Вы находитесь на странице: 1из 113

FU NDAÇ~O GET~LIO VARGAS

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS

CENTRO DE POS-GRADUAÇ~O EM PSICOLOGIA

"O Suicídio em Fr-e u d"

Ver-a Toste Par-r-eir-a

FGV/ISOP/CPGP

Pr-aia de Bo t afogo, lQ O - sala 1108

Rio de Ja -eir-o - Br-asil


FUNDAÇAO GET~LIO VARGAS

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS

CENTRO DE POS-GRADUAÇ~O EM PSI COLOG IA

"O Suicidio em Freud"

por

Vera Tos te Parreira

Disserta~~o submetida como requisito parcial para

obten~~o do grau de

MEST RE EM PSIÇOLOGIA

Rio de Janeiro, Dezembro de 1988


"Deus e o Diabo est~o lutando ali;

e o c CI.mpo de batalha é o cora':;:2(O do homem."

DOSTOIEVSKY

Os ir m~os Karamazov
Desejo e>:pressar a minha mais profunda gratid~o às três m~es

que tive a sorte de encontrar nestes 36 anos de minha existência: a

que me deu a vida, Esther de Carvalho Parre ira , que apesar de nossa

ambivalência,garantiu o amor , o apoio incondicionais; a analista

Maria Fernandes de Oliveira , companheira incansável de viagem, que

com o seu árduo trabalho garante a reconstru~~o, a saúde e a

seguran<;a indispensáveis; a mais do que carinhosa e dedicada

orientador-a, Eva Nick, amiga , incentivadora, copy-desk, e

definitivamente responsável por todos os passos deste estudo desde a

sua idealiza~~o.

A meu pai, meus amigos e todos aqueles que direta ou

indiretamente colaboraram comigo.

José Raul Nascimento Novaes

Aos professores do Curso Prévio e do CPGP da Funda~~o Getúlio

Vargas

Aos meus colegas de turma (1984)


Ao Setor de Tanatologia do ISOP, nas pes soas de Wil ma Torres ,
Wanda Gurgel e Ruth Tor re s, pe l a inestimável co l abora~~o na pes quisa
sobre o suicídio.

Ao CNPq e ao ISOP pel as bols a s de estudo concedidas durante o


curso de Mestrado.
Este trab a lho é um estudo teórico sobre o suicídio em uma

perspect i va ps ic analítica. o que se pretendeu foi elaborar uma vis~o

compreensiva das motiva~~ e s inconscien tes presentes nos processos

autodestrutivos através da retomada das obser va ~bes que a este

respeito est~ o contidas na obra de Sigmund Freud, correlac ionan do-as

com uma ordena~~o de seu pensamento em termos do desenvolvimento de

suas idéias.

Ini cialmente , Freud f az ap enas algumas observa~Ôes esparsas

sobre o suicídio, e suas contrib ui~bes poster iores repousam

basicamente sobre a concep~~o de que os impulsos autodestrutivos

revelam o sentimento de culpab ilidade e a necessidade de autopuni~~o

decorrente do ódio inconsciente dirigido a pessoas queridas e do

desejo, também inconsci en te, de que elas morram .

Com a introdu~~o dos conceitos de narcisismo, identifica~~o

primária e ideal do ego, Freud amplia seus recursos teóricos

identificando a melancolia com a autodestrui~~o . A seguir, investiga-

se o aparecimen to do conceito de puls~o de morte e as modifica~bes

que este con ceito acarretou na teoria do suicídio.

Examina-se, ainda, a comp~ls~o à repeti~~o, a nova concep~~o

de puls~o como express~o da natureza conservadora dos seres vivos, a

fus~o pulsional e o problema econômi co do masoquismo.


A extrema complexi dad e do fenômeno nos faz conclui r- que,
apesar das contribui~Oes metapsicológicas que nos per-mitem, à luz da

psicanálise, compreender a natureza inc on sciente da autod estr ui~~o,

n~o se pode prescindir, no estudo de casos inóividuais, de u ma


perspec tiva que leve em conta a singular idad e óas motiva~bes que
contr ib uem par-a a tessitura múltipla da re de de fatores que
i m~ulsionam a busca da própr-ia mor-te. A histór-ia individua l, o
contexto sócio-cultur-al, e a vis~ o que tem do suic ídio a sociedade,
contr-ibuem par-a a tr-ama singu l ar, especifica e acessível à análise,
dos atos autodestr-utivos.
This th e sis is a theot-et ical stud y of suicide fr-om a

psychona na lyti c al per-s pective . Our- main pur-pose ...Ia s to obtain a

compr-ehensive view of the unconscious motiva tion s i nvo lved in

selfdestr-uctive pr-ocesses thr-ough a r-evis i o n of th e r-emar-ks found in

Sigmund Fr-eu d ' s wor-k, connecti n g th em wi t h an or-der-ing Df fr-eudian

thought r- elative to the development of his ideas about suicide.

In his ear-ly wr- i tings we fi n d only a fe w scatter-ed

obser-vations and the contr-ibutions Df the next year-s r-efer-,

basically, to t he idea that the selfdes tr-uc tive impulses ar-e

connected with unconscious guilt feelings and the need for-

selfpunishment ar-is ing fr-om unconscious hate dir-ected to loved

per- sons, as well as unconscious death wishes against them.

When Fr-eud intr-oduced c o ncepts like n ar-ci ssi sm, pr-imar-y

ident ifi c ation and the ego ideal, we see that he ma nag ed to enr-ich

his theor-etical conc ept ions, l inking melancholy and se l fdestr-uction.

The emer-gence Df the idea of a death dri ve, a nd the c ha n ges which

t his con c ept br-oug ht to his theor-ies abou t su ic id e ar-e th e n s t udied ;

a s we ll a s the n ew ideas abo ut r-epetit i on compulsion, a bout d rives as

an expr-ession of the cons er-vat i ve natur-e of human b ei n gs, about dr- i ve

f usi o n an d the econ omic pr-ob l em of ma so qui s mo


The extreme complexity Df this phenomenon leads to the

conclusion that, despite the metapsychological con tr ibLltions that

enable us to understand the unconscious nature of selfdestructive

acts, it is i ndisp ensable, in indivi dual case studies, to adopt a

perspective that also consider s the singularity of the motivations

involved in the impulse that drives us to oLlr dea th. The

individual st o ry, the social-cultural context and the social view Df

suicide, colours the singular, specific, and idiosynchratic

selfdestructive acts, acessib le to the analysis by means Df

psychoanalytical insights.
Agr-aa~cim e n+-Lls ·....i

vii

Summary 1. ~-:

01

CAP I TULO I Evol u ~~o histór- ic a das id é ias de Freud

5 ~b re o s u icí di o 16

CAPITULO 11 Pul s~ G d e morte E su icídi o 60

CONCLUS <="S 83

REFERENC!AS BIBLIOGRAF ICAS 98


1.

Intro.ç!LH;:~o

"Assassinatos s~o agresst::.es diri gi das. Imola~be:3~ den(ncia

generalizada =ontra a humanidade. O suicida cria uma estranha

situa~~o l egal on~e no b~nco dos réus sentam-se os felizes

sobreviventes"

Alber t o Dines

Morte no paraíso

A tragé di a de Stefan Zweig

o fenôme no do suicídio tem despertado, em todos os tempos,

p reo cup õ\Õâ:o e in -t eresse por par te de ps ic ólogos, psiquiatras,

sociólog os, enfim. da comunidade c:2nti fica, que vem realiza nd o um

infind3 ve l nú mero de estudos e pesquisas ness a á ..-e a, na Tent ativ a de

desvendar, compreender. exp lic ar e preven r tâ: G relevante problem ~.

Ainda que

pelo mór bido na base

0i-inc io 2: de estudo Est á ... ;=: , ;;c ionad \i com 2.


2

import~ncia de enfrenta r a mor te, através da busca da sig nifica~~ o do

suicídio, como um recurso autêntico em dir e~~o à vida.

Stenge l (1977) adverte que

" .. • a ubiquidade do suicídio faz com que esse


pa re~a ser in evitável. Mas é dif í ci l ser derrotista quando
part imos de dados estatísticos para a realidade
indiv idua l. Observando o at o su icida, numa perspectiva de
r etrospec ~ ~o~ como o clí max de uma c rise pessoal, n~o se
pod e dei>:ar de sentir que quase todos poderi am ser
e vi tados".

N~o se pret ende negar a import~ncia dos estudos

estatísticos realizados nessa á rea, nem se chegar ao mesmo extremo

que Alvarez (975), o qual, ao s e refer ir às correntes científi cas

que e m vez de tratarem o suicídio como um tópico de pesqui sa sério ,

cons idera que estas a cabam por dest ru ir toda a sua signi f ica~~o,

reduzindo o suicídio a dados estatísticos. Acredita-se, por outro

lado , q ue a p esqu i sa sobre o suicídio pode e deve ser a nt ecedida e

comp l emen tada por uma via que n~o seja apenas a da estatística.

Seminério (1985) julga que pes quisas teóricas

" •.• deveriam sistematicamente represe ntar a


base de estudos plur ianuais capazes de anteced e r e
fun damen t=-.r a reali za~~o de projetos empí ricos. Seu
objetivo sendo a própria cria~~o de c nh eci mento novo
f avor ec e~ para sua realiza~~o, n~o apenas i nsti tui~ ees de
peso como pri cipalmente países mais des=>nvol -·, 1idQs".

A grav idad e do suicídi o e sua e x tens~o no campo do soc i al

s~o cl arament p p erceb lrles em manchetes freq ue nt es publicad =-.s pela


imprensa. Exi s tem claros ind ici o s de que toma r conheci men to d e um ato

s uic i da n~s en vo l ve emocional e afeti v amente.

A e s col h.? da psic análi s~ ,


mais esp eci fi c amente do

deve-se ao fat o de
acreditarmos que 0 complexo problema do suicíd i o
necessit.: ser abordado por uma pei-sp ectiva qu e enfatiza 2.
multidetermina~~o do ato s~lÍ ci da , a compre.e ~:3 ~0 da
psicod i!i~mica pr ofu nda e inconscien te e ;.: i stellte no s processos
autodestr ut i v os.

Acredi ta -se que a psicanálise n~o esgota o assunto, nem


ex p lica o enÓmeno completamen t e. Para is so, seri a necessário uma
a bor da gem multidi s c ip lin ar, o que , no entanto, n~o ate n de aos
ob jet i vos desta disse r t a~~o. O que planejamos dese nvolver f oi um
est u d o, em
uma per spect iva psic anal í t i ca, que, ju n tame~te com o~tros
e studos , de
outras áreas do conhecimento, r epresente mais um esfor~ o

de contribui~~ o na tent ativ a de se compr eender melh or o suic i dio.

o qu e s e pretendeu desen ··..·ol·...·er !i0


n osso t r abalho foi um
estud o dos postulado s freudianos acer ca do s uicíd io i em uma te n tati va

d e sistematiza~ ~o da teo r ia psicanalítica relativa à aautodestr ui~ ~o "

A esc ol ha que fjzemos da tradu~~o qu e Bal ~e steros fez da


obra d~ Fre ud ~ como fonte de
de ve ao f ato de que, e m
nossa op 1. n . "-
1 <C. o , esta \"E'rSa o
4

De ac o~do com Stengel (1977), o suicídio tem sido estudado

e abo~dado po~ dive~sos enfoques e a pa~ti~ de dife~entes pontos de

vista, mas, com o advento da psicanálise. to~nou-se possível, mais do

que ~e i f i ca ~ , complementa~ enfoques ante~io~es. Pa~a este auto~, a

vis~o psi c analítica pe~rnite u ma melho~ comp~eensiIo dos aspectos

psicodinámicos, prof und os e inconscientes, envolvidos na

mul tidete~mina~iIo dos atos suicidas. o estudo psicodinámico do

suicídi o origina-se nas fo~~as psíquicas que levam o indivíduo à

autodest~ui~iIo, e n as defesas cont~a essas fo~~as. Segundo S tengel,

..... enquanto os psiquiat~as ~elacionavam a


incidênc i a do suicídio à desc ~ dem mental, os ps ic analistas
examinam o compor tamento sui cida à luz de s eus conceitos
básicos".

A vasta lite~atura existente sob~e o complexo p~oblema do

suicídio, ap~esenta em sua maio~ia uma vis~o enganosa da maté~ia. De

aco~do com Casso~la (1981)

" •. • quase que a totalidade dos t~aba lhos faz


especula~bes a pa~ti~ de alguns casos, r epet e achados
prévios (muitas vezes aceitos sem quaisque r c~íti cas) , ou
a~gumenta e opina sem qualque~ supo~te teó~ico. SiIo ~a~os
os estudos que p~oc u~am testa~ uma hipótese, e mais ~a~ o s
aind3 os que possuem uma o~ienta~~o teó~ica. Muit os
autores s~o imprec i sos nas defini~ ees usadas, e outros
ampl iam suas conclusbes além dos dados obtidos".

Em ter mos de su a sig ni fi ca<;:'o h istóric a , o suicíd i o nem

s e mp ~e 2.s suml u, c omo n a atualidade, u m cart-.ter qu e oscila e n t~e o

c landestino , ou fr ancamente c lan destino , e o patol ~ gico . A decis~o de


por fim à própria vi da n em sempre foi secr e t a e inconfessada, 3.ss im

como a prÓpria ex ecu~~ o . Como ob servam ~ alina e Kov adl of f ( ~ 1983), a

consuma ~~ o c la n desti n~ do suicídio cOf !fer e -l he o de

tr an5~r essâo , mas

" ••• 0 suicídio n ào teve o ~ to d as a~ épocas


e ssa co ~ ot a~à ~f houve ~m te mpo em que se rea li~ ava o
suicíd io com o aval da com ~n idade".

Segundo este s autores , na Ant i g a Gré cia, o su j eito

tin ha poder de decis~ o pe5soal sob re SU 8 . v ida e n à o podia cometer

suicídio sem o prévio con se nso d a comunidade . O fat o de se mat ar nào

c on sti tu í a LIma tr a n sgress~o ~ mas, ao COf": t r ái i o ~ considerava-se

transgressor, ilegal , todo ato suicida realizado sem o consentimento

do Estado . o suicida em potenci a l devia argumentar co m os membros da

pÓlis sobre os motivos que o f aziam acr editar que seria p r eferível

mor r er a vi ver . A comunidade decidi a na o apenas se o individ ue

devet-i a ou na o cometer suicí dio , como também e scolhia a arma o u meio

de e ~ ecu~ào a ser utilizad o. Desta forma,

" O Estado de ti nha o pader- de vet o , autor i za~âo


e at é de i nd '_I <;:ào a o sui c f d i o". (Ibi d . ) .

De fo rm a análoga à Gréci a An tiga, e m Ro ma o indi vi duG que

quizesse se mat .3.r d e ver i a submetet- suas Ser:2d o. o

te,-;? o e o au mento

!'1un do I4nti go ,

s e u caráter- rígido 2 ~2Q re5sivc . m oj ifi r~ n do -s2, també m, as re l a~b e s\


6

antes c ategóricas e pater nalistas, entre os indivíduos e o Est ado. Já

n ~o se tornavam públicos os motivos par a o suicídio, o que

rep r esen tav a uma discr imina~~o cada vez maior en tre a vida p0blica e

a vi da privada , o qu e iria af et ar de modo profundo a compreens~o e a

prática d o suicídio , princ ipa lmente a pa tir da Idade Média.

Ainda segundo Kalina e Kovadloff, o s u icí d i o nas demais

cu ltur as o cidentais da anti gui dade, além de a prov ado e i nduzido pele

comunidad e, e ra legitimado atravé s de regr as defendidas por toda a

comuni dade e estimulado reli gi o samen te . Dinamarqueses, gado s,

vi sigodos, trácios, héru los e celtas esp anhóis preferiam o suicídio

às limita~eses advindas com a velhice. Os que desejavam continuar

vivendo, apesar das doen ~ as e d ecrepitude d a velhice, eram conden ados

a viver num espantoso subterrâneo. Cometer o suicí di o, mais do que um

dever do cid ad ~ o, e ra fruto de uma decis~o pessoal e autOnoma.

Outros segmen tos e minorias das diversas sociedades do

Mundo Antigo eram lev ados ao su i cídio por normas socia is b astant e

rígidas. As mulheres da India, quando se tornava m viúvas, ou os

escravos do Antigo Egito , apÓs o fal e cimen to de seus senh or es, eram

obrigados a se matarem.

No entant o, como enfatiz a m Kalina e Kovad loff ,

" •.. n~o se deve encarar como patológicas tais


por
i n d u ~B es par te da comunidade, pois a nor ma l idade n~o
e x iste al i onde o que se enten de por normalidad e é
transgredido. Tanto na s sociedades chamadas bá rbaras pelos
gregos, como na egipcia e n a hind u, a i ndu ~ ~o franca ao
suicídi o por- par t e da comu ~ idade ti pha u m sentido cultur-al
legitimo e benfeitor~ já que preser-vava a identidade do
gr-upo" .

Gostar-iamos de apontar~ contudCl, que tal induc;:ã:o ao

SUL C i di o tc..mbé,-"· forma de defesa de amos e ~s posos

contr-a po ss ívei s desejos e ~t~ s mortíferos Dor parte dos S2rv os E das

esposas. Pelo menos no que dizia r-espeit o às normas cu!turais, c

conhecimento dos im pu lsos hostis era ~deno =' elf undjdo.

Já na Idad e Média, o caráter i~ el i gi oso pr-edominava

suicídio, na forma de SL a c :n dena~2o teológica. De us.

criadot- do hoem e ser:hor- d3 e>: istência de sua cr-iatura , er-a, em

última instância, propr-ietár-io da vida e mata r- se er-a atentar- contr-a

a pr-opr-iedade divina. A vida do suicida per-tence mais aos

domí nios do grupo, da c omunidade; pertence a Deus e cometer- su icídio

era um crime, u m sacr-ilégio, que d e~eri a ser punido cem a morte dos

sob r-eviv entes. Nem mes~o os que n~o fracassavam em suas tentativas de

suicí d io escapavam dos Ci:1St i gos e r ~presáliasç ;~e eram e x tensivos

aos her dei ro s dos sllicidas! que pod ia m sei~ quei mados ,

ar-ra stados pelas ru as~ pendur-ados pel os pés . AcrE~itava-se que essas

penas amedr-ontavam e desmot ivavam pretensos suicidas, além de

dramatizar a exclusão da alma do mor-to dos priv ilégi os ce lestiais.

Na Inglater-ra do sétulo X (1:," si.ú c id <3"'- '~r a m com;.:; ar-ados aos

assassi I'CS e ja qu e ffle t es i mp;' i C2-.va m em

descapi t ~ll za~~ o C! c! s ~r t'" ;:Jr fellda l.


8

Com o passar dos séculos a s determina~ões, infl uências, e

repressões. da sociedade cedem terreno à primazia dos determinantes

individ : is e aut Onomos do suic i dlO.

Emile Durk heim , em 1897, volta n ovamen te a aten~âo sobre a

significa~~ 8 social d . s ui ci i o pe sssoal. Para e s te au tor , os tempos

mod ernos e os conf li tos advindos das condi~ões p articu ! ares em que o

progresso estar i a se efetuand o em sua época, tiveram como

cconsequência u m colapso cultural que conduziria inevi t avelme n t e os

in div íduos à autodestrui~âo. S e gundo Durkheim, o suicíd i o con st it ui-

se numa trágica denún c ia indiv id ual de uma crise c oletiva, pois

" .os progressos anormais do suicídio e o


mal-estar geral do qual as sociedades contemporâneas =~o
vítimas, der ivam das mesmas causas".

Uma das criticas mais frequent es à posi~~o de Durk he im,

acerca do determinismo social do suicídio, po j e ser e}: empl i f i cada

através das ponde a ~ões de Stengel (1977), segundo o qua l na ép ~ ca de

Ourkheim os estudos a r espeit o do c o mportamento humano apenas se

ini c iavam, sendo E 3 ta concep(j:~o do s fatores sociais como

determina n tes únicos de um fenOmeno individual possui 1 a tualmen t e,

apenas um inter esse his tór i co.

No e nt.2.nto. Alv a rez (1 9 75 ) destaca o enorme 'nt e r-esse

susc it ado p elo trabalh o de Du rkheim e da mult ~ plicar.:;; ~.::; d e estudos

clen ti ~icos Cl'_le s u rg:ram s a p arti r de l e, n e 3ta área. p ar ~i c u12r mente

depoi s de 1920 . Neste s ~o e n+ i?t i z a do s os a sp ectos


constituciona is e her edit ários implicados no fenómeno do suicídio, e

some f1te no fim da década de 30, motivos psic ológicos inconsc!entes

passaram a ser assinalados.

Er:, 19 i O, red l 1Zd - se o S i mpÓsio ~o Ins t ~tutG Psicanalítico

de '·.li sn a ~ onde se destac3 ~ posi~~es def endidas por Adler e Stekel

com SL·. i f:: i;) !. o. t:i d 1 er enfatizo u as implicac;bes da

inferiOt-i dade, vi ngan<;2. e agress~c. anti-social, enqu "".nto Stekel

re laci ona o à mastLlrba!f:~o culpa dela deccr'" r-ente.

Stekel conc lui ai nd a qu e ni nguém S·E mata sem antes querer mata r

alg uém ou mor te de alguém. Ao fin al das d iscussbes f Freud

sugeriu que o suicídio nào poderia ser melhor compreendido até qUE SE

soubesse mais B. respei to dos intrincados pr-oc essos de luto e da


me lan colia.

Em "Luto e Melanc e:l ia" (1917), Freud esc larece como a

agressâo pod e se voltar contra o próprio sujeito. As condutas aut o-

agr essiva s e a tendénci a a utodestrui .2io do melancólico s~o o

resul tad o da necessidad e de destruir esse objeto amad % diad o que

forma parte de seu ego.

Stengel (1977) acredita as postule-';Ões

tr azem em si , imp li citament e) a vis2io da a utod e strui~ào como sendo um

aspecto ·-:le um ato homi cid a dirigido contra outra pessoa. Este a L tor

af i rma, 2. respel te, qtle?

:;
Lt m obs'E' r , o::: do t
p erc eb,::>r- como~
10

contra os outros pode voltar-se em dire~~o ao próprio


sujei to".

