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A proposta deste livro é que você olhe para as circunstâncias


do dia a dia com os óculos de Deus e veja o Senhor da Glória se
relacionando conosco, conduzindo a história e sendo Senhor de
nossas vidas.
As mensagens são contextualizadas e refletem o nosso
cotidiano. Foram feitas para a reflexão e busca de respostas às
questões essenciais de nossa vida.
Agradeço a Deus e a todos que cooperaram na
sistematização dessa coletânea. Em especial a Meirebele
Castro, ao Dulcimar Pessatto Filho, a artista plástica Vitória, ao
Paulo de Tarso e a Talento Gráfica e Editora na pessoa do
proprietário José Roberto César.
A esperança é que você encontre nas palavras e
pensamentos expostos nas páginas a seguir, o Deus que fala
pessoalmente conosco.

Márcia Batista
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Durante os últimos quatro anos nossa igreja, a Primeira


Igreja Presbiteriana de Goiânia, tem sido privilegiada. Graças a
Deus temos um pastor! Pastor que guia! Pastor que aconselha!
Pastor que ENSINA! Pastor Jôer que ensina no púlpito, na
classe, nas pastorais do boletim e, sobretudo, ENSINA COM A
VIDA!
Quando Mateus terminou o relato do tão famoso "Sermão
do Monte" proferido por Jesus, ele concluiu dizendo que "estavam
as multidões maravilhadas da sua doutrina porque ele as
ensinava como quem tem autoridade..." (Mt. 7:28,29) Graças a
Deus podemos dizer o mesmo ao ouvir ou mesmo ler o que o
nosso pastor Jôer nos ensina, porque temos certeza que a sua
autoridade procede de Cristo, a quem ele fielmente tem servido,
das Escrituras Sagradas, à qual ele se submete, e da coerência
de seu exemplo de vida, que nos inspira.
Através de "ENQUANTO", uma compilação das pastorais
escritas pelo Pastor Jôer, com certeza seremos mais uma vez
edificados e poderemos compartilhar a bênção com outros que
não tem tido o privilégio de ouvi-lo com a mesma freqüência que
nós.
Que "ENQUANTO" possa nos motivar uma vez mais, a
ouvir a voz do nosso querido pastor que, através de seus
ensinamentos, domingo após domingo, desafiam suas ovelhas
lembrando: "Buscai o Senhor ENQUANTO se pode achar,
invocai-o ENQUANTO está perto." (Is. 55:6)
Que o SUPREMO PASTOR sustente o "nosso pastor" e
"suas ovelhas" no anseio de buscá-lo, honrá-lo e glorificá-lo para
sempre. Amém.
Este é o desejo e oração de uma das "suas ovelhas",
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Súmario
A
A Era do “EX”................................................................................................................9
A Força da Franqueza...............................................................................................32
A História de Deus e outras Estórias......................................................................11
A Orfandade dos Filhos de Deus.............................................................................15
A Quase Parábola do Filho Perdido........................................................................17
A Tirania da Liberdade..............................................................................................19
Apenas A Velha História..............................................................................................21
As Marias do Brasil....................................................................................................24
C
Carnaval dos 500 anos ou 500 anos de Carnaval................................................26
Celebração ou Lamento?..........................................................................................28
Crise no Altar?.............................................................................................................30
D
Dependência da Independência................................................................................35
Dizimando o Dízimo....................................................................................................36
E
E os Outros 500 anos?................................................................................................39
Enquanto........................................................................................................................7
Entre a Santa e os Apóstolos.....................................................................................41
Esquecendo Deus na Igreja.......................................................................................43
F
Falta Educação à Educação.....................................................................................45
Fé, Esperança e Amor...............................................................................................47
Freio e Cabrestos........................................................................................................50
H
Homens Quebrados, Servos Inteiros.........................................................................52
I
Idolatria da Juventude...............................................................................................13
Igreja Globalizada.........................................................................................................54
Igreja, sem Memória..................................................................................................56
5

N
Não há Canções no Exílio..........................................................................................58
Não Quero Mais Ser Evangélico..............................................................................60
Nem Pai, Nem Herói...................................................................................................62
O
O deus Idólatra e seus semideuses........................................................................64
O Deus Que se Inclina................................................................................................66
O Encontro da Graça e o Beijo da Justiça.................................................................68
O Importante é a Fé e Não a Religião....................................................................70
O segundo-violinista, Hur e o Jumentinho.............................................................72
O Som do Silêncio e a Companhia da Solidão.........................................................74
Olhando em um Espelho..............................................................................................76
Onde está o Vosso Deus?.............................................................................................78
Oração de Um Pecador...........................................................................................121
Oração é Um Imperativo de Deus...........................................................................79
Os Brasis do Brasil.....................................................................................................81
Os Direitos Autorais de Deus...................................................................................83
P
Para Quem Se Alimenta de Lágrimas.....................................................................85
Por Amor do Teu Nome.............................................................................................87
Portas a Dentro...........................................................................................................89
Procuram-se Homens................................................................................................91
Q
Quão Novo Será o Ano Novo?.................................................................................93
R
Reaprender a Vida.....................................................................................................95
Restitui-me a Alegria da Salvação..............................................................................97
Revisitando a Jesus...................................................................................................99
S

Sara x Sara................................................................................................................101
Ser Mulher e Ser Cristã............................................................................................103
Servos de Tempo Parcial, Discípulos em Horas Vagas.....................................105
Sucessos e Fracassos............................................................................................107
6

T
Teologia Não-descartável........................................................................................109
Trivializando a Fé........................................................................................................111
U
Um Cristão Chamado Judas Iscariotes................................................................113
Um Novo Ano..............................................................................................................115
Uma Breve Reflexão Sobre Trabalho e Salário...................................................117
Uvas Bravas................................................................................................................119
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Enquanto...
Versáteis, hábeis, polivalentes. Estas características são
vistas como virtudes em nossos dias. As pessoas são
incentivadas a desenvolverem a capacidade de fazer muitas
coisas ao mesmo tempo. É preciso diversificar, ampliar os
horizontes, ser expert em várias áreas. Quanto mais
atividades desenvolvermos, mais seremos reputados como
pessoas eficientes. Poderíamos dizer que estamos sendo
treinados para desenvolver a capacidade de fazer enquanto.
Creio, inclusive, que já desenvolvemos tal habilidade no dia-
a-dia. Você já reparou quantas coisas nós fazemos enquanto?
Fazemos refeições enquanto assistimos televisão; estudamos
enquanto ouvimos música; conversamos enquanto lemos ou
cozinhamos; orientamos os nossos filhos enquanto
digitamos ou realizamos uma outra tarefa. Não significa
que a versatilidade seja ruim, mas nem tudo é possível fazer
enquanto outra atividade é desenvolvida. Certas ações
requerem exclusividade.
É assim com o culto a Deus. Deus requer
exclusividade, dedicação plena, concentração de esforços,
sentimentos e pensamentos. Não é possível cultuar a Deus
enquanto desenvolvemos atividades paralelas. Em nossos dias
é corrente pensar que "culto é tudo e tudo é culto". Assim,
julgamos cultuar a Deus enquanto trabalhamos, nos
divertimos, ou nos dedicamos a atividades de nosso
interesse pessoal. O próprio culto se transforma às vezes em
entretenimento, ou aquilo que fazemos enquanto. De fato, é
possível adorar a Deus através de nosso trabalho, de nosso
entretenimento, de nossas atividades diárias, mas cultuá-lo
só é possível mediante o culto, momento no qual
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interrompemos as nossas atividades para nos dedicarmos


integralmente e sem reservas ao nosso Deus. Este é o
verdadeiro sentido de devoção, uma dedicação plena e
exclusiva a Deus.
Não quero parecer retrógrado, mas penso que assim
como sentimos falta de uma conversa em que as pessoas nos
olhem nos olhos, ou de uma refeição em que a família se
reúne à volta da mesa (SI. 128: 3) e não à volta da TV, também
estamos carentes de um culto no qual nossa dedicação seja
exclusivamente a Deus. Talvez a prática do enquanto explique a
nossa ausência nos cultos, ou mesmo o nosso atraso. É
possível que esse costume seja responsável pelo bate-papo à
porta do templo, e mesmo dentro do templo enquanto o culto é
prestado. Estamos tão hábeis na prática do enquanto que
sentimos extrema dificuldade em dedicar a nossa atenção a
uma única atividade, principalmente ao culto a Deus. Mas se
você pretende sustentar seu hábito de fazer enquanto, então,
"buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto
está perto " (Is. 55:6).
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A Era do “EX”
Quem nunca foi "ex"? Uma boa parte de nossa
história pode ser contada através desse pequeno prefixo:
Somos ex-alunos, ex-clientes, ex-sócios, ex-membros, etc.
Contudo de um tempo para cá o "ex" tem expandido seu
reinado para além do campo comercial e profissional,
introduziu-se nos relacionamentos mais íntimos, de forma
que podemos notar o crescimento numérico dos ex-maridos,
ex-esposas, ex-filhos, ex-pais, ex-irmãos, ex-amigos, ex-crentes
e a lista não para de crescer... Isto não significa apenas que
tais pessoas não fazem parte mais de nosso presente, sendo
relegadas ao nosso passado, e isto porque não podemos
mudá-lo. Mas ultimamente tem significado inimigos ou
adversários, ou ainda, na melhor das hipóteses,
desconhecidos. Fugazes e superficiais os relacionamentos se
tornaram uma peça frágil de nossas vidas, ou quem sabe um
produto com prazo de validade cada vez menor. O problema
desses relacionamentos não é como terminam (as razões são
cada vez mais banais), mas como começam.
Como conseqüência, vivemos a cultura do "ex". Ela se
expressa em relacionamentos virtuais, sem rostos, sem
contatos, sem abraços, sem olhos nos olhos, apenas arquivos
e bits, e-mails e chats, pois assim são mais fáceis de serem
rompidos. Estamos nos tornando amigos virtuais, parentes
virtuais, crentes virtuais, gente virtual. Uma outra forma de
expressão dessa cultura contemporânea é o "feriadão". Basta
um dia santo para que as procissões rumo a clubes, hotéis,
chácaras, fazendas e cidades turísticas tomem as ruas e as
estradas. São passeatas sem causa, caminhadas sem
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protestos. Nos passeios compartilhamos entretenimentos,


diversão e tempo, menos vida. Como o feriadão, nossos
relacionamentos se tornaram esporádicos, escravos do "de vez
em quando ". A atenção para o filho é esporádica, o carinho
para com a esposa ou o marido é casual, a dedicação aos pais
é rara, e a devoção a Deus é acidental.
O resultado é o aprofundamento da solidão, o
sentimento de abandono estampado em rostos sem
expressões. Podemos nos identificar com o salmista que
ouvia seus inimigos dizerem: o Senhor o desamparou...
(Sl.71:11). E em muitas ocasiões acreditamos nessa palavras
humanas. Como Elias, que desejava se tornar ex-profeta,
perdemos a motivação, o ânimo, a esperança, e resta-nos a
constatação: "eu fiquei só..."(l Re.l9:10). O nosso
relacionamento com Deus também está sendo afetado pela
cultura virtual ou do feriadão. Primeiro tornamo-nos
escravos do "de vez em quando". De vez em quando oramos,
de vez em quando lemos a Bíblia, de vez em quando vamos
a igreja, de vez em quando entregamos o dízimo, de vez em
quando tenho fé. Não sei mais conversar com as pessoas,
apenas mandar e-mails, minha saudação não é um aperto de
mão, ou um abraço, eu apenas digito. A fé, aos poucos vai se
tornando a ex-fé, ou seja, pálidas lembranças de um passado
distante.
Como mudar esse quadro sombrio? Como
reaprender a fazer amizades? Como tornar o
relacionamento duradouro? O primeiro passo é preocupar
mais com "como começa", e não por que termina. Em outras
palavras, precisamos dizer como Asafe, que em meio a um
vendaval de sentimentos e dúvidas, afirmou: Quanto a mim,
bom é estar junto a Deus, no Senhor Deus ponho o meu refúgio. (SI.
73:28), ou como Davi: Como é bom e agradável viverem unidos os
11

irmãos. (SI. 133:1).


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A História de Deus e outras Estórias


O recente episódio das rebeliões nos presídios do Estado
de São Paulo vem demonstrar, entre outras coisas, que existe
uma grande diferença entre contar estórias e ler a história. No
primeiro caso, há uma preocupação com os detalhes, no
segundo a preocupação repousa sobre o significado. O
primeiro é representado pela mídia e sua vocação para
narradora de atrocidades e calamidades. O segundo não tem
representantes, visto que nossa sociedade, inclusive a igreja,
perdeu sua tempera histórica. As estórias, apesar de
catastróficas, se perdem com o tempo, são descartáveis, ou
quem sabe peças de colecionadores que acumulam notícias
como quem coleciona selos. São assuntos de bares, salões de
beleza, conversas de amigos, e outros "papos " sem
compromissos. A história, por sua vez, deixa sua marca, finca
seus marcos, promove diferenças e estabelece
procedimentos. Nada acontece quando contamos estórias,
nossa vida muda quando ouvimos a história.
Aprender a ler a história é essencial, porque a história
não é notícias, nem novidades, nem, tão pouco, fatos que
simplesmente acontecem. Quem quer aprender a ler a
história deve aprender, antes, que existe um Senhor da história.
A história não é uma sucessão de acontecimentos que nos
sobrevêm despropositadamente. Pelo contrário, ela tem
rumo e origem, tem destino e autor, tem alvo e é governada
com propósito. Em suma, a história tem dono. O materialismo
roubou-lhe o propósito, o idealismo subjugou-a ao homem,
o relativismo pintou-a de uma forma tão surrealista que ela
passou a ter muitos sentidos, mas nenhum significado. E o
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cristianismo humanista, secularizante, fala dela, mas não lhe


ouve. Não é de se admirar que os cristãos contemporâneos
vejam a suas vidas (não deveríamos dizer histórias?) como
um barco a deriva, sem rumo, prestes a naufragar. Medo,
incertezas, desespero, ansiedade, insegurança...São mais que
sentimentos são interpretações de nossa história (não
deveríamos dizer vida?).
Por esta razão, Deus ordenou a seu povo que
interpretasse sua história (SI.78), que a repetisse, e
transmitisse de geração em geração, para que aqueles que
não viveram os fatos compreendessem seu significado.
Moisés fez isto com a nova geração de hebreus que se
preparava para entrar na terra prometida. O livro de
Deuteronômio é o conjunto de discursos exortativos feitos
por Moisés aos filhos dos rebeldes israelitas que pereceram
no deserto por não crerem na história de seu Deus. Como
bem orienta Asafe, sem história os homens se tornam uma
"geração obstinada e rebelde, geração de coração inconstante...”,
se esquecem de Deus, de seus feitos e mandamentos, e não
põem nele sua confiança (SI.78:7,8).
Por outro lado, o homem que conhece a história e o Deus
da história, pode afirmar como Davi: "Bendize, ó minha alma, ao
SENHOR, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios". (Sl.
103:2). O que lê a história busca o Senhor e seu poder porque
se lembra "das maravilhas que Ele fez, dos seus prodígios e dos juízos
de seus lábios " (Sl. 105:5). Foi baseado na história que Estevão
expôs a soberana condução que Deus faz na vida humana, e
mesmo diante da morte, confiante em seu Deus, "invocava e
dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!" (At. 7:59). Esta
confiança que nos falta é resultado de não lermos a história, e
gastarmos o tempo consumindo as estórias. Como os
discípulos, quando à deriva e por não conhecer o Deus da
14

história que preside aos dilúvios (SI. 29:10), ainda ecoam as


nossas vozes: "Mestre, não te importas que pereçamos? " (Mc.
4:38).
15

Idolatria da Juventude
"A glória do jovem é a sua força, a beleza do velho as suas
cãs " (Pv. 20:29)

Vivemos em uma sociedade utilitarista, onde os


interesses ultrapassam os limites do mundo dos negócios e
invadem nossas amizades, relacionamentos afetivos, famílias,
etc. É possível haver "amor" com segundas intenções; atos de
"caridade" desprovidos de misericórdia; afeições motivadas
por interesses egocêntricos. Este senso de utilidade é
determinante em nossas escolhas. Escolhemos uma amizade
ou outro relacionamento qualquer com a mesma motivação
que escolhemos um produto nas prateleiras do
supermercado, a saber: sua utilidade.Isto está tão
entranhado em nosso dia-a-dia que é a melhor explicação
para a idolatria da juventude. As crianças são negligenciadas
por causa de sua pouca utilidade e os velhos são exilados na
solidão do esquecimento, mas a juventude é exaltada como
um status. O romance é jovem; o político é jovem; a música é
jovem; o louvor é jovem; até dos velhos é exigido que
preservem um espírito jovem. Tudo que é jovem é moderno,
é melhor, mais bonito e mais importante.
No entanto, apesar de envolvidos nesse redemoinho
de modernidade e tecnologia, precisamos nos perguntar: Até
onde o jovem é diferente dos demais seres humanos? Pois, o
mesmo pecado que habitou em Judá e que o levou a um
incesto (Gn. 38) estava presente no jovem Amnon (II Sm. 13).
Curiosamente as mulheres envolvidas tinham o mesmo
nome. Os temores de Elias o fizeram se afastar
16

temporariamente do ministério profético (I Re 19), tanto


quanto afastaram o jovem João Marcos do ministério
missionário (At. 13: 13-15). Asafe, movido por seus
questionamentos quanto a prosperidade dos ímpios, sente-
se tentado a abandonar a sua fidelidade (SI. 73:2,13), por outro
lado o jovem Timóteo, movido pelo peso de seu ministério,
enfrenta problemas para permanecer fiel (II Tm. 3:10,14).
Assim como Moisés foi impulsivo (Nm. 20), o jovem
discípulo João manifestou esta característica também (Lc.
9:54). A mesma justiça própria e orgulho presentes em Saul (I
Sm.15) são vistas na vida do jovem rico (Mt. 19:16-22).
Não é sem razão que a Escritura nos ensina que até os
jovens se cansam e se fatigam (Is. 40:30); que para eles o
amanhã também é incerto (Pv. 27:1); que sobre eles Deus
também traz o seu juízo (Jr. 51:22); e que portanto, tal
santificação depende do mesmo meio que a de todos, ou
seja, da obediência à Palavra de Deus(SI. 119:9) e não de seu
muito fazer. A Escritura nos ensina, ainda, que o louvor
pertence a rapazes, moços, velhos e crianças (SI. 148:12).
A importância da juventude está no fato de que ela é
decisiva para a nossa vida adulta. Como foi dito pela ex-
primeira dama soviética, Raisa Gorbachev, "A juventude é
só um momento, entretanto contém a chama que se leva no
coração pela vida inteira". Sendo assim resta-nos exortar os
jovens com as palavras do velho sábio:
"Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que
venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho
neles prazer ". (Ec. 12:1).
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A Orfandade dos Filhos de Deus


Eles estavam perturbados, confusos, inseguros quanto
ao futuro, afinal as últimas palavras de Jesus eram ao
mesmo tempo surpreendentes e preocupantes. Ele os avisou
que estava partindo, em breve não o veriam mais (Jo. 14:19;
16:16), alertou-os que iria morrer, ser crucificado... É
verdade que também anunciou sua ressurreição, mas eles
estavam aflitos com essas notícias (Jo. 14:27). Em meio a essa
avalanche de surpresas e temores, uma frase ecoaria
nitidamente como uma promessa. Era uma promessa de
companhia (Hb.13:5), de atenção, de cuidados. Era uma
promessa de que continuaria a caminhar com eles
(Mt.28:20). Seriam ainda companheiros de jornadas e de
ministérios. Quando viesse o tempo da aflição lá estaria,
quando as situações se tornassem ameaçadoras, lá estaria
também. Continuaria lhes ensinando a vida, e colocaria as
palavras certas em seus lábios. Em resumo, Jesus prometeu:
Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros. (Jo. 14:18)
Não somos órfãos, mas vivemos como se fôssemos.
Somos como crianças de rua, vivendo do abandono, tendo
prazer na solidão. Vivemos como órfãos quando
peregrinamos em nossas vidas nos convencendo de que
estamos sós. Jesus não nos abandonou, cumpriu sua
promessa, se fez presente entre nós através de seu Espirito
Santo ( Jo. 14:28). O Espírito nos guarda como um Pai,
cuidadosamente conduz a nossa vida. Como o Mestre fazia,
nos ensina a vontade de Deus e dirige as nossas decisões
(14:26). Ele fez da igreja um lar (Gal.6:10). A questão é que
insistimos em viver na rua, longe da família. Tomamos
18

nossas decisões sozinhos, não consultamos nem o Espirito e


nem nossos irmãos. Pretensiosamente vivemos como se a
vida dependesse somente de nós, dispensamos os seus
ensinos e mergulhamos no mar profundo de nossa vã
independência.
A igreja não é um orfanato, mas uma família. À frente
dela está o Espírito Santo. Quando choramos, Ele nos
consola (Jo.14:16); Quando estamos fracos nos assiste , e
posto que não sabemos orar, Ele intercede por nós ( Rm.
8:26). Quando estamos solitários, nos faz companhia (II
Cor. 13:13). No tempo de aflição e pessimismo, nos ensina o
significado da esperança (Rm.15:13). Mas se o tempo é de
alegria, experimentamos do fruto que Ele dá (Gal.5:22).
Quando pecamos, Ele se entristece (Ef.4:30); mas por outro
lado nos ajuda a vencer o pecado ( 8:13) e nos habilita
a dizer aba Pai (Rm.8:15). Ele nos capacita para o trabalho (I
Co. 12:28) e enche-nos de ânimo e coragem, depois de nos
encher de si mesmo (Ef. 5:17). Mostra que andar nele (Gal.
5:16) nos faz experimentar a verdadeira vida e a paz( Rm.
8:6). E como se não bastasse tudo isso, Ele ainda nos sela e
garante o nosso futuro em Cristo. (Ef. 1:13,14).Não faz
sentido vivermos perturbados, sem rumo ou direção,
presos aos nossos instintos. Não há necessidade de
continuarmos inseguros e solitários nessa jornada. Estranho
é que nesses tempos em que tanto se fala e estuda o
derramamento do Espírito, nem sequer nos lembremos que
o Espírito de Deus está entre nós. Ao se aproximar o dia de
Pentecostes, quem sabe nos lembremos do significado deste
dia para a cristandade e desta forma o próprio Espírito nos
faça lembrar das verdades ensinadas por Jesus (Jo.14:26).
Compramos o presente do dia dos namorados, já
programamos nossas atividades em um feriado que mal
19

