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O PROCESSO DE PRODUÇÃO DISCURSIVA: UMA VISÃO DA CONTRIBUIÇÃO DE MICHEL

FOUCAULT AO DEBATE EPISTEMOLÓGICO

RESUMO
Neste artigo, realiza-se uma sucinta discussão da “arqueologia do saber”, desde sua filiação e ruptura com a
epistemologia francesa até a construção do procedimento “genealógico” que supera a dimensão analítica
hermenêutico-estruturalista stricto sensu. Visando a problematização dos processos de construção de campos
de saber, o discurso é tratado como dimensão densa e complexa e pensado em seu aspecto prático-produtivo.
As dimensões do objeto – conceitual, enunciativa e teorética – são pensadas a partir do estudo de suas
condições históricas de possibilidade e das relações de força na sociedade (relações políticas) que estão na
base de sua produção. Por se tratar de um exercício metodológico, pretende-se contribuir para os estudos que
tematizam saberes e práticas em perspectiva histórica.

PALAVRAS-CHAVE:
Epistemologia; Análise do discurso; Processo de produção do discurso.

“Cito Marx sem dizê-lo, sem colocar aspas (...) E é no


interior de um horizonte descrito e definido por Marx
que é possível”.

DA CIÊNCIA AO SABER: LIMITES E POSSIBILIDADES DE ANÁLISE DAS FORMAÇOES


DISCURSIVAS

Neste artigo, a “arqueologia do saber” (Foucault, 1995) é ponto de partida e referência metodológica para a
problematização do processo de análise discursiva, o que permite a saída do nível estritamente lingüístico de
análise e a consideração das condições históricas de possibilidade das formações discursivas, pensadas
enquanto “práticas discursivas” (Foucault, 1995).

Foucault recusa-se a tratar o discurso somente como um conjunto de fatos lingüísticos ligados entre si por
regras sintáticas de construção:

O caráter lingüístico dos fatos de linguagem foi uma descoberta que teve importância em determinada época
(...) Teria então chegado o momento de considerar esses fatos de discurso não mais simplesmente sob seu
aspecto lingüístico mas, de certa forma, como jogos (“games”), jogos estratégicos, de ação e de reação, de
pergunta e de resposta, de dominação e de esquiva, como também de luta. O discurso é esse conjunto regular
de fatos lingüísticos em determinado nível, e polêmicos e estratégicos em outro (Foucault, 1974, p. 6)

O que interessa à arqueologia do saber (Foucault, 1995) é estabelecer as condições de possibilidade dos
discursos enquanto saberes e não suas condições de validade. Ou seja, para Foucault, todo saber se define em
um espaço epistêmico singular, que pode ser datado e analisado em sua historicidade, devendo-se considerar
as emergências discursivas a partir de condições históricas associadas ao seu surgimento e legitimação. A
arqueologia, para Foucault, tentando fazer aparecer as regras de formação dos conceitos, os modos de
sucessão, encadeamento e coexistência dos enunciados, se depara com o problema das estruturas
epistemológicas; estudando a formação dos objetos, os campos nos quais emergem e se especificam,
estudando também as condições de apropriação dos discursos, se depara com a análise das formações sociais.
Trata-se, para a arqueologia, de espaços correlativos (1995, p. 235). EDNA PENSE A QUESTÃO DA TERRA
AQUI
Nesse sentido, a análise de discurso não pode fechar-se no interior do próprio discurso. O discurso não é
pensado como dimensão isolada, mas em suas relações com acontecimentos de ordem técnica, política,
econômica e social. A arqueologia do saber busca analisar, de uma nova maneira, as regras de formação
discursiva, regras que definem um modo de produção dos objetos, das modalidades enunciativas, dos
conceitos e dos temas/teorias (ou estratégias) que constituem os quatro níveis de análise; permitindo a
definição de um saber. O que está em jogo não é a cientificidade ou não de um discurso, mas as leis de
construção das proposições que lhe conferem status científico, enfatizando as suas condições históricas de
possibilidade.

A epistemologia francesa – que assume como procedimento metodológico a associação entre análise histórica
e reflexão filosófica, e cuja tese fundamental é que a filosofia das ciências possui uma dimensão histórica
(Bachelard, 1977, 1996; Canguilhem, 1968; Koyré, 1966; Cavaillès, 1960) – já nos oferecera o conceito de
descontinuidade para pensarmos o processo de produção dos conhecimentos científicos. A “história
epistemológica” (Bachelard, 1977; Machado, 1988), contudo, não deixa de ser uma reflexão sobre a questão
dos critérios de cientificidade, assumindo uma atitude normativa – onde a norma é a própria racionalidade
científica – que visa diferenciar ciência de conhecimento pré-científico. Essa perspectiva, apesar de negar a
idéia de continuidade histórica, preserva a tese de que o progresso é uma característica da ciência. Ou seja, o
progresso das ciências é tido como essencial e descontínuo; nãolinear, mas dialético. Para Bachelard, “uma
história [das ciências] (...) deve ter como objetivo distinguir erro e verdade, o inerte e o ativo, o nocivo e o
fecundo (...) é preciso (...) também julgar” (1977, p. 182). A epistemologia deve também ser uma história
recorrente, “que esclareça pela finalidade do presente, (...) que parta das certezas do presente e descubra, no
passado, as formações progressivas da verdade” (Bachelard, 1977, p. 184)*1 .

Foucault, por sua vez, leva mais longe a idéia de ruptura, refutando qualquer perspectiva de progresso nos
estudos de produção de saber. Essa posição, além de apontar para a impossibilidade da busca de origens
remotas ou de “precursores” – como já haviam feito Bachelard (1977, 1996), Canguilhem (1968) e Koyré
(1966) –, coloca totalmente em xeque a idéia de evolução da verdade segundo um tempo ordenado. A
concepção de progresso deixa de ser um a priori. A passagem de um registro de saber a outro, marcada pela
descontinuidade, não assegura ou permite falar em evolução. Por mais que sejam semelhantes, os objetos
jamais serão os mesmos, assim como as maneiras de olhá-los (o que se reflete principalmente ao nível
conceitual), as formas de enunciação e de organização dos pensamentos. Ou seja, a noção de diferença é
levada ao limite, anulando a atitude normativa e judicativa.

Não há recuo possível em busca de uma origem que se perde no tempo: aos “sistemas discursivos,
historicamente definidos, aos quais se pode fixar limiares” (Foucault, 1972, p. 69) é possível assinalar
condições de nascimento e de desaparecimento. Não há verdade ou evolução sustentada na idéia de um
“sujeito soberano”. Não há o que falar no silêncio das entrelinhas: “os discurso são domínios práticos
limitados que têm suas fronteiras, suas regras de formação, suas condições de existência” (Foucault, 1972, p.
68). Foucault considera “um mau método colocar o problema ‘por que progredimos?’ O problema é ‘como
isto se passa?’ E o que se passa agora não é forçosamente melhor, ou mais elaborado, ou melhor elucidado do
que o que se passou antes” (Foucault, 1990b, p. 140).

Se a história epistemológica, tendo o processo de produção do conhecimento científico como objeto,


privilegia o conceito em suas análises (notadamente Canguilhem), considerando-o como o elemento que
expressa a verdade da ciência; a arqueologia de Michel Foucault, enquanto procedimento analítico, demarca a
construção de um novo objeto – o processo de produção de saber – e passa a considerar, além da dimensão do
conceito, as dimensões do objeto, do enunciado e da teoria, pensados, em suas relações, como níveis
indissociáveis do processo de formação discursiva. Para a arqueologia do saber, os discursos são práticas –
práticas discursivas (Foucault, 1995) – que se articulam com práticas econômicas, políticas e sociais. Deve-se
pensar em uma composição complexa de forças em conflito; em uma conformação mais ligada à imagem de
rede do que à de espiral. Força e razão estão essencialmente ligadas e não há, nessa concepção, uma dimensão
unívoca de determinação.

De acordo com Machado (1988), a partir do momento em que Foucault privilegia em sua análise o saber – e
não mais a ciência – é possível a neutralização da questão da verdade. Ou seja, “a arqueologia aceita a
verdade como uma configuração histórica e examina seu modo de produção unicamente a partir das normas
internas dos saberes de determinada época” (1988, p. 85).

Bourdieu (1990) é outro autor que pode nos auxiliar na compreensão da relatividade histórica da verdade e de
seu caráter produtivo (acentuando a dinâmica de forças que caracteriza o processo), além de também
contribuir como orientação metodológica. Para ele, é importante aceitar que a razão seja um produto histórico
cuja existência e persistência são produtos de um tipo determinado de condições históricas, e determinar
historicamente o que são essas condições. Há uma história da razão; isso não quer dizer que a razão se reduza
à sua história, mas que existem condições históricas para o surgimento das formas sociais de comunicação que
tornam possível a produção da verdade. A verdade é um jogo de lutas em todo campo (...) Dizer que há
condições sociais para a produção da verdade significa dizer que há uma política da verdade, uma ação de
todos os instantes para defender e melhorar o funcionamento dos universos sociais onde se exercem os
princípios racionais e onde se gera a verdade (1990, p. 45-46).

