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1. ECONOMIA
to, foram muito importantes, pois, de um golpe. Essa forma de governo K A reforma de Clístenes
além de serem escritas, a administra- dominou o cenário da vida política de Entre 508 e 507 a.C., Clístenes
ção da justiça saiu das mãos da aris- Atenas durante cinquenta anos. deu início a um processo de reformas
tocracia e passou a ser competência Pisístrato, de origem aristocrática e em Atenas, para implantar a
do Estado, que se fortaleceu com ligado ao partido diacriano, governou democracia. As suas propostas
isso. Em termos políticos, a situação Atenas entre 560 e 527 a.C. Durante o incluíam: direitos políticos para os ci-
não se alterou. Os eupátridas conti- seu governo, construiu obras públi- dadãos, representados pelos homens
nuaram monopolizando o poder. De cas, estimulou o comércio e determi- maiores de 18 anos, filhos de pais
fato, Drácon não conseguiu controlar nou a participação dos cidadãos em atenienses e de origem jônia; partici-
a crise política e as camadas popula- assembleias e tribunais. pação política direta no governo, pois
res continuaram revoltadas. Em
Com sua morte, o poder passou os cidadãos opinavam na Assem-
594 a.C., Sólon foi nomeado legisla-
para seus filhos Hípias e Hiparco. O bleia ou eram sorteados para ocupar
dor de Atenas. As reformas por ele
governo dos irmãos foi moderado até algum cargo. Cabe ressaltar que a
propostas abrangiam os três pontos
514 a.C., quando Hiparco foi assassi- democracia ateniense era exercida
fundamentais da vida ateniense: o
econômico, o social e o político. nado por um aristocrata, e Hípias por aproximadamente 35.000 ci-
Economia – estimulou o co- iniciou um processo de perseguição dadãos em uma população de cerca
mércio e a indústria; estabeleceu um política. Os aristocratas reagiram e de 450.000 habitantes.
padrão monetário fixo e um sistema expulsaram Hípias de Atenas em 510 Além da Eclésia, o poder legisla-
de pesos e medidas e proibiu a ex- a.C. Dois anos mais tarde, lságoras tivo era ainda constituído pela Bulé
portação de cereais. tor nou-se o novo tirano. Em seu (ou Conselho dos 500), cuja função
Sociedade – aboliu a escravi- governo, restaurou alguns privilégios era preparar as leis votadas men-
dão por dívidas, por meio da Lei Sei- da aristocracia, o que revoltou as
salmente pela Assembleia dos Cida-
sachteia; concedeu anistia geral; re- classes populares, obrigando-o a
dãos. A Heliae era composta de
gulamentou a Lei da Herança; elimi- buscar apoio na aristocracia espar-
doze tribunais, com a função de
nou os marcos de hipoteca e devol- tana. Em razão da intervenção de Es-
ministrar a justiça comum. O Areópa-
veu as terras aos antigos proprietá- parta, os diacrianos e paralianos uni-
go cuidava da alta justiça, ou seja,
rios. ram-se e, liderados por Clístenes, um
Política – acabou com o mono- de julgar a constitucionalidade dos
aristocrata, expulsaram o inimigo co-
pólio do poder exercido pela aristo- atos públicos. A Heliae e o Areópago
mum em 507 a.C.
cracia, com base no critério do nas-
cimento, e estabeleceu um sistema
de participação política fundamenta-
do na riqueza do indivíduo.
Mas, apesar das reformas, Sólon
não conseguiu contentar todas as rei-
vindicações populares nem atender à
conservadora aristocracia eupátrida.
A luta entre os partidos continuava e
impedia o avanço político de Atenas:
o partido dos pedianos (habitantes
das planícies), aristocrático e conser-
vador, formado pelos grandes pro-
prietários de terras, queria Atenas co-
mo era antes das reformas de Sólon;
o partido dos paralianos (habitantes
da costa), constituído por comer-
ciantes e artesãos, adotou posição
moderada diante das reformas, pois
muitos foram por elas favorecidos; o
partido dos diacrianos (habitantes da
montanha), composto de pequenos
proprietários, rendeiros e thetas,
exigia reformas mais radicais.
K As tiranias
A crise política gerou condições
para a implantação das tiranias, nas O templo do deus Apolo em Delfos foi uma
quais o poder era tomado por meio oferenda dos atenienses pela vitória em Maratona.
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compunham o Poder Judiciário, en- Com a conquista do Oriente tado de Susa ou Paz de Cálias, os
quanto o Poder Executivo era exerci- Médio pelos persas, todas as colô- persas reconheceram a supremacia
do por dez estrategos, escolhidos, nias gregas do litoral da Ásia Menor grega no Mar Egeu.
anualmente, pela Eclésia. foram anexadas. No início, a autono- Heródoto, considerado o “pai da
Outra instituição da democracia mia dessas cidades foi respeitada; História”, descreve a famosa Batalha
de Clístenes era o ostracismo, que mais tarde, porém, os persas pas- de Maratona assim:
consistia na suspensão dos direitos saram a exigir impostos e estimular “Logo que as tropas tomaram
políticos dos cidadãos considerados governos de tiranos. A cidade de posições e os sacrifícios forneceram
nocivos à democracia por um período Mileto e algumas outras iniciaram bons augúrios, os atenienses, mal foi
de dez anos. Esses cidadãos, após a uma rebelião, apoiadas por Atenas. dado o sinal para atacar, lançaram-se
população votante haver escrito o Esse foi o motivo imediato para o em corrida contra os bárbaros; o
nome deles mais de 6.000 vezes no conflito entre gregos e persas. intervalo que os separava não era de
óstrakon (pedaço de cerâmica em Quando os persas invadiram a menos de oito estádios. Os persas,
forma de concha), eram desterrados Grécia, os atenienses venceram-nos quando os viram correndo sobre eles,
na Batalha de Maratona, em 490 a.C., prepararam-se para os receber; veri-
de Atenas, sem que houvesse o
liderados por Milcíades, o que ficando que eram em pequeno núme-
confisco de seus bens.
conferiu grande prestígio aos atenien- ro, e que, apesar disso, se lançavam
A democracia de Clístenes foi
ses. Dez anos depois, os persas em passo acelerado, sem cavalaria e
aperfeiçoada por Péricles, que con-
fizeram uma dupla ofensiva. Por terra, sem archeiros, julgaram-nos ataca-
venceu a Eclésia a estabelecer uma
venceram os espartanos no Des- dos de loucura, duma loucura que
remuneração para os cargos públi-
filadeiro de Termópilas. Por mar, uma lhes causaria a perda total. Era o que
cos, tornando-os acessíveis aos pensavam os bárbaros, mas os
cidadãos pobres. A implantação da numerosa frota foi destruída pelos
atenienses, liderados por Temísto- atenienses, em fileiras bem cerradas,
democracia significou o início da combateram de maneira memorável.
cles, na Batalha de Salamina. Sem o
consolidação de Atenas dentro da Foram eles, que se saiba, os pri-
apoio da esquadra, o exército persa
Hélade. meiros a enfrentar o equipamento
começou a recuar, chegando à
Plateia, onde, em 479 a.C., foi vencido dos medos e homens com ele
por um exército conjunto de esparta- equipados, pois até então os gregos
nos e atenienses, liderados por Pau- só de ouvir o nome dos medos se
Péricles, sentiam aterrados. A batalha em
líder de sânias. Os gregos passaram então à
ofensiva. Organizaram uma liga militar Maratona foi longa. No centro, a van-
Atenas tagem foi dos bárbaros, que, vitorio-
no “Século de com sede em Delos e a chefia foi con-
sos neste ponto, desbarataram os
Ouro” da Grécia. fiada a Atenas. O tesouro comum foi
adversários e os perseguiram para o
usado para construir uma poderosa
interior; mas nas duas alas a vitória
armada, que, sob o comando de Cí-
foi dos atenienses. Estes deixaram
mon, assolou as posições persas no
escapar os bárbaros derrotados e,
litoral asiático. Em 488 a.C., pelo Tra-
reunidas as duas alas num só corpo,
dirigiram a sua ofensiva contra aque-
les que haviam rompido o centro das
4. INTRODUÇÃO DO suas linhas de combate. E a vitória
PERÍODO CLÁSSICO pertenceu aos atenienses. Os persas
puseram-se em fuga, e os atenienses
Durante o Período Clássico, as perseguiram-nos até o mar; chega-
pólis gregas disputaram a suprema- dos lá, incendiaram a armada. Desta
cia em toda a Grécia. Essa fase foi maneira capturaram os atenienses
marcada pelas hegemonias e impe- sete navios. Com o resto da frota, os
rialismos no Mundo Grego, que aca- bárbaros fizeram-se ao largo e con-
baram com uma guerra fratricida tornaram Súnio. Era seu propósito
entre os próprios gregos, concluindo chegar a Atenas primeiro que os ate-
com sua decadência e dominação nienses. Mas estes correram a defen-
por parte dos macedônios. der a sua cidade com toda a veloci-
dade que lhes permitiam as pernas,
5. AS HEGEMONIAS GREGAS e chegaram primeiro. Os bárbaros
atingiram Faleros (que nesta época
A hegemonia política de Atenas servia de porto a Atenas) e anco-
na Grécia começou com seu êxito raram; depois, tomando o caminho
nas Guerras Pérsicas ou Médicas. “Templo de Atena Niké”. de retorno, fizeram rumo à Ásia.”
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K A hegemonia de Atenas destruições recíprocas. Entre 431 e iniciaram uma ofensiva contra os
O fim da guerra tornou desne- 421 a.C., os espartanos invadiram a persas. Não conseguindo, porém,
cessária a Confederação de Delos. Ática. A população de Atenas resistiu manter o domínio sobre seus inimigos
Entretanto, os atenienses sofreriam em suas extensas muralhas, ao mes- na Grécia e combater, ao mesmo
uma grave crise econômica e social mo tempo em que sua frota atacava tempo, no exterior, Esparta assinou,
se as contribuições dos aliados o Peloponeso. Em 429 a.C., graças à em 387 a.C., a Paz de Antálcidas
parassem de afluir para a cidade: a má alimentação e às péssimas con- com os persas. Além da paz, o tra-
indústria naval seria paralisada, o dições de higiene, a peste provocou tado garantia o domínio da costa da
comércio se retrairia e numerosos re- centenas de mortes, entre as quais a Ásia pelo Império Persa, que passou
madores, mercenários e artesãos do próprio Péricles. Em 421 a.C., a influir na política interna da Grécia.
ficariam sem emprego. Por essa ra- Atenas e Esparta celebraram a Paz
zão, os atenienses obrigaram, pela de Nícias, estabelecendo que não K A hegemonia de Tebas
força, os Estados-membros a con- haveria mais guerra durante 50 anos. Apesar do domínio de Esparta,
tinuar os pagamentos, mesmo contra Em 413 a.C., porém, motivados pelo Atenas conseguiu reconstruir suas
a vontade desses. Era o início da he- ambicioso Alcebíades, os atenienses muralhas e sua frota, organizando
gemonia ateniense sobre a Hélade. prepararam uma campanha militar uma segunda liga marítima. Ao mes-
Nesse período, a Grécia conheceu as na Sicília, com o propósito de mo tempo, a cidade de Tebas aliou-se
dimensões de um verdadeiro impé- conquistar Siracusa, que era aliada a Atenas e atacou a guarnição espar-
rio. No século V a.C., Atenas foi go- de Corinto e abastecia o Peloponeso tana em Tebas. Durante a Batalha de
vernada por Péricles (444 a.C. – 429 com alimentos. Leuctras, em 371 a. C., a revolta dos
a.C.) e suas instituições atingiram o Começava a segunda fase da escravos em Esparta conduziu os
máximo esplendor. Diversas obras Guerra do Peloponeso. Em 413 a.C., a tebanos à vitória, sob o comando dos
públicas foram iniciadas, gerando esquadra ateniense foi destruída em generais Epaminondas e Pelópidas.
empregos; os membros dos tribunais Siracusa. Acusado por seus adver- O período da hegemonia tebana foi
e da Assembleia passaram a receber sários políticos, Alcebíades fugiu para marcado pela libertação dos messê-
pagamentos; as camadas inferiores Esparta, para quem entregou os pla- nios do domínio de Esparta e pela
puderam participar do Arcontado, e nos atenienses. Em 404 a.C., em conquista e submissão da Tessália,
Péricles cercou-se dos maiores artis- razão da grande ofensiva dos espar- Trácia e Macedônia. Para consolidar
tas e intelectuais da Grécia, como tanos, que mantiveram um exército na seu domínio militar, Tebas iniciou a
Fídias, Heródoto e Anaxágoras. Essa Ática e ampliaram a sua frota, Atenas construção de uma esquadra, o que
hegemonia, contudo, criou uma série foi derrotada na Batalha de Egos-Pó- lhe valeu a oposição de Atenas. Em
de inimigos para Atenas, pois feria a tamos pelo general espartano Lisan- 362 a.C., Atenas e Esparta, agora alia-
autonomia das demais cidades- dro. Os muros de Atenas foram des- das, impuseram a derrota a Tebas,
Estado; por outro lado, o controle truídos e a frota caiu nas mãos de Es- na Batalha de Mantineia. O enfraque-
exercido sobre a Grécia pela Confe- parta. A hegemonia exercida por Es- cimento das pólis, em decorrência
deração de Delos desrespeitava o parta não era menos opressora que a de tantas lutas, facilitou a conquista
princípio de soberania das cidades. de Atenas. Na Ásia, os espartanos da Grécia por Filipe, rei da Macedônia.
K A Guerra do Peloponeso
e a hegemonia espartana
Muitos Estados gregos, cuja lo-
calização no interior os colocava a
salvo da frota ateniense, ligaram-se a
Esparta na Liga do Peloponeso, fran-
camente hostil a Atenas e à Confe-
deração de Delos, que ela mantinha
sob controle. Em 431 a.C., um inci-
dente transformou essa rivalidade
em guerra. As ambições territoriais de
Atenas em expandir-se para o Oci-
dente levaram-na a apoiar e celebrar
uma aliança com Córcira, colônia de
Corinto — aliada a Esparta. Com is-
so, explodiu a Guerra do Pelopone-
so, que duraria 27 anos e deixaria a
Grécia completamente exausta pelas Vitória alada de Samotrácia. Vênus de Milo. Chefe gaulês e sua mulher.
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Austrásia, que então passou a A Lotaríngia, região que coube a dos normandos, que devastaram a
chamar-se Lotaríngia; Luís herdou a Lotário, após a morte deste, frag- região. O enfraquecimento do poder
Alemanha; Carlos recebeu a França. mentou-se, tendo sido em grande central, bem como o hábito de doar
Essa divisão foi fundamental para a
parte incorporada à Germânia. O terras em troca de fidelidade, acabou
estruturação do feudalismo, uma vez
resto do Império foi dividido entre por fortalecer a nobreza guerreira.
que criou a “nacionalização”, ao
mesmo tempo que descentralizou o Luís (mais tarde, Ger mânico) e Em 987, Hugo Capeto, conde de
poder real, dando assim absoluta Carlos (depois conhecido como “O Paris, pôs fim à Dinastia Carolíngia,
autoridade para os nobres dirigentes Calvo”). Isso enfraqueceu o Império substituída pela nova dinastia que se
das províncias. Carolíngio e propiciou as invasões formava: a Capetíngia.
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Insistia que a sociedade tinha um poder dos duques. Numerosos bis- Cardeais. Essa situação somente
caráter estático por determinação di- pados e abadias foram fundados e o terminou em 1122, com a assinatura
vina, cabendo a cada um viver dentro imperador entregava aos titulares da Concordata de Worms, que co-
da posição que lhe fora designada desses territórios tanto o poder reli- locaria fim à Querela das Investidu-
por Deus. Essa visão enquadrava- gioso (simbolizado pelo anel e pela ras ao definir que cabia ao papa a
se per fei tamente nos interesses cruz e concedido em função da in- entrega da investidura espiritual e
dominantes do mundo feudal. vestidura espiritual) quanto o poder ao imperador a entrega da investi-
Durante a Idade Média, o clero político (representado pelo báculo e dura temporal ou leiga.
regular (monges) adquiriu considerá- concedido em função da investidura Chegava ao fim a preponderân-
vel preponderância em relação ao leiga), além do fato de que o im- cia política dos imperadores sobre o
clero secular (padres). Mesmo assim, perador possuía o direito de escolher clero, e a Igreja iniciava sua supre-
não conseguiu evitar que se formasse o bispo de Roma (cesaropapismo). macia dentro do Mundo Medieval.
uma camada privilegiada, abades e A intervenção do poder político
bispos, que constituíam o alto clero. na Igreja levou a uma série de con- 8. A VIDA CULTURAL
De qualquer modo, a força espi- sequências negativas para esta,
ritual da Igreja era incontestável e como o nicolaísmo (desregramento Quando se compara a produção
dominava a mentalidade do homem do clero) e a simonia (comércio de cultural da Idade Média com a Anti-
medieval, para quem a vida na Terra bens da Igreja). guidade ou a Modernidade, ela é
era uma preparação para a vida No século XI, do Mosteiro de considerada tradicionalmente um pe-
pós-morte. Contrapunham-se, as- Cluny, um movimento propôs uma ríodo de trevas. Tal conceito, porém,
sim, dois elementos importantes: de série de reformas internas na Igreja. tem sofrido algumas revisões, graças
um lado, a força espiritual da Igreja; O clero regular foi reformado e o à reabilitação da Idade Média por
de outro, a fraqueza do Estado. Des- movimento começou a atuar com o certos autores que nela encontram
sa contradição, resultou a suprema- clero secular, combatendo principal- as raízes culturais do Mundo
cia política do bispo de Roma (papa), mente a simonia e o nicolaísmo; Moderno e – num sentido mais ime-
que passou a ditar normas para reis nesse último caso, o movimento diato – do Renascimento. Além do
e imperadores. A hegemonia da defrontou-se com o poder político, mais, não podemos ajuizar sobre o
Igreja levou-a a um choque inevitá- pois era impossível acabar com o ni- valor de uma cultura, pois os valores
vel com o poder leigo (temporal) dos colaísmo sem atacar a investidura são relativos, e, quando afirmamos
imperadores alemães, na famosa leiga e o cesaropapismo. que a Idade Média é um “período de
Querela das Investiduras. A força do movimento de Cluny trevas”, nós o fazemos tendo por
levou à criação do Colégio de Car- base os valores da sociedade atual,
K A Querela das Investiduras deais, em 1059, com a finalidade de que também não são definitivos.