Em 1920, com "Além do Princíp io do Pr azer" , Freud i nt roduz

o conc e ito de puls~o de mor te, existente em todos os o rganismos

vivos, impulsionand o-os a retornar a um est ado de complet a inér cia.

Para Stengel (1977),

.... . mu itos aspectos do comportamento humano


poderiam ser ent e ndidos como resultantes da intera~~o
e ntre p uls~ o sexual e pu ls~o de morte, ou, em termos
psi c ol ógicos, como expr es s~ e s da i n tera~~o ent re amor e
Ódio" .

Caneghem 1980 ) realiza uma avalia~~o critica do


conceito de puls~o de morte, s ubl inhando que

" •• • instintos de agressividade e de morte s~o


muitas vezes i nvocad os por F r eud, como duas e xplica~~es
equivalentes da repeti~ ~o compul siva do desagradável .•.• as
auto-agressbes tem um caráter repetitivo que lhes dá, no
plano motor e fantasmado, todas as característ i cas de um
instinto, c om esta p alavra traduzindo n~o uma e'(ol'=!.!i..~Q
çri~~ora, mas uma tendéncia a c onservar , repeti r; n~o
repetir um programa genético redundante, uma inf orma~~o,
mas um estado anterior, que é a inérc i a de antes da vida".

Assim, no prazer e na dor procura-se o apaziguament o, e


nesse sentido, o ser humano é programado para morrer . Para Can egh em ,

contud o, a hipótese d e um "in stinto de morte" é demasiado vasta e o


" instinto " por dema is s i lencioso para ser objeto de u ma ve rifi ca ~~o
o bjetiva.Caneghem ch a ma a aten~~ o p ara o fato de que, se existe um
instinto de agress~ o, este n~o pode ser- confundido com um "instinto

de mo r te", pois

u • • • é, an tes, c onj unto de defesas


organizadas por cada ti ~0 de personalid ade , contra seus
próprios fanta sma ~ rle mor te e de acordo com os seus
própri Gs f a nta~ mas p r~t etor- e5_ A palavra instinto é,
portanto , mal escolhi d a já que a agressividade humana
supOe esquemas de Lu ta genéricamente prog ramados que só se
cumprem por i ntermédi o de es t.r- utLir as psi qui cas v ari ada.s,
sendo o fantasma a mais prim it iva del as e o símbolo, a
mais comp le ::-~a" .

Para Caneghem'l Freud decidiu exp licar t udo pe lo Princípio

do Nir v ana tens~o a zero) por razeJes p essoai s (as

guerras, a mor te do neto querido, a persegui~~o nazista e o can cer

que acabaria por maté.-Io) e confundiu Nirvana e agress~o devido à

sua própria ambivalência co m r ela~~o morte. Sendo ten tadora,

acolhedora (paraíso) e outras vezes representando o inferno ou seus

equiv alent e:= infantis (separa~~o, castra<;:~o, deslocamento , ódio ~

etc. ) ca.da homem oscila, ~egundo a idade, a cultura, a p ersonalidade

e, o humor, entre ,,:sses diverso~ equivalentes. Em 1919 ~ par a

Caneghe m , Freud oscilava entr e esses do·s aspectos: na

sabedoria/nirvana, que di ssi pa a angústia e a tragédia / deslocament o,

que a e>:aspera" . Para ultrapassar tal ambivalé nc·a, restou-lhe

slil'bolizá-·l os nc:-· mito o€' Eros e Tht:tn=> tos.

d e Fr eud, re~erente ás puls~es


12

a) um nível descritivo (trauma, repe ti~~o, sadomasoquismo,

Ódio)

b) um niveI e;{ pIicativo (a mbi vaI ~nci a. , masoquis mo

primár i o, instintos d e morte e de agress~o)

c) um nível mí tic o CEros, Th~natos e Ananké)

A partir do concei to freudianc de puls~o de mort e~

Menni nge t- (1970) procura demon str ar que vários tipos de doen~as e

comportamentos se relac i onam com a aut odestrui~~o. Menninger destaca,

aind a , que no su icidio e xi stem o s desejos de morrer, matar e ser

,.1eI ani e 1<1 ei n (1981> entende que o suicídio consiste na

e >:p ressiIo das for~as aut odestrut ivas dirigidas contra o objet o

introjetado. Além disso, afi rma qu e

" ..• as fa nt asias subjacentes ao suicídio


tendem a salvar os objetos bons interiorizados e a parte
do ego que se acha identificada com objetos bons, e,
também, a dest r uir a outr a parte do ego que está
identificada com o id e os objetos maus" .

Abadi (1973) analisa a quest~o do masoquis mo na teoria

fre udiana, afirmand o que o pro blema do masoquismo colocado no marco

da teoria psicana lítica contradi z e desa f ia a validade do principio

do prazer, qu e é um dos p ilar es da concePl1- âo freudia n a sobre a

cond uta humana . Para Abadi , F reu d tent a resol ve r essa contradi-O o de

duas formas: a prlmelra s 2 ma i s recente na cronologia das con jet uras


1 ..~,

psicanalitic 0s , se baseia na hlp 6~ ese da ~x istªn c ia, na matéria vlva,

de duas classes oposta. de p u lsBes - ?s pulsb es de v I da (Ero s ) e a_

pulséfes de puls(jes de

mor t e l igadas à maté!-i 2 ·'o:v:? cO Ld i.c. :ona uma. ·::, uposta. te;-. d~ncia d e sta á.

autodestrui ~:: o 1 ao e stado de repouso da primi + i va mat é ria

inorg~r:ica; e i mr- 1 i c a "a e y isténcia de

chamad ~ precisamente de mas o quismo primário o u protom?soquismc - ~u e

se t r:::t duzir i 3 através. da c .n dut .:'. agr essi va rio s ujeitr:. ~ s eja c or·tra o

mundo exterior, convertendo, portanto, parte des t e masoquismo

prim.:k i o em sadi s mo, seja contra si mesmo, ao perma.necer no

indivi d.lo .

A segunda resposta de Freud à contradi~~o , conforme

descreve Abadi, cons iste em afir mar que "o agressivo" (conduta

agress i va, impu l sos ag r essi vos) é um pad r a ~., de c o nduta, um 'pat tern li

d e rivado da volta do sadismo contra si mesmo (m asoquismo secundário ).

Es te fe r ómen o psiquico ::csl'" ia interp r etável de acordo com a

di n~mica apl icada n~ elu cida ~~ o p sicanalítica de todo e qu~!~~er ato

humano , ou seja, como ~ ~a aparéncia (conteódo manifest o ) que masc ara

e expressa uma realidade subjacente (cont e úd o latente) a qual escapa

ao con h eci mento do pró ~r i o individu o.

Assim , c on f ~r m e Abadi

" . . . se acei t e >' ITIOS =J :. J . .. ·?,C a tL t3l'"


masoquis tlc amen .... e cont .: ;::: i tneS IP.::J , o 1 n ':1 _ :- [L. CI e:: r ~ =-. Ct I.

sati. s +?zend o L n f i~ n bi·-·l0g 1 C":-~~ mas ~p2 1anco par a um meic

es t 2.r Em Q ~r ln -{ p i o d .=, P " -:<."" er ~ 11, C', s, ::-. o


14

contrário, ser a busca de um ~ im praze iroso. Co~o prova


diss o poder iamos citar os casos de masoquismo erógeno, em
qu e o praz er volta , como o reto rno do r eprimido, para
afirmar sua eterna vigência. E se esta explica~~o p arece
ab sur da, recordemos que a louc u~a n~o é um a forma racional
de viver e qu e o masoqu ismo nà ~ se outra coisa além de um
aspect o s mais do multiforme núcleo psic ótico. mais ou
menos oculto, dentro de qualquer ser humano ' .

Cassorl a ~1981) descreve a caracte F iza ~~ Q da per s onalidade

do suicida que Yamp re y, em 1977, re a liza através de uma p erspecti va

psicanalíti ca . Yamprey en con tra as s egui ntes predisposi~bes :

a} um ego empobrecid o por re pressbes e dissocia~~es, com

mecan ismos de de f esa rígidas, ou u m ego em de sorganiza~~o ou ainda

amea ~a d o de desorg aniza r-se frente a qu al quer st ress;

b) u~ superego inexorável e sádic o ;

c) vigência de fortes puls~es sádicas e masoqu i stas, como

expr e ss~o de con flitos inf antis resolvidos patologicamen te ;

d) idéias e fa ntasi as de morte relacionadas com objetos

queridos mortos ou fan t asias de vivéncias felizes estando morto ;

e) padrbes crôn icos de comportamento de caráter


destruti vo ou letal, t a is como uso de drog as~ Jo g os perigosos,

pervers~es, certas psicopatias;

f) rr- o dal id ades de rela~~ o de t ip o simbiótico ou sumamente

dependen te, com muita dificuldade de suportar p erdas;

g) rigid ez no manejo da ans .eda de, ra iv a OLI culp a.


16

Capítulo I

Evol u~~o histórica das idéia s de Freud sobre o su ici dio.

1886, no a..-tigo "0bse,va~d es sobre um c aso grave de

hemianestesi a em um hOlfiem histér"!. c o"~ Freud estabe· ~ ece urr víncul,:J

en t re o estad o de ~nim c deoressivc e o ~u i~idio .

Para lel amente, na descr ii; ao do caso de C;nna O. (1893 ) ,

Br euer re l ata pa i de:. pac i ent e, 2, quem ele, et-a e xtr emamente

afei~oada, morr e em 188 ;; ~en do Anna O . ,,: ompromet:i do sua saúd= após

ter dedicado todas as sua s e n ergias para cuidar do pai. No decurso da

enf erm idade da paciente, já em tratamento com Bre uer~ o médi co

ob serva que seu estado psíqui co se deteriora, sur-gindo fortes

impulsos suicid as. Bre uer~ em seu comentário, n~o estabelece nenhum

ne>: o entre a morte jo pai e as fan tas ias suicidas de Anna O., a~esar

dos mu itos . atos auto-destrutivos q ue e sta apr-e se ntava, por exemplo,

pri var -se de son o e de al imento.

Em 1897, no Rascunho N, ane;.:o à carta 64, a

~ iess , ~re ud os· i mp L' i 5 0S hO=="':.1 S contra ;:0'::; pai s

desej o de que eles morr am também s~o um e lemrnto integrante da s

ne q ose ,,: e que estes à luz" com':) i c'éi a.s

obsessi ',-::: ==. Os s ~ c' ~- epr i mi "-' 5 em c-.::aS l ~es nas quai s

está atl"? 2 con:pai ·x ê:c·

morte deles. E cc::muiT' 7


18

suceso ni de nada que tuviera conexión con él . Mas la


consonancia Tra foi-Boltraffio me obliga a admitir que en
ellos moment o s} y a pesar de la voluntaria desviación de
mi atención , fue dicha reminiscencia puesta en activid ad
en mi. (p.757\
Jl

o f ort e impacto qu e esta notí ci a causou a Freud fiz er a com

que r e p r imisse d eterminad o 3 pensamentos (morte e sex ualidade) durant e

a conversa com o interlocutor , causan do o esquecimento d o nome do

pi n tor " Signorelli " , e substituindo -o em sua memó ria pelos nomes de

outros d oi s pintores~ Boltraffio e Botticelli.

Em "Atos descuidados" Freud se refere às tentativas

inconscientes de suicídio camufladas sob a forma de acidentes

casuais. Obse rva ~ que em casos graves de psiconeuroses, ocorrem

fre quen temente automutila~~es, como sintomas da doen~a, que podem

significar um aviso da possibilidade de suicídio.

"Sé por experiencia, y lo e xpondré algún con


ejemplos convincentes , que muchos danos que, aparentemente
por casualidad, suceden a tales enfermos son, en realidad,
mal tratos que los pacien tes se infli gen a si mismos. Estos
acidentes son producidos por una tendencia constat emente
vigilant e aI autoc.astigo ... " (p.867)

Freud relat a o caso de um de seus filhos que aos onze anos

de i da de, ao irritar-se com os p a is, amea~ou, ce rta manh~, cometer

suicidio . A tar de a c r ian ~a machuco u - se e quando o pai perguntou-lhe

p or q UI=> ha v ia feito aquilo, o menino respondeu-lhe q ue havia tentado

o s u i cí di o c om o ~u al os a me a~ ~ra aquel d m anh~. De aco rdo c o m F reud


J 'i

li • adernás deI !:::. ui ci di o can sei er.temen te


in tencionado hay otr a clase de suic idi o , con intenciÓn
inconsciente , la c ua l es capaz de util izar con destreza un
peligro d e mue r te y dis{r a zat-Io de desgracia casual",
(p.869)

Esta tend~ncia ~ autodestrui~~o existe, segundo Freud, com

cer ta intensidade, num n ümero de individuos muito mai Ot- do que


equeles em que se manifesta de maneira vi torios a. Os dar; cs auto-
infligidos s~o Q r e sultado de um compro~ i sso en tr e estes impulsos de

au todest rui~~ o e as forc;:a s qu.e atuam contra eles. Tal tendência

permanece in consciente e ~lO individ uo, operand o


parale lamente, à espera de um mot ivo que se t or ne resp o n sável pela

inten~~o con sc i ente de suicidar-se.

Freud relata dois casos de acidentes apar entemente


casuai s., um dos quais resultou em mor te , em q ue os individuos
en contr av am-se em est~do depressivo, em funt;ão ,~ a perd a de entes
querid os., na oC2.·s i ::à'o dos aci dente s> Nos d,:"i 5 caso s ~ F '~ el\d i denti f i ca

a intenc;:ão au to-dest ruidora inc onsciente co mo determinante psíquica

dos acide n tes.

Em not a de rodapé, in serida em 1924, há mais um c aso de

c erda =,.r; t es

no ivo m3.Il!.festav2

Freu d é
~2()

inconsc ient es de se matar, ocultos sob o disfarce de um acidente

c a sua l.

"En muchos de est os casos de lesiones o muerte


por acci dente queda dudosa la interpretación. Las personas
ajenas a la victima no hallarian motivo alguno para ver en
la desgracia COS2 dis t int a de un accidente fo r tuito,
mientras que sus familiares y ami gos , con oc e dores de su s
int imidades, podr án encontrar razones para sospechar la
existencia de una intenci ón inconsciente". (p.872)

Tres anos após a pub lic a ~~ o da " Psicopatologia da Vida

Coti di ana If, já em 1905, Fr eud novamente se refere às ameac;:as de

suicid io,em "Análise fragmentár i o de um caso de histeria" (Caso

Dora) , relac i onando-as com estados de depressào e dese jos de

vinganc;:a.

Freud sub li nha que u m dos mais importan tes si nai s da

doenc;:a de Dora é o estado de depressào, desânimo e fadiga constantes,

agravados na ocasilll:o em que escreve aos pais uma carta-despedid a na

qual ameac;:a suicidar-se, alegando que n~o podia suportar a vida par

ma is tempo .

A quest~o da vinganc;:a como um dos determinantes das idéias

sui c idas de Dora é em segui da ampla mente investigada p or Freud: a

insistência da moc;:a para qu e seu pai rompesse relac;:Oes com a Sra. K

n ~o era suficiente para seus objetivos , o que esper ava

alcanc;:ar através de sua d oen c;:a .


"No cabia duc!a de que Dora perseguia un fin
que esperaba alcanza - por medi o d e s u enfermedad; tal fin
no podria ser ot r a que el de separa r a su pad r e de aqu~lla
mu jer . Ya que no lo c onsegu ia co n ruegos y argumentos,
espe r ~ba lograrl0 a t emorizando a ' pad r e (recúerd~se la
carta de jespedidaJ y despertand o su c cm pasió <l (con Sll.S
accesos de inconsci encia) v s i tam poco tod o aquelJ ~ le
s ervi a d :2 nada ~ p or- ' o " proas 1 a >/ engabi=' ·.1 e é'~ ". (p. 955\

No seg un do sonho analisado Dora enc o ntra uma

ca rta de sua mgr:e c omunicando- 1~ e a doe n ~a do pai seguida da morte

deste. Tais fatos sucede~am - se l o go após Dora ter abandonad o a casa

paterna . Freud chama a out r a carta, a carta-despedida

q ue s e dest i n a.'/a ~ atemori;:ar seu pai , levando-o a romper rela~Be s

com a Sra.k ou , pel O menos, a vingar-se dele.

"Nos hallamos, pues, ante el tema de la muerte


de la propria Dor a y de l a muert e de su padre. Erraremos
mucho soponiendo q u e la situación qu e forma la fac h ada deI
sueno cor responde a una fantasia de venganza con t -~ el
padre?" (p.987)

Em nota de rodapé Freud relaciona o atropelamento do Sr.K

às tentat i \! '=\s de SLti ci di o por ele estudada s na

"Psi cop Et ol agi a d a '"l i d? Coti di =. na".

Em 1909 é publicada a "Análise de um caso de

obsess i va. fi. Freud obse,v a que o i mp •.Jl 50 ao sui cí di (, no ':: 2 . 5 0 de "~ lo'Tl e m

do s Rato s Jl
é t ~o fr eque nte q ue ~ua ex p o si~à o eq ~ i v al e a q uase t oda a

an á l i s e d e.. sujei t.o . O c C'ntéudo pr ; Dc i p aI d i:.' -:;ua doer., ,, ? t- a n t emor d e

q u e algu m mal Oc D ..... res;::·e c. ~ ~' m di sso, ser·t i a


,
impuls os obsess ivos de 3u~od es tr i' i~~ o , ~ 0~n por exemplo o de C'o rta r G
r, ,..\
.L..:.:.

pe sc o'::,o com a 1 itmi n.3. de b ar be cir. Censurava-se constantemente p ela

fa nt asia/d e sejo de morte do pai, defend end o-se contra a possib i lidade

de h &.er conc ebi do semelhante dese jo. Fr ei. d observa q ue nâo f az

sen tido alguém cen s ur ar-se por um desejo qu e n~o teve. Como antitese

do desejo o sujei t o apre sent ava uma idé ia queo e xcl uia completament2:

"S i mi padre muere, me sui cidat- é -- jun to a sua tumba". Cp. 1453\ De

a cordo com Freud, a idéia da mort e do pai teria surgid o pela primeira

vez n~ o naquela ocasi~o , mas há muitos anos atrás. Com efeito, em seu

rela to subsequente , o sujeito refere-se diversas vez e s ao d esejo de

que o pai mor re sse para tornar-se rico e poder casar com a mulher de

quem gostava ou aind a para desp e r tar piedade e ter nura em uma menina

por quem se havia enamorado na adolescência.

Nos dois exempl os ci tad os, o sujeito demonstra repulsa p or

tais idéias e t e nt a explicá-las at ravés de rac ion ali za~b e s ~ e<;:;t es

pensamen tos seriam o resultado de meras 'as socia~ ~ es mentais' } ,


estt-anhando ao mes mo tempo o aparecimento de tais pensament os

pre cis ~me nt e em rela~a a à pessoa (o pai) que mais carinho lhe

inspirava. Fre ld considera que um carinho t~o intenso é a condi~~o

necessá r ia par a encobrir o ódio r eprimido, um amor t ~o gr ande ni:1:o

permi te que o ódi o fJEí 'eç a consciente . E nec e ssári o pois avprig ua r
a orig em da r aiv a con tra o pa i, supondo que haveria um motive q ue a

torn 3v a indestr utivel . TCl.l relE~g,;o (ódio/ motivo) impedia que a r ai v a

fel sse destrui da e ao mesmo tempo o cari n ho impediria

que o ódio afluísse c. ::- o nsciênc ia, fa z e n do c om aue subsi stisse no


i ncons e i en te, ;:l e onde, n o en tanto, er-a po ssíve l es ~ apar- rapida men te

em certas oc asi eles ~ atr-avés d e pens amento::- 1 so n~l OS, ~t c.

Fr- e ud cons i der- 2. que a ar- i getr- do ódio deveri<3 es ta r-


r-el aci Q-l ada com i mpu l sos sensua I S i'1tensG'5 ocorridos na i nfãnci 2. ,-j~

su jei to :

"La fuent e de la cual e xt raia 1 2 , h :J S til i d~. !~


contra padr-e su
e1 inde str-uctibIlid a d
r-elaci on ada evidentemen te con des~o s se n~uale s, p ar- 2. cuya
satisfacció n ha b r-ia él de habe r v is to en algú ~ mod o e n su
padr e un estorbo. Tal c o nflicto entre l a sensualidad y 21
amor filial es absol utamente tipic o." (p . 1454)

A culpa sent imentos hostis em rela ~~o ao pai

se r- e ve l a tamb é m em uma de suas recorda ~eres: em uma n o vela de


Sud e r-ma. nn q u e o havia i mp re s sionado prof un damente, onde uma j c)·vem

de 5eja a mort e da ir m~ p~ r-a q ue pud ess e casar-se com o cunhado 1 e q ue

s e s ui cid a qu a n do a irm . realmen te falec e, con v enc id a de qu _ n ~o

mereci a v i ver depoi s de ha ve~ exper-iment ad o semelhant e des e j o.

A ;:n'-l mel t- a afir-ma~~ o do s uj eito de qu e jamai s de 5e jou a

mor-te do pai é i n te r-pretada , em n ota de r-odapé como cont ra ditÓria

·h-ente a o sentiment culpa e à necessidad e de castig~ at r av és do

suicidio~ que ele d emonst.r ar- a ao compr- een der- a r-e501Ll ~ ~ 0

personag e m da n ovela de S u der- mann.

Além Ci:'. ,- F re:d relaclo n 2 o senti ffi ~nto de aos

impulsDs. autorje:=-!:.nlti '.,·.~,= .