CAMINHANDO EM SOLO ARQUEOLÓGICO

Foucault (1995), quando diferencia a proposta arqueológica do modelo da história tradicional das idéias,
assinala que o discurso não se compõe unicamente de uma série ordenada de acontecimentos homogêneos.
Subvertendo o procedimento metodológico, multiplica as diferenças ao invés de considerá-las como “erro”
(ou “armadilha”) e reduzi-las ao limite da “perfeita continuidade”. Afirma que a dimensão da prática
discursiva não se reduz à “consciência” ou a uma “língua” (ou fatos de linguagem): as formações discursivas
não têm o mesmo modelo de historicidade que o curso da consciência ou a linearidade da linguagem. O
discurso (...) não é uma consciência que vem alojar seu projeto na forma externa da linguagem; não é uma
língua, com um sujeito para falá-la. É uma prática que tem suas formas próprias de encadeamento e de
sucessão (Foucault, 1995, p. 193).

Distingue, na densidade do discurso, quatro planos (“planos de acontecimentos”) fundamentais de análise que
estão em relação de dependência entre si, que não devem ser pensados isoladamente:

• No plano dos objetos, trata de defini-los em relação ao conjunto de regras que permitem sua formação, ou
seja, regras que possibilitem o seu aparecimento histórico. O que possibilita o surgimento de um objeto (sua
emergência numa dada superfície) não é o “progresso do conhecimento”, mas uma conjunção de
acontecimentos heterogêneos – discursivos e não discursivos – historicamente determinados, que se articulam
de forma complexa, proporcionando a sua delimitação e especificação. Os objetos não estão dados a priori,
são sempre construídos (posição herdada da epistemologia francesa). Na análise arqueológica de História da
Loucura (Foucault, 1993), a emergência do objeto constitui-se como problema maior. Trata-se de tentar
entender como a questão da loucura passa a funcionar no registro do discurso científico (num discurso de
verdade, portanto).ORFEU O resultado, como situa Machado, é que “não é a unidade do objeto loucura
que constitui a unidade da psicopatologia. Ao contrário, é a loucura que foi construída pelo que se disse a seu
respeito” (1988, p. 161-162). Para sermos mais precisos, ao investir sobre a loucura, o saber médico constrói a
doença mental como objeto e como conceito;

• No plano dos enunciados*2 , o autor também refuta a hipótese de uma unidade enunciativa. Não haveria um
modo único de enunciação, mas formas diversas de enunciados dispersos, heterogêneos mesmo (A Clínica
Médica é um exemplo: semiologia, organização enunciativa, raciocínio por dedução, por analogia, etc...). As
suas relações (articulações e tensões) são analisadas a partir das regras que as possibilitam. O enunciado não é
divisível em palavras ou frases ou compreendido unicamente a partir de relações de ordem gramatical ou de
lógica estrutural. O que se coloca em evidência é a dimensão histórica e política do processo de enunciação,
onde o enunciável é aquilo que se pode ver e dizer, de diferentes maneiras, em função de uma época e de um
lugar, em associação com o registro de verdade que é, simultaneamente, condição de possibilidade de
produção discursiva e produto. O trabalho de Foucault, ao nível da descrição dos enunciados, não corresponde
ao desempenhado pela lingüística, pela lógica ou pela filosofia analítica, embora aponte para uma direção
específica passível de cruzamentos. Para o autor, a análise dos enunciados não pretende ser uma descrição
total, exaustiva da “linguagem” ou de “o que foi dito” e “descrever um enunciado” (...) significa (...) definir as
condições nas quais se realizou a função que deu a uma série de signos (não sendo esta forçosamente
gramatical nem logicamente estruturada) uma existência, e uma existência específica (Foucault, 1995, p. 125).

• No plano dos conceitos, é preciso considerar as regras de formação que possibilitaram seu aparecimento e a
sua transformação*3 . Ou seja, trata-se de abordar as relações conceituais que se definem em um domínio de
saber e, simultaneamente, definem um modus operandi do pensamento e potenciais de associação discursiva.
Segundo Foucault, o que pertence propriamente a uma formação discursiva e o que permite delimitar o grupo
de conceitos, embora discordantes, que lhe são específicos, é a maneira pela qual esses diferentes elementos
estão relacionados uns aos outros (...) É esse feixe de relações que constitui um sistema de formação
conceitual (1995, p. 66).

Um sistema de formação conceitual deve dar conta da emergência de conceitos heterogêneos ou mesmo
incompatíveis. Para o autor,

A descrição de semelhante sistema não poderia valer por uma descrição direta e imediata dos próprios
conceitos (...) Tentamos determinar segundo que esquemas (de seriação, de grupamentos simultâneos, de
modificação linear ou recíproca) os enunciados podem estar ligados uns aos outros em um tipo de discurso
(...); como os elementos recorrentes dos enunciados podem reaparecer, se dissociar, se recompor, ganhar em
extensão ou em determinação, ser retomados no interior de novas estruturas lógicas, adquirir, em
compensação, novos conteúdos semânticos, constituir entre si organizações parciais (...) Esses esquemas
permitem descrever (...) uma dispersão que caracteriza um tipo de discurso e que define, entre os conceitos,
formas de dedução, de derivação, de coerência, e também de incompatibilidade, de entrecruzamento, de
substituição, de exclusão, de deslocamento, etc. (...) Tal análise refere-se (...) ao campo em que os conceitos
podem coexistir e às regras às quais esse campo está submetido (Foucault, 1995, p. 66-67).

Definindo-se as regras de formação dos conceitos, podemos pensá-los em sua historicidade, em seu caráter
produtivo, escapando à armadilha da “naturalização” ou da “descoberta”, tão comum quando se desconsidera
a complexidade da relação sujeito-objeto e cede-se ao estatuto de uma pretensa “neutralidade” científica.

Os temas e teorias são tratados como “estratégias” que permitem às formações discursivas a formação de
“subconjuntos” e, ao mesmo tempo, a construção de certa unidade distributiva/regularidade discursiva. Trata-
se de definir o sistema de relações entre diferentes temas/teorias que viabilizam a formação de uma “unidade”
discursiva, como, por exemplo, o que permite a articulação entre teoria pasteuriana e epidemiologia (que
considera as relações agente-meiohospedeiro), entre outras que se dão sob a racionalidade médicocientífica.
Há princípios de regularidade que ordenam a heterogeneidade, expondo as regras (de formação) que
possibilitam a existência de um discurso.

Segundo Foucault (1995), a determinação das “escolhas” teóricas associa-se, ainda, 1) à função que deve
exercer o discurso em um campo de práticas não discursivo: a análise das riquezas desempenhou um papel
não só nas decisões políticas e econômicas dos governos, mas nas práticas cotidianas pouco conceitualizadas
e pouco teorizadas, do capitalismo nascente e nas lutas sociais e políticas que caracterizaram a época clássica
(Foucault, 1995, p. 74);

2) ao regime e aos processos de apropriação do discurso: a propriedade do discurso – entendida ao mesmo


tempo como direito de falar, competência para compreender, acesso ilícito e imediato ao corpus dos
enunciados já formulados, capacidade de investir esse discurso em decisões, instituições ou práticas – está
reservada de fato (às vezes mesmo, de modo regulamentar) a um grupo determinado de indivíduos (Foucault,
1995, p. 75)

e 3) às posições possíveis do desejo em relação ao discurso: essa possibilidade de estar relacionado com o
desejo não é apenas o fato do exercício poético, romanesco ou imaginário do discurso: os discursos sobre a
riqueza, linguagem, natureza, loucura, vida e morte, entre outros (...), podem ocupar, em relação ao desejo,
posições bem determinadas (Foucault, 1995, p. 75). Podem não eles ocupam

Foucault deixa bem claro que esses elementos são essenciais ao discurso (formadores de discurso), e não
elementos “perturbadores” que mascarariam a formação discursiva. Em suma, não há discurso puro, neutro ou
intemporal.

DA CRISE DO MODELO CAUSAL À COMPLEXIDADE E DENSIDADE DAS PRÁTICAS


DISCURSIVAS

Uma crítica comumente feita à “arqueologia” se refere ao seu poder explicativo, considerando as noções de
causalidade e determinação. Rabinow & Dreyfus (1995) assinalam que, apesar de Foucault negar uma filiação
stricto sensu ao método de análise estruturalista, ele não conseguiria evitar esse mesmo nível de explicação
dos fenômenos (ao nível das práticas discursivas) por ele descobertos. Segundo os autores:

visto que [no estágio arqueológico] ele está comprometido com a noção de que as práticas discursivas são
autônomas e determinam seu próprio contexto, Foucault não pode procurar o poder regulador que parece
governar as práticas discursivas fora destas mesmas práticas. Assim, apesar dos fatores não discursivos
apresentados sob a forma de práticas sociais, institucionais e pedagógicas e de modelos concretos
introduzirem-se constantemente em sua análise, Foucault deve localizar a produtividade do poder revelada
pelas práticas discursivas na regularidade destas mesmas práticas. O resultado é a estranha noção de
regularidades que se auto-regulam”, onde “o arqueólogo deve atribuir uma eficiência causal às próprias regras
que descrevem a sistematicidade destas práticas (Rabinow & Dreyfus, 1995, p. 95)

De fato, o problema da falta de clareza quanto à questão da eficácia causal só será assumido definitivamente
por Foucault a partir do método desenvolvido em sua fase genealógica. Nesse momento, segundo Machado,
trata-se de,

em última análise, explicar o aparecimento de saberes a partir de condições de possibilidade externas aos
próprios saberes, ou melhor, que imanentes*5 a eles – pois não se trata de considerá-los como efeito ou
resultante – os situam como um dispositivo de natureza essencialmente estratégica” (1990, X).