sabemos o que significa (corpus Christis), mas não nos


lembramos de celebrar e agradecer o dom, ou seja, o
próprio Espírito Santo. Pentecostes significa a presença e
companhia de nosso Senhor, significa ouvir de Jesus: A minha
paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize. Ouvistes o que eu vos disse: vou e volto
para junto de vós (Jo. 14:26-28). Significa que somos uma
família, não um orfanato.
A Quase Parábola do Filho Perdido
Algum sentimento pode ser maior do que aquele de
perder um filho? A dor de ver um filho sendo-nos tomado
pela morte é incalculável. É o avesso da ordem natural, é o
paradoxo de nossa existência, é como se o passado sepultasse
o futuro. Contudo há uma outra dor maior, ou pelo menos tão
sofrida quanto à primeira, a dor de perder o filho para a vida.
Pode parecer estranho, mas é verdade, perdemos nossos
filhos para vida. Eles se vão, levam consigo nossos sonhos,
esperanças, planos e alegrias. Deixam para trás as
preocupações, as frustrações, o desespero e um inescapável
sentimento de culpa. A perda torna os nossos dias longos e a
nossa vida curta, abala nossa auto-suficiência e nosso
equilíbrio emocional, revela-nos a face mais cruel da vida
familiar. Perdemos os filhos para as drogas, a bebida, o sexo
fácil, as amizades fúteis, a ganância desmedida, a carreira
dominadora e o amor incontrolável pelo dinheiro. Perdemos
os filhos para isto que a sociedade chama de "coisas da vida".
Há algumas semelhanças entre essas perdas. Ambas
desfiguram os nossos sonhos, eles ficam assim, como casa
abandonada, onde resta apenas a pálida lembrança de que
ali morou alguém. Os verbos passam a ser conjugados no
passado, porque o futuro é inexistente. Em muitas ocasiões
lançamos mãos dos "se": "... e se ele não fizesse, ...se nós não
permitíssemos..., se você fosse mais paciente..., e se...". Lançamos
mãos de todos os meios para explicar o inaceitável,
perdemos nosso filho. Os sentimentos resultantes são
igualmente ambíguos, alegria e tristeza se misturam;
queremos esquecer, mas é impossível não lembrar.
Geralmente essas perdas vêm acompanhadas de outras: a
perda da confiança, da segurança, da alegria de viver.
Se as semelhanças existem, as diferenças são gritantes.
Ao contrário da morte, a vida não nos toma os filhos, somos
nós que os perdemos. Aos poucos eles vão se afastando sem
despedidas, sem avisos, sem alardes. A morte nos abraça
sem pedir licença, sem consulta, na maioria das vezes é
repentina, não podemos fazer nada, observamos impotentes
sua partida. A vida transforma aos poucos as nossas
crianças. Em lugar da gargalhada infantil, percebemos um
sorriso cínico, o olhar suspeito substitui a confiança ingênua,
as palavras de carinho cedem seu espaço para o silêncio frio e
distante, e assim eles se vão, não sem a nossa contribuição. Na
morte a ausência fere, machuca e deprime, quando os
perdemos para vida é a presença que incomoda, que
desarmoniza e que rouba a paz. São saudades diferentes, na
morte nos apegamos aos sinais de existência, entramos no
quarto deles para rever fotos, imaginar a presença. Na vida
buscamos a ausência, a distância, evitamos entrar no quarto e
rejeitamos todos os símbolos da presença. A morte torna o
passado um doce acalanto, a vida faz do futuro um amargo
pesadelo.
Engana-se quem pensa que tais perdas são fenômenos
da vida moderna. Eli perdeu os seus filhos, primeiro para a
vida e depois para morte (I Sm. 2-4); Davi perdeu seu filho
com Betseba para a morte (II Sm. 12), e muitos outros para a
vida (Absalão, Amnon, II Sm. 13-18). A nossa perda é quase
uma parábola, visto que como o pai da parábola do filho
pródigo (Lc.15) suportamos a dor da perda, por causa da
esperança de um retorno. Tudo o que desejamos dizer é Este
meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
(Lc.15: 24)
A Tirania da Liberdade
Desde aquele grito de independência, ouvido e
celebrado a cada 7 de setembro, que o Brasil vem
atravessando uma quase completa e contínua revolução
libertária. Da liberdade política atribuída a D. Pedro I,
passando pela lei do Ventre Livre e abolição da escravatura,
até chegarmos ao livre mercado e livre concorrência,
testemunhamos a constante luta pela liberdade humana. São
leis libertadoras, movimentos e campanhas em favor da
liberdade, partidos liberais, políticas neo-liberais,
movimentos feministas e outros minoritários (não tão
menores assim) lutando por mais liberdade, quer seja de
expressão, quer seja pela liberação de novas (não tão novas
assim) práticas sexuais. O discurso da liberdade atingiu até
mesmo as igrejas, Aquelas que não aderiram à Teologia da
Libertação seguem fazendo seus cultos de Libertação
Espiritual. Tanta liberdade sufoca!
A questão é que, influenciados pelos ideais da
revolução francesa, a liberdade tornou-se o alvo da vida, razão
de ser de países, movimentos, grupos, campanhas, igrejas,
etc. É a causa de possíveis avanços na qualidade de vida de
indivíduos. A sua ausência é explicação para a violência,
desigualdade e ignorância reinantes no país. À medida que a
liberdade se tornou o significado de instituições e pessoas,
ela perdeu seu próprio sentido. Confundimos liberdade com
ausência de responsabilidade, atribuímos-lhe um caráter
libertino e a transformamos em antíteses de leis e regras.
Liberdade não é mais matéria de direito, mas uma obrigação,
visto que somos obrigados a ser "livres" em praticamente
todos os sentidos. O resultado é que vivemos uma liberdade
castradora, escravizante e coerciva. Estamos intoxicados pela
"liberdade".
Com isto não pretendo afirmar que a liberdade é um
mal, mas para que promova o bem ela precisa de controles,
necessita de limites. Ela é resultado do conhecimento da
verdade absoluta (Jo.8:32). Por verdade deve-se entender a
pessoa e a obra de Cristo, "pois se o filho vos libertar sereis
verdadeiramente livres " (Jo. 8:36). Este por sua vez afirmou
que não veio para revogar a lei, mas para cumpri-la (Mt.
5:17). Isto nos lembra, que ele não nos libertou transgredindo
a lei de Deus, mas se submetendo a ela. Que liberdade é esta
que incita o pecado, induz à transgressão da lei de Deus e
escraviza o homem as suas paixões? Alguém aí, nos
gabinetes, púlpitos ou palanques faça-nos o favor de pregar
uma teologia que nos liberte da ditadura da libertação! Oxalá
alguém nos dê a brilhante idéia de realizarmos um Culto de
Libertação que nos liberte da Tirania da Liberdade.
Apenas A Velha História
"O Cristão é alguém que segue os ensinamentos de Cristo,
desde que não atrapalhem sua vida de pecado". A frase de
Ambrose Bierce, em seu livro "O Dicionário do Diabo", despe
o cristianismo contemporâneo de seu entusiasmo infantil e
de seu manto de espiritualidade. A título de reavivamentos e
renovações o cristão moderno se alimenta de todo o tipo de
novidades, menos a novidade de vida (Rm.6:4). Aquele
evangelho envelhecido, desgastado, superado e esquecido
não é mais uma "boa nova". "É preciso adequar o evangelho ao
nosso tempo, é preciso atualizá-lo", dizem os cristãos
modernos. Talvez seja esta a razão porque uma das Igrejas
Presbiterianas dos Estados Unidos autorizou a oficialização
da união de homossexuais, bem como em Nova York
ordenou um homossexual ao ministério pastoral (Folha
online de 24/11/99). Ou quem sabe isto explique a presença
do deputado José Aleksandro da Silva, tanto na Igreja
evangélica, como na CPI do narcotráfico, onde é suspeito de
participação no crime organizado (Folha de São Paulo
05/11/99). Se esta é a atualização que se pretende para o
evangelho, precisamos voltar ao antigo evangelho de Pedro,
João e demais discípulos.
Precisamos voltar ao evangelho de Davi e dos Salmos
que, mesmo antes do nascimento do Cristo, já anunciava suas
Boas Novas. Não podemos mais tolerar este cristianismo
pragmático, irrefletido, que não pensa antes de agir. Esta
indisposição para refletir, pensar e repensar tem tornado o
cristianismo ignorante, legalista, supersticioso e fanático. É aí
que nos lembramos de Davi e dos salmos, frutos da
meditação (SI.1:2), da observação (SI.119:55), da percepção e
da compreensão (SI.92: 5,6). O cristianismo moderno
roubou-nos a vontade e a prática de contemplar os céus, a
lua e as estrelas e ver neles os dedos de Deus (SI.8:3); de
contemplar a justiça e ver nela a face de Deus (SI. 17:15); de
contemplar as obras de Deus e ver nelas o Deus soberano
(Sl.46:8-10). Não é por acaso que aqueles que seguem este
evangelho moderno naufragam na água rasa de seu
conhecimento.
Onde está aquele evangelho que mudou a vida de
Zaqueu, de Paulo e de muitos outros? O evangelho moderno
não transforma, adapta; não converte, recicla; não altera,
concilia. Em outras palavras no cristianismo contemporâneo
não é preciso fazer morrer o velho homem (Col.3: 5-11),
basta reencarná-lo no "novo" homem. Este cristianismo
superficial, sem mudanças ou transformações não faz mais
diferença. É o evangelho da semelhança, não a Cristo (Rm.
8:29), mas ao mundo (Jo.17:14). Cristianismo que ora como
os fariseus e gentios (Mt.6:5-8), que trata o próximo como
fazem os governadores dos povos (Mt.20:25-27), que vive a
família como alguns contemporâneos de Paulo (I Tm. 5:8). O
problema desse cristianismo é que ele está aberto tanto à
palavra de Deus como à vontade dos homens; tanto à
santidade como ao pecado; tanto a Deus como ao diabo. O
problema desse evangelho é que ele é aberto demais.
Precisamos na igreja de hoje de mais viúvas pobres,
como aquela de Lc.21:1-4. Para ela o dízimo e a oferta eram
prioridades, não uma moeda de troca e nem um item
supérfluo do orçamento. Isto porque, para a viúva a fé não
se comercializa, não se vende, não se troca. Este cristianismo
mercantil que compra bênçãos é o mesmo que retém sua
oferta. O sentimento que leva alguns cristãos a trocar Reais
por graças e misericórdias é o mesmo que leva outros cristãos
a não entender a graça de dar, a saber: o amor ao dinheiro (I
Tm. 6:10). Uma das marcas distintivas desse "novo"
evangelho é esta hipervalorização de bens e recursos
materiais que tem levado alguns cristãos a servirem a Deus e
às riquezas (Mt.6:24). É curioso como os críticos da teologia da
prosperidade corretamente não depositam suas esperanças
no gazofilácio, mas infelizmente o fazem na riqueza (I
Tm.6:17-18). O problema desse evangelho é que ele não é
viúvo, mas está muito bem casado com os bens materiais.
Creio que precisamos voltar ao primeiro amor, à
prática das primeiras obras (Ap.2:4,5). É hora de dizer não a
esta modernização do cristianismo, a este tipo de atualização
do evangelho. É preciso cantar como nossos pais:
"Conta-me a velha história
Que fala ao coração
De Cristo e sua Glória,
De Cristo e seu perdão" (HP. N°227).
As Marias do Brasil
O Brasil é conhecido como o país do futebol. Apesar
dos dissabores, futebol aqui é mais que esporte, é religião. É
caracterizado como o país do carnaval, enredado pelo
descontrole moral em nome da "arte". É o país da corrupção,
marcado pelos escândalos democráticos que não poupam
políticos e empresários, pobres e ricos, patrões e empregados,
jovens e idosos. Aqui é o país dos desmandos, da
impunidade, da violência, e de todos os vícios sociais, que
escravizam seus súditos de forma cruel e implacável. É o
Brasil das diferenças sociais, das diferenças raciais e da
indiferença sexual, posto que a banalização do sexo é
assistida de forma omissa e passiva pelas autoridades tanto
civis, como religiosas. Mas em particular, este é o país de
Maria.
Talvez devêssemos dizer das Marias, pois dado a
versatilidade e pluralidade da religiosidade brasileira Maria
é mais que uma personagem bíblica, é a expressão múltipla
da fé sem entendimento, de devoção sem dedicação. Ela é a
Maria dos pescadores, dos sem terra, dos atletas, dos
desempregados, dos taxistas, dos bêbados, etc. Carrega
consigo inúmeros títulos que lhe são atribuídos por seus
devotos: Protetora, Rainha da Paz e Mãe de Misericórdia.
Empresta seu nome a hospitais, farmácias, bairros, bares e
pessoas. Sua imagem é adorada por muitos, contudo é
tratada com desprezo e agressão por outros. E em cada uma
dessas ocasiões não nos parece uma única e mesma Maria.
Nem tão pouco se assemelha àquela que conhecemos na
Bíblia.
Ela é a Maria dos místicos carismáticos e dos
conservadores católicos, e ao mesmo tempo a Maria dos
animistas dos cultos afro-brasileiros. É a eclipsada Maria dos
protestantes, como é também a eclética Maria dos espíritas.
Venerada pelos padres, mal compreendida pelos pastores,
usada pelos espíritas e invocada pelos pais e mães de santos.
Perplexos assistimos a essa procissão de desencontros, a
essa peregrinação de desentendimentos, à caminhada sem
caminho. A multidão dos que a seguem e a outra, dos que a
perseguem, falam tão alto que não temos ouvido sua voz.
Esta não pode ser ouvida nas sessões espíritas, sejam
kardecista ou sejam dos cultos afros; Nem tão pouco
ouviremos em aparições como se ela fosse uma "Aparecida".
Se queremos ouvir sua voz, devemos olhar para a Bíblia, é ali
que Deus a vê e nos faz ver quem verdadeiramente ela é.
Nessas páginas encontramos a adolescente Maria
visitada pelo Espírito de Deus, dedicando-se ao Senhor para
que nela se cumprisse o propósito para o qual fora chamada
(Lc. 1:38). Não encontramos a Maria adorada, mas a Maria
adoradora, que engrandece o nome do seu Senhor ( Lc. 1:46).
Não a senhora, mas a Maria serva e humilde, que reconhece
não ser digna de trazer no ventre o Filho de Deus (Lc. 1:48).
Nessas páginas não há sinal de uma Maria abençoadora, mas
da Maria abençoada, bem-aventurada, pelo Deus Altíssimo
( Lc. 1:47). Nem tão pouco encontramos nessas passagens
uma Maria salvadora, mas a Maria pecadora que reconhece
sua necessidade de salvação em Cristo ( Lc. 1:46). É verdade
que lá está a Maria de dores, ao pé da cruz (Jo. 19:25), mas
também a Maria de fé e oração, que aguarda a promessa do
seu Senhor ressurreto, Jesus.
Carnaval dos 500 anos ou 500 anos de
Carnaval
O enredo deste carnaval já está escolhido, por onde
quer que se olhe os 500 anos do descobrimento do Brasil está
presente. Escolas de samba, clubes, fantasias, enfim tudo se
relaciona ao descobrimento. Há quem diga, até, que este é o
carnaval dos 500 anos. Mas, refletindo mais sobre a atual
circunstancia que vivemos, é mais apropriado dizer que há
500 anos vivemos um carnaval perene e constante. Às vezes nos
esquecemos que ele existe, ou quem sabe pensemos que a
euforia passou, mas a dura verdade é que basta uma
oportunidade para que tudo se transforme num imenso
carnaval.
Temos evidências seguras de que o nosso carnaval
dura bem mais que uma semana, observe como i o carnaval
dos 500 anos nos traz uma sensação de vazio. Comemorar o
que? Festejar para que? Há 500 anos a sociedade busca uma
alegria sem sentido, é a lesta pela festa. Esta felicidade fútil
revela uma sociedade desesperada por encontrar significado
para sua vida. São salões cheios de pessoas vazias, multidões
que se acotovelam em meio a nada, é apenas carnaval.
Sabemos que não são 500 anos de carnaval, mas seguramente
são 500 anos de futilidade, passados no país da frivolidade.
Enquanto se discute o auxílio moradia dos responsáveis pela
justiça, as "moradias"dos favelados desabam sobre as suas
cabeças. Noticiam-se as lágrimas da "rainha dos baixinhos" com
a mesma gravidade com que se exploram as lágrimas dos
"baixinhos" sem teto e sem comida. Os sambas-enredo das
Escolas são tão importantes quanto a ausência e a pobreza
das escolas de verdade. Governa-se não se sabe para que,
vota-se não se sabe porque, caminha-se não se sabe para onde,
de fato é um carnaval. A recente publicação da professora
Míriam Goldemberg revela a impressionante estatística de
que 68% dos homens e 43% das mulheres já traíram seus
cônjuges. Como diria Salomão: "...no lugar do juízo reina a
maldade, e no lugar da justiça, maldade ainda,... porque tudo é
vaidade. "(Ec.3:16 e 19)
Carnaval também é uma boa palavra para definir a
pluralidade da fé de nosso povo. 500 anos de busca de uma
identidade religiosa, que se assemelha mais a um carro
alegórico que a uma fé religiosa. É um carnaval de ofertas,
uma feira das vaidades, onde as pessoas participam de
tudo, usando suas fantasias religiosas para darem sentido as
suas vidas e para cultuarem não se sabe quem, pois
conhecer a Deus não é mais essencial à adoração.
Contemplar o cenário religioso brasileiro é como uma
pessoa assentar-se no sambódromo assistindo aos
movimentos religiosos desfilarem suas contradições e a
vergonha de suas incoerências. Quebra de maldições, cura
interior, maldições hereditárias, batalha espiritual, da
maneira como são cridos e divulgados, parecem mais temas
de carnavalescos que assuntos de teólogos. O movimento G-
12 e o Encontro são apenas mais uma teologia que desfila
apoteóticamente deixando para trás a sujeira do dia seguinte
e o vazio de alma. A este arrastão chamam "evangelização",
onde o alvo final é o prazer do homem. É salutar lembrar-nos
das palavras de R.B.Kuiper: "O objetivo final e mais elevado
da evangelização não é o bem estar dos homens nem mesmo sua
bem-aventurança eterna, mas a glorificação de Deus."
Quem dera se ao invés de comemorarmos um
duvidoso descobrimento, pudéssemos comemorar os 500
anos da reforma protestante ocorrida em 1517. Aliás, é dela
que precisamos, uma reforma da fé, uma reforma de valores.
Quem dera estivéssemos vivendo 500 anos de uma
constante e perene reforma, na sociedade e na política, na
família e nas igrejas. Uma reforma que nos livrasse das
filosofias e vãs sutilezas (Col. 2:8), das propostas humanas,
das visões e revelações fraudulentas, dos líderes soberbos
de religiões carnavalescas e passageiras. Talvez ainda
possamos ouvir o conselho de Salomão, a saber, "De tudo o que
se ten ouvido, a suma è Teme a Deus e guarda os seus
mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem"
(ECL.12:13).
Celebração ou Lamento?
Longe dos gabinetes pastorais, das discussões
teológicas, das definições sociológicas, dos púlpitos das
igrejas, foi se formando ao longo do tempo um conceito do
que vem a ser a igreja. Um conceito que não vem das
constituições, dos estatutos nem regulamentos. Mas um
conceito que nasce do dia a dia, das impressões pessoais, das
informações parciais recebidas a meia voz, das conclusões
obtidas a partir de nossas preferências, desejos, interesses de
nossa parcialidade. Tal conceito é inevitável, e faz surgir um
abismo entre a Igreja que aprendemos e a Igreja que
conhecemos, entre aquela que devia ser e aquela que é, entre
a que esperávamos que fosse e a que descobrimos que
sempre foi. Desse hiato surgem desilusões, frustrações, e
uma variedade de sentimentos ambíguos para com esta
igreja que amamos e, às vezes, desprezamos.
Este conceito prático e experimental revela não a
fragilidade da igreja, mas de si mesmo e de nossos ideais
eclesiásticos, muitas vezes erguidos a partir de falsas
expectativas e não da Escritura. Esta sim nos traz um conceito
exato e preciso do que a igreja é e deve ser. Como no caso de
Colossenses 4: 10-17 onde Paulo saúda a igreja que tanto ele
conhece como define teologicamente. Nesta passagem
vemos, aos olhos de Paulo, e principalmente, devido à
inspiração, aos olhos de Deus, o que a igreja é.
A igreja são pessoas, não coisas. Não é um lugar para
onde vamos, mas um povo ao qual pertencemos. Ou seja,
você não apenas está, mas é igreja. Ao saudar a igreja Paulo se
refere a pessoas, não a coisas. O processo de coisificação e a
impessoalidade fazem parte do nosso ambiente
contemporâneo e têm roubado de nós a possibilidade de
encontrarmos o que buscamos, ou seja, o amor. Não é de se
admirar que a igreja se tenha tornado para muitos uma
espécie de repartição pública onde o patrimônio tem mais
importância que as pessoas, ou quem sabe um clube onde
todos estão ao mesmo tempo, mas cada um fazendo o que
deseja. Deus nos lembra que a igreja são pessoas e não coisas,
posto que coisas nós usamos e pessoas nós amamos e por elas
somos amados.
Em segundo lugar, o texto nos relembra que na igreja
de Deus não há acepção de Pessoas. Ao citar nomes
judaicos (Arístarco, Marcos e Jesus, o justo) e nomes
gentílicos (Epafras, Lucas e Demas), Paulo está demonstrando
que as pessoas mencionadas no parágrafo anterior não são
vistas por Deus, e nem se vêem, a partir de suas origens e
nacionalidades como em sua época. E nem a partir de seus
cargos, patrimônios e posição social, como em nossa época.
Além disso, esta igreja é composta de pessoas
restauradas, porém não infalíveis. Como no caso de Marcos
(At. 15:36). A compreensão da falibilidade da igreja é
importante porque evita que nossas expectativas nos
conduzam a decepções e frustrações. Contudo, esta igreja é
sustentada por Deus através desses mesmos homens falíveis
e pecadores. Paulo os chama de Cooperadores (vs. 10), e pode
ver neles um esforço contínuo e exaustivo (vs. 13). Uma
dedicação de pessoas a outras pessoas com o objetivo de
conservar estas últimas perfeitas e plenamente convictas da
vontade de Deus. Mas principalmente a igreja é sustentada
pela Palavra de Deus. É nela que a igreja é confortada (vs. 18),
exortada e animada.
Assim, os nossos sentimentos continuam ambíguos,
por um lado estamos felizes por aquilo que a igreja é, por
outro frustrados por causa daquilo que gostaríamos que ela
fosse; dos mesmos lábios procedem louvores e críticas
mordazes, gratidão e imprecações; magoamos as mesmas
pessoas que pretendemos amar. Que Deus nos ensine a ver a
igreja com seus olhos, e assim celebremos vidas e não coisas,
pessoas e não conquistas, gente e não bens, povo e não
instituição.
Crise no Altar?
Na crise aumentam-se os altares. Foi o que ocorreu
com o rei Acaz, que diante da ameaça da invasão do
exército sírio estabeleceu aliança com Tiglate-Pileser, rei da
Assíria, e determinou a construção em Jerusalém de um altar
que viu em Damasco (II Re. 16). Este novo altar dividiu o
espaço e atenção do povo com o altar do Senhor (II Re. 16:14), e
seu propósito principal foi agradar o rei da Assíria (II Re. 16:18).
O Altar era o local onde se imolavam sacrifícios, e, portanto
onde o homem se apresentava a Deus. Ali, se deposita não
somente o sacrifício, mas a fé, a esperança e a gratidão. Por
esta razão várias vezes vemos referência a altares estranhos em
Israel, principalmente em tempo de crise. Nessas ocasiões os
homens não medem esforços nem recursos, ignoram a lógica, a
ética e as pessoas na tentativa de alcançarem seus objetivos.
Segundo o relato bíblico Acaz chega ao absurdo de matar,
através de um sacrifício, o próprio filho em um de seus altares.
(II Re.16:3).
A multiplicação de altares é no mínimo um contra-senso.
Jesus descarta tal proposta ao ensinar que não podemos
servir a dois senhores (Mt.6:24), ou seja não se pode sacrificar
a Deus e às riquezas (ou Mamom). É significativo que este
ensino precede a longa exortação de Cristo quanto a
ansiedade (Mt.6:25-34), fica claro assim que a ansiedade
proveniente de crises, inclusive a financeira, é uma forte causa
da multiplicação de altares que marca o nosso tempo. As crises
e suas ansiedades têm gerado inúmeros altares: novos,
modernos, tecnológicos, maquiados, adaptados, mais ainda
assim, altares estranhos. Tal como Acaz não nos importamos
com os meios para alcançarmos os nossos alvos.
Erguemos outro altar quando a nossa ansiedade sufoca
a nossa gratidão; quando as nossas preocupações ignoram a
nossa fé; quando as nossas crises nos impedem de confiar
em Deus. A crise se instala no altar quando tentamos servir
a Deus e às riquezas; quando justificamos nossa
infidelidade, quando perdemos o senso de valor; quando não
temos critério para avaliar o que de fato é importante e o que é
dispensável. Nessa ocasião aborrecemos a Deus e nos
devotamos às coisas, amamos os bens e desprezamos o
Senhor. Como Acaz entendemos que um reino próspero
vale mais que a vida do próprio filho; que a liberdade (seja
ela de qualquer natureza) é mais importante que a
obediência. Erguemos altares tanto para o entretenimento
como para a ansiedade, tanto para a crise como para diversão,
tanto para o patrimônio como para a dificuldade. E a eles
apresentamos nossos dízimos e ofertas.
A nossa prática financeira está mais próxima de
Senaqueribe que de Ezequias. O primeiro foi um rei da
Assíria que criticou e zombou do segundo, rei de Judá, por
ele ter determinado a seu povo que se prostrasse diante de
um único altar, o de Deus (II Cr. 32:12). Para Senaqueribe um
altar não basta, um só Senhor é pouco, uma só fé é insuficiente.
Na crise Ezequias confiou no Senhor, a Ele serviu e por Ele
foi liberto da ameaça (II Cr.32:21-23). Diante da crise, da
ameaça, das oportunidades e alternativas cabe-nos decidir, ou
como exortou Josué, Hoje escolhei a quem sirvais...(Js.24:15).
A Força da Franqueza
... Da fraqueza tiraram forças... (Hb. 11:32 - 38)

Fala-se muito em poder. É exigido que se passe pelo


"batismo de poder", pregue a mensagem de poder, laça a oração
de poder. O chamado "Dynamis"( poder) é buscado através dos
dons, ministérios e outros tipos de atividades espirituais. Não
se admite uma igreja que não manifeste poder, não se concebe
ministros sem poder, não se aceita louvor sem poder. O
poder está sob controle, pode-se usar, abusar, ou não usar. O
poder é o domínio sobre o inimigo, sobre as circunstancias
da vida, sobre a enfermidade, sob a calamidade, etc. Crê-se
que as declarações de poder ou o ato de "profetizar sobre
alguém" sejam as mais autênticas manifestações de poder e
que estar sujeito às vicissitudes da vida é prova de ausência
de fé, ou quem sabe de fé fraca e débil. Já se afirmou até
(através de uma estranha teologia) que "há poder em suas
palavras", tudo o que precisamos fazer é ter fé e declará-la. O
que não se disse ainda é que há poder na fraqueza.
A fraqueza é sinal de falta de fé, de debilidade
espiritual, de ausência de convicções. Fraqueza é sinônimo
de fracasso, de derrota em dias em que se exige da igreja a
vitória. O fraco não triunfa, não supera, não vence, não
ultrapassa os obstáculos, não recebe o prêmio, não se alegra.
A ele está reservado o ostracismo, o esquecimento, o
subsolo da fé, onde ninguém o vê ou sabe de sua existência. O
fraco é inútil para o trabalho, um peso a ser carregado,
merecedor de compaixão, nunca de respeito. Sua oração é
ineficiente, sua pregação não converte, seu louvor não
emociona. Fraqueza e poder são realidades excludentes,
inconciliáveis, não se pode ter poder na fraqueza.
Contudo, de maneira paradoxal, a Escritura afirma
que foi na fraqueza que homens como Gideão, Baraque e
Sansão encontraram poder (Hb. 11:32-34). O poder estava na
vitória (vs.33-35) como na aparente derrota (vs.36,37). Talvez
seja esta a razão porque Paulo afirma repetidas vezes que sua
glória estava em sua fraqueza (II Co. 11:30), Não somente a
sua glória, mas chega a firmar que sentia prazer em suas
fraquezas (II Co. 12:10). Esta estranha afirmação de Paulo
ocorre exatamente quando ele nos conta que sua vontade não
fora atendida e que não fora capaz de se libertar "do espinho
na carne ou mensageiro de satanás. "
Não é verdade que não exista conciliação entre
fraqueza e poder, o que não se concilia é a soberba e o poder,
refiro-me ao poder de Deus. Uma religião soberba, uma
espiritualidade orgulhosa não é religião de poder, mas apenas
manifestação de ensoberbecimento. Ou já nos esquecemos
que Deus nos chamou por sermos fracos (I Co. 1.21). Lembre-
se que o segredo do sucesso da evangelização de Paulo entre
os Coríntios não estava em seu poder, mas em sua fraqueza
(I Co. 2:3, cf. Gal.4:13). É somente diante desta verdade que
compreendemos a diferença que existe entre um poder
humano e a fraqueza divina (I Co. 1:25).
Creio que temos muito a aprender com as fraquezas
de nossas vidas, não a fraqueza moral e ética, uma fraqueza
pecaminosa que justifica nossos maus hábitos e vícios. Mas a
fraqueza daqueles que entendem que o poder vem de DEUS. O
que Deus pretende ensinar é que o momento de fraqueza
pode ser a oportunidade para a confiança e a fé. Pois ele
mesmo diz que "o poder se aperfeiçoa na fraqueza" (II Co. 12:9) E
que nossa força está em nossa fraqueza e dependência e não
em nossa soberba (II Co.12:10). Não é baseado em uma auto-
confiança, ou em uma fé autônoma que havemos de viver a
vida cristã, mas através da fraqueza, conforme o exemplo de
Cristo (II Co. 13:4). É preciso repetir as palavras de Davi:

"Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma de


meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade".

