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Primeiro sofisma
O CAVALO DE ARISTOTELES NÃO EXISTE
Posto o caso que Aristóteles tivesse um cavalo que andava muito bem, mas que
foi morto e destruído pela potência divina.
O sofisma é assim claro pelo caso posto.
O.1 Argumenta-se no entanto no sentido oposto, a saber, que é falsa a
proposição « o cavalo de Aristóteles não existe ». Argumenta-se a partir do fato de
ser verdadeira uma proposição porque como quer que ela signifique, assim é nas
coisas, e pelo fato de ser falsa uma proposição por não ser como ela significa. Isto é
comumente aceito e disto se persuade pelo uso ordinário. De fato, quando nos
parece que alguém disse algo verdadeiro, dizemos que é assim como esta pessoa
disse ; e se nos parece que ele disse algo falso, dizemos que não é assim como ele
disse. E em visto disto Aristóteles diz, nos livros quinto e sexto da Metafísica, que
num sentido de ser e não ser, ser significa o que é verdadeiro, e não ser, o que é falso.
Não nos parecer que se possa atribuir outra causa de verdade ou falsidade às
proposições.
Logo, isto posto como verdadeiro ou provado, parece que a proposição « o
cavalo de Aristóteles não existe » é falsa, pois não é, na coisa significada, como ela
significa, pois a coisa significada, a saber, o cavalo de Aristóteles, nada é, e no que
nada é, não é deste modo nem de outro modo.
Segundo sofisma
O CAVALO DE ARISTÓTELES ANDOU
P.1 Prova-se pelo caso posto no início do sofisma anterior.
O.1 Argumenta-se no sentido contrário como anteriormente, pois não é nas
coisas como é significado pela proposição. Argumentar-se-ia assim sobre esta
proposição, « o cavalo de Aristóteles andou », como sobre a proposição « o cavalo de
Aristóteles morreu », e sobre « nenhum cavalo é um asno », posto que não existam
cavalos nem asnos, mas todos sejam destruídos. De fato, acerca de qualquer uma
destas proposições, é verdadeiro que não é nas coisas significadas como ela significa.
Terceiro sofisma
UMA QUIMERA É UMA QUIIMERA
P.1 Prova-se pelo que diz Boécio, « nenhuma proposição é mais verdadeira do
que aquela na qual algo é predicado de si mesmo ».
P.2.1 Ainda, se não fosse verdadeira, isto seria porque o termo ‘quimera’ por
nada supõe. Mas isto não impede [que seja verdadeira], pois é verdadeira « o cavalo
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Buridan, Sofismas Trad. Ernesto Perini Santos
Versão preliminar - circulação restrita História da Filosofia Medieval, 19/1
<Conclusões>
Para a solução dos sofismas acima e de similares, ponho algumas conclusões
para que se veja como proposições são ditas verdadeiras ou falsas. Para falar de
maneira compreensível, suponho, segundo o que foi dito anteriormente, que
palavras têm duas significações: uma na mente, pois significam imediatamente os
conceitos que lhes são correspondentes a partir dos quais, ou similares àqueles a
partir dos quais foram impostas para significar. <As palavras> têm outra
significação, pois através dos ditos conceitos, significam as coisas que são por eles
concebidas, pois freqüentemente as coisas concebidas estão fora da alma, como as
pedras e os asnos. Logo, chamarei, arbitrariamente, a primeira significação
« <significação> na mente » e a segunda, « <significação> nas coisas fora da alma ».
<Primeira conclusão>
Ponho assim como primeira conclusão que não é necessário que seja
verdadeira uma proposição vocal se como quer que signifique na mente, assim seja
na mente, pois assim se seguiria que toda proposição seria verdadeira. De fato, a
toda proposição vocal, verdadeira ou falsa, corresponde uma proposição similar na
mente.