A separação entre acontecimentos discursivos e não-discursivos é apenas semântica. Os acontecimentos de


ordem técnica, política, econômica e social, tradicionalmente considerados “externos” aos saberes, devem ser
pensados como elementos inseparáveis de um mesmo processo produtivo.

Foucault, analisando a formação da “alma” moderna, pensada em sua realidade histórica, em seu caráter
produtivo; diferentemente da representação de alma oferecida pela teologia cristã; conceitua:
A alma (não) é uma ilusão, ou um efeito ideológico; ela existe, tem uma realidade que é produzida
permanentemente, em torno, na superfície, no interior do corpo pelo funcionamento de um poder que se
exerce
sobre os que são punidos – de uma maneira mais geral sobre os que são vigiados, treinados e corrigidos, sobre
os loucos, as crianças, os escolares, os colonizados, sobre os que são fixados a um aparelho de produção (...)
[Ela] é o elemento onde se articulam os efeitos de um certo tipo de poder e a referência de um saber, a
engrenagem pela qual as relações de poder dão lugar a um saber possível, e o saber reconduz e reforça os
efeitos de poder. Sobre essa realidade-referência, vários conceitos foram construídos e campos de análise
demarcados: psique, subjetividade, personalidade, consciência, etc.; sobre ela técnicas e discursos científicos
foram edificados; a partir dela, valorizaram-se as reivindicações morais do humanismo (1987, p. 31).

É preciso considerar, portanto, que o poder produz saber, numa relação de implicação mútua e direta; que só
há relação de poder com a constituição de um campo de saber correspondente, e viceversa. Nesse processo,
Foucault enfatiza o caráter produtivo do poder, a dimensão de sua positividade:

O que faz com que o poder se mantenha e seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que
diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se
considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância
negativa que tem por função reprimir (1990, p. 8).

Positivo não pensado como sinônimo de bom (ou bem), mas como característica de relações (estratégias) de
poder que se voltam mais à criação do novo ou de padrões de referência para a produção de indivíduos
–“indivíduo” aqui pensado, de acordo com Foucault, como produção do poder e do saber – e organização da
sociedade. O indivíduo é, simultaneamente, núcleo de transmissão e efeito do poder. Ou seja, as relações de
poder atravessam os indivíduos que nelas se constituem. Quando se refere ao indivíduo como objeto, não se
quer com isso dizer que haveria uma “essência individual”, um indivíduo puro (tal qual matéria bruta) ou
primitivo sobre o qual se exerceria o “poder”. Corpo, indivíduo, saber e poder não são dimensões
apriorísticas, nem se constituem isoladamente: só existem em suas relações de produção.

A noção de dispositivo, por sua vez, remete a tipos de formação – discursiva ou não – que visam a regulação
do social. Funcionando como rede de articulação entre elementos heterogêneos, o dispositivo corresponde a
estratégias de relações de força que sustentam e são sustentadas por tipos de saber.

As questões da delimitação precisa dos campos (do discurso e das práticas) ou das relações de determinação
entre regras de formação discursiva e práticas sociopolíticas encontram resposta na assunção de uma precisão
e de uma causalidade impossíveis – impossibilidade que se coloca quando as práticas discursivas,
consideradas em sua complexidade de relações e em sua densidade, estão em foco. De acordo com Bourdieu
(1989)6 , tratar-se-ia de falso problema ou mesmo de inviabilidade – ou, se quisermos ser mais fiéis ao autor,
de “ilusão positivista” – delimitar onde se inicia e onde termina um campo científico e um campo econômico,
por exemplo. É justamente a partir das interseções, interdependências e interpenetrações – que abolem
fronteiras rígidas – que podemos compreender a noção de campo.

Outra questão, colocada por Rabinow & Dreyfus, diz respeito à relação de neutralidade que a arqueologia
pretende estabelecer com a “verdade” e com o “significado”:

A dupla colocação entre parênteses da verdade e do significado de todos os enunciados sérios, que lhe
permitiu evitar as ilusões dos locutores sérios, também a impede (a arqueologia) de fornecer alguma teoria das
questões sociais que deveriam ser consideradas seriamente e de como se pode esperar resolvê-las” (1995, p.
107).
Ao colocar em xeque toda busca de “verdade” ou de “significação oculta” das teorias gerais sobre o homem,
viu-se a arqueologia emaranhada pelos mesmos problemas que nega ao tentar fundamentar sua autonomia –
seria o discurso arqueológico um domínio exterior de análise ou um discurso passível de ser descrito e
relativizado, como qualquer outro?

Sendo a arqueologia uma “tentativa de mostrar os limites da legitimidade do saber de todas as práticas
discursivas finitas” (Rabinow & Dreyfus, 1995, p. 110), Foucault, de dentro de seu próprio discurso, parece
nos colocar uma contradição aparentemente sem solução:

na medida em que é possível constituir uma teoria geral das produções, a arqueologia – como análise das
regras características das diferentes práticas discursivas – encontrará o que se poderia chamar sua teoria
envolvente (Foucault, 1995, p. 235).

Como afirmam Rabinow & Dreyfus:

negando a busca da verdade e da seriedade, o discurso arqueológico afirma estar isento dos problemas
colocados por uma teoria geral. Não é estranho que a arqueologia, afirmando e negando a finitude de seu
próprio discurso, passe a ser instável como seus precursores (os autores se referem à fenomenologia, ao
estruturalismo e à hermenêutica) (1995, p. 110).

Com o amadurecimento de sua produção, Foucault abandona definitivamente qualquer pretensão de construir,
usemos suas próprias palavras, uma “teoria envolvente”. Pensando as formações discursivas segundo suas
condições políticas de possibilidade, tematizando as relações de poder e a constituição do sujeito; rejeita a
construção de uma teoria geral, construção esta que só se operacionaliza com a condição de
reduzir/subordinar a multiplicidade e a dispersão das práticas de saber/poder à conceitos
universal/totalizantes. Em A verdade e as formas jurídicas (Foucault, 1974)*7 , o autor já desenvolve uma
reflexão metodológica que permite a construção não de uma teoria geral do conhecimento – como ele mesmo
faz questão de anunciar – mas de uma forma de abordagem do problema da construção de domínios de saber a
partir de relações de força e de relações políticas na sociedade.

Não há, pois, teoria; nem mesmo hermenêutica. Não há estruturas invariantes, nem significado intrínseco dos
discursos e práticas. Há, por outro lado, uma analítica interpretativa: o que importa são as relações, as formas
de produção de discursos e práticas, seus mecanismos e estratégias de funcionamento e organização.

Nessa incursão, critica as abordagens que consideram o sujeito – e as formas – de conhecimento como dado
“prévia e definitivamente”, por sobre o qual imprimir-se-iam as condições econômicas, sociais e políticas de
existência. Foucault considera que é justamente através dessas condições que se formam os sujeitos de
conhecimento e, conseqüentemente, as relações de verdade:

Só pode haver certos tipos de sujeito de conhecimento, certas ordens de verdade, certos domínios de saber a
partir de condições políticas que são o solo em que se formam o sujeito, os domínios de saber e as relações
com a verdade (Foucault, 1974, p. 20).

O que estava em jogo, e vai ficando cada vez mais claro, é o problema da política de produção do enunciado
científico; como se pode notar em Verdade e Poder: “não se trata de saber qual é o poder que age do exterior
sobre a ciência, mas que efeitos de poder circulam entre os enunciados científicos” (Foucault, 1990a, p. 4).

DA ARQUEOLOGIA DO SABER À GENEALOGIA DO PODER: A CONSTRUÇÃO DE UM


PROCEDIMENTO DE ANÁLISE
Para Foucault – e de acordo com os limites deste trabalho – toda pesquisa deve aceitar seus limites, seu
inacabado; deve formular conceitos que permitam a análise dos dados (organização, estudo de interrelações e
de implicações), mas que sejam passíveis de, em outro momento, serem revistos, reformulados, substituídos a
partir de novo material trabalhado. Segundo Machado, “nem a arqueologia, nem a genealogia, sobretudo, têm
por objetivo fundar uma ciência, construir uma teoria ou se constituir como sistema; o programa que elas
formulam é o de realizar análises fragmentárias e transformáveis” (1990, XI), assim como múltiplos,
complexos, fragmentários e transformáveis são os objetos, os conceitos, as formas de enunciação e de
tematização/teorização.

