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FRENTE 1 História Integrada

MÓDULO 1 Das Diásporas Gregas a Esparta


1. A GEOGRAFIA DA GRÉCIA teve um papel importante na
economia. A agricultura era pra-
A Grécia é um país da Europa lo-
ticada nos vales e nas encostas
calizado ao sul da Península Balcâni-
das montanhas, representada MACEDÔNIA
ca. O território grego é cortado ao
pelo cultivo do trigo, cevada e,
meio pelo Estreito de Corinto, que se-
principalmente, de vinhas e
para a Grécia Continental, ao norte,
oliveiras.
da Península do Peloponeso, ao sul.
ÉPIRO
As duas regiões são bastante monta- Córcira TESSÁLIA
nhosas, sendo a vida na Grécia de- 2. A CIDADE-ESTADO
terminada por duas regiões distintas: GREGA
HÉLADE
a montanha e a orla marítima. Leuctras
As montanhas dificultavam as A história da Grécia Antiga ÁTICA
comunicações entre as planícies e os caracteriza-se pela presença da Corinto Atenas
pequenos vales férteis, fragmentan- cidade-Estado (pólis). Havia ao PELOPONESO
do o território em numerosas comuni- todo cerca de 160 cidades-
dades, completamente indepen- Estado na Grécia, todas elas Esparta
dentes entre si. Além disso, a exis- soberanas, com destaque para
0 200 Km
tência de um litoral bastante recor- Atenas e Esparta. A indepen-
tado e as numerosas ilhas do Mar dência dessas cidades resultou As principais cidades-Estado da Grécia Antiga,
Egeu, bastante próximas entre si, de vários fatores: o relevo mon- destacando-se Esparta, na Península do Pelopo-
orientaram a vocação marítima dos tanhoso, que dificultava as com- neso, e Atenas, localizada na Península da Ática.
gregos, facilitando o contato com os unicações terrestres; o litoral re-
povos do mundo exterior. cortado e as numerosas ilhas exis- 3. O PERÍODO HOMÉRICO
O clima da Grécia é muito seco, tentes no Mar Egeu, que estimula- (SÉCS. XII a.C. A VIII a.C.)
com chuvas raras, tendo poucas vam a navegação; a ausência de
áreas férteis. Desta forma, a pecuária uma base econômica interna sólida, Trata-se de um período conheci-
que poderia aglutinar os do principalmente por causa de dois
gregos em um Estado- poemas atribuídos a Homero: a llía-
nação. Contudo, os da, que trata da guerra e destruição
gregos passaram por de Troia, e a Odisseia, sobre as via-
um processo de disper- gens de Ulisses.
são que os levou a Nessa época, os gregos viviam
fundar numerosas colô- em pequenas comunidades agríco-
nias no litoral do Medi- las autossuficientes — os genos —,
terrâneo e do Mar Ne- cujos membros eram aparentados
gro. Essas colônias entre si e obedeciam à autoridade de
vieram a tor nar-se um pater familias. A propriedade da
outras tantas cidades- terra era coletiva. O sistema gentílico
Estado, de forma que desintegrou-se quando o crescimen-
não se estabeleceu uma to demográfico tornou insuficiente a
unidade política entre produção dos genos. Os parentes
elas. Entretanto, como mais próximos do pater familias (os
havia unidade cultural eupátridas) apropriaram-se das ter-
(identidade de língua, ras, transformando-as em proprieda-
etnia, religião e costu- de privada; quanto aos parentes
mes), podemos falar em mais afastados, estes se transforma-
um Mundo Grego, mas ram em camponeses sem terra ou
A chegada dos dórios à Península não em um Império então emigraram. Separando-se dos
Balcânica (A) provocou a primeira diáspora (B) grega. Grego. camponeses, os eupátridas passa-

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ram a morar em locais fortificados que, perior e recebiam educação


com o correr do tempo e o desenvol- militar), periecos (aqueus,
vimento do comércio, deram origem habitantes da periferia, que,
às pólis (plural de pólis). apesar de serem homens li-
vres, não eram considerados
4. O MILITARISMO DE cidadãos) e hilotas (escravos).
ESPARTA A sociedade era estamental,
rigidamente hierarquizada e
Esparta localizava-se na região sem mobilidade social.
da Lacônia, que ocupava a parte su-
deste da Península do Peloponeso, K Política
ao extremo sul da Grécia, sendo uma Até o século Vll a.C., a
das primeiras cidades-Estado a sur- legislação de Esparta — Grande
gir na Grécia. Foi fundada pelos dó- Retra — estabelecia que o
rios, por volta do século lX a.C., após governo deveria ser exercido
a submissão dos aqueus. por dois reis (diarquia), por um
conselho e por uma assem-
K Economia bleia. A sucessão ao trono era
Durante o Período Homérico, os hereditária e duas famílias
dórios vivenciaram o sistema gentíli- dividiam o poder: os Ágidas e Organograma político e social de Esparta, que con-
co, como as demais regiões da Gré- os Euripôntidas. O Conselho, cedia todos os privilégios para a minoria espartíata.
cia. Nesse período, as terras que ha- denominado Gerúsia, era
viam sido conquistadas aos aqueus formado pelos homens idosos e tinha esvaziados, restando-lhe o exercício
foram distribuídas entre os guerrei- um caráter apenas consultivo. A As- do poder sacerdotal e as atribuições
ros, que as trabalhavam coletivamen- sembleia, Ápela, era o órgão mais im- militares. O caráter conservador de
te, sob um regime patriarcal. portante, e os cidadãos tomavam as Esparta resultou da preocupação da
No século Vll a.C., em razão da decisões finais sobre todos os assun- minoria espartíata em manter a maio-
escassez de terras e do crescimento tos. ria hilota subordinada. Daí o milita-
da população dória, teve início a A Constituição e a organização rismo do estamento dominante, a
expansão vitoriosa sobre a Planície política eram praticamente imutáveis, xenofobia (aversão ao estrangeiro) e
Messênia; os messênios foram pois eram atribuídas à lendária figura o laconismo (forma sintética de ex-
reduzidos à condição de escravos. de Licurgo, personagem histórica que, pres são), que sufocavam o surgi-
Esse fato promoveu profundas por ter um caráter divino, imprimia essa men to de ideias e restringiam o
alterações na estrutura econômica e divinização às normas por ele criadas. espírito crítico.
fundiária de Esparta. As proprieda- Com o processo de conquista da
des coletivas desapareceram, ce- Planície Messênia concluído no sé- 5. CRONOLOGIA
dendo lugar a uma vasta proprieda- culo VII a.C., as transformações polí-
de estatal, denominada de terra cívi- ticas foram proporcionais às mudan- 2.000 a.C. – Os aqueus começam
ca — as terras centrais e mais férteis ças socioeconômicas. O governo a chegar à Grécia.
da planície. Essas terras foram dividi- passou por uma transformação con-
1700 a.C. – Começam a chegar
das em cerca de 8.000 lotes, que servadora e mais uma vez essas alte-
foram distribuídos aos guerreiros rações foram atribuídas a Licurgo. os eólios e jônios.
dórios, detentores da posse útil da Esparta adotou a oligarquia como 1400 a.C. – Destruição da cidade
terra cívica. Recebiam também cerca forma de governo. A antiga Gerúsia
cretense de Cnossos pelos aqueus.
de seis escravos para realizar os tra- passou a monopolizar o poder e,
balhos. As terras periféricas foram di- nesse momento, compunha-se de 1200 a.C. – Invasão da Grécia
vididas entre os aqueus, que deti- 28 gerontes (cidadãos com mais de pelos dórios.
nham a propriedade privada sobre a 60 anos), com poderes vitalícios. O Século IX a.C – Fundação de Es-
terra, podendo vendê-la ou dividi-la. Poder Executivo passou a ser exerci-
do pelos éforos, cinco magistrados parta.
K Sociedade escolhidos pelos gerontes, com o 809 a.C. (?) – Possível data da
A conquista da Planície Messênia mandato de um ano. A antiga Ápela elaboração da Grande Retra.
promoveu uma reestruturação social aprovava as leis apenas por aclama-
Século VIII a.C. – P r i m e i r a
em Esparta. Basicamente, após a ção, correspondendo, nesse contex-
conquista da Planície, a sociedade to, a um órgão formal de decisões Guerra da Messênia.
era composta de espartíatas (cida- políticas, de caráter meramente con- Século VIl a.C.– Segunda Guerra
dãos e guerreiros de origem dória, sultivo. A diarquia continuou a existir,
da Messênia.
que constituíam a camada social su- mas os seus poderes políticos foram
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MÓDULO 2 Atenas e Período Clássico

1. ECONOMIA

Atenas localizava-se na Ática —


península pouco fértil —, o que res-
tringia a prática da agricultura nos
vales e encostas mais favoráveis. A
proximidade entre a cidade e o Porto
de Pireu impulsionou o comércio
marítimo e, consequentemente, in-
centivou a indústria de cerâmica e a
agricultura de exportação (vinho e
azeite). Graças a esses fatores, a
economia ateniense estabeleceu
uma relação dinâmica com o mer-
cado externo, e a cidade tornou-se o
centro mercantil do Mar Egeu. Muitos
elementos das camadas pobres da Ruínas da Eclésia, em Atenas.
população participaram da Diáspora
Grega, fixando-se em colônias. A impossíveis a vida e o bem-estar; na instrumentos. Se todos os instru-
consequente escassez de mão de administração doméstica assim como mentos pudessem cumprir seu dever
obra, tanto para a lavoura como para nas artes determinadas, é necessá- obedecendo às ordens de outro ou
a indústria da cerâmica e da cons- rio dispor dos instrumentos adequa- antecipando-se a elas, como contam
trução naval, fez que Atenas e outras dos se se deseja levar a cabo sua das estátuas de Dédalo ou dos
cidades importassem escravos. Des- obra. Os instrumentos podem ser tridentes de Hefesto, do que diz o
sa forma, a Grécia veio a tornar-se a animados ou inanimados – por exem- poeta que entravam por si só na as-
primeira civilização da Antiguidade plo: o timão do piloto é inanimado; o sembleia dos deuses, se as lança-
que institucionalizou o escravismo, vigia, animado (pois o subordinado deiras tecessem sós e os plectros to-
fazendo dele seu modo de produção. faz as vezes de instrumento nas cassem sozinhos a cítara, os maes-
A escravidão foi defendida pelo artes). Assim, também os bens que tros não necessitariam de ajuda, nem
filósofo Aristóteles. se possui são um instrumento para a de escravos ou amos.
Para ele, a propriedade é uma vida, a propriedade em geral, uma O que é chamado habitualmente
parte da casa e a arte aquisitiva, uma multidão de instrumentos; o escravo, de instrumento, o é de produção, en-
parte da administração doméstica, já um bem animado, é algo assim como quanto os bens são instrumentos de
que sem as coisas necessárias são um instrumento prévio aos outros ação; a lançadeira produz algo à parte
de seu funcionamento en-
quanto a roupa ou o leito
produzem apenas seu uso.
Além disso, como a produ-
ção e a ação diferem essen-
cialmente e ambas neces-
sitam de instrumentos, estes
apresentam necessariamen-
te as mesmas diferenças. A
vida é ação, não produção, e
por isso o escravo é um
subordinado para a ação.
Do termo propriedade,
pode-se falar no mesmo
sentido que se fala de parte:
a parte não somente é parte
de outra coisa, senão que
pertence totalmente a esta,
assim como a propriedade.
As lutas pela hegemonia sobre a Grécia Antiga destruíram a essência do Mundo
Helênico: as cidades-Estado. Exaustas, elas não puderam resistir à expansão Por isso, o amo não é do es-
dos habitantes do Norte, ironicamente considerados inferiores pelos gregos: cravo outra coisa que amo,
tratava-se dos macedônios, que iriam construir um dos maiores impérios da Antiguidade. como lhe pertence por
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completo. Disso se deduz claramen-


te qual é a natureza e a função do
escravo: aquele que, por natureza,
não pertence a si mesmo, senão a
outro, sendo homem, esse é natu-
ralmente escravo; é coisa de outro
aquele homem que, a despeito da
sua condição de homem, é uma pro-
priedade e uma propriedade sendo,
de outra, apenas instrumento de
ação, bem distinta do proprietário.
2. SOCIEDADE
Inicialmente, a sociedade ate-
niense (como, aliás, as demais so-
ciedades gregas) dividia-se em eu-
pátridas (aristocratas proprietários
das melhores terras), demiurgos (ar-
tesãos e comerciantes), georgóis
(pequenos proprietários rurais) e As alianças das cidades-Estado e as guerras
thetas (camponeses sem terra e tra- de hegemonia que fragilizaram o Mundo Grego.
balhadores marginalizados).
ses surgidas passaram a pressionar trava os poderes político, militar e re-
Imaginemos um camponês gre-
os aristocratas e a fazer oposição ao ligioso. O seu poder era limitado por
go. Como os humildes de todas as
regime oligárquico. Nesse período, um conselho de anciãos, o Areópa-
épocas, levantava-se cedo, antes do
formaram-se os partidos políticos e go. Gradativamente, o Basileu foi per-
romper da aurora. Na penumbra da
manhã, procurava as estrelas... Sau- teve início uma crise em Atenas. O dendo seus poderes para a aristo-
dava o sol nascente, atirando-lhe um partido popular reivindicava refor- cracia, que impôs a oligarquia como
beijo, como saudava a primeira an- mas: exigia leis escritas, o fim da es- regime de governo. O governo oligár-
dorinha ou o primeiro milhano... Mais cravidão por dívidas e o direito de par- quico era exercido pelo Arcontado
do que o sol, desejava a chuva e, por ticipar da vida política. Verificaram-se, com apoio do Areópago. O antigo rei
vezes, a frescura. Contemplava o então, mudanças sociais profundas. teve seu poder e função reduzidos às
mais alto cume das imediações, por Os eupátridas, que constituíam a tarefas sacerdotais, tornando-se mais
vezes coroado de nuvens, porque lá ca mada social dominante, eram os um entre os arcontes. Os arcontes —
em cima, no topo da montanha, grandes proprietários de terras nas membros do Arcontado — eram
residia Zeus, o deus que juntava as planícies, nas quais trabalhavam os escolhidos inicialmente para um
nuvens, lançava o raio, concedia a escravos, rendeiros e assalariados. período de dez anos; posteriormen-
chuva. Era um grande deus... O Os pequenos agricultores eram de- te, o poder foi reduzido apenas para
ribombar do trovão era o sinal do seu nominados georgóis. Suas proprie- um ano. Além do rei, havia o arconte
poder e da sua presença, por vezes, dades eram pouco férteis e, com a Polemarco, encarregado do comando
da sua cólera. intensificação do comércio, não tive- do Exército; o arconte Epônimo,
A própria linguagem oferece tes- ram condições de competir com as encarregado dos assuntos internos;
temunho da força das crenças deste importações. Muitos, ao pedir em- os arcontes Tesmotetas, que, em nú-
povo. Os gregos não diziam “chove” préstimos aos eupátridas, perderam mero de seis, cuidavam da legislação.
ou “troveja”, mas “Zeus chove”, a terra que fora dada como forma de
“Zeus troveja”. pagamento, transformando-se em K Os legisladores
Mais tarde, com a expansão das rendeiros; outros colocaram seu pró- Em meio a uma violenta crise,
atividades marítimas, os mercadores prio corpo como garantia da dívida, marcada pela força das camadas
tornaram-se uma classe bastante reduzindo-se à condição de escra- populares, a oligarquia recuou e foi
próspera e rival dos eupátridas. vos. Os thetas compunham a cama- obrigada a fazer concessões. Surgi-
da de marginalizados sociais. Os artí- ram, assim, os legisladores, com a fi-
3. POLÍTICA fices e artesãos eram denominados nalidade de solucionar a crise polí-
demiurgos e constituíam uma camada tica de Atenas.
K A organização de homens livres que colocavam seu Em 621 a.C., Drácon iniciou as
primitiva de Atenas trabalho a serviço da comunidade. reformas, preparando uma legis-
Com o processo de colonização Originariamente, o poder político lação escrita para a cidade. As leis
provocado pela primeira diáspora, em Atenas assentava-se sobre uma de Drácon eram extremamente se-
Atenas transformou-se em um gran- monarquia hereditária. O governo era veras, pois previam a pena de morte
de centro comercial. As novas clas- exercido pelo Basileu, que concen- para a maioria dos crimes. No entan-
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to, foram muito importantes, pois, de um golpe. Essa forma de governo K A reforma de Clístenes
além de serem escritas, a administra- dominou o cenário da vida política de Entre 508 e 507 a.C., Clístenes
ção da justiça saiu das mãos da aris- Atenas durante cinquenta anos. deu início a um processo de reformas
tocracia e passou a ser competência Pisístrato, de origem aristocrática e em Atenas, para implantar a
do Estado, que se fortaleceu com ligado ao partido diacriano, governou democracia. As suas propostas
isso. Em termos políticos, a situação Atenas entre 560 e 527 a.C. Durante o incluíam: direitos políticos para os ci-
não se alterou. Os eupátridas conti- seu governo, construiu obras públi- dadãos, representados pelos homens
nuaram monopolizando o poder. De cas, estimulou o comércio e determi- maiores de 18 anos, filhos de pais
fato, Drácon não conseguiu controlar nou a participação dos cidadãos em atenienses e de origem jônia; partici-
a crise política e as camadas popula- assembleias e tribunais. pação política direta no governo, pois
res continuaram revoltadas. Em
Com sua morte, o poder passou os cidadãos opinavam na Assem-
594 a.C., Sólon foi nomeado legisla-
para seus filhos Hípias e Hiparco. O bleia ou eram sorteados para ocupar
dor de Atenas. As reformas por ele
governo dos irmãos foi moderado até algum cargo. Cabe ressaltar que a
propostas abrangiam os três pontos
514 a.C., quando Hiparco foi assassi- democracia ateniense era exercida
fundamentais da vida ateniense: o
econômico, o social e o político. nado por um aristocrata, e Hípias por aproximadamente 35.000 ci-
Economia – estimulou o co- iniciou um processo de perseguição dadãos em uma população de cerca
mércio e a indústria; estabeleceu um política. Os aristocratas reagiram e de 450.000 habitantes.
padrão monetário fixo e um sistema expulsaram Hípias de Atenas em 510 Além da Eclésia, o poder legisla-
de pesos e medidas e proibiu a ex- a.C. Dois anos mais tarde, lságoras tivo era ainda constituído pela Bulé
portação de cereais. tor nou-se o novo tirano. Em seu (ou Conselho dos 500), cuja função
Sociedade – aboliu a escravi- governo, restaurou alguns privilégios era preparar as leis votadas men-
dão por dívidas, por meio da Lei Sei- da aristocracia, o que revoltou as
salmente pela Assembleia dos Cida-
sachteia; concedeu anistia geral; re- classes populares, obrigando-o a
dãos. A Heliae era composta de
gulamentou a Lei da Herança; elimi- buscar apoio na aristocracia espar-
doze tribunais, com a função de
nou os marcos de hipoteca e devol- tana. Em razão da intervenção de Es-
ministrar a justiça comum. O Areópa-
veu as terras aos antigos proprietá- parta, os diacrianos e paralianos uni-
go cuidava da alta justiça, ou seja,
rios. ram-se e, liderados por Clístenes, um
Política – acabou com o mono- de julgar a constitucionalidade dos
aristocrata, expulsaram o inimigo co-
pólio do poder exercido pela aristo- atos públicos. A Heliae e o Areópago
mum em 507 a.C.
cracia, com base no critério do nas-
cimento, e estabeleceu um sistema
de participação política fundamenta-
do na riqueza do indivíduo.
Mas, apesar das reformas, Sólon
não conseguiu contentar todas as rei-
vindicações populares nem atender à
conservadora aristocracia eupátrida.
A luta entre os partidos continuava e
impedia o avanço político de Atenas:
o partido dos pedianos (habitantes
das planícies), aristocrático e conser-
vador, formado pelos grandes pro-
prietários de terras, queria Atenas co-
mo era antes das reformas de Sólon;
o partido dos paralianos (habitantes
da costa), constituído por comer-
ciantes e artesãos, adotou posição
moderada diante das reformas, pois
muitos foram por elas favorecidos; o
partido dos diacrianos (habitantes da
montanha), composto de pequenos
proprietários, rendeiros e thetas,
exigia reformas mais radicais.

K As tiranias
A crise política gerou condições
para a implantação das tiranias, nas O templo do deus Apolo em Delfos foi uma
quais o poder era tomado por meio oferenda dos atenienses pela vitória em Maratona.
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compunham o Poder Judiciário, en- Com a conquista do Oriente tado de Susa ou Paz de Cálias, os
quanto o Poder Executivo era exerci- Médio pelos persas, todas as colô- persas reconheceram a supremacia
do por dez estrategos, escolhidos, nias gregas do litoral da Ásia Menor grega no Mar Egeu.
anualmente, pela Eclésia. foram anexadas. No início, a autono- Heródoto, considerado o “pai da
Outra instituição da democracia mia dessas cidades foi respeitada; História”, descreve a famosa Batalha
de Clístenes era o ostracismo, que mais tarde, porém, os persas pas- de Maratona assim:
consistia na suspensão dos direitos saram a exigir impostos e estimular “Logo que as tropas tomaram
políticos dos cidadãos considerados governos de tiranos. A cidade de posições e os sacrifícios forneceram
nocivos à democracia por um período Mileto e algumas outras iniciaram bons augúrios, os atenienses, mal foi
de dez anos. Esses cidadãos, após a uma rebelião, apoiadas por Atenas. dado o sinal para atacar, lançaram-se
população votante haver escrito o Esse foi o motivo imediato para o em corrida contra os bárbaros; o
nome deles mais de 6.000 vezes no conflito entre gregos e persas. intervalo que os separava não era de
óstrakon (pedaço de cerâmica em Quando os persas invadiram a menos de oito estádios. Os persas,
forma de concha), eram desterrados Grécia, os atenienses venceram-nos quando os viram correndo sobre eles,
na Batalha de Maratona, em 490 a.C., prepararam-se para os receber; veri-
de Atenas, sem que houvesse o
liderados por Milcíades, o que ficando que eram em pequeno núme-
confisco de seus bens.
conferiu grande prestígio aos atenien- ro, e que, apesar disso, se lançavam
A democracia de Clístenes foi
ses. Dez anos depois, os persas em passo acelerado, sem cavalaria e
aperfeiçoada por Péricles, que con-
fizeram uma dupla ofensiva. Por terra, sem archeiros, julgaram-nos ataca-
venceu a Eclésia a estabelecer uma
venceram os espartanos no Des- dos de loucura, duma loucura que
remuneração para os cargos públi-
filadeiro de Termópilas. Por mar, uma lhes causaria a perda total. Era o que
cos, tornando-os acessíveis aos pensavam os bárbaros, mas os
cidadãos pobres. A implantação da numerosa frota foi destruída pelos
atenienses, liderados por Temísto- atenienses, em fileiras bem cerradas,
democracia significou o início da combateram de maneira memorável.
cles, na Batalha de Salamina. Sem o
consolidação de Atenas dentro da Foram eles, que se saiba, os pri-
apoio da esquadra, o exército persa
Hélade. meiros a enfrentar o equipamento
começou a recuar, chegando à
Plateia, onde, em 479 a.C., foi vencido dos medos e homens com ele
por um exército conjunto de esparta- equipados, pois até então os gregos
nos e atenienses, liderados por Pau- só de ouvir o nome dos medos se
Péricles, sentiam aterrados. A batalha em
líder de sânias. Os gregos passaram então à
ofensiva. Organizaram uma liga militar Maratona foi longa. No centro, a van-
Atenas tagem foi dos bárbaros, que, vitorio-
no “Século de com sede em Delos e a chefia foi con-
sos neste ponto, desbarataram os
Ouro” da Grécia. fiada a Atenas. O tesouro comum foi
adversários e os perseguiram para o
usado para construir uma poderosa
interior; mas nas duas alas a vitória
armada, que, sob o comando de Cí-
foi dos atenienses. Estes deixaram
mon, assolou as posições persas no
escapar os bárbaros derrotados e,
litoral asiático. Em 488 a.C., pelo Tra-
reunidas as duas alas num só corpo,
dirigiram a sua ofensiva contra aque-
les que haviam rompido o centro das
4. INTRODUÇÃO DO suas linhas de combate. E a vitória
PERÍODO CLÁSSICO pertenceu aos atenienses. Os persas
puseram-se em fuga, e os atenienses
Durante o Período Clássico, as perseguiram-nos até o mar; chega-
pólis gregas disputaram a suprema- dos lá, incendiaram a armada. Desta
cia em toda a Grécia. Essa fase foi maneira capturaram os atenienses
marcada pelas hegemonias e impe- sete navios. Com o resto da frota, os
rialismos no Mundo Grego, que aca- bárbaros fizeram-se ao largo e con-
baram com uma guerra fratricida tornaram Súnio. Era seu propósito
entre os próprios gregos, concluindo chegar a Atenas primeiro que os ate-
com sua decadência e dominação nienses. Mas estes correram a defen-
por parte dos macedônios. der a sua cidade com toda a veloci-
dade que lhes permitiam as pernas,
5. AS HEGEMONIAS GREGAS e chegaram primeiro. Os bárbaros
atingiram Faleros (que nesta época
A hegemonia política de Atenas servia de porto a Atenas) e anco-
na Grécia começou com seu êxito raram; depois, tomando o caminho
nas Guerras Pérsicas ou Médicas. “Templo de Atena Niké”. de retorno, fizeram rumo à Ásia.”
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K A hegemonia de Atenas destruições recíprocas. Entre 431 e iniciaram uma ofensiva contra os
O fim da guerra tornou desne- 421 a.C., os espartanos invadiram a persas. Não conseguindo, porém,
cessária a Confederação de Delos. Ática. A população de Atenas resistiu manter o domínio sobre seus inimigos
Entretanto, os atenienses sofreriam em suas extensas muralhas, ao mes- na Grécia e combater, ao mesmo
uma grave crise econômica e social mo tempo em que sua frota atacava tempo, no exterior, Esparta assinou,
se as contribuições dos aliados o Peloponeso. Em 429 a.C., graças à em 387 a.C., a Paz de Antálcidas
parassem de afluir para a cidade: a má alimentação e às péssimas con- com os persas. Além da paz, o tra-
indústria naval seria paralisada, o dições de higiene, a peste provocou tado garantia o domínio da costa da
comércio se retrairia e numerosos re- centenas de mortes, entre as quais a Ásia pelo Império Persa, que passou
madores, mercenários e artesãos do próprio Péricles. Em 421 a.C., a influir na política interna da Grécia.
ficariam sem emprego. Por essa ra- Atenas e Esparta celebraram a Paz
zão, os atenienses obrigaram, pela de Nícias, estabelecendo que não K A hegemonia de Tebas
força, os Estados-membros a con- haveria mais guerra durante 50 anos. Apesar do domínio de Esparta,
tinuar os pagamentos, mesmo contra Em 413 a.C., porém, motivados pelo Atenas conseguiu reconstruir suas
a vontade desses. Era o início da he- ambicioso Alcebíades, os atenienses muralhas e sua frota, organizando
gemonia ateniense sobre a Hélade. prepararam uma campanha militar uma segunda liga marítima. Ao mes-
Nesse período, a Grécia conheceu as na Sicília, com o propósito de mo tempo, a cidade de Tebas aliou-se
dimensões de um verdadeiro impé- conquistar Siracusa, que era aliada a Atenas e atacou a guarnição espar-
rio. No século V a.C., Atenas foi go- de Corinto e abastecia o Peloponeso tana em Tebas. Durante a Batalha de
vernada por Péricles (444 a.C. – 429 com alimentos. Leuctras, em 371 a. C., a revolta dos
a.C.) e suas instituições atingiram o Começava a segunda fase da escravos em Esparta conduziu os
máximo esplendor. Diversas obras Guerra do Peloponeso. Em 413 a.C., a tebanos à vitória, sob o comando dos
públicas foram iniciadas, gerando esquadra ateniense foi destruída em generais Epaminondas e Pelópidas.
empregos; os membros dos tribunais Siracusa. Acusado por seus adver- O período da hegemonia tebana foi
e da Assembleia passaram a receber sários políticos, Alcebíades fugiu para marcado pela libertação dos messê-
pagamentos; as camadas inferiores Esparta, para quem entregou os pla- nios do domínio de Esparta e pela
puderam participar do Arcontado, e nos atenienses. Em 404 a.C., em conquista e submissão da Tessália,
Péricles cercou-se dos maiores artis- razão da grande ofensiva dos espar- Trácia e Macedônia. Para consolidar
tas e intelectuais da Grécia, como tanos, que mantiveram um exército na seu domínio militar, Tebas iniciou a
Fídias, Heródoto e Anaxágoras. Essa Ática e ampliaram a sua frota, Atenas construção de uma esquadra, o que
hegemonia, contudo, criou uma série foi derrotada na Batalha de Egos-Pó- lhe valeu a oposição de Atenas. Em
de inimigos para Atenas, pois feria a tamos pelo general espartano Lisan- 362 a.C., Atenas e Esparta, agora alia-
autonomia das demais cidades- dro. Os muros de Atenas foram des- das, impuseram a derrota a Tebas,
Estado; por outro lado, o controle truídos e a frota caiu nas mãos de Es- na Batalha de Mantineia. O enfraque-
exercido sobre a Grécia pela Confe- parta. A hegemonia exercida por Es- cimento das pólis, em decorrência
deração de Delos desrespeitava o parta não era menos opressora que a de tantas lutas, facilitou a conquista
princípio de soberania das cidades. de Atenas. Na Ásia, os espartanos da Grécia por Filipe, rei da Macedônia.

K A Guerra do Peloponeso
e a hegemonia espartana
Muitos Estados gregos, cuja lo-
calização no interior os colocava a
salvo da frota ateniense, ligaram-se a
Esparta na Liga do Peloponeso, fran-
camente hostil a Atenas e à Confe-
deração de Delos, que ela mantinha
sob controle. Em 431 a.C., um inci-
dente transformou essa rivalidade
em guerra. As ambições territoriais de
Atenas em expandir-se para o Oci-
dente levaram-na a apoiar e celebrar
uma aliança com Córcira, colônia de
Corinto — aliada a Esparta. Com is-
so, explodiu a Guerra do Pelopone-
so, que duraria 27 anos e deixaria a
Grécia completamente exausta pelas Vitória alada de Samotrácia. Vênus de Milo. Chefe gaulês e sua mulher.
– 99
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7. CARACTERÍSTICAS DA da vitória, que representa a guerra


ARTE GREGA dos gregos contra os persas.

A Grécia Antiga alcançou notável K A escultura grega


nível de desenvolvimento artístico e No final do século VII a.C., ape-
cultural. A arte grega é uma arte an- sar da influência das civilizações
tropocêntrica, exprimindo valores de orientais, a escultura grega passou a
equilíbrio, harmonia, ordem, propor-
manifestar suas próprias caracte-
ção e medida, sendo empenhada em
rísticas, utilizando-se dos depósitos
Parthenon, o mais célebre dos exaltar a beleza e o calor da vida hu-
locais de pedra e mármore. O ápice
templos gregos, arquitetado mana, não a vida além-túmulo. Nessa
por Ictino e decorado por Fídias.
da escultura foi alcançado durante o
arte, é condenado o mistério. Os ar-
século de Péricles. O grande nome
tistas gregos não estavam sujeitos às
da época é Fídias, amigo de Péricles
6. PERÍODO HELENÍSTICO limitações impostas pelos sacerdotes
e diretor de todos os seus projetos
e reis, como na maioria das civiliza-
de construção, criador das imagens
O fato de Filipe ter vivido alguns ções orientais, e tiveram suas ideias
da filosofia racionalista e humanista de Zeus, em Olímpia, e Atena, no
anos em Tebas deu-lhe condições de
dominantes. A arte grega não se vol- Parthenon de Atenas.
conhecer bem a vulnerabilidade das
cidades-Estado gregas e de seus tava apenas para a estética, mas so-
exércitos. Em 356 a.C., Filipe bretudo visava demonstrar o orgulho
tornou-se governante da Macedônia do povo por sua cidade. Dessa
e passou a preparar-se para a forma, a arte era também a expres-
conquista e submissão das cidades- são da vida política dos cidadãos. A
Estado gregas, fato que se concre- busca do equilíbrio, a forma de
tizou na Batalha de Queroneia, em pensar e filosofar e a valorização do
338 a.C., após a derrota imposta a humanismo foram, em certa medida,
atenienses e tebanos. Filipe a fonte de toda a cultura ocidental. O
utilizou-se de habilidade política para período mais brilhante da civilização
se impor aos gregos, respeitando a helênica corresponde ao século
autonomia das cidades-Estado e V a.C., em Atenas, o chamado “Sé-
preservando suas instituições. culo de Péricles”, o período clássico
Seu filho e sucessor, Alexandre da cultura grega. Praxíteles
Magno, passou a governar o Império foi um
quando a organização interna da K A arquitetura grega dos
Macedônia já estava completa e o Dos edifícios da arquitetura gre- maiores
seu exército formado, não tendo, ga, os templos foram os mais impor- escultores
tantes. Apesar de toda a sua exce- do Período
portanto, enfrentado grandes dificul-
lência artística, é uma das formas es- Clássico.
dades para reprimir as cidades- Afrodite
Estado que ainda não aceitavam truturais mais simples. Essas cons-
de Cnidos.
completamente o seu domínio. Em truções não eram concebidas para
333 a.C., Alexandre foi o responsável receber multidões; o acesso era re- K Pintura e cerâmica
pela derrota de Dario III da Pérsia, servado exclusivamente aos sacer- A pintura era muito utilizada em
que foi inteiramente dominada, em dotes e à estátua do deus protetor. cerâmica, com uma forte decoração
331 a.C., após a conquista de Tiro e Os cultos eram realizados na parte linear ou de figuras geometrizadas,
a Batalha da Planície de Gaugamela. externa do templo. notando-se a ausência de paisa-
Com a morte de Dario III, Alexandre O ápice da arquitetura deu-se gens. Seus temas eram os feitos dos
foi proclamado rei da Pérsia. Marchou após as Guerras Médicas, quando deuses e semideuses e amores olím-
em direção ao Egito, onde foi sauda- Péricles convocou o escultor Fídias picos. Encontram-se também cenas
do como o filho do deus Amon-Rá. Ex- para a reconstrução de Atenas, que de jogos atléticos, de funerais e de
pandiu o Império em direção ao fora destruída pelos persas. Um dos carros de corrida, destacando-se,
Oriente, chegando até os Rios Gan- mais belos monumentos construídos pela liberdade de inspiração, obser-
ges e Indo. Com sua morte, em foi a Acrópole, destacando-se: o vações anatômicas, combinando de
323 a.C., seu vasto Império foi divi- Parthenon e o Erechtheion (dedicado uma forma engenhosa as quatro co-
dido entre seus principais generais, a Erecteus, rei mítico de Atenas), que res clássicas: preto, amarelo, branco
formando os reinos da Macedônia, do possuía o pórtico das Cariátides, e vermelho.
Egito e da Ásia. Entre 197 a.C. e com o teto sustentado por seis está- Entre os maiores representantes
31 a.C., todos esses territórios foram tuas de jovens, em vez de colunas; o da pintura grega, destacam-se
conquistados pelos romanos. Templo de Atena Niké, deusa alada Zêuxis e Apeles.
100 –
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A indústria de cerâmica, que dor das Guerras Médicas, fazendo


teve seus principais centros em Ate- uma análise equilibrada e buscando 8. CRONOLOGIA
nas e Corinto, funcionou sob a as causas da guerra e seus fins. O
pressão das exigências dos merca- ateniense Tucídides contou a Guerra 1150 a.C. – Destruição de Troia.
dos internos e externos, comportan- do Peloponeso com objetividade, Século VIII a.C. – Governo mo-
do uma grande variedade de obje- apesar de seu amor por Atenas. nárquico em Atenas.
tos, utilizados como recipientes de A filosofia grega começou na Ásia Século VII a.C. – Governo oligár-
vinho, azeite, mel e perfumes. As pro- (Jônia), com Tales de Mileto, e, no sul quico em Atenas.
porções dos vasos eram calculadas da Itália, com Pitágoras. No séc.
776 a.C. – Início dos Jogos Olímpi-
com o mesmo requinte que as do V a.C., a ascensão do homem médio
nas cidades gregas trouxe uma nova cos.
Parthenon, não estando sua qualida-
de artística na sua técnica, mas sim preocupação: solucionar os proble- Séc. V a.C. – Apogeu da cultura
na sua forma, o perfil puro e elegante mas práticos mais intimamente liga- grega.
dado a um material maleável. dos ao próprio homem. Esta nova 621 a.C. – Legislação de Drácon.
corrente deu origem aos sofistas, 594 a.C. – Legislação de Sólon.
que procuravam dar ênfase aos ar-
582-497 a.C. – Pitágoras, filósofo e
gumentos, mesmo que seus resulta-
dos fossem falsos. Sócrates, consi- matemático.
derado um dos maiores filósofos gre- 560-527 a.C. – Tirania de Pisístrato.
gos, continuou fiel aos antigos méto- 527-514 a.C. – Tirania de Hípias e
Cerâmica dos filosóficos, buscando sobretudo Hiparco.
– Dionísio um método de reflexão. Criticou du-
trazendo 525-456 a.C. – Ésquilo, teatrólogo.
a uva ramente os sofistas, sendo condena-
518-448 a.C. – Píndaro, poeta.
para a do à morte, acusado de corromper a
Grécia. juventude e de introduzir novos deu- 508 a.C. – Governo aristocrático
ses. Seu maior discípulo foi Platão, de lságoras, apoiado pela aristocra-
K O teatro grego que deixou muitos escritos, desta- cia espartana.
O teatro, criação dos gregos, era cando-se suas obras políticas, como a 507 a.C. – Reforma democrática
ao ar livre. Os atores usavam másca- República, na qual considera essen- de Clístenes.
ras e os papéis femininos eram inter- ciais a sabedoria, a bravura e a justiça.
496-405 a.C. – Sófocles, teatrólogo.
pretados por homens. Em Atenas, Aristóteles, com base nas ideias
de Sócrates e Platão, sistematizou os 492 a.C. – O rei persa Dario I
onde havia concursos de tragédia no
teatro de Dionísio, surgiram grandes princípios da Lógica. exige a submissão dos gregos.
poetas trágicos. Ésquilo exaltou a 490 a.C. – Batalha de Maratona
K Cultura helenística
glória de Atenas e o poder dos deu- (Primeira Guerra Médica).
Com as conquistas de Alexandre
ses justiceiros em Os Persas, Os 485-406 a.C. – Eurípedes,teatrólogo.
Magno, houve grandes transforma-
Sete contra Tebas e Orestíada; 484-425 a.C. – Heródoto, historiador.
ções no Mundo Grego. As influências
Sófocles mostrou os heróis às voltas 480 a.C. – Batalha de Salamina
não ocorreram apenas de Ocidente
com o destino em Antígona e Édipo para Oriente, mas também de Leste (Segunda Guerra Médica).
Rei; Eurípedes, espírito crítico, para Oeste. A arquitetura, pintura e
menos religioso que os anteriores, 476 a.C. – Confederação de Delos
escultura gregas nada ganharam,
interessou-se mais pelos homens, e início da Terceira Guerra Médica.
uma vez que os artistas helenísticos
suas paixões, grandezas e misérias desprezaram a noção de equilíbrio e 470-399 a.C. – Sócrates, filósofo.
em Alceste e Medeia. Os autores cô- harmonia, traços mercantes da arte 460-396 a.C. – Tucídides, historiador.
micos foram bem recebidos em Ate- helênica, preocupando-se em do- 448 a.C. – Tratado de Susa,
nas, entre os quais o favorito no minar um realismo exagerado e sen- pondo fim às Guerras Médicas.
século V a.C. era Aristófanes. Amigo sacionalista. Na arquitetura, a sua- 431 a.C. – Início da Guerra do
da vida tradicional, atacava com vidade dos templos gregos cedeu
vigor os partidários da guerra em A Peloponeso.
lugar às construções de suntuosos
Paz, os excessos dos juízes popula- palácios e casas espaçosas e con- 427-347 a.C. – Platão, filósofo.
res em As Vespas e os inovadores for táveis, bem como edifícios 404 a.C. – Vitória de Esparta na
excessivos em Os Novos. burocráticos que simbolizavam a ri- Guerra do Peloponeso.
queza e o poder, refletindo o senti- 384-322 a.C. – Aristóteles, filósofo.
K Outros gêneros mento individualista do período. Um 371 a.C. – Vitória de Tebas na
A poesia teve em Píndaro seu exemplo deste exagero é o Farol de
Batalha de Leuctras.
grande representante, celebrador Alexandria, com 120 metros de altu-
dos vencedores dos jogos gregos. ra, tendo no topo oito colunas para 362 a.C. – Derrota tebana na Ba-
Heródoto de Halicarnasso foi prosa- sustentar a luz. talha de Mantineia.

