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WINFRIEO HASSEMER

Professor de Direito Penal, Processo Penal, Teoria do Direito


e Sociologia Jurídica na Universidade de Frankfurr a, M.
V ice-p residente do Tribunal Constitucional Federal,

INTRODUÇÃO AOS
FUNDAMENTOS
DO DIREITO PENAL

(Einfuhrung in die
Grundlagen dês Strafrechts}

Tradução (da 2a edição alemã revista e ampliada)


de Pablo Rodrigo Alflen da Silva

Sérgio António Fabris Editor


Porto Alegre/2005
primeiro caracteriza a ordenação da questão, o segundo a exposição da bem no estilo da sentença,'1'3 a problemática na decisão é formulada
resposta. Disso se deduzem todas as particularidades. algumas vezes em forma interrogativa). Mas isto não modifica nada
O estilo do parecer começa já no caso, pois surge quando a fase no efeito assegurador do estilo da linguagem, mas somente o dife-
de produção termina e começa a fase de decisão. Eíe leva ao caso uma rencia e acentua.
hipótese normativa de caráter o mais geral possível, o conteúdo inte-
gral da descrição legal do delito (A retirou a carteira do bolso traseiro Todavia, diante das atitudes daquele que fala e escreve quais os estilos de
de B. Isto poderia ser a subtração de coisa alheia móvel com a in- discurso os juristas expressam, deveria-se refieiir sobre um remédio que valesse
tenção de apropriar-se). Após esta introdução, progredindo deduti- menos ao estilo do parecer que ao estilo da sentença. Certamente o estilo da
sentença também [em a sua própria lógica: ele deve justificar, expor - mas não
vamente do geral ao concreto, elabora-se ponto a ponto a hipótese duvidar, perguntar. Questiona-se apenas se os afctados pelo Direito Penal percebem
geral normativa (coisa alheia móvel - subtração - intenção de apro- esta sutil determinação da função como a impressão da arrogância e a falta de
priar-se etc.) Esta elaboração ocorre em forma de questionário (A, por capacidade de comunicação que às ve/cs vem acompanhada com o estilo da sen-
ter retirado a carteira do bolso cometeu uma subtração} e termina com tença, ao qual, porém, servem de base estruturas mais fundamentais que a boa
a verificação de que A cometeu (ou não) um furto. vontade dos pcnalistas com capacidade de tala, que, principalmente na funda-
mentação orai da sentença, se deixam influenciar notoriamente pelo estilo do
O estilo da sentença é em sua forma ideal o reflexo do estilo do
parecei e se tornam mais comunicativos. O modo e o grau no qual as fundamen-
parecer. Ele começa com o resultado da fase de decisão, isto c, que A tações da sentença seguem o estilo da sentença, dependem, na verdade, de duas
cometeu um furto. Após esta introdução, progredindo dedutivamente grandes variáveis: da posição do acusado como sujeito no Processo Penal e da rela-
do geral ao concreto, c apresentado e fundamentado, ponto a ponto, o ção dos juristas com a sociedade.
resultado comprovado. A argumentação serve-se da afirmação (a sub-
tração consiste no fato de que A pegou a carteira), ela não contém
hipóteses e questões. O estilo da sentença em sua fonna ideal, não
permite ao juiz nenhuma expressão de dúvida quanto ao resultado e os
passos fundamentados.
Como ao estilo do parecer a linguagem é a de busca pelo Direito, § 27. O princípio da legalidade
ao estilo de sentença a linguagem é de justificação, elas também estão
- assim como estas duas fases - em uma relação sistemática (c tem- /. fundamentos e desenvolvimento
poral) recíproca. O estilo do parecer com o qual o estudante tradicio-
nalmente tem se ocupado durante a formação universitária deve ser Os instrumentos que asseguram a vinculação judicial até então
familiar ao juiz praticante, pois ele tem que utilizá-lo na fase de busca mencionados encontram-se mais ou menos elaborados inclusive cm
pelo Direito (por exemplo, na deliberação). Naturalmente estas sào outros âmbitos do Direito positivo. Eles são expressão geral do inte-
somente as estruturas ideais de ambos os estilos de linguagem, certa- resse legislativo de imposição da sua vontade na praxis judicial e do
mente a capacidade profissional de fala se mostra no domínio das
rotinas da linguagem, que leva a que os dois estilos engrenem na pra-
A habilidade dos estudantes no domínio do estilo da linguagem jurídico-penal
xis (que, por exemplo, o evidente no estilo do parecer se encontra tum- mostra-se sobretudo nos casos em que cies podem ligar de modo correio o estilo
do parecer c o da sentença ao parecer: somente se discute como duvidoso na
forma qucstionadora do estilo do parecer, mas se verifica claramente, sem
Uma boa introdução ao estilo de parecer em Arzl, Slrafreclitsklaijsiir. Uma análi- condições, na forma lacónica do estilo da sentença: o leitor ou quem se detém
se melódica exigente e pormenorizada sobre a técnica do parecer cm Puppe, com a questão sohre se um relógio de pulso c uma "coisa", ainda não pode falar
M et lio de n l eh ré. juridicamente.

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interesse da jurisprudência na consistência da sua aluaçao. No Direito Com a teoria do conhecimento do idealismo alemão e a filosofia
Penal, ao contrário, estes instrumentos experimentam um reforço es- política do Iluminismo morreu a fé generalizada no Direito Natural
pecífico; este reforço está formulado no chamado "princípio da lega- como fonte e diretriz do Direito positivo. Mesmo quando as circuns-
lidade", que nasce com o Code penal de 1810 e chegou ao RSlGB de tâncias políticas não permitiam por muito tempo uma crítica eficaz ao
1871 através do StGB prussiano de 1851. A Constituição de Weimar Direito Penal, a teoria do contrato social tinha investido e preparado
(WRV) conferiu ao princípio da legalidade categoria constitucional ao bem os fundamentos teóricos de tal crítica. Com a existência ou, em
inseri-lo no art. 116, e hoje o Art. 103, l! da GG formula com o mes- todo caso, o reconhecimento das normas jusnaturaíistas - isto c, nor-
mo teor do § l do StGB: "um ato somente pode ser punido, se a puni- mas justas válidas em todos os tempos e todos os lugares - suprimia-
bilidade estiver determinada legalmente antes que o ato seja come- se a possibilidade do legislador de manter reduzidas as exigências da
tido". Quem, de qualquer modo, como jurista já não sabe de cor, deve- sua justificação. Na época do Direito Natural o legislador tinha que se
ria ler esta frase várias vezes; todas as suas palavras tem importância c preocupar muito pouco em estabelecer com cxatidão as suas leis: era a
não só a sua destacada localização no SlGB indica que se trata aqui de concordância com o Direito Natural, com o bom e velho Direito, que
um princípio fundamental do Direito Penal material - e uma diretriz bastava como justificação do Direito positivo. Segundo o entendi-
principal do Direito Processual Penal. mento jusnaturalista. o legislador não tinha que fundamentar o Direito,
mas deduzir. A posição do legislador como administrador do Direito
O significado jurídico-pó l í tico do princípio da legalidade pode ser avaliado pelo Natural é forte - ela supõe na verdade que o legislador pode impor e
fato de que o legislador nacional-socialisia já cm 1935 opôs ao princípio liberal ''não transmitir a sua qualidade como administrador.
há crime sem lei; não há pena sem crime'" (nullum crimen sine lege, nulla poena sinc A época do Iluminisrno enfraqueceu de modo decisivo a posição
cnmme; nulla poena sinc legc) o princípio autoritário ''não há crime sem pena'' e o § 2
do StGB tinha formulado deste modo: ''será punido quem comete um ato que a lei
do legislador, elevou o grau de exigências de legitimação e modificou
declara como punível ou que merece pena de acordo com a ideia fundamental da lei a sua qualidade. A crítica do conhecimento mostrou que os preceitos
pena! e de acordo com o são sentimento do povo." Hoje. u "são sentimento do pova", jusnaturaíistas, em todo caso, não podiam ser trazidos do céu (no qual
entre os pcnalistas, c uma expressão ignominiosa. Foi a alavanca com a qual se se encontravam) ao solo do ordenamento jurídico positivo sem algum
afastou o princípio da legalidade do Direito Penal. Em 1945 e 1946 as forças de prejuízo ou modificação. Este céu a partir de então permaneceu cala-
ocupação reformularam os fundamentos do SlGB (dai mesmas infringiram esles
do. Isto é, no futuro dcvcria-se procurar a justificação do Direito posi-
fundamentos, na medida em que tinham introduzido a punibilidade retroaliva da
guerra de agressão ("Angriffskriegcs") c dos "crimes contra a humanidade"). 614 tivo, a legitimação do legislador na terra. A filosofia política do Ilumi-
nismo encontrou esta justificação na vontade do homem racional, na
O princípio da legalidade remonta aos seus fundamentos, e pela "volonté généràle". Ela sabia que o senão estava no critério da
observação das suas fontes pode-se compreender que deve ter um "racionalidade", na diferença entre a "vontade geral" e a "vontade de
significado muito especial para o âmbito do Direito Penal. Fie é todos" (inclusive na insensatez da "volonté de tous"); pois aí poderia
expressão da autoconsciência burguesa, que surgiu com o Iluminismo, estar escondido o gérmen de um novo Direito Natural, de um "Direito
face ao domínio estatal, em sua luz aparece a lei penal não só como racional", racionalístico, o qual também se desenvolveu depois e os
uma Magna Clmrtti Liberíatum do delinquente, como compreende a novos administradores geraram, desta vez, a "razão". Mas muito
época mais recente, mas em primeiro lugar como Magna Charla maior era a confiança no fato de que a "volonté gcncrale" seria im-
Libertatum do cidadão. posta - imaginada idealmente - em um contrato que todos que se en-
contram no Estado ajustariam entre si, o "contrat social", o contrato
social (Sozialvertrag).
Exposição aprofundada sobre o problema em Kranzbiihíer, Niirnberg ais
Rec h is p roble m