Além disso, já na conclusão de A Arqueologia do Saber (1995), Foucault considera a relativa instabilidade do
projeto arqueológico e sua incapacidade de autonomização, deixando para “ser, mais tarde, retomados em
outra situação, de modo diferente, em um nível mais elevado ou segundo métodos diversos” (1995, p. 236) os
problemas levantados e os recursos de análise introduzidos.

De fato, é o que se dá com a publicação de Vigiar e Punir*8 (Foucault, 1987); marco que sinaliza o início de
sua fase genealógica. Nesse momento, Foucault introduz um método voltado à diagnose e compreensão do
significado das práticas sociais a partir do seu próprio interior (onde a arqueologia continua a desempenhar
um importante papel, contudo subordinada à genealogia), onde as relações de poder, saber e corpo na
sociedade moderna ocupam lugar central. Um ano antes da publicação de Vigiar e Punir, Foucault já
sinalizava:

Se quisermos realmente conhecer o conhecimento, saber o que ele é, apreendê-lo em sua raiz, em sua
fabricação, devemos (...) compreender quais são as relações de luta e poder. E é somente nessas relações – na
maneira como (...) os homens lutam, procuram dominar uns aos outros, querem exercer, uns sobre os outros,
relações de poder – que compreendemos em que consiste o conhecimento (1974, p. 17).

Em Verdade e Poder (Foucault, 1990a), o autor afirma que, desde a sua História da Loucura, o problema
central do poder já estava delimitado:

o que faltava no meu trabalho era este problema do ‘regime discursivo’, dos efeitos de poder próprios do jogo
enunciativo. Eu o confundia demais com a sistemacidade, a forma teórica ou algo como o paradigma. No
ponto de confluência da História da Loucura e As palavras e as coisas, havia, sob dois aspectos muito
diversos, este problema central do poder que eu havia isolado de uma forma ainda muito deficiente (Foucault,
1990b, p. 4).

É interessante notar como os acontecimentos políticos de maio de 1968 na França constituem-se como
condição de possibilidade do empreendimento de sua “genealogia do poder”: “sem a abertura política
realizada naqueles anos, sem dúvida eu não teria tido coragem para retomar o fio (...) e continuar minha
pesquisa no domínio da penalidade, das prisões e das disciplinas” (Foucault, 1990a, p. 3). Continuando,
argumenta:

Ninguém se preocupava com a forma como ele [o poder] se exercia concretamente e em detalhe, com sua
especificidade, suas técnicas e suas táticas. (...) Só se pôde começar a fazer este trabalho depois de [19]68, isto
é, a partir das lutas cotidianas e realizadas na base com aqueles que tinham que se debater nas malhas mais
finas da rede do poder. Foi aí que apareceu a concretude do poder e ao mesmo tempo a fecundidade possível
destas análises do poder (...). O internamento psiquiátrico, a normalização mental dos indivíduos, as
instituições penais têm, sem dúvida, uma importância muito limitada se procura somente sua significação
econômica. Em contrapartida, no funcionamento geral das engrenagens do poder, eles são sem dúvida
essenciais (Foucault, 1990 a, p. 6).
Nessa perspectiva, a investigação do saber remete às relações de poder que lhe estão associadas na
constituição do “sujeito de conhecimento” – introdução da questão do poder como instrumento de análise
capaz de auxiliar o estudo da produção de saberes. Ou seja, a formação, tanto do sujeito quanto dos campos de
saber e de seus discursos, deve ser pensada em relação às suas condições políticas de possibilidade. A
referência às relações de poder na sociedade inclui – obviamente, mas não exclusivamente – a dimensão dos
interesses econômicos e das lutas. Nesse sentido, Foucault afirma que

existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e (...) estas
relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma
acumulação,uma circulação e um funcionamento do discurso. Não há possibilidade de exercício do poder sem
uma certa economia dos discursos de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigência. Somos
submetidos pelo poder à produção da verdade e só podemos exercê-lo através da produção da verdade (1990c,
p. 179-180).

Sendo assim, cabe assinalar como ponto de chegada (ou de partida?) dessa discussão teórico-metodológica
sucinta, que – considerando-se a obra de Foucault em sua trajetória descontínua – é a partir das condições
criadas pelo processo genealógico que se dá o manejo das ferramentas metodológicas apresentadas pela
arqueologia para análise de discursos. Esta, no momento, se apresenta como sugestão para se tentar

fazer revelar as práticas discursivas em sua complexidade e em sua densidade; mostrar que falar é fazer
alguma coisa – algo diferente de exprimir o que se pensa, de traduzir o que se sabe, e, também, de colocar em
ação as estruturas de uma língua; mostrar que somar um enunciado a uma série preexistente de enunciados é
fazer um gesto complicado e custoso que implica condições (e não somente uma situação, um contexto,
motivos) e que comporta regras (diferentes de regras lógicas e lingüísticas de construção); mostrar que uma
mudança, na ordem do discurso, não supõe “idéias novas”, um pouco de invenção e criatividade, uma
mentalidade diferente, mas transformações em uma prática, eventualmente nas que lhe são próximas e em sua
articulação comum (Foucault, 1995, p. 237).

NOTAS
* Pesquisador Visitante FIOCRUZ / FAPERJ.
Professor do Curso de Especialização em Saúde Mental (FIOCRUZ/ENSP/ NUPES/LAPS).
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental (LAPS) / Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde
(NUPES) / Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) / Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
*1 Os conceitos de ruptura e de obstáculo epistemológico (introduzidos por Bachelard) são essenciais para a
compreensão da dimensão dialética da epistemologia francesa. Vide Bachelard (1977).
*2 A questão das modificações do discurso médico ao nível enunciativo se destaca em O nascimento da
clínica (Foucault, 1994).
*3 Estudo privilegiado em As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (Foucault, 1985).
*4 Em A Arqueologia do saber, notadamente nos capítulos IV.5, IV.6 e V, Foucault responde a várias críticas:
que a sua descrição das formações discursivas abandonava as séries temporais; que buscava regras gerais em
todos os pontos do tempo; que recorria à cronologia apenas para fixar “nascimento” e “morte” (um
“calendário rudimentar”); entre outras.
*5 Sobre o conceito de imanência, usado para questionar as concepções de transcendência, determinação
linear e causalidade, consultar Deleuze (1978).
*6 Para aprofundar a discussão sobre o conceito de campo, a questão dos limites e a teoria geral dos campos
em Bourdieu, considerar os capítulos II (“Introdução a uma sociologia reflexiva”) e III (“A génese dos
conceitos de habitus e de campo”) de O poder simbólico (1989).
*7 A Verdade e as formas jurídicas é o resultado da compilação de cinco conferências realizadas por Michel
Foucault na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1974. Logo em suas primeiras
páginas, o autor se refere à série de conferências como “hipótese de trabalho para um trabalho futuro.” (1974,
p. 5)
*8 Entre 1969 (A Arqueologia do saber) e 1975 (Vigiar e punir), Foucault publica L’ordre du discurs (1971),
Ceci n’est pas une pipe (1973) e A Verdade e as formas jurídicas (1974); além de coordenar a edição de Moi,
Pierre Rivière, ayant égorgé ma mère, ma soeur et mon frère (1973).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

Grupos excluídos no discurso da mídia: uma análise de discurso


crítica

RESUMO

Este trabalho considera o processo discursivo nos meios de massa, em especial a forma como grupos
minoritários são representados nos textos de notícias, no contexto do processo de democratização no
Brasil. O foco recai sobre questões como discriminação e formas de representação no discurso da mídia,
meios de massa e democracia. O trabalho analisa seis exemplos de textos dos jornais em seus aspectos
lingüísticos e na relação com a realidade social mais abrangente de acordo com os princípios da Análise de
Discurso Crítica.

Palavras-chave: Discurso; Análise de Discurso Crítica; Mídia; Minorias; Democratização.

1. Introdução

O século XIX foi marcado pelo surgimento de inovações tecnológicas que facilitaram a comunicação entre
as pessoas, permitiram a transmissão de informações a grandes distâncias, o que resultou num
desenvolvimento sem precedentes da imprensa, tanto como indústria quanto como instituição social.

O telefone, o telégrafo, a linotipo, associados a mudanças no sistema capitalista e na sociedade industrial-


mercantilista contribuíram para o aparecimento das agências de notícias e a especialização do jornalismo.
A imprensa passa a se firmar como empresa. Ao tempo que se apoia na dependência da publicidade, vê
crescer a influência do jornalismo na formação da opinião pública e na construção do pensamento político.

Era, no entanto, apenas um preâmbulo para o que se seguiu no século XX: mais tecnologia a serviço da
comunicação e, por conseguinte, do poder. Ganha peso a consciência do papel imprescindível de uma
imprensa livre na sociedade. Ao longo do século, embora a democracia tenha sofrido graves reveses na
maioria dos países ocidentais, o regime democrático acabou impondo-se senão como regime de governo
perene, ao menos como alvo a ser atingido.

O valor da imprensa como porta-voz da sociedade e fiscal do poder público ganhou uma relevância
tamanha a ponto de ser comparada a um dos Poderes da tríade proposta por Montesquieu, sobre a qual
se assentariam os fundamentos do Estado moderno: Executivo, Legislativo e Judiciário. A imprensa seria,
portanto, o quarto poder desse esquema.