1 090 -pós oc or ridos tais acont ecimentos. O sujeito al ega ain da que

sua do en~a inten sificoU-52 apÓs a morte do pai e Freud e stab elece um a

relaf;~o entre a triste z a provocada pela mo rt e do pa1 e a

intensi~ica ~~ o d a enfermida de :

"Es C OiT":J si la ·tristeza hubiera hallado e n la


enfermedad un a expresión patológica. En tan to que un duelo
'normal se e x tiende en uno o dos anos, una tri steza
patológica com'- 1a s~ya puede aI canz a r duraci ón
ilimitada.. (p.1456 )
11

Fr eud pt-ossegue a anál ise do caso investigando a origem

das idéias obsessivas do sujei to e rel a cionando-as c om a vida do

paciente. Uma das idéias obsessiv as mais frequen tes diz respeito ao

impulso d e suici d' o . Fr eud ~ através de um e>:emplo , tent a demon strar

a \?' ., i s tén ci a da rai va e da v i ng an!; a na determin a ~~o dos im ~, l sos

a ltodEstr uti vos : n a ocasi ~o em que a mul her amada viaja pa ra cU I dar

da a vó enferm a, o s uj e ito exper i ment a um f orte de sejo de cortar o

pescoco com u ma navalha, ma s , ao ini ciar os p rep a r ativo s para

desejo, pens a que antes dever ia assassi n ar a avÓ da

amada, a responsá vel pela sep ara~~o e pela a usénc ia desta. Assustado

diant 2 de sua idéia criminosa, o sujeito desm a ia. De acor do com

Freud~ ao acesso inconscie 1 e de raiva e nosta lg i a pela perda d u ente

querido, imedi a tamente o mand 2.t.o I=t Lt r i l': 1 \ ' 0 de

a utodE st ru tiv o :
11
' Má tate t~ par~ castigar te de tales impulsos
coléricos y asesinos'; y todo el pr oc e so penetra e n tonces
co ~ viol e nti ~ siffi o afecto y
el mandamiento p un itivo y aI fin,:;.l mención de los
impulsos punibles en la consc ien cia deI
I~p~ 1457)

Freud
denomina "s.uicidi,. i rld i ret.cl" efllontrandc ' se o fér i as
numa cidade de ve~-aneio, surge em a idéia de que
estava muito precisav a emagrecer . Come ~ a entào a retirar-se

da mesa antes do término das : efei~bes, corre pelas ru~s sem prote~~o

sob o forte sol d o ver~o 2 sobe as encostas de.. montanha, : ct;::oida me nte;
até que o cansa<;:o se tOF!1 e insuportável. O propósito suicida surge
também quando; !:ert8. \./ez , de um sente uma
imposi~~o forte de atirar-se. A e~plica~~o para est es atos obse ss ivos
re side na presen <; a da senhora ama da na mesma cidade, acompanh= d a de

um primo que a cortejava E por que o suj e ito sentia um int e nso c 1úme.
A r a i va dirigida cont ra o rival pode ser entendida como razào do
auto c ast i go do emag reCi!112nto (os impulsos ! !G~ i vai am a
aLtto pu ni~ ?o do emagrecimento). Freuo destac5 que elllbora tal ato
obsessl'o n?c corr-esponda a dire ~ o d~ suicidio, está
com este reI aci :Jnad·::, atra'vés de LIma c aFacterÍstica i fT ~ pOrTaílt1s=:m ?- >
OLl sej a 5 sua ori gerr. como um .:: r ea~~o ao ódi c' i 'lt~· . 5 U, E" iT' Qre.'l
- d= .D::u--te

incon s ciente , cont a

sujei tCl.
s ~a inve~tiga~~o ana lisando a ocorr~ncia

do combate interno entr e os sent i me nto s de 3mOt- e ódi o. A "obsessiio

protetora " do~ entes queridos pode ser enten d· da como um a re a ~~o de

remor 5 ~ e penit~ n cia c ont r s os imp !IIsos a ço ~ ssi~os diri gido ~ à pessoa

am ada. Os s en ti ment os host is d es tE ~aC":ien t e s~ o ~';""! gularm en te

violen tos e o compromi 5 ·50 entre o amor o Ód io tor na - se

obje ti v a men te r e presentado pe los a~os o bses s i vos protetores , = ~mo por

E' >:emp lo afastar do cc3.mi nho d a C2.ít- ua g2m d a mulher 2'1lada LFna pe r!'- a q u e

poderia derrubá-la , pa.r a l ogo em seg u ida v o l tar ao local e tornar a

col o car a p edra n c mesmo l ugar. S e ria err~neo inter pretar este.

segunda parte do ato obsessi v o como uma cor r e~~o critica da atividade

patol ó gica, quando na verdade parece tratar-se de uma ratificac.;:~o

fantasiosa desta mesma atividade.

" T a le s actos o bse s si vos e n dos t i empos , c uya


primera parte es anulada por la segund a , son típicos l e la
neur osis obsesiva. Naturalmente, son mal interpretados por
el pens3miento consciente deI enfermo, el cual los provee
de una motivación secunda r ia, racionalizándolos. Pero su
ver dadero sig ni fi cado está en la representación deI
con fli c to entre dos impulsos antitéticos de
a p roxi madamen t e igual mag n itud y, q u e yo sepa, siempre de
la antitesis de a d io y amor". (p .1459)

o conf li t o e ódio atrave3 de

o bse ssi vos , como , por e xe mplo, o at o que se

pr o ~ ~ ngav a por u ma h o;,::. e mei a , p oi 5 a cada v= -:w qt le em seu pens amen t o

diz i a " Dp' . s '::: esp :1 r i tü mal i g n o nh j etc\'; 3 " Nâ: o" , o qu e
. . ,_.:r
•.::' .I

solu~~o que e ncontrou pa r a livrar -s e do espirito maligno foi


aba ndona ~- suas r ez a s e substitui-las por uma breve fórmula formad a
com as p :--i meir a!: 1 etra.s ou as primeiras s ílabas de diferentes
ora~bE S, pronunciando-as com tal rapidez <:]ue

poderia int roduzi r -se n elas.

o sujeito relata, at.ra vés de um conf lit o


tra n sferid o à pessoa de Fr~Lld. No analis.t a
mo .... ri d o e o pacie~te tem ia q~e ao dar -l~_ o s pS sa me!: c0m e~asse a r i r

incont rolavelmente, como na. real idade já havia o co rrido em ~iversas

ocasiÓes . ir·tB.ra s ol ucionar o problema enviou- lhe um cart~o com


inicia i~ "p.c . li ~p 0ur condoler) flõas ao conv erteu- a!:. em
"p .f. " (p our félic iter).

Novamente, o confl ito entre amor e ódio pode ser

e>:empl i f i cado atr a vés da t- e1 a~~ o do s ujei to com 2. muI her amada. ......e r ta

vez, es t ando ela doente, ale experi me ntou o desejo de que a doen ~ a a

ob t- i gasse a perma.nec er para sempre no leito. O paciert e interpreto u


t al id é ia no sent ido de que deseJa··/ a vê-la sempre doente para
lib er tar-s e da angóstia in suportável .=to i m2.gi nê:l.!'" que ao
curar-se pod eri a ado e ce~ n ovament e .

As fantasi as· de vl~g3 n~a ex pr essavam - se atravé s de sonhos


d i n-nos q ue o faz iam en v e r gonhar - se. Imag ina va

=·2l 1!::· pre-ten~f€:,;~te3,

ca!:ava-se com LtfO homem q L:'? oC IJpava I)m el·t.-::· C:.>r-go. Ao mesmo tempo, o

sujeito ~ !ca n~ ~va ~-. ·"n~smo


28

mais de post o. At é que o marido de sua amada cometia u m at o qualquer

e et-a punido e esta se lançava a s eus pés r o gando - lhe que salvasse o

seu mar ido. o suje i to dizia e nt~o a ela que só havia aceitado tal

cargo por amor a ela, pois chegar ia um momento em que

poder ia lh2 ser útil. Finalmente , após cump r ir s u a miss~o, salv a ndo o

seu marido, i mediatamente p edi r ia de~-ni ss 2co.. O paciente confessava

ex perimentar, em certas ocas i bes, claros impulsos de causar algum

tipo de mal à sua amada . Tais impulsos dimi n uiam de i ntensidade, em

geral , na pr e sen~a dela e ressurgiam na sua ~usência.

Freud destaca a singular rela~~o ~ue o sujeito apresen tava

com respeito ao tema da mort e: tinha o costume de ir a todos os

enterros o que fazia com que seus irm~os observassem que se

comportava como os corvos; a lém disso, matava em fantasi a seus

conhecidos para poder a p resentar à família suas c ~ diais

condolências. A morte de uma de su as irm~s, ocorrida quan do ele ~ in ha

quatro anos, desempenhou em suas fantasi as um papel i mportante e que

se encontra i ti mament e r elac ionado com as maldades infantis daquela

época. Freud observa ainda que a e>:tens~o peculiar dos temores

obsessi v os do paciente POdE ser interpretada como uma compensa~~o dos

desejos de morte que nutria pelo pai. Desde muito cedo preocupava-o a

idéia da morte de seu pai e su a doen~a deve ser considerada c mo uma

reaç~o a t al fato, ob s essiv ame .te desejado quinze anos antes.

F r-eud sus tenta que o desejo de mo r te de outra s pessoas,

neste paciente, e e m o utro s c asos de neurose obsessiva~ relaciona - se


29

com o fato de que a mo~te ~esolve~ia os conflitos que o sujeito n~o

consegue so l uciona~:

"Su c a~áct et- esenci aI es el de se~ i ncapaces


de toda decisión , sobre todo en las cuestiones amo~ osa s.
Aplazan indefinidamente toda ~esoluciÓ n y tienen su modelo
e n aquel an tiguo t~ibunal alemán, cuyos pleitos t e~minaban
sie mp ~e porque las pa~te s liti gan tes mo~ian antes qu e
hubie~an obtenido una se n~ encia. De este modo, en todo
conflicto vital acechaba la mue~te de una pers ona
impo~tante, y casi siemp~e que~id a po~ ellos, se a de su
pad~e o su mad~e, de un rival o de alg uno de los obje c tos
amo~osos ent~e los que oscila su inclinación." (p. 1480)

Em segu i da, F~eud retorna à qlest~o do conflito ent~e os

sentimentos de ódio e amor destacan do que este mantém aquele

reprimido no inconsciente e que esta hostilidade ' r eprimida é

responsável pelo processo que desencadeou o quadro neurótico, assim

como desempenha um papel importantíssimo na gênese da histe~ia e da

pa~anóia. (p . 1481)

Ainda que possa pa ~ecer est r :=\nha a e xi stênc ia de uma

j usta posi~~o c rbnica de amo~ e Ódio, muito intensos e dirigidos a uma

mesma pessoa, pode-se entender tal subsistênc ia de afetos cont~éri o s

como sendo possível g~ a ~as à colabo~a~~o do inconscien te. S egundo

Freud, o amo~ n~o pode e~ting ui ~ o ó dio mas ape na s o ma nt er afa stado

no inconsciente; ond e nâo somente encont~a con di~~es de sob revi ver

como tamb é m de se desenvo lv er. Em cont~a pa~tida, o amar consci e nte

assume uma grande p~op ori; eo com o o bjeti vo de !Tla'lt e~ o ódio

reprimi do.
Freud finaliza o ,- e1 ato do Cê'. 30 do "Homem dos Patos H
i mpres~2t:.., de que o pac i e,Ite se encontroava come., flue
dissociado em tres personalidades, in consciente e duas .Jré-
conscientes entre 2:- quais oscil a\-'=: 2. SLta conscié::c: a. Erro =~tt ~starl :.~
normal era um hO'T',?:T:
t efle;',l .to,
despoj 2·::.Ir-, ~ S~L{ inconsci I,t e abr 1 92,'.1 a e
perver sos, prec Jcem ente

i mpulsos, re pr-esefltados

outras p e ssoas ter1am sid o resp~ ~sávpi5 pelo processe que desencadeou
sua doent;:a~ ou por atos obses~i 'o'o s de caráter
des trui ,'or /prote tor das pEssoas a quem ainava e outras de
aut odestrutivo (i déias suicidas) decorr entes do sentimento d e culpa e
do ódio inc onscientes .

Em 1910 realiz =:--::E' o Simpósio ::obre o suic íd io, e.-" uie,! a.


Em seus c o men tários finais ~r-!?u d assi::ala q ue apesar do valioso
naquela ocasi?o. fora possível chegar a
Lima conc I u s ~c!

suicídio: de que .J: ol'" 'lI a ser i a s:..,per ado o poderossíssimo inst into de
"i da? Segundo i='reud, C'
acess o ao p~obl e ma só seria possível 3tr~v?s

do estudo do estadc clinicc: da melancolia e


estados afe tivos do luto .

"l otem E;
. ., .
P ~' OlJ.("2.0 C!
. e!!: 1912,

apresentado em

v ida mental do 1-' 0'""2"1


"r: seg'.'.dc' capitulo ~

que tr? ~a do t -.ou e '.1 => amb! '/31 é?: .[ _. d:·=. ,::. E:' ~ t lf' ,.. .. ,t ['s. :- r'- 'ri C.:. ,CI:2i- <' .c\~
"·--ffr!('f1;:,-
limita<;e:!es as qu a is o s pov os pr- imitiv o s se s ubme tem <tabus} às
. 1-
san<;~es f res tr i ~~e s e cast igos lmpo s~ o s a S I mesmo s por individuas

acometidos de neur os e obs es siva :

" .•. per- sona s q ue se han creado por s i mis mas


p rohi bicion es tabú in divi duales y que las observan tan
ri gurosamente como el sel vaje las rest ri cciones de su
tr ibu o de su organización s oci al, y si no estuviese
habituado a de s ignar- a ta les personas con el nombr e de
Q_~.Y..~.º:tj ço? _._º.t.:>?~S ~:.tY.9_§.! hall2ir- i a muy a.decua do e l nombre de
~Df~.r.. I!"!gç!2!ç! . ..g.~l ._ . j;.:?b.y . par a car acte r i z ar sus estad os" . ( p.
1763)

Os tabús significam pr oibi~bes das ativi dades a cuja

realiza~~o tendiam int ensamente o s individuos. A primitiva tendência

a realizar atos proibidos nec e ssita ser i nterdi tada p,e l0 tabu e os

povos pri mitivos adotaram u ma atitude ambival e nte frente às suas

proi bi ~~e s . Freud considera que em seu inconscien te o que dese jam é a

sua vio l a ~~o~ ma s ao mesmo t empo, a temem. O temor decorre do desejo

e é ma is forte do que este. A transgress~o con s titui um crime q ue

nece s s it a de castigo~ e Freud descr eve vá r i os exemplo s de restri~O~s

e e}~ pi a~~es sofri das p elos inf rator es. Nu m destes exemplos o ta bu d o

con tato entre rei e escravo é violado qlando este se serve dos rest os

de comi da deixados pelo reI de uma tribo da Nova Ze landia. Ao ser

a dvertido de que a cabar a de se alime ntar com a comi da que h av ia sido

tocada p elo rei, o j o vem e saudáve l escravo adoece, morrendo ao

ano it ecer do d ia s eglJi nte, v i tima da sua pr Ópria culp abilidade . F reud

jul ga a a utocond en a~ ~o Cl:tlnO sendo Cctr a c te r i s t i c c'. essenci a I d a 3ti t ude


do hom e m pri mi tivo com rela c; ~o ao tabu, cQns iderado uma esp écie de

ma n d ament o d a consci ~ flC i C\, C'"-_J a vi o12~~ 0 r esu l ta em grande sen t i ment o

dE cul p a. Na n ot a ao ro dap e da pagln ~ 1791 consid e ra que a culpa n~o

dimi n ui mesmo que a

f az ena e ; \11' paralelo C01T' CI ·" ltologie. qu e CI c ul pa de

Edipo nào é !Tll'1oI'Clda pe lo -fat o dE tudo • er oCLJr rido SL\a

necessidade do

castig c decorre~t e dQ s en ti F'ento de c ulpa originado pela v ioLH~~o do

t abu e pela experi ~ entac;~o d e dese io s/impul s os forteme nte rep r imidos

por uma pr oi bi~~o, cQmo, p ~~ e x empl o, o dese j~ d e morte de uma pessoa

am a da . Os sentimentos 2Imbivalentes, com rela~~o a uma mesma pessoa,

no caso da morte desta, det ermi nam no sobt-evi vente o que Freud

qualifica de I!recrimi ;'~ c;:bes obse ss ivas " , ou seja, f a nta sias de que de

algum a fo rma contribuiram para a ocorrénci~ da morte do e nte q u e rido :

"Ni e l recuerdo de ha f:::.e'- asi sti de aI enfet-mo


con la mayor solic i tud ni los ~rg umentos objetivos más
co n vi nc ente s = ontrarios 2 la penosa ac u saciÓn bestan p~ra
pon er f in ai t ormen to deI sujeto , t o r mento este que
const i tuy e qui z á una e >:p resi Ón pato l Ógi ca de1 duelo . . . li
(p. 1(85 ) .

': lese JC' i ll consci ~r}t e ~ ujei to CC;f;-tr c~ es t e de::;ejo

a L\toc o!ldena. 1:; à~-:j _ após

faleClwerto .
No capit ulo quatro do mesmo artigo, Freud estuda as

caract ~~is ticas dn totemismo e apresenta um a detalhada exposi~~o

or- i g em do totem e do homem primitivo com o

si fnb o] o r--

51 mesmo .:;::le toc!os GS membros de seu ela. o t otem é, pois ~

considerado, de a cord o com JlElementos de psicologia dos povos"

( t>Jundt , 1912) .. como o ?nimal ant ep assado do cl ~ con'-espondente, ou

seja, designa~à D dD grupo e ao ffiesm o tempo um nome pat r onímico.

Freud se abstém de desc rever o desenvolvimento das

religibes a part ir do totemismo at é a atualidade, justificando que

este n~o era o objetivo do seu estudo, limitando-se neste complexo

caminho à via que se destaca com particular evidénci~: o tema do

sacrifício totémico e a atitude do filho com rela~ao ao pai ,

caracterizada por sentimento ambivalente, por coexi stênc ia de amor e

ódio voltados à figura paterna. Admite ainda como fato comp rovado que

dois fatores nao desaparecem jamais no desenvolvimento ulterior das

sentimentos host is do filho e a consci ência de sua

culpab ili dade. A tendência do f ilh o a ocupar o lugar do deus pa i é

acompanhada pela GQnsciência de culpabilidade e consequente

necessidade de c astigo. que se expressa nos mitos que condenam os

jovens a um a c ur ~a vide ou o s pun em com a castra~ao e a cólera d~

di VI i1 iade patet-n2_. Freud rel ac ion a os mitos ao inELe, da castt-a~àD,

observado n os neuróticos, e ao ~apel q ue e st e medo rlesempenha r 13 nas

entre os mi tos citad os e duas r el igi 6es: a de Mithra e posteriorsente


• -1..' •
o crI "".... l. a nl. SinO . Atr a vés das:. escul tur as de Mith ra é possível deduzir

que suas l~ :~ens represent am o filho que sózinho realiz a c s a cFificio


de pB.i e "" ssim

todos eles pesava, relat l. V0 i


etC- Cí JT!e
primItivo. Mas, de 2c or dc c~m

cu.lpabi li c! . . ie :

" •. y e!:õ t e otrQ Ci:l.m:i no e::õ el q'-~ E Cri sto f '_i 2 '21
primero en segu ir . Sacri~icando su propria vida redimió a
"'odo~. SL\-=:· he~r-ITl ar ·::·= ce! p eca ~c Ot-igii-.al . H Cp.1845)

Freud 10:::2.1 i L a a or igem da doutrina do pec ado or i ginal rQ


mit o de Orfeu , tendo sido m2 ~t ida e pos terio rmente disseminada entre
as escol ctS ·f i 1 Qsófi cas da - + .
:::o.n_l.ga civilizaç:?:Q grega. Os homens eram
descen dentes de tit~s que mata ram e e squartejar am S'2U deus Di on! sio e
a e~: i sténci:\ deste :::rime pesa\!a sobre eles . part ir de
destró i -se .::-, unidade do ~undo p todos d~viam sup~rtar para ~2~pre o
castigo pelD
~r istà o pecado original

pod e s e r int2r pret ado como um crime contra Deus Pa i e Cristo redime a
hu m~ni dad e r!:-,
em troca do sacri fíc io de EU3 prÓpria
v ida. Em

ao sU1=idio
-:'"c:.-
._IW

melancolia caracteriza - se por um estado de a ni mo de tristeza e


d epress~ ~1 pr ofundamente doloroso, pela p erd a d a capacidade de amar
aos outros e a si me s~o e pela inib i~~o das at ividad e s~ do interêsse
pelo mundo. Já o luto é defini d o com um afet e normal, um a reai~o à
perda de uma pessoe querida ~ aLI de uma 3b stra~~o equivalente: a
liberdade, um id eal ,etc . Em 2,1 gurnas pes=:- .a5 , estas
mesmas in fluências , obser va-s e a o ror rência da mel ancolia em lugar do
luto; sendo qu e aquela se t raduz por auto-acusa~be s e na necessidade
e esper a de puni~ ~o e castigo. A difere nc;a fundam enta l entre um e
outro estado, c o nsiderando que n o l uto o individuo t amb ém experimenta
o mesmo sentimento doloros o em rela~~o à perda, é que neste n~o est á

presente a diminui~~ o do sentimento de auto-est i ma e a necessidade de


puni r o próprio eu.

A elabora~~o, lenta e dol or osa, do lut o resu lta na


l ibera<;~o e is enc; ~o do eu das inibi c;bes existentes no inicio do
processo. As dificuidades de desligar-se do objeto perdido v~o sendo,

pouc o a p o uc o, v en cidas pe lo desgaste da libido que se encontra


ligada ao objeto, de 3c ordo com o man dato da rea l idade que de mon stra
a impor t~ ncia de se en c ont rar um ob jeto subst itutivo. Embora na
melancol i a a reac;~o à perda real de um obj eto poss a e x istir, h á casos
onde essa perda se v erifica e n~o é possivel di st inguir
claramente as c ausas que desencade a ram o estado me lanCÓlico.
Ge ralmente o sentiment o d e perda é d e nat ur eza ideal e n_m mesmo o
sujei to ,-on seg le sua orig em. Neste ponto F reud destaca
q ue:
U • • • nos veriamos impulsionados a relacionar la
melancoli a con una perdida de objeto sustraida a la
co nsc iencia~ di fe re nciándose as! deI duelo, en e1 c ual
nada de lo que respe ct a a la pé!'dida e~, inconsciente. ': p. li

2(92)

Uma outra diferen~a notá'/ e l entre e~tes dQl~ estados é que

no lut o o mundo se torna vazio e empobrec ido aos olhos do sujei te, o

que pode s er explicado pelo trabalh n de elabora~i3o do luto que

absorve o eu, enq uanto que na melancolia é o ego que se es vazi a e

espera delirantement e ser punido . Freud desc reve co~o s~ sente o

sujeit o melancólico nes te qu adro de p equenez moral: indi~o de toda

estima, desvalorizado, moralmente condenáv el , se insultando e

dirigindo a si mes mo amargas condena~~es, se humilhando ante os

demais , se depreciando e estendendo suas aut ocríticas ao passado,

a.f i t-mando nunca te r sido me lhor . Es te quadro se completa, através da

recusa à alimentat;:á:o e da insónic3. , com atitudes de naturez a auto-

destrutiva, r eveland o uma superaç~G q~e comp ele todo ser

vivo a se apegar à vi da .

