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GLUT e Neoplasias (Tumores):

 Os tumores, ao crescerem provocam um aumento da captação de glicose e da


taxa de glicólise. Para que esta (glicólise) ocorra é necessário haver oxigénio e, há
medida que a quantidade deste diminui os tumores começam a ficar hipóxidos (pouco
oxigénio). Ao ficarem hipóxidos libertam o factor HIF (Hipoxy Induced Factor), muito
importante na sobrevivência do tumor, que provoca uma adaptação metabólica, esta vai
aumentar a expressão das proteínas envolvidas no metabolismo da glicose e no número
de transportadores GLUT 1 e 3, sendo a glicose captada pela célula.
 Como não há oxigénio, ocorre fermentação láctea, processo que vai fornecer
energia (ATP) e permitir o crescimento das células. Para compensar a falta de oxigénio,
as células tumorais ao libertarem o factor HIF produzem outro factor, o UEGF (factor de
crescimento endotelial vascular) que provoca um aumento da irrigação.
 Se fosse possível manter o tumor em hipoxia, o seu crescimento seria impedido.

 Alguns tipos de neoplasias apresentam nas suas membranas transportadores de


glicose que não são expressos no tecido saudável, estando relacionada a expressão de
alguns tipos de transportadores ao grau de malignidade dos tumores.
 As células malignas possuem maior expressão de GLUT1 e 3. Quanto maior a
expressão destes transportadores, mais sombrio é o prognóstico.
 A expressão de GLUT1 está relacionada com o potencial maligno de neoplasias
mamárias, tumores hepáticos, pancreáticos, esofagianos, cerebrais, renais, ovarianos e
cutâneos. Já a presença elevada de GLUT3 encontra-se associada a neoplasias gástricas,
ovarianas e pulmonares. Contudo estes transportadores não são comuns quando os
órgãos estão sadios.
 Os transportadores GLUT5 presentes em tumores mamários, também não são
encontrados neste tecido, quando normal.
 Recentemente descoberto o GLUT12 está expresso em células prostáticas e
mamárias neoplásicas, sendo que nos adultos também se encontra expresso na
musculatura cardíaca, esquelética e no tecido adiposo normal.
 Tumores do ovário, com maior produção de estradiol, podem estimular a
expressão de GLUT no tecido neoplásico e piorar o diagnostico.

Ionóforos:

 Os iões são substâncias muito pequenas, contudo essenciais para o correcto


funcionamento celular. Devido há existência de uma bicamada lipídica com regiões
hidrofóbicas, os iões (por possuírem carga) tem dificuldades em atravessar para o meio
intracelular. Deste modo, podem atravessar a membrana através de canais proteicos, ou
serem carregados por ionóforos.
 Os ionóforos são moléculas sintéticas (não existem fisiologicamente) de
pequenas dimensões, que ao “mascararem” a carga dos iões vão permitir que estes se
difundam através da bicamada lipídica.
 Têm poder antibiótico.

 Os ionóforos dividem-se em:

- Transportadores móveis  O transporte depende da fluidez membranar,


sendo que os ionóforos realizam um movimento de flip-flop através desta. É muito
específico relativamente ao tipo de iões que transporta;

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- Formadores de canais  O canal transportador encontra-se fixo à
membrana, formando um poro hidrofílico que permite a passagem de iões, é um
transporte menos específico.

 Efectuou-se uma experiência para distinguir os


dois tipos de ionóforos, para isso estudou-se a
condutância dos vários transportadores de acordo com
variações na temperatura. Verificou-se que num
transportador móvel (Ex. Valinomicina) quanto maior
for a fluidez membranar, maior o transporte efectuado.
Quando a fluidez da membrana é nula, também o
transporte se aproxima de zero.
No caso de transportadores formadores de canais (Ex. Gramicidina A), são
geralmente mais rápidos, não se verificando grandes variações com a alteração da
temperatura.

Transportadores móveis

 Dependem das propriedades físicas da membrana, mais precisamente da fluidez


da membrana, que também afecta, embora em menor escala, o transporte de outros
ionóforos.
 À medida que se vai enriquecendo a membrana em colesterol, ela vai ficando
menos fluida, sendo menor o transporte efectuado por estes transportadores.

Ex. Valinomicina:

 Como exemplo de um ionóforo móvel podemos considerar a valinomicina, uma


molécula de pequena dimensão (circular com 4 resíduos peptídicos) que transporta iões
na seguinte escala decrescente de preferência:

Rb+ > K+ > Cs+ > NH4+ > Na+

Preferência por iões K+ relativamente a Na+. (Raio Iónico do K+ > Na+: 1,33 Ǻ e
0,95 Ǻ respectivamente)

 É um valente antibiótico, pois ajuda a destruir o gradiente iónico membranar dos


microorganismos.
 Na valinomicina, o ião é englobado na molécula e a sua carga passa a ser
irrelevante. É um transportador móvel característico, tem uma zona interna que complexa
o ião, escondendo a sua carga. É um ionóforo específico para K+ que se forma
espontaneamente se houver muitos iões no meio.
 A valinomicina transporta potássio, ligando uma outra molécula. Esta é
transportada para um lado e o potássio para o outro.
 Quando se fala em especificidade do ionóforo, devemos ter em conta dois
factores:

- O raio do ião;
- A energia de dessolvatação (energia de ligação do ião às moléculas de água
que lhe permitem circular na água)  ΔG associada a hidratação.

Os ionóforos do tipo móvel são mais selectivos devido a estes factores, enquanto os
outros formam apenas poros. No poro, não é necessário ter a energia de dessolvatação

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em linha de conta. Quando se utiliza um ionóforo, aumenta-se a permeabilidade da
membrana, mas o transporte dá-se sempre no sentido do gradiente.

 Este ionóforo tem a particularidade de envolver completamente o potássio,


mantendo a electronegatividade.
 Os oxigénios no centro do anel da valinomicina formam um local de ajuste
perfeito para o catião, daí que o raio do catião seja crítico. Iões muito grandes requerem
grande distorção do peptídeo, de forma a ajustá-los.
 Outro aspecto que confere especificidade quanto ao ião a transportar é a ΔG
associada a hidratação do mesmo. Quanto mais negativa é a ΔG associada, mais estável
é o sistema, logo maior quantidade de energia é necessária para desidratar o ião. O Na +
tem uma ΔG de - 72 Kcal/mol enquanto K+ possui ΔG = - 55 Kcal/mol, logo é
energeticamente mais dispendioso desidratar Na+.

Ex. Monensina:

 É um ionóforo para Na+.


 É um transportador móvel com sistema antiporte Na+/H+. A monensina tem
vários grupos carboxilo e, para transportar o ião, tem de perder os protões, fechando.
 Quando não se encontra complexada ao ião é uma molécula linear aberta e
neutra.
 Para poder ligar os iões, a monensina tem de alterar a sua estrutura, para isso
é desprotonada nos grupos carboxilo, fechando sobre si mesma. Deste modo assume a
conformação cíclica que liga Na+, ficando novamente neutra, o que lhe permite
atravessar a membrana. Quando o sódio é libertado no interior celular, a monesina volta
a ligar H+ (protonação dos grupos carboxilo) ficando novamente neutra, podendo assim
atravessar a membrana sem problemas.
 Como este sistema transporta H+ para um lado e Na+ para outro há uma
compensação de cargas, sendo o transporte electroneutro.

Ex. X-537A:

 Foi dos primeiros antibióticos a ser descoberto e um dos mais usados, embora
na actualidade não o seja.
 Transporta catiões monovalentes e bivalentes, por troca com protões.
 A molécula X-537A não é muito específica. Os seus grupos carboxilo são
desprotonados quando o ião se liga. No caso de um ião bivalente, são necessárias duas
moléculas de X-537A e duas desprotonações, formando-se um dímero.

Ex. A23187:

 Trata-se de uma molécula aberta que se fecha quando complexa o ião, sendo
que as suas extremidades se unem através de uma ligação de hidrogénio.
 É um ionóforo carboxílico móvel para catiões bivalentes, nomeadamente cálcio
2+
(Ca ).
 Funciona da mesma maneira que o ionóforo anterior. Como o ião cálcio tem
duas cargas positivas, são necessárias duas moléculas do ionóforo, que realizam a
transferência electricamente neutra dos iões, ou seja, juntamente com o cálcio são
transportados dois aniões ou um catião bivalente, para o lado oposto. O objectivo final é,
sempre, manter a electroneutralidade.
 A utilização de ionóforos de cálcio contribuiu decisivamente para a compreensão
do papel do Ca2+ nos processos celulares. Não é possível injectar cálcio nas células, mas

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recorrendo a este ionóforo o transporte deste ião torna-se é possível. Muitas respostas
fisiológicas normalmente accionadas pela ligação de hormonas a receptores
membranares de superfície podem ser deduzidas pela utilização de ionóforos de cálcio
que fazem elevar os níveis de Ca2+ intracelular.

Ex. Nigericina:

 Ionóforo carboxílico, mas com elevada especificidade para K+ e H+.


 Possui função complementar à da valinomicina, dissipando o gradiente de K +,
mas mantendo o potencial de membrana devido ao antiporte com H +. Funciona como
protonóforo, sendo um transporte electroneutro.

Conclusões:

 Os ionóforos móveis são geralmente cíclicos (Ex. valinomicina), mas também


podem ser ácidos carboxílicos, que formam um anel através da junção das extremidades
por ligações de H (Ex. A-23187).
 O ião aprisionado no interior do anel estabelece interacções com os átomos
electronegativos do ionóforo de forma a compensar as ligações que anteriormente
estabelecera com o solvente.
 O elevado número de resíduos apolares na periferia do anel permitem que o
transportador se difunda no interior hidrofóbico da membrana.

Formadores de canais:

 Estes ionóforos são muito menos selectivos para os iões a transportar, contudo
o seu transporte é bem mais rápido.
 Existe um poro pelo qual ocorre transporte inespecífico.

Ex. Gramidicina:

 É um ionóforo para catiões monovalentes que estabelece poros hidrofílicos na


membrana formados por duas moléculas helicoidais.
 Este peptídeo forma espontaneamente dímeros na membrana, estes estão
ligados pelo terminal formil e formam o canal transmembranar. A formação destes
dímeros é um processo reversível.
 Num sistema fisiológico em que existe gramidicina, ela vai desfazer os
gradientes, mas não sendo específica para os iões, os transportes dão-se de acordo com
os gradientes, até se estabelecer equilíbrio.

Protonóforos (Ionóforos de protões):

 São moléculas de baixa densidade de carga, em que esta está “localizada” no


anel, ou seja, está deslocalizada.
 São ácidos fracos, lipossolúveis, que penetram nas membranas biológicas quer
na forma protonada quer na desprotonada, transportando protões segundo um gradiente
de concentração.

Ex. Dinitrofenol:

 De nome químico 2,4-dinitrofenol, é um ácido fraco. Seria de esperar que a sua


base conjugada, 4-dinitrofenolato, não atravessa-se a membrana, mas na verdade a sua

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carga negativa encontra-se repartida por toda a estrutura, tendo por isso de um modo
geral baixa densidade de carga, o que lhe confere vantagem para se difundir pela
membrana.
 Encontra-se na forma protonada quando o pH é
menor e na desprotonada quando é maior.
 O protonóforo liga o protão na face externa da
membrana e, no interior da célula, após passar pela
membrana, desliga-o.
 Funciona como desacoplador da fosforilação
oxidativa, pois dissipa o gradiente electroquímico
transportando H+ para o interior da matriz.

Ex. FCCP:

 É um ácido fraco, lipossolúvel na forma protonada e desprotonada.


 Tem um comportamento semelhante ao do DNP dissipando de igual forma o
gradiente electroquímico da membrana.
 Liga H+ no exterior, formando-se FCCPH que passa pela membrana e, no
interior o H+ é libertado, regressando o FCCP ao exterior.
 Na presença deste desacoplador a ATP sintetase deixa de funcionar como
sintetase de ATP e passa a ter função de ATPase, hidrolizando ATP de forma a repor o
gradiente de H+.

Protonóforos – Cadeia Respiratória e Fosforilação Oxidativa:

 Nas mitocôndrias, há síntese de ATP e gasto de


oxigénio.
 Estes organelos têm uma dupla membrana, em que
a primeira é permeável a quase tudo e serve apenas para
isolar, e a mais interior é praticamente impermeável. O espaço
intermembranar é muito importante.
 O número de protões ejectados pela cadeia
respiratória é grande, e estas partículas associam-se á
fosforilação.
 Na fosforilação oxidativa mitocondrial (ocorre na membrana interna) existem
quatro complexos enzimáticos, onde ocorre transporte de electrões, cuja consequência é
a redução do oxigénio a água. Os complexos I, III e IV ejectam protões para o espaço
intermembranar, gerando-se um gradiente de protões, que contribui para um potencial
eléctrico de membrana particular.
 O complexo V, ATP-sintetase, sintetiza ATP por fosforilação de ADP (que só
ocorre se houver fosfato), quando se dá a passagem de protões pelo complexo.
 Os ionóforos provocam a ruptura do gradiente protónico.
 Quando ocorre fosforilação oxidativa, o processo é desacoplado na presença de
dinitrofenol, pois este protonóforo transporta protões para o interior da mitocôndria.
 Na presença de FCCP, também ocorre um aumento de protões no interior da
mitocôndria, sendo a velocidade de ejecção maior (processo mais rápido). A baixa
densidade e a deslocalização da sua carga permitem que o FCCP atravesse a bicamada
com a mesma facilidade tanto no estado protonado como no desprotonado. A cadeia
continua a funcionar, consome-se muito oxigénio e não há produção de ATP, mesmo que
haja ADP, uma vez que a ATP sintetase não funciona sem o gradiente. Os protonóforos
podem ser designados, portanto, de dissociadores energéticos.
 O dinitrofenol e o FCCP podem levar à morte celular.

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Aplicação dos Ionóforos:

1. Estudos bioenergéticos, por exemplo sobre a capacidade da membrana interna


para sintetizar ATP com base num gradiente electroquímico;
2. Impedir a respiração para que não haja síntese de ATP natural, e assim estudar o
efeito de diversos compostos;
3. Estudos bioquímicos, especialmente de permeabilidade membranar.

Transporte activo:

 Refere-se ao transporte de solutos contra um gradiente de concentração, é um


processo endergónico estando por isso muitas vezes associado a reacções exergónicas,
como hidrólise de ATP, absorção de luz, transporte de electrões e fluxo de outras
substâncias a favor do gradiente.

Por exemplo o transporte de K+:

 O transporte de potássio de fora


para dentro, onde está mais concentrado, é
um processo endergónico (não ocorre
espontaneamente) que requer gasto de
energia, pois a ΔG = +5 Kcal/mol. Na célula
este processo requer transportadores, as
ATPases.

 Transporte activo primário – O transporte dos iões está associado ao gasto


directo de ATP, utilizando a energia proveniente da hidrólise deste. Um exemplo é a
Na+/K+ ATPase, entre outras ATPases.

 Transporte activo secundário – Utiliza a energia conservada num gradiente


iónico para transportar solutos contra o gradiente de concentração, por um sistema
antiporta. Este movimento não está associado à hidrólise de ATP. Um exemplo é o Co-
transporte Glicose/Na+ nas células epiteliais do intestino.

Nota: O co-transporte é o transporte de duas substâncias ao mesmo tempo. Ele


pode traduzir o movimento das duas substâncias no mesmo sentido – Simporta, ou em
sentidos opostos, em que uma entra e outra sai – Antiporta.

