25-11-2013 Albert Camus foi um escritor, filósofo, jornalista, e tudo mais aquilo que desejou ser, francês de origem argelina. O mundo recebeu-o a 7 de Novembro de 1913 em Mondovi, cidade natal onde tanto ele como a sua família passaram grandes dificuldades financeiras. Segundo Mário Mesquita, o filósofo argelino não escolheu o jornalismo por vocação, foram as necessidades de subsistência que determinaram que ao fim de cinco anos aceita-se o convite para redator no “Algair Républicain” da Frente Popular e do Partido Comunista, onde ele esteve fugazmente ligado. Ao contrário de muitos estudantes da área do jornalismo e da comunicação, este não mantinha ilusões quanto à profissão, considerando até um ofício dececionante, mas Pascal Pia, que o convidou para o jornal, era da opinião que Camus tinha a capacidade, o estilo e o sentido de encenação de um bom repórter. Tal como qualquer jornalista dos nossos tempos, Camus começou por ser um mero estagiário, tratando das notícias sobre acidentes, crimes, processos judiciais, entre outras tarefas que, na altura, eram consideradas as menos nobres de todo o jornal. Anos mais tarde, dedicou-se por inteiro a esta profissão que, de início, nem sequer o atraía, ingressando no jornal “Combate”, novamente a pedido de Pascal Pia, durante a Segunda Guerra Mundial, na clandestinidade. Esta é uma prova do seu amor pela liberdade de expressão e pela democracia, sendo que Camus arriscava a sua pele, todos os dias, em prol de uma causa em que acreditava: um mundo justo e igual para todos, onde ninguém fosse punido por falar a verdade. O escritor argelino opta por dar continuidade a esta profissão não por querer desenvolver ideias mas por gostar, realmente, do meio jornalístico e do trabalho de equipa, que vem preencher o seu currículo e a sua vida académica. Achei importante referir algumas das palavras de Mário Mesquita pois, estando eu a estudar jornalismo e desejando ser uma futura profissional da área em questão, este é um assunto que achei realmente interessante e oportuno para este colóquio. De seguida gostaria de sublinhar o lado existencialista de Albert Camus que entendia o mundo como algo “absurdo”, uma das ideias principais do existencialismo. Quando este diz “nasci pobre e sem religião sob um céu feliz” revela a inexistência da sua fé em Deus e em qualquer religião. Porém, esta frase não diz apenas isso, esta expressão demonstra que Camus era realmente feliz enquanto criança, sob um céu azul do qual, já adulto, morria de saudades, mesmo sem condições financeiras e sem o conforto da fé. Talvez a única forma de Albert Camus se libertar da sua incurável tristeza seja refugiar-se na infância, “interna fonte redentora, ponto de encontro e sempre renovado deslumbramento”, palavras de Marcello Duarte Mathias em a “Felicidade de Albert Camus”. Voltando à noção de “absurdo”, Camus era da opinião que não existia qualquer sentido a ser encontrado no mundo, para além do significado que as pessoas atribuem ao mesmo. A falta de significado engloba também a
Ética e Deontologia da Comunicação
injustiça do mundo, do qual Camus foi vítima em pequeno, perdendo o pai durante a Primeira Guerra Mundial, uma das razões que também o levou a reforçar a sua descredibilidade em Deus. O pensamento de Camus é marcado por um agnosticismo que o leva a dedicar-se a várias questões que alertam aqueles que, segundo ele, acreditam na mentira: “Acreditem-me, as religiões enganam-se desde o momento que pregam moral e fulminam mandamentos. Deus não é necessário para criar a culpabilidade, nem para castigar. Para isso bastam os nossos semelhantes, ajudados por nós mesmos”. É importante sublinhar que apesar de Camus e a maior parte dos existencialistas serem agnósticos, alguns defensores desta corrente acreditavam na religião, como é o caso de Søren Kierkegaard, um protestante radical e Blaise Pascal, católico. O existencialismo ganhou força no final da Segunda Guerra Mundial, abordando temáticas fortes como o, já anteriormente referido, “mundo absurdo” e a barbárie injustificada, que podemos interpretar como o tratamento deplorável que os judeus receberam por parte dos alemães nazistas. Karl Marx, do qual já falamos em algumas das aulas de Ética e Deontologia da Comunicação, foi um dos impulsionadores desta corrente. Voltando ao tema da liberdade, Albert Camus refere no livro “O Mito de Sísifo” que “a justiça absoluta nega a liberdade” e que “a liberdade absoluta mete a justiça a ridículo”. Segundo este, é necessário que haja um consenso e que as duas noções descubram os limites uma da outra, a fim de serem respeitados e resultarem num equilíbrio sensato. O jornalista e filósofo argelino afirma também que “Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre” isto é, é preciso que na nossa existência nos seja permitido agir com liberdade, caso contrário estamos destinados a uma realidade injusta e cruel. Este acrescenta ainda que os homens só morrem “bem” se o fizerem em favor da liberdade, pois nesse instante não acreditavam que morressem “por completo”. Parece-me que com esta frase Camus pretendia dizer que nem a morte pode-nos retirar a liberdade, se acreditarmos nela e a defendermos piamente, uma vez que somos livres demais para morrer. “Se nós a compreendemos bem, a experiência existencial de Camus é a de um homem a tal ponto excedido pelo espetáculo e o contato da infelicidade fatal ligada ao mundo, à História, aos outros homens e a si mesmo, que no alto da montanha da tortura inútil parece ter perdido a coragem do seu riso e pede aos deuses uma pedra mais suportável.” Reflectindo nas palavras de Eduardo Lourenço, em “Heterodoxia II”, Camus era um homem profundamente infeliz que sofria não só litarária como também humanamente, pois estava cansado das “paisagens desoladoras desses mundos”.