Freud se refere uma e spécie de satisfat;:i3o que o

individuo mela n cólico sente ao comunic ar a todo mundo os seus

p ró pri o s defeitos~ a i ne>: i sténci a de um cer to pu der que ca~ ~= teriZ2

as auto-r ~c rimin a~b e s nC'!~mais, dEj~i2 indo, destas

no luto, mas t2.mb é.-"! o ql\e Sé:' v er-i f i ca é a perd,3 d o pr-ópri o ego.
37

Freud enfatiza que na me lancolia o que ressalta é o

descont entamento com o próprio eu do pont o de vista moral, aci ma de

qualquer outro aspecto, E que estas criticas, ~reque nteme nte?

muit':J pouco adequadas ~ pe~sonaIid2de do sujeito f adaptando-se com

uma certa faci l idade a out t-:o< s pessoas que ele ama, amava ou devia

am2.~ . As recri mi na~bes que n a verdade s eriam di. igi das a u.m outro

obj eto , encontram-se deslocadas e voltad as contra o pró pri o eu. A

mulher que lamenta seu marid o estar ligado a um ser t~o inútil quanto

ela, c ri tica na realidade a inutilidade do marido e, por isso, seus

lamentos n~o se ocultam e n~o possuem pudor, pois todo o mal que os

reveste n~o diz respeito a si mesma, mas se refere a outra pessoa.

Freud descreve a recon stru~~o deste processo de id entifica~~o do eu

com o o bjeto da seguinte forma : i nicialmente o que existe é uma

escolha de obj eto onde ocorre um investimento da libido em rela~~o a

uma de"t.er minada pessoa. Por influência de uma ofensa real ou

imaginada , des fer ida pela pessoa amada, surge uma perturba~~o nesta

rela~~o objetaI que n~o se caracteriza por uma consequência natural,

ou seja , a retir a da da lib ido d este objeto e seu deslocamento em

dire:;~o a outro. A libido livre n~o foi investida em out r o objeto,

mas voltou-se eg0 1 encontr and o aí uma aplica~~o determinada,

ao estabelece"- Uffi3 ident·fica~~o do 2U com o o jeto perdido. "La

sombra deI obj eto c -'::-V· ó a Sl sob re (p.2095 ) e e st e último ~

parti r deste momento se submete ao jul game n to de. i ns tétnci a E7.pe;:-:i aI ~

a co;;sc i ~ ,! ci a mori'tl, conlo um objeto , n a realidade como o ob jet e

pe .... di do . A f=ierd .=. d .~ obj eto ~e transforma em perd a do eu (o eu

esvaz i a el°-. e em!=-oh .eCl dG L'C'


ob j eto, e .l1 uma di ssoci a '-~o e nt r e a ati v id3 d e criti c a do e go e o ego

mod if i ca do pela identifi c2 ~~o.

n desinvesti men to (;a libirlc· 30 obj et o occrt'E'

d e Ot t..:~_, E 2 :--· k , e q ue l

ref er-- e, e. esco l ha d o c:t. j eto te r i a. sobr e

n2.... cisi s ta~ de forma , _.-


n f : ~
c ontraried ade é

pos::: i v-e l ~ e n ~ r gi a p síqui c a retroce d er a o

" Esta sust i t uci ón d e ] amor 21 C! bjet~ po r u na


ident i-Ci cación mecanismo en I as
a.fec c ion es. na rcisis tas .••. corr esp ond e , n a turalme rt e, a la
r~.9L~_?_§.LºD_ de u n t ipo d~ la e l ección de objet~ aI
narcisismo pri mit ivo . " (p . 2095)

A id e ntificaçê:o do eu -on siste "a prime i ra ma n eira, na

.,: 2se pr e l i mi n ar de es col h e< do objeto. H á um de =ej o de incorporá-lo,

ingeri -lo ou de vo ré -l o s des eje e s te fase ore.l

canibali-=tic é do d esenv olv iment o d~ libido. A e sta re12i~o se l i g a,

provavelment e , a rec u sa do i nd i vi d'_~':3 de ingeri r -31 i ment~'=.: nos

e s tados grave s de melanco li a .

-f oi da

me l ancol i a s e
ambivah~?ncia é pressuposta b ásic a da mela n colia e o ódio recai sobre

o objeto sub st i tuti vo , que agora se encontra r e f' .~gi ado 'lO eu, através
da ide ntifica~~o narcisista , ca luniando- o ! humI l h a ndo-o j fazendo-o
sofrer e enc o nt r ando neste sof rimento uma sádica . De
acor do com F r eud, o s o.frimento que c: mela.n cé_ !cG infling e é
indl.\b it rl.velmen te praz eir oso par a ele mesmo e sig ni fica, analogamente
cc:rrelativos da neurose obsessi· , ~, a de
t endérlci as sádi C2""~. e do ódi o ao objeto. Soment e através do auto-
c astigo ':? que . .+
o s UJeI~o, tanto na melan co lia como na neurose
obsessiva, consegue alcanl:;ar seu objetivo de se vingar do objeto
(s at isfa~~o sá dica de infling ir sofrimento ao objeto, que se encontra

narcisi c amente recolhido no pt- óprio ego). O individuo se refugia na


n~o ter que demonstrar claramente a su a hostilidade às
pessoas a quem ama/odeia. A energia libidinal retirada do objeto
abandonado encontra , deste modo, dois camin hos distin tos, mas ambos
de caráter regressivo: uma parte d el a retrocede à identificac;:~o

na rci sista e a outr a , sob in flu énc ia da ambivaléncia~ retrocede à


fase sád i ca. Frevd ass in a la que

"Este sadismo nos ac lara e l enigma de la


ten den cia aI suicidio, que tan interesante e tan pe li gros a
hace a la melancolia . Hemos re co'Gci do como estado
primiti vo y punto de partida de la v ida i~5tintiva un tan
extr ao~dinario amor a si mismo de I ya; y compr obamos e n j

el miedo provorado p o r u n a amenaZ3 de mue~te la lib eració n


de tan en .rm e m~nt ant e de l ibid o na~-c i si s ta ~ que no
compreendemos cómo el vo Du e de c Of1!::' en t i t- ert SLt propr-i~
destr ucc·óll . " (p.2096 )
40

Como já foi anteriormente descrito, em " Contribui~t!es ao

simpósio so~re o su icídio " Freud se h avi a i ~ dag ad o a respeito de como

p oderia a puls~ G de vid a ser superad a pel os zt os autodestrutivos que

poderiam resultar em sui ci di c-. ri O presente artigo , reconhece que o

fenOmeno do sad i smo voltado para o própri o eu ~ o bserv a do no est u do da

me lanco lia , esclarece a tendénci :.<. ao sui c ídio de s ujeitos que se

encontt-am neste estado. A análise da melanc o'ie de monstra que o e go

sÓ pode se matar quando trata a si mesmo como u m o~j eto. O retorno da

energia libidinal h ost il desinvest ida do o bjeto abandonado e

reco l hida 7 narc isic amente, n o p róprio eu! di ri ge par a o sujeito o

ódio que perten cia ao o b jeto e que represen ta a rea ~~ o p rimit iv:.<. do

ego contra os objetos do mundo exterior. O qu e se pode concluir é que

no suicí dio o ego é dominado pelo objeto, pois, apesar de ter sido

abandonado pela regress~o narcísica, d emonstr a ser mais poderoso do

que o eu (o ego trata a si mesmo como um objeto).

Durante os anos de 1916 e 1917 s~o publicadas as diver sas

con fer ênci as que faze m p arte da obra "Con -ferénci as Int r o dutóri as à

Ps ican áli se" . Na conferência 26, intit u lada "A teoria da libido e o

narcisismo" Freud se refere mais uma vez à tend ênc ia do melanCÓlico

ao suicídio . Investigando a que s t~ o do ret orn o da libido ob j etaI ao

ego , est a b e lec e um ter m~ de comp ar a~ ~o com a Zoologia , para aumentar

a compreensg(o deste dinami s mo regre Es ivo, u t i liz an ~ o - o rno px empl o 2 S

amebas: ~et-es v iv os el emen tar es ! constituído s de s-ubsta n c i d.

pr o top!a s m~t ica , qu e em it em prolonga mentos chamados pseudópodas , n o s

quai s irrigam sua substãnci a v i tal; e s tes p r-o long am e ntos r e t F"a em - s~ ,
----

41

voltando o organismo a sua conforma~~o original. De acordo com a

teoria da libido de Freud a emiss~o de energia aos obj etos ocorre de

manei ra análoga ao exemplo da ameba, sendo que a massa principal

permanece no ego e, admite Freud, em circunstàncias normais a libido

do ego se transforma com facilidade em libido obj etaI e vice-versa.

Freud destac a:

"Poco a poco nos hemos ido familiarizando con


la idea de que la libido que hallamos aderida a los
objetos, y que es la expressión de un esfuerzo por obten er
una satisfacción por medio de los objetos, puede también
ab andonarlos e reemplazarlos por el yo. La palabra
nar~j_~ismo, que empleamos para designar este
desplazamiento de la li bido, la hemos tomado de Paul
Naecke, autor que da este nombre a una perversión en la
que el individ u o muestra para su proprio corpo la ternura
que normalmente reservamos para un objeto exterior."
(p.2381)

Freud ilustra o dinamismo regressivo da libido c om alguns

exemplos considerados como parte da vida normal: a conduta psíquica

durante o enamoramento, nas enfermidades orgànicas e no repouso

noturno. Neste último conclui que o dormir é um estado onde todo

investimento libidinal nos objetos torna - se egoísta, se retira deles

e vol ta ao eg o em busca do bem estar a ser encontrado no sono. E como

se o sujeito evocasse, ao dormir, o quadro de agradável isolamento

característ i co da vida intrauter ina , rep r oduzindo o primiti v o e s tado

de distr i bui~~o da libido , o u seja, o na rc isismo absoluto, estado no

qual a libi do e o interesse do eu , unidos e indiferenciados, existem

no mesmo ego, que se basta a SI mes mo .


Na mel anc olia a " iden t ifica<; ~o narcisista" , con sequente da

incorpora<;i:!io do ob jeto ao ~go, estabelece a c ircuns tânc ia na qual o

próprio eu recebe o tra t amento que cor~esponde ao objeto abandonado,

sofrenc':J todo tipo de _gr ess~o e ving an~a que o s u joito ex perimenta

objeto . Como já fo i 2;!teri onrente de scrito, as

imp lact<vei=: ce nsuras- que os rr.elancÓ licos dirigem a si mesmo s _.! s~o, na

realidad e, d ·r igidas a outras pessoas. A tendéncia do melancÓ li co ao

sui cídi o tor na-se mais compr een síve l se c onsiderarmos que o

t-e s sent imento d o individuo ating e de u m sÓ golpe seu pró pri o ego e o

ob jeto amadoiodiado.

Freud reitera que tanto na melancol ia c omo nas demais

desordens narcisicas s e e ncontra pr esent e de f orma pronunciada o

estado af e tiv o

de sentiment o s contraditÓrios de amor e hostilidade com rela~~o a

outra. Ao des truir-se a si próp rio, o melan cólico n~o faz mais do que

atingi r o obj eto odiado~ narcisicamente identif i cado com o seu eu.

Uma breve referéncia ao su icídio se e nc on1::.r- 3 nct "H ist Ót-ia

de uma neurose i nfantil (Caso do Homem dos L obos )" , descrevendo a

his tória clíni ca do sujeito, Freud analisa o r elac ionamen to deste com

que desempe nhou u m papel importa n tissímo em sua v ida e no

de senvol vi men t o de sua doen-:;a. Ao completar \:i. nt e anos de idade a


-r
1
",-
frIa do paciente C:O {neC;O L~ a -: ?presentar de depress~o,

esqui vand '-'--3 e de ':00 0 e rual q uer c onta t o social ., t<=>rmi na.ndo

suícidar -s'2 d'-want<= que a o


4 .7..:'

suicidio da irm~ podem ser considerados como o testemunho de uma

evi dente heran~a neuropática da família do paciente.

"Sobr-e a psicogénese de um caso de homossexualj~~~~

feminina", artigo que data de 1920, trata da análise de uma

adolescente cujos pais haviam procurado Freud para que este curasse

o homossexualismo da filha, que tanto os indignava. A análise revelou

que a tendéncia da mor;a, de apaixonar-se por mulheres maduras e

amáveis , representava um substitutivo da m~e. O desvio da escolha de

objeto ocorr e a partir da puberdade da paciente, pois até ent~o

apresenta v a um desenvolvimento normal da libido. Aos onze anos de

idade demonstra grande afeir;~o por um menino de tres anos, sendo este

interesse int erpretado por Freud como decorrente de um desejo intenso

d e ocupar o lugar da m~ e e de ter um filho d o pa i ( um fi lho do sexo

masculino ). Algum tempo depois a m~e engravida e nasce o irm~o mais

novo. A paci ente sen te-se inconscientemente indignad a e t raída: odei a

a m~e, se af asta do pai e dos homens em geral, recusando sua

feminilidade e optando por dar à sua libido um outro destino

diferente daquele que até ent~o experimentara. Transformou-se em

ho~em e escol heu como ob jeto erótic o a m~e em lugar do pai.

Aos de zoito anos caminhava pela r ua em companhia de uma

muI he t- p or quem esta v~ apaixonada, quan do en co nt ra o pai, que a olha

com raiva e reprova-ào. Em seguida tenta suicidar-se jogando- se no

foss o dos trilhos do bonde. Os resul tados imed iat os de seu ato foram

alguns dias de cama, apesar de n~o apres ~ntar lesÔes muito graves , um
44

clima mai s favorá vel em rela~~o aos pais e o carinho da que la senhora

que hav ia ficado comovi da por esta ine qu ívoc a p rova de amor .

Freud reali za uma aná li :=~ da t enta ti v a de su i·= i d1o

buscando as motiva~b 9:= ir.c onscientes J evado ao ato~ em

primeiro l ug ar- u m a u t o castigo por ter quer i do se ~i ngar do p ai e da

m ~e, e, 3 0 me:=mo tempo, a realiz2~~o de um desej o. Ta l des~ jo s e r ia o

mesmo que f oi responsá v ~l por seu imp ulso à homo ssex ua i dad e , ou

seja, o de ter um f ilho d o próp rio pa i , p oi s açOl"" a ou "cai a " o u

"pari a " :[ por causa d e seu pai. O tip o de suicídio ~ n'?s te caso: cair,

jogar-se ) ligad o a o desejo sexual (ter um filho) é brevemente citado

por Freud:

"Esta interpretación de los medias elegidos


para e l suic i dio como un med ia de real i zar deseos sex uales
es ya familia r, hac e mucho ti e mp o, a los analíticos.
(Envenenarse = qued a r emb a razada; ahog arse = parir;
arrojarse de:=de una altura = p arir)". (p. 2555)

Assim, ten tativ a de suicídio é interpretada como

resultado de um CO l oror : sso de pelo menos duas f or~ as det er min ante s:

v ing an~a e = par ir) d e ter um filho do


. ) .
p a 1, Nest e pon to de S L. narrat i va F r eud se refere a os

esclare=im~ ntos qu e os ican á li 5 e protJ ic i a rlG que se ~.

dini:t mi c a do suicí d i o e que j3. fora m 2.mp 1 am e nt e discutidos

anter i o r mente em " Lu t o e Nel ancoli a"~ o eg!~ só se ma t : o. ~

_':'l.jC."j'" t' :-' J ..


., .. ·,r
"
.; ,

45

simultaneamente o objeto com o qual se encontra identificado ,

dirigindo contra si mesmo u m desejo de morte que experimenta por

outra pessoa . A vingan~a da paciente contra os pais, ou seja, o ódio

e o desejo de que os pai s morram , se voltam contra ela mesma fazendo

c em que procure a mort e .

Freud to rna a chamar a aten~~o para o fato de que a

existência r egular, nos suicidas, de desejos in con scientes de mort e

de outras pessoas, n~o deve causar estran heza e confirma a hipótese

d e que o psiquismo incon sciente de todo i nd iv iduo se encontra repleto

de tais desejos, in clusive com rela~~o a pessoas muito que r idas.

A identific a ~~o da paciente com a m~e , que teve o filho

que ela desejava ter tido de s e u pai , conf e re também ao autocastigo a

significa~~ o da realiza~~o do desejo de que a m~e morresse. Freud

destaca que n~o se deve estranhar o fato de que na determina~~o do

suicídio exista uma mult ip licidade de mot iva~~es, pois trata-se de um

fenOmeno de gr ande complexidade.

No art igo datado de 1921, intitulado "Psicanálise - e

Telepatia", Freud dá continuidade à investiga~~ o da vingan~a como um

dos determin an t es de idéias suicidas. Em doi s dos três casos

rela t ados, os sentimentos de r aiv a e vingan~a por uma outra pessoa

e nc ontram-se relac ionad os aos atos suici das da seguinte forma: no

prime iro caso, um j o vem apaixon ad o pela i r m~ ser ve de gui a em uma

e x curs~o p ela mon tan ha na companhia d e seu futuro cun ado ; o s do is se

perdem e c orrem perigo de vida sen do socorrid os com muita


46

dificuldade. Em outra ocasi~o descreve a profecia de uma vidente que,

a s eu pedi do, procura descobrir o futuro do cunhado. De acordo com a

profec ia , o rival morrer ia em peuco temp o, vi tima de intoxi car.;:~ o

alimentar. A imp ort~ncia q ue o paci ente c onfer e à p rofec ia, bem como

o resultado quase fa tal da e>:cu r::~o na mont anha, podem ser


interpretados como resu lt ado de um forte desejo de que o cunhado

morr sse em fun r.;:~o do ódio e da n ecessidade de vingar -s e da que l e qu e

havi2 =e ca:: ad o com a mulher que amav a. A idéia do suicí dio encont ra-
::e mani festa na ocasi~o da exc ur s~o onde ambos se perdem e p assa m
pelos mesmos perigos.

o terceiro caso apr esentado descreve ten tativa de

suicídi o do suje ito come t ida n a ad olescência ao sentir-se rej eitad o

pela mo!?a por quem se apaixonara. Anos depois , mantem um


re lac ionamento sádico com outra mulher, sendo que os maltratas
imput a dos a esta s~o interpretados como uma forma fantasiada de se

vingar da outra que o aband onar a. O paciente consulta um medium que o

adverte de que a mu lher que malt rata estava sem fo r ~a e a ponto de

suicidar-se. Freud conclui:

"Para mi era evidente que el milagrer o s610 le


habia manife st ado a mi p aci ente su proprio y más intimo
deseo" . (p.2658 )

Pub licado em 1922, HÜ son ho e a te l epatia ", volta a tratar

da rel a~~o do tipo de su icídio escolhido pe lo individuo com a


{./-7

express~o de um desejo. Freud interpreta um sonho muito angustiante

no fim do qual a pesso a que o descreve caía da cama. Tanto o c o nteódo

onírico q u anto a queda s~o explicados como representa~~es do desejo

daquel a mulher de dar à luz um f i l o . Freud conclu i qu e a análise das

fobias à altura, e do temor ao impulso suicida de se jogar de um

janela , conduz à mesma interp r eta~~o do cair relacionado com o parto,

ao par ir .

" O ego e o id" , tra b alho de 1923, desenvolve o estudo do

sentimento de culpa na neurose obsessiva e n a melancolia, iniciado em

dois artigos anterior es , e princ i palmente em "Mais além do principio

do prazer" (1920). Freud estabelece uma diferencia~~o dentro do

próprio ego (uma fase especia l deste) a qual denomina de sup er ego ou

i deal do ego e que apresenta uma ligaç~o t~nue com a consciência.

Retomando algumas observaçôes de Freud a respeito da

gênese e dos dinamismos do superego, temos explicitada a hipótese de

que no doloroso sofriment o da melancolia ocorre uma reconstruç~o, no

eg o, do ob jeto perdido, isto é, a substituiç~Q de uma carga de objeto

por uma identificaç~ o. Na f ase oral primitiva do individuo n~o é

possível discriminar a carga do objeto da identificaç~o, sendo que

posteriormente acredita-se que o que ocorre é que as cargas de objeto

partem do ego que experimenta como necessidades as aspirac:;ôes

eróticas. O ego, aind~ débil no principio, recebe not ic ias d as cargas

de ob jet o e as aprova ou rejeita através do pr ocesso de repres s~ o.

é abandonado, ocorr e freq ue ntemen te em seu

lugar uma re constru~~o do objeto no ego, cara c terlstic2 dos C~ 505 d~


48

melancolia. Seja qual for a estrutura da ulterior resistência do


caráter cont ra as influências das cargas de objeto aband onadas, os
efeitos das primeiras identifica~~es, realizadas nos pri mórdios da
existên cia do individuo, ser~o semp re gerais e duradouros . Segundo
F reud , est a co nclus~o conduz à gên ese do idea l do ego, porque este
oculta a primeira e a mais imp ort ante identifica~~o do indivi duo: a
identifica~ âo com o pa i. (ou, como sugere o próprio Fr e ud, com os
pais, pai e m~e) :

UEsta identificación no parece constituir el


resultado de una carga de objeto, pues es directa e
i nmediata y anterior a toda carga de objeto. Pero las
elecciones de objet o pertenecientes aI primer periodo
sexual, y que recaen sobre el padre y la madre, parecen
tener como desenlace nor mal tal identif icación e
intensificat- as! l a identificación primaria". <p.2712)

De acordo com Fr eud, estas r ela~~es s~o demasiadamente

complex a s e um dos fatores determinantes desta complexidade é

proveniente da disposi~~o triangular da rela~~o do Edipo. O complexo


de Edipo surg e na cri an~a por oc as i~o da intensifica~~o dos desejos

sexuais dirigi dos à m~e, e , ao mes mo tempo , pela percep~~o de que o


pai é um obstáculo à r eal iza~~o de tais desejos. A identific a~ ~o já

est ab elec i da com o pai se reveste ent~o de um caráter hostil e se


trans fo rma em de sejo de suprimir o pa i para s u bsti tui -lo ao lado da
m~e . A rela ~~o do menino com o pai se tor na ambi va l ente, se ndo esta
ambivalência e o t erno desejo pela m~e, considerada como obj eto ,
integrantes, no caso do menino, do c ompl e >:o de Edipo simples ,
49

positivo. Na época da destrui ~ ~o do complexo de Edipo, ocorre o

abandono d a carg a de objeto materna e em seu lug ar sur ge uma

identifica~ ~ o com a m~e , ou intensifica-se a identifica ~ ão com o

p2~i . Freud assinala que esta forma de resoluç~o do complexo de Edipo

é considerada normal 2 possibilita a conserva ~o da rela~~o carinhosa

com a m~~, afirmando-se assim a masculinidade no caráter do menino.

