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A missão gera alegria nos discípulos (Lc 10,17-20), como também em Jesus
(Lc 10, 21-24). Esta é a mais declarada manifestação de alegria de Jesus em todo o Novo
Testamento. Nela podemos ver a alegria de Jesus pela missão dos setenta e dois, mas
também pela missão de toda Igreja chamada a anunciar o Evangelho. Verdadeiramente
muitos quiseram anteriormente ver o que os discípulos viram e ouviram, porém não
puderam (Lc 10,23-24). O que os discípulos viram e ouviram é o mistério da íntima união
entre o Pai e o Filho, manifestada na missão realizada por aqueles que o Filho enviou (Lc
10,22). É este poder que elimina todas as formas do mal (Lc 10,18-19). Este texto tem uma
importância cristológica e eclesiológica muito grande.
Jesus responde ao mestre da lei com duas perguntas. O que está escrito na Lei?
Como lês? Jesus havia percebido a intenção daquele homem e, justamente por isso, o
devolve-lhe o questionamento. Em suas perguntas Jesus vai além da literalidade das
Escrituras. Ao acrescentar à pergunta sobre o que está escrito a questão de como o homem
a lê, ele coloca a questão da interpretação que se dá ao texto. A Palavra de Deus não deve
ser apenas lida como o fazem os fundamentalistas. Ela deve passar também pelo crivo da
interpretação.
Contudo, a primeira parte do versículo não deixa dúvidas quanto a identidade do próximo
em questão: “Não procures vingança nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás
o teu próximo como a ti mesmo.”. Na realidade toda a seção de Lv 19,15-18 faz menção ao
vínculo fraterno nas relações entre os compatriotas israelitas. Os estrangeiros não estão
incluídos nessas normas e nesse amor.
O doutor da Lei tinha conhecimento de que o amor de Jesus ia além desse amor
presente no Código de Santidade, e justamente por isso queria colocar Jesus em
dificuldade. Por isso ele não se dá por vencido. “Tentando se justificar” do embaraço no
qual ele mesmo havia se colocado, ele faz nova pergunta a Jesus: “E quem é meu
próximo”? (Lc 10,29). Jesus então não responde com conceitos e conta a parábola do
Samaritano.
Tal homem – embora o texto não fale, mas que era provavelmente um judeu –
acaba caindo nas mãos de assaltantes, que além de despojá-lo de seus bens, o espancam e o
deixam semimorto no chão (Lc 10,30). A situação é grave. Todo ouvinte percebe de
antemão a necessidade daquele homem ferido, despojado, abandonado à beira do caminho.
O fato de ele estar semimorto – palavra que dá a entender que ele estava desacordado,
acentua o seu problema. No livro dos Números encontra-se uma restrição para quem toca
em um morto. Diz o texto:
4
Quem tocar qualquer cadáver humano ficará impuro por sete dias. Deverá
purificar-se com esta água no terceiro e no sétimo dia, e ficará puro. Caso não se
purificar no terceiro e no sétimo dia, não ficará puro. Quem tocar um morto, um
cadáver humano, e não se purificar, contaminará a morada do Senhor: deverá ser
eliminado de Israel. Visto que não foi derramada sobre ele a água purificadora,
está impuro, sua impureza continua. (Nm 19,11-13)
Jesus então conclui: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10,37b). Aqui não se
trata de uma mera conclusão. Como vimos, em Lucas o caminho para Jerusalém supõe um
comprometimento e uma despedida. Ao final da Parábola do Samaritano temos um envio,
um “ide” para o mestre da Lei e para todo aquele que a ouvir. Trata-se de uma missão,
tornar-se próximo para amar é a missão de todo cristão.
presentes nesta parábola. Vale lembrar que Jesus, ele mesmo, é o grande Samaritano. Cada
uma das atitudes do Samaritano na parábola- aproximar-se, ver, ter compaixão, solidarizar-
se, partilhar, cuidar - são atitudes que Jesus desenvolve em sua vida pública. Ele continua a
ser para nós o Caminho que devemos seguir em nosso itinerário de IVC.
Ver. A IVC nos desperta para termos a compaixão de Jesus diante da situação
e comportamento de risco de muitas pessoas e de famílias que “estão à beira do caminho”,
necessitadas de nossa presença e atuação misericordiosa. Precisamos abrir os olhos e
enxergar a necessidade das pessoas e não cortar caminho, abandonando-as com a desculpa
que estamos atarefados com as “coisas” da Igreja... Nós e nossas comunidades somos
convidados a nos posicionar com maior responsabilidade diante do graves problemas e
desafios que nos circundam nos dias de hoje.
sentem em casa na Igreja, elas vão procurar outros espaços que as “acolham”. A
comunidade precisa ter um clima de leveza, de compreensão. As pessoas vêm, às vezes,
feridas, machucadas, marcadas por decepções familiares e sociais. Nossas comunidades
precisam ser espaços de cuidado com as pessoas. Elas devem se sentir envolvidas,
valorizadas, descobrindo que são amadas por Deus e pela comunidade. Uma atenção
especial deve ser dada aos adolescentes e jovens. A comunidade tem a missão de acolher
as pessoas e procurar ajudá-las a se encontrarem consigo mesmas, com o próximo e
sobretudo com o Senhor... Quando o coração se abre, tudo fica mais fácil!
Referências:
Essa e outras parábolas de Jesus devem ser aplicadas à realidade atual dos catecúmenos.
Eles podem até reescrever algumas parábolas situando-as no ambiente em que vivem
(Quem são os feridos no caminho hoje? Quem passa adiante e não lhes dá atenção? Quem
se dispõe a atendê-los?) E já que é tão importante socorrer os necessitados, os catecúmenos
devem ser apresentados aos agentes das pastorais sociais, visitar com eles os que precisam
de ajuda e refletir sobre como se construiria uma sociedade onde todos estivessem bem,
com seus direitos respeitados. Afinal, a melhor ajuda seria criar condições para que as
pessoas não precisem mais de socorro.
Publicado In: PERUZZO, José Antônio. E seguiram Jesus: Caminhos bíblicos de Iniciação.
Brasília: Edições CNBB, 2018, pp. 103-114.