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MÓDULO 3 Impérios Bizantino e Carolíngio

1. JUSTINIANO E O K Os conflitos religiosos Fundou-se na Itália o Exarcado de


IMPÉRIO BIZANTINO As preocupações religiosas atin- Ravena, centro das decisões bizanti-
giram proporções exageradas em nas na Península ltálica.
K Introdução Constantinopla. O povo discutia reli- Em consequência do rompimento
Quando o Imperador Constantino gião com ardor, muitas vezes ques- da “paz perpétua”, Justiniano voltou a
escolheu Bizâncio para se tornar a tionando os dogmas básicos do cris- concentrar seus esforços no Oriente,
sede da Nova Roma, a antiga colônia tianismo e dissimulando fortes com- suspendendo temporariamente o ex-
grega tinha o aspecto de um simples petições políticas. O imperador Justi- pansionismo ocidental. Após o retor-
povoado. Localizada num promontó- niano, consciente dessas dissen- no da paz com os persas, os exérci-
rio da Trácia, entre a Europa e a Ásia, sões, procurou unificar a religião or- tos bizantinos conquistaram a Espa-
próximo ao Mar Negro e ao Mediter- todoxa grega, submetendo a Igreja à nha meridional aos visigodos.
râneo oriental, a cidade possuía ex- sua autoridade e perpetuando o ce- O Império Bizantino chegava,
celente posição estratégica, transfor- saropapismo, largamente utilizado dessa forma, ao limite máximo de
mando-se, ao mesmo tempo, em po- pelos seus sucessores. sua expansão geográfica e militar.
tência marítima e comercial. A construção da Igreja de Santa Após a morte de Justiniano, as
Constantino trouxe arquitetos, ar- Sofia pretendia demonstrar a preocu- regiões conquistadas na Espanha e
tesãos e valiosas obras de arte das pação do imperador em tutelar a Igre- na África caíram sob o domínio dos
ja ao poder do Estado. Procurando árabes, que também conquistaram o
mais diversas regiões do Império
evitar que o divisionismo religioso Egito, a Síria, a Palestina e a Mesopo-
Romano, construindo a cidade num
afetasse a unidade do Império, com- tâmia. Era o fim do sonho de recons-
ritmo frenético e dando-lhe o esplen-
bateu fortemente as heresias, como trução do Império Romano.
dor de uma grande capital: a cidade
o arianismo, o nestorianismo e o mo-
de Constantino – Constantinopla.
nofisismo. Graças, porém, à forte in- K Declínio do
Inaugurada em 11 de maio de
fluência da imperatriz Teodora, adep- Império Bizantino
330, Constantinopla foi produto da
ta do monofisismo, tentou conciliar A morte de Justiniano foi festeja-
fusão de elementos latinos, gregos, da pela população de Constantinopla,
os interesses dessa heresia com a
orientais e cristãos, apresentando ortodoxia defendida pela Igreja, evi- que esperava, a partir daí, um pe-
uma população bastante he te ro gê - tando dessa forma um choque direto ríodo de paz e diminuição da exces-
nea, composta de maioria grega ou com a Igreja de Roma. siva carga tributária. Seus suces-
de habitantes helenizados e de um sores enfrentaram profundas dificul-
grande número de imigrantes estran- K A reconquista do Ocidente dades na condução da administra-
geiros. A língua grega e a religião A política externa de Justiniano ção, entrando o Império Bizantino em
cristã constituíam a união dessa ci- consistia em restaurar as antigas um lento processo de decadência.
dade cosmopolita. fronteiras do Império Romano por A Dinastia dos Heráclidas (610 a
meio de guerras ofensivas. Visando a 717), que sucedeu a Justiniano, en-
K Justiniano e o isso, estabeleceu uma “paz perpé- frentou o expansionismo do Islão, per-
apogeu do Império tua” com os persas, seus antigos ini- dendo vários de seus territórios. As
Petrus Sabatus era filho de cam- migos do lado oriental. constantes invasões e insurreições
poneses e sobrinho do imperador O expansionismo teve início com ocorridas no vasto império necessita-
Justino I. Em 502, foi trazido para a a reconquista da África, sob domínio vam de um poderoso exército, compro-
corte, tendo sido preparado para dar dos vândalos. Seu êxito foi possível metendo as frágeis finanças do reino.
sequência à Dinastia Justiniana, uma em razão não apenas da eficiência Após um século de crise, a Dinas-
vez que o imperador não tinha filhos. militar do general Belisário, com um tia Isáurica (717 a 802), fundada pelo
Teve uma educação esmerada e exército de 15 mil soldados, como imperador Leão III, deu início a uma
aristocrática e recebeu o nome de também da crise política em que se fase de reorganização do Império,
Flavius Justinianus, assumindo o encontrava o reino bárbaro, dividido que se distanciou definitivamente das
trono em 527. em duas facções religiosas: o aria- estruturas ocidentais, tornando-se
Em seu governo, assumiu o pa- nismo e o cristianismo. cada vez mais um Estado grego-asiá-
pel de um verdadeiro imperador A relativa facilidade da conquista tico. É nesse sentido que surgiu o mo-
romano, bem como de um monarca africana estimulou Justiniano a inves- vimento iconoclasta, provocando
oriental. Controlava a diplomacia, as tir contra os ostrogodos na Itália. As forte reação da população e do pa-
finanças, as leis e os negócios milita- divisões políticas existentes no Reino pado romano, uma vez que o impe-
res, cercando-se de uma autoridade Ostrogótico facilitaram a vitória dos rador proibiu a representação e o
absoluta e dando ao seu poder exércitos bizantinos, comandados culto às imagens sagradas, ordenan-
caráter quase sagrado. pelos generais Belisário e Narses. do sua destruição.

102 –
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ostrogodos, burgúndios etc. A urbe Quando morreu seu sobrinho Ro-


cairia diante dos “atrasados” povos lando, o episódio transformou-se em
bárbaros. tradição lendária, com a Canção de
Rolando. Os conflitos entre os muçul-
K A origem e a manos permitiram que Carlos Magno
vida dos germânicos retomasse a conquista, ocupando
As origens dos povos germâni- Barcelona, Pamplona e Navarra e
cos apresentam diferentes versões criando as marcas da Espanha.
por parte dos estudiosos. Uma Durante os 46 anos de governo,
corrente alemã diz que faziam parte Carlos Magno procurou aprimorar a
de uma grande família indo-europeia, administração, centralizando seu po-
tendo como hábitat a parte oriental der e introduzindo ordem e disciplina
da Rússia. Outra corrente afirma que nos negócios do Estado. O Império
eram originários das regiões escan- foi dividido em condados ou circuns-
dinavas e que sofreram influências crições territoriais, cuja autoridade
de outros povos, acabando por era exercida por um bispo e um con-
aceitar a língua europeia. Porém, em de, cabendo ao primeiro os assuntos
relação ao seu físico, ambas concor- pertinentes aos costumes e à religião
dam que apresentavam as seguintes e ao segundo, os assuntos militares e
características básicas: estatura ele- financeiros.
vada, dolicocefalia e carência Como os litígios entre o poder es-
pigmentária. piritual e o temporal eram constantes,
Os bizantinos acreditavam foi criado o cargo de missi dominici
em um poder milagroso dos ícones. (enviados do soberano), que anual-
3. CARLOS MAGNO E O
mente visitavam uma determinada
IMPÉRIO CAROLÍNGIO
Além das crises de ordem inter- região do Império para a verdadeira
na, o Império continuava a sofrer consolidação da justiça real.
K A Dinastia dos
ameaças em suas fronteiras. A crise As leis do Império Carolíngio se-
Carolíngios (751-987)
econômica agravou-se com o desen- guiam as capitulares — ordens obri-
A Dinastia Carolíngia foi iniciada
volvimento das repúblicas mercantis gatórias para todo o Império —, que
com forte apoio da Igreja. Pepino, o
italianas, que disputavam com Cons- abrangiam os mais diversos assun-
Breve, e seus filhos, Carlomano e
tantinopla o monopólio do comércio tos, tais como: instrução aos funcio-
Carlos, receberam do papa o título
mediterrâneo. A fragilidade política nários reais, regulamentação da eco-
de patrícios dos romanos, sendo
permitiu uma quase completa auto- nomia doméstica, regras para explo-
defensores da cidade de Roma.
nomia das grandes propriedades, ração do domínio real etc.
Em 756, Pepino lutou contra os No Natal de 800, logo após o
fragmentando cada vez mais o poder lombardos, tomando-lhes os territó-
central, até a invasão de Constan- apoio dado ao papa Leão III contra
rios no centro da Itália, que foram os partidários de uma família inimiga,
tinopla pelo turcos otomanos, em doados à Igreja. Esses territórios au-
1453, pondo fim ao Império Romano Carlos Magno foi coroado imperador
mentaram o poder do papa e ficaram romano do Ocidente, cargo desocu-
do Oriente. conhecidos como Patrimônio de São pado desde 476.
Pedro. Em 814, com a morte de Carlos
2. OS REINOS BÁRBAROS Antes de morrer, em setembro de Magno, assumiu a chefia do reino
768, o fundador da Dinastia Carolín- franco Luís, o Piedoso, nome dado
Graças em grande parte à sua gia dividiu seu reino entre seus dois pela sua dedicação e submissão à
grandeza territorial, o Império Roma- filhos: Carlos e Carlomano. Em 771, Igreja Católica. O novo monarca era
no abriu caminho para as invasões porém, com a morte do irmão, Carlos dotado de predicados morais, po-
dos povos germânicos. A decadên- assumiu definitivamente o controle rém, no plano político, era um perfei-
cia moral, associada à desorganiza- do Império. Após o domínio dos lom- to incompetente. Não conseguindo
ção política, econômica e social, cul- bardos, que ameaçavam conquistar conciliar a fé com a razão adminis-
minou com a falência do Estado. os territórios da Igreja, Carlos Magno trativa, resolveu dividir o reino entre
A cidade de Roma, sede das de- lutou contra os saxões, anexando a seus filhos: Carlos, Luís e Lotário.
cisões políticas do mundo antigo, Saxônia (parte da Alemanha) e a Ba- Após longo tempo de luta entre
perdeu seu brilho e esplendor, tor- viera. Na primavera de 778, cruzou os os herdeiros, foi decidido, pelo Trata-
nando-se a capital das hordas inva- Pirineus, tentando invadir a Península do de Verdun, em 840, que Lotário
soras: hunos, vândalos, visigodos, Ibérica, mas foi obrigado a recuar. ficaria com a Itália e parte da antiga
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Os mapas assinalam a evolução da monarquia francesa após a fragmentação do Império Carolíngio.

Austrásia, que então passou a A Lotaríngia, região que coube a dos normandos, que devastaram a
chamar-se Lotaríngia; Luís herdou a Lotário, após a morte deste, frag- região. O enfraquecimento do poder
Alemanha; Carlos recebeu a França. mentou-se, tendo sido em grande central, bem como o hábito de doar
Essa divisão foi fundamental para a
parte incorporada à Germânia. O terras em troca de fidelidade, acabou
estruturação do feudalismo, uma vez
resto do Império foi dividido entre por fortalecer a nobreza guerreira.
que criou a “nacionalização”, ao
mesmo tempo que descentralizou o Luís (mais tarde, Ger mânico) e Em 987, Hugo Capeto, conde de
poder real, dando assim absoluta Carlos (depois conhecido como “O Paris, pôs fim à Dinastia Carolíngia,
autoridade para os nobres dirigentes Calvo”). Isso enfraqueceu o Império substituída pela nova dinastia que se
das províncias. Carolíngio e propiciou as invasões formava: a Capetíngia.

511 – Morte de Clóvis e divisão do 756 – Doação, por Pepino, o Breve,


4. CRONOLOGIA
Reino Franco entre seus herdeiros. dos territórios lombardos à Igreja
330 – Fundação de Constantino- 527-565 – Reinado de Justiniano. Católica, criando o Patrimônio de
pla pelo imperador Constantino. 532 – Revolta Nika. São Pedro.
395 – Divisão do Império Romano 533-534 – Conquista do Reino 768 – Morte de Pepino, o Breve.
por Teodósio. Vândalo, na África, por Belisário. 771 – Carlos Magno assume o
406 – Os povos germânicos cru-
535-554 – Conquista do Reino Os- controle do Reino Franco.
zam a fronteira do Reno.
trogótico na Itália. 814 – Morte de Carlos Magno e
409 – Invasão da Espanha pelos
550-554 – Conquista da Espanha ascensão de Luís, o Piedoso.
vândalos.
Meridional pelos bizantinos. 840 – Morte de Luís, o Piedoso.
481-511 – Reinado de Clóvis,
711 – Conquista, pelos muçulma- 843 – Tratado de Verdun.
iniciando a Dinastia Merovíngia entre
os francos. nos, do Reino Visigótico da Espanha. 962 – Fundação do Sacro Império
496 – Vitória dos francos sobre os 732 – Carlos Martel vence os muçul- Romano-Germânico.
alamanos em Tolbiac. manos em Poitiers. 987 – Início da Dinastia dos Cape-
507 – Os visigodos fixam-se na 751 – Pepino, o Breve, é coroado rei tíngios, na França.
Espanha. dos francos.

104 –
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MÓDULO 4 O Feudalismo e a Igreja na Idade Média


1. INTRODUÇÃO mentos em produtos ou serviços, e de de mobilidade social nos feudos:
que constituem a própria essência a sociedade era, portanto, estamen-
O sistema feudal corresponde ao do feudalismo. Tais obrigações eram tal. O princípio de estratificação era
modo de organização da vida duran- costumeiras e não contratuais, como o nascimento, surgindo então duas
te a Idade Média. Suas origens re- ocorre no sistema capitalista. Note- camadas básicas: senhores e servos.
montam à crise do Império Romano a se que o servo era vinculado ao Existiam também categorias interme-
partir do século III. feudo, dele não podendo sair. diárias, tais como os vilões (campo-
Costuma-se dividir o período em neses livres) e os ministeriais (corpo
duas fases: Alta Idade Média e Baixa 4. A ORGANIZAÇÃO de funcionários livres do senhor).
Idade Média. A Alta Idade Média, sé- DO FEUDO O número de escravos reduziu-se
culo V ao XI, corresponde à forma- cada vez mais, pois não havia guerras
ção e consolidação do sistema feu- O regime de propriedade varia- de expansão para apresá-los; além
dal; a Baixa Idade Média, século XI va conforme as circunstâncias: pro- disso, a Igreja condenava a escravi-
ao XV, caracteriza-se pela crise do priedade privada, no manso senho- zação de cristãos. Por outro lado, os
feudalismo e início da formação do rial (terra do senhor); propriedade vilões tendiam a se tornar servos, pois
sistema capitalista. coletiva, nos pastos e bosques (de de nada lhes adiantava a liberdade
uso comum para senhores e ser- dentro da insegurança reinante: o fun-
2. A FORMAÇÃO vos); pro prie da de dupla, isto é, damental era a obtenção de proteção.
DO FEUDALISMO copropriedade, no manso servil. (O
senhor detinha a posse legal e o 6. RELAÇÕES VASSÁLICAS
O processo de formação histó- servo, a posse útil da terra.)
rica do sistema feudal tem seu ponto O regime de trabalho era servil, O poder político no sistema feu-
de partida na crise do século III do na medida em que os produtores di- dal era exercido pelos senhores feu-
Império Romano e acentua-se no sé- retos eram os servos, os quais trans- dais, daí seu caráter localista. Não
culo V, com as invasões bárbaras. A feriam para o senhor feudal a maior tendo autoridade efetiva, os reis ape-
retração do escravismo, a formação parte da produção, por meio de obri- nas aparentavam poder, pois na prá-
do colonato e a posterior implanta- gações impostas pelos costumes: tica existia uma descentralização po-
ção de um regime servil constituem o corveia, trabalho do servo na reserva lítico-administrativa.
passo decisivo para a formação do senhorial; talha, entrega de metade Impossibilitados de defender o
sistema. Por outro lado, os germanos da produção do manso servil; banali- reino, os soberanos delegaram essa
que invadiram o Império Romano dades, taxas pela utilização de certas tarefa aos senhores feudais. Por isso,
levaram consigo relações sociais instalações do feudo; vintém, imposto e com vistas a se protegerem, os se-
comunitárias, de exploração coletiva devido à Igreja; mão-morta, taxa pela nhores procuravam relacionar-se di-
das terras e subordinação aos gran- transmissão de herança. retamente por um compromisso: o
des chefes militares (comitatus). As Levando-se em consideração juramento de fidelidade. O senhor
invasões bárbaras, além de despo- que a maior parte da produção obtida feudal que o prestasse tornar-se-ia
voar as cidades, aumentando a po- pelo servo não se conservava em vassalo e aquele que o recebesse
pulação rural, dificultaram as comu- suas mãos, pois passava para o se- seria seu suserano. Na hierarquia
nicações e provocaram o isolamento nhor feudal, seu interesse era mínimo. feudal, suseranos e vassalos tinham
das localidades, forçando-as a ado- Associando-se a este fato o de que obrigações recíprocas, pois à ho-
tar uma economia de subsistência os trabalhos agrícolas eram realiza- menagem prestada pelo vassalo
autossuficiente. dos coletivamente, tolhendo a iniciati- correspondia o benefício concedido
va individual, eles resultavam em pelo suserano. Essa relação
3. RELAÇÕES SOCIAIS baixo nível da técnica e pequena pro- definia-se em um rito denominado
dutividade: para cada grão semeado, “cerimônia de investidura” ou “ceri-
O feudalismo pode ser definido colhiam-se dois. Daí o regime de divi- mônia de adubamento”.
de vários modos. A melhor maneira, são das terras cultiváveis em três
porém, é defini-lo conforme suas campos, destinados alternadamente 7. A IGREJA MEDIEVAL
relações sociais básicas: relações para o plantio de cereais e de for-
vassálicas (entre os senhores ou no- ragem, reservando-se o terceiro para Com o fim do Império Romano do
breza), relações comunitárias (entre o descanso (pousio). Realizava-se a Ocidente, a Igreja, como única institui-
os servos) e relações servis (que li- rotação trienal dos campos, com vis- ção remanescente, adquiriu uma im-
gavam o mundo dos senhores ao tas a impedir o esgotamento do solo. portância fundamental, graças ao mo-
mundo dos servos). nopólio cultural que exercia na socie-
Esta última ligação se processa- 5. A SOCIEDADE FEUDAL dade feudal. Além de fornecer os fun-
va por meio das obrigações, que cionários preferidos ao Estado, o cle-
resultavam das imposições feitas pelo De acordo com as bases mate- ro encarregou-se de fazer a análise
senhor aos servos, de realizar paga- riais descritas, não havia possibilida- das relações sociais do feudalismo.
– 105
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Insistia que a sociedade tinha um poder dos duques. Numerosos bis- Cardeais. Essa situação somente
caráter estático por determinação di- pados e abadias foram fundados e o terminou em 1122, com a assinatura
vina, cabendo a cada um viver dentro imperador entregava aos titulares da Concordata de Worms, que co-
da posição que lhe fora designada desses territórios tanto o poder reli- locaria fim à Querela das Investidu-
por Deus. Essa visão enquadrava- gioso (simbolizado pelo anel e pela ras ao definir que cabia ao papa a
se per fei tamente nos interesses cruz e concedido em função da in- entrega da investidura espiritual e
dominantes do mundo feudal. vestidura espiritual) quanto o poder ao imperador a entrega da investi-
Durante a Idade Média, o clero político (representado pelo báculo e dura temporal ou leiga.
regular (monges) adquiriu considerá- concedido em função da investidura Chegava ao fim a preponderân-
vel preponderância em relação ao leiga), além do fato de que o im- cia política dos imperadores sobre o
clero secular (padres). Mesmo assim, perador possuía o direito de escolher clero, e a Igreja iniciava sua supre-
não conseguiu evitar que se formasse o bispo de Roma (cesaropapismo). macia dentro do Mundo Medieval.
uma camada privilegiada, abades e A intervenção do poder político
bispos, que constituíam o alto clero. na Igreja levou a uma série de con- 8. A VIDA CULTURAL
De qualquer modo, a força espi- sequências negativas para esta,
ritual da Igreja era incontestável e como o nicolaísmo (desregramento Quando se compara a produção
dominava a mentalidade do homem do clero) e a simonia (comércio de cultural da Idade Média com a Anti-
medieval, para quem a vida na Terra bens da Igreja). guidade ou a Modernidade, ela é
era uma preparação para a vida No século XI, do Mosteiro de considerada tradicionalmente um pe-
pós-morte. Contrapunham-se, as- Cluny, um movimento propôs uma ríodo de trevas. Tal conceito, porém,
sim, dois elementos importantes: de série de reformas internas na Igreja. tem sofrido algumas revisões, graças
um lado, a força espiritual da Igreja; O clero regular foi reformado e o à reabilitação da Idade Média por
de outro, a fraqueza do Estado. Des- movimento começou a atuar com o certos autores que nela encontram
sa contradição, resultou a suprema- clero secular, combatendo principal- as raízes culturais do Mundo
cia política do bispo de Roma (papa), mente a simonia e o nicolaísmo; Moderno e – num sentido mais ime-
que passou a ditar normas para reis nesse último caso, o movimento diato – do Renascimento. Além do
e imperadores. A hegemonia da defrontou-se com o poder político, mais, não podemos ajuizar sobre o
Igreja levou-a a um choque inevitá- pois era impossível acabar com o ni- valor de uma cultura, pois os valores
vel com o poder leigo (temporal) dos colaísmo sem atacar a investidura são relativos, e, quando afirmamos
imperadores alemães, na famosa leiga e o cesaropapismo. que a Idade Média é um “período de
Querela das Investiduras. A força do movimento de Cluny trevas”, nós o fazemos tendo por
levou à criação do Colégio de Car- base os valores da sociedade atual,
K A Querela das Investiduras deais, em 1059, com a finalidade de que também não são definitivos.
Com a divisão do Império Caro- eleger o papa, limitando o cesaro- Não podemos esquecer o fato de
língio, pelo Tratado de Verdun, a ten- papismo. Em 1073, o líder do movi- que a Igreja foi a grande mantenedora
dência foi o enfraquecimento da Di- mento, Hildebrando, era eleito papa, da cultura durante o Período Feudal,
nastia Carolíngia, que se extinguiu assumindo o nome de Gregório VII, apesar de o fazer de forma que justi-
em 911, na França Oriental, enquanto que colocou uma série de medidas ficasse suas ideias e dogmas.
na França Ocidental, em 987, Hugo reformistas em prática, como a insti- De qualquer modo, saber ler e es-
Capeto dava início à Dinastia dos tuição do celibato clerical e o fim da crever era privilégio da Igreja na Alta
Capetíngios. investidura leiga. Idade Média. De nada adiantaram os
Na França Oriental, fundou-se o Nesse momento, o imperador ale- esforços de Carlos Magno para pro-
Reino Germânico, com a união dos mão, Henrique IV, reagiu energica- porcionar aos nobres franceses rudi-
duques da Francônia, Saxônia, Suá- mente, considerando o papa deposto. mentos de ensino. As invasões bár-
bia e Baviera. Nessa monarquia, o Gregório VII, por sua vez, excomun- baras haviam destruído a maioria das
rei seria um dos duques, eleito pelos gou o imperador e proibiu os vassalos obras representativas da cultura anti-
outros três. de lhe prestarem serviços. Em 1077, ga, restando uns poucos exemplares
A dependência política e militar Henrique IV fez a peregrinação ao nos mosteiros. A grande exceção no
que a Igreja tinha em relação aos Ca- Castelo de Canossa e pediu perdão plano cultural, na Idade Média, foram
rolíngios foi, ao final do primeiro milê- ao papa, ao mesmo tempo em que os árabes, que conseguiram um
nio, transferida para os reis germâni- seus inimigos, na Alemanha, elegiam notável progresso na Espanha.
cos, que davam proteção a Roma. um novo imperador. Já na crise do feudalismo, com a
Em 962, após derrotar os hún- Perdoado, Henrique IV voltou e expansão comercial e a criação das
garos, Oton I foi sagrado imperador combateu seus adversários, reto- universidades, o pensamento filosó-
pelo papa João XII, fato que marca mando o poder e, logo em seguida, fico desenvolveu-se, surgindo, então,
o nascimento do Sacro Império Ro- invadiu Roma, obrigando o papa a se a escolástica (“filosofia da escola”),
mano-Germânico, que duraria até refugiar em Salerno, onde morreu. produzida por São Tomás de Aquino,
1806. Oton I iniciou um processo de A Igreja passava a ter dois pa- autor da Suma Teológica. O ideal
intervenção na Igreja, ampliando pas: Clemente III, escolhido por tomista era conciliar o racionalismo
seus domínios territoriais na Alema- Henrique IV, em Roma; Urbano II, aristotélico com o espiritualismo
nha, com a finalidade de controlar o escolhido no exílio pelo Colégio de cristão, harmonizando fé e razão.
106 –
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9. CRONOLOGIA 596 – Fundação do Bispado de 910 – Fundação do Mosteiro de


Canterbury. Cluny.
Século IV – Prenúncios socioeco- Século VIII – Invasão muçulma- 962 – Fundação do Santo Império
nômicos da formação do sistema na na Europa. Romano-Germânico.
feudal. 756 – Doação do Patrimônio de São 982 – Descoberta da Groenlândia
325 – Concílio de Niceia. Pedro por Pepino, o Breve. pelos viquingues.
768-814 – Reinado de Carlos 1059 – Criação do Colégio de
Século V – Invasões germânicas
Magno. Cardeais e instituição do celibato
e fim do Império Romano do Ocidente.
790-840 – Ataques viquingues à clerical.
529 – Fundação do Mosteiro do
Inglaterra. 1073 – Gregório VII é eleito papa.
Monte Cassino por São Bento de 843 – Divisão do Império Carolín- 1076 – Início da Querela das Inves-
Núrsia. gio pelo Tratado de Verdun. tiduras.
534 – Elaboração da regra bene- 874 – Viquingues noruegueses 1077 – Peregrinação de Henrique
ditina. atingem a Islândia. IV a Canossa.
590 – Início do pontificado de São 899-955 – Incursões dos magiares 1122 – Concordata de Worms.
Gregório Magno. (húngaros) no Ocidente.

MÓDULO 5 As Cruzadas e o Renascimento Comercial e Urbano


1. INTRODUÇÃO outro lado, no século XI, cessaram as A solução para a crise seria a
ondas invasoras, o que criou uma re- substituição do regime de trabalho
No final da Idade Média (Baixa lativa estabilidade na Europa e con- servil pelo trabalho assalariado, po-
Idade Média), tem início a transição dições de segurança para que au- rém essa mudança incentivou a
para o sistema capitalista. Ao mesmo mentasse a circulação de mercado- evolução do modo de produção
tempo, surgem novas classes so- rias. Houve uma maior redistribuição feudal para o capitalista, o que não
ciais, principalmente a burguesia, da produção, gerando um cresci- seria viável num curto período.
que auxilia a realeza no processo de mento demográfico que não foi A crise do sistema feudal foi o re-
centralização política. acompanhado pelo aumento da ofer- sultado da inadequação das velhas
ta de empregos e alimentos. estruturas socioeconômicas às mu-
2. O FEUDALISMO EM CRISE Ao mesmo tempo, os senhores danças ocorridas na Europa, que
feudais passaram a ter necessidade impuseram um novo tipo de organi-
É com base no próprio sistema de aumentar as suas rendas, pois o zação do modo de vida.
feudal, compreendido como um mo- desenvolvimento do comércio e a
do de produção, que devemos enten- oferta de novos produtos de luxo e 3. A BUSCA DE SOLUÇÃO
der a sua desintegração. Essa crise especiarias impunham gastos e um A crise do sistema feudal deu ori-
tem, portanto, uma origem interna, padrão de vida mais elevado. Porém, gem a um processo de marginaliza-
agravada por fatores externos. para elevar suas rendas, eles eram ção social, quer pela fuga dos ser-
O problema fundamental é que a obrigados a aumentar as obrigações vos, quer pelos deserdamentos ocor-
produção feudal, baseada no traba- dos servos; e a esta pressão cor- ridos na camada senhorial. Essa
lho servil, é limitada e estática, o que, respondia a fuga de servos dos cam- marginalização trouxe como conse-
por sua vez, é resultado do baixo ní- pos, em busca das cidades e de no- quência o aumento da belicosidade,
vel de técnica do sistema feudal. Por vas oportunidades de vida. marcada por assaltos e sequestros a
ricos cavaleiros.
A Igreja Católica, para tentar con-
ter a crise, propôs a “Paz de Deus”
(proteção aos cultivadores, viajantes
e mulheres) e a “Trégua de Deus” (na
qual os dias para realizar guerras
ficavam limitados a 90 por ano).
Porém, essa intervenção da Igreja
não foi suficiente para conter a crise e
a violência feudais.

A Cruzada dos Reis em direção à Terra Santa, da


qual participaram: Ricardo Coração de Leão, da
Inglaterra; Filipe Augusto, da França; Frederico
Barba-Ruiva, do Sacro Império.
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A saída proposta, então, pela as colônias militares estabelecidas O renascimento das atividades
Igreja foram as Cruzadas, uma con- em território inimigo. A luta fratricida comerciais levou ao crescimento das
traofensiva da cristandade diante do foi uma constante entre as ordens cidades, a uma economia baseada
avanço do Islã. A Europa, que, entre religiosas e os cruzados latinos. Em na moeda, à expansão do mercado,
os séculos VIII e XI, não teve condi- resumo, as Cruzadas fracassaram ao surgimento de uma camada de
ções de reagir contra os árabes, pas- em razão das rivalidades nacionais comerciantes (burguesia) e à difusão
sava a reunir nesse momento as con- entre as potências ocidentais e da do espírito de lucro. O pré-ca-
dições necessárias: a mão-de-obra falta de capacidade da Igreja em pitalismo fazia sua aparição no Mun-
militar estava marginalizada e ociosa; organizar uma força que soubesse do Medieval e, ao mesmo tempo, o
o controle espiritual e religioso que a superar essas dissensões. condenava à desintegração.
Igreja exercia sobre o homem medie-
val levou-o a crer na necessidade de 4. CONSEQUÊNCIAS 5. OUTRO ENFOQUE
resgatar o Santo Sepulcro e comba- DAS CRUZADAS
ter o infiel muçulmano; o poder papal
Há controvérsias sobre a expli-
se fortalecera quando Gregório VII As Cruzadas não se limitaram às cação e a própria periodização da
impôs sua autoridade a Henrique IV, expedições ao Oriente. Ao mesmo crise feudal. Para alguns historiado-
na Querela das Investiduras; a Igreja tempo, os reinos ibéricos de Leão, res, o feudalismo no Ocidente pas-
do Ocidente pretendia a reunificação Castela, Navarra e Aragão começa-
da cristandade, quebrada pelo sou por um período de incubação
vam a Reconquista da Península Ibé- entre os séculos IV e VIII, atingiu sua
Cisma de 1054; o imperador de rica contra os muçulmanos. A ofen-
Constantinopla desejava afastar o plenitude nos séculos IX e XIII e
siva teve início com a tomada da decaiu entre os séculos XIV e XVI.
perigo que os muçulmanos represen- cidade de Toledo, em 1086, e con-
tavam; finalmente, para Urbano II, o Isso equivale a dizer que o movi-
cluiu-se, em 1492, com a tomada de mento das Cruzadas, o renascimen-
papa do exílio imposto pela Querela
Granada. to comercial e urbano, o apareci-
das Investiduras, convocar as Cruza-
A vitória dos italianos sobre os mento da burguesia, enfim todas as
das demonstrava prestígio e autori-
muçulmanos no Mar Tirreno e norte trans for ma ções socioeco nô mi cas,
dade perante toda a Igreja.
Em 1095, no Concílio de Cler- da África fez com que as cidades ita- políticas e até religiosas do início da
mont, Urbano II convoca a cristanda- lianas iniciassem o seu domínio Baixa Idade Média não seriam ape-
de para uma guerra santa contra o sobre o Mediterrâneo, lançando as nas manifestações do desenvolvimen-
Islã. Ao todo, realizaram-se oito Cru- sementes do comércio e do capi- to e apogeu do feudalismo europeu.
zadas entre 1095 e 1270. talismo. As relações entre Ocidente e
Apesar da mobilização realizada Oriente foram redinamizadas depois 6. A REABERTURA DO
pelas Cruzadas, estas são conside- de séculos de bloqueio, e as mer- MAR MEDITERRÂNEO
radas um insucesso, que se deve em cadorias orientais se espalhavam
primeiro lugar ao caráter superficial pela Europa. Os cristãos retomaram o controle
da ocupação. A presença cristã no O contato com o Oriente trouxe o do Mar Mediterrâneo por meio das
Oriente Médio não criou raízes entre conhecimento de novas técnicas de Cruzadas. A abertura do Mediterrâ-
as populações locais. Outra razão foi produção, fabricação de tecidos e neo à navegação cristã fez renascer
a anarquia feudal, que enfraquecia metalurgia. o comércio entre Ocidente e Oriente,
dinamizando as relações comerciais
há muito tempo amortecidas. Novos
produtos entram em circulação, as
moedas voltam a ser usadas no inter-
câmbio comercial: uma nova vida
econômica começava a surgir na
orla do Mediterrâneo.

7. O RENASCIMENTO
COMERCIAL

No início da retomada das ativi-


dades comerciais terrestres, as difi-
culdades foram muitas: desde a co-
brança de pedágios até as péssimas
condições das estradas. Também foi
difícil para o comércio marítimo, que
carecia de instrumentos de navega-
As rotas comercias incrementaram o comércio na Baixa Idade Média. ção e de bons navios.
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No século XI, termina o domínio Com a dinamização da vida mer- Essa fase de transição não é ainda
árabe sobre o Mediterrâneo, que pas- cantil, esses centros foram se trans- capitalista, mas também já não é mais
sa a ser controlado pelos comercian- formando e adquirindo importância feudal; por isso, vamos denominá-la
tes italianos. Os comerciantes, antigos cada vez maior. Se o crescimento do pré-capitalismo, que corresponde ao
marginais, dirigiam-se das cidades comércio levou à formação de novas período entre os séculos XII e XVI.
italianas de Gênova e Veneza para cidades, estas, por sua vez, pro- As sociedades agrárias tendem
os entrepostos comerciais do Medi- vocaram a intensificação do comér- a ser imóveis, estamentais. Com o
terrâneo Oriental: Constantinopla, cio. Uma coisa influenciava a outra. desenvolvimento da riqueza mobiliá-
Alexandria, Cairo e Antióquia, que Os comerciantes procuravam lo- ria, do dinheiro, surge a mobilidade
formavam a rota do Mediterrâneo. cais estratégicos para se estabele- social, a possibilidade de ascensão
De Flandres, seguindo o roteiro cer: burgos (castelos fortificados), na escala social. A tradição deixa de
dos antigos vikings através da Rús- sedes de bispados, centros adminis- ser o único elemento de hierarquiza-
sia, os comerciantes chegavam a trativos etc. ção na vida social, pois o econômico
Constantinopla pela Rota do Mar do começa a adquirir importância.
Entretanto, o crescimento natural
Norte. O comércio no norte da Euro- Esta sociedade ainda é de
e a falta de planejamento das cida-
pa era controlado pelos mercadores transição, feudal, portanto uma
des acarretaram-lhes péssimas con-
da Grande Hansa Germânica, criada sociedade estamental, representada
dições sanitárias, o que facilitava as
em 1358, visando a proteger o comér- pela nobreza e pelos servos. Porém,
cio contra os piratas e impor sua von- epidemias e fazia crescer a mortali-
a posição é definida com base no
tade ao rei da Dinamarca, que cobrava dade e o fanatismo.
econômico; a sociedade começa a
altos pedágios sobre os mercadores. Nas cidades, uma nova camada
tornar-se burguesa.
Veneza e Gênova, através da social exercia o poder: a burguesia, de _________________________________
França, atingiam Flandres, centro ma- origem humilde, que começava a ri-
nufatureiro de lã, promovendo o de- valizar com a nobreza, disputando-lhe
10. CRONOLOGIA
senvolvimento das atividades comer- o poder político. Os reis protegiam os
ciais nas feiras de Champagne. Essa comerciantes, dando-lhes autonomia Século XI – Início da crise feudal.
rota terrestre era denominada Rota de nas cidades, com a concessão das 1054 – Cisma do Oriente.
Champagne, que ligava os três cen- Cartas de Comuna.
1086 – Tomada de Toledo, dentro
tros dinâmicos do comércio: Constan- A produção artesanal dentro das
tinopla, cidades italianas e Flandres. cidades foi organizada em torno das da Guerra de Reconquista na Pe-
As atividades comerciais intensi- corporações de ofício, que regula- nínsula Ibérica.
ficaram-se mais ainda com o surgi- mentavam a produção das comunas, 1096-1099 – Primeira Cruzada.
mento das feiras, que eram vincu- fixando quantidade, qualidade, pre- 1099 – Tomada de Jerusalém.
ladas ao capitalismo nascente e que ços e salários. Mestres, oficiais e 1147-1149 – Segunda Cruzada.
tinham um caráter internacional. Os aprendizes compunham a hierarquia 1189-1192 – Terceira Cruzada.
locais onde elas se formavam eram das oficinas medievais.
pontos estratégicos das correntes co- 1160 – Surgimento da companhia
Dentro das cidades, formaram-se
merciais. Os comerciantes prioriza- também as guildas, associações de dos mercadores da Ilha de Visby, no
vam suas realizações nos chamados comerciantes. Mar Báltico.
“nós de trânsito” (cruzamentos de O poder era exercido por uma 1202-1204 – Quarta Cruzada.
rotas). Dentro das feiras, desenvol- Assembleia local, composta de mem- 1204 – Pilhagem de Constantinopla
veram-se técnicas de comércio bros das associações de comerciantes.
exterior, como a troca de moedas e pelos cruzados.
as letras de câmbio. 1212 – Cruzada das Crianças.
9. OS PRIMÓRDIOS DO
1217-1221 – Quinta Cruzada.
CAPITALISMO EUROPEU:
8. O RENASCIMENTO 1228-1229 – Sexta Cruzada.
O PRÉ-CAPITALISMO
URBANO 1248-1250 – Sétima Cruzada.
Esta nova realidade econômica 1270 – Oitava Cruzada.
No século XI, a crise feudal cedia
espaço a um novo tipo de organiza- era muito diferente do feudalismo: a Século XIII – Aquisição, por parte
ção da vida. Nesse tempo, a popula- produção se destinava ao mercado, de certas cidades, do direito de
ção europeia crescia e as cidades as trocas eram monetárias; começa- cunhar moeda.
passaram a servir de polos recep- vam a surgir o espírito de empresa e
1358 – Formação da Grande Hansa
tores a servos e vilões que foram ex- o racionalismo. Para que o capitalismo
se implantasse definitivamente, falta- Teutônica (ou Liga Hanseática).
pulsos das propriedades senhoriais –
pela escassez de terras – ou que, em va apenas o desenvolvimento das re- Fim do século XIV – Início da de-
tempos de fome, partiam em busca lações assalariadas de produção, cadência das feiras medievais, sobre-
de novas atividades, além de serem relações essas que somente se con- tudo na região de Champagne.
as cidades, por excelência, o local solidariam na Europa por volta do sé- 1407 – Fundação do primeiro ban-
de desenvolvimento das atividades culo XVIII, à época da Revolução In- co público da Europa, em Gênova.
mercantis. dustrial.
– 109
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MÓDULO 6 Contexto e Fatores da Expansão Marítima


1. TRANSIÇÃO DO FEUDALIS- um anel de comércio que se desen- tempo em que contribuíam para a
MO PARA O CAPITALISMO volveu rapidamente. Rotas secundá- desintegração do sistema feudal. Na-
rias ligavam-se às principais, forman- quela época, o Velho Mundo assistia
A expansão marítimo-comercial do verdadeiros nós de trânsito onde à ascensão da burguesia mercantil,
europeia, ocorrida nos séculos XV e paravam os comerciantes para trocar ao advento das monarquias nacio-
XVI, constitui um dos principais capí- e vender seus produtos. Assim, sur- nais (poder centralizado nas mãos
tulos da transição da Idade Média giram as feiras medievais, que eram dos reis), à afirmação da cultura re-
para a Idade Moderna. Assim, para de caráter temporário; pouco a nascentista e à ruptura da unidade
compreendê-la, é necessário inseri-la pouco, elas foram prolongando-se e cristã da Europa Ocidental, em de-
no quadro das transformações por estabilizando-se, acabando por se corrência da Reforma.
que passou a Europa entre os sécu- tornar centros permanentes de trocas,
los Xll e XV (Baixa Idade Média), fase cidades.
2. FATORES DA EXPANSÃO
marcada pela crise do feudalismo e Nessas cidades, chamadas bur-
ULTRAMARINA EUROPEIA
pela formação do capitalismo, conhe- gos, habitavam os comerciantes que,
cida como pré-capitalismo. por isso, foram chamados burgue-
No plano econômico, há que se
ses. Os burgueses entravam em
considerar as crises dos séculos XIV
K O pré-capitalismo acordo com o senhor feudal a quem
(retração do comércio) e XV (neces-
“Vários foram os fatores que con- pertenciam as terras da cidade, pa-
sidade de expandir o comércio), que
tribuíram para o surgimento do capi- gando-lhe anualmente uma soma em
levaram à procura de novos merca-
talismo. As Cruzadas propiciaram o dinheiro; para defender seus interes-
dos, tanto para consumir os exce-
renascimento do comércio na Euro- ses contra comerciantes estrangeiros,
dentes europeus de manufaturados
pa, que deu trabalho a numerosos organizavam-se em associações. Mui-
desempregados. Produtos orientais tos artesãos estabeleceram-se nos como para fornecer metais preciosos
— especiarias, principalmente — co- centros urbanos e organizaram-se, por e artigos orientais, através de uma
meçaram a ser importados e distri- sua vez, em corporações de acordo nova rota. No plano sociopolítico, ha-
buídos a partir dos portos da Itália. com a profissão. As corporações evi- via o interesse da burguesia mer-
Os saques efetuados nas cidades tavam a concorrência externa e a riva- cantil em ampliar a circulação comer-
muçulmanas colocaram numerosas lidade entre os artesãos de uma mes- cial, a qual foi também impulsionada
moedas em circulação. Para explorar ma cidade, regulando a quantidade, pelo fortalecimento do poder do Es-
esse comércio, foram organizadas qualidade e preço da produção de tado Nacional. No plano cultural, ca-
grandes companhias que possuíam cada um; adequando a produção ao be citar a divulgação de novas ideias,
diversos donos (‘acionistas’) e bar- consumo (dos habitantes do burgo e uma maior curiosidade intelectual
cos. Várias rotas comerciais foram da zona rural próxima a ele), não por parte dos europeus e, sobretudo,
desenvolvidas: a do Mediterrâneo havia risco de superprodução.” a contribuição das grandes inven-
ligava as cidades italianas a Cons- (Jobson de Arruda) ções (pólvora, bússola, papel e im-
tantinopla e a outros portos do litoral prensa). Finalmente, no plano religio-
oriental desse mar; a da Champagne A rigor, os empreendimentos ma- so, deve-se levar em conta o “ideal
ligava Itália a Flandres, de onde par- rítimo-comerciais eliminaram os obs- cruzadista”, isto é, o empenho em
tia a rota do Mar do Norte, rumo a táculos que se opunham à economia expandir a fé cristã por meio da
Constantinopla. Formou-se, assim, de mercado europeia, ao mesmo conversão dos gentios (pagãos).

3. CRONOLOGIA 1258 – Formação da Liga Hanseá- Ceuta.


tica. 1420 – Criação da perspectiva
1095 – Convocação da 1.a Cruzada 1309 – Início do Cativeiro de exata ou matemática pelo arquiteto
pelo papa Urbano II. Avignon. florentino Filippo Brunelleschi.
1202 – Início da 4.a Cruzada, que 1337 – Início da Guerra dos Cem 1453 – Queda de Constantinopla.
saqueou Constantinopla. Anos. 1516 – Publicação de O Príncipe,
1215 – Imposição da Carta Magna 1348 – Peste Negra. de Maquiavel.
pelos barões ingleses ao rei João 1415 – Início da Expansão Maríti- 1517 – Publicação das 95 Teses,
Sem-Terra. ma Portuguesa, com a conquista de de Martinho Lutero.

