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O DIALETO

DOS
FRAGMENTOS
T*

TRADUÇÃO, APRESENTAÇÃO E NOTAS


M ar ci o S uzuki

SCHLEGEL
BIBLIOTECA PÓLE N
ILUMl^JRAS
Friedrich Schlegel

O DIALETO DOS
FRAGMENTOS
Tradução, apresentação e notas
Márcio Suzuki
da Universidade de São Paulo

ILUMtyÜRAS
Bib lio tec a Pólé n
Dirigida por Rubens Rodrigues Tor res Filho

Títulos srcinais:
Lyceums - Fragmente; Athenaums - Fragments; Ideen

Copyright © 1997 desta tradução e edição:


Editora Iluminuras Ltda .

Rev isão :
Ana Paula Cardoso

Composição:
Iluminuras

ISBN: 85-7321-057-5

1997
EDITORA ILUMINURAS LTDA.
Rua Oscar Freire, 1233
0142 6-0 01 - São P au lo-S P
Tel.: (011)3068-9433
Fax:(011)282-5317
SUMÁRIO

Nota Preliminar ................................................................................9

A GÊ NE SE DO FR AGMENTO.................................................. 11
Márcio Suzuki

er agm eni o críik:qs ^ _

Lyceum..............................................................................................19
Ath enäum.........................................................................................43
Idéia
N s............................................................................................... 167
otas............................................................................................... 143

APENDICÊS

Crítica dos fragmentos em fragmentos


Novalis

Crítica dos fragmentos Athenäum ..............................................215


Título s dos fragm ento s................................................................21 9
Anotações às Idéias de Friedrich Schlegel (1799) ..................247
N otas...............................................................................................253
Nota preliminar

Por sugestão do editor, o organizador deste volume tomou a


pequena liberdade de escolher um título que não consta na lista
das obras de Schlegel. O dialeto dos fragmentos é uma tentati va
de dar nome a três grupos distintos de reflexões que, embora
diferentes, apresentam solução semelhante do ponto de vista da
form a.
O título do livrofo i extraído de uma passagem do ensaio Sobre
a ininteligibilidade, onde Schlegel explica os mal-entendidos
causados pela palavra tendências, utilizada no frag me nto 216 do
Athenäum: “Abro mão, portanto, da ironia e declaro abertame nte
que, no dialeto dos fragmen tos, a palavra significa que tudo ainda
é apena s tendênci a, a época é a época das tendências... ”
Também não escapará ao leitor que a segunda série de
fragmentos não fo i redigida exclusivamente pelo autor cujo nome
figura na capa deste volume, constituindo antes um momento
singular de sinfilosofia e simpoesia — isto é, daquele trabalho
filosófico e poético em conjunto idealizado por ele e concretizado,
nos fragme ntos do Athenäum, pela intervenção de Novalis, August
Wilhelm, Schle ierma cher e do próp rio Friedrich.
9
A gênese do fragmento

O poeta igualmente expõe apenas fil[osofia] individual, e


lodo ser humano, por mais vividamente que de resto possa
reco nhe cer a fi l[ os o fi a ] da ftl[ os of ia ], se rá na p rá tic a ape nas
ma is ou menos fi ló so fo indi vidu al e, a de spe ito d e t od o esforç o,
nunca po de rá s ai r totalmen te do cí rcul o mágic o de sua fil oso fia
individual.
Novalis1

Negar capacidade de especulação e sistematização ao mais


novo dos irmãos Schlegel tem sido a condenaç ão mais com um de
seus trabalhos filosóficos. Essa crítica, partilhada já por dois de
seus mais ilustres contemporâneos, Schelling e Hegel, não se vê
de certo modo confirmada apenas nos inúmeros projetos jamais
concluídos, mas também no inacabamento em que se apresentam
algumas das obras por ele publicadas. E quem mais poderia dar
um testemunho definitivo a esse respeito além do próprio Friedr ich,
que, numa carta ao irmão, datada de 17 de dezembro de 1797, se
descreve nestes termos: “De mim, de todo meu eu, não posso

absolutamente
de fragmentos,dar outro
porque échcintillon
eu mesmo [amostra] que um tal sistema
sou um”?
É sem dúvida um traço peculiar e surpreendente da filosofia
de Friedrich Schlegel que tente se firmar como um “caos de
fragmentos” exatamente num momento da história da filosofia

I) Pólen. Fragme ntos — Diálogos — Monólogo. Tradução, apresentação e notas de R ubens


Rodrigues Torres Filho. S3o Paulo, Iluminuras, 1988, pp. 110-11.
11
em que os maiores esforços estão voltados para a completitude e
acabamento sistemático da crítica kantiana. Mas seria possível
entender essa nota dissonante no conjunto do chamado pós-
kantismo semourecorrer
especulativa falta deàssistematização?
velhas teses sobre
Parasua
issoinsuficiência
não faltam
certam ente confiáveis guias de leitu ra. Em vez de sintoma de um
fracasso intelectual, a percepção da fragmentação e do
dilacerament o da consciênci a poderia ser ante s considerada com o
um dos instan tes em que o idealismo alemão se dá conta de seus
limites, em que passa a investigar seus próprios pressupostos e a
corrigir seus desvios: abdicar da pretensão de estabelecer, pelo
viés da teoria, um sistema do saber absoluto, minimizando o
alcance especulativo da dialética. No caráter assistemático da
reflexão schlegeliana já se evidenciariam os principais elementos
deflagradores da “crise do idealismo”, cujo desfecho será a
filosofia da vida do próprio Schlegel e a filosofia positiva do último
Schelling.2
Seria possível, assim, refazer com rigor e pertinência o
percurso do idealismo à margem daquilo que se conhece como
sua trajetória lógica. O caso de Schlegel é tanto mais
interessante, por que desde o início já se mostra reticente quan to
ao ideal de sistematicidade pelo qual a filosofia pretende
adquirir foros de ciência. Seus “anos de aprendizad o filosó fico”
poderiam ser entendid os como ensaios sucessiv os de solução
deste problema inicial: despir a filosofia de seu aparato
artificial, tecnicista, tentando torná-la tanto quanto possível
apta a expor o saber na figura srcinal em que ele mesmo
imediatamente se manifesta.
Por aí já se vê que a escolha da forma não é meramente obra
do capricho, mas requer, por assim dizer, uma dedução de seus
direit os. Qu ando Schlegel recorre à noç ão de fragmento, pode-se
afirmar que não é levado a isso apenas por um lance de gênio,

2) Esta c a tese de Claudio Ciancio em Friedrich Schlege l - Crisi delia filos ofia e rivelazione
(Milão, Mu rsia, 1984). Veja- se também , com uma pequena mudan ça de en foque, o
trabalho de Hinrich Knittermeyer em Schelling und die romantisc he Schule (Muni
que, Ernst Reinhardt, 1929).
12
mas tam bém o é pelo intuito d e respon der a uma questão decisiva
para os pensadores pós-kantianos, e que foi formulada de modo
bastante preciso pelo jovem Schelling: se a crítica, segundo suas
próprias palavras, é o sistema de todos os princípios da razão pura,
se é a idéia completa da filosofi a transcendental — e mbor a não a
própria filosofia transcendental3 — , então ela tem de acreditar
que o saber constitui um sistema ordenad o ou, em outras palavras,
que há uma form a da filosofia em geral.4 Para pode r dizer o que
disse, para pode r afirmar que esgotou todos os princípios sintéti cos
a priori, Kant certamente não precisa explicitar todo o conteúdo
da consciência, mas é necessário supor que conseguiu
circunscrever uma totalidade e, com isso, vislumbrar a
“protoforma” ( Urform) da f ilosofia ou a forma para toda e qualquer
forma sing ular de la. No entanto, o que justa me nte torna seu texto
“obscuro e difícil” é a ausência de um princípio a partir do qual
não somente se possa entender a presumida unidade e coerência
do saber, mas também como ocorre a “conexão necessária” daquela
form a srcinária da filosofia “ com todas as formas singulares dela
depe ndente s” — inclu indo, é cl aro, aquela sob a qual se apresenta
a própria crítica da razão pura.5
Se a Sfalta
segundo dong,
chelli princípio
leva os sistematizador
céticos Enesidemé aquilo que, eainda
o-Schulze Maim on
a questionar a solidez do sistema crítico e anima Reinhold e Ficht e
a tentar demonstrá-la, também se pode dizer que esse problema
está no centro das inquietações de Schlegel. Mas é certamente

3) Crítica da razão pur a , Introdução, B 27-28.


4) A interdependência entre idéia e fo rm a, sistema e form a aparece claramente em Kant,
quando diz, por exemplo, na Analítica Transcendental, que a tábua das categorias,
delineando “completamente o plano do todo” da ciência, “contém completamente
todos os conceitos elementares do entendimento, e mesmo a form a de um sist ema
deles no entendimento humano”. Na Dialética Transcendental, se diz também com
clareza que a “unidade da razão sempre pressupõe uma idéia, a saber, a da fo rm a de
um lodo do conhecimento...” (Do uso regulador das idéias, B 673) (grifos nossos).
5) Über die Mo^lichk eit einer Form de r Philosophie iibe rhaupt (Sobre a possibilidade de
uma fo rm ad a filosofia em geral). In: Ausgewülilte Werke. Dannstadt, Wissenschaftliche
Buchgcsellsch aft, 1980, p. 3. Os mesmo s problemas discutidos nesse texto também sào
tratados por Fichte em O conceito da doutrina -da -ciência, escrito que, como confessa
Schelling, confirma suas suposições e o instiga a levar adiante suas investigações.
13
intrigante como pode preteoder dar uma resposta consistente a
ele através da descoberta de que o fragmento é a “form a da filosofia
unive rsal” .6 Schlegel teria então com o prim eira tarefa m ostra r que
há também na consciência, estreitamente enlaçada com sua
imperscrutável
para unidade,—uma
o fracionamento umprimordial e inevitável
pendor original inclinação
à fragmentação.7
Naquele que inegavelmente pode ser considerado um dos textos
mais estruturados de Schlegel, A conversa sobre a poesia, a
primeira verdadeira discussão que ocorre entre os amigos toca
justamente nessa questão através de um tema — o da divisão dos
gêneros poéticos —, que em princípio tem muito mais a ver com
poética e estética do que com filosofia transcendental. O problema
da classificação dos gêneros se apresenta inicialmente sob a forma
de um a disjunção entre posições contradi tórias em relação ao texto ,
lido por Andrea, sobre as “épocas da poesia” : Marcus, secundado
por Lotário e Ludovico, lamenta que o relato não tenha dado mais
atenção aos gêneros poéticos, procedimento, ao contrário,
defendido por Amál ia, a quem, como ela mes ma diz, sempre causa
“arrepios” quando abre um livro “em que a fantasia e suas obras
são classificadas em rótulos”. Na opinião dela, o espírito livre
deveria “abr açar diretamente o ideal e se entregar à harmo nia que
tem de en contra r em seu interior, tão logo a queira pr ocurar ali” , e
se espanta de que Marcus sempre tenha de “separar e dividir
[sondern und teilen] onde, no entanto, somente o todo pode atuar
e satisfazer com força indivisa”. “Por qu e não” , pergunta ela, “toda
a poesia una e indivisível? ”
As afirmações de Amália sobre a indivisibilidad e da poesia se
chocam frontalmente com o ponto d e vista defendido po r Marcus,
para quem uma classificação correta proporcionaria, além do mais,
uma história e teoria da arte poética. Cabe a Ludovico afirmar
6) Athenãum 259.
7) A manei ra como Schleg el desenvolve essa questão já poderia sem dúvida constituir um
interessante comentário à dificuldade que Kant tem para apresentar a unidade da
consciência (consci ência-de- si ou “unidade sintétic a da apercepção”), e àquele princí
pio dialético que a doutrina-da-ciência descobre para solucioná-la: “logo que o eu só e
para si mesmo, surge-lhe ao mesmo tempo necessariamente um ser fora dele” (Zweite
Einleitung in die Wissenscliaftslehre. Hamburgo, Felix Meiner, 1984, pp. 37-8).
14
que uma teoria dos gêneros poéticos “nos exporia como e de que
maneira a fantasia de um poeta.. . tem necessariamente de se limitar
e dividir [beschranken und teilen] em virtude de sua própria
atividade e por meio dela”. A própria maneira de atuar do poeta
teria de ser o fundam ento da distinção entre as espécies de poesia:
se o poeta não abre mão da esper ança de te r, de uma só vez, toda
a poesia e se não se divide em partes (sich teilen), não há poema
determinado, nem divisão-classificação ( Einteilung ) dos gêneros;
se não se separa de uma parte de si mesm o ( Absonderung), não há
formação, não há constituição de uma forma ( Bildung).*
Essa ruptura que ocorre já no mais íntimo da criação poética
não é apenas decorrência necessária dela, mas também condição

indispensável
Ludovico, para
deve serque possa
pensada se manife
desde star. radical
sua srcem Se a poesia, comde o diz
a partir
um “protopoeta” — de um “proto-autor” ( Urheber) ou “proto-
escritor” (Urschriftsteller), de um “protótipo” ( Urbild ), de um
“poeta de todos os poetas” (Dichter aller Dichter) —, que dá
unidade e coesão a todas as suas particularizações, essa idéia, por
outro lado, não se dissocia de um fracionamento que lhe é
congenial? É dessa perspectiva que se pode entender o fragmento
24 do Athenaum: “Muitas obras dos antigos se tornaram
fragmentos. Muitas obras dos modernos já o são ao surgir”.
O modo c omo se articula a convers a entre o s amigos da p oesia
deixa então perc eber claramente que na verdade as falas de Amália
e Marcus não exprimem apenas duas opiniões contraditórias
excludentes, mas se combinam de uma maneira complementar.
As teses sobre a unidade e divisibilidade se contradizem e se
condicion am mutuamente, são os extremos entre os quai s oscila a
reflexão, segundo a operação que Fichte designou com o nom e de

8) Conversa sobre a poesia. In: KA, II, pp. 304-310; trad. bras., pp. 46-9. À página 306
(trad., p. 48), diz Marcus: “O csscncial são os fins determinados, a separação
[Absonderung] unicament e por meio da qua l a obra de arte ganha contorno e se tom a
perfeita e acabada em si mesma. A fantasia do poeta não deve se desfazer numa caótica
poesia genérica [chaoíisc/i e Überliauptpoesi e], mas cada obra deve ter, segundo a
forma e o gênero, um caráter inteiramente determinado”.
9) Ibidem, p. 305: trad. bras., p. 47.
15
alternância ou determinação recíproca. É, aliás, exatament e isso
que diz a versão abreviada da discussão, o fragmento 434 do
Athenäum: “Deve então a poesia ser pura e simplesm ente dividida?
Ou permanecer una e indivisível? Ou alternar [wechseln] entre
separação e vínculo?”
Essa mesma alternância entre termos opostos seria mais tarde
explicada po r Schleg el segundo um a antinomia própria ao eu finito:
“Se ao refletir não nos podemos negar que tudo está em nós, então
não podemos explicar o sentimento de limitação que nos
acompanha constantemente na vida senão quando admitimos que
somos somente um pedaço de nós mesmos ” .1 0 O indivíduo é como
que uma parte, um pedaço (Stück), fração, fratura ou fragmento
(Bruckstück)
tempo de si emes
o pressupõe mo,retornar
quer que se àdestaca
unidadedodo
todo, mas ao mesm
“proto-eu” ( o
Ur-
Ich)." É assim que, igualmente, quando estão trocando idéias,
Amália, Camila, Andrea, Antônio, Marcus, Ludovico e Lotário
efetuam, cada qual a seu modo, uma segmentação, uma divisão
(Einteilung) desse todo , mas somente compa rtilhando ( teilen mit)
suas visões parciais através da comunicação ( Mitteilung) podem
voltar a recompô-lo. Seria este, aliás, o objetivo declarado da
Conversa sobre a poesia: “confrontar visões completamente
diferentes, cada qual podendo mostrar, de seu ponto de vista, o
espírito infinito da poesia nu ma nova luz, e todos eles se esforç ando
mais ou menos, por um lado ou por outro, para penetrar no
verda deiro â mago” .12
A partir dessas indicações fica claro que a descoberta do
fragmento como forma é uma tentativa de solucionar problemas
de natureza filosófica, ainda que seja lícit o presu mir que com ele
já se pretende sair do âmbito de uma filosofia estritamente técnica
— e não é certamente um acaso que o romantismo venha ganhando
cada vez mais interesse no estudo das formas literária s. Se, como
se viu, é a própria atividade srcinária do eu que, pelo seu caráter

10) XII, p. 337.


11) Idem, ibidem.
12) KA, II, p. 286; trad, bras., p. 30.
16
reflexivo, implica fragmentação, determinando a diversidade da
poesia, um esforço de combinação dos gêneros poéticos tem então
de ocorrer no sentid o inverso, n uma tentativa d e re toma r à unidade
inicial: a busca de reunificação de todos os gêneros numa nova
síntese de poesia e prosa, poesia e filosofia, criação poética e
crítica, é o que agora explica as formas mistas e especialmente o
romance, que não é de fato um gênero, mas o meio onde se
com binam os gên eros, o elemento para aquilo que Schlegel cham a
de poesia romântica ou poesia universal progressiva.
Se agora se retoma o problema da filosofia pós-kantiana, tal
como formulado por Schelling, percebe-se que, ao explicar a
gênese da forma fragm entária, talvez não s e esteja buscando fazer

outra coisa
[da f ilos quecom
ofia] estabelecer
todas asa “conexão necessária
formas singul da protoforma
ares dela depend entes”
— embora já não se trate mais somente de filosofemas, mas
também de gêneros poéticos, em sua clássica pureza ou em suas
combinações mais srcinais. O romantismo pode ser es
quematicamente caracterizado como uma trajetória que
to m a por ponto de parti da a for ma primordial, s e desenvolve por
múltiplas formas particulares e busca novamente, pela combina ção
destas, a unidade da forma. Esse último movimento, que aliás,
como reconhece Schl egel, teria si do intuíd o por Schiller na div i
são dos gêneros da poesia sentimental (cujo início é sátira, o
percurso, elegia e o fim, idílio), foi admiravelmente reconstituído
por Walter Benjamin como uma passagem das form as-de-
exposição à idéia das for m as : das obras visíveis à obra invisível
ou idéia da arte.0
Resta perguntar, enfim, a que se deve a mudan ça de foco : p or
que o prob lema da forma da filosofia em geral se desloca para um
campo que se diria mai s literário ? Aqui Schlegel p arece mais uma
vez se inspirar diretamente em Fichte, quando este declara a
insuficiênc ia e provisor iedade do sis tema filosófico ao dizer , entre
tantas outras coisas, que “a forma sistemática não é o fim da

13) O conceito de crítica de arte n o romantismo alemão. Traduçüo, introdução c notas de


Márcio Seligmann-Silva. São Paulo, Iluminuras-cdusp, 1993, pp. 92-3.
17
ciênc ia”, mas “uma propr iedade contingente dela” .14Toda forma
particular é contingente em relação à forma-primeira. Mas essa
contingência não deveria também ser em parte atribuí da ao caráter
abstrato e artific ial da filosofia? Não seria possív el enc ontrar um a
forma um pouco
sistematicidade rejudicararbitrária,
sem pmenos que
o frescor da desse o,conta
reflexã da
exprimindo-
a de maneira mais direta e imediata, tal como srcinariamente
aparece na consciência? E, nesse caso, não-de veria ser justam ente
uma forma fragmentária, que, livre da maquinaria técnica, pudesse
ser tão orgânica quanto a própria “vida”? Eis o que parece ser a
pretensão filosófica de Schlegel, quando afirma no conhecido
fragmento 206 do Athenäum: “Um fragmento tem de ser como
uma pequena obra de arte, totalmente separado do mundo
circundante e perfeito e acabado em si mesmo como um porco-
espinho”.
É certam ente injusto cobrar um sistem a filosófico de Schleg el
num campo que reconhece manifestamente não ser o seu. Como
se tentou mostrar, sua sistematicidade não se encontra aí, mas
talvez precisamente em outra pa rte, pois como ele me smo alerta :
“Quem tem um sistema, está espiritualmente tão perdido quanto
quem não tem nenhum. É preciso justamente vincular as duas
cois as. — ”

Márcio Suzuki

14) O conceito da doutrina-da-ciênci a. In: A doutrina-da-ciência de 1794 e outros escri


tos. São Paulo, Abril, 1984, p. 13. O melhor comentário a essa questão está em O
espírito e a letra — Crítica da imaginação pura, em Fichte, de Rubens Rodrigues
Torres Filho, onde também se colheram outras sugestões para esta apresentação.
18
FRAGMENTOS CRÍTICOS.

Lyceum
[1 ] Muitos daqueles a quem se cha ma de artistas são p ropria mente
obras de arte da natureza.

[2] Todo povo quer ver no palco apenas o padrão mediano de sua
própria superficialidade; seria preciso, portanto, entretê-lo com
heróis, música ou loucos.

[3] Quando faz algo de verd adeiramen te genial no Jacques, Diderot


habitualmente aparece ele mesmo logo em seguida e narra sua
alegria de que aquilo tenha sido tão genial.1

[4] Há tanta poesia e, no entanto, nada mais raro que um poema!


Eis o que faz a abundância de esboços, estudos, fragmentos,
tendências, ruínas e materiais poéticos.2

[5] Alguns jornais críticos têm o defeito que tão freqüentemente


se censu ra na música de Mozart: um uso por vezes im oderado dos
instrumentos de sopro.

[6] Desaprova-se a negligência métrica dos poemas de Goethe.


Mas as leis do hexâmetro alemão deveriam ser tão conseqüentes
e universalmente válidas quanto o caráter da poesia goethiana?3

[7] Meurado,
amanei ensem
aio prosa,
sobreàquilo
o estudo da poesinaa po
que é objetivo gregesia.
a4 éA um hino
comp leta
falta da indispensável ironia me parece o que nele há de pior; e o
melhor, a confiante suposição de que a poesia é infinitamente
valiosa, como se isso fosse uma coisa indiscutível.

[8] Um bom prefácio tem de ser, ao mesmo tempo, a raiz e o


quadrado do livro.
21
[9] Chiste é espírito social incondicionado, ou genialidade
fragmentária.5

[10] É preciso furar a madeira onde é mais grossa.

[11] Até agora nada de verdadeiramente hábil, nada que contenha


profundidade, força e destreza, foi escrito contra os antigos;
sobretudo contra sua poesia .

[12] Naquilo que se chama filosofia da arte falta habitualmente


uma das duas: ou a filosofia, ou a arte.6

[ 13] B odm er7 se comp raz em cha mar de homér ico qua lque r símile
que seja apenas longo . Do m esmo modo també m se ouve chamar
de aristofânico o chiste que, de clássico, tem somente o
desembaraço e a clareza.

[14] Também na poesia cada todo bem pode ser metade, e cada
metade pode no entanto ser propriamente todo.

[15] No Jacques, de Diderot, o amo tolo talvez seja mais


glorificante para o artista que o criado louco. Sem dúvida, só é
quase genialm ente tolo . M as isso também era mais difíci l de fazer
que um louco de tod o genial .11

[16] Gênio não é certam ente questã o de arbítrio, mas de liberdade,


como chiste, amor e crença, que um dia terão de se tornar artes e
ciências. Deve-se exigir gênio de todo mundo, mas sem contar
com ele. Um kantiano chamaria isso de imperativo categórico da
genialidade.9
[17] Nada é mais desprezível do que chiste triste.

[18] Os romances gostam de acabar como começa o pai-nosso:


com o reino de Deus na terra.
22
[19] Gosta-s e tanto de alguns poemas qua nto as freiras do Salvador.

[20] Um escrito clássico jamais tem de poder ser totalmente


entendido. Aqueles que são cultos e se cultivam têm, no entanto,
de que rer apre nder sempre mais com e le. 10
[21] Assim como uma criança é, na verdade, algo que quer se
tornar um homem , assim também o poem a é somente algo nat ural
que q uer se to mar um a obra de art e.11

[22] Uma única palavra analít ica, mesm o como elogio, pode apagar
imediatame nte o mais notável achado chistoso, cuja cha ma só iria

aquec er depois que tivess e brilhado .


[23] Em todo bom poema, tudo tem de ser intenção e tudo tem de
ser in stin to.12C om isso, se torna ideal.

[24] Os autores mais insignificantes têm com o grande autor do


céu e da terra ao menos a seme lhança de que costuma m diz er a si
mesmos, depois de um dia de trabalho: “E, veja, o que ele fez foi
bom”.

[25] As duas principais proposições fundamentais da chamada


crítica histórica são o postulado da trivialidade e o axioma do
hábito. Postulado da trivialidade: tudo o que é verdadeiramente
grande, bom e belo é inverossímil, pois é extraordinário e, no
mínimo, suspeito. Axioma do hábito: assim com o é entre nós e à
nossa volta, assim també m tem de haver sido em toda parte, pois
tudo isso é tão natural!

[26] Os romances são os diálogos socráticos de nossa época.


Nessa forma liberal, a sabedoria da vida se refugiou da sabedoria
escolar.

[27] Um crítico é um leitor que rumina. Por isso, deveria ter mais
de um e stô mago.13
23
[28] Sentido (p ara uma arte , ciência, um ho mem particular etc.) é
espírito dividido; autolimitação, resultado, portanto, de autocriação
e auto-aniquilamento.

[29] Graça14é vida correta; sensibilidade que intui e forma a si mesma.


[30] Na tragédia moderna, o destino é alguma s vezes substituído
pelo Deus Pai, mas ainda com mais freqüência pelo diabo.15Como
é que isso ainda não levou nenhum douto em artes a uma teoria
do gênero poético diabólico?

[31] A divisão das obras de arte em ingênuas e sent ime ntais 16


poderia ser talvez aplicada também com muito proveito nos juízos
artísticos. Há juízos artísticos sentimentais aos quais, para ser
também completam ente ingênuo s, nada falta senão uma vinheta e
um mote. Como vinheta, um postilhão soprando sua trombeta.
Com o mote, um a frase do velho Thomas ius ao final de um discurso
acadêmico solen e: Nunc vero musicantes miisicabunt cwn paucis
et trompetis.11

[32] A classificação química da solução pelo ressecamento ou


umedecim ento também é aplic ável, na lit eratura , à dissolução
dos autores, que, depois de atingir sua altura máxima, têm de
desapar ecer. Uns evapo ram, outros se liqu efaze m.IS

[33] Um a das duas é quase sempre inclina ção dominante de todo


escritor: ou não dizer muito daquilo que teria absolutamente de
ser dito; ou dizer muito daquilo que não precisava ser dito de
modo algum. O primeiro é o pecado srcinal das naturezas
sintéticas; o segundo, das analíticas.
[34] Um achado chistoso é uma desagregação de elementos
espiritu ais, que, portan to, tinham de estar intimamente m isturados
antes da súbita separação. A imaginação tem de estar primeiro
provida, até a saturação, de toda espécie de vida, para que possa
chegar o tempo de a eletrizar de tal modo pela fricção da livre
24
sociabilidade, que a excitação do mais leve contato amigo ou
inimigo pos sa lhe arrancar faíscas fulgurantes e raios luminosos,
ou choq ues es trid ent es. 19

[35] Alguns falam do público como se fosse alguém com quem


tivessem almoçado no Hotel de Saxe durante a Feira de Leipzig.
Quem é esse público? — Público não é uma coisa, mas um
pensamento, um postulado, como a Igreja.20

[36] Quem ainda não chegou ao claro conhecimento de que,


inteiramente fora de sua própria esfera, ainda pode haver uma
grandeza para a qual lhe falta completamente o sentido; quem
nem ao menos
do espírito tem pressentimentos
humano obscuros
onde essa grandeza da região cósmica
pode aproximadamente
ser localizada: este é ou sem gênio em sua esfera, ou ainda não
chegou, em sua formação, até aquilo que é cláss ico.

[37] Para p oder escrever be m sobre um objeto, é preciso já não se


interessar po r ele; o pensam ento que se deve expr imir com lucidez21
já tem de estar totalmente afastado, já não ocupar propriamente
alguém. Enquanto o artista inventa e está entusiasmado, se acha,
ao menos para a comunicação, num estado iliberal. Pretenderá
dizer tudo, o que é uma falsa tendência de gênios jovens ou um
ju sto preconceito de escrevinhad ores velhos. Com isso,
desconhece rá o valor e a dignidade da autol imitação, que é porém,
tanto para o artista quanto para o homem, aquilo que há de primeiro
e último, o mais necessário e o mais elevado. O mais necessário:
pois em toda parte em que alguém não limita a si mesmo, é o
mundo que o limita, tomando-se, com isso, um escravo. O mais
elevado: pois só se pode limitar a s i próprio nos pon tos e lados em
que se tem força in finita, autocriação e auto-aniqu ilamento. M esm o
uma conversa amistosa que não possa a qualquer momento ser
livremente interrompida por arbítrio incondicionado tem algo de
iliberal. Um autor que quer e pode se abrir por inteiro, que nada
retém p ara si e se compra z em dize r tudo o que sabe, é no entanto
dev era s la stim áve l.22 Co ntra três erros , ape nas, é pre ciso se
25
precaver. A quilo que parece ou deve p arecer arbítrio
incondicionado e, portanto, desarrazoado ou supra-racional, no
fundo tam bém tem de ser outra vez pura e simplesm ente necessário
e racional; senão, o capricho se torna teimosia, surge iliberali dade
enão
o que era autolimitação
se deve se toma
ter muita pressa na auto-aniquilamento. Segundo:
autolimitação, deixando antes
espaço para autocriação, invenção e entusiasmo, até que esteja
pronta. Terceiro: não se deve exagerar a autolimitação.23

[38] Não há nada a censurar no protótipo de germanidade que


alguns grandes inventores patrióticos apresentaram, exceto a
localização incorr eta. Essa germ anidade não se encontra atrás de
nós, mas diante de nós.24

[39] A história da imitação da poesia antiga, sobretudo no


estrangeiro, tem entre outras também a vantagem de que nela
podem ser mais facilmente e mais completamente desenvolvidos
os importantes conceitos de paródia involuntária e chiste pass ivo.

[40] “Estético” é uma palavra que, na significação em que foi


inventada e é usada na Alemanha, revela notoriamente um
desconhecimento igualmente completo da coisa designada e da
língua q ue a desi gna.25 Po r que a inda é conse rvada ?

[41 ] Em chiste e aleg ria social, pouc os livros são comp ará veis ao
romance Faublas ,26 É a champanhe do gênero.

[42] A filosofia é a verdadeira pátria da ironia, que se poderia


definir como beleza lógica: pois onde quer que se filosofe em
conversas faladas ou escritas, e apenas não de todo
siste mat icam ente27, se deve ob ter e exig ir ironia; e até os est óicos
conside rava m a ur banidade uma virtude.28Tamb ém há, certamen te,
uma ironia retórica que, parcim oniosam ente usada, produz notável
efeito, sobretudo na polê mica; mas está para a sublime urbanidade
da mu sa socráti ca, assim como a pompa do mais cintilante discurso
artificial está para uma tragédia antiga em estilo elevado. Nesse
26
aspecto, somente a poesia pode também se elevar à altura da
filosofia, e não está fundada em passagens irônicas, como a
retórica. Há poemas antigos e modernos que respiram, do início
ao fim, no todo e na s partes, o divino sopro da ironia.29Nele s vive
uma bufonaria realmente transcendental. No interior, a disposição
que tudo supervisiona e se eleva infinitamente acima de todo
condicionado, inclusive a própria arte, virtude ou genialidade30;
no exterior, na execução, a maneira mímica de um bom bufão
italiano comum.

[43] Hippel, diz Kant, seguia a máxima recomendável de que se


deve temperar um prato saboroso da exposição humorística com

oseguidores
condime dessa
nto damáxima,
reflexão.3
que1 no
Po entanto
r que Hippel não encontra mais
Kant aprovou?

[44] Jamais se deve ria evocar o espírito da antigüidade como uma


autoridade. Há algo de peculiar com os espíritos: não podem ser
agarrados com as mãos e apresentados a outrem. Espíritos só se
mostram a espíritos. Também aqui o mais rápido e concludente
seria d emons trar a posse da verd adeira fé32 através de boas obras.

[45] Diante da estranha predileção que poetas m odernos têm pela


terminologia grega para designa r seus produtos, a gente se lembra
da afirmação ingênua de um francês por ocasião das novas
com emo raç ões no estilo das repúblicas antiga s: quepourtantnous
sommes menacés de rester toujo urs Françoisn . — Algumas das
designações da poesia da época feudal podem levar literatos de
épocas futuras a investigações como a de saber por que Dante
chamou sua grande obra de uma divina comé dia. — Há tragédi as
que, se devem te r algo de grego no no me, poderiam quando m uito
ser chamadas de m imos trist es. Parecem ter sido batizadas segundo
o conceito de tragédia que ocorre uma vez em Shakespeare, mas
largamente difu ndido na história da arte moderna: u ma tragédia é
um dram a em q ue Piram o se suicida.3 4

[46] Os romanos nos são mai s próximos e compreen síveis que os


27
gregos; e, no entanto, sentido genuíno para os romanos é ainda
incomparavelmente mais raro do que para os gregos, porque há
menos naturezas sintéti cas do que anal ítica s. Pois há também um
sentido próprio par a nações: tanto para indivíduos históricos quanto
para indivíduos morais, e não somente para gêneros práticos, artes
ou ciências.

[47] Que m qu er algo infinit o, não sabe o que q uer. Ma s a recíproca


não é verdadeira.

[48] Ironia é a form a do paradoxo. Paradox o é tudo aquilo que é


ao mes mo t emp o bom e grande. 35

[49] Os guinéus36 são um dos meios mais importantes da arte


dramática e romântica entre os ingleses. São bastante usados
sobretudo nas cadências finais, quando os baixos começam a
trabalhar com toda a forç a.

[50] Quão profundamente se enraíza no homem o pendor a


generaliz ar qualidades individuais ou nacion ais! Cham fort me smo
diz: "Les vers ajouten t de l ’esprit à la pensée de l ’homm e qui en
a quelquefois assez peu; et c’est ce qu’on appelle talent"?1 — É
este um uso comum da língua francesa?

[51] O chiste é tão abjet o como instrumento de vingança, quanto


a arte como meio de fazer cócegas nos sent idos.

[52] Ao invés da exposição, em muitos poemas se encontra por


vezes apenas uma inscrição indicando que na verdade se deveria
expor isto ou aquilo, mas o artista, tendo sido impedido, pede
humildemente perdão.

[53] No que concerne à unidade, a maioria dos poemas modernos


são alego rias (mistérios, moral idades) ou novelas (aventuras,
intrigas); um a mescla ou uma diluição de las.
28
[54] Há escritores38 que bebem o incondicionado como água; e
livros em que até os cães se referem ao infinito.

[55] Um homem verdadeiramente livre e culto teria de poder se


afinar a seu bel-prazer ao tom filosófico ou filológico, crítico ou
poético, histórico ou retórico, antigo ou moderno, de modo
inteiramente arb itrário, como se afina um instrumento, em qualquer
tempo e em qualquer escala.

[56] Chiste é sociabilidade lógica.39

[57] Se muitos amantes místicos da arte, que consideram toda

crítica como
destruição desmembramento
da frui ção, pensasseme conseqüentem
todo desmembramento como
ente, então “Oh!”
seria o me lhor juíz o artístico sobre a obra de arte mais apreciáv el.
Também há críticos que , não dizendo nada além, o dizem apenas
mais demoradamente.

[58] Assim com o os homens pref erem ag ir mai s grandio sa do que


justamente, assim também os artistas querem enobrecer e instruir.

[59] O pensam ento predileto de Chamfor t, de que o chiste é aquilo


que supre a felicidade impossível, uma por assim dizer pequena
percentagem que a natureza em falência daria como compensação
pelo sumo bem devido, não é mais feliz que o de Shaftesbury,
segundo o qual o chiste é a pedra de toque da verdade, ou do que
o preconceito mais comum, de que o enobrecimento moral é o
fim suprem o da bela-a rte. Chiste é fim em si, com o virtu de, am or
e arte. Aquele homem genial sentiu, assim parece, o va lor infin ito
do chiste, e uma vez que a filosofia francesa não era capaz de
com pree nder isso, procurou instintivamente vincular o que o ch iste
tem de mais elevado àquilo que é o primeir o e o mais alt o, segundo
ela. E, como máxima, o pensamento que o sábio tem de estar
sempre en éta t d ’ép igra m meA0 diante do destino é belo e
genuinamente cínico.
29
[60] Em sua rigorosa pureza, todos os gêneros poéticos clássicos
são agor a ridículos.

[61] A rigor, o conceito de um poema científico é tão absurdo


quanto o de u ma ciência poética.
[62] Já se têm muitas teorias dos gêner os poéticos. Po r que não se
tem ainda nenhum conceito de gênero poético? Então teríamos
talvez de nos contentar com um a única teori a dos gêneros poéticos.

[63] Não são a arte e as obras que faz em o artista, mas o sentid o e
o entus iasmo e o im puls o.41

[64] Seria preciso um no vo Laoconte42 para determinar os limites


entre música e filosofi a. Par a a jus ta apreciação de alguns escritos
falta ainda uma teoria da música gramatical.

[65] A poesia é um discurso republicano; um discurso que é sua


própria lei e seu próprio fim, onde todas as partes são cidadãos
livres e têm direito a voto.

[66] A revolucionária fúria de objetividade de minhas primeiras


composições musicais filosóficas tem um pouco da fúria de
fundamentação43 que tão violentamente se alastrou pela filosofia
sob o consulad o de Reinhold .

[67] Na Inglaterra o chiste, se não é uma arte, é ao menos uma


profissão. Ali tudo se torna ofício, e até os roués44 daquela ilha
são pedantes. Assim também são seus wits, que introduzem na
realidade o arbítrio incondicionado, cuja aparição dá o romântico
e pica nte do chiste, e assim tam bém é o seu viv er chistos amente 45;
daí o talento deles para a sand ice. Eles morre m por seus princípios.

[68] Quantos autores há entre os escritores? Autor quer dizer


criador.46
30
[69] Existe também um sentido negativo, que é muito melhor,
mas muito mais raro, do que nada. Pode-se amar intimamente
algo, justa me nte porque a gente não o possui : o que dá ao menos
uma pregustação sem deixar ressaibo. Mesmo a indiscutível
incapaci dade, que se conhece claramente ou até com forte antipat ia,
é de todo impossível como pura deficiência e pressupõe ao menos
capacid ade parcial e simpatia . Como o eros platônico, esse sentido
negativo é, portan to, filho da abundância e da penúria. Surge sem
a letra , se alguém tem m eramente espírit o; ou, inversam ente, sem
o âmago, se tem meramente os materiais e formalidades, a casca
seca e dura do gênio produtivo. No primeiro caso, há puras
tendências, projetos que são tão amplos quanto o azul do céu ou,

no máximo,
aquela esboços
trivialidade de fantasias;
artística no segundo
harmoniosamente caso, senamostra
cultivada, qual
os maior es críticos ingleses são tão clássicos. A marca característica
do primeiro gênero, do sentido negativo do espírito, é quando
alguém sempre tem de querer sem jam ais poder; sempre gosta d e
ouvir, sem jam ais escutar.

[70] Pessoas que escrevem livros e então imaginam que seus


leitor es sejam o públic o, e que tenha m de fo rmar o público: estas
logo acabam não somente desprezando, mas também odiando
aquilo que chamam de público; o que não pode levar a nada.47

[71] Senti do para o ch iste sem chis te48já é o abc da liberalidade.

[72] No fundo gostam bastante se uma obra poética é um pouco


depravada, sobretudo na metade; apenas não se deve ferir
diretamente a decência e no fim tudo acaba bem.

[73] Aquilo que se perde em traduções de hábito boas ou excelentes


é justa me nte o melhor.

[74] É impossível ofender alguém que não queira aceitar a


ofensa.
31
[75] Notas são epigramas filológicos; traduções, mimos
filológicos; alguns comentários, onde o texto é apenas travo ou
não-eu, idílios filológicos.49

a[76] H á uma entre


o segundo am bição em preferirEsta
os primeiros. ser éoaprimeiro entreuma
antiga. Há os últimos,
outra
ambição, c om o a do G abriel de T asso:

Gabriel, che fr a i prim i era il secon doS0,

que é a de prefe rir ser o segundo entre os primeiros, a o primeiro


entre os segundos. Esta é a moderna.

[77] Máximas, ideais, imperativos e postulados são agora, de


tempos em tempos, fichas do jog o da moralidade.5 1

[78] Muitos dos romances mais notáveis são um compênd io, uma
encic lopé dia de toda a vida espiritual de um indivídu o genial; obras
que o sejam mesm o numa form a totalmente ou tra, como o Natã52,
ganham com isso um aspecto de romance. Todo homem que é
culto e se cultiva também contém um romance em seu interior.53
Não é, porém, necessário que o exteriorize e escreva.

[79] Os escritos alemães alcançam popularidade graças a um


grande nome ou a personalidades, a boas relações, persistência,
moderada imoralidade, completa ininteligibilidade, harmoniosa
trivialidade, variado fasti o, ou graças a um esforço consta nte pelo
incondicionado.

[80] Na árvore genealógica dos conceitos primordiais de Kant


sinto com desagrado a falta da categoria “aproxim adam ente” , que
todavia com certeza provocou, no mundo e na litera tura, o mesmo
tanto de efeitos e de estragos que qualquer outra categoria.54 No
espírito dos céticos natura is, ela tinge todos os demais conc eitos e
intuições.
32
[81] Há algo mesquinho em polemizar contra indivíduos, como
no comércio en détail. Se o artista n ão quer fazer polêmica en gros5S,
tem ao menos de escolher aqueles indivíduos que são clássicos e de
valor eternamente duradouro. Se tampouco isso é possível, por
exemplo, num triste caso de legítima defesa, os indivíduos têm de
ser tanto quanto possível idealizados , por força da ficção polêmica,
como representantes da tolice e da loucura objetiv a; pois, como tudo
o que é objetivo , tam bém estas são infinitamen te interessant es, como
têm de ser os objetos dignos da p olêmica mais elevada.56

[82] Esp írito é filoso fia-d e-na turez a.57

[83] Maneiras5* são ângulos característicos.


[84] Daquilo que os modernos qu erem é preciso a prender o que a
poesia deve vir a ser; daquilo que os antigos fazem, o que ela tem
de ser.

[85] Todo autor legítimo escreve para ninguém, ou para todos.


Quem escreve para que estes ou aqueles o possam ler, merece não
ser lido.59

[86] O fim da crítica, se di z, é forma r leit ores! — Quem que r ser


formado, que se forme a si mesmo. Isso é indelicado, mas não há
como mudar.61’

[87] Uma vez que a poesia é infinitamente valiosa, não vejo por
que ainda deva ser meramente mais valiosa do que uma ou outra
coisa tam bém infinitamente valio sa. Artist a algum concebe a arte
de uma maneira excessivamente grandiosa, pois isso é impossív el,
mas há os que não são s uficientemente livres para se elevar acima
daquilo qu e há de mais alto.

[88] Nada mais picante do que quando um homem genial tem


maneiras; ou seja, quando as tem, mas de modo algum quando
estas o têm: isso leva à petrificação espiritual.
33
[89] Não seria supérflu o escrever mais de um roman ce, se o artista
não se tomou um novo homem? — Não raro todos os romances
de um autor são manifestam ente interdependentes uns dos outros
e, de certo modo, a penas um rom ance.61

[90] Chiste é uma explosão do espírito estabilizado.62

[91] Os antigos não são nem os judeus, nem os cristãos, nem os


ingles es da poesia. N ão são um povo-artist a arbitrariamente eleito
por Deus, nem têm a verdadeira fé na beleza, nem possuem o
monopólio da poesia.

[92] Assim como o animal, também o espírito só pode respirar


numa atmosfera mesclada de puro ar vital e azoto. Não poder
supor tar e compr eend er isso é a essênc ia da estul tice; não o querer ,
pura e simplesmente, o início da loucura.

[93] Nos antigos se vê a letra perfeita e acabada de toda a poesia;


nos modernos se pressente o espírito em devir.63

[94] Autores medíocres que anunciam um pequeno livro


pretendendo fazê-lo passar por um grande gigante, deveriam ser
constrangidos pela polícia literária a estampar no seu produto o
mote: Th is is the g reatest e leph ant in the world, excep t him self.6*

[95] A trivialid ade ha rmoni osa pode ser muito útil ao filósofo com o
um claro farol para regiões ainda inavegadas da vida, arte ou
ciência. — Ele evitará o homem, o livro que alguém
harmoniosamente trivial admira e ama, e ao menos desconfiará
da opinião em que muitos dessa espécie firmemente acreditam.
[96] Um bom enigma deveria ser chistoso, senão nada sobra tão
logo se descubra a palavra; também não é sem atrativo se um
achado chistoso seja t ão enigmático a ponto de se querer decifrá-
lo, mas seu sentido tem de ser completamente claro, tão logo
encontrado.
34
[97] Sal na expres são é o picante, pulverizado. Há o sal gros so e o
fino.

[98] Estas são as leis fundamentais universalmente válidas da


comunicação escrita: 1) é preciso ter algo que deva ser
comunicado; 2) é preciso ter alguém a quem se possa querer
comunicá-lo; 3) é preciso poder comunicá-lo efetivamente,
partilhá-lo65com alguém, não apenas se exteriorizar sozinho; senão
seria mais acertado calar.

[99] Aquele que não é ele m esmo inteiramente novo, jul ga o novo
como antigo; e o antigo se lhe torna cada vez mais novo, até que

ele mesmo envelheça.


[ 100] A poesia d e um se cham a filosófica; a de outro, filológica; a
de um terceiro, retórica etc. Qual é, então, a poesia poética?

[101] Afetaç ão não surge tanto do esfor ço em ser novo, quan to do


temo r de ser ant igo.

[ 102] Que rer tudo jul gar é um gra nde erro ou um pequeno pecado.

[ 103] Muitas obras apreciadas pelo belo encad eamen to têm menos
unidade que uma diversificada porção de achados que, animados
apenas pe lo espírito de um espírito, apontam par a uma met a única.
Tais achados, no entanto, se vinculam por aquele convívio livre e
igual em que, conforme asseveram os sábios, também se
encontrarão os cidadãos do Estado perfeito; por aquele espírito
social incondicionado66 que, na presunção dos fidalgos, só se
encontra agora naquilo que tão estranha e quase puerilmente se
costuma chamar de alta sociedade. Em contrapartida, alguns
produtos, de cuja coesão ninguém duvida, não são, como bem
sabe o próprio artista , uma obra, mas apenas um ou muitos trechos,
massa, disposição. O impulso de unidade é , porém, tão poderoso
no homem, que freqüentemente , já durante a composição, o próprio
criador complem enta ao menos aquilo que não pode absolutamente
35
perfazer ou unificar; e freqüentemente o faz com grande riqueza
de sentido, mas de modo inteiramente antinatural. O pior nesse
caso é que tudo aquilo qu e, para dar uma aparência de totalidade,
se agrega às partes só lidas efetivamen te existentes geralme nte não
passa
eng dee guarnecid
anar remendososcoloridos. Se estes
com inteligência são pior.
, tanto bons,Então,
ornados para
de início
se enganará também o indivíduo privilegiado que tem sentido
profundo para o pouco de esmeradamente bom e belo que ainda
se encontra, parcimoniosamente aqui e ali, tanto nos escritos
quanto nas ações. Ele terá de chegar à justa sensação somente
mediante juízo! Por mais rápida que seja a disseca ção, o frescor
da primeira impressão já passo u.

[104] Aquilo que habitualmente se chama razão é apenas um


gênero dela: o tênue e aquoso. Há também uma razão espessa e
ígnea, que faz o chiste propriamente chiste, e dá elasticidade e
eletricidade ao estilo sólido.

[ 105] Caso se ob serv e o espírito e não a letra, todo o pov o roman o,


juntamente com o senado e todos os triunfadores e césares, era
um cínico.

[106] Nad a mais deplorável em sua srcem e nada mais execrável


em suas conseqüências do que o temor de ser ridículo. Daí, por
exemplo, a servidão das mulheres e alguns outros cancros da
humanidade.67

[107] Os antigos são mestres da abstração poética; os modernos


têm mais especulação poética.

[108] A ironia socrática é a única dissimulação inteiramente


invo luntá ria e, no entanto , inteir amente lúcida.611 Fing i-la é tão
impossível quanto revelá-la. Para aquele que não a possui,
permanece um enigma, mesmo depois da mais franca confissão.
Não deve enganar ninguém, a não ser aqueles que a tomam por
engodo e que, ou se alegram com a grande pândega de se divertir
36
com todo mundo, ou ficam fu los, quando pressentem que também
estão sendo visados. Nela tudo deve ser gracejo e tudo deve ser
sério: tudo sinceram ente aberto e tudo profundamente dissimulado.
Nasce da unificação do sentido artístico da vida e do espírito
científic o69, do enc ontro de perfeita e ac abada filosof ia-de- naturez a
e de perfeita e acabada filosofia-de-arte.70 Contém e excita um
sentimento do conflito insolúvel entre incondicionado e
condicionado, da impossibilidade e necessidade de uma
comunicação total. É a mais livre de todas as licenças, pois por
meio dela se vai além de si mesmo71; e, no entanto, é também a
mais sujeita à lei, pois é incondic ionad ame nte necessária. É muito
bom sinal se os harmoniosamente triviais não sabem de modo

algum comeoda
acreditam lidar com
qual essa constante
novamente autoparódia,
sempre na qual
desconfiam, sempre
até sentir
vertigens, tomando justamente o gracejo como seriedade, e a
seriedade como gracejo. A ironia de Lessing é instinto; em
Hemsterhuis é estudo clássico; a ironia de Hiilsen surge da filosofia
da filosofia e pode suplantar de longe a daqueles.72

[ 109] Chiste brando, ou chiste sem farpa, é um privilégio da poesia,


que a prosa lhe tem de co nceder: pois s omente mir ando do modo
mais certeiro num único ponto um achado isolado pode atingir
uma espécie de total idade.

[110] O desenvolvimento harmonioso dos nobres e artistas não


seria apenas uma harmoniosa ficção?73

[111] Chamfort foi aquilo que Rousseau queria de bom grado


parecer: um autêntico cínico, no sentido dos antigos, mais filósofo
do que toda uma legião de áridos sábios de escola. Embora de
início tivesse se envolvido com fidalgos, viveu livremente, assim
como morreu livre e dignamente, desprezand o a pequena fama de
um grande escritor. Era amigo de Mirabeau. Seu mais delicioso
legado são os achados e observações sobre a sabedoria de vida:
um livro cheio de sólido chiste, sentido profundo, delicada
sensibilidade, razão madura e firme hombridade, cheio de traços
37
interessantes da mais viva paixão, livro que, além de primoroso, é
de acabada e perfeita exp ressão: incomparavelmente, o mais alto
e o primeiro do gênero .

[112]isso,
com O escritor analítico
faz seus observa
cálculos o leitor
e aciona suastalmáquinas
como é; para
de acordo
nele
produzir o efeito adequado. O escritor sintético constrói e cria
para si um leitor tal como deve ser; não o concebe parado e morto,
mas vivo e reagindo. Faz com que lhe surja, passo a passo, diante
dos olhos aquilo que inventou, ou o induz a que o invente por si
mesmo. Não que r produzir nenhum efeito determ inado sobre ele ,
mas com ele entra na sagrada relação da mais íntima sinfilosofia
ou simpoesia.74

[113] Na Luísa, VoB é um homérida, assim como Homero, na


tradução dele, um vóssida.75

[114] Quantos jornais críticos não há de natureza diversa e


intenções dist intas! Se ao menos u ma sociedade dessa espécie se
reunisse meramente com o fim de realizar aos poucos a também
necessária crítica!

[115] Toda a história da poesia modern a é um com entário co ntínuo


ao breve texto da filosofia: toda arte deve se tornar ciência e toda
ciência, arte76; poesia e f ilosofia devem ser unificada s.

[116] No que diz respeito à elevação do sentido artístico e do


espírito científico, os alemães, afirma-se, são o primeiro povo no
mundo. Sem dúvida: só que existem bem poucos alemães.

[117] P oesia só pode ser criticada por poes ia. Um juíz o artístico
que não é ele mesm o um a obra de art e na matéria , com o exposição
da impressão necessária em seu de vir, ou mediante um a bela forma
e um tom liberal no espírito da antiga sátira romana, não tem
absolutamente direito de cidadania no reino da art e.
38
[118] Tudo o que pode ser banalizado já não era de início
equivocad o ou trivial ?

[119] Poemas sáficos precisam crescer e ser encontrados. Não


podem ser feitos nem comunicados ao público sem profanação.
Àquele que faz isso, falta ao mesmo tempo orgulho e modéstia.
Orgulho: pois arranca o que tem de mais íntimo do sagrado silêncio
do coração e o lança à multidão para que, grosseira ou alheia, o
admire p or um miserável da capo ou p or um frederico.77Mas será
sempre falta de modéstia pôr a si mesmo, como um modelo, em
exposição . E se poemas líricos não são inteirame nte pessoais, livres
e verdadeiros, nada valem como tais . Petrarc a não entra em conta

aqui:
tambémesse frio amantenão
é romântico, nada diz além
lírico. Mas de graciosas
mesmo generalidades;
que ainda houvesse
uma natureza tão conseqüentemente bela e clássica que pudesse
se mostrar nua, como Frine7* diante de todos os gregos, já não
haveria um público olímpico para tal espetáculo. E também se
tratava de Frine. Só cínicos amam no mercado público. Pode-se
ser cínico e grande poeta: o cão e os louros têm igual direito a
decorar o monumento de Horácio. Mas horaciano nem de longe
aind a é sáfico. Sáfico jam ais é c ínico .79

[ 120] Aquele que car acterizasse d evida men te o Meister de Goethe


diria, na verdade, de que será época agora na poesia. No que
conce rne à crítica poét ica, não precisaria fazer mais nada.

[121 ] Ques tões mais si mples e imediatas, como: de ve-se ju lg ar as


obras de Shakespeare como arte ou como natureza? epopéia e
tragédia são ou não essencialmente diferentes? a arte deve iludir
ou some nte parecer iludir?, não pode m ser respondidas sem a mais
profunda especulação e sem a história da arte mais erudita.

[122] Se a elevada idéia de germanidade que se encontra aqui e


ali pode ser justificad a por algum a coisa , esta é o decidido desdém
e desprezo por aqueles bons escritores comuns que qualqu er outra
nação acolheria, com pompa, em seu Jo hnson1*1, e o pendor bastante
39
geral para censurar livremente e em toda parte considerar, com
justa exatidão, também aquilo que se reconhece como o melhor, e
que é super ior àquilo que os estrangei ros já poderiam achar bom.

[ 123] É
sobre umaapresunçã
a arte partir da ofilosofia.*1É
irrefletida e im odesta
assim quequere r apren
procedem der algo
alguns,
como se esperassem experimentar algo novo aqui; a filosofia,
contudo, não pode nem deve poder fazer nada mais que tomar
ciência as experiências artísticas dadas e os conceitos artísticos
existentes, elevar e ampliar a visão artística com ajuda de uma
história da arte erudita e profunda, e produzi r, també m em relação
a esses objetos, aquela disposição lógic a que unifica liberalidade
e rigorismo absolut os.

[ 124] Também no interior e no todo dos m aiores p oemas mode rnos


há rima, retorno simétrico do mesmo. Isso não proporciona apenas
um notável arredondamento, mas também pode ter um efeito
altamente trágico. Por exemplo, a garrafa de champ anhe e os três
copos que a velha Bárbara põe de noite à mesa, na presença de
Wil helm .1*2 — Gos taria de c ham ar essa rima de g igan tesc a ou
shakespeariana. Pois nela Shakespeare é mestre.

[125] Sófocles já acreditava sinceramente que os homens que


exibia eram melhores que os rea is. Onde exibiu um Sócrates, um
Sólon, um Aristides, e inúmeros outros? — Quantas vezes essa
pergunta não pode ser repetida também em relação a outros poetas?
Mesmo os maiores artistas, quanto não diminuíram heróis reais
em suas exposições? E, no entanto, aquela ilusão se generalizou,
dos imperadores da poesia até os mais baixos Iictores. Como toda
limitação conseqüente, também pode ser bastante salutar aos
poetas, para condensar e concentrar a força. Mas um filósofo que
por ela se deixasse contaminar, mereceria ser ao menos deportado
do reino da crítica. Ou não há porventura, no céu e na terra, uma
infinidade de coisas boas e belas com as quais a poesia nem seq uer
sonha?*3
40
[126] Os rom anos sabiam que o chi ste é uma faculdade profética:
cha mav am -na de nariz.84

[ 127] É indelicado se espanta r quando algo é be lo ou grande; com o


se pudesse ser de outra maneira.
41
Athenäum 1
[Pólen]

[15] A filosofia também tem suas flores. São os pensamen tos dos
quais nunca se sabe se devem ser chamado s de belos ou chistosos .

[20] Se na comunicação de pensamentos se alterna entre


entendimento e não-entendimento absolutos, isso já pode ser
cham ado de u ma amizad e filosófica.2 Mas com nós mesmos não
nos damos melhor. E a vida de um homem qu e pensa é outra coisa
que uma constante sinfilosofia interior?

[26] Uma vez que se tenha predileç ão pelo absoluto e não se possa
deixar disso, então não resta outra saída senão se contradizer
sempre e vincular extremos opostos. O princípio de contradição
está irrem ediavelmente perdido, e só se tem a escolha entre querer
se comportar passivamente diante disso ou querer enobrecer a
necessidade, elevando-a, pelo reconhecimento, a ação liv re.

[31 ] Par a tratar o comum, quando tam bém não se é comum , com
a força e leveza de que surge a graça, é preciso não achar nada
mais estranho que o comum, e ter sentido para o estranho, nele

buscando e pressentindo
que vive em muito.
esferas de todo Dessa
diversas maneira,
pode mesmodeum
satisfazer tal homem
modo
as naturezas costumeiras, que estas não o levam absolutam ente a
mal e não o consideram senão como aquilo que entre si chamam
de amável.
45
[1] S obre nenhu m objeto filosofam mais raram ente do que sobre
filosofia.3

[2] O tédio, tanto no modo como surge quanto nos efeitos, se


assemelha ao ar empesteado. Os dois gostam de se propagar
quando muita gente se reúne num ambiente fechado.

[3] aKant
um introduziu
tentativa na filosofia
út il introduzir o conceito
agora do negativo.4
na filosofia também oNão seria
conceito
do positivo?

[4] Para grande prejuízo da teoria dos gêneros poéticos


freqüentemente se negligenciam as subdivisões dos gêneros.
Assim, a poesia-de-natureza se divide, por exemplo, em natura l e
artific ial, e a poesia popular em poesia popular para o povo e poesia
popular para os de boa condição e doutos.

[5] Aquilo que se chama de boa sociedade é no mais das vezes


apenas um m osaico de caricaturas poli das.