De outra forma pode o complexo de Edipa terminar por uma

intensificaç~o da identifica~~o com defi ne o caráter

feminino do sujeito .

Como reEu l tado geral d est a fase sex ua l edipiana, encontra-

se no ego um resíduo decorrente do estabelecimento das duas

i d e ntifica~ôes acima desc rit as: o superego, ch amado de "herdeiro do

Com p le x o de Edipo"~ que se opÔe ao c onteúdo restante do eg o, na

q ual idad e de i d eal do ego. O super e g o n~o se cons~ it ui simplesme nte

num resíduo das pri mei ras escolhas de objeto, mas tamb ém é um a

e n érg ic a forma~~o r2ativa contra as mesmas. Sua rela~~o com o eg o

compreende a advertência de que "deves ser como o pai" e ao mesmo

t empo a proibi~âo, de que ni:\o é possível ser como o pai

completamente, pois há a l go que é exc lusivame n te reser vado a este. A

dupla face do ideal do ego depende de sua participa ~~o anterior na

repress~o do c omplex o de Edi po e, inclus iv e , deve su a gênese a tal

repres s"c. O superego cons ervará C' raráter do p~i, e qu anto maior

tiver sid o a in t ensid2.de do comple>:o de Edipo e a ra idez de s:.\-

repressàa (sob as in-i=;'lénci::l.s da autor ida de, da r eligi~o , da vida.

sobr e o ego como


...•
I

50

consciênc ia moral e, quem sab e, como sentimento inc onsciente de

cu lpabilidad e. Freud sublinha qu e a for~a através da qual o super ego

exerce o seu domínio sobre o ego, possui um caráter coercitivo que se

mani festa como imperativo categóri co e adverte que sua gênese, por

diferencia~~o do ego, representa os mais impor tan tes asp ectos do

desenvolvimento in dividual e da espécie, criando uma e xpr ess~o

duradoura da influênci a paterna, eternizando a existênc ia daqueles

momentos aos quais a mesma deve sua origem.

A representa~~o do superego como consc iência moral é

també m e xpressa da seguinte forma:

" ••• yeste elevado ser es el idea l dei yo o


super-yo, rep resentación de la relación deI sujeto con sus
progenitores. Cuando ninos hemos conocido, admirado y
temido a tales seres elevad os, y luego los hemos acogi do
en nosotros mi s mos". <p. 2714)

Analogamente, como a crian~a que se encontra submet ida a

seus pais e obrigada a obedecê-los, o e go se sub me te ao imperativo

categóric o do superego.

Na p3rte V de " O ego e o Id", Freud aprofund a a quest~o da

cu lpa , assinalando inicialmente que o sentimento normal consciente de

culpabilidade (consciên cia moral ) resu l t;:o, da tEns~o e ntre o ego e o

idea l do ego, representando uma con den a~ ~o do ego por part e de sua
' 51

instância critica (os conhecidos sent imentos de inferioriedade dos

neuróticos dependem também desta mesma causa). Freud observa que o

ideal do ego apresenta uma particular severidade, fazendo do ego

obj eto de suas i r as, às vezes extraordinariamente c ruéis, em duas

afec~b e s onde o sentimento de c ulpa bibli d ade se acha intensamen te

consciente: a neurose ob sessiv a e a melancolia .

Assim, a se me lhan~a do sent i mento de cu lpabilidade na

neurose obsess iva e na mel ancol ia, diz respeito à atitude do idea l do

ego, ou se ja, este condena o ego (sentimento de cu lpa consciente ). As

diferen~as repousam na for ma pe l a qual o ego reage à opress~o: na

neurose obsessiva o ego n o reconh ece justificativa alguma para tal

intenso sentimento de culpabilidade e se rebela. A análise da culpa ,

entretanto., demonstra a existência de impulsos repri midos que

constituem a base do sentimento de culpabilidade . Freud considera que

o superego sabia mais do q ue o ego acerca do i d inconsciente. Já na

melanco lia o ego n~o se arrisca a objetar, admite a culpa e submete-

se ao castigo. Esta diferen~a na forma do ego reagir é facilmente

explicável, pois n a neurose obsessiva os i mp ulsos repulsivos se

e ncontram fora do e u, enquanto que na melancolia o objeto sobre o

qual recaem as iras do sup erego foi incluído no ego, por meio da

ident ifica ~~o_

Freud observa que na histe ria o senti ment o de culpa

per manece i nc onsciente, poi s o ego histé r ico se defende contra a

perce p<;~o penos:3 que o amea~a por par te do superego, d a mesma forma

que no rmalmente empr ega para defe nder-se contra uma carga de objeto ,
ou sej a, por meio da repress~ o. E possível conclui r, com base nestas

observa~Ôes, que depende do ego que o sentimento de c u lpa p erma ne~ a

inc onscien te ou n~o. Na neurose ob sessiva predominam os fenOmenos de

forma~~es reativ a s, enquanto que na h isteria o ego na da mais fa z do

que manter à distáncia o mater ial ao qual se refere o sentimento de

culpabilidade .

Freud sustenta que o sentimento inconscient e de culpa pode

levar os sujei tos a cometerem crime ~ . Em muito~ cr iminosos é possível

detectar a exi st ê ncia da culpabilidade anterior ao delito, ou seja,

como motivo e n~o consequência do crime, como se o sujeit o

encontrasse um cert o alívio ao relacion a r o sentimento inconsc ient e

de c u lpa com um fato real e atual.

A part ir das considera~bes anteriores é lícito conc luir

que a cu~pa é percep~~o no ego que corr esponde à críti c a do superego.

Como pode ent~o o s uper eg o manifestar-se essenc ialmente de forma

crítica e desen volver t~o extra o~d inária rigidez e sever idade para

com o e go? Na melancolia, o superego diri g e sua ir a contra o ego c om

vio lênc ia i mp iedosa, como se tivesse se apode rado de todo o sadismo

di sponível n o individuo.

a componente destrutivo ent r incheirou- se no super ego e se

vo ltou cont ra o ego. o que re i na ent~o no ~ ~perego é, por assi m

dizer J a cu l tura pLw a do instinto de morte que con seg ue , c om

frequenc i a, conduzir rj e u à mort = , q~ \ afldC1 este ni!:(C} se 1 i ber ta de ~eu

tir an o, refugiando-se na man ia .


53

Inversamente ao melancólico, o neu rótic o obsessivo n~o

busca a autodestr-ui~~o. c como se estivesse imune ao per igo do

suicídio e o que garante a seg u ran~a do eg o é o fato do objet o te r

si do re tido. Na neur ose obse s siva , uma r-eg r- e s s ~o à o r gani za~~ o pr-é-

genita l permite que os impul s os e r ó ti cos se t ra n s fo r mem e m impul sos

agr- essi vo s con t ra o ob j e t o e o instint o de de s t r- ui~~o que s e en c o ntr- a

l iberado busca destruir o objeto , ou p elo men os, aparenta p ossuir ta l

inten~~ o.

S egun do Freud , os perigosos i n s ti nt os de morte orient am-se

no individuo de diversa s maneir-as: uma parte fi ca neut r alizada por

misturar -se com compon entes erót icos; outr a par te se volta contra o

exterior em forma de agress~o; e uma terceira parte, a mais

importante, prossegue livremente seu "trabalho i n terior. Como é que na

melancolia o superego se convert e em uma e s pécie de ponto de reuni~o

para os instintos de morte? Quanto mais o sujeito controla, limita

sua agressividade para com o mundo exter ior, mais severo e agressivo

se torna o seu ideal do ego , como se toda a carga de agressividade e

d e s trut iv iddade est i vesse aí contida. A moral normal já possui um

caráter s e v eramen te restritivo e proibitivo, donde provém a concep~o

de u m ser s uperior q u e castiga implacavelmente.

Como já ~ oi anteriormente descr ito, o sup ereg o se origi n a

de uma ide nt i fi ca ~à: o c om o modelo pater- no, p o s suindo tal

id enti f i ca~~o um car-á ter- de dess e>: u al i zat:;:à:o e de s ub li ma,,"~ o. o


com pon e nt e erótico, a p ós a s ub lima t:;: à:o, per-d= a ener-gi a n e c essária

para c omb inar -s e com a t ot a lidade de des t rui~~o agr-egada e esta S~


54

libera sob a forma de tendência à agress~o e à destrui~~o. Desta

dissocia~~o extrairia o ideal do ego seu dever imperativo, rigoroso e

cruel. Freud destaca ser uma parte do ego esta que se mostra dominada

pelo rigor do superego, como uma "pobre coisa" submetida e amear;ada

por t~o diversos perigos, provenientes do mundo externo e interno. O

ego também se encarrega de importantes fu n ~Oes como controlador dos

proc e ssos motores e dom ina dor dos impulsos inconscientes que precisa

governar. Na qualidade de instância fronteirit;a se constitui no

mediador entre o mu ndo e x terior e o interior, tentando adaptar um ao

outro, utilizando para tanto diversos recursos, tais como: a

raci onali zat;~o, a dissimula~~o,etc. A atitude do ego n~ o é, contudo,

imparcial no que se refere às duas classes de instintos (vida e

morte). Mediante seu trabalho de identifica~~o e sublima~~ o, auxilia

as pulsOes de morte a obter controle sobre a libido, mas assim

procedendo corre o risco de se torn ar objeto de tais pulsOes e

perecer. O ego se expOe, em seu combate contra a libido, ao perigo de

s er maltratado e inclusive à morte.

Freud faz uma analogia com a Zoologia para exemplifica~ o

dinamismo acima descrito:

"Cuando el yo sufre la agresión deI super-yo o


sucumbe a ella, ofrece su destino con el de los protozoos
qu e slcumben a los efectos de los productos de
descomposición creados por ellos mismos. La moral que
actúa en el super-yo se nos muestra, en sentido económico,
c omo uno de los tales producto~ de una descompos ición".
(p.2726)
55

o medo da morte na melancolia se explica pela suposi~~o de

que o ego se abandona a si mesmo, porque se sente perseguido e odiado

pelo superego. Para o ego viver sig ni fica ser amado - - amado pelo

superego, este exerce a mesma fun~~ o protetora e salvadora atribuída

ao pai e, posteriormente, à providência ou ao destino. O ego se vê

abandonado por todas os poderes protetores e se deixa morrer. Freud

assinala que trata -se aqui da mesma situa~~o;aquela que fund amentou

o pri meiro grande estado de angústia do nasci mento e da angústia e

nostalgia infantil : a angústia da separa~~o da m~e protetora.

Freud retorna ao estudo do suicídio em "Novas Conferências

Introd utórias à Ps ican álise" (1932), ao relatar um caso de um de seus

pacientes, anteriormente citado em "Psicanálise e Telepatia".

Na conferência número 30, considera que mediuns,

grafólogos, adivinhos nada mais fazem do que expressar através de

suas profecias os pen~amentos e desejos sec retos de seus consulentes.

Freud relata, ent re outros casos, a experiência de um de

seus pacientes, que leva a um grafólogo um bilhete para ser

analisado, escrito por sua amante, com quem vinha mantendo um

r elacion a mento extr emamente difícil e tumultuado. O sujeito proc ura a

anális e com a demanda e>:pl lci ta de livrar-se d a amante, pois não

suporta mai s a obsessão que o dominava, e q ue con= istia na

necess idade de ofen dê -l a, de sprezá-la, .õ,t é o dese=-pero, para em

segL\ida buscar a reconcilia~ão; at é ~ue no vamente experimentasse


56

impulsos de agredi - la, e assi m slcessi vamente. O grafólogo interpreta

a escl'""ita que o sujeito lhe apresenta como pertencente a alguém qu e

se encontra rQ limite d o des esper o e que cert amente se suici daria em

PO'-\CO tempo. De acordo com Freud a profecia revela o desejo do

própr io sujeito de vi ngal~ -se 04 mulher amada, mas n~o desta a~ual e

sim de outra mulhter com quem há muitos anos ele havia tid o um

relac ionam9nto intimo e que o repel i ra naquel a ocasi~o, fato es te que

o levo u a real i zat- uma tentativa de suicídio. O sujeito, através de

um mecanismo inconsciente, estab elece um a liga~~o com outra mulher

c om o objetivo de satisfazer sua necessidade de vi ngan~ a por meio de

uma substituta daquela q ue havia causado seu sofrimento e que, por

isso, sofreria toda a espécie de torturas e dor até chegar à morte.

Aos oit enta e d ois a nos de idade, em julho de 1938, Freud

esc r eve "Esbo~o de Psicanálise"~ publicado em 1940, objetivando

reunir neste trabalho os pri ncípios da psic análise de forma c lara e

t- esumida. Na primeira parte deste artigo, (liA natureza do psíquico ") ,

em seu capitulo l I , desc reve a teoria das pulsbes onde reitera que a

principal fun~~o do ideal do ego é a de restrin g ir as sa tisfa~bes.

Deqomina pulsties às for~as que supBe sejam resultantes das tensbes

causada.s pel as nece ss idade s do ia , representando as e>: i génci as

som á ti ca s transportadas à vida psíquica. Freud ~. ___lbl i nha que as

pulsôes s~o responsáveis por toda et-ividade e sua !!atureza é

es senci almente conservadora. No entanto, afir~a que ~~ pulsbes podem

modi ficar sue.

da e spéci.e, através dE: Im pracesso -4 2 el1ergia


suficientement e compreendido . Assim , a p e sar da s dif i culdade s en:

e sc la re c er a or ig em deste proc e s s o, admi te a existência de duas

puls bes b~sic2.s~ a de Eros e a ~u ls~Q de morte . A primeira po ssui o

c~ jet i '1 0 dE estabel ece r e conservar uni dades. ca d'3 vez m2'.Í s -m::;l as, OLl

cor-=>:des. pr o movS' n do a destrui ~a o :

"En lo que a éste se ~efie;~e , podemos ac e ptar


que s u fi n tHtl.mo és e1 de red'l!:ir lo vivie ~t e aI est ado
inorgánico~ de modo que tambi én Jo di'mominamos if'!.s_~j.f.lJ: _o c!_ E.?
mu e ~t~. Si ~dmi timos que la s us t an cia viva apareció
d e spués q ue la inanimada, originándose d e é s t a, el
inst i nt o de muer te s e a justa a la fórmula me ncionad a,
s eg ún la cual todo instinto perseguir i a e l retorno a un
estado antet- i or " . (p. 3382)

A pLlls~ c d e morte atua in ternament e no indiví duo e sÓ se

ma ni f esta q L\ :?n d o dirigida ao exterior sob a for~a d e agr ess ivid a d e.

Tal deriv a ~a o o:?~S' ce se r es senc1a l par a a conserv a~ ão do SE. ~u mano e

ocorre através d o s istema muscular. Na ocas i ~o do estabelec iment o do

super e g o OLl i :::eal do eg0 1 qu antidades con s id erá v e is da pLlls~o

agressiva s ·e f i >:am inter ior do E::I 0 e lá op er am 211to-

destrutivame nte, SE const i t ui ndo em \ «(;) do s gr and e s pS'r-i go s

de5~rui~:'n S' pode levar o individ ua a ~o. te. E oossive ~.Ltspei ta t'"" qLte

perece E !TI Q mu~ao e ~ terior, l L \and r . '='ste


58

de t al maneira que n~o pode mais ser enfren tado com as adapta~~es

adquiridas pe la espécie .

Na segunda parte do "Esboc;o de Psicanálise", em seu

capi t ul o VI ("A técnica psicanalítica ") , Fr-eud se r- efere à s u peral;â'o

das resis t ências como send o a part e do tr abalho do analista q ue

deman d a o máximo de esfor c;o e tempo. Ressalta como uma das maiores

fo ntes de resi stên cia, completamente ignorada pelo paciente, a

" necessidade de estar e n fermo" ou " nece s sidad e de sofriment o",

r-esultante do senti mento de culpabilidade agravada pe la contribui~~o

de um s uper ego que se tornou particul ar ment e severo e cruel. o


indiv i duo n~o "merece" a cura e sÓ lhe resta continuar doente. Esta

resistência, de acordo com F reud, n~o perturba o tr aba lho i ntelectual

do analista, mas lhe diminui a eficác ia e ainda que possibilite

superar uma determinada forma de sofrimento neurótico, se disp~e a

sub st itu í- la imediatamente por o ut ra , inclusive por uma enfermidade

somática . A tranqu ila resigna~~o com que estas pessoas suportam seu

doloroso dest ino é notável e ao mesmo tempo revelad ora . Para superar

tal r e sistência é nec essár io torná-la consciente e tratar de abran dar

p au latinamente o super ego hostil.

Cont u do , n~o é t~o fácil revelar e e li minar um outro tip o

de re sistênc ia comum ent re os neur ó ticos, onde a puls~o de auto-

conservac;~ o apresen t a uma i nvers~o: estas pessoas parecem nâo ter

outro objeti vo que n~ó seja cau sar dan o a si me smas, a busca

i ncessante da. autodestruic;âo . Freud sublinha que ta lvez perten~am a

este gru po de pesso as aqueles in d ividuos que ef eti vament e terminam


por suicidar-se e admite
que se trata de uma quest~o cujo
esc larecimento ainda n~ o fo i de todo possível alcan~ar.
J

60

Cap í t u lo 11

Puls~o de mor te e suicídio

Este capítulo tem c am o objetivo retomar as observa~~es de

Freud sobre o suicídio, apresentadas no capítulo anterior,

correlacionando-as com uma ordena~~o de seu pensamento em termos do

desenvolvimento de suas id éi a::; e invest i gar o aparecimento do

conceito de puls~o de morte e as modifica~~es que acarretou na sua

teori a.

Em seus primeiros trabalhos, Freud faz apenas algumas

observa~~es esparsas sobre o suicídio e as contribui~~es que nos

próximos anos vai adicionando à sua obra repousam basicamente na

concep~~ o de que os impulsos autodestrutivos se relacionam com o ódio

inconsciente di rig ido contra pessoas queridas desejo de que elas

morram - e o sentimento de culpabilidade decorrente de tal desejo.

Desde 1897 ("Carta a Fl iess") até 1917 ("Luto e Melancolia") suas

observa~~es gir am em torno deste eixo, ou seja, os atos e idéias

suicidas s~o compreendidos , em essência, como uma manifesta~~o da

autopuni~~o, do castigo pela hostil i dade dirigida contra os pais,

como ocorre, por e >: empl o, em "Psicopatologia da Vida Cotidiana"

(1 901) e na descri~~o d o s casos clínicos Dora (1905) e do Homem dos

Ratos (1909). A primeira varia~~o sobre o tema surge em 191 0, dura nte

o "Simpó sio sobre o Sui cídio ", on d e Freud chama a aten~~o para o fato

de que na dina mica do suicídio o p oderossiss i mo instin to de vida é


61

superado e se questiona sobre a forma como isto poderia ocorrer.

Suger-e, ai nda, que o acesso a esta quest~o seria poss íve l atr avés do

estudo da melancolia e sua compara~~o com os estados afetivos do

luta.

Em 1912 , no seu artigo "Totem e Tabú" , realiza um a

detalhada análise d o sentimento de culpabil idade e da necessidade de

autopur.i~~o. Ao sentimen to de culp a, originado pela vi ol a~~o do tabú,

pela exp erimenta~~o de desejos reprimidos p o r u ma proibi~~o, qual

seja, o dese j o de morte de uma pessoa amada, se impbe a

autocondena~~o sob a forma de atos obsessivos autopunitivos. Neste

trabal ho, Freud se refe re te x tual mente ao fat o d e que o impulso ao

suicídio observado nos neuróticos se traduz como um autocastigo por

desejos de morte de outras pes soas.

Em 1917 ( "Luto e Melanc olia"), Freud amplia seus recursos

teóri cos com a introdu~~o dos conceitos de narcisismo, identifica~~o

primár i a e id eal do ego . A d if eren~a primordial entre os estados

melancólicos e a elabora~~o do luto é que neste, a re tirada da libido

do objeto perdido se caracteriza, como con sequé ncia nat ural, por seu

deslocamento em dire~~ o a outro objeto substitutivo. Na melanco l ia,

ao con trário, a libido 1 i vr e n~o fo i i nvest i da em outro ob jeto , f.l!ª_2

encont rando aí u ma a lic a~~o

determinad a ao estab elecer u ma

perdido. O eg o, a ssim identific a do, se submete a o julgamento do ideal

do eg o e a perda do ob jeto se transf or ma em perd a do ego , agora

esvaz iad o e empobrecido. Esta s ub stitui~ ~ o do amor ao ob j eto por uma


'62

identificat;~o é um importante mecanismo nas afec~bes narcis ica s e

corresponde, naturalmente, a uma ~~ress~o, de um tipo de escolha de

objeto ao narcisismo primário. Como já foi anteriormente descrito, o

desinvestiment o da lib ido em relat;~o ao objeto e seu retorno ao eu

ocorre porque a escol h a de objeto havi a s id o efetuada sobre uma base

nar c lsica, de fo rma que em pr esent; a de qua lquer contrariedade é

poss ível a en er gia psíqui ca retroc eder ao na r cisismo e recair no

próprio ego .

o ódio e as recrimina~bes que na ve rdade seriam dirigidas

ao objeto perdid o, recaem sobre o objeto substitutivo que agora,

através da identific2~~0 narcíssi ca, se encontra refu giado no próprio

eu, e que com toda a ener gia censora, repressora e primitiva do ideal

do ego, se acha submetido a u m estado de grande sofrimento e castigo,

encontr ando neste sofrimento uma satisfat;~o s ádica, pois somente

através do autocastigo é que o sujeito alcant;a seu objetivo: vingar-

se do objeto .