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A ideia do contraio social é evidente e, de acordo com os precedentes, desde o começo do séc. XIX é caracterizado pela tentativa de manter.
consequente. Sem a força normativa do Direito Natural reconhecido, todo homem í de aperfeiçoar e assegurar o princípio da legalidade frente à ameaça do
inserido em si mesmo. Com a reunião dos homens em grupos, cm sociedade, cm um
Estado, iodos se colocam, ao mesmo tempo, uns diante dos outros, pois os limites da
executivo c de revisar e reformular o seu "ethos" jurídico e sócio-
sua soberania c da sua liberdade resultam dos limites da liberdade dos demais, (sto é, político cm face dos novos conhecimentos científicos e da nova lin-
eles devem se reunir contratualmente (vertraglich) e aí acordai os limites da sua guagem científica. 617
liberdade, os limites até os quais eles renunciam à sua soberania. Estes limites devem Em sua configuração atual o princípio da legalidade mantém ao
ser traçados de modo preciso e rigorosamente vigiados. Pois eom o decurso do tempo todo quatro exigências tanto frente ao legislador como também frente
se decidirá sohre os limiies da liberdade do indivíduo e pode resultar um poder ao juiz. Ele exige do legislador que formule do modo mais preciso
ilegítimo, a submissão. Estes limites são traçados pelo Direito. Eles se assentam nas
leis que, sob o aspecto ideal, se tem dado a todos c que, conseqtienlcmente, todos que
possível as suas descrições do delito (nullitm crimen sine lege certa) e
aplicam estas leis estão vinculados a elas. Somente a vinculação garante que a que as leis não possuam efeito retroativo (nullum crimen une lege
convivência humana não conduza a violações ao Direito, pois até os limites da praevia). Ele exige do juiz que fundamente as condenações somente
liberdade traçados legalmente, e somente até eles, todos tem renunciado à sua na lei escrita e não no Direito consuetudinário (nullum crimen sine
liberdade no interesse da sociedade dvil, o qual é o seu próprio interesse. le$e scnpta) e que não amplie a lei escrita em prejuízo do acusado
(nullum cruncn sine lege stricta, a chamada "proibição da analogia").
As constituições revolucionárias, da Declaração da independên-
cia dos Estados americanos de 7776 até à Declaração dos Direitos do
homem c do cidadão da Revolução francesa de 77S9, concentraram o //. O mandato de certeza
princípio da legalidade no Direito Penal.filí e encontraram na teoria do
Direito Penal a sua elaboração mais bem acabada.6'0 Tsto 6 compreen- O mandato de certeza é consequência obrigatória do fato de que
sível. Os limites da liberdade que o Direilo Penal traça, são não só os um sistema jurídico se organiza sobre codificações, isto é, sobre leis
limites em face da liberdade dos demais, mas também os limites em escritas. A "lex certa", a lei efetivamente segura, é a esperança natu-
face da intervenção estatal. Não só através do Direito Penal "político" ral de qualquer legislador de que cora o seu pronunciamento conse-
(crime de traição à pátria e de alta traição) que a política interna pode guirá impor determinados efeitos dentro de uma comunidade jurídica.
se orientar violenta e lesivamente, mas também qualquer mandato A lei formulada de modo preciso constitui-se, portanto, em um inte-
jurídico-penal individual limita a liberdade frente ao poder punitivo do resse específico do legislador; assim não se deveria nem mesmo lhe
Estado. O Processo Penal está nas mãos do Estado, o sistema jurídico- imporá lex certa.
penal dispõe dos instrumentos mais incisivos para a lesão c disciplina Em princípio isto está correio. Por um lado existem situações nas
do indivíduo. A burguesia ilustrada tentou assentar a intervenção do quais o legislador não quer a lex certa. Por outro lado. existem moti-
Estado no Direito Penal de modo particularmente estrito com uma vos para, em face das dificuldades que a precisão das leis traz consigo.
série de leis gerais. E isto, com razão, em princípio, não se modificou persistir cada vez mais no aperfeiçoamento e para comprovar critica-
ale os dias de hoje. O desenvolvimento da teoria do Direito Penal mente a linguagem da lei sob o ponto de vista da lex certa.

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An. 8 da Declaração dos Direitos do homem c do cidadão de 1789 diz; "Mui ne " Recomcnda-sfi esludar de modo mais aprofundado os períodos particularmente
peut être puni, qu'en vertu d'une loi établic et promulguée anicneurerncnl au délii mais críticos para o princípio da legalidade, as suas formas de reali/.acão no
et légalement appliquée.'* Direito do século XIX c as tentativas de sua abolição no período nacional-
Quem quiser analisar os efeitos da filosofia iluminista kantiana na teoria do sociaiisla; sobre o primeiro H.-L Schreihtr, Gesctz undRiclner, p. 118-168, sobre
Direito Penal no começo do séc. XIX leia os §§ 18. 19 c 20 do Tratado de o segundo Marx.cn, Antiliberalismus, p. 192-196. Com a crise atual do princípio da
Feuerbach. Uma exposição pormenorizada sobre o contexto em Naue-ke. Kant. legalidade o [e\lo se ocupará de modo mais detalhado em seguida

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Nós já nos ocupamos com o desejo do legislador de afirmar (em intervencionista e experimentada a custos alheios. Hoje isto significa conerclamente
que as limitações do princípio da certe/a só se podem fax e r cm favor do acusado c
primeiro lugar) uma lex incerta (e de observar os efeitos dentro da que o legislado: tem que perseguir com exatidão e com métodos científicos os desen-
jurisprudência criminal), por ocasião da análise dos §§ 153a do SíPO, volvimentos que uma lex certa admite na jurisprudência c comgi-los cm cada caso; ali
47, 56, III, 59 e 60 do StGBG1B Nestes dispositivos mostra-se que o a suposição de que o silencio do legislador significa que está de acordo com o
moderno legislador, mesmo no Direito Penal, tem uma tendência à desenvolvimento da jurisprudência, que é um silêncio persuasivo, deve estar real-
experimentação. E isto é inevitável quando - também - no sistema mente correia
De resto, o conflito entre a modernidade e o conservadorismo no Direito Penal
jurídico-penai o ponto de vista da orientação social, da intervenção
atual c inevitável e muiio difícil de sei solucionado. Ambos os pólos tem sua justi-
política interna, se impõe ao clássico entendimento da determinação ficação. Uma política criminal racional consiste cm perseguir o conflito em suas rami-
dos valores irrenunciáveis da vida comunitária. Quanto mais o legis- ficações juridicamente positivas, elaborar um equilíbrio entre a modernidade e o
lador penal toma em consideração as consequências, preocupando-se conservadorismo - que nas instituições juridicamente positivas provavelmente terão
com os efeitos empíricos da sua atuação (e justifica a sua atuação pela aspectos diferentes - e deixar aberta a. solução da discussão geral e da correção.
produção e pela falta de tais efeitos), tanto mais ameaça a lex certa. O
postulado da lex certa é expressão clássica de um sistema jurídico O segundo motivo pelo qual o legislador pode não "querer" uma
orientado input, isto é de um sistema jurídico que abrange e controla a lex certa consiste no fato de que em diversas situações, em regra, não
realidade sobre os limites conceptuais da sua linguagem. Uma con- existe "a" vontade "do" legislador. As leis são compromissos, princi-
versão para uma orientação output, isto é, para a compreensão e o palmente as leis penais, cujo conteúdo afeta as camadas mais profun-
controle das consequências,5'9 não pode vincular-se com a lex cena. das da personalidade, em seus preceitos situam-se compromissos em
Ela antes atrapalha, porque exige do legislador um posição precisa e uma posição intermediária, enquanto as opiniões dos participantes
prematura, antes que possa verificar integralmente as consequências envolvidos, de modo algum, acham-se ali, mas à margem. Tal lei, por
desta sua posição. trás da qual concepíualmente, na verdade, não há ninguém, mas é
adoçada tão somente como intermediação das representações alterna-
Mais uma vezwo mostra-se aqui o conflilo entre o desejo de modernidade e o tivas, corre o perigo de ser formulada de modo pouco claro e com isso
dever de persistência no sistema jurtdico-penal. Naturalmente o postulado de lex certa as questões não resolvidas claramente pelo legislador continuam
deve adaptar-sc às mudanças sociais c culturais, e inclusive às mudanças científicas c entregues ao desenvolvimenlo judiciai.
polílico-cien ti ficas, mas somente de modo que o seu ethos seja reformulado de tal
A ameaça mais séria do mandato de certeza, porém, não deriva
modo que não caia sob as rodas de uma política interna bem intencionada, mas
da vontade do legislador, mas da sua capacidade de tomar as leis
( 1S
precisas/'21 A representação profana de que não seja colocado ao juiz
' Supra g 25, IV, bem como § 25, VI. nenhum limite ou somente extensos limites, como nós já vimos, 2 é
Sobretudo cm oulros âmbitos, cuja orientação e intervenção está mais próxima que
ao Direito Penal (Direito económico. Direito do Trabalho), boje o discutido pro-
falsa. Arislótcíes já tinha verificado o que nós caracterizamos como
blema da conversão para uma orientação output encontra-se teoricamente e um equilíbrio sutií entre precisão e flexibilidade, com a observação de
cicnlífico-socialmente discutido cm Luhmann, Rechtssystem, p. 25 c ss,, 58 e E. que, em face da abundância, multiformidade e desconhecimento dos
Compare-se outra vez o § 5 supra, quanto ao problema apresentado sobre a
"orientação pelas consequências".
621
A moderna dogmática da. culpabilidade orientada pelos fins da pena, que nós já Quem quiser analisar sistematicamente e de modo mais aprofundado os problemas
mencionamos acima p. 234-238, conduz aos mesmos problemas que uma legis- da linguagem da lei, leia Noll. Gesctzgebungslehre, p. 244-282, ou - mais atual c
lação penal orientada pelas consequências face à lex cena: o interesse polílico cri- abrangente - Voji, Symbolische Gcseizgebung, Cap 4, p. 139 e ss. Uma exposição
minal na intervenção e na modificação dcpara-sc com a determinação liberal de crítica das possibilidades de auxílio científico à legislação penal encontra-se cm
deixar fracassar o experimento c a intervenção nos direitos daqueles com os quais Amelung, Strafrcchtswissenschaft
621
deve ser experimentado. Supra §§ 19-21.