[6] Alguns censuraram como grande falta de delicadeza que no


Hermann e Dorotéia5o jov em sugira dissimulada mente à amada,
uma cam ponesa empobrecida, que entre como serviçal na casa d e
seus bons pais. Esses críticos devem tratar mal sua criadagem.
[A.W.]

[7] Vocês sempr e desejam novos pensa mento s? Façam alg o novo,
e se poderá dizer algo novo a respeito. [A.W.]

[8] A certos encomiastas das épocas passadas de nossa literatura


se pode responder atrevidamente, como Estênelo a Agamenão6:
47
vanglo-riamo-nos de ser muito melhores do que nossos
antepassados. [A.W.]

[9] Felizmente a poesia espera tão pouco pela teoria, quanto a


virtude pela
esperança demoral,
poema.do[A.W.]
contrário não teríamos por ora nenhuma

[ 10] O dever é o um e tudo de Kant.7 Por deve r de gra tidão, afirma,


é preciso defender e estimar os antigos; e somente por dever ele
mesmo se tornou um grande homem.

[ 11 ] Os idílios de Geí3ners aprouveram à alta sociedade parisiense


exatamente como o paladar habituado ao haut goüt por vezes se
delicia com mingau. [A.W.]

[ 12] De mui to mon arca se disse : teria sido um hom em bem am ável
com o pessoa privada, só não servia para re i. Não ocorre p orventura
o mesm o com a Bíbl ia? Não é também apenas um amável livro de
uso privado, que só não deveria ser Bíblia?

[13] Se jovens de ambos os sexos sabem dançar uma música


prazenteira, de modo algum lhes ocorre querer julgar sobre a arte
musical. Por que as pessoas têm menos respeito pela poesia?

[14] A única coisa que pode salvar a moralidade poética de


descrições lascivas é a bel a ousadia na ex ecução. Dão testemunho
de indolência e perversão, se nelas não se revela um a exuberante
abundância de força vital. A imaginação tem de querer divagar,
não estar habituada a se render servilmente ao pendor dominante
dos sentidos. E, no entanto, entre nós se considera a jovial
frivolidade como sendo em geral a mais condenável, mas se
perdoou o que de mais forte havia nesse gênero, se estivesse
envolto numa fantástica mística da sensibilidade. Como se uma
improbidade pudesse ser compensada por uma sandice ! [A.W.]

[15] O suicídio é habitualmente apenas uma ocasião, raramente


48
uma ação. Se é uma ocasião, o autor sempre está errado, como a
criança que quer se emancipar. Mas se é uma ação, não se trata
absolutamente de direito, mas somente de conveniência. Pois
apenas a ela está sujeito o arbítrio, que deve determinar tudo o
que, como o aqui e o agora, não pode ser determinado nas puras
leis, e pode deter min ar tudo o que não aniquila o arbítrio de outros
e, com isso, a si mesmo. Nunca é injus to morre r voluntariamente,
mas muitas vezes é indecoroso viver por mai s tempo.

[16] Se a essência do cinismo consiste em preferir a natureza à


arte, a virtude à beleza e à ciênc ia; em observa r apenas o espírit o,
descuidando da letra a que rigorosamente se atém o estóico; em

desprezar
político eincondicionalmente
em afirmar corajotodo valor econômico
samente os direitosoudobrilho
arbítrio
autônomo: então o cristianismo outra coisa não poderia ser senão
cinismo universal.9

[17] Pode-se escolher a forma dramática por pendor pela


completitud e sistemática ou não apenas para ex por, mas também
imitar e contrafazer homens; por comodidade ou por deferência
para com a música, ou também pela pura alegria de falar e fazer
falar.

[ 18] Há escritores de mérito que, com ar dor juve nil, impulsio naram
a formação de seu povo, pretendendo, porém, fixá-la ali onde a
força os abandonou. Em vão: quem um dia se empenhou, tola ou
nobremente, para intervir na marcha do espírito humano, tem de
seguir com ela, ou não é nisso melhor do que um cão que, diante
do espeto, não quer avançar as patas. [A.W.]

[ 19] O meio mais seguro de ser ininteligível ou, antes, de ser mal
entendido, é quando se usam as palavras, especialmente as das
línguas antigas, em seu sentido srcinal.

[20] Duelos“’ obser va que há poucas obras no táveis que não são
da lavra de escritores de profissão. Há muito tempo ta l condição é
49
reconhecida com respeito na França. No passado, ser apenas
escr itor era , entre nós, menos qu e nada. Ainda hoje tal preconceito
dá sinais de vida aqui e al i, mas a força de exemplos respeitáveis
o enfraquece rá cada vez mais. Depe ndendo de como a exerçam, a
atividade
um ofício, literá
uma ria
arte,é uma
uma infâmi
ciênciaa,euuma
ma devassidão, um ganha- pão,
virtude. [A.W.]

[21] A filosofia kantiana se assemelha à carta forjada que Maria


deixa no caminho de Malvólio, na Noite de Reis de Shakespeare.
Com a única diferença de que na Alem anha há inúmeros Malvó lios
filosóficos que agora amarram as ligas em cruz, vestem meias
amarelas e estão sempre sorrindo fantasticamente."

[22] Um projeto é o germe subjetivo de um objeto em devir. Um


projeto completo teria de ser ao mesmo tempo inteiramente
subjetivo e inteiramente objetivo, um indivíduo indiviso e vivo.
Segundo sua srcem, inteiramente subjetivo, srcinal, somente
possível ju stam en te nesse espírito; segundo seu caráter,
inteiramente objetivo, física e moralmente necessário. O sentido
para projetos que poderiam ser chamados de fragmentos do futuro
é diferente do sentido para projetos do passado somente pela
direção, que é progressiva naquele, mas regressiva neste. O
essencial é a capacidade de ao mesmo tempo idealizar e realizar
imediatamente os obj etos, de os complem entar e em parte executar
em si. Uma vez que transcendental é justamente aquilo que se
refere ao vínculo ou à separação do ideal e do real, se poderia
dizer que o sentido para fragmentos e projetos é o componente
transcendental do espírito histórico.

[23] Muito daquilo que se imprime ficaria melho r se fosse apenas


dito, e por vezes se diz algo que seria mais conveniente se fosse
impresso. Se os melhores pensamentos são os que se deixam ao
mesmo tempo dizer e escrever, às vezes vale a pena examinar o
que se pode escr ever daquilo que f oi dit o, e o que se pode im primir
daquilo que foi escrit o. É, sem dúvida, presunçoso te r pensamentos
e os tornar conhecidos ainda em vida. Incomparavelmente mais
50
modesto é escrever obras inteiras, porque estas bem podem ser
meramente compostas a partir de outras obras e porque, no pior
dos casos, resta ao p ensamento o recurso de dar primazia ao assunto
e se pôr humildemente de lado. Mas pensamentos, pensamentos
isolados, estão compelidos a querer ter um valor por si e têm de
ter pretensão a ser próprios e pens ados .12 A única coisa que dá
uma espécie de consolo quanto a isso é que nada pode ser mais
presunçoso do que existir em geral, ou mesmo existir de uma
maneira autônoma determin ada. Com o quer que a gente se posi
cione, é dessa presunçã o fundamental q ue derivam todas as o utras.

[24] Muitas obras dos antigos se tornaram fragmentos. Muitas

obras dos modernos já o são ao surgir.


[25] Não raro, interpretar é inserir aquilo que se deseja ou que é
confo rme a um fim, e muitas deduções são pr opriame nte des vios .13
Prova de que erudição e especulação não são tão prejudiciais à
inocência do espírito quanto se nos quer fazer crer. Pois não é
mesmo uma infantilidade ficarmos alegremente espantados com
o milagre que nós mesmos realizamos?

[26] A germanidade é um objeto de predileção para o


caracterizad or, porque, quanto menos pronta uma nação, tanto mais
é objeto da crít ica e não d a his tóri a.14

[27] Como os mundos possíveis de Leibniz, os homens são em


sua mai oria apenas igualmente legítimo s pretendentes à existência .
Há poucos existentes.

[28] Depois da exposição perfeita e acabada do idealismo crítico,


que será sempre o primeiro, os desideratos mais importantes da
filosofia parecem ser os seguintes: uma lógica material, uma
poética poética, uma política positiva, uma ética sistemática e uma
históri a prática.15

[29] Achados chistosos são os provérbios dos homens cultos.


51
[30] Uma rapa riga em flor é o símbolo mais atraente da vontade
pura e boa.

[31] Falso pudor é pretensão à inocência sem inocência. As


mulheres
os homensterão de sentimentais,
forem continuar sendo falsamente
tolos e maus o pudicas enquanto
bastante para delas
exigir eterna inocência e falta d e culti vo. Pois inocência é a única
coisa que pode enobre cer a incul tura.

[32] Dev e-se ter chiste, sem o qu ere r ter; senão surge z om baria 16,
estilo alexandrino no chiste.

[33] Mu ito mais difícil que fal ar bem é dar aos outros o ensej o de
falar bem.

[34] Quase todos os matrimônios são apenas concubinato,


casamento morganático ou, antes, tentativas provisórias e
aproxim ações longínquas de um casam ento efeti vo, cuja essência
própria, não segundo os paradoxos deste ou daquele sistema, mas
segundo todos os direitos, canônicos ou laicos, consiste em que
muitas pessoas devem se tornar uma só. Pensamento primoroso,
cuja realização parece no entanto envolver muitas e grandes
dificuldades. Por isso mesmo, aqui se deveria limitar o menos
possível o arbítrio, que também deve ter direito à palavra quando
o que está em ques tão é se alguém qu er ser um indiv íduo po r si ou
apenas parte integrante de uma personalidade coletiva; e não se
pode prever o que de profundo se poderia objetar contra um
casamento à quatre.'1 Se, não obstante, o Estado quiser manter à
força essas tentativas frustradas de matrimônio, impedirá com isso
a possibilidade do próprio matrimônio, que poderia ser estimulad o
por tentativas novas e talvez mais felizes.1"

[35] O cínico, na verdade , não deveria pos suir coisa alguma; pois
todas as coisas que um homem possui, o possuem de novo, num
certo sentido.
Portanto, se trata apenas de possuir as coisas como se a gente não
52
as possuísse. Ainda mais artificia l e cínico é, porém, não as possuir
com o se a gente as possuísse. [S.]19

[36] Ninguém julga uma pintura decorativa e um retábulo, uma


opereta e uma música sacra, um sermão e um tratado filosófico
pelo mesmo critério. Então por que, à poesia retórica que existe
apenas no palco, se fazem exigências que só podem ser preenchidas
por uma arte dramática superior?

[37] Alguns achados chistosos são como o surpreendente


reencontro de dois pensamentos amigos após uma longa separação.

[38] A paciência,
Chamfort, dissea religião
assim como S., está está
parapara
o a filosofia.
état d ’épigramme
[S.]20 de

[39] Os pensamentos são, em sua maioria, apenas perfis de


pensamento s. É preciso invertê-los e sintetizá-los com seus
antípod as.21 Muitos escritos filosóficos ganham com isso u m
grande interesse, que do contrário não teriam.

[40] Notas a um poema são como aulas de anatomia sobre um


assado. [A.W.]

[41 ] Os que fizeram de explic ar Kant uma profissão foram aqueles


a quem faltava um órgão para ter alguma noção dos objetos sobre
os quais Kant escreveu; ou aqueles que tiveram apenas a pequena
infelicidad e de não comp reend er ninguém senão a si mesmos; ou
aqueles que se expressaram ainda mais confusamente do que el e.

[42] Bons dr amas têm de s er drásticos .22


[43] A filosofia ainda caminha demasiadamente em linha reta, e
ainda não é suficientemente cíclica.23

[44] Toda resenha filosófica deveria ser ao mesmo tempo filosofi a


das r ese nha s.24
53
[45] É nov o ou não é : eis a questã o que, diante de um a obra, se faz
do ponto de vista mais alto e do mais baixo, do ponto de vista da
história e do d a curiosidad e.

[46] Segu ndo o modo de pensar de alguns filósofos, um regim ento


de soldados en parade é um si stema. 25

[47] A filosofia dos kantianos se chama crítica per antiphrasin;


ou é um epitheton ornans.26

[48] Em relação aos maiores filósofos ocorre comigo o mesmo


que com Platão em relação aos espartanos. Ele os amava e

respeitava infinitamente,
parte tivessem ficado nomas sempre
meio se queixa de que em toda
do caminho.27

[49] As mulheres são tratadas injustamente, tanto na poesia quanto


na vida. A s fem ininas não são ideais, e as ideais não são femininas.

[50] Segundo a srcem, o verdadeiro am or deveria ser ao mesmo


tempo inteiramente arbitrário e inteiramente casual, e parecer ao
mesm o tempo necessário e liv re; mas, segundo o carát er, deveria
ser ao mesm o tempo destinação e virtude , e parecer um m istério e
um milagre.

[51] Ingênuo é aquilo que, até a ironia ou alternância constante


de autocriação e auto-aniquilamento, é ou parece natural,
individual ou clássico. Se é meramente instinto, é infantil, pueril
ou estulto; se é merame nte intençã o, surge a afetação. O ingênuo
belo, poético, ideal, tem de ser ao mesmo tempo intenção e
instinto. A essência da intenção é, nesse sentido, liberdade.
Consciência nem de longe é intenção. Há um certo intuir
apaixonado da própria naturalidade ou estultice que é mesmo
indizivelmente estulto. Intenção não requer exatamente cálculo
ou plano profund o. M esm o o ingênuo d e Homero não é meram ente
instinto: há ao menos tanta intenção a li quanto na gr aça de crianças
amáveis ou donzelas inocentes. Ainda que ele mesmo não tenha
54
tido intenção alguma, sua poesia e a verdadeira autora dela, a
natureza, têm intenção.28

[52] Há um gênero particular de homens nos quais o entusiasmo


do tédio é o primeiro excitamento d a filoso fia.
[53] É igualmente mortal para o espírito ter um sistema e não ter
nenhum . Ele terá portanto de se dec idir a vincular as duas co isas.29

[54] Pode-s e soment e vir a ser, não se r filósofo. Tão logo se acredita
sê-lo, se deixa de o vir a ser.

[55] H á classificações que são bastante ruins com o classificações,


mas dominam nações e épocas inteiras, sendo muitas vezes
extrem amen te características e como mônadas centrais de um ta l
indivíduo históri co. Assim é a divisão grega de todas as coisas em
divinas e humanas, que é me smo uma antigüidade homérica. Assim
é a divisã o roman a entre tem po de p az e temp o de gu erra. 30 Entre
os modernos se fala sempre deste e do outro mundo, como se hou
vesse mais de um. Mas c om certe za entre eles a maioria das coisas
tamb ém é tão isolada e dividida quanto este seu m undo e o ou tro.31

[56] Uma vez que agora a filosofia critica tudo o que lhe surge
pela frente, uma crítica da filosofia nada mais seria que uma justa
represália.32

[57] Com a fama literária freqüentemente ocorre o mesmo que


com o favor das mulheres e com o dinheiro. Basta de início uma
boa base para que o resto venha por si mesmo. Muitos são
considera dos grandes apenas po r acaso. “Tudo não passa de pur a
sorte” : eis o resultado de muitos fenômenos literá rios, bem como
da m aior parte dos fenômenos polít icos.

[58] Acredita na tradiçã o, e sem pre se empe nha em novas sandice s;


ávida de imitação e orgulhosa de sua independência, desastrada
naquilo que é superficial e hábil até a destreza naquilo que é
55
profunda ou tristemente pesado; triv ial por natureza, mas
transcendente, pelo esforço, nos sentimentos e visões ; resgua rdada
em severa comodid ade por sagrada aversão ao chiste e à malíci a:
à grande massa de que literatura poderiam corresponder esses
traços? [A.W.]
[59] Os maus escritores se queixam bastante da tirania dos
resenhistas; creio que são este s que deveriam se queixar. D evem
ach ar belo, espirituoso, excelente, algo que não é nad a disso; e, se
não fosse o pequeno detalhe do pode r, os resenhados procederiam
com eles do mesmo modo que Dionísio com os que lhe
desaprovavam os versos. Isso foi dito alto e bom som por um
Kotzebu e. Pa ra anunciar os novos produtos desses tais pequenos
Dionísios também já bastariam as palavras: Levem-me de volta
às Latomias.33 [A.W.]

[60] Os súditos de alguns países se vangloriam de uma porção de


liberdades, todas as quais se lhes tornariam supérfluas pela
liberdade. Do mesmo modo se dá grande ênfase a belezas de alguns
poemas apenas porque não têm beleza alguma. São plenamente
artísticos no particu lar, mas n enhu ma obra de arte no to do. [A.W.]

[61] Os poucos escritos que existem contra a filosofia kantiana


são os documentos mais importantes da história da enfermidade
do bom senso.34 Essa epidemia, que surgiu na Inglaterra, um dia
ameaçou contaminar até mesmo a filosofia alemã.

[62] Imprimir está para o pensar, assim como a recuperação após


parto está para o primeiro beijo.

[63] Todo homem inculto é a caricatura de si mesmo.

[64] Moderantismo35 é o espírito da iliberalidade castrada.

[65] Muitos encomiastas dem onstram antiteticamente a grandeza


de seu ídolo exibindo a própria pequenez.
56
[66] Qu ando não tem mais nada que responder ao críti co, o autor
gosta de lhe dizer: Você não pode fazer melhor. Isso é o mesmo
que se um filósofo dogmático quisesse censura r o cético por este
não poder inventar um sistema.

[67] Seria iliberal não pressupor que todo filósofo é liberal e,


conseqüentem ente, resenhável; ou até não o fi ngir, mes mo que se
saiba o contrário. Mas seria presunçoso tratar poetas do mesmo
modo; seria preciso ser totalmente poesia e como que uma obra
de arte viva e ativa.

[68] Só ama efetivamente a arte o amante da arte que pode

renunciar
plenamentecompletam entepode
satisfeitos, a alguns de apreciar
ainda seus desejos, onde vê mesmo
severamente outro s
aquilo que é mais amado, aceita explicações quando necessário e
tem sentido para a história da arte.

[69] Já não temos as pantomim as dos antigos. Em compe nsação,


agora toda a poesia é pantomímica.

[70] Onde um promotor público deve entrar em cena, já tem de


estar presente um jui z público.

[71] Sempre se fala da perturbação que a dissecação do belo


artístico provoca na fruição do aman te. M as o verdadeiro aman te
não se deixa pe rturbar assim !

[72] Panoramas do todo, como agora estão em moda, surgem


quando alguém passa por alto36 cada particularidade e depois faz
a soma.
[73] Não deveria acontecer com o crescimento populacional o
mesmo que com a verdade, onde o esforço, como se diz, é mais
valioso que os resultados?

[74] Pelo uso corrompido da linguagem, verossímil significa o


57
mes mo que aproxim adamen te verdadeiro, ou um tanto verda deiro,
ou aquilo que talvez um dia ainda possa se tom ar verdadeiro. Mas,
já por sua formação, a palavra não pode designar nada disso. Aquilo
que parece verdadeiro não o precisa ser sequer em grau mínimo,
mas tem,
objeto positivamente,
da prudência, de parecer
da capacidade de verdadeiro.
adivinhar asOconseqüências
verossímil é
reais entre as conseqüências possíveis de ações livres, e algo
inteiramente subjetivo. Aquilo que alguns lógicos assim
denom inaram e tentaram calcular é possibilidade.3 7

[75] A lógica formal e a psicologia empírica são grotescos


filosóficos. Pois o interessante de uma aritmética das quatro

operações ouentre
no contraste de uma física
forma experimental do espírito só pode residir
e matéria.38

[76] A intuição intelectual é o imperativo categórico da teoria.39

[77] Um diálogo é uma cadeia ou coroa de fragmentos. Um


epistolário é um diálogo em escala ampliada e memórias, um
sistema de fragmen tos. Ainda não há nenhum que seja fragmentário
na forma e na matéria , ao mesm o tempo inteiramente subjetivo e
individual e inteiramente objetivo e como uma parte necessária
no sistema de todas as ciências.40

[78] Em geral, não ente nder não provém da falta de entendimento,


mas d a falta de sent ido. 41

[79] A loucura só é diferente da sandice por ser arbitrária com oa


tolice.42 Se essa distinção não é válida, então é bastante injusto
encarcerar alguns loucos, deixando outros fazer fortuna. Eles só
diferem em grau, não em gênero.

[80] O historiador é um profeta voltado para o passado.43

[81] A maioria dos hom ens não conhece outra dignidade além da
representativa e, no entanto, só bem poucos têm sentido para o
58
valor repres entati vo. Mesmo aquilo que não é absolutamente nada
por si, será todavia uma contribuição para a caracterização de
algum gênero, e sob esse aspecto se poderia dizer: ninguém é
desinteressante.

[82] As demonstrações da filosofia são demonstrações


precisamente no sentido da linguagem técnica militar. Quanto às
deduções, a situação não é melhor do que com as deduções
políticas: também nas ciências primeiro se ocupa um terreno e
depois se demo nstr a o direito a ele.44Pode- se a plica r às definições
aquilo que Chamfort diz dos amigos que se têm no mundo. Há
três espéci es de definições na ciência : defi nições que nos dão um a
luz ou
que uma indicaçã
obscurecem tudo.o, Definições
definições que nadanão
corretas definem, e definições
se deixam de
maneir a alguma fazer de improviso, mas têm de ocorrer a alguém
em virtude de si mesmas: uma definição que não seja chistosa
não vale nada e, no entanto, para cada indivíduo há infinitas
defi niçõ es reais.45As form alidade s nece ssária s da filosof ia-de- arte
degeneram em etiqueta e luxo. Têm seu valor e fim como
legitimação e prova de virtuosismo , assim como as árias de bravura
dos menestréis e o latim escrito pelos filólogos. Também não
provocam pouco efeito retórico. O principal, porém, continua
sendo que se saiba algum a coisa e que seja dita. Quer er demonstrá-
la ou mesm o defini- la é, na ma ioria dos casos, bastante supér fluo. 46
O estilo categórico das Leis das Doze Tábuas e o método tético,
onde os fatos puros da reflexão se encontram sem ocultamento,
atenuação ou dissim ulação artificial, co mo textos para estudo ou
sinfilosofia, são os mais adequados para a filosofia-de-natureza
culta . S e as duas coisas devem ser igualmente aprimoradas, então
é indiscutivelmente muito mais difícil afirmar do que demonstrar.
Para proposições equivocadas e triviais há uma porção de
demonstrações excelentes quanto à forma. Leibniz afirmava, e
Wolff demonstrava. Não é preciso dizer mais nada.47

[83] O princípio de contradição não é sequer o princípio da aná


lise, isto é, da análise absoluta, a única digna do nome, da
59
decomposição química de um indivíduo em seus elementos
inteiramente simples.

[84] Subjetivamente considerada, a filosofia sempre começa no


meio, como o poema épico.48
[85] Proposições fundamentais49 são para a vida o que instruções
redigidas em gabinetes são para o coman dante de campo.

[86] Genuína benevolência visa o incentivo da liberdade alheia,


não o consentimento de deleites bestiais.50

[87] No amor, em primeiro lugar vem o sentido de um para o


outro, e o mais elevado é a crença de um no outro. Entrega é
express ão da crença, e o deleite pode vivificar e apu rar o sentido,
mas não o produzir, como é opinião comum. Por isso, durante um
breve tempo a sensi-bilidade pode dar a pessoas más a ilusão de
que poderiam se amar.

[88] Há homens cuja inteira atividade consiste em sempre dizer


não. Não seria pouco poder dizer não sempre com acerto, mas
quem não sabe fazer nada mais, certamente não o sabe direi to. O
gosto desses negadores é uma tesoura hábil para aparar as
extremidades do gênio; sua Ilu straçã o, um grande arrefeced or da
cham a do entusiasmo; e sua razã o, um laxante suave para praze r e
amor desmedi dos.

[89] A crítica é o único sucedâneo daquela matemática moral e


daquela ciência da conveniência inutilmen te buscadas p or tantos
filósofos, e igualmente impossíveis.
[90] O objeto da história é a efetivação de tudo aquilo que é
praticamente necessário.

[91 ] A lógica não é nem o preâmbulo, nem o instrumento, nem o


for-mulário, nem um episódio da filosofia, mas uma ciência
60
pragmática oposta e coordenada à poética e à ética, que parte da
exigên cia da verdade positiva e da pressuposição da possibilidade
de um sistema.

[92] Enquanto os filósofos não se tornarem gramáticos ou os


gramáticos filósofos, a gramática não será o que foi entre os
antigos, uma ciência pragmática e uma parte da lógica, nem se
torna rá uma ciên cia em geral.51

[93] A doutrina do espírito e da letra é, entre outras coisas, tão


interessante porque pode pôr a filosofia em contato com a
filologia.52

[94] Todo grande filósofo ainda tem explicado, m uitas vezes sem
intenção, seus predecessores de tal modo que parece que, antes
dele, ningu ém os en tend eu.53

[95] Algumas coisas a filosofia tem provisoriamente de press upor


para sempre, e é lícito que o faça, porque o tem de fazer.54

[96] Quem não filosofa por amor à filosofia, mas usa a filosofia
como meio, é um sofista.55

[97] Como estado passageiro, o ceticismo é insurreição lógica;


com o sistema, é anarquia. Portanto, método cético seria algo mais
ou menos como um governo insurgente.

[98] Filosófico é tudo aquilo que contribui para a realização do


ideal lógico, e tem formação científica.56

[99] As expressões sua filosofia, minha filosofia, sempre fazem


lembrar as palavras do Natã : “A quem pertence Deus? Que Deus
é este, que pertence a um homem?”57

[100] Aparência poética é jogo de representações, e jogo é


aparência de ações .
61
[101] Aquilo que acontece na poesia, ou não acontece nunca, ou
acontece sempre. Do contrário, não é verdadeira poesia. Não se
pode ser obrigado a acreditar que esteja efetivamente acontecendo
agora.

[102] As mulhere s não têm se ntido para a arte , mas para a poesia.
Não têm disposição para a ciência, mas para a filosofia.58 Não
lhes falta especulação, intuição interna do infinito, mas apenas
abstração, que se pode muito bem aprender.

[103] Que se aniquile uma filosofia, com o incauto podendo


às vezes facilmente se aniquilar junto, ou que se mostre a ela

que aniquila
tivamente a si mesma,
filosofia, semprelherenascerá,
causa pouco
comodano.5y Se é das
uma fênix, efe
próprias cinzas.

[104] Pelo conceito cósmico, kantiano é t odo aquele que tam bém
se interessa pela literatura filosófica alemã mais recente. Pelo
conceito escolar60, só é kantiano aquele que acredita que Kant
seja a verdade e que facilmente poderia ficar sem a verdade por
algumas semanas, se à mala-post a de Königsberg ocorresse algum
acid ente .61 Pelo antiquad o conc eito soc rático — os que s e
apropriavam autonomamente do espírito do grande mestre e
junto a ele se formavam eram chamados de discípulos, dele
recebendo o nome, como filhos de seu espírito — , só poderia haver
poucos kantianos.

[105] Como o Prometeu de Ésquilo, a filosofia de Schelling, que


se poderia chamar de misticismo criticizado62, termina com
terrem oto e destruição.
[106] A apreciação moral é inteiramente oposta à apreciação
estética. Lá, a boa vontad e é o valor de tudo; aqui, de absoluta mente
nada. A boa vontade de ser chistoso é, por exemplo, a virtude de
um palhaço. No chiste, querer só pode consistir em suprimir as
barreiras convencionais e em deixar o espírito livre. O mais
62
chistoso seria, contudo, quem o fosse não apenas sem querer, mas
também contra a sua vontade, assim como o bien faisan t bourru63
é no fundo o mais benévolo dos caracteres. [A.W.]

[ 107] O postula do tacitamente pre ssupos to e efetivame nte prime iro


de todas as harmonias kantianas dos evangelistas afir ma: a filosofia
de Kant deve concordar consigo mesma.

[108] Belo é aquilo que é ao me smo tem po atraen te e subl ime. 64

[109] Há uma micrologia e uma crença na autoridade que são


traços característicos da grandeza. São a micrologia perfeccionista
do artista e a crença histórica na autoridade da natureza.
[110] Há um gosto sublime em sempre preferir coisas à segunda
potência. Por exemplo, cópias de imitações, juízos sobre resenhas,
adendo s a suplementos, comentár ios a notas. A nós outros, alemães,
ele é próprio sobretudo quando se trata de prolixidade; aos
franceses, quando co m ele se favorecem a concisão e a vacuidade .
A instrução científica deles costum a ser o sumário de um excerto,
e o produto supremo de sua arte poética, a tragédia, é apenas a
fórmula de uma forma. [A.W.]

[111] Os ensinamentos que um romance pretende dar têm de ser


tais que só se deixem comunicar no todo, mas não demonstrar
isoladamente nem esgotar por desmembramento. Senão a forma
retórica seria incomparavelmente mais vantajosa.

[ 112] O que h abitua lmen te vin cula os filósofos q ue não se opõem


uns aos outr os é somen te simpat ia, não sinf ilosof ia.65

[113] Uma classificação é uma definição que contém um sistem a


de definições.

[ 114] U ma defi nição d a poes ia só pode de term inar o que ela deve
ser, não o que efetivamente foi e é, senão diria da maneira mais
63
breve: poesia é aquilo que assim se chamou em alguma época e
em algum lugar.

[115] Os gregos e Píndaro demonstram que o fato de ser bem


pagos não não
pagamento profana a nobreza édos
traz felicidade, hinos
o que pátrios. Mas
demonstram que só
os ingleses,
que ao menos nisso pretenderam imitar os antig os. Assim, a beleza
não pode se r comp rada e vendida na Inglaterr a, ainda que a virtude
o possa ser.66

[ 116] A poes ia rom ântic a é uma poesia universal progress iva. Sua
destinação não é apenas reunificar to dos os gêneros separado s da
poesia e pôr a poesia em contato com filosofia e retórica. Quer e
também deve ora mesclar , ora fundir poesia e prosa , genialidade e
crítica, poesia-de-arte e poesia-de-natureza, tornar viva e soci ável
a poesia, e poéticas a vida e a sociedade, poetizar o chiste,
preencher e saturar as formas da arte com toda espécie de sólida
matéria para cultivo, e as animar pelas pulsações do humor.
Abrange tudo o que seja poético, desde o sistema supremo da
arte, que por sua vez contém e m si muitos sistemas, a té o suspiro,
o beijo que a criança poetizante exala em canção sem artifício.
Pode se perder de tal maneira naquilo que expõe, que se poderia
crer que car acterizar indivíduos de toda espécie é um e tudo para
ela; e no entanto ainda não há uma forma tão feita para exprimir
completamente o espírito do autor: foi assim que muitos artistas,
que também só queriam escrever um romance, expuseram por
acaso a si mesmos. Somente ela pode se tornar, como a epopéia,
um espelho de todo o mundo circundante, uma im agem da época.
E, no entanto, é também a que mais pode oscilar, livre de todo
interess e real e ide al, no meio entre o expos to e aquele que expõe,
nas asas da reflexão poética, sempre de novo potenciando e
multiplicando essa reflexão, com o num a série infinita de espelhos.
É capaz da formaç ão mais alt a e uni versal, não apenas de dentro
para fora, mas também de fora para dentro, uma vez que organiza
todas as partes semelhantemente a tudo aquilo que deve ser um
todo em seus produtos, com o que se lhe abre a perspectiva de um
1'lassi cismocresce nd o sem limites. A poesia rom ântic a é, ent re a s
mies, aquilo que o chiste é para a filosofia, c sociedade,
relacionamento, amizade e amor são na vida. Os outros gêneros
poéticos estão prontos e agora podem ser completamente
ilissecados. O gênero poético romântico ainda está em devir; sua
ve rda dei ra ess ên cia é m esm o a de que só p ode vir a ser, jam ais se r
ile maneir a perfei ta e acab ada. Nã o p ode ser esgo tad o por nenhuma
leoria, e apenas uma crítica divinatória poderia ousar pretender
cnracterizar-lhe o ideal. Só ele é infinito, assim como só ele é
livre, e rcconhccc, como sua primeira lei, que o arbítrio do poeta
imo suporta nenhuma lei sobre si. O gênero poético romântico é o
tlnico que é mais do que gênero e é, por assim dizer, a própria
poesia: pois, num ccrto sentido, toda poesia é ou deve ser
romântica/’7

1117| Seria melhor não escrever obras cujo ideal não tem para o
poeta realidade tão viva e, por assim dizer, tanta personalidade
(|ua nt o a amada ou o am igo. A o m enos é c eito que não se to rn ar ão
ohras de arte.

1118] Não é sequer uma titilação delicada, mas no fundo uma


lililação bem grosseira do egoísmo, se num romance todas as
personagens giram cm torno de uma só, como os planetas em
lor no do so l, personagem que é habitualmente o fi lhinh o querido
c malcri ado do autor e se torna esp elh o e adula dor do deslumb rado
leilor. As sim com o um hom em culto não é apenas fim, mas também
meio para si e para outros, assim também todos deveriam ser ao
mesmo tempo fins e meios no poema culto. Mesmo que a
con stituição seja republicana, ainda é permitido que algum as parte s
sejam ativ as, outras pa ss iv a s/ '1*

11 19] iMesmo aquelas imagens da língua que parecem mero


rapricho têm freqüentemente significado profundo. Que analogia
liá, se poderia pensar, entre massas de ouro e prata e aptidões do
espírito que são tão seguras e tão perfeitas e acabadas, que se
(ornam arbitrárias, e se srcinaram tão casualmente, que podem
65
parecer inatas? E contudo salta aos ollios que a gente somente
tem, somente possui talentos, como coisas que conservam seu
só lido valor m esm o qu e não p ossa m eno bre cer o p oss uid or /’1-' Na
verdade, jamais se pode ter, mas somente ser gênio. Para gênio
tampouco há plural, que aqui já está contido no singular. É que o
gê nio é um sistem a d e talentos.™

1120] Respeitam pouco o chiste, porque suas manifestações não


são suficientemente longas e amplas, e a sensibilidade deles c
apenas uma matemática obscu ramente rep res ent ada; e porque riem
dele, o que seria contra o respeito se o chiste tivesse verdadeira
dignidade. O chiste é como alguém que, por regra, deveria
rep re sen ta r e, em ve z disso, sim plesm ente age.

[121] Uma idéia é um conceito perfeito e acabado até a ironia,


uma síntese absoluta de antíteses absolutas, alternância de dois
pensamentos conflit antes que engendra cont inuamente a s i mesma.
Um ideal é, ao mesmo tempo, idéia e fato. Se para o pensador os
ideais não têm tanta individualidade quanto os deuses da
antigüidade par a o art is ta , toda ocupa ção c om idéias nada m ais é
que um entediante e cansativo jog o de dados com fórmulas vazias,

ou umachineses.
bonzos contemplação
Nada édetida
mais do próprio enariz,
lastimável à maneira
desprezível dos
do que
essa esp eculação sent imenta l sem objet o. N ão se deveria cha mar
isso de mística, já que essa bela palavra antiga é bastante útil e
indispensável para a filosofia absoluta, a partir de cujo ponto de
vista o espírito observa, co m o m ist ério e m il agre, t udo aquilo que
de outros pontos de vista acha teórica e praticamente natural.
Especulação en clétail é tão ra ra quanto abstração en gro s, e contudo
são e las q ue engen dram tod a a m atér ia do c histe c ien tífico 71, são
os princípios da crítica mais elevada, os degraus supremos da
form ação espiritual. A grande abstração práti ca to rna propriamente
an tigos os an tigos, entre os quais er a instinto .72 Em vão teria m o s
indivíduos exprimido inteiramente o ideal de seu gênero, se os
próprios gêneros não fossem também rigorosa e nitidamente
isolados e, por assim dizer, deixados livremente à própria
66
srcinalidade. Mas pôr-se arbitrariamente quer nesta, quer noutra
lislera, como num outro mundo, não apenas com entendimento c
imaginação, mas com toda a alma; renunciar livremente quer a
usla, quer àquela parte de sua essência e se limitar inteiramente a

uma outra;
naquele procurar
indivíduo, e encontrar
e esquecer seu um e tudo
intencionalmente todosora neste, ora
os outros:
disso só é capaz um espírito que, por assim dizer, contém em si
uma multi plic idade de espíri tos e um sistema com pleto de pe ssoas,
i; em cujo interior cresceu e amadureceu o universo que, como se
diz, deve germinar cm cada mônada.73

1122] Quando lhe surgia pela frente um novo livro daqueles que

nem esfriamnanemBesquentam,
ser elogiado i b l i o t e c a d eBiirgcr
b e la s costumava dizer: merece
c iê n c ia s . [A.W.]74

1123] N ão d ever ia a poe sia ser a suprema e m ais dign a de todas as


mies, entre out ras cois as também por ist o, que so m en te ne la dr amas
são possíveis?

1124] Se é por psicologia que se lêem ou escrevem romances,


então é bastante inconseqüente e mesquinho querer ter receio
mesm o da mais lent a e d etalhada diss ec aç ão de prazeres inal urais,
de martírios medonhos75, da infâmia revoltante, da repugnante
impotência dos sentidos ou do espírito.

1125] U m a épo ca inteiramente nova da s ciênc ias e arte s come çaria


lalvez quando sinfilosofia e simpoesia tivessem se tornado tão
universais e tão interiores, que já não seria nada raro se algumas
naturezas que se complementam reciprocamente constituíssem
ob ra s em conjunto. M uitas ve zes não se pode evi tar o pensam ento
tle que dois espíritos poderiam no fundo pertencer um ao outro,
com o m etades separada s, e s ó j untos ser t udo o que p udesse m ser.
Se hou ve sse uma a rte de f undir indivídu os, ou se a crít ica desejo sa
co nse gu isse algo mais que d esej ar, p ara isso encontrando em to da
parte muita ocasião, então gostaria de ver combinados Jean Paul
: P et er Leb er ec ht . T ud oaq uilojus tam en tequ efaltaau m , o o ut ro
67
possui: juntos, o talento grotesco de Jean Paul e a formação
fantástica de Peter Leberecht produziriam um notável poeta
romântico.76

[126] Todos os dramas nacionais e feitos para causar efeito são


mimos romantizados.77

[127] Klopstock7llé um poeta gramatical, c um gramático poético.


[A.W.]

[128] Nada mais lastimável do que se entregar inutilmente ao


di abo; por exem plo, fazer poemas lascivos que não sejam sequei
notáveis. [A.W.]

[129] Em questões como o uso da métrica no drama, muitos


teóricos com bastante freqüência se esquecem de que em geral
poesia é somente uma bela mentira, da qual todavia também se
pode diz er:

M a g n a n im a m e n z o g n a , o v ’o r ’ è il v e r o
Si bell o, che si pos sa a te prep orre ?1 9[ A.W.]

[130] Tambcm há místicos gramaticais. Mnritz80 era um. [A.W.]

[ 131 ] O poet a po uco pode aprender com o filó so fo , mas est e pod e
aprender muito com aquele. É mesmo de temer que a lamparina
do sáb io possa extr aviar alguém acostuma do a caminhar à luz da
revelação. [A.W.]

1132] Poetas sempre são Narcisos. [A.W.]

[133 ] C om o se as mulheres fizes sem tudo pelas pr ópr ia s m ãos, e


os homens por meio dc apetrechos. [A.W.]

[134] O sexo masculino não será aprimorado pelo feminino até


qu e se int roduz a a suces são matriarc al, com o entr e os naires . [A. W.]

68
| H. i | Às v ez es se perc ebe uma con caten açã o entr e parte s separ adas
y licqüentemente contraditórias de nossa formação. É assim que
iiN melhore s seres hum anos de nos so s dr amas morais parec em
unir das mãos da pedagogia mais recente. [ A.W.l

| Mü| Há espíritos para os quais falta flexibilidade, a despeito do


Hnmde esforço e da direção determinada de sua força. Farão
descobertas, embora poucas, e correndo o risco de sempre repetir
Ni ms fra ses predil etas . M esm o pressionando co m bast ante força a
troca contra a madeira, não se irá fundo se ela não girar. [A.W.]

1137] Há uma retórica material, entusiástica81, que está


inf ini tamen te aci ma daquele abuso sofístic o da filoso fia, d aqueles
declamatórios exercícios de estilo, daquela poesia aplicada e
ilaquela política improvisada que se costuma designar com o
mesmo nom e. A destinação dela é real iza r prati camente a filoso fia
u não apenas vencer dialeticamente, mas aniquilar realmente a
ii/ lo-fi loso fia e a an tifiloso fia p ráticas.8 2 R oussea u e Fich te
proíbem, mesmo àqueles que precisam ver para crer, considerar
usse ideal como quimérico.

1138] Os trágicos quase sempre situam a cena de suas poesias no


pas sad o. Por qu e isso deveria ser pura e sim plesm ente necessá rio,
por que não deveria também ser possível situá-la no futuro,
libertando num só lance a fantasia de todas as referências e
limitações históricas? Mas para suportar as figuras humilhantes
tlc uma digna exposição de um futuro melhor, um povo teria sem
tiúvida d e ter mais q ue uma c on stitu içã o republicana: teria de ter
uma mentalidade liberal.

1139] Do ponto de vista romântico, também as degenerações


.•x cên tri cas e monstruosas da poesia têm seu valor co m o materiai s
l: e xe rcíc ios prep arat óri os da universalidade, d esde que nelas haj a
;ilguma coisa, desde que sejam srcinais.

1140 ] A esp ecific ida de d o poeta dramático parece s er a de se per der


69
em out ras pesso as co m generos a magnanimidade; a do poeta lí rico,
referir tudo a si mesmo com amável egoísmo. [A.W.]

[1411 Afirma-se que há muita violação do gosto nas tragédias


inglesas c alemãs. As francesas são somente uma única grande
violação. Pois o que pode ser mais contra p gosto que escrever e
representar inteiramente fora da natureza? [A.W.]

[142] Hemsterhuis une, à rigorosa seriedade do sistemático, os


belos vôos visionários de Platão. Jacobi não tem essa proporção
harmoniosa das forças do espírito, mas profundidade e potência
atua ndo ta nto mais livre mente; ele s têm em com um o ins ti nto do
divino. As obras de Hemsterhuis poderiam ser chamadas de
poe m as intelectuais. Jaco bi não com pô s obra s de uma anti güidade
irrepreensível, perfeita e acabada, mas proporcionou fragmentos
ch eios de srci nalidade, nobreza e int eri ori dade. O m isticismo de
Hemsterhuis talvez atue mais poderosamente, porque sempre se
expan de n os limites do belo ; a r azã o, ao c ontr ári o, lo go se co loca
em posiçã o de defesa quando percebe a paixão do sentim ento que
a invade. [A.W.]

[143] Nãs,oou
clássico se com
pode oobriga
antigo rs;ninguém a consi
af in al isso derar
depende de os
m anáximas.
tigos com o

[ 144] A épo ca de ouro da l itera tur a romana foi mais ge nia l e mais
favoráv el à poesi a; a chamada épo ca de pr ata, incom para velm ente
mais correta na prosa.*3

[ 145] Por ser t ão n atural c, contu do, tão poétic o, Ho m ero é bastant e
moral como poeta. Por isso mesmo é bastante imoral como
moralista, que é aliás como freqüentemente o consideravam os
antigos, a despeito dos protestos dos melhores filósofos mais
antigos.

[146] Assim como o romance tinge toda a poesia moderna, assim


também a sátira tinge toda a poesia, o conjunto da literatura
70
romana, e, por assim dizer, nela dá o tom; sátira que, através de
Iodas as transfigurações, sempre permaneceu entre os romanos
tuna poesia universal clássica, uma poesia de sociedade a partir
ilo c para o centro do universo culto.”4 A fim de ter sentido para
mj uilo que é o m ais urbano , o mais srci nal e o mais belo na pro sa
ile um Cícero, de um César, de um Suetônio, é preciso já ter por
muito tempo amado e entendido as sátiras horacianas. São as
rlor nas fon tes srcin ais da urbanidade .

1147] Viver classicamente e realizar praticamente em si a


imligiiidade e o ápice e a meta da filologia. Seria isso possível
ui*ui nenhum cinismo?"5

1148 j A maior de todas as antíte ses jam ais hav idas é Césa r e Catão.
Snlíístio não a expôs indignamente.

1149] O sistemático Winckelmann, que, por assim dizer, lia todos


os antigos como um único autor, via tudo no todo e concentrava
Ioda a sua força nos gregos, estabeleceu, pela percepção da
ilil erença absoluta entre antigo e moderno, o primeiro fundam ento
de uma dout rina materi al da antig üid ade .86So m en te qu ando forem
encontrados o ponto de vista e as co nd içõ es da identidade absoluta
i|iio existiu, existe ou existirá entre antigo e moderno, se poderá
ili/.er que ao menos o contorno da ciência está pronto, e agora se
poderá pensar na execução metódica.

1150] O A g r í c o l a de Tácito é uma canonização classicamente


pomposa, histórica, de um administrador consular. Segundo o
modo de pens ar al i dom inante, a destinação suprema do hom em é
li iiinfar, com o consentimento do imperador.

115 11 Cada qua l ainda encontrou nos a ntigo s aqu ilo que p recisava
ou deseja va; sobr etud o a si m es m o.87

| I52| Cícero foi um grande virtuose da urbanidade, que queria


kit orador e até filósofo, e poderia ter se tomado um antiquário
71
bem genial, um literato e polímata da virtude e festividade da
Roma antiga.**

[153 ] Quanto m ais popular um auto r anti go, tant o ma is rom ântico.
Eis o princípio da nova seleção que, pela ação, os modernos
fizeram ou, antes, ainda continuam fazendo a partir da antiga
seleção de clássicos.

[154] Pa ra al guém que acaba de dei xar Aristófanes, ess e Olimpo


da com édia, a troç a romântica ap arec erá co m o um lon go fio so lto
de um tecido de Atena, como uma fagulha do fogo celeste, do
qua l o melhor se d esfa z caind o sobre a t erra.

[ 155] Diante da universa lidade política dos rom anos, as grosseira s


tentativas cosmopolitas de cartagineses e de outros povos da
antigüidade parecem a poesia-de-natureza das nações incultas
diante da arte clássica dos gregos. Só os romanos estavam
satisfeitos co m o espíri to do desp otism o c desprezav am a le tra ; só
eles tiveram tiranos ingênuos.

[156] O chiste cômico é uma mescla de chiste épico e jâmbico.


Aristófanes é ao m esmo tempo Ilom ero e Arquíloco.8 9

[ 157] O vídio tem muita sem elhanç a com Eurípides . A mesm a força
comovente, o mesmo brilho retórico e, com freqüência, a mesma
sagacidade intempestiva, a mesma abundância, vaidade e
tenuidade frívolas.

[ 158] O melhor em Marcial é aqu ilo que p oderia parecer Catulo.

[ 159 ] Em alguns poem as dos antigos t ardi os, com o, por exem plo,
na M o s e ll a de Ausônio90, já não há nada de antigo além daquilo
que é anti quado.

[ 160] Nem a formação ática , nem o e sfor ço pe la harmonia dóri ca,


nem a graç a socrática de X eno fonte, pela qua l pod e parec er amáv el,
72
CNNii arrebatado ra sim pl icid ad e, c lar ez a e d oçu ra pró pria do es til o ,
podem ocultar à mente isenta a vulgaridade que é o espírito mais
Intimo de sua vida e de suas obras. Os D i to s e f e i t o s m e m o r á v e is
demonstram quão incapaz era de compreender a grandeza do
incslre, e a A n á b a s e , a mais interessante e bela de suas obras,
f|tiik> pequeno ele mesmo foi.

11611Não seria a natureza cíclica do ser supremo em Platão e


Arist óteles a pe rson ificaçã o de uma maneira filos óf ica ?91

11 fi2) Na in ve stig aç ão da m itolo gia gr ega m ais antiga não se le vo u


muito pouco em conta o instinto que o espírito humano tem para
Inzer paralelos e antíteses? O mundo homérico dos deuses é lima
Nimples variação do mundo homérico dos homens; o hesiódico,
no qual falta a oposição heróica, se desdobra em várias gerações
opostas de deuses. Na antiga observação aristotélica, segundo a
i|iiul se conhecem os homens por seus deuses, não se encontra
lipevas a subjetivida de, por si m esm a ev iden te, de toda teolo gia ,
mas também a du plicida de m ais inc om pr een sível, inata e es pirit ual
do homem.

1163] A história dos primeiros césares romanos é como a sinfonia


i>. o lem a da h istória d e to do s o s se gu in tes .

11641Os erros dos sofistas gregos foram mais erros por excesso
do que por falta. Mesmo na confiança e arrogância com que
iiLTeditavam e pretextavam tudo saber e também tudo poder, há
iilco de bastante filosófico, não pela intenção mas pelo instinto:
pois o filó so fo só tem a alternativa d e quere r s aber tu do o u na d a. ‘;2
Aquil o a p ar tir do qual se d eve apre nder somen te algum a co isa ou
qua lq uer esp écie de coisas, seguramente não é filosofia.

11631 Em Platão se encontram em clássica individualidade, sem


mescla e muitas vezes se entrecortando, todos os gêneros puros
ila prosa grega: o lógico, o físico, o mímico, o panegírico e o
mílico. O mímico é o fundamento e o elemento geral: os outros
73
freqüentemente ocorrem apenas de maneira episódica. Há ainda
um gênero, o ditirâmbico, que lhe é especialmente próprio, no
qual é mais Plat ão. Pod eria ser chamad o de um a m escla de m íti co
e pa negíri co, se não tives se também algo daquela di gnidade densa
e simples do gcncro físico.y3
[166] Cara ct eri zar naçõ es e épo cas, descrever grandiosamente o
que é gran de, eis o talento própri o do Tác ito p oético. Em re tr at os
históricos, o Su etôn io cr ítico é o maior mestre.9 '1

[167] Quase todos os juízos artísticos são universais demais ou


específicos demais. É aqui, em seus próprios produtos, que os
críticos deveriam buscar a bela proporção, e não nas obras dos
poetas.

[168] Cícero estima as filosofias pela utilidade para o orador; do


m esm o m odo também se po de per gunt ar qual a mais adequada a o
poeta. Cert amente não um sistem a que esteja em contradição com
as resoluções do sentimento e do se nso com um; ou que tr ans fo rme
o real em aparência; ou que se abstenha de toda decisão; ou que
imp eça o imp ulso p ar a o sup ra-sensível; ou que só construa a
humanidade com o óbolo dos objetos externos. Portanto, nem
eudemonismo, nem fatalismo, nem idealismo, nem ceticismo, nem
materi ali smo, nem em piris m o. E que filo so fia res ta ao poet a? A
producen te, que part e da li berdade e da crença nela, e então mostra
co m o o espí rito humano cm tudo imprime sua lei e com o o mundo
é sua obra de arte.95

[169] Demonstrar a p r i o r i traz consigo uma bem-aventurada

quietude, ao epasso
pela metade que a obse
inacabado. rvaçã mero
Mediante o é algo que sempre
conceito, perman ece
Aristóteles
tornou o mundo esférico: não lhe deixou a menor saliência ou
concavidade. Por isso, também atraiu os cometas para a atmosfera
da terra e rejeitou sem mais os sistemas solares verdadeiros dos
pitagóricos. Por quanto tempo nossos astrônomos que observam
pelos telescópios de Herschel ainda terão de trabalhar para
74
novamente chegar a uma compreensão tão determinada, clara e
ofilórica do mundo? [A.W.J

11701 Por que


licqiiência? Que asconclusão
alemãs não escrevem
se pode romances
tirar daí sobre a com mais
habilidade
ilp.las para representar romances? Essas duas artes estão ligadas
uma à outra, ou aquela está para esta numa proporção inversa? A
Nf|>unda resposta já seria quase presum ível pela ci rcunstân cia de
i|tic tant os roman ces tenham sid o escrito s por ingle sas, e tão pouc os
Iii ir france sas. Ou ser á que as fr an ces as a traentes e ch eia s de es pír ito
kc encontram no mesmo caso de atarefados homens de Estado,

i|iie por meio algum chegam a escrever suas memórias a não ser
i|iiando são destituídos do serviço? E quando é que essa mulher
ili: negócios crê ter sido afastada? Diante da rígida etiqueta da
vii lude fem inin a na Ingl ater ra e da vida retirad a a que mu itas ve ze s
Nilo condenadas pela falta de delicadeza do convívio com os
liomens, a freqüência com que as inglesas se tornam autoras de
ttmance parece indicar carência de relações mais livres. Quando
leme queimar a pele passeando à luz do dia, a gente ao menos se
bronzeia nos raios da lua. [A.W.]

1171 ] Nos escritos de Hemsterhuis um crítico francês encontrou


Icj l e g m e a l le m a n d \ numa tradução francesa da H is tó r ia d a S u íç a
ilr Miiller96, um outro pensou que o livro continha bons materiais
pura um futuro historiador. Tais tolices exorbitantes deveriam ser
conservadas em anais do espírito humano: não se pode inventá-
Ins assim nem c om todo o entendim ento. Também têm semelha nça
roin idéias geniais, pois qualquer palavra acrescentada como
comentário lhes tiraria o picante. [A.W.]

1172] P od e-se dizer que é u m sinal característi co do g ên io p oético


sa be r mu ito mais do que sa be que sabe. [A.W. ]

1173] No estilo do poeta genuíno nada é ornamento, tudo é


hieróglifo necessário. [A.W.]
75
[174] A poesia é música para o ouvido interno e pintura para o
olho in te rno ; m as m úsica suave, pi nt ur a evan escen te. [A. W.]

[175] Alguns preferem contemplar quadros de olhos fechados,


para que a fantasia não seja perturbada. [A.W.]

[ 176] D e muitas abóbadas s e pod e propriamente dizer que se está


no sétimo céu. [A.W.]

[177] Para a freqüentemente tão malograda arte de pintar quadros


com palavras não se pode em geral fazer outra prescrição a não
ser a de que se varie mu ltiplamen te a maneira9 7 con form e os

objet
de umaos.narrativa.
À s v ezes, Outras
o momvezes,
ento que se exp õeuma
é necessária p odeprecisão
su rg ir vivamente
quase
matemática em indica ções locais. O tom da descrição tem em ge ral
de dar o melhor de si para que o leitor entenda o “como”. Nisso
Diderot é mestre. Ele musica muitas pinturas como o abade
Vogler.»* [A.W.]

[ 178] Se algum a cois a da pint ur a alemã p ode ser exp osta no átrio
do tem plo de Rafael, então Albrec ht Dii rer e H olbein certa mente
estarão mais perto do santuário que o douto Mengs." [A.W.]

[179] Não censurem o limitado gosto artístico dos holandeses.


Em primeiro lugar, sabem bem determinadamente o que querem.
Em segun do lug ar , cr ia ra m eles m esm os os seus gêneros. Po de-se
enaltecer uma das duas coisas no diletantismo artístico inglês?
| A.W .J

[ 180 ] A art e plástica d os greg os é bastante pu dica quan do se trata


da pur eza daq uilo qu e é nobr e: cm figuras de deu ses e heróis nus,
por exemplo, alude aos desejos terrenos com a maior discrição.
Sem dúvida, na da co nh ece de uma c ert a mc ia-delicad eza e mostr a,
por isso, sem nenhum velamento os prazeres bestiais dos sátiros.
Cada co isa tem de perm anecer em seu gênero. Aqu elas naturez as
indómitas já estavam excluídas da humanidade por sua figura.
76
I)o m esmo modo, os hermaf rodi tas t alvez não tenha m sid o criados
por um refinamento sensível, mas ético. Tendo a volúpia uma
vez tomado tal desvio, se inventaram criaturas próprias ori
ginalmente destinadas a isso. [A.W.]

1181 ] Freqüen tem ente a com po siçã o de Ruben s é diti râmbica,


enquanto as figuras permanecem indolentes e diluídas. O fogo de
seu espírito luta com a languidez do clima. Para que em seus
i|iiadros houvesse mais harmonia interna, teria de ter menos
ímpeto, ou não ser flamengo. [A.W.]

1182] Ter um Diderot descrevendo uma exposição de pintura é


um luxo verdadeiramente imperial. [A.W.]

1183] H og ar th l(>:) pint ou a feiúra e es cr ev eu sobre a b ele za . [A.W .]

1184] As bam boch atas de Pcter Laar101 são co lon os hola nd ese s na
lliília. O clima mais quente parece lhes ter bronzeado o colorido, eno
brecendo , porém, cará ter e exp ressã o pe la maior robustez. [A.W.]

1185] O objeto pode fazer esquecer as dimensões: não se


considerava descabido que Júpiter Olímpio não pudesse ficar em
pé porq ue p oria abaixo o telhado, c H ércu les ainda parece sobre-
Immanamente grande numa pedra talhada. Só dimensões que
reduz em o objeto podem ser ilusórias. A vul garidade co m o que se
multiplica por uma execução colossal. [A.W.]

1186] Rim os co m razão dos ch ine ses que, vendo re tr at os europeus


com luz e sombras, perguntavam se as pessoas eram realmente
Ião manchadas. M as ousaríam os so rr ir de um gr ego a ntigo, se lhe
íusse most rad a um a com posiç ão em claro- escuro remb ran dt ia no ,
r el e em tod a a inocê ncia pensasse: então é assim que se pinta n o
país dos cimérios? [A.W.]

1187] C ontra volú pia torpe não há rem édio m ais forte qu e adoração
da beleza. Por isso, toda arte plástica mais elevada é casta, sem
77
con sideraç ão dos objetos; purifica os sen tidos ta l co m o a trag édi a,
segundo Aristóteles, as paixões. Nisso não se levam cm conta os
efeitos contingentes dela, pois até uma vestal pode despertar

desejos cm almas sórdidas. [A.W.]


[ 188 ] Certas cois as permanecem insuperáveis, porque as cond içõe s
em que são alcançadas são degradantes dema is. Se um tabe rne ir o
bêba do co m o Jan S te en 102 jam ais será ar tis ta, não se pod e ex igir
de um artista que se torne um taberneiro bêbado. [A.W.]

[189] O sentimental é uma das poucas coisas que não serve no


E s s a i s u r l a p e i n t u r e m de Diderot. Mas por meio de sua
incomparável insolência põe de novo no rumo certo o leitor que
aquele sentimental poderia desencaminhar. [A.W.]

[19 0] A natureza ma is uniform e e plana ins trui melho r o pintor de


paisagens. Que se pense na riqueza da pintura holandesa nesse
gênero. Pobreza gera economia: forma-se um sentido comedido
que se alegra ao mais leve aceno de uma vida mais elevada na
nat urez a. Se, então, cm viagens o a rtis ta con he ce ce nas romântica s,
estas agem ta nt o m ais f ortemente sobre ele. A im aginação també m
tem suas antít eses: o maior pint or dc erm os assustadores, Salvatore
Rosa, nasceu em Nápoles. [A.W.]