110 –
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MÓDULO 7 Expansão Marítima: Ciclo Oriental


1. ORIGEM DE PORTUGAL 3. VIAGENS PORTUGUESAS mas somente por volta de 1509 os
portugueses vêm a conhecer suas
A formação do Reino de Portugal Os empreendimentos marítimos vitórias mais significativas. Entre esse
está associada à longa Guerra da Re- portugueses devem ser divididos em ano e aproximadamente 1515, o co-
conquista entre cristãos e muçulma- duas etapas distintas: devassamento mandante alm. D. Afonso de
nos na Península Ibérica. Muitos no- do litoral da África e procura de um Albuquerque — considerado o
bres marginalizados pelas transfor- novo caminho marítimo para o Orien- formador do Império português
mações do feudalismo participaram te (Índias). A primeira foi iniciada nas Índias — passou a ter suces-
das lutas contra os mouros em troca pela tomada de Ceuta em 1415, en- sivas vitórias no Oriente, conquistas
de benefícios (feudos). Henrique de treposto mercantil norte-africano até que atingiram desde a região do
Borgonha recebeu do Rei de Leão e então controlado pelos mouros. Golfo Pérsico (Áden), adentraram
Castela, Afonso VI, terras situadas en- Nessa fase, durante a qual foram a Índia (Calicute, Goa, Diu, Damão),
tre os Rios Douro e Minho (Condado fundadas várias feitorias na costa a ilha do Ceilão e chegaram até à
Portucalense). Em 1139, Afonso Hen- africana para traficar escravos e pro- região da Indochina, onde foi con-
riques, filho de Henrique de Borgo- dutos locais (ouro, marfim, pimenta- quistada a importante Ilha de Java.
nha, rompeu as relações de suserania vermelha), descobriram-se as ilhas __________________________________
e vassalagem com os castelhanos e atlânticas da Madeira, dos Açores e
intitulou-se rei de Portugal, fundando de Cabo Verde; as Canárias foram 4. CRONOLOGIA
a Dinastia de Borgonha (1139-1383). descobertas anteriormente.
Com a conquista de Constantino- 1085 – Tomada de Toledo e início da
2. PIONEIRISMO LUSO NAS pla pelos turcos (1453), os preços Reconquista da Península Ibérica.
GRANDES NAVEGAÇÕES das especiarias orientais elevaram-se 1095 – Convocação da Primeira
repentinamente, o que incentivou a Cruzada pelo papa Urbano II.
Portugal foi o país pioneiro na ex- busca de uma rota para as Índias. 1139 – Fundação do Reino de
pansão marítima em virtude de uma Assim, com a morte do Infante
série de fatores: desenvolvimento co- Portugal por D. Afonso Henriques.
D. Henrique (1460), que até então di-
mercial, que proporcionou o surgi- rigira a expansão marítima por - 1249 – Conquista do Algarve (extre-
mento de uma burguesia dinâmica e tuguesa, o Estado luso empenhou-se mo sul de Portugal) por D. Afonso III.
economicamente forte; interesse do em completar o “périplo africano”. 1383-85 – Revolução de Avis:
grupo mercantil em expandir suas Nessa nova etapa, destacaram-se as D. João I é aclamado rei de Portugal.
transações comerciais; consolidação viagens de Bartolomeu Dias (Cabo 1415 – Conquista de Ceuta: início
do poder real por meio da Revolução das Tormentas ou Boa Esperança,
da expansão marítima portuguesa.
de Avis (1383-85), promovida pela em 1488) e de Vasco da Gama (che-
burguesia; aperfeiçoamentos náuti- gada a Calicute, na Índia, em 1498). 1419 – Descobrimento do Arquipé-
cos pela invenção da caravela, utili- Pouco depois, com o envio da lago da Madeira.
zação da vela triangular ou “latina” e, esquadra de Pedro Álvares Cabral, 1434 – Gil Eanes dobra o Cabo
possivelmente, a existência de um que descobriu o Brasil, em 1500, Bojador.
centro de estudos náuticos em Sa- iniciou-se a construção do Império 1444 – Descobrimento do Arqui-
gres; posição geográfica favorável Colonial Português no Oriente.
pélago de Cabo Verde.
em direção à costa africana e até Já no século XVI, sob o comando
mesmo o espírito cruzadista presente do almirante Francisco de Almeida, 1448 – Construção da feitoria de
na expansão lusa. novas tentativas são desenvolvidas, Arguim, destinada a concentrar o
tráfico negreiro.
1456 – Chegada dos portugueses
ao Golfo da Guiné.
1460 – Morte do infante D. Henri-
que, o Navegador.
1488 – Bartolomeu Dias dobra o
Cabo das Tormentas (ou Boa Espe-
rança).
1492 – Descobrimento da América
por Colombo.
1498 – Chegada de Vasco da Ga-
ma a Calicute, na Índia.
Para realizar o Ciclo Oriental de Navegações, os portugueses organizaram 1500 – Descobrimento do Brasil
sucessivas expedições que devassaram o litoral atlântico africano. Depois, por Cabral.
penetrando o Oceano Índico, navegaram até Calicute, na Índia.
– 111
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Ciclo Ocidental e Consequências


MÓDULO 8
da Expansão Marítima

1. lNTRODUÇÃO americanas. Como vice-rei, realizou 4. CONSEQUÊNCIAS


ainda quatro viagens, procurando DA EXPANSÃO
Um conjunto de fatores econômi- encontrar os mercados indianos. ULTRAMARINA EUROPEIA
cos, sociais, políticos, culturais e até Descobriu as Pequenas Antilhas,
mesmo geográficos tornou possível a Porto Rico, Jamaica, Trinidad, o Con- • Deslocamento do eixo econômico
Portugal ser o pioneiro da Expansão tinente Sul-Americano na foz do Rio europeu do Mediterrâneo para o
Marítimo-Comercial dos Tempos Mo- Orenoco e atingiu, finalmente, as Atlântico, acarretando a de-
dernos. Os demais países europeus, costas da América Central (atual Pa- cadência das cidades italianas.
na mesma época em que os portu- namá). • Colonização da América, com uti-
gueses se lançaram no movimento Américo Vespúcio, comerciante lização do trabalho compulsório
de expansão oceânica, particular- e piloto florentino a serviço de indígena e africano.
mente Inglaterra, França, Países Bai- Portugal e Espanha, realizou quatro • Expansão do comércio europeu
xos e Espanha, estavam envolvidos viagens à América, corrigindo o erro (Revolução Comercial) e Revolu-
em uma gama de problemas que os de Colombo. Essas investigações de ção dos Preços, provocada pelo
retardaram na procura de um novo Vespúcio foram confirmadas em grande afluxo de metais preciosos
caminho para o Oriente. 1513, quando Núnez Balboa provenientes da América.
descobriu o “Mar do Sul” (Oceano • Adoção da política econômica
2. EMPREENDIMENTOS mercantilista, fundamentada no
Pacífico). A confirmação da hipótese
ESPANHÓIS regime de monopólio.
da esfericidade da Terra deve-se ao
• Acumulação primitiva de capitais,
português Fernão de Magalhães,
No caso da Espanha, o principal realizada pela circulação de mer-
que, a serviço da Espanha, realizou o
obstáculo foi de ordem político-militar. cadorias (capitalismo comercial).
primeiro périplo mundial, entre 1519
A Guerra de Reconquista contra os • Fortalecimento da burguesia mer-
e 1522. Morto nas Filipinas pelos
mouros ocupou os espanhóis durante cantil nos países atlânticos e
nativos, a primeira viagem de circu-
muitos séculos, pois somente em consolidação do Estado Moderno
navegação somente foi completada (absolutista).
1492, após a Batalha de Granada, é
pelo espanhol Sebastián de Elcano. • Europeização do mundo e expan-
que os Reis Católicos expulsaram os
muçulmanos de seu território. Não é Como descobridores do Novo Mun- são do catolicismo.
mera coincidência o fato de a viagem do, os espanhóis procuraram domi-
de Cristóvão Colombo ser dessa épo- nar rapidamente os impérios indíge-
5. A RIVALIDADE
ca. Colombo, de origem controversa nas existentes no México (astecas) e
LUSO-ESPANHOLA
(genovês ou catalão), completou sua no Peru (incas), a fim de se apossar
formação de marinheiro a serviço do do ouro e da prata americanos.
O papel da Santa Sé, como auto-
rei português. Acreditava que era ridade supranacional, sempre foi
possível atingir “el levante por el po- 3. FRANÇA,
acatado pelos monarcas europeus.
niente” dando a volta ao mundo, via- INGLATERRA E HOLANDA
Estes admitiam que somente ao
jando de Ocidente para Oriente. Não papa competia distribuir “a missão
conseguindo apoio financeiro de França e Inglaterra participaram
cristianizadora a ser desenvolvida
Portugal, Colombo associou-se aos tardiamente da expansão marítima, em
em terras de infiéis”. Isso acarretava
irmãos Pinzon e recebeu uma peque- razão de, sobretudo, fatores internos,
o reconhecimento da respectiva
na ajuda dos Reis Católicos, Fernan- tais como o processo de centralização soberania sobre as zonas conquis-
do de Aragão e lsabel de Castela. monárquica (retardado pela resis- tadas. Os portugueses sempre foram
Com uma nau (Santa Maria) e duas tência da nobreza), a existência de beneficiados com as intervenções
caravelas (Pinta e Niña), partiu do uma burguesia nacional ainda pouco pontifícias durante a exploração do
Porto de Palos em 3 de agosto de interessada nos mercados extraeuro- litoral africano na primeira metade do
1492, fazendo escala nas Ilhas Ca- peus e a devastação provocada pela século XV; por exemplo: a bula de
nárias para reparo numa das embar- Guerra dos Cem Anos (1337-1453), na 1442 concedia soberania a
cações. Em 12 de outubro do mesmo França, e pela Guerra das Duas Rosas D. Henrique pela missão expansio-
ano, avistou a Ilha de Guanahani (atual (1435-55), na Inglaterra. Quanto aos nista portuguesa. Entretanto, na
São Salvador), a sudeste da Flórida. holandeses, a principal razão de seu segunda metade do século XV, a
Colombo não duvidou em nenhum atraso em participar das Grandes Na- assinatura dos tratados de Alcáco-
momento que tivesse descoberto no- vegações foi de ordem política, pois a vas (1479) e de Toledo (1480), entre
vas terras, por isso chamou de “ín- Holanda somente se declarou inde- os Reis Católicos da Espanha e
dios” os habitantes das ilhas centro- pendente da Espanha em 1581. Afonso V de Portugal, já demonstra
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uma certa rivalidade entre os países se refere ao período colonial, sob os


ibéricos. Após a viagem de Cristóvão olhos europeus. E, nesse sentido, pre-
Colombo e a consequente descober- domina a visão eurocêntrica dos fatos
ta de novas terras além-mar, o papa que compuseram nossa História.
Alexandre VI (cardeal aragonês), em A própria expressão “Descobri-
1493, pela Bula lnter Coetera, outorgou mento do Brasil” revela que os portu-
todos os privilégios anteriormente gueses desconsideravam a exis-
concedidos aos reis de Portugal, ga- tência dos indígenas e, para eles, o
rantindo aos Reis Católicos a posse Brasil somente passou a existir a
das terras que ficassem além de um partir da tomada de posse das terras
meridiano imaginário, traçado de pela Coroa portuguesa. Se aceitar-
polo a polo e passando a cem léguas mos essa visão, a História do Brasil
a oeste de qualquer das Ilhas de não passará de um capítulo da His-
Cabo Verde, contanto que não tives- tória de Portugal.
sem sido possuídas por algum prín- _________________________________
cipe cristão antes de 1492. D. João II,
“o príncipe perfeito”, rei de Portugal, 7. CRONOLOGIA
protestou, junto à Espanha, contra a
notória parcialidade do papa e 1469 – Casamento dos futuros Reis
propôs uma nova linha divisória. Su- Católicos: Fernando de Aragão e
geriu que fosse adotado um paralelo Isabel de Castela.
que, a partir das llhas Canárias, as- 1492 – Fim da Guerra de Recon-
segurasse o norte para a Espanha e
quista e Descobrimento da América.
o sul para Portugal, seguindo a orien-
tação dos tratados anteriores. A ne- 1493 – Bula Inter Coetera do papa
gativa dos Reis Católicos fez D. João Alexandre VI.
chegar às vias de fato: mandou a- 1494 – Tratado de Tordesilhas.
Apesar da resistência da França,
prestar uma armada destinada a ocu- 1513 – Descobrimento do “Mar do
Holanda e Inglaterra, o Novo Mundo
par as terras descobertas por Colom- foi dividido entre Portugal e Sul” (Oceano Pacífico) por Vasco de
bo. Temendo a represália de Portu- Espanha pelo Tratado de Tordesilhas. Balboa.
gal, a Espanha sugeriu uma concilia-
ção, que resultou na assinatura do 1516 – Feitoria portuguesa em
6. VISÃO EUROCÊNTRICA
Tratado de Tordesilhas, em junho de Cantão, na China.
DA HISTÓRIA DO BRASIL
1494, originariamente conhecido co- 1519 – Início da primeira viagem
mo “Capitulação da Partição do Mar de circunavegação, comandada por
Quando tratamos da História do
Oceano”. Previa-se no tratado um Fernão de Magalhães.
Brasil, é comum utilizarmos a ex-
meridiano a ser traçado de polo a po- 1521 – Conquista do Império Aste-
lo a partir das Ilhas de Cabo Verde, pressão “Descobrimento do Brasil”
para designar o momento em que ca por Cortés.
estendendo-se 370 léguas a oeste
deste arquipélago, ficando as terras os por tu gueses iniciaram seu 1522 – Sebastián de Elcano com-
situadas a leste para Portugal e a processo de dominação sobre este pleta a primeira viagem de circuna-
oeste para a Espanha. O Tratado foi território. vegação.
ratificado pelo papa Júlio ll, em 1506, Na maioria das vezes, esquece-
1524 – Exploração do litoral da
por solicitação de D. Manuel I. A sua mo-nos de que, quando os portugue-
ses aqui chegaram, a terra já se en- América do Norte por Verrazano (a
demarcação nunca chegou a ser fei-
contrava habitada pelos nativos, que serviço da Inglaterra).
ta, por conveniência das duas coroas.
Acredita-se, entretanto, que a linha produziam sua subsistência e pos- 1524 – Capitulação de Saragoça.
de Tordesilhas deveria passar sobre suíam sua própria cultura. 1529 – Capitulação de Saragoça,
Belém, no Pará, e Laguna, em Santa Como a função básica da História delimitando os domínios ibéricos no
Catarina. Apesar da assinatura do é desfazer mitos, trocando a “versão Oriente.
Tratado de Tordesilhas, continuaram as ideal” dos fatos por uma “versão real”,
1531 – Pizarro inicia a conquista do
disputas luso-espanholas, agora quan- torna-se necessário refletirmos sobre
Império Inca.
to à questão das Molucas. As nego- os diferentes pontos de vista relacio-
nados à História do Brasil. 1534 – Exploração do Canadá por
ciações entre as monarquias ibéricas
sobre o problema chegaram ao final Não podemos esquecer-nos de Jacques Cartier.
com a assinatura da Capitulação de que a História do Brasil legada a nós 1555 – Fundação da França Antár-
Saragoça, em 1529, pela qual a Es- foi escrita sob a óptica de quem tica (RJ).
panha cedeu seus eventuais direitos ocupou as terras e, pela força das 1562 – Tentativa francesa de colo-
sobre as Molucas em troca de 350 armas, venceu os nativos, ou seja, nizar a Flórida.
mil ducados de ouro. ela é contada, principalmente no que
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MÓDULO 9 Civilizações Pré-Colombianas, Maias, Astecas e Incas


1. A ORIGEM DO AMERÍNDIO nea na atualidade, desconsiderando descendentes de populações da
as especificidades do processo colo- Ásia Oriental, que atravessaram o
K Introdução nizador. Estreito de Behring na última gla-
A América é um continente com Assim, nos dias de hoje, vemos ciação (cerca de 40 mil anos), quan-
uma área aproximada de 42.083.606 com nitidez que, sob os aspectos do uma violenta mudança climática
km2, ou seja, possui 28,2% das terras econômico, social, político e cultural, no planeta o transformou numa
emersas do globo terrestre. a América também é dividida de for- “ponte de gelo”, facilitando a
Localiza-se no hemisfério ocidental, ma desigual. No Norte, temos uma locomoção entre os dois continentes.
dividindo-se, no sentido norte-sul, América industrial e imperialista, en- No entanto, essa explicação não é
em América do Norte e América do quanto, no Sul, a chamada América suficiente para justificar a hete-
Sul, ligadas entre si por um verdadei- Latina permanece presa a estruturas rogeneidade dos diversos povos
ro istmo associado a um conjunto de arcaicas e, com os países da África e pré-colombianos.
ilhas, que constituem a América da Ásia, compõe o Terceiro Mundo. A hipótese polinésia, defendida
Central. Do lado leste, existe o por Paul Rivet, sustenta, baseada nas
Oceano Atlântico e, a oeste, o K A origem do semelhanças etnográficas, linguísticas
Oceano Pacífico. Liga-se ao conti- homem na América e biológicas, ter existido também um
nente asiático através do pequeno pré-colombiana povoamento da América realizado
Estreito de Behring, situado no extre- O primeiro ponto que se deve por povos vindos da Polinésia.
mo noroeste do continente. saber ao iniciar-se no estudo da Segundo essas hipóteses, os
O processo migratório desenca- História da América é ter consciência primeiros habitantes da América,
deado pela colonização prolonga-se de que esta não é uma tarefa fácil, quando aqui chegaram, ainda não
até a atualidade. Esse processo con- principalmente no que diz respeito aos conheciam as técnicas da agricul-
tribuiu para a formação das socie- chamados povos pré-colombianos. tura, vivendo basicamente da coleta,
dades nacionais, distribuindo-se de- As dificuldades devem-se, prin- caça e pesca. Como não possuíam a
sigualmente pelo continente, a ponto cipalmente, ao fato de os “conquista- noção de Estado (que só aparece
de se poder falar em uma América dores”, ao chegarem ao continente, nas sociedades mais complexas),
branca (Anglo-Saxônica e países do terem destruído grande parte dos viviam em pequenas comunidades
Prata), uma América índia (países monumentos, obras de arte e os caracterizadas pela propriedade co-
andinos), uma América hispano- chamados “códices” (manuscritos), letiva dos meios de produção e dis-
índia (regiões centro-americanas e os principais materiais de trabalho tribuição das atividades, conforme os
Paraguai) e países de mestiça- dos historiadores. Além disso, mas critérios de sexo e idade. Os laços de
gem multirracial, como o Brasil. em menor proporção, antes da che- parentesco nessas sociedades eram
Convém lembrarmos que esse gada dos espanhóis, alguns povos o seu elo de ligação, reforçados pela
imenso continente teve um processo americanos, como os astecas, por crença em antepassados míticos
heterogêneo de conquista e domina- exemplo, também tinham o hábito de comuns, nos quais fundamentavam
ção pelos colonizadores europeus e, destruir os vestígios dos povos por as suas crenças.
portanto, não é possível tratar a His- eles dominados. Grande parte das O panorama encontrado pelos
tória da América de forma homogê- informações que possuímos desse primeiros habitantes da América iria
período foi dada pela visão modificar-se quando uma nova trans-
dos europeus, a versão dos formação climática e ecológica ocor-
“vencedores”. reu por volta de 7 mil a.C. A tempe-
Mas quem eram os po- ratura da Terra tornou a subir, nume-
vos americanos? Como che- rosas espécies de animais que esses
garam ao continente? Esta é povos caçavam desapareceram,
uma questão importante, já assim como a “ponte de gelo” do
que a tese do autoctonismo Estreito de Behring. Isolados do outro
foi posta por terra. continente e com uma nova realida-
Atualmente, trabalhamos de, muitos povos começaram a bus-
basicamente com duas hipó- car a sua sobrevivência em outras
teses para explicar o povoa- atividades, destacando-se entre elas
mento do continente antes a agricultura, que implicaria a seden-
da chegada dos europeus. tarização e, consequentemente, o
Uma delas é a hipótese primeiro passo para a urbanização
asiática, defendida pelo das grandes civilizações, como as
dinamarquês Ales Hrdlicka, dos maias, astecas e incas. Estima-se
que considera os ameríndios que, quando da chegada do colo-
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nizador europeu, a América possuía Os sacerdotes, detentores do 3. OS MAIAS


entre 25 e 40 milhões de habitantes. saber, passaram a controlar também
Distribuindo-se pelo continente, o excedente agrícola, tornando-se K Introdução
esses povos tiveram processos dife- uma classe mais poderosa ainda. No momento em que Teotihuacán
renciados de estruturação de suas Organizava-se um Estado Teocrático entrou em decadência, o sul da
sociedades – fato esse perceptível visto dentro dessas sociedades. Mesoamérica conheceu o esplendor
que, no momento de chegada dos Entre 1.500 e 500 a.C., floresceu da civilização maia.
colonizadores, os grupos apresen- a cultura olmeca na costa sul do Durante o apogeu de sua civiliza-
tavam variados graus de desenvolvi- Golfo do México. Essa civilização ção, os maias dominaram a Penínsu-
mento cultural e material. agrícola, que vivia sobretudo da la de Iucatã no sul do México, quase
Podemos, entretanto, encaixá-los produção de milho, desenvolveu a toda a Guatemala, parte de Hondu-
em três grandes grupos, que repre- construção de reservatórios de pe- ras e El Salvador e Belize, ocupando
sentam três estágios de desenvol- dra para o armazenamento de água. o território da antiga cultura olmeca.
Os olmecas tinham como dirigen-
vimento, segundo a classificação do A denominação maia é utilizada
te, em suas comunidades, a classe
antropólogo norte-americano Morgan: em razão da semelhança linguística
sacerdotal, a quem pagavam impos-
• Paleolítico (selvageria): grupos entre os povos da região. Originários
tos sobre a produção agrícola ou a
cuja subsistência dependia da caça, das regiões setentrionais, atual Esta-
artesanal.
pesca, coleta vegetal e agricultura Os principais centros dessa cul- dos Unidos, estabeleceram-se ini-
rudimentar, localizados principal- tura foram La Venta, San Lorenzo e cialmente ao norte da Guatemala e
mente no Brasil, Paraguai, Uruguai e Três Zapotes. Por volta do século Honduras, constituindo a mais antiga
Argentina. I a.C., chegava ao fim a cultura das civilizações pré-colombianas.
• Neolítico (barbárie): grupos já olmeca, que legou às posteriores
sedentarizados, com prática da uma avançada técnica agrícola, o K Características gerais
agricultura e uma relativa organi- artesanato têxtil e de barro, um Os maias não chegaram a cons-
zação social, política e econômica, sistema de escrita e numeração, um tituir um Império. Ao contrário do que
localizados no norte da América do calendário – o religioso com 260 dias se pensava, as cidades maias estive-
Sul, América Central e, praticamente, e o civil com 365 dias –, além de uma ram constantemente em conflito, sen-
em toda a América do Norte. religião extremamente organizada. do sua organização caracterizada
• Civilização: sociedades comple- O poder político era exercido pe- pela formação de cidades-Estados.
xas em alguns aspectos, como o seu los sacerdotes de origem olmeca e a O poder político era teocrático e
modo de produção, localizadas no sociedade já se organizava de forma hereditário. Cada cidade-Estado pos-
México, Guatemala, Nicarágua, Peru, mais complexa. suía um governante local que devia
Bolívia e Equador. A religião era extremamente im- obediência ao poder central.
A Antropologia contemporânea portante, a ponto de a principal mani- A sociedade era rigidamente di-
considera o esquema evolutivo de festação artística desse povo, a arquite- vidida e a posição social era dada
Morgan extremamente rígido e até tura, voltar-se para a religiosidade. Foi pelo nascimento. No topo da pirâmi-
certo ponto preconceituoso e defen- durante seu apogeu que essa civiliza- de social, estava a família gover-
de que, na realidade, existem diver- ção construiu a Cidade dos Deuses – nante, altos funcionários do Estado
sidades étnicas e não grupos hu- Teotihuacán –, totalmente planejada, (sacerdotes e militares) e comer-
manos “superiores” ou “inferiores”, e também pirâmides dedicadas ao ciantes; abaixo destes, vinham os
como insinua a teoria de Morgan. Sol e à Lua, ricamente decoradas
cobradores de impostos, militares e
Entretanto, esse esquema evolutivo com esculturas e afrescos.
responsáveis pelas cerimônias; na
A cidade de Teotihuacán, locali-
será utilizado ao longo do texto. base da pirâmide, encontravam-se
zada no nordeste do Vale do México,
os trabalhadores braçais.
estendeu seus domínios por todo o
2. A CULTURA Na economia, o cultivo da terra
México Central entre 300 e 600 d.C.
OLMECA E TEOTIHUACANA era coletivo e as comunidades paga-
A população de Teotihuacán, suces-
sora dos olmecas, aperfeiçoou as vam um imposto também coletivo,
A sedentarização do homem e a técnicas de cultivo, desenvolveu o caracterizando-se pelo modo de pro-
prática da agricultura, na região do sistema de irrigação e as chinampas dução asiático, pois ao Estado cabia
México e América Central – conhe- (técnica de plantio feita sobre estei- a propriedade das terras e à comuni-
cida como Mesoamérica –, ocor- ras de varas flutuantes que eram dade, a posse útil. O principal produ-
reram entre 5.000 e 4.000 anos antes colocadas no Lago Texcoco). to cultivado era o milho, base da ali-
de Cristo. A cultura teotihuacana desapa- mentação dos maias.
Por volta de 2.000 a.C., surgiram receu durante o século VI, sendo difí- Além da produção agrícola, os
os primeiros aglomerados humanos, cil precisar quais fatores foram res- maias davam significativa importância
as aldeias transformaram-se em cen- ponsáveis por tal fato. Porém, pre- às atividades comerciais. Os merca-
tros cerimoniais e surgiu a classe sa- sume-se que doenças, rebeliões ou dores eram os responsáveis pela
cerdotal, responsável pelos cultos, prin- invasões expliquem a destruição da realização de trocas de produtos
cipalmente os vinculados à fertilidade. Cidade dos Deuses e sua civilização. agrícolas e artesanais.
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A religião defendia que o destino Quando os espanhóis chegaram, Cactus e corresponde à atual Cidade
dos homens era controlado pelos os maias já estavam em decadência. do México).
deuses, aos quais prestavam cultos, Entretanto, deixaram a marca da sua Firmaram aliança com as ci-
realizavam cerimônias e construíam cultura em muitos povos vizinhos, na dades-Estados de Tlacopan e Texco-
templos em forma de pirâmides com Mesoamérica. As hipóteses para ex- co, que juntas submeteram os povos
escadarias, utilizando mão de obra plicar a sua decadência são muitas. do Vale e deram origem ao Império
camponesa recrutada de forma com- Entre elas, podemos citar o esgota- Asteca.
pulsória. Ainda em função da religião, mento do solo, em razão da prática No início, as três cidades divi-
desenvolveram a escultura em terra- da agricultura de coivara ou queima- diam o poder entre si, mas a supre-
da, a deficiência alimentar (o consu- macia militar de Tenochtitlán acabou
cota, a pintura e o calendário cíclico,
mo de carne e, portanto, de proteína transferindo o poder para os astecas.
com 52 anos, fundamentando-se em
era raríssimo) e ainda os acirrados Em 1440, Montezuma I inicia a
seus avançados estudos de astrono-
conflitos internos entre os diversos construção de grandes aquedutos e
mia. Com a intenção de facilitar os cál- líderes das cidades-Estados. obras para a irrigação do solo e, prin-
culos, inventaram o zero. A escrita ela- No período de 1517 a 1697, os cipalmente, a organização do Império.
borada é denominada glífica e consis- espanhóis conquistaram o Império Quando os espanhóis chegaram
te em um conjunto de caracteres que Maia, o que foi marcado pela violên- à região do Império Asteca, em 1521,
representam parcialmente um objeto cia do branco contra o indígena, pela Montezuma II era reconhecido como
ou algo relacionado a esse objeto. força das armas em busca do ouro. o único imperador, e os astecas
Entre as culturas pré-colombia- viviam seu momento de apogeu.
K O Novo Império Maia nas, somente os maias resistiram à
Por volta do ano 900, iniciou-se o conquista europeia; estes não acredi- K Economia
declínio do Império Maia, que, dois tavam, como os outros povos, que os Na economia, os astecas tinham
séculos mais tarde, passou a sofrer europeus fossem deuses que che- a agricultura como principal ativida-
influência da cultura tolteca. gavam à América. de; produziam milho, feijão, cacau e
Os toltecas, originários do grupo algodão, entre outros produtos. O Es-
linguístico naua, haviam ocupado o 4. OS ASTECAS tado era o proprietário das terras, e a
Planalto Central Mexicano e transfor- comunidade detinha a posse útil e
mado Tula em sua capital. Formavam K Introdução pagava impostos sobre a produção.
uma sociedade urbanizada e milita- A localização geográfica originá- Utilizavam as chinampas e aperfei-
rista, na qual se destacava a religião, ria dos astecas é a região noroeste çoaram o sistema de regadio em
que tinha como deus principal do México, denominada Aztlán, daí suas plantações.
Quetzalcoatl (serpente emplumada). se autodenominarem astecas. O comércio, apesar de não ser a
Ocorreu, então, a fusão das cul- Essa região foi ocupada aproxi- principal atividade econômica, tam-
turas maia e tolteca, dando início ao madamente nos séculos I e II a.C., bém se destacava na sociedade.
chamado Novo Império Maia, que, período em que os astecas eram Realizavam-se trocas, dentro das
lentamente, entrou em declínio. considerados “bárbaros” (chichime- cidades – como, por exemplo, no
cas ou ainda mexicas), por perten- mercado de Tlatelolco –, de legumes,
cerem ao grupo linguístico nahuatl. frutas, plumas, joias e escravos, além
Como todos os grupos, os aste- de produtos importados, como taba-
cas primitivamente viviam da caça, co, peles e cristal. Esse comércio
pesca e coleta vegetal. Possuíam levou ao aprimoramento do sistema
uma sociedade simples, na qual de troca, que transformou a semente
prevalecia a igualdade entre os de cacau em “moeda corrente”.
membros do grupo, que era liderado
por um chefe guerreiro. Aliás, a guer- K Organização social
ra sempre foi um elemento carac- Primitivamente, os astecas orga-
terístico dos agrupamentos humanos nizavam-se em clãs, denominados
durante o período do Paleolítico. calpulli, que tinham por base os laços
Ao se estabelecerem no Vale do de parentesco. Nesse período, a
México, durante o século XII d.C. – posse da terra era coletiva, inexistin-
após o saque à cidade de Tula, dos do a noção de propriedade privada.
toltecas –, os astecas sedentariza- O imperador e sua família ocupa-
ram-se, passando à fase Neolítica. vam o topo da pirâmide social.
Em 1325, fundaram a capital do A expansão sobre o Vale do Mé-
Império, às margens do Lago Tex- xico e a conquista de terras – realiza-
Prováveis centros de origem coco, que recebeu o nome de da por meio da guerra – conferiram
dos principais animais domesticados. Tenochtitlán (que significa Rocha de aos militares um grande poder no
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Império. Os sacerdotes e os militares K Religião e cultura Antes dos incas, o Altiplano An-
constituíam a nobreza, compondo a A religião era politeísta. Entre os dino foi palco de culturas que são
classe dominante. Esta recebia como deuses adorados pelos astecas, es- denominadas pré-incaicas. Entre es-
privilégios a isenção de impostos e o tavam o Colibri-Azul ou Uitzilopochtli sas culturas, encontramos a Chavin,
domínio sobre extensões de terras, (o deus do Sol do Meio-Dia) e Tezca- séculos IX a II a.C., no norte do Peru.
das quais não era proprietária parti- tlipoca (deus protetor dos guerreiros Com a decadência dessa cultu-
cular, pois essas eram coletivas. e escravos, simbolizado pela Noite); ra, o Altiplano Andino assistiu a um
Os comerciantes (denominados longo período em que predominaram
o contato com outras civilizações os
pochtecas) e os artesãos compunham
fez adorar deuses como Quetzalcoatl grupos fragmentados e, no século VI
a camada social intermediária. Os co-
(a Serpente de Plumas). da Era Cristã, três grandes culturas
merciantes organizavam-se em cor-
Os astecas acreditavam na ideia floresceram nessa região. São elas:
porações e detinham o monopólio
sobre a atividade mercantil, que era de que seriam o povo incumbido de Império Tiahuanaco, no Altiplano
transmitida de pai para filho. Os arte- zelar pela manutenção da harmonia Boliviano, próximo ao Lago Titicaca;
sãos trabalhavam com a ourivesaria no universo, o que só poderia acon- a civilização huari, bacia do Rio do
e a confecção de peças em plumas; tecer por meio da alimentação dos Aiacucho, estendendo-se da região de
também se organizavam em corpora- deuses; assim, o seu código religioso Cuzco até a costa norte do Peru; o
ções e pagavam impostos ao Esta- admitia o sacrifício humano. Os deu- Império Chimu, costa norte do Peru.
do. A profissão era hereditária dentro ses que regiam o universo e assegu- Os incas, originariamente, consti-
das famílias. ravam as boas colheitas e vitórias mi- tuíam um povo nômade, parte inte-
Na base da pirâmide social, esta- litares também regiam o destino dos grante do grupo quíchua, da região
vam os camponeses e os escravos. homens. da Amazônia.
Os primeiros, de origem asteca, de- Em termos culturais, podemos con- Após sucessivas conquistas, os
viam obrigações ao Estado, como tra- siderar que os astecas promoveram incas estenderam o seu poder sobre
balhar em obras públicas, na agricul- uma fusão de elementos das culturas uma área de quase 5.200.000 km2,
tura, pagar impostos e prestar ser- anteriormente estabelecidas no Vale com uma população estimada entre
viço militar. Na época do casamento,
do México, porém superando-as. 3,5 milhões e 7 milhões de habitantes.
recebiam um lote de terra para cul-
A arquitetura foi extremamente de- Quando os espanhóis chegaram,
tivar e, nos combates militares, havia
senvolvida, destacando-se a constru- em 1532, o Império Inca vivia seu
a possibilidade de ascensão social.
Os escravos, adquiridos em guerras ção de pirâmides, palácios e sistemas auge, impressionando os espanhóis
como pagamento de dívidas ou de irrigação, além de aquedutos. pela sua organização e suas impo-
condenados por crimes, trabalhavam Estudavam astronomia e criaram nentes obras arquitetônicas.
a terra e podiam ser libertados. um calendário dividindo o ano em de- Apesar da dominação espanho-
A poligamia era admitida no gru- zoito meses (cada mês com vinte dias), la, a influência dos incas faz-se pre-
po pelo fato de a população mascu- mais cinco dias complementares; a sente até hoje. No Peru, o quíchua,
lina diminuir em períodos de guerra, cada 52 anos, concluía-se um ciclo. antiga língua dos incas, é atualmente
mas predominava a monogamia. Utilizando esse conhecimento, pre- uma das línguas oficiais do país.
viam eclipses lunares e os solstícios. Os incas eram também conheci-
K Política Possuíam escolas: a Calmecac, dos como os “Filhos do Sol” por acre-
A sociedade asteca, fortemente voltada para a formação da nobreza ditarem que o Sol (o deus Inti) era o
embasada no militarismo e influen- ancestral de seus governantes.
sacerdotal, e a Telpochcalli, destina-
ciada pela religião, fez nascer um po-
da ao ensino comum. A escrita era
der político militarizado e teocrático.
pictórica e hieroglífica. K Economia
O imperador, inicialmente, era
A base da economia inca era a
eleito por uma Assembleia de guer-
reiros. Em razão das conquistas, es- 5. OS INCAS agricultura, na qual a batata e o milho
sa Assembleia foi perdendo cada ocupavam lugar de destaque. Para
vez mais sua importância e acabou K Introdução ampliar a área cultivável, faziam ter-
sendo substituída por um Conselho O território ocupado pelos incas raços nas regiões do Altiplano Andi-
que escolhia os imperadores em uma corresponde atualmente ao Peru, Bo- no, o que, além de favorecer a agri-
mesma família, o que tornou a lívia, Equador, parte do Chile e norte cultura, evitava a erosão da terra. O
sucessão hereditária. da Argentina, na região do Altiplano solo era fertilizado com o guano, fertili-
O imperador, comandante supre- Andino. zante natural de excremento de aves.
mo do Exército, dividia o poder com A ocupação da região pela civili- Primitivamente, a terra, no Alti-
a Mulher-Serpente, função exercida zação inca iniciou-se em 1200 e não plano Andino, era propriedade cole-
por um homem, responsável pela constituiu o primeiro agrupamento tiva da comunidade ayllu, que traba-
chefia de governo. humano dessa região. lhava em conjunto nas plantações.
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Uma parte da produção era reco- dade denominada ayllu, liderada pelo Para tentar evitar os conflitos in-
lhida aos depósitos públicos para ser curaca, fundador ou descendente do ternos, graças às conquistas sobre
distribuída aos habitantes em tempo ancestral do grupo. outros povos, os incas tomavam os
de crise pelo curaca, líder local. Com a conquista incaica sobre a filhos dos curacas dominados como
Com a chegada dos incas e seu região do altiplano, no século XIII, as “reféns” e os enviavam à capital do
processo de expansão e submissão comunidades foram subordinadas e Império para estudar, forçando a
das comunidades, as terras passaram o poder político ficou nas mãos de um submissão dos líderes derrotados.
a pertencer ao Estado e a estrutura imperador – Inca ou Sapa Inca –, cuja Administrativamente, o Império
fundiária original foi alterada. As ter- força se fundamentava na religião e foi dividido em quatro partes (provín-
ras foram, então, divididas em terras no Exército, do qual era o comandante cias), que eram interligadas por nu-
da comunidade e terras do Estado, supremo, caracterizando, assim, um merosas estradas, permitindo tanto o
cultivadas pelos membros do ayllu. governo teocrático-militarista. serviço dos correios quanto a ação
O tributo em espécie não era pa- Abaixo do imperador, estava a no- do Exército, em caso de revolta.
go diretamente ao Estado, mas este breza, formada por seus parentes, por Ironicamente, mais tarde, essas vias
detinha o direito de requisitar a mita, acabaram facilitando o trabalho dos
altos funcionários do Estado e do
paga sob a forma de trabalho com- invasores espanhóis.
clero e pelos curacas, que mantive-
pulsório nas minas, construção de
ram seu prestígio em razão da
estradas e obras públicas, como ca-
tradição de sua família. Em seguida, K Religião e cultura
nais de irrigação. Na época em que a
vinham os artesãos, médicos, artistas, Os incas dedicaram-se à astro-
mita era requisitada, o Estado devia
militares e contabilistas; finalmente, na nomia, elaborando um calendário
prover os trabalhadores com víveres.
base da pirâmide social, estavam os que, além de marcar o tempo, servia
O comércio também se desen-
volveu com base na produção de camponeses e os escravos. para fazer previsões astrológicas.
cerâmica, tecidos e artesanato em Dentro do Império, o ayllu conti- Na religião, além do Sol, da Lua,
ouro, bronze e prata. nuou a ser a base da organização do Trovão e da Terra, cultuavam Vira-
social e administrativa, sendo forma- cocha, o “Criador do Universo”.
K Organização do de acordo com os laços de paren- Completando as suas cerimônias,
política e social tesco e chefiado pelo curaca, cujo que incluíam danças e uso da chicha
Antes da dominação inca, a orga- poder era transmitido hereditaria- (espécie de cerveja feita de cereais),
nização social básica era a comuni- mente. sacrificavam humanos e lhamas.