ATPases (Classificação, Funções e Patologias):

 São proteínas associadas ao transporte activo primário, encontram-se em


membranas biológicas e utilizam a energia libertada na hidrólise de ATP para
transportarem iões contra o gradiente electroquímico.
 A manutenção das várias concentrações de iões no meio intracelular é fulcral
para a viabilidade das células. No meio citoplasmático é estritamente necessário manter
elevadas concentrações de K+ e baixas concentrações de Na+ e Ca2+, geralmente o pH é
mantido neutro. Deste modo, uma porção significativa da energia disponível na célula é
utilizada para manter o gradiente de concentração destes iões (K +, N+, Ca2+, H+) através
das membranas.

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 Classes de ATPases responsáveis pela manutenção do gradiente iónico:

1. Classe P
2. Classe F
3. Classe V
4. Superfamília ABC

Classe P:

 Foram as primeiras a ser descritas, são as mais conhecidas, as mais abundantes


e as que apresentam a estrutura mais simples.

 São constituídas por 4 subunidades


transmembranares, 2α e 2β, as subunidades α contêm o local
de ligação do ATP, enquanto que as subunidades β têm
função reguladora. Durante o transporte, pelo menos uma das
subunidades α é fosforilada e pensa-se que o transporte se dá
através dessa subunidade.

 O transporte de iões por estas ATPases está sempre associado a um ciclo de


fosforilação/desfosforilação.
 O fosfato resultante da hidrólise de ATP é transferido para um resíduo de
aminoácido da ATPase, o que conduz a uma alteração conformacional. Pensa-se que é
esta alteração que determina a afinidade do transportador pelo ião a ser transportado.

 A esta classe pertencem as ATPases:

- Na+/K+ ATPase (Membrana plasmática dos eucariotas);


- H+ ATPase (Membrana de plantas, fungos e bactérias);
- H+/K+ ATPase (Membrana plasmática do estômago de mamíferos)
- Ca2+ ATPase (Células eucarióticas, na membrana plasmática e na membrana
do retículo sarcoplasmático das células musculares);
- Ca2+/K+ ATPase (Retículo endoplasmático e sarcoplasmático);
- K+ ATPase (E.coli).

Na+/K+ ATPase da membrana plasmática:

 Funciona como antiporta, lançando 3 Na+ para fora e 2 K+ para dentro. É por isso
um sistema electrogénico, que cria um movimento “net” de 1+ para fora, gerando uma
carga negativa dentro da célula.
 O mecanismo pelo qual esta bomba actua é simples: Os iões de Na+ e o ATP
ligam-se ao transportador quando este se encontra na conformação E1 (face citosólica da
membrana). O ATP é desfosforilado e o fosfato resultante vai fosforilar um resíduo de
aspartato do transportador, induzindo uma alteração conformacional da forma E1 para a
E2. Os iões de Na+ são libertados para o espaço extracelular, ligando-se de seguida dois
iões de K+ ao transportador (face exoplasmática). Esta ligação promove a remoção do
grupo fosfato, levando a nova alteração conformacional. Finalmente os iões de K+ são
libertados completando o transporte de iões.

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 A ouabaína e a digoxigenina são duas drogas capazes de inibir a função desta
bomba. Ligam-se à face exoplasmática, competindo directamente com o K+ pelo local de
ligação ao transportador e inibindo deste modo a desfosforilação do resíduo de aspartato
e consequentemente a função da ATPase.
 Experiências realizadas em proteoliposomas com Na+/K+ ATPases na membrana
provaram que é possível sintetizar ATP. Ao induzirmos um interior celular com elevada
concentração de K+ e um exterior rico em Na+, verifica-se que o transporte se efectua no
sentido oposto ao observado nas células, dissipando-se o gradiente gerado
artificialmente. O resultado é a produção de ATP a partir de ADP + Pi. Isto vem provar
que as ATPases podem também funcionar como ATP sintetases.

Nota: Bactérias, fungos e plantas não possuem esta bomba iónica. Nestes
organismos o Δψ de membrana é gerado por outras proteínas.
Bactérias anaeróbias possuem H+ ATPases, que usam o ATP resultante da glicólise
para gerar um gradiente de protões. A energia é então conservada num gradiente iónico
sendo utilizada para transportar solutos contra o gradiente de concentração (transporte
activo secundário).
Bactérias aeróbias e mitocôndrias funcionam de forma semelhante. Na cadeia
respiratória ocorre transporte de electrões, e associado a este a expulsão de H+. A
energia libertada no processo de transferência de electrões é armazenada num gradiente
de H+ sendo depois utilizada na síntese de ATP.

Ca2+ ATPase das células musculares:

 Encontra-se presente na membrana plasmática e na membrana do retículo


sarcoplasmático.
 Esta bomba transporta Ca2+ activamente para
fora do citosol, quer para o espaço extracelular, quer
para o interior do RS.
 As biomembranas são relativamente
impermeáveis a Ca2+, sendo fundamental para a
funcionalidade da célula que a concentração
intracelular deste ião seja baixa.
 Em virtude de um estímulo hormonal (alteração
da voltagem) os canais de Ca2+ (de reservatórios
intracelulares ou do exterior) abrem, levando a um
aumento da sua concentração no citoplasma.
Este aumento desencadeia várias respostas, como a contracção muscular e a
fosforilação de enzimas. A principal fonte de cálcio para a contracção muscular consiste
naquele que é libertado pelo retículo sarcoplasmático.
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a) Ca2+ ATPase da membrana do Retículo Sarcoplasmático:

 Constitui mais de 80% do total de proteínas membranares do RS e realiza o


transporte de Ca2+ do citosol para o interior do retículo.
 O RS é um organelo com grade capacidade de armazenamento de Ca2+, a sua
libertação para o citosol provoca a contracção muscular e a sua remoção por estes
transportadores (Ca2+ ATPase) induz o relaxamento.
 No interior do RS existem duas proteínas solúveis que ligam Ca2+:

- Calsequestrina  É uma proteína extremamente ácida (37% dos seus


aminoácidos são resíduos de aspartato e glutamato). Cada molécula destas é capaz de
ligar 43 átomos de Ca2+. No entanto, e apesar da sua grande capacidade de ligar Ca2+,
possui um Km elevado (Km = 1 mM) o que significa que só liga Ca2+ quando este está
presente em grande quantidade – baixa afinidade.
- Proteína ligadora de Ca 2+ de alta afinidade  É outra proteína
presente no interior do RS que auxilia na função de reservatório de Ca2+. Apesar de ter
menor capacidade para se ligar a este ião possui uma afinidade bastante mais elevada
(Km = 3 - 4 μM)

 A importância destas duas proteínas reside no facto de ambas funcionarem como


reservatório intracelular de Ca2+. Desta forma reduzem a concentração deste ião livre no
interior do RS (o gradiente de concentração de determinada substância depende
essencialmente da sua quantidade livre no solvente). O gradiente iónico diminui e
consequentemente é necessária menor quantidade de energia para promover o
transporte activo de Ca2+ para o interior do RS pelas Ca2+ ATPases.
 O mecanismo de funcionamento destas ATPases é igualmente simples. O
transporte de Ca2+ está acoplado à hidrólise de ATP, desta forma, a fosforilação do
resíduo de aspartato (pelo fosfato libertado pelo ATP) promove uma alteração
conformacional da enzima (Ca2+ ATPase) de E1 para E2, permitindo a libertação de Ca2+.
Mais especificamente, os locais de grande afinidade para o catião (Ca2+) estão
voltados para o citosol (E1), após a ligação de dois iões de Ca2+, o ATP também se liga à
proteína, sendo que esta ligação necessita de um co-factor (Mg2+), ou seja de uma Mg2+
ATPase. O ATP é então hidrolisado e o fosfato resultante liga-se a um resíduo de
aspartato, formando uma ligação aspartil-P altamente energética (E1-P). Induz-se uma
alteração conformacional da ATPase para a forma E2, levando a uma perda de afinidade
da enzima pelo Ca2+, que é libertado lúmen do RS. Depois desta libertação, a ligação
aspartil-P é hidrolisada, o que provoca uma nova alteração conformacional da enzima
para a forma inicial (E1). Neste momento os locais de ligação de Ca2+ virados para o
lúmen ficam inactivos e os do lado citosólico são activados.

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Experiência de Mitchell – Reversibilidade das ATPases:

 Num meio apropriado, foram colocadas vesículas do RS isoladas e purificadas,


juntamente com ATP e Ca2+. Devido à existência de um gradiente de concentração e
energia (ATP), o Ca2+ é transportado para o interior das vesículas por acção da Ca2+
ATPase. De seguida transferiram-se as vesículas carregadas com Ca2+ para uma solução
contendo ADP + Pi e nenhum Ca2+. O resultado é a dissipação do gradiente de Ca2+ e
formação de ATP. Deste modo Mitchell provou que os gradientes iónicos contêm energia
suficiente, que pode ser utilizada na síntese de ATP, neste caso, no exterior da vesícula.
Provou também a reversibilidade destas proteínas.

b) Ca2+ ATPase da membrana plasmática:

 É importante para o correcto funcionamento celular manter os níveis de Ca2+


baixos no citosol, existindo, para tal efeito, na membrana plasmática de várias células,
Ca2+ ATPases, que expelem o Ca2+ para o espaço extracelular.
 O aumento da concentração de Ca2+ no citosol é um sinal de activação de várias
respostas celulares, contudo após estas respostas é necessário que a concentração deste
ião retome níveis normais no citosol. Deste modo, a célula pode ser estimulada
novamente, note-se que elevados níveis de Ca2+ no citosol podem conduzir à morte
celular.
 O cálcio é excluído pela ATPase para o exterior celular e para o interior de alguns
organelos, como o retículo endoplasmático e as mitocôndrias. No entanto, o RE apesar de
apresentar grande afinidade para este composto não apresenta grande capacidade de
armazenamento, e as mitocôndrias apesar de possuírem grande capacidade de
armazenamento não possuem grande afinidade. Como a afinidade é reduzida, este
organelo funciona como reservatório apenas em situações de doença, em que a
concentração de Ca2+ é muito elevada. Ou seja, funciona como tampão em situações de
disfunção celular (doença).

Calmodulina (CaM):

 Encontra-se grandemente distribuída no citosol e funciona de uma forma simples.


 É uma proteína com grande afinidade para
o Ca2+, que regula a actividade da Ca2+ ATPase
presente na membrana plasmática de eritrócitos e
de outras células, ligando-se alostericamente à
enzima, activando-a.
 Possui 4 locais de ligação para iões Ca 2+
com motivos hélice-loop-hélice (zonas EF).
Normalmente possui uma conformação aberta, mas
quando a concentração deste ião aumenta acima
dos 5x10-7, ele liga-se à CaM e esta sofre uma
alteração conformacional, que a torna mais
compacta, expondo o seu domínio hidrofóbico. Este
serve de interface para a interacção com a Ca2+
ATPase.
 Um aumento na concentração intracelular de Ca2+ induz a ligação de iões Ca2+ à
calmodulina, conduzindo a uma activação alostérica (pela CaM) da Ca 2+ ATPase. Esta
altera o Km de 80 μM para 10 μM, aumentando a velocidade de transporte. Assim, a
expulsão de Ca2+ para o exterior aumenta, diminuindo a concentração de Ca2+ no citosol.

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Inibidores da Calmodulina:

 A actividade da calmodulina pode ser


inibida pela utilização de Trifluoperazina
(TFP) ou de outros agentes anti-psicóticos.
Estes ligam-se ao domínio hidrofóbico da
calmodulina, ocupando assim, o local de
interacção entre a calmodulina e a Ca2+
ATPase. Esta ocupação impede a activação
alostérica do transportador e
2+
consequentemente a saída de Ca .
 Note-se que a ligação de TFP à calmodulina está dependente da ligação de Ca2+ a
esta. Só quando o Ca2+ se liga à CaM é que o domínio hidrofóbico é exposto e o TFP
pode actuar.

H+ ATPases:

 A H+ ATPase das células vegetais é uma enzima fundamental, desempenhando o


papel de bomba de protões para o apoplasto. Desta forma controla o pH intra e
extracelular, alcalinizando o citosol e desencadeando a síntese de ácido málico. Este vai
afectar o ciclo de Krebs e consequentemente a razão NADH/NAD+.
 Outras funções são reguladas pela actividade desta ATPase, como a abertura e
fecho dos estomas e o desenvolvimento da polaridade nas plantas jovens.
 É totalmente inibida por DES e Vandato, este último é muito generalista, pois é
análogo do fosfato, inibindo todas as fosfatases ácidas, alcalinas e todas as ATPases do
tipo P.

Classe F:

 Podem encontrar-se nas membranas mitocondriais, nos


cloroplastos (nos tilacóides, no interior dos grana, onde se dá a
fotossíntese) e na membrana plasmática de bactérias.
 Todas as ATPases deste grupo são protónicas, ou seja,
promovem o movimento de protões (H+) e utilizam o seu gradiente
para fosforilar ATP, sem a formação de um intermediário
fosforilado (não ocorre ciclo de fosforilação/desfosforilação).

 São constituídas por 8 a 13 peptídeos divididos em dois domínios diferentes:

- Domínio hidrofóbico F0  Encontra-se embebido na membrana e forma


o canal protónico;
- Domínio hidrofílico F1  Local catalítico que promove a síntese de ATP.

 Estas ATPases sintetizam ATP através do gradiente de protões e, no sentido


inverso, usam ATP para transportá-los. Funcionam de forma inversa ás restantes
ATPases, pois o gradiente de protões é utilizado para a formação de ATP a partir de ADP
+ Pi. Contudo, em situações de anoxia (sem respiração), ocorre uma reversão, na qual o
ATP é usado para manter os gradientes (ΔH+),
 Têm actividade reversa, ou seja, funcionam como ATP sintetases, apenas se os
+
H fluírem a favor do gradiente de concentração.

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Classe V:

 Bastante semelhantes ás do tipo F, sendo também protónicas (transportam


exclusivamente H+), utilizam a energia da hidrólise de ATP sem no entanto formarem um
intermediário fosforilado. Mas ao contrário das F, promovem um transporte unidireccional
de H+ gerando um potencial.
 Existem na membrana dos vacúolos de plantas, leveduras e outros fungos, nas
membranas dos endossomas e lisossomas (mantendo sempre um pH baixo necessário à
funcionalidade destes organelos) das células animais e na membrana plasmática dos
osteoclastos e das células tubulares dos rins.
 São formadas por muitas subunidades sendo que algumas estão associadas à
hidrólise de ATP e outras à translocação de H+.

 Dividem-se em dois domínios:

- Domínio Vo  Forma o canal protónico (o O em índice deriva de


“oligomicina”, um composto que inibe especificamente a passagem por este
componente);
- Domínio V1  Apresenta actividade catalítica.

 A acidificação (pH baixo) provocada por estas bombas permite uma melhor acção
de clivagem de enzimas digestivas, pois causa desnaturação.
 São importantes no crescimento dos ossos.

ATPases tipo V (em vacúolos):

 Regulam a concentração de iões e sacarose no interior de vacúolos de plantas.


Por exemplo, com a fotossíntese realizada durante o dia há um excesso na produção de
sacarose, este excesso é armazenado nos vacúolos. Durante a noite, esta mesma
sacarose sai para o citosol onde é metabolizada com consequente produção de ATP.