Para que possamos como ele declarar:

"E eu Senhor, em que espero? Tu és a minha


esperança".
Dependência da Independência

Independência não é apenas uma comemoração cívica,


não se refere unicamente à libertação do país e não se
restringe a uma data histórica. Independência é um ideal, um
alvo de vida, um objetivo maior, quase uma obsessão. Desde a
revolução francesa a Independência deixou a esfera do
anseio nacionalista e se tornou um ideal humanista que tem
permeado a sociedade e determinado valores. Os pais
educam seus filhos para serem independentes (inclusive de
Deus). O movimento feminista elegeu a independência como
um valor maior que família, maternidade e casamento. Para
elas independência é sinônimo de dignidade. Enfim, somos
incentivados a alcançar todos os tipos de independência,
como a independência financeira e, até mesmo, a
independência emocional.
A ironia é que, quais adolescentes que se drogam para
afirmar a própria liberdade, nos tornamos dependentes da
independência. São homens e mulheres solitários, mas não
solteiros, em busca de independência. Não q u e r e m
d e p e n d e r emocionalmente de ninguém, são monumentos
da auto-suficiência viciosa, que escraviza e não liberta. Jovens e
adolescentes absorvidos pelos seus projetos de vida
egocêntricos e ensimesmados, "predestinados" à escravidão
do sucesso que se traduz na independência. Profissionais
workaholics cujas performances cada vez mais autônomas
mascaram a sua dependência das exigências do mercado
idólatra. Até a maternidade tornou-se "produção independente", e
com a possibilidade de clonagem humana a própria
maternidade pode se tornar independente de pai e mãe. Esta é
a independência que celebramos, comemoramos e
ansiosamente buscamos.
Assim como o nosso país, conquistamos a
independência, mas não da dominação, pois demos o "grito
de independente" das regras, leis, ética, mandamentos e
ordens. Abolimos tudo que tem aparência de dominação e
nos tornamos dependentes da corrupção, da filosofia
humanista, da idolatria do prazer, da ambição avarenta,
enfim, de todos os modelos de felicidade solitária. Tudo o
que conseguimos com os nossos projetos de independência
foi a alienação de Deus e o afastamento do próximo. "Então
considerei outra vaidade debaixo do sol, isto é, um homem sem ninguém,
não tem filhos nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se
fartam de riquezas, e não diz: Para quem trabalho eu...? (Ecl. 4:7,8).
A eficiência não promove a independência, pelo
contrário, requer dependência (Col. 1:29). A felicidade não é
auto-suficiência, mas dependência de Deus (Tg. 1:25). Ou não
cremos mais que "...o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do
Senhor, aí há liberdade" (II Coríntios 3:17).
Dizimando o Dízimo
A Prática religiosa contemporânea tem trazido várias
conseqüências à vida cristã dos evangélicos. Entre elas a
deturpação da contribuição feita às igrejas. Dízimos, ofertas,
campanhas, colaborações, seja qual o nome que adotemos,
estamos diante da polêmica gerada em torno do dinheiro.
Loucura ou engodo para uns, prova de fé para outros, a
verdade é que tal contribuição é vista como dispensável ou
desnecessária para a maioria dos membros de igrejas. Assim,
ao invés de dizimar (entregar a décima parte) o seu dinheiro,
os membros das igrejas estão dizimando (destruindo,
matando) a prática de dar.
Deveríamos nos lembrar que o templo construído por
Salomão foi fruto de contribuições solicitadas por Davi (I Cr.
29), e sua reconstrução foi possível graças às ofertas do povo
de Deus (Ageu 1: 1-11). De acordo com Dt. 14: 22 - 29, o
dízimo era dado para suprir as necessidades dos levitas e do
templo. Paulo orienta os coríntios a contribuírem para o
socorro dos irmãos (I Co. 8:1 -15), e agradece a contribuição
missionária da igreja de Filipos (Fil. 4: 10 - 20) . Portanto,
afirmar que os trabalhos da igreja dependem das nossas
contribuições não é vergonhoso. Vergonhosas são as
justificativas encontradas para não contribuir: discordância
da administração, crise financeira, esquecimento,
aborrecimento com a igreja, discordância doutrinária, mau
uso da prática em outras igrejas ditas evangélicas, etc. A
verdade é que não precisamos de mais razões para não dar,
pelo contrário precisamos de razões para dar. Por isso
vejamos porque contribuir é necessário. • É obrigação - Tanto
o Antigo como o Novo Testamento afirmam que dar dízimos
e ofertas é questão de obediência (Mal. 3: 6 - 12; I Jo. 3:17).
Importante é a palavra de Cristo diante da prática dos
fariseus de darem os dízimos e negligenciarem a
misericórdia e a justiça, ele diz: "...devíeis, porém, fazer estas cousas,
sem omitir aquelas". Para Jesus "contribuição" é uma questão de
dever.
• É privilégio - Deus em sua infinita sabedoria nos dá
mandamentos que são ao mesmo tempo obrigação e graça.
Dar a Deus e à sua igreja tempo, esforço e inclusive o
dinheiro é benção (At. 20:35). Ou não é privilégio e
motivo de alegria (II Co.9:7) participar da obra de Deus e
contribuir com o seu reino? Lembre-se, tal graça, Deus
não dá a todos.
• É mordomia - Freqüentemente Jesus fala da mordomia de
seu povo em termos de dinheiro, Lc. 16: 1 - 13 é um
exemplo de como Deus espera que administremos os bens
materiais. Ele afirma: "Quem é fiel no pouco também é fiel no
muito...". Tudo pertence a Deus (I Cr. 29: 11e12), somos
apenas administradores, mordomos.
• É um ato de culto - Quando Israel cultuava ao Senhor, o
fazia através de sacrifícios, assim oferecer ou sacrificar
tornou-se sinônimo de culto. Por esta razão Hebreus nos
diz que a "mútua cooperação" está relacionada ao ato de
adorar (Hb. 13:15,16).
• É um investimento - Jesus nos ensina a investir no céu
(Mt. 6:19 - 21), quem contribui não deve esperar receber
aqui, mas ao dar o dízimo e oferta para o reino acumula
tesouros em Deus. Esta é a mesma razão porque Paulo
identifica a prática de contribuir com a semeadura e a
colheita (II Co. 9:6).
• É um ato de auto-sacrifício - Jesus nos ensinou que para
segui-lo é necessário atos de auto-negação (Mt. 16:24),
isto não significa um voto de pobreza, mas implica em
termos como prioridade na vida agradar a Deus e não a
nós. Assim, quem dá não deve esperar recompensas,
senão a satisfação de Deus (Hb. 13:16).
• E uma manifestação de amor fraterno - Como nos lembra
João, não podemos amar só de palavras, mas de fato e
verdade (I Jo. 3:18), ou seja, compartilhando as
necessidades dos irmãos (Rm. 12:13). Por esta razão é de se
esperar que a igreja não dizime o dízimo, mas dizime com o
dízimo.
E os Outros 500 anos?
E Cabral descobriu o Brasil..., estranha expressão para
quem apenas encontrou estas terras. Estava tudo aqui bem
antes de sua chegada. Não se trata de menosprezar o feito de
uma viagem sob riscos de naufrágios e de enfermidades.
Não se trata de negligenciar os ideais, mesmo que mercantis.
Trata-se da constatação de que nem ele e nem a coroa
portuguesa inventaram o Brasil, eles não fizeram esta terra e
nem mesmo determinaram a existência de outros que aqui já
estavam. A maneira como os "500 anos "têm sido saudado e
comemorado revela a nossa visão secular da história,
ignorando a concepção da história do ponto de vista cristão.
O conceito contemporâneo de história (não somente de
história (geral, mas até mesmo de nossa história pessoal e
particular) não é mais determinado pela existência de Deus e
pela fé em sua soberania. Pelo contrário a história é
independente e autônoma. Alguns a vêem como uma
sucessão de fatos, acontecimentos que se repetem,
coincidências. Outros não vêem sentido nem propósito na
história, ela é apenas o resultado de decisões pessoais e
coletivas.
Mas há outra forma de ver a história, e por isso, outra
maneira de se interpretar os "500 anos ". E preciso lembrar que
o ponto de partida não é a descoberta, mas a criação. Cabral
descobriu o que Deus criou. Isto implica no fato de Deus ter
planejado e ter estabelecido propósitos para a terra que ele
criou, e até mesmo para a descoberta de Cabral. Em outras
palavras a história não é autônoma, mas se move conforme a
soberania de Deus. Hendrickus Berkhof expressa bem o
espírito de nossa época quando afirma: A igreja de Cristo do
século XX é espiritualmente incapaz de resistir a rápidas
mudanças que acontecem ao seu redor porque ela não aprendeu a
ver a história na perspectiva do reinado de Cristo. " Sendo assim
faríamos bem ao lembrar de outros 500 anos.
Deveríamos nos lembrar dos 500 anos de providência
divina (SI. 104 ). Foi Deus quem sustentou, guardou, dirigiu
esta terra, mesmo antes de sua descoberta. Sem Deus Cabral
não chegaria ao mundo novo. Ver em Deus esta providência
não significa anular a responsabilidade humana, e nem
atribuir a Deus a falência sócio-econômica do Brasil, mas
enxergar propósitos nessa história. Devemos nos lembrar
ainda do 500 anos de tolerância, nos quais Deus tem nos
tratado com misericórdia apesar do pecado e da corrupção
do povo brasileiro; apesar da sociedade rebelde, idólatra e
sensual; apesar dos inúmeros Nicéias e Pitas de nosso país;
Deus tem tolerado os nossos pecados e não nos tem tratado
segundo as nossas obras ( Mq.7:18,19 ). São 500 anos de
bondade, de! graça imerecida, de amor incondicional. As
catástrofes, os poderes políticos, a desigualdade social, não
estão fora de controle.
É preciso crer que, como na história do Brasil, em nossa
história pessoal Deus tem o controle e intervém. Que tem
planos até para o sofrimento e a dor, que todas as cousas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm. 8:28).
Ou como afirma Pink: Estamos, sem dúvida, no limiar de uma
crise mundial, e, em todos os lugares, os homens estão alarmados.
Mas Deus não! Ele nunca se surpreende. Não há emergência
inesperada para Deus, pois ele faz todas as cousas conforme o
conselho de sua vontade (Efl:ll). Portanto, embora o mundo seja
tomado de pânico, a palavra para o crente é: não temas. Todas as
coisas estão sujeitas ao controle imediato de DEUS.
Entre a Santa e os Apóstolos
O Brasil já foi chamado o país dos contrastes, onde as
diferenças eram tão marcantes que nos davam a impressão de
um continente, não de um país. Sua biodiversidade, bem
como suas múltiplas culturas foram cantada em versos e
prosas, poeticamente entendidas, mas nem sempre
criticamente analisadas. É o Brasil de todas raças e todos os
credos. No campo religioso então, sempre fomos destacados
na formação de novos modelos, e de uma diversidade de fazer
inveja a panteões clássicos. Contudo, alguns fatos recentes
vêm demonstrar que apesar da diversidade e pluralismo
religiosos, em se tratando de concepção religiosa, ou de
conduta religiosa, os opostos estão mais próximos do que se
supunha. Refiro-me à recente decisão de se canonizar a
primeira santa brasileira, e a mais nova "moda" no chamado
meio evangélico, a "canonização " de apóstolos.
Aparentemente são fatos isolados, de crenças opostas,
por motivos diferentes. Vistos mais de perto, revelam uma
semelhança surpreendente. Por exemplo, ambos são
escolhidos por meio de critérios que consideram o
ministério, e mais propriamente o ministério operado por
meio de milagres e sinais como a atestação de suas funções.
Um grupo de homens, revestidos de autoridade para julgar
os fatos e atestar a veracidade do milagre ou do desempenho
ministerial, elegem aqueles que devem ser considerados
sucessores do poder ou autoridade apostólica. A santa
investida em seu cargo passa a ser intercessora e mediadora,
o apóstolo revestido de seu poder exerce sua função de
representante de Deus. E subjacente aos dois casos está a
doutrina da sucessão apostólica.
Um outro aspecto onde a similaridade se apresenta
está no fator político religioso ligado às duas "sacralizações".
Inegavelmente, a primeira santa brasileira, que nem mesmo
é brasileira, atende ao interesse de reavivar a fé católica em
nossa terra. Trata-se de uma medida com vistas a preservar a
fatia no concorrido mercado da fé. Por semelhante modo, o
apostolado evangélico atende ao mesmo interesse. Ainda no
campo político nota-se a mesma motivação nacionalista. Se
por um lado temos a primeira santa brasileira, por outro
temos o apóstolo para o Brasil. Digno representante nacional
na Rede Internacional de Apóstolos. O nacionalismo
religioso, assim, justifica o surgimento de novos ícones da
religiosidade pluralista e sincrética de nosso país.
Assim vamos nós, vivendo entre a santa e os
apóstolos, em meio a diversidade da fé, em meio ao
pluralismo pós-moderno, em meio a uma religiosidade
ensimesmada e antropocêntrica. Homem no lugar de Deus,
obras no lugar da Graça, pragmatismo em lugar da ética,
religião no lugar da fé. Assim vivemos nós o desafio de
nosso tempo, sermos fieis à Palavra, sermos humildes perante
Deus, sermos verdadeiros perante os homens, sermos sal e
sermos luz, sermos filhos e sermos servos de Deus.
Aprendermos o caminho dos seus estatutos, e os guardarmos
até o fim (SI. 119:33).
Esquecendo Deus na Igreja

Esquecimento. Esta é uma palavra cada vez mais


presente em nosso dia-a-dia. Freqüentemente nos esquecemos
de objetos, datas, números, nomes... Não há quem possa se
escusar dessa falta. Crianças e adultos, jovens e idosos, todos
já se esqueceram um dia do aniversário de alguém, de um
compromisso, do nome de alguma pessoa, etc. Inventamos a
agenda para não esquecermos aquilo que julgamos
importante, contudo nos esquecemos de anotar nela o que é
importante. Ou então a esquecemos em algum lugar. Enfim,
a verdade é que o esquecimento é companheiro de todos nós.
Na igreja, por exemplo, o departamento de achados e
perdidos, bem poderia se chamar "achados e esquecidos".
Perder não define bem o que aconteceu com os objetos ali
depositados. E o que mais se esquece na igreja? A Bíblia. E
alguns só se dão conta de que a esqueceu no momento de voltar
para a igreja.
Mas não é só a Bíblia que temos esquecido, os cristãos
também estão esquecendo Deus na igreja. Sabemos que Deus
não é um objeto para ser esquecido pelo homem, e nem está
confinado à memória de homens caídos, mas por algum
motivo os cristãos não estão levando a memória da presença de
Deus consigo, assim tal memória permanece guardada na
igreja. Não é possível determinar quando o esquecimento de
Deus ocorre, pode ser na manhã do dia seguinte quando nos
defrontamos com a correria, já aceita por nós como padrão
de vida. Ou quem sabe o esquecimento ocorra quando, ao sair
da igreja chegamos em casa ou damos uma "esticadinha" na
lanchonete, e nos envolvemos com as atividades que
enganosamente chamamos de normais. Em muitos casos,
isto acontece na saída do templo após o culto. Tão logo
termina o nosso momento de adoração, passamos para um
outro, no qual esquecemos de incluir Deus. Tal esquecimento
pode se, diagnosticado facilmente, prestemos atenção em
nossos "papos" na porta da igreja. Observemos o nosso diálogo
com familiares e amigos, e verifiquemos se Deus faz parte
de nossos assuntos no trabalho, na escola, ou nas horas de
lazer. Enfim, nossas atitudes, palavras, pensamentos,
sentimentos se afastam de Deus tão logo deixamos a igreja.
Em geral, a grande justificativa para o esquecimento
sempre foi a ocupação. Estamos sempre ocupados o
suficiente pra que Deus não tome parte em nossas
atividades. Nossa agenda cheia não tem espaço para Deus
nem para as coisas de seu reino. Isto me faz lembrar o relato
de um executivo de uma grande empresa, importante e
muito ocupado, que encontrou um pescador, membro de
sua igreja, numa tarde, com a calça dobrada até o joelho,
ajudando seus dois filhos a pegar conchinhas na praia. Logo
ele perguntou: -"Porque você não está pescando?" Ao que o
pescador respondeu: - "Porque já pesquei o suficiente para hoje ". E
porque você não pega mais peixe? " Perguntou O executivo "E o que
eu faria com eles?" Devolveu-lhe a pergunta, o pescador.
"Você poderia ganhar mais dinheiro, e então poderia comprar um
barco melhor, e aí pescaria mais longe pegando mais peixes ainda.
Compraria uma frota de barcos, e em breve seria um homem tão rico
quanto eu. " Explicou o executivo. "Daí você poderia descansar e
divertir-se" Afirmou O executivo. "E o que você pensa que estou
fazendo agora? " Respondeu o pescador.
O nosso conforto é que Deus não esquece de nós.
Lembra-te destas coisas, ó Jacó, ó Israel, porquanto és meu servo! Eu te
formei, tu és meu servo, ó Israel; não me esquecerei de ti (Isaías
44:21).
Falta Educação à Educação
O Brasil foi despertado, de novo, para o problema do
menor na recente crise, mais permanente que recente, da
FEBEM. Diante das telas e através dos jornais foram expostas
as vergonhas de uma sociedade que sequer ruboriza pelos
seus escândalos. Sabemos que tal problema não traz nenhuma
novidade, são fatos comuns em nosso cotidiano. Tais fatos
apenas nos relembram que nos falta saúde, segurança,
empregos, mas principalmente falta-nos educação. Não há
investimento, não há política educacional, não há
aprimoramento; não há interesse político, etc. Mas além dessas
ausências, existe uma que revela o real estado de nosso
processo de ensino. Esta não depende de governo, não é
uma responsabilidade política, e nem precisa de um
programa de investimento. Tal ausência ou carência afeta os
meninos da FEBEM, tanto quanto os garotos da classe média e
alta; faz-se sentir entre as crianças, bem como entre os
universitários; não respeita classe social, idade, sexo ou
religião. Ou seja, falta educação à educação.
A palavra educação, por um erro de percurso, tornou-
se sinônima de conhecimento. A agenda do processo
educativo está bem próxima da produção de intelectuais.
Ensinar, hoje, é transferir conhecimento. O incidente ocorrido
no shopping de São Paulo, quando o estudante do 6o ano de
medicina assassinou e feriu várias pessoas com uma arma,
comprova que intelectualidade não significa educação. Não
basta ensinar as leis, é preciso aprender a justiça, tornar
conhecido os códigos legais não substitui o aprendizado do
respeito. Nessas ocasiões me bate aquela saudade da
professora, que nos ensinava uma disciplina chamada moral e
cívica. Não foi a disciplina ou matéria que mudou de nome,
mas os conceitos e valores, principalmente o da educação.
Isto, talvez, explique porque a nossa sociedade ao
mesmo tempo que adquire mais conhecimento, perde sua
educação. Ou revemos nosso conceito de educação, ou
continuaremos a produzir intelectuais com desvios
comportamentais, tecnólogos sem ética, pós-graduados sem
caráter. Ensinar e Educar são atividades ligadas à vida, não
somente ao conhecimento. Assim, importa que Governos e
escolas, pais e professores invistam seu tempo, dinheiro e
esforço para formação do caráter, dediquem-se a pessoas,
transmitam vida. Isto não significa abandonar a busca do
conhecimento, mas fazer do conhecimento um instrumento
da vida e não o seu alvo. Em suma, sejam os meninos da
FEBEM ou dos colégios de classe alta, sejam as crianças do
maternal ou os jovens das universidades, todos precisam de
educação. Talvez devêssemos nos lembrar das palavras do
Mestre, que ao referir-se a sua missão, ministério e tarefa,
inclusive ensino, disse:
Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância(Jo.
10:10)
Fé, Esperança e Amor
Há uma fé que, apesar de ser menor que um grão de
mostarda (Mt. 17:20), salva (Lc. 7:50), (At. 15:9) e santifica
(At. 26:18). Esta fé não remove montes, e nem seca a figueira
(Mt.21:21), mas é suficiente para sermos justificados por ela
(Rm. 5:1). Ela é capaz de fazer com que homens auxiliem seus
amigos (Mt. 9:2) e a outros que fortaleçam seus irmãos
(Lc.22:32). É por ela que o justo vive (Hab.2:4), aliás, por ela é
Cristo que vive em mim (Gal. 2:20). Esta é a fé pela qual
andamos (II Co. 5:7), mediante a qual recebemos a promessa
de Deus (Gl. 3:22), e obtemos bons testemunhos (Hb. 11:2). É
verdade que ela possui deficiências (I Ts. 3:10), e que se não
mantida pode nos levar a naufragar (I tm. 1:19), pode ser
fraca (Rm. 14:1) ou até mesmo estar morta (Tg. 2:17). Por isso
requer de nós que permaneçamos firmes (I Co. 16:3),
obedeçamos (At.6:7) e lutemos (Fil.1:27) pela fé que de uma
vez por todas foi entregue aos santos (Jd.1:3). Esta é a razão
porque ela deve ser provada (Tg.1:3), e guardada (II Tm. 4:7),
e tudo isto é possível se corrermos a carreira que nos está
proposta olhando firmemente para o autor e consumador de
nossa fé (Hb. 12:2), orando sempre para que ele nos ajude em
nossa falta de fé (Mc. 9:24), e mais do que isso, para que Jesus
aumente a nossa fé (Lc. 17:5).
Há uma esperança que resiste ao tempo, às tribulações
e à própria falsa esperança. Esta esperança produz alegria (Pv.
10:28, Rm. 12:12), consolo (II Ts. 2:16) e purificação (I Jo. 3:3).
Esta esperança não nos envergonha (Fp. 1:20), frustra (SI.
9:18) ou nos confunde (Rm. 5:5). A nossa esperança se
mantém acesa se não nos esquecermos de Deus (Jó 8:13). Sem
ela o que resta é render o espírito (Jó 11:20).Por esta razão é
importante não depositarmos a nossa esperança em riquezas
(I Tm. 6:17), e trazer à memória o que pode nos dar esperança
(Lm. 3:21). É preciso ter bem claro em nossa mente de onde
vem a nossa esperança (SI.62:5), ou melhor quem é nossa
esperança (SI. 39:7). Pois aquele cuja esperança está no
Senhor seu Deus (SI. 146:5) não espera só para esta vida (I Co.
15:19), pelo contrário, nem a morte pode frustrá-la (Pv.
14:32). Exigem-nos a razão da nossa esperança (I Pe 3:15), e
não poucas vezes somos julgados por tê-la (At.26:6). Mas
mesmo assim regozijamo-nos na esperança (Rm.12:12), e nela
temos gozo e paz (Rm. 15:13), porque a nossa esperança é
bendita (Tt. 2:13), e bem aventurado somos porque
esperamos (SI. 146:5). Isto porque a nossa esperança é eterna
(Tt.1:2), e quem nos fez a promessa é fiel (Hb. 10:23).
Há um amor que não esmorece, não desanima e não
acaba (I Co. 13:8). Não é como o amor de alguns que são
como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada,
que cedo passa (Os. 6:4), antes é um amor constante (Hb.13:1)
visto que é paciente e benigno (I Co. 13:4). E verdade que
muitas vezes recebemos o mal, o ódio e a hostilidade em
paga desse amor ( SI. 109:4,5), mas, ainda assim, ele se supera
e nos leva a amar o inimigo (Mt.5:44) e a pagar o mal com o
bem (Rm.12:9-21).Este é o amor não fingido (II Co.6: 6) de
que fala as Escrituras, ele é sincero., diligente (II Co.8:8),
solicito (II Co.8:16) e abnegado (I Ts.1:3). Nesse amor
estamos arraigados e alicerçados (Ef. 3:17), a ele seguimos(l
Co. 14:1) e nele andamos (Ef.5:2). Esse amor é a causa de
nossa eleição (Ef.1:4,5), salvação (Jo.3:16), edificação (I Co
8:1) e consolo (Fp.2:1). Somente por ele é possível a
comunhão (Cl. 3:14) Dele não podemos ser separados (Rm.
8:35), visto que foi derramado em nosso coração pelo Espírito
Santo (Rm.5:5), e se manifesta como fruto desse mesmo
Espirito de Deus em nós (Gl.5:22). Esse é o amor que todos
anseiam conhecer (Ef. 3:19) em toda a sua intensidade (I Pe
4:8). Amor que tem nome, pois Deus é amor (I Jo.4:8).
Há um Deus, ou melhor há um único Deus que
concede aos homens a fé a esperança e o amor. E através
desses dons dá sentido às nossa vidas e nos ajuda a viver o
caos do mundo desordenado. Há um Deus cuja graça no fez
crer, esperar e transbordar de amor, de tal forma que ele é
suficiente para sermos felizes e sentirmos paz. Oh! Quanta
angústia sofre a pessoa que não deposita nele a sua fé, cuja
esperança está presa a alguns minutos de felicidades, e que
experimenta o amor como quem toma pílulas de efeito rápido
e passageiro. Oh! Quanta alegria ao saber que está fé é viva,
que esta esperança não morre, e que este amor é real. Só nos
resta pedir que em Jesus a nossa fé seja operosa, o nosso amor
abnegado e a nossa esperança firme (I Ts. 1:3).
Freio e Cabrestos
Em recente artigo, Leonardo Boff afirmou: "antes de ser
compreendido racionalmente, o cristianismo é para ser vivido
afetivamente". Esta frase, e não somente ela, representa o
espírito de nossa época pragmática. Adentramos o novo
milênio com uma atitude medieval, ou seja, a de separarmos
o "racional do "afetivo", a fé da razão, o pensamento das
emoções. Na área do pensamento não temos experimentado
uma revolução, ou quem sabe evolução, mas sofremos uma
verdadeira regressão. Muito já foi dito sobre o
empobrecimento de nossa música, literatura, ensino ...mas o
que dizer do empobrecimento da religião. Testemunhamos
um crescente analfabetismo bíblico, uma insurreição de
ignorância religiosa. Recente pesquisa nos Estados Unidos
revelou que metade dos americanos adultos não conseguem
identificar Gênesis como o primeiro livro da Bíblia, e 14%
deles identificaram Joana d'Arc com a mulher de Noé. Será
que somente lá a religião está se imbecilizando?
Não é o excesso de sentimentos e afeições que tem
levado a religião a esse estado de ignorância, mas sim o
pragmatismo. Antes a pergunta que determinava a adoção
de medidas na igreja era: "É verdade?" Hoje os pastores
perguntam: "Isto funciona? ". Não há mais a preocupação
em entender, compreender, ou apreender verdades bíblicas,
mas encher os templos, entreter e prender os membros à
igreja. No lugar de sermões, faz-se marketing; no lugar do
culto, show. Substitui-se Evangelho por Gospel e a
pregação da Palavra por campanhas religiosas. Nós não
precisamos abrir mão do pensar para sentir. Não creio que
o abandono da razão nos levará à afeição religiosa. Não
compreendo de que forma a escuridão da ignorância pode
conduzir à luz de Cristo. Como posso amar alguém que não
conheço? Como O conhecerei se não usar o meu
pensamento? Não foi Ele mesmo quem disse que devemos
amá-lo de todo o entendimento (Mt. 22:37)?
Deus nos criou para pensar. Quando agimos sem utilizar
esse atributo que ele mesmo nos comunicou, nos tornamos
como irracionais. Asafe reconhece que a sua dificuldade em
refletir o conduziu a agir como um irracional e embrutecido
(SI. 73:16,21,22) e recomenda não deixarmos as futuras
gerações se esquecerem de Deus (SI. 78:7). A Bíblia nos revela
as conseqüências desse esquecimento ou desconhecimento, a
saber: corrupção (Jz.2:10), erro ( Mt.22:29), idolatria
( At.17:29,30), alienação de Deus (Ef.4:18) e concupiscência (I
Ts.4:5). Não agrada a Deus uma adoração sem conhecimento
da verdade (Jo. 4:22,23), nem devoção sem entendimento (At.
17:23), ou religião sem doutrina (Lc. 4:32). Deus nos convida a
pensar nas coisas dEle (Col. 3:1,2); a meditar em sua Palavra (
SI. 1:2); a contemplar os seu feitos (SI. 46: 8); e a lembrar dEle
(Ec. 12:1). Sua exortação é para que conheçamos e prossigamos
em conhecer ao Senhor. ..(Os.6:3).
É verdade que Deus prometeu nos instruir, ensinar e
aconselhar ( SI. 32:8), mas como Deus pretende cumprir sua
promessa? Logo após estas palavras ele nos recomenda : Não
sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais
com freios e cabrestos são dominados... (SI. 32:9). Até quando
continuaremos a negligenciar o conhecimento de Deus?
Devemos nós abrir mão da doutrina, do pensamento e da
meditação para nos sentirmos mais pertos de Deus?
Abraçaremos a ignorância em nome da fé? Espero que Deus
nos conduza, sem freios e cabrestos, que a sua Palavra nos baste,
que seu Espírito nos ensine a amá-lo de todo o coração e
entendimento. A tempo, é preciso reformular a frase de Boff.
"O cristianismo é para ser tanto compreendido
racionalmente, como vivido afetivamente."
Homens Quebrados, Servos Inteiros