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casos, uma lei não poderia ser exala. Qualquer um pode ver que o le- teleclrigicu, a sistemática, a histórica - mas a interpretação conforme a constituição,
ao contrário, está sempre em vigor.6:'' O fato do juiz criminal "se fazer de tolo" pode
gislador penal tem que resolver ao mesmo tempo duas tarefas distin- ser expressão de uma vontade inteiramente responsável de vineiilação ao (cor da lei, e
tas, que estão em oposição uma à outra: cie deve manter suas normas não de obstinação.
abertas de modo que elas também se adaptem aos casos futuros, ainda
desconhecidos, mas "pensado para o caso do seu conhecimento" e ele Uma relação leal e livre de transtornos entre o legislador e a
deve formulá-las definitivamente de modo que sejam impenetráveis jurisprudência criminal, que resulte do mandato de certeza, é uma
aos casos não imaginados. Qualquer decisão na escala entre a flexibi- representação ideal. Na praxis ela se encontra sob as limitações e a
lidade e a precisão é problemática. Quanto à isso se relaciona o fato de alteração histórica. Esta alteração é natural, pois ela é um fenómeno
que a decisão pela flexibiUzação logicamente sempre alcança o seu extenso e fundamental, difícil de marcar. Com todas as reservas pode-
fim: uma norma formulada de modo vago amplia as margens de deci- se dizer sobre a situação atual da mandato de certeza, o seguinte: a
são e desenvolvimento das normas. A decisão pela precisão, ao con- confiança do legislador no juiz, no que diz respeito aos pressupostos
trário, pode ser um estorvo: ela pode ser "excessivamente precisa" c da punibi!idade, ao caso de punibiíidade, já há um longo tempo parece
por isso pode excluir casos que certamente não deveria excluir, por reduzir. Neste âmbito é evidente o esforço do legislador cm oferecer
exemplo, tornar a subtração de uma máquina fotográfica de dentro do ao juiz regras escritas cada vez mais extensas e precisas.' No que diz
automóvel em um furto qualificado, mas a subtração do automóvel respeito ao plano das consequências jurídicas, aparentemente nós já
junto com a máquina fotográfica em um furto simples. Ú2j verificamos o contrário. Preceitos como os §§ 59 e 60 do StGB abrem
Estas reflexões desde já mostram que o legislador não pode ga- ao juiz uma ampla margem de liberdade. Mas seria errado deduzir dis-
rantir a certeza dos tipos. Ele depende da lealdade da jurisprudência. so uma confiança do legislador a respeito das consequências jurídico-
A jurisprudência pode - e isso de qualquer modo c evidente - desen- penais. É mais exalo supor que o legislador orientado output, em
volver uma norma formulada de modo flexível cm uma direção com- relação a toda desconfiança existente, deixa a jurisprudência procurar
plctamente diferente da que o legislador queria lhe dar; este certa- por novos desenvolvimentos. Pois, inclusive neste âmbito as novas
mente c o risco que o legislador corre com tais formulações. Mas a disposições são extensas e complexas, na medida em que situam as
jurisprudência também pode se fazer de toía diante de uma norma regulamentações além dos trilhos experimentais.626
formulada de modo preciso c se recusar a corrigir os erros notórios, na
medida cm que persiste em que o teor literal, ao qual ela deveria se ílí4
Quem quiser se atuahzar sobre este contexto: supra § 18. I bem corno § 21. A in-
ater, foi formulado de modo determinado. terpretação conforme a Constituição está sempre em vígoi porque naturalmente a
Constituição determina e delimita não só o Direito positivo, como também a sua
O leitor, assim espero, observará que a chave encontra-se no conc.ciio de. interpretação. Mas para a vinculação do juiz alei penal isto possui um significado
"erro". Não há de modo algum um consenso, quando o "teor literal" de uma norma prático muito reduzido: também a Constituição deve ser interpretada c "compre-
não está de acordo com o "sentido" ou com o "contexlo sistemático" no qual ele se endida", e a interpretação também está sob o domínio das teorias da interpretação
encontra ou com as "finalidades de regulamentação do legislador" ou até mesmo com e sujeita-se às condições do processo de compreensão; ela não é uma lei perma-
os "limites da constituição", o teor deve ser corrigido a favor do sentido ou da vontade nente.
do legislador, ou ao contrário. l\ direção na qual ele deve ser corrigido depende de Ú2Í
Compare-se, sob este ponto de vista, o § 185 com o relativamente recente § 264 do
quais teorias da interpretação se gostaria de dar preferência: a gramatical, a objetivo- StGB. Em geral se vê muito bem o desenvolvimento caracterizado no texto
quando se examina no contexto os tipos, cuja cifra é complementada com pe-
quenas leiras (o que indica uma sintonização ulterior com a lei) e os compara eom
Maurach analisou ironicamente este absurdo do § 243 do StGB (antiga edição) cm os tipos penais "clássicos". O StPO mostra este mesmo desenvolvimento.
uma pequena contribuição que vale a pena !cr (Besorgttr firief). O texto voltará ""*' Observe por exemplo as disposições sobre fiscalização de condutas, §§ 68-68g do
ainda à tentativa do legislador de escapar deste perigo no § 24? do SlGB SlGB.

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O legislador encontrou uma saída inteligente entre a flexibilidade do juiz. c novo. Até então o juiz tinha somado os elementos legais e
e a precisão, que na verdade não conduz cm todos os casos à liber- quando todos eles estavam juntos ele podia extrair a soma e aplicar a
dade/'27 mas que, no entanto, muitas vezes garante as vantagens de norma. Entretanto, daqui em diante ele deve referir a norma como um
ambas as finalidades da formulação e ao mesmo tempo reduz os pre- todo aos elementos particulares quando verifica o caráter exemplar do
juízos: o "método exemplificativo", a técnica de exemplos regulares, elemento desde o plano da norma. Deve esperar que a técnica dos
como é utilizada, por exemplo, no § 243, I do StGB em sua nova exemplos regulares legais ajude a realizar o mandato de certeza nas
edição. Este método evita a precisão excessiva, como a caracterizava o modernas leis penais com maior ênfase, se a jurisprudência criminal
antigo § 243 do StGB, porque ele "vincula" o juiz aos pressupostos da se adapta aos "pressupostos mais elevados da argumentação " e se es-
norma descritos de forma precisa, mas de maneira diversa; são para ta técnica ainda é aperfeiçoada com o auxílio da ciência. Deve-se
eíe apenas exemplos, dos quais nem sempre, mas só "regularmenie", esperar também que se possa diferenciar a dogmática da determinação
ele pode deduzir um caso particularmente grave de furto. Ele evita os da pena - apesar da "necessidade de imprecisão" e de outras exigên-
erros - estabelecidos somente com significado cxemplificativo dos cias neste âmbito629 - e se permita manejar com a sua complexidade,
elementos - de flexibilidade porque formula os elementos mesmos de de modo que o mandato de certeza, que naturalmente vale também
modo preciso e os vincula com consequências jurídicas descritas para estes âmbitos, tenha maiores possibilidades práticas.
igualmente de modo preciso.
Este método de redação da lei está à altura dos conhecimentos
///. A proibição da retroatividade
jurídico-teóricos sobre as possibilidades de uma vinculação do juiz:
pois se pode assegurar e controlar a vinculação do juiz somente no
A segunda exigência que o princípio da legalidade impõe ao
âmbito da apresentação dos resulrados da decisão, enquanto no âmbito
legislador penal, é a proibição de promulgar leis com força retroativa
da produção só se pode esperar o efeito da lei:62S o Legislador deve se
(mtllum crimen sine lege pracvia). Também a "proibição da retroati-
preocupar com o mandato de certeza, sobretudo em relação ao âmbito
vidade" é evidente em sua orientação finalística ético-jurídica e demo-
da apresentação. Isto significa que o juiz deve conservar uma argu-
crática; os problemas se localizam na extensão do seu significado e
mentação diferenciada na apresentação dos motivos da decisão. Uma
lei pode ser formulada de modo extremamente preciso: quando o juiz em sua aplicação prática.
Uma lei que procura ter validade para um caso que é mais antigo
não tem que se comportar argumentai!vãmente em relação aos ele-
do que ela mesma, é um fantasma do Estado de polícia. Mais inofensiva
mentos particulares da lei é impossível controlar uma vinculação entre
a lei e a decisão. ainda é a objeção de que tal lei não pode satisfazer a sua função como
norma de determinação™, porque a lesão, cuja omissão requer a
O método exemplificador - na medida do possível - atinge exa-
comunidade jurídica, ocorreu já antes da sua promulgação; as leis, em
tamente isto: o juiz deve argumentar de modo diferenciado. Por um la-
geral, podem "determinar" somente o comportamento futuro. O núcleo
do ele deve expíicar se e porque (não) se cumpre um exemplo regular.
da proibição da retroaíividade é muito mais a proteção da confiança de
Ele deve explicar se e porque (não) este exemplo também é realmente
todos de que os limites da liberdade estão marcados de modo vinculante
um exemplo imaginado pela norma, se é, portanto, "exemplar". O se-
e possíveis de serem lidos em qualquer momento nas leis. A vinculação
gundo passo da argumentação, que a técnica de exemplo regular exige
hw
Supra § 17. II, 2. Comparar sobre a técnica de exemplos regulares o § 46, II, 2 do
627
Discussão abrangente e críticas em At?t, Diebslahlbcstimmungen; Wessel-., SlGB (especiairnenie),
Rcgelbeispiele. Wíl
Caso seja necessário observe novamente o contexto da discussão sobre a norma de
Sobre este conicxtú: supra § ! 8, 1. determinação c a norma de valoracão. supra § 25,1