 A membrana dos vacúolos possui dois tipos de


bombas, H+ ATPases (Tipo V) e Pirofosfatases (Bombas
protónicas exclusivas de vacúolos de plantas). Estas
bombas ao ejectarem H+ no interior do vacúolo,
conduzem a um decréscimo do pH, bem como a um
potencial eléctrico positivo ao longo da face interna da
membrana vacuolar.
Devido a este gradiente eléctrico ocorre entrada de
aniões Cl- e NO3- através de canais proteicos (Transporte
activo em resposta a um gradiente eléctrico 
Transporte secundário). A entrada destes aniões vai
compensar o excesso de cargas positivas presente no
interior do vacúolo, dissipando o gradiente eléctrico. Esta
dissipação permite a contínua entrada de H + reduzindo
assim o valor de energia necessário ao seu transporte
activo.
 Na membrana de vacúolos é também possível encontrar transportadores
antiporta, activados pelo gradiente de H +, que vão acumular Na+, Ca2+, e sacarose no
interior do vacúolo, ao mesmo tempo que expelem H+ para o citosol.

48
 Em suma existem três grandes tipos de transportadores nas membranas
vacuolares: Bombas protónicas, canais proteicos, e transportadores antiporta.

Renovação óssea – Osteoclastos:

 Os osteoclastos ligam-se ao osso, e fecham


um pequeno espaço extracelular entre a membrana
plasmática e a superfície deste.
 Apresentam H+ ATPases na membrana que
excluem H+ para o exterior de forma a baixar o pH
externo e dissolver o osso. A solução acídica gerada
dissolve a matriz mineral óssea constituída
essencialmente por CaCo3 e hidroxiapatite (fosfato
de cálcio).
 Após terminar o crescimento de um indivíduo, o organismo equilibra a formação
de novo tecido ósseo (pelos osteoblastos) com a dissolução da matriz óssea (pelos
osteoclastos).

 Na membrana plasmática dos túbulos renais, existe uma H+ ATPase muito


importante, pois contribui para a manutenção do equilíbrio ácido-base do organismo ao
secretar protões para a urina em formação. A acidez contribui para a destruição de
bactérias e para a fluência.

ATPases da Superfamília ABC:

 Recentemente descoberta, todos os membros


desta família possuem dois domínios transmembranares (T
– Formados por 6 α-hélices), que constituem um canal de
passagem de solutos, conferindo especificidade a cada
membro desta família. Estas ATPases apresentam ainda
dois domínios citosólicos (A) de ligação ao ATP. Estes
domínios apresentam cerca de 30 a 40% de homologia em
todos os membros desta superfamília, evidenciando uma
origem evolutiva comum.
 Algumas proteínas desta superfamília apresentam ainda uma subunidade
reguladora, que liga ao substrato.
 Nesta superfamília não se tem conhecimento da formação de intermediários
fosforilados, ou seja, elas utilizam a energia libertada na hidrólise de ATP para efectuar o
transporte de solutos.
 Transportam fosfolípidos, drogas lipofílicas, colesterol e outras moléculas
pequenas, na membrana plasmática de mamíferos, e aminoácidos, açúcares e peptídeos,
na membrana plasmática de bactérias.
 Existe uma relação entre estes transportadores e a quimioterapia, uma vez que
transportam a adimicina para o exterior da célula assim que ela entra, impedindo a sua
acção anti-tumoral.
 A ideia de que estas ATPases só existem em situações patológicas é falsa, pois
estas proteínas encontram-se normalmente nas células. Os aspectos terapêuticos só
foram descobertos posteriormente.

49
Permeases da Membrana Plasmática de Bactérias:

 As bactérias possuem numerosas permeases da superfamília ABC, que as ajudam


a captar aminoácidos, açúcares, vitaminas, péptidos, etc.
 Dado que a maioria destas bactérias vive em solos e charcos com baixas
concentrações de solutos, estas proteínas permitem-lhes concentrar nutrientes dentro da
célula contra um gradiente de concentração.
 As bactérias gram (-), como a E.coli, importam solutos através de permeases
ABC, que utilizam uma proteína solúvel ligadora de substrato presente no espaço
periplasmático.
 A quantidade de proteína solúvel transportadora presente na membrana é
regulada pela concentração de nutrientes no meio, e pelas necessidades metabólicas da
bactéria.
 A Histidina permease é uma
permease ABC típica, possui dois domínios
transmembranares e dois citosólicos de
ligação ao ATP. As bactérias gram negativas
possuem a membrana externa separada por
um espaço periplasmático da membrana
interna. Isto complica a importação de
histidina pois obriga-a a atravessar duas
membranas. A histidina entra, através de
uma porina da membrana externa, para o
espaço periplasmático, onde se liga a uma
proteína solúvel e específica.
Esta vai transportar a histidina directamente para as subunidades T da permease
ABC, que por sua vez a transportam para o citosol, à custa da energia libertada pela
hidrólise de ATP.

MDR1 (Multidrug Resistance Transporte Protein):

 Algumas células cancerígenas tornam-se frequentemente resistentes a várias


drogas quimioterapêuticas.
 Biólogos celulares observaram que, culturas de células resistentes a uma toxina
em particular, muitas vezes se tornavam também resistentes a outras drogas.
 Estudos subsequentes revelaram que esta resistência se devia à expressão de um
transportador proteico conhecido como MDR1. Uma glicoproteína transmembranar
pertencente à superfamília ABC que possui as 4 subunidades fundidas numa única
unidade, e exporta drogas do citosol para o meio extracelular.
 As drogas transportadas por esta proteína são pequenas moléculas hidrofóbicas
que se difundem através da membrana plasmática para o citosol, a MDR1 ao expelir
estas substâncias de volta ao espaço extracelular faz com que maiores concentrações de
toxina sejam necessárias para um tratamento quimioterapêutico.
 A MDR1 existe principalmente em órgãos como o fígado, intestinos e rins, locais
onde se executa a remoção de produtos naturais tóxicos ao organismo. E nestes casos, a
função de MDR1 é o transporte de vários produtos para a bílis, lúmen intersticial ou
urina. Pensa-se que durante a evolução, esta proteína tenha adquirido a capacidade de
transportar drogas semelhantes a estas toxinas naturais.
 Nas células cancerígenas do fígado, os hepatomas, as células tendem a sobre
expressar esta proteína tornando-se resistentes a muitos agentes terapêuticos.

50
Possível modelo de acção da MDR1 – Modelo Flipase:

 Este modelo propõe que a substância lipossolúvel se difunda passivamente


através do folheto citoplasmático da membrana, até alcançar o local de ligação do
transportador MDR1, localizado no interior da bicamada lipídica. O composto a
transportar tem sempre uma parte polar e uma parte apolar e, alinhando-se com as
zonas hidrofílicas e hidrofóbicas das membranas, é depois integrado entre as
subunidades T. De seguida, e à custa da energia da hidrólise de ATP, estas subunidades
sofrem um movimento de flip-flop, sendo a droga transportada para o folheto externo da
membrana plasmática e depois excretada no meio extracelular. De acordo com este
modelo, cada transportador tem um único local de ligação para a droga.
 Como o transporte se dá de uma zona menos concentrada para uma zona mais
concentrada, o transporte é activo e dá-se com gasto de ATP.

 Este modelo de flipase fundamenta-se no mecanismo de acção de uma proteína


homóloga, a MDR2, existente na membrana plasmática dos hepatócitos. Esta promove o
“flip” de fosfolípidos do folheto citosólico da membrana para o folheto extracelular. Estes
fosfolípidos vão fazer parte essencial da bílis.
 Existe ainda um outro modelo, o do transportador tipo bomba. Neste modelo a
droga é transportada segundo um mecanismo semelhante às restantes ATPases, com
gasto de ATP.

Fibrose Cística (Mucoviscidose):

 É uma doença genética, comum entre


caucasianos, que está associada a mutações autossómica
recessivas em ABC ATPases.
 Caracteriza-se por uma obstrução dos sistemas
respiratório e gastrointestinal, que leva a infecções
bacterianas.
 Os indivíduos que sofrem desta doença exprimem uma proteína membranar
mutante, a CFTR, constituída por 12 α-hélices transmembranares e estruturalmente
semelhante à MDR1. A proteína CFTR normal (presente nas membranas dos pulmões e
do pâncreas), funciona como um canal específico para cloro, que aumenta a sua
actividade quando fosforilado.

 Mutações no gene codificante para esta proteína podem ter os seguintes efeitos:

- A proteína não se insere adequadamente na membrana;


- A proteína é inserida correctamente na membrana mas não é fosforilada.

51
 Qualquer um dos casos resulta num canal de Cl- não funcional.
 Normalmente, as células epiteliais que revestem a superfície interna dos pulmões
secretam uma substância mucosa, que aprisiona e mata as bactérias invasoras, sendo
estas expelidas para o exterior com a ajuda do movimento dos cílios das células do trato
respiratório.
 Em indivíduos saudáveis, o muco é uma solução com baixa concentração de
NaCl, infelizmente em pacientes com fibrose cística a concentração de NaCl é elevada, o
muco é mais espesso e as trocas gasosas são mais difíceis (eficiência grandemente
reduzida).
 Existe um trocador Cl-/CO3-. Sendo a CFTR um canal de Cl-, se esta proteína não
estiver a funcionar correctamente (mutada), não há exportação deste anião. Não ocorre
saída de cloreto, logo os gradientes de Cl- e Na+ ficam alterados (no muco). A capacidade
bactericida do muco é diminuída.

Sistemas Simporta e Antiporta e Regulação do pH citosólico:

 Para que as células possam crescer e dividir-se correctamente, o pH citosólico é


um factor importante, devendo ser muito bem regulado e mantido sempre dentro dos
estreitos limites.
 No interior celular, são muitas as reacções metabólicas de que resultam ácidos
fracos, estes dissociam-se e aumentam a concentração de H+ livre no citosol. São por
isso necessários sistemas membranares para transportar os H+ para o espaço
extracelular, só assim se consegue prevenir a acidificação do citoplasma.

Co-transportador Na+ HCO3-/Cl-:

 Este transportador importa 1 Na+ segundo o seu gradiente


de concentração, juntamente com 1 HCO3- contra o seu gradiente.
Uma vez dentro da célula o HCO3- combina-se com um H+,
proveniente do metabolismo celular, originando H2O e CO2, que se
difunde para fora da célula.
 Desta forma, o correcto funcionamento deste transportador contribui para a
manutenção do pH citosólico, uma vez que reduz o número de H + livres no citoplasma.

Antiporta H+/Na+:

 Conjuga a entrada de Na+ segundo o seu gradiente de concentração com a saída


de H+ contra o gradiente de concentração deste.

Antiporta Cl-/HCO3-:

 É um transportador presente na membrana plasmática das


células animais (semelhante à banda 3 de eritrócitos) que contribui
para a manutenção do pH extracelular.

 Este transportador combina a saída de 1 HCO3- citosólico em troca com a entrada


de 1 Cl- a favor do seu gradiente de concentração, é um transporte electroneutro.
 Baixa o pH citosólico ao exportar o excesso de OH-.

52
 A actividade destes três transportadores
(Co-transportador Na+ HCO3-/Cl-, Antiporta H+/Na+
e Antiporta Cl-/ HCO3-) depende do pH do meio. As
células encontram-se assim equipadas com
mecanismos bastante eficientes para regular o seu
pH.

 Quando o pH desce, o antiporta Na+/H+ e o co-transporte Na+ HCO3-/Cl- são


activados. A sua função é baixar a concentração de H + livres no citosol, elevando o pH.
Quando o pH está acima de 7 é o antiporta Cl-/HCO3- que fica activo, expelindo HCO3- até
o pH baixar para valores fisiológicos.

Banda 3 – Antiporta Cl-/HCO3-:

 O seu nome deriva do facto de ser a terceira banda a aparecer num gel de um
eritrócito.
 Existe nos eritrócitos, mas também nas células parietais do estômago.
 É um transportador essencial ao nosso organismo, pois permite o eficiente
transporte de CO2 pelos eritrócitos.
 Este transportador promove um antiporta electroneutro, com saída e entrada de
1 anião monovalente, mas é também capaz de efectuar a reacção inversa, dependendo a
direcção do transporte apenas do gradiente de concentração.

a) Capilares Sistémicos:

 O CO2 resultante do metabolismo é


libertado nos capilares, difundindo-se para os
eritrócitos. Ao combinar-se com a H2O (pela acção
da anidrase carbónica) origina H2CO3 (ácido
carbónico), que rapidamente se dissocia em HCO3- e
H+.

 Este processo é simultâneo à libertação de O2 pela hemoglobina, induzindo uma


alteração conformacional desta, o que possibilita a ligação de H + ao resíduo de histidina.
A remoção de H+ pela histidina provoca uma deslocação da reacção H2O + CO2  HCO3-
+ H+ para a direita, no sentido de produzir mais H+. Assim a concentração de HCO3- no
interior do eritrócito aumenta muito. É neste momento que o transportador (Banda 3)
promove a troca entre Cl-/HCO3-, exportando HCO3- e importando Cl-.
 Este sistema é de grande importância para o organismo pois permite o transporte
de CO2 dos tecidos para os pulmões, sendo que cerca de 80% do CO2 produzido pelo
metabolismo celular é exportado desta forma. É também importante uma vez que sem a
troca de aniões, o pH do citosol dos eritrócitos ficaria muito mais básico. A troca de HCO3-
por Cl- permite manter do pH citosólico perto da neutralidade.

b) Capilares Pulmonares:

 Nos capilares pulmonares, a direcção de troca é inversa. O CO2 transportado


pelos eritrócitos difunde-se pela membrana e é expelido na respiração. Há um
decréscimo na concentração de CO2, deslocando a reacção acima descrita no sentido
inverso, produzindo-se mais CO2 e H2O (esta reacção também é catalizada pela anidrase
carbónica).
53
 Como a concentração de O2 no exterior
(pulmões) é elevada, este tem tendência a entrar para o
interior do eritrócito (difusão) e a ligar-se à hemoglobina,
que, por sua vez, sofre uma alteração conformacional e
liberta o H+ ligado ao resíduo de histidina.

 Devido a todos estes factores a concentração de HCO3- no interior do eritrócito


diminui, e por isso, a Banda 3 promove a sua entrada em troca com Cl-. Assim, a
influência do H+ no citosol diminui, ficando o pH menos ácido.

c) Células Parietais do Estômago:

 O estômago dos mamíferos contém uma solução 0,1 M de ácido clorídrico (HCl).
Este ácido elimina muitas bactérias ingeridas e desnatura proteínas, que depois vão ser
degradadas por enzimas proteolíticas actuantes a pH ácido (Ex. Pepsina).
 As células parietais têm como função secretar HCl para o lúmen do estômago,
tornando-o ácido, pois as enzimas que aqui actuam, só funcionam neste pH. No entanto,
o pH destas células dever ser mantido em valores fisiológicos.

 A membrane apical das células


parietais possui H+/K+ ATPases, bem como
canais proteicos de Cl- e K+. A membrana
basolateral contém antiportas Cl-/HCO3-.
 Nas células parietais, H2O dissocia-
se em H+ e OH-, e este último reage com
CO2 formando HCO3-, que, por acção da
antiporta Cl-/ HCO3- é trocado por cloreto. O
H+ é transportado para o lúmen por troca
com K+ (acção da H+/K+ ATPase).

 O transporte de K+ é cíclico, uma vez que ele é transportado para o citosol, pela
ATPase, saindo de novo para o lúmen, pelos canais proteicos. Assim, o K+ entra para o
citosol por troca com H+ (ATPase), que sai para o lúmen. No entanto o Cl- que entra no
citosol (por troca com HCO3-) volta a sair, saindo também um K+ (pelo canal proteico)
para compensar as cargas, mantendo-se a electroneutralidade.
 O pH do interior mantém-se constante, porque saem iões H+, mas também
grupos OH- (CO2 + OH-  HCO3- , por acção da anidrase carbónica). Se estes últimos
não saíssem, o pH tornar-se-ia básico. Daí a importância do antiporta Cl-/HCO3-.
 Assim, a combinação dos diferentes transportes, com a acção da anidrase
carbónica, permite acidificar o lúmen do estômago, mantendo o pH das células parietais
electroneutro.