Com a divisão do Império Caro- eleger o papa, limitando o cesaro- Não podemos esquecer o fato de
língio, pelo Tratado de Verdun, a ten- papismo. Em 1073, o líder do movi- que a Igreja foi a grande mantenedora
dência foi o enfraquecimento da Di- mento, Hildebrando, era eleito papa, da cultura durante o Período Feudal,
nastia Carolíngia, que se extinguiu assumindo o nome de Gregório VII, apesar de o fazer de forma que justi-
em 911, na França Oriental, enquanto que colocou uma série de medidas ficasse suas ideias e dogmas.
na França Ocidental, em 987, Hugo reformistas em prática, como a insti- De qualquer modo, saber ler e es-
Capeto dava início à Dinastia dos tuição do celibato clerical e o fim da crever era privilégio da Igreja na Alta
Capetíngios. investidura leiga. Idade Média. De nada adiantaram os
Na França Oriental, fundou-se o Nesse momento, o imperador ale- esforços de Carlos Magno para pro-
Reino Germânico, com a união dos mão, Henrique IV, reagiu energica- porcionar aos nobres franceses rudi-
duques da Francônia, Saxônia, Suá- mente, considerando o papa deposto. mentos de ensino. As invasões bár-
bia e Baviera. Nessa monarquia, o Gregório VII, por sua vez, excomun- baras haviam destruído a maioria das
rei seria um dos duques, eleito pelos gou o imperador e proibiu os vassalos obras representativas da cultura anti-
outros três. de lhe prestarem serviços. Em 1077, ga, restando uns poucos exemplares
A dependência política e militar Henrique IV fez a peregrinação ao nos mosteiros. A grande exceção no
que a Igreja tinha em relação aos Ca- Castelo de Canossa e pediu perdão plano cultural, na Idade Média, foram
rolíngios foi, ao final do primeiro milê- ao papa, ao mesmo tempo em que os árabes, que conseguiram um
nio, transferida para os reis germâni- seus inimigos, na Alemanha, elegiam notável progresso na Espanha.
cos, que davam proteção a Roma. um novo imperador. Já na crise do feudalismo, com a
Em 962, após derrotar os hún- Perdoado, Henrique IV voltou e expansão comercial e a criação das
garos, Oton I foi sagrado imperador combateu seus adversários, reto- universidades, o pensamento filosó-
pelo papa João XII, fato que marca mando o poder e, logo em seguida, fico desenvolveu-se, surgindo, então,
o nascimento do Sacro Império Ro- invadiu Roma, obrigando o papa a se a escolástica (“filosofia da escola”),
mano-Germânico, que duraria até refugiar em Salerno, onde morreu. produzida por São Tomás de Aquino,
1806. Oton I iniciou um processo de A Igreja passava a ter dois pa- autor da Suma Teológica. O ideal
intervenção na Igreja, ampliando pas: Clemente III, escolhido por tomista era conciliar o racionalismo
seus domínios territoriais na Alema- Henrique IV, em Roma; Urbano II, aristotélico com o espiritualismo
nha, com a finalidade de controlar o escolhido no exílio pelo Colégio de cristão, harmonizando fé e razão.
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A saída proposta, então, pela as colônias militares estabelecidas O renascimento das atividades
Igreja foram as Cruzadas, uma con- em território inimigo. A luta fratricida comerciais levou ao crescimento das
traofensiva da cristandade diante do foi uma constante entre as ordens cidades, a uma economia baseada
avanço do Islã. A Europa, que, entre religiosas e os cruzados latinos. Em na moeda, à expansão do mercado,
os séculos VIII e XI, não teve condi- resumo, as Cruzadas fracassaram ao surgimento de uma camada de
ções de reagir contra os árabes, pas- em razão das rivalidades nacionais comerciantes (burguesia) e à difusão
sava a reunir nesse momento as con- entre as potências ocidentais e da do espírito de lucro. O pré-ca-
dições necessárias: a mão-de-obra falta de capacidade da Igreja em pitalismo fazia sua aparição no Mun-
militar estava marginalizada e ociosa; organizar uma força que soubesse do Medieval e, ao mesmo tempo, o
o controle espiritual e religioso que a superar essas dissensões. condenava à desintegração.
Igreja exercia sobre o homem medie-
val levou-o a crer na necessidade de 4. CONSEQUÊNCIAS 5. OUTRO ENFOQUE
resgatar o Santo Sepulcro e comba- DAS CRUZADAS
ter o infiel muçulmano; o poder papal
Há controvérsias sobre a expli-
se fortalecera quando Gregório VII As Cruzadas não se limitaram às cação e a própria periodização da
impôs sua autoridade a Henrique IV, expedições ao Oriente. Ao mesmo crise feudal. Para alguns historiado-
na Querela das Investiduras; a Igreja tempo, os reinos ibéricos de Leão, res, o feudalismo no Ocidente pas-
do Ocidente pretendia a reunificação Castela, Navarra e Aragão começa-
da cristandade, quebrada pelo sou por um período de incubação
vam a Reconquista da Península Ibé- entre os séculos IV e VIII, atingiu sua
Cisma de 1054; o imperador de rica contra os muçulmanos. A ofen-
Constantinopla desejava afastar o plenitude nos séculos IX e XIII e
siva teve início com a tomada da decaiu entre os séculos XIV e XVI.
perigo que os muçulmanos represen- cidade de Toledo, em 1086, e con-
tavam; finalmente, para Urbano II, o Isso equivale a dizer que o movi-
cluiu-se, em 1492, com a tomada de mento das Cruzadas, o renascimen-
papa do exílio imposto pela Querela
Granada. to comercial e urbano, o apareci-
das Investiduras, convocar as Cruza-
A vitória dos italianos sobre os mento da burguesia, enfim todas as
das demonstrava prestígio e autori-
muçulmanos no Mar Tirreno e norte trans for ma ções socioeco nô mi cas,
dade perante toda a Igreja.
Em 1095, no Concílio de Cler- da África fez com que as cidades ita- políticas e até religiosas do início da
mont, Urbano II convoca a cristanda- lianas iniciassem o seu domínio Baixa Idade Média não seriam ape-
de para uma guerra santa contra o sobre o Mediterrâneo, lançando as nas manifestações do desenvolvimen-
Islã. Ao todo, realizaram-se oito Cru- sementes do comércio e do capi- to e apogeu do feudalismo europeu.
zadas entre 1095 e 1270. talismo. As relações entre Ocidente e
Apesar da mobilização realizada Oriente foram redinamizadas depois 6. A REABERTURA DO
pelas Cruzadas, estas são conside- de séculos de bloqueio, e as mer- MAR MEDITERRÂNEO
radas um insucesso, que se deve em cadorias orientais se espalhavam
primeiro lugar ao caráter superficial pela Europa. Os cristãos retomaram o controle
da ocupação. A presença cristã no O contato com o Oriente trouxe o do Mar Mediterrâneo por meio das
Oriente Médio não criou raízes entre conhecimento de novas técnicas de Cruzadas. A abertura do Mediterrâ-
as populações locais. Outra razão foi produção, fabricação de tecidos e neo à navegação cristã fez renascer
a anarquia feudal, que enfraquecia metalurgia. o comércio entre Ocidente e Oriente,
dinamizando as relações comerciais
há muito tempo amortecidas. Novos
produtos entram em circulação, as
moedas voltam a ser usadas no inter-
câmbio comercial: uma nova vida
econômica começava a surgir na
orla do Mediterrâneo.
7. O RENASCIMENTO
COMERCIAL
No século XI, termina o domínio Com a dinamização da vida mer- Essa fase de transição não é ainda
árabe sobre o Mediterrâneo, que pas- cantil, esses centros foram se trans- capitalista, mas também já não é mais
sa a ser controlado pelos comercian- formando e adquirindo importância feudal; por isso, vamos denominá-la
tes italianos. Os comerciantes, antigos cada vez maior. Se o crescimento do pré-capitalismo, que corresponde ao
marginais, dirigiam-se das cidades comércio levou à formação de novas período entre os séculos XII e XVI.
italianas de Gênova e Veneza para cidades, estas, por sua vez, pro- As sociedades agrárias tendem
os entrepostos comerciais do Medi- vocaram a intensificação do comér- a ser imóveis, estamentais. Com o
terrâneo Oriental: Constantinopla, cio. Uma coisa influenciava a outra. desenvolvimento da riqueza mobiliá-
Alexandria, Cairo e Antióquia, que Os comerciantes procuravam lo- ria, do dinheiro, surge a mobilidade
formavam a rota do Mediterrâneo. cais estratégicos para se estabele- social, a possibilidade de ascensão
De Flandres, seguindo o roteiro cer: burgos (castelos fortificados), na escala social. A tradição deixa de
dos antigos vikings através da Rús- sedes de bispados, centros adminis- ser o único elemento de hierarquiza-
sia, os comerciantes chegavam a trativos etc. ção na vida social, pois o econômico
Constantinopla pela Rota do Mar do começa a adquirir importância.
Entretanto, o crescimento natural
Norte. O comércio no norte da Euro- Esta sociedade ainda é de
e a falta de planejamento das cida-
pa era controlado pelos mercadores transição, feudal, portanto uma
des acarretaram-lhes péssimas con-
da Grande Hansa Germânica, criada sociedade estamental, representada
dições sanitárias, o que facilitava as
em 1358, visando a proteger o comér- pela nobreza e pelos servos. Porém,
cio contra os piratas e impor sua von- epidemias e fazia crescer a mortali-
a posição é definida com base no
tade ao rei da Dinamarca, que cobrava dade e o fanatismo.
econômico; a sociedade começa a
altos pedágios sobre os mercadores. Nas cidades, uma nova camada
tornar-se burguesa.
Veneza e Gênova, através da social exercia o poder: a burguesia, de _________________________________
França, atingiam Flandres, centro ma- origem humilde, que começava a ri-
nufatureiro de lã, promovendo o de- valizar com a nobreza, disputando-lhe
10. CRONOLOGIA
senvolvimento das atividades comer- o poder político. Os reis protegiam os
ciais nas feiras de Champagne. Essa comerciantes, dando-lhes autonomia Século XI – Início da crise feudal.
rota terrestre era denominada Rota de nas cidades, com a concessão das 1054 – Cisma do Oriente.
Champagne, que ligava os três cen- Cartas de Comuna.
1086 – Tomada de Toledo, dentro
tros dinâmicos do comércio: Constan- A produção artesanal dentro das
tinopla, cidades italianas e Flandres. cidades foi organizada em torno das da Guerra de Reconquista na Pe-
As atividades comerciais intensi- corporações de ofício, que regula- nínsula Ibérica.
ficaram-se mais ainda com o surgi- mentavam a produção das comunas, 1096-1099 – Primeira Cruzada.
mento das feiras, que eram vincu- fixando quantidade, qualidade, pre- 1099 – Tomada de Jerusalém.
ladas ao capitalismo nascente e que ços e salários. Mestres, oficiais e 1147-1149 – Segunda Cruzada.
tinham um caráter internacional. Os aprendizes compunham a hierarquia 1189-1192 – Terceira Cruzada.
locais onde elas se formavam eram das oficinas medievais.
pontos estratégicos das correntes co- 1160 – Surgimento da companhia
Dentro das cidades, formaram-se
merciais. Os comerciantes prioriza- também as guildas, associações de dos mercadores da Ilha de Visby, no
vam suas realizações nos chamados comerciantes. Mar Báltico.
“nós de trânsito” (cruzamentos de O poder era exercido por uma 1202-1204 – Quarta Cruzada.
rotas). Dentro das feiras, desenvol- Assembleia local, composta de mem- 1204 – Pilhagem de Constantinopla
veram-se técnicas de comércio bros das associações de comerciantes.
exterior, como a troca de moedas e pelos cruzados.
as letras de câmbio. 1212 – Cruzada das Crianças.
9. OS PRIMÓRDIOS DO
1217-1221 – Quinta Cruzada.
CAPITALISMO EUROPEU:
8. O RENASCIMENTO 1228-1229 – Sexta Cruzada.
O PRÉ-CAPITALISMO
URBANO 1248-1250 – Sétima Cruzada.
Esta nova realidade econômica 1270 – Oitava Cruzada.
No século XI, a crise feudal cedia
espaço a um novo tipo de organiza- era muito diferente do feudalismo: a Século XIII – Aquisição, por parte
ção da vida. Nesse tempo, a popula- produção se destinava ao mercado, de certas cidades, do direito de
ção europeia crescia e as cidades as trocas eram monetárias; começa- cunhar moeda.
passaram a servir de polos recep- vam a surgir o espírito de empresa e
1358 – Formação da Grande Hansa
tores a servos e vilões que foram ex- o racionalismo. Para que o capitalismo
se implantasse definitivamente, falta- Teutônica (ou Liga Hanseática).
pulsos das propriedades senhoriais –
pela escassez de terras – ou que, em va apenas o desenvolvimento das re- Fim do século XIV – Início da de-
tempos de fome, partiam em busca lações assalariadas de produção, cadência das feiras medievais, sobre-
de novas atividades, além de serem relações essas que somente se con- tudo na região de Champagne.
as cidades, por excelência, o local solidariam na Europa por volta do sé- 1407 – Fundação do primeiro ban-
de desenvolvimento das atividades culo XVIII, à época da Revolução In- co público da Europa, em Gênova.
mercantis. dustrial.
– 109
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A religião defendia que o destino Quando os espanhóis chegaram, Cactus e corresponde à atual Cidade
dos homens era controlado pelos os maias já estavam em decadência. do México).
deuses, aos quais prestavam cultos, Entretanto, deixaram a marca da sua Firmaram aliança com as ci-
realizavam cerimônias e construíam cultura em muitos povos vizinhos, na dades-Estados de Tlacopan e Texco-
templos em forma de pirâmides com Mesoamérica. As hipóteses para ex- co, que juntas submeteram os povos
escadarias, utilizando mão de obra plicar a sua decadência são muitas. do Vale e deram origem ao Império
camponesa recrutada de forma com- Entre elas, podemos citar o esgota- Asteca.
pulsória. Ainda em função da religião, mento do solo, em razão da prática No início, as três cidades divi-
desenvolveram a escultura em terra- da agricultura de coivara ou queima- diam o poder entre si, mas a supre-
da, a deficiência alimentar (o consu- macia militar de Tenochtitlán acabou
cota, a pintura e o calendário cíclico,
mo de carne e, portanto, de proteína transferindo o poder para os astecas.
com 52 anos, fundamentando-se em
era raríssimo) e ainda os acirrados Em 1440, Montezuma I inicia a
seus avançados estudos de astrono-
conflitos internos entre os diversos construção de grandes aquedutos e
mia. Com a intenção de facilitar os cál- líderes das cidades-Estados. obras para a irrigação do solo e, prin-
culos, inventaram o zero. A escrita ela- No período de 1517 a 1697, os cipalmente, a organização do Império.
borada é denominada glífica e consis- espanhóis conquistaram o Império Quando os espanhóis chegaram
te em um conjunto de caracteres que Maia, o que foi marcado pela violên- à região do Império Asteca, em 1521,
representam parcialmente um objeto cia do branco contra o indígena, pela Montezuma II era reconhecido como
ou algo relacionado a esse objeto. força das armas em busca do ouro. o único imperador, e os astecas
Entre as culturas pré-colombia- viviam seu momento de apogeu.
K O Novo Império Maia nas, somente os maias resistiram à
Por volta do ano 900, iniciou-se o conquista europeia; estes não acredi- K Economia
declínio do Império Maia, que, dois tavam, como os outros povos, que os Na economia, os astecas tinham
séculos mais tarde, passou a sofrer europeus fossem deuses que che- a agricultura como principal ativida-
influência da cultura tolteca. gavam à América. de; produziam milho, feijão, cacau e
Os toltecas, originários do grupo algodão, entre outros produtos. O Es-
linguístico naua, haviam ocupado o 4. OS ASTECAS tado era o proprietário das terras, e a
Planalto Central Mexicano e transfor- comunidade detinha a posse útil e
mado Tula em sua capital. Formavam K Introdução pagava impostos sobre a produção.
uma sociedade urbanizada e milita- A localização geográfica originá- Utilizavam as chinampas e aperfei-
rista, na qual se destacava a religião, ria dos astecas é a região noroeste çoaram o sistema de regadio em
que tinha como deus principal do México, denominada Aztlán, daí suas plantações.