Os coordenadores de campanha se esforçaram, os


publicitários se empenharam e os próprio candidatos se
dedicaram a convencer-nos que eles são os mais
qualificados a exercerem os cargos pleiteados. Nem tudo foi
democrático e entre nomes e números nos perdemos em um
desfile de qualidades e virtudes, uma verdadeira passeata de
adjetivos que identificava cada um como o melhor. Alguns
apelaram para a experiência, outros para a sua juventude. Uns
têm uma vasta folha de serviço, outros representam a
renovação. Há candidatos auto-gerados, que lançam
autonomamente sua candidatura por se sentirem
vocacionados para a política, outros são corporativistas e
representam uma facção, um sindicato, um segmento, etc.
Dinamismo, experiência, honestidade, inteligência, simpatia,
religião tudo é válido no jogo do poder, o que faz com que
tenhamos tanto candidatos inoportunos, como oportunistas.
Uns confiam em suas habilidades, outros em sua beleza
estética, e ainda outros em sua religião. Não é fácil encontrar
alguém que confie e dependa de Deus. Mais do que políticos
cheios de virtudes, precisamos de servos quebrantados.
"Quebrantamento" é uma palavra bíblica que identifica
o ato de partir, quebrar, entristecer e muitas vezes destruir.
Ela é usada para descrever o ato de Deus ao trazer juízo sobre
um povo (Is. 14:25). Sua utilização é tanto coletiva (Jr. 19:21),
como individual, Deus quebranta tanto a sociedade, como o
indivíduo. Mas destruição não é o único sentido do
quebrantamento; a restauração, o recomeço, e o refazer estão
ligados a idéia de quebrantar. Jeremias foi enviado por Deus
à casa do oleiro para observar como ele quebrava o vaso
defeituoso para refazê-lo, assim Deus reconstrói, refaz o seu
povo, contudo, primeiro é preciso quebrar. Mais que
virtudes precisamos de quebrantamento. Ao escolhermos
pessoas para os cargos, em geral, o fazemos olhando para
suas qualificações, virtudes e habilidades, (talvez devesse
incluir aqui os nossos i n te re ss e s) . Raramente o l h a m o s
para o quebrantamento. "Quebrantamento" não é virtude, é o
reconhecimento da ausência dela.
O quebrantamento não é importante, é essencial. É o
remédio de Deus para o orgulho, a soberba, a obstinação, a
tirania, o autoritarismo, a auto-suficiência e a pseudo-
independência, males que diversas vezes têm marcado os
nossos líderes, tanto na igreja, como no Governo Civil. Só o
quebrantamento pode livrar-nos dessa tendência
personalista dos líderes contemporâneos. Foi o
quebrantamento sob as mãos de Potifar que fez de José um
administrador eficaz e homem pronto a perdoar (Gn. 50). Não
fosse o quebrantamento, Davi não seria conhecido como o
homem segundo o coração de Deus (At. 13:22). Para que
Pedro assumisse a liderança dos apóstolos, juntamente com
João e Tiago, foi preciso partir o velho homem (Mt. 26:75).Jó
entendeu o significado da justiça depois de ser quebrantado
(Jó 19:2). E até o rei Nabucodonosor experimentou a
gratificante experiência de ter o seu orgulho quebrado
(Dn.4:33).
Assim, vemos que no decorrer da história Deus
utilizou mais servos quebrados, que homens habilidosos e
virtuosos. Precisamos mais que políticos e administradores
eficazes, mais do que homens de qualidades, procuramos
homens tementes a Deus, quebrados pelo Senhor para que
possam servir a Deus com inteireza. Servos que reconheçam
seus limites, pois à natureza Deus impôs limite e ao mar
disse; "até aqui virás e não mais adiante, e aqui se quebrará o
orgulho das tuas ondas? " (Jó 38:11).
Igreja Globalizada?
De repente o assunto surgiu com uma força
impressionante, como um produto do mundo moderno e
tecnológico. Aos poucos todos fomos ouvindo sobre a
Globalização e nos acostumando a ela. Ela foi estudada,
avaliada, discutida e prognosticada, e finalmente vista por
alguns como avanço inevitável, e por outros como a mãe de
todos os males recentes do mundo, como a pobreza, por
exemplo. Seja em Gênova, seja em São Paulo ativistas se
levantam contra ela, enquanto tecnocratas, financistas e
políticos a defendem com veemência. A GLOBALIZAÇÃO
tem seus amantes e seus opositores, ambos fizeram dela a
agenda do dia, o assunto inevitável da pauta de atualidades.
Suas conseqüências são ainda imprevisíveis. Ela está
derrubando barreiras lingüísticas e culturais, promovendo a
unificação (talvez devêssemos dizer a uniformização) do
modo de vestir, agir e pensar de muitos povos. Tem
transformado o mundo em uma grande teia de relações
humanas que desconhece distância, gênero e o que é
chamado hoje de "preconceito". A globalização tem exigido
de nós a tecnologia como um elemento de primeira
necessidade, a modernidade como a mais verdadeira
maneira de pensar e a participação nesse processo como
uma questão de sobrevivência sócio-econômica e cultural.
Nenhuma instituição ou pessoa que pretenda interagir com a
sociedade pode prescindir da Globalização.
Entre essas instituições e pessoas, dizem, está a igreja. A
sobrevivência da igreja atual parece depender mais de sua
modernização tecnológica, da adequação de seu discurso, e
da modificação de sua conduta, que da vontade de Deus.
Para muitos a igreja precisa rever seus padrões e responder à
necessidade e à demanda da sociedade contemporânea. Falta
espaço para a "antiga" e repetida mensagem de salvação,
arrependimento e conversão. É verdade que ainda se fala
muito em fé, devoção e louvor, mas estas palavras estão
relacionadas com o culto ou trabalho religioso, não com a vida.
Não importa como vivam seus membros, a igreja precisa
andar de braços dados com a mídia, flertar com os meios de
comunicação, popularizar a sua marca, aumentar sua fatia no
mercado de almas. Em suma, ela precisa aparecer, investir em
marketing, tornar-se uma empresa de religião ou uma fábrica
de fé.
Para alcançar o público, então, ela precisa se render às
exigências de um mundo globalizado. Mas à medida que se
globaliza, ela perde sua identidade. Não há mais distinções
entre a igreja e o mundo; entre quem crê, quem diz que crê e
quem não crê. Caminhamos para a indefinição doutrinária,
denominacional e ética. Os valores são os mesmos, as práticas
são as mesmas, o modo de pensar é o mesmo. Em outros
tempos a mundialização ou globalização da igreja receberia
o nome de secularização ou mundanização. Mas isto seria em
outros tempos, pois hoje, nos é dito que a igreja precisa ser
aberta ao diálogo, flexível em seus valores e transigente em
suas doutrinas. Só não nos dizem como encaixar o Evangelho
de Jesus Cristo nesse novo tipo de prática eclesiástica. Não
estou certo se a globalização é um facilitador para o anúncio
do evangelho, como querem alguns, ou um instrumento
para encobri-lo (II Cor. 4:3,4).É certo, no entanto, que o
desafio da igreja é evangelizar o mundo e não globalizá-lo (Mt.
28:19), e isto se faz com o anúncio das verdades do evangelho,
que podem não ser modernas, mas são sempre novas, Boas
Novas (Lc. 2:10,11).
Igreja, sem Memória
Eu sei, o título não é original. Você já deve ter ouvido
este argumento utilizado em relação a nossa cultura, história
e até instituições públicas. Em geral, as propagandas e
campanhas em favor da memória apontam para as
conseqüências de sua perda. História, identidade, significados
evaporam-se rapidamente, e logo não se sabe mais o que se é
ou porquê e para que se faz. Não é meu título que não é
original, a igreja é que, perdendo sua originalidade, tem
seguido as demais instituições modernas no abandono de
sua memória. Não nos surpreende que a banalização do
conceito de igreja seja proporcional à multiplicação de
templos e denominações, de tal forma que a própria igreja
não se conhece, não se entende e nem sabe para que existe.
Contudo, não me refiro à perda da memória histórica, esta
pode ser resgatada através dos velhos livros de atas e das
testemunhas vivas de nossa história recente. Estamos
perdendo uma memória mais importante, a "memória bíblica
".
Note que os livros de história de nossos filhos já
assumiram isto, para eles a igreja pode ser definida como
um "movimento religioso" e não mais como um povo. Atrás da
igreja estão interesses sociais, econômicos e políticos, e não o
Deus vivo que separou para si um povo exclusivamente seu
(I Pe.2: 9). Para eles o que une a igreja são velhas doutrinas
ultrapassadas e não a verdade revelada na Palavra de Deus
(Jo. 17:18-21). É por isso que aos olhos dos cristãos modernos
não somos mais um povo escolhido por Deus (Dt.7:7), mas a
igreja é que é escolhida por nós. Perdemos o sentido do
chamado de Deus (Rm. 1:1 -7), Corpo ( I Co. 12:12-27) e
Edifício (I Pe.2:4 6) são figuras que já não fazem sentido, posto
que o corpo que eles descrevem é acéfalo e o edifício
não tem fundamento. Falta-nos memória bíblica.
Mas o conceito de igreja não é o único elemento volátil
nessa "amnésia bíblica". Esquecemos quais os propósitos de
nossa existência. Para que Deus criou a igreja? Para esta
pergunta não encontramos resposta satisfatória hoje. Bem-
estar, alívio de consciência, prosperidade material, "benção"
são algumas das propostas feitas a nós. A questão é que
para entendermos o propósito da igreja olhamos para nós e
para vantagens que podemos conseguir. Raramente olhamos
para Deus. Pense bem, quando você convida alguém para
conhecer a sua igreja você aponta para as vantagens terrenas
de se freqüentar a igreja ou para o Senhor dela? A lista dos
propósitos de Deus é grande, mas pode ser resumida em
uma única frase, a igreja existe para manifestar a pessoa e a
obra de Deus. É nela, mais que em qualquer outro lugar, que a
santidade de Deus deve ser vista (I Cor. 1:2), bem como a
sua sabedoria (Ef. 3:10), sua justiça (Salmo 67), entre outros
atributos seus.
O mais doloroso é que a perda da memória bíblica traz o
esquecimento dos sentimentos que a comunhão da igreja nos
proporcionou um dia. Aparentemente essas lembranças não
nos fazem falta, sentimo-nos bem sem elas, e até nos
esforçamos para ignorá-las. Até que chega o tempo das
lágrimas, quando nos alimentamos delas de dia e de noite.
Dias em que a nossa alma se abate, se perturba, lamenta
(Salmo 42). Nesses dias perguntamos ao Senhor: Por que te
esqueceste de mim? Não foi Deus quem se esqueceu de nós,
fomos nós quem nos esquecemos de Deus e de seu povo. Não
nos lembramos mais do povo em festa, da alegria e do louvor
somente encontrados na comunhão do povo de Deus. Se
perdermos por completo a memória bíblica nosso lamento
será mais amargo, visto que nem a l em b ran ç a da al egri a
do povo de Deus teremos. Lembremo-nos que o SENHOR é
Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e
rebanho do seu pastoreio(Salmos 100:3).
Não há Canções no Exílio
"As margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos
e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá
havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos
levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que
fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra
estranha? "(Sl. 137)

