-sucedidas de outras novas técnicas


eleitoral de cada congressista desde 1789, con- de pesquisa. Eles avançaram em alguns brilhantes
forme registrado nas listas de chamada do Con- estudos ambientais sobre sociedades locais vistas
gresso dos Estados Unidos. Some-se a isso que como totalidades e examinadas com grande pro-
os psefologistas estão recebendo dados sobre a fundidade; eles produziram algumas maciças sé-
votação popular no nível dos condados em cada ries estatísticas temporais sobre preços, comér-
eleição desde 1824, correlacionados com infor- cio exterior e produtos industriais e têm sido os
mações dos censos desde 1790 sobre renda, raça, pioneiros no estudo científico da demografia histó-
religião e outras variáveis-chave para cada con- rica. Somente nos últimos anos os historiadores
dado e estado (cf. CLUBB, 1969). Começou-se franceses começaram a usar a prosopografia e, em
agora a coletar-se informações estatísticas legí- conformidade com sua ênfase de longa data na
veis pelos computadores sobre períodos anterio- quantificação, eles agora se envolveram em alguns
res da história estadunidense e também de outros projetos de enorme escala da escola de massas,
países. usando o mais sofisticado maquinário computacional
(LE ROY LADURIE, BERNAGEAU & PASQUET,
É indicativo da divisão de caminhos entre as
1969; recentes pesquisas francesas sobre as elites
academias britânica e estadunidense nos anos 1960
incluem: BLUCHE, 1960; CORVISIER, 1964;
que o monumento paralelo à prosopografia no lado
GIRARD, PROST & GOSSEZ, 1967). Essas pes-
oriental do Oceano Atlântico assume a forma um
quisas estão sendo apoiadas pela VI Seção da École
tanto diferente do projeto “História do parlamento
Pratique des Hautes Études, de Paris, que desde há
no pós-guerra”. Iniciado e planejado por Sir Lewis
décadas é o centro de pesquisas estatísticas histó-
Namier, ele começou em 1951 e resultará em um
ricas da França.
dicionário biográfico em vários volumes que usa-
rá essas informações pessoais para apoiar estu- Uma das razões – embora uma pobre e
dos de caso esclarecedores, juntar comparações irrelevante – por que a prosopografia continuará a
estatísticas e elaborar conclusões políticas. É ca- desenvolver-se em ambos os lados do Atlântico é
racterístico da abordagem britânica que esse pro- o fato de ela ser tão idealmente adequada aos re-
jeto seja pago pelo Estado e não por universidades quisitos de artigos de pesquisa e de teses de dou-
ou fundações, que as informações biográficas que torado. Ela apresenta ao estudante novato uma
ele reúne não esteja sendo preparado para o for- grande variedade de fontes, ensina-lhe a avaliar as
mato legível por computador (exceto as de um evidências e a aplicar seu julgamento para resol-
período, sob a responsabilidade de um ver contradições, demanda acurácia meticulosa,
estadunidense) e que se esteja dando maior ênfa- a organização das informações de maneira metó-
se às biografias e aos estudos de caso que às es- dica e oferece um tópico que pode ser facilmente
tatísticas37. expandido ou reduzido pela modificação do tama-
nho da amostra de modo a adequar-se aos reque-
A França é o terceiro maior centro de pesquisa
rimentos dos recursos e dos prazos disponíveis.
histórica no mundo, mas nos últimos 30 anos os
Algo dessa pesquisa sem dúvida contribui para
melhores historiadores franceses estiveram preo-
um neo-antiquarianismo – recolhimento dos da-
cupados com algumas explorações deslumbran-
dos apenas pelo próprio recolhimento de dados –
mas sob uma liderança habilidosa e organizada os
projetos podem ser agrupados pelo diretor a fim
37 A primeira tentativa abortada para lançar esse projeto de produzir uma contribuição útil para o aumento
ocorreu em 1929, quando um comitê oficial foi criado pela do conhecimento histórico.
Câmara dos Comuns para investigar “os materiais disponí-
veis para um registro do pessoal e da política dos membros Uma segunda poderosa razão – mas igualmente
passados da Câmara dos Comuns de 1264 a 1832 e o custo irrelevante – para a expansão subseqüente da
dessa publicação”. O comitê deu um parecer favorável e prosopografia é a chegada do computador, cujo
nos anos 1930 o Coronel Wedgwood produziu dois volu- significado completo está apenas começando a
mes sobre os membros do parlamento entre 1439 e 1509. tornar-se aparente. Como os historiadores lenta e
Infelizmente, ele fracassou em publicar o terceiro volume
timidamente começam a explorar as
de síntese e, de qualquer maneira, os seus métodos foram
tão criticados que qualquer trabalho posterior seguindo suas potencialidades da nova ferramenta tecnológica,
linhas foi abandonado (WEDGWOOD, 1936-1938; eles começam a perceber sua quase ilimitada ca-
MCKISACK, 1938). pacidade de lidar precisamente com o tipo de