MÓDULO 10 Bases do Colonialismo Mercantilista


1. ANTIGO REGIME vantagens econômicas à burguesia,
dava-lhe monopólios, mas concedia
A Era Moderna, demarcada tradi- pensões e cargos à nobreza. Protegia
cionalmente entre 1453 e 1789, cons- os interesses dos grandes capitalis-
titui uma unidade completa, num sis- tas, mas impedia a destruição das
tema com uma estrutura própria: o corporações de ofício; ajudava os no-
Antigo Regime. Na França, o absolu- bres a debelar as revoltas campo-
tismo evoluiu até o século XVIII, quan- nesas, mas conservava os campone-
do a Revolução Francesa e os movi- ses como uma arma potencial contra
mentos liberais burgueses do século os nobres. Enfim, o monarca vivia dos
XIX eliminaram a estrutura do Antigo
conflitos sociais e, em certos momen-
Regime e, com ele, a Dinastia dos
tos, chegava mesmo a estimulá-los.
Bourbons. Na Inglaterra, a monarquia
Na tentativa de legitimar essa au-
absolutista transformou-se numa mo-
toridade, os reis absolutos incentiva-
narquia limitada, quando das Revo-
Thomas Hobbes, defensor ram a produção literária a respeito
luções Inglesas do século XVII. de um Estado todo-poderoso. das origens do poder, procurando
K Absolutismo mica, mas ainda não havia consegui- dar-Ihes uma fundamentação religio-
O Estado absolutista define-se do o predomínio político. sa. A teorização sobre o poder real
como um Estado de transição entre a O que tornava típico o Estado ab- teve início com o importante trabalho
monarquia feudal, dominada pela no- solutista era o fato de que o soberano de Maquiavel, O Príncipe, no qual ele
breza, e a República burguesa, pois se equilibrava sobre as camadas so- desenvolve a ideia da razão de Esta-
corresponde ao período em que a bur- ciais em conflito, aproveitando-se de do para justificar os atos dos gover-
guesia adquiriu a supremacia econô- seus antagonismos. O rei concedia nantes absolutos (“Os fins justificam
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os meios”). Thomas Hobbes, em seu século XVIII. No capitalismo comer-


livro Leviatã, justifica a necessidade cial, a maior parte do lucro fica com
do poder real para que haja paz na os intermediários, com os comer-
sociedade civil. Mas o grande teórico ciantes, e não com os empresários
do absolutismo é Jacques Bossuet, que produzem as mercadorias.
autor de Política Extraída das Sagra-
das Escrituras. 2. MERCANTILISMO

K A intolerância religiosa K Conceito


A Reforma religiosa do século XVI “Política econômica” é a prática
quebrou a unidade do cristianismo econômica de um governo, o modo
ocidental. Os reis da Era Moderna trans- Apoiada no tripé econômico do pelo qual é orientada a economia de
Antigo Regime (Capitalismo Comercial, um país. A política mercantilista é a
formaram a religião num forte elemen- Mercantilismo e Sistema Colonial),
to de poder, pois controlar a Igreja no política econômica do capitalismo
deu-se a acumulação do capital. comercial, pois, na medida em que o
país era indispensável para que a
autoridade real fosse absoluta. Por K A sociedade de lucro se acumula na circulação das
meio do clero, os reis dominavam os “Estados” ou de “Ordens” mercadorias, a ênfase da política
súditos, pois os púlpitos contribuíam A sociedade da Era Moderna era mercantilista recai sobre a atividade
para transmitir a vontade do rei aos uma sociedade de transição, conten- comercial.
membros da nação. Da Bíblia vinha a do elementos feudais e capitalistas. Assim, a agricultura e a indústria
justificativa do poder real, conside- Os elementos feudais eram as ordens passam a ser consideradas ativida-
rado de origem divina. Nessa medida, sociais que vinham da Idade Média; des subsidiárias, que devem ser
a unidade política do reino dependia os elementos capitalistas correspon- orientadas em função dos interesses.
de sua unidade religiosa. Não havia diam às classes que começavam a
lugar para a liberdade religiosa, apenas surgir. Essa sociedade apresentava K Objeto
para a intolerância política, pois as também a confluência de dois crité- Se hoje em dia consideramos
perseguições religiosas eram, no rios de estratificação social: o tradicio- que a finalidade de uma política eco-
fundo, perseguições políticas. nal e o econômico. O Estado, porém, nômica é proporcionar o bem-estar
via a sociedade como estamental, social à nação, isso não acontecia na
K A razão predomina dividida em três ordens: clero, nobre- época do mercantilismo: nela, o obje-
sobre a fé za e povo, que na França formavam tivo direto e fundamental era promo-
Enquanto na Idade Média a filo- o chamado Terceiro Estado. Todavia, ver a força do Estado e, indiretamen-
sofia escolástica marcava a predomi- com o desenvolvimento capitalista, te, incrementar a riqueza da burgue-
nância da fé sobre a razão, na Era começou a haver uma diferenciação sia. Evidentemente, há uma contradi-
Moderna assistimos a uma inversão econômica entre os indivíduos, esbo- ção nesse processo porque, ao enri-
desse princípio. O desenvolvimento do çando-se uma sociedade de classes quecer a burguesia, a política mer-
dentro da sociedade estamental. cantilista cria condições para que ela
capitalismo e da burguesia, com
suas profundas transformações den- suplante o Estado absolutista.
K Capitalismo comercial
tro da sociedade, quebrou o mono- Entende-se por capitalismo uma K Prática
pólio da Igreja sobre a cultura, esten- forma assalariada de produção, na Considerando-se que a riqueza é
dendo-a aos leigos (“laicização da qual se verifica uma separação entre obtida por meio do comércio, cabe
cultura”). os que detêm os meios de produção ao Estado organizar essa atividade
No Renascimento, a burguesia e (empresários capitalistas) e os que de modo que sejam atingidos seus
o pensamento leigo utilizavam a razão possuem apenas o seu trabalho (as- objetivos. Consequentemente, tal
para investigar o mundo e a natureza. salariados). Este é o elemento essen- política é intervencionista, e não
No século XVII, na época do Barroco, cial e definidor do capitalismo, que liberal. O Estado procura conservar a
o racionalismo era usado para trans- comporta também algumas outras balança comercial favorável (mais
portar a natureza para a arte. No sé- características: organização empre- exportação e menos importação), o
culo XVIII, por sua vez, o racionalis- sarial, espírito de lucro, atitudes ra- que se traduz num saldo monetário
mo era usado socialmente, tendo por cionais, produção para o mercado e que evidencia o êxito da política eco-
finalidade definir a posição da bur- trocas monetárias. nômica e representa a riqueza da
guesia no quadro da sociedade. Chamamos de capitalismo co- nação. Para atingir esse objetivo, de-
Essa tentativa de visão da socie- mercial o período no qual a acumu- senvolve-se uma política de mono-
dade em termos racionais dava à lação de capital se dá no âmbito da pólios, tanto dentro da metrópole
burguesia uma consciência crítica do circulação das mercadorias (troca), e quanto em relação às colônias. Para
Antigo Regime, do absolutismo e da não em sua produção. A acumulação uma perfeita realização da política
sociedade estamental, abrindo con- na produção somente se desenvol- de monopólios, é necessário adotar
dições para o movimento iluminista. veria com a Revolução Industrial do medidas protecionistas, utilizando
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navios de guerra para combater o açúcar. A Espanha, tendo conseguido K O novo escravismo
contrabando e elevando as tarifas al- metais preciosos na América, pôde A introdução de escravos africa-
fandegárias para impedir a importa- desenvolver uma política de exporta- nos ocorreu em virtude da imposição
ção de produtos concorrentes. Po- ção desses metais em troca de mer- do sistema, pois era exatamente o
rém, como a concorrência entre as cadorias; daí o mercantilismo bulionis- comércio de escravos que produzia
potências europeias era muito forte, ta (metalista), segundo o qual o metal os maiores lucros (muito mais do que
os elementos da prática mercantilista era a própria riqueza do país, e não a produção de açúcar). A necessida-
somente seriam exequíveis em rela- mero representante dessa riqueza. de de conservar o lucrativo comércio
ção às colônias. Por isso, o sistema Portugal passou por quase todas as de escravos explica a introdução de
colonial é a peça decisiva da política experiências da política mercantilista: negros africanos na produção colonial.
mercantilista. mercantilismo comercial (na Ásia e É dessa forma que se entende a subs-
África), mercantilismo industrial (du- tituição do trabalho forçado indígena,
K Tipos de mercantilismo rante as crises comerciais) e mer-
usado na fase de implantação da em-
As metrópoles que possuíam co- cantilismo metalista (no decorrer da
presa colonial, pelo trabalho do negro
lônias conseguiram, ao menos inicial- fase do ouro no Brasil).
africano. De fato, desde que a ativi-
mente, manter sua balança comer-
dade econômica açucareira se tornou
cial em situação favorável em relação K O sistema colonial
rentável, o lucro passou a ser desvia-
às demais nações europeias. Assim, Se todas as nações europeias
quem não tivesse colônias seria obri- buscassem uma balança comercial do das mãos do produtor (senhor de
gado a empregar meios indiretos para favorável, a concorrência mercantil fa- engenho) para as mãos dos interme-
atrair as riquezas coloniais, principal- ria com que algumas delas aca- diários (reis e burguesia). A ideia de
mente os metais preciosos. A In- bassem não atingindo o seu objetivo, que o indígena não se adaptou à
glaterra expandiu o mercantilismo co- ficando, assim, com a balança desfa- produção é tradicional e superada.
mercial, cujo modo de ação era o vorável. Nessa medida, as colônias se
desenvolvimento do comércio maríti- tornavam indispensáveis, pois mante- K Tipos de colonização
mo, por meio das companhias de na- riam favorável a balança mercantil de A grande exploração agrícola
vegação, procurando manter a balan- suas metrópoles. Daí a necessidade possibilitou a ocupação e defesa das
ça favorável mediante a diferença de enquadrar as colônias no conjunto terras da América pelos portugue-
entre os preços de compra e venda. da política mercantilista e do sistema ses. Na América espanhola, a des-
Na França, desenvolveu-se o mercan- colonial, regidos pela noção de acu- coberta de metais preciosos pro-
tilismo industrial (ou colbertismo, por mulação mercantil, de monopólio e de vocou uma concentração dos interes-
causa do ministro Colbert), no qual as protecionismo. As colônias deviam ses e da defesa em áreas mais res-
manufaturas de artigos de luxo produ- alcançar sua finalidade: enriquecer a tritas, como, por exemplo, o Golfo do
ziam os principais rendimentos do Es- burguesia do reino e contribuir para o México. A colonização da América do
tado e da burguesia mercantil. A Ho- fortalecimento do Estado. Portanto, a Norte, porém, obedeceu principal-
landa empenhou-se em desenvolver exploração colonial, determinada pela mente ao regime de colônias de po-
um tipo misto (comercial-industrial), metrópole, definiu o sistema colonial e voamento, nas quais a ocupação bá-
com a criação de companhias de o próprio modo de produção colonial: sica era empreendida por homens
comércio e montagem de refinarias de monocultura, latifúndio e escravismo. que estavam descontentes com a
situação religiosa e política de seus
países de origem e que, portanto, pre-
tendiam construir uma nova pátria em
terras americanas.
_________________________________

3. CRONOLOGIA

Século XVI – Preponderância do


metalismo.
1492 – Descoberta da América.
1500 – Descoberta do Brasil.
Século XVII – Preponderância
do comércio.
Século XVIII – Preponderância
da indústria.
1415 – Tomada de Ceuta pelos
portugueses.
Minas, portos e rotas do comércio colonial espanhol.
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MÓDULO 11 Colonização Espanhola na América

1. A EXPANSÃO ESPANHOLA E 2. A ADMINISTRAÇÃO ção a Sevilha, cuja Casa de Contrata-


A CONQUISTA DA AMÉRICA DO IMPÉRIO ESPANHOL ção controlava todo o comércio das
colônias.
Os colonizadores espanhóis es- A administração colonial ficava
A expansão ultramarina espa-
tabeleceram, então, um sistema de por conta do Conselho das Índias,
nhola começou tardiamente em rela- organização político-administrativo
ção a Portugal. Contudo, os criado em 1524, por Carlos I (tam-
que visava ao controle direto sobre a bém imperador da Alemanha, com o
mesmos objetivos mercantilistas e a América, por meio da divisão do lm-
nome de Carlos V), que nomeava os
justificativa católica que orientaram pério Espanhol em quatro vice-reinos:
vice-reis e capitães-gerais.
as viagens marítimas lusas fizeram- Nova Espanha (México e América
O vice-rei correspondia à maior
se presentes nos empreendimentos Central), Nova Granada (Equador,
autoridade executiva na América,
espanhóis. Por isso, quando Colombo Colômbia, Venezuela e Panamá), Pe-
sendo representante direto da coroa
des cobriu a Amé rica, em 1492, ru (Peru, Bolívia e Chile) e Rio da Pra-
espanhola e responsável por funções
anun ciou ter che ga do às Índias ta (Argentina, Paraguai e Uruguai).
A ocupação efetiva desse imen- militares, judiciais, fiscais, adminis-
dando a volta ao mundo. trativas e financeiras.
so território concentrou-se na explo-
Depois dos primeiros contatos Todo o aparelho burocrático
ração argentífera e aurífera, deixan-
com a América recém-descoberta, montado tinha por objetivo impedir o
do de lado a agricultura tropical. O
os espanhóis começaram a coloni- contrabando e garantir a manuten-
polo dinâmico da exploração limitou-
zação, ocupando a Ilha Hispaniola se à região representada pelo Golfo ção do monopólio comercial e da co-
(Haiti). Daí partiram os “conquista- do México, o Porto de Vera Cruz, de brança de impostos para a coroa es-
dores” Hernán Cortés e Francisco onde saíam a prata e o ouro em dire- panhola.
Pizarro para a conquista do México
(terra dos astecas) e do Peru (terra
dos incas). As riquezas metalíferas
localizadas na meseta mexicana e
no Altiplano Andino fizeram com que
a me trópole espanhola con cen -
trasse a colonização nessas áreas.
A Amé rica possuía em grandes
quantidades os metais preciosos
(prata e ouro) que os europeus tanto
procuravam.

Centralizada nas mãos dos reis, a colonização


espanhola foi marcada por um rígido controle,
garantindo para o Estado e para os mercadores
espanhóis os lucros da exploração colonial ame-
ricana.
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4. CRONOLOGIA

1469 – Casamento de Isabel de Castela e


Fernando de Aragão.
1492 – Fim da Guerra de Reconquista e
Descobrimento da América.
1493 – Bula lnter Coetera.
1494 – Tratado de Tordesilhas, com sede em
Sevilha.
1503 – Criação da Casa de Contratação.
1511 – Início da colonização de Cuba por
Diego Velásquez.
1513 – Descobrimento do Oceano Pacífico
por Vasco de Balboa.
1519-22 – Primeira viagem de circuna-
vegação da Terra.
1519-21 – Conquista do Império Asteca
Ao contrário do Brasil, as colônias espanholas foram divididas em quatro por Hernán Cortés.
grandes Vice-Reinos e quatro Capitanias Gerais, subordinadas
1524 – Criação do Conselho das Índias,
diretamente ao Conselho das Índias.
presidido pelo rei da Espanha.
3. O TRABALHO COMPULSÓRIO (MITA) 1532 – Descobrimento da Califórnia.
1531-33 – Conquista do Império Inca por
A exploração das minas de prata e ouro foi realizada por Francisco Pizarro.
meio do trabalho compulsório dos indígenas, particularmente da 1535 – Fundação de Ciudad de los Reyes
“mita”, pela qual as aldeias de índios eram forçadas a entregar (atual Lima).
certa quantidade de seus membros, aptos para realizar trabalhos
durante um prazo determinado. Esses índios eram compensados com certa quantidade de dinheiro e destinados
aos mais variados serviços. Na realidade, a “mita” era uma instituição anterior à chegada dos espanhóis, tendo
sido praticada pelos incas e outras civilizações pré-colombianas.
A base socioeconômica da colonização espanhola foi o sistema de “encomienda”, pelo qual o colonizador da
terra tinha o direito de receber dos índios um pagamento em trabalho, devendo em troca convertê-los à fé católica.
Ao longo da colonização, o aparelho burocrático foi dirigido pelos chapetones — espanhóis nascidos na
Espanha —, enquanto os criollos, espanhóis nascidos na América, ocupavam postos secundários da administra-
ção colonial.

MÓDULO 12 Colonizações Inglesa, Francesa e Holandesa


1. INGLATERRA localizavam-se em áreas de pouco ou ção do Estado Absoluto ao criar uma
quase nenhum interesse econômico Igreja Nacional separada da Igreja
K Antecedentes da colonização para o mercantilismo reinante naque- Católica. Em 1534, com o Ato de
A Inglaterra, com a França e a la época. Supremacia, o rei tornou-se chefe da
Holanda, insere-se no quadro das Derrotados pela França na Guer- Igreja Anglicana.
navegações tardias. ra dos Cem Anos (1337 a 1453), Como uma das características
No século XVI, enquanto Portugal os ingleses acabaram mergulhando do Estado Absolutista é a intole-
e Espanha dominavam e monopoli- em uma guerra civil — a Guerra rância religiosa, tiveram início as per-
zavam as ricas regiões tropicais da das Duas Rosas (1455 a 1485) — seguições a católicos e protestantes
América, as expedições inglesas não , que somente teve fim com a ascen- (presbiterianos e puritanos), que não
passavam de explorações no Novo são da Dinastia Tudor, a qual professavam a religião oficial.
Mundo. De fato, a colonização inglesa realizara a centralização do poder No governo de Elizabeth I (1558
na América teve início no século XVII, político. a 1603), a Inglaterra passou por sen-
e à Inglaterra não sobraram terras Durante o reinado dos Tudors síveis transformações socioeconô-
ricas e em abundância. Em compa- (1485 a 1603), a Inglaterra assistiu à micas e políticas, que seriam
ração com as colônias luso-espanho- consolidação do Estado Absolutista. decisivas para o início do processo
las, as colônias da Inglaterra eram Henrique VIII, o segundo rei da colonizador.
pobres e pouco desenvolvidas, pois Dinastia Tudor, impulsionou a forma-
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Durante seu reinado, houve a cria-


ção de uma próspera burguesia, for-
jada pelos incentivos à navegação,
ao comércio e à pirataria. Por outro
lado, a rainha impunha leis, como a
dos cercamentos (enclosures), que
beneficiavam os grandes produtores
de lã de ovelha, utilizada nas manu-
faturas, criando, ao mesmo tempo,
uma vasta camada de marginaliza-
dos que inundavam as cidades, cons-
tituindo mão de obra barata para as
manufaturas inglesas. Afinal, a Lei
dos Pobres proibia a mendicância.
A entrada de metais preciosos
da América na Europa, levados por
mãos espanholas, ocasionou a Revo-
lução dos Preços. A inflação tomou
conta da economia europeia e as ca-
madas mais pobres da população
sentiram esse processo de uma for-
ma mais intensa, à medida que seus
rendimentos não acompanhavam a
desvalorização monetária provocada
pela crescente inflação.
O mundo dividido entre as potências europeias.

cia. O reinado dessa dinastia ocu- as tentativas de colonização na Amé-


pou, praticamente, todo o século XVII rica do Norte. Ao contrário da coloni-
e foi marcado pelos constantes zação de “exploração” que caracteri-
conflitos entre o rei e o Parlamento. zou a ocupação ibero-americana, os
Os Stuarts eram ferrenhos defen- ingleses fundaram, na sua grande
sores do absolutismo e do mercanti- maioria, colônias de povoamento. Es-
lismo. No entanto, ao Parlamento, que tas colônias foram ocupadas, valori-
abrigava burgueses ricos e puritanos, zadas e povoadas por refugiados re-
interessava limitar os poderes reais ligiosos que saíam em busca de no-
no que diz respeito ao aumento de vas terras para fugir da intolerância
impostos e às leis que ferissem a religiosa e política. Além disso, ele-
relativa autonomia que esse órgão mentos do governo inglês ou emprei-
tinha adquirido historicamente. teiros ligados ao Estado procuravam
Como meio de se impor ao Parla- riquezas. “Havia ainda os infelizes,
mento, os Stuarts iniciaram violentas desde criminosos até vagabundos,
O processo original de
perseguições aos burgueses. Os con- que vieram por conta própria ou fo-
ocupação das Treze Colônias. flitos desse período são denominados ram involuntariamente alugados para
Revoluções Inglesas: a Puri- trabalhar no Novo Mundo.”
Enquanto a burguesia mercantil tana, de 1642 a 1649, e a Gloriosa, As chamadas colônias de povoa-
prosperava com esse processo, as ca- de 1688, que colocou a burguesia mento, situadas ao norte dos Esta-
madas sociais subalternas viam sua definitivamente no poder na Inglaterra. dos Unidos, dedicavam-se à policul-
renda diminuir cada vez mais e aumen- Para muitos, ficar na Inglaterra tura, ao artesanato, ao comércio in-
tar a camada de pobres existente. era arriscado. Preferiram recomeçar terno e externo (comércio triangular),
Em 1588, a rainha levou Filipe II, a vida do outro lado do Atlântico, o mantendo relativa independência da
da Espanha, a expor sua vulnera- que acabou impulsionando, ainda metrópole. Nessas regiões, predo-
bilidade. A esquadra inglesa derro- mais, a colonização da América. minaram o trabalho livre e a organiza-
tou a "Invencível Armada" e colocou à ção familiar.
Inglaterra a perspectiva de coloniza- K O processo da colonização Sir Humphrey Gilbert e Sir Walter
ção de parte da América. Depois das primeiras viagens ex- Raleigh foram os dois primeiros in-
Com a morte de Elizabeth, que ploratórias realizadas por Giovanni gleses a fazer tentativas sérias de
não deixou herdeiros, deu-se a as- Caboto, que atingiu a região do La- colonização nas terras da América
censão da Dinastia Stuart, da Escó- brador, no Canadá, foram iniciadas do Norte, na região da Virgínia. Esta
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área acabou transformando-se em 1682, por Robert de Cavelier de Ia O momento de independência


colônia de exploração, com mais Salle. A ocupação da América do da Holanda coincide com a forma-
quatro outras colônias situadas no Norte pelos franceses resultou em ção da União Ibérica (1580-1640).
sul dos Estados Unidos. Ao contrário choques com os ingleses, como, por Durante esse momento, Filipe II de-
das colônias de povoamento, as exemplo, a Guerra dos Sete Anos cretou uma série de sanções contra
áreas de exploração desenvolveram (1756-1763), travada em duas fren- os holandeses, além da proibição
a grande propriedade escravista tes: uma americana e outra europeia. de continuar comercializando com
voltada para a produção de arroz, Nas Pequenas Antilhas, a ocupa- as colônias espanholas e também
anil, tabaco e algodão, visando à ex- ção francesa deu-se principalmente com o Brasil. Essas sanções geraram
portação para a Europa. com a fundação da Companhia das as Guerras do Açúcar, que redun-
Os rumos que tomaram as Treze Índias Ocidentais por Colbert. Nas ilhas daram na ocupação do Nordeste
Colônias Inglesas, as contradições de Guadalupe, Martinica, São Cristó- brasileiro entre 1639 e 1654.
entre as colônias do Norte e Centro e vão, São Bartolomeu, São Martinho, O declínio holandês começa
as do Sul, o grau de liberdade dessas Santa Lúcia, Santa Cruz e Granada, com os Atos de Navegação, em
colônias fizeram com que, mais tarde, produziam-se tabaco, algodão, açú- 1651, de Oliver Cromwell, quando a
a Inglaterra adotasse uma política car, cacau, café e madeiras tintoriais. Holanda deixa de realizar o comér-
mercantilista mais rígida, provocando Essas regiões foram gradual- cio de matérias-primas e produtos
a reação dos colonos e o processo mente sendo perdidas pela França tropicais para a Europa.
de independência que rompeu o em razão das guerras perdidas para
pacto colonial inglês, na segunda os ingleses. O Tratado de Paris de
1763, assinado após a Guerra dos 4. CRONOLOGIA
metade do século XVIII.
Sete Anos, fez com que os franceses
2. FRANÇA entregassem o Canadá, as Peque- 1337-1453 – Guerra dos Cem Anos.
nas Antilhas e o leste do Rio
1455-85– Guerra das Duas Rosas.
A França iniciou tardiamente seu Mississippi para a Inglaterra.
processo de expansão. Mergulhada 1497 – Realização da primeira
em problemas internos, somente na expedição marítima inglesa por
segunda metade do século XV ini-
ciou as navegações que proporcio- Giovanni Caboto.
naram a formação de seu Império 1508 – Descobrimento da Baía de
Colonial na América.
Hudson por Sebastian Caboto.
As navegações francesas tinham
por objetivo encontrar uma passa- 1534 – Ato de Supremacia, dando
gem a noroeste para a Ásia. Assim origem à Igreja Anglicana.
como os ingleses, os franceses orga- Luís XIV
nizaram sua ação em termos de pira- representou o 1534 – Descoberta da foz do Rio
taria e concessão de cartas de corso apogeu do São Lourenço por Jacques Cartier.
reais contra a frota de países ibéricos Absolutismo
francês. 1581 – Independência da Holanda
ou por meio de ataques a vilas e po-
voados da América Espanhola. em relação à Espanha.
Na primeira metade do século 3. HOLANDA 1585 – Tentativa de colonização
XVI, os franceses organizaram expe-
dições para o Novo Mundo, sendo Até 1581, a Holanda era uma ex- inglesa na Virgínia.
Jacques Cartier o explorador da foz ten são do Império Espanhol. A 1603 – Fundação de Quebec.
do Rio São Lourenço entre 1534 e opressiva política de Filipe II levou
ao início do movimento de indepen- 1620 – Chegada dos puritanos à
1535, região que passou a ser deno-
minada Nova França. dência, que acabou sendo reconhe- América no Mayflower.
Nesse momento, tiveram início cido pela Espanha em 1609.
1627 – Fundação da Companhia
as guerras de religião na França, o Mesmo durante o período em
que deteve, temporariamente, o mo- que esteve subordinada aos espa- de Comércio da Nova França.
vimento de expansão. nhóis, a Holanda desenvolveu-se co- 1630-54 – Ocupação holandesa
No início do século XVII, os fran- mo um Estado capitalista, até mes-
mo com uma burguesia professando no Nordeste brasileiro.
ceses fundam Quebec, no Canadá,
área que se destinou inicialmente à a religião protestante calvinista. 1642 – Fundação de Montreal
exploração agrícola e acabou desen- Em 1602, foi criada a Companhia
pelos jesuítas.
volvendo um lucrativo comércio de das Índias Orientais e, em 1621, a
peles. A partir de então, a ocupação Companhia das Índias Ocidentais, 1673-74 – Descoberta dos Gran-
do atual Canadá tornou-se progressi- por meio das quais os holandeses for- des Lagos pelos jesuítas.
va até a anexação da Luisiana, em taleceram sua política mercantilista.

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MÓDULO 13 Primórdios da Colonização Portuguesa


1. PERÍODO 1534, está vinculada à incapacidade
PRÉ–COLONIAL (1500-30) econômica do Estado português em
financiar diretamente a colonização,
O governo português pouco se pois o monopólio do comércio com
interessou pelo Brasil nos anos que as Índias se tornara deficitário. Por
se seguiram ao descobrimento, uma essa razão, e considerando a premên-
vez que o comércio com as Índias cia de se colonizar o Brasil, D. João
oferecia perspectivas de lucro muito III decidiu dividi-lo em capitanias
mais imediatas. É importante notar hereditárias, para que elas mesmas
que, naquela época, a acumulação fossem colonizadas com recursos
de capitais se fazia principalmente particulares, sem ônus para a Coroa.
O regime de capitanias fora apli-
por meio da circulação de mercadorias
cado com êxito nas ilhas atlânticas
(capitalismo comercial ou acumulação A Carta de Doação, garantindo
(Madeira, Açores, Cabo Verde e São
primitiva de capitais). Todavia, o “aban- a posse da terra e estabelecendo
Tomé). No próprio Brasil, já existia a
dono” do Brasil pela metrópole foi capitania de São João, correspon- as obrigações dos donatários,
apenas relativo, já que a Coroa, além dente ao atual arquipélago de Fer- era uma das bases
de arrendar a exploração do pau- jurídicas do sistema de capitanias.
nando de Noronha.
brasil a um grupo de particulares, O território brasileiro foi dividido
chegou a enviar duas expedições em 14 capitanias (uma delas subdivi- 4. O GOVERNO-GERAL
exploradoras e duas guarda-costas. dida em dois lotes), doadas a doze
donatários. Os limites de cada territó- Reconhecendo o fracasso do
2. INÍCIO DA COLONIZAÇÃO rio, definidos sempre por linhas para- regime de capitanias hereditárias,
lelas iniciadas no litoral, estavam es- D. João III resolveu criar o Governo-
A partir de 1530, Portugal viu-se pecificados na Carta de Doação. Geral. Por meio dessa medida, o mo-
obrigado a mudar de atitude, tendo Este documento estipulava também narca visava centralizar a adminis-
em vista o fracasso do comércio de que a capitania seria hereditária, in- tração colonial, subordinando as
especiarias e a presença constante divisível e inalienável, podendo ser capitanias a um governador-geral
de entrelopos (contrabandistas) fran- readquirida somente pela Coroa. Um que coordenasse e acelerasse o
ceses no litoral brasileiro. Assim, com segundo documento era o Foral, que processo de colonização do Brasil.
o objetivo de proteger sua colônia e regulamentava minuciosamente os Com esse objetivo, elaborou-se em
nela desenvolver a produção açuca- direitos do rei. Na realidade, os dona- 1548 o Regimento do Governador-
reira, o rei D. João III (o Colonizador) tários não recebiam a propriedade Geral no Brasil, que regulamentava
enviou para o Brasil uma primeira ex- das capitanias, mas apenas sua as funções do governador e de seus
pedição colonizadora, sob o co- posse. De qualquer forma, possuíam
principais auxiliares — o ouvidor-mor
amplos poderes administrativos, mili-
mando de Martim Afonso de Sousa. (Justiça), o provedor-mor (Fazenda)
tares e judiciais, sendo responsáveis
Martim Afonso percorreu o litoral e o capitão-mor (Defesa).
unicamente perante o soberano. Tra-
desde o Maranhão até o Rio da O primeiro governador-geral foi
tava-se, portanto, de um regime
Prata, combateu os contrabandistas administrativo descentralizado. Tomé de Sousa, que fundou Salvador,
que encontrou e finalmente, em São Vicente e Pernambuco foram primeira cidade e capital do Brasil.
1532, fundou São Vicente — primeira as únicas capitanias que prospe- Com ele vieram os primeiros jesuítas
vila do Brasil, marco inicial da coloni- raram. O fracasso do projeto como e foi criado o primeiro bispado em
zação portuguesa na América e local um todo decorreu de vários fatores: terras brasileiras. Este último fato é re-
de instalação do primeiro engenho falta de coordenação entre as capita- levante, tendo em vista a importância
de açúcar. A colonização efetiva, po- nias, grande distância da metrópole, da lgreja Católica e sua estreita li-
rém, começaria alguns anos depois, excessiva extensão territorial, ata- gação com o Estado português.
mediante a criação das capitanias ques indígenas, desinteresse de vá- A administração do segundo
hereditárias e a montagem de um rios donatários e, acima de tudo, in- governador-geral, Duarte da Costa,
complexo agroindustrial e comercial suficiência de recursos. apresentou sérios problemas: suble-
com base na produção açucareira. As capitanias hereditárias não vação dos índios na Bahia, conflito
desapareceram com a criação do entre o governador e o bispo e, prin-
3. CAPITANIAS Governo-Geral: elas foram gradual- cipalmente, a invasão francesa do
HEREDITÁRIAS mente readquiridas pela Coroa, até Rio de Janeiro (criação da França An-
serem totalmente extintas, na segun- tártica). Em compensação, o terceiro
A implantação do regime de da metade do século XVIII, pelo mar- governador-geral, Mem de Sá, mos-
capitanias hereditárias no Brasil, em quês de Pombal. trou-se tão eficiente que a metrópole
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o manteve no cargo até sua morte; foi do Brasil Colônia. O controle político longo da colonização, os choques
ele quem conseguiu expulsar os inva- das Câmaras Municipais era exerci- entre os interesses da metrópole e os
sores franceses, graças à atuação de do pelos grandes proprietários lo- da colônia, isto é, entre o centralismo
seu sobrinho Estácio de Sá. cais, os “homens-bons”, o que refor- e o localismo, foram simbolizados,
Depois de Mem de Sá, por duas çava suas posições sociais de man- respectivamente, pelo Governo-Geral
vezes a colônia foi dividida tempora- do. Entre suas competências, desta- e pelas Câmaras Municipais.
riamente em dois governos-gerais: a cavam-se o poder deliberativo sobre
Repartição do Norte, com capital em preços de mercadorias e a fixação 6. O ESTATUTO
Salvador, e a do Sul, com capital no dos valores de alguns tributos. “As JURÍDICO DA COLÔNIA
Rio de Janeiro.
Câmaras de Belém e São Paulo, por
Durante a União Ibérica (domínio
exemplo, procuraram garantir o direi- A base jurídica da colônia estava
espanhol sobre Portugal), o Brasil foi
to de organizar expedições para escra- assentada num estatuto, idêntico ao
transformado em duas colônias distin-
tas: Estado do Brasil (cuja capital era vizar os índios, e as do Rio de Janeiro da metrópole, isto é, seguia as deno-
Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e e Bahia muitas vezes estabeleceram minadas Ordenações Reais, con-
Estado do Maranhão (cuja capital era moratória para as dívidas dos senho- juntos de leis publicadas pelo Estado
São Luís e, depois, Belém). A reuni- res de engenho e combateram os mo- português, que possuíam como ca-
ficação só seria concretizada pelo nopólios comerciais” (Bóris Fausto). racterística a ação centralizadora e
marquês de Pombal, em 1774. As eleições para as Câmaras Mu- absolutista. As primeiras foram as Or-
nicipais eram realizadas entre os “ho- denações Afonsinas (1446), altera-
5. AS CÂMARAS MUNICIPAIS mens-bons”. Elegiam-se três verea- das em 1512 pelas Ordenações Ma-
dores, um procurador, um tesoureiro nuelinas e, em 1603, pelas Ordena-
Além das capitanias e do Gover- e um escrivão, sob a presidência de ções Filipinas. Tinham por inspiração
no-Geral, foram criadas as Câmaras um juiz ordinário (juiz de paz), mais originária o Código Romano e o direi-
Municipais nas vilas e nas cidades tarde substituído pelo juiz de fora. Ao to de Justiniano.

7. CRONOLOGIA 1534 – Implantação do regime de capitanias here-


ditárias.
1501 – Primeira expedição exploradora. 1549 – Tomé de Sousa, primeiro governador-geral;
1503 – Segunda expedição exploradora. fundação da cidade de Salvador.
1504 – Criação da capitania de São João, doada a 1553 – Duarte da Costa, segundo governador-geral.

Fernando de Noronha. 1554 – Fundação de São Paulo.


1555 – Instalação da França Antártica na Baía da
1516 – Primeira expedição guarda-costas.
Guanabara.
1526 – Segunda expedição guarda-costas.
1558 – Mem de Sá, terceiro governador-geral.
1530 – Expedição colonizadora de Martim Afonso de
1565 – Fundação da cidade do Rio de Janeiro.
Sousa. 1567 – Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro.
1532 – Fundação da vila de São Vicente. 1580 – Início da União Ibérica.

MÓDULO 14 Economia e Sociedade Açucareiras e Pecuária

1. INTRODUÇÃO mas e metais preciosos. Consequen- zação das práticas agrícolas rudi-
temente, era complementar, espe- mentares, tais como a queimada ou
Em consequência do tipo de co- cializada, altamente dependente do coivara, que acarretaram um rápido
lonização desenvolvida por Portugal mercado consumidor metropolitano e esgotamento da terra.
no Brasil, uma colônia de exploração, basicamente extrovertida, ou seja, de
encontramos as seguintes caracte- exportação. 2. A GRANDE LAVOURA
rísticas gerais: • Uma economia predatória, isto
• Uma economia integrada no é, altamente desgastante em relação A produção colonial estava ba-
sistema capitalista nascente, forne- aos recursos naturais da colônia. seada na grande propriedade mono-
cendo ao centro dele produtos vege- Essa característica depredadora cultora. O surgimento da grande pro-
tais tropicais, alimentos, matérias-pri- esteve relacionada à própria utili- priedade no Brasil não está apenas
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relacionado à exigência de uma pro- 1530, mas o tráfico negreiro tornou- riqueza e oportunidades. Isto explica
dução de larga escala, objetivando o se mais intenso a partir de 1550, com o número de holandeses, franceses,
lucro pela exportação de produtos a dinamização da agricultura cana- alemães e até mesmo italianos que
tropicais, mas a determinados fato- vieira no Nordeste, Bahia e Rio de Ja- vieram para o Brasil como mercená-
res históricos de origem, como as neiro. Ante o tipo de técnica agrícola rios nas expedições portuguesas.
doações das grandes áreas na forma utilizada pelos negros e mais ade- Porém, não se devem negligen-
de sesmarias (pertencentes a uma quada às exigências da produção co- ciar os brancos fidalgos que vieram
determinada capitania hereditária), à lonial, é dito que um “negro correspon- para o Brasil por vários motivos:
necessidade de ocupação efetiva do dia ao trabalho de quatro indígenas”. porque tinham tido fracassos no Rei-
território e, principalmente, às exigên- Como é sabido, a escravidão negra no, ou porque se endividavam e não
cias criadas pela cana-de-açúcar, prolongou-se até 1888, tendo o tráfico podiam saldar seus compromissos,
produto que foi inicialmente cultivado sido extinto em 1850. Do século XVI até ou ainda porque a expectativa do
no Brasil e se tornou a base da nossa a abolição do tráfico, foram introduzi- Eldorado, que seria o Novo Mundo,
colonização inicial. O referido produ- dos e ficaram no Brasil quase os atraísse.
to, possuindo uma baixa produtivida- 3.500.000 negros, divididos basica-
de por unidade territorial de plantio, mente, em virtude de sua origem, em
não seria lucrativo. Necessariamen- dois grupos: sudaneses e bantos.
te, para sê-lo, teve de ser cultivado
em larga escala de produção. 3. FORMAÇÃO
No Brasil, a grande propriedade SOCIAL DO BRASIL
dominante foi o denominado latifún-
dio (grande propriedade, com utiliza- Além do indígena, cuja história e
ção de muita mão de obra, técnicas cultura já foram aqui estudadas, dois
precárias e baixa produtividade). Em outros elementos humanos foram res-
algumas regiões, como Bahia e Per- ponsáveis pela estruturação social do
nambuco, na época do apogeu da Brasil: o elemento branco, que, ape-
cana-de-açúcar, entre os séculos XVI
sar da origem marginal metropo-
e XVII, desenvolveram-se algumas
litana, participa em grande parte do
grandes propriedades do tipo
processo de dominação; o elemento
plantation, mas não chegaram a ter a
negro, que, atuando como mão de
mesma produtividade que as famo-
obra na estrutura produtiva, re-
sas plantations da região antilhana.
presentou a base da colonização, "o
K A escravidão pilar mais sólido sobre o qual se Pelo mapa do litoral brasileiro, retra-
Outra característica geral foi a erigiu a sociedade brasileira". tando a produção açucareira no século
predominância do trabalho escravo. XVI, percebe-se que Pernambuco
A implantação desse novo escravis- K Os portugueses e Bahia possuíam o maior número
de engenhos produtores de açúcar.
mo está adequada às exigências do Consideram vários autores que a
sistema capitalista nascente e de sua maior parte dos elementos brancos
efetivação na periferia do Sistema vindos para o Brasil na época da co- É evidente que não foi a presen-
Colonial, ou seja, foi fundamental pa- lonização eram degredados, conde- ça desses elementos brancos (e, por-
ra realizar a acumulação de capitais. nados a pagar penas delituosas em tanto, um problema de ordem racial)
A mão de obra escrava, no Brasil, terceira instância de gravidade. De que determinou a forma de coloniza-
abrangeu dois tipos: a indígena (ou fato, os infratores da lei em primeiro e ção do Brasil. A questão foge a essa
escravismo vermelho) e a negra afri- segundo graus eram deportados para falácia ideológica, resolvendo-se
cana. A primeira, apesar de toda a África e somente os de terceiro grau no contexto de uma análise do capi-
uma reação contrária dos padres vinham para o Brasil, o que demons- talismo comercial e de sua resul-
jesuítas, foi praticada até 1758, tra a aspereza da vida na colônia. tante: o sistema colonial tradicional.
quando ocorreu a abolição do escra- Os primeiros brancos deixados A influência do elemento branco
vismo índio em face do decreto pu- em terra por Cabral eram degreda- português no processo da coloniza-
blicado pelo marquês de Pombal. A dos. Martim Afonso de Sousa repetiu ção tem raízes na própria formação
mão de obra escrava negra já era o comportamento de Cabral, deixan- étnica de Portugal, dado que, ao
adotada pelos portugueses nas ilhas do igualmente homens com penas a contrário dos anglo-saxões, os portu-
do Atlântico, sendo, portanto, o trá- cumprir pelos seus crimes. Consta gueses não fizeram nenhuma restri-
fico negreiro preexistente ao desco- que, entre 256 casos de penas de ção à integração com os negros e
brimento do Brasil. (Remonta a, apro- degredo, 87 foram enviados para o índios, o que provocou a proliferação
ximadamente, 1440.) No Brasil, as Brasil. Além dos degredados, vieram de mestiços no Brasil. Além disso, os
primeiras levas de escravos negros também aventureiros europeus acos- portugueses tinham grande capaci-
foram introduzidas na década de tumados a andanças, em busca de dade de adaptação a novas con-

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dições climáticas – resultado talvez te, apoiada em feitorias (meros entre- 7. ATIVIDADES
da própria variação climática da postos para armazenagem do pau- SUBSIDIÁRIAS – PECUÁRIA
Península Ibérica, cujo clima é muito brasil), a extração da madeira verme-
mais seco (tipo africano) que úmido lha não chegou a promover o povoa- É provável que as primeiras
(tipo europeu). mento da colônia e, por outro lado, cabeças de gado bovino tenham
O desenvolvimento cultural do também não conseguiu impedir a sido introduzidas no Brasil, em 1534,
Brasil, nossas instituições, usos e presença de estrangeiros no litoral por D. Ana Pimentel, esposa e procu-
costumes estão profundamente in- brasileiro. radora de Martim Afonso de Sousa.
fluenciados pela cultura portuguesa, Mais tarde, o governador-geral Tomé
praticamente transplantada para o 6. O MUNDO DO AÇÚCAR de Sousa reservou uma de suas
Brasil e modificada ao sabor das caravelas para transportar gado bo-
condições locais. A partir de 1530, em razão da
vino. Como atividade complementar
Outro grupo que pertence à raça queda do comércio com os produtos
à empresa açucareira, o gado forne-
branca e que muito atuou no Brasil das Índias e atendendo à necessida-
ceu alimento, força motriz e meio de
desde os tempos coloniais foram os de de defender sua colônia america-
na, o governo luso decidiu efetivar a transporte. A irradiação das fazen-
judeus. Os judeus portugueses, con- das de gado, a partir de Pernambuco
vertidos ao cristianismo e por isso colonização do Brasil. A base econô-
mica do empreendimento seria a e Bahia, foi particularmente benefi-
chamados de cristãos-novos, vie- ciada pelo êxito da agroindústria do
ram ao Brasil para integrar-se no se- produção de gêneros tropicais, vi-
sando à demanda externa. O produ- açúcar; pelas proibições metropolita-
tor comercial do açúcar. Aqui, foram
to escolhido foi o açúcar, que era de nas de criar gado na faixa litorânea;
pouco perseguidos pelos Tribunais
grande aceitação na Europa e que pela existência, no interior, de terras
da Inquisição. As visitações do Santo
os portugueses já vinham produzin- desocupadas, de vias fluviais, “lam-
Ofício ao Brasil consideravam muito
do nas ilhas do Atlântico (Açores, bedouros” (sal-gema) e vegetação fa-
levemente seus deslizes religiosos
Madeira e Cabo Verde). No Brasil, as vorável. Nas grandes fazendas de
(ao contrário do Santo Ofício na
condições climáticas e o tipo de solo gado, foi utilizado o trabalho escravo
Península Ibérica). Muitos deles
(massapê, em Pernambuco) favore- africano e, nas demais, a mão de obra
integraram-se no setor da produção
de açúcar, até mesmo por meio de ceram a lavoura canavieira. De gran- livre do elemento indígena.
casamento com as melhores de importância foi a participação fla-
famílias fidalgas vindas do Reino. menga no financiamento, transporte,
refinação e principalmente na comer-
4. A ESPECIALIZAÇÃO cialização do açúcar. Aliás, foram os
holandeses que mais lucraram com a
A última característica geral da produção açucareira do Brasil.
nossa economia foi o fato de ela ter Como parte do Sistema Colonial
sido caracterizada por períodos ou Tradicional (ou Antigo Sistema Colo-
fases, nos quais sobressai um “pro- nial), o Brasil produziu açúcar em
duto-rei ou chave”. Tais períodos larga escala, apoiando-se em três
econômicos, apesar de terem sido elementos: mão de obra escrava,
chamados de ciclos econômicos, na latifúndio e monocultura. A agroin-
realidade não se configuram precisa- dústria do açúcar no Nordeste levou
mente como tais, na medida em que o Brasil à posição de maior produtor
são fases estanques com predomi- mundial em meados do século XVII,
nância de um produto básico para graças à associação de interesses 8. LAVOURA DE
exportação. É nesse tocante que se luso-flamengos. Todavia, com o es- SUBSISTÊNCIA
assemelham a um ciclo econômico. tabelecimento do domínio espanhol
sobre Por tugal (1580-1640) e a Como a pecuária, a lavoura de
5. PAU-BRASIL situação de guerra vigente entre Es- subsistência foi uma projeção da em-
Durante o Período Pré-Colonial panha e Holanda, aquela associação presa agrícola canavieira, fornecen-
(1500-30), o extrativismo vegetal de foi rompida e os holandeses invadi- do alimento para a população dos
pau-brasil constituiu o único objetivo ram o Brasil em 1624-25 e 1630-54. engenhos. Essa atividade foi estimu-
de Portugal no Brasil. Essa explora- Expulsos, passaram a cultivar lada pela metrópole e praticada por
ção era um monopólio da Coroa (es- cana-de-açúcar nas Antilhas. Assim, escravos, o que justifica o desinte-
tanco), que o arrendava a particula- na segunda metade do século XVII, o resse dos fazendeiros e as crises de
res: estes utilizavam mão de obra in- Brasil perdeu a hegemonia na fome no Período Colonial. A man-
dígena, remunerando-a com bugi- produção mundial de açúcar — fato dioca, o milho e o feijão, culturas de
gangas. Em se tratando de uma ativi- que assinalou a decadência econô- origem indígena, foram as espécies
dade predatória e, portanto, itineran- mica do Nordeste. que se desenvolveram na colônia.
128 –
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9. CRONOLOGIA 1535 – Primeiro engenho de açú- o plantio paralelo da mandioca.


car em Olinda. 1642 – Decreto do monopólio do
1502 – Contrato entre a Coroa 1538 – Chegada ao Brasil dos pri- tabaco em favor da Coroa.
portuguesa e Fernando de Noronha meiros escravos africanos. 1649 – Criação da Companhia
para a exploração comercial de 1568 – Início do tráfico regular de Geral de Comércio do Brasil.
pau-brasil e escravos. escravos negros para o Nordeste do 1652 – Apogeu das exportações
1533 – Fundação do Engenho do Brasil. de açúcar no Período Colonial.
Governador ou dos Erasmos, em São 1614 – Estabelecimento da primei- 1655 – Proibição da extração de
Vicente, por Martim Afonso de Sousa. ra feira de gado na Bahia. sal em qualquer parte do Brasil.
1534 – Introdução do gado na 1640 – Edital de Maurício de Nassau 1682 – Criação da Companhia Geral
capitania de São Vicente. proibindo a produção do açúcar sem de Comércio do Estado do Maranhão.