Co-transporte Glicose/Na+ (Células Epiteliais do Intestino):

 Nas células epiteliais do intestino, a concentração celular de Na+ é mantida muito


baixa devido à acção de uma Na +/K+ ATPase (Transporte primário), localizada na
membrana basolateral, que expele Na+ para o exterior contra um gradiente de
concentração. Em resposta a este mesmo gradiente de concentração, o Na+ tem
tendência a entrar na célula, e esta utiliza a energia conservada no gradiente iónico para
transportar glicose, juntamente com Na+, contra o gradiente de concentração (Co-
transporte – Transporte secundário).
54
 Este co-transportador Glucose/Na+
encontra-se na membrana apical e liga 2
Na+ e uma molécula de glicose na face
externa da membrana. Quando os iões de
Na+ são libertados no meio intracelular, o
transportador sofre uma alteração
conformacional, perdendo afinidade pela
molécula de glicose que é então libertada
no interior da célula. Dentro da célula, a
molécula de glicose atravessa a membrana
basolateral através de outro transportador,
o GLUT2, que permite a difusão facilitada
da glicose, passando esta para a corrente
sanguínea.

Antiporta de Na+/Ca2+ (Células Musculares e Nervosas):

 É bastante importante regular os níveis de Ca2+ no interior das células. Ligeiras


variações na concentração deste ião são responsáveis por muitos processos biológicos,
como a contracção muscular, secreção em glândulas e transmissão do impulso nervoso.
No entanto, depois da resposta ser efectuada, convém que os níveis de Ca2+ retomem
valores normais, para isso existem dois transportadores importantes a Ca2+ ATPase
(referida anteriormente, que utiliza a hidrólise de ATP para excluir Ca2+) e o
transportador Na+/Ca2+, que é o principal responsável pela exclusão de Ca2+ em células
nervosas e musculares.

 O transportador Na+/Ca2+ efectua um movimento


antiporte e electrogénico. Não há compensação de cargas,
uma vez que entram três cargas positivas (3 Na+) e saem
duas (1 Ca2+).
 Este transporte é electroforético, pois acontece à
custa de um estímulo (campo eléctrico).

 Trata-se de um transportador activo secundário, pois o Ca2+ é excluído devido a


um gradiente de concentração de Na+, este é, no entanto, criado pela Na+/Ca2+ ATPase.

Inibidores Cardiotónicos:

 Estes compostos levam à diminuição do ritmo cardíaco, inibindo as bombas de K+


2+
e Ca . Aumentam a força de contracção do músculo cardíaco.
 A oubaína é um inibidor cardiotónico, é uma droga terapêutica usada em casos
de insuficiência cardíaca. Drogas como esta são frequentemente referidas como
glicosídeos cardíacos, pois possuem resíduos de açúcares, embora estes não contribuam
para a sua função, mas sim para a sua solubilidade no fluido intersticial. Os glicosídeos
ligam-se exclusivamente à face citosólica da Na+/K+ ATPase, formando um complexo
muito estável, impedindo que o K+ se ligue e seja importado pela célula.
 A inibição da Na+/K+ ATPase provoca um aumento da concentração de sódio no
interior da célula, que conduz à activação da Na+/Ca2+ ATPase. No entanto, este trocador
não funciona normalmente se a concentração de sódio dentro da célula aumentar, uma
vez que o gradiente de concentração de Na+ regula a actividade do antiporte Na+/Ca2+.
Logo, a bomba Na+/Ca2+ fica inactiva, levando a um aumento da concentração de cálcio
no interior celular (citosol).

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 Concentrações elevadas deste ião (no citosol) promovem um aumento da força
de contracção muscular.
 Devido à acumulação de cargas positivas no interior celular, o potencial eléctrico
ao longo da membrana diminui e o Cl- extracelular entra (em condições normais o
potencial eléctrico sobrepõem-se à sua entrada, mas neste caso essa barreira é desfeita).
Com a entrada destes iões, a concentração iónica intracelular é elevada e a água tende a
entrar para contra-balançar a osmolaridade. Por esta razão as células que revestem os
vasos sanguíneos aumentam de volume e consequentemente dá-se um aumento da
pressão arterial. Os glicosídeos são, por este motivo, utilizados com agentes terapêuticos
em casos de insuficiência cardíaca. No entanto podem funcionar como um veneno em
casos de hipertensão (elevados níveis de glicosídeos).

 Existem várias plantas (Ex. Dedaleiro) e


animais (Ex. Borboleta Monarca) que produzem
glicosídeos ou esteróides cardiotónicos, de forma
a poderem defender-se dos predadores.

Sistemas Transportadores em Procariotas:

 Em procariotas o transporte de nutrientes é mais difícil e não é efectuado da


mesma forma que em eucariotas devido a dois factores:

- O meio em que habitam difere muito em termos de composição nutricional;


- Têm de concentrar nutrientes contra um gradiente de concentração muito
elevado.

 Durante o processo evolutivo as bactérias desenvolveram e sistemas de


transporte poderosos, capazes de funcionar mesmo quando o gradiente de concentração
é de 100 vezes, entre interior e exterior celular.
 Normalmente, as permeases presentes nas bactérias são indutíveis, ou seja, a
quantidade de transportadores na membrana depende da concentração de nutrientes no
meio extracelular e das necessidades metabólicas da célula.
 De uma forma geral existem três tipos de transportadores em procariotas:

1. Sistema simporta Lactose/H+;


2. Sistema de Fosfotransferase (Translocação de um grupo fosfato);
3. Bacteriorodopsina (Bomba protónica).

1. Sistema Simporta Lactose/H+ em E. coli:

 Muitas bactérias obtêm a energia de que necessitam a partir da oxidação de


glucose em CO2. Durante este processo os electrões são transferidos para intermediários
metabólicos, como o piruvato e o NADH, ou para o O2 no final da respiração.
 Os transportadores de electrões nas bactérias são proteínas integrais
membranares, semelhante ao que acontece nas mitocôndrias.
 Ao longo da cadeia respiratória os electrões vão sendo bombeados para o espaço
extracelular, por um transporte activo primário do qual resulta um potencial eléctrico de
membrana (cerca de 100 mV no interior) e um gradiente de H+. A energia conservada
neste gradiente electroquímico de H+ é utilizada para sintetizar ATP e para importar
nutrientes para o interior do procariota.

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 Em E. coli a lactose é acumulada no interior através de uma permease Lactose/
+
H simporta, constituída por 12 α-hélices transmembranares, que formam um canal
central, permitindo a passagem de H+ e lactose. Ocorre um influxo (entrada) de H+
segundo um gradiente de concentração acoplado ao transporte de lactose na mesma
direcção. Trata-se de um transporte activo secundário.

Demonstração do Co-transporte de Lactose/H+:

 Utilizando um inibidor como o cianeto,


podemos observar como este movimento é
dependente da fosforilação oxidativa
 E.coli envenenadas com cianeto são
incapazes de acidificar o meio extracelular, através
de uma bombagem activa de H+ (bomba protónica
inibida), e, consequentemente, acumular lactose.
O pH interno e externo igualam-se.

 Se adicionar-mos HCl ao meio (acidificação) estamos a fornecer H+, não havendo


assim, qualquer limitação ao simporta Lactose/H+. Neste caso as bactérias adquirem
capacidade para acumular lactose, utilizando a energia contida neste gradiente de H+
artificial, o simporta dá-se mais rapidamente. A acumulação de lactose requer um
potencial de H+ (força protomotriz).

 A eficiência das mitocôndrias deve-se à acumulação de H+ no espaço


intermembranar, o mesmo acontece nas bactérias que possuem duas membranas.

 Uma outra experiência que demonstra este co-transporte consiste em adicionar


valinomicina a uma cultura de E.coli mutante, que não expressa a permease Lactose/H+.
A valinomicina é um ionóforo de K+, que ao transportá-lo para o exterior cria um
potencial eléctrico capaz de sustentar o transporte de lactose. Devido ao gradiente de
concentração, o K+ tende a entrar na célula e ao fazê-lo promove também a entrada da
lactose.

2. Sistema de Fosfotransferase (Translocação de um grupo fosforil):

 Quando células eucarióticas executam a importação de substâncias, como a


glicose ou aminoácidos, quer por difusão facilitada ou simporta, as moléculas são
transportadas de forma intacta, e, uma vez dentro da célula são modificadas (por
exemplo fosforiladas) de forma a impedir a sua saída e a manter o gradiente de
concentração da substancia em questão.

57
 Contrariamente, em bactérias alguns nutrientes são modificados enquanto se
processa o transporte para o interior (da bactéria) por um processo denominado
translocação de grupo.
 Outra diferença que se verifica neste tipo de transporte é a utilização de PEP
(Fosfo-enol-piruvato) em vez de ATP como molécula dadora de grupo fosforil. Isto
justifica-se porque a ΔG resultante da hidrólise desta molécula é maior, favorecendo a
ocorrência de reacções mais endotérmicas em simultâneo, e, porque o PEP é um
intermediário do catabolismo da glicose a piruvato, podendo tornar-se um ponto de
regulação.

Sistema de Fosfotransferase em E.coli:

 A importação de açúcares para E.coli é um movimento muito específico, cada


açúcar é importado por uma enzima II (E2) específica, trata-se de uma enzima integral
da membrana plasmática que forma um canal e ao mesmo tempo transfere um grupo
fosfato para o açúcar, enquanto este se desloca pela membrana.
 O mecanismo de acção é bastante simples, embora um pouco confuso. Este pode
ser dividido em duas fases, na primeira estão envolvidas duas proteínas citoplasmáticas
solúveis, E1 e HPr (pequeno peptídeo). O primeiro passo é a passagem do fosfato do PEP
para a proteína E1, o segundo é a transferiência deste mesmo fosfato de E1 para HPr. A
segunda fase envolve outras duas enzimas, E2 e E3. O HPr tranfere o seu grupo fosfato
para a enzima E3 e esta por sua vez vai passa-lo para E2. Esta ao funcionar como um
canal transmembranar, permite a passagem de açúcares, sendo o fosfato proveniente do
PEP transferido para o açúcar em questão.

Nota: No transporte de açúcares, as enzimas E1 e HPr são generalistas, ou seja,


actuam em todos os casos, no entanto as enzimas E2 e E3 são específicas para cada tipo
de açúcar. Se uma mutação afectar a enzima E1 ou o HPr, todos os transportes de
açúcares são afectados, enquanto que, se a mutação ocorrer na enzima E2 ou na E3, só
o transporte de um determinado tipo de açúcar é que é afectado. Se a E2 for específica
para a glicose, também o é a E3, pois funcionam acopladas.

 Este sistema para além das funções de transporte tem também funções
reguladoras. De facto a abundância de açúcares acumulados por este sistema (PTS –
Phosphotransferase System) vai inibir outros sistemas de transporte activo de açúcares.

3. Bacteriorodopsina (Bomba protónica):

 Encontra-se presente em Halobacterium halobium, uma bactéria que vive em


ambientes muito salinos e pouco oxigenados (Ex. Mar Morto, Salinas da Figueira da Foz).
Na presença de O2 esta bactéria oxida substratos para obter energia química (ATP),
contudo, a elevadas concentrações de sal, a solubilidade deste gás é baixíssima, pelo que
o metabolismo é baixo. A luz é então utilizada como fonte de energia alternativa, ou seja,
em condições anaeróbias estas bactérias utilizam a energia luminosa para criar um

58
gradiente electroquímico de H+, sendo este utilizado para sintetizar ATP ou para
transportar substâncias para o interior celular.
 É composta por 7 α-hélices transmembranares. Possui um grupo retinal
(cromóforo fotossensível envolvido no processo de absorção de luz) localizado na zona
mediana interior da proteína, rodeado pelas 7 hélices. Este grupo está ligado a uma lisina
da cadeia polipeptídica, através de uma Base de Shiff protonada. Quando o grupo retinal
absorve luz, sofre uma isomerização, passando de retinal all-trans (protonado) para
retinal 13-cis (desprotonado), libertando-se um H+ para o meio extracelular. Esta forma
(retinal 13-cis) volta a receber um protão do citoplasma, regressando ao isómero inicial
(por cada ciclo de isomerização é libertado um H+).

 O interior da bacteriorodopsina forma


um canal iónico constituído por duas
subunidades que nunca estão directamente em
contacto, sendo que a ligação entre estas é
estabelecida pelo grupo retinal. Os resíduos de
Asp85 (localizado na subunidade virada para o
meio externo) e Asp96 (localizado na
subunidade virada para o citosol) formam o
cabo condutor de H+, que é uma cadeia de
ligação de H+ formada pelo alinhamento das
cadeias laterais destes dois resíduos de
aminoácidos no interior do canal iónico.

Resumindo:

1. Na ausência de luz a Base de Shiff está protonada e o grupo retinal encontra-se


na forma all-trans;
2. Ao absorver luz, o grupo retinal sofre uma isomerização para a forma 13-cis e
liberta um protão (H+) para o resíduo Asp85;
3. Uma rede de ligação de H é formada pelo alinhamento dos resíduos laterais de
aminoácidos, e funciona como um cabo condutor de transferência de H +;
4. O H+ é transferido através desta rede para o meio extracelular;
5. A re-protonação da Base de Shiff é feita por cedência de um H+ pelo resíduo
Asp96 que por sua vez o retirou do citosol;
6. O grupo retinal retoma a sua conformação all-trans.

Interiorização celular de macromoléculas:

 A endocitose é o processo pelo qual uma pequena região da membrana


plasmática invagina, formando uma vesícula membranar intracelular.
 Existem dois tipos de endocitose:

- Pinocitose: Não específica;


- Endocitose mediada por receptores: Um receptor específico na
superfície da membrana plasmática liga-se à proteína extracelular que reconhece
(ligando). A região da membrana que contém o complexo receptor-ligando invagina,
tansformando-se numa vesícula de transporte. A taxa de endocitose de um ligando por
este processo depende da quantidade de receptor específico disponível. Através deste
processo os complexos receptor-ligando são selectivamente incorporados em vesículas de

59
transporte, sendo todas as outras proteínas membranares excluídas da vesícula
endocitada.

 A endocitose mediada por receptores ocorre via poços e vesículas de clatrina


(actua como um esqueleto flexível). Os poços revestidos por clatrina formam quase 2%
da superfície membranar dos hepatócitos e dos fibroblastos. Alguns receptores
aglomeram-se nos poços de clatrina mesmo sem ligando, outros difundem-se livremente
pela membrana, mas quando se ligam à proteína, os complexos (receptor-ligando) ao
passarem por um poço de clatrina ficam lá retidos, formando-se uma vesícula.
 Receptores como LDL e transferina são frequentemente encontrados associados
a estas vesículas de clatrina.
 Pensa-se que a polimerização espontânea da clatrina provoca a expansão dos
poços e consequentemente, a formação de vesículas.
 Após serem endocitadas, as vesículas perdem o revestimento de clatrina,
formando vesículas de superfície lisa. Os receptores endocitados são geralmente
reciclados intactos, regressando ao ponto de origem.

Endocitose mediada por receptores de LDL:

 A LDL (Low Density Lipoprotein) é uma proteína transportadora de triglicerídeos


e colesterol endógenos, do fígado para os tecidos. Está presente na corrente sanguínea.
 As células obtêm colesterol principalmente por meio de endocitose mediada por
receptores de LDL, sendo que a maioria das células produz receptores específicos para
esta proteína.
 Ocorre como descrito em cima. Na maior parte dos casos o receptor e o ligando
dissociam-se após a endocitose, o receptor regressa à superfície celular enquanto o
ligando é transportado para lisossomas, onde é degradado.