Até 1920, como v imos nesta breve reca pitula~~o, Freud

e labora a sua teoria do sui cídio em torno das hipóteses e conceitos

até aqui disc u ti dos. No entanto, de acordo com Mezan (1982), durante

todos estes anos , num período que vai de 1905 a 1920, sua obra

ap resenta "uma unidade firmemente a rticulada em torno de um conceito

fundamental: o conceito de puls~o.·' (p . 153). Ainda que até aqui Fr eud

n ~o tenha di retamente vinc ul ado os processos envol 'idos na dinâmica

do suicídi o às pulsbes, tend o ape nas =e referido br evemente à quest~ o

no " Simpósio" 1'1ezan co~,=idera que a oposir~o entre s


63

pulsOes é o marco central e o mais abrangente do pensamento de Freud

durante estes anos . A partir das proposi~Oe s de Meza n sobre est e

tema, será feita uma tentativa de investigar o apar ecimento do

conceito de puls~o de mor te na teoria freudiana e as modifica~bes que

isto acarretou na s idéias de Freud sobr e o suicídio.

Segundo t1ez an , "é consenso geral entre os estudiosos do


p en sament o freudiano datar de 1920 um extenso remanejamento das
hipóteses fundam e ntais d a psicanálise sob o s i gno da puls~o de
morte ". ( p.153) Contudo, est e autor considera que os anos que
antecederam a famosa "virada" de 1920 se constituiram em uma fase de

grande elabo r a~ ~o e desen volyi ento do conceito de puls~o. A oposi~~o

entre um tipo e out r o de puls~o , a dicotomia inic i al, ou seja,


sexualidade/autoéonserva~~ o e sua substitui~~o 'pela dupla

vida/destr ui~~o ou Eros/Thânatos f s~o questOes propostas, modificadas

e desenvolvidas até a publica~~o, em 1920, do "Além do Principio do

Prazer" .

Mezan apresenta um detalhado histórico do desenvolvimento

do conceito de puls~o desde 1895 até a virada de 1920, cujos


principa i s tópicos s~o os seguintes:

No Projeto de 1895, Freud faz uma d i stin~~o entre

excita~~es externas e internas, que se o rigina m no p róprio organismo,

resultando n u m a umen to de te ns~o, exper imentado como desp raze r, e que

dev ia ser d esc ar regado de acor do com o princípio da constância. No


artigo "Trés Ensaios par a u ma T
,eorla •
da Se>:ualidad e" (1905) Frei.ld
64

introduz o termo "Trieb" (que afasta o sentido de i nstin to ,

enfatizando o caráter de ímpeto pulsional) e faz a distin~~o entre a

fonte, o objeto e a fina lidad e das puls~es. A fonte é somática, a

finalidade é sempre a de de5car r egar o excesso de tensâo e o objeto é

variável .

Mezan prossegue sua descri~ ~o afirmando que lio passo

seguinte na cons tr u~~o da teor ia das puls~es é dado num curto artigo

de 1910, intitu lado 'As perturba~ões psicogênicas da vis~o segundo a

concep~~o psicana l ítica' " . (p . 155) Freud afirma que as puls~es e

seus res pectivos interesses nem sempre s~o compatíveis ent re si e que

muitas vezes podem estar em conflito. Esta antítese nada mais

expressa do que as lutas entre as pulsOes .

Freud susten ta , de maneira explícita, a existência de uma

identi dad e entr~ as pulsOes de conse rv a~~o e as puls~es do ego. A

auto conserv a ~~o, característica das puls~es do ego, permite con clu ir,

de acordo com Mezan, que "se o indivíduo se abandonar aos dita mes das

pulsôes se~: uais, sua e>: istência estará em perigo". (p.157)

Até este moment o o que ocorre é uma dualidade mani festada

pela oposi~~o entre as puls~es sexuais e as puls ~es do ego , ou de

aut oconserv a~âo.Observa-se, ta mbém, a transforma~âo da co nc ep~~o do

combate entre sistemas psíquic os (inconsci ente vers us pré-consciente)

para o conflit o dinàm lco entre as puls~es.

Em 1915, n o te >: to li Introdu~ã o ao Nal-C i si smo" , per mctnece a

identidade entre as pulsbes do ego e as de autopres er v a~~oT send o s ua


· 65

energia, de origem n~o s e xual, deno mi nada "interesse". O ar tigo que

inaugura a Metapsicologia, em 1915, "As pulsb'es e seus destinos" é

considerado por Mezan como sendo o mais rico no que se refere à

dualidade das pulsb'es. Reaf irma-se nele que as puls~es do ego, cuja

energ ia é denominada "in te resse" , s~o identificadas com as puls~es de

autoconse r va ~~o, e que quando o ego se converte e m obj eto s e x ual de

si mesmo li tal fenô meno é desi gnado com o termo de [l-ªr.:.Ç.L?i~f.!lo e se

trata de um processo intrinsecamente sexual, como o revela o

qual if icativo !ibido do ego." (p. 163). Neste mesmo artig o, Freud

afirma a possibilidade da transforma~~ o da puls~ o na sua inversa,

tanto no que se refere à in vers~o da finali dade de at ivo para

passivo) quanto à su bstitui~~o d o objeto (retorn o sobre o indivíduo).

As puls~es parciais passíveis de se submeterem a estas transforma~b'es

s~o classi f icadas e m d ois pares anti téticos : sadismo/masoquismo e

escoptofilia/exi bicionismo.

Retorna ndo ao texto "Luto e Me lancolia", de 1917, agora

vi sto sob o prisma das pulsb'es, se obser v a que n o lut o o ego se

libera da liga~~o er ó tica com o objeto morto rei nvest indo sua libido

em outro objeto , surgindo a s sim o narc i ssismo como um elemento de

apoio, a ser v i ~ o da realid a de. As puls~es de auto c onserva ~~o do ego e

a lib i do n a rcísica se u nem para enfrentar a lib ido objetaI .

Na mel ? n col i a, ao c ontrário, a libido r egride ao ego e

através da i denti f ic a~~o nar c ísica p ro move o e mpob r ec i mento d este q ue

se tor na objeto da autocrít i c 3 e da fú ri a sádi c a do i d= al do ego. Tal

car ga sád i ca é resp ons á v e l p 2l a tendéncj ~ ao s uicí dio 0 0 me l anc ól ico.


66

Mezan considera que "esta passagem mostra o qu~o di stan t e estava

F .... eud, em 1915, de con cebe .... a puls ~o de morte, e bast aria por s i sÓ

pa .... a ca .... acterizar a .... uptu .... a en t re os textos poste .... io .... es a o 'Além do

P .... incipio do Praze .... · e os do pe .... íodo qu e estamos analis and o . "

(p. 187>.

Finalmen te, em 1920, com o te x t o " Além do P .... i n cí pio do

P .... aze .... " , F .... e u d emp .... eende, segundo Mezan, uma expe .... iência decisiva em

sua teoria e qu e " i .... ia modifica .... de alto a baix o o aspecto da

Psicanálise, acar .... et and o t .... ansfo r ma~ôes p r ofundas nos seus e lementos

essenci ai s". (p . 250 ) . Neste artig o a pulsão de mo .... te é i nc o r po .... ada à

rede conceit ua l da teo .... ia psicanalíti c a, constituindo-se em um

elemento pr ivi l eg iado durante o período que se estende até 1939,

qua .... ta e últ ima etapa da ela bor a ~ão do pensamento fre udi ano , segundo

a conce p~~o de Mez an.

A qua .... ta f ase é marcada pelo sign o da violência, li a

violência do desejo que se pe .... pet ua na repe ti~~o, violência do Pai

que se instala no supe .... eg o , violência da castra~~o que bloqueia o

amor, violência d a cultura que i nternaliza violên cia do

c onfli to defensivo q u e inc apacita o neurótico ••• " . , (p. 252)

o ego s e .... epete em f un ~~ o das resisten cia s e a comp I ls~o à

.... e p eti ~ ~ o obedece à f i na l id ad e de possibili ta .... ao o .... ganismo o

c o nt .... o l e e}: i gi d e mediante Ad ema i s, a .... epet i ão é

indep e n d e nte d o P .... incipio d o Praze .... , por se c on st it u i .... em .... epeti~ã o

d2 momentos dolo .... osos do pa s sado; mel h 0 "- dizen do a .... ep etit;~ o é
an t agônica , inversa ao Pr incíp io do Prazer e, por isto mesmo, mais

elementar e mais propriamente pulsional. A repeti~~o é pois a puls~o

em estado livre porque aquilo que se r e pete n~o foi 'ligado', n~o foi

subsumióo no ego, escapando ao processo secundário, ou seja, a sua

absor~~o no ego. As resisténcias se en carregam de imped ir a 'lig a~~o'

da puls~o no ego e esta permanece c omo energia livre. Ao processo

primário corresponde a circula~~o da energia livre enquanto o

objetivo do processo sec und ário é o de canali zá- la para finalidades

eg o-sintón icas.

Mezan transcreve a conclus~o de Freud acerca da

característica pulsion al da repeti ~~o:

"Uma puls.o é uma tendéncia inata na matéria


orgàn i ca que a impe l e à r estaura ~.o de uma cond i~.o
anterior, que pr ecisou ser abandonad a sob a influênci a de
for~as perturbadoras , uma espécie de elasticidade
orgànica, ou, para expressá-lo de outra forma, a
manifesta~~o da inérc ia na vida orgánica". (p . 258).

Aqui é possível verif icar a nova co n cep ~~o de puls~o,

oposta à vis~o de fator qu e impulsiona ao desenvolvimento e à

mudan~a , mas como express~o da natureza con servad ora dos seres vivos

(o ~e to~no à condi~~o anterior, a in ércia na vi d a orgânica). A

regress~o c onduz o indivíduo ao estado anterior ao nascimento, à

condi~~o in o rgánica da qual partiu: a morte. F~eud infere a partir

dai a puls~o de mor te como sendo i ne '- ente a toda mat ér ia viva,

af irmando que se todo o~gan ismo mo rre por causas internas, a morte
68

deve ser- uma possibil i dade inscr-ita na pr-ópria tra ma da existência e

que, sendo assim , esta tendência de todo ser vivo de se di rigir-

inexor-avelmente à mor-te, n~o pode ser explicada a n~o ser no registr-o

da puls~o, pois no nível da ra z~o e da consciência n~o há condi~~es

de se chegar à sua compreens~o.

A regress~o da puls~o de auto - conserva~~o qu e assegur-a o

cami nho de todo ser vivo à mor-te contr-asta de man eira notável com o

postulado das puls~e s de auto - preser v a~~o. No ent an to, este i mpasse

pode ser- resolvido com a concep~~o de que a mor-te, finalidade última

de toda vida dir-ige o curso de cada existência, procur-ando afastar do

or-ganismo as possibilidades exteriores de r-etor- n o à vida inorgâni ca.

De acordo com Mezan, o organismo está decidido a morrer somente de

sua própria maneira, defendendo-se dos ataques externos que possam

apressar ou amea~ar a consecu~~o de seu objetivo. Por esta via, a

morte n~o é entendida apenas como a fi nalidade da vida, mas,

sobretudo, é o seu sentido e a sua verdade.

A puls~o sexual, assim como a de auto-conserva~~o, tam bém

sofre uma transforma~ão com rela~~o à sua concep~~o anterior;

consider-ando a quest~o sob o pr i sma da reprodu ~~o, em seu registro

biológ ic o, é l i cito afirmar que a l iga~~o das células ger-minativas

dos individuos à repet i ~~o, pois r-enovando o ciclo e se

per-petuando em outr-o indi v iduo adia o t ér-mino da existênc i 3 ,

as segur-and o uma imor-ta l idade po t encial. Com a designa~ão de Eros,

e sta tendência à ligaç~o s e es trut ur a e eme r-ge sob a forma da s

puls~ es sexuais, s endo que e stas s ~o t~ o c onser-v ador as qua n do as de


69

morte, reproduzindo cond i~~es anteriores; mas, num sentido muito mais

amplo, preservam a vida por um lapso de tempo potencialmente

infinito . As puls~es sexuais, agora chamadas puls~es de vida, s~o

responsáveis pela ten d éncia à liga~~o e pela perpetua~~o da espécie,

e n~o pelo desen vo lvimento desta; o desenvolvimento deve ser

credi tado a for~as exteriores que pressionam no sentido da adapta~~o.

Mezan observa qu e esta tese pressupefe uma eterna

defronta~~o entre as puls~es de vida e de morte, sublinhando ainda

que o e x ame empirico da quest~o é irrelevante para validar o

principio proposto.

"O carát er transcendental da puls~o de morte fica


confirmado, uma vez que nenhum si stema esp ecifico tem a
seu cargo a efetiva~~o desta finalidade pulsional: trata-
se do fundament~ dos outros fenómenos, n~o de mais um
entre eles. Eis aqui porque a investiga~ o empirica é
incompetente para pronunciar-se sobre o problema, devendo
silenciar perante a voz da especula~~o.". (p.262)

Entretanto, é necessário que a puls~o de mor te, embora

podend o afirmar -se como conceito, manifeste seu valor heurístico como

um principio que poss ib i l i t e a interpreta~~o, pelo menos em parte,

dos fenómenos de que se oc upa a psicanálise. Freud busca, por esta

raz~ o, um e xemplo da atividade da pu ls ~o de morte. Inicialmente faz a

m o difica~âo da con cep~efe s das pulsbes de auto-conserva~~o que passam

a ser con cebid as como a manei r a pró pr i a de ~ orre r que caracter iz a os

se re~ vivos. Já em "As pulsôes e seus destinos ", ficara patente a

di -iculda d ~ de derivar o ó dio das puls~es sexuais. Freud elab ora um

conc ei to cen tral . a dou t..-in a d6 puls~o de morte: a fus~o pulsional .


70

Como explicar a pobreza das manifesta~bes de uma das pulsbes? Freud

deduz que uma parte da puls~o de morte pode se desviar do sujeito e

abater-se sobre o objeto (sadismo, agressividade) por meio da

intermedia~~o de Eros, cuja natureza se caracteriza por dirigir-se ao

e>:t erior em busca de uni~o. A alian~a entre as duas pL\l sbes está

subordi nada ao predomínio de uma delas, o que depende essencialmente

das propor~e:les que S'2 encontram na fus~o. Mezan observa que para se

falar em fus~o é essencial que se verifique uma harmoniza~~o das

finalidades pulsionais. No caso do sadismo o gozo do objeto e sua

posse agressiva coincidem e por isto se justifica a utiliz a~~o do

conceito de fus~o pulsional par a compreender o fenômeno.

A defus~o é a contrapartida da fus~o e consiste na

separa~~o das pulse:les anterior mente combinadas. Neste caso, a puls~o

de morte é que predomina, liberando-se de Eros e realizando sua

finali dade específica.

liA agressividade dirigida ao exterior, ou seja, o


ódio tem sua origem neste duplo movimento de fus ~o e
defus~o~ o que impede considerá-la como um elemento
irredutível. Isto explica porque Freud n~o deduziu a
puls~o de morte da agressividade e sim da rep eti ~~o . Além
disso, a repeti~~o pode ser elevada à categoria de
fundamento, enquanto a agressividade n~o comporta este
movimento. A série que obedece à lógica interna da teoria
é a que vai da repeti~~o à regress~o, desta à puls~o de
morte e daí à agressividae, implicando qualquer
modifica~~c da ordem constituida num beco sem saída para a
continuidade do rac iocínio ". (p. 264)

Mezan destaca aind a a quest~o de que o Princíp io do P azer

é co cebido como tendénc ia à equa liza . à a das tens be s e por i~c~ p ode
· 71

ser entendido como um aliado da puls~o de morte. A liga~~o da energia

psíquica, indispensável para o advento do Princípio do Prazer,

estabeleceria o primeiro passo na 'longa tarefa de morrer' (p.265)

que é por ele velada pois con trola o nível de e5timula~~0, buscando

incessantemente reduzi-la a z ero ou à morte. O autor observa que esta

é uma das r a zóes mais pon deráveis para a aceitaç~o da hipótese das

pulsões de morte.

Laplanche (1970) observa que do ponto de vista econômico,

a principal contradic;~o do "Mais Além do Princíp~o do Prazer"

consiste justamente nes t e c o mpromisso citado por Mezan entre o

Principio do Prazer e a puls~o de morte, pois atribui a uma mesma

puls~o a tendência à supress~o radical de toda tens~o (forma suprema

do Principio do Prazer) e a busc a masoquista do desprazer que, sem

dúvida, sÓ pode ser compreeendida como uma via de aumento de ten s~o.

o conceito de puls~o de morte é por Laplanche considerado

como uma espécie de "monstro", no sen tido em que se denomina dessa

maneira "os seres criados pela fantasia humana, qui meras ou dragões,

compostos por membros ou partes corporais mais heterogêneas". (p.

146) O autor cita, ainda , Lagache que a esse resp eito considera o

conceit o de puls~o de morte como unidade formal resu ltante de vár ias

idéias con exas mas n~o idênticas.

Entre 1920 e 1924, data da publicac;~ o de "O p r oblema

econél mico do masoquismo", verifica- se o estabelec i ment o de u ma nov a

t e ori a das p ul sOes em funç~o de algumas alt era ç~e s obser vadas entre
72

este artigo e o "Além do Princípio do Prazer". Naquele texto Freud

distingue entre um "Princípio do Nir va na" (expr ess~o da puls~ o de

morte) e um "Pr in cípio do Prazer" (express:3:o da libido) e a

introdu~~o do novo concei to faz com que, ao lado d a puls~o de morte,

ocupe a posi ~:3:o de regulador dos processos de vida. A fun~~o destes

princípios é de na t ureza reguladora e a hegemonia da puls ~o d e mort e

surge neste trabalho como anterior à de vida. Contudo, as puls~es de

vida impbe m à s pulsbes de mort e uma modific a~~o, cujo resultado é

precisamente o Princípio do Prazer : " Em vez de reduz ir a zero a

tens~o de origem, tanto in terna quanto e xt erna, torna-se preciso

ap enas man tê- la em determinado nível" . (p . 265). Esta é a diferen~a

primordial entre um text o e out ro no que se re~ ere à defini~~o do

Princípio do Pr azer . Presume-se, ent~o, a predomin~ncia do Principio

do Prazer , o que torna enigmático o fenOmeno do masoquismo: como é

possível que numa modalidade de fus~o pulsional a puls~o de morte se

sobressaia, quando, de acórdo com a regra pulsional da fus~o, o que

se espera é a pr ev alência d e Eros?

"Se a fi na lidade imediata dos proc essos anímic os é


a busca do prazer e a fuga do desprazer, como dar conta de
um movimento pulsional cuja finalidade é o sofrimento?".
(p .265)

Fr eud disting u e tr ês moda lid ades no fenbmeno do

masoquismo: o masoquismo feminino onde o sujeito fantasia ou produz

situa es em que é flagelado , humilhado, castr ado ou dá à luz f ql\er

dizer, assume papé is passivos identificando-se com a pos i ~G


;t
' 73

fem in ina; a segunda modalidade consiste no maso quismo eró geno

primitivo representante de uma p arte das puls~es de morte que

permanece fixada li bidinal me nte no org anismo satisfazendo os

objetivos de Th ênat os, enqua nt o uma outra parte f a ser vi~ o de Er os,

se desv iapara o exterior , sob a fo rma d e sad ismo, n eutralizando o seu

efeito dest ruid or do sujeito. De acordo com l'1ezan , o masoquismo

erógeno é o testemunho da fus~o da s puls~e s e a s obr evi vência da fase

em que se ligaram as pulsbes de morte e de v ida. A terceir- a

modalidade de masoquismo r-ecebe u a designa~~o de masoquismo moral e

tem sua ori gem na interven~~o do superego.

o masoquismo at est a a at ividade dir e ta e eficaz da puls~o

de morte que ap a r ece ent ~o envolvida pelo manto da sexualidade, de

acordo com os mecanismos de fus~o que operam na esfera pulsional

durante toda a vida do individuo. T anto Eros como Thànatos possuem

uma fra~~o que as man té m ligadas , mas uma outra parte se d e svia,

continuando fiel a seus principios origi n ais: o de Eros buscando a

liga~~o e a comp os i~ ~o de unidades cada vez mais amplas; e o de

Thànatos em seu trabalho de des t rui~~o e de mort e.

o conceito de fusâo e defusâo das pulsbes ajuda a

esclar e cer o fenómeno do s adismo e do masoq uis mo a o mesmo tempo em

que atesta a at ivi dade das pu ls~ es de morte, n a medid a e m que é

inacessível à ob~erv a ~~o dir eta, por' n ~o ser a puls~o de mor te de

ord em e mpíri ca e sim tra r, sc enden tal.


· 74

"Somente quando em reg ime de fus~o com as puls~es


de vid a é que se pode perc eber o seu trab alh o, sob as
espécies do sad ismo e do masoquismo, a defus ~o que
engendra a agressividade nua traz em si as marcas da
exterioridade impostas à puls~o de morte pela condi~~o
anterior ." (p.265)

A explica~~o da dificuldade em se perceber Th~natos é que

faz parte de sua n atureza o silêncio e a obstina~~ o em separar o q u e

a vida uniu, enqu anto Eros se manifesta com f ac i lidade de acordo com

o seu desígnio de buscar a e x teriorizai~o e a uni~o .

Esta r evi s~ o da teoria das pulse:!es, fundamentada nos

principios da Repeti~~o e da Li ga ~~ o, que estabelecem as puls~es de

morte e as pulsbes de vida, pr omove uma modifica~~o radica l e imp~e

uma ampla revis~o do es quema teórico . Contud o, a postula~~o destes

prin c ipios permanece inalterada n esta quarta e última fas e de

elabo r a~~o do pensamento freudiano. De acórdo com a teoria das

pul sbes original, se observava um confronto en tre uma sexualidade de

base orgêinica e inconsciente, e uma obsti nada conserva~ ~o da

e xi stên cia, também de base org~ nica, mas pertencente ao ego . A

primeira tópica que divide os proc essos psíqui cos em consci entes e

inconscientes, se altera a partir da intr o du~~o do c onc eit o de puls ~o

de mor t9 e este sofre por s ua vez algum3s altera~~es, de acórdo com o

que já foi discutido f at é o est abe l eciment o dos pr incIpias de

R e p E ti ~~ o e Liga~~o, q ue f un da mEnta m a c o n c ep ~o ó lt im a das pu ls~es.