MÓDULO 15 Invasões no Brasil Colonial

1. UNIÃO seus conterrâneos, Jacques Rifaut e nuou. Assim que Filipe ll assumiu o
IBÉRICA (1580-1640) Charles des Vaux, que haviam chega- trono luso, proibiu o comércio açuca-
do ao Maranhão em 1594, vítimas de reiro luso-flamengo. O embargo de
Em 1578, o jovem rei D. Sebas- um naufrágio. Essa nova colônia fran- navios holandeses em Lisboa provo-
tião I morreu lutando contra os mou- cesa teve duração efêmera. Em 1615, cou a criação de companhias privile-
ros, em Alcácer Quebir, no norte da sob o comando de Jerônimo de Albu- giadas de comércio. Entre 1609 e
África, desencadeando uma crise su- querque, Diogo Moreno e Alexandre 1621, houve uma trégua, que
cessória. O trono luso ficou com seu de Moura, os portugueses eliminaram permitiu a normalização temporária
tio-avô, o cardeal D. Henrique, que a França equinocial.
morreu em 1580, extinguindo-se a Di- do comércio entre Brasil-Portugal e
nastia de Avis. O parente mais próxi- K Ataques ingleses Holanda. Em 1621, ter minada a
mo e com direitos à Coroa portugue- No final do século XVI, além trégua, os holandeses fundaram a
sa era Filipe II, rei da Espanha, per- dos franceses, devem-se mencionar Companhia de Comércio das Índias
tencente à Casa Real de Habsburgo, os ataques de corsários ingleses, Ocidentais, cujo alvo era o Brasil.
que ordenou ao duque de Alba a in- objetivando o saque puro e simples. Começava a Guerra do Açúcar.
vasão de Portugal. Este rei contou Em 1583, Edward Fenton entrou em A primeira invasão foi na Bahia,
com o apoio da nobreza e da bur- Santos, sendo repelido em seguida. realizada por três mil e trezentos sol-
guesia portuguesas, oferecendo fa- Mais tarde, outro pirata inglês, dados. Salvador foi ocupada sem
vores e riquezas do Império colonial Thomas Cavendish, ocupou Santos muita resistência. O governador Dio-
espanhol da América. Apesar do do- no Natal, repetindo a façanha em go de Mendonça Furtado foi preso e
mínio espanhol em Portugal, este man- 1592. Anteriormente, o ataque co- a cidade, saqueada. A população fu-
teve sua autonomia administrativa, mandado por Withrington e Lister em giu para o interior, onde a resistência
mas foi atingido por uma grande de- Salvador havia fracassado. foi organizada pelo bispo D. Marcos
cadência econômica. Outro desdo- Teixeira e por Matias de Albuquer-
bramento foi o fechamento dos por- K Invasões holandesas que. Nessa conjuntura, os baianos
tos ibéricos aos navios flamengos, As invasões holandesas na pri- receberam a ajuda de uma esquadra
até mesmo nas colônias, boicotando meira metade do século XVII estão luso-espanhola (“Jornada dos Vassa-
desta forma o comércio açucareiro. O associadas à União Ibérica. Afinal, los”) e, em maio de 1625, os holan-
boicote e o confisco dos navios fla- antes do domínio dos Habsburgos, deses foram expulsos.
mengos acarretaram as invasões as relações comerciais e financeiras A segunda invasão holandesa no
holandesas no Brasil e nas feitorias entre Portugal e Holanda eram inten- Nordeste foi dirigida contra Pernam-
de escravos da África. sas. Entretanto, pouco antes de Filipe buco, uma capitania rica em açúcar
ll tornar-se rei de Portugal, os Países e pouco protegida. Olinda e Recife
2. INVASÕES NO
Baixos iniciaram violenta guerra de foram ocupadas e saqueadas. A re-
PERÍODO FILIPINO
independência, tentando libertar-se sistência foi comandada por Matias
K A França equinocial do jugo espanhol. Iniciada em 1568, de Albuquerque, a partir do Arraial
(1612-1615) essa guerra de libertação culminou do Bom Jesus, e durante alguns
Em 1612, Daniel de Ia Touche, se- com a União de Utrecht, sob a chefia anos impediu que os invasores am-
nhor de La Ravardière, fundou a Fran- de Guilherme de Orange. Em 1581, pliassem sua área de dominação.
ça equinocial, aproveitando os pri- nasciam as Províncias Unidas dos Mas a “traição” de Domingos
meiros contatos estabelecidos por Países Baixos, mas a guerra conti- Calabar alterou a situação.
– 129
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Entre 1637 e 1644, o Brasil holan- dinamizou a economia canavieira. Atos de Navegação de Oliver
dês foi governado pelo conde Maurí- Sua política granjeou-lhe o apoio da Cromwell, levaram os holandeses à
cio de Nassau-Siegen, que expandiu aristocracia local, mas entrou em Capitulação da Campina do Taborda.
o domínio holandês do Nordeste até choque com os objetivos da Compa- Expulsos do Brasil, os holandeses fo-
o Maranhão e conquistou Angola (for- nhia das Índias Ocidentais. Em 1644, ram desenvolver a produção de açú-
necedora de escravos). Porém, em Nassau demitiu-se. Nesse ínterim, os car nas Antilhas, contribuindo para a
1638, fracassou ao tentar conquistar próprios brasileiros organizaram a crise do complexo açucareiro nor-
a Bahia. Quando Portugal restaurou luta contra os flamengos, com a ln- destino. Mais tarde, Portugal e
sua independência e assinou a Tré- surreição Pernambucana. Os líderes Holanda firmaram o Tratado de Paz
gua dos Dez Anos com a Holanda, foram André Vidal de Negreiros, João de Haia (1661), graças à mediação
Nassau continuou administrando o Fernandes Vieira, Henrique Dias inglesa. Segundo tal tratado, a Ho-
Brasil holandês de forma exemplar. (negro) e o índio Filipe Camarão. Em landa recebia uma indenização de 4
Urbanizou Recife, fundou um zooló- 1648 e 1649, as duas batalhas de milhões de cruzados e a cessão pe-
gico, um observatório astronômico e Guararapes foram vitórias dos na- los portugueses das ilhas Molucas e
uma biblioteca, construiu jardins e tivos. Em 1652, o apoio oficial de Por- do Ceilão, recebendo ainda o direito
palácios e promoveu a vinda de ar- tugal e as lutas dos holandeses na de comerciar com maior liberdade
tistas e cientistas para o Brasil. Além Europa contra os ingleses, em decor- nas possessões portuguesas, em ra-
disso, adotou a tolerância religiosa e rência dos prejuízos causados pelos zão da perda do Brasil holandês.

3. CRONOLOGIA 1621 – Criação da Companhia 1649 – Criação da Companhia


Holandesa das Índias Ocidentais. Geral de Comércio do Brasil.
1578 – Morte do rei D. Sebastião
1624 – Invasão holandesa na Bahia. 1651 – Fim da Trégua dos Dez
na Batalha de Alcácer Quebir, na
África. 1630 – Invasão holandesa em Per- Anos entre Portugal e Holanda.
1580 – Morte do cardeal-rei D. Hen- nambuco. 1654 – Expulsão dos holandeses
rique; extinção da Dinastia de Avis e 1637 – Início do governo de Nassau; do Brasil.
início da União lbérica (Domínio Pedro Teixeira sobe o Rio Amazonas 1606 – Destruição das reduções
Filipino). até Quito. do Guairá por Manuel Preto e Antônio
1588 – Derrota da “Invencível Ar- Raposo Tavares.
1640 – Fim da União Ibérica (Res-
mada”. 1612 – Fundação da França equi-
1591 – Thomas Cavendish saqueia tauração Portuguesa); expulsão dos
jesuítas de São Paulo. nocial.
Santos e São Vicente.
1595 – James Lancaster saqueia o 1645 – lnício da lnsurreição Per- 1602 – Criação da Companhia
Recife. nambucana contra os holandeses. Holandesa das Índias Orientais.

MÓDULO 16 Expansão Territorial e Tratados de Limites

1. BANDEIRISMO K O ciclo da caça ao índio açucareiro, também conquistaram


Inicialmente, a caça ao índio feitorias de escravos negros na
As bandeiras, tradicionalmente (preação) foi uma forma de suprir a África, aumentando a escassez de
definidas como expedições particu- carência de mão de obra para a escravos africanos no Brasil.
lares, em oposição às entradas, de prestação de serviços domésticos
aos próprios paulistas. Logo, porém, K O ciclo do
caráter oficial, contribuíram, decisi- bandeirismo de contrato
vamente, para a expansão territorial transformou-se em atividade lucrati-
va, destinada a complementar as ne- A ação de bandeirantes paulis-
do Brasil Colônia. A pobreza de São tas contratados pelo gover nador-
cessidades de braços escravos,
Paulo, decorrente do fracasso da la- geral ou por senhores de engenho do
bem como para a triticultura paulista.
voura canavieira no século XVl, a Nordeste, com o objetivo de comba-
Na primeira metade do século XVII,
possibilidade da existência de metais os vicentinos realizaram incursões, ter índios inimigos e destruir quilom-
preciosos no interior e, particular- principalmente contra as reduções bos, corresponde a uma fase do ban-
mente, a necessidade de mão de jesuíticas espanholas, resultando na deirismo na segunda metade do sé-
obra para o açúcar nordestino, du- destruição de várias missões, como culo XVII. O principal acontecimento
rante a União Ibérica, levaram os as do Guairá, Itatim e Tape, por An- desse ciclo de bandeiras foi a des-
paulistas a organizar a caça ao índio, tônio Raposo Tavares. Nesse perío- truição de um conjunto de quilombos
o bandeirismo de contrato e a pes- do, os holandeses, que haviam situados no Nordeste açucareiro, co-
quisa mineral. ocupado uma par te do Nordeste nhecido genericamente como Palma-

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res, destacando-se nesse episódio o Inglaterra no Atlântico Sul (William Os poucos colonos da Paraíba,
bandeirante paulista Domingos Hawkins): um comércio regular esta- depois de manter boas relações com
Jorge Velho. beleceu-se com as regiões da África os índios do interior, acabaram rom-
Ocidental e do Nordeste do Brasil; pendo com eles; os franceses enten-
K Grande ciclo do era um comércio ilícito que se desen- diam-se, no entanto, com os índios do
ouro e dos diamantes volveu diretamente com os índios, mas litoral, com quem traficavam.
Inicialmente, os vicentinos dedi- de pequena monta. Posteriormente, • Alguns navios espanhóis,
caram-se ao chamado ouro de lava- os ingleses operaram associando-se embarcações portuguesas e forças
gem, localizado nos arredores de pernambucanas que seguiam por
a comerciantes portugueses.
São Paulo e em Iguape, Paranaguá, terra empreenderam a conquista da
As incursões armadas dos ingle-
Curitiba e Santa Catarina. Entre- Paraíba em 1584, tendo como conse-
ses constituíram episódios de luta
tanto, a atua ção das bandeiras quência a fundação da terceira ci-
pelo comércio livre, contra o mono-
paulistas, em busca das minas e
pólio (Pacto Colonial) que os países dade do Brasil, Filipeia.
dos metais preciosos, foi estimulada
ibéricos estabeleceram em relação às • A conquista do Rio Grande do
pela crise da lavoura canavieira e
suas colônias. Até a União das Co- Norte: era o último reduto francês, cu-
pela Coroa portuguesa no final do
roas Peninsulares, o porto de Lisboa jos elementos estavam profundamente
século XVII. Nessa época, foi
fora o grande empório comercial da ligados aos indígenas potiguares, até
descoberto ouro em Minas Gerais
Europa com referência aos produtos mesmo pelo cruzamento racial.
por Antônio Rodrigues Arzão. Com
coloniais, posteriormente distribuídos Os franceses foram expulsos
isso, iniciaram-se a ocupação e o
pelos navios mercantes holandeses e após a derrota de 1597, fundando-se
povoamento na área mi ne ra dora
ingleses. Mas as proibições dos reis nesse mesmo ano o Forte dos Reis
dos atuais Estados de Minas Gerais,
Mato Grosso e Goiás. espanhóis, após 1580, a qualquer Magos (atualmente Natal), que se tor-
comércio que não fosse português ou nou o núcleo de ocupação da região.
espanhol alteraram, qualitativamen- • A conquista do Ceará: a costa
2. A EXPANSÃO OFICIAL
te, a situação. era frequentada por franceses. A ten-
Os ingleses limitavam-se a assal- tativa de Pero Coelho falhou, pois apre-
Entende-se por expansão territo-
rial oficial o processo de anexação e tos de piratas e corsários, embora as sou índios tabajaras e potiguares,
ocupação de vastíssimas áreas pro- primeiras tentativas estivessem liga- levando-os para o trabalho forçado
movido pela Metrópole. das às pretensões do candidato ao nos engenhos da Paraíba e Pernam-
O ponto de partida dessa expan- trono Prior do Crato, apoiadas pela buco. Ao voltar para o Ceará em
são oficial foi a luta contra os france- Inglaterra e França. 1606, teve de retirar-se em péssimas
ses na época da fundação da França Em 1583, dois galeões de guerra,
condições.
Antártica (1555/1567). Contudo, a fa- sob o comando de Eduardo Fenton,
A conquista definitiva do Ceará
se mais importante de ampliação ter- entraram em Santos, alegando a
foi realizada por Martim Soares More-
ritorial coordenada pela Metrópole morte de Filipe II e a posse de D. An-
no, iniciando o povoamento em 1611.
ocorreu durante o Domínio Filipino tônio, Prior do Crato. Mas nada con-
• A conquista do Grão-Pará:
(1580/1640). seguiram dos vicentinos, e naus espa-
Alexandre de Moura encarregou
Durante o século XVI e início do nholas puseram um galeão a pique.
Francisco Caldeira de Castelo Bran-
século XVII, a competição entre as Entretanto, no Natal de 1581, co do acossamento de um ponto
metrópoles europeias para a aquisi- Thomas Cavendish, comandan-
ção de colônias no Novo Mundo, par- do três de seus navios, tomou
ticularmente aquelas nações margi- Santos de surpresa e a saqueou.
nalizadas pelo Tratado de Tordesi- Em 1595, nova expedição
lhas, resultaria na tentativa de ocupa- encaminhou-se contra Recife,
ção de território na América, e o Bra- sob o comando de James
sil tornou-se um dos principais alvos, Lancaster, resultando em êxito
durante o longo período de domina- total.
ção espanhola. Temendo a perda de
parte da Colônia, a Coroa viu-se obri- K Conquista das
gada a expulsar os invasores e criar regiões
núcleos de povoamento nas regiões setentrionais
atingidas. • A conquista da
Paraíba: ao tempo da “União
K Luta contra os ingleses Peninsular”, o povoamento Indicações das principais bandeiras
O ano de 1530 marca a entrada apenas alcançava as capita- no período de colônia, indicando a
de comerciantes e navegadores da nias hereditárias de Itamaracá. ultrapassagem da linha de Tordesilhas.
– 131
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vizinho da foz do Amazonas. A 3. OS TRATADOS portuguesa sobre todos os territórios


fundação do Forte do Presépio em DE LIMITES NO SUL da América ocupados por colonos
1616, origem de Nossa Senhora do do Reino), foi de extrema importância
Belém, foi o resultado obtido com a A expansão territorial do Brasil para a conquista de um território três
expedição marítima comandada por atingiu seu ponto alto nos séculos vezes maior do que aquele fixado
Caldeira de Castelo Branco. XVII e XVIII, com a ocupação de ter- pelo Tratado de Tordesilhas. Contu-
• A conquista da Amazônia: a ritórios que pertenciam à Espanha. do, a condição exigida pelos espa-
foz do Amazonas estava ocupada por Esse fato iria repercutir nas relações nhóis para aceitarem o princípio do
holandeses e ingleses. Montaram fei- diplomáticas dos dois países ibéri- uti possidetis foi o domínio da Colô-
torias e pequenos estabelecimentos cos, dando origem a uma série de nia do Sacramento. Mas, em troca, a
militares. O comércio que se estabele- tratados de limites. Espanha cedeu o território dos Sete
ceu compreendia a produção extraí- A separação dos domínios ibéri- Povos das Missões.
da da floresta. cos na América havia sido estabele-
Muitas foram as lutas dos colonos cida em 1494 com a assinatura do
contra os indígenas na região, desta- Tratado de Tordesilhas. Entretanto, o
cando-se Pedro Teixeira. Na ver- Meridiano de Tordesilhas tornou-se
dade, a devastação da Amazônia é inoperante durante o Domínio Filipi-
resultado da atividade das “tropas de no, permitindo as penetrações portu-
resgate”, expedição de apresamento guesas em regiões muito além dos
de índios, que subiam os rios em ca- limites fixados por Tordesilhas.
noas, sob a alegação de “guerra Com a restauração da Monarquia
justa” que, na verdade, era delibera- portuguesa em 1640, o problema de
damente provocada. A posse da limites dos domínios ibéricos volta a
maior parte da Bacia Amazônica existir. Até 1750, tanto portugueses
deve-se às lutas contra os quanto espanhóis procuraram ocu-
estrangeiros, às tropas de resgate e par terras em direção à região domi-
nada pelo outro. Já no século XVII, Sete Povos das Missões e Sacramento
às missões de religiosos. Finalmente, foram as principais áreas de litígio
para garantir os domínios portugue-
em 1637, é enviada uma expedição dos tratados ibéricos posteriores a 1640.
ses na América e evitar penetrações
comandada por Pedro Teixeira a fim
espanholas nas terras brasileiras,
de tomar posse, para Portugal, da As demarcações do Tratado de
Portugal fundou, em 1680, a Colônia
maior extensão de terras que fosse Madri foram aceitas quase em sua
do Sacramento. Em 1681, era assina-
possível, o que contrariava as dispo- totalidade, exceto pelos jesuítas da
do o primeiro tratado diplomático en-
sições do Tratado de Tordesilhas, Região dos Sete Povos. Quando as
tre Portugal e Espanha a respeito da
abandonado desde 1637 pelo pró- tropas de demarcação se aproxima-
Colônia do Sacramento.
prio rei Filipe IV, ao criar a capitania ram, os índios guaranis, insuflados pe-
No século XVIII, eclodiu na Es-
hereditária do Cabo Norte (Amapá) los missionários, repeliram-nas vio-
panha a Guerra de Sucessão: dispu-
para um português. lentamente. Foi a Guerra Guaranítica.
tavam o trono espanhol o duque de
Anjou e o arquiduque Carlos de Em decorrência desse fato, foi assi-
K A fundação da Habsburgo, que contava com o nado, em 1761, o Tratado ou Convê-
Colônia do Sacramento apoio da Inglaterra, do Sacro Império nio do Pardo, que anulava a cláusula
Este acontecimento está direta- e da Holanda. Portugal, durante a do tratado anterior referente ao Sul.
mente vinculado à importância co- guerra, manteve-se neutro. Terminada Com a ascensão de D. Maria I ao
mercial da região: por um lado, a ve- esta, reconheceu seu vencedor, o trono, portugueses e espanhóis
lha ideia dos portugueses de duque de Anjou, como rei da Espa- resolveram retomar as discussões
expandir a colonização até a região nha, com o nome de Filipe V. O sobre as fronteiras na região platina.
do Prata e, por outro, o interesse eco- resultado foi a assinatura do Tratado Em 1777, foi assinado o Tratado de
nômico da Inglaterra visando criar de Utrecht (1715) entre os dois paí- Santo Ildefonso, que outorgava à
uma “ponta de lança” para o contra- ses. A Espanha reconhecia, definiti- Espanha direitos de soberania sobre
bando na região platina, o que pos- vamente, a permanência dos portu- a Colônia do Sacramento e a Região
sibilitaria a hegemonia comercial bri- gueses na Colônia do Sacramento. dos Sete Povos das Missões. Mesmo
tânica em territórios hispano-ameri- Porém, os atritos na região platina após a assinatura do Tratado de
canos. Efetivamente, a Colônia é fun- entre portugueses e espanhóis conti- 1777, colonos brasileiros permane-
dada em 1680 por D. Manuel Lobo, a nuaram. Em 1750, foi celebrado o ceram na Região dos Sete Povos e
serviço de Portugal, o que acabou Tratado de Madri. A atuação do bri- sua presença ocasionou a assinatura
acarretando profundos debates di- lhante diplomata luso-brasileiro Ale- do Tratado de Badajós (1801).
plomáticos que se estenderam até o xandre de Gusmão, defendendo o O território dos Sete Povos seria
princípio do século XIX. princípio do uti possidetis (soberania incorporado aos domínios lusitanos.
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4. CRONOLOGIA jesuíticas de Guairá por Manuel Preto 1649 – Criação da Companhia


e Antônio Raposo Tavares. Geral de Comércio do Brasil.
1578 – Morte do rei D. Sebastião na 1612 – Fundação da França 1651 – Fim da Trégua dos Dez
batalha de Alcácer Quebir, no Marro- equinocial. Anos com a Holanda.
cos. 1621 – Criação da Companhia Ho- 1654 – Expulsão dos holandeses
1580 – Morte do cardeal-rei D. Hen- landesa das Índias Ocidentais. do Brasil.
rique; extinção da Dinastia de Avis e 1624 – Invasão holandesa na Bahia. 1693 – Descoberta de ouro em
início da União Ibérica (Domínio Fili- 1630 – Invasão holandesa em
Minas Gerais pelo paulista Antônio
pino). Pernambuco.
Rodrigues Arzão.
1588 – Derrota da “Invencível Ar- 1637 – Início do governo de
1695 – Destruição final do Quilom-
mada”. Nassau; Pedro Teixeira sobe o Rio
bo dos Palmares por expedição de
1591 – Thomas Cavendish saqueia Amazonas até Quito.
Santos e São Vicente. 1640 – Fim da União Ibérica (Res- Domingos Jorge Velho.
1595 – James Lancaster saqueia o tauração Portuguesa). 1715 – Tratado de Utrecht.
Recife. 1642 – Criação do Conselho Ultra- 1750 – Tratado de Madri.
1602 – Criação da Companhia marino. 1761 – Convênio de El Pardo.
Holandesa das Índias Orientais. 1645 – Início da Insurreição Per- 1777 – Tratado de Santo Ildefonso.
1606 – Destruição das reduções nambucana. 1801 – Tratado de Badajós.

MÓDULO 17 Restauração e Movimentos Nativistas

1. CARACTERIZAÇÃO GERAL cas locais ou regionais, que atua co- te com os franceses. Na realidade, nes-
mo elemento causal. se acontecimento já havia indícios da
Trata-se de movimentos políticos Na Aclamação de Amador rivalidade entre Olinda e Recife.
caracterizados pela repulsa aos abu- Bueno da Ribeira, em março de
sos do fiscalismo português, que pro- 1641, como “rei de São Paulo”, houve
vinham do próprio enrijecimento do uma divergência entre clãs locais
Pacto Colonial e ocorreram entre mea- (Garcia-Pires, “portugueses”, e Ca-
dos do século XVII e princípios do XVIII. margos, “espanhóis”) ante a notícia
Tais movimentos não constituí- da Restauração em Portugal. Este fa-
ram uma contestação ao domínio to fora interpretado como uma amea-
português como um todo. Eclodiram ça aos interesses “espanhóis” na re-
revoltas ou conflitos regionais contra gião. Mais tarde, evidenciou-se a ten-
aspectos isolados do colonialismo, são entre jesuítas e bandeirantes, em
principalmente após 1640, quando a virtude da escravidão indígena, ocor-
“relativa harmonia” entre os interes- rendo então a Botada dos Padres
ses da aristocracia rural local e os da para Fora, por parte dos colonos de
Metrópole foi-se rompendo, à medida São Paulo. Este episódio repetir-se-ia
que endurecia a política portuguesa. no Pará e, em 1684, no Maranhão.
A Insurreição Pernambucana (1645- Na Revolta do Rio de Janei-
54) contribuiu para o advento desses ro (1660-61), o movimento ocorreu
movimentos, visto que durante essa re- em razão de forte política fiscalista Na Revolta de Beckman, no
volta houve divergência entre os inte- aplicada pelo governador português Maranhão, em 1684, mais uma vez
resses dos colonos e os objetivos da Salvador Correia de Sá e Benevides. ficou evidente a divergência de inte-
Metrópole. Por essa razão, os movimen- Seu líder foi Jerônimo Barbalho, que, resses entre os colonos locais, re-
tos nativistas estão menos relacionados após ter deposto o governador por presentados pelos irmãos Beckman
com um ideal emancipacionista, ligan- causa da decretação de novos tri- (Manuel e Tomás), e a Companhia
do-se mais a um sentimento de defesa butos, foi preso e executado. Na Re- Geral de Comércio do Estado do
de interesses locais ou regionais. volta de Nosso Pai, em Pernam- Maranhão, que detinha o monopólio
buco (1664-65), também houve uma do comércio e da introdução de es-
2. PRINCIPAIS MOVIMENTOS rebelião local contra o governador cravos africanos. A rebelião ocorreu
português Jerônimo de Mendonça contra os abusos da Companhia de
Cada movimento nativista possui Furtado, alcunhado “Xumberga”, acu- Comércio, que não cumpriu os
um fator específico, de característi- sado de corrupção e de ser coniven- acordos feitos com os colonos, e

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contra a Companhia de Jesus, que Em 1720, novamente na região buco, cuja causa geral básica foi a ri-
se opunha à escravidão indígena. de Minas Gerais, em Vila Rica, ocor- validade entre os senhores de enge
Outro movimento nativista foi a reu a Revolta de Felipe dos San- nho de Olinda e os comerciantes
Guerra dos Emboabas, em Minas tos, outra rebelião contra os abusos portugueses do Recife, apelidados
Gerais (1708-09), com a rivalidade do fiscalismo português, caracteriza- de “mascates”. Estes últimos eram
entre os paulistas e os “emboabas” dos pela elevação dos impostos de- apoiados pelo governador Sebastião
forasteiros, principalmente portu- cretada pelo governador Conde de de Castro Caldas. O conflito irrom-
gueses, que acabavam sendo prote- Assumar. A revolta dos mineradores peu quando Recife foi elevado à ca-
gidos pelo órgão do governo reivindicava a redução dos impostos, tegoria de vila, o que favorecia o gru-
colonial, pois recebiam o monopólio a abolição dos monopólios exercidos po português. Ao terminar o movi-
de diversos ramos comerciais. O pelos portugueses e a extinção das mento, em 1712, Recife passava a
movimento eclodiu em face de diver- Casas de Fundição. ser cidade e capital de Pernambuco,
sos incidentes, nos quais sempre Um dos mais famosos movimen- o que acentuou ainda mais a rivali-
havia de um lado elementos paulis- tos nativistas foi a Guerra dos dade da aristocracia pernambucana
tas e do outro os emboabas. Mascates (1710-12), em Pernam- contra os portugueses.

3. CRONOLOGIA no como “rei de São Paulo”.


1708 – Guerra dos Emboabas.
1645 – Insurreição Pernambucana.
1710 – Guerra dos Mascates.
1580-1640 – União Ibérica. 1660 – Revolta do Rio de Janeiro.
1640 – Restauração Portuguesa. 1720 – Revolta de Felipe dos San-
1664 – Revolta de Nosso Pai.
1641 – Aclamação de Amador Bue- tos.
1684 – Revolta de Beckman.

MÓDULO 18 Economia Mineradora


1. INTRODUÇÃO as jazidas se esgotaram rapidamente. dia. Aberta inicialmente a quaisquer
O primeiro imposto a ser cobrado particulares, a exploração diamantí-
O ouro desempenhou um impor- sobre o ouro foi o tradicional quinto, fera passou para o regime de contra-
tante papel na economia da Idade substituído mais tarde pela capitação tação (arrendamento concedido pela
Moderna, pois o mercantilismo era (imposto cobrado sobre o número de Coroa), substituído mais tarde pela
fundamentalmente metalista, isto é, escravos empregados na mineração) Real Extração. A área de ocorrência
considerava os metais preciosos e, finalmente, pela finta (cobrança do dos diamantes veio a constituir o Dis-
amoedáveis (ouro e prata) a base da quinto com base em uma estimativa trito Diamantino, submetido a uma
riqueza de um país. da produção aurífera de Minas Ge- administração especial.
No Brasil, a extração regular de rais). O atraso no pagamento da finta A formação social da mineração,
ouro teve início no século XVIII, visto fez com que a Metrópole instituísse a embora também tivesse base escra-
que a descoberta das primeiras gran- derrama; esta consistia na cobrança vista, diferenciava-se da sociedade
des jazidas só se verificou no final do forçada dos quintos atrasados, apli- do açúcar sob vários aspectos: era
século anterior. Entretanto, já em fins cada compulsoriamente a todos os essencialmente urbana, apresentava
do século XVI, fora explorado na colonos – mesmo àqueles que não mobilidade, possuía maior poder
capitania de São Vicente, o chamado estivessem ligados diretamente à ati- aquisitivo, contava com uma signifi-
ouro de lavagem, cuja baixa rentabi- vidade mineradora. cativa camada intermediária e sua eli-
lidade logo o fez ser abandonado. Em razão da crescente depen- te era intelectualmente mais evoluída
dência econômica lusa em relação à que a aristocracia rural tradicional.
2. A IDADE DO Inglaterra a partir da Restauração A mineração trouxe importantes
OURO NO BRASIL Portuguesa de 1640, o ouro brasileiro consequências para o Brasil Colônia:
acabou sendo canalizado para Lon- interiorização do povoamento, ex-
O grande centro minerador do dres, sem ter contribuído para a pansão territorial, deslocamento do
Brasil Colônia foi Minas Gerais, mas prosperidade de Portugal. eixo econômico do Nordeste para o
houve também duas outras áreas im- No decorrer do século XVIII, o Centro-Sul, transferência da capital
portantes: Mato Grosso e Goiás. Co- Brasil tornou-se também produtor de para o Rio de Janeiro e florescimento
mo o ouro explorado era de origem diamantes, valorizadíssimos, porque cultural em Minas Gerais.
aluvional – e, portanto, superficial –, até então só eram encontrados na Ín-
134 –
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3. CRONOLOGIA
1733– Demarcação do Distrito Diamantino.
1693– Descoberta do ouro em Minas Gerais por 1735– Substituição do quinto pela capitação.
Antônio Rodrigues. 1740– Instituição do regime de contratação de
1700– Descoberta das minas em Sabará por Borba diamantes.
Gato. 1751 – Fim da capitação e restabelecimento do quinto,
1719 – Descoberta de ouro em Cuiabá; criação das cobrado pelo regime de fintas (cobranças por estimativa).
casas de fundição. 1765– Instituição da derrama.
1725– Descoberta de ouro em Goiás. 1771– Criação da Real Extração de Diamantes.
1729– Descoberta de diamantes em Minas Gerais.

MÓDULO 19 Ilustração e Reformas Pombalinas


1. INTRODUÇÃO pios do pensamento ilustrado, pro- reza, assim também as relações
movendo reformas no Estado absolu- entre os homens eram reguladas por
No início do século XVIII, en- tista. Na França, berço dos filósofos leis naturais. O meio no qual o homem
quanto as práticas despóticas do modernos, o agravamento da crise vivia era responsável pelo fato de ha-
abso lu tismo continuavam sendo do Antigo Regime e a inexistência de ver diferenças sociais.
aplicadas na Europa, a Revolução reformas resultaram na mais violenta A modificação da sociedade se
Indus trial e suas transformações das revoluções burguesas: a Revolu- impunha e, para atingiIa, era neces-
decorrentes provocaram profundas ção Francesa. sário: promover a igualdade aos ho-
mudanças no plano do capitalismo mens, a liberdade de expressão e a
comercial, inaugurando o capitalis- K Princípios fundamentais tolerância religiosa; reagir contra a bru-
mo industrial e novas teorias Durante o século XVIII, o progres- talidade, a escravidão e a injustiça.
alicerçadas no liberalismo. so dos estudos científicos e as nume-
Na França, a estrutura do Antigo rosas invenções ocorridas durante a K Principais filósofos
Regime ainda sustentava os Bour- Revolução Industrial despertaram o Podemos dividir os filósofos em
bons, impedindo qualquer mudança interesse pelos estudos sociais, políti- dois grupos: os que se ocuparam so-
na sociedade. Foi nesta conjuntura cos e econômicos. Na França, vários bretudo dos problemas políticos, so-
que surgiram, na segunda metade princípios que foram tidos como ciais e religiosos e os que procura-
do século XVIII, vários pensadores indiscutíveis até o século XVII e que ram uma maneira de aumentar a ri-
que provocaram com suas ideias constituíram o Antigo Regime, tais queza das nações, os economistas.
uma revolução intelectual de gran- como o absolutismo de direito divino, Os principais filósofos france-
de importância na história do pen- os privilégios das ordens sociais, a in- ses fo ram Montesquieu, Voltaire,
samento moderno. Suas ideias eram tolerância religiosa e os monopólios, Rousseau e Diderot.
caracterizadas pelo uso da razão, passaram a ser questionados. Montesquieu publicou, em 1721,
rejeitando as tradições e buscando A filosofia iluminista estava voltada Cartas Persas, nas quais satirizava
sempre uma explicação racional para o estudo da natureza e da socie- os costumes e as instituições. Em
para todas as coisas. As novas dade. O uso da razão era considera- 1748, publicou sua grande obra, O
ideias faziam numerosos adeptos, do indispensável. Como o homem fazia Espírito das Leis, dedicada ao estu-
que se julgavam “iluminados” por parte da natureza, concluía-se que do de diversas formas de governo.
elas, o que deu origem a um mo- Deus acabava por estar presente no Dava grande destaque à monarquia
vimento que foi co nhe ci do pelo coração do próprio homem, tornan- inglesa, preconizando a separação
nome de lluminismo ou Ilustração. do-se a Igreja uma instituição dispen- dos poderes executivo, legislativo e
Ao mesmo tempo em que os filó- sável e sendo suficiente ao homem judiciário, única forma capaz de ga-
sofos e os economistas procuravam uma vida piedosa e cheia de virtudes. rantir a liberdade.
novos meios para dar felicidade aos Os iluministas defendiam a teoria Voltaire foi o mais destacado
homens, faziam um ataque violento de que os homens eram iguais pe- dos filósofos iluministas. Durante
contra as injustiças, a intolerância re- rante a natureza, sendo as desigual- sua estada na Inglaterra, publicou
ligiosa e os privilégios. dades provocadas pelos homens e as Cartas In glesas . Elogiava as
Em vários países, os monarcas pela sociedade. Como existiam leis liberdades in gle sas, atacando o
puseram em prática alguns princí- para regular os fenômenos da natu- absolutismo e a intolerância. Depois

– 135
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de vagar pela Europa, fixou-se em rado a verdadeira fonte de riqueza, mo a condenação à morte. Melhorou
Ferney, na França, em 1755, de não a agricultura, como acreditavam a administração e estimulou a colo-
onde exerceu extraordinária influên- os fisiocratas, nem o comércio, como nização da Rússia meridional, na
cia até sua mor te. Seus discípulos defendiam os mercantilistas. O tra- Ucrânia e no Volga. Talvez o resulta-
espalharam-se pela Europa, divul- balho completamente livre, sem inter- do único de sua política tenha sido a
gando suas ideias. venções, criaria toda riqueza, guiado polidez da alta sociedade russa,
Rousseau, ao contrário de Vol- espontaneamente pela natureza. completamente afrancesada nos
taire e Montesquieu, monarquistas usos e costumes.
liberais, foi um democrata convicto. 2. O DESPOTISMO José II (1780-1790), da Áustria,
Suas ideias foram expostas num ESCLARECIDO foi o tipo mais bem acabado do des-
tratado de educação e, principal- potismo esclarecido. Fez numerosas
mente, no Contrato Social, sua obra Estimulados pelos filósofos da Ilus- reformas ditadas pela razão: aboliu a
máxima. Defendia a liberdade e a tração, numerosos príncipes buscaram escravidão; deu igualdade a todos
igualdade entre os homens, afir - pôr em prática as novas ideias, perante a lei; uniformizou a adminis-
mando que o poder político repou- procurando governar de acordo com a tração em todo o Império; deu liber-
sava sobre o povo que era, por - razão, segundo os interesses do dade de culto e direito de emprego
tanto, o soberano máximo. Suas Estado, mas sem abandonar seu aos católicos. Houve reações às suas
ideias foram seguidas por Ro - poder absoluto. Esta aliança de prin- reformas na Hungria e um levante dos
bespierre e outros líderes da Revo- cípios filosóficos e poder monárquico belgas nos Países Baixos.
lução Francesa. deu origem a um regime típico do Na Espanha, o ministro Aranda
Diderot foi o responsável pela século XVIII: o despotismo esclarecido. pôs em execução uma série de refor-
organização da grande Enciclopé- Na Prússia, Frederico II (1740- mas: o comércio foi liberado interna-
dia , obra em 35 volumes, que 1786), rei filósofo e discípulo de Vol- mente; a indústria de luxo e tecidos
continha as novas ideias. O gover - taire, indiferente à religião, concedeu de algodão foi estimulada; a admi-
no condenou a obra, proibindo sua liberdade de culto. Estimulou o ensi- nistração foi dinamizada com a cria-
divulgação em duas oportunidades. no básico, tendo ele mesmo baixado ção de intendentes, que fortaleceram
Diderot foi auxiliado por um mate- o princípio de instrução primária obri- o poder do rei Carlos III.
mático, D’Alem bert, tendo como gatória para todos. Apesar de os je- Em Portugal, o Marquês de
colaboradores a maior par te dos suítas estarem sendo expulsos de Pombal, ministro de D. José I, fez
novos pensadores e escritores. quase todos os países da Europa numerosas reformas que o colo-
pelas suas ligações com o Papado, caram entre os principais déspotas:
K O liberalismo econômico atraiu-os por causa de suas qualida- a indústria de vinho, peixes, dia-
Essencialmente, os economistas des de educadores. A tortura foi abo- mantes, seda e chapéus cresceu;
pregavam a liberdade econômica, lida e um novo código de justiça, or- o comércio pas sou a ser con -
opondo-se rigidamente às regulamen- ganizado. Exigia obediência total às trolado por companhias que
tações impostas pelo mercantilismo. ordens, mas concedia liberdade de detinham o monopólio comercial
A economia deveria ser dirigida pela expressão. Procurou estimular a eco- nas regiões coloniais; a agricultura
natureza, não devendo haver qual- nomia, adotando medidas protecio- da cana e da videira foi estimu-
quer intervenção do Estado. A predo- nistas contrárias às ideias iluministas lada; a nobreza e o clero foram
minância da natureza valeu-lhes a e preservando, assim, a ordem social perseguidos com o obje tivo de
denominação de fisiocratas (governo existente. A Prússia permaneceu em fortalecer o poder real.
da natureza). estado feudal, com servos sujeitos à
Quesnay e Gournay foram os classe dominante dos proprietários, 3. AS REFORMAS
fundadores do fisiocratismo e seus chamados junkers. POMBALINAS
grandes defensores. Afirmavam que Catarina II (1762-1769) atraiu os
a atividade verdadeiramente produti- filósofos franceses à sua Corte, man- Pombal, na qualidade de secre-
va era a agricultura, sendo a indús- tendo com eles correspondência re- tário de Estado do rei D. José I, tor-
tria e o comércio considerados esté- gular. Anunciou grandes reformas nou-se o “homem forte” do governo,
reis. Apesar de Gournay não ter que jamais realizou, apesar de ter aproveitando-se do enfraquecimento
escrito nenhum livro, suas ideias pro- concedido liberdade religiosa e de do absolutismo português, da desor-
pagaram-se, devendo-se a ele o se preocupar em desenvolver a edu- ganização político-administrativa do
laissez-faire, laissez-passer, lema do cação das altas classes sociais. O reino, da situação privilegiada da no-
liberalismo econômico. essencial permaneceu como era, ou breza com interesses ultramarinos,
Adam Smith, considerado o pai meIhor, foi agravado, pois a servidão da influência da Igreja sobre o trono
do liberalismo econômico, defendeu não foi abolida e os direitos dos pro- luso, particularmente da ordem dos
em sua obra-prima, A Riqueza das prietários sobre os servos da terra fo- jesuítas e, no plano externo, do domí-
Nações, que o trabalho era conside- ram aumentados, incluindo até mes- nio exercido pela Inglaterra.
136 –
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As primeiras medidas adotadas K Principais


por Pombal voltaram-se para as ques- produtos de exportação
tões relativas à reorganização do O mais importante foi o algodão,
Estado e do comércio português. matéria-prima básica para a indústria
“Neste plano iniciou a chamada europeia. A produção interna chegou
política das companhias, protegen- a ser fomentada por Portugal por
do os grandes empresários metro- meio da Companhia Geral de
polita-nos contra o comércio livre. Comércio do Grão-Pará e Maranhão.
Criou para isso organizações mono- Era uma lavoura em grande proprie-
polistas, espécies de sociedades dade escravista, porém sem neces-
por ações, abertas à par ticipação sidade de instalações tão complexas
tanto de nacionais como de estran- e onerosas quanto os engenhos. O
geiros, e às quais ficavam entregues principal produtor, na época, foi o
a autoridade e a iniciativa do co- Maranhão (região de Caxias), des-
mércio de cer tos gêneros ou em tacando-se, posteriormente, Pernam-
determinadas regiões. Assim, defen- buco, Bahia e Rio de Janeiro.
dendo o grande negociante, criou Outro produto importante voltava
em 1753 a Companhia da Ásia; em a ser o açúcar, que neste momento
conhecia uma decadência da produ-
1755 a Companhia do Grão-Pará e
ção antilhana com a abolição do trá-
Maranhão; em 1756 a Companhia O algodão brasileiro era destinado
à Inglaterra, berço da Revolução fico negreiro para a Jamaica. O Bra-
da Pesca da Baleia e a Companhia
Industrial, que teve no setor têxtil sil passava a ser o 3.° produtor mun-
da Agricultura dos Vinhos do Alto
o primeiro momento de mecanização. dial, com destaque para Bahia, Per-
Douro; e em 1759 a Companhia de
nambuco e Rio de Janeiro.
Pernambuco e Paraíba. Efetivamen- revogação, na prática, do Tratado de O tabaco, que desde o século
te tal política monopolista combateu Methuen, dos “panos e vinhos”. XVII era utilizado para o escambo de
o pequeno comércio, estrangulando Com a morte de D. José I, em negros na África e considerado mo-
seu crédito e perseguindo os comis- 1777, o trono luso foi ocupado pela nopólio régio desde 1642, teve seu
sários volantes, ativos e numerosos, rainha D. Maria I, filha do rei, que re- impulso no período em estudo. Seu
que negociavam com o Brasil.” solveu “virar” completamente a polí- maior desenvolvimento deu-se na
(MARANHÃO, Ricardo. Brasil: História – texto tica pombalina, afastando Sebas- Bahia e no sul de Minas Gerais, sen-
& consulta. São Paulo: Brasiliense, 1976. v. 1.) tião José de Carvalho e Melo das do uma atividade que era praticada
decisões reais. em grande propriedade, com mão de
A política econômica mercantilis-
obra escrava negra, e que exigia cui-
ta empreendida por Pombal não pou-
dados especiais: adubo, galpões etc.
pou a Companhia de Jesus, e o en- - 4. RENASCIMENTO AGRÍCOLA
Outro produto de exportação foi
volvimento dos jesuítas num atentado
o cacau, que inicialmente era ativida-
contra o rei foi utilizado como pre- K Fatores básicos
de extrativista praticada nas capita-
texto para a expulsão dos inacianos A principal causa do renasci-
nias do Pará e Rio Negro, posterior-
de Portugal e do Brasil. Com isso, as mento agrícola no Brasil foi a exigên- mente introduzido como agricultura
missões foram secularizadas, sendo cia de maior produção de matérias- na Bahia e Maranhão, com mão de
criado o ensino leigo na Colônia. primas, como o algodão, provocada obra escrava negra. O arroz, o anil
Além das companhias de comér- pela Revolução Industrial europeia. A (do Rio de Janeiro) e outros produtos
cio já mencionadas, Pombal criou o esta causa estão relacionados: o agrícolas chegaram a ser exportados
estanco dos diamantes, e a explora- crescimento demográfico da popula- nesta fase econômica, o que provo-
ção dessas pedras preciosas foi limi- ção das metrópoles; a indepen- cou o deslocamento do eixo econô-
tada ao Distrito Diamantino. dência dos EUA (1776), fato que re- mico novamente para o litoral.
A política tributária pombalina duzia a produção de algodão para a Neste período agrícola, um novo
para a Colônia preocupou-se funda- Inglaterra; as guerras napoleônicas, produto começava a se destacar na
mentalmente com a cobrança dos provocando entraves ao comércio economia brasileira: o café. Intro-
quintos. Para isso, Pombal instituiu o deste produto no Egito e na Índia. duzido no Brasil no início do século
sistema de quotas anuais – 100 arro- Outros fatores podem ser relacio- XVIII, no Pará, foi trazido para a Bai-
bas – e mais tarde criou a derrama, nados: internamente, a decadência xada Fluminense e Vale do Paraíba,
forma de cobrança forçada dos im- da mineração, provocando uma volta onde se desenvolveu. No início do
postos atrasados. à prática da agricultura de exporta- século XIX, já representava 18% de
A política externa pombalina ção, e, externamente, problemas so- nossas exportações. Seu grande mo-
concentrou-se na neutralização do ciopolíticos em áreas coloniais con- mento será no Brasil Império, após
domínio inglês em Portugal, com a correntes, como as Antilhas. 1830, no chamado Oeste Paulista.
– 137
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5. CRONOLOGIA 1759 – Extinção das últimas capitanias hereditárias;


criação da Companhia Geral de Comércio de Pernam-
1734 – Publicação de Cartas Inglesas, de Voltaire.
buco e Paraíba; expulsão dos jesuítas de Portugal e
1735 – Substituição do quinto pela capitação.
colônias.
1748 – Publicação de O Espírito das Leis, de
1760 – Início da Revolução Industrial na Inglaterra; in-
Montesquieu. tensificação da cultura do algodão no Maranhão.
1750-1777 – Despotismo esclarecido luso: reinado 1762 – Publicação de O Contrato Social, de
de D. José I e governo do Marquês de Pombal. Rousseau.
1751–1772 – Publicação da Enciclopédia, dirigida 1765 – Publicação de A Riqueza das Nações, de
por Diderot e D’Alembert. Adam Smith; criação da derrama.
1751 – Criação do Estado do Grão-Pará e Maranhão, 1771 – Criação da Real Extração de Diamantes.
em substituição ao antigo Estado do Maranhão. 1776 – Invenção da máquina a vapor por James

1751 – Fim da capitação e restabelecimento do quinto, Watt; Declaração de Independência dos EUA.

cobrado pelo regime de fintas (cobrança por estimativa). 1777 – Morte de D. José I e ascensão de D. Maria I;

1755 – Criação da Companhia Geral de Comércio do demissão de Pombal.