Afastada, porém, a idealização romântica de uma imprensa sempre vigilante e distante do poder, a
realidade tem mostrado que a imprensa é atravessada ela mesma por interesses os mais diversos,
freqüentemente difusos e antagônicos.

Voltando à análise dos desdobramentos no decurso do século XX, no desenvolvimento da imprensa teve
papel de destaque a indústria de entretenimento, pela popularização dos meios de massa, pelo surto de
urbanização e pelo fortalecimento e prestígio da publicidade.

No século XX, além de jornais e revistas impressos, a imprensa passa a incorporar também novas
tecnologias como o rádio – desde os anos 20 – a televisão, a partir dos anos 50 e já nos anos 90, a
internet.

2. A emergência da mídia nas sociedades contemporâneas

Essa ampliação de horizontes trouxe consigo mudanças de ordem terminológica. A incorporação do termo 1
"mass media" ou simplesmente "media" é sintomática desses desdobramentos. Trata-se de uma
expressão abrangente que abarca todos os meios nos quais se pratica o jornalismo e por meio dos quais
ele flui e exerce influência na sociedade. E não só. A mídia passa a ser vista também "como um espaço no
campo do lazer ou do entretenimento" (Gohn 2000: 19).
Pesquisadores têm considerado, desde os anos 70, a função mediadora dos meios de massa. O exercício
do poder, a atuação pública, a manifestação da política passam pela atuação da mídia. Não se trata
apenas de uma questão da influência – a favor ou contra – exercida pelos meios de massa em
determinado contexto, mas, sim, do fato de que a mídia se constitui num espaço de atuação política. É a
arena sem a qual torna-se impossível pensar o funcionamento a contento da democracia hoje.

Isso não significa que a mídia, pelo menos até o momento, elimine as demais formas de atuação dos
políticos e dos cidadãos. Atua, antes, de modo complementar, embora com primazia em termos de
alcance e influência sobre as demais formas de atuação. Dá-se entre a mídia e as outras formas de
atuação política uma relação de mútua influência.

O que um parlamentar diz na tribuna ou em entrevista ou numa simples conversa com jornalistas integra
uma teia de discursos que tanto é uma resposta a sentidos veiculados anteriormente como pode suscitar
novas articulações e efeitos de sentido 2. Utilizando a mídia, os políticos também testam idéias, provocam
reações e suscitam manifestações.

Comícios, passeatas, eventos políticos tornam-se matéria-prima para o discurso da mídia. A quantidade
de participantes num evento, o tipo de público, entidades envolvidas, apoios, reações e impacto no
cotidiano da cidade são fatores que ganham ou perdem peso conforme o tratamento que a mídia lhe
dispensa. Pelo alto grau de influência da mídia no mundo atual, já se fala em sociedade midiacêntrica.

Considerando a sociedade brasileira, vale a pena destacar dois aspectos. Primeiro, a mídia como espaço
de disputa muito acirrada em razão dos graves conflitos sociais que permeiam a sociedade. Segundo, a
tendência da mídia a intervir em funções específicas do Estado, preenchendo um vazio de exercício de
poder, seja por omissão diante de necessidades e reivindicações de grande parte da população, seja pela
fragilidade de uma cidadania ainda em processo de fortalecimento.

Quanto ao primeiro aspecto, a mídia, por meio de seus variados produtos e programas, torna-se um
espaço de disputa de sentidos sobre a realidade social complexa. Tal atividade é sujeita a questões de
ordem ideológica, com vistas à manutenção e contestação do poder. Exemplo notável foi a campanha
pelas eleições diretas para presidente no Brasil em 1984. A princípio, boa parte da mídia ignora os
comícios realizados com a participação de centenas de milhares de pessoas. A mudança na postura só
ocorre quando se fortalece o consenso pró-eleição direta.

Outro caso curioso é a postura da mídia frente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Criado
em 1985, o MST foi duramente hostilizado, quando não ignorado, nos dez primeiros anos de atuação. A
partir dos meados dos anos 90, nota-se uma certa abertura na mídia com a veiculação de matérias
jornalísticas favoráveis e até uma alusão benéfica ao Movimento numa telenovela 3 de grande audiência.
No estudo que fez sobre a produção do noticiário sobre a telenovela O Rei do Gado na revista Contigo,
Ofelia Morales (1999) observa: "Em O Rei do Gado o autor quis mostrar os equívocos que existem sobre a
propriedade da terra, sobre o imposto rural e a invasão-ocupação de terras" e veicula a opinião do autor
da novela: "A reforma agrária não é o assunto mais importante da minha novela, mas o assunto mais
importante do nosso país" (1999:59).

M. G. Gohn (2000), em pesquisa sobre a relação da mídia com o MST aponta a marcha de abril de 1997,
organizada pelo Movimento, como um momento em que o MST angariou legitimidade popular e "forçou o
apoio em alguns setores da mídia." Gohn observa:

"A mudança operada no tratamento concedido por vários órgãos da mídia ao MST nos dias que
precederam à conclusão da marcha foi espantosa. Repentinamente, os sem-terra deixaram de ser vistos
como um "bando de radicais" e ganharam o status da cidadania de trabalhadores em luta pela Reforma
Agrária, num exercício da democracia" (p.141).

Esses exemplos de abertura e diálogo, no entanto, não são a regra na cobertura de política pelos meios de
massa. A disputa acirrada por espaço na mídia, o comprometimento das empresas com a manutenção da
ordem e as vinculações político-ideológicas dos donos dos meios e de boa parte dos jornalistas fazem com
que alguns temas não sejam discutidos, por exemplo, no horário de maior audiência e, portanto, de maior
prestígio.

Quanto ao segundo aspecto, nota-se uma tendência, não só no jornalismo, de partilhar funções
eminentemente estatais como, por exemplo, o processo judicial e a atuação policial-investigativa. É
comum, assistir, na mídia, a simulacros de julgamento, à cobrança da punição exemplar de criminosos, ao
levantamento de dados de inquéritos de casos de grande repercussão. Nem sempre, essa intervenção é
anti-ética, mas deve-se atentar para o fato de que, ao assumir certas posturas, a mídia acaba tendo uma
influência gigante, ocupando um espaço indevido. É freqüente nas coberturas jornalísticas de crimes a
veiculação de hipóteses quanto à autoria, tentativas de explicação do crime bem como a condenação
antecipada de suspeitos baseada na veiculação de fitas gravadas, muitas vezes sem autorização judicial.

Além disso, o que caberia à sociedade como um todo, mediante as várias instituições e organismos como
universidades, igrejas, ONGs, partidos políticos, associações de classe, fica, de tal modo, restrito à
discussão realizada nos meios de massa, nem sempre plural, nem sempre aberta ou acessível à maioria
da população.

Antes de avançar nessa discussão, é preciso examinar o conceito de discurso e como ele está sendo
utilizado neste trabalho.

3. Linguagem, discurso e processo social

De acordo com N. Fairclough, o discurso é "a linguagem como forma de prática social". Ao incorporar o
conceito de ideologia ao estudo da linguagem, a análise do discurso abre novas frentes de investigação
dos fenômenos lingüísticos. Para J. Thompson (1998), ideologia é "sentido a serviço do poder". Segundo
ele, "estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar
relações de dominação" (1998:76). No caso da análise de discurso textualmente orientada (ADTO),
também conhecida como análise de discurso crítica (ADC), busca-se examinar como a ideologia opera por
meio do texto e de que modo essas operações atuam na constituição dos sujeitos sociais. O próprio
Thompson identificou cinco modos de operação da ideologia: a legitimação, a dissimulação, a unificação, a
fragmentação e a reificação. Esses modos, por sua vez, seriam desdobrados em diversas estratégias de
construção simbólica.

O processo discursivo, segundo Fairclough, constitui-se em três dimensões, que são o texto, a prática
discursiva – incluindo aqui, a produção, a distribuição e o consumo – e a prática social. Analisar um
discurso, portanto, seria esquadrinhá-lo através dessas três dimensões por meio de três formas, a
descrição do texto, a interpretação e a explicação da prática social. O trabalho do analista é investigar o
discurso com base na interligação dessas dimensões do processo.

L. Chouliaraki e N. Fairclough (1999) argumentam que o analista deve partir da percepção de um


problema relacionado ao discurso em alguma parte da vida social. A análise envolveria três perspectivas:
a análise da conjuntura (uma especificação da configuração de práticas em que o discurso em questão
está localizado); a análise da prática ou práticas específicas da(s) qual(is) o discurso é um momento; a
análise do discurso propriamente dita, voltada para as estruturas da língua e também para a interação
com os recursos sociais e o modo como estes trabalham entre si e no texto. O processo de interpretação
envolve compreensão e explicação.

Nessa linha, a ADC postula que qualquer texto pode ser compreendido de diferentes formas. Não se deve
falar, portanto, em sentido único determinado. Compreensões diversas de um mesmo texto resultam de
combinações diferentes de suas propriedades e das de quem o interpreta.