340 341
e a possibilidade de serem lidos seriam destruídas se o legislador, O § 2, VI do StGB, em princípio.634^ excetua as medulas da proibi-
através de uma reação rápida a uma conduta, pudesse criminalizarposi ção da retroatividade e ordena a aplicação da lei vigente à época da
fcstum, A proibição da rctroalividade procura fazer com que a perse- decisão, a qual apoia-se na reflexão sensata, à primeira visia, de que as
cução e a punição da condufa desviante seja um processo cauteloso, que medidas não são uma resposta para o passado (retribuição do injusto
seja anunciado previamente sob quais pressupostos uma conduta será perpetrado), mas uma segurança para o futuro (defesa de perigos futuros).
considerada como desviante e o que se deve esperar disso. Conseqiientcmente, no centro da escolha das medidas não está a visão
para o passado, mas para o futuro: o prognóstico. Os prognósticos são
Com isso não se deve equiparar a "protcção da confiança'' com a representação juízos precários; eles tem uma boa chance de estarem errados e por isso
ideológica, de que o aulor de um delito económico, com a lupa dos seus advogados, necessitam de uma verificação contínua,635 pois elas rapidamente se
examina a lei, por cujas lacunas clc pode escapar e de que a proibição da tornam obsoletas. A este fato se deve adaptar inclusive as condições
reiroatividade interrompe a "justiça". Certamente isto existe c o sistema jurídico-penal
pode viver com islo, e quer viver com isto. Enfim, as leis. por boas razoes, são leis
legais: apenas a lei mais recente é o melhor fundamento da decisão.
"gerais'' e existem pessoas que se informam do conteúdo dos §§ 218 até o 2l8b do Entretanto, o princípio do § 2, VI do StGB não se ajusta ao mais novo
StGB, do S 129a ou dos g§ 113, 114 do SlGSi. À proibição da reiroalividade interessa desenvolvimento no sistema de penas e medidas. A antiga concepção de
menos a confiança de alguém determinado à uma lesão que a confiança da que as medidas são um nnnus face às penas, porque a elas não está
comunidade jurídica em que a justiça criminal não introduz e não impõe ardilmente os vinculada uma reprovação da culpabilidade, mostra-se em uma análise
interesses de ordem, dos quais não falava a lei. Esta confiança, a qual as mais recentes
pormenorizada,"'3 como vazia de conteúdo. O que conta para os afetados
teorias dos fins tia pena, como nós ainda mostraremos,631 dirigem a sua atenção, é o
substrato social que mantém de pé o Direito Penal de um Estado de Direito. 63 " - e sua confiança na justiça penal - não é a roupagem teórica com a qual
se reveste a consequência jurídico-penai, mas é o peso real que ela leva
Destes princípios resulta uma particularidade evidente: a proibi- consigo. Este peso. pelo menos nas medidas que são vinculadas com a
ção da retroatividade vale somente in malam partem, isto é, somente privação da liberdade, não é menos reduzido que nas penas - ele será cm
enquanto a força rctroativa da lei prejudicar o acusado. As Íeis muitos casos até mesmo mais elevado, porque o afelado pelas medidas,
favoráveis a ele (redução da pena, descriminalização) com aplicação em nosso sistema de dupla via, é "psiquiatrizado". Nem todo mundo
rctroativa, talvez perturbem o sentido da ordem, a necessidade de considera como os penalistas; que a "doença" (Krankheii) seja menos
retribuição ou a busca pela vingança, mas não a confiança gera! na que a "culpabilidade"621 O legislador penal tinha, portanto, motivos para
justiça pcnaí como «ma instituição de controle social, que criminaliza
ponderadamente e não criminaliza ardilmente."' 634
As exceções legais, as quais alude o § 2, VI do StGB. são realmente importantes.
Por estes princípios nào se pode decidir livre de qualquer dúvida, Assim encontram-se na EGStGB, por exemplo, disposições especiais sobre a
mas neles pode-se discutir o problema do alcance da proibição da fiscalização de condutas (Alt, 303) e a proibição do exercício profissional (Art. 305).
ffls
retroatividade. Esta questão, sob o ponto de vista do legislador, é de Leia-se em relação a este contexto o i? 67e do StGB. Uma análise abrangente -
especial significação para dois pontos: nas medidas de segurança e tanto metodológica como dogmática - das decisões prognosticas no Direito Penal
oferece f'n.sc/1, Prognoseentschcidungcn.
tratamento c nos pressupostos processuais da punibilidade. 6M
Supra §25, IV, excnrsits2.
6 7
-' Chrislian Geiftler inicia assim em seu livro "Antíagc" (Claassen-Verlag Hamburg): ao
"^ Infra 5 30, III. Trata-se da moderna compreensão da prevenção geral. longo do processo não se apresentaram pontos altos e nem sensações. A negação c a
*"- Também o BVcrfG pane no Direito Penai - diferentemente dos outros âmbitos do posterior confissão do acusado, na verdade, deram ã imprensa a oportunidade desejada
Direito nos quais se admite constitucional me n te determinadas limitações à de produ/.ir algum suspense nas notícias a respeito do processo, porem para a
proibição daretroatividade-dc uma proibição absoluta da rctroativjdade: BVerfG conclusão do processo somente tiveram relevância as palavras finais do acusado. O
18, 429 c ss. (439). Ministério Público e a defesa fizeram a sua parte O juiz presidente perguntou ao
"-1 Leia-se o tj 2. I-V do StGB. acusado se ele gostaria de falar mais alguma coisa antes que o tribunal se retirasse para

342 343
manejar igualmente de modo cauteloso a imposição retroativa de medidas Assim é, por exemplo, a persecução de um ato já prescrito,641", a perse-
como a imposição retroativa de penas. cução de um inocente (§ 344 do StGB).
Conseqiientemenle coloca-se a questão sobre a ampliação excep-
Ademais, não só a teoria, mas Lambem a praxis da imposição da pena se abriu cional da proibição da retroatividade sobre os pressupostos processuais
ao prognóstico,678 Em todo caso. de acordo com o entendimento atual as penas são um
da punibilidade quando estes pressupostos sào equivalentes em seus
instrumento para assegurar o futuro. O princípio vicariatti<?Yl', cie sua pane, tanto na
leoria como na práxis. aproximou as penas c as medidas, espera-se que no futuro o §
efeitos e em sua função jurídico-estalai aos pressupostos j urídico-mate-
2, VI do StGB seja suprimido ou seja limitado a outras exceções legais. riais. Esta questão foi intensamente discutida cm relação à prorrogação
dos prazos prescridonais dos graves delitos cometidos pelos nazistas.
O fato de que os pressupostos processuais da punibilidoile, em O legislador a decidiu, mas teoricamente ela continua em aberto.
princípio, não estejam abarcados pela proibição da retroatividade, c Quem compreende a proibição da retroatividade desde o ponto de vista
algo evidente, O legislador pode, por exemplo, modificar o curso da da proteção da confiança e da rejeição de uma surpreendente crimina-
audiência principal (§ 243 do StPO), sem que através da nova orien- lizaçào iatica, deverá considerar a prorrogação reiroativa das disposi-
tação retroativa do cenário ocorra um prejuízo ao acusado. Entretanto, ções sobre a prescrição como uma violação aos princípios democrá-
nós observamos várias transferências entre o Direito Penal matéria! c ticos, como uma dominação do Direito Penal pela política.
o Direito Processual Penal. Do mesmo modo que o Direito Penal ma- A proibição da retroatividade não se dirige apenas ao legislador,
terial elabora e oferece ao Direito Processual Penal as instruções de mas também ao juiz. Pode-se elaborar leis com força retroativa, e
busca, o Direito Processual Penal estabelece pressupostos de perse- pode-se aplicar retroativamente a um fato leis que somente foram
cução e julgamento que tem efeitos materiais - e na verdade decisivos, colocadas cm vigência após o cometimento do fato. Nesse sentido
valem para o juiz os mesmos limites que para o legislador-
Porém, ao juiz inclui-se ainda uma outra complicação. A sua ativi-
dade consiste, dito de um modo exagerado, em decidir o caso que lhe foi
a deliberação da decisão. O acusado inclinou a cabeça, levantou-se c permaneceu apresentado com base cm uma opinião jurídica, que ainda não vigorava
calado. Só que cie encontrou o rosto do seu filho que assistia com as demais pessoas na
quando o fato ocorreu. Em todo caso a jurisprudência dos Tribunais su-
sala, e ele disse: "Eu sou culpado. Peço ao Tribunal para rejeitar a petição cia defesa
pelo reconheci mento do § 51 (agora § 20, W.H.). Naquele momento eu era plenamente periores tem a tarefa de desenvolver o Direito, e ela a cumpre também,
capaz, e hoje ainda sou. Eu sou culpado," "Quer nos explicar quais os motivos deste quando, por exemplo, observava como uma "ferramenta perigosa" no
pedido?" O acusado inclinou a cabeça novamente, permaneceu calado, oíhou para o sentido do § 223a, I do StGB no início apenas as de efeito mecânico
seu filho e então disse: "Eu. tenho um filho. E c melhor para um filho que cie tenha um (serra), mais tarde também incluiu as de efeito químico (pistola de gás) e
pai culpado,-que reconhece a sua culpa, do que ter um pai incapa/. Não se fax nenhum
favor a um homem, ao lhe negar a possibilidade de se declarar culpado. Pode parecer
finalmente incluiu também a lesão corporal grave por animais (cães açu-
uma bondade e uma indulgência, mas ele está sendo humilhado. Priva-se-lhe da justiça lados) - mas sempre insistindo que uma ferramenta perigosa é uma "fer-
c portanto priva-se-lhe também do perdão. Retira-se-lhe a dignidade de ser humano. É ramenta" que deve ser manejada, guiada pelo causador da lesão (de modo
importante para um filho saber que seu pai cm um ser humano. Se ele pender isso, então que a chapa quente do fogão, na qual a vítima venha a se sentar, não
dirão: teu pai era um idiota. - Eu peco ao Tribunal que rejeite a petição da defesa pelo
reconhecimento do § 51". Compare-sc também o relatório crítico de Siunme,