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material que a prosopografia apura. A correlação pesquisadores mais estatisticamente orientados


de numerosas variáveis afetando grandes massas com todo o entusiasmo indiscriminado dos
de dados, reunidas em uma base uniforme, é pre- ninfomaníacos e rejeitado pelos menos científi-
cisamente o que o computador pode fazer me- cos, em parte devido a melindres intelectuais, em
lhor; é também o que há de mais laborioso e, em parte devido a uma complacência ignorante dos
vários casos, virtualmente impossível de traba- prazeres que estão perdendo. A disponibilidade do
lhar sem auxílios eletrônicos, mesmo para os his- computador crescentemente seduzirá os historia-
toriadores com orientação mais matemática,. É dores a concentrar suas energias nos problemas
doloroso admitir que o advento de um aparato téc- que podem ser solucionados pela quantificação,
nico poderia ditar o tipo de questões históricas problemas que às vezes – mas de maneira nenhu-
formuladas e os métodos utilizados para solucioná- ma sempre – são os mais importantes ou interes-
los, mas seria adotar a postura do avestruz fingir santes. Ela também os seduzirá a abandonar as
que isso não está acontecendo agora e que não técnicas de amostragem, que com freqüência são
acontecerá em uma escala ainda maior nos anos perfeitamente adequadas para seus propósitos, e
vindouros. a embarcar em investigações estatísticas que con-
somem grande tempo sobre populações totais, que
Deve-se admitir que há alguns sérios perigos
em muitos casos são procedimentos completa-
inerentes ao sucesso e popularidade da
mente desnecessários. Outros historiadores po-
prosopografia. O primeiro é que as realizações
dem crescentemente vir a perceber o computa-
realmente grandes – como o trabalho de Sir John
dor como uma ameaça ao seu predomínio intelec-
Neale sobre os parlamentos elizabetanos, o do
tual e retirarem-se ainda mais nos recessos ne-
Professor W. K. Jordan sobre as doações caritati-
gros da metodologia impressionista. Para piorar
vas ou o projeto ainda maior sobre a história do
as coisas, há fortes traços nacionais para essa di-
parlamento, de Sir Lewis Namier – devem ser le-
visão de perspectivas – pois os estadunidenses e
vadas a cabo por equipes de pesquisadores, reu-
os franceses têm muito mais acesso a e confiança
nindo dados nos termos estabelecidos pelo dire-
nos computadores que seus colegas ingleses –,
tor. Esse material então é estudado, coletado e fi-
fortes traços culturais – com ameaças de uma nova
nalmente publicado pelo diretor, para quem sozi-
guerra entre os antigos e os modernos, entre as
nho vai o crédito (cf. NEALE, 1958, p. 229-234).
humanidades e as ciências – e mesmo traços filo-
A pesquisa coletiva já é aceita totalmente pelos
sóficos – com um choque entre o fato e a imagi-
cientistas naturais como um processo familiar e
nação, Mr. Gradgrind e Sissy Jupe39. Como re-
necessário, mas ele envolve um grau de
sultado, pode demorar bastante até que haja uma
patronagem38 do pesquisador-chefe sobre estu-
completa reunião de perspectivas.
dantes e pesquisadores iniciantes que muitos pes-
quisadores criados na antiga tradição A prosopografia, no entanto, contém em seu
historiográfica individualista e independente con- interior a potencialidade para ajudar na recriação
sideram perturbador. O segundo perigo é que, em de um campo unificado além da frágil confedera-
vez de andarem juntas, as escolas de massas e ção de tópicos e técnicas zelosamente indepen-
elitista especializar-se-ão mais e mais em suas di- dentes que no presente constitui o império dos
ferentes abordagens, a primeira tornando-se mais historiadores. Ela pode ser um meio para vincular
científica e quantitativa e a outra mais a história constitucional e institucional, por um
impressionista e devotada aos exemplos individu- lado, à história biográfica, por outro lado, que são
ais inadequadamente controlados pela amostragem as duas mais antigas e melhor desenvolvidas do
aleatória. Isso seria um desastre para a profissão, ofício de historiador, mas que até agora seguiram
pois significaria o fim de frutíferas fertilizações linhas mais ou menos paralelas. Ela combinaria a
cruzadas. O perigo foi bastante aumentado pelo habilidade humana na reconstrução histórica por
advento do computador, que foi adotado pelos meio da concentração meticulosa nos detalhes sig-

38 No original, o autor usou “peonage”, que literalmente 39 Mr. Gradgrind e Sissy Jupe são personagens do livro
significa “condição de peão”. Como não há um termo sinté- Hard Times, de Charles Dickens. Deixando de lado os
tico equivalente em português, preferimos “patronagem”, caracteres literários desses personagens, as referências a eles
que também sugere uma relação de subordinação intelec- indicam respectivamente a preocupação fria com os fatos,
tual e laboral (N. T.). por um lado, e a imaginação e a esperança, por outro (N. T.).

133
PROSOPOGRAFIA

nificativos e nos exemplos particulares com as logia e a Psicologia. E formaria um fio entre ou-
preocupações estatísticas e teóricas; formaria o tros para ancorar os excitantes desenvolvimentos
elo perdido entre a história política e a história da História Intelectual e Cultural na sua fundação
social, que no presente são todas freqüentemente social, econômica e política. Se a prosopografia
tratadas em compartimentos amplamente imper- realizará ou não todas ou algumas dessas oportu-
meáveis, mesmo em diferentes monografias ou nidades dependerá do conhecimento técnico, da
em diferentes capítulos de um mesmo volume. sofisticação, da modéstia e do bom senso da nova
Ela ajudaria a reconciliar a História com a Socio- geração de historiadores.

Lawrence Stone (1919-1999) foi historiador e professor na Universidade de Oxford (Inglaterra) e na


Universidade de Princeton (Estados Unidos).

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