A escola francesa de análise do discurso tem em M. Pêcheux e M. Foucault os principais formuladores. O


primeiro busca um elo entre uma teoria social do discurso e um método de análise textual. Desenvolvendo
a teoria marxista de ideologia conforme Althusser, Pêcheux trabalha o conceito de linguagem como "uma
forma material da ideologia". O discurso seria, então, um espaço de manifestação da luta ideológica no
funcionamento da linguagem. Ele valoriza categorias de análise como formação discursiva – que
"determina o que pode e deve ser dito 'em certo contexto' – posição de sujeito, e interdiscurso.

Já Foucault acentua a relação entre discurso e poder, a construção discursiva de sujeitos sociais e do
conhecimento e o funcionamento do discurso na mudança social. O discurso tem papel privilegiado na
constituição do social, sendo a interdiscursividade e a intertextualidade, aspectos relevantes em qualquer
análise de discurso que se empreenda. Fairclough privilegia em Foucault a natureza discursiva do poder.

Ele critica a ambos os pensadores em seus pontos distintos. Em Pêcheux, Fairclough critica o tratamento
insatisfatório dado aos textos, tratados como produtos. Outro ponto negativo seria a minimização de
questões como os processos discursivos de produção e interpretação. Sua crítica ao trabalho de Foucault
prende-se ao fato de este não trabalhar com análise discursiva e lingüística dos textos reais, numa
perspectiva que daria ênfase exagerada à extensão com que os sujeitos são manipulados pelo poder,
desprezando assim as possibilidades de contestação e mudança. Outro enfoque é quanto aos efeitos
constitutivos do discurso que na análise foucaultiana perdem de vista a realidade material que se constitui
de objetos e sujeitos sociais pré-constituídos.

Esta pesquisa alinha-se, portanto, com essa perspectiva expressa por Fairclough. Daí porque investem em
análise do texto, não apenas análise do discurso em seus aspectos mais abrangentes ou mesmo dos
enunciados, mas sim o exame das próprias estruturas de um determinado texto. Nessa perspectiva, a
ADC propõe-se a encetar uma análise lingüística propriamente dita como suporte de uma análise do
processo discursivo. Valoriza-se, portanto, uma especificidade lingüística nessa visão do discurso.

Nesse percurso teórico, valorizam-se aspectos como a polifonia, vista como a capacidade de manifestar
em seu interior diversas vozes de sujeitos, da mesma formação discursiva ou de formações discursivas
distintas. Outro conceito importante é o de intertextualidade – a possibilidade que um texto tem de
veicular sentidos advindos de outros textos. E também o de formação discursiva que – segundo Michel
Pêcheux – deve ser vista como aquilo que determina, em uma dada formação ideológica "o que pode e
deve ser dito".

A ADC valoriza a transdisciplinariedade na investigação dos fenômenos relacionados à linguagem, em


referência a fenômenos sociais que têm sofrido profundo impacto da modernidade tardia. Chouliaraki e
Fairclough (1999) apostam na contribuição de outros campos do conhecimento. Segundo eles, as
construções teóricas do discurso que a ADC tenta operacionalizar podem advir de várias disciplinas.
Operacionalizar significa assim trabalhar num meio transdisciplinar em que a lógica de uma disciplina é
posta a serviço de outra.

Essa compreensão permite a reelaboração de questões antigas como poder e ideologia à luz de conceitos
que emergiram mais recentemente, como identidade e diferença, esfera pública, representação e outros.
Na visão de H. Widdowson (2000:155), a ADC pressupõe uma posição política. Ele cita Caldas-Coulthard e
Coulthard (1996:xi):

"A Análise de Discurso Crítica é essencialmente política no propósito de seus praticantes agirem no mundo
para transformá-lo e desse modo ajudarem a criar um mundo em que as pessoas não são discriminadas
em razão de sexo, credo, idade ou classe social".

Engajamento semelhante é defendido por Chouliaraki e Fairclough. Segundo eles, a Análise de Discurso
Crítica "é uma questão de democracia no sentido de que seu objetivo é submeter ao controle democrático
aspectos do uso social contemporâneo da linguagem que estão freqüentemente fora do controle
democrático (...) debater a linguagem não apenas no espaço público das universidades, mas também,
dentro do diálogo entre os espaços públicos" (1999:9).

Uma das conseqüências dessa nova perspectiva lingüística é o encaminhamento de investigações para
diversos fenômenos que antes ficavam além do interesse dos lingüistas. O discurso da mídia é um desses
focos. A idéia não é simplesmente estudar o conteúdo da mensagem dos meios de massa ou seu impacto
junto ao grande público, mas sim vincular esse discurso à realidade social mais abrangente. É estudar as
formas de manifestação da linguagem na mídia, seu papel na construção de sentidos manipulados a
serviço do poder.

O lingüista T. van Dijk (1999) defende o acesso ao discurso como uma medida de poder e a Análise de
Discurso Crítica como um importante instrumento de diagnóstico para a avaliação da dominação social e
política. Ele concebe o acesso das minorias aos meios de massa como condição crucial para sua
participação na definição pública de sua situação. Van Dijk aponta as limitações nessa conjuntura:

a) a ausência de jornalistas oriundos de grupos étnicos minoritários;

b) as restrições de poder econômico e social das minorias que fazem com que elas fiquem privadas de
formas comuns de acesso rotineiro aos meios de massa, tais como coletivas de imprensa, releases e
seções de relações públicas;

c) o acesso diferenciado das elites e das minorias à mídia que resulta em acesso diferenciado às
estruturas de relatos de notícias também; e

d) a relação entre a cobertura e os destaques que são dados a certos temas e questões, relevantes para
as minorias, e o acesso limitado que essas têm em definir sua situação.

Van Dijk conclui: "nas sociedades modernas, o acesso ao discurso é uma condição primária para a
manutenção do consenso, e, portanto o meio mais efetivo de exercer poder e dominação" (1999:102).

4. Democracia hoje

Para que seja relevante, uma crítica à atuação dos meios de massa e à forma como eles veiculam
imagens de representação de grupos de excluídos da sociedade deve considerar o tipo de sociedade, a
forma de organização social e o grau de conscientização da sociedade em busca do aperfeiçoamento de
suas instituições sociais e de governo. Um conceito fundamental, portanto, é o de democracia. R. Dahl
(2001) chama a atenção para a distinção entre a realidade da Grécia e a dos países que perseguiram a
democracia na idade moderna. Na Grécia antiga, o que se via era a junção de cidades-estado, nada
semelhante ao que passou a existir a partir do século XVIII. O mesmo autor relativiza a discussão ao
afirmar que a democracia pode ser inventada e reinventada de maneira autônoma "sempre que existirem
as condições adequadas". Dahl (2001: 49)sugere cinco critérios do bom funcionamento de um regime
democrático. São eles: a participação efetiva, isto é, uma prática generalizada de oportunidades iguais e
efetivas para os cidadãos; igualdade de voto, traduzida no acesso e na garantia de igualdade em seu
exercício; entendimento esclarecido, ou seja, o conhecimento e a compreensão mínimos das políticas em
curso; controle do programa de planejamento, isto é, a garantia de controle pelos cidadãos do processo
decisório; e, por fim, a inclusão dos adultos que vem a ser a inclusão de todos os cidadãos, sem exceção
senão daqueles que ainda não são capazes de conduzir sua própria vida.

N. Bobbio (2000), ao discutir o futuro da democracia, propõe uma definição mínima que teria a ver com
um conjunto de regras "que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais
procedimentos", entre os quais, a larga abrangência dos cidadãos aptos a fazê-las, o acatamento das
decisões tomadas pela maioria e a plena vigência das liberdades.

Já A. Touraine (1999), em sua Crítica da modernidade, faz uma reflexão sobre democracia e sua
relevância na discussão sobre a realidade do sujeito na modernidade. Segundo ele, a idéia de democracia
que num primeiro momento surge atrelada à realidade da nação e da sociedade evolui na modernidade
para a vinculação à idéia de sujeito.
Democracia é "antes de tudo o regime político que permite aos atores sociais formar-se e agir livremente"
(Touraine 1999:345). No que diz respeito às instituições políticas, a democracia seria ancorada em três
princípios, a saber, o reconhecimento dos direitos fundamentais, os quais o poder deve respeitar; a
representatividade social dos dirigentes e da sua política e, por fim, a consciência de cidadania, isto é, o
fato de pertencer a uma coletividade fundada sobre o direito.

Touraine entende a democracia como exercício das liberdades e respeito a elas, além da proteção dos
sujeitos dos tentáculos do poder. Para ele, o regime democrático fortalece os sujeitos e, em seu
aperfeiçoamento, nota-se um processo de "subjetivação da vida política". Ele conclui:

"A democracia não é o triunfo do povo, mas a subordinação do mundo das obras, das técnicas e das
instituições, à capacidade criadora e transformadora dos indivíduos e das coletividades".(1999: 370)

A propósito, e recordando o passado autoritário da política brasileira, cabe investigar os níveis de


engajamento da sociedade brasileira em busca do fortalecimento do regime democrático. J. A. Moisés,
numa pesquisa sobre as bases sócio-políticas da legitimidade democrática (1995), argumenta que no
período dos três primeiros governos civis pós-regime militar (1985/1994) nota-se na sociedade brasileira
não só transformações democráticas da estrutura política, mas também profundas mudanças na cultura
política.