Quetzalcoatl (serpente emplumada). se autodenominarem astecas. O comércio, apesar de não ser a
Ocorreu, então, a fusão das cul- Essa região foi ocupada aproxi- principal atividade econômica, tam-
turas maia e tolteca, dando início ao madamente nos séculos I e II a.C., bém se destacava na sociedade.
chamado Novo Império Maia, que, período em que os astecas eram Realizavam-se trocas, dentro das
lentamente, entrou em declínio. considerados “bárbaros” (chichime- cidades – como, por exemplo, no
cas ou ainda mexicas), por perten- mercado de Tlatelolco –, de legumes,
cerem ao grupo linguístico nahuatl. frutas, plumas, joias e escravos, além
Como todos os grupos, os aste- de produtos importados, como taba-
cas primitivamente viviam da caça, co, peles e cristal. Esse comércio
pesca e coleta vegetal. Possuíam levou ao aprimoramento do sistema
uma sociedade simples, na qual de troca, que transformou a semente
prevalecia a igualdade entre os de cacau em “moeda corrente”.
membros do grupo, que era liderado
por um chefe guerreiro. Aliás, a guer- K Organização social
ra sempre foi um elemento carac- Primitivamente, os astecas orga-
terístico dos agrupamentos humanos nizavam-se em clãs, denominados
durante o período do Paleolítico. calpulli, que tinham por base os laços
Ao se estabelecerem no Vale do de parentesco. Nesse período, a
México, durante o século XII d.C. – posse da terra era coletiva, inexistin-
após o saque à cidade de Tula, dos do a noção de propriedade privada.
toltecas –, os astecas sedentariza- O imperador e sua família ocupa-
ram-se, passando à fase Neolítica. vam o topo da pirâmide social.
Em 1325, fundaram a capital do A expansão sobre o Vale do Mé-
Império, às margens do Lago Tex- xico e a conquista de terras – realiza-
Prováveis centros de origem coco, que recebeu o nome de da por meio da guerra – conferiram
dos principais animais domesticados. Tenochtitlán (que significa Rocha de aos militares um grande poder no
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Império. Os sacerdotes e os militares K Religião e cultura Antes dos incas, o Altiplano An-
constituíam a nobreza, compondo a A religião era politeísta. Entre os dino foi palco de culturas que são
classe dominante. Esta recebia como deuses adorados pelos astecas, es- denominadas pré-incaicas. Entre es-
privilégios a isenção de impostos e o tavam o Colibri-Azul ou Uitzilopochtli sas culturas, encontramos a Chavin,
domínio sobre extensões de terras, (o deus do Sol do Meio-Dia) e Tezca- séculos IX a II a.C., no norte do Peru.
das quais não era proprietária parti- tlipoca (deus protetor dos guerreiros Com a decadência dessa cultu-
cular, pois essas eram coletivas. e escravos, simbolizado pela Noite); ra, o Altiplano Andino assistiu a um
Os comerciantes (denominados longo período em que predominaram
o contato com outras civilizações os
pochtecas) e os artesãos compunham
fez adorar deuses como Quetzalcoatl grupos fragmentados e, no século VI
a camada social intermediária. Os co-
(a Serpente de Plumas). da Era Cristã, três grandes culturas
merciantes organizavam-se em cor-
Os astecas acreditavam na ideia floresceram nessa região. São elas:
porações e detinham o monopólio
sobre a atividade mercantil, que era de que seriam o povo incumbido de Império Tiahuanaco, no Altiplano
transmitida de pai para filho. Os arte- zelar pela manutenção da harmonia Boliviano, próximo ao Lago Titicaca;
sãos trabalhavam com a ourivesaria no universo, o que só poderia acon- a civilização huari, bacia do Rio do
e a confecção de peças em plumas; tecer por meio da alimentação dos Aiacucho, estendendo-se da região de
também se organizavam em corpora- deuses; assim, o seu código religioso Cuzco até a costa norte do Peru; o
ções e pagavam impostos ao Esta- admitia o sacrifício humano. Os deu- Império Chimu, costa norte do Peru.
do. A profissão era hereditária dentro ses que regiam o universo e assegu- Os incas, originariamente, consti-
das famílias. ravam as boas colheitas e vitórias mi- tuíam um povo nômade, parte inte-
Na base da pirâmide social, esta- litares também regiam o destino dos grante do grupo quíchua, da região
vam os camponeses e os escravos. homens. da Amazônia.
Os primeiros, de origem asteca, de- Em termos culturais, podemos con- Após sucessivas conquistas, os
viam obrigações ao Estado, como tra- siderar que os astecas promoveram incas estenderam o seu poder sobre
balhar em obras públicas, na agricul- uma fusão de elementos das culturas uma área de quase 5.200.000 km2,
tura, pagar impostos e prestar ser- anteriormente estabelecidas no Vale com uma população estimada entre
viço militar. Na época do casamento,
do México, porém superando-as. 3,5 milhões e 7 milhões de habitantes.
recebiam um lote de terra para cul-
A arquitetura foi extremamente de- Quando os espanhóis chegaram,
tivar e, nos combates militares, havia
senvolvida, destacando-se a constru- em 1532, o Império Inca vivia seu
a possibilidade de ascensão social.
Os escravos, adquiridos em guerras ção de pirâmides, palácios e sistemas auge, impressionando os espanhóis
como pagamento de dívidas ou de irrigação, além de aquedutos. pela sua organização e suas impo-
condenados por crimes, trabalhavam Estudavam astronomia e criaram nentes obras arquitetônicas.
a terra e podiam ser libertados. um calendário dividindo o ano em de- Apesar da dominação espanho-
A poligamia era admitida no gru- zoito meses (cada mês com vinte dias), la, a influência dos incas faz-se pre-
po pelo fato de a população mascu- mais cinco dias complementares; a sente até hoje. No Peru, o quíchua,
lina diminuir em períodos de guerra, cada 52 anos, concluía-se um ciclo. antiga língua dos incas, é atualmente
mas predominava a monogamia. Utilizando esse conhecimento, pre- uma das línguas oficiais do país.
viam eclipses lunares e os solstícios. Os incas eram também conheci-
K Política Possuíam escolas: a Calmecac, dos como os “Filhos do Sol” por acre-
A sociedade asteca, fortemente voltada para a formação da nobreza ditarem que o Sol (o deus Inti) era o
embasada no militarismo e influen- ancestral de seus governantes.
sacerdotal, e a Telpochcalli, destina-
ciada pela religião, fez nascer um po-
da ao ensino comum. A escrita era
der político militarizado e teocrático.
pictórica e hieroglífica. K Economia
O imperador, inicialmente, era
A base da economia inca era a
eleito por uma Assembleia de guer-
reiros. Em razão das conquistas, es- 5. OS INCAS agricultura, na qual a batata e o milho
sa Assembleia foi perdendo cada ocupavam lugar de destaque. Para
vez mais sua importância e acabou K Introdução ampliar a área cultivável, faziam ter-
sendo substituída por um Conselho O território ocupado pelos incas raços nas regiões do Altiplano Andi-
que escolhia os imperadores em uma corresponde atualmente ao Peru, Bo- no, o que, além de favorecer a agri-
mesma família, o que tornou a lívia, Equador, parte do Chile e norte cultura, evitava a erosão da terra. O
sucessão hereditária. da Argentina, na região do Altiplano solo era fertilizado com o guano, fertili-
O imperador, comandante supre- Andino. zante natural de excremento de aves.
mo do Exército, dividia o poder com A ocupação da região pela civili- Primitivamente, a terra, no Alti-
a Mulher-Serpente, função exercida zação inca iniciou-se em 1200 e não plano Andino, era propriedade cole-
por um homem, responsável pela constituiu o primeiro agrupamento tiva da comunidade ayllu, que traba-
chefia de governo. humano dessa região. lhava em conjunto nas plantações.
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Uma parte da produção era reco- dade denominada ayllu, liderada pelo Para tentar evitar os conflitos in-
lhida aos depósitos públicos para ser curaca, fundador ou descendente do ternos, graças às conquistas sobre
distribuída aos habitantes em tempo ancestral do grupo. outros povos, os incas tomavam os
de crise pelo curaca, líder local. Com a conquista incaica sobre a filhos dos curacas dominados como
Com a chegada dos incas e seu região do altiplano, no século XIII, as “reféns” e os enviavam à capital do
processo de expansão e submissão comunidades foram subordinadas e Império para estudar, forçando a
das comunidades, as terras passaram o poder político ficou nas mãos de um submissão dos líderes derrotados.
a pertencer ao Estado e a estrutura imperador – Inca ou Sapa Inca –, cuja Administrativamente, o Império
fundiária original foi alterada. As ter- força se fundamentava na religião e foi dividido em quatro partes (provín-
ras foram, então, divididas em terras no Exército, do qual era o comandante cias), que eram interligadas por nu-
da comunidade e terras do Estado, supremo, caracterizando, assim, um merosas estradas, permitindo tanto o
cultivadas pelos membros do ayllu. governo teocrático-militarista. serviço dos correios quanto a ação
O tributo em espécie não era pa- Abaixo do imperador, estava a no- do Exército, em caso de revolta.
go diretamente ao Estado, mas este breza, formada por seus parentes, por Ironicamente, mais tarde, essas vias
detinha o direito de requisitar a mita, acabaram facilitando o trabalho dos
altos funcionários do Estado e do
paga sob a forma de trabalho com- invasores espanhóis.
clero e pelos curacas, que mantive-
pulsório nas minas, construção de
ram seu prestígio em razão da
estradas e obras públicas, como ca-
tradição de sua família. Em seguida, K Religião e cultura
nais de irrigação. Na época em que a
vinham os artesãos, médicos, artistas, Os incas dedicaram-se à astro-
mita era requisitada, o Estado devia
militares e contabilistas; finalmente, na nomia, elaborando um calendário
prover os trabalhadores com víveres.
base da pirâmide social, estavam os que, além de marcar o tempo, servia
O comércio também se desen-
volveu com base na produção de camponeses e os escravos. para fazer previsões astrológicas.
cerâmica, tecidos e artesanato em Dentro do Império, o ayllu conti- Na religião, além do Sol, da Lua,
ouro, bronze e prata. nuou a ser a base da organização do Trovão e da Terra, cultuavam Vira-
social e administrativa, sendo forma- cocha, o “Criador do Universo”.
K Organização do de acordo com os laços de paren- Completando as suas cerimônias,
política e social tesco e chefiado pelo curaca, cujo que incluíam danças e uso da chicha
Antes da dominação inca, a orga- poder era transmitido hereditaria- (espécie de cerveja feita de cereais),
nização social básica era a comuni- mente. sacrificavam humanos e lhamas.
navios de guerra para combater o açúcar. A Espanha, tendo conseguido K O novo escravismo
contrabando e elevando as tarifas al- metais preciosos na América, pôde A introdução de escravos africa-
fandegárias para impedir a importa- desenvolver uma política de exporta- nos ocorreu em virtude da imposição
ção de produtos concorrentes. Po- ção desses metais em troca de mer- do sistema, pois era exatamente o
rém, como a concorrência entre as cadorias; daí o mercantilismo bulionis- comércio de escravos que produzia
potências europeias era muito forte, ta (metalista), segundo o qual o metal os maiores lucros (muito mais do que
os elementos da prática mercantilista era a própria riqueza do país, e não a produção de açúcar). A necessida-
somente seriam exequíveis em rela- mero representante dessa riqueza. de de conservar o lucrativo comércio
ção às colônias. Por isso, o sistema Portugal passou por quase todas as de escravos explica a introdução de
colonial é a peça decisiva da política experiências da política mercantilista: negros africanos na produção colonial.
mercantilista. mercantilismo comercial (na Ásia e É dessa forma que se entende a subs-
África), mercantilismo industrial (du- tituição do trabalho forçado indígena,
K Tipos de mercantilismo rante as crises comerciais) e mer-
usado na fase de implantação da em-
As metrópoles que possuíam co- cantilismo metalista (no decorrer da
presa colonial, pelo trabalho do negro
lônias conseguiram, ao menos inicial- fase do ouro no Brasil).
africano. De fato, desde que a ativi-
mente, manter sua balança comer-
dade econômica açucareira se tornou
cial em situação favorável em relação K O sistema colonial
rentável, o lucro passou a ser desvia-
às demais nações europeias. Assim, Se todas as nações europeias
quem não tivesse colônias seria obri- buscassem uma balança comercial do das mãos do produtor (senhor de
gado a empregar meios indiretos para favorável, a concorrência mercantil fa- engenho) para as mãos dos interme-
atrair as riquezas coloniais, principal- ria com que algumas delas aca- diários (reis e burguesia). A ideia de
mente os metais preciosos. A In- bassem não atingindo o seu objetivo, que o indígena não se adaptou à
glaterra expandiu o mercantilismo co- ficando, assim, com a balança desfa- produção é tradicional e superada.
mercial, cujo modo de ação era o vorável. Nessa medida, as colônias se
desenvolvimento do comércio maríti- tornavam indispensáveis, pois mante- K Tipos de colonização
mo, por meio das companhias de na- riam favorável a balança mercantil de A grande exploração agrícola
vegação, procurando manter a balan- suas metrópoles. Daí a necessidade possibilitou a ocupação e defesa das
ça favorável mediante a diferença de enquadrar as colônias no conjunto terras da América pelos portugue-
entre os preços de compra e venda. da política mercantilista e do sistema ses. Na América espanhola, a des-
Na França, desenvolveu-se o mercan- colonial, regidos pela noção de acu- coberta de metais preciosos pro-
tilismo industrial (ou colbertismo, por mulação mercantil, de monopólio e de vocou uma concentração dos interes-
causa do ministro Colbert), no qual as protecionismo. As colônias deviam ses e da defesa em áreas mais res-
manufaturas de artigos de luxo produ- alcançar sua finalidade: enriquecer a tritas, como, por exemplo, o Golfo do
ziam os principais rendimentos do Es- burguesia do reino e contribuir para o México. A colonização da América do
tado e da burguesia mercantil. A Ho- fortalecimento do Estado. Portanto, a Norte, porém, obedeceu principal-
landa empenhou-se em desenvolver exploração colonial, determinada pela mente ao regime de colônias de po-
um tipo misto (comercial-industrial), metrópole, definiu o sistema colonial e voamento, nas quais a ocupação bá-
com a criação de companhias de o próprio modo de produção colonial: sica era empreendida por homens
comércio e montagem de refinarias de monocultura, latifúndio e escravismo. que estavam descontentes com a
situação religiosa e política de seus
países de origem e que, portanto, pre-
tendiam construir uma nova pátria em
terras americanas.
_________________________________
3. CRONOLOGIA
4. CRONOLOGIA
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o manteve no cargo até sua morte; foi do Brasil Colônia. O controle político longo da colonização, os choques
ele quem conseguiu expulsar os inva- das Câmaras Municipais era exerci- entre os interesses da metrópole e os
sores franceses, graças à atuação de do pelos grandes proprietários lo- da colônia, isto é, entre o centralismo
seu sobrinho Estácio de Sá. cais, os “homens-bons”, o que refor- e o localismo, foram simbolizados,
Depois de Mem de Sá, por duas çava suas posições sociais de man- respectivamente, pelo Governo-Geral
vezes a colônia foi dividida tempora- do. Entre suas competências, desta- e pelas Câmaras Municipais.
riamente em dois governos-gerais: a cavam-se o poder deliberativo sobre
Repartição do Norte, com capital em preços de mercadorias e a fixação 6. O ESTATUTO
Salvador, e a do Sul, com capital no dos valores de alguns tributos. “As JURÍDICO DA COLÔNIA
Rio de Janeiro.
Câmaras de Belém e São Paulo, por
Durante a União Ibérica (domínio
exemplo, procuraram garantir o direi- A base jurídica da colônia estava
espanhol sobre Portugal), o Brasil foi
to de organizar expedições para escra- assentada num estatuto, idêntico ao
transformado em duas colônias distin-
tas: Estado do Brasil (cuja capital era vizar os índios, e as do Rio de Janeiro da metrópole, isto é, seguia as deno-
Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e e Bahia muitas vezes estabeleceram minadas Ordenações Reais, con-
Estado do Maranhão (cuja capital era moratória para as dívidas dos senho- juntos de leis publicadas pelo Estado
São Luís e, depois, Belém). A reuni- res de engenho e combateram os mo- português, que possuíam como ca-
ficação só seria concretizada pelo nopólios comerciais” (Bóris Fausto). racterística a ação centralizadora e
marquês de Pombal, em 1774. As eleições para as Câmaras Mu- absolutista. As primeiras foram as Or-
nicipais eram realizadas entre os “ho- denações Afonsinas (1446), altera-
5. AS CÂMARAS MUNICIPAIS mens-bons”. Elegiam-se três verea- das em 1512 pelas Ordenações Ma-
dores, um procurador, um tesoureiro nuelinas e, em 1603, pelas Ordena-
Além das capitanias e do Gover- e um escrivão, sob a presidência de ções Filipinas. Tinham por inspiração
no-Geral, foram criadas as Câmaras um juiz ordinário (juiz de paz), mais originária o Código Romano e o direi-
Municipais nas vilas e nas cidades tarde substituído pelo juiz de fora. Ao to de Justiniano.