[191] Os antigos, parcco, amavam o imperecível também em


miniatura: a glíptica e a miniatura da escultura. | A.W.]

[192] Por mais incansavelmente que a ciência trabalhe em todos


os tesouros acumulados da natureza, não há como fazer a própria
ar te antiga r essurgir i nte ira . Sem dúvid a, muitas v ez es isso parec e
acontecer, mas sempre falta algo, a saber, justamente aquilo que
somente vem da vida e que nenhum modelo pode oferecer. Os
de stin os da art e anti ga ressurg em, porém , com uma exatidão lit eral .
É co m o s e o esp írito de M úm io104, que tão violentam ente e xerc eu
seu conhecimento sobre os tesouros artísticos coríntios,
ressuscitasse agora do reino dos mortos. [A.W.]
78
11931Se a gente não se deixa ofuscar por nomes de artistas e
(il usões eruditas, de sco br e que o sen tido para a arte plástica é ma is
rum do que se deveria esperar entre poetas antigos e modernos.
I’ín da ro , sobretudo, p ode ser chama do de plás tico entre os poetas,
u o estilo delic ad o da pin tura cm va sos antig os lembra sua b ran dura
ilói ica e sua pompa suave. Propércio, que em oito linhas podia
caracterizar o mesmo tanto de artistas, é uma exceção entre os
romanos. Dante mostra, pelo tratamento daquilo que é visível,
grandes disposições para pintor, mas tem mais determinação no
desenho do que perspectiva. Faltavam-lhe objetos para exercitar
esse sentido: pois então a arte moderna estava na infância, e a
antiga ainda jazia no túmulo. Mas que carecia de aprender com

pintores
Ario sto seaquele com quem
encontram fort esMichelangelo
ve stígio s depodia aprender?
que viveu na ép Em
oca mais
floresce nte da p intur a; às ve ze s o go sto que por ela tem o arre bat a,
na descrição da belez a, par a fora dos lim ites da poesia . Isso jam ais
é o caso em Goethe. E ste po r vez es to rn a a s art es plásticas objeto
de suas poesias; fora disso, jamais se força ou busca uma alusão a
elas. A plenitude da po sse serena não urge po r apar ecer , tam pou co
por se ocu lt ar. M esm o sem levar em conta t odas essas passag ens,
nã o haveri a com o não reconhecer o amor à arte e o disce rnim ento
do poeta no agrupamento de suas figuras, na grandeza simples de
seus traços."1 5 [A.W.]

| I94J Ma numismática, a chamada ferrugem nobre é conhecida


como sinal da autenticidade de moedas antigas. A arte da
lalsificação aprendeu a imitar tudo melhor, exceto esse sinal dos
tempos. Também há uma tal ferrugem nobre nos homens, heróis,
sábios, poetas. Johanne s M üll eré um not ável num ismata do gênero

humano. |A.W.J
119 5] Por ter escrito seu livro sobre o p r o g r è s d e l ' e s p r i t h u m a in m
quando co rri a risco de vida, não sc deu C ondorcet um m onum ento
mais belo do que se tivesse empregado aquele curto espaço de
tempo pondo seu próprio indivíduo finito no lugar daquelas
perspectivas infinitas? De que melhor forma poderia apelar à
79
posteridade a não ser esqucccndo-se de si mesmo na companhia
dela? [A.W.1

1196] Puras autobiografias ou são escritas por doentes nervosos


sempre exilad os em seu própri o eu, dos quais faz part e Roussea u;
ou por um forte amor-próprio artístico ou aventureiro, como o de
Bevenuto Cellini; ou por historiadores natos, que são para si
mesmos apenas material da arte histórica; ou por mulheres que
também são coquetes com a posteridade; ou por mentes
meticulosas, que antes da morte gostam de botar em ordem até o
menor grãozinho de pó e não podem se permitir deixar o mundo
sem explicações; ou devem ser simplesmente consideradas, sem
mais, como p l a i c l o y e r s diante do pú blico . O s a uto ps eu sta s107
constituem uma classe numerosa entre os escritores
autobiográficos.

[197] Dificilmente uma outra literatura tem para mostrar tantas


aberrações devidas à mania de srcinalidade quanto a nossa.
Tambcm aqui se mostra que somos hiperbóreos. É que entre os
hiperbóreo s se sacrificavam asnos a A po io, que se rejubil ava com
seus saltos espantosos. [A.W.]

[198] No passado, entre nós se preconizava exclusivamente a


natureza; agora se preconiza exclusivamente o ideal. Muito
freqüentemente se esquece que essas coisas são internamente
compatíveis, que na bela exposição a natureza deve ser ideal e o
ideal, natural. [A.W.]

[199] Os estalajadeiros foram indiscutivelmente os primeiros a


sugerir a opinião de que o caráter nacional inglês é sublime; mas
romances e espetáculos a favoreceram e, assim, deram uma
contribuição não desprezível à doutrina do ridículo sublime.
[A.W.]

[2001“Jamais confiarei num tolo”, diz um tolo bem sensato cm


Shak espeare, “até que veja seu cérebro ”. 1“ Qu e se exija es sa
80
condição para confiar em certos pretensos filósofos: aposto que
kc encontrará p a p i e r m â c h é feito de escritos de Kant. [A.W.]

| ?,()!]éNo
onde F a ta li sele
Diderot, ta , énos E n s a io s até
verdadeiro s o b or e despudor.
a p in tu r a Não
c cmraro
toda parte
Hiirpreendeu a natureza em atraente roupão de dormir; algumas
vc/.cs também a viu fazer suas necessidades. [A.W.]

|202] Desde que tão incisivamente se ressaltou a necessidade do


Ideai na arte, vêem-se os aprendizes correndo candidamente atrás
ilessa ave para, tão logo estejam bastante próximos, espargir-lhe
na cauda o sal da estctica. [A.W.]

1203] M oritz gostava do uso g rego de a djetivos neutros pa ra cois as


nbstratas e nele buscava algo misterioso. Poder-se-ia dizer, na
linguagem da M it o lo g ia e de A n tl m s a , que em tod a pa rte o humano
husca se aproximar do sagrado, e o pensante busca novamente se
reconhecer no simbólico, embora por vezes não entenda a si
mesmo.109 [A.W.]

1204] Por melhor que seja aquilo que se diz do alto da cátedra, a
melhor alegria se perde, pois não se pode intervir durante a fala.
O mesmo ocorre com escritores doutrinários. [A.W.]

1205] Costumam chamar a si mesmos de crítica. Escrevem de


modo frio, superficial, altaneiro e imen sam ente insípido. Natureza,
sentimento, nobreza e grandeza de espírito absolutamente não
existem para eles e, no entanto, procedem como se pudessem
convocar tais coisas perante seus tribunaizinhos. Imitações da
antiga mania de versificação do mundo elegante francês são a
meta suprema de sua tépida admiração. Correção é para eles
sinôn imo de vir tud e. G osto é o ídolo d eles, um ído lo ao qual só se
pode servir sem alegr ia. — Quem não reconh ece n esse retrato os
sacerdotes do templo das belas ciências, que são do mesmo sexo
i|tie os sacerdotes de Cibele?"" [A.W.]
81
[206] Um fragmento tem de ser como uma pequena obra de arte,
totalmente separado do inundo circundante e perfeito e acabado
em si mesmo como um porco-espinho.

[207] O livre-pensamento sempre progride na seguinte escala:


primeiro se at aca o diabo, dep ois o Espírito Santo, dep ois o Senhor
Jesus Cristo e, por fim, o Deus Pai. [A.W.]

[208] Há di as cm que se está com uma disposição muito feliz e se


pode facilmente fazer novos esboços, sem os poder comunicar
nem efetivamente produzir alguma coisa. Não são pensamentos,
mas apenas almas de pensamentos. [A.W.]

[209] Um a língua, pri sio neira das conven iências co m o a f ranc esa ,
não deveria ser capaz de se republi canizar p or uma reivindicação
de poder por parte da vontade geral? É manifesto o domínio da
língua sobre os espíritos: mas disso não se segue sua sagrada
inviolabilidad e, Ião pouc o quanto se po de permiti r que , no direit o
nat ura l, valha a outr ora pretendida o rigem divina d e todo o poder
do Estado. [A.W.]

[210] Conta-se que K lopstock saud ou o poeta f rancês Rouget de


Lisle, que o visitava, com a interpelação: como ousava aparecer
na Alemanha, se sua M a r s e l h e s a custara a vida de cinqüenta mil
bravos alemães? A ce nsura foi imerecida. S ansão não d errot ou os
fil isteus com uma maxila de jumento? M as se a M a r s e l h e s a te m
efetivamente parte nas vitórias da França, Rouget de Lisle ao
menos esgotou nessa única obra o poder letal de sua poesia: com
todas as ou tra s juntas n ã o s c mata ria sequer um a m os ca .111 [A.W.]

[2111Não respeitar a plebe é moral; honrá-la, legal.

[212] Talvez nenhum povo seja digno da liberdade, mas isso


compete ao f o r u in D e i ." 2

[213] Somente merece ser chamado de aristocracia o Estado em


82
i|iic ao m enos a pequena ma ssa que despotiza a grande te nha uma
i.onstituição republicana.

| .’,I4 | A re pú blica perfeita não teria de ser ap enas d em ocr átic a,


mas ao m esm o temp o tam bém aristocrática e m oná rqu ica113; numa
legislação de liberdade e igualdade o cultivado teria de suplantar
i’ conduzir o in culto, e tudo ter ia de se organizar num todo absolu to.

12 15 J Po de-se chamar de mor al uma legislação que pune m enos


rigorosamente os ataques à honra do que à vida dos cidadãos?

1216] A Revolução Francesa, a doutrina-da-ciência de Fichte e o


Meister de Goethe são as maiores tendências da época. Alguém
i|ue se choca com essa combinação, alguém ao qual nenhuma
revolução pode parecer importante, a não ser que seja ruidosa e
material, alguém assim ainda não se alçou ao alto e amplo ponto
ilc vista da história da humanidade. Mesmo em nossas pobres
histórias da civilização, que no mais das vezes se assemelham a
uma compilação de variantes, acompanhadas de comentário
contí nuo, a u m texto clássic o q ue se perde u, alguns livrinhos, nos
quais na época a plebe barulhenta não prestou muita atenção,
dese m pen ham um papel maior do q ue tudo o que esta pr od uz iu.11,1

12 17] A rcaísm o nas p alavra s e ino va ção na sintaxe, densa con cisã o
e abundância de desenvolvimentos paralelos que reproduzem
lambém os traços menos definíveis de indivíduos característicos:
cis as qualidades essenciais do estilo histórico. De todas, a mais
essencial c nobreza, esplendor, dignidade. O estilo histórico se
notabiliza pela homogeneidade e pureza das palavras nativas de
autêntica raiz, pela escolha das mais significativas, mais
importantes e preciosas; pela construção de períodos longos,
claramente articulados, e mais duros que confusos, como os de
Tucídi des; pela despojada so lidez , sub lime celeridade e grandiosa
j o v ia li d a d e da a t m o s fe r a e da co r, à m a n e ir a d e C é sa r; m as
sobretudo por aquela elevada formação interna de um Tácito, a
qual precisa poetizar, urbanizar e elevar à filosofia, decantando e
83
generalizando, os fatos secos da pura empiria, de tal modo que é
com o se esta foss e apreen did a e m ulti plamentc ela bor ada po r
alguém que fosse ao mesmo tempo pensador, artista e herói
co ns um ad o115, sem que em parte algum a po esia grosseira, f ilos ofia
pura ou chiste isolado atrapalhassem a harmonia. Tudo isso tem
de esta r fundido na hi stór ia, assim co m o é p reciso que as im agens
e antíteses sejam apenas sugeridas o u n ovam ente dissolv idas, para
que a expressão oscilante e fluida corresponda ao vir-a-ser vivo
das figuras em movimento."6

1218] Sempre nos surpreendemos, desconfiadamente, quando


alguém parece saber que isto e aquilo serão assim . E, no entanto,
também é igualmente surpreendente que possamos saber que isto
e aquilo sejam assim; o que não chama a atenção de ninguém,
porq ue sem pre acontece.

[219] Em G ibb on, o bigolismo com um dos peda nte s ingleses em


relaç ão aos antigos foi enobrecido, em solo cláss ico, até epigramas
sentimentais sobre as ruínas da magnificência perdida, mas não
pôde negar de todo sua natureza. Diversas vezes mostra não ter
senlido algum para os gregos. E ama propriamente nos romanos
apenas o esplendor material, mas sobretudo a sublimidade
quantitati va, à maneir a de sua nação, dividida entre m ercan tilismo
e matemática. Os turcos, se poderia pensar, também lhe teriam
proporcionado a mesma coisa.

[220] Se todo chisle é princípio e órgão da filosofia universal, e


toda filoso fia nad a m ais q ue o espíri to da universal idade, a ciência
de todas a s ciências que ete rnamente se mesclam e novam ente se
separam, uma química lógica: então são infinitos o valor e a
dignidade do chiste absoluto, entusiástico, completamente
mater ial , em que Ba con e Leibn iz, os principai s representant es da
prosa escolástica, for am virt uoses, aquele com o um dos primeiro s,
este como um dos maiores. As descobertas científicas mais
importantes são b o n s m o t s ' 11 do gênero. Elas o são pelo
surpreendente acaso de seu surgimento, pela combinatória do
84
ptiisamento e pelo barroco da expressão proferida. No entanto,
NUdtundo o conteúdo, são sem dúvida muito mais do que a
i!xpectati va que se d iss olv e e m nad a'l s do chiste puramente poé tico.
As melhores são éc h ap pé es c ie vu e' 19 para o infinito. Toda a
filosofia de Leibniz consiste em alguns fragmentos e projetos
(ühislosos n ess e sentido. Kan t, o Co pér nico da filo so fia, t alv ez tenha
por nat ure za mais espírito sincrético e ch islc crítico do que Le ibniz,
mus sua si tuaçã o e fo rmação não são tã o chistosas ; tam bém ocorre
com seus achados o mesmo que com melodias conhecidas: os
kimlianos os destruíram de tanto os cantar; por isso se lhe pode
lucilincnte cometer injustiça, considerando-o menos chistoso do

i|iie
li veré.de
Certamente a filosofia
esperar por achados só estará bemnem
gen iais, constituída
de contarse com
já nãoele s, e
puder progredir constantemente apenas pela força entusiástica e
m in ar te gen ial, m as n um m étodo s eg ur o.120 D ev em os , porém,
desp reza r os ún icos produtos ainda exist ent es do g ên io sintetizante
porque ainda não existem arte e ciência combinatória? E como
estas podem existir, se ainda apenas soletramos a maioria das
ciências como segundanistas de liceu, e imaginamos ter chegado
h meta quando podemos declinar e conjugar num dos muitos
dialetos da filosofia, sem nada poder pressentir da sintaxe nem
construir o m enor do s pe río do s? 121

12 2 1] A. O sen hor sempre afirma que é cristão. O qu e enten de por


cristi anismo? — B. O que os cristãos, enquanto cristãos, fazem
ou qu erem fazer h á dez oito sé culo s. O cristianismo m e parece ser
um fato. Mas um fato apenas iniciado, que, portanto, não pode ser
exposto historicamente num sistema, mas apenas caracterizado
por meio de uma crítica divinatória.

1222J O desejo revolucionário de realizar o reino de Deus é o


ponto elástico da formação progressiva e o início da história
moder na. Nela , o que não t em referência alguma ao reino de Deu s
é apenas acessório.

1223 ] A chamada hist ória dos Estados, que nada mais é que uma
85
definição genética do fenômeno do atual estado político de uma
nação, não pode ser considerada uma arte ou ciência pura. E uma
ocupação científica, que se pode enobrecer pela sinceridade e
op osiç ão à lei do mais forte e à moda. Também a hist ória uni versal
se torna sofística, tão logo prefere algo, mesmo que uma idéia
moral seja o princípio heteronômico, ao espírito de formação
universal de toda a humanidade, tão logo toma partido por um
dos aspectos do universo histórico; e numa exposição histórica
nada atrapalha mais do que desvios retóricos c aplicações
utilitárias.

[224] Em sua história, Johannes Miiller freqüentemente lança


olhare s para a história univers al a pa rtir da Suíça; m ais raramente,
no entanto, considera a Suíça com os olhos de um cosmopolita.
[A.W.]

[2 2 5 1Se uma biografi a se esforça em gener ali zar, é um fragmento


histórico. Caso se concentre totalmente em caracterizar a
individuali dade, então é um d ocum ento ou um a obr a da dout rina -
da -ar te- da -v id a.122

[226]
se Já que
deveria sempre
tentar se fala
começar t ant o contra
a história sem elas.as Não
h ipóteses,
se pode algum
dizer a ve z
que algo é, sem dizer o que ele é. Ao pensar fatos, estes já são
refer idos a con ceito s, e não é indiferente a quais. S e is so é sabido,
então dentre conceitos possíveis se determinam e escolhem os
necessários, aos quais se deve referir fatos de toda espécie. Se
não se quiser reconhecer isso, então a escolha ficará relegada ao
instinto, ao acaso ou ao arbítrio: vangloriar-se-á de ter uma pura e
sólida empiria totalmente a p o s t e r i o r i, e se te rá uma visã o a p r i o r i
sumamente unilateral, sumamente dogmática e transcendente.

[227] A aparência de desregramento na história da humanidade


surge apenas pelos c aso s de colisão entre esferas heterogê neas da
natu rez a, onde tod as elas se encontram e en laçam umas nas o utra s.
Porque , de resto , nes se dom ínio da necessid ad e livre e da liber dade

86
necessária o arbítrio incondicionado não tem nem poder
constituti vo, nem leg islativ o, m as apenas o tít ulo ilusório de poder
uxecuti vo e judiciário. Esb oçad o por Condorcet, o pensam ento de
uma dinâm ica histórica é tão glorifican te par a seu espírito qu anto,
pura seu coraç ão, o en tusia sm o m ais que francês p ela idéia, tornad a
i|uase trivial, de um aperfeiçoamento infinito.

1228] A tendência histórica das ações determina a moralidade


posi ti va do homem de Est ado e d o cosm opolita.

1229] Aniquiladores entre as nações, os árabes são uma natureza


altamente polêmica. Sua predileção em exterminar ou eliminar
srcinai s quand o a t radução es tiv es se pront a caracteri za o espírito
de sua fil o so fia .125Tal v ez justa m ente por iss o f o sse m infinitam ente
mais culto s, mas, a pesar de toda a cultura, mais puram ente bárbaros
<|iie os euro peus da Idade Mé dia. Bárbaro é aquilo que é ao m esm o
lempo anticlássico e antiprogressivo.

|230] Através do conflito incessante em que enredam razão e fé,


os mistérios do cristianismo tinham de levar à resignação cética

cm relação a t odo saber não-em pírico , ou ao ide alism o c rít ic o.124


12 3 1] C atolicism o é cristi anism o ingênuo; p rotest antismo é
crist ianism o senti m ental e , al ém do m éri to p olêm ico e
revolucionário, tem ainda, pela adoração da Escritura, o mérito
positivo de ter propiciado a filologia, que também é essencial a
uma religião universal e progressiva. Ao cristianismo protestante
lalvez só falte ainda urbanidade. Transvestir algumas histórias
híblicas numa epop éia ho mérica, exp or out ras no est ilo da his tóri a
clássica, co m a f ranque za de um H eródoto e o ri gor de um T ácito,
ou resenhar toda a Bíblia como a obra de um único autor: eis o
t|iie pareceria paradoxal a todos, incômodo a muitos, porém
inadequado e supérfluo a alguns. Mas pode parecer supérfluo
qualquer c o isa qu e p os sa torna r a religião ma is libe ra l?125

1232] Um a vez que t odas a s coisa s que sã o exatamen te uma


87
costumam ser ao mesmo tempo três. não se pode perceber por
que com D eus deveria ser di ferente. Deu s não é, por ém, m era ment e
um pensamento, mas ao mesm o tempo também uma coisa, como
todo s o s pensam entos que não são meras ilus õe s.126

[233] Religião é o mais das vezes apenas um suplemento ou até


um su cedân eo da f ormação, e nada é religio so, em sentido estr it o,
que não seja um produto da liberdade. Pode-se, portanto, dizer:
quanto mais livre, mais religioso, e quanto mais formação, tanto
menos religião.

[234] E por demais unilateral e presunçoso que só deva haver


precisa m ente um ú nico mediador. P ara o cri stão perfeito, de quem
o inigualável Espinosa é nesse aspecto o que mais poderia se
aproximar, tudo d eve ria s er m ed iad or.127

[235] Cristo foi agora deduzido a p r i o r i de diversas maneiras:


mas não deveria Madonna ter o mesmo direito a ser também um
ideal srcinário, eterno, necessário, não da razão pura, mas da
razão fem inin a e m as cu lina ?128

[236] É um mal-entendido grosseiro, embora comum, acreditar


que, pa ra expor um ideal , se tenh a de empacotar num m esm o nome
um agregado tão grande quanto possível de virtudes, que se tenha
dc apresentar um compêndio inteiro de moral num só homem;
com isso nada mais se alcança senão a extinção da indi viduali dade
e verdade. O ideal não está na quantidade, mas na qualidade.
G ra nd ison 12‘J é um exe m pl o, e não um ideal. [ A .W.]

[237] H umor é com o que o chiste d a sensação. Pode, por i sso, se


exteriorizar com consciência, mas não é genuíno, tão logo nele se
perceba um propósito. [A.W.]

[238] Ilá uma poesia cujo um e tudo é a proporção entre ideal e


real e que, portanto, por analogia com a linguagem técnica
filosófic a, te ri a de se cha mar poesia tran scen dent al. C om eça com o
88
urtlira, com a diferença absoluta entre ideal e real, oscila no meio
i nino elegia c termina como idílio, com a identidade absoluta de
umbu s. 13" M as as sim co m o s e dar ia pouco valor a uma filo so fia
linnscendental que não fosse crítica, não expusesse também o
|ipilucente com o produto e contivesse ao mesmo tempo, no
iilKlema dos pensamentos transcendentais, uma caracterização do
|i«iiKamento transcendental: assim também aquela poesia deveria
unir, aos materiais transcendentais e aos exercícios preliminares
pura uma teoria poética da faculdade criadora, uns e outros não
mios nos poetas modernos, a reflexão artística e o belo auto-
rspclhamento que se encont ram cm Píndaro, nos fragm entos líricos
i lo s gregos e na elegia antiga, mas, entre os modernos, em Goethe,

!um
expor
todatambém a ,siaomesma
par te ser m esmem cadapo,uma
o tem po de
es iasuas
e poexposições
esi a da p eo e si a .131

1239] No fun dam ento do amor dos poetas alexan drino s e romanos
por matéria difícil e apoética está todavia o grande pensamento:
Indo dev e ser p oetizado, de m odo algum co m o intenção dos poetas,
mus como tendência histórica das obras. E na mescla de todos os
Hfincros artísticos dos ecléticos poéticos da antigüidade tardia está
n exigên cia de que só ha ja uma única poesia, co m o tam bém uma
única fi lo s o fi a .132

1240] Em Aristófanes a imoralidade é, por assim dizer, legal, e


nos trágicos a ilegalidade, moral.

1241] Como é cômodo que seres mitológicos signifiquem tudo


nquilo de que se gostaria de apropriar! Quando alguém fala
ininterruptamente deles, o leitor benévolo o crê de posse da

qual
iii idaderuinados,
designada.seUm
não ou
h ouout
vero
ssedeasn ossos poetas
Graças. seriam hom ens
[A.W.]

1242 ] N ão acham paradoxal se algu ém pretende caracteriz ar os


iinligos cm massa; e, no entanto, por menos que na maioria das
vez.es saibam o que pensam, lhes chamaria a atenção se alguém
afi rmasse : a poe sia anti ga é um in divíduo no sentido ma is rigoroso
89
e literal da palavra; um indivíduo de fisionomia mais marcada, de
manei ras mais srci nais e m ai s conseqü ente em suas máximas do
que somas in te ir as daqueles fenôm en os que precisamos e deve m os
reconhecer com o pessoas, e mesm o com o indivíduos, em rel açõe s
j u r íd i c a s e s o c i a i s . P o d e - s e c a r a c t e r iz a r o u tr a c o i s a q u e
ind ivíd uo s? 133A qu ilo q ue, de um cer to po nto de visla d ado, já não
se pode multiplicar, não é uma unidade histórica tanto quanto
aquilo que já não se pode dividir?134 Não são todos os sistemas
indivíduo s, t ant o quanto todos os ind ivíduo s, ao m enos em germe
e segu ndo a tendência, sis tem as? Toda unidade re al não é histó ric a?
Não há indivíduos que contêm em si sistemas inteiros de
in d iv íd u o s? 135

[243] A imagem enganosa de uma época de ouro passada é um


dos maiores impedimentos à aproximação da época de ouro que
ainda há de vir. Se houve a época de ouro, não foi exatamente
dourada. Ouro não pode enferrujar ou ser corroído: ressurge,
incorrupto e puro, de todas as ligas e desagregações. Se a época
de ouro não deve durar para todo o sempre, então é melhor que
nem sequer com ece : então só serv e para ele gia s sob re sua perda .136
[A.W.l

124 4] As co m édia s de Ar istófanes são obra s de ar te que se deixa m


ver por todos os lados. Os dramas de Gozzi têm um ponto de
vista.137

[245] Um poema ou drama que deve aprazer à multidão tem de


te r um pouco de tud o, ser uma espécie de m icrocosmo. Um pouco
de infelicidade e um pouco de felicidade, um pouco de arte e um
po uc o de natureza, a quantidade exata de virtude e uma certa dose
de vício. Nele também tem de haver espírito, ao lado de chiste,
filosofia e, principalmente, moral, e também política. Se um
ingrediente não serve, talvez outr o possa serv ir . E m esm o supo ndo
que o todo não possa ajudar, ao menos, como alguns remédios
por isso sem pre recom end áveis, não pode pr ej ud ic ar .

90
1246 j Os m eios pelos quai s a com édia moder na pode se tomar
«emelhantcà antiga comédia aristofânica são, internamente, magia,
caricatura e materialidade, assim como, externamente,
popularidade demagógica, e em Gozzi chega mesmo a lembrá-
ln.IJ*A ess ên ci a da arte côm ica , no entanto, co ntin ua se nd o semp re
espírito entusiasta e forma clássica.

1247] O poema profético de Dante é o único sistema da poesia


tran scenden tal, aind a o mais alto em seu gênero. A unive rsalidad e
de Shakespeare é como o centro da arte romântica. A poesia
pu ram en te poética de G oethe é a mais co m pleta poe sia da poesia,
liis a grande tríade da poesia moderna, o círculo mais íntimo e
mais s agrado dent re todas as esferas, mais estreitas e mais am plas,
da se leç ã o crítica do s clá ss ic o s da po es ia m od ern a.131'

1248] Grandezas individuais estão menos isoladas entre os gregos


i' ro manos. Tinham m enos g ênio s, porém mais genialidad e. Tudo
o que é antigo é genial. A antigüidade inteira é um gênio, o único
que s e pode chamar sem exag ero de a bsolutamente grande, único
c in a tin g ív el. 140

|24 9] O filó so fo po etizante, o poeta filo so fan te, é um profeta .141


0 poema didático deveria ser e lambem ter dispo sição de se lo rnar
profético.

1250] Aq uele q ue tem fantasia o u p a t h o s ou talento mímico, teria


de poder ap rende r poe sia co m o qualquer o utr a co isa m ec ân ica .142
1 ''antasia é, ao mesm o tempo, entusiasm o e imaginação; p a t h o s é
ulina e afeto; mímica é olhar e expressão.

1251] Quantos agora não são brandos e benévolos demais para


poder ver tragédias, e nobres e dignos demais para querer ouvir
com édias! Eis uma gra nde prova d a deli cada m oralidade de no sso
século, que somente a Revolução Francesa quis difamar.
1252] Um a verdadei ra dout rin a-da -ar te da po esia com eçaria com

91
a diferença absoluta da separação, eternamente irresolúvel, entre
art e e bele za bru ta. E la m esm a expo ria a lu ta de am bas e ter minari a
com a perfeita harmonia de poesia-de-arte e poesia-de-natureza.
Tal harmonia só se encontra entre os antigos, c cia mesma nada

m ais seria
Uma que uma
filosofia históriaem geral
da poesia superior do espírito
começaria, da poes
porém, comiaaclássica.
autonomia do belo, com a proposição segundo a qual está e deve
estar separado daquilo que é verdadeiro e daquilo que é moral, e
tem os mesmos direitos que estes; o que, para quem a pode em
geral com pree nde r, já decorre da pro po siçã o “eu = e u ”. 143 Ela
mesm a oscilaria e nt re unificação e separaçã o de filosofia e poesia,
prá ti ca e poesia, p oesia cm ger al e gênero s e esp écies , e te rmi nar ia
com a unificação total. Seu início forneceria os princípios da
poética pura; o meio, a teoria dos gêneros poéticos particulares
especificamente modernos, o didático, o musical, o retórico em
sentido m ais alt o etc. U m a filoso fia do romance, de que a d out ri na-
da-art e política de Platão conté m as primeiras linhas m estras, seria
a chave da abóbada. A diletantes desatentos, sem entusiasmo e
leitura dos melhores poetas de todo gênero, uma tal poética teria
certamente de parecer como um livro de trigonometria para uma
cri ança que qu isesse dese nha r. Só pode empregar a filos of ia sobre
um objeto quem conhece ou tem o objeto; só este poderá
com preend er o que ela pretende e o que quer di zer . A filos ofia não
pode produzir, por inoculação ou por magia, experiências e
sentidos. Mas também não o deve querer. Quem já sabia algo,
certamente não experimenta nada de novo com ela; no entanto,
somente por meio dela esse algo se torna um saber para ele e,
portanto , um sa ber em no va f igu ra.144

[253] No sentido mais nobre e srcinal da palavra c o r r e t o , visto


que significa culti vo int enci onal e desenvo lvimen to comp lementar
do que há de ma is íntimo e ínfimo na obra con form e o espírito do
todo, reflex ão práti ca do art is ta, nenhum poeta m oderno seria m ais
correto do que S ha ke spc are .145 Tam bém é sistem ático com o
nenhum ou tr o: ou pelas a ntíteses que faze m contras tar indivídu os,
massas, mundos, em grupos pictóricos; ou pela simetria musical

92
(In mesm a gr ande cadê ncia , pelas r epetiçõ es e refrãe s gigan tesco s;
ou, freqüentemente, pela paródia da letra e ironia do espírito do
ilraina romântico146, e, sempre, pela mais alta e completa
Individualidade e pela mais variada exposição dela, que unifica
Iodos os níveis da poesia, desde a imitação mais sensível até a
caracter ísti ca m ais espiritual.

1254] Antes m esm o d c ser publicado, já comparavam o H e r m a n n


f D o r o té ia à L u ís a de Voss; a pu blicação deve ria te r po sto um fim
íl comparação, mas e la ainda ac ompanha o poem a justam ente co m o
carta dc recomendação ao público. À posteridade, L u ís a poderá
Ner recomen dada por te r sido madri nha de batism o d e D or ot éia .147
| A. W.]

12551 Quanto mais a poesia se torna ciência, tanto mais também


se torna arte. Se a poesia deve se tornar arte, se o artista deve ter
profundo discernimento c ciência dos seus meios e fins, e dos
obs táculos e ob jeto s dela, o p oeta tem de filo so far sob re sua arte .l4í!
Sc não deve ser meramente inventor c trabalhador, mas também
conhecedor de seu ramo, e se deve poder entender seus
conc idadã os no reino da a rte, ta mbém tem de se torn ar fi ló lo g o .149

|256] O er ro fundamental da estética sofista é considerar a beleza


mer ame nt e com o um objet o dado , como um fenôm eno ps icológico .
Não é, decerto, meramente o pensamento vazio dc algo que deva
ser produzido, mas também a própria coisa, uma das maneiras-
de-aç ão srcinárias d o espírito h um an o150; não so m en te um a ficç ão
necessária, mas também um fato, a saber, um fato eterno,
Ininscendental.

1257] A socie da de entre os alem ães é sér ia; suas com éd ias e sáti ras
são sérias; sua crítica é séria; toda a sua bela literatura é séria.
Será que o jocoso nessa nação é sempre apenas inconsciente e
involuntário? [A.W.]

1258] Toda poesia que vise um efeito e toda música que, para agir
93
e aparecer, queira seguir a poesia excêntrica em seus abusos e
excessos cômicos ou trágicos são retóricas.

[259] A. Fragmentos, diz você, seriam a verdadeira forma da


filo so fia u n ive rs al.1 51 A forma não imp orta. M as o que tai s
fragmentos podem alcançar e ser para a questão mais importante
e séria da humanidade, o aperfeiçoamento da ciência? — B. Nada
mais que um sal de Lessing contra a preguiça espiritual, talvez
uma lanx satura cínica no estilo de Lu cílio, o Velho, ou de Horácio,
ou até f e r m e n t a c o g n i t i o n i s 152 para a filosofia crítica, glosas
marginais ao texto da época.

[260] Wieland153 pensou que sua carreira, abrangendo quase meio


século, havia começado com a aurora de nossa literatura e
terminado com seu declínio. Uma confissão bastante sincera de
uma ilusão de ótica natural. [A.W.]

[261] Sc o caráter de algumas obras de gênio é como o lema do


poeta vagabundo em Claudine von Villabella'5'': “louco, mas
esperto”, então a divisa oposta poderia se aplicar à regularidade
sem espírito: “racional, mas tolo”. [A.W.]

[262] Todo homem bom se torna cada vez mais Deus. Tornar-se
Deus, ser homem, formar-se, são expressões que significam a
mesma cois a.

[263 ] M ística genu ína e mora l na mais alt a dign ida de .155

[264] Não se deve querer sinfilosofar com todos, mas somente


com aquele s que es tão à la h a u t e u r .' 50

[265] Alguns têm gênio para a verdade; muitos têm talento para
errar. U m talento que é aco mp anhado de uma ind úst ria i gualm ente
grande. Como numa iguaria, freqüentemente se combinam, com
arte incan sáve l, as pa rte s integrantes de todas as regiõe s cósm ica s
do espírito humano num único erro.

94
|266] A ntes q ue se re di ja a constituiçã o lógica, não poderi a have r
iiinda uma filosofia provisória, e toda filosofia não é provisória
nl6 que a constituição seja sancionada por aceitação?

1Não
267]saber,
Qu anto
ou mais
antes,jásaber
s e sabque
e, tanto mais
não se ainda
sabe, se tem
aumenta nodemesmo
apr ende r.
jjrau qu e o sabe r.

1268] Aquilo que se chama de um casamento feliz está para o


mnor, assim como um poema correto está para uma canção de
improviso.

|269| W. disse sobre um jovem filósofo: carrega um oveiro de


leo i ias no cérebro e bota diariamente sua teoria co m o u ma galinha;
o este é para ele o único momento de repouso possível em sua
consta nte alte rnânci a dc autocriaçã o e auto-aniquilamento, o que
pud e se r um a m anob ra fa tig a n te .157 [A. W.]

1270] Leibniz, como se sabe, mandava fazer suas lentes com


Hsp in os a, e este é o único com ércio que teve com ele ou com sua
filosofia. Se também tivesse mandado fazer olhos para poder ver
nu menos de longe aquela região cósmica da filosofia, para ele
flcseonhecida, que é a terra natal de Espinosa!

11 1 11 Talvez seja preciso ser arquimoderno para ter um ponto de


visla transcendental sobre a antigüidade. Winckelmann sentiu os
Uie gos co m o um greg o. Hem sterhuis, ao co ntrá rio, soube delimitar
li Híimen te um âmbito mod erno pela sim plicida de antiga e, do alto
ile sua formação, como de uma fronteira livre, lançou olhares
<lidos de vida tanto para o mundo antigo quanto para o mundo
moderno. [A.W.]

| 1 2 1Por que não deveria poder existir também ho m ens amorais,


iis-.im como existem os infilosóficos e apoéticos? Só não se pode
iiilinitir ho m en s an tipo lítico s e inj us tos .158
95
[273] M ística é aquilo q ue som ente o olho do amante vê no ama do ,
Cada qual pode ter uma mística para si, mas também a tem de
guardar para si. Há muitos que transvestem a bela antigüidade,
mas tam bém há certamente alguns que a m istificam e, port ant o, n
têm de guardar para si. [A.W.]
Ambas as coisas estão distantes do sentido em que antigüidade
pode ser puramente fr uí da, e do ca m inho em que po de ser trazidn
de volta.139

[274] Toda filosofia da filosofia segundo a qual Espinosa não é


filósofo tem de parecer suspeita.

[275] Sempre lamentam que os au tor es alem ães escre vem ape nas

para um pequeno círculo e até muitas vezes somente uns para os


outros. O que é muito bom. Com isso a literatura alemã ganhará
cada vez mais espírito e caráter. E nesse meio tempo talvez possa
surgir um público.

[276] Leibniz era tão moderantista que quis fundir também eu e


não-eu, assim como catolicismo e protestantismo, e considerava
agir e padecer diferentes apenas segundo o grau. Isso significa
sobrecarre gar a h arm onia c levar a eq üid ad e a té a ca ricatu ra.16,1

[277] Acredi tar nos gregos também é uma m oda da época. Gosta-
se muito de ouvir de clamar a res peito dos gr ego s. M as se apar ece r
alguém e disser: “Alguns deles estão aqui”, ninguém se sentirá
em casa.

[27 8] M uita co isa qu e parece tolice é louc ura 161, qu e é m ais com um
do que se pensa. Loucura é inversão absoluta da tendência, total
fal ta de espírito histórico.
[279] Segu nd o seu fim, o métod o da jurispr udênci a de L eib ni z162
é uma exposição geral de seu plano. Aplicou-o em tudo: como
prático, funcionário de chancelaria, professor, preceptor. O que
nele há de própr io é a mera com binaçã o d c matéri a jurídica com a

96
Comia teológica. A Teodicéia, ao contrário, é um escrito de
mlvog ad o nas pendên cias de D eu s c o n tr a B ay lc c conso rtes. [S .]163

|.!K()| Considera-se um infortúnio que não haja um sentimento


ileln minado da saúde física, mas sim da enfermidade. Quão sábio
í osso arranjo da natureza se vê pelo estado das ciências, onde se
ilA o caso inverso e onde um hidrópico, um tísico e um ictérico,
i|inmdo se comparam com alguém sadio, acreditam que não há
iMilre el es outra difere nç a qu e entre gord o e mag ro ou e ntre mo ren o
i' loiro. [S.j

|2KI | A doutrina-da-ciência de Fichte é uma filosofia sobre a


iimlé ria da fil o so fi a ka ntian a.164 N ão fala m uito d a form a, porque
i.lcla é mestre. Se a essência do método crítico consiste, porém,
i ui que nela t eoria da faculd ade determ inante e sistem a dos efe ito s
il cte rmina dos da mente estejam inti mam ente ligados, c om o co isa
u pensam entos na harmonia pree stab elecida , então el e b em poderia
Ncr, também na forma, um Kant à segunda potência, e a doutrina-
dii- ciê ncia muito mais critica do que parece . Pr incipalmente a nova
nxposição da doutrina-da-ciência é sempre ao mesmo tempo
lilo so fia e filoso fia da filos o fia .165Pode haver sign ifica çõ es válidas
ilu palavra c r í t i c o em que não convém a todo e qualquer escrito
ilc Fichte. Mas em Fichte, como ele mesmo faz, se tem somente
de olhar, sem outra consideração, para o todo e para o um166 de
que tudo depende; apenas assim se pode ver e compreender a
identidade de sua filosofia com a kantiana. Crítico também é algo
que jamais se pode ser o bastante.

|2 821 Qu ando o ser humano não con seg ue ir adiante, ele se aju da
com um decreto-lei, ou com uma ação-lei, uma decisão rápida.
| N . ] 167

1283] Quem procura, duvidará. O gênio porém diz tão atrevida e


seguramente o que vê passar-se dentro de si porque não está
embar aça do em sua exp osiçã o e, por ta nt o, tampouco a ex po sição
embar aça da nele. mas sua consideraç ão e o consider ado parecem
97
consoar livremente, unificar-se livremente numa obra única.
Quando falamos do m undo ex te ri or, q uando descreve m os objetos
efetivo s, ent ão procedem os com o o gênio. Sem genialidade todos
nós sim plesm ente não existiríamos. Gc nio é necessár io p ar a tu do.
Aquilo, porém, que de costume se denomina gênio, é gênio do
gênio. [N.]

[284] O espírito efetua uma e tern a autodemonstração. [N.]

[285] O ponto de vista transcendental para esta vida espera por


nós. S om en te al i se tor nar á ela verdadeiram ente sign ifica tiva par a
nós. [N.]

[286] A vida de um ser verdadeiramente canônico tem de ser


simbólica de ponta a ponta. Não seria, sob esta pressuposição,
toda morte uma m orte de recon ciliaçã o? Em maior ou meno r gra u,
entende-se; e não se poderiam extrair daí várias conseqüências
sumam ente notáveis ? [N. ]

[2 8 7 1Som ente mostr o que ent endi um escri tor quand o sou capaz
de agir dentro de seu espírito, quando sou capaz de, sem estreitar
sua individualidade, traduzi-lo e alterá-lo multiplamente. [N.|

[288] Estamos próximos do despertar, quando sonhamos que


sonhamos. [N.]

[289] O genuíno chiste social é sem detonação. Há uma espécie


dele que é apenas um m ágico jog o de cores em esferas superi ores .
[N.]

[290] Rico de espíri to é aquil o em que o es pírito incessante m ente


se revela, pelo m enos, aparece freqüentemente de novo, em form a
alte ra da ; não apenas, digamo s, uma vez só, assim no co m eç o, co m o
em muitos sistemas filosóficos. [N.]

[291 ] A lem ães há por t oda par te. A german idade, tão po uc o qu anto

98
a romanidade, a grecidade ou a britanidade, não está limitada a
um Estado particular; são caracteres humanos universais que só
aqui e ali sc tomaram eminentemente universais. Germanidade é

■ cnuí na popul aridade e por isso um ideal . [N.]


1292] A morte é uma vitória sobre si, que, como toda auto-
superação, proporciona uma existência nova, mais leve e fácil. [N.]

|293] O costumeiro c comum exige de nós tanta força e esforço,


lalvez, porque para o ser humano propriamente dito nada é mais
desacostumado, nada é mais incomum que a mesquinha

costu m eiridad e? TN.]


1294] Sagacidade genial é uso sagaz da sagacidade. [N.]

|295] À fam osa questão do concurso d a Acad em ia de Ciências de


Berlim acerca dos progressos da metafísica foram apresentadas
respo sta s de toda espécie: uma hostil, o ut ra favoráv el, u m a e outr a
supérfluas, uma dramática e até mesmo uma socrática, a de

I Iülsen.I ÍS Um po uco de entusia sm o, m esm o em estado brut o, uma


certa aparência de universalidade não malogram facilmente em
seu efeito e também criam um público para o paradoxo. Mas o
sentido par a genia lida de pu ra é um a rari dad e, m esm o entre home ns
cultos. Não espanta, pois, se somente poucos saibam que a obra
de Hülsen é uma daquelas que sempre foram, e ainda agora são,
muito raras na filosofia; uma obra no sentido mais rigoroso da
palavra, uma obra de arte, o todo de uma única peça, a mais

próxima da virtuosidade dialética depois de Fichte, e isso sendo


um primeiro escrito que, pela circunstância, dev eria ser um escrito
ile ocasião. Hiilsen é inteiramente mestre de seu pensamento e de
sua expressão, avança de modo seguro e suave; c essa lucidez
serena e elevada, junto à visão mais abrangente e à pura
humanidade, é justamente aquilo que um filósofo histórico, em
se u d ialeto anti quado e for a de m oda, chamaria de socrático; uma
terminologia que, contudo, um artista de tanto espírito filológico
tem de prezar.

99
[296] Ap esar de ser uma natur eza tão idílica, F onte nelle tem fort e
antipatia com o instinto e compara o talento puro, que considera
im po ssíve l, com a aplicação art ís ti ca intei ramente não-int encional
dos castores. C om o é difícil não se enganar sobre s i me smo ! P ois,
quando Fon tenelle di z: L a g ê n e f a i t i e s s e n c e e t le m é r i t e b r i l l a n t
d e la P o é s i e m , parece dificilmente possível caracterizar melhor,
em pouca s palav ras, a poesia francesa . M as seguram ente um cast or
que foss e a c a d é m i c i e n não poder ia toca r no ponto certo com uma
inconsciência mais perfeita.

[297] Uma obra está formada quando está, em toda parte,


nitidamente delimitada, mas é, dentro dos limites, ilimitada e

inesgotável;
e, no entanto,quando
sublimeé de tododefiel,
acima em todaNela,
si mesma. parteoigual
maisaelevado
si mesma
e
últi mo é, com o na educação de um jov em inglês, le gran d tour. ™
Tem de ter percorrido todos os três ou quatro cantos cósmicos da
hum anidade, não par a aplain ar seus ex trem os, mas pa ra ampliar a
visão e dar mais liberdade e pluralidade interna e, com isso, mais
autonomia e auto-satisfação a seu espírito.

[298] Os kantianos ortodoxos procuram inutilmente o princípio


de sua filosofia em Kant. Ele está nos poemas de Bürger e diz:
“Palavra de rei não s e torce nem se d isto rc e” .171

[299] Em inconsciência genial os filósofos, me parece, podem


mu ito bem disputar a primazia com os po eta s.172

[300] Quando entendimento e desentendimento se tocam, há uma


descarga elétrica. Isso se chama polêmica.

[301] Em Espinosa os filósofos ainda admiram apenas a


conseqüência, assim como em Shakespeare os ingleses prezam
so m en te a v er da de .173

[302] Pensamentos entremesclados deveriam ser os esboços da


filosofia. Sabe-se quanto estes valem para os que conhecem
100
pintura. Para aquele que não puder rascunhar mundos filosóficos
ii lápi s, não puder caracterizar co m algu ns ra bisco s tod o e qua lquer
pensamento que tenha fisionomia, a filosofia jamais se tornará
mtc e, portanto, tampouco ciência. Pois na filosofia o único
caminho que leva à ciência passa pela arte, assim como, ao
contr ário , só por m eio da ciê n cia o poe ta se torna art ista .174

|3()3] lr cada vez mais fundo, subir cada vez mais alto, é a
incl inaç ão predil eta dos filó so fos . O que con seg ue m , cas o se crei a
na pal avra de les, com admirável rapide z. Quanto ao a van ço, pelo
con tr ári o, a co isa é b astante lent a. Sobr etudo co m relaç ão à alt ura
Niiperam regularmente uns aos outros, como quando duas pessoas
Ifiin a recomendação expressa de fazer uma mesma compra num
li'ilão. M as toda filo so fia que é filo só fica ta lvez seja infinitam ente
elevada e infinitamente profunda. Ou Platão está abaixo dos
lilósofos atuais?

1304] Também a filo so fia é o resultado de duas forças c onflita ntes,


poesi a e práxi s. O nde estas duas se int erpe net ram por com ple to e
k c fundem numa coisa só, surge a filosofia; se ela de novo se

desagrega, se torna mitologia ou se lança de volta à vida. A


Nitbedoria grega se formou a partir de poesia e legislação. A
su pre ma filoso fia, susp eitam alguns, poderi a nov am ente se tor na r
poesia, e é mesmo uma experiência conhecida que naturezas
comuns só começam a filosofar, a seu modo, quando param de
viver. — Expor melhor esse proc esso quím ico do filosofar, pas sar
totalmente a limpo, onde possível, as leis dinâmicas dele, separar
a filosofia, que sempre tem novamente de se organizar e
desorganizar, em suas forças vivas fundamentais, e retornar a sua
srcem: eis o que considero a destinação própria de Schelling.
1.111 contrapartida, sua polêmica, mas sobretudo sua crítica literária
da filosofia, me parece uma falsa te ndência; e sua dis po siçã o pa ra
a universalidade ainda não está decerto suficientemente formada
para pode r encontrar aqu ilo qu e bu sca na filo so fia da fís ic a .175

1305] Intençã o levada à ironia e com arb itrá ria aparên cia de auto-
101
aniquilam ento é tão ingênua quanto inst into levad o à ironi a. Assim
como o ingênuo brinca com as contradições de teoria e práxis,
assim també m o grotesco brinca com espantosas transposições d e
forma e maté ri a, ama a aparência do co nting ente e est ranho, e se
mostra, por assim dizer, coquete com o arbítrio incondicionado.
Humor tem a ver com ser e não-ser, e sua essência própria é a
reflexão. Daí sua afinidade com a elegia e com tudo aquilo que é
transcendental; mas daí também sua altivez e inclinação para a
mística do chist e. A ssim co m o ao ingênuo é necessário geniali dade,
assim também é necessário beleza severa e pura ao humor. Ele
pai ra de preferência sobre aquelas rapsódias da filo so fia ou po esia
que fluem leve e claramente, e foge de massas pesadas e
fragmentos destacados.

[306] A história dos porcos gadarenos é uma profecia simbólica


do período dos gênios de força176, que agora felizmente se
precipitaram 110 ma r do esqu ecimento.

[307] Se declaro minha antipatia com os gatos, dela excetuo 0


Gato de B otas de Peter L eb ere ch t.177 Ele tem garras e quem foi

arranhado grita, como é justo, com ele; a outros, porém, pode


divertir 0 mo do co m o passeia, por assim dize r, no tel hado da arte
dramática.

[308 ] O pensador precisa de uma luz exatam ente co m o a do pintor:


cla ra, sem rai o de sol diret o ou reflex os ofusca ntes e, se p ossív el,
de cima para baixo.

[309] Qu e representações haviam de ter os teóricos pa ra exclu ir 0


retrato do domínio da arte propriamente bela, livre e criadora?
Isso é justamente como não querer aceitar como poesia se um
poeta canta a amada real. O retrato é a base e pedra de toque do
quadro histórico. IA.W.1

[310] Recentemente se fez a inesperada cicscoberta de que, no


grupo do Laoconte, o herói está representado como se estivesse
10 2
mor rendo, e de apop lexia. O s co nh ecim en tos, agora, não p ermitem
iivunçar mais nessa direção, a menos que alguém nos informasse
que Laoconte já está efetivamente morto, o que também seria
perfeitamente correto em relação ao conhecedor. Eis a ocasião de
corrigir Lessing e Winckelmann: nem beleza, como afirma o
primeiro (na verdade ambos e, com eles, Mengs), nem grandeza
Kerena e nobr e sim plici dade, co m o afir ma o segund o, seri am a l ei
fundamental da arte grega, mas verdade da caracterização.
( friam ente , toda esc ult ura hu mana , incluindo os ídolos de madeir a
ilos habitantes de Kamchatka17s, quer caracterizar. Todavia quando
n u que r apreende r o espírito de uma co isa num ú nico tra ço, não sc

desi
nuisgna o que
aquilo queé óbv io ou
indica, o que t em emo com
essencialmente, um écom
que lhe out raNão
próprio. s coisa s,
kc pode pensar beleza sem caráter: m esm o que nã o tenha um carát er
dico, sempre terá um caráter físico, isto é, será a beleza de uma
certa idade ou sexo, ou deixará entrever certos hábitos corporais,
com o os corpo s dos luta dores . A a rte antiga não con ceb eu apenas
Mias figuras, criadas sob a guia da mitologia, no sentido mais
rlevado c digno, mas também ligou, ao caráter de cada uma das

l<irmas e da expressão, o grau de beleza que nele podia ocorrer


sem o destruir. Que tenha sabido tornar isso possível mesmo ali
ond e um go sto bá rb ar o não seria s equ er capaz de c on ceb er um ta l
pensamento, é quase palpável, por exemplo, nas antigas cabeças
de Medusa. Se as exposições cômicas ou trágicas fossem uma
objeção a esse esforço universal, total, pela beleza, ela seria por
demai s evide nte par a poder pa ss ar despercebida a co nhe cedo res
da a nti güi dade com o M engs e W inckel m ann. C om pare-se o m ai s
Kiosseiro descomedimento de sátiros e bacantes antigos com
repr esent ações s em elhantes da esco la flamenga: seri a preciso ser
mesmo inteiramente não-helênico para não sentir o que ainda há
ile he lcnico ali . É algo de tod o diver so estar na tural mente em m eio
Aim undície da sensua lidad e v ulgar ou a ela se reb aixa r, por praze r
li av esso, co m o ur na divinda de na fi gura de um animal. M esm o na
escolh a de o bjetos aterr ador es t udo ainda depe nd e do tra tament o,
(|iie pode fazer soprar, e de fato o fez na arte e poesia grega, uma
hl is a suavi zadora de be leza sobre eles. E just am ente nos elem ento s

103
conflitantes, na contradição aparentemente insolúvel entre a
nat urez a daqui lo que se ex põ e e a le i de exp osiçã o, que se mos tr a
mais divinamente a harmonia interna do espírito. Ou se negará
que há grandeza serena e nobre simplicidade nas tragédias de
S ófo cle s justamente porqu e são altament e trágicas? Winckelmann
reconheceu, de maneira bem precisa, que no corpo de Laoconte
está expr esso o mais violento estado de sofrimento e esgotamento;
apen as no rosto, afirma, aparece, inabalada, a alma do herói. Ago ra
sab em os qu e La oco nte não gri ta, porque já nã o po de gri ta r. Isto é,
por causa da apoplexia. É claro que não pode gritar, senão teria
levantado a voz contra uma tão deturpadora descrição e
desco nhe cim ento de sua gr ande za herói ca. [A. W.j

[311] Se o gosto dos ingleses na pintura deve se difundir ainda


mais no continent e, com o é de temer pe la graciosi dade mecânica
de suas águas-fortes, então se poderia propor que seja abolido o
nome, de resto inadequado, de pintura histórica e que no lugar
de le seja introduzido o d e pi nt ura tea tra l. [ A .W. ]

[312 ] Diante da censura de q ue as pintura s tiradas da I táli a teria m


sido danificada s cm Paris, o rest aura dor se o fer ece u para apresen tar
uni quadro de Caracci, metade recuperado, metade em seu estado
srcinal . Q ue grande ach ado! É assim que, por vez es, a um súbit o
alarido na r ua, assom a à jan ela um a face barbeada pela m etade; e,
efetuado com a vivacidade e impaciência francesa, o trabalho de
resta uraç ão p od e em geral ter mu ito da arte do ba rb eiro .171'

[313] A te rn a feminilidade, em pensam entos e criaçõe s, que cati va


nos quadros de A ng élic a K auffm am v110 ve z por outra se insinuou
ilicitamente entre as figuras: vê-se, pelos olhos dos jovens, que
gostariam muito de t er um peito e até, se p os sív el, ancas de m oças.
Talvez as pintoras gregas tivessem consciência desse limite ou
obstáculo a seu talento. Entre as poucas que cita, Timarete, Irene
e Laia, Plínio só menciona figuras femininas. [A.W.]lífl

[314] Um a v ez que agora em to da p ar te s e e xig e a plicação mora l

104
utilitária, também se terá de mostrar a utilidade da pintura de
retratos mediante uma referência à felicidade doméstica. Muitos
dos que se vêem um pouco cansados da própria mulher,

enc ontda
puros rarimagem
ão de n ov o o [A.W.]
dela. s primeiros estím ulo s diante dos traços mais

| U 5] A srcem da elegia grega, se diz, está na flauta dupla lídia.


Mas também não deveria, antes de mais nada, ser buscada na
niitureza hum ana ?

|.1I6] Para empiristas que também podem se elevar ao esforço

cpela profundidade
iência de h'i cht e enunca à crençaseránum magrande homem,
is d o qu e o tera ceiro
doutrina-da-
nú m ero do
J o rn a l f i l o s ó f i c o , a C o n st itu iç ã o .182

|.1I7] Se nada de muito significa tanto quanto de tudo um pouco,


então G ar ve 183 é o maio r fi ló so fo alem ão.

131 8] He ráclito diz ia que a razão não se aprend e por p ol im at ia .184


Agora parece mais necessário lembrar que não se é instruído
unicamente pela razão pura.

1319] Para poder ser unilateral é preciso ao menos ter um lado.


liste de modo algum é o caso de homens que (como os genuínos
mp sodos, segun do a car acterí sti ca que Plat ão d á des se gên ero) só
tem sentido para uma coisa, não porque esta lhes seja tudo, mas
porque lhes é a única, e estão sempre a cantá-la. Seu espírito não
está nem mesmo encerrado em limites estreitos, mas antes cessa
log o c, onde cess a, imediat amente com eça o espaço vazio. Todo o
seu s er é com o um ponto, que todavia te m co m o ouro a sem elhan ça
de poder ser laminado numa pequena chapa incrivelmente fina.

| .120] Por que nas listas em moda de todos os princípios possíveis


da moral falta sempre o ridículo? Será porque esse princípio só
vale universalmente na práxis?
105
[321] Ninguém ousará julgar acerca do mais ínfimo ofício dos
antigos, se dele não ent end er. Sobre a po esia e filos ofia dos antigos,
todo aque le que pode fazer uma conject ura ou come ntário, ou que
porventura es te ve na Itál ia, crê po der dis cut ir. Aq ui s e crê dem ais
110 insti nto : po is, aliás, pode muito bem ser uma ex igê n cia da ra zã o
que todo homem deva ser poeta e filósofo, e as exigências da
razão, se diz, arrastam a crença consigo. Tal gênero do ingênuo
poderi a se r chamado de ingênuo filoló gic o.

[322] A repetição constante do tema na filosofia surge de duas


causas diferentes. Ou o autor descobriu algo, mas ainda não sabe
ele m esm o exatame nte o quê ; e, ne sse sentido, os escritos de Ka nt
são bastante musicais. Ou escutou algo novo sem o ouvir
convenientemente e, nesse sentido, os kantianos são os maiores
m ú si co s da literatu ra.185

[323 ] Qu e um profeta não sej a reco nh ecid o em sua p átria é decerto


a razão por que tão freqüentemente escritores prudentes evitam
ter uma pát ria no dom ínio das a rt es e ciên cia s. P referem se dedicar
a viagens, descrições de viagens ou a ler e traduzir descrições de
viagens, e recebe r o elo gio da uni versal idade.

[324] Todos os gêneros são bons, diz Voltaire, exceto o gênero


enfadon ho. M as qu al é então o gênero enfadon ho? Pod e ser ma io r
que todos os outros, e m uitos cam inho s podem levar a ele. O mais
curto é certamente quando uma obra não sabe a que gênero quer
ou de ve pert ence r. N ão teri a Vo lta ire ja m ais tri lha do ess e c amin ho?