Este trabalho vê a democracia brasileira como processo, com conquistas e problemas a serem resolvidos,
como a incapacidade de promover políticas efetivas e eficazes de erradicação da miséria e analfabetismo,
de inclusão social em sentido amplo, e de combate ao racismo, à discriminação de vários feitios, à
impunidade dos poderosos etc. O poder exacerbado dos meios de massa frente à cidadania, a falta de
controle eficaz e legítimo da sociedade sobre os mesmos e a forma como os excluídos são representados
nos mesmos são exemplos concretos da necessidade de prosseguir nessa busca do alargamento do
regime democrático.

Na seção seguinte, vamos examinar dados de jornais impressos e telejornais que explicitam essa
realidade.

5. A representação de grupos excluídos no discurso da mídia

O jornalismo – apenas uma entre as formas de atuação dos meios de massa – é essencialmente
construção da realidade, produtor e veiculador de sentidos, detentor de um caráter eminentemente
heterogêneo. A notícia não é apenas o produto resultante do tratamento que se dá a um fato histórico,
mas resultado de outra elaboração, aquela que é feita do fato em si, o recorte que é feito de um
acontecimento histórico. Nas palavras de Ribeiro (2000: 26):

"Não existe fato histórico 'bruto'. Ele é sempre produto de algum tipo de elaboração teórica que o
promove à categoria de histórico. Pressupõe um sistema de referência e uma teoria, no quadro dos quais
operam-se a seleção e a valorização dos acontecimentos e processos".

Nesta seção, vamos examinar a representação no discurso da mídia de três segmentos da população
brasileira – os índios, os negros e os meninos de rua – historicamente excluídos.

Como será visto adiante, no processo discursivo da mídia, a escolha lexical, o uso de figuras de
linguagem, a intertextualidade, o pressuposto e o implícito aliados a estratégias discursivas como o
apagamento de sentidos e a modalização constroem um determinado modo de representação de índios,
negros e meninos de rua.

Escolhemos seis textos ilustrativos para análise neste trabalho. Dois para cada segmento excluído. Dos
textos referentes aos índios, o primeiro (I – i) é uma reportagem do jornal Correio Braziliense (Assurini
fecham rodovia no Pará, 22/04/99) e trata do protesto de um grupo de índios que fecharam o tráfego
numa rodovia federal no interior do Estado do Pará como forma de chamar a atenção para as
reivindicações da tribo. A reportagem descreve a situação, informa sobre os antecedentes e, ao final,
encaminha para a gravidade do problema. O segundo texto (I – ii) é uma reportagem do jornal O Globo
(Índio agora não quer mais apito, que é educação – Professores da aldeia, treinados por governos e
ONGs, alfabetizam na língua materna e em português ao mesmo tempo, 18/04/99) que aborda uma
novidade na política educacional do país voltada para comunidades indígenas, o ensino concomitante da
língua portuguesa e da língua materna. A matéria analisa a política de ensino e veicula a opinião de
professores indígenas e autoridades governamentais.

Dos textos referentes aos negros, um deles (II – iii) é uma reportagem do jornal O Globo (Remanescentes
de um quilombo perdido conquistam a posse da terra em Paraty – Comunidade de descendentes de
escravos recebe hoje o título de propriedade, 21/03/99) e fala de uma comunidade de descendentes de
escravos negros que recebeu o título de propriedade das terras que ocupavam há mais de 150 anos. No
texto, como se verá, os negros figuram como beneficiários de uma política social resultante de um
dispositivo da Constituição de 1988 – o direito à terra para comunidades remanescentes de quilombos. O
outro texto (II – iv) é uma reportagem do Jornal do Brasil (Contra o racismo – Deputado acusado de
discriminação poderá ser cassado, 10/02/99) sobre um caso de racismo envolvendo um deputado federal
e um co-piloto de uma companhia aérea. Por ofensa de cunho racista, feita ao co-piloto, o deputado
federal que viajava de São Luís para tomar posse em Brasília chegou a ser preso em flagrante. A matéria
explora o andamento do processo, complexo – por envolver um parlamentar.

Finalmente, dos textos que abordam a questão dos meninos de rua, o primeiro (III – v) é uma
reportagem veiculada pelo Jornal do Brasil (A morte ronda os menores carentes – Estatísticas revelam
que desde 86 foram assassinadas no Rio mais de 7 mil crianças, 24/01/99) que analisa o crescimento da
violência contra crianças e adolescentes no estado do Rio de Janeiro, com dados estatísticos da situação.
Já o segundo (III – vi) é uma reportagem do Jornal do Brasil (Programa chamado tolerância – Trabalho de
liberdade assistida para menores infratores tem 200 voluntários, 07/03/99) que aborda uma nova política
de tratamento de meninos e meninas de rua infratores, adotada pela Prefeitura de Belo Horizonte.

A seguir, são apresentados e discutidos alguns enunciados extraídos de textos sobre esses segmentos.

I – Os índios:

(I – i) "E para completar, o protesto dos índios ganhou o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST) na região."

O enunciado em questão começa pela conjunção aditiva "e", seguida pela expressão "para completar". A
construção é muito comum em situações de fala ou escrita como recurso lingüístico de reforço para algo
muito importante que se segue imediatamente. Nesse caso, o ponto alto é a associação estratégica entre
índios em protesto e um Movimento conhecido nacionalmente pela capacidade de luta por reforma
agrária.

A associação entre os dois grupos ganha mais dramaticidade uma vez que lá mesmo no Pará, três anos
antes, um protesto do MST também resultou num bloqueio de rodovia. O fato inclusive é explorado pelo
texto em outra situação em que mostra o cuidado da polícia para evitar uma intervenção precipitada.

Em (I – i), o que emerge é uma prevenção contra movimentos de reivindicação. O texto é construído do
ponto de vista da sociedade, excluindo, porém, os grupos sociais que reivindicam direitos. Daí porque a
relevância que é dada no texto não é tanto a questões como justiça e verdade dos fatos. Não se ouve a
resposta do governo à reivindicação do grupo. O foco é o incômodo e a anormalidade que o bloqueio de
uma estrada traz aos usuários.
(I – ii) "Índio agora não quer mais apito, quer é educação – Professores da aldeia, treinados por governos
e ONGs, alfabetizam na língua materna e em português ao mesmo tempo."

Embora no texto predomine o respeito à comunidade indígena, o enunciado do título fortalece uma
imagem de certo modo já consolidada acerca dos índios, conforme representação em textos diversos,
filmes, gravuras e fotografias: índios cercando não-índios em busca de objetos como espelhos, escovas,
colares e apitos. O desconhecimento dos índios, principalmente no passado, de objetos do dia-a-dia de
outros povos é explorado como algo cômico.

O título leva em conta um pressuposto que é marcado pela negação – o de que se hoje o que os índios
querem é educação, no passado eles queriam mesmo era apito. O preconceito veicula uma visão
reducionista, constrói uma imagem cujo efeito é o de tornar o fato algo jocoso, capaz de provocar riso. O
viés preconceituoso que está ausente no texto, aparece, no entanto, de modo explícito no título. Note-se
que exatamente ali – no enunciado que encaminha a reportagem – o preconceito contra os índios deixa
sua marca na forma de um pressuposto. Ou seja, contrário ao encaminhamento da reportagem o título da
matéria, em geral, elaborado pelo editor e não pelo repórter, fortalece um viés tradicional no
entendimento da questão.

II – Os negros:

(II – iii) "Com a decadência do ciclo do ouro, ganharam o direito de viver nas terras hoje batizadas de
Campinho da Independência."

O enunciado explora a perspectiva política da situação original. Em vez do reconhecimento do direito


natural e da resistência heróica de um povo, explicita-se a concessão do benefício, em razão da
desvalorização resultante do fim do ciclo do ouro na região. Nesse caso, os ex-escravos só tiveram acesso
à terra em função da falta de perspectiva de lucro das terras. A expressão "ganharam o direito de viver
nas terras" neste enunciado transforma reparação em concessão.

Pela perspectiva de M. A. Halliday (1975:153), tem-se aí um verbo transitivo, de ação, sendo as ex-
escravas sujeito dessa ação. O uso desse tipo de verbo no enunciado cumpre a função ideativa da
linguagem qual seja a de expressar conteúdo e fornecer estrutura à experiência. Mas ao mesmo tempo, o
verbo permite a compreensão de que o sujeito em questão é beneficiário dessa ação, posto que o verbo
"ganhar" não está no lugar de "conquistar", mas sim no de "receber". A expressão que o antecede, Com a
decadência do ciclo do ouro, esvazia o poder de decisão do sujeito dessa ação e expõe o aspecto do
benefício.

Constrói-se, assim, um sentido de apagamento do processo escravagista. Ou seja, o fim da lucratividade


com a extração do ouro onera o sustento da mão-de-obra escrava. As escravas foram dispensadas – em
razão das despesas com a manutenção delas – para procurarem seu próprio sustento.