Grão-Pará e Maranhão.

MÓDULO 20 Independência dos Estados Unidos


1. INTRODUÇÃO

A evolução do capitalismo comercial acabou criando


suas próprias contradições. Na Europa, a burguesia tomou
consciência de sua impor tância, buscando o rompimento
com os entraves mercantilistas e absolutistas. Ao tentar
legitimar seu poder, criou sua própria ideologia, o Iluminis-
mo, utilizando a lógica e o racionalismo para justificar sua
ascensão ao poder.
No plano externo, as sementes das revolucionárias
ideias francesas atravessaram o oceano, encontrando na
América um campo fecundo para sua germinação. Essas
ideias foram difundidas no Novo Mundo, contribuindo
decisivamente para o rompimento do pacto colonial, ou
seja, da exploração total da Colônia por sua Metrópole.
A Inglaterra, mãe do liberalismo político, acabou sendo
alvo de suas próprias ideias, pois foi em suas treze colônias
da América que ocorreu o primeiro clamor aos princípios da
liberdade, lançando-se a fagulha do liberalismo que aca-
bou acendendo a fogueira das rebeliões coloniais.
O movimento de independência dos Estados Unidos
inaugurou, desta for ma, a falência do Antigo Regime, in-
fluenciando com seus ideais a eclosão da maior revolução
Dentro da colonização inglesa na América do Norte, a
da História do Ocidente: a Revolução Francesa. região da Nova Inglaterra (colônias do Centro-Norte)
organizou-se nos moldes de colônias de povoamento.

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K A colonização des da Metrópole, inserida no con- consistiu em vender peixe, madeira e


inglesa na América texto da plantation, caracterizada pe- gado nas Antilhas, de onde compra-
No século XVI, Portugal e Espa- lo latifúndio, monocultura e trabalho vam melaço e rum; a bebida era en-
nha eram as mais importantes potên- escravo, e voltada para os interesses tão enviada à África para a compra
cias da Europa, detentoras da des- do mercado externo. de escravos, introduzidos nas colô-
coberta do Novo Mundo. A preocu- Dessa forma, enquanto nas colô- nias do Sul ou nas Antilhas.
pação mercantilista orientou a explo- nias do Centro-Norte se desenvolveu
ração do novo continente em busca uma colonização de povoamento, o K O processo
de produtos tropicais e, principal- Sul foi tipicamente marcado pelas de independência
mente, de metais preciosos. Os ter- colônias de exploração. Cabe ressal-
ritórios considerados menos valiosos tar que, independentemente das di- A nova política
aos interesses ibéricos foram relega- ferenças regionais e colonizadoras, colonial inglesa
dos, propiciando a investida dos paí- até o século XVIII as treze colônias
ses marginalizados pelo Tratado de gozaram de uma certa dose de auto- As divergências existentes na
Tordesilhas nessas regiões. nomia, pois seus governadores, que Europa entre a França e a Inglaterra
pela hegemonia mundial acabaram
Coube à Inglaterra, no século representavam os interesses metro-
por chegar à América, em razão dos
XVII, a colonização da costa litorânea politanos, eram em sua maioria elei-
conflitos pela exploração do comér-
atlântica do atual território dos Esta- tos pela população local. As colônias
cio colonial. Em 1756, iniciou-se a
dos Unidos. A formação das treze tinham liberdade absoluta umas em
Guerra dos Sete Anos, em que a In-
colônias inglesas da América pro- relação às outras e apresentavam-se
glaterra, envolvida com outros palcos
ces- sou-se de forma bastante dife- ao poder real totalmente separadas.
do conflito, deixou praticamente aos
rente dos interesses ibéricos, que vi- O desenvolvimento das colônias colonos a defesa de suas posses-
savam, primordialmente, à exploração do Norte ultrapassou suas fronteiras. sões na América. A luta contra os
de riquezas naturais para o abastec- Foram organizados os triângulos co- franceses e seus aliados indígenas
imento de seus mercados. A contur- merciais, que consistiam no comércio despertou nos colonos um forte senti-
bada situação política e religiosa da de produtos americanos no exterior, mento de autoconfiança, bem como a
Inglaterra neste período, marcada onde eram adquiridos novos produ- consciência de sua força militar. Pela
por violentas perseguições, provocou tos que eram, por sua vez, vendidos primeira vez, as Treze Colônias uni-
a fuga de dissidentes puritanos, que em outra região, de onde se traziam ram-se em torno de um ideal comum.
buscavam na América uma nova equipamentos e mercadorias neces- Vários líderes militares surgiram neste
atmosfera, longe das sistemáticas sários ao crescimento interno. Um conflito, destacando-se a figura do
perseguições. Vinham com a finali- dos mais ativos desses comércios aristocrata George Washington.
dade de fixar-se sem o espírito aven-
tureiro de “fazer a colônia”, isto é,
enriquecer e voltar para a Europa.
Fundaram no norte dos Estados Uni-
dos, na fronteira próxima ao Canadá,
a Nova Inglaterra. A existência de
clima e solo semelhantes aos da In-
glaterra possibilitou o desenvolvimen-
to de uma agricultura de subsistên-

cia, baseada na pequena proprieda-
de, utilizando a mão de obra livre e
assalariada, apesar da existência de
um grande número de indentured
servants (servos de contrato). Indepen-
dentemente disso, a sociedade nesta
região apresentava uma grande homo-
geneidade em comparação com o Sul.
A colonização do Sul, propícia
para a produção de gêneros tropi-
cais, deu-se em bases mercantilis-
As colônias inglesas da América às vésperas da Independência.
tas, buscando atender às necessida-
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A Inglaterra saiu-se vitoriosa do 1765, foi aprovada a Lei do Selo, pela Nesse ínterim, ocorreram
conflito contra a França, surgindo, po- qual a Metrópole inglesa obrigava alguns choques entre os colonos e
rém, uma forte crise econômica devi- que vários produtos, como jornais, os soldados ingleses, dando início
da aos gastos militares. Procurando revistas, baralhos e livros, fossem à guerra entre as duas partes. Em
recuperar seu erário bastante abala- sobretaxados com um selo. 1776, o Segundo Congresso de
do, os ingleses adotaram uma nova Em 1767, o Parlamento britânico Filadélfia rompeu com a Inglaterra,
política administrativa sobre suas aprova a Lei do Chá, que dava mono- aprovando a Declaração de Inde-
colônias, caracterizada pelo arrocho. pólio de comercialização do produto pendência elaborada por Thomas
A liberdade comercial, que os colonos à Cia. Inglesa das Índias Orientais. Jefferson.
possuíam até então, restringiu-se às A Guerra de Independência du-
rígidas práticas do pacto colonial. K A reação dos rou até 1781, tendo sido os colonos
Com o término da Guerra dos colonos e a independência comandados por George Washin-
Sete Anos, a Inglaterra proibiu a Contra a Lei do Chá, que conce- gton. A França, a Espanha e a Ho-
apropriação de terras situadas a oes- dia a exclusividade de comércio landa apoiaram os insurretos. A
te, entre as regiões dos Montes des te produto à Cia. da Índias França foi quem deu maior auxílio,
Alleghanies e o Mississippi, e entre a Orientais (in glesa), os colonos enviando o marquês de La Fayette e
Flórida e Québec, justificando serem protestaram por intermédio do o general Rochambeau. A vitória
reservas indígenas, o que causou Boston Tea Party. A Inglaterra reagiu decisiva aconteceu em Yorktown,
forte descontentamento entre os co- com a promulgação das “Leis Into- na Virgínia.
lonos, ávidos por novas terras. No leráveis”. Em 1783, em Versalhes, a In-
ano seguinte, em 1764, a Inglaterra Os colonos reuniram-se em glaterra reconheceu a independên-
promulgou a Lei do Açúcar, que 1775, na cidade de Filadélfia, num cia das Treze Colônias da América
estabelecia uma taxa sobre o melaço congresso que reivindicava a revo- do Norte. Em 1787, ficou pronta a
comercializado pelos colonos com gação das “Leis Intoleráveis”, sem, Constituição, que definiu um regi-
outras nações. Novas restrições mer- no entanto, pretender a indepen- me republicano para os Estados
cantilistas surgiram quando, em dência das colônias. Unidos.

2. CRONOLOGIA

Século XVII – Início da colonização da América do Norte.


1734 – Publicação de Cartas Inglesas, de Voltaire.
1748 – Publicação de O Espírito das Leis, de Montesquieu.
1751-1772 – Publicação da Enciclopédia, dirigida por Diderot e D’Alembert.
1757-1763 – Guerra dos Sete Anos.
1762 – Publicação de O Contrato Social, de Rousseau.
1764 – Lei do Açúcar e Ato de Québec.
1765 – Publicação de A Riqueza das Nações, de Adam Smith; Lei do Selo.
1767 – Atos Townshend.
1773 – Lei do Chá; Boston Tea Party.
1774 – Leis Intoleráveis; Primeiro Congresso Continental de Filadélfia.
1775 – Início da luta entre ingleses e colonos; Segundo Congresso Continental de Filadélfia.
1776 – Declaração de Independência das Treze Colônias.
1781 – Vitória decisiva dos norte-americanos em Yorktown.
1783 – Tratado de Versalhes.

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FRENTE 2 História Geral

MÓDULO 1 Das Monarquia a República Romana


1. INTRODUÇÃO de era formada pelos patrícios, origi- 4. A REPÚBLICA ROMANA
nários das antigas famílias, que (SISTEMA NÃO ESCRAVISTA)
Do mesmo modo que na Grécia, constituíam os grandes proprietários
também na Itália o primeiro tipo de de terra e rebanhos; clientes, ho- Neste período, Roma tinha uma
organização política foi a cidade-Es- mens livres, de famílias pobres, que economia agropastoril, produzindo
tado. De acordo com a tradição, Ro- viviam sob a proteção dos patrícios; apenas para as necessidades de
ma surgiu às margens do Rio Tibre, plebeus, representados pelos estran- sua população. Voltava-se, portanto,
em 753 a.C. Era uma espécie de geiros, pequenos proprietários, para o mercado interno, o que dava
acampamento militar dos povos al- artesãos e comerciantes. um caráter estático à sua economia.
banos contra os etruscos. Até Em toda a fase monárquica, as O único comércio mais ativo era o de
509 a.C., Roma foi governada por se- lendas falam da existência de sete sal, daí o desenvolvimento da estra-
te reis, quando o último deles, Tarquí- reis: dois latinos, dois sabinos e os da denominada Via Salária.
nio, o Soberbo, foi deposto. Iniciou-se três últimos etruscos. Nessa última Dado o caráter estático da econo-
então a República Romana. fase, a cidade de Roma passou por mia, a sociedade apresentava peque-
O regime republicano duraria até um grande desenvolvimento urbano, na mobilidade social, compartimen-
27 a.C., data oficial do início do Im- em decorrência do notável conheci- tando-se em verdadeiros estamentos;
pério Romano, que se extinguiu no mento de técnicas arquitetônicas dos dentro destes, destacavam-se os
Ocidente, em 476 d.C., e no Oriente, etruscos, que exerceram uma profun-
em 1453 d.C. grandes proprietários rurais, a aris-
da influência na civilização romana. tocracia patrícia. Chefes de grandes
Para compreender a história de Até o advento dos reis etruscos,
Roma, é necessário dividi-Ia em duas famílias, os patrícios congregavam
em 640 a.C., Roma era governada em torno de si os clientes, parentes
fases: a primeira corresponde ao pe- por soberanos que dependiam do
ríodo em que Roma é apenas uma afastados e de condição social in-
Senado — Conselho dos Anciãos —, ferior. Os artesãos e principalmente
cidade-Estado às voltas com inimi- órgão formado exclusivamente por
gos, como os cartagineses, quando os pequenos agricultores das terras
patrícios. As decisões eram aprova-
ainda não se constituíra o modo de pouco férteis formavam a ampla ca-
das pela Assembleia Curiata, que
produção escravista; a segunda fase mada dos plebeus. A expressão “po-
reunia todos os cidadãos das famí-
reflete Roma transformada em se- vo romano” era usada para designar
lias aristocráticas, cuja finalidade era
nhora do Mediterrâneo e dominadora o conjunto das três camadas sociais.
votar as leis e aprovar a guerra.
de um grande império, marcado pelo Com a queda da Monarquia e a
desaparecimento do trabalho livre e implantação da República (de res
3. A CRISE DA REALEZA
pela proliferação do trabalho escravo. publica = “coisa pública”), o poder
O último rei de Roma, Tarquínio, passou a ser monopolizado pelo pa-
o Soberbo, de origem etrusca, apro- triciado, por meio do controle do Se-
ximou-se da plebe com a finalidade nado (Supremo Poder Legislativo),
de anular a força do Senado. Por que escolhia os magistrados (Poder
esta razão, os patrícios depuseram o Executivo).
rei e implantaram a República, em Entre as principais magistraturas
509 a.C., órgão essencialmente aris- da Roma republicana, podemos
tocrático. citar: o Consulado (exercido por dois
As lendas, porém, atribuem a de- magistrados, que tinham como fun-
posição do rei Tarquínio, o Soberbo, ções convocar o Senado, comandar
Rômulo e Remo: a uma crise que envolveu Casta Lu- o Exército e presidir os cultos públi-
a origem lendária de Roma. crécia, uma jovem de família aristo- cos); os pretores (ministravam a
crática, seduzida pelo filho do rei. justiça); os censores (zelavam pela
2. A MONARQUIA ROMANA Assim, a justificativa que assinalou o moral dos cidadãos, faziam o censo,
fim da Monarquia envolveu uma preparavam o Álbum Senatorial e
Durante a fase da Monarquia, a profunda questão moral, que orien- orientavam os trabalhos públicos); os
economia de Roma era baseada na tou a conduta dos cidadãos romanos questores (administravam o tesouro e
agricultura e no pastoreio. A socieda- durante grande parte de sua história. orientavam os gastos financeiros em

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campanhas militares); os edis (res- exército durante suas campanhas. romana forçou os cartagineses a pa-
ponsáveis pela conservação públi- Primeiro, eles colocavam fogo no lo- gar-lhes uma pesada indenização de
ca); os tribunos da plebe (represen- cal escolhido, a fim de destruir a ve- guerra e a entregar-lhes a Sicília, a
tantes dos plebeus que podiam vetar getação e evitar emboscadas inimi- Córsega e a Sardenha.
as leis contrárias aos interesses ple- gas; em seguida, ajustavam os blo- A Segunda Guerra Púnica, entre
beus). Em caso de grave crise políti- cos de pedra sobre uma camada de Roma e Cartago (218-202 a.C.), deu
ca, social ou militar, era nomeado um areia, para depois cobri-los com mis- aos romanos o controle sobre o norte
ditador que governava Roma durante tura de cascalho e cimento. As estra- da África e o sul da Espanha, exceto
seis meses, com poderes absolutos. das eram levemente encurvadas o Reino da Numídia e Cartago.
Os plebeus tinham participação para drenar a água das chuvas. Elas Entre 150 e 146 a.C., Roma e Car-
meramente formal na Assembleia permitiam o trânsito dos viajantes a tago enfrentaram-se na Terceira Guer-
Centuriata, a qual era reunida para cavalo, de carroças puxadas por bois ra Púnica, e Cartago sucumbiu diante
votar as leis já preparadas pelo Se- e mulas e das tropas de soldados, de Roma.
nado; tratava-se, portanto, de leis ao que viajavam a pé, em marcha. O historiador Políbio afirma que:
gosto dos patrícios. Estes decreta- As campanhas militares eram “Os cartagineses deviam lutar
vam leis que empobreciam a plebe, longas e, durante o avanço das tro- pela sua própria existência e pelo
obrigando-a a se endividar e aca- pas, era preciso montar e desmontar domínio da Líbia; os romanos, pelo
bando por escravizá-la pelo não-pa- acampamentos com rapidez e efi- domínio do mundo. Podia alguém
gamento das dívidas contraídas dos ciência. Para isso, cada soldado era permanecer indiferente a tais aconte-
próprios patrícios. sempre encarregado de executar as cimentos? Nunca existiram antes
Tal fato provocou revoltas sociais mesmas tarefas, como nivelar o terre- exércitos tão experimentados nas ba-
em Roma, obrigando os patrícios a no e demarcá-lo, cavar o fosso, er- talhas, nem chefes tão afortunados e
fazer concessões à plebe: Tribuno da guer a paliçada e as torres de obser- hábeis na arte militar, nem enfim a
Plebe (494 a.C.), Lei das Doze vação, abrir ruas no interior do acam- sorte havia prometido às partes rivais
Tábuas (450 a.C.), Lei Canuleia (445 pamento, dividindo-o em quarteirões. recompensas tão preciosas. Ao ven-
a.C.), Lei Licínia (366 a.C.) e a lei que Roma preocupou-se com a cons- cedor não só correspondia como prê-
criava o Comício da Plebe (286 a.C.), trução de estradas para, justamente, mio o poder sobre a Líbia ou sobre a
o que dava aos plebeus o direito ao facilitar o deslocamento de suas tro- Europa, mas sobre todos os países
plebiscito. pas e a mobilização de recursos ne- do mundo conhecido.”
cessários às conquistas. Ao mesmo tempo em que Roma e
5. A EXPANSÃO ROMANA Quando Roma partiu para a ex- Cartago se defrontavam, os romanos
pansão além da Península ltálica, in- desenvolviam guerras também no
O primeiro momento a ser consi- ternamente havia uma relativa estabi- Mediterrâneo oriental. Durante a Se-
derado quando tratamos da expan- lidade política, pois as questões so- gunda Guerra Púnica, como Filipe V
são romana é a conquista da própria ciais entre patrícios e plebeus tinham da Macedônia havia dado apoio aos
Península ltálica pelos romanos. Foi sido resolvidas, temporariamente, cartagineses, Roma invadiu o seu ter-
um processo lento que precisou de pelas conquistas plebeias — algu- ritório, tornando as cidades-Estado
mais de 230 anos para se efetivar, mas ocorreram paralelamente à unifi- gregas independentes da Macedô-
mas que resultou na anexação de cação da Península ltálica. nia. O domínio sobre a Macedônia e a
todos os povos vizinhos (inclusive os Grécia concluiu-se em 146 a.C.
aliados, como os latinos). Nesse pro- K As guerras ofensivas Também no século lI a.C., Roma ane-
cesso, Roma logrou derrotar e ane- Com a conquista de Tarento, o xou a Síria, a Ásia Menor, a Gália, o
xar territórios dos sabinos, a Etrúria, grande alvo de Roma passou a ser a Ponto, a Palestina, a Bitínia e o Egito.
a Gália, a Planície da Campânia e cidade de Cartago, pois essa antiga
Tarento, conquistas que lhe deram o colônia fenícia dominava o comércio K As repercussões
controle sobre toda a Península. no Mediterrâneo, chegando a atingir das conquistas
O principal instrumento para a a costa ocidental da África, a Bre- O comércio interligava Roma às
conquista foi um exército muito bem tanha e a Noruega. Os cartagineses suas províncias em toda a orla do
preparado para dominar os demais ofereciam tecidos, perfumes, pedras Mediterrâneo. As atividades agríco-
povos. preciosas, trigo, marfim e ouro, além las nas províncias foram estimuladas.
Os romanos foram grandes en- de possuírem uma poderosa frota Contudo, na própria Itália, a agricul-
genheiros. Por volta de 200 a.C., cen- naval e um exército de terra. tura praticamente desapareceu. Os
tenas de quilômetros de estradas, al- Na Primeira Guerra Púnica (264- campos ficaram incultos ou subocu-
gumas com até 12 metros de largura, 241 a.C.), os romanos investiram pados. Uma classe de comerciantes,
cortavam seus domínios. Elas eram contra Cartago na disputa pelo banqueiros, arrendatários, cobrado-
construídas pelos legionários do controle sobre a Sicília. A vitória res de impostos (publicanos) surgiu,

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sendo denominada classe dos ho- meta primeira a alienação política da Macedônia colocou os romanos em
mens-novos ou cavaleiros. Os pa- plebe romana. Frequentemente, os encontro direto com a cultura helenís-
trícios dependentes da exploração plebeus serviam como agregados tica, que passou a ser assimilada por
fundiária se empobreceram, passan- aos mais ricos em troca de esmolas e Roma. O Exército, principal agente
do a depender dos cargos públicos alimentos. Nessa fase, os escravos das conquistas, também se alterou:
para manter seu nível social. A plebe, provenientes das conquistas milita- os soldados foram profissionalizados
marginalizada pelo aumento do nú- res chegavam a Roma em grandes e passaram a receber salários. O
mero de escravos, passou a ser sus- proporções, tornando-se cada vez Exército cada vez mais interferia na
tentada pelo Estado, que distribuía trigo mais baratos, e eram considerados vida política romana. A estrutura re-
e proporcionava espetáculos circen- seres inferiores, apenas “instrumen- publicana já não dava mais conta do
ses gratuitamente: iniciava-se a polí- tos falantes” (instrumenta vocalia). Império Universal e passava a dar
tica de “pão e circo”, que tinha como O contato com o Oriente e com a sinais de desintegração.

6. CRONOLOGIA 366 a.C. – Lei Licínia. 218-202 a.C. – Segunda Guerra


287 a.C. – Criação do Comício da Púnica.
753 a.C. – Fundação de Roma, se- 200 a.C. – Ocupação da Macedônia.
Plebe.
gundo a tradição. 150-146 a.C. – Terceira Guerra
395 a.C. – Conquista da cidade
640 a.C. – Roma passa a ser gover- Púnica.
etrusca de Veios.
nada por soberanos etruscos. 146 a.C. – Submissão da Grécia.
335 a.C. – Submissão dos lati-
509 a.C. – Deposição de Tarquínio, o 133 a.C. – Domínio romano sobre a
nos.
Soberbo, e instauração da República Espanha.
272 a.C. – Conquista de Tarento,
Romana. 120 a.C. – Anexação do sul da
494 a.C. – Criação do cargo de no sul da Itália. Gália.
Tribuno da Plebe. 265 a.C. – Anexação da Etrúria. Século I a.C. – Conquista da Ásia
450 a.C. – Lei das Doze Tábuas. 264-241 a.C. – Primeira Guerra Menor, Síria, restante da Gália e
445 a.C. – Lei Canuleia. Púnica. Egito.

MÓDULO 2 Império Romano


1. A GUERRA CIVIL a Reforma Agrária, a fim de libertar a Marco Antônio, general e amigo
plebe de seu estado de submissão. de César, uniu-se ao sobrinho deste,
As instituições políticas da Repú- Foram abatidos pelos nobres e cava- Caio Otávio, e, com Lépido, formou o
blica começaram a se desintegrar. leiros unidos. Segundo Triunvirato. Venceram os
Não mais se adaptavam às novas Surgiram, em seguida, generais rebeldes na Macedônia e dividiram a
condições de um Império Universal. políticos – primeiro Mário, depois República entre si. Mais tarde, Otávio
A crise da República evidenciou-se Sila –, que, apoiados na plebe e no afastou Lépido, venceu Marco
durante as guerras civis, que em seu Exército, exerceram o poder de Antônio e Cleópatra e se apoderou
final levaram à implantação do Impé- forma absoluta durante anos. do Egito. Os tesouros pilhados propi-
rio. Em 60 a.C., César, Pompeu e ciaram-lhe um exército numeroso e
As forças políticas que se defron- Crasso formaram o Primeiro Triunvi- celeiros abarrotados de trigo, distri-
taram durante essas guerras eram as rato, reduzindo a autoridade do Se- buído à plebe em seu nome. Voltou
seguintes: os patrícios, que procura- nado. Crasso morreu na Pérsia, Pom- para Roma e foi recebido como o
vam manter a República e os seus peu foi vencido por César no Egito, salvador da República; na verdade,
privilégios; os cavaleiros, que almeja- onde a rainha Cleópatra passou a Caio Otávio tornava-se o fundador do
vam o controle do poder político; os receber a proteção do vencedor. Em Império.
clientes, que serviam de instrumento Roma, César procurou legalizar o
na luta política; o Exército, que, refor- seu poder, obtendo a ditadura. O 2. O ALTO IMPÉRIO
mado a partir de 105 a.C., constituiu Senado cumulou-o de títulos, mas
igualmente um instrumento político César passou a pretender também a O Império estabeleceu-se de fato
nas mãos dos generais. hereditariedade que só o título de em Roma quando Caio Otávio retor-
Os primeiros sinais da crise apa- “rei” lhe proporcionaria. Por isso, foi nou do Egito com seu Exército. O Se-
receram quando os Irmãos Graco — assassinado por um grupo de sena- nado concedeu-lhe vários títulos que
Tibério e Caio — pretenderam realizar dores liderados por Brutus e Cassius. legalizaram seu poder absoluto: côn-

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sul vitalício, censor, príncipe do Se- Para fazer render essas terras, 3. O BAIXO IMPÉRIO
nado e, finalmente, Augusto — título eles se serviam de escravos para o
que até então era reservado aos deu- trabalho de cultivo e para o pastoreio; K A crise do escravismo
ses e que permitia a Otávio escolher os ricos proprietários tinham medo No século III, tem início o cha-
seu sucessor. de que, se empregassem homens mado Baixo Império Romano, fase da
Embora Caio Otávio, o Augusto, livres, estes abandonassem as cul- crise aguda do escravismo, pois os
conservasse durante seu reinado as turas para ingressar no Exército. problemas do Império se acumu-
aparências republicanas, seu poder Além disso, esse procedimento lhes laram em razão de três fatores: mili-
trazia um benefício considerável, em tar, religioso e econômico.
apoiava-se efetivamente no Impe-
razão do nascimento de novos Em termos militares, a anarquia e
rium, comando do Exército; no poder
escravos. Eles acumulavam também o final das guerras de conquistas
pró-consular, ou seja, no direito de
contribuíram para a diminuição do
indicar os governadores das provín- grandes riquezas e o número de es-
número de escravos, pois a agricul-
cias; no poder tribunício, de caráter cravos se multiplicava no país. Os
tura romana, para garantir uma boa
popular e delegado pela plebe. Era a italianos, ao contrário, sofriam o des-
produção, necessitava de um nú-
fase do principado de Augusto, em povoamento e a falta de homens,
mero abundante de escravos. À
que as aparências republicanas es- despojados que estavam pela pobre-
medida que as guerras cessavam,
condiam o seu poder de imperador. za, pelas contribuições e pelo servi- escasseava a mão de obra disponí-
Augusto reorganizou as provín- ço militar. Eles se corrompiam na sua vel e o seu preço se elevava.
cias, dividindo-as em imperiais (mili- ociosidade, pois as terras estavam O cristianismo foi também um
tares) e senatoriais (civis). Indicava nas mãos dos ricos, que não os em- fator religioso que, ao pregar a liber-
os governadores e controlava-os por pregavam como cultivadores; no lugar dade como um dom natural do ser
meio de inspeções diretas e relató- de homens livres, utilizavam os es- humano, fez com que grandes levas
rios anuais. Criou o sistema estatal
cravos. O latifúndio perdeu a Itália.” de escravos se convertessem e fu-
Augusto procurou conter a in- gissem das propriedades, fazendo
de cobrança de impostos, acabando
fluência da cultura helenística (fusão diminuir a população escrava.
com a concessão da arrecadação a
grega e oriental), que estimulava a As dificuldades para manter a
particulares.
busca do prazer (hedonismo) e o cul- mão de obra escrava aumentavam,
No plano social, acabou com a
to aos deuses orientais. Para tanto, os senhores gastavam grande parte
tradicional superioridade do patricia-
tentou reavivar os valores do passado — senão toda — da produção para
do, criando uma estrutura social fun- alimentá-los e vesti-los, além dos
agrário de Roma, sem muito êxito.
damentada em critérios censitários. gastos com vigilância para impedir
Para defender suas ideias, trouxe
Os mais ricos, que tinham uma renda as fugas. Enquanto isso, os
para a corte literatos como Tito Lívio,
acima de 1 milhão de sestércios, per- latifúndios começavam a ser dividi-
Virgílio, Ovídio e Horácio.
tenciam à Ordem Senatorial, que ti- dos e os lucros diminuíam, o que
Não tendo herdeiros diretos, Au-
nha os privilégios políticos e distin- impedia a aquisição de novos es-
gusto indicou como sucessor seu fi-
guia-se pelo uso da cor púrpura. A lho adotivo, Tibério. Não obstante, as cravos, gerando uma retração eco-
Ordem Equestre era composta de indicações seguintes seriam feitas nômica que contribuiu para a crise
romanos com renda acima de 400 mil do escravismo.
em geral pelos militares. Até 68 d.C.,
sestércios, usava a cor azul e pos- Como consequência desse pro-
a Guarda Pretoriana monopolizou o
suía menos direitos. Abaixo desse cesso, Roma assistiu a mudanças
processo de sucessão política.
nível, ninguém mais possuía direitos significativas. Os proprietários rurais
Então, teve início a revolta militar, e
políticos; a grande maioria constituía começaram a adotar o sistema de ar-
os demais exércitos — Espanha, Gá-
a Ordem Inferior. rendamento como saída para a crise.
lia, Germânia e Oriente — passaram Os trabalhadores passaram a se sus-
Apiano mostra as transfor ma- a intervir nesse processo, cada um tentar com o próprio trabalho, num
ções provocadas pelas guerras civis: indicando um candidato. pedaço de terra arrendado pelo
“Os ricos, após ocuparem a Na época dos Severos, o impera- proprietário, porém deveriam traba-
maior parte das terras não assinala- dor era um soberano que se apoiava lhar alguns dias por semana para pa-
das no ager publicus, confiando que na burocracia e no Exército. O Sena- gar os benefícios recebidos — por
com o passar do tempo ninguém as do havia-se esvaziado. A economia exemplo, a concessão de casa para
tomaria mais, voltaram-se contra os prenunciava a crise: os impostos di- morar. Assim, os escravos foram di-
pequenos proprietários vizinhos, do- minuíram e o governo passou a emi- minuindo e alguns chegaram a com-
minados pela pobreza e relegados ao tir dinheiro, gerando aumento de pre- prar seu próprio lote de terras,
desamparo, seja por meios amigá- ços, de salários e da inflação. Além transformando-se em homens livres.
veis, seja pela força: dessa forma, em da crise interna, os romanos enfren- Dessa forma, o escravo elevava-se à
vez de pequenos campos, passaram tavam ainda pressões dos bárbaros condição de colono, ou seja, um
a ser cultivados grandes domínios. sobre suas fronteiras. homem livre, mas preso à terra.
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As cidades foram deixando de a divisão do Império, reunificando-o. destaque na civilização, já que mui-
ser o centro da vida do Império, veri- Em 313, o novo imperador legalizou tas delas, como a Medicina, perma-
ficando-se uma tendência de rurali- o cristianismo por meio do Edito de neceram no espaço do folclore.
zação da economia, pois os latifún- Milão. A ideia de homem e sociedade
dios tornaram-se autossuficientes e Durante o governo de Teodósio, o dos romanos é a mola-mestra no
mundo atual. Afinal, é deles que her-
independentes da economia urbana. cristianismo foi oficializado por meio
damos a ideia de família como a
Esse fato se acentuou com as pres- da Lei da Tessalônica, de 391. O Im-
célula-mãe da sociedade.
sões bárbaras sobre o Império, le- pério foi novamente dividido em O latim deu origem às línguas ro-
vando as vilas a constituírem verda- Oriente e Ocidente, mas já era tarde, mânicas da Europa: o português, o
deiras fortalezas, o que fez a vida de pois a desintegração de sua parte francês, o espanhol, o italiano e o
suas populações mais segura. ocidental era evidente mediante a romeno.
Ao mesmo tempo, essas altera- penetração dos bárbaros em suas Devemos ainda destacar seus en-
ções provocaram uma retração geral fronteiras. sinamentos na arte militar, na admi-
da economia, à medida que a produ- nistração pública e na arquitetura.
_________________________________
ção urbana e o comércio geravam K As invasões bárbaras e o
cada vez menos riquezas. fim do Império no Ocidente 5. CRONOLOGIA
Para o Estado, os impostos dimi- O enfraquecimento militar facili-
nuíram, o que dificultava o pagamen- tou as invasões dos bárbaros, que
foram ocupando o território do Impé- 133 a.C. – Tibério Graco é eleito
to de despesas. Então, emitia-se
rio Romano do Ocidente: visigodos, Tribuno da Plebe.
moeda. Os produtos escasseavam
na Espanha; vândalos, na África; fran-
no mercado e seus preços subiam, o 132 a.C. – Assassinato de Tibério
cos, na Gália; anglo-saxões, na
que não era acompanhado pelo Bretanha; ostrogodos, na Itália. Graco.
aumento de salários. O Império pas- Em 476, o Império do Ocidente
124 a.C. – Caio Graco é eleito
sava a vivenciar a inflação. reduzia-se à Itália. O imperador Júlio
Nepos foi deposto por Orestes, che- Tribuno da Plebe.
K As medidas fe do Exército, que colocou seu filho 121 a.C. – Suicídio de Caio Graco.
para conter a crise de 6 anos no trono com o nome de Rô-
mulo Augústulo. Odoacro, rei dos 107 a.C. – Primeiro consulado de
O Império foi obrigado a reduzir
suas despesas em razão da crise. hérulos, chefe bárbaro aliado a Júlio Mário.
Nepos, deu um contragolpe: afastou
Para tanto, deixou de sustentar a ple- 104 a.C. – Realização da refor-
Orestes e Rômulo Augústulo, tornan-
be urbana, limitou os gastos da corte
do-se rei da Itália. ma do Exército por Mário.
imperial, dispensou funcionários e As insígnias imperiais foram en-
reduziu os contingentes militares. 105-100 a.C. – Mário é cônsul por
viadas para Constantinopla, o que
Diocleciano, para impedir que os significa, ao menos teoricamente, a seis vezes consecutivas.
atritos entre militares no momento de reunificação do Império sob o domí-
82 a.C. – Sila é nomeado ditador
sucessão aumentassem e para ga- nio de Constantinopla. Mais tarde, o
rantir a eficiência contra as invasões imperador do Oriente, Zenon, preten- perpétuo.
bárbaras, estabeleceu a Tetrarquia, dendo livrar-se dos ostrogodos, que 79 a.C. – Renúncia de Sila à vida
dividindo o Império em Ocidente e lhe causavam problemas, concedeu-
lhes a Itália. Chefiados por Teodo- pública.
Oriente. Cada região passava a ser
rico, os ostrogodos formaram o Reino 60 a.C. – Primeiro Triunvirato.
governada por quatro imperadores –
Ostrogótico da Itália, pondo fim ao
dois augustos (imperadores princi- 44 a.C. – Assassinato de Júlio Cé-
Império Romano do Ocidente.
pais) e dois césares (imperadores
sar.
subalternos) –, que comandariam os 4. O LEGADO CULTURAL
destinos de Roma. 40 a.C. – Segundo Triunvirato.
Em 301, Diocleciano publicou o A estrutura do Direito Romano 30 a.C. – Conquista do Egito por
Edito do Máximo, numa tentativa de influenciou toda a sociedade ociden-
Otávio.
controlar o aumento de preços e de tal. Seu Código de Justiça, o Direito
salários, fixando o valor máximo que Romano, é até hoje a base de todos 27 a.C. – Otávio é proclamado
ambos poderiam alcançar. Com isso, os códigos de justiça do Ocidente e, Augusto. Início do Principado.
pretendia conter a inflação. por isso, disciplina obrigatória na for-
mação de juristas. 14 d.C. – Morte de Otávio Augus-
Com a morte de Diocleciano,
Com exceção do Direito, as de- to.
Constantino subiu ao poder e aboliu
mais ciências não atingiram grande
– 145
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54-68 – Reinado de Nero. Século III – Início da crise econô-


415 – Fundação do Reino Visigótico.
mica do Império Romano.
96 – Morte de Domiciano, último dos 439 – Fundação do Reino Vândalo.
284 – Início do governo de Diocle-
Doze Césares. Início da Dinastia dos 443 – Fundação do Reino Borgúndio.
ciano e criação da Tetrarquia.
449 – Ocupação da Bretanha por
Antoninos. 301 – Edito do Máximo.
anglos, saxões e jutos.
98-117 – Reinado de Trajano. O 313 – Constantino abole a Tetrarquia
455 – Saque de Roma pelos vân-
e assina o Edito de Milão.
Império Romano atinge sua extensão dalos.
391 – Edito da Tessalônica.
máxima. 476 – Deposição de Rômulo Augús-
395 – Morte de Teodósio e divisão
193-235 – Dinastia dos Severos. tulo e fim do Império Romano do
do Império Romano.
213 – Edito de Caracala, esten- 406 – Início das Grandes Invasões Ocidente.
dendo a cidadania romana a todos Germânicas. 488 – Ocupação da Itália pelos
os homens livres do Império. 410 – Saque de Roma pelos visigo- ostrogodos.
235 – Início da anarquia militar. dos.