<Segunda conclusão>
A segunda conclusão é que não é necessário para a verdade de uma
proposição vocal que, como quer que signifique nas coisas fora da alma, deste modo
seja nas coisas significadas fora da alma. A conclusão pode ser posta da seguinte
forma : existe uma proposição verdadeira para a qual não é nas coisas significadas
fora da alma como quer que ela signifique fora da alma.
Prova-se a conclusão : ponho que o Anticristo ainda não exista, mas existirá e
andará, então é verdadeira a proposição « o Anticristo andará ». Por esta proposição
o Anticristo e sua marcha são significados nas coisas exteriores e, no entanto, nada
são, pois nem o Anticristo, nem sua marcha existem. E no que nada é, não é deste
modo nem de outro modo; logo, nas coisas significadas fora da alma por esta
proposição, não é como é significado pela proposição. Ainda, argumenta-se de
maneira similar sobre a proposição « Aristóteles argumentou », posto que Aristóteles
tenha sido destruído. E assim argumenta-se sobre a proposição « o Anticristo pode
andar », e ainda sobre a proposição negativa « o cavalo não é um asno », posto que
Deus tenha destruído todos os cavalos e todos os anos, do que se segue que as coisas
significadas não existem e nem é nelas de um modo ou de outro. <...>
<Décima conclusão>
A décima conclusão é que para a verdade de uma proposição categórica
afirmativa é necessário que os termos, a saber o sujeito e o predicado, suponham
pelo mesmo ou pelos mesmos, logo para sua falsidade basta que não suponham pelo
mesmo. Talvez esta não seja uma conclusão, mas um princípio indemonstrável ou, se
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Buridan, Sofismas Trad. Ernesto Perini Santos
Versão preliminar - circulação restrita História da Filosofia Medieval, 19/1
<Décima-primeira conclusão>
A décima-primeira conclusão é que para a verdade de uma proposição
categórica negativa basta que o sujeito e o predicado não suponham pelo mesmo
nem pelos mesmos, embora sejam verdadeiras algumas proposições <categóricas
negativas> nas quais o sujeito e o predicado supõem pelo mesmo ou pelos mesmos,
como « um animal não é homem ». Assim, para a falsidade de uma <categórica>
afirmativa é necessário que o sujeito e o predicado suponham pelo mesmo, embora
não se siga <se> o sujeito e o predicado supõem pelo mesmo, então a proposição
negativa é falsa.
Esta conclusão é clara a partir do que precede, pois contraditórias são sempre
uma afirmativa e outra positiva, e é necessário que uma seja verdadeira e outra falsa,
se existirem ao mesmo tempo, e nunca podem ser ao mesmo tempo verdadeiras e
falsas. E isto não é por outra razão senão porque quantas sejam e quaisquer que
sejam as causas da verdade de uma delas, tantas e as mesmas serão as causas da
falsidade da outra e inversamente. Logo, o que quer que seja necessário para para a
verdade da afirmativa, o mesmo será necessário para a falsidade da negativa
contraditória, e também o que quer que seja suficiente para falsidade da afirmativa,
será suficiente para a verdade da negativa contraditória.
<Décima-segunda conclusão>
A décima-segunda conclusão é que para a verdade de uma proposição
categórica afirmativa indefinida ou particular, é necessário e suficiente que o sujeito
e o predicado suponham pelo mesmo, a não ser que, pela refexão da proposição
sobre si mesma, siga-se dela e das circunstâncias adjacentes que ela mesma é falsa.
<...>
<Décima-terceira conclusão>
A décima-terceira conclusão é que para a verdade de uma proposição
universal afirmativa é necessário e suficiente que por tudo pelo que supõe o sujeito,
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Buridan, Sofismas Trad. Ernesto Perini Santos
Versão preliminar - circulação restrita História da Filosofia Medieval, 19/1
ou por todas as coisas pelas quais supõe o sujeito, por isto ou por estas coisas
suponha o predicado, a não ser que <haja> uma reflexão, como foi dito em outra
conclusão.