Quando o povo de Israel foi levado cativo pelo


império babilônico enfrentou inúmeras adversidades e
sofrimentos. Saudade de sua terra e do seu povo, tristezas e
angústias cercaram aquelas pessoas impedidas de viver
com os seus. Às margens do Rio Quebar, contemplavam
outra paisagem enquanto amargurava-se-lhes o coração. O
sentimento era de perda, de abandono, de solidão. O
idioma que ouviam não era familiar, os costumes a que
foram submetidos eram estranhos. Os deuses deles eram o
seu. Estavam longe de tudo e de todos. Mas a maior de
todas as agonias foi ouvir o pedido para que eles se
alegrassem, e cantassem suas canções. Como cantar em
terra estranha? No exílio não há canções.
Este não é o único exílio do qual a Bíblia fala, há
também os auto-exilados. Pessoas que por si mesmas se
afastam de Deus e de sua vontade. Estão sempre longe,
distantes, afastadas...Vivendo seu próprio mundo, alheios
ao mundo de Deus. Deus permanece na periferia da vida, às
margens das decisões pessoais. Como o Próprio Jesus diz,
ao citar Isaías : "...o seu coração está longe de mim" (Mt. 15:8).
Afastaram-se de Deus por causa da soberba (SI. 138:6) e
perversidades (Pv. 15:29). Este exílio é voluntário, apesar de
insano; é deliberado, apesar de leviano. É a decisão de estar
sem Cristo, separado da comunidade, estranho à aliança,
sem esperança e sem Deus no mundo. (Ef. 2:12). É um auto-
desterro, é a escolha de ficar longe de tudo aquilo que
signifique Deus.
Ao contrário dos israelitas, estas pessoas não são
obrigadas e nem forçadas a ir, seu cativeiro é uma escolha
"livre". A ironia é que se exilam em busca da felicidade, mas
o que lhes resta é assentar e chorar de saudade. No exílio não
há canções, não há sorrisos, não há alegrias. Longe da vontade
de Deus, distante de sua comunhão, à parte de sua vontade
não há paz, só encontramos uma terra estranha. A alegria
que buscamos, a paz que ansiamos, o descanso que
precisamos, a companhia que desejamos está no caminho de
volta, no retorno do exílio.
Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos
como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a
nossa língua, de júbilo (SI. 126:1).
Não Quero Mais Ser Evangélico
Não quero mais ser evangélico! Isto não significa que eu
esteja abandonando o evangelho de Cristo, mas que não
desejo mais ser conhecido por esse adjetivo. Ele está
desgastado, enfraquecido, é constantemente confundido e
vulgarmente utilizado. Quase tudo e todos são evangélicos
hoje, temos rádio evangélica, TV evangélica, show
evangélico, marketing evangélico, político evangélico,
artista evangélico, pastor evangélico... o que precisamos é de
evangélico que seja, de fato, evangélico. Não que devamos
abandonar tais atividades, mas o que precisamos é revestir
tais atividades e ministérios do único e verdadeiro evangelho
de Cristo Jesus. Porque não sei se praticamos nesses últimos
anos a difusão do evangelho ou a confusão do evangelho.
Conforme afirma a socióloga Regina Novaes, "nos próximos
500 anos os evangélicos podem até chegar a somar a terça parte da
população brasileira, mas o Brasil do futuro não será evangélico..."
ou seja, as igrejas e instituições evangélicas têm se
submetido à cultura brasileira, definida, por ela como:
sincrética , inclusiva e supersticiosa. A Bíblia usaria palavras
como mundanismo ou secularização.
Hoje evangélico não aponta para o que somos, apenas
descreve um estado. Assim, não somos evangélicos,
estamos evangélicos. Nossa fé é temporária, não prioritária,
de tempo parcial, acessória, e na maioria das vezes sazonal.
Seguir a Jesus Cristo não implica mais em negar a si mesmo,
tomar a cruz, caminhar mais uma milha, perder o mundo para
ganhar a vida. O caminho estreito foi alargado, a porta
estreita dilatada. Sem sacrifícios, mudanças, abandonos ou
dedicações vamos pregando e vivendo o evangelho do bem
estar humano, da vitória, da conquista e do sucesso pessoal
em detrimento do outro, e principalmente, no
distanciamento de Deus. As mãos estão no arado, mas os
olhos voltados para trás. Aparentemente o que tem atraído
as pessoas para os chamados evangélicos é ausência de
mudanças, de exigências, de regras, de padrões e da ética. A
salvação pela graça transformou-se em uma vida sem graça,
sem temor de Deus e sem serviço a Deus. Nesse novo
evangelho é possível servir a Deus e a mamom (dinheiro),
amar a Deus e ao mundo.
Quanta diferença daqueles primeiros evangélicos que
aqui chegaram. No dia 12 de agosto de 1859 desembarcava no
Brasil, um jovem americano de 26 anos de idade. Tendo
abandonado seus planos de ser advogado e professor, após 4
anos, aproximadamente, se oferece à junta de missões de
seu país com o desejo de vir para o Brasil. Aqui dedicaria
seus últimos anos de vida ao serviço do Senhor, ao evangelho
de Cristo e ao nosso país. Em oito anos de trabalho Ashbel
Green Simonton, com ajuda de seu cunhado que chegou um
ano depois, fundou o primeiro jornal evangélico do país,
criou um presbitério e organizou um seminário. Aos 34 anos
Simonton faleceu vitimado por uma febre amarela, tendo
perdido sua esposa três anos antes. O que teria feito com que
um jovem abandonasse família, carreira, sonhos, amigos
para gastar sua vida em um lugar estranho? O verdadeiro
evangelho. Sim, precisamos de mais evangélicos como ele.
Sim, eu ainda quero ser esse tipo de evangélico.
Nem Pai, Nem Herói
Não bastasse as mais variadas crises vividas por nós
nesses dias, vivemos também a crise do heroísmo. Os heróis
foram desaparecendo dos livros de histórias, dos
monumentos públicos, das homenagens civis, e hoje restam
alguns poucos nas estórias infantis, quase sempre fictícios.
Onde estão aqueles que lutam por justiça, vivem por uma
causa e morrem por um ideal? Ainda existem pessoas assim
ou foram extintas? Se foram extintas, a mídia tem
participação preponderante nesse desaparecimento. Segundo
Os Guinness (O chamado, 2001), a mídia fabrica hoje
celebridades, e ignora o genuíno heroísmo. Antes para ser
herói era necessário caráter, virtudes e realizações, hoje ser
celebridade não requer verdadeiro esforço. Criou-se um
abismo entre a fama e a grandeza, entre o heroísmo e a
realização. Até mesmo os heróis da fé não são mais
encontrados, a não ser nas páginas da Bíblia.
Se o desaparecimento do herói é uma crise, mais grave é
o desaparecimento de pais. O feminismo em sua cruzada
contra o sistema patriarcal tem contribuído para o
desaparecimento da figura masculina, principalmente na
família. Não existem mais exemplos a serem copiados, nomes
a serem lembrados, homens para serem admirados. Nossos
olhos estão voltados para as celebridades inócuas do reality-
show, famosas por não fazer nada. Nossa admiração vai
para os apresentadores irreverentes de programas obscenos.
Nossos filhos não sonham em ser como o pai, seu objetivo
de vida e ser uma celebridade. Onde esta o pai herói? Aquele
que tem a justiça e a verdade como princípios inalienáveis.
Ainda existem pais que vivem por uma causa - sua família, e
que morrem por um ideal -seu lar? O mais comum é
encontrarmos o pai ocupado, o pai distante, o pai indiferente,
o pai ausente e o pai arrependido por ser pai. Quanto ao pai
herói, não temos nem pai, nem herói.
Tudo bem que não queiramos mais heróis, mas dos
pais nós precisamos. Precisamos de homens em quem
confiar, com atitudes que possamos copiar e princípios que
devam nos dirigir. Com quem iremos aprender o amor, o
respeito e a dedicação a Deus? Precisamos de pais para que
este dia não se torne uma lembrança amarga e sem
significado como uma moldura vazia. Precisamos de pais para
imitarmos e em quem nos mirarmos, pais que ensinem a seus
filhos para que eles possam ensinar aos filhos de seus filhos
(SI. 78). Precisamos de pais que orem e nos ensinem a orar, pais
que amem a Deus e que cultivem em nós a devoção a Ele. Não
buscamos um pai herói, apenas um pai pastor.
O deus Idólatra e seus semideuses
Na mitologia Cronos é o deus do tempo. Ele comanda
as eras, tem sob seu controle a vida e submete a história
humana a sua vontade. Mas o que dizer da mitologia
moderna que criou um deus escravo de seu tempo, reduzido
ao papel de ser o que lhe é determinado? Um deus que existe
à sombra da história e da vontade do homem? Este é o deus
de nossos dias. Ele não controla o tempo, mas é por ele
controlado. É impessoal porque nos dias de hoje as pessoas
não querem ter relações pessoais e duradouras, preferem
romper as que existem, como a família. É um deus eclético,
reúne em si características de todos. É tudo, e ao mesmo
tempo não é ninguém. Nele se confundem paciência e
permissividade, amor e libertinagem. Este deus pode até ser
fonte de inspiração, mas nunca será temido. O melhor que
podemos encontrar nele é a sua boa vontade. Que é boa
porque se adapta à nossa, além de que sua vontade, neste
caso, não é uma ação soberana, mas não passa de uma
intenção.
Não tem nome, nem palavra, pode ser uma energia ou
um fluído. Enfim sua principal característica é não ter
característica. Mas a pior faceta desse deus contemporâneo é
a sua idolatria. Um deus que ama mais o homem que a si
mesmo, um deus que adora e serve a criatura, é um deus
idolatra. É um deus conivente, presente em muitos
consultórios de conselheiros cristãos e terapeutas, e que
jamais confronta o pecado. É o deus totalmente transigente dos
shows gospel’s, que não exige nada e aceita tudo e todos. É o
deus conveniente dos políticos, principalmente na política
eclesiástica. É o deus aético dos cristãos politicamente
corretos, que fecha os olhos para os atos destes e por vezes
os justifica. E o deus do entretenimento que tolera jovens e
adultos tomados por suas paixões. É o deus mercenário de
pastores sem escrúpulos e fiéis avarentos, para quem o mundo
e a vida não passam de um shopping. Por fim, podemos
dizer que é um deus idólatra anunciado em púlpitos, que
coloca o bem estar do homem acima de sua própria glória.
O deus de nosso tempo não tem servos, nem produz
discípulos ou súditos. Não procura verdadeiros adoradores
(Jo. 4:23), visto que sua missão e tarefa é fazer de homens
mortais e pecadores, semideuses. Seu grande milagre tem
sido gerar aos borbotões seguidores que sabem mais do que
ele mesmo. Esses grandes homens não precisam de seu deus,
vivem independentes, auto-suficientes, soberanos e
incólumes. Seus atos não podem ser questionados, sua visão
da vida é a única verdade e somente sua vontade merece ser
obedecida. Diante desses semideuses, o deus de hoje se
curva, se rende e capitula. Filósofos, sociólogos, teólogos e
uma enormidade de cientistas criaram esse deus às suas
imagens e semelhanças. E um deus mutável, porque tem
que se atualizar. É um deus criado para amar os seus
criadores incondicionalmente e fazê-los sentir cada vez
mais perto do céu, afinal são semideuses.
Contudo, o que este deus moderno revela de fato é a
insatisfação do coração humano. Quanto mais subserviente
é o deus contemporâneo, mais insatisfeitos são os seus
seguidores. Ele é fruto das tentativas frustradas de substituir
o verdadeiro Deus, e por isso, o resultado de sua existência é
nada. Vazio é como ele deixa o coração de seus súditos,
amargura e desilusão é o que experimentam os que insistem
em segui-lo. Nós precisamos de um Deus que seja maior do
que nós (Ex.18:11), nós precisamos do Deus da Bíblia, Deus
que tem palavra, que se revela, que se manifesta (Mt. 11:27).
O Deus que mostra a sua vontade soberana, que ama a
si mais do que a nós outros, e que busca acima de tudo a
sua glória (Ez.36:22). Precisamos nos render à sua grandeza
ou como corretamente afirma John Pipper, "A pregação que
não tem o aroma da majestade de Deus pode entreter-nos por um
tempo, porém não satisfará o secreto clamor de nossas almas:
mostra-me a tua glória". Lembrai-vos das palavras do Deus
verdadeiro: "Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim, ouvi e a
vossa alma viverá... " (Is. 55:3).
O Deus Que se Inclina
Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me
ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdidos,
dum tremendal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me
firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de
louvor ao nosso Deus; muitos verão essas cousas, temerão e
confiarão no SENHOR. "
(Salmo 40:1-3)

Há deuses para todos os gostos hoje. Aliás sempre


existiu uma enormidade de ofertas de divindades no
competitivo mercado da fé. A concorrência é tamanha que
já não sabemos se os "fiéis" andam a procura de um deus para
crer ou se são os deuses que disputam uma clientela para si.
Por esta razão, foram surgindo deuses de todos os tipos,
origens, formas e especialidades. Existe deus para justificar
nossas escolhas, para autenticar o nosso pecado, para
avalizar nossas aventuras na vida. Esses são deuses
camaradas, flexíveis, mutáveis e adaptáveis. Existem deuses
para atender os meus desejos, para assessorar os meus planos,
para servir as minhas intenções. São deuses servis,
subalternos, e manipuláveis. Enfim, existe deus para o
espetáculo, para o show business, para o extraordinário,
para o miraculoso, etc.
Mas só há um Deus que se inclina. A Bíblia o
descreve, na verdade a Bíblia é a sua palavra. Ele mesmo
diz, através dela, que se inclina (Salmo 40:1). Não se inclina
para se submeter, não se inclina para se humilhar, não se
inclina para adorar a criatura. Ele se inclina para ouvir. É por
isso que Davi sob ameaça da cova, do abismo da morte, em
meio a um lodo lamacento esperou por Ele. Não somente
esperou, mas esperou confiantemente, pacientemente ou
como traduz Calvino, "esperando esperei...". Isto quer dizer que
Davi tanto viveu a intensidade, como a paciência da espera.
Uma espera demorada, temporariamente longa,
aflitivamente grave (visto que envolvia risco de vida),
incondicionalmente incerta. Ele esperou com confiança
porque o seu Deus é um Deus que se inclina para ouvir.
Deus não se inclina para ouvir a todos. Há aqueles
para quem o ouvido do Senhor não se inclina (Deut. 1:45). Ao
rebelde, ao blasfemo, ao soberbo, Deus diz que não ouve e não
se inclina para aqueles que têm a "cerviz dura", ou, em outras
palavras, que não se inclinam jamais. Ainda que seja um
Deus que se inclina ele continua a ser Deus Santo, cuja
vontade é incondicional, o propósito é Soberano, seu
desígnio imutável. Ele não se adapta ao homem, não se
condiciona à vontade humana, não se presta à tentativa de
manipulação de seu ser e vontade, ele não se detém diante da
soberba humana. Mas ele se inclina para ouvir o que clama, o
que se humilha, o que depende dele, aquele que o busca,
aquele que se inclina ante a sua presença.
O que esperamos nós, ou melhor, em quem
esperamos? Aos deuses que não nos ouvem? Não nos vêem?
(SI. 115 : 4 - 8) . Que o Senhor nos ajude a esperar esperando, a
esperar confiantemente, pacientemente, mesmo que não
saibamos quando, ainda que não saibamos como, apesar de
não sabermos porquê... Que esperemos porque temos a
certeza de que Ele se inclina para ouvir aqueles que se
inclinam para clamar e esperar. Esperemos até que ele firme
os nossos pés sobre a rocha e ponha um novo cântico em
nossos lábios. E naquele dia, muitos vendo a nossa aflição
longa ou curta, grave ou não, e a nossa espera confiante,
temam e confiem no Deus que se inclina.
O Encontro da Graça e o Beijo da
Justiça
Há algo errado em nosso modelo de mulher. Talvez
devêssemos dizer modelos, pois em pleno ano 2.000 temos
uma diversidade de modelos femininos: mulheres
independentes, sutilmente egoístas; mulheres auto-suficientes,
desastrosamente ensimesmadas; mulheres sedutoras,
exageradamente sensuais; mulheres dominadoras,
tiranicamente ensoberbecidas; meninas precocemente
erotizadas; senhoras inexplicavelmente superficiais; jovens e
adolescentes tardiamente responsabilizadas. Esses modelos
têm nomes, são Xuxas e Angélicas (apesar da ironia do
nome); Marias Fernandas, Ana Marias, e Hebes, sem
esquecer o modelo Derci Gonçalves, mais conhecido pelas
suas aberrações, que suas virtudes. Todas bem construídas
pela fábrica de ídolos. Elas saem das telas, das inócuas
revistas femininas, e entram em nossas vidas. Na sociedade
contemporânea, habitat natural desses novos modelos, não
há espaço para mulheres como Rute e Noemi, Ana (I Sm.1),
Ester, Lídia (At. 16:14 e 15), Febe e Priscila (Rm. 16:1 -3), e nem
mesmo para a mãe de Rufo(Rm. 16:13).
Se quisermos encontrá-las temos que olhar para o
passado, porque o futuro é sombrio. A mulher do próximo
milênio surge sob a égide da frustração. Ela traz consigo as
suas idiossincrasias, se decepcionam em suas incoerências.
Querem se sentir mulheres, mas não estão dispostas a pagar o
preço de serem femininas. Anseiam por homens que
tenham iniciativa, mas atropelam a autoridade deles. Oram
para que os filhos sejam felizes no casamento, mas não se
dispõe a serem mestras do bem para as suas filhas e noras (Tito
2:3 - 5). Exigem da igreja o seu devido valor, mas
menosprezam o modelo de mulher apresentado por Deus no
livro de Provérbios (Pv.31:30 e 31).
Não somente elas estão frustradas, mas um incontável
número de homens procura em suas esposas a companheira
perdida (Gn.2:18); crianças e adolescentes angustiam-se por
reencontrar a mãe desaparecida em meio a confusão de
papeis e funções que se instalou em nossas famílias. Pais, que
a tempos, esperam um gesto de gratidão de suas filhas.
Filhas buscam um modelo, um padrão, um referencial onde
possam aprender a ser mulher. As Igrejas precisam resgatar
esse modelo, antes que seja tarde demais. Estamos carentes
de mulheres que sirvam com alegria (II Re. 4:8 - 37);
precisamos de mulheres dedicadas ao Senhor e a sua obra
(Lc. 8:1 - 3); onde encontrar o exemplo de fé (II Tm. 1:3-5)?
Na luta pela libertação se escravizaram; no anseio de
emancipação se tornaram súditas dos estereótipos
femininos; no desejo de valorização, abandonaram o que
mais lhes dava valor, seu caráter. Que elas sejam bonitas,
que sejam charmosas e elegantes, que sejam meigas e ternas,
que seu olhar seja poesia e seu sorriso canção, mas que
encantem a todos com a verdade, a justiça, o perdão e a graça
do evangelho. Por falar em perdão e poesia, que a mulher seja
"o encontro da graça e da verdade, que nela vejamos o beijo da
justiça e da paz ". (SI. 85:10).
"O Importante é a Fé e Não a Religião "
Esta frase foi publicada em uma revista de circulação
nacional e expressa o sentimento dominante no cenário
religioso do Brasil. Cansados de testar as variadas formas de
expressões religiosas e de conhecer as polêmicas
denominacionais e eclesiásticas, cresce cada vez mais o
número de pessoas que adotam uma fé (normalmente
elaborada por seus próprios sentimentos, conclusões e
convicções) e se mantém à margem de religião, ou quem
sabe devêssemos dizer de igrejas.
Contudo, esta prática está baseada em uma falácia
sutil, ou seja, tal conduta de fé não religiosa depende da
possibilidade de se separar a fé da religião. Como se tais
elementos fossem departamentos separados estanques da
vida. As pessoas gostam de sentir-se mais próximas de
Deus, do louvor, das orações, dos cultos movimentados e
populosos, mas evitam ao máximo as responsabilidades, os
compromissos, "as cobranças", etc. Esta possibilidade é
falaciosa, em primeiro lugar, por uma questão semântica. A
palavra que é traduzida por "religião" (eusebeia) é usada
para traduzir "piedade", que em última instância pode ser
definida como "fé" (I Tm.3:16; I Tm.4:8; I Tm. 5:4; Tt 1:1; II
Pe. 1:3).
Em segundo lugar, tal proposta não é verdadeira
porque aqueles que se aventuraram em colocá-la em prática,
não foram bem sucedidos. Este é o caso do jovem rico (Mt.
19:16-22) que apesar de levar uma vida religiosa, não
encontrara a fé. A sua busca não demonstra apenas que
religião sem fé é insatisfatória, mas também que fé sem
religião é uma ilusão. Não podemos nos esquecer que os
mandamentos aos quais Jesus se referiu são a essência da
religião daquele jovem, e cumpri-la só é possível pela fé.
As palavras do apóstolo Paulo são úteis parea
demonstrar a impossibilidade de se viver a fé sem religião.
Em sua primeira carta aos Coríntios ele escreve: "À igreja
de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam
o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso (I Co.
1:2). "
Observe que para Paulo, o chamado de Deus se faz sob
dois aspectos, a saber: Fomos chamados para sermos santos
(ou seja, vivermos em fé). Mas fomos chamados para sermos
santos com todos, ou seja, com a igreja. Em suma, a Bíblia nos
ensina que o propósito de Deus é que tenhamos fé e vivamos
em comunhão na igreja e isto só é possível com
responsabilidade e compromisso. Diante de nós se
descortinam, então, dois caminhos: O caminho largo da
ilusão de uma fé sem religião ou da insatisfação da religião
sem fé; e o caminho estreito da fé religiosa, ou da religião da
fé. Ou quem sabe fosse melhor dizer da fé que se expressa na
comunhão dos santos, que se alimenta na igreja, e se pratica
na vida.
O segundo-violinista, Hur e o
Jumentinho
Pediu-se certa vez a Leonard Bernstein, o famoso
regente da orquestra Filarmônica de Nova Iorque, que dissesse
qual era o instrumento mais difícil para se tocar. Sem vacilação,
respondeu ele: "O segundo violino. Eu posso conseguir muitos
primeiro-violinistas, mas achar alguém que possa tocar o segundo
violino com entusiasmo é um problema. E se nós não temos
segundo violino, não temos nenhuma harmonia."
O primeiro lugar é sempre o lugar de destaque, o alvo
maior, o ideal a ser alcançado. É cada vez mais raro encontrar
pessoas que se alegrem por não ser o primeiro, que se
entusiasmem por estar nos bastidores, que se satisfaçam por
serem coadjuvantes, que anseiem pelo anonimato. No
mundo de concorrência que vivemos, ninguém se contenta
em ser bom, é preciso ser o melhor.
No capítulo 17 de Êxodo lemos a empolgante vitória
de Israel sobre os amalequitas. Salta aos nossos olhos a
bravura de Josué; a fé de Moisés e até Amaleque recebe seu
espaço, sendo posteriormente lembrado na desobediência de
Saul (I Sm. 15). Arão é conhecido pelo seu ministério
sacerdotal, mas um nome passa quase despercebido, não é
notado, não recebe destaque, Hur. Ele é mencionado apenas
mais uma vez na Escritura, em Ex. 24:14. Oculto na história,
esquecido como personagem, Hur tem um ministério
singelo, o de segurar a mão de Moisés durante a batalha. Ele
não é citado como exemplo, não figura no quadro de heróis,
nem foi recebido como grande guerreiro ou líder, ele é
apenas Hur, aquele que manteve o braço de Moisés
estendido, vale lembrar que ele não fez isto sozinho.
Pois, é assim, que a igreja vai se enchendo de pessoas
que querem ser como Moisés e Josué, almejam ser líderes e
heróis, buscam-se igrejas repletas de homens de destaque,
abundantes em vultos históricos, ávidas por pessoas
importantes, mas onde está Hur? Como os fariseus que
oravam para receber o reconhecimento humano ( Mt.6:5), as
pessoas continuam sedentas de honras e louros por suas
conquistas e virtudes pessoais, obcecadas pelas glórias
provindas de seus dons e ministérios. O sentimento mais
comum é aquele dos discípulos que discutiam para saber
quem seria o maior dentre eles (Lc.22:24),porque ser apenas
discípulo não basta. Faltou um pouco de Hur aos discípulos,
falta Hur à igreja de hoje. Se o ministério não nos dá destaque,
se o trabalho não chama atenção sobre nós, se a tarefa não
fizer com que o nosso nome seja gravado na história, não nos
interessa.
Quando o missionário Sadu Sundar Sing chegou à
Europa completando uma excursão ao redor do mundo,
algumas pessoas perguntaram-lhe: "Não te incomoda receber
tanta honra ?" a resposta de Sadu foi: "De modo algum.
Quando o jumentinho entrou em Jerusalém, as pessoas colocaram
artigos de seu vestuário no solo diante dele, para que ele passasse.
Porém ele não estava orgulhoso, Sabia que aquilo não havia sido feito
para o honrar, mas para honrar a Jesus que estava sentando em
suas costas. Quando as pessoas me honram, eu sei que não sou eu,
mas o Senhor quem faz o trabalho. "
Assim também vós, depois de haverdes feito tudo quanto
vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos
apenas o que devíamos fazer. (Lc. 17:10).
O Som do Silêncio e a Companhia da
Solidão
Somos especialistas em "não achar", Experts em
procurar onde não encontraremos. Buscamos as "coisas" onde
elas não estão. Procuramos companhia na agitação dos bares
superlotados de pessoas à procura do que não sabem, não
conhecem, não viram e jamais experimentaram. Buscamos
em festas e em encontros animados e descontrolados o
inusitado, o inesperado, o surpreendente, e lá encontramos a
mesmice, a frustração e a rotina vazia dos relacionamentos
superficiais. Fugimos da solidão, temos medo do silêncio.
Refugiamo-nos no monólogo entediante da televisão,
porque precisamos ouvir alguma coisa, ou melhor, qualquer
coisa, que no caso da televisão é coisa nenhuma. Nos
escondemos atrás de um computador, e entre chats e e-mails
nos julgamos acompanhados. Estamos nos tornando íntimos
de ninguém, amigos de qualquer um e companheiros casuais.
Tudo isto porque a companhia que buscamos não está lá.
Este medo do silêncio e da solidão, mais que o próprio
silêncio e solidão, é a razão do stress social contemporâneo.
Ocupamos nossa agenda como quem preenche um cartão de
loteria, não deixamos espaços vazios. O nosso desespero é
tamanho que nos atiramos de forma suicida a
relacionamentos rasos, vazios e efêmeros. A nossa fobia é de
tal forma senhora de nossa vida, que temos dificuldade até
mesmo com alguns segundos de oração silenciosa. Em meio a
este turbilhão de vozes e sons incompreensíveis, de agendas
sufocantes, de uma rotina frenética de atividades, muitas
vezes, sem sentido, surge o conselho de Deus na voz do
profeta: "Assente-se solitário e fique em silêncio..." (Lm.3:28).
Nós precisamos do silêncio, necessitamos de solidão.
É verdade que existe uma solidão negativa e um silêncio
destrutivo. Contudo, também "...é bom aguardar a salvação do
Senhor, e isto em silêncio" (Lm.3:26). Temos dificuldade para crer
que, mesmo sozinhos, não estamos sós. Confundimos a
invisibilidade de Deus com a sua ausência. A nossa fé ainda
não nos convenceu da companhia constante e amorosa de
nosso Deus Quando Deus quis encontrar-se com Elias, o fez
na solidão do deserto (I Re. 19). Quando Jesus quis falar ao
Pai, procurou estar sozinho (Lc. 22:3946).A solidão e o
silêncio têm os seus benefícios, através deles encontramos
intimidade com Deus. É nesse momento solitário e
silencioso que vamos além de um relacionamento religioso
com um deus distante e impessoal, e encontramos uma
profunda comunhão com o Deus vivo. O silêncio e a solidão
nos proporcionam tempo para a reflexão, para a
contemplação do Deus da graça, e tempo para avaliarmos a
nossa própria vida (Lm. 3:40). São desses momentos que
brotam as mais sábias decisões e nascem as mais sinceras e
transparentes adorações (Lm. 3:4042).
A intenção não é em transformar-nos em eremitas
modernos, em nos conduzir ao isolamento e à vida anti-social,
mas lembrar que tanto o silêncio, como a solidão nos são
necessários. Ou seja, apenas reafirmamos com Salomão que
"tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito
debaixo do céu. Há tempo de... abraçar, e tempo de abster-se de
abraçar; tempo de estar calado, e tempo de falar..." (Ec. 3:1,5 e 7). É
preciso buscar onde se pode encontrar, é necessário aprender a
ouvir a voz do Senhor no silêncio dos homens. Ou como nos
ensina o velho hino de nossa tradição cristã: Se quereis saber
quão doce É a divina comunhão, Podereis mui bem prová-la
E tereis compensação Procurai estar sozinhos Em conversa
com Jesus, Provareis na vossa vida O poder que vem da
Cruz.
Olhando em um Espelho
Um certo dia um homem idoso e rico visitou um
rabino. Logo que entrou, o rabino o tomou pelas mãos e o
levou até uma janela. "Olhe para lá", disse ele. O homem rico
olhou para a rua. "O que você vê?" Perguntou o rabino. "Eu vejo
homens, mulheres e crianças." Respondeu o homem rico.
Novamente o rabino o tomou pelas mãos e desta vez o
levou a um espelho. "Agora, o que você vê? " "Eu vejo a mim mesmo
", o homem respondeu. Então o rabino disse, "Note que
tanto a janela como o espelho são vidros, mas o vidro do
espelho foi coberto por uma camada fina de prata, e tão logo o
vidro foi coberto pela prata você deixou de ver os outros e
passou a enxergar apenas a você mesmo."
O poder do dinheiro é inegável. Segundo o multimilionário
Donald Trump: "quem afirma que o dinheiro não traz felicidade,
diz isto porque não sabe onde fica o shopping'. A mídia se
encarregou de nos convencer que o dinheiro tem poder de
realizar nossos sonhos, de concretizar nossas esperanças, de
gerar oportunidades, de abrir portas, de alargar os nossos
horizontes. O que eles não nos falam é de um determinado
poder que o dinheiro exerce. E neste caso, tanto a sua
abundância como a sua ausência provocam o mesmo
resultado, a saber: a incapacidade de ver alguma coisa além
de nós. Quando os bens materiais ocupam o nosso
pensamento, nossa vida e nosso tempo, seja por tê-los, ou
por não tê-los e desejá-los desmedidamente, o resultado é
que não vemos a ninguém, a não ser a nós mesmos. Isto está
evidente nas palavras do jovem rico (Mt. 19:16 a 22). Ele não
diz uma frase sem se referir a si mesmo, seus atos de justiça,
e principalmente seu desejo de salvação. Ele não conseguiu
enxergar os pobres (vs.21), nem a Jesus (vs.17) e nem mesmo a
salvação que desejava (vs.22).
Por saber que esse poder o dinheiro exerce em quem o
tem, mas também sobre aqueles que não o possuem, Deus
providencia a restauração da visão perdida. Ele nos ensina a
enxergar novamente, como Pedro e João que viram o coxo da
porta formosa, e por esta razão foram movidos a dar o que
tinham (At.3:4-6). Esta capacidade de ver, por certo, estava
presente em Davi e seus súditos que contribuíram
voluntariamente para a construção do templo, o que
segundo Davi foi uma visão alegre (I Cr. 29:17,18). Esta
capacidade de ver e oferecer, de enxergar e dar, procede de
Jesus. Pois Ele nos ensina nos Evangelhos a ver e compadecer
(Mc.6:34). Aliás, só oferta e contribui aquele que vê.
Talvez isto explique a dificuldade de alguns em
contribuir. O que você vê quando entrega seu dízimo e suas
ofertas? Pode ver os missionários, suas famílias e suas
necessidades, iguais ou maiores que as suas? Você enxerga
o trabalho com jovens, adolescentes e crianças e
principalmente famílias quando contribui? Consegue ver os
ministérios? Você consegue vislumbrar naquele ato a
evangelização, o ensino e assistência na igreja? É preciso ver
além de nós, é preciso enxergar mais do que as minhas
necessidades, desejos, sonhos e anseios. Precisamos ver e
compadecer, enxergar e contribuir, precisamos parar de olhar
para o espelho e notar que existe um mundo além de nós e de
nossos interesses pessoais. Aliás, quando estiver olhando no
espelho hoje, não pense no que estará vendo, mas lembre-se
do que você não tem visto.
Onde está o Vosso Deus?
Esta é uma pergunta que tem desafiado o tempo,
marcado vidas e manifestado os corações humanos. Revela,
por exemplo, o que os homens ímpios e sem temor de Deus
pensam, acerca do próprio Deus e de seu povo. Fazem-nos esta
pergunta como uma afronta; questionam-nos
inquisitorialmente; lançam-nos no rosto a nossa própria fé;
insultam-nos com uma repetição angustiante, dizendo: "Onde
está o vosso Deus? " (Salmo 42:3,10).
Esta é a pergunta da dor, da lágrima, do sofrimento. Ela
surge em tempos de agonia e de calamidade, em situações
sobre as quais não temos controle, onde a única atitude
possível é esperar. Esperar por Deus (Sl.42:5), por Sua
benignidade (Sl.89:49), pela Sua presença (Sl.42:2).
Esta pergunta surge naqueles momentos em que
aparentemente o céu faz silêncio, quando a única resposta
que ouvimos são as nossas lágrimas e clamores. Naquelas
ocasiões em que, diante do céu silente, erguemos os olhos
para os montes e indagamos: "de onde me virá o socorro? "(Salmo
121:1)
O problema com esta pergunta é quando, ao invés de
ouvi-la, nós a fazemos quando em nossa profunda dor
chegamos a dizer: "Onde estás?" Não se trata de ignorância
teológica, pois todos sabemos que Deus é onipresente. Mas
é a pergunta daqueles que conheceram a benignidade do
Senhor, que experimentaram a Sua misericórdia e que,
diante do sentimento de abandono, perguntam a Deus:
"Onde estás?"
Apesar do aparente silêncio, logo esta pergunta
alcança o nosso coração, Deus nos responde. Ele nos faz
lembrar daquelas ocasiões em que nos assistiu, nos
acompanhou, compadeceu-se de nós...Nos faz saber que Sua
Salvação está próxima (Salmo 85:9), e que não há Deus tão
chegado a seu povo, como o nosso Deus (Dt.4:7).
De fato, Deus não está longe, mas está perto dos que O
invocam em verdade (SI. 145:18). O Senhor está perto
daqueles que têm o coração quebrantado e o espírito
oprimido (Salmo 34:18). "Onde está o vosso Deus? " Perto,
muito perto de vós.
Oração é Um Imperativo de Deus
Oração é um paradoxo, nenhum exercício espiritual é
tão cheio de complexidades e características diferentes. É
tão simples que uma criança pode fazê-la, por outro lado é
tão profunda que nem mesmo um homem experiente e
intelectual como Paulo pode esgotar suas possibilidades, em
Romanos 8:26 Paulo admite que não sabe orar.
A oração é a explosão repentina e emocional de um
momento (Jn. 2:1), por outro lado é a atitude contínua e
constante de uma vida inteira (SI.116:2). É a expressão de
descanso em Deus pela fé como no caso de Jó (1:21), mas é
também a expressão da luta da fé, como no caso de Jacó
(Gn.32:22-32). Tem como causa a angústia e a necessidade
profunda como no caso de Ana (I Sm.1:9-18), ao mesmo
tempo que pode ser causada pela alegria e gratidão como no
Salmo 126. Pode focalizar um único objetivo como fez Davi
(II Sam.12:16), por outro lado pode abranger inúmeras
causas como o fez Jesus (Jo.17:20). Ela pode ser uma confissão
(Dn.9) ou uma expressão de adoração (Lc. 2:25-32).
Na Escritura a oração está presente em quase todos os
momentos e circunstâncias imagináveis. Na ansiedade de
Ana por um filho; na agonia de Ezequias por mais vida; na
gratidão e alegria de Davi pela oferta para a construção do
templo, e na sua vergonha na confissão de seu pecado; na
oração intercessória de Moisés, e na oração imprecatória de
Israel.
O próprio Jesus fez uso da oração em todo o tempo,
em sua tentação, transfiguração, crucificação, morte e
ressurreição. Ele e a escritura ensinam que: Não há missões
sem oração (Mt.9:18); não há edificação sem oração (Fl.1:9-
11); não há piedade e espiritualidade sem oração (Tg.1:5-8);
não há vocação sem oração (Lc.4:42). A luta ou guerra contra o
diabo e seus anjos requer oração (Mt. 17:21). A luta contra a
tentação é marcada pela oração (Mt.4:1 -17).
Como Samuel Chadwick escreveu:
"Satanás não tem pavor de nada a não ser da oração, seu
objetivo é manter os santos longe da oração. Ele não teme estudos
sem oração, trabalhos sem orações, religião sem oração. Ele ri de
nosso esforço, zomba de nossa sabedoria, mas treme quando
oramos. "
Sanders por sua vez nos pergunta: "Não é estranho que
apesar de nossa convicção do privilégio e necessidade da oração
somos surpreendidos por uma súbita aversão à oração? ".
E Russel Shedd diagnostica:
"Temos relutância em começar a orar, alívio quando
terminamos de orar."
Por estas inquestionáveis razões, e porque oração é
um imperativo de Deus, devemos obedecer e orar, mas
nunca sem esquecer de fazer desse momento um prazer
para nossas almas.
Os Brasis do Brasil
Quantas independência são necessárias para que
nosso país seja de fato livre? A chamada semana da pátria ou
dia da independência é motivo tanto de celebração como de
lamento, de alegria, como de tristeza. Pois, se um Brasil
celebra sua liberdade, outros amargam uma escravidão
aviltante. Muito já se tem falado da chamada diversidade
brasileira, ou seja, da biodiversidade, da pluralidade cultural
e regional, das muitas faces deste país de muitas origens.
Mas uma diversidade é cruel, uma diferença é degradante,
exatamente aquela que faz com que o Brasil seja diferente
do Brasil. Assim, pergunto novamente, quantas
independências ainda precisamos?
Precisamos libertar o Brasil da miséria sub-humana,
da pobreza desmedida, das diferenças desumanas. Refiro-me
ao Brasil dos lixões que assiste o Brasil de pratos limpos fazer
suas refeições enquanto aguarda os restos chegarem no
próximo caminhão. Refiro-me ao Brasil de dona Josefa, que
perdeu seu filho de três meses por desnutrição e que aparece
na mesma página de Jornal que oferece aos leitores do outro
Brasil um apartamento de cem mil reais. É preciso libertar este
outro Brasil, é preciso proclamar sua independência. É
verdade que a Bíblia diz que "nunca deixará de haver pobres
na terra", mas é importante ler a Bíblia toda e não somente o
que nos convém, pois a mesma afirmação acima é completada
por Deus que conclui que "por isso, eu te ordeno: livremente,
abrirás a tua mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre da
terra",(Dt. 15:11).
Precisamos proclamar a independência do Brasil da
ignorância, da marginalização do desconhecimento,
libertar o Brasil das escolas da deseducação, das campanhas
de desculturização. Refiro-me ao Brasil da mendicância
cultural que assiste o Brasil das pós-graduações estudar sua
miséria. Refiro-me ao Brasil objeto das teses de sociologia,
economia, etc, que sempre explicam as causas de sua pobreza,
mas nunca a resolvem. Aquele Brasil que não estuda, que
nada sabe, aquele Brasil ignorante por decreto do outro
Brasil, que precisa dele para justificar suas obras sociais. O
Brasil da ignorância tanto cultural como religiosa, que se
arrasta movido por falsas promessas, misticismos e
idolatrias, o Brasil que tem sua ignorância alimentada pelo
outro Brasil que explora seu desconhecimento. Este se
esqueceu que "de fato, grande fonte de lucro é a piedade com o
contentamento ". (I Tm. 6:6).
E preciso libertar o Brasil da "liberdade". Refiro-me
àquela liberdade que é sinônima de ausência de limites, da
falta de controles, do excesso de desmandos, da abundância
do ilícito. Há um Brasil que celebra uma "liberdade" que
escraviza o outro Brasil. Um Brasil que festeja seus modelos
imorais e que divulga suas mazelas como padrões de uma
"liberdade" que acorrenta mães adolescentes e filhos sem
famílias, do outro Brasil, para o resto de suas vida. O Brasil
da prostituição infantil, que "cheira cola" enquanto assiste o
outro Brasil desfilar suas perversões travestidas de
requintes e luxo. É irônico, mas o Brasil das crianças
precocemente sensualizadas e dos jovens e adultos
tardiamente responsabilizados, ambiciona a "liberdade" do
outro Brasil que não a tem. Pois, como nos lembra o próprio
Senhor Jesus "Aquele que comete pecado é escravo do pecado ".
(João 8:34).
Infelizmente, é preciso libertar o Brasil do Brasil. "Se, pois, o
Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres ", (João 8:35).
Os Direitos Autorais de Deus
Há poucas semanas atrás foi criada no Rio de Janeiro a
ANCC (Associação Nacional dos Criadores de Caso) com o
propósito de defender o direito de defender o direito
humano. Tal sociedade é o retrato do homem moderno, ou
pelo menos de suas preocupações. Desde os pioneiros
movimentos feministas que a luta pelos direitos pessoais ou
comunitários tem ocupado, cada vez mais, um espaço maior
na agenda das pessoas. Hoje o consumidor tem seu código, a
criança e o adolescente o seu estatuto, as mulheres seus
movimentos de defesa, e até os animais ganharam uma
sociedade para protegê-los. Para não ficarem desatualizados
os homens trataram de se organizar para lutar pelos seus
direitos, surgindo assim uma variedade de movimentos e
associações masculinas, como a "Associação de Ex-maridos".
Em suma, é politicamente correto fazer parte da luta pelos
direitos, não importa qual ou de quem.
Tal luta extrapolou o campo social e invadiu o
chamado campo espiritual. As igrejas modernas, (o termo
correto não seria pós - modernas?) se distinguem pela luta
pelos direitos dos cristãos, pelo simples fato de serem
cristãos. Guinchados pela teologia da prosperidade e
confissão positiva, as igrejas compreenderam que o fato de
terem crido lhes assegura direitos plenos. Por esta razão,
entendem que tem direito à saúde, prosperidade, riquezas,
etc. Você não precisa pedir, basta determinar. Na oração não
se faz súplicas, mas declarações. Benção não se recebe,
apropria-se. Conquistar é a palavra de ordem dos
imperadores da igreja que, tais quais os césares antigos,
detém todo o poder e autoridade sobre o mundo espiritual
(se é que se pode chamar de espiritual). Assim, a benção e a
graça deixaram de ser favor imerecido, para se tornarem, no
discurso desses homens, direitos adquiridos.
O que não vemos na agenda da igreja é a luta pelos
direitos de Deus, apesar de Deus não necessitar que o
façamos. Este, sim, tem direitos plenos sobre tudo e todos.
Este direito é seu por origem, ou seja, porque todo o
universo foi criado por Ele (Hb. 1:2), e pelo fato de sustentar
todas as coisas com a Palavra de seu poder (Hb. 1:3). Deus
tem direitos plenos por aquisição também, afinal fomos
comprados, não com prata e ouro, mas com o sangue
precioso de Jesus (I Pe. 1:18,19). Por esta razão Jesus é
chamado de Autor e Consumador da fé (Hb. 12:2), tendo
assim direitos autorais sobre todos. Isto significa que o direito
de Deus implica no dever do homem. Lutar pelo direito de
Deus subentende cumprir deveres por ele estabelecidos.
Celebra-se o direito dos homens e o direito das
mulheres. A mim parece uma espécie de "direitos iguais", a
não ser que estes direitos sirvam para lembrar os direitos de
Deus, ou em outras palavras os deveres dos homens e
mulheres. Quanto aos homens, diz Deus, que eles devem criar
os filhos na disciplina e admoestação do Senhor (Ef. 6:4);
tratar as suas esposas com dignidade (I Pe.3:8) e amá-las (Ef.
5:25), em resumo, governar bem a sua casa (I Tm.3:4). Na
igreja devem orar sem ira e animosidade (I Tm.2:8), gozando
de bom testemunho dos de fora (I Tm.3:7). O homem não tem
o dever de ser perfeito, mas o direito de ser como Davi,
homem segundo o coração de Deus (At. 13:22).
Para Quem Se Alimenta de Lágrimas
"As minhas lágrimas tem sido o meu alimento dia e noite..."
(Salmo 42)
As lágrimas nos vêm nas noites solitárias de dor, bem
como na angústia de um novo dia. Ela não escolhe hora e nem
ocasião. Como se espreitasse a nossa vida, nos toma de
surpresa, não nos avisa, apenas chega como uma visita
inesperada. As lágrimas são assim, ocupam nossos dias e
esvaziam nossas noites, invadem nossos pensamentos e
usurpam nossos sentimentos. Como invasoras, tomam posse
de nossa alma, e então fazem com que as boas lembranças de
ontem, a alegria de outros, o raiar de um novo dia, as
brincadeiras displicentes das crianças, o movimento agitado
das ruas, enfim, tudo se transforme em dor.
As lágrimas não andam sós, quase sempre trazem em
sua companhia amigos indesejáveis, a dúvida (SI. 42:3), a
melancolia (SI. 42:4), a perturbação (SI. 42:5), o lamento (SI.
42:9). Todos, em coro, nos perguntam: O teu Deus onde está?
(42:3). Com poder imprevisível abatem as nossas almas (SI.
42:5), derrubam os nossos planos, joga ao chão o nosso
ânimo (SI. 42:4). É como se as ondas nos cobrissem (SI. 42:7),
e assim afogados em lágrimas dizemos a Deus: "Porque te
esqueceste de mim? " (SI. 42:9).
Contudo, se alimentar das lágrimas é inevitável,
suspirar por Deus é indispensável (SI. 42:1). Nessas horas é
preciso correr sedentos para Deus (SI. 42:2). É preciso
perguntar à nossa alma: "Por que estás abatida?" (SI. 42:5),
afinal o teu Deus é um Deus vivo (SI. 42:2), Ele é teu auxílio
(SI. 42:5). Se a dor e a lágrima nos visitam durante a noite,
também à noite conosco está o cântico do Senhor (SI. 42:8),
se a lágrimas nos chegam durante o dia, a misericórdia do
Senhor nos faz companhia (SI. 42:8), porque Ele é a nossa
rocha (SI. 42:9). Ele nos faz lembrar dos dias alegres de
nossas vidas (SI. 42:4,6), para que não nos esqueçamos de sua
fidelidade.
Assim importa que enquanto estivermos nos
alimentando de lágrimas, respondamos à nossa alma:

"Por que estás abatida, ó minha alma? ".


Porque te perturbas dentro em mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei,
A ele, meu auxílio e Deus meu. "(SI. 42:5,11)
Por Amor do Teu Nome
O nome de DEUS é justificativa para quase tudo que o
homem faz. É impressionante como as empreitas humanas
são cada vez mais atribuídas a Deus, porque feitas em seu
nome. Sejam "descarregos", grandes concentrações, passeatas,
shows gospel, etc. Até o batismo cristão, seja de um
indivíduo ou de milhares, que tradicionalmente é feito em
nome do Deus triúno, hoje assemelha-se mais ao marketing
eclesiástico que ao sacramento divino e profissão de nossa
fé. A dúvida que nos faz refletir sobre tais práticas e
entendimentos é se essas atuações humanas demonstram o
cuidado que o próprio Deus tem com o seu nome. O que não
está claro é se o que tem sido feito em nome de Deus, é feito
também por amor ao seu nome. É exatamente esse amor que
distingue evangelismo de proselitismo, culto de show,
devoção de religiosidade vazia.
Não se trata de conservadorismo, nem ciúmes ou
invejas, mas zelo pelo nome de Deus. O mesmo zelo que
levou Davi a enfrentar o gigante Golias, o qual afrontava o
nome de Deus (I Sm. 17:45), ou a mesma indignação que Paulo
sentiu pelo uso do nome de Deus por parte de uma
adivinhadora (At. 16:16-18). Como não se indignar com
expressões como: "o cara lá de cima", "arquiteto do universo",
"Deus é 10", e muitas outras? Tais "nomes", não foram dados a
Deus por ele mesmo, além de não revelarem nada acerca de
seu ser e de seus atributos. São nomes sem significados, que
não revelam a relação de Deus com seu povo. Na verdade
são slogans, cujo interesse é deixar a marca registrada de
quem fala e não a expressão do caráter santo e soberano de
Deus.
Não, não é exagero. A própria Bíblia demonstra a
importância que Deus atribui a seu nome. Por amor de seu
próprio nome o Senhor ouve as orações (I Re.8:41-43);
refrigera a nossa alma e guia-nos por caminhos justos (SI.
23:3); nos assiste, nos livra e perdoa os nossos pecados (SI.
79:9); nos salva (SI. 106:8); age em favor de nós (SI. 109:21);
vivifica-nos e aviva-nos (SI.143:11); retarda a sua ira contra
nós (ls.48:9); não nos rejeita (Jr. 14:21), contudo nos corrige (Ez.
20:9,14); detém sua mão de ira (Ez. 20:22), e procede
bondosamente (Ez. 20:44); concede graça e ministério (Rm.
1:5).
Portas a Dentro
Cantarei a bondade e a justiça; a ti, SENHOR, cantarei. Atentarei
sabiamente ao caminho da perfeição. Oh! Quando virás ter comigo?
Portas a dentro, em minha casa, terei coração sincero. (Salmo
101:1-2)