Na no va me nte' , como sug er e t1ez an, Fr eud

pro~·:::ve ~ \ ma re~i s~ o na estrutura do 3p are l h e psí q uico : as p ul s~es do


75

ego s~o absorvidas pelas puls~es de vida estabelecidas a par ti r de

1920; ambas as pulsbes atuam na mes ma ins tânc ia , designada como pólo

pulsional, em opos i~~o ao pólo organizado que desde 1910 Fr-eud

chamava de ' ego ', deixando o conflito defensivo de se efetivar entr-e

consciente e inconsciente, ou entr-e a s duas puls~es, como na fase

1 910-1914.

No âmbito clínico as r-esist~ncias à terapia e o sentimento

de culpabilidade carac t erístico do melaGcÓlic o s~o inconsc ientes . As

resistências se or-iginam no e go e tem como objetivo a manuten~~o das

r-epress~es. o ego assume um grau de or-ganiza~~o imposto pela

necessidade de garantir- a sob r-evivência , promovendo as a~~es que

visam modificar a realidade exterior- através do contróle da

muscu lat ura e de seus movimentos. Para que tais objetivos se cumpram,

pertencem ao ego a consciênc ia e o acesso à motilidade; e o ego é

definido como "a parte do psiquismo voltada para o exterior, e

dotada por isso mesmo de u ma coerência própria". (p.270). Tal

defini~g.;o permite concluir que uma parte dele permanece

insconsciente, ligada ao Id, e suas fronteiras s~o representadas

pelas resistênc ias que asseguram a repress~o, sendo que o reprimido

tem possibilidade de c o municar-se com o ego , atr-avés de outra via,

que escapa à re p ress~o e que se manifesta através de forma~~es de

compl~omi sso tai 5 c omo o ato falho, os sonhos, até atingir um ~ive l

patológico no sintoma ne ur ótico.

!'1ezan d isc ute a elabor a~~ o do ego esta be le cida a partir

dos c onceitos de "sistema perceptivo" e d~ "diferen ci a<;~o do id "


76

conclui nd o que todo o p rocesso se efetua de acórdo com a lógica das

pulsôes. Mas desde que uma das principais fun~ôes do ego é a de ser o

representante da realidade exterior frente ao id, n~o seria coerente

atribuir-lhe um carát er essencialmente pulsional. Torna-se necessário

buscar um mecan ismo constitutivo coerente com a posi~~o do ego de

mediador entre a puls~o e a realidade: a !d~~tj~içE~~Q. Este conceito

se desenvolve desde 1915, em "O luto e a melanc olia" , onde consistia

na incorpora<;:~o no ego de um objet o perdido; cheg ando em "O ego e o

id" (1923) a se constituir em construtor do seu caráter.

A identifica~~o se transforma no molde do ego e se

processa na primeira i nfância qua nd o o ego possui ainda considerável

plasticidad e para absorver e se estruturar de acórdo com as

determina~ôes da real idade externa. Em "Psicologi a de Grup o e a

Análise do Ego" (1921) Freud define a identifica~~o como a express~o

mais precoce de um la~o emocional com outra pessoa. Mezan argumenta

que

"E
necessário introduzir aqui o conceito de
repeti~~o, pois a identifica<;:~o torna possível a n~o-perda
do objeto, o que permite ao id se comportar como se ele
n~o lhe ti vesse sido arrebatado, 'abolindo' desta forma o
passado. Esta faceta pulsional define o id e o opôe ao
ego". (p.277>

Em "Novas Conferências de Introdu~ o à Psicanáli se", Freud

destaca o caráter pu lsion al e desorganizado do id e afirma que este

está do ado de um a compuls~o a ob er satisfa<;:âo para as necessidades

das p Ilsôes. o pr inc i pio da pulsâo é a rep eti t;:~:o, o que torna
77

possível a conclus~o de que a identifica~~o anula a perda do objeto,

preservando-o par a o id através do mecanismo da repeti~~o. O q ue se

repete é o Desejo como determina~~o essencia l do s er humano, ou seja,

esta continuidade do amor n~ o é mais do q ue a repeti~~o das p o si ~~es

p rimordia is do desejo.

A i ntro u d~ ~ o e el ab o r a~~o d o c onc e i to de p u l s~o d e mor te

determina, c omo já foi vi st o, um a comp l e x a mod i fica~ ~ o no pen s amento

fr e udia no, e como n ~o poder ia d e ixar de ~. e r, n a s idéi as de Fr eud

sob r e o fenó meno d o suicídio. Em opo s i ~ ~ o à no~~o de c ons ciénci a

ordenadora e estrut ur a d ora do ind ividuo; ao c o nfl ito entre puls~es do

eg o d e c onse r va~~o versus p uls~es sexuais i nc onscient es , chega-se às

puls~e s de Er os e Thán at os que , através do mecanismo de fus~o e

de f us~o p uls ional, possuem uma síntese apenas parcial, constituindo-

se neste compromi s so a instaura~~o do conflito que caracteriza e

determi na a e x istência d o ser humano .

" Acé ntr" co em sua natureza , o homem é habitado


pe l o Desejo. O desejo fre udi ano é desejo de abo lir a
d ivis~ o , o que o assinala como horizonte do i mpossível:
p ois o o b jeto que o a plac ar i a j á foi perdido e a repeti~ ~o
n ~o é ma i s do q ue sua busca desesperada". (p.340)

o desejo é cir c unsc ri t o pela fant a s ia q ue n~ o s e c on tenta

com qu al quer o b jeto , mas s omente com a q u eles que at end em s uas

e xig~ncias im ag in ár ia s de a c Ord o com as e ~ peri ê ncias passa das. Ao

me smo temp o, a re e.l id a de imp e um li mit e , um i m~ ed i men t o ao Ob jeto

Essen c ial e fu n d ame n ta ! : a Màe . O Dese jo é o De s ejo do Out ro ; p ossui -


78

lo e habitá-lo como foi possível no útero. Mezan destaca que o

conflito ent~o sur ge como sendo a determina~~o básic a do desejo, pois

será eterna" a oscila~~o entr e a n ecessidade de reencontrar o Objet o

e as apro>: i mac;t:les possibil it adas pelas cir cunsttlncias da vid a" .

(p. 34U

A partir destas abserva~ t:les c abe a ind aga ~~o : n~o seri a o

s uic ídi o u ma forma de termi na r com esta oscila~~o, uma tentativa

fan tasmática e imaginária de reencontrar o Objeto?

Como v imos , em "Luto e Melancolia" Freud trata da ang ústia

que advém diante da perda da m~e protetor a . Na me l ancolia o ego se vê

abandonado por t odos os poderes protetores e se deixa morrer. Freud

faz uma analogia e ntr e este senti mento de abandono e a perda, dizendo

que esta s ituac; ~o é a mesma que fundame ntou o primeiro gran de estado

de ang ústia do nascimento e da angústia e nostalgia infantil, a da

sep a rac;~o da m~e protetora. Diante d a necessidade de reenc ontrar o

Objet o e do conflito entre esta necessidade e os limites impostos

p ela realidade, o suicídio entendido como o triunfo da puls~o de

morte, o retorno ao estado anterior ao nasc iment o, pode se constituir

em uma tentativa fantasmática de ac abar com a oscil a~~ o, e

reenc ontrar o Objeto per dido.

McDouga l1 (1 978), no capítulo "Narciso à procura de uma

nascente", se refere à busca da cri.:mc;a pela imagem de S1 mes ma

r efletida no olhar , nas pupilas mat ernas . o ref le:·:o dest e 01 har

desti na-se a de voI '/er-1 he ng;:o somente a sua imagem especular mas
I

79

também aquilo que ela represen ta para a m~e e que se encontra

simbolizado em carinho, seguran~a e pr o te~~o. Mc Doug al1 cita Ovidio

em UMetamorfoses" ao referir-se a Narciso que n~o pode mais se

afastar do r efl exo que as ág ua s da fo nt e lhe devolviam, apaixonado

pela imagem que via, deixand o- se perecer a l i.

"Créd u la crian c; a, de nada ad i antam esses vâos esforc;os ••. o

objeto do teu desejo n~o exist e " . ( p )

Seja qual for o significado da rel a~~a primord:ai, ou

se ja, da rela~~o da cr ian~a com sua m~ e, a cria~~o de uma

representa~~o de si mesmo, o sentimento de identidade é um dado

e ssenc ial para a vida psíquica. Como suger e McDougall, "a conserva~~o

da identidade subjetiva pode ser consi derada como uma n ecessidade

psíquica". ( p .116) A oscila ~~o constante da v ida psí quica pode

apresentar dist úrbios graves e até mesmo provocar a morte do sujeito:

"Como se Narciso, diante do risco de perder de


vista aquilo que lhe serve de antep ar o na superfície das
águas, preferisse morrer, ou até mesmo lan ~ar - se no poc;o
sem fundo da fus~o mortífera, ~ enfrentar o se~ vazio
j.J}t~.r.::.!}.º-, va z i o n~o apenas enquant o ser !:exuado, m-ª~
en 9..~.ªr:!.t...º __Q.! -!t !'::_
º.._qlol_~_ n ~_!:L5~ --'J~\.trº." (p. 1 1 7 )

Ragland -Su ll i van (1986) s e ref er e à s obse r va~bes de Laca n

so b re o Desejo d o Outr o ( a fu s~o com a mae p rot e t or a) e a a n s iedade

res ult an t e da sep a rac;ao. Em t ermos l a cani anos é n o p l a n o sex ual que o

Dese ' o s e significa e s e sati s faz . A maior ia d os analistas neo-


J

80

freudianos entendem o comportamento sexual como sendo a chave para a

compreensão da personalidade. O se>:o é importante como um coeficiente

de narcisismo primário (cor poral ) e como meio de obten~~o do


(
reconhecimento do outra .narCl.S1SmO secundá ri o) .
""
No entanto, observa

Lac an que nenhum objeto, sej a ele pesso a , coisa ou ativ idade sexual,

aplac ará permanentemente o Desejo . o Outro revela ~ ar madilha do

Desejo Humano mas n~o pode mantê-la f ec h ada definitivamen te. Nas

rela~ôes amorosas esse d sequilibrio representa uma perfeita

co"ncidência entre Desejo e Objeto que supostamente possibilita a

satisfa~~o sexual e psíquica.

Em "O desejo e a in te rpreta ~~o do desejo em Hamlet"

(1959), Lacan quantifica o desejo no discurso comum como o modelo de

significados adquiridos pelo su jeito no discurso humano: o discurso

do su j eito é o discurso do Outro. Assim, a identidade se estrutura

tendo como b ase um substrato q u e é constituído e articulado, durante

a infância, no l u gar do Outro. O Desejo, sendo inconsciente, dirige e

controla o ser humano, n~o o contrário. Mas é possível para alguém

articular o Desejo que o dirige somente quando se vê a si mesmo

ana li ticamente como u m objeto (" moi") do Desejo do Outro. Dessa

f orm a , torna-se possível f az er emergir os significados que enc obrem e

subjugam a lgué m pelo Outro.

Na ocasi~o da tomada de consciênci a da interdic;:~o do

in cesto , ou seja, da imposs ibilidade de satisfazer os

i mpulsos/d e sejo s d e uni~o com a m~ e, que se v e rifi ca por meio da

a n g Llst i a de c3 str a ~~o r 2 p r esentada pela le i p atern a (em francês, o


Bi

nome da pai -Nom - é semelhante à lei, ao dizer- n~o - Non - à fusào

com a m~e ), 3 c r-ian~a sen e-se incompleta, fr-agmentada, e esse dr-ama

é t~o farte que inaugur-a a ansiedad e humana. Segund a La~an, a desejo

incestv.o<.::o está send a punido menos pela medo de perd er a ór-g~o, do

que pelo medo da desintegra~~o, de perder-se a si mesma. A revis~o

que faz Lacan da Complexo de Castraç~o freudia.!o ins~r-e"e o sujeito

em uma estrutur-a inconsciente de mudan~a; a mudanç;a Oll troca de

posiç~o de fusão com 2. ')lã e pelo sentimento de identidade OLl

identifica~i!o. A devastador-a per-da da simbiose é '-epr- i mi de e

deslocada, mas simbolicamente sentida pelas seus efeitos. O drama da

separação primordial estabelece um vazi o que nunc a enc ontrará uma

r-esposta.

Chasseguet-Smir-gel (1988) investiga a hipótese da desejo

primária da descober-ta de um univer-so sem obstáculos, sem diferenças,

sem dificuldades~ um universo inteiramente destituído de asperezas,

identificado com o útero materno, ao qual o individuo já teve livre

acesso, :nas que, de fato, n~ o se encontra mais disp onível p3ra ele.

Consequentemente, a realidade é sentida como um obstáculo

i~transpon-vel ao retorno par a o ventre da ~~e.

I Coma observa Lacar-riere (1973), o objetivo que se opbe ao

principio d~\ divisão C: é o de atingir uma espécie

fus?' O 1 r,UE 3e consti tI ti em uma pri mei r 2 vi tÓri a <.::-Jbr- e esse mundo ono-=

dis p ersão .
82

De acO rdo com as observa~~es de Chasseguet-Smirgel, os


pacientes suicidas apr esentam uma característica comum que se
relaciona com uma identifica~~o de s eu próprio cor po com o corpo
materno e uma inabilid ade para tolerar ob stá culos dentro de si
mesmos, assim como s~o
inc ap aze s de tolerar os obstáculos do mundo
externo , também identif icado com o ventr e da m~e.

Esta autot-a destaca que ao desejo e a busc a do Objeto


perdido e o obstáculo que a realidade i mp~e à consecuss~o do desejo,
se contr apeJe , entretanto, uma for~a con trária , que impulsiona o ser

humano ao cresc imento , ao desenvolvimen t o e à maturidade, integrando

realidade e verdade numa dimens~o "paterna" do ps iquismo.


(:. psi c análise e sua intrincada trama teórica relativa aos
" ...
at o s sU l c l uas,
"
nos ajuda a compree nder a complexidade das moti "./a~!:!es

implicadas no su ic idic . Gostariamos de exa~lrar, 21~dai os tipos de

sui c í d i o, no sentido de tentar buscar um significado latente

maneira p el a qual o i n dividuo escolhe acabar com a sua própria v ida.

Freud~ no artigo "Sobre a psicog é n e se de um caso de

homo sse>:ualidad e f em inina" (op. ci t.) e em "O s on h o e a telepa.tia"

(op.cit.), chama a aten~ào sobre a rela~~ D9 ertre o tipo de suicidio

e s colhido pelo individuo e a express~o de um d esejo. Nos d ois caso s,

já ci t ados anteri o rment e, o d e sejo inconsci ente de t e r um fi lho d o

p r ó pri o pai, a rai "'.Ia e 8 vingan~a p ela n~o c on se cuss ~ o do d e s ej o,

t e riam l e vad o ao at o s u ic ida. O mod o escol hido por ambas as pessoas

foi o de joga.r-se f de ca i r, o que em alem ~o tam bém signific a p arir,

dat- à 1 uz.

Alvarez~ em li?") stl~dy of suicid'2" ( 1 975) ~ observa qu e

promi scuo em.____._ seu modo Um homerr! que decide

S2 jogará dE um precipício nem se lan~ará debaixo de

E~ istem, segundo este autor, razbes espec iais que :evam o

sujeito a pre-terir uma determinada forma ~e suicídios em detrime ~to

de AI 'lar e::: d2SCre".,te SL\2 própr"a c C te)

um2, tentati va a.tr a'\/é~ c.~ a i ngest~o ':: ;~


barbi túricos e r elac iona sua escolha co a fant asi a de resol ver todos

os seus problemas através da mort e, d a "anestesia" propi ciada pela

droga . Em c rian~a, foi submetido a d uas c irurgias sofr endo anestesia

geral e entre os d ois tratament os cirú rgicos f obser va que c ost umava

t er s empre o mesmo sonho, no qual deveria resolver um complicado

p r oblema matemático. Da solu~~o do problema dependia o b em estar de

toda a família. Na ocasi~o da segunda cirurgia, ao sentir os efeitos

iniciais da anestesia, lembr a o problema que sempre lhe surgia em

sonho e repentinament e chega à solu~~o: uma respost a simples composta

de dois números l he ocorre naque le momento. O autor relaciona o

desespero que o levou a tentar se matar com os muitos , muitos

problemas que precisava resolver, e entend e que de uma forma imatura

e f antasamáti ca proc u rara a morte através dos barbi túricos n~o para

terminar com eles mas p ara explicá-los ou resol vê-los, através de uma

ana logia com a sitL\a«;~o de pré-inconsciência pr omov i da pe l o

anestésico que lhe possibilitou resolver o probl ema de seus sonhos .

Shneidman e Farberow, em artig o intitulado "Th e l ogic of

sui ci de", (data) sub l inham o caráter ilógi co dos atos suicidas, ou

seja, o fa to da lógica do suicídio diferi r da lógica comum. Apesar

dos autor es reconhecerem as dif ic u ldades d e se tentar re con s truir a

lógica sui ci da, afirmam que o suicida acredi t a em suas razôes, "como

seI! ti ve!:se t- ac i oe i nado co.té chegar às suas co n clusôes, geralment'2

inaceitáveis do po .t o de vista ló gico. A supo!:i~~o destes 3utores é a

de que, se é oossivel c onh ecer a "r acionaliza <;;:gco", a lógica do

suicida e m potencial, e dela e x trair as prefTliss3s ou. cren«;as que


85

evam ao suicidio ~ ent~o é provável que tais i nd icias sejam eficazes

na pre"/i s :0 e prevenc;:~o dos atos s u icidas.

Os autores discriminam quatro diferentes tipos de lógica

suic ide.! através j::, eX2.me do con ~? ito de desejo de morte decorrente

da análise de bilhete:; e car t as dei ~ ados pE'ssoas qt.]e se


s "i cidaram:

l)Catalógica tip o de lÓgica destrutiva, comum em

individuos que apresentam dificuldades em descobrir um sentido na

vida, de relacionamento com outras pessoas; sujeitos que demonstram

viver em proFunda solid~o, c ar ência e aban dono.

2)Lógica no rmal - característica em pessoas idosas~ viúvas

o u doentes; o racioc :nio implica no desejo de livr3r-se~ através da

morte s da dor física ou psíquica.

3}Lógic3 contaminada - presente em pessoas que acreditam

ser o suicídio uma via de transic;:~o para uma outra vida ou uma forma

de sal v at- sua t-.on ra Este tipo lógica é também

denominada de "suicidio cultural"~ onde o conceito de morte da pessoa

ocupa um papel fundamental na trama do suicídio.

4)Paleológica ou lógica psicóticos ou pess oas em

estad o de alucina~~ c.

Est a -!:.entativi:\ a 1 ogi ca su i ci da em quatl~c

gr- t \DOS di sti ntos , ob jeto de

dificuldade de se tr at ar de um fer~~en o ~~ t~ o gran de co~ ~: e~idarl = d-

~:~
r;:~. -
86

forma talvez um tanto si mplista, reduzindo-se cada um dos tipos de


lógica ao somatório de al gumas características. No entanto, é

in egá ve l ex istirem diferentes fantasias e justificat ivas que se pode m

encontrar a partir da análise das comun ica~ bes que os su icidas deixam

ao morrer . Em "Genuine a f! d simulated suicide notes " , encontramos

alguns exemplos desta s c omunica~b es esc itas pelos própri os sujeitos

ou reconstrui das através de obs ervalji:be s de familiares,


ps icot erapeutas e estud o de casos:

"I hope th is is what Vou wanted".

11
am tired of living so I decided to end i t alI, hope
this wi ll not d ist ress anybody".

"1 can ' t find my place in life".

"Goodbye dear ~Ji fe: I cannot stand the suffering any


1 on ger. I am doing this by my own free will. Vou will be well taken

care of fi.

" Dear 1'1 ar y: The r eason for my despondency is that you'd

prefer the compan y of almost anyone to mine".

"Dear lt-Ji fe: S in c e you are con vinced that you are an

inva li d and n o one can he lp Vou, r hope my $ 300 .000 insu rance helps

Vo u to see the truth about you rself and get rid of yo ur menta l
si ck ness " .
87

"1 ' m tired Df be in g sick and in pain and can see no use in

prolonging it as they sav there is no hope of recavery".

"Explanations would be useles s, su .ff ice to sa)' I nave

tried and f""i1ed".

/I I knolrJ thi s i s a terrible thi ng to do but, b21ieve ~ei

dear , i t is for the besto.

"Dear I'Ji·f e: It secms that fate nas des tined me to be a

failur-e. AlI at once it appears that I can no 10'lger face the

problems and responsibli"lty".

/IDear: l'm j ust t oa tired and too sick of trying to

cont inue. Sorry it had to be this way. I'm sure everything will work

out far the besta I<eep ever-ything quiet as possible. Say I had a

heart at tack I! •

Julgamos proveitoso inserir aqui, a titulo de contrapont o,

2 carta de despadida deixada pelo poeta Mai aco '=~:i (1963) f o qual,

com um velho revolver de uma única bala, varou o cora~ão na noi te d e

14 de Abril de 1930:

"A todos ~ • .. Eu n i:l:o c :.., i pei s di sso a


ningúe m. E nada de fala tórios . O defL~to tinha horrar a
isso.

!'1am~e ~ mi Ilha,:: . rmâs, meus ='." E.radas; perdoem


me ist.::; n~' o é "TI mei c ( ri:-:J c aco-·::; ~i ,c; a r·~ '1guérrd ma:
par ~ mi m r ~o ~á outra saída.

Li i ~ , ama-me.
88

Camal'"ada Govel'"n o, minha fa míli a é Lili Brik,


mam~e, il'"m~s e Vel'"Onica Vitoldovna Polónskaia: Se tu lhes
tOl'"nas a vi da pos s íve l, obl'"ig a do.

Os poemas come~ados , dai -os aos Bl'"ik. Neles se


I'"eencontrar~o.

Como se diz

"O i f1C1. dente está e nc~'-I'"a do"

quebrou-se contra a vide quotidiana

Estou q~ite com a vida.

Inútil p~ssar em ~evista

2!S dores

as desgra<;:as

e os erros reciprocas.

Sede f elizes! "


(p.89-90)

Para escapaI'" d a desonl'"a da f alé ncia, para escap ar da


doen~a, da do r~ das humilh a~bes, como ato de vinga n~a ou como a
melhOr saí da dentl'"e as demais op<;:bes, as comunica<;:Oes dos suicidas
I'"evelam a singularidade im pl icada nas motiva~Oes dos individuas e nos
aspectos mági cos do su icí dio.