1. INTRODUÇÃO mas e metais preciosos. Consequen- zação das práticas agrícolas rudi-
temente, era complementar, espe- mentares, tais como a queimada ou
Em consequência do tipo de co- cializada, altamente dependente do coivara, que acarretaram um rápido
lonização desenvolvida por Portugal mercado consumidor metropolitano e esgotamento da terra.
no Brasil, uma colônia de exploração, basicamente extrovertida, ou seja, de
encontramos as seguintes caracte- exportação. 2. A GRANDE LAVOURA
rísticas gerais: • Uma economia predatória, isto
• Uma economia integrada no é, altamente desgastante em relação A produção colonial estava ba-
sistema capitalista nascente, forne- aos recursos naturais da colônia. seada na grande propriedade mono-
cendo ao centro dele produtos vege- Essa característica depredadora cultora. O surgimento da grande pro-
tais tropicais, alimentos, matérias-pri- esteve relacionada à própria utili- priedade no Brasil não está apenas
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relacionado à exigência de uma pro- 1530, mas o tráfico negreiro tornou- riqueza e oportunidades. Isto explica
dução de larga escala, objetivando o se mais intenso a partir de 1550, com o número de holandeses, franceses,
lucro pela exportação de produtos a dinamização da agricultura cana- alemães e até mesmo italianos que
tropicais, mas a determinados fato- vieira no Nordeste, Bahia e Rio de Ja- vieram para o Brasil como mercená-
res históricos de origem, como as neiro. Ante o tipo de técnica agrícola rios nas expedições portuguesas.
doações das grandes áreas na forma utilizada pelos negros e mais ade- Porém, não se devem negligen-
de sesmarias (pertencentes a uma quada às exigências da produção co- ciar os brancos fidalgos que vieram
determinada capitania hereditária), à lonial, é dito que um “negro correspon- para o Brasil por vários motivos:
necessidade de ocupação efetiva do dia ao trabalho de quatro indígenas”. porque tinham tido fracassos no Rei-
território e, principalmente, às exigên- Como é sabido, a escravidão negra no, ou porque se endividavam e não
cias criadas pela cana-de-açúcar, prolongou-se até 1888, tendo o tráfico podiam saldar seus compromissos,
produto que foi inicialmente cultivado sido extinto em 1850. Do século XVI até ou ainda porque a expectativa do
no Brasil e se tornou a base da nossa a abolição do tráfico, foram introduzi- Eldorado, que seria o Novo Mundo,
colonização inicial. O referido produ- dos e ficaram no Brasil quase os atraísse.
to, possuindo uma baixa produtivida- 3.500.000 negros, divididos basica-
de por unidade territorial de plantio, mente, em virtude de sua origem, em
não seria lucrativo. Necessariamen- dois grupos: sudaneses e bantos.
te, para sê-lo, teve de ser cultivado
em larga escala de produção. 3. FORMAÇÃO
No Brasil, a grande propriedade SOCIAL DO BRASIL
dominante foi o denominado latifún-
dio (grande propriedade, com utiliza- Além do indígena, cuja história e
ção de muita mão de obra, técnicas cultura já foram aqui estudadas, dois
precárias e baixa produtividade). Em outros elementos humanos foram res-
algumas regiões, como Bahia e Per- ponsáveis pela estruturação social do
nambuco, na época do apogeu da Brasil: o elemento branco, que, ape-
cana-de-açúcar, entre os séculos XVI
sar da origem marginal metropo-
e XVII, desenvolveram-se algumas
litana, participa em grande parte do
grandes propriedades do tipo
processo de dominação; o elemento
plantation, mas não chegaram a ter a
negro, que, atuando como mão de
mesma produtividade que as famo-
obra na estrutura produtiva, re-
sas plantations da região antilhana.
presentou a base da colonização, "o
K A escravidão pilar mais sólido sobre o qual se Pelo mapa do litoral brasileiro, retra-
Outra característica geral foi a erigiu a sociedade brasileira". tando a produção açucareira no século
predominância do trabalho escravo. XVI, percebe-se que Pernambuco
A implantação desse novo escravis- K Os portugueses e Bahia possuíam o maior número
de engenhos produtores de açúcar.
mo está adequada às exigências do Consideram vários autores que a
sistema capitalista nascente e de sua maior parte dos elementos brancos
efetivação na periferia do Sistema vindos para o Brasil na época da co- É evidente que não foi a presen-
Colonial, ou seja, foi fundamental pa- lonização eram degredados, conde- ça desses elementos brancos (e, por-
ra realizar a acumulação de capitais. nados a pagar penas delituosas em tanto, um problema de ordem racial)
A mão de obra escrava, no Brasil, terceira instância de gravidade. De que determinou a forma de coloniza-
abrangeu dois tipos: a indígena (ou fato, os infratores da lei em primeiro e ção do Brasil. A questão foge a essa
escravismo vermelho) e a negra afri- segundo graus eram deportados para falácia ideológica, resolvendo-se
cana. A primeira, apesar de toda a África e somente os de terceiro grau no contexto de uma análise do capi-
uma reação contrária dos padres vinham para o Brasil, o que demons- talismo comercial e de sua resul-
jesuítas, foi praticada até 1758, tra a aspereza da vida na colônia. tante: o sistema colonial tradicional.
quando ocorreu a abolição do escra- Os primeiros brancos deixados A influência do elemento branco
vismo índio em face do decreto pu- em terra por Cabral eram degreda- português no processo da coloniza-
blicado pelo marquês de Pombal. A dos. Martim Afonso de Sousa repetiu ção tem raízes na própria formação
mão de obra escrava negra já era o comportamento de Cabral, deixan- étnica de Portugal, dado que, ao
adotada pelos portugueses nas ilhas do igualmente homens com penas a contrário dos anglo-saxões, os portu-
do Atlântico, sendo, portanto, o trá- cumprir pelos seus crimes. Consta gueses não fizeram nenhuma restri-
fico negreiro preexistente ao desco- que, entre 256 casos de penas de ção à integração com os negros e
brimento do Brasil. (Remonta a, apro- degredo, 87 foram enviados para o índios, o que provocou a proliferação
ximadamente, 1440.) No Brasil, as Brasil. Além dos degredados, vieram de mestiços no Brasil. Além disso, os
primeiras levas de escravos negros também aventureiros europeus acos- portugueses tinham grande capaci-
foram introduzidas na década de tumados a andanças, em busca de dade de adaptação a novas con-
– 127
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dições climáticas – resultado talvez te, apoiada em feitorias (meros entre- 7. ATIVIDADES
da própria variação climática da postos para armazenagem do pau- SUBSIDIÁRIAS – PECUÁRIA
Península Ibérica, cujo clima é muito brasil), a extração da madeira verme-
mais seco (tipo africano) que úmido lha não chegou a promover o povoa- É provável que as primeiras
(tipo europeu). mento da colônia e, por outro lado, cabeças de gado bovino tenham
O desenvolvimento cultural do também não conseguiu impedir a sido introduzidas no Brasil, em 1534,
Brasil, nossas instituições, usos e presença de estrangeiros no litoral por D. Ana Pimentel, esposa e procu-
costumes estão profundamente in- brasileiro. radora de Martim Afonso de Sousa.
fluenciados pela cultura portuguesa, Mais tarde, o governador-geral Tomé
praticamente transplantada para o 6. O MUNDO DO AÇÚCAR de Sousa reservou uma de suas
Brasil e modificada ao sabor das caravelas para transportar gado bo-
condições locais. A partir de 1530, em razão da
vino. Como atividade complementar
Outro grupo que pertence à raça queda do comércio com os produtos
à empresa açucareira, o gado forne-
branca e que muito atuou no Brasil das Índias e atendendo à necessida-
ceu alimento, força motriz e meio de
desde os tempos coloniais foram os de de defender sua colônia america-
na, o governo luso decidiu efetivar a transporte. A irradiação das fazen-
judeus. Os judeus portugueses, con- das de gado, a partir de Pernambuco
vertidos ao cristianismo e por isso colonização do Brasil. A base econô-
mica do empreendimento seria a e Bahia, foi particularmente benefi-
chamados de cristãos-novos, vie- ciada pelo êxito da agroindústria do
ram ao Brasil para integrar-se no se- produção de gêneros tropicais, vi-
sando à demanda externa. O produ- açúcar; pelas proibições metropolita-
tor comercial do açúcar. Aqui, foram
to escolhido foi o açúcar, que era de nas de criar gado na faixa litorânea;
pouco perseguidos pelos Tribunais
grande aceitação na Europa e que pela existência, no interior, de terras
da Inquisição. As visitações do Santo
os portugueses já vinham produzin- desocupadas, de vias fluviais, “lam-
Ofício ao Brasil consideravam muito
do nas ilhas do Atlântico (Açores, bedouros” (sal-gema) e vegetação fa-
levemente seus deslizes religiosos
Madeira e Cabo Verde). No Brasil, as vorável. Nas grandes fazendas de
(ao contrário do Santo Ofício na
condições climáticas e o tipo de solo gado, foi utilizado o trabalho escravo
Península Ibérica). Muitos deles
(massapê, em Pernambuco) favore- africano e, nas demais, a mão de obra
integraram-se no setor da produção
de açúcar, até mesmo por meio de ceram a lavoura canavieira. De gran- livre do elemento indígena.
casamento com as melhores de importância foi a participação fla-
famílias fidalgas vindas do Reino. menga no financiamento, transporte,
refinação e principalmente na comer-
4. A ESPECIALIZAÇÃO cialização do açúcar. Aliás, foram os
holandeses que mais lucraram com a
A última característica geral da produção açucareira do Brasil.
nossa economia foi o fato de ela ter Como parte do Sistema Colonial
sido caracterizada por períodos ou Tradicional (ou Antigo Sistema Colo-
fases, nos quais sobressai um “pro- nial), o Brasil produziu açúcar em
duto-rei ou chave”. Tais períodos larga escala, apoiando-se em três
econômicos, apesar de terem sido elementos: mão de obra escrava,
chamados de ciclos econômicos, na latifúndio e monocultura. A agroin-
realidade não se configuram precisa- dústria do açúcar no Nordeste levou
mente como tais, na medida em que o Brasil à posição de maior produtor
são fases estanques com predomi- mundial em meados do século XVII,
nância de um produto básico para graças à associação de interesses 8. LAVOURA DE
exportação. É nesse tocante que se luso-flamengos. Todavia, com o es- SUBSISTÊNCIA
assemelham a um ciclo econômico. tabelecimento do domínio espanhol
sobre Por tugal (1580-1640) e a Como a pecuária, a lavoura de
5. PAU-BRASIL situação de guerra vigente entre Es- subsistência foi uma projeção da em-
Durante o Período Pré-Colonial panha e Holanda, aquela associação presa agrícola canavieira, fornecen-
(1500-30), o extrativismo vegetal de foi rompida e os holandeses invadi- do alimento para a população dos
pau-brasil constituiu o único objetivo ram o Brasil em 1624-25 e 1630-54. engenhos. Essa atividade foi estimu-
de Portugal no Brasil. Essa explora- Expulsos, passaram a cultivar lada pela metrópole e praticada por
ção era um monopólio da Coroa (es- cana-de-açúcar nas Antilhas. Assim, escravos, o que justifica o desinte-
tanco), que o arrendava a particula- na segunda metade do século XVII, o resse dos fazendeiros e as crises de
res: estes utilizavam mão de obra in- Brasil perdeu a hegemonia na fome no Período Colonial. A man-
dígena, remunerando-a com bugi- produção mundial de açúcar — fato dioca, o milho e o feijão, culturas de
gangas. Em se tratando de uma ativi- que assinalou a decadência econô- origem indígena, foram as espécies
dade predatória e, portanto, itineran- mica do Nordeste. que se desenvolveram na colônia.
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1. UNIÃO seus conterrâneos, Jacques Rifaut e nuou. Assim que Filipe ll assumiu o
IBÉRICA (1580-1640) Charles des Vaux, que haviam chega- trono luso, proibiu o comércio açuca-
do ao Maranhão em 1594, vítimas de reiro luso-flamengo. O embargo de
Em 1578, o jovem rei D. Sebas- um naufrágio. Essa nova colônia fran- navios holandeses em Lisboa provo-
tião I morreu lutando contra os mou- cesa teve duração efêmera. Em 1615, cou a criação de companhias privile-
ros, em Alcácer Quebir, no norte da sob o comando de Jerônimo de Albu- giadas de comércio. Entre 1609 e
África, desencadeando uma crise su- querque, Diogo Moreno e Alexandre 1621, houve uma trégua, que
cessória. O trono luso ficou com seu de Moura, os portugueses eliminaram permitiu a normalização temporária
tio-avô, o cardeal D. Henrique, que a França equinocial.
morreu em 1580, extinguindo-se a Di- do comércio entre Brasil-Portugal e
nastia de Avis. O parente mais próxi- K Ataques ingleses Holanda. Em 1621, ter minada a
mo e com direitos à Coroa portugue- No final do século XVI, além trégua, os holandeses fundaram a
sa era Filipe II, rei da Espanha, per- dos franceses, devem-se mencionar Companhia de Comércio das Índias
tencente à Casa Real de Habsburgo, os ataques de corsários ingleses, Ocidentais, cujo alvo era o Brasil.
que ordenou ao duque de Alba a in- objetivando o saque puro e simples. Começava a Guerra do Açúcar.
vasão de Portugal. Este rei contou Em 1583, Edward Fenton entrou em A primeira invasão foi na Bahia,
com o apoio da nobreza e da bur- Santos, sendo repelido em seguida. realizada por três mil e trezentos sol-
guesia portuguesas, oferecendo fa- Mais tarde, outro pirata inglês, dados. Salvador foi ocupada sem
vores e riquezas do Império colonial Thomas Cavendish, ocupou Santos muita resistência. O governador Dio-
espanhol da América. Apesar do do- no Natal, repetindo a façanha em go de Mendonça Furtado foi preso e
mínio espanhol em Portugal, este man- 1592. Anteriormente, o ataque co- a cidade, saqueada. A população fu-
teve sua autonomia administrativa, mandado por Withrington e Lister em giu para o interior, onde a resistência
mas foi atingido por uma grande de- Salvador havia fracassado. foi organizada pelo bispo D. Marcos
cadência econômica. Outro desdo- Teixeira e por Matias de Albuquer-
bramento foi o fechamento dos por- K Invasões holandesas que. Nessa conjuntura, os baianos
tos ibéricos aos navios flamengos, As invasões holandesas na pri- receberam a ajuda de uma esquadra
até mesmo nas colônias, boicotando meira metade do século XVII estão luso-espanhola (“Jornada dos Vassa-
desta forma o comércio açucareiro. O associadas à União Ibérica. Afinal, los”) e, em maio de 1625, os holan-
boicote e o confisco dos navios fla- antes do domínio dos Habsburgos, deses foram expulsos.
mengos acarretaram as invasões as relações comerciais e financeiras A segunda invasão holandesa no
holandesas no Brasil e nas feitorias entre Portugal e Holanda eram inten- Nordeste foi dirigida contra Pernam-
de escravos da África. sas. Entretanto, pouco antes de Filipe buco, uma capitania rica em açúcar
ll tornar-se rei de Portugal, os Países e pouco protegida. Olinda e Recife
2. INVASÕES NO
Baixos iniciaram violenta guerra de foram ocupadas e saqueadas. A re-
PERÍODO FILIPINO
independência, tentando libertar-se sistência foi comandada por Matias
K A França equinocial do jugo espanhol. Iniciada em 1568, de Albuquerque, a partir do Arraial
(1612-1615) essa guerra de libertação culminou do Bom Jesus, e durante alguns
Em 1612, Daniel de Ia Touche, se- com a União de Utrecht, sob a chefia anos impediu que os invasores am-
nhor de La Ravardière, fundou a Fran- de Guilherme de Orange. Em 1581, pliassem sua área de dominação.
ça equinocial, aproveitando os pri- nasciam as Províncias Unidas dos Mas a “traição” de Domingos
meiros contatos estabelecidos por Países Baixos, mas a guerra conti- Calabar alterou a situação.
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Entre 1637 e 1644, o Brasil holan- dinamizou a economia canavieira. Atos de Navegação de Oliver
dês foi governado pelo conde Maurí- Sua política granjeou-lhe o apoio da Cromwell, levaram os holandeses à
cio de Nassau-Siegen, que expandiu aristocracia local, mas entrou em Capitulação da Campina do Taborda.
o domínio holandês do Nordeste até choque com os objetivos da Compa- Expulsos do Brasil, os holandeses fo-
o Maranhão e conquistou Angola (for- nhia das Índias Ocidentais. Em 1644, ram desenvolver a produção de açú-
necedora de escravos). Porém, em Nassau demitiu-se. Nesse ínterim, os car nas Antilhas, contribuindo para a
1638, fracassou ao tentar conquistar próprios brasileiros organizaram a crise do complexo açucareiro nor-
a Bahia. Quando Portugal restaurou luta contra os flamengos, com a ln- destino. Mais tarde, Portugal e
sua independência e assinou a Tré- surreição Pernambucana. Os líderes Holanda firmaram o Tratado de Paz
gua dos Dez Anos com a Holanda, foram André Vidal de Negreiros, João de Haia (1661), graças à mediação
Nassau continuou administrando o Fernandes Vieira, Henrique Dias inglesa. Segundo tal tratado, a Ho-
Brasil holandês de forma exemplar. (negro) e o índio Filipe Camarão. Em landa recebia uma indenização de 4
Urbanizou Recife, fundou um zooló- 1648 e 1649, as duas batalhas de milhões de cruzados e a cessão pe-
gico, um observatório astronômico e Guararapes foram vitórias dos na- los portugueses das ilhas Molucas e
uma biblioteca, construiu jardins e tivos. Em 1652, o apoio oficial de Por- do Ceilão, recebendo ainda o direito
palácios e promoveu a vinda de ar- tugal e as lutas dos holandeses na de comerciar com maior liberdade
tistas e cientistas para o Brasil. Além Europa contra os ingleses, em decor- nas possessões portuguesas, em ra-
disso, adotou a tolerância religiosa e rência dos prejuízos causados pelos zão da perda do Brasil holandês.