[325] Assim como Simônides chamou a poesia de uma pintura


que fala, e a pin tur a de uma poesia muda, as sim tamb ém s e poderia
dizer que a história é uma filosofia em devir, e a filosofia uma
his tóri a perfei ta e acabada . Todavia já não se venera Ap oio, o que
não cala nem diz, mas indica, e onde uma musa se deixa ver,
querem logo interrogá-la segundo o protocolo. Lessing mesmo
procedeu muit o mal com as b elas pal avras desse g rego espirituoso,
que lalvez não lenha lido ocasião de pensar em d e s c r ip tiv e
106
p o e t r y 1*6, e a quem icria parecido bem supérfluo lembrar que a
poesi a também é uma mú sica espir itual , pois não lhe passava pela
mente que essas duas artes pudessem ser separadas.

1326] Se homens comuns, sem sentido para o futuro, são um dia


tomados pela fúr ia do progresso, o im pulsionam também d e uma
maneira bem literal. Cabisbaixos e de olhos fechados, marcham
por todo o mundo como se o espírito tivesse braços e pernas. Sc
por acaso não queb ram o p esco ço, suced e habitualmente uma das
duas coisas: ou ficam estáticos, ou dão meia-volta à esquerda.
Com esses últimos é preciso fazer como César, que, no alvoroço
do com ba te, tinha o hábito de p egar pela garganta e virar de frente

para o inimigo os guerreiros que desertavam.


1327] Virtuoses em gêneros afins são muitas vezes os que menos
se entendem, e a prox imidade espir it ual também co stum a ocasionar
inimiza des. Assim , não r aro se vêem hom ens nobres e cultos, todos
os quais criam, pensam ou vivem divinamente, mas cada qual se
uproxima da divindade por um caminho diferente, negando a
religião uns dos outros, não por partido ou por sistema, mas por
falta de sentid o par a a individua lidade religiosa . A religião é pura
i! simplesmente grande como a natureza, mas dela o sacerdote
mais excelente tem apenas uma pequena parte. Há infinitas
espéc ies dela, que, porém, parecem por s i m esm as se ord enar em
ulgumas rubricas principais. Alguns tem mais talento para a
adoração do mediador, para milagres e visões. Estes são os que o
homem comum chama, dependendo do caso, de místico ou de
poeta. Um outro talvez saiba mais acerca do Deus Pai e entenda
de mistérios e profecias . Este é um filóso fo e, assim com o o sadio
fala po uc o da saúd e, não fa lar á muito de religiã o, m eno s ainda d a
sua. Outros crêem n o Espírit o Santo e naquilo que d ele d epende,
nu revelações, inspirações etc., e em mais ninguém. Estes são
nat ure zas artí sti cas. É um de sejo na tura l e quase ine vitáve l querer
vi ncul ar em si todos os g êneros da religi ão. N a exe cu ção , porém,
ocorre o mesmo que com a mistura dos gêneros poéticos. Aquele
i|iie, por verdadeiro instinto, crê simultaneamente no mediador e
107
no Espírito Santo, já costuma praticar a religião como uma arte
isolada; o que é uma das profissões mais árduas que um homem
honesto pode exercer. O que aconteceria então a alguém que
acreditasse cm todos os três!

[328] Somente aquele que põe a si mesmo, pode pôr outros. Da


mesma maneira, somente aquele que aniquilou a si mesmo tem
um direito de aniquilar qualquer outro. [S.]

[329] É pueril querer convencer as pessoas daquilo para o qual


não têm sentido. Façam como se não estivessem presentes e
mostrem-lhes aquilo que devem aprender a ver. Isso é a um só
temp o altamente cos m op olita e alta mente ético; basta nte genti l e
bastante cínico. [S.]
[330] M uitos tê m espírito, ânimo ou fant asi a. Mas porque isso só
poderia aparecer, por si mesmo, numa figura fugaz, vaporosa, a
natureza tomou o cuidado de o compor quimicamente com
algum elemento terrestre comum. Descobrir essa composição
é a tar ef a const ante da s uprema be nev olên cia, mas ex ig e m uit o
exercício na química intelectual. Quem soubesse descobrir um
reagente infalível para tudo o que é belo na natureza humana nos
mostraria um mundo novo. Como na visão do profeta, o campo
infinito de partes humanas desagregadas subitamente ganharia
vida. [S.]

[33 1 ] H á homen s que não têm interesse por s i m esm os. Uns, porque
não são absol utamente capazes de nenhum interesse, ne m m esmo
pelo s outros. Out ros, p orque estão segu ros de seu p rogresso regular
e porque sua força autoconstituinle já não precisa de nenhum
in ter es se 1117re flex ion an te, visto q ue aqui a liberdade co m o que se
tornou natureza em suas exteriorizações mais elevadas e belas.
Assim, o mais baixo e o mais sublime também se tocam aqui, no
fenômeno. [S.]

[332] Entre os homens que avançam com a época há alguns que,

103
como os comentários contínuos, não querem se deter nas pas
sagens difíceis.

1333] Deus é, segundo Leibniz, real, porque nada impede sua


possibilidade. Neste sentido, a filosofia de Leibniz é bem
se m el ha nt e a D e u s .11“1

[334| Para isso, dizem sempre, a época ainda não está madura.
Deve, por isso, desapare cer? — À qu ilo que ai nda não po de ser
lem ao menos de permanecer sempre em devir. [S.]

1335J S e mundo é o con junto daquilo que se afeta dinam icam ente,
sem dúvida o homem culto jamais chegará a viver apenas num
inund o. O melhor te ri a de se r aquele que som ente se de ve bu sc ar,
mas não se po de enc ont rar . A crença ne le é, porém , al go tão sagrado
quanto a crença numa única amizade e num único amor. [S.]

1336] Alguém que pode entreter uma sociedade com sua maneira
de traçar à mão livre pequenas silhuetas de si mesmo,
iipresentando-as, cm diferentes posturas, a seu círculo, ou que, ao
primeiro aceno, está pronto para ser o castelão de si mesmo c
mostrar aquilo que traz em si a qualquer um que pare à porta,
como um fidalgo do campo mostra os arranjos excêntricos de seu
jardim in g lê s : a lg u é m a ss im s e ch a m a um h o m e m fr a n c o . E st a é
certamente uma qualidade cômoda para aqueles que trazem para
a sociedade a própria preguiça e incidentalmenle gostam de
examinar e classificar aquilo que vêem ao redor. Também há
bas tan te s hom ens que satisf azem essa ex igê nc ia e são inte iramente
construídos no estilo de um pavilhão em que cada janela é uma
poria, e no qual todo mundo é convidado a ocupar lugar, sob
condição de não esperar encontrar mais do que aquilo que um
la dr ão poderia t irar à noite sem se enriquecer esp ecia lm en te. Um
homem propri amente dito, que ten ha em si alg o m ais do que esse
míser o suprim ento, natural mente não renun cia rá des se mo do a s i
mesmo, já que de resto seria inútil querer conhecê-lo a partir das
descrições que faz de si, mesmo as melhores e as mais cheias de
109
espírito. De um caráter não há outro conhecimento a não ser
intuição. Vocês mesmos têm de encontrar o ponto de vista exato
desde o qual podem abranger o todo e, a partir de fenômenos,
saber construir o interior segundo leis firmes e pressentimentos
seguros. Explicar a si mesmo é, portanto, supérfluo para um fim
real. E exigir franqueza nesse sentido é tão presunçoso quanto
insensato. Quem poderia dissecar a si mesmo como o objeto de
uma aula de anatom ia, qu em poderia arr anc ar aqui Io que é singular
do vín culo unicam ente no qu al é belo e com pre ensíve l, e d ebi li tar ,
por assim dizer, com palavras aquilo que é mais fino e delicado,
dilatando-o até o desfigurar? A vida interior desaparece nesse
tratamento; é o mais deplorável suicídio. O homem deve se dar
como uma obra de aite que, exposta ao ar livre, permita acesso a
qualquer um, e, no entanto, só seja fruída e entendida por aqueles
que ent ram com sua p ar te de sentido e estudo. D ev e ser livre e se
m over conform e sua nat ure za, sem per gun ta r quem o v ê, e com o.
Na ver dade , som ente essa sere na de spreocupação merece o nom e
de fra nqu eza: p o is fr an co 181-’ é o nd e ca da um po de en trar sem
nenhuma violência, desde que, é claro, trate com cuidado mesmo
aquilo que está fechado a sete chaves. Eis o que basta para a
hospitalidade que um homem tem de mostrar no interior de sua
mente : (udo o mais só não é despropositado nas efu sõe s e deleite s
de uma ínti ma am izade. Par a e ncont rar ess e círculo mais estreito
é decerto preciso uma comunicação um tanto mais solícita, uma
franqueza envergonh ada, tímida, tate ante, que d eixa ad ivinhar aqui
e ali, por um leve contato, sua existência mais íntima e seus
m otivos, revelan do sua tendênci a p ara o am o re a am iza de. N ão é,
porém, um estado permanente, mas, como uma varinha mágica,
toca apenas onde o instinto de am izade tem esperança de encontr ar
um tesouro. Dessa estreita linha do belo moral as almas amáveis
só se desviam um pouco, para um lado ou outro, por algum mal
entendido. Por tentativas malogradas desse belo instinto, se
desviam para aquele interessante retraimento, que não quer se
dissimular, mas apenas ocultar, e que tão magicamente intriga a
todo aqu ele que sabe pressent ir o qu e é excelen te; por esperanças
sangüíneas e uma excitabilidade posta em movimento à menor
110
afini dade, se d esvia m para aquela cordialidade ingênu a que pensa,
como os maçons, que ao menos o primeiro grau não pode ser
dado a muitos. Tais fen ôm en os alegram e são interessantes, por que
ainda estão no limite do que há de melhor , e som ente o não-iniciad o
os confundirá com maneiras que provem da pura incapacidade.
Assim como se prefere negar um livro que não foi entendido,
assim também muitos são retraídos apenas porque querem fugir
das questões sobre si mesmos; e assim como alguns não podem
ler soz inh os sem , ao m esm o tem po, fazer ouvir as pal avras, assim
lambém alguns não podem intuir a si mesmos sem dizer o que
vêem. Aquele retraimento, porém, é puerilmente acanhado, e
aquela franqueza apenas aparente não se importa se alguém ou
quem está pres ente, mas espalha sua matér ia ao long e e em todas
as direçõe s, co m o uma faísc a el étri ca. U m a ou tra f ranqueza tediosa,
mais voltada para os ouvintes, é a daqueles entusiastas que
apresentam, explicitam e traduzem a si mesmos por puro fervor
pelo reino de Deus, porque acreditam ser almas-padrão, nas quais
ludo é instrutivo e ed ifica nte . Entre est es , H einrich S ti lli n g 190pod e
facilmente ser o mais completo: mas como é que decaiu tanto?
Apena s com aquil o que temos, podem os nos mos tr ar muit o m ais
gen erosos sem tão grande ris co. A ninguém é perm iti do querer ter
apenas para si experiências e conhecimentos cuja aquisição
depende de circunstâncias locais e temporais: eles têm de estar
sempre disponíveis para lodo c qualquer homem justo. Há, sem
dúvida, uma maneira não exatamente invejável de ter opiniões,
sentimentos e princípios somente dessa forma e aquele a quem
isso ocorre lem, natura lment e, um esp aço de jo g o maior p ar a sua
franqueza desimportante. Em contrapartida, aqueles para quem a

singulari
muito maldade do Ésentido
nisso. preciso epermitir
do cará te r sempre
que sejam está
maiscm jog o, se dão
reservados
m esmo em relação àquilo que costum a ser po uco importa nte p ara
os outr os, at é que um conh ecim ento co m pleto de si me sm os e dos
outr os lhe s d ê o tat o segu ro par a se parar inteirame nte de sua v isão
individual as coisas que unicamente interessam às pessoas, c
encont rar, par a cada matéri a, a forma c om um , a ele s tão estra nha,
ma s por elas tã o des ejada . É assim que noçõ es e juízos podem se r
111
comunicados sem aludir a idéias e profanar sentimentos, e a
santi dade da m ente pode ser mant ida sem recusa r a ninguém aquilo
que só de lon ge lhe c abe. Q uem ch ega sse até aí poderia ser fr anco
a todos seg und o a medida que lhe con vém . Todo mund o acr edi ta ri a
tê-lo ou conhecê-lo, mas somente aquele que lhe fosse igual, ou
aquele a quem o con sentisse, o possui ria efet ivam ente. [S .]

[337 ] Arrogant e c quem tem ao m esm o tempo sen tido e car áter, e
deixa perceber, aqui e ali, que esse vínculo é bom e útil. Quem
ex ige ambas as coisas das mulheres é um m isógino . [S .]

[338] Apenas a força formadora e criativa exterior do homem é


mutável e tem suas sazões. Mudança é uma palavra apenas para o
mundo fís ico . O eu nada p erde e n ele nada pcrec e; co m tudo aqui lo
que lhe pertence, com seus pensamentos e sentimentos, habita o
bur go livr e do imperec ível. So m ente pode se perder aquilo que se
põe ora aqui, ora ali. No eu, tudo se forma organicamente, e tudo
tem seu lug ar. Aq uilo que voc ê pode perde r jam ais lhe pert enceu.
Isso vale até para pensamentos isolados. [S.]

[3 3 9 1 Sen tido que vê a si pr ópri o se t orna espírito; espírito é


sociabilida de int ern a, al ma é amab il idade ocul ta. M as o ân imo é a
verdadeira força vital da beleza e da perfeição e acabamento
interno, Pode-se ter algo de espírito sem alma, e muita alma em
pouco ânimo. Mas assim que aprende a falar, esse instinto da
grandeza moral que chamamos ânimo tem espírito. Assim que se
agita e ama, é completamente alma; e, quando amadurece, tem
sentido para tudo. Espírito é como uma música de pensamentos;
onde há alma, aí também os sentimentos têm contorno e figura,
nobre proporção e atraente colorido. Animo é a poesia da razão
sublime e, pe la unifi cação com filo so fia e experiência mora l, del e
surge a arte inefável que capta a vida confusa, fugaz, e a forma
para a unidade eterna.lilJ

[340] Aquilo que muitas vezes se chama de amor é apenas uma


espécie própria de magnetismo. Começa com um incômodo e
112
titilante pôr en rci pportm , con siste numa desorganização e te rmin a
com uma desagradável clarividência e muito cansaço. Também
habitualmente alguém permanece sóbrio nele. [S.J

13 4 1] Quem en controu par a si m esm o um pon to de vista m ais alt o


ilo que sua existê nc ia ext erna pode, cm mo m entos iso lado s, afa sta r
o mundo de si. Do mesmo modo, aqueles que ainda não se
enco ntr ara m são, co m o qu e po r magia, inseridos no mun do apenas
em m om entos isolados, pa ra que eventualm ente possam enco ntr ar
ii si mesmos. [S.]

1342] É belo quando um belo espírito sorri para si mesmo, e


sublime o instante em que uma grande natureza se observa com
cal ma e seriedade. M as o ma is a lto é quando do is am igos ao m esm o
lempo vêem cl ara e com pletam ente, na alma do outro , aqu il o que
possuem de mais sagrado e, alegrando-se em conjunto de seu
valor19-1, po de m sentir seu s lim ites so m en te p elo c om p lem en to do
oulro. Esta é a intuição intelectual da amizade.

1343] Quando se é um fenômeno filosófico interessante e, além


disso, um excelente escritor, certamente se pode contar com a
fama de um grand e filóso fo. M uitas ve ze s esta também é alcançada
sem a segunda condição.

1344 ] Filosofar significa busca r a on isciên cia em conjunto.

1345] Seria desejável que um Lineu transcendental classificasse


os diferentes eus e p ub licasse uma descrição bastant e exata deles ,
sc n ecessário com gra vur as coloridas, a fi m de que o eu filosofan te
nilo seja mais tão freqüentemente confundido com o eu sobre o
qual se filosofa.

| 146] Muitas vezes o elogiado s a l to m o r ta le dos filóso fos é ape nas


um alarme falso. Tomam, em pensamento, um impulso tremendo
u se felicitam pelo perigo vencido; mas, observando-se apenas
un i pouco mais deti damente, sempre continuam no m esm o lug ar .
113
É o vôo de Dom Quixotc no cavalo-de-pau. Tambcm Jacobi me
parece jam ais poder pa rar quieto, em bora perm anecen do sempre
onde está: entalado entre dois tipos de filosofia, a sistemática e a
absoluta, entre Espinosa e Leibniz, onde seu espírito delicado se
esp rem eu e feriu de le v e .19'1
[347] Ainda é incomparavelmente mais temerário aceitar que
algué m seja um filó so fo d o que af irma r que alguém é um sofi sta:
se isto jamais deve ser permitido, aquilo pode ser ainda menos
válido.

[348] Há elegias daquele deplorável gênero heróico que assim


poderiam ser definidas: são sentime ntos dc de solaçã o por ocasião
de p ensam entos acerca da estultice das relações entre tri viali dade
e sandice.

[349] A tolerância não tem outro objeto senão aquilo que é


destrutivo. Quem nada quer destruir não precisa absolutamente
ser tolerado; não se deve tolerar quem tudo quer destruir. Entre
uma co isa e out ra , esse modo de pens ar tem todo o seu li vre espaço
de jogo. Pois se não se pudesse ser intolerante, a tolerância nada
seria. [S.]

[350] Sem poesia, não há nenhuma realidade. Assim como, a


desp eito de todos o s sentido s, não h á mundo externo sem fan tas ia,
assim também, apesar de todo o sentido, não há um mundo dos
espíritos sem ânimo. Quem tem apenas sentido, não vê homem
algu m , mas apenas o human o: som ente à var inha m ágica do ânimo
tudo se abre. Ele põe homens e os capta; intui como o olho, sem
ser consciente de sua operação matemática. [S.]

[351] Você já conseguiu tocar a extensão inteira de alguém, em


todas as saliê nc ias, sem lhe causar dores? Vo cês dois n ão precisam
apres enta r mais nenhuma prova de que são ho m ens cultos. [S. ]

[352] É uma criação dos historiadores da natureza que as forças

1 14
plásticas dela por muito tempo trabalharam em esforços vãos e,
depois que se esgotaram em formas que não podiam ter uma vida
duradoura, engendraram ainda muitas outras que viviam, mas
linham de perecer porque lhes faltava a força para se reproduzir.
A força autoformadora da humanidade ainda se encontra nesse
estágio. São poucos os que vivem e, entre estes, a maioria tem
apenas uma existência efêmera. Se, num momento auspicioso,
encontraram seu eu, lhes falta força para o engendrar de novo a
partir de si m esm os. A morte lhes é o esta do habit ual e, se alg um a
vez vivem, acreditam estar, encantados, num outro mundo. |S.J

1353] A história daq uele francês d os tem po s antig os, que entregou
suas insígnias de nobreza aos tribunais para deles as exigir de
volta quando conseguisse alguma posse por meio do comércio, é
uma alegoria da modéstia. Quem pretende ter a fama dessa
apre cia da vi rtude, tem de fazer o m esm o com sua nobreza in te rior.
Deve dá-la a d d e .p o si ü im m à opinião comu m e obter o direi to de
a exigir de volta, caso faça, com êxito e aplicação, remessa
comercial de méritos, talentos e achados alheios, de mercadoria
íi na e m ediana, con form e o que cada um des ej ar. [S. ]

|354] Em alguém que quise sse vincul ar li beral idade e ri goris mo,
aquel a t er ia de ser algo mais que abneg ação e este , alg o mais que
parcialidade. Mas será que isso é mesmo permitido? [S.]

D 55 ] Dep lorável, sem dúvida, é a filoso fia prá ti ca de franceses e


ingleses, de quem se pensa que s abiam muito bem o que o hom em
c, apes ar de não te rem especu lad o sobre o que ele d ev e ser . Toda
natureza orgânica tem sua regra, seu dever-ser; e, quem não sabe
disso, com o a pode conhecer? De onde ti ra m então o fundamento
da divisão de suas descrições histórico-naturais e em que medem
o hom em? N o entant o, são tã o bons qu ant o aqu eles que com eçam
c ter mina m com o deve r-s er. Estes não sabem q ue o hom em mora l
se move livremente, por força própria, em torno de seu eixo.
lincontraram, fora da terra, um ponto que apenas um matemático
pode querer procurar, mas perderam a própria terra. Para dizer o
115
que o homem deve ser, é preciso scr um e, além do mais, saber
disso. [S.]

[356] Conhecer o mundo significa saber que não se significa mui to


nele, acreditar que nenhum sonho filosófico pode ser nele
realizado, e esperar que jamais se tornará diferente, no máximo
apenas mais tênue. [S.]

[3 57 1D e uma b oa Bíblia Lessing exig e alusões, indíci os, exercícios


preliminares; também aprova as tautologias, que exercitam a
sagacid ade, as alegorias e exe m plo s, que revestem ins trut ivament e
aquilo que é abstrato; e tem confiança em que os mistérios
revelados se destinam a ser desenvolvidos em verdades da razão.
Segun do es se idea l, que li vro mais adequado os filóso fos pode ria m
escolher para Bíblia além da C rít ica da razão pur aV 96

[358] Certa vez, descrevendo a essência e o agir da mônada,


Leibniz emprega a notável expressão: Cela pe ut a ller ju sq u ’au
s e n ti m e n t. Isso se poderia aplicar a ele mesmo. Quando alguém
torna a física mais universal, quando a trata como um bocado de
matemática e a esta como um jogo de charadas, e então vê que
tem de acrescentar a teologia, cujos mistérios aliciam seu sentido
diplom ático e cujas intr inc adas controvérsias a lici am seu sentido
cirúrgico: c e l a p e u t a l l e r ju s q u ’à la p h i l o s o p h i e IV, sc ainda tiver
tanto instinto quanto L e ib n iz .198 M as um a tal fil o so fia sem pre
permanecerá algo confuso, incompleto, como deve ser, segundo
Leibniz, a matéria primeira, que, à maneira dos gênios, costuma
imputar a forma de seu interior a objetos isolados do mundo
externo.

[359] Am izade é casam ento parci al , e amor é am izade de todos os


lados e em todas as direções, amizade universal. A consciência
dos limites necessários é o mais indispensável e o mais raro na
a m i z a d e . 11'“-’

[360] Se houvesse uma arte que devesse ser chamada de magia

116
negra2()<), seria a d e tornar o con tra -se ns o f lu en te, clar o, m al eá ve l,
e de o cultivar em massa. Os franceses têm para mostrar obras-
primas no gênero. Em seu fundamento mais íntimo, todo grande
infortúnio é uma brincadeira séria, uma m a u v a i s e p l a i s a n t e r i e 2'".
Saúde e honra, pois, aos heróis que não se cansam de lutar contra
a tolice, cuja menor manifestação traz freqüentemente em si o
germe de uma série infinita de enormes devastações! Lessing e
Fichtc são os príncipes da paz dos séculos vindouros.

13 6 1] Leibniz vê a existência com o um cargo concedid o pela corte


que é preciso ter co m o um feudo. Seu De us não é apenas suserano
da existência, mas também o único a possuir, como regalias,
liberdade, harmonia e capacidade sintética. Um diploma de
nobre za exp ed ido pela secreta chancelaria divina par a uma môna da
modorrenta é um a cóp ula prolífer a.202

1362J A capacidade de encontrar, sem consideração a nenhuma


outra coisa, os meios mais perfeitos para atingir um dado fim, e a
capacidade de os es colh er de ta l m odo que, for a d a referência ao
fim dado , não resu lte n ada que im peça algum out ro de no ssos fins
ou futuramente exclua algum objeto de nossos esforços, são
talentos bastante distintos, embora a língua tenha, para ambos,
somente a palavra prudência. Ela não deveria ser desperdiçada
com qual quer um q ue sai ba empreg ar o que con vém som ente nos
casos mais comuns, ou que, mediante mínima observação de si,
ad qui ri u ce rto conhec ime nto d os hom ens, o que não é nem dif ícil,
nem louvá vel. Por prudê ncia se deve entender al go sign ifica tivo e
importante, c o talento de escolher, num catálogo, os meios mais
adequados aos fins e algo tão reles que o entendimento mais
comum já basta, e só mesmo uma cegueira passional pode levar
alguém a se enganar nisso. Não vale verdadeiramente a pena se
one rar co m um a pal avr a tão im ponente por causa de um tal obie to.
Mas também o uso lingüístico não o justifica. Jamais se atribui
prudência à natureza ou ao ser supremo, apesar de se enaltecer,
em alto grau, esse talento em todos os seus arranjos. Por isso,
seri a m elhor reserv ar t al pala vra som ent e pa ra a segu nd a qu alidade.
1 17
Visar, no esforço para um fim, ao mesmo tempo todos os fins
rea is e po ssív eis e calcular os efe itos nat ura is que, pa ralelamente,
cada ação p ode ter é de fato algo grande , e que só s e p oderá louvar
em alguns . Q ue, com o n ome de pr udê nci a, efetivamen te se ent enda
algo assim na linguagem comum, isso também se depreende do
sentimento que é suscitado quando, com um certo acento, se
enaltece alguém como sendo prudente. Primeiro este se imporá
sobre nós e, em seguida, procuraremos benevolência e ironia no
homem elogiado, e o odiaremos se não encontrarmos as duas
co isa s. A últi m a delas poderia ser tão universal quanto a primeir a,
e certamente é tão natural quanto esta, caso se tome a prudência
nessa significação. Isto é, esperamos de todo e qualquer homem
que o possamos usar mais ou menos para nossas intenções e, ao
m esm o temp o, desejam os que, pelo li vre jo go natural de sua mente
e por exteriorizações não-inlencionais e inadvertidas, possa se
tornar um objeto de benevolência e também, conforme a ocasião,
um objeto de gracejo e zombaria sem malícia. Em relação a outro s
hom ens estamos bem seguros de al cança r a s duas coisas , mesm o,
se preciso for, contra a vontade deles. Aquele, porém, que é
sobremaneira pr udent e, que me de suas aç õe s de ta l m od o que delas
nada resulte senão aquilo que t enha pret endido, no s faz, e m am bos
os ca sos, depend ente somente de sua boa v ont ade; e se não po ssui
benevolência para, com consciência e liberdade, convir com as
intenções dos outros, ou se lhe falta a ironia que o poderia levar a
sair intencionalmente de sua prudência e, abdicando dela, a se
entregar à sociedade para um uso qualquer, como um ser da
natureza: então é natural desejarmos que o lugar que detém em
nosso círculo seja ocupado por outro. [S.|

[363] Id ol at ra r o am ado é a na tu rez a do amante. M as uma c ois a é


introduzir, com imaginação excitada, uma imagem estranha, e
outra admirar uma pura perfeição, que nos aparece como tal
somente porque ainda não somos suficientemente cultos para
compreender a infinita plenitude da natureza humana e entender
a harmonia de suas contradições. Laura foi obra do poeta. A
verdadeira Laura, no entanto, podia ser uma mulher da qual um
118
místico não tão unilateral teria feito qualquer coisa de menos e
qua lqu er coisa dc mais que uma sant a.

1364] Idéias de um catecismo da razão para mulheres nobres. —


Os dez mandamentos. 1) Não amarás mais ningucm além dele,
mas poderás ser amiga, sem brincar com as cores do amor, sem
ser coquete ou idólatra. 2) Não criarás para ti um ideal, nem de
anjo no céu, nem dc herói de poema ou romance, nem de herói
produz ido p or sonh o ou fantas ia, mas ama rás um h om em com o é.
Pois ela, a natureza, tua senhora, é uma divindade severa, que
pun e, na mulher, a exalta ção da m oça até a terceira e qu arta gera ção
de seus sentimentos. 3) Não abusarás sequer do menor santuário
do amor, pois perderá o sentimento delicado aquela que profanar
o seu favor e se entregar por presentes e dádivas, ou apenas para
ser mãe em sossego e paz. 4) Guardarás o sabá do teu coração
para que o celebres, e se te impedirem, liberta-te ou pereça. 5)
Honrarás a individualidade e o arbítrio de tuas crianças, para que
sej am saud áveis e v ivam c om força sob re a t erra. 6) Nã o v ivificarás
nada intencionalmente. 7) Não contrairás matrimônio que tiver
de ser rompido. 8) N ão querer ás ser a mada se não amares. 9) N ão

testemunharás cm falso cpelos


barbárie com palavras homens;
obras. não lhes formação,
10) Cobiçarás embelezarás a
arte,
sabe dori a e ho nr a dos hom ens. — O credo. 1) Creio na humanidade
infinita que existia antes que vestisse o véu da masculinidade e
feminilidade. 2) Creio que não vivo para obedecer ou para me
dissipar, mas para ser e vir a ser; creio no poder da vontade e da
formação, de me aproximar novamente do infinito, me livrar dos
grilhões da má f orm ação e m e to rn ar independ ente das lim itaçõe s
do gênero. 3) Creio no entusiasmo e na virtude, na dignidade da
arte e no atrativo da ciência, na amizade dos homens e no amor à
pátria, na grandeza passada e no enobrecimento futuro. [S.]

1365] A matemática é, por assim dizer, uma lógica sensível: está


para a filosofia, assim como as artes materiais, música e artes
plásticas estão para a poesia.
1 19
[366] E ntendimento é espírit o mecân ico, chiste c espí rito quí mico,
gê nio é esp írito o rgâ nico .203

[367] Freqüentemente se acredita ofender autores comparando-


os à ativi dade fabril . M as o verdadeiro autor não de ve s er ta mbém
fabricante? Não deve dedicar toda a vida à ocupação de plasmar
matéria literária em formas que, em grande medida, são conformes
a fi ns e úteis ? Qu ão desejá vel não se ria em alguns escrevinhadores
apenas uma pequena par te do zelo e cuidado de que já qua se não
nos da m os co nta ao usar a s ferram entas mais c om un s!20-4

[368] Já houve e há médicos que desejam filosofar sobre sua arte.


Somente os comerciantes não têm essa pretensão e são bem
antiquadamente modestos.
[369] O deputado é algo totalmente distinto do representantel
Represent ante é som ente quem, eleito ou não , exp õe o todo p olítico
em sua pessoa, send o, por assim di zer , idêntico a ele; é com o que
a alma cósmica visível do Estado. Essa idéia, que não raro foi
m anifesta m ente o espírito das m onarquias, ta l ve z em parte algum a
ten ha sido executada de mod o tão pu ro e con seqüen te quanto e m
Esparta. Os reis espartanos foram ao mesmo tempo os primeiros
sacerdotes, comandantes e diretores do ensino público. Tinham
pouco a ver com a administração propriamente dita: não eram
nada mais que reis no sentido daquela idéia. O poder do sacerdote,
coma ndante e educ ad oré , por natur eza, i ndeterminado, universal,
mais ou menos um despotismo legal. Só pode ser atenuado e
legitimado pelo espírito da representação.205

[370] Não seria uma monarquia absoluta aquela onde todo o


essencial ocorre cm segredo num gabinete, e onde um parlamento
pode discutir com pompa e polemizar publicamente sobre as
formas? Por conseguinte, uma monarquia absoluta poderia muito
bem ter uma espécie de constituição que parecesse republicana
aos não-cntendidos.2M

120
1371] A fim de determinar a diferença entre deveres para consigo
u deveres para com os outros, dificilmente se poderia encontrar
ou tr os sinais que aqueles que um hom em simp lório forneceu par a
a diferença entre t ragédi a e com édia. S e vo cê rir e ganhar algo no
íim, consi dere um dever p ara consigo ; se estiver próximo do choro
c se for out ro quem ganha, considere um dever par a com o próximo.
Que, afinal , toda a div isão co nsista nisso e que seja um a diferença
bastante imoral, é evidente. Daí resulta a visão de que haveria
duas disposições bastante diferentes em conflito, que ou teriam
de ser mantidas cuidadosamente afastadas ou ser artificialmente
comparadas por uma aritmética mesquinha. Daí resultam os
fantasmas da abnegação, do sacrifício, da generosidade e toda
espécie de infortúnio moral. Em geral a moral inteira de todos os
sistemas é tudo, menos moral. [S.]

1372] Das obras dos maiores poetas não raro emana o espírito de
uma outra arte. Isso tambcm não deveria ser o caso entre os
pintores: Michelangelo não pinta, num certo sentido, como um
escultor, Rafael como um arquiteto, Corregio como um músico?
li certamente não seri am m enos pintores que Ticiano, por este se r
apenas pintor.

13 7 3 1A f iloso fia est ava in ecclesia pre ssa ent re o s an tigos, a ar te,
entre os modernos; em toda parte, porém, a moralidade esteve em
apuros, com utilidade e legalidade lhe invejando até mesmo a
e x is t ê n c ia .2117

1374] Se não se considera o tratamento de Voltaire, mas somente


a opinião do li vro, segund o a qua l zom bar do universo é filo so fia
e propriamente correto, então se pode dizer que os filósofos
franceses fazem com o Candide o m esm o que a s mulher es com a
feminilidade: empregam-no em toda parte.

1375] Energia é justamente o que menos necessidade tem de


mostrar aquilo de que é capaz. Se o exigem as circunstâncias,
pode de bom grado parecer passividade e não ser reconhecida.

121
Contenta-sc cm atuar cm silêncio, sem acompanhamento c
gesticulação. O virt uose, o hom em genial, qu er con segu ir um f im
determinado, dar forma a uma obr a et c. O h om em enér gico sempre
utiliza apenas o mo me nto, está prepa rad o par a qualquer si tuação
e é infinitamente flexível; tem inumeráveis projetos ou nenhum:
pois energia é, de fato, mais do que mera agilidade, é força
eficiente, atuando determinadamente para fora, mas força
univ ersal, por m eio da qual tod o o hom em se form a e a g e.2(,if

[376] Os cristãos passivos encaram a religião principalmente de


um ponto dc vista médico; os ativos, de um ponto de vista
mercantil.

[377 ] T em o Esta do um direito a sac ramentar , por puro arbí tri o, a


troca como sendo mais válida que outros contratos e, com isso,
subtrair a majestade destes?

[378] Nã o é raro que algué m, que por muit o temp o parece frio e é
tido como tal, posteriormente surpreenda a todos, em
circunst âncias ext raor din ári as, com violentas ex plo sõ es de paixão.
O hom em ver dadei rament e che io de senti m entos é aquele em que
as primeiras impressões não são fortes, mas continuam atuando
por muito tempo, penetram profundamente no âmago e crescem,
em silêncio, por força própria. Reagir logo, sempre, é sinal de
fraqueza, aquele crescendo interno das sensações é propriedade
de naturezas enérgicas. [S.]

[379 ] O Satã dos poetas itali anos e ing lese s pode ser mais poético ,
mas o Satã alemão é mais satânico e, nessa medida, sc poderia
dizer que Satã e uma invenção alemã. É certamente um favorito
dos p oetas e filóso fos alemães. Por i sso, também tem de te r al go
de bom, e se seu caráter consiste na arbitrariedade e inten
ciona lidade incondicionad a, na predileção em dest ru ir , enganar e
seduzir, não raro se encontra, indiscutivelmente, na mais fina
com panhia. M as não se ter ia at é agor a e rra do na s dim en sõe s? U m
grande Satã sempre tem algo de descomunal e grosseiro; condiz.
122
no máximo, apenas com as pretensões de perversidade daquelas
caricaturas que nada mais sabem e de nada mais são capazes que
al ctar entend im ento. Por que fal tam s a ta n i s c i à mitologia cristã?
'lalvez não haja palavra e imagem mais adequada do que esta

para certas m alda des en miniature, cuja aparênci a ama a ino cên cia,
u para aquela at rae nte e grotesca m iísica de cores da m ais su blim e
e terna malícia, que com tanto prazer costuma brincar com a
superfície da grandeza. Os antigos a m o r i n i são so m ente out ra r aç a
ilesses s a ta n i s c i .209

1380] Ler em vo z al ta c decl amar não são a mesm a coisa. Declam ar


requer elocução realmente mais alta; ler, elocução moderada.
Declamação é para espaço amplo, não para a sala. A voz alta a
que é preciso se elevar para produzir a modulação adequada fere
um ouvido delicado. Todo o efeito se perde no ensurdecimcnto.
Ligada à gesticulação, é tão repugnante quanto todas as
demonstrações de paixão violenta. O sentimento cultivado só a
pode suportar a uma distância que, por assim dizer, faz cair um
véu sobre ela. Para produzir o efeito por outro meio, o tom, em
vez de se elev ar, tem de ser abafado, contid o no fundo, e o acento
tem de ser marcado somente de modo a sugerir a compreensão
daquilo que se lê, sem que se expresse completamente o que foi
lido. Nos poemas épicos e, em particular, no romance, aquele
que lê jamais deveria parecer arrebatado por seu objeto, mas
afirmar a calma superioridade do próprio autor, que está acima
da obra. Em geral seria bastante necessário exercitar a leitura em
voz alta para que se tornasse mais difundida, e torná-la mais
difundida para a exercitar melhor. Entre nós, pelo menos, a poesia
permanece muda, e quem , por exem plo , jam ais leu ou ouviu le r o
Wilhem Meister em voz alta só estudou as notas dessa música.
| A.W .]

13 8 1] Mu itos dos prim eiros fundadores da física moderna não têm


de ser considerados co m o filó so fos , mas co m o artis tas .210

1382] O instinto fala obscuramente e em sentido figurado. Se é

123
mal entendido, surge uma falsa tendência. Isso sucede a épocas e
nações não menos raramente que a indivíduos.

[383] Há um gênero dc ch iste que , por su a con sistência, preci são


e simetri a, s e pod eria cha mar de arqu itet ônico. Ao se exteriori zar
satiricamente, proporciona verdadeiros sarcasmos. Tem de ser, e
todavia também não s er , devidam ente sistemá tico; apesar de tod a
a completitude tem de parecer faltar algo, como se tivesse sido
arrancado. Na verdade, esse elemento barroco bem poderia
engendrar o grande estilo 110 chiste. Desempenha um papel
importante 11a novela: pois somente mediante uma tal estranheza
singularmente bela uma história pode permanecer eternamente

nova. É para isso que parece se voltar a intenção pouco


compreendida das Conversas dos em igr ados. Ning uém cert ament e
admira que já quase não exista sentido para puras novelas. Mas
não seria mau voltar a despertá-lo, já que, sem isso, jamais se
compreenderá, entre outras coisas, a forma dos dramas
shakespearianos.2"

[384] Tod o filós ofo tem pontos insligantes, qu e não r aro o li mita m
realmente, cm q ue se aco mo da etc. É aí que, 110 sistema, ficam as
passa gens obscuras p ar a aquele que o iso la c não estuda a filoso fia
historicamente e no todo. Muitas controvérsias intrincadas da
fil oso fia moderna s ão com o as s agas c os deuses da poe sia ant ig a.
Reaparecem em todo sistema, mas sempre transformados.212

[385] Nas ações e determinações indispensáveis para que os


poderes legislativo, executivo e judiciário alcancem seus fins,
ocorre muitas ve ze s algo ab solutam ente arb itrá rio, in evitável, que
não se deixa deduzir do conceito desses poderes e a que, por
con segu inte, não par ece m po r si m esm os justifi ca d os. A
com petência pa ra isso nã o é po r acaso tomada de empréstimo ao
poder constituinte, que portanto também teria necessariamente
de ter 0 veto, não somente um direito de interdição? Todas as
determinações absolutamente arbitrárias no Estado não ocorrem
por força do poder constituinte?
124
1386 ] O ho me m triv ial julg a todos os outro s home ns co m o h om ens,
porém os trata como coisas e de modo algum compreende que
siío homens diferentes dele.213

138 7] S em pre se considera a filosofia crít ica com o se tives se caído


do céu. Teri a de haver surg ido na Alem anha m esm o sem Kant, e o
poderia ter feito de muitas maneiras. Mas assim é melhor.214

1388] Transcendental é aquilo qu e está, de ve e pode estar n o alto ;


transcendente, aquilo que quer, e não pode ou não deve estar no
ulto. Seria injúr ia e con tra -sen so acredit ar que a hum anidad e p oss a
transgredir seu fim, exceder suas forças, ou que a filosofia não
possa fazer tudo aquilo que queira e, portanto, deva.215

1389] Se todo vínculo puramente arbitrário ou puramente


contingente de forma e matéria é grotesco, também a filosofia
lem grotescos2lf), como a poesia; mas sabe menos sobre eles e
ainda não pôd e encontrar a chave de sua pró pri a históri a es otéric a.
Hla tem obras que são um tecido de dissonâncias morais, a partir
das quais se poderia aprender a desorganização217, ou nas quais a
confusão é ordenadamente construída e simctrica. Alguns caos
artísticos filosóficos dessa espécie tiveram solidez bastante para
durar mais que uma igreja gótica. Em nosso século, também nas
ciências se construiu de maneira mais leve, embora não menos
grotesca. À literatura não faltam pavilhões chineses. Como, por
exemplo, a crítica inglesa, que não contém nada mais que uma
aplicação à poesia, sem sentido par a a poesia, da filo so fia d o bom
senso, ela mesma uma transposição dc filosofia-de-natureza e

fil osofi a-de-art e. Po is em Il arri s, Ho m e e Johnson, os c orifeu s do


gênero, não se encontra a mais envergonhada insinuação de sentido
para a poesia.-'

1390] Há pessoa s justas e agradáveis que consideram o s h om ens e


falam a respeito deles como se se tratasse do melhor rebanho de
ovelhas ou da compra e venda de bens. São os ecônomos2|i; da
moral e, no fundo, toda moral sem filosofia sempre tem ares
125
iliberais e econômicos, mesmo na alta sociedade e na poesiü
elevada. Alguns ecônomos gostam de construir, outros preferem
consertar; alguns sempre têm de apresentar algo, outros, lev.n
alguma coisa adiante; uns tentam de tudo e se agarram a tudo,
outros estão sempre ordenando e fazendo divisões, outro*
observam e copiam. Todos os imitadores, em poesia e filosofin,
são no fundo ecônomos extraviados. Todo homem tem instinto
econômico próprio, que precisa ser tão bem cultivado quanlu
ortografia e métrica merecem ser aprendidas. Mas há místicos o
panteístas eco nô m ico s que nada respeitam, a não ser a necessidade,
e co m na da se alegr am, a não ser com sua uti lida de. Aon de chegam,
tudo se torna trivial e conforme as regras de ofício, mesmo n
religião, os antigos e a poesia, que no seu torno não é mais nobre
que rastelos de linho.

[391] Ler significa satisfazer o impulso filológico, afetai


literariamente a si mesmo. Não se pode ler por pura filosofia ou
poesia sem filologia.220

[392] Muitas composições musicais são somente traduções do


poemas para a linguagem da música.

[393] Para poder traduzir perfeitamente dos antigos para o


moderno, o tradutor teria de dominar tanto este último que, se
necessário, poderia fazer todo o moderno, mas ao mesmo tempo
entender tanto o antigo que, se necessário, não poderia apenas
imitá-lo, mas também criá-lo de novo.

[3941É um grande erro querer restringir o chiste meramente à


sociedade. Por sua força trituradora, conteúdo infinito e forma
clássica, os melhores achados freqüentemente provocam uma
pausa desagradável na conve rsa. S ó se pode entender o verdadei ro
chiste se é escrito, como as leis; é preciso apreciar seus produtos
pelo peso, assim como César, comparando-as, sopesava
cuidadosamente as pérolas e peclras preciosas. O valor sobe de
maneira não proporcional à grandeza, e alguns chistes que, além

126
iln espírito entusiástico e do exterior barroco, ainda têm acento
liriode vida, fresco colorido e certa transparência cristalina, que
w poderia comparar à água dos diamantes, já não podem ter seu
|iivço estipulado de modo algum.

| J')5| Na verdadeira prosa tudo tem de ser sublinhado.221

11%| Caricatura é um vínculo passivo de ingênuo e grotesco. O


poeta a po de usa r tan to trágica quanto co m icam ente .

|W 7| J á que nat ureza e human idade s e contrad izem tã o


licqlientemente e tão incisivamente, talvez a filosofia não possa
twilur de fazer o me sm o.

| W8 | M isticism o é o mais m ódico e ba ra to dc todos os desvarios


lilosóficos. Basta lhe dar como crédito uma única contradição
uh,soluta, para que com ela saiba suprir todas as carências e ainda
possa ostentar grande luxo.222

| W9| Totalidade polêmica é uma conseqüência necessária da


mlmissão e exigência de comunicabilidade e comunicação
Ineondicionada223 e bem pode aniquilar completamente os
lulversários, sem no entanto legitimar suficientemente a filosofia
diiquele que a possui, enquanto for voltada apenas para o exterior,
r.la só poderia levar à correção lógica se também fosse aplicada
no interior, se uma filosofia criticasse seu próprio espírito e
formasse sua letra no amolador e com a lima da polêmica.

|'l()()| Ainda não há nenhum ceticismo digno do nome. Um tal


ceticism o teri a de começ ar e te rmi nar com a afi rmação e e xigên cia
ilr uma infinidade de contradições.224 Que nele conseqüência
ucarretaria com ple to aniquilame nto, não é nad a de característico,
li algo que uma tal doença lógica tem em comum com toda não-
lilosofia. R espeito pela matemáti ca c apelo a o bom sen so são sinais
do diagnóstico do meio-ceticismo inautêntico.
127
[4 01 ] Par a entender algu ém q ue se entend e som ente pela metad e,
se tem primeiro de o entender por inteiro e melhor do que ele
m esm o, mas então ta mbém apenas pela metade e exatam ente ta nto
quanto ele mesmo.225

[402] O que importa propriamente na questão acerca da


possibilidade de traduzir os poetas antigos é se aquilo que foi
fielmente traduzido no mais puro alemão ainda não é porventura
grego.226 É o que se deveria suspeitar pela impressão que causa
sobre os leigos, que têm mais sentido e espírito para julgar.

[403] A resenha genuína deveria ser a solução de uma equação


crítica, resultado e exposição de um experimento filológico e de

uma investigação literária.227


[404] Assim como para poesia e filosofia, é preciso ter nascido
para a filologia. Não há filólogos sem filologia, na significação
mais srcinária da palavra, sem interesse gramático. Filologia é
um afeto lógico, a contrapartida da filosofia, entusiasmo pelo
conhecimento químico: pois a gramática é somente a parte
filosó fica da a rte univ ersal de separaçã o e com binação. Por meio
da formação artística desse sentido surge a crítica, cujo material

só pode
pode serser o clássico e entendido:
inteiramente pura e simplesmente eterno,
do contrário, que jamais
os filólogos, em
cuja maioria se observam os sinais mais comuns e seguros da
virtuosidade não-científica, mostrariam de bom grado sua
habilidade em qualquer outro material, tanto quanto nas obras da
antigüidade, pela qual, via de regra, não têm interesse e para a
qual não têm sentido. N o entanto, essa n ecessária limitação é tan to
menos censurável ou lastimável quanto, também aqui, somente
perfeição e acabamento artístico têm de levar à ciência, e a mera

filo log ia formal


antigüidade e detem
umadehistória
sc aproximar
humana de
da uma dout rina Isso
humanidade. mat eri
é al da
melhor do que uma pretensa aplicação da filosofia à filologia no
estilo comum daqueles que mais compilam que combinam as
ciências. O único modo de aplicar filosofia à. filologia ou, o que é

128
ninda muito mais nece ssário, filo log ia à filoso fia é quando se c ao
mesmo tempo filólogo e filósofo. Mas, mesmo sem isso, a arte
lil ológica pode afi rma r seus direit os. Ded icar-se exclusiva m ente

no desenvolvimento
sábio dede
quanto o que há ummelhor
único impulso srcinal
e mais alto que oé homem
tão digno e
possa
escolher como ocupação de sua vida.228

[405] Caridade é a ignominiosa virtude que sempre tem de se


penitenciar em romances e dramas para que a natureza vulgar se
eleve ao caráter nobre ou mesmo, como em peças de Kotzebue,
pura que se repare outra perversidade qualquer. Por que não se

uiiliza a benevolente
saquinhos disposição
de esmola pelos do [A.W.|
teatros? momento e não se passam

1406] Sc todo indivíduo infinito é deus, há tantos deuses quanto


ideais. A relação do verdadeiro artista e do verdadeiro homem
para com seus ideais também é, intei ramente, reli gião. S acerd ote
ó aquele pa ra quem es se cu lto inter ior do d ivino é meta e ocup açã o
de toda a vida, e cada um pode e deve sc-lo.

1407] A parte mais importante da boa conduta de vida é o


atrev imento de a poder imput ar i ntencio nalm ente àq ueles d e quem
se sabe que não a tê m; a p art e ma is difíc il é p ressenti r e adivinhar
a vulgaridade individual sob o véu do bom costume geral. [S.]

1408] G raciosa vulgaridade e culti vada falta de edu caçã o é a quilo


que, na língua do fino trato, se chama delicadeza.

1409] Para ser chamados de morais, os sentimentos não têm de


scr apenas belos, mas também sábios, conformes a um fim na
conexão de seu todo e decorosos no sentido mais elevado.

14 10] Rotina, econom ia, são o suplem ento nec essário de todas as
naturezas que não são pura e simplesmente universais. Com
freqüência, talento e formação se perdem totalmente nesse
elemento circundante.
129
[411] O ideal científico do cristianismo é uma característica da
divinda de co m infinitas varia ções.2 29

[412] Ideais considerados inatingíveis não são, por isso mesmo,


ideais, mas fantasmas matemáticos do mero pensar mecânico.
Quem lem sentido par a o infini to e sabe o que que r com isso, nele
vc o produto de forças que eternamente se separam c mesclam,
entende ao menos quimicamente seus ideais e diz, quando se
exprime decididamente, puras contradições. Até aí parece ter ido
a filos ofia da época, mas não a filoso fia da fi losofia: po is tamb ém
os idealistas químicos não raro têm apenas um ideal matemático
unilateral do filosofar. Suas teses a esse respeito são de todo
verdadeiras, isto é, filosóficas, mas lhes faltam as antíteses. Não
parece ainda ser tempo de uma física da filosofia, e somente o
espírito perfeito e acabado poderia pensar ideais organicamente.2’0

[413] Um filósofo tem de falar tão bem de si mesmo quanto um


poeta lírico.

[414] Se existe uma Igreja invisível, é a daquela grande


paradoxalidade que é inseparável da moralidade, e que ainda
precisa ser muito bem diferenciada da mera paradoxalidade
filosófica. Homens que são tão excêntricos para, com toda a
seriedade, ser e se tornar virtuosos, em toda parte se entendem,
facilmente se encontram e formam uma tácita oposição à
imorali dade dom inante, que passa precisamente por morali dade.
Certo misticismo da expressão, que numa fantasia romântica e
ligado ao sentido gramático po de ser algo de bem atraent e e muito
bom, freqüentemente lhes serve como símbolo de seus belos
mistérios.2’1

[415] Sentido par a poesia ou filoso fia tem aquele para quem são
um indivíduo.

[416] Da filosofia faz parte, dependendo de como se considera


isso, ou nenhum conhecimento específico, ou todos.

130
|-| 17] N ão se d ev e quere r induzi r ou converter ningué m à filosof ia.

1-118] Mesmo segundo os pontos de vista mais comuns, já é


suficiente para que um romance mereça ficar famoso se nele se
expõe e desenvolve, de uma maneira interessante232, um caráter
Inteiramente novo. William Lovell233 tem, inegavelmente, esse
mórito e certamente não o teria prejudicado que nele todos os
ncessórios e apetrechos, como o grande maquinista por trás do
lodo, sejam triviais e ineficazes, que nele freqüentemente o
Incomum seja apenas o comum ao avesso; mas o caráter,
infeli zmen te, er a poético. Lo vell é, co m o a vari ação apenas pouc o
diferente dele, Balder, um completo e perfeito fantasista, em
qualquer sentido, bom e mau, belo e feio da palavra. Todo o livro
6 uma luta entre prosa c poesia, onde a prosa é espezinhada e a
poesia quebra o próprio pescoço. De resto, tem o erro de muito
primeiro produto: balança entre instinto e intenção porque não
le m o suficien te de ambos. D aí a s repe tições, mediante a s quais a
exposição do sublime enfado pode por vezes se comunicar. Aí
res ide a razão por que n ess e rom ance a fantasia absoluta po de ser
desconhecida e de sprezada com o merament e senti mental m esmo

pelos iniciados da poesia, enquanto para o leitor razoável, que


pelo seu dinheiro exige ser moderadamente comovido, o
sentimental não agrada de modo algum e parece furioso demais.
Tieck talvez jam ais tenh a novam ente ex posto um car át er de m odo
Ião profundo e detalhado. M as Sternbal d une a serieda de e en lev o
de Lovell à religiosidade artística do Monge e a tudo aquilo que,
no conjunto, é o mais belo nos arabescos poéticos234, que formou
a partir de antigos co nto s de fada: a plenitude e lev ez a fantástica,

ointencion
sentido para
ais doa co
ironia
loride,o.principalmente,
Também aquiatudo
diversidade
é cl aro ee transpar
unidade ente,
e o espírito romântico parece fantasiar agradavelmente sobre si
mesmo.235

| 4 19] O mundo é sério dem ais, mas a ser iedade ainda é bast ante
rara. Seriedade é o contrário de jogo. A seriedade tem um fim
determinado, o mais important e entre todos os p oss íve is; não pod e
131
brincar e se enganar; persegue incansavelmente a meta até n
alcançar totalmente. Dela faz parte energia, força espiritual de
extensão e intensidade pura e simplesmente ilimitadas. Se não liíi
altura e amplitude absolutas para o homem, a palavra grandeza i
supérflua em significação moral. Seriedade é grandeza na ação,
Grande é aquilo que tem ao mesmo tempo entusiasmo c
genialidade, que é ao mesmo tempo divino e perfeito e acabado.
Perfeito e acabado é aquilo que é ao mesmo tempo natural e
artificial. Divino é aquilo que jorra do amor pelo puro ser e devir
eterno, amor que é mais alto do que toda poesia e filosofia. Há
uma div ind ade p lácida se m a força trituradora do heró i e a atividade
formador a do arti sta. A qu ilo que é ao m esm o tem po div ino, perfei to
e acabado e grande, é c om ple to.2 36

142 0] Talvez se d eix e decidir de maneira bem determinad a se uma


mulher cult a, cuja moralidade pod e estar em que stão, é corrompida
ou pu ra . Se segu e a tendência unive rsal , se a energia, o fenô m eno
externo d o espírito e do carát er e o que quer que es tes façam va ler,
é um e tud o p ar a ela, então é corr ompida. S e con he ce a lgo mai or
do que a grandeza, se pode sorrir de sua inclinação natural para a
energia, se, numa palav ra, é capaz do entusias mo , então é inocente
em sentido moral . Sob ess e asp ecto se p ode dizer que toda a v irtu de
da mulher é religi ão. M as que as mulheres tenham, por assim dize r,
de acreditar mais em Deus ou em Cristo do que nos homens, que
qualquer bom e belo livre-pensamento condiga menos com elas
do que com os homens, é uma das inumeráveis trivialidades
comumente aceitas que Rousseau reuniu num sistema ordenado
da doutrina-da-feminilidade237, no qual o contra-senso foi de tal
forma arranjado e desenvolvido, que teve de receber aplauso
universal.

[421] Talvez a grande massa ame os romances de Friedrich


Richter2 ™apenas p elo apare nte espírito aventureiro. N o geral, ele
interessa da maneira mais diversa e por causas de todo opostas,
Enquanto o ecónomo culto com ele verte uma nobre profusão de
lágrimas c o artista rigoroso o odeia como signo encarnado da

132
tompleta falta dc poesia da nação e da época, o homem de
Icndência universal pode sc deleitar com as grotescas figuras de
por ce la na de seu chiste m etafóri co, con voc ad o ao som de tambor
como as tropas imperiais, ou lhe idolatrar a arbitrariedade. É um
liMiômcno peculiar: um autor que não domina os primeiros
princípios da a rte , qu e não pod e exp rim ir um puro b o n m o t m , qu e
liem sequer sabe narrar bem uma história segundo aquilo que
habitualmente se chama narrar bem, e ao qual, no entanto, não se
poderia sem injustiça recusar o nome de grande poeta, mesmo
i|iie apenas por um ditirambo humorístico, como a carta sobre
Ad ão do teim oso, robus to, rígi do e esplêndido Leibgeber. S e suas

oobras
lodo não contêm
é como cultivo além dae medida,
a particularidade sãoem
vice-versa; no suma,
entantoelecultas:
eslá
pronto. É uma grande vantagem do Siebenkcis que execução e
exposição sejam o que nele há de melhor; uma muito maior, a de
que nele haja poucos ingleses. Sem dúvida, seus ingleses afinal
luinbém são alemães, embora em relações idílicas e com nomes
sentimentais: no entanto, sempre têm uma forte semelhança com
os poloneses de Louvet240 e fazem parte das falsas tendências em

que é tão pródigo.


a filosofia, EntreMaria,
a Virgem estas também
a graça,seasencontram as mulheres,
visões ideais e o
autojulgamento. Suas mulheres têm olhos vermelhos e são
exemplos, manequins para reflexões psicológico-morais sobre
feminilidade ou misticismo. Em geral, quase nunca se digna a
expor suas personagens; basta que as co nc eb a c, uma v ez ou out ra,
emita uma observação certeira sobre elas. É assim que se põe ao
lado do s hum orist as pa ssivo s, que são propriamente apenas co isa s
humorísticas: os ativos também parecem mais autônomos, mas
lêm, entr e si e com o au to r, uma seme lhan ça familiar f orte dem ais
para que se lhes possa imputar isso como mérito. Seu ornamento
consiste em arab esc os de chum bo, no estilo de Nurembergue. Aqui
é ond e mais chama a ate nção a m onotonia, beirando a pobre za, de
sua fantasia e espírito: mas é também aqui que estão à vontade
sua atraente lerdeza e sua picante falta dc gosto, na qual se deve
censurar apenas que não pareça ter conhecimento dela. Sua
Madona é uma sacristã lacrimosa, e Cristo aparece como um
133
candidato iluminista.241 Quanto mais morais seus Rembrandt,'
poéticos, lanto mais medíocres e comuns; quanto mais cômicos
tanto mais próximos do melhor; quanto mais ditirâmbicos i
provincianos, tanto mais divinos: pois sua visão da província c
sobretudo, p aradis íaca . Su a p oesia h um orísti ca se separa cada v cy
mais de sua prosa sentimental; muitas vezes apareço
semelhantemente a canções intercaladas, como episódios, oi
aniqui la, co m o ap êndice, o livr o. Mas de temp os em tem pos del e
ainda jorram boas massas para o caos universal.

[422] Mirabeau desempenhou um grande papel na Revolução


porque seu caráter e espírito eram revolucionários; Robespierre,
porque obedecia incondicionalmente à Revolução, a ela sc
dedicava inteiramente, a adorava e se considerava o deus dela;
Bonaparte, porque pod e cria r e moldar revo luç ões , e aniquilar a si
mesmo.