Eikrankungcn. - Um sistema jurídico-penai que renuncia à reprovação da culpabilida- Lcia-se outra vez o § 78 do StGB
642
de, mas que valora a participação interna do autor no sen ato (supra § 25, IV, Também o BVerfG confirmou a admissibilidade de uma prorrogação dos prazos
2be) pode lançai- uma ponte sobre o abismo entre a "doença" e a "culpabilidade". prescricionais: BVerfGK 25, 269 e ss., especialmente 289 e ss. Lcia-se, compa-
Lcia-se outra ve^ o g 46, l, 2 do StGB. rativamente, os §§ 18 c ss. do SlGB c os §fi 79 e ss. do StGB, concentre-se respec-
Leia-sc outra vez o § 67 do StGB. tivamente na alínea 2 nos §§ 78, 79 para chegar a uma opinião sobre a distinção
Aprofundamento c orientação mais detalhada cm Schrcibei; VcrjahriingstVtslen entre a prescrição da persecução e a da execução.

344 345
043
preencheria os pressupostos tipificados no § 223a, I do StGB). Para os no Direito de imprensa (onde estão os limites entre os direitos de perso-
afetados estes desenvolvimentos da jurisprudência eram de um signifi- nalidade do acusado e o direito à informação?) e no Direito do iránsito.
cado decisivo do mesmo modo que uma modificação do teor do § 223a, 1.
No último âmbito jurídico mencionado se produz um conflito que reflete a
e eles naturalmente eram retroativos, porque eles só foram fundamen- própria problemática da proibição da retrcatividadc no âmbito da jurisprudência.
tados por ocasião do respectivo caso. No que diz respeito aos limites da aptidão para dirigir, o StGB oferece uma
Vê-se cm seguida que uma ampliação fálica da proibição da re- fórmula de conieúdo gera!,644 a qual foi concretizada pela jurisprudência do BGH
troatividade à jurisprudência causaria imediatamente a sua estagnação. com os instrumentos mais precisos que a nossa linguagem possui: com os dados
Corno nós já vimos várias vezes, a jurisprudência vive de uma con- numéricos (nível percentual de concentração de álcool no sangue). A partir de um
delerminado limite (atualmente de i , l por mil para cima) 645 se considera o
tínua recriação da lei, ela não tem alternativas frente às margens de
motorista como '"absolutamente incapaz para dirigir" - isto é, sem qualquer
liberdade semântica e à necessidade de regras de aplicação, frente ò consideração a outros indícios pró ou contra a incapacidade para dirigir e a exclusão
mudança social que também reflete na linguagem. Se se quisesse es- de provas contrárias. Antes se considerava com o mesmo caráter absoluto o limite
tender a proibição da retroativídade também à jurisprudência, a conse- de 1,5% e logo depois o de 1,3%.
quência ciaramente previsível disso seria a falsa exclusão da proi-
bição, pois exigiria o impossível. No julgamento desta questão deve- Os meios de comunicação em geral e a imprensa especializada
se levar em conta que se pode proporcionar uma maior facilidade ao transmitiam estes valores ao público, e muitos motoristas tinliam uma
acusado no caso concreto para que se conceda a ele um erro de ideia de quanto álcool eles podiam tolerar e beber para estar denlro do li-
proibição (inevitável) (§ 17 do SlGB). Isto é natural: quando os juris- mile traçado pela jurisprudência: um exemplo académico de observância
tas ainda não sabem o que está correio no caso concreto (e, por exem- ao Direito com base em cálculos racionais, um momento decisivo de pre-
plo, respondem de modo diferente questões jurídicas relevantes nas venção geral. Entretanto a jurisprudência tem se negado a estender a proi-
mais diversas instâncias), pode-se conceder ao acusado um erro nor- bição da retroatividade penal no agravamento dos limites da incapacidade
mativo (normativen Irrtum) - em uma extensão maior que aquela para dirigir de 1,5% para l,3%.°4b Quem compreende a proibição da re-
admitida até o momento pela jurisprudência! troatividade sob o ponto de vista da proteção da confiança, não poderá
Em princípio isto tudo está correio. Mas com frequência os prin- estender a tais casos, nos quais a concretização da lei é transmitida aos
cípios produzem nos casos concretos isolados o oposto do que eles que- afetados com precisão através da jurisprudência, a proibição da retroati-
riam alcançar para a maioria das situações. Assim ocorre lambem em vidade excepcionalmente na jurisprudência.ú4'
relação à projbjclgjla re^ojtividjc!e_nçL âmbito da mrjsjmdência. Se se
observar com acuidade, se perceberão situações nas quais a comunidade
jurídica tem um conhecimento mais intenso do conteúdo da juris-
prudência criminal do que do conteúdo da lei penal e coloca-se também
plena confiança na posição da jurisprudência. Este caso ocorre quando a M4
Leia-se o g 316 do StGB.
jurisprudência constrói rigorosamente as diretrizes gerais de uma lei e 645
Leia-se na ocasião a BGHSl 21, 157 e ss. (sobre a regra de 1,3% vigente ante-
quando estes coniornos são transmitidos com precisão aos afetados. riormente) e a crítica incisiva de Ilaffke, Promillc-Grenze
<M
Exemplos disso se encontram no Direito fiscal (o que se pode deduzir?) Pode-se recorrer aqui, comparativamente, à decisão do OLG Celie. NdsRptl 1968,
90 e ss. entretanto ela não diz nacía sobre a problemática da proibição da retroati-
vidade, e nem porque se afasta desta problemática. Mas quanto a isso ela é muito
mais interessante como uma prova de '"argumentação jurídica por omissão": por
' Os esforços para uma precisão do § 223a do StGB podem ser analisados cm passar por cima do problema (veja sobre isso supra o § 21, II).
, Korperverlet/.ung, p 186 e ss '"" Para uma leitura comparada reco me n da-se: Schreiber, Riickwirkimgsvcrbot.