E isto prova-se por indução, de modo similar à conclusão anterior. A partir do
que foi dito, já aparece como toda proposição verdadeira é dita verdadeira ou <de
onde> é dita falsa toda proposição falsa, feita a exceção das chamadas insolúveis, das
quais se tratará posteriormene em especial.
Parece de fato que não se deve dizer de modo similar sobre todas <as
proposições>, mas de um modo sobre as universais, de outro sobre as particulares,
de outro sobre as afirmativas, de outro sobre as negativas.
<Décima-quarta conclusão>
Retomando <o que foi dito>, ponho assim a décima-quarta conclusão, que
toda proposição particular afirmativa verdadeira é verdadeira pelo fato do sujeito e
do predicado suporem pelo mesmo ou pelos mesmos. E toda proposição universal
afirmativa verdadeira é verdadeira pelo fato de pelo que quer que suponha o sujeito,
ou por quaisquer coisas pelas quais suponha o sujeito, pelo mesmo ou pelas mesmas
suponha o predicado.
E toda proposição particular afirmativa falsa é falsa pelo fato do sujeito e do
predicato não suporem pelo mesmo, nem pelas mesmas coisas.
E <toda> proposição universal afirmativa falsa é falsa pelo fato de o sujeito não
supor por tudo ou por todas as coisas pelas quais supõe o predicado.
E toda proposição particular negativa verdadeira é verdadeira pelo fato da
universal afirmativa que lhe é contraditória ser falsa, e foi dito como esta proposição
é falsa.
<E toda proposição universal negativa verdadeira é verdadeira pelo da
proposição particular afirmativa que lhe é contraditória ser falsa, e foi dito como esta
proposição é falsa>.
E toda proposição particular negativa falsa é falsa pelo fato da universal
afirmativa que lhe é contraditória ser verdadeira, e foi dito como isto ocorre.
E toda proposição universal negativa falsa é falsa pelo fato da proposição
particular que lhe é contraditória ser verdadeira, e foi dito como isto ocorre.
A décima-quarta conclusão, que contém oito conclusões parciais, parece ser
inteiramente verdadeira a partir das precedentes, pelo princípio que o que quer que
seja a causa da verdade de uma contraditória ou seja necessário para sua verdade, é
a causa da falsidade da outra contraditória, ou necessário para sua falsidade. <...>
Agora deve-se então responder aos sofismas na forma própria.
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Buridan, Sofismas Trad. Ernesto Perini Santos
Versão preliminar - circulação restrita História da Filosofia Medieval, 19/1
Aristóteles, e parecem dizer claramente que toda proposição verdadeira, seja ela
afirmativa ou negativa, é dita verdadeira porque assim é na coisa. Daí também ele
dizer nas Categorias que pela coisa ser ou não ser, a oração é dita verdadeira ou falsa.
Respondo que Aristóteles bem sabia que esta não é a significação principal do
ser, segundo a qual o ser se diz das dez categorias, pois, segundo esta acepção
principal, não apenas uma proposição verdadeira é dita um ser ou muitos seres, mas
uma proposição falsa é um ser ou muitos seres. Mas como os nomes são
arbitrariamente impostos para significar, houve uma outra imposição, a saber, que o
nome ‘é’ ou ‘ser’ significa o mesmo que o nome ‘verdadeiro’, assim como ‘não ser’ e
‘não verdadeiro’. Isto fez os homens errarem muito, a saber, que se alguém disser
uma proposição verdadeira, dizemos que assim é como ele diz. Alguns, entendendo
mal, acreditam que foi dito que é nas coisas significadas como a proposição significa.
Eles compreendem mal este dito. Na verdade, por ‘ser assim’ não se deve
compreender senão que a proposição diz algo verdadeiro. E Aristóteles exprime isto
mais claramente no sexto livro da Metafísica, onde diz « que o ser enquanto
verdadeiro e o não ser enquanto falso, porque são segundo a composição e a divisão,
estão totalmente em contradição ». Depois diz que a composição e a divisão existem
na mente, não nas coisas ; logo é absurdo acreditar que por « ser assim » devemos
entender que assim é nas coisas significadas.