[423] Será que o caráter nacional francês de agora não começou


propriamente com o cardeal Richelieu? Sua esquisita e quase
insípida universalidade lembra muitos dos fenômenos mais
notáveis da França depois dele.242

[424] A R evolu ção Francesa pode ser considerada o maior c mai s


notável fenômeno da história dos Estados, um terremoto quase
universal, um imenso dilúvio no mundo político; ou o protótipo
das revoluções, a revolução pura e simples. Estes são os pontos
de vista habi tuai s. Mas também p ode ser considerada co m o centro
e apogeu do caráter nacional francês, onde estão concentrados
todo s os paradoxos dele; co m o o m ais temív el gr otesc o da ép oc a243,
onde seus preconceitos mais arraigados c pressentimentos mais
fortes se mesclam num caos pavoroso, se enredam da maneira
mais bizarra numa colossal tragicomédia da humanidade. Ainda
só se encontram traços isolados para a execução dessas visões
históricas.

[425] O pr imeir o mo vime nto da morali dade é op osiç ão à legalidade

134
positiva e à jurisprudência convencional, c uma ilimitada
excitabilidade da mente. Se a isso se acrescentam a negligência
Ifio própria a espíritos autônomos e fortes e a veemência e
ina bil ida de da juventud e, então são inevitáve is os ex ce ss os , cujas
conseqüên cias impr evisíveis muitas vezes en venenam toda a v id a.
(i assim que a plebe toma por criminosos e exemplos de
imoralidade aqueles que, para o homem verdadeiramente moral,
estã o en tre a s ex ce çõ es sumam ente ra ras que pode considerar co m o
sere s de sua esp éc ie, concida dãos de seu mundo. Q uem não pensa
aqui em Mirabeau e Chamforl?

[426] É natural q ue os f rancese s exerçam algum dom ínio nesta


época. São uma nação química, entre eles o sentido químico é
ativado da maneira mais universal e, mesmo na química moral,
sempre fazem suas experiências em larga escala. Esta época é,
igu al mente , uma epoca química. Rev oluçõ es nã o são movim entos
universais orgânicos, mas químicos. O grande comércio é a
química da grande economia; também há, certamente, uma
alquimia do gênero. A natureza química do romance, da crítica,
do chiste, da sociabilidade, da retórica mais recente e da história
at é hoje é por s i m esma ev idente. Enquant o não se che gar a uma
característica do universo e a uma divisão da humanidade, será
preciso se conte ntar com noç ões acerca do tom fundamental e de
manei ras isoladas da época, sem poder fazer sequer a si lhueta do
gigante. Pois co m o que re r det ermi nar , sem con hec im ento s prévios,
se a época é efetivam ente um indiví duo ou talvez apena s um ponto
de colisão de ou tr as épo cas: onde é que definiti vam ente com eça e
ter mina ? C om o seria po ssíve l entender e pont ua r co rretamente o
período atual do mundo, se não se pode ao menos antecipar o
caráter geral do imediatamente seguinte? Em analogia com esse
pensamento, uma época orgânica se seguiria à química, e então
os habi tante s da t erra no próxim o c iclo sola r dificilm ente poderi am
pensar tão bem de nós quanto nós mesmos, e considerariam muito
daquilo que agora é espantoso somente como exercícios úteis da
ju v e n t u d e da h um an id ad e.
135
[427] Aq uilo que se cha ma de pesquisa é um experimento hist óri co.
O objeto e resultado dela é um fato. Aquilo que deve ser um fato
tem de ter rigorosa individualidade, ser ao mesmo tempo enigma
c experimento, a saber, um experimento da natureza formadora.

Enigm a e m istéri
por entusiasmo o é t udo
e com aqu ilo
sentido que som
filosó fico,ente po deousermora
p oético apreendido
l.

[428] Tambcm a língua se porta mal com a moralidade. Em parte


alguma é tão rude e pobre quanto ali onde se trata de designar
conceitos morais. Tomo como exemplo os três caracteres que se
podem constr uir a pa rt ir dos diferentes v íncu los entre m eio e fi m.
Há homens para os quais tudo o que tratam como meio se torna
furti vamente fim. Pa ra fazer for tuna , se d edicam a uma c iênc ia e
se d eixam cati var por seu s atr ati vos . Procura m um adepto dela e
começam a amá-lo. Para estar com ele, freqüentam os mesmos
círculos e se tornam seus membros mais apaixonados. A fim de
agradar nesses círculos, escrevem, praticam belas-artes ou se
veslern melhor e, quando menos se espera, tomam íntimo gosto
por suas escrevinhações, seu estudo das artes, sua elegância,
independentemente de agradarem ou não. Este é um caráter bem
deter minado, que se pode fac ilmente reco nh ecere m qualque r pai te;
mas tem a l íngua um n om e par a ele? D es se m odo se perc orr e um
grande cí rculo d e atividades diferentes e, por isso, a lí ngua permi te
cham á-lo de inconstante ou m ulti face tado: m as isso é apenas uma
parte das manifestações de tal mentalidade, que esta tem em
comu m com muit as o utr as. Hom ens dessa esp écie tr ans fo rmam o
espaço finito entre o momento presente e a obtenção de um certo
fim numa grandeza infinita e dividida ao infinito. Aquele para
quem essa capacidade de tratar o finilo como algo infinito ainda
parece algo amável poderia chamá-la assim, mas isso é apenas a
descrição de uma impressão. A língua não t em signo pa ra a essência
desse caráter, que consiste em passar fácil e freqüentemente do
interesse p or algo, com o m eio, a u m interesse imediato. H á o utro s
hom ens que seguem o cam inho oposto e m uit o facil m ente tr atam
apenas como meio para outra coisa aquilo que lhes era inicialmente
fim: se leram apaixonadamente um escritor, terminam com uma

136
caracterização dele; se exerceram por muito tempo uma ciência,
logo se elevam à fi losofia da ciên cia e, m esm o quando uma afeição
pessoal os cativa , correm o risco de tratar essa ter na ligaçã o co m o
meio, a fim de obter uma nova visão da natureza humana ou

filosofarme
alguém sobre
digaooamor
nomeadisso
partir
cmdealemão!
experiências próprias.
H cômodo falar Que
dos
efeito s e da impr essão d e um ta l cará te r: que é gran dioso afasiar o
finit o porque se visa o infinito; q ue é srcina l derr ubar as barr eiras
em que outros perm anecem preso s, ab rir novas tri lha s ond e outros
crêem ver um círculo fechado, percorrer grandes paixões num
vôo im petuoso e cons tru ir, com o que de pa ssagem , grandes ob ras
de arte; pois e stas são as ex ter ior izaç õe s naturai s de um tal car áte r,
se não sc extingue; para pintar algo assim, não faltam palavras à
língua. Há um terceiro caráter que unifica os outros dois; que,
enquanto tem em vista um fim, transforma em fim tudo o que faz
parte do sistema deste, mas nesse gozo finito não se esquece do
esforço mais alt o e a ele sem pre re tor na em m eio a seus passo s de
gigante. Vincula o talento de encontrar facilmente os próprios
limites e de nada querer, a não ser aquilo de que se é capaz, ao
lalento de ampliar seus fins úllimos simultaneamente com suas
forças: a sabedoria e a plácida resignação da mente voltada para
si à energia de um espír ito altamente elástico e exp an sivo, qu e, à
menor abe rtura que se ofere ça, esc ap a pa ra preencher num instante
um círculo mais amplo do que o anterior. Jamais faz tentativa vã
de escapar das barreiras conhecidas do momento e arde de ânsia
para se estender mais além; jam ais resis te ao destino, mas o d esafia
a cada momento para que lhe aponte uma ampliação de sua
existência; sempre tem à vista tudo o que um homem pode vir a
se r e desejar vir a se r, mas jam ais se emp enh a por alg o até que se

apresente o m om
prático perfeito ento fav oráv
e acabado, el. Qtudo
que nele ue um
sejataintenção
l ca rát ereseja um gên io
instinto,
arbítrio e natureza, isso se pode dizer, mas em vão se procurará
uma pal avra pa ra designar a es sê nc ia de sse caráter. |S . |

|'I29| Assim como a novela tem de ser nova e surpreendente em


cada ponto de seu ser e devir, assim também o conto de fadas
137
poético e, principalmente, a romança deveriam ser talvez
infinitamente bizarros, pois esta não quer apenas interessar a
fantasia, mas também encantar o espírito e excitar a mente; e a
essê nc ia do biz ar ro parece res idi r justamen te em cert as ligaç ões e

confusões arbitrárias
uma bizarria e esquisitas
do entusiasmo que entre pensar,
se concilia comcriar e agir. Há
a suprema
formação e liberdade, e não somente robustece, mas também
em bele za e, por assim dizer , divin iza o trág ico, co m o na N o i v a d e
Corinto 244 de G oeth c, que faz é po ca na h istóri a da poesia . N ela , o
comovente é dilaccrante e, no entanto, sedutoramente atraente.
Algumas passagens poderiam ser ditas quase burlescas, e mesmo
nestas o terrí vel se mostra de uma grandeza es maga dora.

[430] Há circunstâncias e situações inevitáveis, que só podem ser


trata das de mo do liber al se a ge nte as tra nsforma por um ato audaz
do arb ít ri o e as considera, do início ao fim, c om o poesia. Por ta nt o,
todos os hom ens cultos devem , em caso de necessidade, poder s er
poetas, e daí se segu e, igu alme nte, tan to q ue o hom em é poeta p or
natureza, que há uma poesia-de-natureza, quanto o inverso.245

[43 1 ] “O fereça sac rifício s às Graças” sign ifica , quando se diz isso
a um filós ofo : “Bu squ e a ironia e cu ltiv e-s c para a urbanidade”.2 46

[432] Em muitas obras vastas, particularmente as históricas, que


são sempre cativantes e bem escritas nos detalhes, sente-se não
obstante uma desagradável monotonia no todo. Para evitar isso,
co lo rid o , t om e m esm o e st ilo 247 teriam de variar e ser
manifestamente distintos nas diferentes grandes massas do todo;
por esse meio a obra não se tornaria apenas mais diversificada,
mas também mais sistemática. É evidente que uma tal variação
regular não pod e ser obra d o a caso , qu e aqui o arti st a tem d e saber
bem determina dam ente o que quer pa ra o poder fa zer; mas também
é evidente que é apressado chamar de arte à poesia ou à prosa
antes que chegue m a construir com pletam ente suas obr as . N ão se
deve temer que por isso o gênio se torne supérfluo, uma vez que,
do conhecimento mais intuitivo e da clara visão do que deve ser

138
produzi do, o salto até aquil o que é per feito e acabado perm anecerá
sempre infinito.

1433] A ess ên cia do sentim ento po ético talvez resida em poder s e


afetar totalmente por si m esm o, se dar ao afeto por nada e fant asiar
sem ense jo algum. E xcitabili dade moral concorda muito bem com
completa falta de sentimento poético.

1434] Deve então a poesia ser pura e simplesmente dividida? Ou


permanecer una e indivisível? Ou alternar entre separação e
vín culo ?2411 A ma ioria dos m od os d e repr esentaç ão do sistem a
có sm ico da po esia ainda é tão grosseira e puer il quan to os an tigos
modos de representação do sistema astronômico antes de
Copérnico. As divisões habituais da poesia são apenas armação
sem vida para um horizonte limitado. O que quer que alguém
possa fazer ou o que quer que se aceite, a lerra cm repouso
permanece no cen tro . N o pró pri o un iverso da po esia, porém , nad a
está em repouso, tudo vem a ser, se transforma e move
harmonicamente; e também os cometas têm leis inalteráveis de
movimento. Mas enquanto a trajetória desses astros não puder ser
calculada, enquanto o retorno deles não puder ser previsto, o
verdadeiro sistema cósmico da poesia ainda não estará
descoberto.249

1435] Alguns gramáticos parecem querer introduzir na língua o


princípio do antigo direito das gentes, segundo o qual todo
estrangeir o é um in im igo. Mas m esm o um aut or que sabe da r conta
do trabalho sem estrangeirisrnos, sempre pode se considerar
liistificado a utilizá-los onde o caráter do próprio gênero exija ou
requeira um colorido de universalidade; e um espírito histórico
sempre se interessará, com veneração e amor, pelas palavras
ant iga s e se comprazer á ocasionalm ente em rejuvenescê-las, elas
que tão freqüentemente não têm somente mais experiência e
entendimento, mas também mais força de vida e unidade do que
muitos daqueles a quem se chama de homens ou de gramáticos.
139
[4361 Desconsiderando inteiramente o conteúdo, o espelho de
príncipe250 e tão apreciável como modelo de bom tom na
conv ersaçã o escrit a, quant o de le são pou cos os que a prosa a lemã
tem para mostrar, a partir dos quais o autor que quer pôr filosofia
e vida social en rapport 251 tem dc aprender como o decoro da
con ven ção é nobremente eleva do a decê ncia da n ature za . N o fundo,
é assim que deveria saber escrever todo aquele que tem ocasião
dc publicar algo, sem por isso mesmo querer ser um autor.

[437] Como pode pretender rigor, perfeição e acabamento


científico uma ciência que, como a matemática, é em sua maior
par te ordenada e div idid a in u sum delp hin i 252 ou se gu nd o o sis tem a
das causas ocasionais?

[438] Urbanidade é o ch iste da universal idade harmônica, c esta é


o um e tudo d a filoso fia histó rica e da mú sica suprema de Pl atão.
A s h it m a n io r a 25i são a ginástica dessa arte e ciência.

[439] Um a caracterização é uma obra de a rte da críti ca, u m visum


r e p e r t u m 2” da filosofia química. Uma resenha c uma
caracterização aplicada ou que se aplica em vista do estado atual
da literatura e público. Panoramas, anais literários, são somas ou
séries de caracterizações. Paralel os são grupos crít icos. D a jun ção
de ambos n asce a seleção de clássicos, o sistema cósm ico crí ti co
para uma dada esfera da filosofia ou poesia.255

[440] Toda pu ra formação desinteressada é ginástica ou musical;


visa o desenvolvimento de forças isoladas e a harmonia de todas
elas. A dicotomia grega do ensino é mais que um dos paradoxos
da antigüidade.

[441] Liberal c aquele que é, como que por si mesmo, livre de


todos os lados e em todas as direções, e atua em toda a sua
humanidade; que venera, na medida de s ua força, tudo aqu ilo que
age, é ou será, e participa de toda vida sem se deixar desviar, por
visões limitadas, ao ódio ou desprezo dela.

140
|442] Também se chama de juri sta s filosó fico s àqueles que, alem
de seus outros direitos freqüentemente tão injustos, também têm
um direito natural que não raro é ainda mais injusto.

[443] A dedução de um conceito é a prova genealógica de sua


genuína procedência da intuição intelectual de sua ciência. Pois
cada ciência tem a sua.256

[444] Para alguns costuma ser estranho e ridículo que músicos


falem sobre os pensamentos contidos em suas composições; e
mui ta s vez es também p ode acontecer que se perceba que têm m ais

pensamentos
(em sentido paraem sua
as música do queafinidades
maravilhosas sobre ela. Quem, noas
de todas entanto,
artes e
ciências ao menos não considerará a questão a partir do ponto de
vista trivial da chamada naturalidade, segundo a qual a música
deve ser apenas a linguagem da sensação; não achará em si
impossível certa tendência de toda pura música instrumental para
a filos ofia . A pur a mú sica inst rumental não tem de p roduzir por s i
mesma um texto? E nela não se desenvolve, confirma, varia e
cont rast a o lema, tal co m o se faz co m o ob je to de m editação numa
série de idéias filosóficas?257

[4451A dinâmica é a doutrina das grandezas da energia, que em


astronomia se aplica à organização do universo. Nessa medida se
poderia chamar a ambas de matemática histórica. A álgebra é a
que mais exige chiste e entusiasmo, a saber, chiste e entusiasmo
matemáticos.

1446] O empirismo conseqüente termina com contribuições à


eliminação dos mal-enlendidos ou com uma subscrição em prol
tia verdade.

1447] A universalidade n ão -ge nu ína é teórica ou prát ic a. A teórica


e a universalidade de um léxico ruim, de um arquivo. A prática
nasce da totalidade da mistura.
141
[448] A s intuiçõ es inte lectuais da crít ica são o sentime nto da a náliso
infinitamen te fina d a poe sia g rega e da mesc la infinitamen te p lemi
de sátira e prosa romana.

[449J Não temos ainda um autor moral que possa ser comparado
aos primeiros da po esia e filoso fia. Ele ter ia de vincular a su bl imu
política anti ga de Müller à gr ande eco no m ia do unive rso de Fors tei
e à ginástica e música moral de Jacobi, e unir, na escrita, o estilo
grave, digno e entusiasmado do primeiro ao fresco colorido, à
amável delicadeza do segundo e à cultivada sensibilidade do
terceiro, que por toda parte ecoa ao longe como uma harmônica

do m und o do s e sp ír ito s.251*


[450] A polêmica de Rousseaii contra a poesia é, porém, apenas
lima má imitação de Plat ão. Platão tem mais coi sa contra os poeta s
do que contra a poesia; considerava a filosofia o ditirambo mais
audacioso e a música mais harmoniosa. Epicuro é o verdadeiro
inimigo da bela-arte: pois quer extirpar a fantasia e se ater
meramente ao sentido. Espinosa poderia parecer um inimigo da
poesia de uma maneira inteiramente outra, porque mostra quão
longe se pode ir com filosofia e moralidade sem poesia, e porque
está bem dentro do espírito de seu sistema não isolar a poesia.25y

[451] Universalidade é saturação recíproca de todas as formas e


todas as matérias. Só alcança a harmonia mediante o vínculo de
po esia e filosofia: ess a última síntese parcce fa ltar tamb ém às ob ras
mais universais e mais perfeitas e acabadas da poesia e filosofia
isoladas; próximas à meta da harmonia permanecem imperfeitas
e inacabadas. A vida do espírito u niversal é u m a cadeia ini nte rru pta
de revoluções internas; nele vivem todos os indivíduos, os
srcinais, eter nos. É um gen uíno politeí sta e traz o O limp o int eir o
Idéias 1
| Ij As exigências e os indícios de uma moral que seria mais do
i|ue a parte prática da filosofia se tornam cada vez mais límpidos
u nítidos. Já se fala até de r eligião. É te m po de rasg ar o vé u d e ís is
u revelar o mistério. Quem não puder suportar o semblante da
deusa, que fuja ou pereça.

|2J Um religioso- é quem vive apenas no invisível, é aquele para


(|iiem todo visível lem apenas a verdade de uma alegoria.

|3] S om ente pela refe rênci a ao infi nito surgem conteú do e uti lida de;
aqu ilo que não se refere a ele é pur a e sim plesm ente vaz io e inú til.

14] R elig ião é a on i vi vifican te alm a cós m ica da form ação, o quarto
elemento invisíve l de filosofia, mor al e poesia, que, co m o o fogo ,
onde está estabilizado, é ubiquamente benéfico e só irrompe em
temível destruiç ão pela violê nc ia e excitação ext erna .

[5] O sentido somente entende algo quando o acolhe em si como


germe, o alimenta e deixa crescer até a flor e o fruto. Portanto,
quando semeia divina semente no solo do espírito, sem
artificialidade e ocupação ociosa.

[6] Somente em Deus se deve buscar a vida eterna e o mundo


invisível. Nele vivem todos os espíritos, é um abismo da
individualidade, o único infinitamente pleno3.

[7] D eixe m li vre a religi ão, e com eçará uma nova humanidade.

[8] O entendimento, diz o autor dos D is c u r s o s s o b r e a r e li g i ã o \


só sabe do universo; que reine a fantasia, e então vocês terão um
Deus. M uito justo: a fan tasiaé o órgão do hom em pa ra a divindade.

145
[9] O verdadeiro religioso sempre sente algo mais alto do que
compaixão.

[10] Idéias são pensam entos infinitos , autônomos, sem pre m óveis
em si, divinos5.
[11] Somente mediante religião se faz, da lógica, filosofia; so
mente dali provém tudo aquilo que, mais que ciência, esta é. E,
sem ela, em vez de uma poesia eternamente plena, infinita,
teremos apenas romances, ou a brincadeira que agora é chamada
de bela-arte.

[12] Há uma I lustr ação? Só se poderia chamar a lgum a cois a assim


caso sc pudesse arbitrariamente pôr cm livre atividade, não
certamente produzir por arte, um princípio no espírito humano tal
como é a luz em nosso sistema cósmico.

[ 13] Só pode ser um artista aquele que tem uma religião própria,
uma visão srcinal do infinito.

[14] A religião não é apenas uma parte da formação, um membro

da humanidade,
primeiro e o maismas
alto,o ocentro
pura edesimplesmente
todo o resto,srcinário.
em toda parte6 o

[15] Todo conceito de Deus é conversa fiada. Mas a idéia da


divindade é a idéia de todas as idéias.

[16] O religioso só é meramente como tal no mundo invisível.


C om o pode aparec er entr e os hom ens? N a te rr a não quer erá na da
mais qu e formar o finito par a o eterno e a ssim , qualquer que poss a
ser o no m e de seu ofício , te m de ser e permanecer um ar ti sta.

117J Se as idéias se tornam deu ses, então a con sciê nc ia da harmonia


se to rn a devoç ão, hum ildade e espe ranç a.

[ 18] E m toda pa rte a religião tem de env olv er7 o espírito do hom em

146
mo ra l com o seu eleme nto, e a es se lum inoso caos de pensam entos
c sentimentos divinos chamamos entusiasmo.

119] Te r gênio é o estado natu ral do homem ; também e le teve de


sair, rob usto , das m ãos da n atureza11, c v ist o q ue o am or é para as
mulher es o que o g ên io é para o ho m em , tem os de pensar a i dade
de ouro com o aquel a em que amor e gên io era m universais.

120 ] Arti sta é todo a quele par a quem meta e m eio da ex istên cia é
lormar seu sentido.

[21] É próprio da humanidade ter de se erguer acima da

humanidade.
[2 2] Que f azem os pou cos m íst icos que ai nda existem? — Dão
mais ou menos forma ao caos bruto das religiões já existentes.
Mas apenas isoladamente, no pormenor, por meio de fracas
tentativas. Façam isso em grande escala, em todas as direções,
com toda a massa, e deixem-nos despertar todas as religiões de
suas tumbas, rcvivificar e formar as imortais mediante a
onipo tência da a rte e ciência.

|23] Virtude é razão tornada energia.

124] A simetria e a organ ização da história nos ens inam que,


enquanto era e se tornava humanidade, esta já era e se tornava
efeti vam ente um indiví duo, uma pessoa. N essa grand e pe ssoa da
humanidade, Deus se tornou homem.

[25] A vida e a força da poesia consistem em: sair de si mesma,


arrancar um pedaço da religião e voltar a si mesma, apropriando-
se dele. O mesmo ocorre com a filosofia.

126] Ch iste é o fen ôm en o, o relâm pag o exterior da fantas ia.1’ D aí


sua divindade e a seme lhança da m íst ica com o chist e.
147
[27] A filosof ia de Platão é um pró logo dign o par a a f utu ra religião.

[28J O hornem é um olhar retrospectivo criador da natureza para


si mesma.

[29] Livre é o homem se produz ou torna Deus visível e, com


isso, se imortaliza.

[30] A religião é pura e simplesmente insondável. Nela em toda


parte se pode cavar, cada vez mais profundamente, ao infinito.

[31 ] A religião é a força centrípeta e centrífuga no espírito humano,


e aquilo que vincula a ambas.

[32] É do s doutos que se dev e esp era r a salvação do mundo? Não


sei. M as é tempo de tod os os art is tas ent rar em, com o co n ju r a d o s '0,
numa aliança eterna.

[33] Aquilo que é moral num escrito não está no objeto ou na


relação daquele que fala com aqueles a quem se fala, mas no
espírito do tratamento. Sc este respira toda a plenitude da
humanidade, é moral. Se é apenas a obra de uma força ou arte

isolada, não o é.
[34] Quem tiver religião, fal ará po esia .11 M as o órgão pa ra a
procurar e descobrir é a filosofia.

[35] A ssim com o o s generais antig os falavam aos guer rei ros an te s
da batalha, assim também o moralista deveria falar aos homens
no combate da época.

[36] Todo ho me m co m pleto tem um g ênio. A ver dadei ra vir tude é


genialidade.

[37] Form ação é o sumo bem c a úni ca coisa útil.1 2

148
138] No mundo da linguagem ou, o que quer dizer o mesmo, no
mundo da arte e formação, a religião aparece necessariamente
como m it ologia o u com o B íb li a.

139] O d ever d os k antiano s está par a o man dam ento da honra, ca


voz da vocaç ão e da divindade em nós, assim co m o a pl ant a se ca
está pa ra a flor viço sa no ramo vivo.

|40] Para o místico, lima relação determinada com a divindace


tem de ser tão insuportável quanto uma visão, um conceito
determinado dela.

[4 1] N ão há p ara a ép oc a carecim ento maior do que um contrapeso


espiritual à Revolução e ao despotismo que exerce sobre os
espíritos oprimindo o supremo interesse cósmico. Onde devemos
buscar e encontrar esse contrapeso? A resposta não é difícil: ein
nós, i nd ub itavelm ente, e quem aí alcançou o centro da humanidade ,
também te rá ao m esm o tempo encontrado aí o centro da f ormação
moderna e a harmonia de todas as ciên cia s e arte s ate agora isola das
e conflitantes.

142] C aso se acredite no filó so fo, aquilo que cham am os religião é


apenas uma filosofia intencionalmente popular ou não-artificial
por instinto. Os poetas parecem antes a considerar como unia
degenera ção da p oesia , que, de sco nh ece nd o13o própri o be lo jogo,
se toma dem asiado a sério e unilat eral mente. N o entanto, a filo so fa
já c o n c e d e e r e c o n h e c e q u e s ó p o d e c o m e ç a r e s e p er fa ze r co m
religião, e a poesia só quer se empenhar pelo infinito e despreza
utilidade e cultura terrena, que são as autênticas oposições à
religião . Já não está lon ge , portanto, a paz perpétua e ntre os artistas.

143] O que os homens são entre as outras formações da terra, os


artistas são entre os homens.

144] Não vemos Deus, mas por toda parle vemos o divino: antes
de tudo e mais propriamente, porém, no centro de um homem
149
cheio de sentido, na profundeza de uma viva obra humana. Vocí
pod e sentir imediatamente a nat ure za, o universo, p ode pensá-los
imediatamente, não a divindade. S ó o ho me m entre homen s p od e
poetizar c pensar divinamente e viver com religião. Tampouco
alguém pode ser mediador direto de si próprio, ainda que seja
para seu espírito, porque este tem de ser pura c simplesmente
objeto, cujo centro aquele que intui põe fora de si. Escolhe-se a
põ e-se o medi ado r, mas só se pode es colh er e pôr aqu ele que já se
pôs como tal. Um mediador é aquele que percebe em si o divino
e, aniq uilan do -se, abandona a si m esm o par a anunc iar , comunicai
e expor, nos costumes e ações, em palavras e obras, esse divino
aos ho men s. S e ta l im pulso não tem êxito, aquilo que se percebeu,
ou não era divino, ou não era próprio. Mediar e ser mediado ó
toda a vida superior do homem, e todo artista é mediador para
tod os o s resta ntes.1 4

[45] Um artista é aquele que tem seu centro em si mesmo. Para


quem este falta é prcciso que escolha um determinado guia e
mediador fora de si, naturalmente não para sempre, mas apenas
de início. Pois o ser humano não pode existir sem centro vivo, e,
se ainda não o tem em si, pode procurá-lo somente num outro, e
som ente um ser humano e o centr o de le podem excitar e despe rt ar
o seu.

[46] Dependendo como são consideradas, poesia e filosofia são


esfer as diferen tes, formas diferentes ou também fatores d a reli gião.
Pois, se voc ês ten tar em vincular efetivamen te a ambas, não obt erã o
outr a cois a q ue re lig ião .1’

[47] Deus é tudo aquilo que é pura e simplesmente srcinal e


supremo, portanto o indivíduo mesmo na potência mais alta. Mas
nat urez a e m undo não são também indivíduos?

[48] Ali onde cessa a filosofia, a poesia tem de começar. Não


deve de maneira alguma haver um ponto de vista comum, um
mod o d e pensar n atural som ente em op osiçã o à ar te e formação,

150
uma mera vida: isto é, não se deve pensar um reino da rudeza
nléin dos limites da formação. Nenhum membro pensante da
organização sente seus limites sem sua unidade em referência ao
lodo. À filosofia, por exemplo, não se deve opor meramente a
nllo-filosofia, mas a poesia.

|49] Dar um fim determinado à aliança dos artistas significa pôr


um mísero insti nto no luga r da associa ção etema; sign ifica rebaixa r
ii comunidade dos santos a Estado.

|50] Vocês se espantam com a época, com a gigantesca força de


fermentação, com os abalos, e não sabem que novos rebentos
dev em es pe ra r. Mas s e vo cês entendem a s i m esm os e respondem
ii questão: pode ocorrer algo na humanidade que não tenha nela
mes ma se u fundam ento? Não têm todos os m ovim entos de provi r
do cent ro, e onde está es se cent ro? — A resposta é clara e, por tan to,
lamb em ess e fen ôm en o indica uma gran de ressur reiç ão da religião,
uma metam orfose u niversal. Por certo, a religião é, em si, et erna,
igual a si mesma e imutável como a divindade, mas justamente
por isso sempre aparece de novo transfigurada e transformada.

15 1 1 Não sabem os o que u m homem é at é com preenderm os, a


partir da essência da humanidade, por que há homens que têm
sentido e espírito, e outros em que estes estão ausentes.

15 2 1Apresentar-se co m o repre sen tant e da reli gião é tão sacr ílego


quanto querer fundar uma religião.

|53| Nenhuma atividade é tão humana quanto aquela que apenas


complementa, vincula, propicia.

154 ] O arti st a pod e tão po uc o querer govern ar quanto ser vir . Só


pode formar, nada além de formar: para o Estado, portanto, só
pode fazer isso formando governantes e servidores, elevando
políticos e ecônomos a artistas.
151
[55] F az par te da pluralidade não som ente u m sistem a abrange nte,
mas também sentido para o caos fora dele, assim como faz parte
da humanidade o sentido para um alem da humanidade.

[56] Assim
nação, assimcomo os romanos
também nossa foram
é poc aaéúnica naçãoa époc
a pri meir inteiramente
a ve rda dei ra.

[57] A plenitude da f orm ação v ocê enco ntrar á em nossa suprema


poesia, mas procure a profundeza da humanidade no filósofo

[58] Também os chamados educadores do povo instituídos pelo


Estado dev em vol tar a se r sac erdotes, e com disp osição espi ri tual ,
mas só o poderão ser desde que se juntem à formação mais alta.

[59] Nada é mais chistoso e grotesco que mitologia antiga e


cristi anismo; isso ocorre po rque são tão m ísticos.

[60] A individualidade é justam ente o que há de srcinal e et erno


no hom em ; a person alidade não importa tant o. Impulsionar, com o
vocação suprema, a formação e desenvolvimento da
individualidade seria um egoísmo divino.

[61] Há mu ito tem po já se fal a de uma onip otên cia da l et ra , sem


sabe r muito bem o que se diz. É temp o de levar isso a s éri o: que o
espírito d esperte e apanhe de n ovo a vari nha m ágica p erdid a.16

[62] O tan to de mor al que se tem é som ente o ta nto que se tem de
filosofia e poesia.

[63] A intuição central própria do cristianismo é o pecado.

[64] Por m eio dos art is tas , na medida e m que vincu lam p assado e
futuro no presente, a humanidade se torna um indivíduo. São o
órgão superior da alma, onde se encontram os espíritos vitais de
toda a hum anidade externa, e nos qu ais a humanidad e int ern a at ua
primeiro.

152
165] Som ente med iante formação o hom em , que o é i nteiramente,
se tornará humano em toda parte e será imbuído de humanidade.

1661 Os protestantes srcinais queriam sinceramente viver


conforme a Escritura, levar isso a sério e aniquilar todo o resto.

167] Religião e moral são si metricamente opo stas, com o p oesia e


filosofia.

168 JF ormem sua vida hu manam ente, e te rão feito o basta nte : mas
kimais alcançarão a altura da arte e a profundeza da ciência sem
algo de divino.

169] Ironia é consciência clara da eterna agilidade, do caos


infinitamen te ple n o .17

|7 0 | M úsica te m m ais af inida de com mor al , hist ória com rel igião:
pois o ri tmo é a idéia da m úsica, mas a história vai até o prim itivo.

17 1] Som ente é um cao s aquela con fusã o da q ual pod e surgir um


mundo.

[72] Inutilmente buscam vocês a plenitude harmoniosa da


humanida de, o início e fim da formação, naquil o que chamam de
estética .1”Tentem co nhe cer e venerem os e lem ento s d a formação
e da humanidade, sobretudo o fogo.

173] N ão há dualism o se m primado: assim , também a moral não é


igual, mas subordinada à religião.

174] Vinculem os extremos, e terão o verdadeiro meio.

175] Como mais bela flor da organização isolada, a poesia é


bastante local; a filosofia de diferentes planetas não pode ser tão
diferente.
153
[76] Moralidade sem sentido para paradoxalidade é vulgar.

[77] Honra é a mística da probidade.

[78] Todo pens ar do hom em relig ioso é etim oló gic o, um a r emissilu
de todos os conceitos à intuição srcinal, àquilo que é próprio

[79] Há apena s um sent ido, e nesse único resi dem todos ; o m H


espiritual é o srcinal, os outros são derivados.

[80] Ora estamo s unidos, porq ue som os de um ú nico senti do; oi n


não, porque falta sentido a mim ou a você. Quem está certo, ij
co m o pod em os nos torn ar um? Som ente pela formação, que amp liii
todo sentido singular ao sentido universal infinito; e pela crençn
nesse sentido ou na religião já agora somos um, antes mesmo d>'
no s tornar u m .19

[81] Toda referência do homem ao infinito, isto é, do homem em


toda a plenitude de sua humanidade, é religião. Se o matemático
calc ula a grandeza infini ta, iss o não é certam ente religião. C)
infinito, pensado naquela plenitude, é a divindade.20

182] Vive-se somente na medida em que se vive segundo as


pró pri as idéias. A s pr opo sições fundam entais são apenas m eios, a
vocação é fim em si.

[83] So m ente pelo amor e consciên cia do amo r, o homem se to rnai


homem.

[84] Excetuand o-se os exer cícios de devoç ão, o p ior p ass ate mpo
é se empenhar pela moralidade. Vocês podem transformar uma
alma, um espíri to, em algo hab it ual ? — É assim com a rel igião e
também com a mora l, que n ão devem influi r sem m ediação sobr e
a econ om ia e p olítica da vida.2 1

[85] O cerne, o centro da poesia dev e ser encont rado na mitologia


154
i' nos mistérios dos antigos. Saturem o sentimento da vida com a
likViu do infinito, e entenderão os antigos e a poesia.

|K(i| Belo c aquilo que nos recorda a natureza e, portanto, incita22


d sentimento de infinita plenitude da vida. A natureza é orgânica
li, por isso, a suprema beleza é eter na e sempre vegetal, e o m esm o
vule para moral23 e amor.

| K71Um verdadeiro homem c aquele que chegou até o centro da


humanidade.24

| K81Há uma b ela franqueza que , co m o a fl or, se abre apen as para


exala r su a fragrância.
| K9] C om o a mora l poderia sim plesm ente pertencer à filos of ia, se
ii ma ior pa rte da poes ia se ref ere à art e-da-vida e ao con he cim en to
dos homens! É então independente de ambas e subsiste por si?
Ou com ela ocorre o mesmo que com a religião, que de modo
algum deve se manifestar isoladamente?

190] Você quis destruir filosofia e poesia a fim de ganhar espaço


para religião e moral, que você desconhecia: mas nada pôde
destruir senão a si mesmo.

19 1] Vi da algum a é nat ur al em sua o rigem primeir a, m as div ina e


humana; pois tem de nascer do amor, assim como não pode haver
entendimento sem espírito.

192] A única o posiçã o significativa à reli gião do s hom ens e art is tas ,
que aflora por toda parte, só pode ser esperada dos poucos
autênticos cri stãos que ainda existem . Mas m esm o estes cairão de
jo el h o s e ad or ar ão , qu an d o e fe ti v a m e n te su rg ir o so l da ma nh ã.

193] A polêmica pode somente aguçar o entendimento e deve


aniq uil ar a desrazão. É filo só fica de um extremo a out ro; cólera e
ira religiosa contra a limitação perdem a dignidade quando
155
aparecem como polêmica, numa direção determinada para um
objeto c fim particular.

[94] Os poucos revolucionários que havia na Revolução eram


místicos, como só franceses desta época o podem ser.
Estabeleceram sua essên cia e agir co m o religião; na his tóri a fu tura,
porém, aparecerá como suprema destinação e dignidade da
R evo luç ão q ue tenha sido o incitamento m ais fort e p ar a a r eli gião
adormecida.

[95] O novo evangelho eterno, prenunciado por Lessing, surgirá


com o B íblia, mas não com o um li vro s ing ula r 25110 sentido habitual,
Mesmo aquilo que chamamos de Bíblia26 é um sistema de livros.
Isso, aliás, não é um uso arbitrário da língua! Ou existe, para
diferenciar entre a idéia de um livro infinito e um livro comum,
outra palavra além de Bíblia, o livro pura e simplesmente, o livro
absoluto? E no entanto é uma diferença eter na, essen cial e mesm> ■
prát ica, se um livro é som en te m eio par a um fim ou obr a autônoma,
indiv íduo , idéia personificada . Isso e le 27 não pod e ser sem alg o de
divino e, aqui, mesmo 0 conceito esotérico concorda com 0
exotérico; uma idéia tampouco é isolada, mas é 0 que é somente
em meio a todas as idéias. Um exemplo esclarecerá o sentido.
Todos os poemas clássicos dos antigos estão indissoluvelmente
ligados, formam um todo orgânico, são, corretamente
considerados, apenas um poema, 0 ún ico no qual a pró pri a poes ia
aparece completa. De uma maneira semelhante, na literatura
completa, todos os livros devem ser apenas um livro, e num tal
li vro em ete rno devir se revelará o eva ng elho da humanidade e da
formação.28

[96] Toda filoso fia é idealismo e não há ve rdade iro real ismo, ex ceto
0 da poesia. M as poesia e filosofia são apenas ext remos. Q uand o
se diz: uns são pura e simplesmente idealistas, outros deci
didamente realistas, isso é uma observação bastante verdadeira.
Expressa de outra maneira, quer dizer: ainda não há homens
inteiramente cultos, ainda não há religião.
156
1971 É um sinal favorável qu e m esm o um fís ico — o profundo
Itaad er29 — tenha se ergu ido em m eio à física par a pressentir a
poesi a, vener ar os elem ento s com o ind ivíduos orgân icos e indi car
o divino no cenlro da matéria!

1981 Pens a num finito cu ltivado ao infinito, e pensará num hom em .

199] S e quiser pene tra r no íntimo da física , in icie -se nos m istérios
da poesia.30

| 100] Conheceremos o homem quando conhecermos o centro da


lerra.

1101] Onde há política ou economia, não há moral.


110 2] O primeiro entre nós que tev e a intuição inte lectua l31 da
moral, que conheceu e anunciou, num entusiasmo divino, o
protótipo da humanidade perfeita e acabada nas figuras da arte e
da antigüidade, foi o santo Winckelmann.

1103] Jamais conhecerá a natureza quem não a conhece por meio


do amor.

[104] O amor srcinal jamais aparece puro, mas em diversos


invólucros c f igur as, com o confiança, h umildade, dev oçã o, júbilo,
fidelidade, vergonha e gratidão; acima de tudo, porém, como
nostalgia e serena melancolia.32

1105] Teri a Ficht e atacado a religião?3 3— S e o interes se p elo supra-


sen síve l é a es sê nc ia da rel igião, então toda a sua doutr ina é religião
em for ma de fil osofia.

[ 10 6] Vo cê não deve desperdiçar fé e amor co m o mun do p olítico,


mas sacrificar, no mundo divino da ciência e da arte, aquilo que
lhe é mais íntimo no rio de fogo sagrado da formação eterna.34

157
[10 7] E m impert urbada harmonia, a musa de Hiilsen criou belo s c
sub limes pensam entos da formação, humanidade e am or . É mor al
em sentido elevado, mas moral imbuída de religião, passagem da
alternância artificial do silogismo ao livre rio da epopéia.35

[108J O que se pode fazer, enquanto filosofia e poesia36 estão


separadas, está feito, perfeito e acabado. Portanto é tempo de
unificar as duas.

[109 ] Que fantas ia c chiste lhe s ejam um e tudo ! — D ecifre a


aparência amável, e leve o jogo a sério, e apreenderá o centro e
reencontrará a arte venerada em luz superior.

[ 110]
na A diferença
antiga ent re religiãoentendida,
divisão, corretamente e moral reside m as
de todas uito sim ples
coisas em m ent e
divinas e humanas.

[111] Sua meta é arte e ciência, sua vida, amor e formação. Você
está, sem o saber, a caminho da religião. Reconheça-o, e estará
seguro de alcançar a meta.

1112] Em nossa época e além dela. nada de maior se pode dizer

rem
e l i ghonra
i ã o 37do cristianismo
é um cristão. que: o autor dos D is c u r s o s s o b r e a

[ 113 ] O ar tist a que não renuncia a tod o o seu si m esm o é um servo


inútil.

[114] Artista algum deve ser, sozinho e exclusivamente, artista


dos artistas, artista central, diretor de todos os demais, mas todos
o devem ser i gualm ente, cada qu al de se u ponto de vista. Nenhum

da ev
si ee ser meramente
a seu repreferência
gênero, em res ent ante de seudeterminando
ao todo, gênero , mase,d assim,
eve colocar,
dominando esse todo. Como os senadores romanos, os artistas
verdadeiros são um povo de reis.

158
1115] S c quiser ag ir em gra nde escala, inflame e form e o s jov en s
e as mulheres. É ainda aqui que se deve primeiro encontrar força
e saúde em seu frescor e, por essa via, realizar as reformas mais
importantes.

11 16] A ssim com o no hom em a nobreza exteri or r emete ao gên io,


assi m também a beleza das mu lhere s remete à capacidad e do amo r,
ao ânimo.

1117] A filosofia é uma elipse. Um dos centros, do qual agora


estamos próximos, é a autolegislação da razão. O outro é a
idéia do universo, e neste a filosofia entra cm contato com a
religião.3*

1118] O s ceg os que falam de ateís mo! Ex iste já um teísta? Existe


já a lg u m e sp ír it o h u m an o se n h o r da id é ia da d iv in d a d e ?

[119] Salve os verdadeiros filólogos! Efeluam algo divino, pois


difundem senlido artístico sobre todo o domínio da erudição.
Nenhum douto deveria ser meramente art esã o.

1120] O espírito de nossos antigos heróis da arle e ciência alemã


tem de permanecer o nosso, enquanto permanecemos alemães. O
artista alemão não terá caráter algum, ou terá o de um Albrecht
Diirer, Kepler, Hans S ach s, Lutero e J akob Bõh m e. E ss e carát er é
jus to, le a l, só li d o , e x a to e pr o fu n do , a lé m d e in o c e n te e um ta nt o
desajeitado. Somente entre os alemães é uma qualidade nacional
ve ner ar divinam ente art e e ciên cia apenas em função da aite e da
ciência.

112 1j Se ao m enos m e ouvirem agora e observare m por q ue vo cê s


não se entendem uns aos outros, terei atingido meu fim. Sc o
sen tido para a harmonia for des pertado, então será tem po de dizer
mai s h armon iosamente a úni ca coisa q ue te m de se r et ernamen te
repetida.
159
[122] Ond e ar tist as f ormam uma fam ília, al i estão as cong reg açõ cs
srcinais da humanidade.

112 3] Fa lsa universalidad e é aque la que, aplainando tod os os tipos

individuais de formação, se apóia no padrão mediano. Através dt*


uma verdadeira univ ersalida de, pe lo co ntrári o, a ar te se torn ar iii,
por exe m plo , ainda mais art íst ica do que o pode ser i soladam ente,
a poesia se tornaria mais poética, a crítica mais crítica, a históriil
mais histórica, e assim por diante. Tal universalidade pode surgii
quando um simples raio de religião e moral toca e fecunda um
cao s do ch iste combinatório. Ali flore sce, por si mesm a, a su pr emn
poesia e filosofia.

[124 ] Por que o suprem o se ex teriori za agora t ão f reqüentemen te


co m o falsa tendênci a? — Porque ni nguém pode entender a si
me sm o, se não entende seus com panheiros. Vocês têm, por ta nt o,
de crer que não estão sozinhos, têm de pressentir em toda parte
muito de infinito e não se cansar de formar o sentido, até que
tenham enfim encontrado o srcinal e essencial. Então o gênio da
época lhes aparecerá e indicará suavemente aquilo que é ou não
conveniente.

[125] Quem pressente profundamente em si algo supremo e não


sabe co m o o dev e dec if rar , que leia os D i s c u r s o s s o b r e a r e li g iã o ,
e aquilo que sentia se lhe tornará claro até em palavra e discurso.

[ 126 ] S om en te em tor no de uma m ulher que ama se pode fo rmar


uma família.

[127] A s mulheres pr eci sam m enos da poesia dos poetas, porqu e


sua essência mais própria é poesia.

[128] Mistérios são femininos: gostam de se cobrir, mas querem


ser vistos e adivinhados.

[129] Na religião sempre é manhã e luz da aurora.w


160
1130] Somente quem está unido com o mundo, pode estar unido
consigo mesmo.

1131 ] O sentid o se creto do sacr ifício é o aniqu ilamen to do finito,


porque é finito. Para mostrar que só ocorre por isso, se tem de
escolher o m ais nobr e e mais belo, sobre tudo, o hom em , a flor da
lerra. Sacrifícios humanos são os mais naturais. O homem é, no
entanto, mais do que a flor da terra: é racional, e a razão é livre e
nada mais q ue um eterno au todeterminar-se ao infinito. Portanto,
o homem só pode sacrifi car a si m esm o, e é o que faz no santu ári o
onipres ente, de que o p ov o nada vê. To dos os artist as são D éc io s41’,
e se torn ar u m arti sta não sign ifica out ra coisa que s e consagrar às
divindades subterrâneas. É no entusiasmo do aniquilamento que
primeiro se revela o sentido da criação divina. Somente no meio
da morte se acende o clarão da vida eterna.

1132] Se vo cê s separare m co m pletam ente a religião da moral, ter ão


a verdad eir a energia do mal no hom em , o princípio tem ível, cruel,
furioso e desumano que reside srcinalmente em seu espírito. É
aqui que se dá o mais terrível castigo para a separação daquilo
que é inseparável.

1133] Fa lo por enquanto par a aquele s qu e já olham para o oriente.

1134] Você presume algo mais alto também em mim e pergunta


po r que m e calo justamen te no limite ? — Isso ocorre porque o dia
ain da am anhece.

1135] Os deuses nacionais dos alemães não são Hermann e


Wodan4 1, ma s ar te e ciê nc ia. L em bre -se, ainda uma vez , de Kepler,
Dtirer, Lut ero, Bõh m e e, então, de Lessin g, Winckelm ann, G oethe,
Fichtc. A virtu de não é ap licável apenas aos costum es: va le também
para arte e ciência, que têm direitos e deveres próprios. E esse
espírito, essa força da virtude, distingue justamente o alemão no
trat amento da ar te e c iência .
161
[136] D c que so u c posso ser orgulhoso com o art ista? — Da decisão
que para sempre me afasta e isola de tudo o que é vulgar; da obrii
que ultra pass a divinam ente toda intenção, e cuja intenção ninguém
aprende rá at é o fim ; da capacid ade de adora r aquilo q ue e perfeito
c aca bado que m c e oposto ; da consciên cia de que p osso vivi fic ar
os co m panh eiros em sua atuaç ão m ais pr ópr ia , de que tudo o que
formam é ganho para mim.

1137 ] A de vo çã o do s fi ló so fo s é teor ia, intuição p ura do d ivino,


lúc ida , calm ac jovi al cm ser en a soli dão. N isso E sp in o sa éo id ea l,
O estado religioso do poeta é mais apaixonado e comunicativo. O
srcinário é entusiasmo, a mitologia fica no fim. O que está no

meio tem o caráter da vida, incluindo a diferença dos sexos.


M istérios são, com o já se disse, femininos; orgia s quer em, na al egre
exuberância da força masculina, sobrepujar ou fecundar tudo ao
seu redor.

[138] Justamente porque é uma religião da morte, o cristianismo


poderia ser tratado com o mais extremo realismo e poderia ter
suas orgias, tanto quanto a antiga religião da natureza e da vida.42

[139] Não há conhecimento de si, a não ser histórico. Não sabe o


que é quem não sabe o que são os companheiros, sobretudo o
supremo companheiro da aliança, o mestre dos mestres, o gênio
da época.

[ 140] Uma das questões mais importantes da aliança é afastar de


novo todos os impertinentes que se infiltraram entre os
com panh eiros. A inapt idão não deve ser a cei ta.

[141 ] Q uão pobre s são se us con ceitos do gê nio — quero d iz er ,


dos melhores de vocês! Onde vocês encontram gênio, não raro
encontro abundância de falsas tendências, o centro da inaptidão.
Um tanto de talento e muita fanfarronada, eis o que todos
enaltecem, e até se vangloriam de saber que o gênio é incorreto,
tem de ser incorreto. Será que, portanto, também se perdeu essa
162
idéi a? — N ão é o h om em de sentido o m ais adequado p ara ouvir
ii pal avra dos e spí rito s? S ó o r elig ios o tem um espírito 43, um gê nio ,
c lodo gênio é universal. Quem é somente representante, tem
somente talento.44

1142] Como os comerciantes na Idade Média, os artistas deveriam


ngora entra r numa lig a hanseática pa ra de algum m odo se defender
tins aos outros.

1143] Não há alia sociedade45 a não ser a dos artistas. Vivem vida
elevada. O bom tom ainda se faz esperar. Existiria ali onde cada
qual se exprimisse de modo livre e jovial, e sentisse e

com preendesse com pletamen te o val or dos outr os.


1144] Vocês exigem, de uma vez por todas, sentido srcinal do
pen sa dor e con ced em uma c erl a m edi da de entusiasm o m esm o ao
poeta. Mas sabem também o que isso significa? Pisaram, sem
perceber, o solo sagrado: vocês são dos nossos.

1145] Todos os homens são algo ridículo e grotesco meramente


porque são homens; e os artistas são, também nesse aspecto,
dupla mente ho men s. Assim é, foi e ser á.

1146] Mesmo nos usos externos, o modo de vida de um artista


deveria se diferenciar inteiramente do modo de vida dos outros
hom ens. S ão brâm anes, uma casta supe rior , porém não enobrecid a
por nascimento, mas por livre auto-iniciação.

1147] Aquilo que o homem livre constitui pura e simplesmente,


aquilo a que o homem que não é livre tudo refere, é sua religião.
Há um profundo sentido na expressão “isto ou aquilo é seu deus,
ou seu ídolo”, e outras semelhantes.

[ 148] Quem tirará o lacre do livro mágico da arte c libertará o


espírito santo ali encerrado? — Ap enas um espírit o afim.
163
[149] Sem poesia, a religião se torna obscura, falsa e má; sem
filosofia, dissoluta em todas as impudicícias e voluptuosa até u
autocastração.

[15 0] N ão se pod e nem definir nem conceit uar, m as apenas intuji


e revelar o universo. Parem de chamar de universo o sistema dn
emp iria e apre ndam primeiro a ve rdade ira idéia re ligiosa dele nos
D i s c u r s o s s o b r e a r e l i g i ã o , se é que já não entenderam Espinosn.

[ 151 ] A re ligião pode irro mper em todas as figuras d o sentim ento,


Aqu i, a cól era selvage m e a d or mai s doce se tocam imedi atamente ,
assim como o ódio pungente e o sorriso infantil da alegre
humildade.

[152] Se quer ver a humanidade inteira, procure uma família. Nn


fam íli a, o s ânim os se t ornam organi camen te um e justam ente po i
isso é totalmente poesia.

[153] Toda autonomia é srcinal, c srcinalidade, e toda


srcinalidade é moral, é srcinalidade de todo o homem.46 Sem
ela, não há energia da razão e beleza do ânimo.47

[154] Do supremo se fala, antes de tudo, de modo inteiramente


franco, comp letam ente despreocup ado e, no entant o, diret amente
à meta.

[155 ] Exprimi algu ma s idéias que indicam o centro, saud ei a aurora


segundo minha visão, a partir de meu ponto de vista. Quem
conhece o caminho faça o mesmo segundo sua visão, a partir de
seu ponto de vista.
A Nov ali s

Você não oscila no limite, mas em seu espírito poesia e filosofia


se int erp ene tr ara m int imam ente. Seu espírit o era o q ue m e est ava
mais próximo nessas imagens da verdade incompreendida. O que
164
pensou, eu penso; o que pensei, você pensará ou já pensou. Há
desente ndimentos que apen as confirmam o supremo acordo . Cada
dou trin a do eterno oriente pertence a todos os arti sta s. Em v ez de
Iod os os outros, é a voc ê que cham o.
165
Notas

A numeração dos fragmentos é dos editores. Para facilitar a


citação deles, segue-se um código das abreviaturas usadas:

A - indica os fragmen tos pub licados na revis ta A th e n ä u m , editada


por August Wilhelm e Friedrich Schlegel, número I, volume
2, Berlim, 1798, pp. 3-146,
L - indica os F r a g m e n t o s C r í t i c o s , também conhecidos como
F r a g m e n to s d o L yc e ti m . Publicados no número I, volume 2,
da revista L y c e u m d e r s c h ö n e n K ü n s te n . Berlim, Johann
Friedrich Unger, 1797, pp. 132-169.
/ - in d ic a as Id e e n , publicadas na revista A th en ä u m , número III,
volum e 1, Berli m , 1800, pp. 4-33 .

Em alguns casos as notas seguem indicações dos organizadores


da edição crítica. No que diz respeito ao A th e n ä u m , as versões
modificadas ou anotações tematicamentc próximas não são
importantes apenas para confirmar a autoria do fragmento, mas
também ajudam a compreender os próprios avanços e recuos da
reflexão. Para facilitar a citação das obras e variantes, adotaram-
se as seguintes abreviaturas:

KA - F r ie d r ic h S c h l e g e l K r i ti s c h e A u s g a b e s e i n e r W erk e (Edição
critica das obra s de F . S ch leg el). Editadas por Er nst Behler .
Paderborn/Munique/Viena, Ferdinand Schöningh, 1967
(seguem-se o volume e a página).
F P L - F r a g m e n t e z u r P o e s i e u n d L i t e r a t u r (Fragmentos sobre
poesia e literatura). Referem-se ao volume XVI da KA. A
167
indicação é seguida da época (algarismo romano), númcm
do fragmento e da página.
P h L - P h il o s o p h is c h e L e h rj a h re . F ra g m e n te z u r P h il o s o p h ie (Anos
de aprendizado filosófico. Fragmentos sobre filosofia). Re
ferem -se ao volume XVIII d a K A . A indicaç ão é seguida i ln
epo ca (algari smo romano), do núme ro do fragmento e da pá gina
Na tradução dos F P L e P h L , todas as fórmulas, símbolos
matemáticos e gregos foram transliterados, e todas
ab rev iaç ões do s ma nuscr itos foram interpr etadas e transcriliu.
segund o os editores da KA (ex ce çã o feita às notas 109 e 110
d o A th e n ä u m ).
K - Charakteristiken und Kritiken. Volume p ublicado com te xto s
de August e Friedrich em 1801, em Königsberg. Contém
uma seleção dos Fragmentos do L y c e u m e do A th e n ä u m ,
Foram assinaladas som ente as variant es mais significativas,
H - Cópia do manuscrito das I d é ia s , feita por Dorothea Schlegel
com alterações à margem propost as por Augu st.

Nos fragmentos do A th e n ä u m , os autores dos fragmentos são


assinalados pelas letras:

A .W . - Augus t W ilhel m Schlegel


F. - Friedrich Sc hle ge l
N. - N ova lis
S. - Schleiermacher
< > - Indica palavra ou t recho ris cado por Sc hle ge l.
L J - A créscim o do tradutor.

Foram consultadas com proveito as seguintes traduções:

a ll eLm’aa bnsdo. l uApresentação,


— l i t t é r a i r e —tradução
Théorie de la littérature
e notas du romantisme
de Philippe Lacoue-
Labarthe e Jean-Luc Nancy. Paris, Éditions du Seuil, 1978.
— P h i l o s o p h i c a l f r a g m e n t s . Tradução de Peter Firchow.
Apresentação de Rodolphe Gasché. Minneapolis, University of
Minnesota Press, 1971.

168
lyceum

1) Sobre o Jac qu es, o Fatalista, de Diderot, pode-se consu ltar o fragmen to L 15 e também
a Conversa sobre a poesia , onde Antônio assinala, como traços ca racterísticos do livro,
o arabesco e o chiste. In: KA. II, p. 331. Tradução de Victor-Picrre Stirnimann. São
Paulo, Iluminuras, 1994, p. 63. Biblioteca Pólen. (Trecho reproduzido ab aixo na nota
234 aos fragmentos do Atheniium.)

2) FPL, V, 370, p . 115: “M uito daqu ilo que s e considera como p oem a absoluto é apenas
po em a im perfeito ou poem a de potência neg ativa ou po em a negativo. Aqu ilo que se
considera como uina obra p oética muitas vezes é apenas esboço, estudo ou fr agm ento ".

I) FPL, V, I, p. 85: “O que falta aos hexâmetros de Goelhe (a forma rigorosa), falta
indiscutivelmente também a seus raciocínios físicos. Também é anti-rigorisia na arte.
O rigor ismo surge som ente da místic a ou da crítica. — ”

'I) Sobr e o estudo da poesia grega (Übe r das Studium de r Griechischen Poesie) : iniciado
ein 1795, parcial men te pub licado na revista Ale manha, cm 1796, aparece cm 1797 no
volume Gregos e romanos. E nsaios históricos e críticos sobre a antigüid ade clássica.
In: KA, I, pp. 217-367.

1) PhL, II, 881, p. 102: “Chiste e uma faculdade sincrélicae eclética; mas isso também
parece se r o caso do gênio. Gênio é chist e + to itotev, a facul dade de formação [das
líildungsvermogen]. Portanto, chiste é propriamente genialidade fragmentária. —
FPL, V, 1038, p. 171: “Não é o chiste totalmente idêntico à genialidade?” Outros
fragmentos im portantes p ara entendei' a rel ação entre chiste, sociabilidad e e gênio são:
/. 16. 34, 51, 56. 59, 90, 104, 109 c 126; A 32, 116, 305, 366, e 394; I 26, 109 c 123.
Uma “definição " do chiste (como “ princíp io c órgão da filosofia universal”) será dada
em/l 220.

(>) -K. “Naquilo que se chama filosofia da arte falta ou a filosofia ou a arte, ou ambas".
Sob re a relação entre filosofia e arte, cf. abaixo L 123 (nota 81).

7) Joltann Jakoh Bo dm cr( 1698-1783), crítico s uíço, autor dos escritos Da influência e uso
tia imaginação (1727). D o mara vilhoso na poesia (1740) e Observações críticas sobre
os quadros poét icos dos poeta s (1741).