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res, destacando-se nesse episódio o Inglaterra no Atlântico Sul (William Os poucos colonos da Paraíba,
bandeirante paulista Domingos Hawkins): um comércio regular esta- depois de manter boas relações com
Jorge Velho. beleceu-se com as regiões da África os índios do interior, acabaram rom-
Ocidental e do Nordeste do Brasil; pendo com eles; os franceses enten-
K Grande ciclo do era um comércio ilícito que se desen- diam-se, no entanto, com os índios do
ouro e dos diamantes volveu diretamente com os índios, mas litoral, com quem traficavam.
Inicialmente, os vicentinos dedi- de pequena monta. Posteriormente, • Alguns navios espanhóis,
caram-se ao chamado ouro de lava- os ingleses operaram associando-se embarcações portuguesas e forças
gem, localizado nos arredores de pernambucanas que seguiam por
a comerciantes portugueses.
São Paulo e em Iguape, Paranaguá, terra empreenderam a conquista da
As incursões armadas dos ingle-
Curitiba e Santa Catarina. Entre- Paraíba em 1584, tendo como conse-
ses constituíram episódios de luta
tanto, a atua ção das bandeiras quência a fundação da terceira ci-
pelo comércio livre, contra o mono-
paulistas, em busca das minas e
pólio (Pacto Colonial) que os países dade do Brasil, Filipeia.
dos metais preciosos, foi estimulada
ibéricos estabeleceram em relação às • A conquista do Rio Grande do
pela crise da lavoura canavieira e
suas colônias. Até a União das Co- Norte: era o último reduto francês, cu-
pela Coroa portuguesa no final do
roas Peninsulares, o porto de Lisboa jos elementos estavam profundamente
século XVII. Nessa época, foi
fora o grande empório comercial da ligados aos indígenas potiguares, até
descoberto ouro em Minas Gerais
Europa com referência aos produtos mesmo pelo cruzamento racial.
por Antônio Rodrigues Arzão. Com
coloniais, posteriormente distribuídos Os franceses foram expulsos
isso, iniciaram-se a ocupação e o
pelos navios mercantes holandeses e após a derrota de 1597, fundando-se
povoamento na área mi ne ra dora
ingleses. Mas as proibições dos reis nesse mesmo ano o Forte dos Reis
dos atuais Estados de Minas Gerais,
Mato Grosso e Goiás. espanhóis, após 1580, a qualquer Magos (atualmente Natal), que se tor-
comércio que não fosse português ou nou o núcleo de ocupação da região.
espanhol alteraram, qualitativamen- • A conquista do Ceará: a costa
2. A EXPANSÃO OFICIAL
te, a situação. era frequentada por franceses. A ten-
Os ingleses limitavam-se a assal- tativa de Pero Coelho falhou, pois apre-
Entende-se por expansão territo-
rial oficial o processo de anexação e tos de piratas e corsários, embora as sou índios tabajaras e potiguares,
ocupação de vastíssimas áreas pro- primeiras tentativas estivessem liga- levando-os para o trabalho forçado
movido pela Metrópole. das às pretensões do candidato ao nos engenhos da Paraíba e Pernam-
O ponto de partida dessa expan- trono Prior do Crato, apoiadas pela buco. Ao voltar para o Ceará em
são oficial foi a luta contra os france- Inglaterra e França. 1606, teve de retirar-se em péssimas
ses na época da fundação da França Em 1583, dois galeões de guerra,
condições.
Antártica (1555/1567). Contudo, a fa- sob o comando de Eduardo Fenton,
A conquista definitiva do Ceará
se mais importante de ampliação ter- entraram em Santos, alegando a
foi realizada por Martim Soares More-
ritorial coordenada pela Metrópole morte de Filipe II e a posse de D. An-
no, iniciando o povoamento em 1611.
ocorreu durante o Domínio Filipino tônio, Prior do Crato. Mas nada con-
• A conquista do Grão-Pará:
(1580/1640). seguiram dos vicentinos, e naus espa-
Alexandre de Moura encarregou
Durante o século XVI e início do nholas puseram um galeão a pique.
Francisco Caldeira de Castelo Bran-
século XVII, a competição entre as Entretanto, no Natal de 1581, co do acossamento de um ponto
metrópoles europeias para a aquisi- Thomas Cavendish, comandan-
ção de colônias no Novo Mundo, par- do três de seus navios, tomou
ticularmente aquelas nações margi- Santos de surpresa e a saqueou.
nalizadas pelo Tratado de Tordesi- Em 1595, nova expedição
lhas, resultaria na tentativa de ocupa- encaminhou-se contra Recife,
ção de território na América, e o Bra- sob o comando de James
sil tornou-se um dos principais alvos, Lancaster, resultando em êxito
durante o longo período de domina- total.
ção espanhola. Temendo a perda de
parte da Colônia, a Coroa viu-se obri- K Conquista das
gada a expulsar os invasores e criar regiões
núcleos de povoamento nas regiões setentrionais
atingidas. • A conquista da
Paraíba: ao tempo da “União
K Luta contra os ingleses Peninsular”, o povoamento Indicações das principais bandeiras
O ano de 1530 marca a entrada apenas alcançava as capita- no período de colônia, indicando a
de comerciantes e navegadores da nias hereditárias de Itamaracá. ultrapassagem da linha de Tordesilhas.
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1. CARACTERIZAÇÃO GERAL cas locais ou regionais, que atua co- te com os franceses. Na realidade, nes-
mo elemento causal. se acontecimento já havia indícios da
Trata-se de movimentos políticos Na Aclamação de Amador rivalidade entre Olinda e Recife.
caracterizados pela repulsa aos abu- Bueno da Ribeira, em março de
sos do fiscalismo português, que pro- 1641, como “rei de São Paulo”, houve
vinham do próprio enrijecimento do uma divergência entre clãs locais
Pacto Colonial e ocorreram entre mea- (Garcia-Pires, “portugueses”, e Ca-
dos do século XVII e princípios do XVIII. margos, “espanhóis”) ante a notícia
Tais movimentos não constituí- da Restauração em Portugal. Este fa-
ram uma contestação ao domínio to fora interpretado como uma amea-
português como um todo. Eclodiram ça aos interesses “espanhóis” na re-
revoltas ou conflitos regionais contra gião. Mais tarde, evidenciou-se a ten-
aspectos isolados do colonialismo, são entre jesuítas e bandeirantes, em
principalmente após 1640, quando a virtude da escravidão indígena, ocor-
“relativa harmonia” entre os interes- rendo então a Botada dos Padres
ses da aristocracia rural local e os da para Fora, por parte dos colonos de
Metrópole foi-se rompendo, à medida São Paulo. Este episódio repetir-se-ia
que endurecia a política portuguesa. no Pará e, em 1684, no Maranhão.
A Insurreição Pernambucana (1645- Na Revolta do Rio de Janei-
54) contribuiu para o advento desses ro (1660-61), o movimento ocorreu
movimentos, visto que durante essa re- em razão de forte política fiscalista Na Revolta de Beckman, no
volta houve divergência entre os inte- aplicada pelo governador português Maranhão, em 1684, mais uma vez
resses dos colonos e os objetivos da Salvador Correia de Sá e Benevides. ficou evidente a divergência de inte-
Metrópole. Por essa razão, os movimen- Seu líder foi Jerônimo Barbalho, que, resses entre os colonos locais, re-
tos nativistas estão menos relacionados após ter deposto o governador por presentados pelos irmãos Beckman
com um ideal emancipacionista, ligan- causa da decretação de novos tri- (Manuel e Tomás), e a Companhia
do-se mais a um sentimento de defesa butos, foi preso e executado. Na Re- Geral de Comércio do Estado do
de interesses locais ou regionais. volta de Nosso Pai, em Pernam- Maranhão, que detinha o monopólio
buco (1664-65), também houve uma do comércio e da introdução de es-
2. PRINCIPAIS MOVIMENTOS rebelião local contra o governador cravos africanos. A rebelião ocorreu
português Jerônimo de Mendonça contra os abusos da Companhia de
Cada movimento nativista possui Furtado, alcunhado “Xumberga”, acu- Comércio, que não cumpriu os
um fator específico, de característi- sado de corrupção e de ser coniven- acordos feitos com os colonos, e
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contra a Companhia de Jesus, que Em 1720, novamente na região buco, cuja causa geral básica foi a ri-
se opunha à escravidão indígena. de Minas Gerais, em Vila Rica, ocor- validade entre os senhores de enge
Outro movimento nativista foi a reu a Revolta de Felipe dos San- nho de Olinda e os comerciantes
Guerra dos Emboabas, em Minas tos, outra rebelião contra os abusos portugueses do Recife, apelidados
Gerais (1708-09), com a rivalidade do fiscalismo português, caracteriza- de “mascates”. Estes últimos eram
entre os paulistas e os “emboabas” dos pela elevação dos impostos de- apoiados pelo governador Sebastião
forasteiros, principalmente portu- cretada pelo governador Conde de de Castro Caldas. O conflito irrom-
gueses, que acabavam sendo prote- Assumar. A revolta dos mineradores peu quando Recife foi elevado à ca-
gidos pelo órgão do governo reivindicava a redução dos impostos, tegoria de vila, o que favorecia o gru-
colonial, pois recebiam o monopólio a abolição dos monopólios exercidos po português. Ao terminar o movi-
de diversos ramos comerciais. O pelos portugueses e a extinção das mento, em 1712, Recife passava a
movimento eclodiu em face de diver- Casas de Fundição. ser cidade e capital de Pernambuco,
sos incidentes, nos quais sempre Um dos mais famosos movimen- o que acentuou ainda mais a rivali-
havia de um lado elementos paulis- tos nativistas foi a Guerra dos dade da aristocracia pernambucana
tas e do outro os emboabas. Mascates (1710-12), em Pernam- contra os portugueses.
3. CRONOLOGIA
1733– Demarcação do Distrito Diamantino.
1693– Descoberta do ouro em Minas Gerais por 1735– Substituição do quinto pela capitação.
Antônio Rodrigues. 1740– Instituição do regime de contratação de
1700– Descoberta das minas em Sabará por Borba diamantes.
Gato. 1751 – Fim da capitação e restabelecimento do quinto,
1719 – Descoberta de ouro em Cuiabá; criação das cobrado pelo regime de fintas (cobranças por estimativa).
casas de fundição. 1765– Instituição da derrama.
1725– Descoberta de ouro em Goiás. 1771– Criação da Real Extração de Diamantes.
1729– Descoberta de diamantes em Minas Gerais.
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de vagar pela Europa, fixou-se em rado a verdadeira fonte de riqueza, mo a condenação à morte. Melhorou
Ferney, na França, em 1755, de não a agricultura, como acreditavam a administração e estimulou a colo-
onde exerceu extraordinária influên- os fisiocratas, nem o comércio, como nização da Rússia meridional, na
cia até sua mor te. Seus discípulos defendiam os mercantilistas. O tra- Ucrânia e no Volga. Talvez o resulta-
espalharam-se pela Europa, divul- balho completamente livre, sem inter- do único de sua política tenha sido a
gando suas ideias. venções, criaria toda riqueza, guiado polidez da alta sociedade russa,
Rousseau, ao contrário de Vol- espontaneamente pela natureza. completamente afrancesada nos
taire e Montesquieu, monarquistas usos e costumes.
liberais, foi um democrata convicto. 2. O DESPOTISMO José II (1780-1790), da Áustria,
Suas ideias foram expostas num ESCLARECIDO foi o tipo mais bem acabado do des-
tratado de educação e, principal- potismo esclarecido. Fez numerosas
mente, no Contrato Social, sua obra Estimulados pelos filósofos da Ilus- reformas ditadas pela razão: aboliu a
máxima. Defendia a liberdade e a tração, numerosos príncipes buscaram escravidão; deu igualdade a todos
igualdade entre os homens, afir - pôr em prática as novas ideias, perante a lei; uniformizou a adminis-
mando que o poder político repou- procurando governar de acordo com a tração em todo o Império; deu liber-
sava sobre o povo que era, por - razão, segundo os interesses do dade de culto e direito de emprego
tanto, o soberano máximo. Suas Estado, mas sem abandonar seu aos católicos. Houve reações às suas
ideias foram seguidas por Ro - poder absoluto. Esta aliança de prin- reformas na Hungria e um levante dos
bespierre e outros líderes da Revo- cípios filosóficos e poder monárquico belgas nos Países Baixos.
lução Francesa. deu origem a um regime típico do Na Espanha, o ministro Aranda
Diderot foi o responsável pela século XVIII: o despotismo esclarecido. pôs em execução uma série de refor-
organização da grande Enciclopé- Na Prússia, Frederico II (1740- mas: o comércio foi liberado interna-
dia , obra em 35 volumes, que 1786), rei filósofo e discípulo de Vol- mente; a indústria de luxo e tecidos
continha as novas ideias. O gover - taire, indiferente à religião, concedeu de algodão foi estimulada; a admi-
no condenou a obra, proibindo sua liberdade de culto. Estimulou o ensi- nistração foi dinamizada com a cria-
divulgação em duas oportunidades. no básico, tendo ele mesmo baixado ção de intendentes, que fortaleceram
Diderot foi auxiliado por um mate- o princípio de instrução primária obri- o poder do rei Carlos III.
mático, D’Alem bert, tendo como gatória para todos. Apesar de os je- Em Portugal, o Marquês de
colaboradores a maior par te dos suítas estarem sendo expulsos de Pombal, ministro de D. José I, fez
novos pensadores e escritores. quase todos os países da Europa numerosas reformas que o colo-
pelas suas ligações com o Papado, caram entre os principais déspotas:
K O liberalismo econômico atraiu-os por causa de suas qualida- a indústria de vinho, peixes, dia-
Essencialmente, os economistas des de educadores. A tortura foi abo- mantes, seda e chapéus cresceu;
pregavam a liberdade econômica, lida e um novo código de justiça, or- o comércio pas sou a ser con -
opondo-se rigidamente às regulamen- ganizado. Exigia obediência total às trolado por companhias que
tações impostas pelo mercantilismo. ordens, mas concedia liberdade de detinham o monopólio comercial
A economia deveria ser dirigida pela expressão. Procurou estimular a eco- nas regiões coloniais; a agricultura
natureza, não devendo haver qual- nomia, adotando medidas protecio- da cana e da videira foi estimu-
quer intervenção do Estado. A predo- nistas contrárias às ideias iluministas lada; a nobreza e o clero foram
minância da natureza valeu-lhes a e preservando, assim, a ordem social perseguidos com o obje tivo de
denominação de fisiocratas (governo existente. A Prússia permaneceu em fortalecer o poder real.
da natureza). estado feudal, com servos sujeitos à
Quesnay e Gournay foram os classe dominante dos proprietários, 3. AS REFORMAS
fundadores do fisiocratismo e seus chamados junkers. POMBALINAS
grandes defensores. Afirmavam que Catarina II (1762-1769) atraiu os
a atividade verdadeiramente produti- filósofos franceses à sua Corte, man- Pombal, na qualidade de secre-
va era a agricultura, sendo a indús- tendo com eles correspondência re- tário de Estado do rei D. José I, tor-
tria e o comércio considerados esté- gular. Anunciou grandes reformas nou-se o “homem forte” do governo,
reis. Apesar de Gournay não ter que jamais realizou, apesar de ter aproveitando-se do enfraquecimento
escrito nenhum livro, suas ideias pro- concedido liberdade religiosa e de do absolutismo português, da desor-
pagaram-se, devendo-se a ele o se preocupar em desenvolver a edu- ganização político-administrativa do
laissez-faire, laissez-passer, lema do cação das altas classes sociais. O reino, da situação privilegiada da no-
liberalismo econômico. essencial permaneceu como era, ou breza com interesses ultramarinos,
Adam Smith, considerado o pai meIhor, foi agravado, pois a servidão da influência da Igreja sobre o trono
do liberalismo econômico, defendeu não foi abolida e os direitos dos pro- luso, particularmente da ordem dos
em sua obra-prima, A Riqueza das prietários sobre os servos da terra fo- jesuítas e, no plano externo, do domí-
Nações, que o trabalho era conside- ram aumentados, incluindo até mes- nio exercido pela Inglaterra.
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1751 – Fim da capitação e restabelecimento do quinto, Watt; Declaração de Independência dos EUA.
cobrado pelo regime de fintas (cobrança por estimativa). 1777 – Morte de D. José I e ascensão de D. Maria I;
Grão-Pará e Maranhão.