MÓDULO 3 Islamismo

1. INTRODUÇÃO 3. A RELIGIOSIDADE DOS 4. MAOMÉ


ÁRABES
O aparecimento efetivo dos ára- Maomé era descendente de uma
bes na História ocorreu somente na A palavra islamita quer dizer família pobre (haxemitas), mas per-
Idade Média, quando formaram um “submisso a Deus” e muçulmano sig- tencia à tribo dos coraixitas. Dedi-
nifica “crente”. Os árabes acredita- cando-se desde cedo ao trabalho
vasto Império que passou a rivalizar
vam em espíritos (djinns), represen- em caravanas, conheceu outros po-
com o Império Bizantino (ou Império
tados por árvores e pedras, e em vos do Oriente Médio e entrou em
Romano do Oriente) e o Império Per-
uma infinidade de divindades subor- contato com o cristianismo e o ju-
sa. A rápida expansão dos árabes,
dinadas a um ser superior – Alá daísmo. Depois de seu casamento
que constituiu um dos principais as- (Deus, a divindade). O único fator de com uma rica viúva, Kadidja, Maomé
pectos da História Medieval, resultou unidade religiosa era o santuário entregou-se aos retiros espirituais e
da unificação política e religiosa da existente na cidade de Meca, a meditações, sem abandonar por
Arábia, efetuada por Maomé, que Caaba, em cujo interior era guardada completo a atividade profissional. Se-
lançou as bases da fundação do pri- uma Pedra Negra, reverenciada por gundo ele próprio afirmou, teve su-
meiro Estado nacional árabe. todos os árabes que para lá se dirigi- cessivas visões do arcanjo Gabriel.
am em peregrinação. Ali estavam Este lhe teria confiado a missão de
2. O ESPAÇO GEOGRÁFICO também representados os ídolos das propagar uma nova religião, cuja
diversas tribos da Arábia, que todos essência se consubstanciava na se-
A Península Arábica é uma re- os anos eram visitados pelos peregri- guinte frase: “Maomé, tu és o Profeta
gião desértica em sua maior parte, nos que aproveitavam para realizar do Deus único, Alá.”
localizada entre o Mar Vermelho e o suas práticas comerciais. Maomé converteu primeiramente
Golfo Pérsico. Essa região imensa, Aos habitantes de Meca interes- seus familiares e, em seguida, tentou
aparentemente vazia, possuía nume- savam, sobretudo, as romarias que convencer os coraixitas, sem obter
se realizavam ao final de cada ano, êxito. Perseguido, fugiu de Meca
rosos oásis e postos caravaneiros,
pois dinamizavam as trocas e trans- para Yatreb (desde então chamada
além de algumas cidades situadas
formavam a cidade em um grande Medina en Nabi, que significa “a
na proximidade da costa e dos por-
centro comercial. Sua única grande Cidade que recebeu o Profeta”) com
tos. As rudes condições de vida da
rival era Yatreb, velha cidade situada vários familiares, no episódio que fi-
região explicam seu isolamento; as- em um oásis, 350 quilômetros ao nor- cou conhecido como Hégira, que
sim, não foi conquistada pelos gran- te de Meca. Desse afluxo de beduí- marca o início do calendário muçul-
des Impérios da Antiguidade Orien- nos viviam os grandes comerciantes mano.
tal, nem mesmo pelos romanos, que pertencentes à tribo dos coraixitas, Apoiando-se nos habitantes de
diziam não lhes interessar as “pedras que controlavam o santuário da ci- Medina, Maomé deu início à Guerra
e a areia da Arábia”. dade e o poder político local. Santa contra Meca, atacando suas

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caravanas. O prestígio de Maomé que aceita apenas as regras estabe- provocada pelo crescimento da po-
cresceu com suas vitórias e, com o lecidas pelo Corão, ou seja, que ape- pulação e pela grande capacidade
apoio dos beduínos, marchou contra nas os descendentes de Maomé de miscigenação dos árabes; político
Meca, destruindo os ídolos da possuem o direito de governo, – unificação política alcançada pela
Caaba, declarando sagrado o recinto enquanto os sunitas abraçaram a unidade religiosa; religioso – obe-
do santuário e implantando definitiva- Suna e iniciaram um processo de diência ao preceito de Guerra Santa
mente o monoteísmo. Nesse ano de disputa sucessória com os xiitas. contra os infiéis; psicológico –
630, nasceu o Islã. atração exercida pelo paraíso muçul-
Os últimos anos de sua vida, 5. A EXPANSÃO mano, que prodigalizava recompen-
Maomé passou convertendo os de- MUÇULMANA sas materiais. Consideram-se ainda
mais árabes pela força das armas. (SÉCULOS VII-XI) elementos propulsores da expansão
Morreu em Medina, onde construíra a árabe, facilitando suas conquistas, a
primeira mesquita do Islão, deixando Quando Maomé morreu, deixou a fraqueza dos Impérios Bizantino e
elaborada a doutrina islâmica, que Arábia unificada, com sua capital em Persa e a instabilidade política dos
transmitiu a seus seguidores. Meca e sob a preponderância po- reinos germânicos do Ocidente.
As transcrições de seus ensina- lítica dos haxemitas. A morte do pro- Omar foi o principal califa da Di-
mentos consubstanciaram-se mais feta não provocou a dissolução do nastia Haxemita. Conquistou a Síria,
tarde no livro sagrado, o Corão ou incipiente Estado árabe: primeiro, a Palestina, a Pérsia e o Egito.
Alcorão. A doutrina islâmica é um porque os adeptos do islamismo, em A substituição dos califas haxe-
sincretismo fundamentado no sua maioria, eram crentes apegados mitas pelos omíadas, em 660, levou a
cristianismo e no judaísmo, bem à fé e à propagação dos ideais reli- duas mudanças: a capital foi transfe-
como nas tradições religiosas da giosos; segundo, porque surgiram rida para Damasco, na Síria, e as
própria Arábia. Prega a crença em de imediato dois homens, Abu Bekr e conquistas voltaram-se para o Oci-
um único Deus, nos anjos, no paraíso Omar – os dois primeiros califas –, dente. Avançando de forma fulminan-
celestial e no Juízo Final. Impõe aos que souberam assumir a sucessão e te, os maometanos conquistaram a
fiéis como princípios essenciais do a herança de Maomé, exercendo au- África do Norte, a Península Ibérica e
dogma: peregrinar a Meca, pelo toridade civil, militar e religiosa. Um até o sul da Gália, onde foram detidos
menos uma vez na vida; dar ano após a morte de Maomé, Abu pelos francos, liderados por Carlos
esmolas; jejuar no mês do Ramadã; Bekr conseguiu eliminar os focos de Martel, na Batalha de Poitiers; as ilhas
orar e pronunciar a profissão de fé resistência locais e consolidar a uni- de Córsega, Sardenha e Sicília tam-
cinco vezes ao dia, voltados em dire- ficação da península. bém caíram sob dominação muçul-
ção a Meca; fazer a Guerra Santa, A expansão islâmica, iniciada mana. Os árabes passavam a deter o
que representava uma obrigação imediatamente após a morte do pro- controle sobre o Mar Mediterrâneo.
ocasional. feta, foi estimulada por diversos fato- Em 750, em Damasco, um golpe
As tradições em torno da vida de res: econômico – interesse pelo sa- político afastou os omíadas do poder.
Maomé foram reunidas por seus que contra os vencidos (“butim”); so- Nesse momento, ascendia a Dinastia
adeptos em outro livro denominado cial – alta densidade demográfica, Abássida, formada por parentes do
Suna (Tradição), utilizado sempre
que se tratava de achar argumentos
para impor uma decisão ou definir
uma norma de governo para a qual o
Corão não fornecesse elementos.
A unidade do mundo muçulmano
foi quebrada após a morte do
profeta, com o surgimento de vários
movimentos, entre os quais se desta-
cam os sunitas e os xiitas. A diver-
gência inicial entre esses dois
grupos reside na questão do direito
de sucessão ao governo do Islão.
Segundo o Corão, somente os paren-
tes de Maomé poderiam substituí-lo
no comando dos crentes. Mas na
Suna não havia a mesma afirmação
sobre a questão. Assim, os xiitas
constituíram o grupo fundamentalista As conquistas árabes, após a morte de Maomé, deram origem ao mundo muçulmano.

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profeta, que instalaram a capital em dada por influências indianas e he- çulmanos se encontrassem, a pos-
Bagdá (Mesopotâmia) e orientaram lenísticas, conservadas cuidadosa- sibilidade de fazer em comum suas
as conquistas rumo ao Oriente, em mente pelos documentos reproduzi- preces de sexta-feira, num edifício
direção à Índia e à China. dos por copistas profissionais. É so- destinado para isso – a mesquita.
mente a partir da época em que os A pintura e a escultura pratica-
6. CONSEQUÊNCIAS DAS árabes começaram a assimilar os mente não se desenvolveram, em ra-
CONQUISTAS MUÇULMANAS valores da cultura grega que se pode zão da proibição à idolatria. Porém, os
verdadeiramente falar em uma “civili- árabes destacaram-se na arte deco-
A economia do Mundo Antigo foi zação árabe”. rativa, na sua escrita ornamental (ara-
caracterizada pela unidade em torno Durante a Dinastia Abássida, os bescos), na caligrafia e na ilustração.
do Mar Mediterrâneo. Os bárbaros, estudos científicos ganharam impor- Na Literatura, cabe destacar: As
ao invadir a Europa Ocidental no sé- tância. As ciências introduzidas no Mil e Uma Noites, o Livro dos Reis e
culo V, esfacelaram o Império Roma- meio árabe foram a Filosofia, a Mate- Rubayat, de Omar Khayan.
no, mas não interromperam as comu- mática e a Medicina. _________________________________
nicações pelo Mediterrâneo. A ex- Na Filosofia, destacou-se Aver-
8. CRONOLOGIA
pansão muçulmana dos séculos VIII róis, que viveu no século XII, estudio-
e IX, porém, bloqueou a navegação so da obra de Aristóteles e, ao mesmo
cristã através daquele mar, isolando tempo, filósofo, médico, jurisconsulto 570 – Nascimento de Maomé.
o Ocidente europeu e fortalecendo e astrônomo. Os princípios da Mate- 610 – Maomé tem a primeira visão
sua tendência para uma economia mática foram buscados em Euclides; do arcanjo Gabriel.
autossuficiente, com base numa pro- os cálculos, muito simplificados pelo
622 – Hégira.
dução rural. Evidentemente, houve uso dos algarismos arábicos – que,
exceções a essa regra geral, como, na verdade, foram assimilados da 629 – Conquista de Meca por
por exemplo, o comércio entre as ci- Índia – e pela criação da Álgebra. Maomé.
dades italianas e os árabes da Sicília. Além da Matemática, os árabes 632 – Morte de Maomé.
De qualquer maneira, mesmo tinham predileção pela Astronomia,
630-660 – Governo dos califas
que os árabes não tenham sido dire- pois já estavam familiarizados com
tamente responsáveis pela implan- as constelações que lhes serviam de haxemitas.
tação do feudalismo na Europa – pois guias em suas travessias noturnas no 660-750 – Governo dos califas
este processo já se iniciara durante a deserto. omíadas.
crise do Império Romano –, contribuí- A Alquimia também foi estimula-
711 – Invasão da Espanha pelos
ram decisivamente para acelerar a da em pesquisas e experiências,
consolidação do processo. com a finalidade de descobrir o elixir árabes (mouros).
da longa vida e a pedra filosofal, que 732 – Derrota dos árabes perante
7. A ARTE ISLÂMICA permitiria transformar todos os me- Carlos Martel na Batalha de Poitiers.
tais em ouro. No domínio da Medici-
Afora a civilização material cria- na, o nome mais célebre foi Avicena, 750-1258 – Dinastia Abássida.
da pelos árabes, ocorreu também um considerado um gênio universal. 756 – Fundação do califado de
florescimento intelectual. A conquista A arquitetura árabe foi notável, Córdoba; início da fragmentação do
da Pérsia possibilitou o contato com desenvolvida com uma finalidade prá- Império Árabe.
uma civilização muito antiga, fecun- tica: assegurar, onde quer que os mu-

MÓDULO 4 Monarquias Nacionais e Crises dos Séculos XIV e XV


1. CONTEXTO HISTÓRICO talecimento da burguesia decorrente reção ao mercado externo, rumo às
da ascensão do capitalismo e a conquistas marítimas.
Com a crise do feudalismo e o necessidade de dar unidade política Para realizar a sua tarefa, o rei
nascimento do capitalismo, o poder ao território nacional, o que somente teria de se aproximar do aparelho
evoluiu da descentralização para a seria possível com a centralização de Estado, isto é, dominar a tribu-
centralização, dos senhores feudais do poder. tação (apropriação dos exceden-
para o rei. O exercício do poder pelo A condição básica para conse- tes), monopolizar a violência pelo
rei sobre a nação (povo) dá origem guir a unificação é a centralização. O domínio da for ça e, finalmente,
às monarquias nacionais. rei é o único que tem condições de exercer o poder por intermédio da
Vários fatores contribuíram para o uniformizar pesos, medidas, moe- administração burocrática e da
êxito real: a fragilidade da nobreza por das, leis alfandegárias e, ao mesmo justiça organizada.
causa da crise do feudalismo, o for- tempo, organizar a expansão em di-
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Esse processo de centralização ções com a Inglaterra, cedendo Li- do a destruição da nobreza feudal,
teve início na França, continuando na mousin e Perigord aos ingleses em contribuindo para a formação de um
Inglaterra, Portugal e Espanha. troca dos territórios franceses ques- sentimento de nacionalidade, que fa-
tionados pela Inglaterra. voreceu sobremaneira o poder real.
2. A CENTRALIZAÇÃO Filipe, o Belo, governou a França
MONÁRQUICA NA FRANÇA entre 1285 e 1314, sucedendo o rei- 3. A CENTRALIZAÇÃO
nado do rei cruzado São Luís e logo MONÁRQUICA
Em 987, após derrubar o último de início entrou em litígio com o papa NA INGLATERRA
rei carolíngio, Hugo Capeto assumiu Bonifácio VIII. O Sumo Pontífice não
poderes políticos que serão preser- aceitou a excessiva tributação cobra- Em 1066, a influência normanda
vados por mais de 300 anos. Embora da pelo monarca francês. Apesar de se fazia sentir na Inglaterra, uma vez
não houvesse leis que concedessem o papa ir contra as resoluções tribu- que Guilherme, o Conquistador,
à Dinastia Capetíngia poderes cen- tárias do rei francês, os legistas pu- acompanhado de um exército das
tralizadores, diversos capetos gover- blicaram uma carta sem grande for- mais diversas origens, venceu o her-
naram poderosamente. Vários foram ça jurídica, apoiando o monarca con- deiro legal, Haroldo, na Batalha de
os fatores que auxiliaram esta exces- tra o papa. Bonifácio VIII excomun- Hastings, apoderando-se, dessa for-
siva centralização medieval: a gou Filipe em 1303, porém o papa foi ma, do trono inglês. Guilherme, o
divisão do reino nunca fora ques- cercado pelas tropas reais em Anag- Conquistador, submeteu a nobreza
tionada pelos sucessores; nunca ni, onde morreu. inglesa, obrigando-a a prestar-lhe um
houve regências imperiais; o flores- A política de Filipe, o Belo, visava juramento de fidelidade. Para centra-
cimento comercial dava à dinastia angariar fundos para o erário francês lizar seu poder, dividiu o reino em
condições de manter-se inabalável e assim partiu contra os judeus, ban- condados, colocando os sherifs,
diante da pressão nobiliárquica. queiros italianos, confiscando suas pessoas de sua confiança, para
A monarquia nacional francesa propriedades. A crise política agra- administrar as províncias reais e
tem seu início com Filipe Augusto vou-se, obrigando Filipe, o Belo, a obtendo desta forma um vasto
(1180-1223) nomeando funcionários convocar, em 1302, uma assembleia controle sobre seus domínios.
de sua confiança para supervisionar do clero, nobres e representantes Com sua morte, o poder foi ocu-
a justiça nos tribunais feudais, o que das cidades; surgiram, então, os pado por Henrique II, que iniciou a
diminuiu consideravelmente a auto- Estados-Gerais. Os constantes lití- Dinastia dos Plantagenetas, refor-
nomia dos senhores feudais. Apesar gios entre o Estado e o Papado cul- çando ainda mais o poder real. Seu
de continuar dependendo de seus minaram com uma cisão profunda no filho, Ricardo Coração de Leão, con-
vassalos em questões bélicas, preo- seio da Igreja Católica, uma vez que duziu de maneira desastrosa a políti-
cupou-se em tomar providências pa- Filipe, o Belo, forçou o Colégio de ca externa do reino, perdendo vários
ra criar um exército nacional subme- Cardeais a escolher Clemente V feudos que a Inglaterra possuía na
tido à sua própria autoridade. Por como Sumo Pontífice, transferindo a França. Seu reinado foi praticamente
isso, tratou de assalariar e convocar sede do Papado de Roma para dominado pelo seu envolvimento na
soldados aos milhares, conseguindo, Avignon. Este cisma durou até 1309. Terceira Cruzada. Esta desastrosa
dessa forma, o poder da força. A O papa passou a ser um instrumento política exter na colocou o trono
partir daí, muitas funções, até então nas mãos reais, uma vez que os inglês na dependência do Papado,
atribuídas aos senhores feudais, caí- dízimos cobrados dos fiéis acaba- que acabou, assim, oferecendo o
ram em mãos reais. vam passando aos cofres do Estado trono a Filipe Augusto, da França.
A unificação da França, porém, francês. Essa pressão forçou o herdeiro dinás-
avançou substancialmente com a fi- Com a extinção da Dinastia dos tico, João Sem Terra, a dobrar-se
gura de Luís IX (1226-1270). Com Capetíngios, no século XIV, assumiu diante da autoridade papal, da qual
sua vida monástica, soube utilizar-se o trono Filipe VI (1328-1350), inicia- passou a ser vassalo. Enquanto Ricar-
de princípios religiosos em seu pro- dor da Dinastia dos Valois, que go- do combatia os infiéis no Oriente,
veito político, instituindo o direito de vernou a França até 1589. Com a no- João Sem Terra tentava manter-se no
apelo, segundo o qual todos os va dinastia, iniciou-se o conflito com poder despoticamente. Em 1215, os
casos graves seriam julgados pelos a Inglaterra: a Guerra dos Cem Anos, barões ingleses, sentindo-se pres-
juízes reais. Nas províncias, comba- motivada pelas ambições econô- sionados pela excessiva centralização
teu duramente os abusos dos funcio- micas e territoriais sobre Flandres, do rei regente, impuseram-lhe a Carta
nários, adotando leis escritas, e grande produtora de lã – matéria- Magna, que limitava os seus poderes.
proibiu também as guerras privadas. prima indispensável para o desen- Esta “Constituição” assegurava a to-
Em nível externo, destacou-se pela volvimento da manufatura – e pelo dos os ingleses proteção contra o
assinatura do Tratado de Paris, no direito de sucessão ao trono francês. despotismo real, sendo considerada
qual tentou abrandar as difíceis rela- A violenta guerra acabou provocan- precursora das liberdades individuais.

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Seu início é marcado pela Bata- que, recebendo o primeiro o Conda-


lha de Covadonga, em 718, ganha do da Galiza, ao norte do Rio Minho,
por visigodos dirigidos por Pelágio e e o segundo o condado Portucalense
refugiados nas montanhas do norte (nome derivado da povoação de
do País. Foi nas montanhas asturia- Portucale junto à foz do Douro) em
nas que se organizou o pequeno rei- 1094. Este Condado estendia-se do
no das Astúrias, como símbolo da re- Rio Minho ao Rio Tejo e compreendia
sistência cristã. Nos Pirineus, surgiu as cidades de Braga, Coimbra,
também outro reino – pois os islamitas Viseu, Lamego e Porto.
haviam sido desalojados pelos fran- Entretanto, D. Henrique de
cos –, que dará origem ao reino de Borgonha aspirava obter a inde-
Navarra, ao Condado de Barcelona e pendência. Conseguiu transferir a
a Aragão. vassalagem que devia a D. Raimun-
Já no século IX, Astúrias apode- do para o rei de Leão. Com a morte
ra-se de Leão e Castela e a capital de D. Raimundo e D. Afonso VI,
do reino passa a ser Leão em 944. D. Urraca herdou o reino. Seu
A formação da Mas dissensões, tipicamente feu- segundo casamento, desta vez com
Monarquia Nacional Inglesa.
dais, entre os vários reinos cristãos o rei de Aragão, originou vários
Com a derrota na Guerra dos (Leão, Castela, Navarra, Galiza) conflitos, principalmente com Afonso
Cem Anos, a expulsão dos campo- agravaram ainda mais a luta perma- Raimundes, filho do conde Raimun-
neses e os cercamentos das terras nente travada contra os muçulma- do, que governava a Galiza.
prenunciavam uma nova servidão. nos. Violentas alternativas verifica- O casamento entre o rei de Ara-
Os camponeses sentiam-se cada ram-se durante a Reconquista. gão e D. Urraca acabou desfazendo-
vez mais ameaçados, provocando Uma delas é a tomada de Toledo, se e as lutas prosseguiram, com vai-
uma guerra sem proporções. De um em 1085, por Afonso VI, rei de Leão véns que parecem hoje absurdos; D.
lado, os belicosos senhores feudais e Castela, que teve como um de seus Henrique passava de um campo a
e, do outro, os novos nobres que vassalos o famoso Rodrigo Dias de outro sem o menor embaraço e sem
buscavam na manufatura da lã uma Vivar, o “Cid Campeador”. Mas os êxito para suas ambições. Morreu em
forte fonte de riquezas. Essa guerra amorávidas, rudes guerreiros da 1114.
acabou por envolver duas grandes África Saariana, acudiram em auxílio Sucedeu-lhe a viúva, D. Teresa,
famílias de nobres, que acabaram a seus irmãos e destroçaram no ano insinuante e formosa, que usou abu-
por disputar o direito ao trono inglês: seguinte as tropas de Afonso VI, sem sivamente do título de rainha e tomou
os Lancasters e os Yorks. Coinciden- quebrar a frente cristã. o partido da Galiza contra D. Urraca.
temente, ambas traziam em brasões Posteriormente, merece desta- Mas foi derrotada e não pôde desfa-
uma rosa, uma vermelha e a outra que a vitória luso-castelhana de Las zer-se da vassalagem que a prendia
branca, ficando a guerra conhecida Navas de Tolosa, em 1212. Mas o à irmã, nem ao sobrinho, quando
com o nome de Guerra das Duas Ro- Reino de Granada, que ainda sobra- este ocupou o trono de Leão (1126).
sas. Essa violência não teve limites, ria em mãos maometanas em fins do O confronto entre os herdeiros
varrendo a Inglaterra de ponta a pon- século XIII, durou mais dois séculos. deu-se em 1128 no campo de São
ta. Os campos foram queimados, as Mamede, per to de Guimarães, e
cidades saqueadas e a nobreza res- saldou-se pela vitória de Afonso
5. O CONDADO
tante viu na família Tudor uma espe- Henriques e de seus par tidários.
PORTUCALENSE
rança para o fim da contenda. Em Expulsa de Portugal, D. Teresa
1485, Henrique VII assumiu o trono,
Cavaleiros cristãos colaboraram morreu no exílio dois anos mais tarde.
fortalecendo o poder real.
na Reconquista. Distinguiram-se no Pretendendo realizar o sonho de
apoio a Afonso VI dois fidalgos de seu pai, Afonso Henriques ven-
4. A GUERRA DE RECONQUIS-
alta linhagem: Raimundo, filho do ceu seu primo, Afonso VII (Afonso
TA E A FORMAÇÃO DE
conde de Borgonha, e seu primo Raimundes), em Cerneja, em 1137.
PORTUGAL E DA ESPANHA
Henrique, sobrinho-neto de Henrique Finalmente, em 1139, vencendo
A Guerra de Reconquista durou II da França. os mouros em Ourique, Afonso
até 1492, quando o último reduto mu- Em retribuição aos serviços pres- Henriques adotou o título de
çulmano, o reino de Granada, tados contra os sarracenos (talvez), Rei de Portugal, reconhecido por
caiu em mãos de Isabel de Castela e o rei Afonso VI consorciou a filha legí- Afonso VII em 1143, pelo Tratado de
Fernão de Aragão; oito séculos, por- tima, D. Urraca, com Raimundo, e a Zamora, bem como pelo de Santa
tanto. filha bastarda, D. Tereza, com Henri- Fé, em 1179.

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6. A DINASTIA DE BORGONHA D. Pedro I (1357-1367) vingou-se 7. A CRISE DO SÉCULO XIV


com selvagens requintes e ministrou
A monarquia portuguesa foi fun- justiça com extraordinária severidade. Após um período caracterizado
dada por D. Afonso I (Afonso Hen- D. Fernando (1367-1383) ini- pelo desenvolvimento comercial e ur-
riques), que alargou consideravel- ciou a aliança com a Inglaterra (desde bano, pelo processo de fortalecimen-
mente o território português, impon- os primórdios do século XIII já havia to do poder real mediante aliança do
do-se a seus vizinhos cristãos e sar- comércio entre Portugal e Inglaterra), rei com a burguesia mercantil e,
racenos. Venceu Afonso VII em Val- proibiu aos membros do clero e da particularmente, pelas mudanças
de-Vez, forçando-o à assinatura do nobreza o exercício de mercador, en- que atingiram a velha ordem feudal,
Tratado de Zamora; tomou dos ára- volveu-se em três guerras desastro- anunciando a nova ordem capitalista,
bes Santarém, Lisboa (com a ajuda sas contra Castela (pretendia o trono), a Europa foi sacudida por crises de
de cruzados, em 1147), Cintra, Al- casou-se com D. Leonor Teles, cujo natureza estrutural e conjuntural.
mada, Pamela, Alcácer do Sal, Évora, matrimônio anterior conseguiu anular, Guerras, pestes, fomes generaliza-
Beja, Serpa etc. Morreu em 1185, desbaratou as riquezas acumuladas das e rebeliões camponesas marca-
tendo instalado uma monarquia por seus antecessores, aviltou a ram o Velho Mundo no século XIV,
nacional, com poderes centra- moeda e tentou inutilmente tabelar os considerado na época um “século
lizados e obediência de todos produtos essenciais com o objetivo de demoníaco”.
os súditos, numa franca negação obstar a especulação desenfreada
do Estado feudal que caracterizava dos preços. K A Guerra dos Cem Anos
as relações de poder na Europa. Mas o êxodo rural se acentuava Em 1337, estourou a Guerra dos
D. Sancho I (1185-1211), seu filho e as terras caíam no abandono; falta- Cem Anos, que se estendeu até 1453
e sucessor, fomentou o povoamento vam os cereais; o trigo e a cevada e envolveu a nobreza feudal inglesa
do Reino, atraindo estrangeiros. atingiam preços astronômicos; o go- e os senhores feudais da França. A
D. Afonso II (1211-1223) convo- verno não tinha outros meios senão disputa da riquíssima região de Flan-
cou as primeiras Cortes, reuniões compelir os proprietários das terras a dres, célebre pelas feiras que lá
das quais participavam a família real, lavrá-las e os aldeões ao trabalho eram realizadas, e o problema su-
o clero, a nobreza e, mais tarde, tam- agrícola. Foi este o objetivo da Lei cessório foram responsáveis pelo
bém representantes dos conselhos, das Sesmarias (1375). A posse conflito.
isto é, das vilas e lugares que gozas- das terras implicava a obrigação de Eduardo III, da Dinastia dos Plan-
sem de certa autonomia, estabeleci- cultivá-las; caso contrário, seriam tagenetas, rei da Inglaterra e neto de
da nos forais. confiscadas. Quanto à crise braçal, Filipe, o Belo, da França, foi impedi-
D. Sancho II (1223-1248), a exem- decretou-se a proibição dos filhos e do de assumir o trono francês, tendo
plo de seu predecessor, procurou netos dos lavradores de abandona- em vista que na Lei Sálica os des-
consolidar a autoridade real, em meio rem a lavoura. Os operários de cendentes por linhagem feminina
a choques com o clero e a nobreza. ofícios menos úteis que a lavra da não tinham direito ao trono. A França
Com Afonso III (1248-1279), foi terra podiam ser constrangidos ao tra- foi invadida pelo norte, com o apoio
retomada a política expansionista balho agrícola. da região de Flandres. Nesse mo-
pela anexação definitiva do Al- A crise social e econômica recru- mento, emergiu plenamente a crise
garve (1249), integralizando assim desceu, pois o rei não estava em con- do feudalismo: os camponeses se re-
o território português. dições de fazer aplicar seus decre- belaram, eclodindo as Jacqueries;
D. Dinis (1279-1325), poeta, fo- tos, em virtude de seu envolvimento cavaleiros em busca de vantagens
mentou a agricultura, fundou a Uni- nas guerras contra Castela. pessoais vieram à luta e exércitos
versidade de Coimbra, incenti- À sua morte, em 1383, sua filha, mercenários se formaram. Em meio à
vou o povoamento, a exploração das D. Beatriz, casou-se com o rei de guerra e ao fervor religioso, surgiu
terras, as atividades navais e o co- Castela. E a rainha-viúva, D. Leonor Joana d’Arc, que, conduzindo cam-
mércio das feiras; aproveitando a ex- Teles, já profundamente antipatizada, poneses franceses à luta, foi aprisio-
tinção da Ordem dos Templários, abdicou da regência em nome de nada e condenada, posteriormente,
criou a Ordem de Cristo (1319), que sua filha. Eclodiu então uma revolta como herege pela Igreja.
teve grande importância na expan- popular, dirigida e controlada pela A guerra terminou com a vitória da
são ultramarina. burguesia comercial, ligada a França e, em virtude das devastações
D. Afonso IV (1325-1357) lutou D. João, filho bastardo de dos campos e da fuga dos servos, a
contra os mouros e autorizou o as- D. Pedro I e Mestre da Ordem nobreza feudal estava arruinada.
sassinato de D. Inês de Castro, Monástico-Militar de Avis. Este,
amante do Infante D. Pedro, por aliás, assassinou o Conde Andeiro, K A Peste Negra
fidalgos que temiam a influência da amante de D. Leonor Teles. São os Durante a guerra, a peste che-
futura rainha. primórdios da Revolução de Avis. gou à Europa por intermédio de co-

– 151
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merciantes italianos que a con - K A generalização da fome manter a estrutura feudal, começa-
traíram na Ásia. Alastrou-se rapida- A crise agrícola provocada pela ram a substituir as obrigações servis
mente, ceifando grande parte da guerra e pela peste foi associada por serviços e arrendar as terras para
população. O misticismo atribuiu a também às péssimas condições não perdê-las.
peste a um castigo divino, o que atmosféricas da Europa do século O processo de transformação
deu origem a um forte fanatismo re- XIV. Com isso, criou-se um ciclo que para o capitalismo acelerou-se na Eu-
ligioso. Os campos se esvaziaram, parecia interminável: guerra, peste e ropa Ocidental. Com a expansão ul-
abalando a produção agrícola, o fome. tramarina, as crises foram superadas,
que provocou a escassez de ali- Com a crise, muitos servos aca- contribuindo para o crescimento da
mentos, a alta dos preços e, em baram conseguindo sua liberdade e burguesia e para a consolidação do
consequência, a fome. os senhores feudais, incapazes de Estado Moderno.

8. CRONOLOGIA 1429-1431 – Participação de 1381 – Revolta camponesa (Wat


Joana d’Arc na Guerra dos Cem Tyler).
1348 – Início da Peste Negra. Anos. 1399 – Início da Dinastia de Lan-
1431 – Morte de Joana d’Arc. caster.
FRANÇA 1453 – Fim da Guerra dos Cem Anos. 1455 – Início da Guerra das Duas
987 – Início do reinado de Hugo 1461 – Início do reinado de Luís XI Rosas.
Capeto, fundador da Dinastia dos e retomada do processo de centrali- 1461 – Ascensão da Dinastia de
Capetíngios. zação monárquica na França.
York.
1180-1223 – Reinado de Filipe Au- 1485 – Fim da Guerra das Duas Ro-
INGLATERRA
gusto e início da centralização monár- sas e ascensão da Dinastia Tudor.
quica na França.
1066 – Conquista da Inglaterra por
1223-1226 – Reinado de Luís IX
Guilherme, o Conquistador, duque PAÍSES IBÉRICOS
(São Luís). da Normandia.
1285-1314 – Reinado de Filipe IV, 1154-1189 – Reinado de Henrique 718-1492 – Guerra de Reconquis-
o Belo. II, da Dinastia dos Plantagenetas. ta.
1302 – Primeira convocação dos 1171 – Início da conquista da Irlanda. 944 – Leão, capital do reino das
Estados-Gerais. 1189-1199 – Reinado de Ricardo Astúrias.
1303 – Excomunhão de Filipe, o Coração de Leão. 1085 – Conquista de Toledo por
Belo, por Bonifácio VIII. 1199-1216 – Reinado de João Sem
Afonso VI.
1309 – Transferência do Papado Terra.
1094 – Casamento de Henrique de
para Avignon. 1214 – Derrota de João Sem Terra
Borgonha com D. Tereza e de Rai-
1328 – Ascensão de Filipe VI de Va- por Filipe Augusto.
mundo de Borgonha com D. Urraca.
lois. 1215 – Carta Magna.
1128 – Batalha de São Mamede.
1337 – Início da Guerra dos Cem 1216-1272 – Reinado de Henrique
Anos por Eduardo III. 1139 – Fundação de Portugal e
III.
1346 – Vitória dos ingleses sobre os início da Dinastia de Borgonha.
1265 – Instalação do primeiro Parla-
franceses na Batalha de Crécy. 1212 – Batalha de Las Navas de
mento.
1355 – Derrota dos franceses na Toloso.
1272-1307 – Reinado de Eduardo I;
Batalha de Poitiers. conquista do País de Gales. 1319 – Criação da Ordem de Cristo.
1358 – Rebelião dos camponeses 1327 – Deposição de Eduardo II pelo 1383 – Início da Revolução de Avis.
(Jacquerie). Parlamento e ascensão de Eduardo III. 1385 – Início da Dinastia de Avis.
1422 – Início do reinado de Car- 1350 – Divisão do Parlamento em 1469 – Casamento dos reis cató-
los VII; domínio da maior parte da Câmara dos Lordes e Câmara dos licos Fernando de Aragão e Isabel de
França pelos ingleses. Comuns. Castela.
152 –
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MÓDULO 5 Renascimento: Conceito, Origem e Características

1. INTRODUÇÃO O mecenato passava a constituir Nas artes plásticas, o Renasci-


um sinal de prestígio e a ele aderiram mento dá início a um movimento que
A crise do sistema feudal, inicia- príncipes e papas. Porém, entre me- busca integrar o natural, o humano e
da no século XI, e o surgimento do cenas e obras encontrava-se, muito sobretudo o espaço tridimensional,
capitalismo, promovendo a ascensão mais, o interesse econômico e político dando a ilusão de profundidade. No-
da burguesia e a centralização do da classe que as patrocinava do que o vas técnicas e novos materiais (como
poder político pelos reis, foram interesse pela arte em si. óleo sobre tela) foram utilizados pelos
acompanhados pelo aparecimento Se a burguesia buscava na arte artistas na constante busca da per-
de uma nova cultura, caracterizada um meio de divulgar seus negócios e feição e da harmonia na obra de arte.
pelo Renascimento Cultural, e uma a projeção social, os novos príncipes
nova concepção religiosa, que resul- (condottieri), surgidos nas cidades 5. O RENASCIMENTO
taria na Reforma. italianas, buscavam a legitimação de
ITALIANO E O HUMANISMO
seu poder político, uma vez que não
2. O SIGNIFICADO
tinham tradição de sangue.
DO RENASCIMENTO Sendo a Itália o berço do Renas-
Contribuíram para o Renasci-
cimento, foi aí que esse movimento
mento na Itália a presença dos
O Renascimento, como o próprio se desenvolveu em plenitude, tanto
sábios bizantinos depois de 1453, as
nome indica, significa o revivescer nas artes plásticas quanto na literatu-
profundas marcas da cultura antiga e
de algo que se encontrava adorme- ra e ciência (Humanismo).
a invenção da imprensa.
cido. Empregado no contexto da Os humanistas, geralmente,
transição feudo-capitalista, significa 4. CARACTERÍSTICAS eram eclesiásticos ou professores
o revivescimento dos valores da DO RENASCIMENTO universitários que desprezavam a
cultura antiga greco-romana. cultura gótica medieval e primavam
Como manifestação que dá início pelo individualismo, a vontade do po-
O Renascimento promoveu um
a uma nova visão do mundo, o Re- derio, o refinamento cultural e espiri-
retorno à cultura greco-romana ou
nascimento desloca o interesse do
cultura clássica, tanto no plano artís- tual. Dedicavam-se a dominar todos
campo religioso para o profano e se-
tico como na maneira de pensar. os ramos do conhecimento e cons-
cular. É uma revolução cultural que
Assim, os artistas do Renasci- tituíram o verdadeiro espírito do mo-
corresponde à ascensão da burgue-
mento contrapunham os valores me- vimento renascentista.
sia, que pretende romper com os pa-
dievais aos valores clássicos, julgan- Em razão das obras e das carac-
drões estabelecidos pela cultura me-
do viver um período de luzes depois terísticas que elas apresentam, o Re-
dieval, impregnada de misticismo e
das trevas medievais. nascimento pode ser dividido em três
religiosidade.
O homem passava a ser coloca- fases distintas.
do como o centro de tudo, o antropo- A primeira é denominada Trecen-
3. ORIGEM DO
centrismo; o estudo da natureza ga- to, que corresponde à arte do século
RENASCIMENTO
nhou acentuada importância; a utili-
XIV, quando se assiste a uma arte de
O Renascimento teve origem na zação de métodos experimentais tra-
transição do Período Medieval para o
Itália por diversos fatores. duzia a busca de um profundo racio-
Renascimento. Nessa fase, destacam-
A partir do século XI, as cidades nalismo na contabilidade e na orga-
se Dante, com a Divina Comédia, Pe-
italianas transformam-se nos princi- nização do Estado; o universalismo
predominava enquanto realização trarca, com África, e Boccaccio, com a
pais centros econômicos e comer-
total do artista; os homens desco- obra Decameron. Nas artes plásticas,
ciais da Europa. Justamente nessas
briram o prazer no ato de criar (hedo- Giotto representa os ideais precur-
regiões em que primeiro se firma o
capitalismo, consolida-se a vida ur- nismo); o individualismo superava a sores da arte renascentista.
bana e uma forte e poderosa classe visão coletivista e de massas que No Quatrocento, que correspon-
mercantil. imperava durante a Idade Média. de ao século XV, Florença abriga um
Da acumulação de riquezas foi O Renascimento teve também dos mais célebres momentos do Re-
possível o surgimento dos mecenas, dois aspectos: o civil, que era ligado nascimento, sob a proteção do me-
homens que enriqueceram a ponto às cidades republicanas dirigidas cenato da Família Médici. Desse pe-
de ficar em condições de proteger as pela alta burguesia e nobreza ríodo, destacamos a figura do mece-
artes e os artistas. Estes acabavam mercantil e cultivava os temas do nas Lorenzo de Médici, o “Magnífi-
conhecidos e respeitados por todos; cotidiano, que eram mais humaniza- co”, que fundou a “Academia Platôni-
a arte os ajudava a conseguir crédi- dos; o cortesão, restrito aos prín- ca”, na qual pensadores ilustres bus-
tos e a divulgar as atividades de suas cipes, que destacava temas mais cavam conciliar o ideal cristão com o
empresas. ligados à nobreza cortesã. pensamento antigo. Nas artes plásti-
– 153
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cas, esse período representa um grande brilhantismo


na produção de obras, sendo seus expoentes Masac-
cio, Boticelli, Tintoretto, Ticiano e Leonardo Da Vinci (“O
Gênio Universal da Humanidade”).
A terceira e última fase do Renascimento é
denominada Cinquecento e corresponde à arte do
século XVI, que, apesar de ter artistas como Rafael e
Michelangelo, já demonstra o período de crise do
movimento dentro da Itália. Roma passou a ser a sede
do movimento e, sob a proteção de mecenas papas,
Michelangelo pintou os afrescos na Capela Sistina e
esculpiu Pietá, Davi e Moisés.
Mas, sem dúvida, Florença, nesse período, abrigou o
maior dos humanistas italianos: Nicolau Maquiavel, que,
ao escrever O Príncipe, estabeleceu os fundamentos
teóricos do Estado Moderno, essencialmente na formu-
lação da razão de Estado, que seria, posteriormente,
pedra angular na teoria política dos Estados europeus.
Principais centros do Renascimento italiano e sua difusão.

6. CRONOLOGIA 1452-1519 – Leonardo Da Vinci.

1265-1321 – Dante Alighieri. 1469-1527 – Nicolau Maquiavel.


1266-1337 – Giotto. 1483-1520 – Rafael.
1304-1374 – Francesco Petrarca. 1475-1564 – Michelangelo.
1313-1375 – Giovanni Boccaccio. 1517-1576 – Ticiano.
1444-1550 – Sandro Botticelli. 1518-1594 – Tintoretto.

MÓDULO 6 Difusão e Crise do Renascimento


1. DIFUSÃO DO países europeus, foram os temas Nas artes plásticas, o Renasci-
RENASCIMENTO produzidos pelo Renascimento Cor- mento teve maior expressão do que o
tesão que tiveram maior acesso aos Humanismo. Na região dos Países
A Renascença manifestou-se pri- outros países, cuja estrutura era de Baixos, as artes plásticas desenvol-
meiramente na Itália, difundindo-se cunho autocrático. veram-se de forma independente dos
posteriormente para o exterior e atin- Por outro lado, as obras do Re- modelos clássicos e refletiam o luxo
gindo quase todos os países da Eu- nascimento Civil só poderiam pene- da vida dos comerciantes. Seus maio-
ropa Ocidental. Em nenhum deles, o trar em regiões onde as condições res expoentes foram Peter Brueghel,
movimento apresentou tanta expres- fossem semelhantes às italianas: foi Bosch, Van Eych e Rembrandt.
são quanto na Itália. esse o caso dos Países Baixos.
Podemos afirmar que, durante a K Inglaterra
No Humanismo inglês, ganhou
fase do Trecento, o movimento renas- K Países Baixos
destaque Sir Thomas Morus, com a
centista circunscreveu-se à Itália. Foi Erasmo de Rotterdam, sem dú-
obra Utopia, que, diante das mu-
durante os fins do século XV, quando vida, é o maior expoente do Huma-
danças sociais promovidas na Ingla-
se iniciaram as guerras da Itália (pro- nismo nos Países Baixos. Chamado
terra em decorrência da manufatura,
movidas pelos reis franceses), que a de “O Príncipe dos Humanistas”,
condenou os abusos da nova socie-
extraordinária criação cultural da Itá- em 1509 publicou sua obra mais fa- dade que se formava e propôs uma
lia foi vislumbrada pelos demais paí- mosa, Elogio da Loucura, na qual sociedade ideal.
ses europeus. Os soldados e os di- tece críticas satíricas à sociedade William Shakespeare foi o repre-
plomatas foram os principais agentes de seu tempo. Tendo dedicado a sentante máximo da obra teatral, es-
dessa difusão. sua vida à carreira eclesiástica, crevendo mais de 40 peças para a
Tendo em vista as características Erasmo é considerado um huma- dramaturgia, entre elas Romeu e Ju-
sociais e econômicas dos demais nista cristão. lieta, Macbeth, Hamlet e Rei Lear.
154 –
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K Países Ibéricos Um dos melhores exemplos da 3. CRISE DO


Miguel de Cervantes foi o maior ciência renascentista é Leonardo da RENASCIMENTO
representante do Humanismo na Es- Vinci. Nasceu em Florença, mas viveu
panha. Em sua obra Dom Quixote de a maior parte da sua vida em Milão. A Itália, até o século XVI, mono-
La Mancha, satirizou a sociedade Sua obra é principalmente artística. polizou as rotas bem como o comér-
feudal e os costumes da cavalaria. Somente após sua morte é que foram cio de produtos orientais, fato que lhe
Nas artes plásticas, El Greco e difundidas suas ideias científicas, conferiu importância e desenvolvi-
Murillo desenvolveram obras impreg- que são precursoras de inventos mento econômico. Porém, com o pro-
modernos. Teorizou alguns princípios cesso de expansão marítima, esse
nadas de religiosidade e emoção.
da geologia e pode ser considerado
Em Portugal, Luís Vaz de Ca- monopólio exercido pelas cidades
precursor remoto do avião, do sub-
mões, com sua obra Os Lusíadas, italianas foi quebrado pelas nações
marino e do carro de assalto.
traçou a épica narrativa das navega- ibéricas (Portugal e Espanha), o que
O polonês Copérnico demons-
ções portuguesas. Gil Vicente produ- levou ao declínio econômico, que, por
trou que a Terra não era o centro do
ziu uma obra considerável, tendo tí- Sistema Solar, mas sim o Sol. Não era sua vez, se refletiu no plano cultural.
tulos como A Farsa de Inês Pereira e o Sol que girava em torno da Terra, Outro fator de peso na decadên-
Auto da Barca do Inferno. como se pensava na Idade Média, cia do Renascimento italiano foi a
mas a Terra que girava em torno do Contrarreforma, que imprimiu uma
K França Sol. Suas pesquisas foram completa- série de restrições morais às obras
François Rabelais satirizou a Filo- das pelo alemão Keppler e pelo artísticas.
sofia Escolástica e a Igreja nas obras italiano Galileu. _________________________________
Gargântua e Pantagruel. Michel Mon- Na medicina, Versálio publicou
4. CRONOLOGIA
taigne, em Ensaios, criticou a socie- uma obra que continha os princípios
dade francesa de seu tempo. da anatomia; o espanhol Miguel Servet
descobriu uma parte da lei da cir- 1450-1550 – A Península Itálica
culação sanguínea; o médico francês desponta como centro irradiador do
2. RENASCIMENTO
Paré encontrou uma nova forma de
CIENTÍFICO Renascimento.
estancar a hemorragia.
Apesar de todo esse progresso 1507 – Leonardo da Vinci, o “gênio
O conhecimento medieval era intelectual e científico demonstrado, universal”, pinta Monalisa.
fundamentalmente livresco, isto é, não devemos esquecer que para o
aceitavam-se totalmente as informa- homem da Renascença a noção de 1509 – Erasmo de Rotterdam pu-
ções e explicações contidas nos li- medida, de tempo de precisão, era blica Elogio da Loucura.
vros sagrados e profanos. A curiosi- muito limitada. As coisas sobrenatu-
1513 – Maquiavel publica O Príncipe.
dade impõe o surgimento de expe- rais mesclavam-se com as coisas
riências e observações durante o Re- materiais com grande facilidade. A 1564 – Nascem Galileu Galilei e o
nascimento. O resultado foi o extraor- crença em fantasmas e em bruxarias escritor inglês William Shakespeare.
dinário desenvolvimento científico. era generalizada.