K) Manifestações ligadas à fnntasia e ao chiste, tolice c loucura são sinais indicativo s do


gênio
mostrapoético
a Cartanatur
sobrealo(ainda nãoc"Sc
Romance: laboa rado
tolicepela
[ a rte)Dummheii
de um a época romântica,
] atinge conforme
uma certa altura,
aonde pr incipalmente a vem os chegar agora que tudo se separa mais niti damen te, e ntão
se assemelha, na aparência externa, à loucura [Narrheit], E a loucura, se você me
concede, c a coisa mais graciosa que o ho mem pode imaginar c o verdadeiro princípi o
últiino de tudo o que 6 divertido” (KA, II, p. 332; trad. cit., modificada, p. 64).

9) Em K aparece somente: “Dcvc-se exigir gênio de todo mundo, mas sem contar com el e”,
frase q ue se constrói sobre o pa r intencion alidadc-instinto — esses dois eleme ntos que
constituirão o paradoxo d a genialidade em Schlege l. Uma construção análog a ocorre cm
A 32 (tratando do chiste). Sobre a relação entre gênio e artc- ciência, cf. L 115 e A 220.
169
10) FPL. V, 671, p. 141: "Todos os escritos clássicos jamais são totalmente cntcndldoii
têm, por isso, dc poder ser eternamente criticados e interpretados de novo".

11) A realização do poema como obra dc arte, a passagem da poesia natural, ingenim, (i
po es ia artística (cf. acima os fragmentos L 1 e 16), constitui um a das prin clpiiln
aspiraçõe s do rom antismo. É nessa direção que se pode ler , por exem plo, a afin iiaçOo
de Novalis sobre a “inve nção dc um a espécie totalm ente nova de pensar", inau gurndii
po r Ficlite: “Podem na sc cr aqui pro digiosa s obra s d e arte — se um d ia se comc çnr n
p rati car art is ti cam ente o fi chtizar” (Fragmentos Logológicos 1, 11. In: Pólen
Fragmentos — Diá logos — Mon ólog o. Tradução, apresentação e notas de RubcuW
Kodrigues Torres Filho. São Paulo, Iluminuras, 1988, p. III).

12 )',FPL, V, 83, p. 92: “No artista genuíno, ao mesmo tempo intenção, propósito,
entendimento c gênio involuntário: cada um por sua vez em superioridade sobro i
outro. — ” Sobre o par imenção-insti nto, veja-se acima nota 9.

13) A image m do leitor que “rum ina” també m será, com o se sabe, cara a Nietzsche, quu

afirma no Prefácio
um modelo Genealogia
daquiloà que, d a Moral:
cm tal caso, “ Na‘interpretação’:
denomino terceira dissertação
essadeste livro, ofereço 6
dissertação
pre ced ida po r um af orismo, cia mes ma é com entário dele. Sem dúvida, para exerci liu'
dessa forma o ler como arte, é preciso antes dc tudo algo que hoje em dia foi
prec isam en te o qu e m elh or se des ap rend eu — e por isso tem tempo aind a, até a
'legibilidade' dc meus escritos — c para o qual se tem de ser quase vaca, cm totlo
caso, nã o ‘homem moderno’: o ruminar..." (In: F. Nictzsche, Obras Incom pletas . Silo
Paulo, Abril, 1978. Tradu ção de R ubens R odrigues Torres Filho, p . 312).

14) Graça no srcinal é Anm ut, ou seja, "beleza”, “formosura”, inas não Gnade, isto <í,
bênç ão ou dádiva divina. No en saio sob re Graça e dignidade (Üh er An mu t und Wiirde),
de 1793, Schiller entende a graça como análogo sensível da dignidade, como
“ fenômeno” da moralidade.
15) FPL, V, 97, p. 93: “Já que na tragédia sentimental o destino é freqüentemente
representado como Deus Pa i ou com o diabo, [c omo] destino arbitrário, ela se aproximn,
segundo o ponto dc vist a cláss ico, do gênero da com édia”.

16) Ingêntio e sentimental são as duas formas de manifestação do gênio poético, segundo
a tipologia de Friedrich Schiller no ensaio Poesia ingênua e sentimental, dc 1795
(São Paulo, Iluminuras, 1991. Biblioteca Pólen). Embora posteriormente o tenlin
considerado insatisfatório, no Sobre o estudo da poesia giega Schlegcl afirma: "A
dissertação de Schiller sobr e os poe tas sentimentais, além de am pliar minha vis ão do
caráter da poesia interessante, me propo rcionou uma nova luz sobre os próprios limites
do âm bito da poesia clássi ca" (KA, 1, p. 209).

17) “E agora os músicos vão tocar com límbales e trombetas.” Km latim no srcinal. A
expressão aparece em alemão nos Pensamentos solenes (172 0), ondeT hom asius fala
em celebrar o jubileu da Reforma “com trombetas c tímbales” (das Jubi liium we gen
derlieformation... mit Trompcten undPauken celebriret). Christian Thomasius (1655-
1728), jurista c filósofo, considerado um dos precursores da Ilustração na Alemanha,
escreveu os Fundam entos do direi to natural (1705).
170
IH) Em K somente: “A lguns bons escritores se petrificam, outros se liquefazem” .

' IV) Bfc m plo de c om posição “qu ímica", na edição K, o fragm ento <5prec edid o po r L 90, o
que dá tambdin uma boa indicação do enlace entre chist e, im aginação e espírit o ( Geixi ).

20) FPL, V, 73, p. 91: “O público existe apenas tão problematicamcnte quanto a Igreja".
PliL, IV, 597, p. 243: "Público e obra são con clatos, com o autor e leitor (toda obra é
llibliu, e todo público uma Igreja invisível)”. PliL, II, 1003, p. 113: “Talvez o público
alemão seja apenas um eus ralionix, nada m ais do que o lugar-c omum [Gemeirtplatz 1
do chist e alemão” .
A idéia, concrelam cnte inatingí vel, de uma Igreja como com unidade ética supre ma (supra-
scnsívcl) foi tomada de empréstimo de Kant: “Uma comunidade ética sob legislação
moral divina é uma Igreja, a qual, na medida cm que não c objeto de experiência
possível, sc ch am a Igreja invisível (uma mera idéia da unificação de Iodos os justos
sob o governo divino imediato, mas moral, do mundo, idéia que serve de protótipo a
todas [Igrejas] a serem fundadas por homens)” (A religião nos limites d a m era razão,

A Werkausgabc.
134. In: 1977,
Suhrkamp, p. 760). Editada por Wilhelm Weischedel. Frankfurt am Main,

21) “Lucidez”: em alemão Besonnen heit, vertida pela locução “clareza dc consciência”
por Rubens Ro drigues Torres Filho, que aponta a m atriz fichtiana da expressão, presente
também em Novalis (Pólen, O bservações entremes cladas , 23, nota 37 do tradutor, p.
208). Schlegel repensará a Beson ne nlie it juntamente com a ironi a, como se pode ver
c m /.42 c 10 8.

22) Esse trecho pode ser lido como um comentário à passagem da nota introdutória à
primeira ed ição da do utrina-da-cicn cia dc 1794. onde Ficlite afirma: “E m particular
tenho por necessário lembrar que não quis dizer tudo, mas deixar também a meu lei tor
algo para pensar. Há vários mal-entendidos que seguramente prevejo c que com um
par de palavras teria po dido remediar. Mcsino esse par d e palavras não disse, po rque
gostaria de favorecer o pensam ento nróo rio. A doulrina-da-ciên cia não se deüe iitinor.
mas sim ser uma carência, como o foi para seu autor" (A doutrina da-ciência de
Í7 94. Tradução dc Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo, Abril, 1984, 21 cd., p.
41). N uma passagem de seu ensaio sobre Lessing, escreve Schlegel: “U m autor, s eja
artista ou pensador, que pode pôr no papel tudo o que pode ou sabe, no mínim o não é
um gênio” (K/l, II, p. 112). Veja-se também L 112.

23))A ati vidade do escritor descrita pelo fragm ento é um a síntese “lúcida": não é uin limite
imposto, mas o livre estabelecimento de um limite (“uutolimitnção”) entre opostos
absolutos (“autocriação” e “auio-aniquilamenlo”). Assim se reconfigura, na forma da
escrita, a tríplice fundamentação da doutrina-da-ciência, pensada a partir de tese,
antítese e síntese incondicionadas (cu, não-eu, divisibilidade-limitação).

24) O fragm ento retoma a correçã o que Fichte propõe em relação aos poetas c a Rousseau:
"Está diante de nós aquilo que Rousseau, sob o nome de estado de natureza, e os
po etas, sob o no me de idade de ouro, co locain atrás dc nós’’ (Preleções sobre a
destituição do douto. Quinta Prelcção. In: Werke. Berlim, Waltcr de Gruytcr, 1965,
volume VI, pp. 342-3. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. In: Discu rso, n.
1, 1971,p. 15).
171
2 5 1 Estética é o título do livro do filósofo wolffiano A.G. Baumgarten, publicado um
1750. Em lugar dc estética, Schlegel falará geralmente de “doutrina-da-arlu"
( Kunstlehre ) ou “filosofia-de-arte" ( Kunstphilosophie ) — que não deve ser ident ifiendn
com a filosofia da arte (Philos ophie de r Kunst), condenada em L 12; da inesma maneir a,
cm vez de “ juízo s estcticos" usará a expressão “ juíz os artísticos" (Kunsturteile). FPL,
V, 110, p. 9 4 :/ ‘Durante m uito tempo, a estética moderna .consistiu meram ente em
j:xg[icnção p si cológ ica de f;nômenos estéticos. Nisso há ao menos uma indicaçllO
pa ra o im perativ o de qu e a arte deve se to m ar ciência. — Pelo cont rário, se de virln
proc urar cien tificam en te os meios de so luçã o pa ra os prob lemas estéticos. — \

26) L esA m o urs du Che va lie r de Fau blas (1789-1790), romance de Jean -Bap liste Louv ei
de Couvret (1760-1797).

21).Ka busca de novas formas de exposição filosófica, o século XVIII não foi meno»
p ró d ig o cm conversas (basta lembrar os diversos Entretienx de Diderot),
Intrinsecamente antidogmática, como pediam os temas e as questões, a conversa sc
opõe, conscientemente, ao sistema, como se nota, por exemplo, nessa passagem de
Humc: “Parccc pouco natural apresentar um sistema sob forma de conversação..."
( Diá lo go s sobre a religião na tu ra l. Tfaduçã o de José Osca r de Alm eida Ma rques. Si lo
Paulo, Martins Fontes, 1992, p. 3)/Conversa fa la d a e conversa escrita constituem,
assim, para Schlegel, formas de exposição que fogem h cadeia lógico-dedutiva do
sistema filosófi co. Sc, no primeiro caso, o diálogo socrático é naturalm ente o modelo
liter ário, a idéia dc uma relação d ialóg ica pe la es crita é predom inantemente moder na,
As conversas de Jacobi c Lessing, reproduzidas nas Cartas a Moses Mendelssohn
sobre n doutrina de Espinosa, podem ser consideradas os modelos mais ime diatos d c
SchlcgcL ouc cm 1800 publicará na revista Ath enäu m a famosa Conversa sobre a
poesia ,

28) ... addo urbanitatem, quae est virtus, ut Stoici rectissime putant (“... acrescento n
urbanidade, que é uma virtude, como bem justam ente a reputam os estóicos"). Cícero,
Carta a Appius. Epístolas III, 7.

29) Essa diferenciação entre um a fala com passagens irônicas e um discurso inteiramente
pe rpassado pela iro nia retom a, num contexto “tra ns ce nd ental”, a distinç ão ciceroniano
entre a mera tirada (dicacitas) c o discurso totalmente dissi mulado (cavilatio) do De
oratore, II, L1V-2I7.

30)}Como disposição transcendental, a ironia está associada à clareza de consciência, fi


lucidez (Besonnenheit) própria da reflexão filosófica. Cf. L 108 e I 69 .

31) Theod or Gottlieb von Hippel ( 17 4 1- 1796), escritor hum orístico e cons elheiro criminal
ein Königsberg, onde também fora aluno de Kant. Acusado de ter escrito os livros
Sobre o casam ento ( 1774) c Carreiras em ascensão ( 177 8- 1781), duas ob ras publicadas
anonim ame nte por Hippel, Kant se vê obrigado a fazer um anúncio púb lico na Gazeta
literária geral do dia 6 dc dezem bro de 1796, declarando n3o ser nem auto r nem c o-
autor dos trabalhos. Explicando por que inúmeras passagens desses livros tenham
reaparecido, literalmente, em obras que se seguiram à Crítica da razão pura (1781),
Kant avança a hipótese de que era comum seus al unos fazerem ca dernos com anotações
daquilo que, ainda de maneira deficiente c fragmentária, expunha cm seus cursos de
lógica, moral, direito natural e, pr incipalmente, antropologia. E sses cade rnos podem

172
ter c hegndo às mãos de Hippc l, que , deixando dc lado a m aior part e daqu ilo que era
aridamente científico, selecionou o que tinham de popular para “mesclar em seus
escritos humorísticos” e, assim, pode ter tido a "intenção dc, pelo condimento da
reflexão, dar ao prato do chiste um gosto m ais picante”. O texto está publicado, sob o
título de Erklär ung weg en der von Hip pe l’selten Autorscha ft, na C orrespondência dc
Kant, edição Aka dem ie, volume XII, p. 360.

32) Em alemão: alleinseligmachender Glaube. Literalmente: “a única fé beatificante”.


Autodenominação usada pela Igreja católica.

33) “E no entanto est amos ameaçados de semp re perman ecer fr anceses". Em francês no
srcinal.

34) Sonli o de um a noite de verão, ato V, cena I, 66-7.

3 5 ) W , II, 633, p . 82: "Tudo o que é u m pouco valor oso t em de s er, ao mesmo tempo ,
isso c o oposto. — ”

36) Guinéu: mo eda inglesa equiva lente a 20-21 xelins.

37) "Os versos dão espírito a o pensam ento de um homem qu e algumas v ezes o t em muito
pouco; e é a isso qu e se ch am a talento.” Em francês no original. Seg und o Lacoue-
Labarthe e Jean-L uc Nancy, Schlegel faz um recorte bastante livre da frase de Cham fort,
que prossegue com a inversão da afirmação inicial: “Freqiientcmente eles [os versos]
tiram o espírito do pensamento daquele que dele te m o bastante, e e a melhor prova da
falta de talento para os versos” ( Pensées , maximes, anedoctes, dialogues, capítulo
VII. Cf. abaixo nota 40).

38) K\ “HA escritores na Alemanha...”

39) Cf. acima L 9.

40) )‘Ein estado dc epig ram a” : em francês no or iginal. A passage m se en contra no capítulo
V dos Pensées, maximes. anedoctes, dialogues (1796), de Chamfort: "[O homem
huues tol deve se r mais alegre uu e um oulro porque eslá constantem ente em eslado de
epigram a contra seu próx imo” . O livro fo i traduzido para o alemão em 1797. Para se
afe rir o Im pa cto dã"’ofira"sôKr e"Tricdrich, convém lemb rar que , nu ma ca na a N ovalis
(27 de setembro de 1797), os Fragmentos do Lyceiun são por ele chamados de uma

“cham fortiada
fragmento, cr ítica”.
a idéia de queSobr e Chamfort,
o chiste i uinacf.espécie
também L 111.
de prova Me ncionada
da verdade no início
se encontra na do
seção 1de Sênsus communis ; an essay on the freednm o fw it and itumour (1709), de
Anthony A shlcy Cooper, Earl of Shaftesbur y (1661-1713) .

41) FPL, V, 36, p. 88: "<Não c a aitc que faz o artista, mas o entusiasmo inu.sical>”.

42) Laoco nte ou so bre os lim ites entre p in tu ra e poes ia , ensaio de Less ing publicado cm
1766.

43) Em alemão Grundwut, que remete à tentativa do pós-kantiano Karl Leonhard Reinhold
(1758-1823) de encontrar um fundamento (Grund) único, uma única proposição ou
173
princ íp io fundam ental ( Grundsatz ), para a filosofia de Kant. PUL, II, 910, p. 105:
“a p x a i — prin cíp ios , estão s empre 110 plural, sc constr oem entre si; jam ais apenas um
único, com o presumem os que têm fúria de fundamentação \die Gnm dw iithigc n] . — ”

44) “Dissolutos”: cm francês 110 srcinal. A seguir, wits (chistes, mesma raiz da palavra
Win. em alemão) está cm inglês no srcinal.

45) K\ “o seu querer viver chistosamente, seja como for”.

46)/f 'LP, IV (II), 155, p. 75: "Autor, público são conceitos literários. — Autor [Autor],
criador [Urheber], inventor [Erfinder] e prolo-escrilor [Urschrijtsteller], De terminar
iss o, quem é e quem não é , não é cois a comum. O mesmo ocorre co m públ ic o". FP L,
V, 643, p. 139: "Saber quem é ou não um autor (110 sentido srcinário) exigiria 11111
conhecimento literário infinito.—"

47) Sob re a formação do leitor c do público, cf. L 35 e 86. FPL, V, 641, p. 139: “Desprezar
e ofen der o público existente e ignorar o [públ ico] ideal é uma iná m aneira dc pensar
dos autores. — O público não existe; essa idéia pode no máxim o ser apenas representada
po r aquilo qu e é e m pi ricam en te assim de no minad o— ",

48) PL. II. 669, p. 85: “Pode-se ter sentido para chiste sem chiste, c sentido p ara alm a sem
alma e sem chiste”. Cf. também A 32.

49) Travo ( A nstoß ) e não-eu ( N ic ht-Ic h) são expressões fichtianas aqui retomadas 110
contexto da filologia. Em sua tradução do fragmento, Victor-Pierrc Stirniman vcite
A nstoß por “pretexto” — solução sugestiva que de certa forma pode se apoiar em
FPL, I, 218, p. 54, onde, cm lugar de travo, sc diz ensejo ( Veranlaßitng ): “Onde o
texto é apenas ensejo para dissertações, idílios filológicos. Controvérsias [são]
improvisos filológicos. Estes p ertecem íi STttSstçiç. Escritos em línguas m ortas també m
perten cem aos mimos filológ icos. Em am bos, a perfeição é inating ível. São d e natureza
progressiva. — M iscelâneas filológicas são sátiras fil ológica s.— Tradu ções são mimos
filológicos. Pensamen to bastante fér tilii"

50) “Gabriel, que entre os primeiros era o segundo.” O verso, cm italiano 110 srcina l, sc
encontra 11a Geriisalemme l.iberata, Canto I, 11,4.

5 1) Em K, falta “de tempos em tem pos” . Nessa versão, o fragmento co ntinua assim: “ Kant
foi entranha do de jurisprudê ncia. Isso agora s c chama moral” .

52) Natff, o S ábio , peça teatral de 1771 de Gotthold Ephraim Lcssing.

53) FPL,
— V. FPL,103,V,p.576,
9 3: “A
p. maioria dos romances
133: “Todo são apenas
home m pro gressivocotrazmpê
um ndios
roma dance
indivnecessário,
idualidadae
prio ri, em seu interior, que nã o é outra coisa senão a mais acabada expressão de toda
a sua ESSÊNCIA. Portanto, uma organização necessária, não uma cristialização
contingente. —" S obre o romance, não com o gênero, mas como “o elemento da poesia”,
com o forma de exposição da “ vida”, c f. 0 fragmento L 89 e a Ca rta sobr e o R omanc e,
na Conversa sobre a poesia.

174
54) N;i ediç ão K, aqui o fragm ento continua assim: “O m esmo v ale para as catego rias ‘por
assim d ize r’ [Gleiclisam] e 'tal v ez '. No espirito dos garvianos [seg uidores de Chri stian
Garve], são elas que tingem todos os demais conceitos c intui ções” .

55) En détail (no retalho, a varejo) e en gm s (no atacado), em francês no srcinal.

56) Em K falta o trecho “como têm... mais elevada”.

57) ftatu rp hiloso phie, term o que normalmen te se traduz por filosofi a da natureza. A opção
da tradução se justifica pelo fato de que aqui não se tr ata tanto de um discurso filosófico
sobre a natureza, quanto de u ma reflexão natural . D a m esma forma, Ktmsipltilosophie
será vertida por filosofia-de-arté, marcando seu caráter de potenciação da filosofia-
de-natureza com o reflexão filosófica natu ral, j ’ortanto, tampouco se deve co nfund ir a
filosofia artificial, tecnicáTcom o discurso filosófico sobre a arte, com a filosofia da
arte ( Philo.mpliie der Kunsi), explici tamente condenada cin i, 12. A mesma potenciação
oc on erá entre poc sia-de-natuieza e poesia-de-arte (poesia nat ural e poesia arti ficial
ou artística).

58)jEm alemão: Manier. Ein todas as ocorrências, a tr adução em prega maneira (no sentido
do italiano manièra). um a vez que Schlegel distingue cuidadosam ente maneira e estilo.
No Estudo (la poesia íirega, a presença da maneira indica a poesia individual
interessant e dos m odern os, que carece justame nte da unidade formal dada pelo estilo.
Traço característico do acabamento artístico dos antigos. Sobre o "estilo”, cf. A 432
(nota 229).

59) Em K falta a última frase.

60) Cf. acima L 70 .0 text o pod e ser uma al usão às Curt as para o fom ento da humanidade
de H erder (resenhadas por Schlegel na revist a Alemanh a cm 1796): “ O escrito r escreve
para leitores', sc estes são corrompidos , ele cscr cve e o editor imprime para seu gosto
corrompido. Os m uitos aut ores ruins da Alemanha escrevem, todos, para seu público
c o conhecem muit o bem; do mesmo modo, ta mbém os editores. Forma r leitor es tem,
portanto, de scr o primeiro esfo rç o dos ju íz es da arte [Kunstrichter]', os escritores
segu irão, m esm o a contrag osto” (H erder, Wi imanitalsbriefe, 1797, ed. Suphan . XVIII,
p. 173. A pu d KA. XVI, p. 535).

61) FPL, V, 449, p. 122: “Muitos romances dc um autor freqüentemente são apenas um
(enquanto sistema de obras complementares ou enquanto repetição de uma única c
mesm a.)”. Sobre o romancce, cf. L 78.
621)Na ediçã o K, esse fragmento foi publicado junto coin L 34. Como indicam Lacoue-
Labaithc e J.-L. Nancy, o particípio gebunden (do verbo binden: atar, ligar, prender)
designa, num processo químico, “uni corpo cm geral estável ou estabilizado, fixado”.
PhL, IV. 1119, p. 297: “Letra é espírito fixado [fixirier G eist] , Ler significa libertar o
espír ito est abi lizado, por tan to uma ação mágic a — No nú mero 252 d as Pliysikcdisclie
Beinerkun geii, diz N ovali s: “O m undo é um pensamento estabili zado [ein gebunde uer
Gedanke). Se algo sc consolida, os pensame ntos sc tornam livres . — Se algo se dissolve,
os pensamentos s e establ izam [werden geb undeti] " (ed. cit., Ill, p. 595). Sobre a natureza
química do chiste, cf. tam bíni A 366.
175
63) S óbre os antigos e modernos, cf. L 84. As palavras “perfeita e acabad a”, que adjetivam
' a leira dos antigos, traduzem aqui o alemão vollendel, no que se segue a sug estão de
Rubens Rodrigues Torres Filho: “Dois adjetivos para tradu zir um , pois o alemão mostra
com inai s evidênci a que 'perfeição ' ( Vollendug ) e ‘perfeito ’ ( vollendel ) síio derivado s
do verbo ‘perfazei’” (ln: Novalis, Pólen, nota 47, p. 210). Co mo dirá o fra gm ento ”/!
419 : "P eflSnõ e acaba do é aquilo que c ao mesmo temp o natural c artificiar’.

64) “Eis o maior elefante do mundo, mas não ele inesmo.” Em inglês no srcinal.

65) t ) ori ginal alemão jog a aqui com os verbos mitteilen (comunicar, participar alguma
coisa a alguém) e leilen mil (compartil har, partil har algo com alguém). Com o já indicava
dc certo modo o fragmento L 37, a comunicação ( M ille iliing) depende de uma
autolimilação, dc uma partilha ( Teilung ) do eu, como síntese de duas ações opostas
dele (autocriação e aulo-aniquilamento).

66) “Espírito socia l incondiciona do” : retomada lit eral daquilo que o fra gm en to/. 9 afir ma
sobre o ch iste.

67) PhL, II, 89, p. 26: “No fun dam ento da repressão às mu lheres há um ceito tem or dc um
ridículo supostame nte absoluto, que dom ina mais os hom ens que a morte e a Bíbli a, o
que revela pueril fraqueza de espírito c perversão bárbara. Platão conh ecia isso” . Cf.
PhL,U, 109, p. 28; 114, p. 29.

68) Sobre a “luci dez”,/. 37 (nota 21); sobr e sua rel ação com a iro nia, í, 4 2 c /6 9 . Verstellung
é traduzida por “dissimulação”, pois parece natural aqui a referência a Cíccro. que
vertia a palavra grega ironia pur urban a dis.ii miil alio (De nratore, II, LVI1I-270). O
fragmento remete, naturalmente, à “sublime urbanidade da musa socrática” dc L 42.

69) ^Sentido artístico da vida” traduz o substantivo composto Leb en sk un stsinn . Cf. FPL,
IV (II), 206, p. 80: “ Ironia soc rática = sentido artístico da _vida” . Sobre esse sentido
artíst ico da vida, veja-se também A 22 5, onde Schlegel falará de uma “dou trina-da-
aríc-da-\i&à"(Leben!:kiinstlelire). O objetivo é naturalmente combinar/Csse senso
artístico e o espírito científico, como se vê cm PhL, II, 157, p. 84^'Somente o
filósofo crítico pode conh ecer corretame nte a s i mesm o no todo c por part es. Somente
ele pode reu nire m si mai s espírito de ciência que F ich tee inais senti do artísti co que
Goetli e — p o fil ósofo críti co se pode dizer tudo o que os est óicos afirmavam do
sábi o — ”

70) Sobre as expressões “filosofia-de-nahircza” c “filosofia-de-arte”, cf. acima nota 57.

71) A expressão sich iiber sich selbst wegselzen (literalmente: pôr-se acima, além dc si
mesmo) também tem o senti do dc “não se importar com”, “nã o f azcrcaso de si m esmo”.

72) O trecho final (“A ironia de L essing... de l onge a daqu eles”) não consta da edição K.
Gotthold Ephraim Lessing ( 1729-178 1): críti co, dramaturgo, autor de escritos estéti cos
e teológicos; suas obras Na lã, o Sábio e L aoanite yã foram citadas acima, em L 64 e
78. So bre ele, cf. A 99 ,25 9 e / 95. Franz Hemsterhui s (172 1-1 790): fi lósof o hola ndês,
conhcccu toda uma geração de ilustres leitores na Alemanha, entre os quais Hcrdcr,
Lessing, Jacobi, os irmãos Schlcgcl c Novalis. Sobre cie, cf. PhL, I, 21, p. 6:
“ Hem sterhuis é um m ísti co eclético, mas o único socrático genuíno de sua época. —

176
” August Ludwig Hiil scn (1765-1810 ): aluno e amigo de Fichte, colabor ou coin dois
artigos na revista Aihencium: Sobre a ig ualdade natu ra l d os homens e Observações
sobre a natureza durante uma viagem à Suíça. Sobre a virtuosidade dialética c ironia
socrática de Hülsen, cf. A 2 9 5 c l 107.

73) Jogo de palavras, intraduzível, entre dese nvolvime nto ( Au sbild un g ) e ficção ( Einbildung
ou aquilo que é atividade ou produto da atividade da im aginação = Einbildungskraft),
ambos compostos a pa nir da palavra Bild ung, formação.

74) As duas palavras são criação de Schlcgel. Poderiam ser vertidas, novalisianamente,
po r filosofar ou poctar-em-conjunto. Novalis explica o sentido do filosofar-cm-conjunto
como "uma expedição em comum cm direção a um mundo amado” ( Fragmentos
logológicos I, 3, trad. cit., p. 110). Em F riedrich, a poss ibilidade dessa “a m izade
filosófica” está ligada à paradoxal alternância entre ent ende r e não entender, entre espírit o
e letra, ao "sentimento do conflito insolúvel entre incondicionado e condicionado, da
impossibil idade e ne cessidade de uma c om unica ção total” (L 108). Não se deve esquecer
ainda que tanto Novalis quanto Schlegel tamb ém insist irão sobre a necessi dade de uma
sinfilosofia o u simpoe sia "interior” (por exemp lo, cm A 119).

75) Johann Heinrich VoB ( 1751-1826), poeta, tradutor, em versos, da Odisséia (1781) e da
Ilíada ( 1793), foi adversário d os roinânticos. Lnísa é uma epopéia burguesa, publicada
em 1795.

76) FPl., V, 92, p. 9 2: “A ssim com o a me ta da ciên cia e se lom ar arte, ass im ta mb ém a arte
lem enfim de se tornar ciência —

77) Pa capo: de n ovo, des de o i n í c i o , E m ital ian o n o original. Frederico: m oeda em

ouro prussiana,
Grande cujo nome
(por a nalogia com Friedrichsdor
louts d'or). foi dado cm homenagem a Frederico, o

78) Cortcsü ateniense do séc ulo IV a.C. Ter ia sido o m odelo par a a Afrodite de Apeles e de
Praxílelcs.

79) PhL, V, 422, p. 120: “Já não se pode faz er poemas sáficos. — Não são de todo
verdadeiros e própri os, nada valem. Mas se ainda houvesse também uma na tureza tã o
conseqüentem ente bela e clássica que pudesse surgir nua, como Frine diante de todo s
os gregos, por isso mesmo se conve rteria em Frin e. (Já não há um público olímpico
pa ia um a Frine <clássica>.) Po em as líricos não podem se r feitos [neinachtV. precisam
crescer [waclisen] c ser encontrad os - .

80) Samuel Johnson, autor de uma Vida dos poeta s ingleses ( 17 79-8 1) e edito r das obras
de Shakespeare, para as quais escreveu seu famoso Prefácio 1765 (Tradução, estudo
e notas de Enid Abreu Dobránszky. São Paulo, Iluminuras, 1996. Biblioteca Pólen).
Sobre Johnson, cf. A 389 (nota 2 18).

8 l/S o b re a relação entre fi losofia c arte, FPl., V, 256, p. 106: "Ve rdade ira filosofia da arte
é ap enas míst ica pura e polêmic a pura. — <Nada de positi vo, certamente, se pode
apren derem part e alg um;: a parti r da filosof ia— >”. FPL, V .2 9I , p. 108 : “<De filosofia
pura o po eta se guram en te não ap rend e nada — >”.
177
82) Essa ccna entre a velha Bárbara e Wilhelin, que ocorre no livro VII. capítulo 8, do
Wllielm M eistcròz Goethe, é repetição de uma cena do livr o I, capítul o 3, ond e contudo
estava presente Marianne, atuada de Wilhelm.

ÜD FPL , V, 163, p. 98: "Os antigos representaram apenas o empírico em demasia. Nflo
representaram nenhum Sócrates etc., nenhuma Diotima; mesmo Sófocles não [os|
represe ntou. Os modernos freqüentemente caem no extremo op osto. — <Def endoi
cm algum lugar a exposição d ireta do absoluto na poesia; em algum lugar tem de s ei
imperativo que a matéria da poesia seja absoluta .—>

8 4 ) Além de ; ;ua significação literal, a palavra latina nasus também tem o sentido du
esperteza. finura e zom baria, com o se pode 1er em I lorácio {.Sátiras 2 ,8,64: suspendens
omiiia ntiso) e Marcial (Epigramas 1. 42.1 8: No n cuicitm qu e dantm es t habere n asum ),
Cabe lembrar que o gr ego ji w n ip (nari z) ta mbém tem um sent ido pare cido, sendo
mykterismós a “ironia acompanhada de uin movimento e contração signficativa dns
narinas” (A. Haury, L'iro nie et l'h um our chez Ciceron . Lcidcn, Brill, 1955, p. 6 ). Ein
Schlcgel, essa capacidade “divin atória” est á ligada ao chiste, com o se vê lambem em
FPL, V, 776, p. 152: “ílá quatro espécies de chiste prosai co: 1) o com binatório,

otranscendental, que superior


chiste filológico é quase inteiramente m
e a ironia socrática;atéria; 2) o social
3) o chiste analítico/ de, urb
queanidade,
[fazem chistc
pan e)
fragmentário, nasus dos romanos; 4) chiste retórico, mesclado dos outros três —”,

Athenaum

1) Fragmentos pu blicados no n úmero I, volume 2, da revista Atheiuium (Berlim, 1798, pp.


3 -146). Ex emp los concretos de sinfilosofia, são de autoria de Friedrich, August Wilhelm,
N ovalis e Sclile icrm ach er. Os fr ag m en to s se m in dicaç ão dev em se r atr ib uíd os a
Friedrich. H; í, contudo, fragmentos sem atribuição ou de atribuição duvidosa. Os quatro
prim eiros frag m en to s, es cr itos por Fr iedrich , foram por ele in terc alad os en tr e os
fragmentos de Novalis conhecidos pelo tít ulo Pólen ( Bliilen simtb ), no núme ro I, volu me
I, da revista.
2) PliL, IV, 269, p. 216: “Limites da comunicação não prejudicam a amizade: um tem
apenas de pressentir algo de infinito no outro—”,

3) Kem etcndo à idéia de crítica ou filosofia da filosofia, a referên cia do fragm ento é bastante
precisa : no Prefácio à segun da ed ição do Conceito du tloitiiïiui-tla-ciênciti (1798),
Fichte afirma que este livro c até então “o único texto cm que se filosofa sobre o
próp rio filoso fa r da do utrin a-da-ciên cia e que, po r isso, serve de intro duç ão a esse
sistema” (trad. cit., p. 7), e na Wisseii schaft slehre no ta metiioil o dirá: “Já na própria
tarefa para toda a filosofia está uma síntese. Já se sai do fa clu in para o fundamento;
mas como chego a sair do fa ctu m para o fundamento? A questão é importante; pois
filosofar significa pôr tais questõe s c respondê-las, e uma vez que essa questão está no
fundamento da filosofia, responder tal questão significa: filosofar sobre a filosofia”
(edição de Erich Fuchs. Hamburgo, Felix Meiner, 1982, pp. 12-3). Numa carta a
Ke inho ldde 4 de julh o de 1797, Fi chte afirma que Kanl parece “ter em gera l filosofa do
bem pouco so bre seu pró prio filo so fa r” (Briefwechsel. Edição de Hans Schulz.
! lildeshcim, Gcorg Olms, 1967, p. 562).
Sobre a crítica ou filosofia da filosofia cm Schlegel, FLP, IV (II), 47, p. 64: “A

178
crítica filosófica lalvez nada m ais seja que lóg ica a segunda potênciu. <A ntesjá muita s
vezes se fizeram investigações acerca dos limites da human a capacidade de conhecer .>
A crít ica filosófica e lógica do filósofo críti co não se vo lta meramente p ara o filosofema
isolado, para o indivíduo filosófico isolado, para massas históricas da filosofia, para
classes e gêneros filosóficos, mas para a própria filosofia. Nesse aspecto, a crítica
filosófica nada mais é que filosofia da filosofia. —
Somente mediante a idéia de totalidade crítica, de uma filosofia absolutamente
crilicizada e criticizante, e mediante o progresso regular, a aproximação artística
[hmstmiifiige] dessa idéia i natingível, o filósofo merecerá o epíteto de filósofo crítico.
Kant não e um filósofo crítico, mas apenas criticizante', R chte, um filós ofo criticizado.
<A tivamente críti co e passivamente crítico — Kant e Ficht c. Todas as passagens de
Kant sob re a essê ncia da crítica cuidado sam ente rcunidas>". /ViZ., II , 603, p. 78: “Toda
filosofia que não e criticizante, mas apenas crilicizada, não é filosofia crítica —
PhL, 11, 99 1, p. 112: “U ma filos ofia se torna crítica pela síntes e com sua crítica da
filosofia —

'1) Referência ao Ensaio para introduzir o conceito de grandeza negativa na filosofia,


escrito do período pré-crítico de Kant, publicado em 1763.

5) Herma nn e Dorotéia (1797), dra ma d e Gocthe. A ccna é narrad a no Canto VII, inti tulado
Eruto.

6) Ilíada, IV, 405. A célebre tradu ção de Vo B (179 3) diz, num a versão literal: “M ais valen tes
nos vangloriamos [de se r], muito mais que nossos antepassados”.

7) “Um e tudo ” traduz literal mente a expressão Ein un d Alies, com que o ideali smo alemão
traduz a fórmula panteísta Ev kou flav. Para um histórico da expressão desde
Xcnófanes, cf, Xavier Tilliette, Sclielling — Une phitosophie en devenir. Paris, Vrin,
1970, vol. I, pp. 70-1.
Qu anto ao excesso de moral da fi losofia kantia na, pode-se lere m PhL, II. 12, p. 20:
“ Kant é um hiperm orali sta que sacri ficou a verdad e ao dever".

8) Os Id ílios são poemas bucólicos do poeta, pintor c desenhista suíço Salomon GeUne r
(1730-1788). Mais adiant e, liaut goíit (gosto por com ida picant e, temperada) está em
francês no srcinal.

9) PhL, II, 848, p. 99: “O cinismo é filosofia-de-natureza e gênio ético clássico, com
polem ica an iq uilad ora co ntra economia e po lítica; indiferen tis ino ab so lu to — ”.

10) Charles Pinot Duelos (1704-1772), escritor francês, autor das Considératio ns sur les
moeurs de ce siècle.

11) Noite de Reis (Twelftli Night), ato II, ccna 3 e 5.

12) Schlcgc l u sa gedacht (“pensados” ), parti cípio da mesm a raiz de Gedanke (pensamento).
Implicando um redobro da ação de pensar ('‘ pensam entos pensados"), a redund ância
também pode reforçar o aspecto intencional, premeditado, da ação (com o cin português
se diz que algo foi bem '‘pensado”).
179
13) No srcinal, jogo dc palavras entre aualegen (interpretar) e einlegen (inserir), e entre
Ableitim ge n (deduções) e Aus leitun gen (desvios).

14) PliL, II, 1020, p. 114: “Só se pode caracterizar, isto 6, criticar uma nação que n!Ui
esteja pronta, o que não é possível sem magia —

15) PltL, II, 156, p. 34: “Meus pontos elásticos foram lógica material, história práticn,
po lítica po sitiv a. — História da m inha filoso fia ”. PhL, II, 737, 91: “Meu primeiro
germ e de filosofia fo i ética sistemática — m eu primeiro presse ntimento uma poéti en
poética, uma lógica material, mna política pos itiva c um a histór ia pr ática —

16) Em alemão: Wilzelei, substantivo formado a partir da palavra Witz (chiste), com a
desinência pejorativa ei.

17) À quatre : em francês no srcinal.

18) PhL, II, 111, p. 28: “Somente no matrimônio ocorre amizade ple na. Somente ali o
vínculo pode dc alguma m aneira se aproxim ar sem pre do Abs oluto pela sensuali dade,
pela s cria nças , porq ue a m ulh er é a antíte se absolu ta do hom em ; — convív io
insepará vel, uma espécie de comunhão de bens — não pode o correr entre homens.
Aqui tudo sempre permanece provisório — isto é, um vínculo estagnado, que nunca
aumenta e só se fixa na memória. Mestria recíproca e discípulos da eticidadc. —
Todavia, o m atri mônio pode aprender muito c om a amizade, mais do que com o amor
sentimental c o galanteio cavalheiresco, sobretudo com a amizade antiga. Quem não
tem sentido para amizade, não é capaz do matrimônio propriamente dito —

19) Fricdrich escreveu o início do fragmento, até “num ccito sen tido”. O com plem ento i í
de Schleiermacher.

20) “disse S.” é acréscimo de Friedrich. Refere-se a Schleiermacher, autor do fragmento.

Sobre o étal de épigramme (em francês no texto) dc Cham fort, cf. L 59.
21) No lugar dc “sintetizá-los com seus antípodas", se diz em K : “vinculá-los com suas
inetades invisíveis."

22) Con vém lem bra rqu e drama e d rásticos são termos grego s da m esma raiz 5 poc<o (agir ).

23) Em PhL, II, 133, p. 31, a referência é Fichtc: “O andamento cm Fichte ainda é
dem asiadam ente em linha r eta, n ão absolutamente progressivo, cíclico”. PhL, II, 131,
p. 31: “A filoso fia dc Fichte é simultaneamente po nto, círculo e linha reta — ”, A
rem issão a Fichtc não é casual, pois a circularidade é o ideal dc cientificidade, ap ro va
da correção do sistema estabelecido pela douliina-da-ciência, na qual o princípio de
qu e sc parte “é também o último resultado": “Quando um dia for est abelecida a ciên cia,
vcrificar-se-á que ela efetivamente perfaz esse circuito..." (O conceito da doutrina-
da-ciência, trad. cit., p. 22).

24) PhL, II, 680, p. 86: “Toda resenha filosófica tem dc se r ao m esmo temp o filosofia das
resenhas, isto é, resenha absoluta —

180
25) O tema volta a ser tratado cm A 82. F.n parade (em revista, em formação) está eirt
francês no srcinal.

26) Per antiphrasin (por antífrase) c epilheton ornans (epíteto ornamental): em latim no
srcinal.

27) Em PliL. II, 398, p. 59. Schlcgel usa a expres são p ara descrever Kanl: “Ein tod a parte ,
Kant ficou no meio do caminho".

28) FPL, V. 426, p. 120: “O ingênuo que é meramente instinto, é estulto; meramente
intenção, af etado. O ingênuo belo te m de sc r ambos ao m esmo tempo. — (Ainda que
Hom ero não lenha tido intenção alguma, su a ohra e a natureza que a fez nascer têm
intençã o.)— Todo ingênuo é exteri orização da indivi dualida de absolut a, é diretamente
opo sto àq uilo que <5objetivo. — <Nota. - O ingênuo é chiste ét ico positivo, a sát ira
chiste éti co negativo, a urbanidade chiste ético universal —>”.

29) PliL, II, 614. p. 80: “Todo fil ósofo também tem sua linha — tendência, assi m com o seu
punclu m (salien s) e seu cicl o. / Quem tem um sistema, está espirit ualmen te tão perdido
quanto quem não te m nenhum. É precis o justam ente vincular as duas coisas — ",

30) Divisão consagrada na expressão latina belli domique , que em alemão se traduz
literalmente: Vm Ha as an d Ini Kriege. PliL , IV. 748, p. 256: "Fich te c Go ethe, cônsules:
aquele bello, este domi".

31) Plil., III, 38, p. 125: “A div isão entre este e outro mundo faz parte de uma história
grotesca".

32) PliL, II, 228.


Uma vez que p. 40: "Crítica
criticou tanto, edamesmo
filosofia = filologia
quase tudo nodacéu
filosofia, é uma
c na terra, coisa só.bem
a filosofia —
po de consentir qu e també m a critiquem ” . PhL, II, 679, p. 86: “Crítica da filosofia,
mera represál ia da filosofia que tudo critiea. — Tem-se somente de to m ar críti ca a
filosofi a crít ica, uma vez que agora com eça a ser filosófica — ”, Sobre a crítica da
filosofia, cf. A I (nota 3) e 2 8 1.

33) L atomias: pedreiras que serviam de prisão em Siracusa, o nde D ionísio, o Vel ho (± 430
- 367 a.C.), foi tirano. August von K otze bu e(l76 1-1 81 9), autor de peças populares.

34) Gesinider Mensclienverst and: tradução alemã consagrada de “bom senso”. O fragmento
explora as possibil idades da expressão, que quer dizer, li teral mente, “entendimento
humano sadio", com a inevitável remissão ao hiiman understanding da filosofia
cinpirista. PhL, IV, 1078, p. 286: "<A filos ofia de Kant [não é] no fundo nad a inai s
que um essay or t liuman understanding a nd m oraI senli ment >” .

35) Moderantismo: linha política de moderação adotada por alguns grupos durante a
Revolução Francesa. Cf. A 276.

36) Jogo de palavras entre Ubenicht (panoram a, visão geral, si nóptica) e liberselien (ver
por alto, não ver, não reparar).
181
37) PhL, II, 264, p. 45: ''Verossímil é uma sentença dc prudência; verossimilhança é o
dom ínio da prudênc ia; o que alguns lógi cos assim denominaram é — soment e
po ss ib ilidad e —

38) Sobre o grotesco, como “vínculo puramente arbitrário ou puramente contingente de


forma e matéria”, cf. A 389. Uma idéia semelhante e m FLP, 11,884, p. 103: “Moral o
direito natural [são] formas transcendentais para matéria abstrata ou ontologia,
cosmologia e ps ic olog ia formas abstratas para matéria transcenden tal — arabescos e
grotescos da fil osofia ”.

39) PhL, II, 462, p. 66: “<Juízo, um conceito bastante grotesco. Intuição intelectual, o
imp erativo categórico da teori a, ü único fundam ento e meta . Análise da intuição
intelectual para a filosofia absoluta>” . PhL, II, 986 , p. 111: “A intuição in telectual e o
impera tivo categó rico são manife sta mente a tos da facul dade absol uta — A res pei to
da afinidade e ntre le i moral e intuição intelectual, Fichle diz, na Segunda intr odução
à doutrina-da-ciência, que o ideali smo transcen dental se m ostra “como o único modo
de pensar conforme ao dever na filosofia, como aquele modo dc pensar em que
especulação e lei moral se unificam mais intimamente. Devo partir do meu pens ar do

eu puro
inas e o pensar
como como absolutamente
determinando as coisas” auto-ati
(Werke. vo, não de
Edição como determinado
Immanuel pelas coisas,
Ilcrmann Fichtc.
Berlim, Walter de Gruyter, 1971, vol. I, p. 466).

40) PhL, II, 829, p . 98: “M emó rias (Memorabilien) [são] apenas um sistema subjetivo de
fragmentos, tem de haver também um ob jeti vo — ” . PhL, II, 832, p. 98: “ Um verdadeiro
sistema de fragmentos teria dc ser ao mesmo tempo subjeti vo e objetivo — ”,

41) Elaboração do problema da inteligibilidade, lambem tratada cm L 108. O par


entendimento-senti do é explorado por Novalis nas Observações enlremescl adas 23,
quando, explicitando a idéia dc unia "suseetibilidadc fi revelação"
(Offenbarungsjahigkeit), fala de “exccdência ou falta de entendimento e de sentido"
e, no fragmento 28, de “falta dc sentido e entendimento completos para os outros.
Sem autu-entendimento perfeito c acabado nunca se aprenderá a entender
verdadeiramente a outros ” (.Pólen, tiad. cit., pp. 51 e 55).
Também para Schlegel 6 do sentido que depende a capacidade de entender o
outro, podendo-se então falar de sentido para fragmentos c projetos (A 22), arte e
po es ia (A 102, 415), filosofia (A 415), chiste (L 71), genialidade (/I 295) etc. Nessa
acepção, a palavra Si/m também poderia ser verti da po r “senso ", como aliás se f ez ao
traduzir Fichle: “Com isso fica claro que o filósofo tem dc ser dotado do sentimento
obscuro do que é correto, ou de gênio, em grau não menor do que porventura o poeta
ou o artista; só que dc oulro modo. Este último precisa do senso da beleza [Schonheits\,
aquele do da verdade [Wahrlieils -Sinn] e lal senso certamente existe” (Sobre o conceito
da doutri na-da-ciênci a ou da assim chamada filosofia. Trad. cit., p. 29). Justamente a
respeito da doutrina-da-ciência. Sclilegel dirá que deve ser "captada por sentido c
formação, mas de modo algum po r demonstraçõe s” (PhL, II, 178, p. 35). Cf. FPL, V,
506: “O sentido para genialidade não 6 a própr ia gen ialidade?— " PhL, II, 1022, p.
114: “É preciso ter demasiad o entendimento para não enten der algumas coisas ".PhL,
II, 1028, p. 114: “Es pír ito [G’e/.tt] é sentido universal. — Sem crítica, sem divinação,
não há progr essã o— "

182
42) PhL, II, 669, p. 85: “Pode-se ter sentido para chiste sem chiste, e sentido para alma
sem alma e sem chiste. A distinçã o entre parvoíce e loucura consiste m eramente cm
que a ú ltima é arbitrária como a tolice". S obre a tolice e a loucura, cf. L 15 (nota 8).

43) O fragmento aparece exatamente assim em PliL, II, 667, p. 8 5. Im portante para perc eber
o que se entende por profeta e historiador é o fragmento anterior, PhU II. 666, p. 85:

“Oeta".
po profeta c o histori ador são, ambos, ambas as coi sas: ao mesmo tempo fi ló so fo e

44) PliU I, 93, p. 13: “O essencial da dedução é legitimar, não apenas legalizar, a
genuin idade da estirpe espiritual. <(Diferenç a importante que a maioria dos kantian os
deseonhece)>”.

45 PhL, I, 85. p. 12: "Definições GENU ÍNAS são tão raras devido à falta ger al de m atéri a
histórica e espírito crítico. — A respeito das definições, portanto, o filósofo poderia
aprender muito com as cabeças chistosas — PliL, II, 672, p. 86: “Eito colossal,
segun do o qual só é possível uma única definição para cada conceito. Antes, inúmeras,
reais, sintéticas — ”. PhL, II, 698. p. 88: “ Defin içõe s (reai s) — não se deixam de
maneira alguma fazer dc improviso; elas têm de ocor rer [kommen ] — ”,

46) Em K, o fragmento acaba aqui.

47) PhL, II, 410, p. 60: “Na construção dc conceitos filosóficos e para cada proposição
existem inúmeras provas, mas cada uma dessas provas tem dc ser completa [...]” Cf.
a carta de Friedrich a August W ilhclm de 28 de novem bro de 1797: “Nada mais com um
que definições realmente boas que não ajudam nada, porque são usadas em afirm açõe s
ruins. Kant e Leibniz afirmam: Reinhold e Wolff demonstram. C ’est tout dire...
Considero demonstrações some nte um luxo ou uma eti queta na ciência” (Apud KA ,
II, p. 177).

48 )PhL, II , 626. p. 82: “A filosofi a [é] um Efioç, começa no me io— Utilizando a célebre
observação horaciana sobr e o gênero épico em Hom ero — o narrador "arrasta o ouvinte
para o meio da ação ", como con sta n a Arte po ética, 148-9 — , esse fragmen to repropõe
o problema da coincidência entre princíp io lógico, hipo tético , e início histórico , real ,
da filosofia. PliL, Apêndice II, 16, p. 518: “No fundamento da filosofia tem de estar
não apenas uma prova recíproca [Weclixelerweis], mas também uni conce ito recí proco
[Wechselbegriff]. A cada conceit o, assim como a cada prova, se pode perguntar por
um conceito e prova deles. Por isso, a filosofia tem de começar no meio, como o
po em a épico, e é im po ssível ap rese ntá-la e acresce ntar parte po r paitc, d e modo qu e o
que é por si primeiro já esteja completamente fundado c explicado. É um todo, e o
caminho para o conhecer não é, portanto, uma linha reta, mas um círculo. O todo da
ciência fundamental tem de ser tir ado de duas idéia s, proposições, conceitos, in tuição
sem nenhum outro materi al". Esle é o mesmo problema que levará à rej eição dc uma
pr im eira prop os ição fund am en tal (erster Crundsatz) na filosofia — como se pode
verificar no fragm ento seguinte (/I 86).

49) A traduçã o verte assim Gnmdsatz. tentando m anter a difer ença que o idealism o alemão
faz entre uma "proposição fundamental” — propo sition -d e- fo nd para os tradutores
franceses de Heidegger — c um “princípio” ( Prinzip ). Sobre isso, veja-se a nota
anterior.
183
50) Segundo os cdilores da KA, fragmento de atribuição duvidosa a Schleiermachcr.

5 1) PhL, II, 506, p. 7 1: “A filosofia nada mais [é] que uma gramática universal e vice-
versa”.

52) Sob re as relações entre filologia e filosofia, filologia c críti ca, vejam -se, entre outros,

os fragmentos L 75, A 92, 391 e 404.


53) O fragmento pode ser lido como uma das muitas glosas ao mote “não e nada do
absolutamente incomuin... entender um autor até melhor do que ele mesmo se
entendeu”, coin que Kant pretende explicar coino Plaiíio “falou ou mesmo pensou
contra sua própria intenç ão” ( Críti ca da razão pura, B 370). O próprio Kant sc torn n
objeto do comentário cm PhL, II, 625, p. 8 2: “Kant não entend e ninguém , e tamp ouco
alguém o entende. Mais esforço do que força, vaidade , formalidade, pedantismo moral ,
uma natureza represent ativa sem viva fantas ia — ",

54) O problema foi assim exposto por Fichte: “A douirina-da-ciencia é, ela mesmn, uma
ciência. Portanto, também ela deve ter, em primeiro lugar, um princípio, que n ão pode
ser demonstrado no interior dela, mas é pressuposto em vista de sua possibilidade
com o ciência” ( Sobre o conceito de doutrina-da-ciência ou da assim cham ada filosofia,
trad. cit., pp. 15-6).

55) Versão em fragmento de um parágrafo da resenha de Schlcgcl, publicada na revista


Ale m anha (Berlim, vol. III, 1796), sobre o rom ance Woldemar, do filósofo Jac obi: “ A
primeira co nd ição su bjetiv a de todo filoso fa r genuíno é — fi lo sofi a no antigo sentido
socrático d a palavra: am or <i verdad e, interesse abnegado, puro, pelo conhecimento e
verdade: poder-se-ia chamá-lo de entusiasm o lógi co: o comp onente mais essencial do
gênio filosófico. O que distingue os filósofos e os sofistas não é o que pensam, mas
como o pensam. Todo pensador para quem eicncia c verdade não têm um valor
incond icionado, que p ictere as lei s destas a seus desejos, que abusa interesseiram ente
delas para seus fins, é um sofista, por mais sublimes que sejam e por melhores que
pareçam tais desejos e fins" (In: KA, vol. II, p. 69).

56) PhL, Apêndice II. 10, p. 518: “Filosófico é tudo aquilo que contribui essen cialmen te
— co m inten ção, não ca sualmente — para a realização do imperativo lógico. Filosofia,
arte, ciência, gênio etc."

57) Ato III, cena I. Sobre o Natil, o Sá bio, de Lessing, L 78. PhL, Apêndice 1,73, p. 512:
"P. 80. Sclielling. Sobre o eu. E um egoísmo empírico grosseiro dizer sobre o eu
absoluto: m eu eu”.

58 )PliL, II, 684, p. 86: “As m ulher es não são feitas para a ciência, mas p ara a filoso fia; cm
toda pane paia o tnais elevado —”,

59) A referencia do fragmento (com o adendo propriam ente schlegcliano) é a polêm ica de
Fichte com o profes sor de filosofia K.C. E. Schm id. Depois de apresen tar argumentos
contra a interpretação equivocada que Schmid fizera de sua filosofia no número III,
volume 2, do Jo rn al filo só fi co ( 1795), Fic hte en cen a a resposta publica da no m esmo
jo rnal co m um "ato de aniquilaçã o” (Annihilationsa ct), declarando que, a partir de

184
então, nii o apenas as afirmaçõ es, m as “o pró prio s r. Schmid, enquant ofilóso fo" já não
mais existiria para cie. In: Werke. Vol. II, p. 475.

60) A distinção entre co nceito escolar c conceito cósm ico ( am cep tus c osmici ts) da filosofia
é estabelecida por Kant na Crítica da razão pura. Doutrina Transcendental do Método:
“Conceito cósmico [Weltbef>riff] sc cham a aqui aqu ele que diz respei to a tudo aquilo
que n ecessariamen te interessa a todos; por conseguinte, determ ino a intenção de uma
ciência segundo conceitos escolares [Schulbegrijfe] quando só é considerada como
uma das habilidades para ccrtos fins arbitrários” (B 867).

61) PhL, II, 34, p. 21: “Sc a mala-posta de Konisbcrg virar, Jacobi ficará a seco”.

62) Em alemão: kritisirter Mystizismus. Schlegel faz disti nção entre uma filosofia que é o
próprio ob jeto de sua crítica c um a filosofia que crítica as o utras, em bora a “totalidade
crítica” só seja at ingida po r uma filosofia absolutamente criticizada c criricizanie (cf.
acima nota 3). Com o dá a enten der a expressão “ misticismo criticizado”, o fragmento
sc reporta às Cartas sobre o dogm atismo e o critici smo, onde Sch elling mostra que o

misticismo,situando-se,
criticismo, o dogmatismo prátic
no nível o, não prátic
da decisão pode ser ref
a, em pé deteoricamente
utado igualdade compelo
ele. Eideal ismo-
mbora
não faça menção ao Prometeu d e Esquilo, na décima carta Schelling compara a escolha
de um sistema íi livre decisão de um herói trágico diante da fatalidade do destino. In:
Obras E scolhi das. Seleção, tradução c notas de Rubens Rodrigues Torres Filho. São
Paulo, Abril, 1980.

63) Bienfa isant b ourni ("bruto de bom coração” ) está em francês no ori ginal.

64) PhL, IV, 309, p. 220: ''Sublime e atraente são os pólos da poesia. Belo, o ccntro c
corrente magnética (oceano) que tudo envolve. — O poeta sempre visa o sublime
ou o atraente; apenas o homem v isa o belo. - No bom, os análogos são justo , amável
— div in o, útil. — Do verdadeiro'? — Ciência c história. O filóso fo visa s om ente ou
uma parte divina ou uma parte terrena da verdade. Apenas o homem encontra a
diagonal —".

65) PhL, II, 485, p. 69: “Toda amizade tem dc sc fundarem proporções, cm simetria do
espírito, não em simpatia. Se dois espíritos sc encontram lado a la do, eles se tocam e
tem sentido um para o outro. A antipatia faz parte do amor, só ali a gente pode se tocar
dc dois lados —". PhL, II, 486, p. 6 9: “Podem homen s idênticos ser amigos? — N ão,
eles podem apenas se comunicar. Verdadeira sociedade é infinitamente rara; boa é a
sociedade onde não se está sozi nho — ".

66) Cf. L 49 c Conversa sobre a poesia, KA, II, 290 (trad, cit., pp. 33-34).

67) Reunindo os elementos mais díspares e descrevendo o próprio modo de unificação


dos opostos (por oscilação da reflexão), este que c o fragmento mais célebre dc
Schlegel é também aquele que “leva a cabo a sí ntese de todos os conce itos”, como
diz Walter Benjamin. De fato, nele se descreve a poesia rom ântica como um a “poesia
universal progressiva”, isto é, como uma múltipla combinação das obras de arte
rumo à unidade e ao acabamento, com o uma passagem d e “ formas-de-cxposiçflo" à
Idé ia das formas ou form a absoluta — a própria Idéi a da art e — , conform e mostra
Benjamin cm sua tese de doutorado O conceito de crítica de arte no romantismo
185
alemão. T raduç ão dc Má rcio Scligman-Silva. São Kaulo, Iluminuras/Edusp, 1993 , pp.
92-3 e 113. (Biblioteca Pólen.)