346 347
IV. A proibição do direito consuetudinário te para o Direito Penal, no qual, recorrendo à lei, se procura justamente
combater certos tipos de conduta como, por exemplo, o furto de esta-
A terceira consequência do princípio da legalidade dirige-se so- belecimento comercial, que em certos grupos de jovens não é considerado
mente ao juiz: a proibição de fundamentar uma condenação ou o agra- uma infringência ao Direito, mas um esporte? E possível se imaginar um
vamento de uma pena no direilo consuetudinário (nitllum crimen, Direito consuetudinário no âmbito do Direito Penal?
rutila poena sine lege scripta). Sob o ponto de vista do "ethos" jurídi-
co-estatal este princípio é claro c evidente; mas quanto à sua extensão Existe uma prova de que o sistema jurídico-penal lambem conhece o Direito
consuciudinário. As descriminalizações, isto í, a revogação (parcial) de uma proi-
concreta, como também quanto aos seus fundamentos conceptuais, bição ou a redução da pena cominada, não raras vezes são confirmadas por uma ar-
não é tão claro. Na verdade não se sabe corretamente o que é o direito gumentação baseada no Direito consuetudinário e impostas politicamente. Pode-se
consuetudinário - especialmente no Direito Penal, observar isto nos últimos tempos nas cominações penais contra a homossexualidade e
A teoria do contrato social rechaçava rigorosamente o direito a interrupção de gravidez. Ali os afilados, os homossexuais e as mulheres, aluam
consuetudinário. Era o tipo normal de fonte jurídica na época, o qual a politicamente: eles confessam abertamente a conduia punível e afirmam que esta
conduta - confraria a lei - é lícita Corno um fone indício da legitimidade "consue-
filosofia política do Iluminismo pretendia superar. Ela devia ser escrita e tuúmána'' desta conduta vale o apelo à alia "cifra negra" nestes âmbitos, isto é, o fato
possibilitar a todos verificar de onde decorrem os limites à liberdade civi I; de que a maioria das violações à norma escrita permanecem desconhecidas ou não
o Direito consuetudinário. contrariamente, estava disponível, era um punidas. Com isso se mostra não só que as oportunidades de criminalizarão nos atos
instrumento exemplar - e extremamente eficaz - nas mãos dos podero- homossexuais e no aborto são desiguais (c é injusto escolher somente uns poucos),
sos. A forma escrita das fontes do Direito, a possibilidade da sua leitura .senão, sobretudo, que a população, como os funcionários da justiça, "vê passar pelos
seus dedos" tais tipos de conduta, porque ela mesma não está mais convencida
por qualquer um, c um pressuposto necessário para o discurso em gera!
"consuetudinariamente" do seu caráter delitivo.648
sobre os limites à liberdade {ainda que não seja um pressuposto suficien-
te). Para nós este "ethos" ainda é também evidente c importante: o recur-
Somente a custo de um conceito amplo e detuipado de Direito
so a fundamentos consuetudinários do Direilo, na Direito Penal, seria
consuetudinário pode-se manter estas estruturas e desenvolvimentos
como colocar a mão em uma "black box", em uma caixa mágica, a qual
como um Direito consuetudinário. Elas são formas de discussão públi-
ninguém, exceto o mágico, sabe exatamente o que ela contém.
ca acerca da Política criminal neste Estado, que se apresentam como
Tradicionalmente se define o Direito consuetudinário como o uso
argumentos de justiça; um destes argumentos é a prova de que a lei
baseado na convicção jurídica geral. No âmbito do Direito comercial ou
não é (mais) considerada como justa por uma parte relevante dos afe-
do Direito do trabalho esta é uma determinação conceptual evidentemente
tados. Porém, isto não é um apeio ao "Direito consuetudinário", mas
razoável. Nela se expressa que os participantes de um conflito jurídico
ao falo de que cada vez mais pessoas, além dos diretamente afetados,
(por exemplo, os comerciantes ou as partes no contrato de trabalho) há
consideram a norma legal como injusta c político-crimmalmente erró-
um longo tempo colocaram em vigência normati vãmente determinados
nea e que esta norma deve ser modificada ou eliminada.
modos de atuação: eles observam entre si determinados costumes em cir-
culação; eles lambem consideram isto como correto e de comum acordo
observam uma violação contra eles como uma in/ntígência ao Direito
(embora esta infringência ao Direito não esteja legalmente definida); e
também é correto que no caso de conflito se atenham ao seu uso comum e Leia-bc neste comc\lo a decisão do LG Fmnkenthai, NJW 1968, 1685 e s. que, cm
uma situação semelhante (punibilidadc do adultério de acordo corn o § 172 do
que cada uma das partes conflitantes recuse insidiosamente o apelo a
StGB em sua antiga edição), impôs uma pena manifestamente bai\a para mostrar
estes costumes em circulação, porque como não estão legalmente des- que considerava a cominação legal da pena (consuetudinariamente?t obsoleta, ou
critos, seriam nulos e fúteis. Mas como se pode transferir um modelo des- ultrapassada

348 349
A diferença entre a discussão político crimina! e o Direito con- (normas D1N ') ou das normas empíricas (leis casuísticas), de modo que
sitetudináric mostra-se muito mais clara se se considera o papel do ar- a infringcncia a elas não se apresenta como refutável ou carente de
gumento da cifra nega em outros contextos.64'' Este argumento aparece correção - tipicamente o contrário: as normas jurídico-penais precisam do
fambém, por exemplo, na discussão político-criminal acerca dos crimes desvio; a conduta desviante e o controle do desvio com o auxílio da
contra a economia ou contra o ambiente - todavia, aqui, com uma norma confirmam esta necessidade e a sua força; elas são "contra-
orientação contrária: o Direito Penal económico c o Direito Penal am- fáticas". Enquanto uma pedia suspensa no ar seria uma seria ameaça às
biental devem ser ampliados, e !ornarem-se mais efetivos para poderem leis casuísticas, o § 11 da BtMG experimenta uma relevância e uma
perseguir ou para apreenderem jurídico-penalmente melhor os crimes atenção cada vez maior csn face do problema crescente das drogas.65'
até o momento desconhecidos ou não punidos. O papel ambivalente do O caráter contra-latico das normas jurídico-penais exclui a hipótese
argumento da cifra negra mostra que sua função se cumpre exclusi- de um Direito consuetudinário no Direito Penal no sentido tradicional.
vamente no contexto político-criminal, É orientado e determinado era Ainda que a habitualidade fálica, na convicção jurídica, possa ser um
seu papel concreto por um interesse político-criminal, o qual, por um argumento sustentador de um determinado interesse político-criminal, ela
lado, está complctamente satisfeito com a amplitude do campo obscuro não se converte em um fenómeno que o juiz pode alegar contra a lei
(e vê de maneira agradável o deslocamento do âmbito integral dos deli- escrita. A proibição de uma condenação ou agravamento da pena com
tos para o campo obscuro do Direito Penal), por outro lado, considera o fundamento no Direito consuetudinário - tomando por base um conceito
campo obscuro um escândalo (e vê de maneira agradável o aumento e o estrito de Direito consuetudinário - não significa portanto nada mais do
reforço do foco de incriminação jurídico-pcnal e a persecução nes- que o evidente, que o juiz criminal só pode apoiar a condenação e a
te âmbito). consequência jurídico-penai cm uma lex scripta.
Além disso, se se observa o caráter das normas jurídico-penais,
No entanto, ein um sentido menos estrito, o fenómeno do Direito consuelu-
então se percebe, em toda a sua extensão, a relação entre o Direito legal c
dinário pode ser de plena significação para a determinação dos limites da pumbi-
o possível Direito consuetudinário no Direito Penal. A teoria científico- lidade. Principalmente em relação ao atreito ao professor de castigar se tem admitido
social das normas caracteriza as normas jurídicas como expectativas que o exercício f atiço no convencimento da autorização jurídica co-delcimina os limi-
"contra-j'áticas"."™ Se isto vale com a mesma intensidade para todos os tes do tipo penal de iesào corporal. O casligo corporal '"mensurado" de uma cnança na
âmbitos jurídicos, deixaremos aqui de lado; todavia, a existência de
fontes consuetudinárías do Direito indica a objeção de que o exercício fl
fálico (certamente com o revestimento da convicção jurídica) modifica DIN originariamente é a abreviatura de Deuische Industrie-Norm (norma das
industrias alemãs;, auialmente utiliza-se ainda como abreviatura de Deulsches
faticamente as normas legais e pode afc mesmo colocá-las fora de vigên- Inslititt fiir Nonmaig (Instituto alemão de normalização).
cia: isto c, que elas de modo algum são "contra-fáticas". Em todo caso, Talvez se possa ver o caráter contra-fático das normas jurídico-penais com mais
para o Direito Penal esta caracterização é oportuna. Ela expressa que as exatidão se se compreender o gracejo que se situa em uma norma jurídico-pcnal
normas jurídico-penais se distinguem, por exemplo, das normas técnicas que não acredita no seu próprio caráter contra-fático:
"S X: Homicídio de membros cio governo:
I. Quem inata o ministro da cultura, será punido com pena privativa de liberdade
de um ano.
649
Análise mais abrangente e aprofundada desta discussão extraordinariamente im- II. Quem mata o ministro da defesa será punido com pena privativa de liberdade
portante para a Política criminal e para a argumentação político-criminal em de dez anos.
l.iidí.'1-s.sen, DunkeLiftcr. O problema da cifra nejjra, sob o ponto de vista III. O homicídio do Primeiro ministro está proibido."
crimmológico, já foi exposto antes no § 10, I. A Sociologia íambém se ocupou com a relação positiva entre a conduta desvianlc,
650 a punição e o poder cie validade da norma; leia-se sobre isso em Ditrkheim,
Referindo-se expressamente e com oulras indicações Liílimann. Reehtsso/iologie,
p. 4 0 e s s . (43). n, p. 155-164.