 O colesterol não é hidrosolúvel, logo necessita de um


transportador que o seja. A LDL é uma esfera com cerca de
20 nm de diâmetro, cuja superfície exterior é uma
monocamada membranar de fosfolípidos e colesterol, onde
uma molécula proteica muito grande (apoproteína-B) se
encontra. No interior existe um núcleo extremamente apolar,
composto por ésteres de colesterol.

 O receptor de LDL é uma glicoproteína de cadeia sinples de 839 aminoácidos.


Cerca de 50 aminoácidos do terminal C estão virados para o citosol e alguns destes estão
envolvidos na ligação do receptor ao poço de clatrina. No terminal N há 320 aminoácidos,
extremamente ricos em pontes dissulfito de resíduos de cisteína, é neste terminal que se
encontra o local de ligação para LDL.
 Só quando o receptor é danificado é que é transportado para um lisossoma, onde
é degradado. Enquanto funcionar correctamente é sempre reciclado e retorna à
membrana plasmática para transportar mais LDL.

 A LDL liga-se a um receptor específico na membrana e inicia o processo de


endocitose, forma-se um endossoma (vesícula) que a transporta, juntamente com o seu
receptor associado, para o interior da célula. Nos endossomas (vesículas) ocorre a
separação ligando-receptor, as vesículas possuem uma parte esférica que contém os
ligandos e prolongamentos cilíndricos que contêm os receptores.

60
As partes esféricas fundem-se com
lisossomas, onde a apoproteína-B é degradada
em aminoácidos, e os ésteres de colesterol
hidrolisados a colesterol e ácidos gordos. Os
receptores de LDL retornam à superfície
celular. O colesterol é incorporado na
membrana plasmática ou re-esterificado e
armazenado como lípido dentro da célula, para
uso posterior. Os ácidos gordos são utilizados
para fabricar fosfolípidos e triglicerídeos.

 As apoproteínas-B são constituídas por muita gordura e pouca proteína, sendo


por isso consideradas como mau colesterol. Transportam o colesterol do fígado para os
tecidos, no plasma. A diferença entre mau e bom colesterol deve-se às diferentes
apoproteinas. Na parede dos vasos existem receptores para as apoproteinas-B, fazendo
com que estas sejam absorvidas para a região subendotelial, formando os ateromas por
acumulação (Aterosclerose). O facto de não haver receptores paras as apoproteínas-A faz
com que estas prossigam o seu percurso, não sendo absorvidas.

Hipercolesterolémia Familiar:

 O nível celular de colesterol é auto-regulado.


 Quando existe um excesso de colesterol na célula a hidroximetil glutaril CoA
reductase (HMG CoA reductase) impede a síntese de colesterol, impedindo a síntese de
um dos seus intermediários, o ácido meavónico. No entanto activa a ACAT (colesterol acil
transferase), que promove a esterificação e o armazenamento do colesterol captado da
corrente sanguínea.
 Numa situação de excesso é igualmente interrompida a síntese de receptores de
LDL, diminuindo a captação do sangue.

 É uma doença hereditária que provoca, nas pessoas afectadas, a produção de


receptores de LDL defeituosos.

 Caracteriza-se por:

- Elevados níveis de colesterol;


- Receptores de LDL mutantes;
- Morte dos homozigóticos ainda muito jovens
(antes dos 20 anos) por ataque cardíaco (aterosclerose).

 É comum, afecta 1 em 106 indivíduos.


 Nos homozigóticos pode acontecer um dos três casos:

- O receptor não é produzido, não liga ou liga fracamente as LDL;


- O segmento transmembranar não é produzido, embora o mutante ligue as
LDL normalmente, não consegue ancorar à membrana plasmática e é secretado da
célula;

61
- O receptor está distribuído uniformemente na membrana plasmática, não
estando presente em grande quantidade nos poços.

 Nos heterozigóticos:

- Apenas 50% dos receptores são normais;


- O nível de colesterol no sangue é mais elevado que o normal, mas mais
baixo do que em indivíduos homozigóticos;
- As pessoas afectadas estão sujeitas a ataques cardíacos, sobretudo depois
dos 40 anos.

Mecanismos de acção de fármacos reguladores do conteúdo celular de


colesterol:

 Com o objectivo de diminuir o conteúdo em colesterol do sangue existem


diversos fármacos com diferentes estratégias.
 O colesterol produzido no fígado, e que incorpora os ácidos biliares, pode, em
situação normal, ser reciclado a partir do intestino e reposto na circulação sanguínea.
Existem medicamentos capazes de se ligarem aos ácidos biliares no intestino, impedindo
a reciclagem e obrigando o colesterol a ser excretado nas fezes. Desta forma as células
hepáticas têm menos uma fonte de colesterol, sendo obrigadas a produzir mais
receptores LDL e a captar mais colesterol do sangue, baixando os seus níveis neste
fluído.
 Outros medicamentos inibem a síntese intracelular de colesterol a partir de Acetil-
CoA, obrigando a célula a recorrer à captação aumentada de LDL sanguíneo para manter
os níveis celulares de colesterol, situação que é conseguida através da produção
aumentada de receptores LDL.

Sinalização Celular:
 Em organismos multicelulares, nenhuma célula é capaz de viver isolada. A
sobrevivência depende de uma complexa rede de comunicações intercelular que coordena
o crescimento, diferenciação e metabolismo das células dos diversos tecidos e órgãos.
 É frequente que, em pequenos grupos de células, estas comuniquem por
contacto directo célula-a-célula. Algumas recorrem a junções especializadas da membrana
plasmática que lhes permite a passagem de pequenas moléculas e a coordenação de
respostas metabólicas. Outras junções entre células adjacentes determinam a forma e a
rigidez de determinado tecido.
 Entre diferentes tipos de células, a comunicação dá-se quando uma certa
proteína de uma célula se liga a uma proteína receptora, na superfície de outra célula,
desencadeando a sua diferenciação. Este processo é essencial para a organização de novos
tecidos.

Como é que as células comunicam através de moléculas sinalizadoras


extracelulares?

As moléculas sinalizadoras extracelulares podem ser pequenas moléculas derivadas


de aminoácidos, peptídeos ou proteínas. Têm a capacidade de se difundirem para o
exterior, podendo também ser transportadas pela corrente sanguínea, possibilitando uma
comunicação a longa distância.

62
O processo de sinalização envolve normalmente 6 passos:

1. Síntese da molécula sinalizadora;


2. Libertação da molécula sinalizadora;
3. Transporte do sinal para célula alvo;
4. Detecção do sinal por receptores específicos na célula alvo;
5. Alterações do metabolismo celular, afectando a função ou o
desenvolvimento (accionadas pelo complexo sinal/receptor);
6. Remoção do sinal, terminando a resposta celular.

 As células alvo promovem a transdução de sinal, ou seja, convertem o sinal


extracelular em respostas celulares, actuando sobre enzimas metabólicas (alteração do
metabolismo), genes que regulam proteínas (alteração da sua expressão) e proteínas do
citosqueleto (alteração da forma e movimento das células alvo).

 Existem compostos químicos libertados por certos organismos eucariotas, como


as leveduras, bolores, protozoários, algumas algas e animais, que vão alterar o
comportamento ou a expressão genética de outros organismos da mesma espécie, são um
tipo de sinalização próxima. Estes compostos denominam-se por feromonas.
 Em animais e plantas evidenciam-se as moléculas de sinalização extracelular que
actuam dentro do organismo, controlando todas as suas actividades.

Tipos de sinalização intercelular em animais:

A sinalização intercelular existente ao nível dos animais (e das plantas) inclui:

(a) Endócrina;
(b) Parácrina;
(c) Autócrina;
(d) Sinalização directa por proteínas ligadas à membrana plasmática.

 A sinalização intercelular ocorre através da libertação de uma molécula secretora


extracelular, que percorre alguns µm antes de ligar à célula alvo (b e c), ou metros (a).

(a) Sinalização Endócrina:

Caracteriza-se pela existência de


hormonas, nos animais, estas são
libertadas para a corrente sanguínea,
actuando em células alvo distantes do
local de síntese (células das glândulas
endócrinas).

(b) Sinalização Parácrina:

Os neurotransmissores são exemplos de


moléculas sinalizadoras libertadas pelas células, que
apenas afectam células alvo próximas. São
libertados por exemplo, na condução de um impulso
nervoso de uma célula nervosa para outra, ou de
uma célula nervosa para uma célula muscular
(induzindo ou inibindo a contracção muscular).

63
(c) Sinalização Autócrina:

Ocorre quando a célula responde a


substâncias que ela própria liberta. Muitos
factores de crescimento actuam por este
processo, por exemplo, as células em
cultura secretam factores de crescimento
que estimulam o seu próprio crescimento e
proliferação.
Este tipo de sinalização, numa situação anormal, pode originar células tumorais,
provocando cancro.

(d) Sinalização directa por proteínas ligadas à membrana plasmática:

Proteínas ligadas à membrana plasmática de uma célula interagem directamente


com receptores de uma célula adjacente.

Existem compostos que actuam em 2 ou mais tipos de sinalização:

 EGF (Epidermal Grow Factor – Hormona): Esta proteína é sintetizada como


parte exoplasmática de uma proteína membranar que pode ligar e comunicar com uma
célula adjacente por contacto directo (Sinalização de proteínas ligadas à membrana
plasmática). No entanto pode ser clivada por uma protease e libertada na corrente
sanguínea actuando assim como um agente endócrino em células alvo distantes
(Sinalização endócrina);
 Epinefrina (derivada de aminoácidos): Actua como neurotransmissor
(Sinalização parácrina) ou como hormona sistémica (Sinalização endócrina).

As hormonas:

1. Modulam actividades enzimáticas em células-alvo;


2. Alteram propriedades ou taxas de síntese de proteínas existentes;
3. Induzem a síntese de novas proteínas.

 Efeitos Pleiotrópicos: Diferentes tipos de células-alvo respondem ao mesmo


conjunto de sinais mas de um modo diferente.

Especificidade do receptor:

 Receptores são glicoproteínas que ligam reversivelmente compostos químicos


específicos que, ao contrário das enzimas, não os alteram quimicamente. Receptores
específicos são responsáveis por mediar as respostas celulares.

64
O receptor tem alta afinidade pelo ligando (1º mensageiro) e a ligação entre eles
desencadeia uma resposta celular, determinada pelo tipo de receptor (especificidade
efectora) e pelas reacções desencadeadas pela ligação do complexo ligando-receptor.
A ligação do ligando ao seu receptor específico causa uma alteração conformacional
no receptor que é activado, sendo responsável por iniciar um programa molecular que leva
à resposta celular específica. Assim, a resposta celular a uma hormona específica é
determinada por:

1. Tipo de receptor;
2. Reacções intracelulares iniciadas pelo complexo L – R.

Diferentes respostas podem ocorrer com:

- O mesmo ligando a ligar a receptores diferentes em células diferentes;


- O mesmo receptor para o mesmo ligando, em células diferentes;
- Numa mesma célula, receptores diferentes específicos para ligandos diferentes.

 No entanto, não é necessária uma afinidade de sinais para regular todos os


processos. A mesma molécula sinalizadora pode ligar-se a diferentes receptores
(geralmente localizados em células diferentes), desencadeando respostas igualmente
distintas.

Exemplo: Acetilcolina

 Existem receptores para esta molécula em células musculares esqueléticas (A),


cardíacas (B) e em células acinares pancreáticas (C), contudo, em cada tipo de células a
resposta induzida é diferente. Em A promove a contracção muscular, em B desacelera o
ritmo e força da contracção cardíaca e em C induz a secreção de enzimas de digestão.

A acetilcolina liga-se a:

1. Receptores diferentes, em A e C.:


2. Receptores idênticos, em B e C.

 Por vezes, diferentes complexos receptor-ligando podem induzir a mesma


resposta celular em diferentes tipos de células.

Exemplo: Glucagina ou Epinefrina em células hepáticas

 A glucagina e a epinefrina são ligandos diferentes que desencadeiam a mesma


resposta nas células hepáticas. Nestas existem receptores específicos tanto para a
epinefrina como para a glucagina, que promovem uma alteração no metabolismo dos
açúcares (degradação do glicogénio e libertação de glucose para o sangue). No entanto,
nas células do músculo esquelético, só a epinefrina afecta o metabolismo do glicogénio.
 A glucagina mantém o Status Quo enquanto que a epinefrina promove a
alteração do Status Quo, preparando o organismo para a resposta inesperada e imediata.
 Estes exemplos mostram que o receptor é caracterizado pela especificidade da
ligação (para um ligando particular), sendo que o complexo R – L resultante exibe
especificidade efectora (regula uma resposta celular específica).

65
Explicação do caso:

A activação quer dos receptores de epinefrina quer dos de glucagina nas células
hepáticas induz a síntese de cAMP (2º mensageiro), o qual regula uma dada resposta
metabólica.

Conclusão: A especificidade da ligação aos receptores de glucagina e epinefrina é


diferente, mas a especificidade efectora é idêntica.

 No geral, o ligando parece só ter a função de ligação ao receptor:

- O ligando não é metabolizado para dar outro ligando útil, não é


intermediário em nenhuma actividade celular, nem tem propriedades enzimáticas;
- A única função do ligando parece ser alterar as propriedades do receptor,
que transmite um sinal à célula que vai desencadear uma resposta.

 No entanto, muitas vezes as células alvo modificam ou degradam o ligando,


resultando modificação ou finalização da resposta na célula e nas células vizinhas.

Classificação das hormonas (com base na sua composição química):

 Hormonas derivadas de aminoácidos: Epinefrina, Norepinefrina, Histamina,


Dopa, Dopamina, Tiroxina e Trioiodotironina (hormonas da tiróide) – Originadas a partir de
aminoácidos;
 Hormonas Peptídicas: Insulina, ACTH, Factores de crescimento, Glucagina –
Polipeptídeos ou Proteínas;
 Hormonas Esteróides: Cortisol, Progesterona, Estradiol, Testosterona –
derivadas do colesterol – Derivadas do Colesterol;
 Hormonas Eicosanoides: Prostaglandinas, Tromboxanos – Derivadas do ácido
araquidónico (fosfolípidos).

Classificação das hormonas (com base na sua solubilidade em água e lípidos e


localização do receptor):

A maioria das hormonas insere-se em 3 grandes grupos:

1. Pequenas moléculas lipofílicas que se difundem através da membrana


plasmática e interagem com receptores intracelulares;
2. Moléculas hidrofílicas que ligam a receptores da superfície celular;
3. Moléculas lipofílicas que ligam a receptores da superfície celular.

 Recentemente descobriu-se que um gás, o óxido nítrico (NO), desempenha um


papel regulador central no controlo de muitas respostas celulares, no entanto não se inclui
em nenhuma das categorias acima referidas. O CO tem também uma acção reguladora no
cérebro.

66
1. Hormonas lipofílicas com receptores intracelulares:

 Geralmente são hormonas esteróides, estas


são transportadas na corrente sanguínea por
proteínas que as tornam solúveis (lipofílicas). Após se
dissociarem das proteínas, perto da célula alvo, as
hormonas conseguem difundir-se através da
membrana plasmática. Ligam-se a receptores
citosólicos (o complexo formado pode posteriormente
difundir-se para o núcleo) ou nucleares (através dos
poros nucleares) e depois de formado o complexo
hormona-receptor, este interage com o DNA nuclear e
altera a transcrição de genes específicos, podendo
também afectar a estabilidade de RNAm específicos
(maior ou menor síntese). Desta forma a síntese de
proteínas conduz à resposta celular.