68) FPL, V, 214, p. 102: “O anseio dc que haja UM ÚNICO herói 6 romântico', muito
cinbora no romance perfeit o cada qual lenha de se r o herói —", FPL, V, 39 3, p. 117:

“dcNo
scrromance filosófi
heróis. Senão issoco, não h bem
seria á herói c nem
ilibcral —”hom, Esens
sa inteirame
eqüidad e nte
quepassivos; todosentre
se estabelece têm
os heróis de um romance também é assinalada por S dilege l para m arcar a diferença
entre um herói épico e um herói trágico na literatura grega: “Na tragédia helénica o
herói do poema é aquele (freqüentemente também são mais de um) que pratica a ação
ou sup orta o destino. Todo o r esto tem de pare cer esíur em referência necessá ria a ess e
centro. D ecert o, também a epopéia helénica ama te r um herói: acarretari a pobreza e
confusão se não houvesse um que se destacasse m ais da m assa; no entant o, ele é tão
pouco o fim do todo, quan to se ria dc no vo po bre sc sobress aísse isolad am en te, se não
houvesse m uitos que dc diverso s m odos sc aproximassem dele. o acompanhassem, o
cercassem ou a ele se opusessem, se as figuras e grupos não alternassem. O herói de
uma epop éia c od e uma tragédia helén ica são coisas inteir amente diferentes!” (KA, I,
pp. 47 4- 5.)

69) PtiL, II, 985, p. II I: “Muito do que é capricho da linguagem parec e bastante feli z,
firme e necessário. Talento, capacidade que um hoinem apenas possui , que ele própri o
no fundo não e; e, no entanto, é ao mesmo tempo alg o tão compac to, uma p ura massa.
— ” Sob re a po sse de talentos (na Grécia, med ida de va lor cm ou ro ou prata) co mo
coisas, veja-se o que diz o fragmento /l 35 a respeilo do cínico.

70) Plil., 11,465, p. 67: “Sc um srcinal só pode fa zer sistemas, sem se r ele mesmo um,
isso é apenas talento — " PliL, II, 996, p. 112: “Gênio é, indivisivelmentc, uma coisa
só. Aqu i nunca se pode dize r como o homem tem talentos. Está na cssência do gênio
que seja um sistema por si, que, portanto, um gênio não entenda nenhum outro". O
gênio como sistema de talentos também aparece na resenha do Woldemar dc Jacobi:
“ Pois que outra cois a é o g ênio senão a comunidade interna legalmente livre dc muitos
talentos?” (KA, vol. II, p . 73.) V eja- se também o frag me nto ded icado à caracterização
dc Georg Forsler: “Gênio é espírito, unidade viva de diferentes com ponen tes naturais,
artíst icos c livres da formação dc uma determinada cspé cie” (Ibidem, p. 98). FPL, IV,
707, p. 252: “Gênio é organismo espiritual. Só o gênio pode organizar indivíduos.
Filosofar signifi ca pensar id ealment e. — <C histeé espírito químico>” . FPL, V, 1029,
p. 170: “Talento é an títes e dc cará tc rc é gênio incomplet o. — Virtuose é o dete ntor de
uin talento, o profissional dc uma bcla-artc liberal. — Originalidade é dupla
individualidade, ou genialidade individual —"
Ideia semelhante ocorre no fragmento 63 do Borrador un iversa l, dc Novalis:
“DOUTRINA-DAS-PESSOAS. Uma pessoa genuinamente sintética é uma pessoa
que é ao m esmo tempo m ais pes soas — um gênio. Toda pessoa é o germe de um gênio
infinito. Pode ser desmembrada em m ais pessofas l, mas tam bém ser uma só. A genuí na
análise da pessoa, com o tal, produz pessoas — a pes soa só pode se iso lar, desmem brar
e desag regare m pessoas. Uma pessoa é uma harmonia — nem mescla, nem movimento
— nem subs tânc ia, com o a ‘al ma ’. E spírito c pess oa são um só” . In: Schriften, III, pp.
250-1. Cf. também o fragmento 282 (III, p. 290) c o número 172 dos Fragmentos e
est ud os J 799 -1SOO: “Um verdadeiro amor por uma coisa sem vida é perfeitamente
pensável — c também po r plantas, an im ais, pela nat ure za — até po r si mesmo. Se o
scr humano tem um verdadei ro tu i nterior— nasce um convívio sumamente espir itual

186
e sensual e a mais veemente paixão é po ssíve l — Génio nada é, talvez, senão resultado
de um tal plural interior. Os mistérios desse convívio são ainda inuilo pouco
ihmiin ados”(tradu zido ü p . 238 , nota 17. de Pólen).

71) i/i détail e en gros estão em francês no srcinal. PliL, II, 757, p. 92: “A filosofia de
Kant meramente abstrata na teoria; meramente especulativa na prática. Especulação
en détail é tão difícil c tão rara quanto abstração en gros —”, PhL, II, 781, p. 94:
“Especulação en détail e abstração en gros são propriamente matéria do chis te, que
tem de ser sempre paradoxal — Sobr e es pec ula ção e abs tração, pode -se consul tar /.
107 e /l 102.

72) PliL. III, 58, p . 127: “A poesia dos antigos é tão abstrata quanto a filosofia dos mod ernos.
Assim, a qualidade da abstração e da universalidade é distribuída vice-versa —".
PhL. III. 110, p. 131: “<A bs traçã oe especu lação de modo algum lim itadas à fi losofia.
Os poetas ti nham abstração em alta medida>”.

73) Cf. acim a/l 119.


74) O poeta Gottfried August Bürger (1748-1794) foi o editor de Alm anaque das mitsas
( M usenalm anach ), de Göttingen, que rivalizou com a famosa biblioteca das belas
ciências e das artes livres, editada de 1757 a 1806 em Leipzig.

75) FLP, V, 154, p. 97: “< Me smo a expos ição do martírio absoluto (a Re lig iosa de Diderot)
faz par te essenci almente da poesia m oderna e dos prolcgômenos ao romance — >” .

76) Petcr Leberccht é o pseudônimo utilizado por Ludwig Ticck, dramaturgo e integrante
do grupo ro mân tico de Jena. O escritor Friedrich Richtcr é mais conhecid o pelo nome
Jean Paul, adotado cm homenagem à Revolução Francesa. FPL, IX, 268, p. 276:
“Nos arabescos um a sínte se da forma de Richter e Tieck”.

77) FPL, V, 837 , p. 156: “Todos os dram as que devem causa r efeit o, têm d e se aproxim ar
do romance absoluto; talvez quanto mais, tanto melhor''. FPL, V, 34 6. p. 113: “O
drama retór ico deve imitar os mimos clássicos na forma, mas deve romantizar essa
forma <segundo o gênero do romance psicológico> e tal vez então se aproxim ar tanto
quanto possível da forma de Shakespeare”.

78) Gottlieb Friedrich Klopstock (1724-1803), poeta, autor do poema épico O Messias.
No número I, volum e I , da revista Athenä um , A ugust public a um texto inti tulado At
línguas. Um conversa sobre as conversas gramá ticas de Klopstoc k.

79) “Magnífica mentira, onde está o verdadeiro tão belo que te possa suplantar?" Tasso,
Gerusalemme Liberat a, II, 22.

80) Karl P hillip Mo ritz (1757-1793), ens aísta e escritor, autor das novelas autobiográfica s
A ndre as H artk nopf (1794) e A nton Reiser (4 volumes. 1785-1790) e do ensaio Pa
imitação plástica da natureza. No fragmento A 203, August fará referência a dois
outros trabalhos seus: M ito logia c Antliusa, ou Ar antigüi dades de Rum a, ambos de
1791.
187
81) Na edição K: “uma retórica do ent usiasmo".

82) Na edição K. em lugar disso se lia : “A dcstinaçüo d ela é co nstituir o divino c aniquil ai
realmente o que é ruim”. A última frase do fragmento não aparece em K.

83) Friedrich diz em seu curso sobre a Histó ria da liter atur a européia'. “O verdadeiro
floresc imento [da lite ratur a romana] só começou a partir da segund a guerra púnica,
ou cerca de duas g erações antes de Cícero, c durou até Trajano. Pode ser dividida em
duas épocas, a de Cícero e a de Sêneca, ou — como com umente costum a ocorrer — n
época dc ouro, de Augusto — embora isso não seja de t odo correto, pois já começou
algum tempo antes dc Augusto — , c a dc pra ta , de Nero". In: KA , vol. XI, p. 127.

84) FLP, V. 32, p. 88: “Três gêneros po éticos do minantes. I) Tragédia entre os grego s. 2)
Sátira entre os romanos. 3) Rom an ce [entre ] os modernos” . Nas Ane dotas, diz Novalis:
“Schlcgcl tem raz3o, o genuíno romance tem de ser uma sátira" (trad. cit., p. 252).
Com o lemb ra o t radutor (nota 87, p. 247), num a carta a Fricdrich de 11 de maio de
1798, Hardenberg lhe manifesta gratidão por esse conceito dc sátira romana.

85) Em A 16, Schlcgcl explica qual seria a “esscncia do cinism o”, a partir da qual se pode
com preender melhor o fragmento. Na m esma linha, veja-sc L 105.

86) FLP, IV (I ), 1. p. 35: “A diferença entre clássico e prog ressivo é de srcem histórica,
Por isso falta à maioria dos filólogos. Também nesse aspecto começa, com
Winckelmann, uma época inteiramente nova. <Mcu mcstre.> Viu a diferença
imensurável, a natureza toda própria da antigüidade. No fundo permaneceu sem
seguidores”. FPL, V, 236, p. 104: “Winckelmann foi o primeiro a sentir a antinomia
do antigo e do moderno” .

87) Nu ma lingu agem ainda marcada pela preocupação estética, Schlegel diz no Estudo da
poesi a grega: “No todo, porém, o interessante ainda 6 o verdadeiro padrão moderno
do valor esté tico. Transferir esse pon to de vist a para a poesia greg a significa moderniztí-
la. Quem acha Homero apenas interessante, o profana. O mundo homérico é uma
pintura tão co mpleta quan to fácil de ap reen de r; a mag ia origina l da époc a heróica se
eleva infinitamente na m ente que está familiarizada com as desarran jos da má formação,
mas que não perdeu completamen te o sentido para a natureza; e um cidadão d escontent e
dc nosso século pode facilmente crer que encontra, naquela visão grega dc atraente
simplicidad e, liberdad e c intimidade, tudo aquilo de que tem estad o privado. Ta l visão
wcrthcriana do venerável poeta não é fruição pura do belo, não é apreciação pura da
arte" (KA, I, p. 346).

88) FPL, V, 130, p. 95: “<N o escrito so bre o chiste, uma A polo gia de Cícero, que foi uma
cabeça chistosa, quis ser muita coisa que não era c sempre foi julgado erroneam cnte>” .

89) FLP, V, 786, p. 153: “Ch iste épico c chistc jâm bico grosseiros se encontram co m bastan te
frequência na tragédia clássica, mas não estão fundidos; a mescla e mais íntima na
comédi a. — "

90) D ccimus Magnus Ausonius (±31 0-39 5), poet a e profess or de re tóri ca romano.
188
91 )PliL, II, 297, p. 48: “<Assim como as forinas cíclicas estão personificadas cm Platão
c Aristóteles, assim em Leibniz a pr ogressão com o forma da críti ca>” .

92) PhL, Apêndice II, 21, p. 520: “O sistema só pode ser comunicado àqueles que podem
e querem filosofar; o que se pode dem onstrar não ser o caso cm muitos daqueles que
tomam part e da conversa [mitreden], A fil osofia tem a alternativa de sa ber tudo o que
se sabe, ou nada. Da própria totalidade do saber pelo qual o filósofo se esforça, resulta
que não e possível mais que um único sistema”.

93) FI.P, V , 883, p. 160: "Qu anto à universalidade, Platão é o Shakespear e da prosa grega.
Escreve de form a dial ética, dilir âmbica, panegírica, ana líti ca, lógica, mítica e mesmo
titica (Icgislalória). Só não [temj o estilo mesclado de Tácito nem o combinatório-
crít ico. — <Platão não compôs nenhuma obra. <Notu> apenas estudos>”.

94) FI.P, V, 601 , p. 135: “Também exis te um a autêntic a prosa biográfica, diferente mesmo
da histórica, que se aproxima bastante da crítico-satírica; nela, Suetônio é mestre;
mais carac terística do que história — ” , Sobre Tácito e o estilo dos historiadores, veja-
se A 217.

95) PliL, II, 749, pp. 91-2: "Toda ciência tem de ter sua própria teologia; também a poética,
de que Winckclm ann teve presságios. O habitual é uma m escla de t eologia da física c
da moral. — Da teologia poética também faz parte a visão artística de Deus como
poeta, do inun do co m o um a ob ra de arte”.

96) Le fl egm e allem an d está em francês no srcinal. F. Hemstcrhuis, embora traduzido


para o alem ão por Jacobi e Hcrder, escreveu suas obras em francês. (Fricdrich tam bém
comenta a “naturalização" do filósofo holandês: “Hemstcrhuis é um alemão, porque
somen te aqu i encontrou um público" PliL, V, 175, p. 344. ) Joha nnes v on M iiller (1752-
1809), historiador, auto r da História da Suíça, era conhecido como “o Tucídidcs alemão” .

97) Em alemão, Manier. Cf. nota 58 do Lyceum.

98) Gcorg Joseph Vogler (1749-1814), compositor de óperas.

99) Anthon Raphael Mc ngs ( 1728 -1779 ), pintor neoclássico, autor dos Pensamen tos sobr e
a beleza e sobre o gosto na pintura (1762), que dedicou a Winckelmann.

100) William Hogarth (1697-1764), pintor e retratista inglês, autor de The analysis of
beauty (1753).

101) Peter van Laar (1599-1642), foi chamado de Bamboccio (boneco) pela pequena
estatura. O epíteto
composições dá srcein
inspiradas do dia-a-dia. bambocciata,
ao noine
em cenas usado para caracterizar

102) Jan Steen (16 26 -1679), pintor holandês de cenas realistas c burlescas. Du rante certo
período , foi taberneiro.

103) O título está em francês. Os Essais sur la peinture suivis des observations sur le
Salon de Peinture de 1765 foram publicados postumamente em 1795. O título no

189
singular aparece pela primeira vez nas Obrus editadas ein 1798 por Naigeon. Cf. A
182 c 201. Goethe escreveu um comentário ao livro, intitulado O ensaio sobre it
pin tu ra cie Diderot.

104) L úcio iV Iúmio Acaico , cônsu l rom ano d o século II a.C. que, ap ós a tom ada de Corinto,
saqueou a cidade, levando suas obras dc arte para Roma.

105) Sob re os fragmentos A 192 e 193, diz a can a de Friedrich a Wilhelm d e 27 de fevereir o
de 1798: “Seus fragmentos mais recentes tnc deram uma grande alegria,
prin cipalmen te os so bre a arte. Como sã o belos isolada men te, e quan to mais em
massa. Sem dúvida, têm dc ficar juntos... Mas que dirá você se eu for insolente o
ba stan te pa ra sintetizar o Múm io com um ou tro fragmento seu, um tanto redu zido, o
pr oce der a um a op er aç ão semelha nte co m o gr ande [fragmento] sobre o espírito
plástico dos poetas?” (C itado em KA, 11, p. 195.)

106) Progrès de l 'espr it humain (progresso do esp írito humano ), cm francês n o srcinal, i i
o títul o da obra do Marques deCo ndo rcet, publicada em 1794, que Friedrich també m
com entará a seguir, em A 227.

107) Acima, pí adoye rs (discursos em defesa de uma causa) está em francês no srcinal.
Aitlopseitsla s, p alavra formada a partir do grego autos + pse úte s : aqueles qu e mentem
sobre si mesmos.

108) “Nay, /'// ne'er believe a madman till I see his brains", palavras do bobo Feste u
Malvólio na Noi te de Reis, ato IV, 2, 102. Abaixo, papie r m âché (papel machS) está
em francês no srcinal.

109) Sob re M itologia e Anth usa , cf. acima nota 80. O humano, o sagrado, o pensante e o
simbólico estão no neutro cm alemão.

110) So bre a biblioteca de belas ciênci as, veja-se acima A 122 (nota 74). Os co ribantes do
templo da deusa Cibele costumavam se emaseular e vestir trajes femininos.

111)0 episódio dc Sansão e a queixada dc jumento é narrado em Ju iz es , 15. Rouget dc


Lisle (1760-1836), autor da Marselhesa, era oficial do exército francês.

112) Forum Dei (“tri bunal d ivino” ), cm latim no srci nal.

113) PliL, III, 80, p. 129: “ Espan a, Ro ma e Atenas talvez dessem juntas uma república
perfe ita— ".PhL, III, 8 3, p. 129: "A adm inistração deveria ser monárquica, adircç3 o
democrática e a representação aristocrática —

114) Phi., II, o662,


ciência, p. 85: Mcister
Wilhelm “As trêsemaiores tendências
a Revolução de nossa
Francesa. Mas época
todas são a doulriiia-da-
as três são apenas
tendências sem sólida execução — FLP, XIII, 195, p. 475: “O mélodo 6 o que há de
melh or no Wilhelm M cister, assim coino na doutrina-da-ciência e, no fundo, também
na Revolução. Ele é fá c il e cômodo (mas pode se tornar fácil <demais>, muito
conveniente c, com isso. raso e superficial). F.m que consiste propriamente? — A
forma do romance, pensada talveí como métrica en gros, isto é, como métrica
romântica?” FLP, XIII, 199, p. 475: “O Wilhelm M cister ú uma fórm ula conveniente,

190
extremamente geral, para um romance, assim como a doutrina-da-ciência para a
filosofi a e Revoluçã o Francesa para a mudança absoluta”.
A esse fragm ento, Schlegel dc dica um longo trecho dc um texto i ntitulado Sobre
a inintel igibil idade: “Escrevi esse fragmento com a mais honesta das intenções e
quase sem ironia. O modo como foi mal entendido me surpreendeu de uma maneira
indi/.ível, porque esperava o mal-entendido dc um lado inteiramente outro. Que
considere a arte como o ccme da humanidade c a Revolução Francesa como uma
notável alegoria do sistema do idealismo transcendental, é dc fato apenas uma de
minhas visões extrem am ente subjetivas. Mas já dei a conhecer isso tantas vezes e dc
tão diferentes m aneiras, que poderia esperar que o leit or ti vesse afinal se acostumado.
Todo o resto é apenas linguagem cifrada. Quem não puder encontrar também todo o
espírito de Goethe no M eister , inutilmente o procurará cm qualquer outra parte. A
poes ia e o idealis mo são os centros da arte e form ação alem ã...
Certam ente, há ainda um a outra coisa no f ragmento que podia ser mal entendida.
Ela se encontra na palavra tendências, e aqui também já c om eça a ironia. Quer dizer,
po de ser enten dida co mo se eu co ns ideras se, por ex em plo, a do utrin a-da-ciên cia
somente como uma tendência, como uma tentativa provisória como a Crítica da
razão pura de Kant, tentativa que eu mesm o planejasse exe cutar m elho re finalmente
concluir, ou, para falar nn linguagem artificial que é a comum e também a mais
adequada para esse modo dc representar, como se eu quisesse me colocar sobre os
om bros de Fichte, como este está nos ombros dc Kcinho ld, Reinhold nos ombros de
Kant, este nos ombros de Lcibniz, e assim ao infinito, até os ombros primordiais...
Abro mão, portanto, da ironia c declaro abertamente que, 110 dialeto dos fragm ento s,
a palavra significa que tudo ainda é apenas tendência, a época é a época das
tendências...
Goethe e Fichte, eis a fórmula mais simples e adequada para todo o escândalo
que o Athen äum causou, e p ara todo o desentendim ento que o Athenäum provocou... "
(KA, II, p. 367).

115) Em alem ão, 0 adjeti vo em pregado é vollendet.

116) PliL, II, 173, p. 35: “O verdadeiro estilo histórico sistemático é simultaneamente
fluente e fixo, oscilante c estático [stehend], — T oda intuição contém um infinit o, é
= iiifmico. — A doutrina-da -ciência não somente // «/ [ fließt ] mas tai nbém transborda
x
[fließt iiber] — Phi, II, 472, p. 68: “Os historiadores gregos são de abstração.
Tucídides — transcendental. Heród oto— clci nentar . Xenofonte — sist emático. Tácit o
é o que m ais tem tom. L ívio, mais esti lo".

117) Bons m ots (boas tiradas): cm francês no ori ginal.

118) Cf. a definição que Kant dá do riso na Críticli do juízo (B 225): "O riso é uma
afecção da súbita transformação de uma expectati va tensa em nada". Tradução dc
Rubens Rodrigues Torres Filho, ln: Kant, I. A crítica da razã o pur a e ou tros textos
filo só ficos. São Paulo, Abril, 1974, p. 360.

119) Échappées de vue (literalmente: esp aços livres, embora estreit os, p or meio dos quais
se pode observar um lugar, uma paisagem): ein francês no srcinal.

120) PhL, Apêndice II, 17, p. 519: “A única pressuposição correta se descobre pela via

191
analítica; a pa rtir daí tudo cam inha sinteticamente. A an álise tem ac ascend er, lin iin
quanto possível, até o eu deve ser. A ampliação da ciência em Fichte foi no cnliinln
apenas um achado genial em Kaiil, nJo de sco heit a metó dica. A filosofia só estm n i i
bom estado qu an do já n3o pr ec isar co ntar co m ac had os ge niais e pu der proin<’illi
apenas pela força genial, mas metodicamente por via segura”.

121) PhL, II, 1018, p. 114: “Muitas vezes já se pode co njug ar e declinar e a té cscrav«
orto grafica me nte uma língua, is to é, uma ciência, mas ainda não construí-la ; a sinln i
é o mais difícil —”.

122) Doutrin a-d a-a rte- du- vida : cm alemão Leb en sk im stlehr e, substantivo que podo >oi
decomposto cm seus três termos elementares (vida, arte e doutrina) ou também nu
duas outras palavras já compostas, Leb en sk unst (literalmente “arte de viver") o
Kunstlehre (do utrina -da-a rte), esta última re m etend o à doutrina-dn-ciín< In
(Wissenschajtslehre). A di ferença entre essas duas “do utrinas” é assinalada cm l' l
V, 228, p. 103: "Dou trina-da -ai 1 e como antítese abso luta de douir ina-da -cisncio ' "
É claro que a pretensão do rom antismo é unificá-las num a síntese superi or, como m
verifi ca cm PhL, II, 632. p. 82: “Que tud o (toda arte) dev a ser c iência, é um a proposlçflii
da lógica da doutrina-da-ciência; que tudo, todas ciências devam se tom ar arte s, il
uma propo sição da doutrina-da-arte. Ambas, no entanto, também uma piop osiçüo i ln
po lítica superior— ”. PhL, II, 9 6 1, p. 109: “Form ação [Bildung] é a questão da filos olln
absoluta, doutrina-da-ciência c doutrina-da-arte junta s são doutri na-da- formaçll o
[Diidungslehre]. A ironia tem sua verdadeira sede na filosofia sistemática; ainbni
têm algo cíclico. Filosofia universa l é filosofia histórica” . E iu í, 108 (nota 69), oco rro
a construção análoga Leb en skun sts inn.

123) FLP, IV (II), 170, p. 76: "Aos árabes deve ter faltado comp letamen te o con ceito d o
clássico. Senão seria imp ossível que, depois de feitas as traduções, pudessem desprezar
por co mpleto o original”. FLP. IV (II), 172, p.77: “Os árabes absolutizam em lodu
parte. O que não lhes pa recia útil, destruíam imediatamente. <Aniquiladures>".

124) PhL, II, 658, p. 84: "Com uma faísca de filosofia, o cristianismo leva à filosofia
crítica. Para admitir o conceito de um mediador , se tem dc ser filósofo crítico ou
totalmente tolo.
Filósofo crítico ou 0 Pois somente a partir do idealism o ubsoluto se deixa
0 filósofo crítico
conceber um único ao mesmo tempo Deus e a o mesmo tem po homem. — "

125) PhL, 11,6 31, p. 82: “Catolicismo é cristianismo ingênu o. P rotestan tismo é cristianismo
sentimen tal. O progressivo só agora c omeça. — Ain da não há propriamente
cristianis mo verdadeiro; resolução do bom senso”. PhL, I I, 732, p. 90 : "O cato licismo
6 m ais político, estético e conseqüente do que o lutcranism o, que só tem m érito pel a
po lêm ica e pe la fi lo lo gia — FLP, IV (I), 107, p . 43: “ Há uma filolo gia prog ressiva
e uma filologia clássica. — P ara a caracterí stica da filologia progressiva é m uito
impo rtante a história da herm enêutica patríst ica, da taimúdica e finalmente também
da protestante. — A fil ologia progressiva come çou, parccc, com a interpretação da s
Escrituras Sagradas”.

126) PliL, II, 6 6 1, p. 85: “Nada é tão exatamente um que não seja três; por que com Deus

192
deveria scr difer ente?" PhL, II, 664, p. 85 : “Deus tam bém é um a coisa, não um mero
pensam ento. É ao mesmo tempo coisa c pensamento, como todos os pens amentos e
todas as coisas —

127) PhL, II, 369, p. 56: “Erro blasfemo de que só haja um deus. É disparate qu e só deva
haver um único mediador; para o cristão genuíno tudo é mediador. Quantos deuses
alguém queira ter depende simplesmente de seu arbítrio absoluto”. O texto retoma a
idéia novaliana de “mediador” ( M ittler ), expressa no número 73 das Observações
entremesciudas: “É uma idolatria, no sentido mais amplo, quando eu considero de
fato esse mediador como Deus mesmo. É irreligião, quando não admito nenlium
mediador — c nessa m edida super stição, ou idolatr ia — e de scrença — ou teísmo,
que também se pode chamar de judaísmo primitivo — são ambos irreligião. Em
contrapartida, ateísmo 6 apenas ne gação de toda religião em ger al e portanto não tem
nada que v er com a religi ão. Verdadeira rel igião é aquela que adm ite aquele m ediador
como mediador — toma-o como que pelo órgã o da divinidade — por s eu fenômeno
sens ível” (irad. cit., p. 77).

PliL, oII,
128) Crist ". p. 85: “Maria 6 uma idéia necessária
— 659, da razão pura feminina, como

129) Personag em principal da novela The history o f Sir Charles Grandi son (1753-1754),
de Samuel Ricliardson.

130) Sátira, elegia c idílio são os gêneros da poesia sentimental, segundo a classificação
de Schiller em Poesia ingênua e sentimental (São Paulo, Iluminuras, 19 9 1, pp. 64 c
scgs.). Cf. FI.P, V, 1050, p. 172: “Belo é poesia poética. — A poesia transcendental
começa com a diferença absoluta entre ideal e real. Aí se encontra Schiller, que [é]
po rtan to um iniciado r da po esia transcendental c só metad e po es ia tran scen de ntal,
que tem de terminar com a identidade fdo id eal c real]”.

131) FPI., V, 317, p. 110: “Os poetas antigos já gostavam de filo sofar, c então s ua filosofia
era tão transcendental e nov a quanto podia se r, sem prejuízo da popularidad e; Píndaro,
os trágicos, em Ésquilo e Eurípedes a filosofia freqüentemente não está poetizada.
Finalmente se isolou essa tendência c surgira m os poemas didáticos alexandrinos; esse
isolamento já é algo m oderno . Aqui, não havia disposição alguma de poetizar o todo".

132) PhL, I, 14, p. 5: “As sim com o só há um único sistema e uma única filo so fi a, também
só há UM MÉTODO—”.

133) FLP, V, 634, p. 138: "Tudo aquilo qu e deve scr crilicado tem de ser um indivíduo —
mas na caracterização a individualidade não tem de ser exposta historicamente, c
sim mimicamente —

134) PliL, II, 812, p. 96 : “ Aquilo que já não se pode m ultiplicar é, cm sen tido filosófico,
indivíduo absoluto (elemento indivisíve l) tanto quanto aquilo que não se pode mais
dividir—",

135) Comparar esse “sistema de indivíduos" com o “sistema de talentos” do gênio,


apresentado no fragmento ^119.
193
136) Sobre a idade dc ou ro no futuro, s' eja-s e L 38. nota 24.

137) O fragmento aparece com ligeiras modificações em FPL, V, 97, p. 91.

138) FLP, V, 62, p. 90: “A poesia de Gozzi [é] esboçada de modo rápido e grosseiro
poes ia de deco ra çã o. — Rin Gozzi, estr anho conceito da necessidade de se r novo. -
O demagógico em Gozzi é o que mais se assemelha a Aristófanes: o maravilhoso
mágico, m érito próprio”. Cario Gozzi (1720 -1806), dram aturgo italiano, defe nsor t in
commedia deli'arte, auto r de Turandoi ( 1762). Cf. acima A 244.

139) FPL, V, 76, p. 91: "A comé dia de Dantc é um romance". FPL, V, 520, p. 128: "Pontos
para o estiulo de Shakespeare. — Ironia— esfor ço pela uni dade — espíri to român tico
— in tencion alidad e, arte, perfeiçã o c ac aba mento <( co ns truç ão )> — un iversalidade
em todos os gêneros do romântico — poesia da poesia — sua doutrina-da-ar te —
indi fer ença da fo rma dramática— suas manei ras — seu classi cismo— sua moral idad e
individual”. FPL,V, 692, p. 143: “Sh akesp eare tem moralidade romântica. Suumescln
dc poesia e prosa romântica indica romântico absoluto”. FPL, V, 717, p. 146: “A
essência dc Sha kespeare é rom ântica, sua tendência, trans cendental. É româ ntico e
classiciza. A essência de Gocthc c abstração e poesia, sua tendência, romântica; &
clássico c romantiza. — <Gocthc vai, através do clássico, até o progressivo.
Shakespeare, através do romântico, ao transcendental. Dan le, Shake sp ea re brotam
da terra como gigantes >". FPL, V, 1102, p. 176: “Goc the não é rom ântico . — É
poesia po ética un iversal, não po es ia un iversal — ”,

140) Cf. A 149 e 242.

141) FLP, V, 33 1, p. 112: “Profeta é todo filósofo poético e todo poe ta filosófico” . Cf. A 80
(nota 43).

142) FLP, V, 107, p. 94: “Quem tem fantasia, tem dc po der aprende r poesia; ainda se tem
de chega r ao ponto cm que todo filósofo escreva um romance Cf. abaixo o
fragmento A 255. A possibil idade dc ensinar e aprender poesi a — q ue deve se tom ar
“arte”, n o sentido em que a e mprega Schlcgcl — também é uma das questões centrai s
discutidas na Conversa sobre a poesia, como sc pode observar, por exemplo, na
seguin te fala dc Antônio: “ Primeiro c preciso ter investigado c esclarecid o se a poesia
é algo q ue se deixa ens inare aprend erem ger al” (KA, II, p. 310; trad, cit., p. 50).

143) A afi rmação de que a auton om ia do belo possa decorrer do primeiro p rincípio de toda
a doutrina-da-ciência (“eu = eu; eu sou eu”. A doutrin a-d a-c iê nci a de 1794, (rad.
cit., p . 45) tem respaldo na explicação que Fichtc dá dos juíz os téticos. Da inesma
forma que o juízo “o hom em é livre”, um “ juízo dc gosto: A é belo (o mesm o que:
A contém um índice que está também contido no ideal do belo) é um juízo tético;
pois
Mu itonão
pelopo ss o com
contrário, para
meu r ess etem
espírito índice por
co m o idproven
t arefa, ea l, já iente
que denã oseucopôr
nheç o o ideal.
absoluto,
cnco ntrá-lo; mas essu tarefa só poderia ser solucionada d epois de uma aproxim ação
perfeita e term in ada do in fini to . — Kant e se us se guid ore s cham ara m , por isso ,
muito corrctamentc, esses juízos de infinitos, embora nenhum deles, ao que eu
saiba, os tenha explicado dc maneira mais clar a e determina da” ( ibidem, p. 59). Cf.
FPL, V, 188, p. 100: “O com eço de um a obra lóg ica tem de ser tético; na verdad e,

194
pod e tão po uc o com eçar quanto term inar. — <T esc abso lu ta co mo fu nd am en to ;
então puras antíteses e hipóteses. —> Começo: que b eleza e arte devam ser, enquanto
seres isolados. — A conclusão: que não devem ser, isto é, enquanto tais. — <A
bel ez a, uma fi cçã t» Unificação de beleza, verdade, moralidade, sociabilidade —
pe lo ro m an ce . — To das as so lu çõe s da s antíte se s c antino mias de ss a fund açã o [da
doutrina-da-arte] só podem cm geral ser hist óricas —",

144) PliL, II, 95, p. 27: “O verdadeiro romance tem de vincular também o gênero mais
abrangente, mais puro e mais completo da poesia-de-arte a todos os gêneros da poes ia-
de-natur eza e da poesia- de-art e mista ; ele tem dc ser dram a— ". FPL, V, 193, p. 101:
“Deve-se filosofar sobre a arte, pois se deve filosofar sobre tudo; mas se tem ao
menos de saber algo sobre a art e. — Sem dúvida, tudo aquilo que se experimen tou na
arte som ente se tom a saber pela filosof ia. Que os antigos sejam clássicos, isso não se
sabe a pa rlir tla filosofia; pois Goethe também o sabe; mas, sem dúvida, se sabe
disso apenas co m filosofia”.

145) FPL, II, 172, p. 99: “Shakespeaiv é correto” e FLP, V, 372, p. 115: “A'a escollm das
fo rn ia s, na mes cla do s co m ponen tes e no m étodo de co nstruç ão , nenh um poeta

moderno
Sliakespcareainda é correto
prima —”. Atem
pela correção inversão que Schlegel
evidentemente como opera aoa afirmar
alvo estética cque
o teatr o
francês. Segundo o Estudo da poesia grega, o padrão de gosto que rege a crítica
itali ana, inglesa c francesa seria, respectivamente, o a trativo, a verdade e a correção
(Korrektheit). KA, I, p. 220 c pp. 249-250.

146) FPL, V, 509, p. 127: “A pa ró dia da forma dramática em Shakcspeare surge dc sua
improp riedade pa ra a obra de arte romântica. — A ironia torna o cli istc de Shakespe are
subli mem ente delicado — ",

147) Sob re a Luí sa de Voli, cf. L 113; sobre o H ennann e D orotéia, A 6.

148) Sobre poesia,


193, p. arte e ciência,
101 (traduzido acima veja-se A 252 e 302. Sobre filosofar sobre arte,
na nota 144). FPL, V,

149) FPL, V, 285, p. 108: “O poeta perfeito ta mb ém tem dc scr filólog o” . PliL, IV, 1326,
p. 304: “O verdad eiro raciocinar não se opõe ao filosofar — ao co ntrário , teria de
significa r o método da razão pura. — Inquestionavelmente o poeta perfeito deve
filosofar c também deve ser filólogo — mas por isso não há ainda uma constituição
filosófica da poesia. <lsonomia da poesia c da filosofia >”.

150) "Man eiras-de-ação srcinárias [urspi iingli clie Ilaiidlungsweise) do espírito hum ano” :
segundo Fichtc , a tarefa da doutrina-da-ci ência é mostrar justame nte com o as
“man ciras-de-ação ” necessárias do espírito huma no são acolhidas na forma sistemática
do saber. Em A 252, Schlegel já sugeriu a conexão entre a autonom ia do belo c a ação
suprema do espírito.

151) PhL, II, 754, p . 92: “ As fonnas da filosofia moderna são inteir am ente individuais —
caitas, autobiografias, romances, fragment os. — Rousseau fundou a filosofia retór ica;
Espinosa, a sistemática — ”. PhL, II, 771, p. 93: ‘‘A desinência ismo não pode jam ais
designar um sisieina, inas apenas espírito de uma ccrta espécie, ou exteriorização.

195
exposição desse cspíri lo. — Mistic ismo — empirismo — sistenialis ino — ceti cismo
— cr iticismo nã o sã o sistemas, mas somente exposições do e spíri to, que certamente
tem de ser tão completas quanto possível. — A forma adequada c rapsódia — fra g
mento é a forma para a filosofia t ranscen den tal, massa para a filosofia real — " PhL,
II, 1029, p. 114: “A verdadeira forma da filosofia universal são fragmen tos —

152) Com o obse rvam


srcinalmente um os tradutores
prato com umaP . Lacoue-L
variedade deabarthe c J.-L.
legumes, Nancy,
a partir do quallanxsatura
teria s significa
urgido
a idéia de “sátira” como mescla de gcncros. Fermenta cognitionis (fermentos de
conhecimento) também está em lat im no srci nal. A expressão se encontra de fat o
cm Lessing, numa passagem da Dra matur gia de Ham bu rg o que não escapou a
Schlcgcl (por ele citada cm KA , III, p . 108): “L embro aqu i meu s leitores que estas
pág in as dev ei n co nte r tu do , m enos um sistem a dra m át ico. Não es to u, po rtan to,
obrigad o a solucionar todas a s dificuldades que apresento. Meus pensam entos podem
pare cc r nã o se co nca te nar nem um po uc o, e até se co ntradize r, desde qu e sejam
pen sa m en to s cm qu e en co ntrem m atéria pa ra pen sa r po r si mesmos . Aqu i nad a ma is
quero senão disseminar fe rm enta co gn itionis" (95 1 Parte. I n: Schriften. Edição de
Kurt Wõlfel. Frankfurt atn Main, Inscl, 1967, vol. II, p. 500).

153) Christoph Marti n W iela nd (1733-1813), poeta suíço, autor da História d eA gatã o.

154) Claudine von Villabella: dram a cantado ( Singspiel ) em 3 atos de Gocthc, que com eçou
a ser escri to em 1775 e teve sua primeira apresentação em 1795.

155) Os editores da KA dão indicação de um fragmento parec ido em PhL, 1,68, p. 10: “O
insuficiente princípio da mo ral em Kant festá ] bem aba ixo dos místicos. —” Já Novalis,
se é exata a indicação dada por Hans-Joachim Máhl, atribui o fragmento a
Schleiermacher: "D[OUT RINA ]-DA-REL [lGIÃOJ. Pessoas telizes são aquelas que
em toda pane ouvem Deus — em toda parte encontram Deus — essas pessoas são
pro priam ente religiosas. Religião é moral na mais alta dignidade, como disse
notave lmente Schlei ermacher” (0 borrador universal, 257, cd. cit., vol. III, p. 286;
nota, p. 920).

156) /\ la hautenr (à altura) , cm francês no srcinal. Em K: “Deve-se sinfil osofar somente


com aq ueles que estão à la hauteur".

157) O fragmento foi tirado p or Friedrich de um a carta de August — d aí o “W.” (= Wilhelm)


do iníci o.

158) O fragmento aparece com pequenas modificações em FPL, V, 104, p. 93.

159) O frag men to é de Augu st, inas o acréscimo de Friedr ich.

160) Frag men to de atribuição duvido sa a Fri edrich e Schleiermacher. A expressão “Lcibniz
é inteiramente moderantista” aparece em PhL, II, 260, p. 212. S obre o m oderantismo,
A 64 (nota 35).

161) So bre tolice c loucura, veja-se L 15 (nota 8).

196
162) O novo método da jurispru dênc ia de Leibniz (Nova M ethodus dis cendae docendaeque
Ju risp ru den tia e) é de 1667. Citada mais abaixo, a Teodicéia foi publicad a em 1710.

163 A palavra contra está em latim no srcinal. Apesar da autoria inquestionável


(Schlei ermacher), os editores da Kritis che Ausgab e apontain também semelhanças
com fragmentos de Fricdrich, por exemplo, PhL, II, 248 . p. 43: “Leib niz se faz mais
de distinto do que teria sido. Na Teodicéia, freqüentemente é um rábula, maquiavélico;
na teologia, jurista, na filosofia, médico —”, PhL, II, 313, p. 49: “<Tcologia e
jurisp ru dên cia, faculdad es givtescas. N elas Leibniz está propriamente cm casa. Trat a
qualquer impureza como lesão e doença, cirúrgica c medicinalmente, ou
diplomaticamente >”. PhL, II, 330, p . 51: “L eibnizaplicou filosofia àjurisprudên cia
e teologia. Kant, ao contrário, jurisprud ência e teologia à filosofi a. — Bem leibniziana
é a síntese de teologia c jurisprud ência”.

164) Sobre a doutrina-da-ciência como outra exposição do conteúdo, da “matéria" da


filosofia crítica, cf. Fichte, Primeira introdução à doutrina-da-ciência: “O Autor...
decidiu consagra r sua vida a uma exposição, totalmente independente de Kant, daquela
grande descoberta [kantiana] , e não aband onará essa decisã o... S empre disse, e digo
de novo aqui, que meu sistema não é outro senão o kantiano. Quer dizer: contém a
mesma visão do assunto, mas é, cm seu procedimento, totalmente independente da
exposição kantiana” (In: Werke, I, pp. 419-420). PhL, II, 203, p. 37: “Fichte tornou
p rá tic a , m a te ria liz o u e transcendenlalizou [praktisirt, muterialisirt iind
Iranscendenta lisir l] a filosofia kantiana; só ele é kantiano. O eu de Fichte =
transccndentali dadc absoluta sistemati zada. E o idea l-real absolutamente realizado”.
Cf. também PhL, Apê ndice II, 17, p. 519 (traduzido acima na nota 120).

165) Da nova expos ição da doutrina-da-ciência ( 1797-98) foi pu blicado apenas um capítulo
no Jorm ü filo só fico, tradu zi do p ara o português com o título O princípio da doutrina-
da-ciência (cd. cit „ pp. 17 7-185). Schlegel , no entant o, acomp anhou o cur so de Fichte
em Jcna, dedicado à nova exposição intitulada Wissenschafisíehre nova methodo
(1798). Que, nesta, filosofia e filosofia da filosofia se apresentem mais intimamente
ligadas, é um a dife rença qu e observa cm relaçã o à Fundação de toda a do utrina-da-
ciência de 1794, pois, segun do ele, nesta última "filosofia e filosofia da filosofia não
se fund em o bastante: ambas estão isoladas” (PhL, II, 143, p. 32). PhL, II, 201, p. 37:
"A filosofia da filosofia de Fichte é mais fichtiana do que sua filosofia, portanto
também melhor ” . PhL, II, 197, p. 37: “O espírito dc um a filosofia é sua filosofia da
filosofia”. Sobre o eriticismo à segunda potência da frase anterior, sobre a crítica ou
filosofia da filosofia (“a filosofia crítica nada mais [é ] do que filosofia da filoso fia"),
a que fará alusão a frase seguin te, cf. A 1 (not a 3).

166) No va variação do Evkou ia v (cf. A 10, no ta7). Aqui, contudo, a referência é bastante
precisa: no Conceito da doutrina-da-ciência, Fichte diz que nela “um conduz ao
tudo c tudo co ndu z ao u m " (trad. c it., p. 22, nota) .

167) Sendo os fragmentos d e/ l 282 a 294 de autoria de Novalis, segue-se aq ui — com as


alterações de Fricdrich — a tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho para a
coletânea Pólen (onde o leitor também encontrará notas que o ajudarão na
compreensão dos textos). Para facilitar a consulta, indica-se a seguir a
correspondência ent re a num eração do Alhen üu m e das Observações entremescladas :
197
A 282 = 2 4 ;/t 283 = 22; A 284 = 5; A 285 = 49 , A 286 = 21; 4 287 = 29; A 288 = 16;
A 289 = 30; A 290 = 31; /t 291 = 66; A 292 = 11; A 293 = 12; A 294 = 55. Cabe
lem brarqu c F ricdr ich, ao editar os text os, se permitiu certas travessuras, recort ando
e reordenando os fragmentos c suprimindo os trave ssões, os quais, como lembra o
tradutor , “de fato, nestes textos, marcam bastante percep tivelm ente um ritmo próprio
de respiração do pensam ento" (Apresentação, p. 26).

168) O concurso do ano de 1791 da Academia Real de Ciências de Berlim tinha como
título: “Quais são os progressos efetivos que a metafísica fez na Alemanha desde os
tempos de Leibniz c Wolff?” O prêmio foi dividido entre o leibniziano Schwab,
Keinhold e Abicht. A questão despertou interesse entre personalidades do mundo
filosófi co alemão, entre os quais, Kant e M aimon, que redigiram m emórias, mas não
participaram do con cu rso. Schellin g tam bém tccc um co m en tário no Panorama geral
da liter atura fil osófica mais m ente (cf. abaixo nota 175). Sobre August Ludwig
Hü lse n, Z. 108 c I 107.

169) “A dificuldade faz a essênc ia e o mérito brilhante da poesia ", cm francês no srci nal.
Abaixo, íicailémicien está cm francês. Bernar d Le B ov ierd e Fontenc lle (1657-1757),

secretário permanente
Conversações sobre a plda Academia Real
uralidade dos m deundos
Ciências da França, autor das
(1686).

170) Le gra nd to ur (grande viagem, passeio): em franccs no srcinal.

171) Passagem de A t mu lheres de Weinb erg (Die Frauen von Weinberg ), balad a de Bürger.
Sob re este, cf. A 122 (nota 74).

172) PhL, II, 785, p. 94 : “Os filósof os superam de m uito longe os poetas em inconsciência
genial”. PhL, II, 319, p . 50: “O pouco que hä de bom cm Lcibniz é um protótipo de
inconsciênci a genial”.

173) PhL, 11, 201, p. 37: “A incomprecnsibilidade [ Unbegreiflichkeit] de Espinosa c


Shakesp eare tem algo de semelhante” . Sobre a “verdade” com o critério estético entre
os ingleses, cf. acima nota 145.

174) Cf. acim a A 255.

175) A "crítica liter ária da filosofia” é uma referência ^Allgem eine Obers icht der neues ten
ph ilos op hisc he n Liter atu r (Panorama geral da literatura filosófica mais recente) dc
Schelling, texto que ficou conhecido na versão da segunda edição de 1809:
Disse rtaç õe s par a a elucida çã o do id ea lism o da do utrina- da- ciên cia. Cf. PhL, II,
154, p. 33: "<Os panoramas [Übersichten] de Schelling são hipermetropes
[übersichtig]’’ (jogo de palavras semelhante cm A 72). Na última frase de /I 412,
Schlegel voltará a se referir à Natur ph ilosop hie de S chelling, dizendo que ainda não
é temp o para uma “ física d a filosofi a” . No Discurso sobre a M itologia da Conversa
sobre a poesia, Lud ovico— personagem cm que se pode identificar traç os dc Schelli ng
— afirm a qu e já se vê a grande revolução da ép oca "a tu ar na física, na qual o idealism o
no fundo já irrompeu por si mesmo, antes que fosse tocada pela varinha mágica da
filosofia”. In: KA, II, p. 314; trad. cit., p 52.

198
176) Gadarcnos: referência à cidade dc Gadara. onde, segundo Mateus (VIII, 28), uma
manada inteira de porcos sc lança ao mar, tomada dc demônios exorcismados por
Cristo. Gênios de força ( Kraftgenies ) c uma a lusão aos poetas c escritores do Siurm
and Drang, “a época dc ouro dc dezesseis quilates dc nossa literatura (a época dos
gênios de força)", como diz Jean Paul, que “agora infelizmente se converteu numa
época esclcrosada". No mesmo sentido, Kant usa a expressão Kraftmãnner (homens
de força) para designar aquel es que anunciam “com entusiasmo um a sabedoria que
lhes custa pouco esforço”, empregando um “lom altaneiro” na filosofia (Von einem
neuerdings erhobenen vornelimen Tim in der Philosophie, A 4 15. nota ).

177) O Gato dc Botas faz parle dos Contos popu lares de Peter Leberecht, publicados por
Tieck em 1797. Sobre o pseudônimo P eter Leberecht, cf. A 125.

178) Pcnfnsula montanhosa no extremo nordeste da Ásia.

179) Fragm ento de atribuição inccrla a August .

180) Maria Anna Angc lica Kauffma nn, p intora neoclí íssica suíça (1741-1807).
181) Oskar Walzel c Sulgcr-Gcbing (apud KA , II, p . 219, n. 313) atribuem o fragm ento a
Fricdrich devido ao seguinte trecho dc uma carta que envia ao irmão: “Sc íSopliic
Mercau] pudesse expor, faria como Angclica Kauffmann, dc cujos dedos também
sempre emanam, como que por si mesmos, seios e ancas” (27 dc maio dc 1796).

182) Jo rn al filo só fico d e um a socied ad e de doutos alemães ( Philosoph isclies Journ al ein er
Uesellschaft Teutscher Gelehrteii), publicação que durou de 1795 a 1800, editada
po r F. J. Niethatnm mer (p rofessor da un iversidade de Jcna e ex -aluno do Stift de
Tiibingen) e Fichtc. Friedrich resenhou os quatro primeiros números para a Gazeta
literária ge ral cm 1797.

183) Christian Garvc (1742-1798), filósofo popular, tradutor de Aristóteles e Cícero, e


divulgador dos moralistas ingleses na Alemanha. Escreveu o Ensaio sobre diversos
objetos da moral, literat ura e vida social, cm cinco volumes (1792).

184) Diógenes Laércio, Vidas d os f ilósofos , IX, I: “Muita instrução não ensina a ter
inteligência; pois teria ensinado Hesfodo c Hitágoras, Xcnófanes e Hecatcu”. In:
Os pré-socráticos. T radução de José Ca valcante d e S ouza. São Paulo, Abril. 1978,
p. 80.

185) FPL, V, 882, p. 160: “<A s repetições mu sicai s do mesmo tema em Kant . — O ch iste
com binatório em Kant é o m elhor >” . Sob re a musicalidade dos kantianos, cf. também
A 220.

186) Des criptiv e poetry (poesia descritiva): cm inglês no srcinal. A menção de Lessing
ao poeta Simônides, o “Voltaire grego” (556-467/66 a. C.) sc cncontra na primeira
seção do La oco nt e (ed. cit ., vol. III, p. 8). As palavras a respeito de Apo io, citadas um
pouco an tes, seriam de Hcráclito, co nfo rm e repo rta Plutarco : “O se nhor d e qu em é o
oráculo de Dclfos, nem diz nem oculta, mas dá sinais" (In: Os pré-socráticos. Ed.
cit., p. 88).
199
187 ) Em alemão Teilnahme. Com o lembra Rube ns R odrigues Torre s Filho (Pólen. p. 211,
n. 55), no alemão o vernáculo Teilnahme (participação, simpatia) equivale ao termo
culto In teresse, tema do fragmento.

188) Fragmento de atribuição incerta a Friedrich, pois, segundo os editores da KA , se


encontra quase literalmente no caderno de Schleicrmacher sobre Leibniz: “Deus 6
real, porque nada impede sua possibilidade. Nesse sentido, a filosofia de Leibniz 6
bem divin a” .

189) Tentando preservar o parentesco com o substanti vo OJfciilieit (franqu eza), a tradução
verte offen (literalmente “aberto”) por “franco”, adjetivo que ainda conserva em
por tu guês a idéia de “a ber tu ra ”, com o se vê, po r ex em plo, em “e ntrad a fran ca " e
“zona franca”.

190) H cinrichS tilli ng (pseudônim o de Johan n H cinrich Jung (1740-1817)): escritor pieti sta,
autor de A ju ven tu de. Os a no s d e juventu de e A s viag en s de H. Stilling .

191) Sobre o sentido ( Sinn ), cf. A 78 (nota 41). So bre a relação entr e Sinn e Geisl (espírito),
cf. FPL, IV (II), 79, p. 67: “No entanto, tam bém o men or filologema pode ser referido
ao absoluto filológico sob infinitos aspectos, em infinitas direções. — Hoder fazer
isso é espirito ou sentido filológ ico? <Q ue <5 espirito ou sentidol> Será que espírito
é senti do ù segunda p otêneia?>” Sobre alma, espírito e ânimo, cf. PliL, II, 831, p. 98:
“Alma é vida atrativa, excitabilidade do ânimo, espírito é vida do entendimento;
pru dê nc ia é entendim en to moral — " PliL, IV, 972, p. 276: “Espírito é crít ica, alm aé
história (grandeza das almas) c ânimo é ética — ".Ânimo traduz aqui Gemiit, palavra
que, na terminologia técnica kantiana, abarca o conjunto de iodas as faculdades
superiores (faculdade de conhecer, de desejar e senlimento de prazer e desprazer) e
que cm outras passagens também foi traduzida por “menle”. Na Crítica do juízo,
Kant fala , por exemplo, dos “poderes” e “ facul dades da mente (ou do âniino)” que
com põem o gênio ( B 192 e segs) .

192) En rapport (cm relação): em francês no srcinal.

193) No srcinal ihres Wertes geineiiisclmftlich fro h. Geineinscluiftlicli é advérbio (lambéin


adjeti vo) derivado de Gemeinschaft — com unidade, coletivi dade. Aparecerá logo a
seguir, no fragmento A 3 4 4 .0 context o é, natura lmente, o da sinfilosofiaesim poes ia.
Cf. acima/l 112 e 125.

194) Schlcgel se apropria de duas imagens das Cartas a Mos es Menclelssolm sobre a
doutrina de Espinosa. Ali Jacobi afirma que, p ara poder crer na existência de uma
causa inteligente e pessoal do mundo, é preciso um salto mortale. Também lança
mão de um a descri ção que Mendelssohn — numa das carta s publicadas por J acobi

inteirfaamen
z de teLcs
de sing:
acordo “A
comid éi a humor,
seu que L ess6 in
umg apro põecambalhotas
dessas su bitam ente
comem se guid
as quais faziaa es tá
menção de, por assim dizer , saltar por sobre si m esmo e, por essa razão, não saía do
lugar". In: Oeuvres philos ophiq ues de F.-/ I. Jacobi. Tradução, introdução e notas de
J. J. Anstett. Paris, Aubier, s.d., p. 111. A metáf ora do im pu lso que se deve to m ar para
dar o salto pode ter sido sugerida pela famosa recomendação de Leibniz: “Qu’on
recule pour mieux sauter". (De l'srcine radicale des choses, 15). Trechos do

200
fragmento aparecem , ligeiramente diferent es, cm PhL, II 1047, p. 115, c 1049,
p. 116.

195) A d de po situm (em depósito, caução): cm latim no srcinal.

196) PhL, II, 428, p. 62: “Kant raramente constrói e jamais caracteriza. No entanto, sempre
quer as duas coisas. — Ideal da confusão — coro do caos de Kant . — Nele, porém,
a confusão é ao me nos ordenadamente construída; é o prim eiro caos de arte filos ófico.
<N cslc senti do, pode o filósofo prestar o s m esmos serviços que, seg undo Le ssing, a
Bíblia presta ao gênero humano? —>" Sobre Lessing c a Bíblia, cf. / 95.

197) Cela peut aller ju sq u ’au sentiment (isso pode ir até o sentimento) c cela peut aller
ju sq u '« la philosophie (isso pode ir até a filosofia): em franc cs no srcinal. A pritneira
expre ssão é usada p or Leibniz, falando da inônada , nos Princ ípios da natureza e da
graça, IV, também citada por Jacobi nas Cartas a M oses Mendelssohn sobre a doutrin a
de Espinosa (Irad. cit., p . 185). De acor do com os editores d a KA (II, p. 229, n. 358),
o fragm ento é de Schl egel, mas calcado em passagens dos estudos de Schlcierm acher
sobre Leibni z, por exemplo, D, 72: “Le ibnizjuntou uma porção d e perc ep tion es non
satis dixtinctas e vibrações monádicas e pensou: cela peut aller ju sq u ’à la
ph iloso ph ie’’. D, 73: “O que pode surgir de um a ciência que é tratada por seus maiores
adeptos como um jogo de charadas? É assim que Leibniz e os Bernouillis procedem
com a matemática".

198) PhL, 11, 311, p. 49: “Tudo aquilo que ainda 6 bom nele [Leibniz], ó instinto. Sua
intenção = 0. Assim também sua form a e seu interior . Não h á nada aí. a nulidade aí é
absoluta—”. PhL, II, 312, p. 49: “Seu talento era de talento puro; sabia tão pouco do
que fazia, quanto o castor de sua art e. Sua m ania dc s egredo s, mais diplom ática que
teológica; gostava muito de saber os s egredos dc gabinete da natureza. Seus escritos
têm algo de despachos — PhL, II, 314, p . 49: “cL eib n iz é um filósofo por inst into,
contra a sua intenção, e um alemão por acaso". PhL, IV, 1134, p. 290: “A
universalidade de L eibni z consiste em que unifi ca em si o pedantismo e a charlatanice
dc todas as tr ês faculdades. — É o ideal de um autor ruim. — Ganhou seus melhores
pe ns am en tos na loteria — ”.

199) PliL, II. 49, p. 126: “A mor ó am izade universal, e amiza de é am or abstrato, casam ento
parcial — PhL, III, 53, p. 126: “Am izade é uni pedaço dc casam ento, a m oré amizade
da cabeça aos pés — ”.

200) M agia negra se di z cm alemão schwa rze Kunst , que significa literalmente “arte negra",
mas também, cm sentido figurado, “imprensa" ou a “arle de imprimir".

201) M au va ise plaisanter ie (brincade ira de mau gosto): cm franc ês no srcinal .


202) Atribuição duvidosa a Friedrich. A primeira frase do fragmento sc encontra quase
literalmente nos estudos de Schleicrniacher sobre Leibniz.

203) PhL, III, 70, p. 128 : “I lá três unidades no espírit o, com o na natureza, a me cânica, a
química, bei n como a orgân ica— PhL, IV, 295, p. 218: “Sentido [él universalidade
filosófica, ânimo universalidade ética, razão universalidade mecânica, chiste
universalidade química, espírito universalidade orgânica”.

201
204) Em K\ “mais ordinárias”.

205) PhL, III, 78, p. 128: “O poder sacerdotal no Estado é mítico, o com anda nte é físi co,
o juiz é históri co, polític o. Juntos, dãu uin rei espartano. A pa atX fiia de Platão é uma
idéia semelhante. — Muitas vezes, o rei (príncipe mítico, físico, histórico) [é]
representant e. O comandante [é] sempre um déspota lega l — ”, PhL, III, 79, p. 129:
"A constituição espartana é inteiramente roinSntica —”. PhL, III, 82, p. 129: “Um
deputado e uin repres entante são conceitos essencialmente disti ntos".