350 351
escola é aprovado pelo Direito con sue ludi nano e na verdade pode sei, conse- uma pena em sua opinião jurídica em vez de na lei, infringe o Art.
quenlemcnte, uma lesão corporal típica, mas nào um injusto jurídico-penal; com o ]03, TI da GG e o § l do StGB. Tal determinação do conceito de "Di-
desmoronamento do exercício consuetudinário desmorona também a justificação reito consuetudinário" tem apenas um defeito - mas com ceneza deci-
penal e estcndcm-sc. portanto, os limites da lesão corporal punível. 6S2
sivo: ela anula os limites da quarta e última exigência que o princípio
Isto só se pode admitir em relação a uma generosa aplicação do conceito de
''Direito consuetudinário" - uma aplicação que não se dê conla do papel do jui/, da legalidade apresenta, a "proibição da analogia".
criminal, o qual tem que aprovar este "Direito consuctudinário". antes que o ulili/cm
como justificação para uma lesão corporal. O que entre os comerciantes, que comer-
V. A proibição da analogia
cializam uns com os outros, pode fundamentar o Direito - isto é o exercício real na
convicção do que é lícito - não pode enlre professores e alunos que lesionam uns aos
outros: o Direito Penal, diferentemente do Direito comercial, deve se reservar a A proibição de ampliar a lei penal por analogia em prejuízo do
verificação se na convicção jurídica o tipo de conduia praticada lesiona ou não bens acusado - seja quanto aos pressupostos da punibilidadc ou quanto à
jurídico penalmente protegidos, como. por exemplo, a saúde. O que as pessoas fa/em determinação da pena - é a indicação central do princípio da legali-
umas com as outras e umas contra as outras, não está subtraído do juízo do juiz.
dade ao juiz penal (nullum crimen, nulla poena sine lege atricta). Esta
porque ele o faz com a convicção do que c lícito - ou porque não pode chegai' aos
ouvidos do vencido que a lesão que lhe é infligida não tem aprovação jurídica proibição abrange o que uma generosa determinação do conceito de
Direito consuetudinário acrescenta erroneamente ã proibição do Direi-
As inseguranças sobre o que se pode considerar no Direito Penal to consuetudinário: um direito judicial que ultrapassa os marcos legais
como "Direito consuetudinário", levaram inclusive à diluição do con- em prejuízo do acusado. Também a proibição da analogia, em sua
ceito estrito de Direito consuctudinário no sistema jurídico. Assim se orientação democrática, é clara c evidente;654 mas atualmentc não está
compreende como "Direito consuetudinário" no Direito Penal (tam- totalmente claro se e como é possível realizá-la.
bém) o chamado "Direito judicial", isto é, o conjunto de interpreta- Se se quer compreender e valorar esta proibição é preciso saber o
ções judiciais que concretizam a lei. Por proibição do Direito consue- que se quer dizer com "analogia". Um exemplo clássico de aplicação
tudinário se compreende a exigência de que o juiz. em sua interpre- analógica do Direito oferece a proibição de levar consigo quadrúpedes
tação, não pode abandonar o quadro traçado pela lei em prejuízo do ("quadrupes") em determinados lugares - levando em conta que os
acusado; se ele o abandona, então frustra a íex scrípta por meio de um grandes animais cheiram mal e podem ser inconvenientes. Ao esper-
Direito não escrito e assim viola o princípio da legalidade/'5" talhão que tem a ideia de levar consigo um avestruz, que na verdade
Esta modificação do conceito de "Direito consuetudinário" é uma lem apenas duas patas, mas que, ao contrário, cheira mal e pode gerar
saída evidente. Com isso se leva em conta justamente o fato já mos- os mesmos inconvenientes que os quadrúpedes, se diria com o argu-
trado de que o "costume", no Direito Penal, não pode em hipótese al- mento da aplicação analógica do Direito que: na verdade, nós reco-
guma ser o costume fático violador da lei dos indivíduos subordinados nhecemos, o teu pássaro tem apenas duas patas. Nossa proibição não é
ao Direito - e ocorre inclusive com a convicção jurídica; portanto, imediatamente aplicável a ele. Mas veja o sentido da norma. O pás-
quando cai o uso comum subsiste apenas o uso indiciai, E cm relação saro preenche todas as medidas. Portanto, aplicamos analogamente ao
a este último é evidente que ele pode ser uma ameaça ao princípio da teu bípedc a proibição ao quadrúpede.
legalidade: quem fundamenta uma condenação ou o agravamento de Este discurso expressa a estrutura da aplicação analógica do Di-
reito. Dois casos, duas situações são discutidas aqui. Um caso (o do
01
Tal modelo c os seus pressupostos são discutidos intensamente cm
Zuehligungsrecht, p. 40-47,
J
Sobre uma relação em geral entre o Direito consucludinãno e o Direito judicial no Um resumo bastante hreve e digno de nota sobre a história da proibição da
Direito Penal: Bruigewai, Gewuhnhcitsrecht. analogia em Mauruch/Zipf, AT, p. 124 e s.

352 353
quadrúpede) está claro: um candidato positivo da norma. O outro caso
é um candidato negativo, a este candidato faltam duas patas. No en-
tanto, uma questão ainda permanece aberta: se em um plano mais ele-
vado que o da comparação direta, por exemplo, entre um suíno e um
pássaro grande, não existem semelhanças entre ambos. E com efeito:
em favor do acusado não só à realização do fim da norma, como
também à possibilidade do seu desenvolvimento judicial sobre o teor
da lei para além da orientação da vontade da lei. Vejamos como a
jurisprudência aplica a proibição da analogia.
O BGH teve que decidir um caso cm que alguém, com o auxílio
\
se se formula a "tertium comparationis", isto é, o terceiro que serve de um automóvel, tinha subtraído o produto do furto de uma flo-
de base aos dois candidatos tão diferentes, então os dois se mostram resta.úi6 A norma jurídico-penal prescrevia que se deveria considerar
como semelhantes, como comparáveis; sob o ponto de vista dos um furlo qualificado de floresta quando o autor utilizava para a subtra-
inconvenientes, a ave e o suíno são iguais. Mas este ponto de vista é o ção dos troncos, de um animal de carga, um barco ou carroça. O BGH
que está por trás da norma de proibição de que os quadrúpedes devem confirmou a condenação como furto qualificado, O Tribunal argumen-
ser mantidos afastados. A norma foi formulada de modo grosseiro, tou que a lei queria impedir três coisas: os danos às arvores mais jo-
porque exclui (pelo menos) um não-quadrúpede que na verdade, pelo vens; a rápida evasão; a possibilidade de transportar grandes quantida-
seu sentido, ela deveria trazer consigo. Isto é, a norma contra os des de troncos. Isto tudo vale também em relação ao automóvel. Por-
quadrúpedes pode ser aplicada por analogia aos bípedes, porque, sob o tanto, o automóvel é comparado à "carroça no sentido da lei".
ponto de vista da finalidade da norma, da tertium comparationix,
ambos são comparáveis um ao outro,ú5í Esta estrutura de argumentação perpassa em todas as partes a jurisprudência
O princípio da legalidade proíbe no Direito Pena) tal ampliação criminal - ainda que nem sempre com tai nitidez. Para explicar a possibilidade de
analogia no Direito Penal, não c necessário recorrer a uma ideia audaciosa de que
da norma (em si "racional") aos casos que não estão formulados nela, um juiz aplica o § 175 do StGB por analogia a atos de lesbianismo. Basta observar
mas são imaginados. No conflito entre o teor (que alcança tão pouco) quanto a isso, a fundamentação da jurisprudência, a qual procura comprovar que a
e o sentido (que incorreta ou incompletamente é representado pelo fixação de cartazes ern uma caixa de distribuição do correio c um crime de dano a
teor) a proibição da analogia vota estritamente pelo teor. Aceiía-se esta caixa (§ 303, I do SlGB) - embora o caria,: (ainda que corn algum esforço)
quanto a isso que o fim que é perseguido com uma norma jurídico- possa ser retirado; embora a utilidade técnica da caixa não seja prejudicada; embora
sob o ponto de vista estético, com um cartaz mesmo daquela qualidade, ela possa se
penal, continua impossível de se alcançar quando este fim não se
tornar mais bela.657
encontra materializado na linguagem da norma. A possibilidade de um
desvio através de uma lertium comparationis até um candidato ne- Qualquer um pode ver imediatamente que o Tribunal forneceu
gativo é vedada ao juiz. Se ele não chega a um resultado tão só com o urn exemplo clássico de analogia, cuja qualidade didática se iguala a
teor, deve se dar por satisfeito com a negatividade dos candidatos. do quadrúpede. Infelizmente o Tribunal deixou de lado o problema
Entende-se que o Direito Penal aceita a impossibilidade de alcançar a sobre se aqui não se teria exercido, talvez, a analogia proibida in ina-
finalidade da norma somente no ponto em que sobrecarregar o lam parlem - um outro exemplo de exercício jurídico-teórico de uma
acusado com a punibílidade ou a consequência jurídico-penal: in ma- argumentação por omissão.65* Se o Tribunal tivesse levantado a quês-
lam partem. Quando for para favorecê-lo o juiz pode referir-se à
tertium comparationis. A proibição da analogia é uma aquisição do - ' Leia-se a decisão do BGHSi 10, 375 e s. minuciosamente (ela c breve) e analise a
Estado de Direito do mais alto grau; com ela o Direito Penal renuncia sequência dos argumentos. Pode-se localixar nesta decisão inclusive a aplicação
das teorias da interpretação (gramatical, sistemática, histórica, ideológica),
fe7
Leia-se, sob o ponto de vista de que se um candidato negativo (coloca cartazes),
Quem quiser se informar sistematicamente c expressamente sobre a analogia como alravís de uma íenium comparationis, pode se converter em um candidato
meio de corrcção das regras legais incompletas ou mesmo deficientes, leia positivo ("dano"), a decisão do RGHSt 29. 129.
fas
Engixch, Emfuhmng, p. 142-156, ou tarem. Methodenlehve, p. 365-375 Veja supra 5 21 e neste g.