Qual a parte mais importante de uma casa? Para o


engenheiro, talvez, seja o alicerce; para os adolescentes, o quarto
é seu palácio, seu reino, seu lugar sagrado. Para alguns a sala de
televisão, ou melhor, qualquer lugar desde que a televisão
esteja lá. Para outros é a sala de estar, cartão de visitas da
família, ou ainda o jardim, bem cuidado e preservado.
Atualmente, poucas mulheres diriam que é a cozinha. A
verdade é que cada um de nós teríamos um lugar favorito, e
portanto, este seria a parte mais importante para nós.
Contudo, a falta de compromisso tem nos levado a esquecer
qual é a parte mais importante de uma casa, ou seja, o lar.
Fazemos um esforço sobre-humano para obter ou construir uma
casa, mas negligenciamos a edificação de nosso lar. Ao final de
uma luta desumana, que as vezes leva a vida inteira, temos
uma casa bonita e decorada para mostrar aos amigos, mas não
temos um lar para viver e morrer. A formação de um lar não
depende de condições financeiras ou de um bom projeto
arquitetônico, nem de uma área privilegiada. Não depende da
sofisticação dos móveis, nem dos aparelhos eletrônicos
modernos. O lar, para existir, depende de compromisso.
"Portas a dentro, em minha casa, terei coração sincero "(SI.
101:2). Este foi o compromisso assumido por Davi. Para a
formação de um lar tal compromisso é indispensável. Este
compromisso de Davi revela aspectos essenciais de um lar
que deseja ser mais do que uma casa. Em primeiro lugar, é
resultado do Salmo 99:4. Assim como o reinado de Davi
deveria espelhar o reinado de Deus, seu lar deve ser um reflexo
de sua justiça e equidade. Por isso, ele começa seu Salmo cantando
a bondade e a justiça do Senhor (SI. 101:1). Bondade e Justiça são as
virtudes do equilíbrio, e deveriam ser a expressão de nossos
lares. Mais que a sala, ou o jardim ou qualquer outra parte da
casa, a bondade e a justiça são o cartão de visita, pelo qual o
nosso lar deve ser conhecido. Somente quando as pessoas que
moram em uma casa começam a refletir o caráter de Deus é
que podemos chamar este lugar de Lar.
Um segundo aspecto está em seu compromisso ] de ter
um coração sincero. A julgar pelo uso da expressão em outras
passagens (SI. 78:72; Pv. 20:7) podemos deduzir que o
compromisso é ter um coração íntegro, ou seja, não dividido.
Davi não dedicou apenas sua casa ao Senhor, e nem tão
somente seu lar, mas ele dedicou seu coração, por completo,
inteiro, sem reservas, integralmente a Deus. Um coração
dividido é o início do fim de um lar. A oração de Davi é: "dispõe
meu coração, para temer o teu nome" (SI. 86:11). Ou como Warren
Wiersbe afirma: "Se você deseja edificar sua casa, comece
edificando seu lar. E se você deseja edificar seu lar, comece
edificando seu coração ".
Por fim, e talvez o aspecto mais importante deste
compromisso, é a afirmação simples, mas profunda de Davi:
"Portas a dentro"(Sl. 101:2). É possível que Davi estivesse
falando de seu palácio. Mas isto não importa, seja um palácio
real, seja um "barraco" o compromisso é o mesmo. Um lar só
pode existir se os compromissos assumidos de sinceridade,
integridade, de justiça e bondade forem vividos e praticados
portas a dentro. Como é importante saber que a hipocrisia e a
dissimulação têm efeitos implosivos e degenerativos em nosso
lar. É como aquela infiltração que pintura nenhuma resolve, e
que se não tratada pode afetar a estrutura da casa e levar o lar à
ruína. Não, o nosso compromisso não deve ser com os de fora,
como que preservando uma imagem. O nosso compromisso
dever ser com os de casa, com o nosso lar, ou seja "Portas a
dentro ".
Procuram-se Homens
Não, este não é um título de algum anúncio de agência
de casamento. Este é o clamor de uma sociedade angustiada
e ansiosa por resgatar seus homens. Não são as mulheres
solteiras que precisam de homens, mas as crianças
desprovidas de exemplos e referenciais; as escolas carentes da
figura masculina; as famílias sedentas de autoridade e
segurança; a igreja desfigurada pela omissão de seus homens
e os próprios homens necessitados de amigos autênticos. Há
um exército inumerável de mulheres casadas que não
precisam de outros homens, mas que aqueles com quem se
uniram cumpram seu papel dentro do casamento. Elas estão
cansadas de tomar a frente, a iniciativa, o controle, estão
cansadas da independência. Querem apenas um homem ao
seu lado.
O problema é que o conceito de masculinidade foi
dramaticamente alterado, tristemente empobrecido,
inexplicavelmente mediocrizado. Hoje ser homem refere-se
à promiscuidade; a omissão e irresponsabilidade são suas
marcas. Quanto mais frios e insensíveis, mais se sentem
homens; quanto mais ausentes da vida familiar, mais
respeitado são pelos seus iguais. Sua dignidade está ligada ao
seu sucesso financeiro, no mercado de homens ele vale o
quanto tem. Se for rico ou bem sucedido, se tiver uma carreira
eficiente e admirada ele jamais será considerado um fracasso,
apesar da família desagregada, dos pais abandonados, dos
filhos desorientados, da esposa alienada de sua vida, da
convivência familiar vazia e da própria vida sem significado.
O problema é que o homem de hoje está muito longe do
propósito de Deus e da necessidade humana.
Deus criou um líder (I Co. 11:3), o pecado o fez
dominado. Deus lhe deu autoridade (Ef. 5:22 e 6:4), mas ele
preferiu a comodidade do ostracismo. Deus queria um
exemplo (I Pe. 5: 1 a 4), ele perdeu sua identidade. Trocou a
autoridade pelo autoritarismo, o amor pela insensibilidade, a
gentileza pela indiferença; a santidade por suas paixões,
sejam elas quais forem. A sociedade não precisa de "machos",
ela clama por homens. O sentimento comum é que as pessoas
estão cansadas dos modelos de heróis caricaturados e
corruptos da mídia, de homens que têm apenas músculos,
estética, inteligência ou riquezas para serem vistos. O que
precisamos? Apenas homens, não perfeitos, nem semi-
deuses, apenas homens de Deus.
Assim, faltam-nos referenciais, exemplos e padrões. E
somente a fé pode gerá-los ou resgatá-los. O autor da epístola
aos Hebreus renova a nossa esperança ao falar, em meio à
chamada galeria da fé, de homens que foram martirizados
por uma sociedade que os considerou indignos de viver,
contudo "mundo não era digno deles " (Hb. 11:38). Que Deus faça
com que os homens presbiterianos sejam dignos do seu
evangelho (Fp. 1:27).
Quão Novo Será o Ano Novo?
O que torna um ano novo? Poderia a simples
mudança de alguns números em nosso calendário
transformar as circunstâncias, situações e condições de
nossas vidas? Creio que não! A verdade é que, nos dias atuais,
a esperança de um ano novo se aproxima mais da superstição
que da fé cristã. Roupas brancas, romãs, búzios, cartas ou as
previsões, sempre previsíveis, dos adivinhos de plantão são
evidências disso. Até mesmo, os cultos e campanhas
evangélicos estão mais baseados em projeções humanas que
na dependência de Deus. Seja como for, ainda trazemos a
expectativa de que muita coisa será diferente no próximo
ano, simplesmente porque é um outro ano.
Ao raiar do primeiro dia do "novo" ano, nos vemos
diante da mesmice angustiante, da clausura do continuísmo
ou da presença frustrante da velha vida no ano novo. O ano é
novo, mas o homem é velho, visto que este não foi crucificado
(Rm.6:6), e nem despojado (Ef. 4:22). O ano é novíssimo, mas o
"fermento" é velho, posto que não foi lançado fora (ICo.5:7) e
permanece corrompendo tudo à sua volta. O ano é novo, mas
nós continuamos os mesmos. A esperança é que tudo mude,
menos nós. Desejamos paz, harmonia, felicidade,
prosperidade, saúde e amor para todos, desde que isto não
implique em mudança pessoal, em abandono do velho
homem, em favor da novidade de vida. Não é sem razão que
Jesus criticou os seus contemporâneos por remendarem
pano novo em vestido velho (Mt.9:16,17). A nossa esperança não
pode ser remendada, senão com as boas novas do
evangelho.
Isto nos faz refletir em quão novo será o ano novo.
Que diferenças esperamos nós? Quais mudanças
desejamos? Os compromissos são os mesmos assumidos no
final do ano passado: mais compromisso com Deus, mais
dedicação à família, mais estudo da Palavra de Deus, mais
fidelidade, mais amor, sempre mais para o ano que vem.
Parece que "ano que vem" é uma data que nunca chega. As
mudanças práticas empreendidas têm prazo de validade
muito pequeno, geralmente não resistem aos três primeiros
meses do ano dito novo. Os resultados obtidos são tão
passageiros que precisamos repeti-los a cada ano. Quase
podemos dizer como Salomão: "Nada há, pois, novo debaixo do sol
"(Ec. 1:9).
O objetivo, no entanto, destas palavras não é lançar
desânimo em meio a esta onda de otimismo, mesmo que
infundado. Nem tão pouco, roubar a esperança de um povo
que vive carente dela. Pelo contrário, o que aqui foi dito
pressupõe que Deus fez uma nova aliança com seu povo (I Co.
11:25), e que nos deu um novo mandamento (Jo. 13: 34). O
que se pretende é demonstrar que não é possível esperar o
novo e viver o velho, porque "as coisas velhas já passaram e
eis que tudo se fizeram novas" (II Co. 5:17). Em suma,
devemos nos lembrar que o ano novo será velho, a não ser
que andemos em novidade de vida (Rm. 6:4), pois só a
novidade do Espírito ( Rm. 7:6) pode tornar o ano
verdadeiramente novo.
Reaprender a Vida
Não faz muito tempo corriam livres, cabelos
desgrenhados, pés descalços e seminus. Eram de todos os
tipos, gordinhos e magrelos, baixinhos e grandalhões, hora
limpinhos, hora muito sujos, mas sempre exibindo um
sorriso ingênuo faltando alguns dentes. Qualquer situação
era motivo de brincadeiras, a alegria era constante e as
tristezas, momentâneas e passageiras. Só se aquietavam
quando estavam dormindo ou doentes. Aventureiros por
natureza, não temiam o perigo, apenas a bronca e a surra.
Sentiam-se totalmente seguros perto dos pais, por isso eram
inabaláveis desbravadores da vida. Para eles não existiam
crise, governo, política, mercado financeiro, desemprego ou
outras palavras esquisitas ouvidas apenas nas conversas de
adultos. Uma única coisa lhes era necessária e tudo faziam
para alcançá-la: atenção.
Éramos nós aprendendo a vida. Naqueles dias, dos
quais nos resta uma vaga lembrança, aprendíamos coisas
novas todos os dias. Na escola, em família, na rua, com os
amigos, pouco a pouco fomos aprendendo a vida.
Aprendemos boas coisas como amar, respeitar, a sermos
responsáveis, etc. Mas aprendemos coisas ruins, adquirimos
maus hábitos, e finalmente acontece o inevitável, nos
tornamos adultos. Do beicinho e dos choros sem lágrimas
para a chantagem emocional dominadora e egoísta foi
rápido. Os nossos esforços por boas notas e conquistas
esportivas tinham como único objetivo chamar a atenção de
nossos pais e receber, quem sabe, uma palavra de
aprovação. Curioso é que este era o mesmo motivo para as
nossas notas baixas e indisciplinas. Era preciso chamar
atenção de nossos pais, sempre ocupados. Como dói a
lembrança das promessas não cumpridas, dos
compromissos assumidos para um amanhã que nunca se
transformou em hoje. Não precisávamos dos brinquedos,
nem do dinheiro, nem das tentativas de compensação por
meio de agrados, bastava-nos atenção.
Que saudade do tempo em que até o trabalho era
diversão, em que seriedade combinava com bom humor, e
responsabilidade não significava preocupação. Alguns de
nós costumamos dizer que não tiveram infância, mas não é
verdade. A infância é irresistível e invencível, ela transforma
a situação mais desagradável em uma alegre brincadeira.
Quanto ao sofrimento, ele nos transformou em crianças
sofridas, mas nunca em adultos. Outros costumam
relembrar com certo orgulho suas inúmeras molecagens,
divertiram-se à beça. Contudo, ambos se transformaram em
adultos amargurados, indiferentes e estressados. Nosso cargo
é importante, mas com os nossos sentimentos poucos se
importam. Somos profissionais bem sucedidos, apegados à
carreira e trabalho em busca de significado para a vida.
Somos patrões e funcionários respeitados, ansiosos para que
alguém valorize algo mais que nossa eficiência. Somos apenas
crianças em busca de atenção.
É mais que saudade é uma necessidade. Precisamos
reaprender a vida. Precisamos, de novo, ser crianças na
malícia (I Co. 14:20) para finalmente nos tornarmos homens
amadurecidos, cujos corações não sejam dominados por
impurezas e dissimulações. A nossa alma precisa reaprender
a se aquietar, como uma criança no colo de sua mãe (SI.
131:2), para que reencontremos prazer nas coisas simples e
não sejamos tomados pela soberba e pela busca de grandes
coisas (SI. 131:1). Precisamos reaprender a ser crianças para
que entremos no reino dos céus (Lc.18:17), lá não há espaços
para auto-confiança, altivez, mau humor e auto-suficiência.
Quem sabe, os nossos filhos nos ensinem. Quem dera
começássemos a reaprender hoje. Talvez um dia com a família
seja uma oportunidade que Deus nos proporciona. Deus
permita que eles nos dêem uma lição, e que nos lembremos que
assim como nós os nossos filhos esperam encontrar apenas
atenção.
"Restitui-me a Alegria da Salvação..."
Thomas Watson, o famoso pastor puritano, afirmou
que lidava com duas grandes dificuldades em seu ministério.
A primeira era fazer um incrédulo triste, no reconhecimento
de sua necessidade da graça de Deus. A Segunda era fazer
um crente feliz em resposta à graça de Deus. Parece que
pouco mudou do século XVII para cá. A impressão que
temos é que há uma inversão de papéis no cotidiano. Os não
cristãos e os pseudo-cristãos (visto que é difícil distingui-los)
expressam alegria em suas festas, encontros e programas.
Até aquele momento de descontração no "chopinho" recebeu
o sugestivo nome de Happy hour", mas este é, exatamente, o
problema, a alegria é apenas uma "hour" da vida, um
momento. Esta alegria passageira, volátil, frágil e
circunstancial, geralmente não resiste ao fim da festa, ao
término dos encontros, ao fim dos programas, posto que a
vida real não acontece no salão de festas, mas na solidão do
quarto, no abandono da madrugada e na contradição da
companhia fria da família. Desta forma tal felicidade é apenas
um parêntese em nossa história.
Intrigante é o fato de que é esta a alegria que muitos
cristãos almejam alcançar. Invejam quem a tem, anseiam obtê-
la. Esta pode ser a razão de tantos cristãos insatisfeitos, fiéis
descontentes com o resultado de sua fidelidade, crentes
descrentes de sua própria esperança. Tais pessoas vivem
dramas e crises profundas, vacilam entre o peso de ser um
cristão autêntico e a leveza da alegria passageira que
observam nos outros. Aliás, reside aí mais um problema,
pois como Asafe (Salmo 73) tais pessoas olham mais para os
outros e para si mesmos, que para Deus e sua graça.
Thomas Watson tem razão, os problemas não são as
circunstâncias da vida, nem as responsabilidades, que a
bem da verdade, pesam sobre crentes e incrédulos, fiéis e
infiéis, justos e injustos. Mas o problema está em nosso
pouco conhecimento da graça de Deus, na nossa negligência
para com o Deus da graça. Isto explica tanto a passageira
alegria das festas, como a tristeza contínua dos cultos. Olhar
para a graça de Deus é o único remédio para uma geração
de cristãos descontentes. Somente nesta graça encontramos a
verdadeira alegria.
A mesma que estava em Abraão (Jo. 8:56); em Davi
(Sl.9:2); em Maria (Lc. 1:47) e Paulo (Fp.3:1). Esta alegria não é
passageira, mas permanente (Fp.4:4); não se satisfaz em
receber, mas se realiza em dar (At.20:35); não é egocêntrica,
solitária ou individualista, mas compartilhada na
comunhão com outros (SI. 122:1); não é insensível e egoísta ,
mas é solidária tanto na alegria como na dor alheia (Rm.
12:15); não é resultado de interesses próprios, mas do amor,
por isso é sempre justa (I Co.13: 6). Tal alegria não pode ser
encontrada em qualquer lugar, ela só existe no ambiente do
reino (Rm. 14:17). Assim irmãos, importa que oremos como
Davi: "Restitui-me a alegria da salvação...'"(Sl.51:12); e
respondamos à graça de Deus com alegria, pois para isto
fomos alcançado por Cristo (ls.61:1-3).
Revisitando a Jesus
Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de
beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes;
enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. (Mt. 25:34)
"O ateísmo (isto é, a fé cristã) progrediu especialmente
devido aos serviços prestados a estranhos e aos cuidados tomados
com o enterro dos mortos. E um escândalo que não exista um
único judeu pedinte e que os galileus sem deus se preocupem não
só com os seus pobres como também com os nossos, ao passo que
aqueles que nos pertencem aguardam em vão o auxílio que
deveríamos prestar-lhes "

Estas palavras foram dirigidas ao imperador romano


Juliano (332-363 d.C). A correspondência faz uma descrição
dos cristãos, vista pelos politeístas romanos como ateus por
não servirem ao panteão de deuses que possuíam, mas a um
único Deus. Contudo, esta não é apenas a única observação
importante nesse pequeno texto. O autor, descomprometido
com o cristianismo, reconhece que os cristãos são conhecidos
pelo serviço prestado aos homens, inclusive a "estranhos".
Ele vê nesse ato a razão do progresso da fé cristã. Anos se
passaram, na verdade séculos, e o que restou daquele
espírito gracioso do cristianismo primitivo? Quanta distância
existe entre o "evangelho" contemporâneo daquele
apresentado por Paulo em Gl. 5:13, "... sede, antes, servos uns dos
outros, pelo amor". Não é apenas a distância temporal que nos
incomoda, mas é à distância entre os procedimentos que nos
envergonha.
Em lugar do amor ao próximo, indiferença. A
exploração, direta ou indireta, substituiu a dedicação. Onde
antes havia o pensar além de nós, existe agora o pensar
somente em nós. Os seguidores de Cristo se esforçam em
seguir também a mamon (Mt. 6:24). As migalhas não caem
mais de nossas mesas (Mc. 7:28). A religião de hoje não visita a
Jesus (Mt. 25:34-46). São muitos Ananias e Safiras, para
poucos Barnabés (At. 4 e 5). Em resumo, devemos concordar
com Errol Hulse: "Simplesmente não faz sentido as igrejas se
declararem reformadas, se na prática há pouca evidência das
doutrinas da graça". De fato, não faz sentido defender a
doutrina da graça, a não ser que ela inunde o meu ser, e se
manifeste em meu "ter".
A questão é que não estamos dispostos a fazer
sacrifícios, eles nos custam muito. Tal como a moda atual, a
vida cristã se tornou "soft", "light", sem sacrifícios, mas
também sem sabor(Mt. 5:13). Este sim é um apagão que
preocupa (Mt.5:14-16). Por falar em sacrifícios é sempre bom
lembrar do testemunho de David Livingstone que dedicou
sua vida à evangelização na África: "Muitos falam do grande
sacrifício que fiz em passar tantos anos da minha vida na África.
Podemos chamar de sacrifício aquilo que pagamos como pequena
parte do débito que devemos ao nosso Deus e que nunca poderemos
pagar? ...Longe de nós tal palavra, tal ponto de vista, tal
pensamento! Não é certamente sacrifício, melhor dizendo é
privilégio...Eu nunca fiz sacrifício algum! Nunca falaríamos de
sacrifício, se pensássemos no grande sacrifício que o Senhor Jesus
realizou, deixando o trono de seu Pai, nas alturas, para oferecer-se
a Si mesmo em nosso lugar".
Sara x Sara
Duas mulheres, duas histórias. Uma é jovem e
moderna, a outra é avançada em idade e conservadora. Uma
é independente, é auto-suficiente enquanto a outra é
submissa ao seu esposo. A jovem tem várias aspirações, é
intelectual, formada em boas escolas e faculdades; por sua
vez, a mulher idosa aspira apenas ser mãe. A mulher
moderna tem carreira, é professora universitária; a mulher
conservadora cuida da rotina de seu lar. A professora é
antropóloga, seu trabalho é ensinar quem é o homem; a dona
de casa, aos poucos, todos os dias, durante vários anos,
aprende quem Deus é. Uma viveu muito antes de Jesus
Cristo, a outra vive a virada do nosso milênio. Contudo
ambas são mães, passaram pela indescritível experiência de
trazer à existência uma vida. A mais nova identifica bem a
mãe atual, a mais velha é tomada como exemplo de mãe e
esposa bíblica. E por um desses caprichos da vida ambas se
chamam Sara.
Sarah Blaffer é mãe de três filhos, e também escritora.
Exatamente no período em que se comemora o dia das mães
é publicada sua tese, a saber: O amor materno é um mito. Ela
afirma que não existe o amor materno natural e
incondicional. Sua pesquisa se baseia nos inúmeros casos de
violência de mães para com seus filhos, e a única explicação
encontrada foi a da ausência de amor materno
incondicional. Em outras palavras ela afirma que mães amam
um filho porque põe na balança a relação custo/benefício.
Ou seja, amam seus filhos apenas porque vêem neles a
continuação de sua espécie, de seus próprios genes.
A outra Sara não tem sobrenome, nem carreira. É mais
conhecida por ser esposa do patriarca Abraão. Sua história é
marcada pela esperança de ser mãe. Tal esperança trouxe
consigo a ansiedade que muitas vezes fugiu ao seu controle,
o que é compreensível por se tratar de uma mulher idosa e
estéril, casada com um homem de cem anos e a espera de uma
promessa. Anos e anos aguardando contra as possibilidades
humanas que Deus lhe concedesse um filho. Isto ela fez por
crer que o amor de Deus é incondicional e sua palavra
infalível. Amou a um filho antes de concebê-lo, dedicou-se a
ele antes de recebê-lo. Ao contemplá-lo afirmou: "Deus me
deu motivo de riso, e todo aquele que ouvir isso vai rir-se
juntamente comigo ".. (Gn.21:6).
Ao tentar demitizar o amor materno, Sarah Blaffer
criou outro mito, o desamor incondicional. O que explica a
violência materna e doméstica, e até mesmo a indiferença do
ser humano, nem sempre é a ausência do amor, mas a presença
do pecado. O verdadeiro amor é incondicional, "não procura os
seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal" (I Co.
13:5). O amor é incondicional porque não importa quem ou
como o filho ou a filha é, ainda assim sua mãe o ama. As mães
amam seus filhos excepcionais ou marginais, deficientes ou
ineficientes, apesar do custo ser maior que o benefício. Por
vezes recebem em troca de seu carinho, cuidado e dedicação
apenas a rebeldia, a indiferença, a incompreensão e o
desprezo. Ainda assim os amam, porque o verdadeiro amor é
incondicional, o verdadeiro amor materno "tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta''(ICo.13:7).
Não se trata de privilegiar uma Sara em detrimento
da outra, mas de refletir no significado do amor
incondicional. Não é preciso que as "Saras " atuais abandonem
o amor materno para que tenham realização pessoal e
sucesso profissional. Não é necessário deixar de ser mãe para
se tornar uma mulher moderna. Que Deus transforme as duas
em uma única "Sara ". Ao cumprir a sua missão de mãe com fé,
amor e santificação (I Tm.2:15), elas entendam que quando o
amor materno é incondicional jamais acaba (I Co. 13:8). Que a
maternidade seja para elas motivo de riso.
Ser Mulher e Ser Cristã
Um dia, apenas um dia. Não é um dia especial ou
diferente, simplesmente um dia escolhido entre tantos para
celebrar e honrar as mulheres. Justa homenagem,
considerando o papel que elas têm desempenhado na igreja,
sociedade, e muitas outras instituições. O que é injusto é o
fato de que na maioria das vezes o dia termina sem muita
reflexão e mudança, e assim resta apenas a memória da
homenagem. Em dias de lutas feministas, de debates
acalorados sobre a relação de gêneros, e de esforços por
resgate do valor da mulher, talvez este dia pareça tímido e
insuficiente. Ele não representa um marco nessa luta, não
lança luz à condição feminina, e não expressa com clareza a
necessidade de mudanças. Enfim, é apenas um dia, apesar
de ser o dia internacional da mulher. Cumpre-nos resgatar o
significado, não do dia, mas da mulher. E não faremos isto
apenas comemorando, é necessário refletir.
O que significa de fato ser mulher cristã? Aliás o que
significa ser mulher? Para quem crê na Bíblia, o significado
da mulher não nasce de um conceito dialético da história que
vê a mulher como o oposto do homem, mas da criação
divina. Ao contrário do que a nossa língua portuguesa nos
ensina, mulher não é o antônimo do homem, mas sua igual
(idônea). Segundo o relato de Gênesis, Deus criou a mulher
como correspondente ao homem, para a complementação,
não oposição. A corrupção humana e a discriminação
masculina associada aos movimentos feministas têm
dividido o mundo em duas partes, vivemos em dois
mundos, o mundo masculino e o feminino. Os atuais
debates têm separado o que Deus uniu. Ser mulher não
pode significar o contrário do homem, mas seu
complemento, sua parte idêntica. Quem comemorar este dia
não pode torná-lo um dia de luta, de reivindicações, de
manifestações por direitos...Quem quer celebrá-lo deve
compreender os propósitos de Deus, que no sexto dia nos
criou, "Homem e mulher os criou" (Gn. 1:27).
Mas voltemos à nossa pergunta inicial, o que significa
ser mulher cristã? Creio que ser cristã extrapola os limites da
denominação. Não entendo que o adjetivo cristã signifique ser
religiosa ou pertencer a uma sociedade feminina. Ser cristã
implica em ter fé, em crer em Cristo e principalmente tomar as
Escrituras Sagradas como regra de fé e prática. Neste caso ser
mulher cristã significa submeter-se ao que Deus determina
em sua Palavra, e seguir os exemplos registrados por Ele na
Bíblia. Quem quer comemorar este dia precisa resgatar os
padrões bíblicos, antes de resgatar seus direitos. Este é um
dia para lembrar de Ana e seu exemplo de oração (I Sm.), de
Noemi e seu exemplo de sabedoria (Rt.), de Débora e seu
exemplo de coragem (Jz), de Ester e seu exemplo de abnegação
(Et.), de Maria, e seu exemplo de humildade (Lc. 1:48); de
Maria Madalena, Joana e Suzana e seus exemplos de serviço
ao Senhor (Lc. 8:2,3); de Maria e sua irmã Marta, e seus
exemplos de fé (Lc. 10:38-42); de Evódia e Síntique e seus
exemplos de esforço em prol do evangelho (Fp. 4:2) e de
tantas outras das quais não sabemos os nomes, mas
conhecemos seus exemplos, como a mãe de Rufo e seu
exemplo de maternidade, afeto e amor ( Rm.16:13). Por
outro lado, é preciso evitar o exemplo corrupto e idólatra de
Jezabel (I Re. 16 a 22), o modelo sedutor de Dalila ( Jz.13 a
16), e o padrão cobiçoso de Safira (At.5), entre outros.
Se desejamos promover esta justa homenagem de
maneira justa, então é necessário refletir sobre o que significa
ser mulher e ser cristã. Talvez seja necessário orar Como
Maria : "Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforme
a tua Palavra ". (Lc. 1:38).
Servos de Tempo Parcial, Discípulos em
Horas Vagas
"Porque não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos
que não me custem nada ". (II Samuel 24:24)

Experts em custos financeiros, especialistas em


redução de despesas, assumimos de tal forma o espírito
econômico de nossa época que "pechinchamos" naturalmente
na hora da compra. Economizamos nos livros escolares, nas
despesas da casa e no consumo dos supérfluos. Economia de
energia elétrica, de água, de combustível...São tantas
economias que nos condicionamos a buscar o que custa
menos. Nos tornamos experts em investimento e
planejamento de despesas.
Se continuarmos assim, em um futuro breve,
chegaremos a prática de economizar inclusive na fé.
Buscaremos uma fé econômica, uma religião barata que não
nos exija muito tempo, esforço e dinheiro. Nosso
investimento na igreja seguirá a lei do mercado, feito o custo-
benefício, investiremos o menos possível para receber o
suficiente para nos sentirmos "crentes". Não seremos mais
servos de tempo integral, mas "freelancers" religiosos.
Estabeleceremos uma linha divisória entre a minha vida e a
vida da igreja, de maneira que nos tornaremos servos de
tempo parcial, discípulos em horas vagas.
Nesses dias sentiremos falta de pessoas como Davi,
que diante da possibilidade de ganhar tudo o que lhe era
necessário para oferecer seu sacrifício a Deus, não teve dúvida
e argumentou dizendo: "porque não oferecerei ao Senhor meu Deus
holocaustos que não me custem nada".(II Samuel 24:24). Quanto
custa hoje a sua oferta? É possível servir ao Senhor de
maneira que isto não nos custe nada? Que valor existe em
dedicar aquilo que não nos custou esforço ou tempo, por
exemplo?
Estas palavras foram escritas para quem deseja mudar
essa perspectiva futura. Para quem quer gastar-se e se deixar
gastar por amor dos seus irmãos em Cristo (II Co. 12:15). Não
queremos oferecer ao Senhor um serviço que não nos custe
nada. Tais palavras somente fazem sentido para aqueles que
crêem nas palavras de Jesus quando disse: "Se alguém me quiser
servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém
me servir, o Pai o honrará ". (Jo. 12:26)
Sucessos e Fracassos
Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera;
teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa. Eis como
será abençoado o homem que teme ao SENHOR! (Sl. 128:3,4)