206) PhL, III, 87, p. 129: “O conce ito oposto ao de gabin ete é parlamento', muitas vezes
existe sem o nome. — A qui (no gabinete) se quer, se ordena, sem se voltar para as
formas, se têm segredos etc. e se deixa que seja m ditos. — O Diretório francês é uin
verdadeiro gabinete. Os administradores têm de ser pagos. Os deputados não o podem
ser; só eles são capazes de crime de lesa-majestade. Os rep resentantes são sacrossantos

207) FPL, V, 1090, p. 175: “A ssim como os filóso fos entre os antigos, assim tamb ém os
artistas formam, entre os modernos, um Estado no Estado. — No mais das vezes,
porém, os ho men s ve rdade iram en te morais també m es tão in ecclesia pressa contra
os filósofos — PhL, IV, 689, p. 251: “A filosofia atual é militans, a próxima será
triuinphtins." PhL, IV, 896, p. 269: “Até agora filósofos e poetas viveram tão in
ecclesia pressa quanto os prime iros cris tãos — ".

208) PhL, III, 47, p. 126: "O virtuoso, o homem genial quer conseguir um fim
determinado, con stituir uma obra etc.. O homem enérgico sempre utiliza o momento,
está sempre pronto, tem inumeráveis projclos ou nenhum; infinitamente flexível.
— <Energia é força universal, o princípio da formação, do progresso.(A flexibidadc
pro porc io na aquilo q ue flui bel am ent e.) O hom em en ér gico, um mun do de mun do s
cm seu interi or — >” .

209) A tradução emprega a palavra italiana satanisci (diabretes) para verter Satanisken
(forma germanizada também usada por Ticck), assim como amorini (do italiano
amoríno: criança, pintada ou esculpida, que representa o deus do Amor) para verter
Amorinen . En miniature está em francês no ori ginal. Sobre o satanismo como invenção
alemã. cf. PhL, II, 1052, p. 116: “O ncgócio de Satã c desencaminhar, aniquilar
interiormente, esp alhar pecado. Satã [é] , por instinto, pura intenção. Satanismo < uma
invenção alemã> , um conceito da estética grotesca, só verdadeiramente desen volvido
na Alemanha”.

210) PhL, III, 378, p. 154: “O físi co tem de lidar com a n atureza, o ma temático com o
universo. A físi ca é uma arte — nela, chiste e crenç a igualm ente bastan te dominantes.
— <Nad a mais dep lo ráve l qu e um físico se m ch istc.> Toda física qu e nã o visa a
astrologia é ninharia . Na verdade , o esp inosisino da físi ca significa somente a afinidade
dela com a poesia. O método do físico tem de se r histórico — se u fim último, mitologia.
— ” PhL. III. 379, p. 155: “A suprema exp osiç ão da física se torna necessa riamente
um romance. Idéias da mitologia', os fragmentos [Bruchstücke] da história da natureza.
Mas isso já e mitologia”.

211) FPL, V, 1162, p. 180: "Sem conhecer novelas, não se pode entender, na forma, as

202
peças de Shake sp ea re —” , As conversas de emigrados alemães (Unrerhaltungen
deutscher Ausgewanderler) foram escritas por Goethe em 1795.

212) PliL, II, 608, p. 80 : “Bacon cra quase um pré-Leibniz, assim com o D escartes um pré-
Espinosa — PliL, 11, 609, p. 80: “Há um a mística + críti ca — como o po nlo de Fichtc.

0 era verossimilmente
Todo filósofo tem, precisa ter um tal ponto. Em Espinosa,
m ístic a + éiica + lóg ica, poi s Espinosa é uma natuivza extremamente ética. Um filósofo
0
progre ssiv o pode te r mais do que um tal ponto , sucessiv os. Em F ic htc , ta lv ez
mística + skensis. •-
0
Todo filósofo tem outros pontos instigantes [reninlajl er.de Piinkle ] , que não raro
o limitam realmente, cm que se acomoda ctc. — Assim [é] Descar tes para E spino sa,
Kant para Fichtc etc. É em tais pontos que ficam enlão, no sistema, as passagens
obscuras". PliL, II, 61 1, p. 80: "Lockc o pré-Rou sscau, M ontaignc o pré-Voltairc —
”. PhL, II, 891, p. 103: “Fichtc não está para Kant, assim como Espinosa para

Dcscaites? —" PhL transformados,


mitos, freqüentemente , III, 94, p. 130: “Os problemas
da poesia antiga —”.da filosofia moderna são os

213) PhL, II, 624, p. 81- 2: "O hom em trivial julga todos os outros homens c om o homens,
porém os trata c om o coisa s e não co m preende que os ou tro s homen s s ão co mo ele. A
necessidade da polcinica deve ser deduzida principalmente de que um não pode ser
tudo. S e um dev e ser ist o, o outro, aquilo, então já surge, de si mesm o, o conflito, a
fim de que tudo o que deva ser por si se conserve cm sua clássica diferença c no
rigorismo que lhe é necessário, e s e preserve cm seus direitos em re lação ao ou tro” .

214) PhL, II. 645, p. 83: “A filosofia alemã também leria podido se tornar crítica sem
Kanr, mas assim é certamente melhor. <Geralmcntc se considera a filosofia crítica

com o se tend
po ética tivesse
ia, caído
muitodoancéu Kant, PhL,
tes de—>". para II, 654, p. 84:
a filosofia "A poesia
crítica, alem
c igua lm en ãte—a afilosofia-
crítica
de-ari e alem ã —".

215) Phl., 11,634, p. 82 : “ Nada é absolutam ente transcendente; tudo tem su a esfera. Aquilo
que seria absolutamente transcendente, não pode existir — Phl., II, 636. p. 82:
“Transcendente é apenas quando alguém ultrapassa seu fim, suplanta suas forças; o
homem m t ’ £^ ox nv nü o pod e sê-l o. Seri a inj úria pensá- lo —",

216) Em K: "arabescos”. PhL, II, 884, p. 103: “Moral c direito natural [são] formas
transcend entais para matéria abstrat a, ou ontologia, cosmo logia c psicolo gia, formas
abstratas para matéria tr anscende ntal — arabescos e grotescos da filosofia”. PhL,
II, 886, p. 103: “Teologia é um conceito contraditório — não há cicncia de Deus.
— A leol ogia é um trai am ento ira nsccn de nlal c abs trat o da m até ri a da filoso fia
absolut a. Port anto, também grotescos — chave da abóboda do sistema dos grotes cos
fil osófi cos — ”.

217) Em K : “desorganização lógica".

218) FPL. V, 1082, p . 174: “A filosofia do bom senso (um g rotesc o), aplic ad a à poesia sem

203
sentido para a poesia, dá a crítica inglesa. —> <Uma transposição de filosofia-de-
arte e filosofia-de-natur ezu>". Os autores citados no texto, James H arris (1709- 1780),
Hcnry H ome (1796-17 82) e Samuel Johnson (1 709 -1784), são críticos e ensaístas. A
condenaç ão da crít ica ingle sa, que ocorre t ambém na Conversa sobre a poesia (trad.
cit., p . 34), se deve em grand e parte à diferença de aprecia ção da ob ra de Shakespeare,
em quem Friedri ch vê “o clássico da geniali dade, isto é, aquele au tor cm que se pode
construir esse conceito... Genialidade consiste na artificialidade involuntária c nn
naturalidade voluntária —", (FPL, V, 1223, p. 186). Além de L 121, pode-se ler
também a referência a S . Johnson em FPL, V, 165, p. 98: “Shakespeare, diz Johnson,
escrevia without rules. — Quem então jamais escreveu com rtilesT’

219) Em alemão õkonomen, assim traduzido para preservar a raiz que aparecerá também
no adjetivo “cconômico". A palavra foi anteriormente ( A 150) vertida por
“administrador”.

220) FPL, IV (I I), 82, p. 68: “L ír significa satisfazer o impu lso filológico. N ão se pode ler
po r pura filos ofia sem filologia. Também dificilm ent e por pu ro sentimento e impulso
artísticos”. FPL, IV (II), 80, p. 68: “ L er significa afetar, limitar, determinar
fil ologicamente a si mesmo. M as isso t ambém é possível sem ler — ", FPL, IV (II),
83, p. 82 : “<S ó se lê por tédio ou por filologia. — Distinção entre ler e ler alguma
coisa>”. Plil., IV, 1229, p. 297: “ Letra é esp írito fixado . Ler significa liberta r o espírito
estabil izado, porta nto uma ação mágica”. Sobre a fi lologia, cf. ab aixo /l 4 04 .0 pap el
da leitura no romantismo, estudada em particular no caso de Novalis, é o temu do
ensaio “For que estudamos?", de Rubens Rodrigues Torres Filho (in: Revista cia
USP.n. 10, jun/jul/ago. de 1991, pp. 189-190).

221) FPL. V, 988, p. 167: “Num a massa tudo tem de se r sublinhado, com o no fragmento,
mas não naquilo que é rapsódico” .

222) Misticismo, ccticismo e empirismo são temas das primeiras reflexões filosóficas de
Schlegel, ligadas ao estudo da doutrina-da-ciência. PhL, I, 9, p. 4: “O místico põe
somente um a contradição, admitindo espontaneamente que seja uma; o einpirista
[põej uma porção indeterminada e o cético uma porção infinita, uma totalidade de
contradições. — Portanto, entre todos os desvarios, o misticismo é o mais módico e
ba rato. — A es sê nc ia e início d o c eticismo é pfir u m a po rção infinita de co ntradiçõ es ,
o que só pode ser inteiramente arbitrário —". PhL, I, 13, p. 5: “O místico é mais
livr e que o cétic o e o empirist a; ele engendra sua con tradição; aqueles deixam que
ela lhe seja dada — aquilo é contradição h terceira potência — uma contradição
po sitiva . — O empirista constr ói sobre o vazio , sobre contradições negativas. — O
misticismo [é] também o mais sóbrio e sólido de todos os delírios, assim como o
mais módico — PliL, 1, 32, p. 7: “ Quan do se po stula ciênc ia e se busca som ente a

condição de sua
conse quente possibilidade,
e única se cai nodomisticismo
sol ução possível problema c, desse ponto éde—vista,
[Auf^abe] pôr aummais
eu ab so luto
— , co m iss o estão ao mosino tempo da do s a fo rm a e o co nteúd o da do utrina -da-
cicncia absoluta —

223) Sobre a exigência incondicional de comunicabilidade, cf. L 108. O restante do


fragmento não consta da edição K.

204
224) Cf. acima nota 222.

225) FPL, IV, 992, p. 168: “Na verdade, crítica nada mais é que com paração entre espírito
c letr a de uma obra, que é tratada c omo infi nito , como absoluto c como indivíduo. —
Criticar significa entender um autor melhor do que ele próprio se entendeu”. Cf.
PliL, II, 434, p. 63: "Para entender alguém é preciso, primeiro, ser mais esperto
[klug] do que ele, depois tão esperto e tão tolo quanto ele. Não é suficiente que se
entenda o verdadei ro sentido de uma obra confusa m elhor do que o próprio autor a
entendeu. É preciso também con hecer a própria confusão até os princípios, é preciso
po der caracterizá-la e até construí-la. <Idéia de uma caracteri zação pu ra e aplicada>".
PliL, 11, 651, p. 84: "Ninguém entende a si mes mo, enquanto é apenas ele mesmo e
não ao mesmo tempo também um outro. For exemplo, quem é ao mesmo tempo
filólogo e filósofo, entende su a filosofia por meio de sua filologia e sua filologia por
meio de sua filosofia — PhL, II, 997, p. 112: “Um filósofo entende um outro tão
po uc o quan to e ta lv ez até menos que um poeta o outro . So mente o cr ítico histór ico
entende a ambos. Sem crítica absol uta, porém, o historia dor não é nada” .

226) Cf. acima fragmento A 393.


227) Sobre a “resenha”, cf. A 44 e 439.

228) Correspondendo à imp ortânci a estratégica da filologia em seu “ sistema”. Fricdr ich
dela se ocupou cm duas séries de reflexões publicadas nos Fragm entos sobre poesia
e literatura, nas quais se podem identificar passagens retomadas neste fragmento:
FPI., IV (I), 14, p. 36; 61, p. 40; 1 27,1 28, p .45 ; 14 0,p .46; 153, p .47; IV (I I) ,75. C f.
também acima A 391 (nota 220).

229) Phl., II, 351, p. 54: “Teoria (característica) da divindad e com v ariações —

230) PliL, III, 4, p. 123: “Sempre é importante distin guir fantasmas m atemático s e ideais.
Ideais são atingíveis, pois repousam, todos, cm síntese e contradição, oscilação,
flutuação. Sem dúvida, sempre se pode sintetizar de novo; permanecem, porém,
scmpie atingíveis— ”. Phl., III, 112, p. 131: “Ge ralm ente se con cebe m ideais apenas
de mo do matcmático-niecãnico: também com Ireqiiênci a de modo quím ico-mecânico,
agora aqui e ali de modo químico, mas ai nda rar amente de modo orgâ nico— ” Sobra
a última frase, onde se faz re ferência a Schd ling , (“um a físic a da filosofia”) cf . acima
A 304 (nota 175).

231) Sobre o “paradoxo” da moralidade, cf. / 76. Sobre a Igreja invisível, cf. L 35 (nota 20).

232) Oposto ao “objetivo”, que é o caráter fundamental da poesia antiga, o “interessante”


é o ideal da poesia inodci na. com o explica Schlegcl no Estudo da poesia grega : “F.la
[a poesi a m oderna] jam ais tem pretensão à objetividade, o que, no entanto, é a prime ira
cond ição do valor estético puro e incondiciona do, e o id eal dela é o interessante, isto
é, força estética subjetiva” (KA, II, 208).

233) W illiam Lovcll é a personage m principal do romance, em três volumes, A histó ria do
senh or Willi am Loveil ( 1795-96), assi m como Frnnz Stcrnbald, cit ado abaixo, o é em
/U pereg rina çõ es de Sie m bald , ambos os romances de autoria dc Johann I.udwig
205
Ticck. 0 “M onge", citado a seguir , é a personagem-título das Efusões de um monge
am aine ilas artes, escritas cm 1797 pelo am igo dc Ticck, Wilhelm W ackcnroder .

234) Ao lado do grotesco, o arabesco constitui, para Schlcgcl, um dos elementos


fundamentais da fantasia moderna. Na Carta sobre o romance, Antônio afirma que o
Ja cq ue s. o Fatalista dc Didcrot é sem exagero unia “obra de arte”, c comenta:
“Certamente, não é alt a poesia mas apena s um — arabesco. Mas justame nte p or is so
não tem menos merecimento a meus olhos; pois consider o o arabesco uma forma ou
maneira de exteriorização inteiramente determinada c essencial da poesia” (In: KA,
II, p. 331; trad. cit., p. 63). PhL, II, 978, p. III: “Sistema da filo so fia caótic a. Um
arabesco transcendental'.

235) FPL, V, 526, p. 128: “Em muitos romances (como no Lovcll), [há] um homem cm
segund o plano que jog a xadrez com todos os outros, e é t ão grande cm es pírito que
não entra pela porta —" FI.P, V, 527. p. 128: “O único caráter cm Lovcll é ele
mesmo, um hom em sem car áte r. — Sentime nto dominante no L ove ll — aversão à
vida c medo da morte; pensament o dominante — tudo e despr ezível c tudo é a
mesma coisa. — Seu caráter, no entanto, é poesia da poesia. — Espírito do livr o,
desprezo incondicionado da prosa c auto-aniquilainento da poesia. —
Transitoriedade de todo jogo , sentime ntos e imagens poéticos. Se permanece ssem,
tanto pi or: desaf inari am com a vida — ” ,

236) A respeito dos últimos fragmentos e do pro blem a da “serieda de'’ , diz Fricdricli numa
carta a August (6 de março de 1798): “P enso ainda em en cerrar a massa no n úme ro I
[do Athen iiitm ] com surpreendente seriedade; com alguns [fragmentos] não muito
longos, mas bem grande s: — sobre o entusi asmo c geniali dade, onde F ichte d eve ser
elevado ao céu — sobre a grandeza — sobre a sagrada seriedade” (KA, p. 245, nota).

237) PhL, IV, 576. p. 241: “O caráter de Kousscau, uma mescla de infantilidade e
feminil idade. Não um herói , como cie mesm o freqüentemente sonhava, mas também
nenhum misérable. Mais comum e mais singular do que o sabia; po is sua singular idade
não está ali onde a busca. — Aventureiro apenas num reino de falsas tendências do
idealismo— ".PhL, II, 1041, p. 115: “A doutrina-da-feminil idade [Weibliclikeitslehre],
uma parte int egrante da estéti ca grotesca” .

238) Sobre Jean Paul (Friedrich Richter), criador da personagem Leibgeber do romance
Siebenküs (ambos citados mais abaixo), cf. A 125 (nota 76).

239) “Boa tirada": a expressão aparece na forma germ anizada Bon mot.

240) Louvei de Couvrait, autor de Les um ours du ch ev alier de Fa itb las, romance citado
também em Z.41.
241) Wie ein aiifyeklãrter Kandidat. Aqui, “candidato" é alguém prest es a fazer os exames
finais na universidade. Em FPL, V, 826, p. I55, fica mais claro de que candida to se
trata: “Richter nos descreve Maria como uma mulher de chantre sentimental, mas
Cristo como um candidato de teologia —

242) PhL, II, I 06 I, p. 11 6: "Descartes e Mnlebranclie dc modo algum são franceses — tão

206
pou co quan lo Esp inosa pe rtence a um a na ção. — Foi Richclicu qu em pro priam en te
fez a França —

243) PhL, 11, 380, p. 57: “A Revolução [ é] o arabesc o tr ágico da época — Sob re a
Revolução Francesa, cf. A 2 16.

244) A Noi va de Co rin to, balada de Goethe escrita em 1797.

245) PhL, 719, p. 89: “ Há re al idade que n ão sc pode tratar melhor do q ue quando é tratada
como poesia. Inimizade, a chamada infelicidade, desequilíbrio. Existe muitíssimo
dessa poesia no mundo. Todos os termos intermediários [Mitteldinge] entre homem
e coisas são poesia. Teórica e artisticamente, o homem tem de poder se afinar a seu
bel-p raze r."

246) Sobrc a ironia e urbanidade, L 42 e 108.

247) Sobre o tom e estil o cm relaç ão ao Geist, cf. FPL, V, 443, p. 122: “O espirito de unia
obra é semp re algo indeterminado, portant o incondicionado. — Espírito é a unidade e
totalidade determinada de uma maioria indeterminada de singularidades
incondicionadas. — To m é a unidade indeterminada das cspecificidades
[ F-inentii mlichkeiten]. Forma é uma totalidade de limit es absolutos. — Matéria [Stoff
é um a parte da realidade absolut a. — Escritos cl ássi cos, com o tais, não têm tom. mas
apenas estilo". FPL, V, 447, p. 122: “Forma e estilo são intencionais, mas não espírito,
tom e tendência — ",

248) Na Conversa sobre a poesia, a primeira posição — a poesia deve ser dividida em
gêner os — 6 defendida por Marcus , Lotár io e Ludovico, a segund a — a poesia é una
e indivisível — , por Aindli a. Ludo vico, explicitando o ino do de agir de um poeta cm
geral, afirma que este, “por força de sua própria at ividade e me diante ela m esma, tem
necessaria mente de se limitare dividir [sich beschränk en u nd teilen muß]" ( KA , 11, p.
305; trad. cit„ p. 47) . Assim. no prop rio alo de criar se dá um a cisão (Teilung) que é
a srcem da divisã o (Einteilung) dos gêneros. Am ália, ao con trário, diz: “Po r qu e de
novo apenas espécies e meios? — Porq ue não poesia intei ra c indivisí vel [unteilbare]...
Nosso am igo [referindo- se a M arcu s)... tem se mpre de se para r e div id ir [sondern
und teilen] onde, no entanto, somente o todo como força indivisa pode atuar c
satisfazer” (ibid., p. 3 10; tra d. cit„ p. 49). É claio que, tanto no fragm ento quan to na
Conversa, se pensa a ação da refl exão como u ma oscilação, um “alternai” (wechseln),
entre uma coisa e outra. Sobre essa “alternância”, cf. a apresentação a este volume.

249) Schlegel est á pensando num a “revolução copcmicana" da poesia? C omo esta poderá
se tornar uma ciência, uma arte? Seria então possível “construir a priori poemas
futuros?” (Conversa sobre a poesia, KA II, p. 350; trad. cit., p. 79.)

250) Fiirstenspiegei. livr os para inst rução dos governantes, segun do o modelo do Príncipe
de M achiave l. Na Alemanha, Wieland escr eveu um a novela no gênero, intit ulada O
espelho doura do on o s reis da Silésia, em 1772.

251) F.n rapport (em ligação): em francês no srcinal .

207
252) In usam de iphini (para uso do delfim): palavras inscritas nas edições de clássicos
latinos que Luis XIV m andava imprimir para uso de seu filh o, nas quais se eliminavam
as passagens mais "picantes”. Em latim no srcinal.

253) Hum an io ra (humanidades, estudos clássicos): ein latim no srcinal.

254) Visum rcpcrlum (uma perspectiva descoberta): cm latim no srcinal.

255) FPL, V, 629, p . 183: “A caracterizaç ão é um gê nero próprio, específico, difere ntel
cuja totali dade não é hist órica, mas CRÍTICA. — <Um a obra de arte crítica — >".
FPL, V, 676, p. 142: “Na caracteriza ção se unificam poe sia, história, filosofia, críti ca
hermenêutica, crítica filológica. — <Panorama, uma soma de características.
Paralelos, um grupo crít ico. Da junç ão de ambos nasce o delectus classicorum [seleção
de clássicos] —>”. PliL, II, 486, p. 99: “Caracteri zação 6 a obra d a crítica. Delectus
classicorum, o único sistema crític. —",

256) PliL, 11,971, p. 110: "As deduções cst3o propriamente em casa na filosofia s istemática .
São com o se apresenta a pr ova ge ne aló gi ca da genuína descendência de um teorema
a partir da intuição intelectual, de um problema a partir do imperativo categórico.
Construção e caracterização fazem parte da filosofia absoluta. A demonstração, da
filosofia transcendental —”.

257) FPL, V, 1130, p. 178: “Toda música pura lêm de se r fil osófi ca e i nstr umental (música
para pe nsar) — ".

258) FPL, V, 1114, p. 177: “Ainda não há, rigorosamente, um autor moral (assim como
Gocthc £ poeta, F ichte, filósofo) — (para isso se teria de sintetizar Jacobi, Forster e
Miiller). Schillerc um filósofo poético, mas não poeta filosófico. M iiller è ético do
com eço ao fi m. — <Moritz era inteiramente mitólogo tam bém na psicologia e históri a
— um filósofo-de -naturez a. Fred erico, o Grande , tinh a pr ed ispo sição para um bo m
escrito r moral. — Kant é o mitólogo da filosofia-de-ar lo grotesca. La vater, também
um mitólogo da filosofia:»”. Sobre MUI ler, cf. A 171; sobre Georg Forstcr, Schlegel
escreveu um Fragmento de uma característica dos clássicos alemães, publicado no
número I, volume I, do Lyceunr, e sobre Jacobi escr eveu uma resenha ao romance
Woldemar (cf. A 96, nota 55).

259) Sobre a possibilidade de aproveitar poeticamente Espinosa, diz o Discurso sobre a


mitologia: “ Em Espinosa, porém , vocês encontra m o princípio e o fim de toda fantasia,
o fundamento universal, o solo sobre o qual repousa aquilo que lhes é individual, e
ju st am ente ess a sepa raçã o do orig inário , do eter no da fantasia, em relação a tudo
aquilü que 6 individual c particular, lhes tem dc ser bem-vinda. Aprov eitem a ocasião
e olhem! Vocês poderão ter uma visão profunda da mais íntima oficina da poesia”
(KA, II, p. 316; trad. cit., p. 54).

260) PhL, II, 637, pp. 82-3: “Formação [llildung] 6 síntese antitética, c perfeição e aca
ba m ento até a ironia. — Num ho m em qu e alca nço u certa a ltura e univ er salidad e da
formação, seu inlerio ré uma cadeia ininterrupt a das mais terr íveis revoluções — ",

208
Id éi as
1) Publicadas na revista Athen iium, número III, volume I (Berlim, 1800). Assinaladas nas
notas com a letra //, as variantes mais importantes são de uma cópia do manuscrito
feita por Dorothca Selilegel, na margem da qual August Wilhclm propõe algumas
alterações. Sobre o tí tulo, convém lem bra ra diferença entre idéias c fragm ento s. Numa
das cartas cm que relata estar escrevendo uma nova leva de pensamentos p ara a revi sta,
Fricdrich escreve ao irmão: “NSo silo propriamente fragmentos, pelo menos não na
maneira antiga” . K pouco m ais tar de, ao lhe env iar o manuscrito: “Aqui estão as Idéias,
pois é as sim que, co m mais propried ad e, as qu ero den om in ar” (A pu d KA, II, p.
LXXX1II). Friedrich também dá uma definição de idéia na Idéia de número 10.

2) Em alemão: ein Geistlicher, que po de ser um sacerdote, pastor ou padre (os tradutores
franceses sugerem “clérigo” ). A palavra é cogna ta do substantivo Geist (espírito).

3) Em H, no lugar de “o único infinitamente pleno”: “o único querer infinito”.

4) Em H, “o orador da Religião" (Redner der R eligi on) aparece cm lugar de “o autor dos
D iscu rsos sobre a religião". A referência é Friedrich Schlciermacher, que publicou
uma obra c om esse título cm 1799. A propósito desta, Schlegel diz num a caria a ele de
20 de setembro de 1797: “Aquilo que, nas 'Idéias', parece estar em referência mais
direta aos seus ‘Discursos’ do que o restant e, não é propriamente nem para você nem
contra você; mas apenas... propiciado por você [aus Gelegenheit Deitier], As ‘Idéias’
todas se afastam certamente de você ou, antes, de seus ‘Discursos’; tendem para outro
lado dos ‘Discursos’. Já que você pende fortemente para um lado, me coloquei do
outro e. ao que parece, me juntei, por assim dizer, a I Iardcnbcrg” . (Sobre essa última
afirmaçã o, sobre as diferenças entre Schlegel c Novalis e m m atéria d e religião, vejani
se as Anotações rleste no final do volume.)

5) Em lugar de “divinos" (g/fitlich), em II: “semelhantes a Deus” (gottillwlich).

6) H: “em geral ” .

7) H: “cingir”.

8) PhL, IV. 1475, p. 315: “T er gênio, se r um dainwn, é o estado nnt ural do homem. Mas ele
teve de sair robusto da mão da natureza; na época de ouro todos tinham gênio — que
ele se tenha perdido é explicável pelo princípio srcinal da corrupção; que não tenha
desaparecido completamente, pela condição humana [Mensclilichkeit]. <Fantasia sobre
a época de outro, visões sobre o mundo dos espíritcs>”.

9) O nexo entre chiste c fantasia também aparece cm L 34 e I 109 e será retomado na


Conversa sobre a poesi a: “ A fantasia luta com todas as forças pa ra se exteriorizar, mas
o divino só se comu nica e exterioriza indiretamente na esfera da natureza. E is por qu e,
do que era srcinalmente fantasia, só resta no mundo dos fenômenos aquilo que
chamam os chiste” (KA, II, p. 334; trad. cit., ligeiramente modificada, p. 66). FP!., IX,
122, p. 263 : “Entendimento e arbítrio têm de ser caotizados na poesi a justam ente porqu e
são os agen tes da fil osofia. Chiste, porém, é tão inseparável da fantasia e tem sua pátria
inteira na poesia —" PhL, IV, 1456, p. 314: “Chiste é pha ntas ia ph en om en on ".
209
10) Conform e observam L acouc-Labarthe e J.-L. Naii cy, a única palavra que apare ce grifada
nas Id éia s 6 o primeiro dos lermos que compõem Eidgenossen (literalmente
“companheiros dc ju ram ento ”, termo que também dá, por combinação, srcem ao
vocábulo francês Uuguenot). Em H, a palavra n3o está grifada (variante seguida em
KA).

11) FPL,
p o esiaIX,—298, p. 278: “O único reconhecimento válido do sacerdote é que fale

12) PliL, IV, 1075 , p. 286: “Em vez de virtudes — um a virtude. Em vez de preceitos,
máximas, deveres — um ideal. — Há apenas um dever, o de se formar [siclt zu
bilden], — Forma ção [Bildung] é o sumo bem para esta e para a outra vida. — D ev er
oscila cnlr e destinação, vocação c formação”.

13) N a revista Allieniiitm , ve rd am men d (condenando), versão corrigida cm errat a.

14) Sobre o “ mediador” no valian o./l 234 (nota 127).

15) Não <5dem ais lem brar que, cm sua clim olo gia, religio 6 termo cognato do verbo religare
(ligar).

16) O fragm ento contém um jog o dc palavras intraduzível: o espírito ( Geist ) tem de tornar
a usar sua varinha mágica (Txmber + Stab). que não é outra senão a leira (Buch +
Stab, literalmente: varinha, bastão do livro). PliL, IV, 846, p. 265: “<A letra é a
verdadeira varinha mágica>". No número 191 dos Fragmentos ou tarefas de
pen sa m ento . Novalis diz: “Todo contacto espiritual compara-se ao toque dc uma
varinha mágica" (trad. cit., p. 164. Cf. também Fragmentos I e II, 189, p. 159).

17) Em H não consta a vírgula cnlre "agilidade” e “do caos”. Sobre a ironia c clareza de
consciência, PliL, IV, 411 , p. 228: "Ironia é claro caos ein atividade, intu ição intelectual
de um caos eterno, de um caos infinitamente pleno, genial, eternamente cíclico. —
<Ainor talvez o caos antes da ironia. — Onipotência de forças modorrentas num
jo vein >” . Veja-se também L 37 (no ta 21).

18) Para uma crítica d a estética, L 40 (n ota 25).

19) Em //: “antes que nos tornásse mos um”.

20) Em H, as duas últimas frases (“Se o... ” c "O infinito... ”) eslão cm ordem inversa.

21) As duas frases aparecem, ligeiramente modificadas, cm PliL, IV, 643, p. 246. Sobre o
final, PliL, IV, 644, p. 246: “ Arte c ciência são mediadores. Religião, moral, poesia,
filosofia dc modo algum podem ser diretamente aplicadas a política c economia.
Woldemar é uma exposição baslante impura do amor puro. iacobi, mais moral que
reli gioso — ".

22) Em H, em lugar de “incita” ( anregt), aparece “excita” ( erregt ).

23) Em H: ‘‘moral [Wilhelm assin ala “virtude“] da b eleza".

210
24) O fragmento 87 não consta em II.

25) H: “singular (individual)”. O novo evangelho e anunciado por Lessing no parágrafo


86 da Educação do gênero Inim/ino: "Hla certamente chegará, a época de um novo
evangelho eterno, que nos é prometida mesmo nos li vros el ementares da Nova Aliança”
(cd. cil., vol. III, p. 561).

26) Em H se propõe a tradução de Bíblia para livros.

27) H: “ela”.

28) FPL, IX, 605, p. 304: “Aquilo que é distintivo na form a da poesia reside na idéia de
que todos os poem as devem ser um poema. Essa idéia, poré m, só se deixa compreen der
a partir <la referência da poesia à religião”.

29) Frnnz Xav er Baader ( 1765 -184 1). filó sofo naturalista e místi co, autor das Contribuições
á fisiologia elementar (1797), também foi lido por Schclling e Novalis.

30) PltL, III, 493, p. 164: “O poeta tem muitas boas idéias combinatórias, visões
transcendentais da natureza, c melhores que as do filósofo. —”

31) Em H se propõe a correção intellektual (em vez de intellectuell), grafia usada por
Schelling que. como lembra Rubens Rodrigues Torres Filho, remete ao amor
intelleciiiíilis Dei de Espinosa. Fricdrich oscila entre essa grafia (/I 76, 342,448) c a
outra (A 443).

32) Segundo Kichard Samuel (III, p. 1011), trata-se de uma referência ao conceito de
sagrada m elancol ia (lieilige Wehmitt), que aparece no Quinto discurso sobre a religi ão,
de Schleieriiiacher.

33) Referência às acusações de ateísmo contra Fichtc devido a um aitigo publicado no


Jorn aI filo só fico, cujo título era Sobre o funda m ento d e nossa crença numa ordem
divina do mundo. A querela do ateísmo (Atheismusstreit) levou Fichte a deixar a
universidade deJenaeni 1799.

34) A referência de Friedrich são os fragme ntos de Novalis, intitulados Fé e amor, ou o rei
e a rainha. Hardenberg responde nas Anotações às Id éias (traduzidas no final deste
volume) dizendo: “Seguirei essas palavras, caro amigo”.

35) Em H, o número 107 de Idéia s diz: “Quase ninguém ouvirá a musa solitária daquele
que pe nsa apenas na harm onia e fala da pura luz da human idade eternam ente hela. Se
já tiv essem sentido form ado para relig ião c moral, e ntão também teriam sentido para
aquilo que é ambas as coisas ao mcsino tempo no limite da filosofia para a poesia”.

36) H: "poesia e filosofia”.

37) //: “ o orador d a Religião" . Cf. acima / 8 (not a 4).

38) PltL, IV, 1322, p. 304: "A representaç ão da filosofia que cabe nes ta época é a de um a
elipse com dois centros , um ideal, da razão, outro real, do universo”.

211
39) Em H o texto continua assim: “Vocês justam ente não devem mc entend er [versiehen],
mas desejo muito que possam mc ouv ir [vernehmen]".

40) Três foram as gerações dos Décios que se devotaram aos deuses infernais a fim do
obte r vitórias para as forças romanas.

4 1) H: em lugar de Wodan, Odin.

42) PliL, IV, 1527, p. 319: “O cristianismo, mais uma religião da morte, opõe vida o
religião — A rel igião da m orte deve cessar e com eçar a da vida. — Não é a m orte, mas
o mundo, que 6 o oposto da vida —".

43) O alemão contém um redobro que se per de cm português: só o homem espiritual ( de r


Geisilicltc ) tem espírito ( Geisi ). Cf. / 2 (no ta 2).

44) Retomada da diferença entre “gênio” e “lalento", estabelecida em A 119.

45) Em alemão: grofie Welt, que si gnifica l iter almente “ grande mundo” .

46) Em H: “de toda a humanidade".

47) Em H, as Id éias 152 e 153 estão em ordem inversa.

212
APÊNDICES

Crítica dos fragmentos em fragmentos'


Novalis
Crítica dos fragmentos Athenäum'
Volume 2

[3] 3 .3 A expressão é condenável.

[41 3 .4 Não entendo, também não é fragmento.

[15] 5 .4 N o n li q u e t.

[17] 6 .5 Confuso.

[22] 8 .2 M ístico arb itrário ee sp ec ífi co e, porta nto , ininteli -


gível.

[27] 10.2 N ão é fra gmen to — completamente ininteligível.

[44] 13.4 Ininteligível.

[51] 14.4 o pri meir o p eríodo ininteligível.

[52] 15.2 não é bastante pessoal — por isso, I[n]I[nteIi gível].

[69] 18.5 N e s c io .

[74] 19.4 Não é fragmento, seco. Ininteligível.

[75] 19.5 Esmerado — mas fi ngido.


215
[76] 20 .2 Não ente ndo bem e é escolástico dem ais.

[80] 20 .6 N ão é bem o con c[ci(o] d[e] prof eta .

[8 2 1 2 1 .2 Confuso e em pormenor ininteligível.

[83] 22 .2 esco lástico dem ais e I[n]I[nteligível].

[89] 23.3 N on li q u e t.

[91] 23.5 N e s c io .

[100] 25.3 Não é fra gmento — e I[n]I[ nteligí vel].

[102] 25.5 De onde você sabe isso ?

[113] 28.1 N ão é fragmento.

[116] 28 .4 For ça do demais específico — não-genéti co — ou


gerando — a últ ima frase supri m e todo o
antecedente.

[120] 31.2 N ão ente ndo.

[121 ] 31 .3 Um ta nto obscuro na metade.

[123] 33.2 N e scio .

[126] 34.2 N e scio.

[145] 38. 1 A morali dade de Homero eu não entendo.

[263] 73.3 fals o.

[266] 73 .6 I[n]I[nteligível].

216
[322] 90 .2 A m úsica de Kan t eu nã o entendo.

[339] 94.4 Belo — mas obs cur o.

[347] 102.2 I[n]I[nteligívcl],

[362] 107.2 M uit o bom, mas sonolento.

[364] 110 A crença mc despraz com o um trecho da Inês


d[os] Lírios'.

[365] 111 .2 N ão entendo .

[366] 111 .3 Nã o é bem um fr agment o ee [m ] pa|it e] «on //ç«er.

[37 7] 115 .1 O ce g o d[a] cor.

[385] 118. 3 N ão é fra gment o — e I[n]I[ntel igível],

[388 ] 1L 9.3 a nada , pa ra nad a. por nada — e m esm o falso .

[390] 120.2 N ão entendo — ou é confu so e não-v erda deir o.

[398] 122.5 Na da cer to.

[399] 122.6 Tam bém isso eu não ter ia admitido.

[404] 124.2 não entendo.

[411] 126.5 I[n|I|nteligível].


[414] 127.3 I[n]I[nteligível].

[420] 130.2 A nad a, e por nada — numa palav ra un rien.

[426 ] 134.3 não entendo bem.


217
[4 2 7 ] 1 3 5 .2 I[n]I[nteligível].

[4 3 2 ] 1 4 0 .3 não é bastante pessoal.

No todo I[n]I[nteligível],
[4 3 9 ] 1 4 3 .1
[44 0] 1 4 3 .2 I[n]I[nteligívelJ.

[44 5 ] 1 4 4 .3 N ã o p ercebo.

[447] 145.2

[4 4 8 ] 1 4 5 .3 Não entendo bem todos os 3.

[449] 145.4

218
Títulos dos fragmentos"
1.

A qu ilo sobre o qu al rar ame nt e se fil[oso fa].

2.

Téd io e ar emp esteado. um sím il e.

3.

O Kant negativo.

4.

Reprimenda pel a f alt a de subdivisões na poética com um exem plo.

5.

Símile da ch[amada] boa sociedade.

6.

U m a crít ica, com o contribuição à cr ítica da vida do mé stica do crít ico.

7.

Postulado e contrapostulado.

8.

Resposta aos encómiastas da literatura antiga, moderna.


221
9.

Infelicidade, se a poesia esperasse pela teoria.

10.
O que é dever pa ra Kan t — com um episódio.

11.

Mingau para a sociedade parisiense.

12 .

Amável livro privado. Uma passagem.

13.

Dançar e julgar a respeito são duas coisas distintas.

14.

A quem é permitido ser lúbrico?

15.

Do suicídio.

16.

No va descober ta so bre o Xstianismo5 .

17.

M otiv os pa ra a forma dramá tic a.

222
18 .

O cão preguiçoso diante do espeto.

19.

Meio seguro e comprovado de ser ininteligível.

20.

Valor e valores da atividade de esc rit or.

21.

Filosofia de Kant e uma carta forjada, um símile.

22.

Que é um projeto?

23.

D o imp ri mir — com um conso lo no fi nal .

24.

Fragmentos que se tornaram tais e fragmentos natos.

25 .

A inocência dos exeget as.

26.

Por qu e a german idade tem tanta força atraente para o s caracteiiz adores.

223
27.

Há poucos e xislentes.

28 .

Os desideratos mais importantes.

2 9.

Que são achados chistosos.

3 0.

O símbolo mais atraente da vontade boa.

31.

Falso pudor e seu ensejo.

32 .

Zombaria.

32. [34]

Ainda não há matrimônio, com perspectivas para tempos melhores.

33. [35]

O cínico , e o hipercínico, com o propri et ári os.

34. [36]

Rxige-se demais da poesia retórica ou cênica.

224
35. [37]

Pensa m entos que se ree nco ntr am.

36. [38]

Paciência e É ta t d ’Ê p ig r a m m e .
uma proporç ão.

37. [39]

Perfis de pensamentos.

38. [40]

Notas a um poema. Um símile.

39. [41]

Proposição disjuntiva sobre os intérpretes de Kant.

40. [42]
Bo ns dramas — em que ru br ic a da M a t é r i a m e d i c a 6 têm de estar?

41. [43]

A filosofia não deve caminhar em linha reta.

42. [44]

O que uma resen[ha] fil[osófica] ainda deve ser?

43. [45]

Novo ou não? Questão mais alta e mais baixa.

225
44. [46]

Que é um sistema para muitos?

45. [47]
Por que a fiI[osofia] d[os] kantianos se chama crítica?

46. [49]

As mulheres na nossa poesia.

47. [50]

Verdadeiro amor.

48. [51]

Ingenuidade.

49. [52]

Entusiasmo do tédio.

50.153|

Veneno e co n\ .x av en en o espiritual.

51. [54]

O que só sc pode vir a ser, não ser.

52. [55]

Classificações características.

226
53. [56J

Crítica da filos[ofia] como represália.

54. [57]

Também na atividade literária tudo não passa dc pura sorte.

55. [58]

Retrato, sem nome.

56. [59]

Queixa recíproca sobre tirania.

57. [60]

Liberdade e b eleza no singular e plu ral .

58. [61]

Epidem ia antika nti ana , uma enfermidade inglesa.


59. [62]

Pôr para imprimir e recuperação após parto. Uma proporção.

60. [63]

Falta de cu ltivo e caric atur a de si m esmo.

61. [64]

Moderantismo?

227
62. [65]

Apologetas ingênuos, antitéticos.

63. [66]
Fazer e julgar.

64. [67J

Pressuposiç ão dif eren te no fil óso fo e poeta — com uma exce ção.

65. [68]

Sintoma do genuíno amor artístico.

66. 169]

O que já não existe isoladamente, mas ainda existe no todo.

67. [70]

Sem juiz, não há acusador.

68. [71]

Anatomia e justa predileção. Um d it o 1 sobre 65.

69. [72]

Modo moderno de passar por alto.

70. [73]

Crescimento populacional e verdade. Uma semelhança.

228
71. [74]

Do verossímil.

72. [75]

Grotescos f ilosóficos — um desmas car amento .

73. [76]

Imperativo categórico da teoria.

74. [77]
D iálogo , car ta e mem órias, uma sé rie geométric a.

75. [78]

De onde em geral provém o não-entender?

76. [79]

Loucura e sandice, uma distinção feliz para muitos.

77. [80]

A qu ele que vê par a t rás. U m a pessoa conhecida.

78. [81]

Aq uilo qu e todos sabem e pa ra o qual, no entanto, t ão pou cos têm


sentido — com uma conseq üên cia i nter essa nte.
229
79. [82]

Demonstrações, deduções e definições — ou os titulares


fil[osóficosJ — com uma af irmação sobre o af ir ma r.

80. [85]

Uma outra a c l i o n e g a t i v a contra o c i - d e v a n t princípio de


contradição.

81. [84]

Fil[osofi a] e epopéi a. Um a semelhança.

82. [85]

Proposições fundamentais e instruções do conselho de guerra.

83. [86]

A que se refere a genuína benevolência?

84. [87]
O que vem em primeiro e o mais elevado no amor.

85. [88]

Sobre os senhores do não.

86. [89]

Sucedâneo da matemática moral.

230
87. [90]

O objeto da história.

88.[91J

Lóg ica — o que el a é e não 6.

89. [92]

Quanto antes a gramática retornar.

90. [93]
Que dout ri na põe fil[ osofia] e filologia em r a p p o r t.

91. [94]

Exegese absol[utamente] srcinal dos grandes filósofos.

92. [95]

O que a filosofia pode fazer provisoriamente para sempre e por


que o pode?

93. [96]

O sofista.

94. [97]

Insurreição e anarquia lógica.

95. [98]

Que é tu do que é filosófico?


231
96. [99]

Sobre a fil[osofia], como propriedade.

97. [100]

Aparênci a de aç |ões] e jog o de represe ntaç ões .

98. [101]

Onde algo nunca ou sempre acontece.

99. [102]

O que as mulheres têm e o que não têm.

100. [103]

A genu ína filosofia tem natur eza de fênix.

101. |104]

Kant ia nos s egundo o conc eito cósm ico, segundo o conceito escolar
e segun do um co nceito anti go.

102. [105]

A fil[osofia] de Schelling e o Prometeu de Ésquilo.

103. [106]

Onde a boa vontade é o valor de tudo, e onde é o valor de nada?


Ao leitor r est a a i nferência sobre sua pá tr ia segu nd o um provérbio
conhecido.

232
104. [107]

O primeiro postulado das harmonias dos evangelhos kantianos.

105. [108]
Aquilo que simultaneamente excita e deprime.

106. [109]

M acrom icrologia e crença do mestr e na aut ori dade.

107. [110]

Do gosto em coisas de segunda mão.

108. [111]

O romance didático.

109. [112]

Simpatia filosófica.

110.1113]

Class if ic ação — quid '?

111. [114]

Da definição da poesia.

112.[115]

Se o pagamento faz o poeta ou o aniquila.

233
113.[116]

Po esia universal progressi va.

114.[117]

Genuínas obras de arte têm de ser pessoais.

115. [118]

C onstituição republi cana do romance .

116. [119]

Sentido profundo da língua, com um exemplo.

117. |120]

Desdenhadores do chiste, ou matemáticos confusos.

118. [ 121]

A idéia e o ide al indivi dual, um sistema de fragmentos.

119. [122]

Bürger sobre livros mornos.

120. [ 123]

O que a poesia d eve ao s drama s?

121. [124]
Inconsequência de leit ores psicoló gico s de roman ce .

234
122. [125]

Nova cpoca da literatura, ou simpráxis universal.

122. [124]

Mimos romantizados.

123.[127]

O poeta recíproco e o gramático.

124. [128]

O que é o mais lastimável?

125. [129]

Lembrança de certos teóricos devido à bela mentira.

126.|130]

O que também há — 7 Com um exemp lo.

127.[131]

Quem precisa pouco do filósofo, e de quem o filósofo precisa


muito?

128. [132]

Eternos narcisos.

129. [133]

As mãos e os apetrechos, ou as mulheres e os homens.


235
130. [134]

A sucessão matriarcal dos naires.


Perspectiva de aprimoramento do gênero humano.

131. [135]

Os novos pedagogos, como fornecedores de matéria do drama


moderno.

132. [136]

Espíritos rígidos, ou a broca, como furador.

133. [137]

A ret óri ca mat eri al — a amiga sublime de R ousseau e Fichte.

134. [138]

Dramas proféticos.

135. [139]

O ponto de vista correto para o monstruoso da poesia.

136. [140]

Magnanimidade e amor ou o poeta dramático e lírico.

137.[141]
A grande violação, ou as tragédias francesas.

236
138. [142]

Hem sterhuis e Jacobi .

139.[143]

Pode-se obrigar alguém à crença filológica?

140. [144]

O ouro genial e a prata correta.

141. [145]
Moral como poeta, imoral como moralista.

142. [ 146]

Sátira e romance, uma semelhança.

143.|147]

Quem se esforça para realizar a antigüidade, e que c exigido para


isso?

144. [148]

A maior de todas as antíteses.

145. [149]

O inventor da doutrina material da antigüidade.

146. [150]

Sobre uma canonização histórica da antigüidade.

237
147. [151]

O que cad a qual encont ra nos antigos?

148. [152]

Cícero, o que foi, não foi e podia ser.

149. [153]

Popularidade e romantismo.

150. |154]

O O limpo da com édia e a t roç a românt ica .

151.[155]

Romanos, os místicos do despotismo.

152. [156]

Homero e Arquíl oco — em vínc ulo químico.

153.[157]

Ovídio e Eurípides. uma semelhança.

154. [158]

Marcial, enquanto Catulo.


155. [159]

O antigo antiquário na antigüidade moderna.

238
156. [160]

E os primeiros serão os últimos, um paradoxo filológico pessoal.

157. [161]
Per sonificação de u ma manei ra fil[ osó fica] — em Platã o e
Aristóteles.

158. [162]

M it ologia grega — o fun dament o de sua fo rmação — com um


acorde final fil[osófico].

159. [163]

A história dos primeiros césares romanos, como tema musical.

160. [164]

Instinto filosófico dos sofistas gregos.

161. [165]

Platão, como mostruário das prosas gregas.

162. [166]

O Suetônio crítico e o Tácito poético.

163.[167]

Formas de doença dos juízos artísticos.

239
164 . [ 168]

A filos ofia para o poeta.

165. [169]

A bem-aventurança dc demonstrar a p r í o r i.

166. [170]

Escrever romances e representar romances, ou as inglesas e


francesas.

167.[171]

Tolices exorbi tant es, com exem plos.

168. [172]

Quem sabe mais do que sabe que sabe.

169. [173]

O hieroglifista.

170. [174]

Música suave e pintura evanescente. uma síntese.

17 1. - 18 9.[1 75 - 19 3]

Das a r t e s p l á s t i c a s .

171.[175]

O observador de olhos fechados.

240
172 . [ 176]

Onde está o sétimo céu?

173. [177]

O artista da palavra, cm quadros.

174. [178]

O átrio alemão do templo de Rafael.

175. [179]
Consolo para o gosto holandês.

176. [180]

A pudicícia específica dos artistas gregos.

177.[181]

Pena que fosse flamengo.

178. [182]

Luxo verdadeiramente imperial. Um fragmento de liberalidade


inglesa para com Diderot.

179. [183]
O b i z a r r o Hogarth.

180. [184]

Colonos holandeses na Itália.


241
181 . [ 185]

O objeto c suas dimensões.

182. LI86]

Os chineses e os cimérios.

183. [187]

U m a n ti v e n e re u m .

184. [188]

Uma taberna e um copo de aguardente,


ou o caminho peculiar para o artista srcinal.

185.[189|

O E s s a i d e p e i n t u r e de Didcrot.

186. [190]

Fo rm ação antitética do arti st a.

187.[191]

Minia tur a escultura — seu fundamento.

188. [192]

O destino da a rte — um re v e n a n t.

189. [193]

Os artistas plásticos.

242
190. [194]

O numismata do gcnero humano, ou da ferrugem nobre.

191. [195]

Monumento a Condorcet.

192. [196]

Classificação dos autobi ógraf os.

193. [197]
Prova literária de que somos hiperbóreos.

194. [198]

Natureza e ideal, ou os inseparables.

195. [199]

Quem observou pri meir o asu blim idad e do ca rá te r naci onal inglês?

196.[200]

P a p i e r m â c h é dos escritos de Kant, com uma citação. Uma


suposição.

197.[201]

A verdade impudica, ou o verdadeiro Diderot, c sua observação.

198. [202]

A ave do ideal c o sal da estética.

243
199. [203]

Moritz. um ensaio à maneira de Moritz.

200.|204]

Onde falta a melhor alegria?

201.[205]

A c r í t i c a c m p e s s o a s . Um retrato.

202. [206]

O porco-espinho — um ide al .

203.[207]

A escala do livre-pensamento.

204. [208]

Alm as de pensamentos, uma alma de p ensamentos.

205. [2091

Uma questão em referência a uma língua pobre, prisioneira.

206. [210]

A M arselhesa — hom icida de seus ir mão s.


207.[211]

O que se tem e nã o se tem de faze r com a plebe — segun do a l ei


do direito e segundo a lei moral.

244
208. [212]

Dignidade para liberdade.

209. [213]

Gen uína arist ocraci a.


245
Anotações às Idéias
de Friedrich Schlegel (1799)8
[8.] (Não é o coração?)

[9,] (D e fato, ele abrang e com a vist a t oda a com po siçã o, na qua l
essa com paixão é apen as a no ta de uma voz .)

[10.] (Elas são pensamen tos na tu rai s — pensam entos nece ssários,
ídolos de mundos por nascer.)

[12.] **
(I lu st rar fazia parte da dou trina-da -dom esticaçã o-do-sen tido.)

[13.] (O a rti sta é comp letam ente irreligioso — po r isso pode


trabalhar na religião como em bronze. Pertence à Igreja de
Schleiermacher.)

11 4.] (Ela m e par ece ser mais completa e essencialm ente um h o r s


d ’o e u v r e .)

[15.] (De D eus nada sei — de deu ses quero f ala r e então a
proposição é verdadeira em cada religioso.)

[16.] (O religioso não pode absol utamente fo rma r — caso formar


seja ser ativo. Inativo até a paixão é o homem de disposição

espiritual.)
[18.] (De fato, a religião é um mar envolvente, onde cada
m ovim ento, em vez de uma o nda , produ z uma visão.)

[19.] (Agora estou conv encid o de que gênio, se não é confundido


com espírito, nada m ais é que espíri to es p ec ífic o e, port ant o,
uma limitação antinatural, uma paixão do espírito.)
249
[20. | (Não deveria ser o diletant e — Cultivando c o m seu sentido,
então é artista.)

[22.] (Quando você fala de religião, me parece em geral querer

dizer o entusiasmo,
aplicação.) de que a religião é somente uma
**
(Tu mba é muito pr opr ia ment e um co nceito religi oso - Só a
rel igi ão e seus con fessos jazem em tu mbas . A foguei ra faz
par te do rit o dos co nfe sso s do universo.)

[ 2 9 .] ( in t u i1-*)

[30.] (M as também sim ples até o aniquilam ento de to da quantidade


e qualidade.)

[46.] (Falta a moral, como o terceiro substrato mediador.)

[50.] ***(As causas da Revolução e sua essência própria, se é


efetiva, histór ica, genuína, todo contemp orâne o te rá de poder
encontrar em si mesmo.)

[51.] (Nã o sei por que sempre se fala de uma hum anidade isolada.
An ima is, plant as e pedra s, astr os c atmosferas não pertencem
também à humanida de e não é ela um mero feixe de nervos
em que se cruzam infinitos fios em diversas direções? Pode
ser com preendida se m a nat ureza — ? é então assim tã o
diferente das demais espécies naturais?)

[63.] (O pecad o não deveri a se r somen te o não-e ii do Xstianism o


— ou talvez mesm o ser posto apenas a n m h i l a n d o pelo
Xstianismo?)

[67.] (Entretanto apenas modificações diferentes.)

250
[91.] ** (Assim como você pensa, tem razão, de resto não há,
certamente, d iferença entre o nat ur al e o divin o e o hu man o.)

[95.] (Bíblia é um conceito genérico sob a classe dos livros.


Subsum e po r esp écies e indivíduos. As Bíblias são os hom ens
e deuses entre os livros. De certo modo, têm até parte no
surgi mento deles — e a ori gem de les é pur a e simp lesmen te
inexplicável. Por isso têm necessariamente de ser srcinais.
São amados e odiados, idola tra dos e desprezados c om o seres
part icul ares . Querer escrev er uma Bíblia — é u ma inclinação
pa ra a sandice, co m o todo ser humano diligen te a tem de ter
para ser completo.)

[96.] (Ativa inati vidade, genuíno quietismo é o idea lism o crít ico.
Você facilmente perc eber á qua nto a d[cutrina-da]-c[iência]
de Fichte nada mais é que o esquema de um ser artístico
interior. Realismo é a s te n ia — s e n ti m e n to — Ide al is mo —
estenia, visão ou f i c ç ã o . )

[106.] (Seguirei essas palavras, caro amigo.)

[126.] (Caroline Schlegel.)

[1 31 .| (Ao verd adei ro Deu s todos nós dever íamos ser s acrif icados,
mas não é terrível que a flor do mundo ainda seja
diariamente sacrificada a falsos ídolos ou mutilada para
honra deles?)

[151.] (Como já disse acima, para você religião é sensibilidade

espiritual e mundo espiritual dos corpos cm geral.)


A Júlio

Se há alguém que con vém e nasceu para apóstolo e m nossa época,


este é você. Você será o Paulo da nova religião que por toda parte
irr ompe — um dos prim eiros d a nova era — da era religio sa. C om
251
essa religião se inicia uma nova história mundial. Você entende
os m ist ério s da época — sobr e voc ê a revol ução efetuou o que
tinha de efetuar ou, antes, você é um membro invisível da
revo luçã o sagrada que sur giu na terra co m o um M ess ias no plu ral .
Um sentimento esplêndido me vivifica ao pensa r que é meu am igo
e qu e di rigiu a mim e ssas palavras mais íntimas. Sei que em muitas
coisas somos um e creio que o somos inteiramente, porque uma
única es perança, uma única nostalgia é no ssa vida e n ossa mor te .

25 2
Notas

1) O tít ulo n âo está nas obras de N ovalis. É no n úm ero 414 dos Fragm entos de Teplil z que
Nov alis faz referência it idéia de um “p re fá cio e crítica dos fragm entos cm frag m en tos”
(ed. cit., p. 613).
2) Esta Crítica se encontra no fragmento 443 dos Fragmentos de Teplilz (edição de P.
Kluckhohn c R. Samuel, pp. 623-4) . O núm ero entre colchet es remete aos fragmentos
do Athenäum-, os número s que antecedem o comentário indicam a página da revista e o
número d o fragmento ness a página. Os acréscimo s em co lchete s são dos editore s.
3) Agnes von Lilien , romance escrito pela cunhada de Schiller, Karoline von Wolzogen, e
pu blica do na r evista At horas em 1796. À época do lançamento, hou ve rumo res de que
Friedrich teria atribuído a autoria a Goethe.
4) N úmero 444 dos Fragmentos de Tepii tz (ed. cit., pp. 625-639). A numeração é de N ovalis;
correções c acréscimos, entre colchetes, são dos editores do volum e II das Werke. No
número 328 dos Fragm entos de Tepiit z, Novalis anot a: “Títulos para os fragmentos. O
que deve ser um tí tulo? uma pa lavra orgânica, i ndivid ual— ou um a definição genéti ca
— ou o p lano com um a única palavra — um a fórm ula un iv[crsal]. Mas po de aind a ser
mais — e ainda algo inteiramente o utro ” (ed. cit ., p. 597).
5) Abreviatura novaliana para cristianismo.
6) Assim, em lati m, no srcinal.
7) Assim, ein lati m, no srcinal .
8) Publicadas na edição de R. Samuel, volum e III, pp. 481-49 3. As anotações se encontram
nas margens da cópia feita por Dorothea Schlegel. De acordo com o editor, Novalis
assinala as Id éias com um , dois ou três asteriscos, segund o uma ordem de importância
para ele. Com *: 1 1, 4-6, 21, 39-41,49, 61,77 c 117. Com **: / 2, 12,22, 24,27,35.
38 .47, 6 4,8 0,9 1, 107 e 120 . Com ***: 1 1 , 44, 50,60,69,71,94, 104, 123, 127-129
e 137. R. Samuel afirma que esses asteriscos indicariam conc ordân cia de Novalis com
as idéias expostas, ainda que as anotações sejam em geral críticas c as diferenças em
relaçSo à religi ão bem marcadas (sobretudo q uanto á signific ação do pecado) .
9) O verbo “intui” se refere a “produz ou toma Deus visível” de 1 29.

253
Friedrich é um homem profundo, freqüentemente ensimesmado, um grande homem em seu
interior, mas que parece exteriormente um tolo.
C a ROU NE SCHEEGEL-SCHEI I INO

Muitas veze s Friedrich Schl egel perm anec eu incompreensível, mesm o para seus amigo s.
W alter B enja mi n

ISB N 85-73 21-057-5

9 788573 210576

BIBLÍO TECA PÓLE N


ILUMl^lJRAS

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