Wahl (196(1)-; intitulado "Suicide as a me.g i cal


act" destaca a e.:tl'"ema comple>:ideoe do fen"':"meno, que 2 efet iva do a

par -.: ir de um a multiplic id ade de I'"e.zbes f


propósitos e motiva~e:re5. P=='T?
este autol'" 1 n~o se deve entender suicid~o ape nas
Q como um ate<
I'" ac 1. on 2- 1>. '; s2r!dc r>ec ess á· in conSl del'"ar os aspectos mág i cos envol vi dos
.,

nos desejos d os s uic idas. Wah l obser va que o suic í d i o OLl as


reflex~es;rumina~bes sobr e ele p o dem ser compar a das acs sint o mas
qual s e obser vam tentativas mágicas e simb ólicas de

solucionar o con fli t o. E p OEs i vel ap r oximar O ~to sui c id a e o 5intoma

ne urót i co em fu n~~o da extrema complexid ade e da sev e r idade das


motiva~~es obser vad as em ~mbos os fe n 6me n os.

Na pág ina 25 de seu a r ligo , W~ hl des~a ca a l g uns tipos maIs

re l e v antes d e m otiva~be5 de caráter mág i co o bservad a s em suicidas:

1) O desejo de pun l r alguém p ela i n dut;:~o d a culpa pelo

ato . Na maioria das v ezes a culpa é induz~ da à figura d e um f am iliar ,

ou, por extrapola~~o, à sociedade ou à espé cie humana.

2) O desejo de re duzir a própria culpa ou aut o puni~~ o, em

um a ten ta tiva d e expiar o ato fa n tasiado de matar alg ué m, atr a vés da

e >: ecu~~o da "Lei de Tal i ~O".

3) Um terceiro motivo é o de recorrer ao suicidi o como


maneir a de 1. id ar com o medo da morte , ou se ja, uma forma~~G reativa

ao medo da morte; pois ir ao seu e ncon tro seria uma manei~a de e vitar

o sofr iment o de "~ugi r dela. O aut or exemplif i ca c om o caso de UfT!

adolescente que p o ssuía uma história de med o i n t e ns o da morte e q u e

t e nt ou e q f o r c e r--se, j u stificando, que havia

se a mor te e ra

h av l S re s ol ~ ido tor ~2r-se um bG~em e sn~renta- a quilo q ue l he ca \s ava

mals medo n a vi d a.
90

4) De acor do com o s i gnificad o da morte para algumas

pessoas, re ligiões e cult uras, morrer n~o é acabar com a 2~ist@ncia;

muitos n~o temem a mo~te e acreditam na possibilidade da e xist@nci a

de vida apÓs d morte. Há evidéncias de que sujeitos infeliz es cometem

suicídio com o objetivo mági co de buscar ume: vi da mel h OI'" atl- a...,é3 da

morte.

5) Identific5~~o infantil cósmica, em uma tenta t iv a

retor nar ao passad o onde se foi fe liz. Wahl chama a at en _~o, neste

tip o de motiva~~o para a do

psicótic0, de que 2': ~?talia~~Q dirigida ~-~ outro~ pode ser realizada

através da autopuni~~o, como se as outra s pessoas fizessem parte de

seu próprio corpo. Exemplific a com o caso de um jovem que

freque n temente se feria com facas e outros objetos cortantes que

pudesse encontra r e sorr ia enquanto observava s eu prÓprio sangue

fluir, dizendo que ele possuía mais quant idade de sangue do que seus

pa i s e sua irm~ , e que ele sobr ev iveria enquan to os outros sangrariam

até 2. morte .

Matar-s e signi fica, nestes casos, matar todas as coisas, o

mun do e todas as pess oas . Dest ruir -se n~ o é ape nas um ato agressivo

cont ra si mesmo, e contra os pais i n~ro jetado s que se deseja mata~,

mas também ~l :n at o ag ~ essivo c ontra a sociedade slmbolizad2.

p~ns. i·Jahl pC' ~ si ti de A. E . Housm3n ~ ";he cO .t 1 ecte:i poems of

A. E. Housman" .1 para l:!. ust ~at'"" a sua ;:: , Er1G:a c'e qu~ .:::;uando alguéíT'

3uicida n~o
---- ----- - --~-.---~----,,-,l

. 91

de suicídio, mas de matricídio, parricídio, fratricídio , sororcidio e

até genocídio.

"Good creatures, do you l ove yOl..lr lives

And have your ears fo r :ense7

Here is a knife like other knives,

That cost me eight e en pence .

I need but stick 1t in my heart


-. And down will carne the sky

And earth's foundations will depart

And alI you folk will die" .

Considerando o que foi discutida a respeita dos tipos de

suicídio, das diferentes lógicas e aspectos mág icas do suicídio,


conclui mas que, no nosso entender, o ato suicid a possui u ma

singularidad e que as formula~~es psicanalíticas met aps icólogicas, por

nós exam inadas nas capitulos anteriores, n~o conseguem exaurir. N~o é
1 .
passível exp.l.car a suicídi o somente por determinantes gerais,

aplicáveis a todo e qualquer ato de autodestrui~~o. A trajetória de

vida da indivíduo deve, necessariamente, ser levada em conta, assim


. a...
cama a V1S ó O que tem do suicídio a sociedade na qual fo i criado e que

também moldo u seu psiquismo e seu comportemento.

Al varez , ao comentar a su ic idio de Sylvia Plath, mostra

que para a poetisa america na a marte era uma divida: para manter - se
92

viva, como adulta, mulher, m~e e p oetisa , tinha que pagar -de um modo

mágico- com a sua vida. Como este pagamento impossí vel também
envolvia a fant as i ade se juntar a seu pai morto, o suicídio, para

S ylvia Plath, era um ato apaixon ado , ligado também ao amor, ao ódio e

ao desespero. Para Alv ar ez, o ato s u icida desta poetisa foi um pedido

d e ajuda q u e de s carrilou, mas foi t ambém u ma ú lti ma tentativa de

exorcizar a morte. Neste ato podemo s, ain d a, ver confirmada a tese


freudiana de q u e, no inconsciente, ninguém acredi t a na possibilidade

de sua própr i a mor te. Em "Lady L azarus", Sylvia diz:

"I have dane i t aga.i n

One year in every ten

I manage i t

A sort of walking miracle •••

I am only thirty.

And like the cat I have nine times to die.

This is number three ..• "

Como o gato que p o ssui nove vidas ou como Lázaro que

ressuscita , S y lvia P l ath "vivia" após cada acidente que provocava


deliberadamente e que a levava até às portas da mort e. Em "Daddy",

Sylv ia é, a o mesmo temp o, a mulher culpada que cometeu assassinat o e

a vít ima inocente atacada por vampir o s (culpa fant as iada pela morte

d a pa i a mado íodia d o ):
R3

»You do not do, Vou do not do

Any more, blaek shoe

In whi ch I have lived a foot

For thirty years, poor and white

Barely daring to breathe ar sehao.

Daddy, I have had to kill Vou.

Vou died before I had time -

Marble-heavy, a bag fuI! of god,

Gasthly statue with one gray toe

8ig as Friseo seal

Bit my pretty hear t in two.

I was ten when they buried Vou.

At twenty I tried to die

And get baek, bae k, baek, to Vou .

I thought even the banes would do.

If I"ve killed one man, I "ve killed two -

The vampire who said it was Vou

And dran k my blood for a year,

Seve years, if Vou want to know

Daddy, Vou ean lie baek now.


94

There's a stake in your flat black heart

And the villagers never liked you.

They are dancing and stamping on you.

They always knew it was y ou.

Daddy,daddy, you bastard, r'm through".

Voltamos à introdu~~o para chegarmos à concl u s~o deste

estudo . A principal motiva~~o consciente deste trabalho foi uma

tentativ a de buscar compreender as motiva~bes inconscientes do

suicida. A quest~o pri n cipal a que se desejava respond er era quais

seriam as vias obscuras que levam " as pessoas a praticarem atos

violentos contra s mesmas, que provocam a sua própria destrui~~o.A

escolha da psicanálise e, mais especificamente, do enfoque freudiano

nos pareceu mais conveniente por ser, das abordagens disponíveis, a

que investiga os aspectos inconscientes.

Sabemos que Freud elaborou a sua imensa obra a partir da

sua prática clínica, observando, desenvolvendo e transformando em

teoria o material obtido através de experiências individuais. A

teoria e a prática se ar t iculam tornando p ossível a convivência do

geral e d o singular. N~o faz sentido responder à qu est~o acima se n~o

segu i rmos os passos que a psicaná li se nos e n sina. As generaliza~b es

t eóricas sao i nsuficie n t es p ara a com pr eens~o dos casos particulares

e, por out ro lado , o e studo das si n gul a ridades necessita do respaldo

teórico q u e lhe confer~ o r de n a~ao e c oer ência i ndispe n s á veis.


c!5

Uma segunda motiva~ ~o que nos levou a compreender esta


tar efa, ref ere-se ao desej o de dar uma p equena con tribui~~o, através

do estudo teór ico, ao trabalho clínico . Fr eud, em seu "Esbo~o de


P s icanálise" (1938) nos diz que o in divi d uo se destrói pe los se us

c onfl itos internos. Acred it amos que os profissionais da área clínica

estej am de acordo q uanto isto, concluimos que, a.l ém da s


formula~bes psicanalíticas metapsic ológicas que examinamos, a

his tó ria de vida do individuo e o contexto sÓcio-cultural no qual ele

está inserido devem ser levados em conta na análise que nos permite

tentar iluminar os obscuros c am i nhos que levam ao suicídio.

No poema "Lamento das Coisas", Augusto dos Anjos fala: "t:


o solu~o da for ma ainda imprecisa, da luz que n~o chegou a ser

lampejo ". Longe de encontrar uma resposta, nos defrontamos com

inegáveis esclarecimentos teóricos, algumas constataç~es ref erentes

às diferenças motivacionais individuais e um grande número de

quest~es que permanecem em aberto. N~o solucionamos nossas dúvidas

com rela~~o à morte, pois ist o seria acabar com ela, em uma maneira

talvez fan tasiada de afastar-se de suas sombras . Ao enfrentar e

conviver com ela , quem sabe conseguimos mantê-la pró:ima e sob o

con trole da tar efa de viver.

Ume? das po ssi veis vi3s que poderiam ser de ajuda nes ta

tarefa j~ nos foi apontada por Freud: a sublima.~o . A este respe ito,

podemos citar alguns depoimentos:


6

"Sempre havia pressentido que a arte e as


imagens poéticas eram intui~~o do humano e do di v i n o por
excelência, o ví nc~lo com a nossa experiência do cosmos.
Sempre havia sentido, gra~as a elas, que o mundo poderia
ser um lug~r habitável, e o carnava l estranho da vi da,
quem sabe, uma aventura de algum sentido. Foi assim que 2
poesia me salvou da ffi1séria e de uma angústia
indi vidual . ....

Regi na de Castro Cha gas Pereira

Em "Al g Imas refle >: ôe5 a respeito da possibilidade da


sublima~~o das pulsàe5 auto-agressivas", Nick (1980) ~~~in ala que é
na dire~~o da possível sublimaç~o das puls~es de autodestrui~~o

através de uma determinada atividade artistica a poesia - que se


pode vislumbrar- um outro caminho que n~o seja o do suicídio . Toda
cria<;~o é, na realidade, a recria~~o de um objeto amado que é visto
em ruina. Desta forma, a pessoa encontrará novas for~as para
prosseguir, ao invés de sucumbir a seus conflitos internos :

"Um C de come<;o,

Um V de vida,

Come<;o de vida, come~o de dia,

Vida qu e renasce , plena de

Amor ...

Eva Nic k

"E quando eu estiver- mais


97

triste

Mas t r iste de n~o ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

. .. .. .. .. .. . . . .. . ....
Vou-me embora pra Pasárgada"

t1anoel Bandei ra
Abadi ,M . ~.L. __~'yj._ç)diQ. In: Abad i et alii , !:::.ª _ f.§\scj..J::!.ª-ç-LQr.l_çL~___t~Lmu~!:.t..~.
Buenos Aires, Paidós, 1973.

Alva r ez,A.
Mi dd 1 ese>: ,
Ib~-...!?_ª.Y_ª-9.~_...9-º.çI .._..
1975.
_=...ª_. . _?-.:t...!:!.Qy._.. _.9..L_. __..?..!:-~Lç. t~.~. Penguin Book s,

B a n d e i r a ,1'1 . E s t r e 1 a cLa_ v ( d..§_-.!J::.l.t.&..!L§\.' Rio de


Janeiro, José 01ympio Editora, 1974 .

Caneghem,D. 6.gressivida.de e Combativida(L~. ' Rio de Janeiro, Zah a r


Editores, 1980.

Cassorla,R.I'1.S. Cons.i d er "!!i..e!es sobre_ ª __ço nceituac;::~o de suicídi o e suas


teorias. Boletim de Psiquiatria, S~o Paulo, 11: 90-93, 1978.

______________ J~~~n~_q~e tentam suicídio. Tese de doutoramento,


Cal!1pinas, 1981.
99

Chasseguet -Smi rgel ,J • Ref] ~~_ti 9.L!.§_ ..-..9JJ. __ 2-.qf!l~__1;!J9..hl..ill:!LJ;!i ~Lorçfer:2... A":L.!]-ºn­
Q.sychq!'.Lc... __.Q.atient.§.. In: Boletim Cien tifico num. 15, Sociedade
Brasileira de P sicaná lise do Rio de Janeiro, 1988.

Dejout-s,C . p ._.!=orp.9 .entr-g... ~ .pJ.gl..gg.ta.. . §? .ª_p-.?~~.ªn41t~.~~. Porto Ale gre ,


Artes Médicas , 1988.

Di nes, A. t.tqr-J;_tE_ nº__~ai s..Q.!..... f\.J;r:..?...9.$ç!! _a_.çl~ ..Ét~_f_~'1._.1.~9.!_g. Hi o de J anei ro ,


Nova Fronteira, 1981.

Durkh e im,E. O suicLqio. Lisboa, Ed.Presen~a, 1973.

Eissler, K. Le suicide de Victor Tausk. Paris, Press es Universitaires


de France, 1988.

Freud,S. E?icopato19sú~~la vida co~AdiaL!.ª. Obras Completas,Tomo I,


Madrid, Biblioteca Nueva, 1973.

_______ An.?;...! t?.L!§...._JE-ª.Q.I!!.~l}.:Lci,=-tR...St~..._l!.'1iL.b.:t§.t§?rj._ª· Obr as Compl et as, Tomo


I, Madrid, Biblioteca Nueva, 1973.

d ~__ I.:! n _... c_a s 9..._g.~ ...... Q e.I:-!'=-9.?:!.2...9..1:! §~.?5.Y-.ª-• Obras Comple as,
Tomo 11 , Mad rid, Bibliot 2c a Nueva , 1973 .
100

_____ _ ç.Q!]j;r.jJ~~.~!. Ç.!..9.~2_____-ª]__._.2j n:!f.!P_~.:t.Q. __.__ 2-º-qr._~___ ._g.t__._su i c i d i o. Obras


Completas , Tomo 11, Madrid, Bibl i oteca Nueva , 1973.

_____ Lº_t_~~ __ y __T..§\b~ . Obras Complet as, Tomo 11, 1'1adrid, Biblioteca
Nueva, 1973.

:. .Ç...9.L!-ª.
Due 1 º _._-,V_-:.:.m.;.e;;;.l;;....=a:;.n, Obras Comp l et as, Tomo I I , I'1 adri d ,
Bibl ioteca Nueva , 1973.

______ b.~.ÇFi ones i ntrodu<;...1;gL!-ª..?_ ªJ__f.!si cc.aD_ª-!i.-?i !:i. Obras Compl etas,
Tomo II,Madrid , Biblioteca Nueva, 1973.

Madrid, Biblioteca Nueva, 1973.

______ J..!:!trodu~c;..i.-º_n a]._~r.::f:Jsism o . Obras Compl etas, Tomo 11, Madrid,


Bib lioteca Nueva, 1973.

______ L...g.? __ jD-~t i .!}! o s ____ 'L ..2~ _. _.d ~2.t.t.!}S~)_?_ . Obras Complet as, Tomo I I ,
Mad ri d, Biblioteca Nueva, 1973.

BIBLIOTECA
FUNDA ÇÃO GETÚ LIO VAPlGAf
101

______ t.!.~___ al_la q~LJ!. !:::JJ:lc:ULio deI P....!..ªS:..~r:... Obras Completas, Tomo 111,
Madrid, Biblioteca Nueva, 1973.

_____ Sg.tl,re I ~. p"§i co ~1l~..~i.~Ld~ .. ~n_s:;..a2P. __ge .... b9!oQ.~~~~~~~.ª~ ..:Lg.ª ..d.._f . .~..!!I'ª~.rli....na.
Obras Completas, Tomo 111, Madrid , Biblioteca Nueva, 1973.

_____ f.:.?Js_Q...Lq.9i-ª-__~!:Ll-ª_~L .... m-ª-~a5


an_ª . !..!. .?..! . ?.i __<;!É'_L .... _'iq·
y_ .._ Obras Compl etas j

Tomo 111, Madrid, Bibl i oteca Nueva, 1973.

_____ ~J. ___sueno.... .Y ..... . J. .ª _..J:el epa!;i a... Obras Completas, Tomo 111, Madrid,
BibIiote~a Nueva, 1973.

_____ Psicoanalisis y telepatia. Obras Completas, Tomo 111, Madrid,


Biblioteca Nueva, 1973 .

~l ~ ~ el ello .Obras Completas, Tomo 111, Madrid, Biblioteca


Nueva, 1973.

Obras Completas, Tomo


_ _ _ _ _ EX. .. . . . .I=! r9....9J._~_ma __ ~ç;º-IJ...º!!'-tç.9__d I?J._.!!!..ª?.º.9.~.:t2mº.. •
III i Madri d, Biblioteca Nueva, 1973

~Iu e v..?§ _.. .. _.1 ~çf=j ....QQ I? s iD t.r.: o..9l:l. t o r.:i ~ § ........... . ? J _. __ ..P..s. i _C; o a [! a 1 j :_5 i s •. Obras
Completas, Tomo IIIi Ma d ~ id, Bib lioteca Nueva, 1973.
102

____ __ CÜI!! P!?n~J o d"~J.. .. RS.~ t;.9ª.f.l.-ª "LL!:?J.~' Obr as Compl e tas, Tomo I I r., Madri d,
Biblioteca Nueva , 1973.

VaLina,E. e ~-::ov2.s1cf f,S. A.:5 cEri{IJ.q .nj,ª.? ...qª .. des..t.r.u~ . ç}(o . F:io de Janei ro,
Fr ancisc s Alv E 3, 1983 .

L acarr-i er e , J. b...~~. ..9DQ.'ª.ti.g~~.~?.. Pari 5 , 8a11 i mard, 1973.

La pl anc he ~ J . ~A d .ª ...~..___ ~I.hl~.r::g. _~n___ Q.S_~_Ç.9_ªD §d.A.2t.2. Buenos Ai res, Amwrrortu


Ed i tor e s. 1973.

Mai acovsk y, V. V. 0TJ.:!;..919g.!.ª -ºº-~!:icª., S~o Paulo f Ed. Max Li monad, 1983.

I"1cDoug all , J. E rr- de.t~"'E:.. cJ~ ..l,-l!!.l~... _.. ç~!:".t...é..\ ._...~n-ºCJ.T.!ª .~. ~fI~çI.~. Por t o Alegre,
E d.Arte s M~d icas, 19a7.

Mennir, er,K. ~~ os e S~o


P aulo ,Ib r e sa,1970 .

_ " '. ~ _ :' '. . : . ' .' _" ~ ,,-" . ~;.:" _: n-:,"",:•• "...",~, .'._ . : ." ." ~
r1ez an ,R. fL~_~_gL1L tr a.!TI-ª-g.º.§__çQ!J!;~.ito?.. S~o Paulo, Ed.Perspectiva,
1982.

N i c k ~ E • Çll.g~!.mª?._L~.fJ e l!..et~?-E_ ..!:~.?p.ª-Lt_º_._çL<? _ºº.§~ i. ~iJ. tp a .º .!';'.. _p-ª_~I,,!.b I j:.fl.1-ª.~~.Q.


º.ª§_. P.l,lJ .,ªP~.?_ .. _ªl,l_t.º?gr.~)ª?tya2. · Jornal Brasi lei ro de Psi qui atri a, 29 (5):
31 3 - 3 18 , 1 98() •

Pere ira,R .C.C. (:Lespiral do si mbolp. __6.._-ªrtg_.s.omo_ .1er-ªpi a . . Petrópolis,


Vozes, 1976.

Plath , S . ArieJ_. London, Faber ~( Faber, 1 968 .

1985.

The Bell Jar. London, Faber & Faber, 1963.

Rag 1 a n d -Su 1 1 i van , E . J ~:f: .ql.l.~.~ _l".<? C;.~!J_ ..ªng . ._t.b.~_ R.D.i.J.-º_~92.b.Y_._º_t
P'.?"y'ç:_Dºªfl?J.y-§j..? Londo n , eroom Helm, 1986 .
104

Semi néri o ,F. L. P. Edi tori aI. In: f\rggJ vos__J1c.ª_si !..ei_!:..o~_c;L~?j_col ogJ..-ª.'
Vol. 37 , abr./j un . Rio de Janei ro,Ed.Fundaç~o Ge túl io Vargas, 1985

Shn~idmanfE. e Farberow,N . Ih.~ _. tº-~ _ 9..f _...2.!-!jf;ipg . In: Clues to


suicide. New York , Mc Gra w Hill, 1957 .

Stengel ,E. ê~!J_!=Ld.~ __ ª!}9. __ª:tj:'_~Il}Qt..g~L..?u ici ft'ª-' Pe nguin Book s , M:id dlese>:,
1977.

\;J:,. !-. ~, C. ;?U!_ Ci_º.~__ ,ª.? _.~ __rr-.@..9.i..Ç~L_ª_çt. In: Cl ues to sui ei de. New York, Me
Graw Hil l, 1957.
A dissertação "O SUlcTDIO EM FREUD"foi considera -
da ~fJt0l/.ad<L

Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1988

dora

Membro da Comissão Examinadora

Вам также может понравиться