Veiculam-se assim sentidos que remetem à nova ordem de discurso que se impôs ao país com a abolição
da escravatura. Em vez de reparação social, justiça e reforma agrária, apenas, a concessão de benefícios.
Os negros, descendentes de escravos, aparecem como beneficiários de políticas sociais que lhe são
concedidas, em vez de figurarem como os heróis numa luta contra injustiças e explorações.

(II – iv) "Segundo o secretário, o inquérito deveria ter sido concluído pela Polícia Federal e enviado para o
Ministério Público Federal. A autorização da Câmara dos Deputados para o prosseguimento do processo só
seria necessária caso os promotores concluíssem que havia elementos suficientes para oferecer denúncia
contra o deputado pelo crime de racismo."
No enunciado nota-se a referência ao contexto político e jurídico brasileiro. Em dois enunciados, o uso de
formas verbais perifrásticas sinaliza a dificuldade que as instituições têm em lidarem com a questão: "o
inquérito deveria ter sido concluído" e "a autorização (...) só seria necessária."

O uso das formas verbais nesse contexto reforça no exercício da intertextualidade o temor da impunidade.
As duas formas verbais "deveria ter sido" e "só seria" aliadas à condicional "caso os promotores
concluíssem que havia elementos suficientes" cumprem a função de modalização. Pela análise da
realidade social brasileira pode-se notar que a escolha desses modalizadores não ocorre simplesmente em
razão de o racismo figurar como um aspecto do Direito ainda pouco explorado pelos juristas e no exercício
cotidiano da Justiça, mas também em função do envolvimento de um parlamentar que em geral
costumam se livrar de processos criminais em razão do instituto da imunidade parlamentar.

III – Os meninos de rua:

(III – v) "A morte ronda os menores carentes"

O enunciado propicia uma escolha lexical e ainda uma figura de linguagem – a personificação, pela qual
um sujeito abstrato ganha o poder de agência. Ambas constróem determinada imagem para os meninos e
meninas de rua.

O uso da expressão "menor" associada ao adjetivo "carente" potencializa uma visão dos meninos de rua
como vítimas. Na linguagem corrente, o termo "menor" costuma ser aplicado a crianças e adolescentes na
faixa etária até 18 anos. A referência aí é aos Códigos Civil e Penal e sobretudo à prática social que o
aplica para caracterizar meninos de rua ou crianças desassistidas. Isso, à revelia dos termos "criança" e
"adolescente", consagrados numa lei específica datada de 1990.

A utilização do termo não se faz à toa. Não é comum aplicar-se o termo "menor" a crianças das classes
média e alta ou ainda que famílias pobres o usem em referência a seus próprios filhos, o que demonstra o
grau de discriminação que o mesmo carrega em alusão ao contexto social. No dia-a-dia, o público nessa
faixa etária e que mora na rua costuma receber a denominação de menor (menores), trazendo consigo
uma suspeita permanente de envolvimento com delitos.

A personificação da morte sugere que esta não é efeito de uma realidade social praticada por sujeitos, e
sim uma situação que parece fugir ao controle social. Em vez de recair sobre os agentes e responsáveis, o
foco concentra-se na conjuntura de perigo e adversidade para os meninos e meninas de rua.

Assim, além da exclusão objetiva, ocorre ainda a exclusão simbólica. O processo discursivo engendra e
mobiliza sentidos que constroem para os meninos de rua um lugar fora da sociedade. Mas não apenas
isso. Há outras estratégias discursivas usadas nessa caracterização. Os meninos de rua são apresentados
de modo a despertar sentimentos de piedade, ou seja, aparecem como alvos da ação beneficente,
paternalista ou simplesmente do olhar caridoso. Tal construção esconde, na verdade, o sentido de
dignidade ultrajada pela situação em que se encontram e pela qual a sociedade e o Estado são
responsáveis.

(III – vi) "Depois de condenado à medida de liberdade assistida, o menor é encaminhado à divisão
administrativa regional mais próxima de sua casa."

O enunciado veicula a expressão "condenado" – só aplicada a adultos – ao lado de uma antítese:


condenação e liberdade. A forma verbal "condenado" é própria da prática discursiva à qual se ligam
setores da sociedade que reclamam medidas mais severas para se lidar com crianças e adolescentes
envolvidos com infrações as mais diversas. Ela implica tribunal, aplicação de punição e um rigor, só
aplicados a um réu adulto. Em seguida, o termo "menor" mais uma vez suscita lugar específico para
aquele que comete infração: o pertencimento ao grupo dos meninos de rua.
O enunciado, porém, expõe contrastes. Expressões impróprias, severas ao lado de expressões que
amenizam o efeito das anteriores. Assim, trata-se de uma condenação, mas é "à liberdade", a medida
educativa que é aplicada é o acompanhamento por agentes da Divisão Administrativa e por voluntários da
comunidade. O "menor" não vai para a cadeia, mas vai ser acompanhado. Ou seja, mesmo quando aborda
medidas educativas para crianças e adolescentes, o discurso da mídia acaba referindo-se à prática social
vigente, que demanda punição mais rigorosa para crianças infratoras. Ela aí emerge pelo uso de
expressões já popularizadas, o que reforça imagens estereotipadas sobre essas crianças e adolescentes.

6. Considerações finais

A Análise de Discurso Crítica avança como uma teoria transdisciplinar que – apoiada em fundamentos da
linguagem – busca a compreensão da realidade social e mais que isso, a intervenção na realidade social
pelo modo como aponta na prática discursiva o lugar da desigualdade e exclusão, o que possibilita
entrever meios de superação dessa realidade. Frente aos segmentos excluídos da população brasileira e o
discurso que a mídia constrói em relação a eles, percebe-se logo que são várias as frentes de luta.

Uma das mais relevantes – pelo papel que desempenha na formação da cultura e da imagem que se
constrói a respeito dos excluídos – é a que se trava no campo lingüístico e discursivo. Este trabalho trouxe
uma pequena amostra do processo discursivo em vigor. O que se pretende é identificar possibilidades de
atuação frente a um discurso em contínuo processo de construção e reelaboração.

A luta pela democratização na sociedade brasileira deve ser prioridade na agenda política. O processo está
longe de um patamar satisfatório e tal pensamento deve ser assumido pelos líderes políticos, governantes
e demais lideranças da sociedade. Com tantos excluídos, qualquer estabilidade é provisória e circunscrita
a aspectos da conjuntura política.

O processo democrático brasileiro precisa se radicalizar, isto é, ampliar-se para alcançar os mais variados
segmentos da população brasileira, aí inclusos índios, negros e meninos de rua. Para o sociólogo Betinho:
"As condições institucionais básicas estão dadas para que a luta pela democracia sobreviva à crise
econômica e social e se transforme no instrumento fundamental para a solução de todos os problemas da
sociedade"(: 21).

Ao se pensar um projeto de democracia para o Brasil, há que se tratar especificamente do processo


discursivo da mídia. Medidas como o aperfeiçoamento do direito de resposta, incluindo mudança na
legislação, acelerando a aplicação da Justiça nesses casos, o fortalecimento do exercício ético da
profissão, garantia de espaço igualitário nos programas e produtos da mídia de representantes de
movimentos populares e lideranças da sociedade civil, combate vigilante contra expressões, tratamento e
postura de discriminação em especial de gênero, raça, credo religioso, postura política, origem ou classe
social, controle social da programação dos meios de massa entre outras políticas.

De sua parte, os donos dos meios de massa, jornalistas em cargos de chefia e profissionais da mídia em
geral precisam avançar rumo a uma maior abertura para a sociedade. Sem essa conversão de sujeitos e
de processos de produção a essa perspectiva democrática, é de se temer, seja pelo alcance, ou mesmo
pelo futuro dessa democracia. Uma nova perspectiva discursiva dos meios de massa em relação às
minorias surge como prioridade nessa tarefa de ampliar os horizontes do processo de democratização na
sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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E-mail: andre33@uol.com.br
1 Na literatura em língua portuguesa, foram cunhadas as expressões "meios de comunicação de massa",
mais popular, e também, menos freqüente, "meios de massa". Ultimamente, o termo "mídia"
correspondendo ao "media" do inglês está consagrado. Originalmente, a expressão vem do latim "media"
e significa "meio".
2 Baseada em M. Pêcheux, E. Orlandi (1990) discute a questão do movimento de identidades que é
"função da incompletude do sujeito e do sentido." Desse modo, "o sentido não tem origem . Não há
origem do sentido nem no sujeito (onto) nem na história (filo). O que há são efeitos de sentido" (id.:42)
3 A telenovela "O Rei do Gado" foi veiculada pela Rede Globo entre junho de 96 e fevereiro de 97, pela
Rede Globo de Televisão. Na trama da novela, passada na zona rural, alguns dos personagens eram
agricultores. O roteiro mostrava cenas da organização e da atuação política dos lavradores. Dois meses
após o fim da novela, o MST realiza, com sucesso de crítica e de público, uma marcha de reivindicação até
Brasília.

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