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A Inglaterra saiu-se vitoriosa do 1765, foi aprovada a Lei do Selo, pela Nesse ínterim, ocorreram
conflito contra a França, surgindo, po- qual a Metrópole inglesa obrigava alguns choques entre os colonos e
rém, uma forte crise econômica devi- que vários produtos, como jornais, os soldados ingleses, dando início
da aos gastos militares. Procurando revistas, baralhos e livros, fossem à guerra entre as duas partes. Em
recuperar seu erário bastante abala- sobretaxados com um selo. 1776, o Segundo Congresso de
do, os ingleses adotaram uma nova Em 1767, o Parlamento britânico Filadélfia rompeu com a Inglaterra,
política administrativa sobre suas aprova a Lei do Chá, que dava mono- aprovando a Declaração de Inde-
colônias, caracterizada pelo arrocho. pólio de comercialização do produto pendência elaborada por Thomas
A liberdade comercial, que os colonos à Cia. Inglesa das Índias Orientais. Jefferson.
possuíam até então, restringiu-se às A Guerra de Independência du-
rígidas práticas do pacto colonial. K A reação dos rou até 1781, tendo sido os colonos
Com o término da Guerra dos colonos e a independência comandados por George Washin-
Sete Anos, a Inglaterra proibiu a Contra a Lei do Chá, que conce- gton. A França, a Espanha e a Ho-
apropriação de terras situadas a oes- dia a exclusividade de comércio landa apoiaram os insurretos. A
te, entre as regiões dos Montes des te produto à Cia. da Índias França foi quem deu maior auxílio,
Alleghanies e o Mississippi, e entre a Orientais (in glesa), os colonos enviando o marquês de La Fayette e
Flórida e Québec, justificando serem protestaram por intermédio do o general Rochambeau. A vitória
reservas indígenas, o que causou Boston Tea Party. A Inglaterra reagiu decisiva aconteceu em Yorktown,
forte descontentamento entre os co- com a promulgação das “Leis Into- na Virgínia.
lonos, ávidos por novas terras. No leráveis”. Em 1783, em Versalhes, a In-
ano seguinte, em 1764, a Inglaterra Os colonos reuniram-se em glaterra reconheceu a independên-
promulgou a Lei do Açúcar, que 1775, na cidade de Filadélfia, num cia das Treze Colônias da América
estabelecia uma taxa sobre o melaço congresso que reivindicava a revo- do Norte. Em 1787, ficou pronta a
comercializado pelos colonos com gação das “Leis Intoleráveis”, sem, Constituição, que definiu um regi-
outras nações. Novas restrições mer- no entanto, pretender a indepen- me republicano para os Estados
cantilistas surgiram quando, em dência das colônias. Unidos.
2. CRONOLOGIA
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campanhas militares); os edis (res- exército durante suas campanhas. romana forçou os cartagineses a pa-
ponsáveis pela conservação públi- Primeiro, eles colocavam fogo no lo- gar-lhes uma pesada indenização de
ca); os tribunos da plebe (represen- cal escolhido, a fim de destruir a ve- guerra e a entregar-lhes a Sicília, a
tantes dos plebeus que podiam vetar getação e evitar emboscadas inimi- Córsega e a Sardenha.
as leis contrárias aos interesses ple- gas; em seguida, ajustavam os blo- A Segunda Guerra Púnica, entre
beus). Em caso de grave crise políti- cos de pedra sobre uma camada de Roma e Cartago (218-202 a.C.), deu
ca, social ou militar, era nomeado um areia, para depois cobri-los com mis- aos romanos o controle sobre o norte
ditador que governava Roma durante tura de cascalho e cimento. As estra- da África e o sul da Espanha, exceto
seis meses, com poderes absolutos. das eram levemente encurvadas o Reino da Numídia e Cartago.
Os plebeus tinham participação para drenar a água das chuvas. Elas Entre 150 e 146 a.C., Roma e Car-
meramente formal na Assembleia permitiam o trânsito dos viajantes a tago enfrentaram-se na Terceira Guer-
Centuriata, a qual era reunida para cavalo, de carroças puxadas por bois ra Púnica, e Cartago sucumbiu diante
votar as leis já preparadas pelo Se- e mulas e das tropas de soldados, de Roma.
nado; tratava-se, portanto, de leis ao que viajavam a pé, em marcha. O historiador Políbio afirma que:
gosto dos patrícios. Estes decreta- As campanhas militares eram “Os cartagineses deviam lutar
vam leis que empobreciam a plebe, longas e, durante o avanço das tro- pela sua própria existência e pelo
obrigando-a a se endividar e aca- pas, era preciso montar e desmontar domínio da Líbia; os romanos, pelo
bando por escravizá-la pelo não-pa- acampamentos com rapidez e efi- domínio do mundo. Podia alguém
gamento das dívidas contraídas dos ciência. Para isso, cada soldado era permanecer indiferente a tais aconte-
próprios patrícios. sempre encarregado de executar as cimentos? Nunca existiram antes
Tal fato provocou revoltas sociais mesmas tarefas, como nivelar o terre- exércitos tão experimentados nas ba-
em Roma, obrigando os patrícios a no e demarcá-lo, cavar o fosso, er- talhas, nem chefes tão afortunados e
fazer concessões à plebe: Tribuno da guer a paliçada e as torres de obser- hábeis na arte militar, nem enfim a
Plebe (494 a.C.), Lei das Doze vação, abrir ruas no interior do acam- sorte havia prometido às partes rivais
Tábuas (450 a.C.), Lei Canuleia (445 pamento, dividindo-o em quarteirões. recompensas tão preciosas. Ao ven-
a.C.), Lei Licínia (366 a.C.) e a lei que Roma preocupou-se com a cons- cedor não só correspondia como prê-
criava o Comício da Plebe (286 a.C.), trução de estradas para, justamente, mio o poder sobre a Líbia ou sobre a
o que dava aos plebeus o direito ao facilitar o deslocamento de suas tro- Europa, mas sobre todos os países
plebiscito. pas e a mobilização de recursos ne- do mundo conhecido.”
cessários às conquistas. Ao mesmo tempo em que Roma e
5. A EXPANSÃO ROMANA Quando Roma partiu para a ex- Cartago se defrontavam, os romanos
pansão além da Península ltálica, in- desenvolviam guerras também no
O primeiro momento a ser consi- ternamente havia uma relativa estabi- Mediterrâneo oriental. Durante a Se-
derado quando tratamos da expan- lidade política, pois as questões so- gunda Guerra Púnica, como Filipe V
são romana é a conquista da própria ciais entre patrícios e plebeus tinham da Macedônia havia dado apoio aos
Península ltálica pelos romanos. Foi sido resolvidas, temporariamente, cartagineses, Roma invadiu o seu ter-
um processo lento que precisou de pelas conquistas plebeias — algu- ritório, tornando as cidades-Estado
mais de 230 anos para se efetivar, mas ocorreram paralelamente à unifi- gregas independentes da Macedô-
mas que resultou na anexação de cação da Península ltálica. nia. O domínio sobre a Macedônia e a
todos os povos vizinhos (inclusive os Grécia concluiu-se em 146 a.C.
aliados, como os latinos). Nesse pro- K As guerras ofensivas Também no século lI a.C., Roma ane-
cesso, Roma logrou derrotar e ane- Com a conquista de Tarento, o xou a Síria, a Ásia Menor, a Gália, o
xar territórios dos sabinos, a Etrúria, grande alvo de Roma passou a ser a Ponto, a Palestina, a Bitínia e o Egito.
a Gália, a Planície da Campânia e cidade de Cartago, pois essa antiga
Tarento, conquistas que lhe deram o colônia fenícia dominava o comércio K As repercussões
controle sobre toda a Península. no Mediterrâneo, chegando a atingir das conquistas
O principal instrumento para a a costa ocidental da África, a Bre- O comércio interligava Roma às
conquista foi um exército muito bem tanha e a Noruega. Os cartagineses suas províncias em toda a orla do
preparado para dominar os demais ofereciam tecidos, perfumes, pedras Mediterrâneo. As atividades agríco-
povos. preciosas, trigo, marfim e ouro, além las nas províncias foram estimuladas.
Os romanos foram grandes en- de possuírem uma poderosa frota Contudo, na própria Itália, a agricul-
genheiros. Por volta de 200 a.C., cen- naval e um exército de terra. tura praticamente desapareceu. Os
tenas de quilômetros de estradas, al- Na Primeira Guerra Púnica (264- campos ficaram incultos ou subocu-
gumas com até 12 metros de largura, 241 a.C.), os romanos investiram pados. Uma classe de comerciantes,
cortavam seus domínios. Elas eram contra Cartago na disputa pelo banqueiros, arrendatários, cobrado-
construídas pelos legionários do controle sobre a Sicília. A vitória res de impostos (publicanos) surgiu,
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sendo denominada classe dos ho- meta primeira a alienação política da Macedônia colocou os romanos em
mens-novos ou cavaleiros. Os pa- plebe romana. Frequentemente, os encontro direto com a cultura helenís-
trícios dependentes da exploração plebeus serviam como agregados tica, que passou a ser assimilada por
fundiária se empobreceram, passan- aos mais ricos em troca de esmolas e Roma. O Exército, principal agente
do a depender dos cargos públicos alimentos. Nessa fase, os escravos das conquistas, também se alterou:
para manter seu nível social. A plebe, provenientes das conquistas milita- os soldados foram profissionalizados
marginalizada pelo aumento do nú- res chegavam a Roma em grandes e passaram a receber salários. O
mero de escravos, passou a ser sus- proporções, tornando-se cada vez Exército cada vez mais interferia na
tentada pelo Estado, que distribuía trigo mais baratos, e eram considerados vida política romana. A estrutura re-
e proporcionava espetáculos circen- seres inferiores, apenas “instrumen- publicana já não dava mais conta do
ses gratuitamente: iniciava-se a polí- tos falantes” (instrumenta vocalia). Império Universal e passava a dar
tica de “pão e circo”, que tinha como O contato com o Oriente e com a sinais de desintegração.
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sul vitalício, censor, príncipe do Se- Para fazer render essas terras, 3. O BAIXO IMPÉRIO
nado e, finalmente, Augusto — título eles se serviam de escravos para o
que até então era reservado aos deu- trabalho de cultivo e para o pastoreio; K A crise do escravismo
ses e que permitia a Otávio escolher os ricos proprietários tinham medo No século III, tem início o cha-
seu sucessor. de que, se empregassem homens mado Baixo Império Romano, fase da
Embora Caio Otávio, o Augusto, livres, estes abandonassem as cul- crise aguda do escravismo, pois os
conservasse durante seu reinado as turas para ingressar no Exército. problemas do Império se acumu-
aparências republicanas, seu poder Além disso, esse procedimento lhes laram em razão de três fatores: mili-
trazia um benefício considerável, em tar, religioso e econômico.
apoiava-se efetivamente no Impe-
razão do nascimento de novos Em termos militares, a anarquia e
rium, comando do Exército; no poder
escravos. Eles acumulavam também o final das guerras de conquistas
pró-consular, ou seja, no direito de
contribuíram para a diminuição do
indicar os governadores das provín- grandes riquezas e o número de es-
número de escravos, pois a agricul-
cias; no poder tribunício, de caráter cravos se multiplicava no país. Os
tura romana, para garantir uma boa
popular e delegado pela plebe. Era a italianos, ao contrário, sofriam o des-
produção, necessitava de um nú-
fase do principado de Augusto, em povoamento e a falta de homens,
mero abundante de escravos. À
que as aparências republicanas es- despojados que estavam pela pobre-
medida que as guerras cessavam,
condiam o seu poder de imperador. za, pelas contribuições e pelo servi- escasseava a mão de obra disponí-
Augusto reorganizou as provín- ço militar. Eles se corrompiam na sua vel e o seu preço se elevava.
cias, dividindo-as em imperiais (mili- ociosidade, pois as terras estavam O cristianismo foi também um
tares) e senatoriais (civis). Indicava nas mãos dos ricos, que não os em- fator religioso que, ao pregar a liber-
os governadores e controlava-os por pregavam como cultivadores; no lugar dade como um dom natural do ser
meio de inspeções diretas e relató- de homens livres, utilizavam os es- humano, fez com que grandes levas
rios anuais. Criou o sistema estatal
cravos. O latifúndio perdeu a Itália.” de escravos se convertessem e fu-
Augusto procurou conter a in- gissem das propriedades, fazendo
de cobrança de impostos, acabando
fluência da cultura helenística (fusão diminuir a população escrava.
com a concessão da arrecadação a
grega e oriental), que estimulava a As dificuldades para manter a
particulares.
busca do prazer (hedonismo) e o cul- mão de obra escrava aumentavam,
No plano social, acabou com a
to aos deuses orientais. Para tanto, os senhores gastavam grande parte
tradicional superioridade do patricia-
tentou reavivar os valores do passado — senão toda — da produção para
do, criando uma estrutura social fun- alimentá-los e vesti-los, além dos
agrário de Roma, sem muito êxito.
damentada em critérios censitários. gastos com vigilância para impedir
Para defender suas ideias, trouxe
Os mais ricos, que tinham uma renda as fugas. Enquanto isso, os
para a corte literatos como Tito Lívio,
acima de 1 milhão de sestércios, per- latifúndios começavam a ser dividi-
Virgílio, Ovídio e Horácio.
tenciam à Ordem Senatorial, que ti- dos e os lucros diminuíam, o que
Não tendo herdeiros diretos, Au-
nha os privilégios políticos e distin- impedia a aquisição de novos es-
gusto indicou como sucessor seu fi-
guia-se pelo uso da cor púrpura. A lho adotivo, Tibério. Não obstante, as cravos, gerando uma retração eco-
Ordem Equestre era composta de indicações seguintes seriam feitas nômica que contribuiu para a crise
romanos com renda acima de 400 mil do escravismo.
em geral pelos militares. Até 68 d.C.,
sestércios, usava a cor azul e pos- Como consequência desse pro-
a Guarda Pretoriana monopolizou o
suía menos direitos. Abaixo desse cesso, Roma assistiu a mudanças
processo de sucessão política.
nível, ninguém mais possuía direitos significativas. Os proprietários rurais
Então, teve início a revolta militar, e
políticos; a grande maioria constituía começaram a adotar o sistema de ar-
os demais exércitos — Espanha, Gá-
a Ordem Inferior. rendamento como saída para a crise.
lia, Germânia e Oriente — passaram Os trabalhadores passaram a se sus-
Apiano mostra as transfor ma- a intervir nesse processo, cada um tentar com o próprio trabalho, num
ções provocadas pelas guerras civis: indicando um candidato. pedaço de terra arrendado pelo
“Os ricos, após ocuparem a Na época dos Severos, o impera- proprietário, porém deveriam traba-
maior parte das terras não assinala- dor era um soberano que se apoiava lhar alguns dias por semana para pa-
das no ager publicus, confiando que na burocracia e no Exército. O Sena- gar os benefícios recebidos — por
com o passar do tempo ninguém as do havia-se esvaziado. A economia exemplo, a concessão de casa para
tomaria mais, voltaram-se contra os prenunciava a crise: os impostos di- morar. Assim, os escravos foram di-
pequenos proprietários vizinhos, do- minuíram e o governo passou a emi- minuindo e alguns chegaram a com-
minados pela pobreza e relegados ao tir dinheiro, gerando aumento de pre- prar seu próprio lote de terras,
desamparo, seja por meios amigá- ços, de salários e da inflação. Além transformando-se em homens livres.
veis, seja pela força: dessa forma, em da crise interna, os romanos enfren- Dessa forma, o escravo elevava-se à
vez de pequenos campos, passaram tavam ainda pressões dos bárbaros condição de colono, ou seja, um
a ser cultivados grandes domínios. sobre suas fronteiras. homem livre, mas preso à terra.
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As cidades foram deixando de a divisão do Império, reunificando-o. destaque na civilização, já que mui-
ser o centro da vida do Império, veri- Em 313, o novo imperador legalizou tas delas, como a Medicina, perma-
ficando-se uma tendência de rurali- o cristianismo por meio do Edito de neceram no espaço do folclore.
zação da economia, pois os latifún- Milão. A ideia de homem e sociedade
dios tornaram-se autossuficientes e Durante o governo de Teodósio, o dos romanos é a mola-mestra no
mundo atual. Afinal, é deles que her-
independentes da economia urbana. cristianismo foi oficializado por meio
damos a ideia de família como a
Esse fato se acentuou com as pres- da Lei da Tessalônica, de 391. O Im-
célula-mãe da sociedade.
sões bárbaras sobre o Império, le- pério foi novamente dividido em O latim deu origem às línguas ro-
vando as vilas a constituírem verda- Oriente e Ocidente, mas já era tarde, mânicas da Europa: o português, o
deiras fortalezas, o que fez a vida de pois a desintegração de sua parte francês, o espanhol, o italiano e o
suas populações mais segura. ocidental era evidente mediante a romeno.
Ao mesmo tempo, essas altera- penetração dos bárbaros em suas Devemos ainda destacar seus en-
ções provocaram uma retração geral fronteiras. sinamentos na arte militar, na admi-
da economia, à medida que a produ- nistração pública e na arquitetura.
_________________________________
ção urbana e o comércio geravam K As invasões bárbaras e o
cada vez menos riquezas. fim do Império no Ocidente 5. CRONOLOGIA
Para o Estado, os impostos dimi- O enfraquecimento militar facili-
nuíram, o que dificultava o pagamen- tou as invasões dos bárbaros, que
foram ocupando o território do Impé- 133 a.C. – Tibério Graco é eleito
to de despesas. Então, emitia-se
rio Romano do Ocidente: visigodos, Tribuno da Plebe.
moeda. Os produtos escasseavam
na Espanha; vândalos, na África; fran-
no mercado e seus preços subiam, o 132 a.C. – Assassinato de Tibério
cos, na Gália; anglo-saxões, na
que não era acompanhado pelo Bretanha; ostrogodos, na Itália. Graco.
aumento de salários. O Império pas- Em 476, o Império do Ocidente
124 a.C. – Caio Graco é eleito
sava a vivenciar a inflação. reduzia-se à Itália. O imperador Júlio
Nepos foi deposto por Orestes, che- Tribuno da Plebe.