Exemplos de hormonas lipofílicas:

- Hormonas esteróides (Cortisol, progesterona, estradiol, testosterona, são


todas sintetizadas a partir do colesterol);
- Vitamina D3 (antiraquítismo), relaciona-se com as hormonas esteróides pois
deriva do 7-desidrocolesterol;
- Tiroxina, ácido retinóico.

 As hormonas esteróides podem actuar durante horas ou dias e influenciar o


crescimento e a diferenciação de diversos tecidos:

- Em galináceos, o estrogénio e progesterona (hormonas sexuais femininas)


estimulam a produção das hormonas da clara do ovo e a proliferação celular no oviducto
da galinha;
- Nos mamíferos, os estrogénios estimulam o crescimento da parede uterina na
preparação para a implantação do embrião;
- Nos insectos e crustáceos, a ecdisona (quimicamente relacionada com os
esteróides) desencadeia a diferenciação e maturação das larvas até ao adulto, tal como os
estrogénios, também induz a expressão de produtos de genes específicos.

 Em plantas também se descobriu uma família de esteróides que regula aspectos


do desenvolvimento, actuando também em receptores da superfície celular. São os
brassinoesteróides, dos quais o primeiro identificado foi o brassinolídeo, sendo que
actualmente se conhecem mais de 60 tipos diferentes, todos derivados do 5-α-colestano.

 Na tiróide, são produzidos por proteólese intracelular da proteína tiroglobulina, os


principais compostos iodados do corpo, a trioxina e triiodotironina, que são imediatamente
libertadas no sangue. Estes compostos estimulam a expressão de enzimas citosólicas (Ex:
hexocinase do fígado), que catalizam o catabolismo de vários compostos (glucose, lípidos,
proteínas) e de enzimas mitocondriais, que catalizam a fosforilação oxidativa.

 Os retinóides, derivados do retinol (vitamina A), regulam a proliferação,


diferenciação e morte celulares. Durante o desenvolvimento, os retinóides actuam como
mediadores locais da interacção célula-a-célula. Os animais necessitam de betacarotenos
na sua dieta para ter vitamina A.
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Exemplo: Na formação dos neurónios motores na galinha, uma classe de neurónios
motores gera um sinal de retinóide que regula o número e o tipo de neurónios motores
diferenciados na vizinhança.

2. Hormonas hidrossolúveis com receptores superficiais:

 As hormonas hidrossolúveis podem ser:

- Hormonas peptídicas: Insulina, Factores de crescimento, Glucagina;


- Moléculas de carga reduzida: Epinefrina e Histamina (derivadas de
aminoácidos, funcionam como hormonas e neurotransmissores).

 Produzem efeitos de duração muito variável:

- Induzem modificação na actividade de uma ou mais enzimas já existentes


 Os efeitos são quase imediatos mas persistem pouco tempo;
- Podem produzir alterações na expressão de genes  Os efeitos podem
manter-se horas ou dias;
- Podem provocar alterações irreversíveis  Caso da diferenciação natural.

3. Hormonas lipofílicas com receptores superficiais (normalmente actuam


em sinalizações de proximidade):

 Neste grupo incluem-se algumas hormonas eicosanoides, como as


prostaglandinas (9 classes), prostaciclinas, tromboxanos e leucotrienos. (Imagem 28)

 As prostaglandinas (PG) (as mais conhecidas) são uma série de ácidos


ciclopentanoicos. Os tromboxanos (TX) diferem das prostaglandinas na estrutura do anel
que nestas é um ciclopentano e nos tromboxanos é um éter cíclico (anel oxano).

 A hormonas eicosanoides derivadam


maioritariamente do ácido gordo poliinsaturado
(com 20 carbonos), o ácido araquidónico. Este por
sua vez deriva de fosfolípidos (Ex. Fosfatidilcolina,
por acção de fosfolipase A2) e de diacilgliceróis. A
fosfolipase A2 pode quebrar a ligação éster de um
fosfolípido, libertando o ácido araquidónico, este
produz leucotrienos (acção de lipoxigenases ou
prostaglandinas sintetases) e endoperóxidos
cíclicos (acção de prostaglandina H2), estes, sua
vez originam outras prostaglandinas, prostaciclinas
e tromboxanos.

68
 As prostaglandinas só são conhecidas em animais, tendo as primeiras sido
descobertas por Ulf von Euler (Suécia) em 1930. Muitas hormonas desta família estão
envolvidas na sinalização Parácrina e Autócrina, degradando-se perto do local de síntese.
A prostaglandina endoperoxidase sintetase (PES) é uma enzima existente no retículo
endoplasmático, que vai actuar sobre o ácido araquidónico, convertendo-o em
prostaglandinas através uma dupla actividade enzimática, ciclooxigenase e peroxidase.

 As plaquetas desempenham um papel crucial na coagulação do sangue e na


regeneração da parede dos vasos sanguíneos (cicatrização). Os tramboxanos (TX2),
derivados de prostaglandinas, promovem a agregação de plaquetas sanguíneas, estas
aderem às paredes dos vasos sanguíneos (vasoconstrição). As prostaglandinas e
prostaciclinas pelo contrário funcionam comos vasodilatadores.
O vencedor de vários prémios Nobel, John Vane, descobriu que a aspirina ao
produzir acetilação de uma serina ao nível da actividade de cicooxigenases PES, bloqueia a
produção de prostaglandinas. Deste modo não se formam tramboxanos por acetilação da
prostaglandina H2 sintetase, impedindo-se a agregação de plaquetas e consequentemente
a formação de trombos (acumulação de tromboxanos em zonas em que o vaso sanguíneo
tenha sofrido uma ruptura).

 As hormonas PGI2 e TXA2 estão envolvidas no processo inflamatório e na


coagulação do sangue, podendo interferir em ataques cardíacos e AVC, com origem na
formação de coágulos sanguíneos. A TXA2 promove a agregação de plaquetas sanguíneas,
favorecendo a formação de coágulos sanguíneos, enquanto PGI2 relaxa as artérias
coronárias e inibe a agregação de plaquetas. A aterosclerose relaciona-se com a redução
da síntese de PGI2, por interferência do metabolismo do colesterol, este ao reduzir o
número de células endoteliais, que produzem PGI2, leva a uma baixa dos níveis desta
hormona.

 Existem prostaglandinas que se acumulam aquando do nascimento de um bebé,


iniciando a contracção das células do músculo liso (facilitam a contracção uterina).

Receptores Superficiais:

 Existe uma grande variedade de receptores superficiais (só ligam ligandos


hidro/lipossolúveis) nas células animais, mas todos eles podem ser incluídos em quatro
grandes classes:

1. Receptores associados a proteínas G (GPCR);


2. Receptores que são canais iónicos;
3. Receptores associados a tirosina cinase (RTK);
4. Receptores com actividade catalítica intrínseca.

1. Receptores associados a proteínas G (GPCR):

 A ligação do ligando (epinefrina, glucagina, serotonina) ao receptor provoca uma


alteração conformacional na face citosólica deste, activando a proteína G, que por sua vez,
activa ou inibi uma enzima (Adenilciclase, fosfolipase, etc.). Esta ligação muitas vezes
traduz-se na formação de um segundo mensageiro (cAMP, IP3, DAG, etc.) ou na
modulação de um canal iónico.

69
2. Receptores que são canais iónicos:

 A ligação ao ligando leva a uma


alteração conformacional do receptor, que forma
um canal de entrada de iões. Isto acontece, por
exemplo, com o receptor de acetilcolina, no
contacto entre os neurónios e os músculos.

3. Receptores associados a Tirosina cinase (RTK):

 Estes receptores geralmente ligam


citocinas, interferões e factores de crescimento
humanos. Não possuam actividade enzimática
intrínseca, mas a ligação do ligando promove a
dimerização (associação das duas unidades) do
receptor (homodímero ou heterodímero), este
reage com uma ou mais proteínas cinases
tirosínicas do citosol que, activadas, fosforilam
tirosinas do receptor.

Os resíduos de fosfotirosina resultantes podem fosforilar os substratos proteicos que


a eles se ligam, ficando o receptor com actividade de cinase.

 Estes receptores são referidos como “Superfamília dos Receptores das Citocinas”.

4. Receptores com actividade enzimática intrínseca:

 Possuem actividade enzimática no lado citosólico. Uns catalizam a conversão de


GTP em GMPc outros actuam como fosfatases, removendo grupos fosfato de resíduos de
tirosina de proteínas substrato. Mas na maioria dos casos a ligação do ligando promove a
formação de um homodímero activo, que fosforila (actividade cinase) resíduos do seu
próprio domínio citosólico (autofosforilação) e também de várias proteínas substrato. São
exemplos os receptores para factores de crescimento e insulina.

70
Segundos Mensageiros:

 Os efeitos de muitas hormonas são mediados por segundos mensageiros, que


actuam após a interacção entre ligando e receptor e promovem a transdução de sinal.
Os segundos mensageiros mais conhecidos (normalmente de baixo peso molecular)
são o AMPc, GMPc, diacilglicerol (DAG), Ca2+ e o IP3 (inositol-1,4,5-trifosfato).

A sinalização pode dar-se pelo aumento ou diminuição da concentração destes


segundos mensageiros no interior da célula, que ocasiona uma rápida alteração na
actividade de uma ou mais enzimas ou proteínas não enzimáticas.
As funções metabólicas controladas por estes mensageiros incluem a acumulação e
utilização de glicose, armazenamento e mobilização de lípidos, reacções de produtos e até
regulação de genes específicos.

Proteínas sinalizadoras intracelulares:

 Para além dos receptores e dos mensageiros secundários, existem outras


proteínas que funcionam nas vias de transdução de sinais, sendo estimuladas por sinais
extracelulares. Estas incluem-se em 3 classes:

1. Proteínas Activadoras (“Switch”) de GTPases;


2. Proteínas cinases;
3. Proteínas adaptadoras.

1. Proteínas Activadores (“Switch”) de GTPases:

 Actuam como “interruptores” moleculares nas vias de transdução de sinais.


Existem duas classes de GTPases, ambas com regiões que promovem a actividade de
proteínas efectoras específicas.

- Proteínas G triméricas  Directamente associadas a receptores activados;


- Proteínas G monoméricas  Associam-se indirectamente a receptores através de
outras proteínas. Exemplos: Ras e outras semelhantes.

 Na ausência de sinal, estas proteínas


encontram-se inactivas e ligam GDP. Quando surge um
sinal, este promove a libertação de GDP, ligando-se
GTP, que vai activar a proteína. A actividade intrínseca
da GTPase hidrolisa GTP a GDP e fosfato, convertendo
a forma activa da proteína na forma inactiva.
Assim, as proteínas activadoras de GTPases
encontram-se activas quando ligadas a GTP e inactivas
quando ligadas a GDP.

71
2. Proteínas cinases:

 A activação de receptores superficiais


leva a alterações na fosforilação de proteínas,
através da activação de proteínas cinases.
Nalguns casos as cinases são parte
integrante do próprio receptor, noutros
encontram-se livres no citosol ou ligadas à
membrana plasmática, indo para junto do
receptor quando solicitadas.

 Em animais, existem proteínas cinases (que fosforilam resíduos) de tirosina e de


serina ou treonina.
As actividades catalíticas das cinases são moduladas por fosforilação, ligação a
outras proteínas e por alterações nos níveis de segundos mensageiros.
A actividade destas enzimas é contrariada pela acção de fosfatases, que removem
grupos fosfato de proteínas substrato específicas.

3. Proteínas adaptadoras:

 Não apresentam qualquer actividade


catalítica (nem activam directamente proteínas
efectoras), mas possuem vários domínios que
funcionam como locais de ancoragem para outras
proteínas. Esta combinação de proteínas confere um
enorme potencial para complexas acções e
interferências entre vias sinalizadoras distintas.
Muitas vias de transdução de sinal dependem de complexos sinalizadores
multiproteicos que são mantidos por proteínas adaptadoras.

Vias de sinalização:

 As vias de sinalização comuns (altamente conservadas) são iniciadas por


receptores pertencentes a classes diferentes.
Existem duas vias de sinalização:

- Uma comum aos receptores


associados a proteínas G (GPCRs);
- Outra associada a receptores
tirosina cinase (RTKs).

Uma proteína activadora de


GTPase, é comum às duas vias, mas a
sua posição relativamente ao receptor é
diferente.

 Os segundos mensageiros são


componentes decisivos na maioria das
vias de sinalização GPCR e de algumas
RTK. Já as proteínas adaptadoras estão
em todas as vias de sinalização RTK,
mas não nas principais vias GPCR.

72
 As proteínas cinases, têm um papel fundamental em todas as vias de sinalização,
visto que na fase final fosforilam uma ou mais proteínas substrato. Estas podem ser
enzimas, microtúbulos, histonas e factores de transcrição, e desempenham um papel
importante na determinação da resposta celular específica.

 A figura em cima mostra uma situação em que ocorre estimulação de um GPCR e


de um RTK, o efeito é o mesmo, no entanto a posição e tipo de GTPases varia em relação
ao receptor.

Regulação hormonal:

 Devido aos seus potentes efeitos as hormonas e os neurotransmissores devem


ser regulados com precisão. A libertação e a degradação destas moléculas estão reguladas
para produzir efeitos imediatos e de curta duração (péptidos e catecolaminas), ou efeitos
não imediatos mas de longa duração hormonas esteróides, retinóicos, etc.).

1. Hormonas Peptídicas e Catecolaminas:

 São hormonas hidrossolúveis com receptores superficiais. Os organismos


(animais) têm de responder instantaneamente a alterações do meio interno ou externo,
sendo esta resposta primariamente mediada por hormonas peptídicas (Ex. insulina) e
catecolaminas (Ex. epinefrina, norepinefrina e dopamina).

2. Hormonas Esteróides, Tiroxina e Ácido Retinóico:

 São hormonas com receptores intracelulares.

a) As hormonas esteróides (originadas a partir do colesterol), por exemplo as


células do córtex adrenal, armazenam um precursor de hormona esteroide que se converte
na hormona activa quando as células são estimuladas, difundindo-se depois através da
membrana plasmática para ao sangue;
b) Um precursor iodado da tiroxina, a tiroglobulina, é armazenado em folículos da
tiróide. Quando as células que revestem estes folículos são expostas à acção da hormona
estimuladora da tiróide (TSH), elas captam tiroglobulina e as enzimas lisossómicas
produzem proteólise originando tiroxina que se liberta no sangue;
c) O retinol é uma hormona armazenada no fígado e que se encontra em elevadas
concentrações no sangue. Devido à sua natureza lipofílica passa através da membrana
plasmática e forma um complexo com uma proteína citossólica de ligação (CRBP). Uma
desidrogenase do retinol converte-o em retinal e este, por sua vez, é convertido em ácido
retinóico pela desidrogenase do retinal. O ácido retinóico tem função de crescimento.

Controlo do “feedback” dos níveis hormonais:

 A síntese e libertação de muitas hormonas são reguladas por “feedback” positivo


ou negativo e este tipo de regulação é muito importante na coordenação da acção de
múltiplas hormonas em vários tipos celulares durante o crescimento e diferenciação. Muitas
vezes os níveis de várias hormonas estão interligados por circuitos de retrocontrolo, nos
quais alterações numa hormona afectam os níveis de expressão de outra. Um exemplo é a
regulação do estrogénio e da progesterona ao nível do útero. O estrogénio estimula o
crescimento das células do endométrio (que forra o útero), onde se vai desenvolver o
embrião.