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tão. certamente responderia: nós não transmitimos por analogia o aplicação concretiza a norma. Se a fixação de cartazes é um "dano" às
elemento "carroça" (proibido) ao veículo, mas nós apenas interpreta- caixas de distribuição do correio no sentido do § 303,1 do StGB, só se
mos extensivamente o elemento "carroça" (o que naturalmente está au- sabe (e não de modo definitivo e livre de qualquer dúvida) quando se
torizado), abrangendo também o automóvel. O limite crítico do princí- aplica o § 303,1 do StGB a tal caso: a margem semântica de uma nor-
pio da legalidade está na diferença entre a interpretação extensiva ma se concretiza somente no ato de compreensão da norma, no ato de
autorizada e a analogia proibida. Estes limites fluem. aplicação do Direito.
Pode-se dizer com uma certa precisão que (rata-se sempre de
Surge mais uma complicação. Se se pergunta de onde o juiz extrai realmente as
analogia quando o caso que deve ser decidido (o avestruz, o automó-
informações com as quais ele concretiza conceitos como "carroça"' ou "dano" para
vel, a colocação de placas) é um candidato negativo da norma, en- aplicá-los ao caso, só se pode dar uma resposta: do sentido da norma, da sua origem
quanto se deveria falar de interpretação extensiva quando o candidato histórica, da sua situação sistemática na lei. A interpretação gramática!, portanto,
c apenas neutro. Com esta distinção seguramente correta se expressa depende de outros métodos de interpretação, e não só está em contradição, mas cm
que a analogia c a transferência da norma a um outro âmbito, enquanto relação com eles. Se - eomo ocorre via de regra - nem a vontade do legislador pode
a interpretação (extensiva) é somente a "ampliação" da norma até o ser transmitida livre de qualquer dúvida e nem a posição sistemática da norma diz
algo relevante, então só fica o "sentido" da norma, para desenvolver nele o signi-
final do seu próprio âmbito. Mas; onde estão os limites entre a "trans- ficado concreto da palavra. O "sentido" está sempre presente (os métodos de inter-
ferência" c a "ampliação", entre a negatividade e a neutralidade de um pretação objelivo-teleológico de acordo com os quais se questiona, levam sempre a
candidato? Quem conhece o âmbito da norma? um objctivo - mas qual!), não porque ele precisa ser '"transmitido", como, por exem-
O âmbito da norma, nesse sentido, é a sua margem semântica, a plo, a vontade do legislador, mas porque ele pode estar acompanhado da norma. As
qual, pelo que nós vimos,66'1 não "existe". Somente com a aplicação indagações podem fracassar (o legislador se cala ou tala contraditoriamente), a atri-
buição de sentido não fracassa jamais (e por isso continua sempre problemática, sem-
concreta da norma, mesmo que se comprove se o caso que se deve
pre em suspenso). Ainda que o juiz nada saiba ou nada descubra sobre a vonlade do
decidir é ou não um caso desta norma. Só o emprego de regras de legislador histórico, ainda que ele não diga nada sobre a situação sistemática da norma
- ele sempre tem uma representação do sentido objctivo da norma ou pode formá-la
(mas talvez ela seja "falsa"): do sentido, da finalidade da norma se extrai geralmente a
Sobretudo na jurisprudência do KG, menos na do BGH, encontram-se lambem Uireção na qual o teor da norma deve se concretizar
decisões nas quais c Tribunal marca o;, limites para u interpretação proibida c
rechaça a -ultrapassagem destes limites. Compare, por exemplo, a famosa decisão
do KG sobre a questão de que se a subtracão fraudulenta de energia elétrica é A aplicação do Direito é portanto um procedimento analógico^
"sublracão"' de urna "coisa" no sentido do § 242, I do StGB: KGSi 32, 165 c ss. Uma norma jurídica de modo algum pode ser compreendida sem levar
(especialmente 185-188). Já com a existência do atual § 248c do StGB pode-se em consideração o seu sentido, a leniam compamlionis, que une e torna
verificar que o KG decidiu negativamente esta questão. Mas hoje é duvidoso se o comparáveis os casos uns aos outros, que sào os "casos desta norma".
BGH se manteria igualmente de modo meticuloso pelo teor da lei; como
consequência da sua política de iniciprctacão de se basear de modo "mais próximo
Quem se pergunta se o "furto de coisa achada" é uma hipótese do § 246,1
a vida" c "racional", encontra-se o fato de que o legislador do StGB, seguramente, do StGB, embora não se dê a retenção do objeto da apropriaçãofiú2 ou
leria cominado com pena a subtracão de energia elétrica, quando lhe ocorresse tal quem se coloque qualquer questão jurídica que não seja (rivial (o falo de
caso. Pode-se estudar esta alitude na decisão do BGH de í 8.1980 (N J W 1980, que a carteira é uma "coisa" no sentido do § 242 ou do § 246 do StGB,
2535=JuS 1981, 299, n. 10) sobre a emissão de títulos falsos, onde o Tribunal
manifestou-se contra uma decisão proferida pelo OLG Stuttgart (NJW 1980, 2089-
M
JuS 1981. 64, n. 10) que tinha discutido sobre a analogia e a interpretação exten- " Aprofundamento c especificações sobre este problema na teoria geral da obtenção
siva. Em um período mais recente o BGH parece ter se preocupado mais energica- do Direito em Arlhtir Kaufmann, Analogie, p 302-319, e em B. Schiitiemann.
mente com a proibição da analogia; leia-se o BGIISi 34, 171 e 35. 390(395). Nullapoena
Supra §§ 20, 21. O fenómeno dos candidatos positivos, negativos e neutros e Aprofundamento sobre a discussão acerca da punibilidade do furto de coisa
explicado supra § 21, I. achada cm TenMioff, Unterschlagung. 777 (Fali 5)

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não interessa aos penalistas), não poderá responder sem recorrer ao política e também simbolicamente eficaz,. 663 A proibição da analogia não
sentido da norma. Por estas razões se tem dito que a aplicação do Direito é uma medida exala, mas c um forte argumento. A reprovação por ter
é um processo circular entre a lei e o caso, que é comparável a um espirai aplicado a lei em prejuízo ao acusado, é rigorosa e deve ser mais rigorosa
que se eleva, corrige e aperfeiçoa em um processo mútuo de compreensão ainda em nossa cultura jurídica. Fora do debate público e jurídico acerca
entre a norma e a situação fática. É aí que se situa a cruz da proibição da da exatidão da interpretação das leis não há nenhum critério correio de
analogia. Nós tínhamos dito justamente que no conflito entre o teor e o interpretação. Na luta pela interpretação correta, a proibição da analogia
sentido da norma a proibição da analogia vota estritamente pelo teor. Mas reforça os motivos daqueles que defendem uma relação estrita do pronun-
agora vemos que o teor mesmo não é suficiente sem o sentido. Pois toda ciamento judicial com o teor da lei e dos cépticos em face da atribuição
aplicação do Direito é analogia, porque a compreensão da norma, ainda teleológica-objetiva do sentido. Nem mais, mas também nem menos.
que seja não-trivial, não pode renunciar à tertium comparationis, não
existe um limite claro entre a interpretação permitida e a analogia proi-
bida. O argumento de que o automóvel através da simples interpretação
toma-se uma "carroça" não c refutável CAPÍTULO 4
O que quer dizer então a proibição da analogia? Parece como se ela
fosse um medicamento sem efeito para a tranqiiilização das críticas do Ameaças à vinculação: os bens
Estado de Direito a uma jurisprudência amplamente afastada da lei. jurídicos universais e os "grandes transtornos"
Com a proibição da analogia se procede como com todo princí-
pio normativo e toda norma jurídica: pode ser tratada sem que o trata- A vinculação do juiz à lei - uma exigência fundamental do Direito
mento possa ser indicado de modo preciso e visto por todos. Não exis- Penal do Estado de Direito064 - não pode, como sempre se tem aduzido,
te um procedimento probatório para a sua violação. Nós aceitamos fa- ser integral: a experiência e a linguagem, a abertura dos princípios
cilmente este fato com outras normas e princípios jurídicos. Na proi- jurídico-linguísticos para o mundo e para o futuro abrem também os
bição da analogia, em relação à qual não se procede de modo dife- processos de aplicação e de compreensão das normas jurídico-penais.665
rente, este fato c visto corno um estorvo e um aborrecimento, porque a Mas se faz um esforço. O sistema jurídico-penal tenta assegurar, através
proibição da analogia deve limitar justamente a interpretação da lei. O de muitos caminhos principiológicos e pragmáticos, que os casos
fato de não poder fazê-io rigorosamente é visto com uma violação ao jurídico-penais sejam decididos de acordo com a lei comum e não de
princípio da legalidade. Todas as tentativas de salvar os limites do teor acordo com a vontade particular do juiz criminal.MG
pela proibição da analogia, tentativas que vão de encontro ao sólido No período mais recente aparecem sinais de uma redução dos es-
muro de ligação entre o teor e o sentido, são expressão do mal-estar e forços em assegurar a aplicação da lei penal. O sistema jurídico-penal
do desengano face a um instrumento que deve limitar a interpretação se "moderniza" na praxis e na teoria e consideram-se os princípios
judicial da lei, mas não pode cumprir esta tarefa. Se se pergunta outra tradicionais do Direito Penal material progressivamente como antiqua-
vez se a proibição da analogia mesma é subtraída à interpretação judi-
cial: seguramente não. Se ela mesma está submetida à interpretação
66j
judicial: como - de fora - se vai limitar a atividade interpretai!vá! A eficácia jurfdico-política da proibição da analogia confirma-se também em face
Apesar de tudo, a proibição da analogia é um pilar fundamental do das investigações jurídico-materiai s sobre a jurisprudfincia do Senado Criminal do
IÍG e do BG1I. Compare-se Priesier, Analngieverbot
Direito Penai do Estado de Direito, e sua substituição pelo "sadio senti- 664
Capítulo l do Quarto Livro.
mento do povo" no Direito do nacional-socialismo não implicou na eli- 66?
Capítulo 2 do Quarlo Livro.
hlj
minação de uma fórmula vazia, mas na eliminação de um instrumento ' Capítulo 3 do Quarto Livro

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