K As medidas fe do Exército, que colocou seu filho 121 a.C. – Suicídio de Caio Graco.
para conter a crise de 6 anos no trono com o nome de Rô-
mulo Augústulo. Odoacro, rei dos 107 a.C. – Primeiro consulado de
O Império foi obrigado a reduzir
suas despesas em razão da crise. hérulos, chefe bárbaro aliado a Júlio Mário.
Nepos, deu um contragolpe: afastou
Para tanto, deixou de sustentar a ple- 104 a.C. – Realização da refor-
Orestes e Rômulo Augústulo, tornan-
be urbana, limitou os gastos da corte
do-se rei da Itália. ma do Exército por Mário.
imperial, dispensou funcionários e As insígnias imperiais foram en-
reduziu os contingentes militares. 105-100 a.C. – Mário é cônsul por
viadas para Constantinopla, o que
Diocleciano, para impedir que os significa, ao menos teoricamente, a seis vezes consecutivas.
atritos entre militares no momento de reunificação do Império sob o domí-
82 a.C. – Sila é nomeado ditador
sucessão aumentassem e para ga- nio de Constantinopla. Mais tarde, o
rantir a eficiência contra as invasões imperador do Oriente, Zenon, preten- perpétuo.
bárbaras, estabeleceu a Tetrarquia, dendo livrar-se dos ostrogodos, que 79 a.C. – Renúncia de Sila à vida
dividindo o Império em Ocidente e lhe causavam problemas, concedeu-
lhes a Itália. Chefiados por Teodo- pública.
Oriente. Cada região passava a ser
rico, os ostrogodos formaram o Reino 60 a.C. – Primeiro Triunvirato.
governada por quatro imperadores –
Ostrogótico da Itália, pondo fim ao
dois augustos (imperadores princi- 44 a.C. – Assassinato de Júlio Cé-
Império Romano do Ocidente.
pais) e dois césares (imperadores
sar.
subalternos) –, que comandariam os 4. O LEGADO CULTURAL
destinos de Roma. 40 a.C. – Segundo Triunvirato.
Em 301, Diocleciano publicou o A estrutura do Direito Romano 30 a.C. – Conquista do Egito por
Edito do Máximo, numa tentativa de influenciou toda a sociedade ociden-
Otávio.
controlar o aumento de preços e de tal. Seu Código de Justiça, o Direito
salários, fixando o valor máximo que Romano, é até hoje a base de todos 27 a.C. – Otávio é proclamado
ambos poderiam alcançar. Com isso, os códigos de justiça do Ocidente e, Augusto. Início do Principado.
pretendia conter a inflação. por isso, disciplina obrigatória na for-
mação de juristas. 14 d.C. – Morte de Otávio Augus-
Com a morte de Diocleciano,
Com exceção do Direito, as de- to.
Constantino subiu ao poder e aboliu
mais ciências não atingiram grande
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MÓDULO 3 Islamismo
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caravanas. O prestígio de Maomé que aceita apenas as regras estabe- provocada pelo crescimento da po-
cresceu com suas vitórias e, com o lecidas pelo Corão, ou seja, que ape- pulação e pela grande capacidade
apoio dos beduínos, marchou contra nas os descendentes de Maomé de miscigenação dos árabes; político
Meca, destruindo os ídolos da possuem o direito de governo, – unificação política alcançada pela
Caaba, declarando sagrado o recinto enquanto os sunitas abraçaram a unidade religiosa; religioso – obe-
do santuário e implantando definitiva- Suna e iniciaram um processo de diência ao preceito de Guerra Santa
mente o monoteísmo. Nesse ano de disputa sucessória com os xiitas. contra os infiéis; psicológico –
630, nasceu o Islã. atração exercida pelo paraíso muçul-
Os últimos anos de sua vida, 5. A EXPANSÃO mano, que prodigalizava recompen-
Maomé passou convertendo os de- MUÇULMANA sas materiais. Consideram-se ainda
mais árabes pela força das armas. (SÉCULOS VII-XI) elementos propulsores da expansão
Morreu em Medina, onde construíra a árabe, facilitando suas conquistas, a
primeira mesquita do Islão, deixando Quando Maomé morreu, deixou a fraqueza dos Impérios Bizantino e
elaborada a doutrina islâmica, que Arábia unificada, com sua capital em Persa e a instabilidade política dos
transmitiu a seus seguidores. Meca e sob a preponderância po- reinos germânicos do Ocidente.
As transcrições de seus ensina- lítica dos haxemitas. A morte do pro- Omar foi o principal califa da Di-
mentos consubstanciaram-se mais feta não provocou a dissolução do nastia Haxemita. Conquistou a Síria,
tarde no livro sagrado, o Corão ou incipiente Estado árabe: primeiro, a Palestina, a Pérsia e o Egito.
Alcorão. A doutrina islâmica é um porque os adeptos do islamismo, em A substituição dos califas haxe-
sincretismo fundamentado no sua maioria, eram crentes apegados mitas pelos omíadas, em 660, levou a
cristianismo e no judaísmo, bem à fé e à propagação dos ideais reli- duas mudanças: a capital foi transfe-
como nas tradições religiosas da giosos; segundo, porque surgiram rida para Damasco, na Síria, e as
própria Arábia. Prega a crença em de imediato dois homens, Abu Bekr e conquistas voltaram-se para o Oci-
um único Deus, nos anjos, no paraíso Omar – os dois primeiros califas –, dente. Avançando de forma fulminan-
celestial e no Juízo Final. Impõe aos que souberam assumir a sucessão e te, os maometanos conquistaram a
fiéis como princípios essenciais do a herança de Maomé, exercendo au- África do Norte, a Península Ibérica e
dogma: peregrinar a Meca, pelo toridade civil, militar e religiosa. Um até o sul da Gália, onde foram detidos
menos uma vez na vida; dar ano após a morte de Maomé, Abu pelos francos, liderados por Carlos
esmolas; jejuar no mês do Ramadã; Bekr conseguiu eliminar os focos de Martel, na Batalha de Poitiers; as ilhas
orar e pronunciar a profissão de fé resistência locais e consolidar a uni- de Córsega, Sardenha e Sicília tam-
cinco vezes ao dia, voltados em dire- ficação da península. bém caíram sob dominação muçul-
ção a Meca; fazer a Guerra Santa, A expansão islâmica, iniciada mana. Os árabes passavam a deter o
que representava uma obrigação imediatamente após a morte do pro- controle sobre o Mar Mediterrâneo.
ocasional. feta, foi estimulada por diversos fato- Em 750, em Damasco, um golpe
As tradições em torno da vida de res: econômico – interesse pelo sa- político afastou os omíadas do poder.
Maomé foram reunidas por seus que contra os vencidos (“butim”); so- Nesse momento, ascendia a Dinastia
adeptos em outro livro denominado cial – alta densidade demográfica, Abássida, formada por parentes do
Suna (Tradição), utilizado sempre
que se tratava de achar argumentos
para impor uma decisão ou definir
uma norma de governo para a qual o
Corão não fornecesse elementos.
A unidade do mundo muçulmano
foi quebrada após a morte do
profeta, com o surgimento de vários
movimentos, entre os quais se desta-
cam os sunitas e os xiitas. A diver-
gência inicial entre esses dois
grupos reside na questão do direito
de sucessão ao governo do Islão.
Segundo o Corão, somente os paren-
tes de Maomé poderiam substituí-lo
no comando dos crentes. Mas na
Suna não havia a mesma afirmação
sobre a questão. Assim, os xiitas
constituíram o grupo fundamentalista As conquistas árabes, após a morte de Maomé, deram origem ao mundo muçulmano.
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profeta, que instalaram a capital em dada por influências indianas e he- çulmanos se encontrassem, a pos-
Bagdá (Mesopotâmia) e orientaram lenísticas, conservadas cuidadosa- sibilidade de fazer em comum suas
as conquistas rumo ao Oriente, em mente pelos documentos reproduzi- preces de sexta-feira, num edifício
direção à Índia e à China. dos por copistas profissionais. É so- destinado para isso – a mesquita.
mente a partir da época em que os A pintura e a escultura pratica-
6. CONSEQUÊNCIAS DAS árabes começaram a assimilar os mente não se desenvolveram, em ra-
CONQUISTAS MUÇULMANAS valores da cultura grega que se pode zão da proibição à idolatria. Porém, os
verdadeiramente falar em uma “civili- árabes destacaram-se na arte deco-
A economia do Mundo Antigo foi zação árabe”. rativa, na sua escrita ornamental (ara-
caracterizada pela unidade em torno Durante a Dinastia Abássida, os bescos), na caligrafia e na ilustração.
do Mar Mediterrâneo. Os bárbaros, estudos científicos ganharam impor- Na Literatura, cabe destacar: As
ao invadir a Europa Ocidental no sé- tância. As ciências introduzidas no Mil e Uma Noites, o Livro dos Reis e
culo V, esfacelaram o Império Roma- meio árabe foram a Filosofia, a Mate- Rubayat, de Omar Khayan.
no, mas não interromperam as comu- mática e a Medicina. _________________________________
nicações pelo Mediterrâneo. A ex- Na Filosofia, destacou-se Aver-
8. CRONOLOGIA
pansão muçulmana dos séculos VIII róis, que viveu no século XII, estudio-
e IX, porém, bloqueou a navegação so da obra de Aristóteles e, ao mesmo
cristã através daquele mar, isolando tempo, filósofo, médico, jurisconsulto 570 – Nascimento de Maomé.
o Ocidente europeu e fortalecendo e astrônomo. Os princípios da Mate- 610 – Maomé tem a primeira visão
sua tendência para uma economia mática foram buscados em Euclides; do arcanjo Gabriel.
autossuficiente, com base numa pro- os cálculos, muito simplificados pelo
622 – Hégira.
dução rural. Evidentemente, houve uso dos algarismos arábicos – que,
exceções a essa regra geral, como, na verdade, foram assimilados da 629 – Conquista de Meca por
por exemplo, o comércio entre as ci- Índia – e pela criação da Álgebra. Maomé.
dades italianas e os árabes da Sicília. Além da Matemática, os árabes 632 – Morte de Maomé.
De qualquer maneira, mesmo tinham predileção pela Astronomia,
630-660 – Governo dos califas
que os árabes não tenham sido dire- pois já estavam familiarizados com
tamente responsáveis pela implan- as constelações que lhes serviam de haxemitas.
tação do feudalismo na Europa – pois guias em suas travessias noturnas no 660-750 – Governo dos califas
este processo já se iniciara durante a deserto. omíadas.
crise do Império Romano –, contribuí- A Alquimia também foi estimula-
711 – Invasão da Espanha pelos
ram decisivamente para acelerar a da em pesquisas e experiências,
consolidação do processo. com a finalidade de descobrir o elixir árabes (mouros).
da longa vida e a pedra filosofal, que 732 – Derrota dos árabes perante
7. A ARTE ISLÂMICA permitiria transformar todos os me- Carlos Martel na Batalha de Poitiers.
tais em ouro. No domínio da Medici-
Afora a civilização material cria- na, o nome mais célebre foi Avicena, 750-1258 – Dinastia Abássida.
da pelos árabes, ocorreu também um considerado um gênio universal. 756 – Fundação do califado de
florescimento intelectual. A conquista A arquitetura árabe foi notável, Córdoba; início da fragmentação do
da Pérsia possibilitou o contato com desenvolvida com uma finalidade prá- Império Árabe.
uma civilização muito antiga, fecun- tica: assegurar, onde quer que os mu-
Esse processo de centralização ções com a Inglaterra, cedendo Li- do a destruição da nobreza feudal,
teve início na França, continuando na mousin e Perigord aos ingleses em contribuindo para a formação de um
Inglaterra, Portugal e Espanha. troca dos territórios franceses ques- sentimento de nacionalidade, que fa-
tionados pela Inglaterra. voreceu sobremaneira o poder real.
2. A CENTRALIZAÇÃO Filipe, o Belo, governou a França
MONÁRQUICA NA FRANÇA entre 1285 e 1314, sucedendo o rei- 3. A CENTRALIZAÇÃO
nado do rei cruzado São Luís e logo MONÁRQUICA
Em 987, após derrubar o último de início entrou em litígio com o papa NA INGLATERRA
rei carolíngio, Hugo Capeto assumiu Bonifácio VIII. O Sumo Pontífice não
poderes políticos que serão preser- aceitou a excessiva tributação cobra- Em 1066, a influência normanda
vados por mais de 300 anos. Embora da pelo monarca francês. Apesar de se fazia sentir na Inglaterra, uma vez
não houvesse leis que concedessem o papa ir contra as resoluções tribu- que Guilherme, o Conquistador,
à Dinastia Capetíngia poderes cen- tárias do rei francês, os legistas pu- acompanhado de um exército das
tralizadores, diversos capetos gover- blicaram uma carta sem grande for- mais diversas origens, venceu o her-
naram poderosamente. Vários foram ça jurídica, apoiando o monarca con- deiro legal, Haroldo, na Batalha de
os fatores que auxiliaram esta exces- tra o papa. Bonifácio VIII excomun- Hastings, apoderando-se, dessa for-
siva centralização medieval: a gou Filipe em 1303, porém o papa foi ma, do trono inglês. Guilherme, o
divisão do reino nunca fora ques- cercado pelas tropas reais em Anag- Conquistador, submeteu a nobreza
tionada pelos sucessores; nunca ni, onde morreu. inglesa, obrigando-a a prestar-lhe um
houve regências imperiais; o flores- A política de Filipe, o Belo, visava juramento de fidelidade. Para centra-
cimento comercial dava à dinastia angariar fundos para o erário francês lizar seu poder, dividiu o reino em
condições de manter-se inabalável e assim partiu contra os judeus, ban- condados, colocando os sherifs,
diante da pressão nobiliárquica. queiros italianos, confiscando suas pessoas de sua confiança, para
A monarquia nacional francesa propriedades. A crise política agra- administrar as províncias reais e
tem seu início com Filipe Augusto vou-se, obrigando Filipe, o Belo, a obtendo desta forma um vasto
(1180-1223) nomeando funcionários convocar, em 1302, uma assembleia controle sobre seus domínios.
de sua confiança para supervisionar do clero, nobres e representantes Com sua morte, o poder foi ocu-
a justiça nos tribunais feudais, o que das cidades; surgiram, então, os pado por Henrique II, que iniciou a
diminuiu consideravelmente a auto- Estados-Gerais. Os constantes lití- Dinastia dos Plantagenetas, refor-
nomia dos senhores feudais. Apesar gios entre o Estado e o Papado cul- çando ainda mais o poder real. Seu
de continuar dependendo de seus minaram com uma cisão profunda no filho, Ricardo Coração de Leão, con-
vassalos em questões bélicas, preo- seio da Igreja Católica, uma vez que duziu de maneira desastrosa a políti-
cupou-se em tomar providências pa- Filipe, o Belo, forçou o Colégio de ca externa do reino, perdendo vários
ra criar um exército nacional subme- Cardeais a escolher Clemente V feudos que a Inglaterra possuía na
tido à sua própria autoridade. Por como Sumo Pontífice, transferindo a França. Seu reinado foi praticamente
isso, tratou de assalariar e convocar sede do Papado de Roma para dominado pelo seu envolvimento na
soldados aos milhares, conseguindo, Avignon. Este cisma durou até 1309. Terceira Cruzada. Esta desastrosa
dessa forma, o poder da força. A O papa passou a ser um instrumento política exter na colocou o trono
partir daí, muitas funções, até então nas mãos reais, uma vez que os inglês na dependência do Papado,
atribuídas aos senhores feudais, caí- dízimos cobrados dos fiéis acaba- que acabou, assim, oferecendo o
ram em mãos reais. vam passando aos cofres do Estado trono a Filipe Augusto, da França.
A unificação da França, porém, francês. Essa pressão forçou o herdeiro dinás-
avançou substancialmente com a fi- Com a extinção da Dinastia dos tico, João Sem Terra, a dobrar-se
gura de Luís IX (1226-1270). Com Capetíngios, no século XIV, assumiu diante da autoridade papal, da qual
sua vida monástica, soube utilizar-se o trono Filipe VI (1328-1350), inicia- passou a ser vassalo. Enquanto Ricar-
de princípios religiosos em seu pro- dor da Dinastia dos Valois, que go- do combatia os infiéis no Oriente,
veito político, instituindo o direito de vernou a França até 1589. Com a no- João Sem Terra tentava manter-se no
apelo, segundo o qual todos os va dinastia, iniciou-se o conflito com poder despoticamente. Em 1215, os
casos graves seriam julgados pelos a Inglaterra: a Guerra dos Cem Anos, barões ingleses, sentindo-se pres-
juízes reais. Nas províncias, comba- motivada pelas ambições econô- sionados pela excessiva centralização
teu duramente os abusos dos funcio- micas e territoriais sobre Flandres, do rei regente, impuseram-lhe a Carta
nários, adotando leis escritas, e grande produtora de lã – matéria- Magna, que limitava os seus poderes.
proibiu também as guerras privadas. prima indispensável para o desen- Esta “Constituição” assegurava a to-
Em nível externo, destacou-se pela volvimento da manufatura – e pelo dos os ingleses proteção contra o
assinatura do Tratado de Paris, no direito de sucessão ao trono francês. despotismo real, sendo considerada
qual tentou abrandar as difíceis rela- A violenta guerra acabou provocan- precursora das liberdades individuais.