MÓDULO 7 Reforma Protestante


1. O SIGNIFICADO mou a mentalidade do indivíduo. A Ao mesmo tempo, os reis,
DA REFORMA quebra da estrutura do sistema centralizando o poder, procuraram
feudal fez surgir a necessidade de transfor mar a religião e a Igreja em
A Reforma foi uma mudança uma nova religião, mais adaptada ao ins tru men to de sua au to ri da de,
ocorrida tanto na parte material quan- espírito acumulador e empresarial do pois, à medida que combatiam o
to na espiritual da Igreja Católica, isto capitalismo. A burguesia em ascen- poder papal, assumiam o controle
é, tanto na organização eclesiástica são combatia a teoria da usura de- das igrejas nacionais e de seus
como na ortodoxia, na doutrina senvolvida durante a Idade Média, bens. No plano cultural, o Renasci-
religiosa. segundo a qual o lucro excessivo e mento estimulou a leitura e a tra-
os juros eram condenados. Tornava- dução de textos bí blicos, acen -
2. AS CAUSAS DO se necessária uma religião que, em tuando as discussões teológicas.
MOVIMENTO REFORMISTA vez de combater, estimulasse a acu- As numerosas edições da Bíblia
mulação de capital, colocando a aguçaram o conhecimento da dou-
A transição do sistema feudal burguesia em paz com a sua cons- trina e isso per mitiu aos fiéis se
para o sistema capitalista transfor- ciência religiosa. aperceberem do baixo nível intelec-
– 155
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tual e da corrupção do clero. A ne- pôs fim ao conflito na Alemanha. De- Uma nova Assembleia foi reunida
cessidade de reformar o clero é que pois da Reforma Luterana, vieram a em Spira, em 1529. O imperador Car-
iria dar origem à Reforma. Reforma Calvinista, a Reforma Angli- los V impôs o catolicismo romano aos
cana, a Reforma Católica e a príncipes, que se rebelaram. Daí o
3. HUMANISMO E A Contrarreforma. nome “protestante”. Em 1530, em
TENTATIVA DE REFORMA Augsburgo, a doutrina de Lutero foi
exposta por Melanchton por meio da
Os humanistas cristãos tiveram Confissão de Augsburgo, que se tor-
consciência dessa necessidade. nou a constituição da nova Igreja. Os
Procuravam o verdadeiro cristianis- príncipes protestantes organizaram a
mo na leitura e comentário do Antigo Liga de Smalkalde contra o imperador.
Finalmente, em 1555, uma nova
e do Novo Testamento, bem como na
Dieta de Augsburgo colocava os prín-
tradição dos grandes escritores
cipes protestantes em vantagem, pois
cristãos antigos. Erasmo publicou em
estabelecia a teoria de que cada
1516 uma edição em grego dos
príncipe deveria determinar a religião
evangelhos e uma tradução latina.
dos súditos. Terminava, assim, a pri-
Por outro lado, um grupo de estudio- meira guerra de religião na Alemanha.
sos franceses, Guilherme Briçonnet,
e principalmente Lefévre d'Etaples, K A doutrina luterana
protegidos pela rainha de Navarra, A salvação, para o luteranismo,
Margarida D'Angoulême, publicou não se alcança pelas obras, e sim
uma coleção de Salmos, edição das pela fé, pela confiança na bondade
cartas de São Paulo e uma tradução de Deus, pelo sofrimento interior do
francesa do Novo Testamento (1521). (Beckett, Wendy. História da fiel. O culto é muito simples: um
Outros, mais ligados ao Papado, pintura. São Paulo: Ática, 1997. p.117.) contato “direto entre fiel e salvador”;
tais como Pico De La Mirandola e somente salmos e leituras da Bíblia.
Marsílio Ficino, empenharam-se igual- 5. A REFORMA PROTESTANTE Lutero rejeitou a maior parte dos
mente numa reforma dos costumes sacramentos; conservou apenas três,
da Igreja, que não alcançou o efeito Teve início com Martinho Lutero que foram depois reduzidos a dois:
desejado. em 1517, na Alemanha, quando ele batismo e eucaristia. Mesmo na euca-
Um fator muito significativo do protestou contra a venda de indul- ristia, a presença de Cristo existe no
porquê da não execução das refor- gências e aproveitou para fazer ou- pão e no vinho, não há transforma-
mas propostas pelos pensadores tras críticas à estrutura eclesiástica. ção do corpo e sangue de Cristo em
cristãos prende-se ao problema Combatido pelo Papado, Lutero foi pão e vinho, ou seja, não há transubs-
condenado pelo imperador Carlos V tanciação, e sim consubstanciação.
conciliar já citado. A Reforma
na Dieta de Worms e somente esca-
tinha que ser feita pelo
pou da execução porque se refugiou
Concílio. O Papado tinha receio de 6. CRONOLOGIA
na Saxônia, com o duque Frederico,
convocá-lo por causa de suas ten-
o Sábio.
dências de supremacias. Assim, o
problema foi adiado até que a solu- 1517 – Início da Reforma Lute-
ção protestante forçou a reunião do rana.
Concílio de Trento. Nessa ocasião, 1521 – Condenação de Lutero na
entretanto, o Papado já possuía a Dieta de Worms.
Companhia de Jesus, que manipulou 1522 – Revolta dos Cavaleiros.
o Concílio e evitou a discussão do 1525 – Eclosão da revolta campo-
problema da superioridade.
nesa.
1526 – Primeira Dieta de Spira.
4. AS ETAPAS DA REFORMA
1529 – Segunda Dieta de Spira.
Na verdade, houve várias refor- 1530 – Primeira Dieta de Augs-
mas, iniciadas com a Reforma Lute- burgo.
rana, a qual deu origem à primeira 1531 – Liga de Smalkalde.
guerra de religião da Era Moderna, 1555 – Segunda Dieta de Augs-
travada entre protestantes e católi- Lutero foi professor de burgo e Paz de Augsburgo.
cos. A Paz de Augsburgo de 1555 Teologia na Universidade de Wittenberg.

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MÓDULO 8 Expansão da Reforma e Contrarreforma


1. JOÃO CALVINO E A trabalho, o espírito de economia e
REFORMA EM GENEBRA eventualmente a riqueza material
são indícios de escolha divina para a
A Igreja na França padecia os salvação. Somente os sacramentos
mesmos males da Igreja em toda a do batimo e da eucaristia foram con-
Europa, agravados pela Concordata de servados. O culto é de absoluta sim-
1516, que transferia para o rei da plicidade. Não há imagens nem para-
França o direito de nomear bispos e mentos, apenas uma Bíblia que deve
abades. Assim, o soberano passou a ser comentada.
distribuir as abadias e bispados como
forma de recompensa por serviços
prestados, deixando em segundo plano 2. HENRIQUE VIII E AS
as preocupações religiosas. Por outro CAUSAS DA RUPTURA
lado, as ideias de Erasmo haviam-se di- COM A IGREJA CATÓLICA
fundido bastante na França, surgindo
mesmo humanistas admiráveis como Henrique VIII, rei da Inglaterra
Lefèvre d’Etaples, que propunha uma (1509-1547), era católico e conside-
reforma interior e progressiva da Igreja. rado, até mesmo pelo Papado, um
Quando surgiu Calvino, portanto, as verdadeiro defensor da fé, pois opu-
Calvino, defensor da
ideias de uma reforma humanista e teoria da predestinação. sera-se violentamente à Reforma
mesmo luterana já haviam feito numero- Luterana. Entretanto, em 1527, o rei
sos adeptos na França. pretendeu casar-se com uma dama
Na França, os artesãos, burgue-
Calvino estudou em Novon. Assi- da corte, Ana Bolena, e, tendo o
ses e mesmo grandes senhores con-
milou os ensinamentos luteranos e, papa se negado a dissolver o seu
verteram-se à fé de Calvino, que se
por isso, foi obrigado a refugiar-se casamento anterior com Catarina de
instalou solidamente na Holanda e
em Estrasburgo, por volta de 1534. também penetrou na
Retirou-se depois para Bâle, onde região do Rio Reno. Na
publicou sua principal obra, Institui- Escócia, João Knox e os
ção Cristã, que se tornou a constitui- nobres escoceses im-
ção de sua reforma. puseram a Reforma à
A ação de Zwinglio havia iniciado rainha Maria Stuart (1557-
a Reforma na Suíça, mas esta malo- 1560). Dessa forma, a
grara. Calvino instalou-se em Gene- Igreja Calvinista, extrema-
bra em 1536, a convite de Guilherme mente igualitária, austera,
Farel, que pertencera ao grupo de dirigida por um conselho
Lefèvre d’Etaples, dando início à Re- de pastores e dos anciãos,
forma naquela cidade. instalou-se firmemente na
A Reforma de Calvino foi bastan- Escócia.
te radical. Implantou uma censura
rígida na cidade, dirigindo-a por K A doutrina
meio de ordenações eclesiásticas. A calvinista
intolerância era total. A Igreja refor- Mesmo em relação à
mada compreendia os fiéis, os doutrina luterana, a
pastores e o conselho dos anciões. doutrina calvinista é bas-
Um consistório dirigia a política tante radical. Em relação
religiosa e moral de Genebra. ao catolicismo, então, há
Essas ideias difundiram-se com enormes diferenças.
rapidez. Theodoro de Beza levou-as Para Calvino, a salva-
para Gênova. Ele havia dirigido a ção é conseguida pela
Academia que se ocupava dos pro- predestinação, que a con-
blemas teológicos e da difusão da diciona totalmente à von- Reforma Protestante e reação católica nos fins
crença. tade de Deus. O amor ao do século XVI.
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Aragão, tia do imperador Carlos V, numa luta pelo controle da Igreja. militares, como as guerras de reli-
rompeu com o Papado e com a Isso impediu a pronta ação contra o gião na Alemanha (1530-1555), as
convivência do bispo de Canterbury, protestan tis mo, que teve uma guerras de religião na França (1558-
casando-se com Ana Bolena. expansão tão rápida, tão fulminante 1594) e a Guerra dos Trinta Anos
Em 1534, o Parlamento inglês que a Igreja Católica finalmente (1618-1648).
promulgou o Ato de Supremacia, pe- percebeu que poderia ser com-
lo qual Henrique VIII se tornava o pletamente destruída. Daí a ne - 5. A CONTRARREFORMA
chefe supremo da Igreja na Inglater- cessidade de uma reorganização
ra. Dessa forma, a Igreja Anglicana interna. Foi um conjunto de medidas
tornou-se uma Igreja nacional, sepa- O surgimento da Sociedade de destinadas a combater o protestan-
rada de Roma. Nenhuma reforma foi Jesus, destinada a apoiar o papa, tismo, por meio da educação, da
efetuada na doutrina ou no culto. permitiu a convocação do Concílio catequese e da inquisição. No pri-
Henrique VIII perseguiu tanto os de Trento (1545-1563), no qual se a- meiro caso, o que se pretendia era
católicos quanto os calvinistas (os dotaram as principais medidas de difundir o ensino nas regiões atin-
chamados puritanos). defesa da Igreja Católica. O Concílio gidas pela Reforma, de modo que
Sob a influência do bispo Cramer, conservou a doutrina tradicional, fossem recuperadas pelo menos as
o calvinismo penetrou na Inglaterra manteve a autoridade do papa e novas gerações. No segundo caso,
durante o reinado de Eduardo VI criou os seminários para melhorar a a intenção era conseguir novos
(1547-1553). Assim, a missa foi supri- formação do clero. adeptos para a Igreja nas terras
mida e o casamento dos padres, per- Confirmou-se o já existente Tribu- recém-descobertas no Novo Mundo;
mitido. O poder passou em seguida a nal da Inquisição e foi criado o Índice neste caso, converter os índios era
uma rainha católica, Maria Tudor dos Livros Proibidos. O Concílio reali- uma maneira de combater os pro-
(1553-1558), que empreendeu profun- zou, pois, um trabalho de reestru- testantes. Finalmente, cabia à Inqui-
da perseguição aos calvinistas e an- turação da Igreja Católica, de re- sição (ou Tribunal do Santo Ofício)
glicanos, restaurando o catolicismo. forma interna da Igreja, condição bá- perseguir, nos países que ainda não
Foi somente com EIizabeth sica para poder enfrentar os protes- tivessem sido dominados pela Re-
(1558-1603) que se estabeleceu defi- tantes. forma, os adeptos das novas doutri-
nitivamente a Reforma na Inglaterra. nas. A perseguição era feita de ma-
Confirmou-se a superioridade do rei 4. AS REPERCUSSÕES DA neira cruel e servia aos propósitos
nos assuntos religiosos. Completou- REFORMA do poder político nos Estados em
se a separação de Roma. Foi insti- que ela se realizou (Espanha, Por-
tuído um livro de orações comuns, e No plano econômico, a Reforma tugal e Itália).
a hierarquia do clero, mantida. Calvinista trouxe consigo a ideia da
predestinação (Deus elegia previa-
6. CRONOLOGIA
K A doutrina anglicana mente os fiéis para a salvação) e de
Em termos da doutrina, a salva- que um dos sinais da escolha divina
1517 – Início da Reforma Protes-
ção pela predestinação, apoio das era o êxito profissional, a riqueza.
Sagradas Escrituras, supressão dos Tal concepção adaptava-se per - tante, com as 95 teses de Lutero.
liames a Roma, manutenção da feitamente à ética capitalista, ao 1521 – Condenação de Lutero na
hierarquia, conservação de dois ideal da acumulação e do inves- Dieta de Worms.
sacramentos, presença espiritual de timento. So cial mente, a Reforma 1534 – Implantação do anglica-
Cristo na eucaristia, eliminação do deu margem a convulsões sociais, nismo na Inglaterra; tradução, por
sacrifício da missa e preservação da pois em nome da religião os cam- Lutero, do Velho e Novo
liturgia foram as modificações in- poneses e artesãos aproveitaram
Testamentos para o alemão.
troduzidas. para fazer suas reivindicações es-
1536 – Início da Reforma religiosa
pecíficas. Politicamente, os reis e os
príncipes transformaram a Reforma de Calvino em Genebra, na Suíça.
3. A REFORMA CATÓLICA
em instrumento de luta pelo poder, 1540 – Fundação da Companhia
Por ocasião do início da pois o rompimento com a Igreja de Jesus.
Reforma Protestante, havia dentro tornava-os mais fortes. Por outro 1545 – Reforma Católica, iniciada
da Igreja Católica uma disputa entre lado, os conflitos religiosos transfor- pelo Concílio de Trento.
o Papado e o Concílio, envolvidos maram-se em cruentos conflitos

158 –
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MÓDULO 9 Absolutismo Francês

1. A MONARQUIA K Justiça Seu número aumentou rapidamente


NACIONAL FRANCESA Mesmo assim, a organização pro- em todas as camadas sociais, mas
grediu. A distribuição da justiça foi principalmente entre os burgueses e
K Introdução melhorada com a criação de dois tri- nobres opostos à centralização ex-
A unidade da França foi alcança- bunais, chamados Parlamentos, que cessiva do poder real. A França tinha
da no processo de fortalecimento da funcionavam em Rennes e Aix-en-Pro- 18,5 milhões de habitantes, dos quais
autoridade real. O rei era ungido por vence, imitando bastante a justiça os protestantes representavam ape-
Deus, ou seja, era designado para feudal e eclesiástica. Novos tribunais nas 1,5 milhão. Com Francisco II
exercer o poder em Seu nome. foram criados em 1551 para o mesmo (1559-1560), o poder era exercido
fim. A ordenação de 1539 substituiu o praticamente pela família De Guise,
K Administração latim pelo francês na redação dos jul- Iíder do partido católico.
O governo central adquiriu uma gamentos e atas notariais. Os protestantes tentaram atrair o
organização precisa. O principal as- rei para o seu partido durante a cons-
sessor real era o chanceler, guardião K Finanças piração de Amboise, que terminou
do selo real e chefe da justiça. O No setor financeiro, foi criado o com uma violenta reação católica de
condestável, chefe do exército, vinha Tesouro Central, incumbido de rece- Antonio De Guise, massacrando os
em seguida, depois os secretários de ber as contribuições tributárias. Em protestantes em Vassy (1/3/1562).
Estado, principal inovação do século 1542 foram instituídas as intendên- Com a ascensão de Carlos IX, menor
XVI (estes secretários ocupavam-se cias em vários locais, encarregadas de idade, a situação complicou-se
da correspondência real). de arrecadar os impostos localmente. ainda mais. A rainha-mãe, Catarina
O Conselho do rei era um órgão O problema fundamental dessa de Médicis, tentava conduzir a
administração era o cargo vitalício e política do trono equilibrando-se
de grande importância. Não tinha
hereditário. Um administrador não po- entre protestantes e católicos. O
atribuições fixas, nem composição
dia ser afastado de seu cargo, e pode- casamento de um príncipe da casa
permanente. Era chamado também
ria transferi-lo a terceiros ou deixá-lo Bourbon com a rainha protestante de
Conselho Privado ou Conselho de
como herança a quem designasse. Navarra abria perspectiva para que o
Estado. Ocupava-se dos principais
problemas relativos à política interior herdeiro, Henrique de Navarra e
K Religião
e exterior. Bourbon, pudesse chegar ao trono.
Pela Concordata de Bolonha,
A grande dificuldade do exercí- O medo de uma conspiração protes-
realizada em 1516, o rei Francisco I
cio do poder estava nas províncias. A tante levou Catarina de Médicis e o
adquiriu o direito de nomear os bispos
efetivação das ordenações reais en- Iíder católico Henrique de Guise a
e abades do reino. Havia necessida-
contrava sérios obstáculos: a oposi- convencerem Carlos IX de que havia
de de confirmação papal, mas era
ção de senhores ciosos de suas prer- uma conspiração protestante. Dois
apenas uma formalidade. O alto clero
rogativas, as liberdades das provín- mil protestantes foram assassinados
passou a ser controlado pelo rei,
cias que vinham da Idade Média, as na Noite de São Bartolomeu, 24 de
sendo dele dependente.
cidades e as vilas com seus privi- agosto de 1572, incluindo o almirante
légios adquiridos de longa data, até Gaspar de Coligny. A guerra entre os
K Entraves ao absolutismo:
mesmo a distância que separava dois partidos tornou-se cruenta, com
as guerras de religião
suas regiões e colaborava para o a participação de voluntários de toda
Na França, durante todo o século
isolamento pelas condições difíceis a Europa exortados pelo papa.
XVI, o poder real progrediu lenta-
de comunicação. mente. As guerras de religião, que
A teoria do poder absoluto, em abalaram o país nos fins do século 2. ASCENSÃO
franco progresso, delineou os prin- XVI e início do século XVII, retiveram DOS BOURBONS
cípios fundamentais do poder de o avanço do Absolutismo. No século
fato e de direito divino. O rei era XVII, entretanto, encontramos o po- K Henrique IV (1593-1610)
apre sen tado como representante der absoluto plenamente configu- Com a ascensão de Henrique III,
de Deus na Terra. Daí o caráter rado em Luís XIV. irmão de Carlos IX, em 1574, a tutela
sagrado do seu poder. Esse poder Depois de Henrique II, sucessor exercida pela Liga Sagrada Católica
só era limitado pelas leis cristãs e de Francisco I, o poder real esfa- de Médicis continuava. Amedron-
pelos costumes do povo francês, o celou-se em virtude das guerras reli- tado, Henrique III mandou assassinar
que se deno minavam Leis Fun - giosas. Por volta de 1520 apareceram Henrique de Guise, provocando a
damentais do Reino. na França os primeiros protestantes. rebelião dos católicos. Apoiado por
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chos, cuidavam das questões religio-


sas e dos intendentes das províncias.
Nas províncias, a grande inova-
ção administrativa foi a criação das
intendências. Estavam diretamente li-
gadas ao poder central, tendo toda
autoridade nas províncias em maté-
ria de justiça, política e finanças. Fis-
calizavam os oficiais Iocais, proprie-
tários de seus cargos hereditários.
Promulgavam as leis reais e assegu-
ravam sua efetivação. Supervisiona-
vam a arrecadação provincial. Aos
poucos, os intendentes tornaram-se
chefes locais, a cujo serviço se en-
contravam subdelegados, nomeados
por eles para auxiliar nas suas ativi-
A Europa do Antigo Regime. dades. Os subdelegados foram insti-
tucionalizados e passaram a ser indi-
Henrique de Navarra, líder protes- legislador, defensor dos fracos con- cados pelo próprio rei.
tante, Henrique III tentou recon- tra os fortes. Encarnou o Estado, cu- No plano social, promoveu a
quistar Paris, mas foi assassinado. jos interesses estão acima dos inte- ascensão da burguesia, escolhendo
Seu herdeiro legal era Henrique de resses particulares ou individuais. seus ministros nessa classe. Equi-
Navarra, que precisou abjurar o pro- Assumiu as funções de rei e mi- parou os grandes ministros aos no-
testantismo para ascender ao trono. nistro, fazendo recuar as instituições bres tradicionais. A nobreza foi do-
Iniciou-se assim a Dinastia de Bour- governamentais que cresceram na mesticada, atraída para o Palácio de
bon, em substituição à Dinastia de época do ministério de Mazzarino. Versalhes, onde se arruinou pelo luxo
Valois. Pelo Edito de Nantes (1598), o Afastou dos altos postos do governo da corte, incompatível com suas ren-
novo rei, Henrique IV, concedeu os ministros permanentes. Os Conse- das reduzidas. Os nobres que se
liberdade religiosa aos protestantes, lhos, base do governo no período an- acercavam do rei recebiam pensões,
dando-Ihes o direito de manter terior, foram relegados a plano se- governos de províncias, postos de
algumas praças-fortes. cundário. Dirigiu o Estado com o au- comando no exército. A guerra era
xílio de secretários e do diretor-geral um meio de dar-Ihes condições de
K Luís XIII (1610-1643) das finanças. subsistência. Eram obrigados a se
Quando morreu Henrique IV Usou das “lettres de cachet” e descobrirem diante do rei, numa eti-
(1610), subiu Luís XIII. A parte inicial dos comissários para impor sua von- queta formalizada e complexa.
do seu governo foi conduzida por tade aos particulares e às institui- Em suma, o rei equilibrava-se so-
Maria de Médicis e pelo primeiro- ções. O exército mercenário, pago bre as duas ordens sociais, com li-
ministro, cardeal Richelieu, que to- pelo Estado, a serviço do rei, garan- geiro favoritismo para a burguesia.
mou medidas para consolidar a cen- tia a execução das leis. Em 1685, com a revogação do
tralização do poder. O sistema administrativo foi reor- Edito de Nantes, o protestantismo
Perseguiu internamente os pro- ganizado. O governo central era voltou a ser proibido, o que provocou
testantes, destruindo a fortaleza de composto por seis conselheiros: o a evasão de grande parte dos capi-
La Rochelle, mas externamente rea- chanceler, diretor das finanças, se- tais, com a saída do país de cerca de
lizou uma política de apoio aos pro- cretários de Estado, dos assuntos meio milhão de huguenotes.
testantes contra os Habsburgos na estrangeiros, da guerra, da marinha O reinado do Rei-Sol foi o mais
Guerra dos Trinta Anos (1618-48), vi- e da casa real. briIhante de toda a França. Personifi-
sando a garantir a hegemonia euro- Os conselheiros de Estado foram cou a figura máxima do Estado,
peia à França. organizados na época de Mazzarino. justificando a frase “L’Etat c’est moi”,
O Alto Conselho ocupava-se dos as- em que o poder não encontrava limi-
K Luís XIV (1643-1715) e o suntos políticos; o Conselho das Finan- tes, a não ser nas leis fundamentais
apogeu da Monarquia ças, com a matéria tributária; o Con- do reino e nas Sagradas Escrituras.
francesa selho das Partes, com os assuntos ju- Durante o reinado de Luís XIV, sob
Luís XIV é visto como herói, pro- rídicos. Dois ConseIhos, menos impor- um poder central grandemente forta-
tetor das artes, defensor da Igreja, tantes, da Consciência e dos Despa- lecido, incrementaram-se a industria-
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lização e o comércio interno na Fran- primeira guerra de Luís XIV foi a de Condado para a França. De 1679 a
ça. Restringiram-se as importações, Devolução, contra a Espanha, em 1684, Luís XIV fez uma série de
estimularam-se as exportações. Abri- que reivindicava direitos sobre o anexações: Estrasburgo, Luxembur-
ram-se vias terrestres e fluviais, que Brabante; conquistou Flandres e o go, Courtrai e outras cidades. Em
facilitaram as comunicações. Franco Condado, mas encontrou a 1689, proclamou sua pretensão à
No plano econômico, nomeou forte reação da Tríplice Aliança posse do palatinado, o qual invadiu e
Jean-Baptiste Colbert ministro das Fi- (Inglaterra, Holanda e Suécia), que o devastou. Formou-se, então, a Gran-
nanças. Colbert estimulou a indústria obrigou a assinar o Tratado de Aix-la- de Aliança (de quase toda a Europa),
a fabricar artigos de luxo, visando ao Chapelle (1668), pelo qual a França que o obrigava a manter-se na defen-
desenvolvimento da balança co- ficava apenas com parte da região siva: em 1679, pela Paz de Ryswick,
mercial, por meio de um mercanti- de Flandres. Dois anos depois, o a França abandonou a maioria dos
lismo industrial. monarca ocupou Lorena e, de 1672 a territórios anexados, conservando
No plano internacional, em 1678, dedicou-se a uma “guerra de Estrasburgo e Alsácia. Pelos tratados
busca da hegemonia europeia, a vingança” contra a Holanda, que de Utrecht (1713) e Rastat (1714),
França adotou uma política de terminou com o Tratado de Nimègue: perdeu várias possessões no Novo
constante agressão aos vizinhos. A a Espanha perdeu o Franco Mundo.

3. CRONOLOGIA 1598 – Edito de Nantes, que estabeleceu a liberdade


religiosa na França.
1337-1453 – Guerra dos Cem Anos, entre França e 1624-1642 – O cardeal Richelieu governa a França
Inglaterra. como primeiro-ministro do rei Luís XIII.
1455-1485 – Guerra das Duas Rosas, entre os 1643-1661 – O cardeal Mazzarino continua a
Lancasters e os Yorks. política de Richelieu como primeiro-ministro do rei Luís
1572 – “Noite de São Bartolomeu” (massacre de XIV.
protestantes franceses em Paris). 1661-1715 – Luís XIV, o “Rei-Sol”, briIha na França.
1589 – Início da Dinastia dos Bourbons, com Henrique Auge do absolutismo.
IV. 1685 – Revogação do Edito de Nantes.

MÓDULO 10 Absolutismo Inglês e Revoluções do Século XVII


1. A DINASTIA TUDOR Este rei rompeu com a Igreja atacar na Inglaterra o protestantis-
Católica, apoderando-se de todos mo e as bases dos corsários em-
Após a Guerra dos Cem Anos, a os seus bens e aumentando seu pregados pela rainha para saquear
Inglaterra viveu uma forte crise di- poder político. Por meio do Ato de os galeões espanhóis no Atlântico,
nástica, quando duas famílias de Supremacia, o Parlamento investiu o preparou a invencível armada (130
nobres disputaram o trono, envol- rei com a suprema autoridade ecle- navios de guerra e 30 navios de
vendo o país na Guerra das Duas Ro- siástica. transpor te). A armada chegou dian-
sas. O conflito terminou quando Hen- O rei governava por decretos te de Calais em boa ordem, sem
rique Tudor foi coroado rei, com o no- que não eram submetidos à sanção quase ter sido impor tunada pelo
me de Henrique VII. Nesse momento, parlamentar. O Parlamento era figura adversário. Na noite de 7 a 8 de
a autoridade do monarca esbarrou
decorativa, sendo convocado em ra- agosto de 1588, os ingleses lança-
no Parlamento, que restringiu sua
ras oportunidades. O Conselho real ram contra ela navios incendiários
atuação e impediu a implantação do
era instrumento fundamental do po- que pro vo ca ram a de sordem. A
absolutismo.
der monárquico. artilharia fustigou-a muito e as duas
Com a morte de Henrique VII, o
No governo da rainha Isabel I esquadras foram arrastadas pelos
poder foi transmitido a seu filho Hen-
(Elizabeth), o Parlamento foi mantido ventos para o Mar do Nor te. Os
rique VIII, que começou a impor seu
poder aos nobres feudais, com a aju- com um poder apenas aparente, po- ingleses cessaram sua persegui-
da da burguesia, carente de apoio na rém o absolutismo foi implantado de ção ao largo da Escócia. A armada
sua expansão comercial. A partir fato. perdera quase metade dos navios e
desse momento, o poder real passou Nesse período, a tensão entre a terça parte de seus efetivos.”
a centralizar-se cada vez mais na fi- Inglaterra e Espanha cresceu. “Feli- (CORVISIER, André. História Moderna,
gura do rei. pe II, encarando a possibilidade de São Paulo: Difel,1976. p.156.)

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guesia mercantil. As instituições do


Estado, isto é, as leis, os órgãos de
governo, a justiça, impediam a con-
tinuidade do desenvolvimento eco-
nômico desejado pela burguesia. Por
exemplo, os proprietários rurais preci-
savam transformar as terras cultiva-
das por pequenos proprietários em
pastos para a criação de ovelhas,
atividade mais lucrativa que a agri-
Henrique VIII, fundador da Igreja protestante inglesa,
e duas de suas seis esposas (Catarina de Aragão e Ana Bolena). cultura, mas eram obstados pelo rei,
que protegia os pequenos proprie-
Nesse momento, a hegemonia K Conflito entre tários nos seus tribunais.
es panhola foi substituída pela o rei e o Parlamento
Inglaterra, que passou a exercer a Esta Revolução tem sido ana- K Importância histórica
supremacia comercial no Atlântico. lisada como decorrência da oposição da Revolução Inglesa
Durante o reinado de Isabel I, foi do Parlamento à tentativa dos Stuarts A revolução da burguesia na In-
iniciado o processo de “cercamen- de implantar o absolutismo em termos glaterra contra os entraves ao seu de-
tos”, arruinando os pequenos pro- legais, pois ele existia de fato desde senvolvimento, representados pelo
prietários, que passaram a con- os reis Tudors do século XVI. rei, é um marco importantíssimo na
centrar-se nas cidades. Buscando Parece-nos, entretanto, que a
história da Inglaterra. Depois da Revo-
solucionar a crise social resultante, situação é inversa. É o Parlamento,
lução Gloriosa de 1688, nenhuma ou-
Isabel I assinou em 1601 a "Lei dos que possuía o poder de direito, que
tra revolução se produziu na Ingla-
Pobres”, que obrigava a população tenta agora torná-lo de fato. Durante
terra, até hoje. Somente por este fato,
marginalizada e sem ocupação a o século XVI, o Absolutismo de fato
trabaIhar em oficinas, abastecendo pode-se perceber a sua importância.
tinha sua razão de ser porque a
o setor manufatureiro de grande burguesia necessitava do poder real No plano da história europeia, as
quantidade de mão de obra barata. forte para acabar com o poder dos Revoluções Inglesas precederam a
Podemos afirmar que, durante o senhores, reformar a Igreja e confis- Revolução Francesa, constituindo
longo reinado de Isabel, o poder car seus bens, que foram postos em um exemplo para esta, com a qual se
absoluto foi implantado de fato. A circulação no mercado, defender o igualam em importância histórica, e
pró xima dinastia, Stuart, tentaria Estado das pretensões imperialistas mesmo a Revolução Francesa
legalizá-lo. Esse esforço dos Stuarts dos espanhóis e garantir a expansão supera-as por ter sido definitiva.
iniciou-se com a ascensão ao trono comercial pelo Novo Mundo. Com a morte de Elisabeth I, a In-
de Jaime I, primo de Isabel e rei da Depois de realizados estes glaterra foi governada por Jaime I,
Es cócia, e terminaria com a objetivos, o poder absoluto tornou- iniciando-se a Dinastia dos Stuarts,
Revolução Gloriosa de 1688. se desnecessário. Pelo contrário, de origem escocesa. Sua atuação
passou a constituir um peso morto absolutista chocou-se contra o Parla-
2. O SIGNIFICADO DAS que entravava o progresso da bur- mento, que iniciou uma luta política
REVOLUÇÕES INGLESAS guesia inglesa. Isto porque na fase com os Stuarts.
em que o poder forte era necessário,
K As principais etapas muitos direitos foram-lhe outorga-
3. FATORES DAS
As Revoluções Inglesas podem dos, como, por exemplo, governar
REVOLUÇÕES INGLESAS
ser separadas nas seguintes fases: a por decretos, mediante a adminis-
Revolução Puritana, de 1642 a 1649; o tração particular de livre escolha;
Protetorado de Cromwell, de 1649 a controle do poder judiciário e da Na Revolução Inglesa, os proble-
1658, que corresponde à República; um religião; concessão de monopólios a mas econômicos, sociais e políticos
intervalo de dois anos, bastante confu- quem lhe aprouvesse para aumentar misturaram-se aos religiosos.
so, que levou à restauração da Monar- as rendas do Estado, cobrança de Com o aumento de importância
quia em 1660; e a Revolução Gloriosa, impostos alfandegários, manutenção da agricultura (em 1640 a Inglaterra
completada em 1688. de um exército permanente. fornecia quatro quintos do consumo
Realmente, todos estes períodos No fundo, o poder monárquico europeu, já que o seu intenso comér-
revolucionários constituem um único continuava ligado à nobreza, a quem cio estimulou a produção de alimen-
problema, que é a Revolução Ingle- abatera, mas em seguida ligara-se tos e matéria-prima), os empresários
sa, iniciada em 1640 e completada novamente a ela, exatamente com o capitalistas passaram a investir na
em 1688. objetivo de ter apoio contra a bur- compra e exploração das terras,
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adotando técnicas e equipamentos 4. A REVOLUÇÃO PURITANA Em 1641, a eclosão de uma re-


que aumentavam a produção. Com volta separatista na Irlanda forçou a
os pequenos proprietários, a quem organização de um exército, cujo co-
se uniram, estavam interessados em mando foi negado ao rei. Tornou-se,
expulsar das terras os seus antigos então, obrigatória a reunião do Par-
rendeiros. Mas esses rendeiros eram lamento pelo menos a cada três anos,
protegidos pelo rei, pelos nobres e e o rei perdeu o direito de dissolvê-lo.
pelos chefes da Igreja Anglicana, Ainda em 1641, porém, o Parla-
que estavam todos ligados à agricul- mento dividiu-se entre alguns líderes
tura, também, e em nada queriam al- radicais (que queriam desapropriar
terar a situação vigente. Os monopó- as terras dos senhores religiosos) e a
lios concedidos pelo rei a alguns aristocracia unida aos burgueses ca-
pitalistas conservadores (que se
grandes capitalistas, e os privilégios
sentiram ameaçados pelo povo e vol-
(“herdados” da Idade Média) que ti-
Carlos I presenciou
taram-se para o rei, “encarnação” da
nham as corporações na produção
a decadência da Monarquia absolutista ordem e da segurança). Aproveitan-
de artigos artesanais nas cidades
inglesa e morreu ao tentar preservá-la. do-se disso, Carlos I tentou recupe-
constituíam outros motivos de insatis-
rar seu poder, indo contra as medi-
fação para a burguesia.
A luta entre o Parlamento e o rei das parlamentares. Começou então
Empobrecidos pela concorrência a guerra civil, no início de 1642.
começou em 1628, quando o Parla-
burguesa na agricultura, os nobres O comando do exército parla-
mento impôs a Carlos I a “Petição
viram sua riqueza diminuir ainda dos Direitos”, pela qual problemas mentarista foi dado a Cromwell, que
mais com a inflação (que enriquecia relativos a impostos, prisões, julga- revolucionou a organização militar da
os burgueses); agarraram-se então mentos e convocações do exército época, tornando-a muito mais efici-
às rendas do Estado, controlando a não poderiam ser executados sem a ente. A ascensão aos postos come-
administração. Os burgueses, por autorização parlamentar. Carlos I dis- çou a ser feita por merecimento, e
seu lado, controlavam o poder local e se que aceitava a imposição, mas não por nascimento, como antes. O
elegiam seus representantes para o não a cumpriu. Quando a reunião povo pôde participar da revolução,
Parlamento. parlamentar do ano seguinte conde- pois foi organizado em grupos para
Ao pretender aumentar os impos- nou sua política religiosa e o aumento discutir os problemas mais importan-
tos pagos pela burguesia para man- dos impostos, o rei dissolveu o tes. Embora precisasse dele na sua
ter os nobres (seu instrumento contra Parlamento e governou sem ele du- luta contra o rei, a burguesia come-
a ascensão burguesa, que amea- rante onze anos. As decisões que to- çou a temê-lo, vendo que o povo co-
çava o poder real), o rei entrou em mou durante esse tempo provocaram meçava a influir no curso dos acon-
choque com o Parlamento, que se protestos em toda a Inglaterra. tecimentos.
considerava o único com direito a A revolta começou na Escócia, O exército de Cromwell foi in-
legislar sobre essa matéria. por causa da tentativa de imposição fluenciado durante algum tempo pe-
Rei e burgueses opuseram-se do anglicanismo aos puritanos e las ideias democráticas de certos
também por questões religiosas. O presbiterianos, e logo espraiou-se. grupos artesãos, os “niveladores”,
puritanismo tinha numerosos adep- Os rebeldes, que se negaram a pagar que não conseguiram, no entanto,
tos na burguesia, pois pregava o os novos impostos instituídos por convencê-lo de suas ideias radicais.
Carlos I, foram condenados pelos A sua luta pelo poder favoreceu o
trabalho e a poupança, tão ao gosto
tribunais reais, em 1639 e 1640. aparecimento dos “escavadores”,
dessa classe social. O rei, para quem
Em 1640, os problemas financei- proletários urbanos e rurais que não
o controle da Igreja era um
ros obrigaram o rei a convocar o possuíam terras. Em 1649, quando
instrumento indispensável do poder,
Parlamento; este só funcionou du- se apossaram de terras no condado
protegia a Igreja Anglicana e perse-
rante um mês, pois foi dissolvido ao de Surrey e começaram a escavá-
guia os que atacavam a religião negar-se a aumentar os impostos, las, para demonstrar que elas lhes
oficial. Os conflitos religiosos entre como queria Carlos I. Ainda nesse pertenciam, foram dizimados pelos
puritanos e anglicanos foram, desse mesmo ano foi reunido um novo soldados da República. O mesmo
modo, a expressão de uma luta mais Parlamento, que, durante os dezoito movimento surgiu em outras regiões
importante: o choque entre burgue- meses nos quais trabalhou, transfor- da Inglaterra, mas em todas elas foi
sia e realeza. A prova é que o pri- mou a administração da Inglaterra, reprimido.
meiro movimento revolucionário pelo perseguiu ministros do rei e passou a Muito disciplinado, o exército de
controle do poder na Inglaterra foi controlar a convocação do exército e Cromwell acabou por tornar-se uma
chamado Revolução Puritana. a política religiosa. força política poderosa: ocupou ci-
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dades; pôs em fuga líderes do Parla- tolerância religiosa e o pagamento ao criado o Banco da Inglaterra, para
mento e assumiu o controle da situa- exército. Embora tudo parecesse con- emprestar dinheiro ao Tesouro e
ção; destituiu a Câmara dos Lordes; tinuar como antes, o Estado tinha sido aconselhar seus funcionários.
aprisionou e depois mandou deca- reorganizado em outras bases: o rei Ficou assim organizado o tripé do
pitar em praça pública o rei. A guer- era agora uma espécie de funcionário desenvolvimento do capitalismo in-
ra civil culminou com a implantação da nação, a Igreja Anglicana deixou glês, montado pela burguesia: o Par-
da República, em 1649. de ser um instrumento do poder real, lamento, o Tesouro e o Banco da Ingla-
e a burguesia já estava bem mais terra. Encerra-se, sem derramamento
5. COMMONWEALTH poderosa que a nobreza. de sangue, a Revolução Gloriosa, que
marcou a ascensão da burguesia ao
Com a República, começou a se- 6. A REVOLUÇÃO GLORIOSA controle total do Estado. Nesse sen-
gunda fase da Revolução Puritana, a tido, ela pode ser considerada o com-
Commonwealth. Em poucos anos, Sentindo-se totalmente limitado plemento da Revolução Puritana.
Cromwell venceu Carlos II (filho de pelo Parlamento (que legislava sobre Uma vez estabelecida no poder,
Carlos I) e dominou todo o Império as finanças, a religião e as questões a burguesia fez com que fossem reti-
Britânico. O “Ato de Navegação”, bai- militares), Carlos II uniu-se secreta- rados os obstáculos à sua expansão:
xado em 1651 (os produtos importa- mente a Luís XIV da França, rei cató- a terra foi liberada para os comer-
dos pela Inglaterra só podiam ser lico e absolutista, o que o tornou sus- ciantes e completou-se a expulsão
transportados por navios britânicos peito ao Parlamento. Desse momento dos rendeiros. O desenvolvimento da
ou pertencentes aos países produ- em diante, o rei não pôde mais inter- Inglaterra, depois disso, foi enorme.
tores), provocou a luta com os Países ferir na política europeia sem o con-
Baixos, cujo comércio se baseava no sentimento parlamentar.
transporte de mercadorias. Esse ato Seu irmão e sucessor, Jaime II,
permitiu que fosse estabelecida a su- era católico e amigo da França. Co- Chamou-se
premacia inglesa nos mares. Revolução
mo tomasse várias medidas a favor
Gloriosa o
dos católicos, o Parlamento revoltou- movimento
se e chamou Maria Stuart e seu mari- que levou
do, Guilherme de Orange, dos Países Guilherme
Baixos, para assumir o governo em de Orange
Oliver ao trono
lugar do rei, que fugiu para a França.
Cromwell inglês.
Guilherme só foi proclamado rei
liderou o (com o nome de Guilherme III)
único período
depois de ter aceito a Declaração de
republicano 7. CRONOLOGIA
Direitos, que limitava muito a sua
da Inglaterra.
liberdade e dava ainda mais poder 1485-1509 – Reinado de Henri-
Cromwell governou com intole- ao Parlamento: o rei não podia can-
que VII.
rância e rigidez, impondo a todos as celar as leis parlamentares e o pró-
1509-1559 – Reinado de Henri-
suas ideias puritanas. Quando, em prio trono podia ser dado pelo
Parlamento a quem lhe aprouvesse, que VIII.
1653, o Parlamento tentou limitar seu
poder, Cromwell dissolveu-o e fez-se após a morte do rei em função; as 1534 – Ato de Supremacia.
proclamar “Protetor” da Inglaterra, reuniões parlamentares e as eleições 1559-1603 – Reinado de Eliza-
Escócia e Irlanda. A partir daí gover- seriam regulares; o orçamento anual beth I.
nou com plenos poderes, até a sua seria votado pelo Parlamento; inspe- 1603-1688 – Dinastia Stuart.
morte, em 1658. tores controlariam as contas reais; os 1628 – Petição dos Direitos.
Sucedeu-o seu filho Ricardo, que, católicos foram afastados da suces-
1641 – Revolta na Irlanda.
não tendo as qualidades do pai, foi são; a manutenção de um exército
considerado incapaz e destituído do permanente em tempo de paz foi 1642 – Início da Revolução Puritana.
poder, em 1659. Os burgueses de- considerada ilegal. Todas as deci- 1645 – Batalha de Naseby.
sejavam a segurança, e os irlandeses sões começaram a ser tomadas 1649 – Implantação da República.
e escoceses, a volta da realeza. O pelos ministros, sob a autoridade do 1651 – Ato de Navegação.
Parlamento procurou então Carlos II, lorde tesoureiro. O Tesouro passou a 1653 – Protetorado de Cromwell.
que estava refugiado na Holanda. Ao ser dirigido por funcionários que, na 1658 – Morte de Cromwell.
ser restaurado no poder, em 1660, época das guerras, orientavam a po- 1688 – Revolução Gloriosa.
Carlos II prometeu a anistia geral, a lítica interna e externa. Em 1694, foi
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