73
Identificação e Purificação de Receptores de Superfície:

 A ligação de uma hormona ao seu receptor é específica e de alta afinidade. Esta


ligação envolve o mesmo tipo de interacções fracas (iónicas, Van der Waals e interacções
hidrofóbicas) que caracterizam as ligações enzima/substrato. Deste modo a ligação
hormona/receptor pode ser vista como uma simples reacção:

Que pode ser descrita pela equação:

Onde, KD que é a constante de dissociação que mede a afinidade do receptor pelo


ligando. Esta equação pode ser reescrita:

Onde, Rt é o somatório de todos os receptores (livres e ligados). Esta equação é


semelhante à de Michaelis-Menten para analisar reacções enzimáticas. Quanto mais baixo o
valor de KD, maior a afinidade do receptor para o seu ligando. O KD é igual à concentração
de substrato para a qual existem 50% de receptores ligados (KD ≈ Km).

 Os receptores de hormonas são difíceis de identificar e purificar, principalmente,


porque apesar de existirem 10000 a 20000 receptores na superfície celular, isso perfaz 10-6
ou 10-4 do número total de proteínas de uma célula, ou da superfície respectivamente. A
purificação é igualmente difícil porque estas proteínas integrais devem primeiro ser
solubilizadas com um detergente não iónico.
 Normalmente os receptores detectam-
se através de ensaios de ligação, medindo a sua
habilidade de ligar hormonas radioactivas.
Quando se aumenta a quantidade de hormona
radioactiva no meio, há numa primeira fase um
aumento do número de receptores ligados, mas
depois atinge-se um patamar que corresponde
ao nível de saturação dos receptores. No entanto
algumas destas hormonas encontram-se ligadas
inespecificamente a outros componentes da
membrana celular.
Faz-se por isso outro ensaio, onde se coloca hormona não radioactiva no meio e só
depois as membranas. A hormona não radioactiva vai ligar-se aos receptores e saturá-los,
é então adicionada mais hormona, esta radioactiva, que se vai ligar inespecificamente.
Depois é só medir o nível de hormonas radioactivas que se ligou inespecificamente e
subtrair ao valor total do primeiro ensaio.

 De uma forma geral o KD para os receptores superficiais de hormonas aproxima-


se das concentrações de hormonas circundantes. Normalmente a concentração de ligando
necessária para induzir uma resposta celular máxima é menor que o necessário para
saturar todos os receptores celulares.

74
Receptores associados a proteínas G e seus efectores:

 A ligação do ligando ao receptor activa a proteína G que, por sua vez, activa ou
inibe uma enzima que produz um segundo mensageiro específico (nem sempre isso
acontece) ou modula um canal iónico.

 Esquema da estrutura geral dos receptores associados a proteínas G:

Possuem sete α-hélices no interior da membrana


associadas umas às outras, sendo o loop C3 importante na
interacção com a proteína G (é hidrofílico).

Estes receptores formam uma grande família que inclui:

- Receptores activados pela luz no olho (Rodopsinas, nos bastonetes);


- Receptores odoríferos do nariz dos mamíferos;
- Receptores de hormonas e neurotransmissores.

Estrutura e função dos receptores de Catecolaminas (ligam epinefrina e


norepinefrina) e proteínas G associadas:

 Estes receptores afectam a Adenilato ciclase, esta sintetisa c-AMP (segundo


mensageiro), cujo aumento de concentração na célula desencadeia a resposta celular.
 Tanto a epinefreina (adrenalina) como a norepinefrina (noradrenalina) são
produzidas na glândula adrenal (medula). Possuem cargas associadas ao grupo catecol e,
por isso, pertencem às catecolaminas.
 A ligação da epinefrina aos receptores adrenérgicos induz respostas específicas
nos tecidos. Esta hormona liga-se a dois tipos de GPCRs, sendo muito importante na
mediação das respostas do corpo ao stress (medo e exercício violento), quando há maior
necessidade de glicose e ácidos gordos nos tecidos. Estes nutrientes podem ser fornecidos
ao sangue, em segundos, pelo catabolismo do gliconénio no fígado (glicogenólise) e dos
triacilgliceróis nos adipócitos (lipólise).
Nos Mamíferos a libertação de glicose e ácidos gordos pode ser accionada pela
ligação da epinefrina (ou noradrenalina) a receptores β-adrenérgicos, na superfície das
células hepáticas (fígado) e adiposas.
A epinefrina provoca também outras reacções, que ajudam o organismo a responder
a situações de stress:

- Ligada a receptores β-adrenérgicos, das células cardíacas, aumenta a velocidade e


a força de contracção, o que favorece o fornecimento de sangue aos tecidos;
- Ligada a receptores β-adrenérgicos, das células do músculo liso do intestino, causa
o seu relaxamento.

75
- Ligada a receptores α-adrenérgicos, das células do músculo liso que revestem os
vasos sanguíneos no aparelho intestinal, na pele e nos rins, provoca vasoconstrição das
artérias, cortando a circulação para órgãos periféricos.

Conclusão: Os efeitos da epinefrina concorrem todos para o mesmo fim, que é


fornecer energia para o rápido movimento dos músculos em resposta ao stress do
organismo.

 Os receptores adrenérgicos β e α estão associados a diferentes proteínas G:

- β1 e β2-receptores – Proteínas Gs (activam adenilato ciclase);


- α1 e α2-receptores – Proteínas Gq e proteínas Gi, respectivamente. α1 Gq
estimula a fosfolipase C (IP3 e DAG) e α2 Gi inibe a adenilato ciclase.

Demonstração experimental: A estimulação de receptores β-adrenérgicos


medeia a indução da síntese de c-AMP:

 Quanto maior a capacidade da hormona em se


ligar ao receptor, maior vai ser a resposta da Adenil-
ciclase. A elevação dos níveis de c-AMP, mediante
estimulação dos receptores β-adrenérgicos, é
comprovável experimentalmente:

Células-alvo sem receptores para epinefrina, mas


expressando adenilato ciclase e as proteínas G
adequadas (não têm resposta a epinefrina, os níveis de
c-AMP não se alteram), são incubadas com lipossomas
contendo receptores β-adrenérgicos purificados, que se
fundem com a membrana plasmáticca das células.
Adicionando epinefrina, que se liga aos receptores
β-adrenérgicos, podemos observar uma subida nos níveis
celulares de c-AMP. Logo podemos concluir que a subida
nos níveis celulares de c-AMP faz parte da resposta das
células (com receptores β-adrenérgicos) à epinefrina.

Agonistas e Antagonistas:

 É possível estudar a característica da hormona que é reconhecida pelo receptor


estudando os agonistas e antagonistas dessa mesma hormona.

- Agonistas: Móleculas que mimetizam a função de uma hormona, ligam ao seu


receptor e causam uma resposta normal;
- Antagonistas: Moléculas que ligam ao receptor, mas não induzem os efeitos da
hormona. Actuam como inibidores da hormona natural ao competir por locais de ligação no
receptor e, assim, bloqueando a actividade fisiológica da hormona.

 A cadeia lateral contendo o grupo NH determina a afinidade do ligando pelo


receptor, que é tanto maior quanto maior for o grupo associado ao terminal NH. O anel de
catecol é necessário para o aumento do nível de c-AMP induzido pelo ligando.

76
 Curiosamente, a constante de dissociação (KD) do agonista de epinefrina, o
isoproterenol, para os receptores β-adrenérgicos é 10 mais baixa do que o KD para a
epinefrina, com consequente indução da síntese de AMPc.

Tenhamos em conta:

- O valor de KD é equivalente à concentração do ligando para a qual 50% dos


contêm ligando ligado;
- Quanto maior for o valor de KD maior a afinidade de um receptor pelo seu ligando;
- Epinefrina e agonistas têm um KD para o receptor que corresponde à concentração
necessária para a elevação meia-máxima (50%) da concentração de AMPc.

 A estimulação dos receptores β-adrenérgicos causa a elevação de c-AMP. No


gráfico podemos comparar a capacidade que 3 catecolaminas diferentes têm para activar a
adenilato ciclase (que catalisa a síntese de c-AMP) e ligarem receptores. As curvas
mostram que cada ligando induz actividade de adenil ciclase proporcionalmente à sua
capacidade para ligar ao receptor. A resposta da adenilato ciclase e ligação do ligando ao
receptor dão-se a concentrações mais baixas de isoproterenol do que de epinefrina e
norepinefrina.

 Existem 2 tipos de receptores β-adrenérgicos localizados em diferentes tipos de


células:

- β1 Receptores: Localizados nas células do músculo cardíaco (promovem o


aumento do ritmo cardíaco e da força contractiva).
Ordem de afinidade: Isoproterenol > Norepinefrina > Epinefrina.

O Practolol é um antagonista β1 usado para diminuir a velocidade da contracção


cardíaca no tratamento da arritmia cardíaca e angina. É um bloqueador β.

- β2 Receptores: Localizados nas células do músculo liso que revestem os brônquios


(promovem o seu relaxamento).
Ordem de afinidade: Isoproterenol > Epinefrina > Norepinefrina.

A Terbutalina é um agonista β2 usado no tratamento da asma porque medeia a


abertura dos bronquíolos.

 Os receptores adrenérgicos β1 e β2, embora fisiologicamente muito relacionadas,


têm apenas, ao nível da sequência de aminoácidos, 50% de analogia. A analogia entre os

77
receptores β e α é ainda menor. Conclui-se que será a sequência de aminoácidos que
determina a especificidade da ligação ao ligando e que tipo de proteína G interage.

Como funcionam as Proteínas G na Transducção de Sinais:

 No caso da ligação da epinefrina aos receptores β-adrenérgicos, a ligação da


hormona a um domínio exterior do receptor promove a activação da adenilato ciclase
através da proteína Gs (estimulatória). Esta proteína é o elo de ligação entre o domínio
exterior do receptor e a adenilato-ciclase, funcionando como um transductor de sinais.

 A adenilato-ciclase dos mamíferos é composta


por 4 domínios, 2 catalíticos (podem ligar ATP) na fase
citosólica da membrana e 2 membranares integrados, cada
um com 6 α-hélices transmembranares.

Consideram-se domínios catalíticos, pois a actividade desta molécula (hormona)


resulta na produção de AMP cíclico e ADP. Existem 6 isoformas que são activadas ou
inibidas por proteínas G após ligação da hormona ao receptor.

 As proteínas Gs triméricas (Subunidades α, β e γ) associam receptores β-


adrenérgicos à adenilato ciclase, através de um conjunto de acções que envolvem
dissociação das subunidades da proteína G. As Proteínas G são GTPases “switch” (“off”
quando ligadas a GDP e “on” quando ligadas a GTP).

 No estado de repouso o receptor está vazio e pronto a receber hormona ou o seu


agonista, a proteína G está no seu estado desligado (ligando GDP) e conta com as 3
subunidades unidas.

1. A ligação da hormona induz uma transformação conformacional no receptor


activando-o;

78
2. O receptor activado liga-se à subunidade Gα;

3. A ligação induz uma transformação conformacional em Gα. o GDP desliga-se e é


substituído por GTP. Gα dissocia-se de Gβγ;

4. A hormona dissocia-se do receptor. Gα liga-se ao efector (Adenilato ciclase)


activando-o, este vai produzir AMPc a partir de ATP;

5. A activação é breve porque o GTP é hidrolisado a GDP em segundos, levando à


re-associação das 3 subunidades e à inactivação do efector.

O ciclo completa-se com o retorno do sistema ao estado de repouso.

 A evidência experimental para este modelo resultou da utilização de um análogo


do GTP denominado GMPPNP. Neste, a ligação fosfodiéster terminal é substituída pela
porção terminal P – NH – P. Este análogo não pode ser hidrolizado, mas liga-se a Gsα
como o GTP, ficando permanentemente ligado à enzima. A ligação do GMPPNP resulta
numa activação da adenilato ciclase muito mais potente e mais longa, já que a enzima fica
num estado activo permanente.

79
Amplificação do Sinal Hormonal:

 A resposta celular activada pelo c-


AMP requer dezenas de milhar ou mesmo
milhões destas moléculas por célula. Como
apenas alguns milhares de receptores β-
adrenérgicos estão presentes na célula, o
sinal hormonal tem de ser amplificado de
modo a poder produzir quantidade suficiente
de segundo mensageiro.

 A amplificação é possível porque:

- Um único complexo hormona-receptor


converte cerca de 100 moléculas de Gs
inactivas na forma activa. Quer os receptores
quer as proteínas Gs podem difundir-se
rapidamente na membrana plasmática;
- No tempo de ligação Gsα-GTP, apenas
uma molécula de adenilato ciclase é activada,
promovendo-se a síntese de muitas
moléculas de AMPc.
- Pode ainda haver amplificação na
síntese de enzima e do produto da enzima.

Finalização da Resposta Celular:

 O sucesso da comunicação intercelular exige que a resposta à hormona termine


rapidamente logo que a concentração da hormona decresça. Este efeito é obtido mediante
vários processos:

1. O término da resposta é facilitado pela diminuição da afinidade do receptor que


ocorre quando Gs é convertido da forma inactiva para a forma activa. Quando o GDP
ligado a Gsα é substituído por GTP após a ligação da hormona, o K D do complexo H – R
aumenta (a afinidade diminui);
2. O GTP ligado a Gsα é rapidamente hidrolisado, finalizando a activação da
adenilato ciclase, terminando a resposta celular (síntese de AMPc) a não ser que a
concentração da hormona permaneça suficientemente elevada para formar novos
complexos H – R.

Algumas Toxinas Bacterianas Modificam Irreversivelmente as Proteínas G:

 Existem dois tipos de proteínas G (no processo de transdução de sinal que se


considerou), uma activa (Gs) e a outra inibi (Gi) a ligação. No caso particular da epinefrina,
ocorre estimulação, mas noutros casos as proteínas Gi levam à inibição da resposta.
 A toxina da cólera (bactéria Vibrio cholerae) é uma proteína hexamérica, com
cinco subunidades β (semelhantes) e uma subunidade α. Esta é uma enzima que penetra a
membrana plasmática e entra no citosol, onde catalisa a adição covalente de ADP-ribose
(retirada de NAD+) a Gα. Esta torna-se activa (sempre ligada a GTP), pois quando há
ribozilação do complexo o GTP não pode desligar-se de Gα (não é hidrolisado), isto induz
uma resposta permanente da adenilato ciclase.

80
 Os níveis de c-AMP aumentam cerca de 100x. Este aumento, ao nível das células
epiteliáis do intestino, leva a que certas proteínas permitam o fluxo massivo de água do
sangue para o lúmen do intestino, dando-se uma elevada perda de água (desidratação)
por diarreia.
 A toxina Pertussis é secretada pela bactéria Bordetella pertussis e afecta o tracto
respiratório, provocando tosse convulsa. Esta toxina tem uma subunidade S1, que cataliza
a adição de ADP-ribose à subunidade Giα (de inibição), no estado GDP-ligado. Assim Giα
deixa de inibir a adenilato ciclase, podendo esta produzir uma grande quantidade de AMPc.
O aumento continuado da produção deste segundo mensageiro leva à perda de
fluidos e electrólitos no muco nasal.

Conclusão: A consequência, nos dois casos, é o aumento do AMP cíclico.

Activação e Inibição da Adenilato-ciclase:

 A adenilato ciclase é estimulada e inibida por complexos receptor-ligando


diferentes.
 No fígado, tanto a glucagina como a epinefrina ligam GPCRs diferentes, mas
ambas activam a adenilato ciclase, accionando a mesma resposta celular (enviar glicose
para o sangue).
 Nos adipócitos, os níveis de c-AMP podem ser regulados positiva ou
negativamente por hormonas. A glucagina, epinefrina e ACTH activam a adenilato ciclase
(estimulam proteínas G), no entanto, prostaglandinas (PGE1) e adenosinas ligam a um
receptor que activa uma proteína G inibitória (Gi), inibindo a adenilato ciclase e
consequentemente a produção de c-AMP.