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merciantes italianos que a con - K A generalização da fome manter a estrutura feudal, começa-
traíram na Ásia. Alastrou-se rapida- A crise agrícola provocada pela ram a substituir as obrigações servis
mente, ceifando grande parte da guerra e pela peste foi associada por serviços e arrendar as terras para
população. O misticismo atribuiu a também às péssimas condições não perdê-las.
peste a um castigo divino, o que atmosféricas da Europa do século O processo de transformação
deu origem a um forte fanatismo re- XIV. Com isso, criou-se um ciclo que para o capitalismo acelerou-se na Eu-
ligioso. Os campos se esvaziaram, parecia interminável: guerra, peste e ropa Ocidental. Com a expansão ul-
abalando a produção agrícola, o fome. tramarina, as crises foram superadas,
que provocou a escassez de ali- Com a crise, muitos servos aca- contribuindo para o crescimento da
mentos, a alta dos preços e, em baram conseguindo sua liberdade e burguesia e para a consolidação do
consequência, a fome. os senhores feudais, incapazes de Estado Moderno.
tual e da corrupção do clero. A ne- pôs fim ao conflito na Alemanha. De- Uma nova Assembleia foi reunida
cessidade de reformar o clero é que pois da Reforma Luterana, vieram a em Spira, em 1529. O imperador Car-
iria dar origem à Reforma. Reforma Calvinista, a Reforma Angli- los V impôs o catolicismo romano aos
cana, a Reforma Católica e a príncipes, que se rebelaram. Daí o
3. HUMANISMO E A Contrarreforma. nome “protestante”. Em 1530, em
TENTATIVA DE REFORMA Augsburgo, a doutrina de Lutero foi
exposta por Melanchton por meio da
Os humanistas cristãos tiveram Confissão de Augsburgo, que se tor-
consciência dessa necessidade. nou a constituição da nova Igreja. Os
Procuravam o verdadeiro cristianis- príncipes protestantes organizaram a
mo na leitura e comentário do Antigo Liga de Smalkalde contra o imperador.
Finalmente, em 1555, uma nova
e do Novo Testamento, bem como na
Dieta de Augsburgo colocava os prín-
tradição dos grandes escritores
cipes protestantes em vantagem, pois
cristãos antigos. Erasmo publicou em
estabelecia a teoria de que cada
1516 uma edição em grego dos
príncipe deveria determinar a religião
evangelhos e uma tradução latina.
dos súditos. Terminava, assim, a pri-
Por outro lado, um grupo de estudio- meira guerra de religião na Alemanha.
sos franceses, Guilherme Briçonnet,
e principalmente Lefévre d'Etaples, K A doutrina luterana
protegidos pela rainha de Navarra, A salvação, para o luteranismo,
Margarida D'Angoulême, publicou não se alcança pelas obras, e sim
uma coleção de Salmos, edição das pela fé, pela confiança na bondade
cartas de São Paulo e uma tradução de Deus, pelo sofrimento interior do
francesa do Novo Testamento (1521). (Beckett, Wendy. História da fiel. O culto é muito simples: um
Outros, mais ligados ao Papado, pintura. São Paulo: Ática, 1997. p.117.) contato “direto entre fiel e salvador”;
tais como Pico De La Mirandola e somente salmos e leituras da Bíblia.
Marsílio Ficino, empenharam-se igual- 5. A REFORMA PROTESTANTE Lutero rejeitou a maior parte dos
mente numa reforma dos costumes sacramentos; conservou apenas três,
da Igreja, que não alcançou o efeito Teve início com Martinho Lutero que foram depois reduzidos a dois:
desejado. em 1517, na Alemanha, quando ele batismo e eucaristia. Mesmo na euca-
Um fator muito significativo do protestou contra a venda de indul- ristia, a presença de Cristo existe no
porquê da não execução das refor- gências e aproveitou para fazer ou- pão e no vinho, não há transforma-
mas propostas pelos pensadores tras críticas à estrutura eclesiástica. ção do corpo e sangue de Cristo em
cristãos prende-se ao problema Combatido pelo Papado, Lutero foi pão e vinho, ou seja, não há transubs-
condenado pelo imperador Carlos V tanciação, e sim consubstanciação.
conciliar já citado. A Reforma
na Dieta de Worms e somente esca-
tinha que ser feita pelo
pou da execução porque se refugiou
Concílio. O Papado tinha receio de 6. CRONOLOGIA
na Saxônia, com o duque Frederico,
convocá-lo por causa de suas ten-
o Sábio.
dências de supremacias. Assim, o
problema foi adiado até que a solu- 1517 – Início da Reforma Lute-
ção protestante forçou a reunião do rana.
Concílio de Trento. Nessa ocasião, 1521 – Condenação de Lutero na
entretanto, o Papado já possuía a Dieta de Worms.
Companhia de Jesus, que manipulou 1522 – Revolta dos Cavaleiros.
o Concílio e evitou a discussão do 1525 – Eclosão da revolta campo-
problema da superioridade.
nesa.
1526 – Primeira Dieta de Spira.
4. AS ETAPAS DA REFORMA
1529 – Segunda Dieta de Spira.
Na verdade, houve várias refor- 1530 – Primeira Dieta de Augs-
mas, iniciadas com a Reforma Lute- burgo.
rana, a qual deu origem à primeira 1531 – Liga de Smalkalde.
guerra de religião da Era Moderna, 1555 – Segunda Dieta de Augs-
travada entre protestantes e católi- Lutero foi professor de burgo e Paz de Augsburgo.
cos. A Paz de Augsburgo de 1555 Teologia na Universidade de Wittenberg.
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Aragão, tia do imperador Carlos V, numa luta pelo controle da Igreja. militares, como as guerras de reli-
rompeu com o Papado e com a Isso impediu a pronta ação contra o gião na Alemanha (1530-1555), as
convivência do bispo de Canterbury, protestan tis mo, que teve uma guerras de religião na França (1558-
casando-se com Ana Bolena. expansão tão rápida, tão fulminante 1594) e a Guerra dos Trinta Anos
Em 1534, o Parlamento inglês que a Igreja Católica finalmente (1618-1648).
promulgou o Ato de Supremacia, pe- percebeu que poderia ser com-
lo qual Henrique VIII se tornava o pletamente destruída. Daí a ne - 5. A CONTRARREFORMA
chefe supremo da Igreja na Inglater- cessidade de uma reorganização
ra. Dessa forma, a Igreja Anglicana interna. Foi um conjunto de medidas
tornou-se uma Igreja nacional, sepa- O surgimento da Sociedade de destinadas a combater o protestan-
rada de Roma. Nenhuma reforma foi Jesus, destinada a apoiar o papa, tismo, por meio da educação, da
efetuada na doutrina ou no culto. permitiu a convocação do Concílio catequese e da inquisição. No pri-
Henrique VIII perseguiu tanto os de Trento (1545-1563), no qual se a- meiro caso, o que se pretendia era
católicos quanto os calvinistas (os dotaram as principais medidas de difundir o ensino nas regiões atin-
chamados puritanos). defesa da Igreja Católica. O Concílio gidas pela Reforma, de modo que
Sob a influência do bispo Cramer, conservou a doutrina tradicional, fossem recuperadas pelo menos as
o calvinismo penetrou na Inglaterra manteve a autoridade do papa e novas gerações. No segundo caso,
durante o reinado de Eduardo VI criou os seminários para melhorar a a intenção era conseguir novos
(1547-1553). Assim, a missa foi supri- formação do clero. adeptos para a Igreja nas terras
mida e o casamento dos padres, per- Confirmou-se o já existente Tribu- recém-descobertas no Novo Mundo;
mitido. O poder passou em seguida a nal da Inquisição e foi criado o Índice neste caso, converter os índios era
uma rainha católica, Maria Tudor dos Livros Proibidos. O Concílio reali- uma maneira de combater os pro-
(1553-1558), que empreendeu profun- zou, pois, um trabalho de reestru- testantes. Finalmente, cabia à Inqui-
da perseguição aos calvinistas e an- turação da Igreja Católica, de re- sição (ou Tribunal do Santo Ofício)
glicanos, restaurando o catolicismo. forma interna da Igreja, condição bá- perseguir, nos países que ainda não
Foi somente com EIizabeth sica para poder enfrentar os protes- tivessem sido dominados pela Re-
(1558-1603) que se estabeleceu defi- tantes. forma, os adeptos das novas doutri-
nitivamente a Reforma na Inglaterra. nas. A perseguição era feita de ma-
Confirmou-se a superioridade do rei 4. AS REPERCUSSÕES DA neira cruel e servia aos propósitos
nos assuntos religiosos. Completou- REFORMA do poder político nos Estados em
se a separação de Roma. Foi insti- que ela se realizou (Espanha, Por-
tuído um livro de orações comuns, e No plano econômico, a Reforma tugal e Itália).
a hierarquia do clero, mantida. Calvinista trouxe consigo a ideia da
predestinação (Deus elegia previa-
6. CRONOLOGIA
K A doutrina anglicana mente os fiéis para a salvação) e de
Em termos da doutrina, a salva- que um dos sinais da escolha divina
1517 – Início da Reforma Protes-
ção pela predestinação, apoio das era o êxito profissional, a riqueza.
Sagradas Escrituras, supressão dos Tal concepção adaptava-se per - tante, com as 95 teses de Lutero.
liames a Roma, manutenção da feitamente à ética capitalista, ao 1521 – Condenação de Lutero na
hierarquia, conservação de dois ideal da acumulação e do inves- Dieta de Worms.
sacramentos, presença espiritual de timento. So cial mente, a Reforma 1534 – Implantação do anglica-
Cristo na eucaristia, eliminação do deu margem a convulsões sociais, nismo na Inglaterra; tradução, por
sacrifício da missa e preservação da pois em nome da religião os cam- Lutero, do Velho e Novo
liturgia foram as modificações in- poneses e artesãos aproveitaram
Testamentos para o alemão.
troduzidas. para fazer suas reivindicações es-
1536 – Início da Reforma religiosa
pecíficas. Politicamente, os reis e os
príncipes transformaram a Reforma de Calvino em Genebra, na Suíça.
3. A REFORMA CATÓLICA
em instrumento de luta pelo poder, 1540 – Fundação da Companhia
Por ocasião do início da pois o rompimento com a Igreja de Jesus.
Reforma Protestante, havia dentro tornava-os mais fortes. Por outro 1545 – Reforma Católica, iniciada
da Igreja Católica uma disputa entre lado, os conflitos religiosos transfor- pelo Concílio de Trento.
o Papado e o Concílio, envolvidos maram-se em cruentos conflitos
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lização e o comércio interno na Fran- primeira guerra de Luís XIV foi a de Condado para a França. De 1679 a
ça. Restringiram-se as importações, Devolução, contra a Espanha, em 1684, Luís XIV fez uma série de
estimularam-se as exportações. Abri- que reivindicava direitos sobre o anexações: Estrasburgo, Luxembur-
ram-se vias terrestres e fluviais, que Brabante; conquistou Flandres e o go, Courtrai e outras cidades. Em
facilitaram as comunicações. Franco Condado, mas encontrou a 1689, proclamou sua pretensão à
No plano econômico, nomeou forte reação da Tríplice Aliança posse do palatinado, o qual invadiu e
Jean-Baptiste Colbert ministro das Fi- (Inglaterra, Holanda e Suécia), que o devastou. Formou-se, então, a Gran-
nanças. Colbert estimulou a indústria obrigou a assinar o Tratado de Aix-la- de Aliança (de quase toda a Europa),
a fabricar artigos de luxo, visando ao Chapelle (1668), pelo qual a França que o obrigava a manter-se na defen-
desenvolvimento da balança co- ficava apenas com parte da região siva: em 1679, pela Paz de Ryswick,
mercial, por meio de um mercanti- de Flandres. Dois anos depois, o a França abandonou a maioria dos
lismo industrial. monarca ocupou Lorena e, de 1672 a territórios anexados, conservando
No plano internacional, em 1678, dedicou-se a uma “guerra de Estrasburgo e Alsácia. Pelos tratados
busca da hegemonia europeia, a vingança” contra a Holanda, que de Utrecht (1713) e Rastat (1714),
França adotou uma política de terminou com o Tratado de Nimègue: perdeu várias possessões no Novo
constante agressão aos vizinhos. A a Espanha perdeu o Franco Mundo.
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dades; pôs em fuga líderes do Parla- tolerância religiosa e o pagamento ao criado o Banco da Inglaterra, para
mento e assumiu o controle da situa- exército. Embora tudo parecesse con- emprestar dinheiro ao Tesouro e
ção; destituiu a Câmara dos Lordes; tinuar como antes, o Estado tinha sido aconselhar seus funcionários.
aprisionou e depois mandou deca- reorganizado em outras bases: o rei Ficou assim organizado o tripé do
pitar em praça pública o rei. A guer- era agora uma espécie de funcionário desenvolvimento do capitalismo in-
ra civil culminou com a implantação da nação, a Igreja Anglicana deixou glês, montado pela burguesia: o Par-
da República, em 1649. de ser um instrumento do poder real, lamento, o Tesouro e o Banco da Ingla-
e a burguesia já estava bem mais terra. Encerra-se, sem derramamento
5. COMMONWEALTH poderosa que a nobreza. de sangue, a Revolução Gloriosa, que
marcou a ascensão da burguesia ao
Com a República, começou a se- 6. A REVOLUÇÃO GLORIOSA controle total do Estado. Nesse sen-
gunda fase da Revolução Puritana, a tido, ela pode ser considerada o com-
Commonwealth. Em poucos anos, Sentindo-se totalmente limitado plemento da Revolução Puritana.
Cromwell venceu Carlos II (filho de pelo Parlamento (que legislava sobre Uma vez estabelecida no poder,
Carlos I) e dominou todo o Império as finanças, a religião e as questões a burguesia fez com que fossem reti-
Britânico. O “Ato de Navegação”, bai- militares), Carlos II uniu-se secreta- rados os obstáculos à sua expansão:
xado em 1651 (os produtos importa- mente a Luís XIV da França, rei cató- a terra foi liberada para os comer-
dos pela Inglaterra só podiam ser lico e absolutista, o que o tornou sus- ciantes e completou-se a expulsão
transportados por navios britânicos peito ao Parlamento. Desse momento dos rendeiros. O desenvolvimento da
ou pertencentes aos países produ- em diante, o rei não pôde mais inter- Inglaterra, depois disso, foi enorme.
tores), provocou a luta com os Países ferir na política europeia sem o con-
Baixos, cujo comércio se baseava no sentimento parlamentar.
transporte de mercadorias. Esse ato Seu irmão e sucessor, Jaime II,
permitiu que fosse estabelecida a su- era católico e amigo da França. Co- Chamou-se
premacia inglesa nos mares. Revolução
mo tomasse várias medidas a favor
Gloriosa o
dos católicos, o Parlamento revoltou- movimento
se e chamou Maria Stuart e seu mari- que levou
do, Guilherme de Orange, dos Países Guilherme
Baixos, para assumir o governo em de Orange
Oliver ao trono
lugar do rei, que fugiu para a França.
Cromwell inglês.
Guilherme só foi proclamado rei
liderou o (com o nome de Guilherme III)
único período
depois de ter aceito a Declaração de
republicano 7. CRONOLOGIA
Direitos, que limitava muito a sua
da Inglaterra.
liberdade e dava ainda mais poder 1485-1509 – Reinado de Henri-
Cromwell governou com intole- ao Parlamento: o rei não podia can-
que VII.
rância e rigidez, impondo a todos as celar as leis parlamentares e o pró-
1509-1559 – Reinado de Henri-
suas ideias puritanas. Quando, em prio trono podia ser dado pelo
Parlamento a quem lhe aprouvesse, que VIII.
1653, o Parlamento tentou limitar seu
poder, Cromwell dissolveu-o e fez-se após a morte do rei em função; as 1534 – Ato de Supremacia.
proclamar “Protetor” da Inglaterra, reuniões parlamentares e as eleições 1559-1603 – Reinado de Eliza-
Escócia e Irlanda. A partir daí gover- seriam regulares; o orçamento anual beth I.
nou com plenos poderes, até a sua seria votado pelo Parlamento; inspe- 1603-1688 – Dinastia Stuart.
morte, em 1658. tores controlariam as contas reais; os 1628 – Petição dos Direitos.
Sucedeu-o seu filho Ricardo, que, católicos foram afastados da suces-
1641 – Revolta na Irlanda.
não tendo as qualidades do pai, foi são; a manutenção de um exército
considerado incapaz e destituído do permanente em tempo de paz foi 1642 – Início da Revolução Puritana.
poder, em 1659. Os burgueses de- considerada ilegal. Todas as deci- 1645 – Batalha de Naseby.
sejavam a segurança, e os irlandeses sões começaram a ser tomadas 1649 – Implantação da República.
e escoceses, a volta da realeza. O pelos ministros, sob a autoridade do 1651 – Ato de Navegação.
Parlamento procurou então Carlos II, lorde tesoureiro. O Tesouro passou a 1653 – Protetorado de Cromwell.
que estava refugiado na Holanda. Ao ser dirigido por funcionários que, na 1658 – Morte de Cromwell.
ser restaurado no poder, em 1660, época das guerras, orientavam a po- 1688 – Revolução Gloriosa.
Carlos II prometeu a anistia geral, a lítica interna e externa. Em 1694, foi
164 –