A Bíblia menciona um grande número de homens


bem sucedidos em suas várias atividades. São empresários,
líderes militares, líderes religiosos, governantes,
administradores, etc... Homens de todos os ramos com
comprovada eficiência em suas áreas. O sucesso alcançado por
eles é de fazer inveja aos mais reconhecidos entre nós. A
fama desses homens atravessou os limites de seus países,
eles fizeram história, gravaram seus nomes nos anais da
humanidade, marcaram épocas.
O sucesso desses homens é resultado de uma
conjunção de virtudes, tais como: coragem, força de
vontade, perseverança, conhecimento, liderança, astúcia...e
muito mais. É inegável que eles alcançaram o que muitos de
nós almejamos um dia alcançar. Nos desgastamos,
estudamos, trabalhamos, na tentativa de construir nossas
carreiras. Investimos recursos financeiros, tempo e
sacrificamos nossos melhores momentos com os olhos fixos
neste sucesso. Passamos nossos dias de tal maneira que a
vida parece resumir-se em uma corrida ou concorrência
sem fim, onde "chegar na frente "é o que importa.
No entanto, a Bíblia também relata que tais homens
de sucesso profissional, político, e financeiro amargaram
fracassos em outras áreas. Talvez seja melhor dizer em uma
área específica: a família. É surpreendente como a
eficiência, capacidade, sabedoria, liderança demonstrada
em outras áreas, praticamente desaparece quando se trata
de filhos. Notem, por exemplo, o grande empreendedor
conhecido como Jacó. Reconhecidamente um empresário de
sucesso, construiu sua riqueza através de muito trabalho e
tino comercial. Sua especialidade pode bem ter sido a de
administrar situações adversas, como no caso de seu negócio
com Labão, seu sogro (Gn.30). Mas o bem sucedido Jacó
não foi capaz de administrar a desavença entre seus filhos
(Gn. 37). Um outro exemplo notável é o Rei Davi. Possuidor
de talentos incontáveis, Davi alcançou sucesso em várias
áreas: Foi grande líder, general de inúmeras vitórias,
governante eficaz, empreendedor de grande visão,
construtor eficiente, e, ainda, músico hábil. Contudo, em sua
vida familiar, mais particularmente sua relação com alguns de
seus filhos amargou o fracasso.
Poderíamos dizer mais sobre Eli, Samuel, Salomão e
Ló. Mas falta-nos espaço para tanto. Em todos eles há uma
nota comum. Grande sucesso em suas atividades tanto
profissionais, quanto religiosas, e "pequenos" fracassos em
suas vidas familiares. Isto me faz questionar se é possível
conciliar tão grande sucesso com a "inexpressiva" carreira de
ser pai. Aliás, isto me faz questionar o que é o verdadeiro
sucesso. O salmo 127: 5 nos diz que aquele que tem filhos é
bem-aventurado, ou seja, feliz, abençoado. Não seria este um
melhor conceito de sucesso? O fracasso como Pai seria um
preço razoável para o sucesso profissional? Penso que o
poeta americano, Longfellow tenha razão ao afirmar que:
"Muitas pessoas poderiam ter sucesso em
pequenas coisas se não se deixassem
atormentar por grandes ambições ".
Temo que o Salmo 128:3 e 4 não seja um sucesso desejado
por muitos de nós.
Teologia Não-descartável
Tudo começou, se me lembro bem, com a praticidade
das garrafas de refrigerantes descartáveis. Naquela época
ainda precisávamos fazer "vales" e devolver "cascos". Então
surgiram as garrafas descartáveis, e um após o outro os
produtos se tornaram descartáveis, fraldas, copos e pratos,
embalagens, livros estudantis, etc... Como deuses, somos
autores de uma outra criação, o mundo descartável. Nele
nada é definitivo, nada é permanente, nada é duradouro. É a
sociedade do "fast food", onde não se degusta ou digere, não se
reflete, não se medita, não se pondera, apenas se consome. Se
um eletrodoméstico apresenta defeito o substituímos, se
uma relação apresenta dificuldades a descartamos, se um
projeto apresenta obstáculos nós o abandonamos, se uma
pessoa apresenta problemas nós desistimos dela, afinal já
consumimos o suficiente. Tudo é descartável.
Não demorou muito para transferirmos nosso know-
how em descartar para a teologia. A febre do descartável é
tão contagiosa que transformou as doutrinas históricas em
peças obsoletas de antiquários, bonitas para serem
observadas, mas sem funcionalidade. A teologia se tornou
refém das novidades, cuja característica principal é serem
descartáveis. A nossa fé é alimentada por novas formas de
adorar, novas formas de crer, novas formas de ser cristão. As
chamadas igrejas evangélicas buscam obcecadamente novas
fórmulas de oração, novas fórmulas de relacionar-se com a
igreja e com Deus. Tornar-se membro de uma igreja é coisa
do passado, agora apenas a freqüentamos. Não me
comprometo mais com uma doutrina, e não confesso mais
uma fé, apenas compartilho, dessa forma é mais fácil descartar
tanto a igreja quanto à fé que ela professa.
Essa cultura do descartável está impressa em nossos
corações e expressa em nossos relacionamentos. Já somos
conhecidos como a geração da futilidade, dos sentimentos
fugazes, das pessoas volúveis e descomprometidas. As
promessas não são "para sempre", os compromissos não são
duradouros, os relacionamentos não são permanentes, e até
a vida não é mais eterna. As pessoas, como os
eletrodomésticos, são consumidas e descartadas. Os
relacionamentos têm prazo de validade e a fé tem termo de
garantia por tempo limitado. Não somos mais servos de
Deus, mas prestadores de serviço sem vínculo. Não somos
mais adoradores de Deus, mas consumidores de religião.
Descobrimos, de repente, que todos os nossos
relacionamentos são passageiros, fugazes, volúveis, voláteis,
inconstantes e transitórios. Nos acostumamos tanto a
descartar, que agora descartamos pessoas e relacionamentos,
inclusive o que temos com Deus.
A ironia é que faço esta reflexão em um boletim
descartável. Seu fim será, provavelmente, ser esquecido em
um dos bancos da igreja ou ser jogado em um cesto de lixo
qualquer. Seria uma frustração, não fosse a convicção de que
Deus é eterno (ls.40:28) e de que ele nos amou com amor
eterno (Jr. 31:3). Por meio de seu propósito eterno (Ef. 3:11)
nos concedeu vida eterna (João 3:16), e nos faz lembrar que as
suas misericórdias e as suas bondades são desde a
eternidade. (SI 25:6). Esta convicção pode nos conduzir de
volta a obedecer permanentemente a sua lei (Ex. 12:24), a
temê-lo para sempre, porque Deus é sempre o mesmo, e os
seus anos jamais terão fim. (SI. 102:27). Assim, podemos nos
relacionar e nos comprometer com ele dizendo: "Louvarei ao
SENHOR durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus,
enquanto eu viver".(SI. 146:2).
Trivializando a Fé
O crescimento numérico da igreja está, em geral, na
proporção direta da desvalorização de si mesma. Esta
afirmação pode parecer paradoxal, mas não é. Apesar de
crescentes as igrejas passam por um processo de perda de
importância. Seu papel tem diminuído, quando não, se
adaptado aos interesses pessoais de seus membros. Observe
que a Fé, elemento fundamental para a igreja, ocupa espaços
cada vez menores na vida daqueles que lotam templos e
eventos "evangélicos". Se considerarmos um cristão "padrão
de mercado", o tempo gasto com a fé, com Deus e com sua
igreja é de aproximadamente 3% de sua semana (este número
inclui os cultos de Domingo, Escola Dominical, culto do meio
de semana, e devocionais em casa). Para se ter uma idéia do
que isto significa, em um ano, apenas 16 dias serão gastos com
as "coisas de Deus". A razão para tamanho descaso? A
trivialização da fé.
A igreja tem perdido seu rumo durante algum tempo
por causa da trivialização da fé de muitas pessoas. Da
mesma maneira que os hinos são agora mais expressões de
sentimentos pessoais que doutrina, assim também os
padrões foram reduzidos a ninharia e as doutrinas
menosprezadas. A igreja foi trivializada, e uma igreja trivial
é em alguns casos um problema maior que uma igreja de
apóstatas.
Uma igreja trivial é governada por seus membros, não
pela Bíblia, nem por padrões doutrinais e pela confissão. Uma
igreja trivial pode se tornar mais apóstata que uma herege
porque é radicalmente humanística. Para citar um exemplo,
uma igreja, com um pastor evangélico, cresceu rapidamente
no ministério dele, em parte por causa da sua pregação
eficaz, e em parte devido a sua expansão de ministérios para
todos os tipos de idade e grupos de interesse especiais. O
pastor se deu conta do fato que interesses particulares eram
mais importantes aos membros que a fé. Nossas
necessidades não podem exceder em valor as exigências e
propósitos de Deus na vida da igreja.
Trivializar se tornou prática padrão. Hinos celebram a
fé do homem mais que a palavra de Deus e as doutrinas da fé.
Trivialização começa conosco, é nossa resposta a nosso Deus
e à sua palavra. Começa com pessoas triviais. Eles podem
exercer poder, ser agradáveis e podem desejar trabalhar
muito, mas nunca fora de suas condições particulares. A
universalidade da Fé é substituída pela sua pequenez e por
interesses pessoais. Se o propósito soberano não prevalecer de
acordo com a vontade do Deus absoluto, então está tudo
acabado, e a fé é trivializada.
No Salmo 63:1-2, Davi fala da sua sede de Deus e do seu
intenso desejo de saber mais sobre Deus, e o servi-lo melhor.
Aquela sede de Deus e o conhecimento dele têm que nos
consumir ou então nos trivializamos e a tudo o que fazemos.
Acima de tudo a igreja deveria não ser um lugar de
trivialização. Nós precisamos avaliar nossas vidas,
limparmos a nós mesmos da trivializaçao, e servir o Senhor
com todo o nosso coração.
Um Cristão Chamado
Judas Iscariotes
O censo 2000 foi recebido com alegria pelos
evangélicos. A notícia de que, segundo o censo, o número de
evangélicos no Brasil cresceu a uma taxa de 100% em 10 anos é,
no mínimo, surpreendente. Não foi apenas o número de
evangélicos que cresceu, mas o mercado ganhou novos
modelos de crentes. Temos crentes de todos os tipos e para
todos os gostos. Comecemos com os Crentes Domésticos,
aqueles que desenvolvem e vivem a sua fé sem ir a igreja.
Temos também os Crentes Domingueiros, aqueles que se
envolvem com Deus e seu reino apenas uma vez por semana,
esta é uma espécie de "crente básico". Tomamos emprestado
do Romanismo o tipo Crente Não Praticante e desenvolvemos
um modelo bem original, o Crente Carnal. Existe ainda, o
Crente Consagrado, donde se deduz que exista também o
Crente Não Consagrado. Desenvolvemos até o Quase Crente.
Antes que você se surpreenda com essa variedade de
cristãos contemporâneos lembre-se que Judas também era
cristão. Creio que nesse prolifero ambiente evangélico a
inclusão de Judas surge naturalmente. Aliás, ele era um
cristão "exemplar". Era apóstolo (Mt.10:2), possuía um
chamado e um ministério (Mt.10:1). Participou de
momentos importantes na carreira de Jesus (At.1:16,17).
Realizou sinais (Mt.10:1) e evangelizou (Mc. 3:13-19). Exerceu o
importante cargo de tesoureiro do grupo (Jo. 13:29). Mas, a
semelhança de Judas com os cristãos modernos não param aí,
Judas é exemplo de um coração escravizado pelo dinheiro.
Ao que tudo indica, ele se esqueceu que foi Jesus quem
colocou esses recursos em suas mãos, e então, foi seduzido
pela avareza e ganância (Lc.22:3-6). A partir de então, como
se faz hoje, ele passou a buscar o seu interesse antes e acima dos
interesses de Deus e do próximo (Jo. 12:4-6). As demais
características descritas são conseqüências, tais como a
dissimulação, falsidade, mentira e finalmente sua relação
com Satanás (que não deve ser vista como causa, mas como
conseqüência de sua conduta moral).
Podemos dizer que Judas aderiu a um modelo de
cristianismo cada vez mais popular em nossos dias, o
cristianismo secularizado. Ele demonstra em sua conduta
semelhanças profundas com esta nova proposta de
cristianismo. Senão vejamos: Quando Judas propõe a venda
do perfume que foi usado para ungir Jesus (Jo.12:4-6), ele
demonstra seu pragmatismo. Em outras Palavras, todo
meio é aceitável para se alcançar o fim almejado, que neste
caso, era seu próprio bem-estar que estava acima da glória
de Cristo. Ele foi secularizado à medida que a Palavra de
seu mestre já não fazia sentido aos seus ouvidos. A Palavra
de Jesus não exercia mais influência em sua vida cotidiana. Isto o
levou a uma nova ética, a ética do instinto, da intuição. Passou a
viver sob o despotismo das emoções e sensações humanas.
Não se engane, Judas não foi vítima (Mt.26:24), ele se
corrompeu aos poucos, gradualmente, continuamente. Ele se
entregou lentamente aos seus desejos e vontades, o que
significa que durante um bom tempo ele se viu e era visto
como um cristão.
A diferença entre aquele tempo e os nossos dias é que
Judas era minoria entre os discípulos. Hoje a realidade da
igreja é outra. Já não podemos dizer que Judas é minoria, ele
tem seus seguidores, seus discípulos. Talvez seja esse grupo
que mais cresce, e que o censo jamais poderá medir.
Contudo, apesar da riqueza da imaginação lingüística dos
evangélicos, nós não temos muitos tipos de crentes e
cristãos, temos apenas um. Essa enxurrada de adjetivos
servem apenas para esconder as nossas deficiências e a nossa
resistência em cumprir a vontade de Deus. Diante de uma
perspectiva tão negativa, ainda temos a promessa que seremos
guardados por Deus (Jo. 17:12), e que Ele é suficiente para nós
(Hb. 13:56).
Um Novo Ano
Vivemos a obsessão do "novo". Ano novo chega, e com
ele renovamos guarda-roupas, móveis da casa, a pintura das
paredes, o veículo da família, os lençóis e toalhas, etc.
Embalados pelo discurso do "novo", nos apaixonamos pelas
últimas novidades do mercado. De um simples
eletrodoméstico a um sofisticado computador, a motivação
principal é não ser ou parecer antiquado. A síndrome do
"novo" transcende a tecnologia, ela se assemelha a uma
filosofia que dita normas de comportamento, modificando
hábitos e tradições. Assim, os adolescentes não querem ser
adultos, e os adultos procuram parecer adolescentes. Talvez
seja mais que uma filosofia, a compulsão pelo "novo" parece
uma religião, ela possui seu próprio ritual, sua cerimônia.
Faz parte do nosso calendário litúrgico planejar e realizar
todas as mudanças na passagem de um ano para outro.
Religiosamente seguimos as leis ditadas pela tirania do
"novo".
É verdade, o novo sempre vem... A questão é saber o que
esperar do "novo", em nosso caso do novo ano, século ou
milênio. Apesar do otimismo e do discurso em favor de paz
e igualdade, podemos esperar mais do que já temos. Ou
seja, teremos no próximo milênio uma violência com
tecnologia de ponta. Injustiças e desigualdades sociais
moderníssimas, e a última palavra em estratégia de
corrupção. Podemos esperar o novo escândalo político, a
nova crise financeira, a fabricação de um novo ator ou atriz
com carreira meteórica, e porque não? A nova onda
teológica. Nada pode deter a epidemia do novo, ninguém
pode impedir seu avanço inexorável. A única solução parece
ser nos acostumarmos e nos rendermos à febre das novidades, e
vivermos esse mundo novo, essa nova era, onde tudo é novo,
menos o homem.
Tudo muda, só o homem continua o mesmo. Esta é a
falácia do homem moderno, tudo à sua volta é novo, tudo que
ele usa é atual, mas o seu coração contínua velho. E velho
não significa algo que pertença ao passado. Em nossos dias,
o contemporâneo já nasce velho, o atual pertence ao antigo.
Homem velho não significa alguém avançado em idade, mas
pessoas, jovens ou idosos que vivem sob o domínio da
natureza humana corrompida. Conforme Paulo, Ira,
indignação, maldade, maledicência e linguagem obscena são feitos do
velho homem (Cl.3:9). Por esse ângulo descobrimos que nem
sempre o "novo" é novo, e falar em novidade sem falar em
mudança do coração humano é discurso vazio e otimismo
passageiro. Tecnologia não muda o coração humano, filosofia
e religião não renovam o seu caráter, por isso, a Bíblia nos
ensina a crucificar o velho homem (Rm.6:6), a despojá-lo (Ef.
4:22) a nos despir dele ( Cl.3:9). Do contrário, seremos apenas
pessoas velhas iludindo-nos com as novidades de um mundo
cada vez mais arcaico.
O novo, por outro lado, não pertence ao futuro, mas
pertence a Deus. Não se conquista, não se provoca, não se
inventa, nem se desenvolve a novidade de vida. Uma vida
nova é dom de Deus. O novo de Deus não envelhece, é
atemporal. Por isso Jeremias pode falar da nova aliança por
volta do ano 600 a.C, e esta aliança permanecer nova até os
nossos dias. A partir dela, Deus renova o homem ( Ef.4:24), seu
espírito (Rm.7:6), e o faz caminhar em novidade de vida
(Rm.6:4). Em suma, como podemos falar de ano novo, sem o
mediador da Nova Aliança (Hb.9:15)? Como podemos pensar
em um novo século, sem aquele que pode nos revestir do
novo homem (Cl. 3:10)? Como podemos esperar uma nova
vida no próximo milênio, sem andarmos na novidade de vida
que Deus dá (Rm. 6:4)? É vão o nosso esforço para vivermos o
"novo " sem Jesus Cristo (II Co.5:17). Com ele o nosso Cântico
sempre será novo (SI. 98).
Uma Breve Reflexão Sobre
Trabalho e Salário
"Viver numa nação onde a verdade de Deus, apura religião
e a pregação da salvação eterna foram banidas, nação da qual o
reino de Cristo foi lançado fora, não seria agradável ou desejável
sobre hipótese alguma ".

João Calvino fez esta afirmação referindo-se à França


do Século XVI, mas ela Expressa bem o sentimento que
domina o brasileiro, mais especificamente o brasileiro
evangélico autêntico, na virada do milênio. Decepção,
desânimo, desilusão, revolta e amargura são outros
sentimentos, ou quem sabe poderíamos dizer, atitudes
estampadas na sociedade. O Brasil dos 500 anos é o Brasil
das contradições do Presidente Fernando Henrique, das
palavras torpes do Senador Antônio Carlos Magalhães, da
carência de líderes que nos ofereçam mais do que seus
exemplos de inoperância, destemperança e tolerância com a
corrupção. A réplica da caravela de Cabral, construída por
três milhões de Reais, tem grande chance de se tornar o
símbolo de nossa época. Ela foi superfaturada, não funciona e
se vier a funcionar algum dia chegará tarde demais.
É neste ambiente que nos preparamos para
comemorar o chamado "Dia do Trabalhador" ou do
"Trabalho". Neste caso o que pode chegar tarde é a verdade
de Deus, ou para colocar em outras palavras, a verdadeira
concepção do trabalho. Patrões e empregados, governos e
servidores, todos partilham de um conceito humanista ou
marxista do trabalho. Trabalho é moeda de troca, serviço
vendido, ele existe para ser explorado pelo próprio
trabalhador ou por seu contratante, ou seja, trabalho é o que o
homem faz para viver, não o que vive para fazer.
Desta forma entendemos porque o explorado explora seu
semelhante; o espoliado em seu salário, tanto legal quanto
injusto, espolia o seu próximo. A lei que governa o nosso
trabalho não é a lei de Deus, mas a lei da procura e da
oferta, as leis econômicas e políticas desprovidas de
princípios cristãos. É verdade que Deus nos ensina que
devemos receber a parte que é devida pelo nosso trabalho (I
Co. 9:7-11, Rm. 4:4), mas por outro lado lembra-nos que o
obreiro deve ser digno de seu salário (I Tm. 5:18), e não
somente o salário digno do obreiro. Assim importa trabalhar
sob os princípios de Deus. Servir aos homens como que
servindo ao Senhor (Cl. 3:22-4:1). Honestidade, humildade,
submissão e amor são práticas essenciais para que sejamos
considerados dignos de nossos salários e rendimentos. Este
deve ser um dia não só de discussão de salários, mas de
reflexão sobre o trabalho, principalmente para nós que
buscamos a verdade de Deus, a pura religião, pregação e o reino de
Cristo.
Quanto ao país, vale a pena lembrar que Calvino afirmou
naquela mesma ocasião que "seria desumano e errado que me
esquecesse da raça da qual descendo, cessando de preocupar-me
com ela e amá-la ".
Uvas Bravas

Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito


da sua vinha. O meu amado teve uma vinha num outeiro
fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides
escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um
lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas.
Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos
peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer ainda à
minha vinha, que eu lhe não tenho feito? E como, esperando eu que
desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? Agora, pois, vos
farei saber o que pretendo fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe,
para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja
pisada; torná-la-ei em deserto. Não será podada, nem sachada, mas
crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que
não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do SENHOR dos
Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta
do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí
quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. Isaías 5:1-7

O tempo da colheita era uma ocasião festiva antiga


em Judá. Havia celebrações especiais no templo em
Jerusalém para as quais as pessoas traziam algumas de suas
colheitas e ofertas, provavelmente para dedicarem em uma
cerimônia solene. Em uma certa ocasião Isaías chamou
atenção das pessoas falando-lhes que ele cantaria em nome
do "amado" dele. Assim por ser um dia de atmosfera feliz,
as pessoas juntaram-se ao redor dele para ouvir. A canção
começou contando como o amigo amado de Isaías tinha
plantado um vinhedo, e como ele trabalhou duro para tirar as
pedras e plantou o melhor das vinhas e construiu uma tina de
vinho próximo à plantação. Ele construiu uma torre para
observar e impedir a aproximação de ladrões e animais
selvagens que poderiam danificar a colheita. Certamente a
audiência de Isaías estava atenta à canção, ansiosos para
ouvir como as uvas cresceram depois de tal cuidado
amoroso.
Então a surpresa: as uvas que cresceram no bem
cuidado vinhedo eram selvagens, isto é fétidas e podres. O
humor da canção muda com o desgosto do plantador da
vinha, ele está completamente decepcionado com a sua
colheita, permite que venham abaixo os muros que construiu
para proteger a vinha e deixa as ervas daninhas e espinheiros
crescerem. Aquilo que no começo fora tão bem tratado
torna-se uma decepção e uma tragédia.
Neste momento, Isaías deixa a sua audiência saber
sobre o que ele está falando: A canção não é apenas para
entretenimento, mas é dirigida à audiência. É de fato uma
parábola. Tendo chamado a atenção das pessoas, Isaías aponta
seu dedo para eles e diz:

Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e


os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou
que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis
aí clamor (Is. 5:7)

A canção de decepção de Isaías ocorreu por causa de


suas grandes expectativas para com as pessoas, e a
convicção de que Deus tinha ajudado o povo de Israel a fugir
da escravidão do Egito, ele lhes deu um caminho de vida - os
dez mandamentos - e prometeu vida e prosperidade. Cuidou
deles no deserto do Sinai, derrotou seus inimigos, e lhes deu a
terra que Ele havia prometido. Em retorno, era de se esperar
que as pessoas fossem um exemplo de moralidade e justiça
para as nações vizinhas e mostrassem em suas vidas
individuais e nacionais que as pessoas podem viver juntas
de forma justa, amável e humilde. E o que recebeu em
resposta? Decepção, injustiça, corrupção, fé religiosa rasa,
infidelidade, cultos de lábios, imoralidades...
Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o
SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a
misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus. (Mq 6:8)
Oração de Um Pecador

Ó Pai Celeste, guarda-me do mal; livra-me de erros e


pecados. Não permitas que eu caia no pecado de Esaú e que,
menosprezando tua benção, troque-a pelas "coisas" desta
vida. Nem permitas que meus olhos sejam como os de Acã
que, contemplando as riquezas deste mundo, abandonem a
obediência pela ambição, e a fidelidade pela cobiça.
Preserva o teu servo, Ó Senhor. Não deixes que meu
coração incorra na hipocrisia de Ananias e Safira, e assim
julgue a glória humana mais desejável que a piedade. E se
vitória me deres, que ela não ensoberbeça meu enganoso
coração, livra-me do pecado de Saul, da vaidade guarda o
teu servo.
Ó Deus de poder, faze-me inabalável, sustenta-me na
força de tua glória para que as dificuldades da vida não me
façam vacilar. Ao contrário de Pedro, desejo que as situações
e circunstâncias da vida me façam firme na fé, arraigado em
teu amor e santificado em tua palavra. E afasta de mim o
pecado de Demas, impeça-me de algum dia amaro presente
século, que minha alma não queira outro bem senão a tua
presença.
Ó mestre, permita-me segui-lo, que o desejo humano
não me domine. Não deixes que, como João e seu irmão
Tiago, eu me atreva a pedir para estar no teu trono, ao teu
lado. A mim basta servi-lo, quedar-me aos teus pés. Ó Deus
de amor, inspire em mim o anseio de agradá-lo, e que a tua
vontade seja a minha comida e minha bebida. Amém.

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