81
Estrutura química e funcionamento das proteínas G triméricas:

 A interacção Gα-Gβ dá-se na região N-terminal e nas regiões “Switch” I e II. Há


interacção Gβ-Gγ, mas não há interacção entre Gγ e Gα.
Os domínios N- e C- terminais de Gα interagem com o receptor.
 Relativamente a Gα:

- Há indicações de que Gi e Gs interagem com a adenilato ciclase ao nível de locais


opostos logo, diferentes:

 A ligação de Gi parece induzir alteração conformacional no local activo que


inibe a actividade catalítica;
 Também Gi tem actividade de GTPase normal, hidrolizando o GTP
associado, o que leva à finalização do sinal inibidor.

 Pode ainda acontecer que, em vez de Gα, seja Gβγ a regular a actividade em
algumas isoformas de adenilato ciclase. Neste caso, admite-se que o local de ligação com a
adenilato ciclase seja diferente dos locais utilizados pela Gi e a Gs.

Regulação da quantidade de AMPc:

 A síntese e a degradação do c-AMP estão sujeitas


a uma regulação complexa por múltiplas hormonas.

 A síntese de c-AMP a partir de ATP é mediada,


nomeadamente, pela adenilato ciclase e a sua degradação
implica a presença de fosfodiesterase, que é muitas vezes
estimulada pelo aumento da concentração citosólica de Ca2+.
Existem células que regulam a quantidade de AMP
cíclico, transportando-o para fora da célula (segregando-o
no meio extracelular).

Receptores de Tirosina cinase (RTK) e Ras:

 São receptores superficiais, sendo que os seus ligandos são hormonas


peptídeos/proteínas solúveis ou membranares, e incluem factores de crescimento como:
NGF (dos nervos), PDGF (provocado pelas plaquetas), FGF, EGF (epidérmico) e a insulina.
 A ligação do ligando a estes receptores estimula a actividade intrínseca de
proteína cinase tirosínica do receptor, que estimula uma cascata transdutora de sinal, esta
produz alterações na fisiologia celular ou na expressão genética.
 As vias de sinalização RTKs têm um largo espectro de funções:

1.Regulação da proliferação e diferenciação celulares;


2. Promoção da sobrevivência celular;
3. Modulação do metabolismo celular.

 Alguns RTKs foram identificados em estudos de cancro humano associado a


formas mutantes de receptores de factores de crescimento, os quais enviam um sinal para

82
as células mesmo na ausência do factor de crescimento, originando proliferação
descontrolada de certos cancros da mama.

 A ligação do ligando, a nível


extracelular, causa a dimerização da
maior parte dos RTKs. A proteína cinase
de cada monómero fosforila, então, um
conjunto distinto de resíduos de tirosina
no domínio citosólico do monómero
associado (autofosforilação).
 A autofosforilação conta com 2
estádios:

- Primeiro os resíduos de tirosina perto do local catalítico são fosforilados, levando a


uma alteração conformacional que facilita a ligação de ATP nalguns receptores (receptor de
insulina) e a ligação de outras proteínas (substratos) noutros receptores (receptor de FGF);
- Segundo, a cinase intrínseca do receptor do receptor fosforila então outros locais
no domínio citosólico, resultando fosfotirosinas que servem para acomodar outras proteínas
envolvidas na transducção do sinal.

 As Ras e a subunidade Gα pertencem à


superfamília das proteínas activadoras de GTPases
intracelulares.
 Ras (RTK) e Gα (GPCR) são proteínas
activadoras de GTPase e alternam entre um estado
“on” (GTP ligado) e um estado “off” (GDP ligado).
 Gα está directamente associada à actividade
dos GPCRs e faz a transdução de sinais para vários
efectores, por sua vez as Rãs não se encontram
directamente associadas aos RTKs.

 A activação de ambas as proteínas (Ras e Gα) é accionada pela ligação da


hormona ao respectivo receptor, sendo que Gα funciona sem proteínas auxiliares.

 A activação das Ras é acelerada por uma


proteína, o factor GEF, este ao ligar-se à Ras induz
a sua separação do GDP e a ligação ao GTP
(normalmente existente em maior concentração
na célula), este ao ligar-se provoca a libertação do
GEF. A Ras requer a assistência de outra proteína
no processo, a GAP (GTPase Activating Protein),
esta estimula a actividade intrínseca de GTPase
em 100x. Dá-se a hidrólise do GTP (ADP + Pi) e a
GAP desliga-se, conduzindo à desactivação das
Ras.

83
 As proteínas Ras mutadas estão associadas a vários tipos de cancro humano.
Ligam GTP, mas não o conseguem hidrolisar, ficando permanentemente no estado activo
(“on”) e causando a transformação neoplásica.

 As estruturas moleculares de Ras e Gs reflectem as diferenças nos mecanismos


de acção:

- A Ras é mais pequena (170 aminoácidos) do que Gα (300 aminoácidos), o que


justifica a necessidade de proteínas adicionais para o seu funcionamento;
- A estrutura tridimensional da Ras é semelhante ao domínio da actividade de
GTPase da Gα;
- Existe um domínio helicoidal em Gs que parece ser capaz de aumentar a taxa de
hidrólise do GTP, tendo funções equivalentes à GAP (que activa a GTPase da Ras).

Como é que a ligação de um factor de crescimento (Ex. EGF) a RTK causa a


activação da Ras?

 Existem 2 proteínas citosólicas, GRB2 e Sos, que intrevêm no processo.

 Activação de Ras no seguimento da ligação da hormona:

1. Ocorre a ligação de EGF ao receptor, dando-se a dimerização e a autofosforilação


dos resíduos de tirosina.

2. A proteína adaptadora GRB2 liga-se a uma fosfotirosina específica do receptor,


pelo domínio SH2. Os dois domínios SH3 da GRB2 ligam-se à Sos, interagindo esta com a
Ras.
3. A actividade de Sos promove a activação da Ras, induzindo a dissociação do GDP
e a consequente ligação de GTP, depois desta dissocia-se da Ras.

 A GRB2 funciona como uma proteína adaptadora para o receptor de EGF (factor
de crescimento).
 A Sos funciona como uma GEF, que ajuda a converter Ras-GDP (inactiva) para a
forma Ras-GTP (activa).

84
 A análise de mutantes (relativamente aos olhos) de Drosophila melanogaster,
bloqueados num determinado estádio de diferenciação, forneceu informação importante
acerca das vias de sinalização por RTKs.
O olho destes insectos tem 800 omatídios (olhos individuais), e cada um deles
possui 22 células, das quais 8 são neurónios fotossensíveis (retínulas ou células R). Um
RTK destas células é o Sev (sevenless), que regula especificamente o desenvolvimento da
célula R7. A observação de omatídios através de uma técnica especial permite-nos
distinguir os fotorreceptores. Cada omatídio do tipo selvagem apresenta 7 fotorreceptores,
já os mutantes possuem apenas 6, não têm o R7 (responsável pela observação da luz
ultravioleta).
Na superfície da célula R8 expressa-se a proteína Boss, que, ligada à membrana,
sinaliza o RTK Sev da célula vizinha percursora de R7, induzindo produção de um neurónio
fotossensível. Mutantes sem Sev RTK funcional (mutante sev- forma recessiva) não
induzem a formação destes neurónios, pois a proteína Boss não estabelece o contacto com
a célula precursora de R7. Se tivermos um duplo mutante (sev- e RasD), a proteína Ras
mantém-se continuamente activa e produz-se o neurónio.

Conclusão: O receptor Sev RTK é essencial á activação de Ras. Esta activada


conduz à resposta, independentemente da existência do receptor específico.

 Para identificar proteínas transductoras de sinais intracelulares na via Sev RTK, os


investigadores produziram moscas mutantes cuja expressão da proteína Sev (receptor) é
sensível a temperatura. Por esta via codificaram-se genes de 3 proteínas importantes da
via de sinalização do receptor Sev.

1. A proteína Ras revelou 80% de identidade com a proteína correspondente nos


Mamíferos;
2. A proteína Sos tem 45% de identidade com a proteína correspondente nos ratos;
3. Uma proteína adaptadora contendo parte SH2 tem 64% de identidade com a
proteína humana GRB2.

Além da via Sev RTK, estas três proteínas também aparecem em outras vias de
transdução de RTK, utilizadas em tempos e locais diferentes do desenvolvimento das
moscas.

 A sequência fosfotirosina – ácido glutâmico – ácido glutâmico – isoleucina de RTK


liga-se ao domínio SH2 da GRB2. As sequências ricas em prolina de Sos promovem a
ligação desta ao domínio SH3 da GRB2.
 As sequências ricas em prolina desempenham duas funções:

- Assumem uma conformação expandidam que facilita as interacções;


- Um sub-conjunto destas prolinas forma bolsas de ligação com a superfície de SH3.

Existem outros resíduos sem prolina que também têm um papel importante na
especificidade da ligação.

 Ligação RasGDP-Sos:

1. Antes da ligação da Sos à RasGDP, o grupo C-terminal da Sos inibe a


possibilidade de troca de GDP por GTP. A ligação a GRB2 liberta esta inibição por alteração
conformacional envolvendo “Switch” I e I;
2. Depois a Ras liga GTP e torna-se activa (existe 10x mais GTP nas células);

85
3. A RasGTP ao produzir uma conformação específica dos “Switchs” (I e II) activa
moléculas efectoras.

Via das MAP cinases:

 Todas os RTKs parecem usar uma via geral em que o sinal induzido por ligação
ao ligando é comunicado através de GRB2 e Sos, sendo activada a via de transducção de
sinal. A Ras induz uma cascata de cinases que finaliza na activação de uma MAP cinase.

 MAP cinase: É uma cinase de serina/treonina, capaz de entrar no núcleo para


fosforilar proteínas que incluem factores de transcrição que regulam a expressão de
proteínas específicas.

 Estudos em leveduras, Drosophila e mamíferos revelaram cascata de proteínas-


cinases altamente conservada.

- A Ras activada (RasGTP) liga ao domínio N-terminal da Raf;


- A Raf activada (desligada da RasGTP) liga e fosforila a MEK;
- A MEK activa a MAP cinase por fosforilação de uma tirosina e de uma treonina;
- A MAP cinase fosforila diversas proteínas, incluindo factores de transcrição que
medeiam respostas celulares.

 Realizou-se uma experiência utilizando o “Sistema de 2 híbridos de levedura”


para mostrar a capacidade de ligação da Ras a outra proteína, a Raf. A conclusão a que se
chegou foi que se o gene Ras se ligar a um produto do cDNA, permitirá o crescimento da
colónia sem histidina, se esse produto for Raf. Se nõ for, a colónia não cresce.

 Existem duas proteínas que não foram referidas que podem ainda participar na
cascata MAP cinase a partir da Ras, a 14-3-3 e a Ksr:

- Antes da estimulação, a Raf está no citossol numa configuração inactiva


estabilizada pelo dímero da 14-3-3. Esta proteína liga à fosfoserina da Raf, em Ser-259 e
Ser-621. A interacção da Ras-GTP com a Raf induz uma alteração conformacional,
rompendo ligação com a 14-3-3. A Ser-259 é desfosforilada, activando a Raf cinase.

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- A Ksr contêm locais de ligação para a Raf, 14-3-3, MEK e MAP cinase. Portanto,
mesmo depois da dissociação da ligação Raf – RasGDP, a Ksr fornece uma base de ligção
para manter funcional o grande complexo de sinalização.

Como é que a fosforilação activa a MAP cinase?

 A MAP cinase tem um local catalítico Lip (lábio de fosforilação), que altera a sua
conformação. Quando a MEK liga à MAP cinase:

- Uma determinada tirosina é exposta por destabilização da estrutura do lábio de


fosforilação da MAP cinase;
- A MEK fosforila uma tirosina e também um treonina próxima da MAP cinase;
- Estes aminoácidos da MAP cinase fosforilados vão então interagir com outros
aminoácidos e dar uma nova conformação à região do lábio;
- Facilita-se assim a ligação do ATP ao local catalítico promovendo a actividade
catalítica da MAP cinase.
- A fosfotirosina também é importante na formação de locais de ligação, de
proteínas substrato específicas, à superfície da MAP cinase;
- A fosforilação promove ainda a dimerização da MAP cinase necessária à entrada no
núcleo. É a forma dimérica que consegue entrar no núcleo onde vai activar factores de
transcrição.

 Existem diversas MAP cinases associadas a sinalizações em Mamíferos: EKR; Jun


N-terminal e p38.

Vias da MAP cinase independentes de RTKs:

 Nas leveduras, esta via é independente de RTKs, uma vez que estes não existem
nestes organismos, a via MAP cinase está associada a receptores GPCRs.

 Em Saccharomyces cerevisiae (no processo de conjugação) já foram identificadas


6 vias MAP cinases. O esquema em baixo representa 5 (das 6) vias de MAP cinase
desencadeadas por sinais extracelulares já identificados.

Por acção das diferentes vias MAP cinase obtêm-se diferentes respostas celulares:

1. As ferormonas, pela via da Fus3, induzem a cunjugação das leveduras;


2. A carência de nutrientes, através da Kss1, induz a proliferação de hifas;
3. A elevada osmolaridae, pela via da Hog1, leva à síntese de osmólitos;
4. O choque hipotónico, através da Mpk1, conduz à remodelação da parede
celular;
5. A falta de carbono e azoto, pela SMk1, induz a esporulação.

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Especificidade das vias MAP cinase:

 As cascatas das MAP cinases podem possuir proteínas em comum. Por exemplo,
Ste11, esta proteína é comum à sinalização que conduz a respostas celulares de
conjugação, proliferação de hifas e osmorregulação. Todo o complexo enzimático confere
especificidade a cada uma das vias de sinalização.

Exemplo: Processo de conjugação:

Após a sinalização, ocorre a ligação da proteína Gs ao receptor, Gα dissocia-se de


GDP e liga GTP e aquando desta ligação, dissocia-se de Gβ/γ. Este complexo vai continuar
o processo e Gα vai activar a adenilato ciclase. Este é um dos casos em que o complexo
Gβ/γ contém o sinal.

1. O complexo Gβ/γ activa a Ste20 que é uma serina/treonina cinase;


2. Existe uma proteína que serve de ancoradouro (Ste5, equivalente à proteína
ligadora Ksr) onde se encontra a Ste11, esta vai ser fosforilada pela Ste20;
3. A Ste11 (serina/treonina cinase, equivalente à Raf) activada fosforila a Ste7,
uma cinase específica equivalente à MEK;
4. A Ste7 activada fosforila a Fus3, uma serina/treonina cinase (equivalente à
MAP cinase)
5. Finalmente a Fus3 activa a Ste12 (não está acoplada a Ste5) e, sendo esta
um factor de transcrição, dá origem à resposta celular (conjugação).

Exemplo: Osmorregulação

- Neste processo intervém também a Ste11, mas ligada a um receptor Pbs2


(apresenta função correspondente à MEK). Este liga-se a Hog1 (actividade de MAP cinase)
e Sho1, uma proteína intimamente ligada à membrana, que apresenta actividade na
transdução de sinal.

 Uma MAP cinase pode substituir outra que esteja ausente. Por exemplo, um
mutante “Sem Fus3” tem a capacidade de induzir conjugação apesar da sua ausência, a
cascata ocorre normalmente, sendo Fus3 substituído por Kss1 (actua na formação de
hifas). Esta é mobilizada para o local onde iria actuar o Fus3, sendo capaz de promover
factores de conjugação, pelos quais não teria afinidade. Para o mutante “Fus3 morta”, há
produção de Fus3 mas inactivo, este liga-se na mesma a Ste5 (impedindo a substituição
por Kss1), levando ao bloqueamento da via de sinalização e consequentemente à não
ocorrência de conjugação.

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